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Palavra do Presidente II Feira de Agroindústria Familiar e Empreendedorismo Rural de Minas Gerais em Araxá é marca de um novo tempo na agricultura mineira. Com o evento, comu- nidades e famílias rurais empreendedoras de diversas regiões do Estado têm a oportunidade de mostrar a qualidade de seus produtos e alcançar novos mercados e consumidores, gerando renda, oportunidades de trabalho e resgatando os valores sociais e culturais das comunidades rurais. Fizemos o choque de gestão, otimizando recursos e a a ação das pessoas - maior produtivi- dade e mais benefícios para a sociedade - e hoje o cerne da missão da Emater–MG é promover o desenvolvimento sustentável. Assim, assistência técnica, organização para o trabalho fami- liar e comunitário, promoção de cursos de formação, tanto para produzir quanto comerci- alizar, são algumas das ações que a Empresa realiza para tornar Minas ainda melhor. Em 2004 assessoramos 340.165 famílias rurais em todo o Estado. Dessas, 31.655 produziram e industri- alizaram sua produção. Em todo o País, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a agricultura familiar responde pela geração de sete em cada dez empregos no campo, produz 67% do feijão, 84% da mandioca, 40% de aves e ovos, 54% do leite, 49% do milho e 58% dos suínos. São números que mostram a enorme potencialidade da agroindústria familiar, porém, em Minas, queremos mais. É preciso agregar valor. Em função deste potencial, a Emater–MG tem dentre seus Programas Estruturadores o Agre- gaminas, focado em processos de agregação de valor aos produtos e organização rural para a ocupação de mercados, transformando informações em conhecimento e criando novas oportu- nidades econômicas para os produtores de agricultura familiar. A II Feira em Araxá é este novo tempo; tempo de inovar, provocar e criar alternativas para mudanças econômicas e sociais no meio rural. Sem desenvolvimento integrado da agricultura familiar, não há condições de sustentabilidade para o desenvolvimento do agronegócio e nem redução de desigualdades regionais. Nesta revista, convidamos você a conhecer um pouco mais da agroindústria familiar mineira, em reportagens que mos- tram a arte e a capacidade das famílias rurais em suas atividades de agroindustrialização, nossa história, nos- sa gente, o gosto da nossa mineiridade. José Silva Soares Presidente da Emater–MG

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Palavra doPresidente

II Feira de Agroindústria Familiar e Empreendedorismo Rural de Minas Geraisem Araxá é marca de um novo tempo na agricultura mineira. Com o evento, comu-nidades e famílias rurais empreendedoras de diversas regiões do Estado têm aoportunidade de mostrar a qualidade de seus produtos e alcançar novos mercados

e consumidores, gerando renda, oportunidades de trabalho e resgatando os valores sociaise culturais das comunidades rurais.

Fizemos o choque de gestão, otimizando recursos e a a ação das pessoas - maior produtivi-dade e mais benefícios para a sociedade - e hoje o cerne da missão da Emater–MG é promovero desenvolvimento sustentável. Assim, assistência técnica, organização para o trabalho fami-liar e comunitário, promoção de cursos de formação, tanto para produzir quanto comerci-alizar, são algumas das ações que a Empresa realiza para tornar Minas ainda melhor. Em 2004assessoramos 340.165 famílias rurais em todo o Estado. Dessas, 31.655 produziram e industri-alizaram sua produção.

Em todo o País, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a agriculturafamiliar responde pela geração de sete em cada dez empregos no campo, produz 67% do feijão,84% da mandioca, 40% de aves e ovos, 54% do leite, 49% do milho e 58% dos suínos. Sãonúmeros que mostram a enorme potencialidade da agroindústria familiar, porém, em Minas,queremos mais. É preciso agregar valor.

Em função deste potencial, a Emater–MG tem dentre seus Programas Estruturadores o Agre-gaminas, focado em processos de agregação de valor aos produtos e organização rural para aocupação de mercados, transformando informações em conhecimento e criando novas oportu-nidades econômicas para os produtores de agricultura familiar.

A II Feira em Araxá é este novo tempo; tempo de inovar, provocar e criar alternativas paramudanças econômicas e sociais no meio rural. Sem desenvolvimento integrado da agriculturafamiliar, não há condições de sustentabilidade para o desenvolvimento do agronegócio e nemredução de desigualdades regionais.

Nesta revista, convidamos você a conhecer um pouco maisda agroindústria familiar mineira, em reportagens que mos-

tram a arte e a capacidade das famílias rurais em suasatividades de agroindustrialização, nossa história, nos-sa gente, o gosto da nossa mineiridade.

José Silva Soares

Presidente da Emater–MG

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sumário

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Presidente:José Silva Soares

Diretor Administrativo e Financeiro:Vicente José GamaranoDiretor de Promoção e

Articulação Institucional:Fernando José Aguiar Mendes

Diretor Técnico:Roberval Juarês de Andrade

Projeto Gráfico:Roberto Caio

Tiragem: 30.000 exemplaresA reprodução dos artigos, total ouparcial, pode ser feita desde que

citada a fonte

Empresa de Assistência Técnica eExtensão Rural do Estado

de Minas GeraisVinculada à Secretaria de Estado de

Agricultura, Pecuária eAbastecimento

Assessoria de Relações Públicas eImprensa:

Denize AlvesMG04973JP

Edição:Harildo FerreiraRoberta Vieira

Redatores:Carlos Mota

Edna de SouzaGiordanna Meirelles

Harildo FerreiraLilian PachecoRoberta Vieira

Sebastião AvelarRevisão:

Lizete DiasRuth Navarro

Revista da Emater-MG - Número 81 - Julho de 2005EXPEDIENTE

2224

2628

3032

1112

1416

20

0805

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Choque de gestão: o novo perfil da Emater�MG

Agregaminas: propostas e ações do programa para ocrescimento da agricultura familiar no Estado

Agricultura familiarTreze exemplos da produção em Minas Gerais

Catas AltasVinho de jabuticaba

Juiz de ForaDoces, bolos e pimenta

JanuáriaArtesanato

Governador ValadaresDoces, pães e biscoitos

AndradasCafé orgânico

SilveirâniaDoces

DiamantinaPolvilho

JanuáriaFarofa de pequi

MocambinhoDoces, pães e biscoitos

Serra do Salitre e MedeirosQueijo minas

MocambinhoDoces

AlmenaraFarinha de mandioca

MarianaAçúcar mascavo orgânico

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Emater�MG elabora novas estratégias para melhorarresultados e se consolida como Empresa promotora

do desenvolvimento sustentávelInst

itu

cio

na

lVencendo desafios, resultadosalcançando

As mudanças no ambiente, bem como os novos desafios impostos pela sociedade,levaram a Emater–MG à redefinição de sua missão, que passa a refletir a nova atu-ação da Empresa. “Incorporamos a sustentabilidade como forma de promover odesenvolvimento. Ou seja, além da dimensão técnica, consideramos essenciais asdimensões social, econômica, ambiental, política e cultural”, explica José Silva, pre-sidente da Emater–MG.

Promover o desenvolvimento sustentávelpor meio da Assistência Técnica e ExtensãoRural, assegurando a melhoria da qualidadede vida da sociedade.

Missão

VisãoSer reconhecida pela sociedade como a

melhor empresa de Assistência Técnicae Extensão Rural na promoção do

desenvolvimento sustentável.

O sucesso do passado não garante o sucesso no presente, nem o sucesso no pre-sente garante o do futuro. Assim, as organizações que não planejarem nem constru-írem seu futuro terão dificuldades de sobrevivência. Após analisar sua situação atu-al, a posição aonde pode chegar e o lugar onde pretende estar em 2020, a Emater–MG definiu suas estratégias e elaborou uma nova visão de futuro. “Estamos cons-truindo a efetividade de nossa Empresa em bases sólidas e em sintonia com as de-mandas da sociedade”, esclarece José Ricardo Miglioli, gerente de Planejamento daEmater–MG.

O processo de Planejamento Estratégico é fundamental para o desenvolvimento e a efetividadedas organizações, principalmente se consideradas as contínuas

mudanças no ambiente e na sociedade. De forma a construir a Extensão Rural de um novotempo, a Emater–MG retomou, após 10 anos, seu processo dePlanejamento Estratégico, em sintonia com o Plano Mineiro de DesenvolvimentoIntegrado (PMDI) do Governo de Minas e com a Política Nacional de Assistência

Técnica e Extensão Rural (PNATER), de forma participativa, através do Grupo de Desenvolvi-mento Estratégico (GDE), que representa todos os segmentos da Empresa, além de consultartodos os segmentos da agricultura mineira.

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Aumento da produtividade

Alinhada com a filosofia do governo de Minas de gastar mais com o cidadão e menos com o Estado, a Emater–MG conta basicamente com o mesmo número de profissionais. Ainda assim, em 2003 e 2004 a Empresa aumentousua produtividade, ampliando em 38% o atendimento aos agricultores mineiros. A Emater–MG aumentou tam-bém o trabalho junto a organizações comunitárias e ampliou significativamente a formação dos Conselhos Muni-cipais de Desenvolvimento Rural Sustentável, conforme demonstrado no quadro abaixo:

Reconhecimento social - 123 municípios querem abrir escritórios

O reconhecimento da sociedade em relação aos serviços prestados pela Emater–MG pode ser medido pormeio da crescente demanda da ampliação da atuação da Empresa no Estado. Presente em mais de 700 municípiosmineiros, a Emater–MG tem registrados 123 pedidos de abertura de escritórios, bem como a ampliação de seuquadro em outros 100 municípios.

Minas conquista espaço no Brasil

Pela primeira vez na história, Minas tem o presidente da Emater–MG eleito para presidir a Associação Brasi-leira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer). “A eleição confirma a posiçãode vanguarda de nossa Empresa no cenário nacional e abre espaço para que haja uma grande integração e ofortalecimento do sistema de extensão do País”, avalia José Silva.

Desafio à Extensão RuralO perfil do profissional para atuar nessa nova fase da Extensão Rural é diferenciado. Não basta apenas ser um

bom profissional da área técnica. É preciso ser também um agente de desenvolvimento, capaz de mobilizar eaglutinar forças em torno de um projeto coletivo. A Emater–MG está investindo na formação deste profissionale, para isso, implantou o Projeto Inovar. “Além de entender de tecnologia, estamos formando profissionais queentendem de gente”, acrescenta o presidente da Emater–MG, José Silva.

Mais resultados para a sociedade

Programas Estruturadores e gerenciamento intensivoAlém da missão e da visão, a formulação estratégica foi utilizada para definir os Programas Estruturadores da

Emater–MG, que se desdobram em projetos. Esses projetos internos estão sendo implantados para que a Empre-sa possa ter, cada vez mais, planos voltados para a agricultura familiar e que levem benefícios a toda a sociedade.

Como forma de garantir os resultados dos Programas, a Emater–MG adotou o sistema de gerenciamentointensivo. Utilizada em todo o mundo, essa metodologia tem permitido à Empresa planejar e acompanhar oandamento de todas as ações e atividades de cada projeto, bem como corrigir a tempo problemas que possamcomprometer as metas e os resultados.

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Crédito rural para a agricultura familiar

Por meio da Secretaria de Estado deAgricultura, Pecuária e Abastecimento e daEmater–MG, em 2003 o Governo de Mi-nas assinou com o Banco do Brasil um con-vênio para aplicação de crédito rural noEstado. Integrada com a Federação dosTrabalhadores em Agricultura do Estadode Minas Gerais (Fetaemg) e com o Minis-tério do Desenvolvimento Agrário (MDA),essa ação permitiu viabilizar um aumentode 185,5% no volume de crédito rural paraa agricultura familiar com efetiva mobili-zação de todos os extensionistas da Ema-ter, o que fez Minas passar da quinta paraa terceira colocação no País na aplicaçãode crédito do Pronaf.

O quadro ao lado mostra o resultadoda parceria e do empenho das equipes daEmpresa:

Rede Emater�MGCom término das obras previsto para novembro deste ano, está sendo implantada a Rede de Telecomunica-

ções da Emater–MG. A Unidade Central da Empresa estará interligada com todas as Regionais, por meio dainternet de alta velocidade e telefonia digital, que permite a transmissão de dados, voz e imagem.

Desenvolvimento do Semi-árido � Centro de Formação da Agricultura FamiliarEstá em fase de implantação, o Centro de Formação da Agricultura Familiar dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri, no município de Ponto dos Volantes. O Centro será utilizado na formação de agricultores, jovens,lideranças e extensionistas e base para o desenvolvimento de programas na região. Os recursos são oriundos doMDA e governo de Minas.

Minas Sem FomePelo Programa Minas Sem Fome, já foram atendidas até 2005 mais de 200.000 famílias em Projetos de Lavou-

ras Comunitárias, Hortas, Pomares, Criação de Pequenos Animais e Capacitação. Estão sendo aplicados mais deR$ 23 milhões oriundos de emenda da Bancada Federal Mineira junto ao Ministério do Desenvolvimento Sociale Combate à Fome (MDS) e governo de Minas, em parceria com Consea/Cáritas, Cenep e associações.

Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São FranciscoA Emater–MG está implantando obras e serviços de manejo integrado em 17 sub-bacias hidrográficas dos

rios Verde Grande, Pacuí e córrego do Pajeú, todos na Bacia do rio São Francisco. O projeto está sendo executa-do em parceria com a Ruralminas e com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), com recursos da Companhia deDesenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

AgregaminasO Programa Agregaminas contempla as principais ações da Emater–MG em atividades de agregação de

valor da agricultura familiar. O Programa contempla ações em projetos como Queijo Minas Artesanal, Cachaça deMinas, Artesanato, dentre outros. É a consolidação da agregação de valor, com a conseqüente inserção no merca-do, capaz de gerar renda e ocupação; conta com recursos do MDA na implantação da Central Eletrônica deNegócios da Agricultura Familiar.

Consolidando resultados em 2005

Volume de crédito do Pronaf em Minas Gerais

Fonte: PRONAF/ MDA

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stimular as atividades queagreguem valor à produção fa-miliar, visando a manutençãoe a conquista de novos merca-

dos. Este é o principal obje-tivo do Agregaminas, umdos Programas Estruturado-res da Emater–MG. O Agre-gaminas vem fortalecer aagricultura familiar, auxilian-do na busca de ferramen-tas que facilitem o acesso daprodução familiar ao mer-cado. Todas as ações têmfoco no desenvolvimento de uma visãode mercado mais abrangente pelo agri-cultor familiar, além da compreensão dadinâmica do agronegócio.

O Programa desenvolve cinco linhasde ações, vitais para a agregação de va-lor aos produtos: legislação, pesquisa e

Programa Agregaminas mostra caminhos para a agricultura familiar entrar no mercado

mapeamento da agroindústria, associa-tivismo e cooperativismo, redes de agro-indústrias e treinamento, visando a cer-tificação.

Segundo o coordenador técnico daEmater–MG, Valdo Berbert, a legisla-

ção atual é um dos maiores en-traves que o agricultor encon-tra para agregar valor à pro-dução. Além de inadequadasà realidade da agricultura fa-miliar, as leis aumentam exces-sivamente os custos de produ-ção e comercialização e im-põem barreiras sanitárias, tra-balhistas, ambientais, tributá-

rias, fiscais e previdenciárias.

Ações de mercado

Como parte das ações do Agrega-minas, foram realizados um seminárioestadual e seis seminários regionais so-

Carlos Mota

“A legislaçãoatual é um dosmaiores entra-ves que o agri-cultor familiarencontra para

agregar valor àprodução.”

as porteirasAbram-se

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Em parceria com a Universidade Federal de Viçosa e o MDA,o Agregaminas prevê o apoio à formação de redes de agroindús-trias. O Programa vai estimular pequenas indústrias localizadasem regiões próximas a se integrarem por meio de uma Central deApoio Negocial, visando seu fortalecimento e o acesso mais fácila recursos tecnológicos, gestão e marketing, o que individual-mente não seria possível.

Cada Central de Apoio será dotada de um ou mais técnicos,que darão suporte às agroindústrias na organização do grupo,busca de mercado e no estabelecimento de parcerias para apoiona área tecnológica, comercialização, marketing e gestão.

Rede deagroindústrias

bre Legislação e Mercado em diversasregiões de Minas Gerais, no segundo se-mestre de 2004 e no primeiro semestredeste ano.

Os encontros tiveram como objetivoabrir um fórum de discussão sobre a le-gislação atual, identificando áreas de es-trangulamento para a comercialização daagricultura familiar na legislação sanitá-ria e nas áreas ambiental, fiscal-tributá-ria e trabalhista-previdenciária.

Os seminários também serviram paracapacitar cerca de 750 participantes, en-tre técnicos e agricultores, e estabelecercanais de comunicação com instituiçõesreguladoras, para adequar as leis atuaisà realidade da produção familiar. Outroponto importante dos eventos foi pro-porcionar aos agricultores caminhos paraque seus produtos cheguem ao consu-midor com mais facilidade e segurança,estimulando-os a saírem da informali-dade.

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No que depender da boa ima-gem perante a sociedade, os pro-dutos da agricultura familiar têmlugar garantido nas gôndolas dossupermercados. Quem afirma é opresidente da Associação Minei-ra dos Supermercados (Amis),José Nogueira Soares Nunes, queconsidera o trabalho da Emater–MG essencial a uma maior apro-ximação entre o agricultor famili-ar e comerciante.

Como o senhor vê a inserção deprodutos da agricultura familiarnos supermercados?

A participação desses produtosé muito grande e cresce satisfatori-amente. No setor de hortifrutigran-jeiros, representam de 10% a 15%das vendas. Esses produtos desper-tam grande interesse da população

por se tratar de alimentos mais sau-dáveis.

Seria possível uma parceria daAMIS com Emater–MG para aumen-to da comercialização?

Supermercados e agricultores te-riam muito a ganhar com essa parce-ria. No nosso caso, poderíamos com-prar direto do produtor, com a se-gurança de adquirir produ-tos de origem conhecida ecom produção inspecionada.Já o agricultor poderia con-seguir melhores preços emaior lucro, além da certe-za de que sua produção se-ria comercializada.

O trabalho deve ser ori-entado de forma a prepa-rar o produtor para ter con-dições de oferecer produ-tos aos supermercados.Hoje falta aproximação en-tre o supermercadista e opequeno agricultor, a qualidade daprodução pode não ser adequada, ea quantidade geralmente não suprea demanda que temos. Por meio dotrabalho da Emater–MG, todos es-

POSITIVAImagem

“A qualidadedo produto, aembalagem eo zelo paraapresentar econservar o

sabor são pon-tos imprescin-díveis ao bomvisual do pro-duto e à saúdedo consumi-

dor.“

Foto

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mis

ses entraves podem ser superados.A comercialização em supermer-

cados serve de incentivo aos agri-cultores familiares, com vistas ao de-senvolvimento socioeconômico?

É interesse dos supermercadistasvender esses produtos, desde queestabelecidos mecanismos de nego-ciação que satisfaçam os dois lados.

Por feliz coincidência, a IIFeira da AgroindústriaFamiliar, realizada pelaEmater–MG, aconteceujuntamente com o SevarEspecial, evento da Amistambém em Araxá. Foi umencontro muito importan-te, pois sentimos que fal-ta ao produtor exatamen-te essa “quarta perna dacadeira”, já que possui asoutras três: o financia-mento, a orientação e astécnicas de produção. Fal-

ta o principal: melhorar o relacio-namento e a negociação com o com-prador. O evento foi oportuno parafortalecer o relacionamento entretodos os envolvidos nessa cadeia.

Mapeamento e certificação

Em parceria com o MDA, oAgregaminas realiza a pesquisa “Ca-racterização da Oferta Organizadada Produção Familiar em MinasGerais”. O objetivo é conhecer todaa produção da agricultura familiarorganizada em associações e coope-rativas. Um grande mapeamentopermitirá conhecer as agroindústri-as formais e informais, individuaise coletivas e elaborar programaspara o desenvolvimento e fortaleci-mento dessas agroindústrias. “O es-tudo possibilitará não só a identifi-cação de todos os produtos e a for-

ma como são vendidos, mas tambémdas barreiras enfrentadas para co-mercializar.

Desse modo, será possível esta-belecer estratégias que estimulem oagricultor familiar a sair da clandes-tinidade e a produzir dentro das nor-mas estabelecidas pela legislação”,antecipa Valdo.

Outra linha de trabalho do Agre-gaminas é a capacitação que visaacertificação de cerca de 500 produ-tores de queijo minas artesanal nasregiões do Serro, Canastra, Alto Pa-ranaíba e Araxá. O objetivo é quali-ficar o agricultor para produzir quei-jos com qualidade, buscando a certi-

ficação do produto no IMA.Como incentivo ao cooperativis-

mo, o Agregaminas vai capacitar200 agricultores em gestão coope-rativista, comercialização, elabora-ção de planos de negócios e princí-pios básicos do cooperativismo.Assim, pretende estimular os agri-cultores a se organizarem em coo-perativas e associações, o que faci-lita a geração de renda e agregaçãode valor a suas produções. Segun-do Valdo, a organização em coo-perativas fortalece os agricultoresfamiliares e permite a utilização deserviços inacessíveis por agriculto-res isolados.

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agroindústria familiar re-presenta cerca de 82% dosestabelecimentos agrope-cuários em Minas Gerais

e é responsável por metade dos pro-dutos que dispõem a cesta básica.Do trabalho de pais, filhos e irmãosprovém uma rica variedade de do-ces, farinhas, bolos, biscoitos, lati-cínios e peças de artesanato, repre-sentantes tradicionais da riqueza eda cultura mineira.

Para discutir o cenário e as pers-pectivas para essa produção, a Se-cretaria de Estado da Agricultura,Pecuária e Abastecimento (Seapa),

agroindústria familiar

○ ○ ○

a Associação Comercial, Industrial,de Turismo, Serviços e Agronegó-cios de Araxá (Acia) e a Emater–MGpromoveram em Araxá a II Feira deAgroindústria Familiar e Empreen-dedorismo Rural de Minas Gerais.

Durante os dias 17 e 18 de ju-nho, produtores apresentaram suasexperiências, acompanhados por de-bates e palestras sobre a agriculturafamiliar no Brasil. O evento tambémcontou com rodadas de negócios,plantão técnico, estandes e demons-trações de processamento de ali-mentos.

A feira teve patrocínio da Com-

panhia Energética de Minas Gerais(Cemig), governos federal e estadu-al, Prefeitura Municipal de Araxá,Unibanco e Serviço Brasileiro deApoio às Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae).

A seguir, você conhecerá experi-ências de famílias mineiras que seuniram para trabalhar e conquistarmelhores condições de vida, pormeio da agricultura. Com o apoiode extensionistas da Emater–MG,eles compartilham dificuldades,projetos, desafios, vitórias e, princi-palmente, esperanças de uma vidamelhor.

A cultura mineiranas mãos da

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m outubro e novembro, a ro-tina muda na propriedaderural das irmãs Lopes, a 5 kmde Catas Altas. Com os fru-

tos maduros de 15 jabuticabeiras jácolhidos, chegou a hora de Theolin-da e Geralda deixarem outras tarefasde lado e passar a semana na adega.Ainda com 20 anos, Theolinda apren-deu com a tia os segredospara fazer um bom vinho dejabuticaba, famoso na região.A vaidade era deixada delado e o fruto era espremidona mão. “Os nervos ficavamaté duros de tanta força quea gente fazia! Já as unhas... fi-cavam pretinhas”, lembra Theolinda.

A produtora conta que os vinhostinto e branco foram uma soluçãopara evitar o desperdício de tanta ja-buticaba que dava de uma só vez napropriedade. Para não jogar dinhei-ro fora, outras famílias de Catas Al-tas também transformam em rendaa fruta que dá de graça no quintal.

Mesmo com a experiência de dé-cadas, algumas vezes as irmãs aze-davam o vinho. Mas, desde 2001, issoparou de acontecer. Com a assistên-

Theolinda, Geralda e MariaFrancisca: irmãs aprimoramtécnicas de produção do vinhoe aumentam renda

Os segredos do bom

cia de Silmara Cota, extensionista daEmater-MG, elas conheceram técni-cas de higienização e medição do teorde açúcar do suco da fruta, que evi-tam que se transforme em vinagre.Silmara também orientou as irmãs aconstruírem uma adega de cerca de10 m2 para produzir a bebida, antesfeita na despensa da casa. “Dava atétristeza mexer com o vinho. A gentetrombava em tanta coisa! Hoje dágosto trabalhar num lugar limpinho

e com tudo em ordem”,comenta Geralda.

Como as irmãs Lopes,outras 36 famílias tive-ram a assistência de Sil-mara e aprimoraram atradição que existe des-de o século XIX. Incenti-

vadas pela técnica, padronizaram ométodo de elaboração do vinho e seuniram para agregar valor ao produ-to. Em 2001, criaram a Associação deProdutores de Vinho e Outros Pro-dutos Artesanais de Catas Altas(Aprovart). Juntos, os produtorescompram garrafas recicladas, rótulos,lacres e rolhas. “A quantidadeadquirida é maior e, então, opreço por unidade diminui. Ofoco de nosso trabalho é agre-gar valor ao produto da agri-

cultura familiar local”, explica Silma-ra.

Os resultados não demoraram aaparecer. Antes da orientação daEmater-MG, a produção anual de vi-nho na cidade era de 7 mil litros, cadaum vendido a R$ 1,00. Com os novosmétodos, hoje a produção chega a 15mil litros ao ano e a garrafa da bebi-da é vendida a R$ 6,00. Por mês, cadafamília recebe em média até dois sa-lários mínimos só com o vinho, rendaque dobrou de 2001 para cá.

A maior oportunidade de vendaé a Festa do Vinho de Catas Altas,criada em 2001. Em maio, os produ-tores ajudam a organizar o festejo,que tem público médio de 12 mil pes-soas, três vezes maior que a popula-ção da cidade. Em parceria, a Prefei-tura providencia a infra-estrutura, ea Universidade Federal de Viçosaparticipa com a análise química e sen-sorial da qualidade do vinho.

Apesar de precisarem de capital para construir as adegas,nenhum dos associados trabalha com crédito nem discute apossibilidade de adquirir registro no Ministério da Agricul-tura. “Não existe crédito para esse produto em Minas. Alémdisso, os impostos sobre a venda de bebida alcoólica são mui-to altos”, explica Silmara.

vinho

Desafios

Rober ta Vieira

Produtores em Catas Altastransformam tradição em

lucro e dobram renda

Foto

: Rob

erta

Vie

ira

Com novos mé-todos, a produ-ção aumentoude 7 mil para15 mil litros

ao ano

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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uem vai a Juiz de Fora levauma lista de encomendas defamiliares e amigos: rocam-bole de doce de leite, rosqui-

nha de nata, pão de batata, goiaba-da. Isso porque quem já provou al-guma delícia do Empório Rural dacidade quer sempre repetir. Que osprodutos são ótimos todos sabem.O que pouca gente conhece é a his-tória do Empório.

A extensionista de Bem-estarSocial da Emater–MG de Juiz deFora, Doralice Figueiredo de Mou-ra, conta que esse espaço de vendasurgiu da necessidade de se criaremalternativas de renda para os pro-dutores da agroindústria artesanal

do município, além de lugares cer-tos para a comercialização.

Por iniciativa da Emater–MG, foipossível abrir espaço para venderprodutos da agricultura familiar den-tro de uma gestão compartilhada, apartir da criação da Feira Regionalde Produtos Naturais. A ExtensãoRural foi responsável pela organiza-ção, qualificação e acompanhamentodos produtores de Juiz de Fora, queganharam espaço exclusivo para asvendas em empórios.

A primeira Feira Regional de Pro-dutos Naturais foi criada em 1981 efunciona até hoje no Parque Halfeld,Praça de São Mateus e Bom Pastor,em Juiz de Fora. Já o primeiro Em-pório Rural foi inaugurado em 1998,na rodoviária, para uso exclusivo dosprodutores do município. Do suces-so deste ponto de venda nasceu em

2000 o segundo Empório Rural, quefica no Mercado Municipal do Es-paço Mascarenhas. “O Empório Ru-ral é um projeto de inclusão social,pois oferece oportunidades para osprodutores obterem renda. A Ema-ter–MG lhes ensina como fazer isso,por meio de cursos de capacitação,do acompanhamento da produçãoe comercialização e do apoio que dáàs famílias, envolvendo toda a ca-deia produtiva e agregando valorà produção”, afirma Doralice.

Quem abastece esses empóriossão os membros da Associação dosProdutores Rurais da AgroindústriaFamiliar de Juiz de Fora (Agrojuf).Juntos venderam em 2004 mais de R$260 mil. Para Antônio Cezar Homemde Castro, produtor de queijo, o em-pório é tudo na vida dos associados.“É nossa segunda casa, a nossa loja.

Empório Rural oferece produtosde qualidade e oportunidade aosprodutores de Juiz de Fora

Empório Rural oferece produtosde qualidade e oportunidade aosprodutores de Juiz de Fora

Bom para quem compra,melhor para quem faz

Giordanna Meirelles○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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Além de oferecermos produtos dequalidade, precisamos atender bemnossos clientes”, observa.

Trabalho e satisfação

A associada Maria da ConceiçãoNascimento de Oliveira sorri sa-tisfeita ao falar do trabalho no em-pório. Ela morava em um sítio per-to de Monte Verde, comunidadea 46 km de Juiz de Fora. Aos do-mingos, levantava-se cedo, coloca-va os pães e biscoitos que fazia emcestas amarradas ao lombo do ca-valo e ia à sede da comunidadevender sua produção na varandada casa que possuía na cidade.Certo dia, foi convidada pela ex-tensionista Maria Elizabeth Nasci-mento, da Emater–MG, a exporsuas quitandas na Feira Regionalde Juiz de Fora. A princípio, achouque não daria conta do recado.Hoje, ela faz doce de leite, biscoi-tos, broas e roscas, que são vendi-dos no Empório Rural.

“Meu trabalho é o que me incen-tiva a viver. Nunca tive salário e,com a morte do meu marido, se nãofossem a renda e a distração com oempório, não sei o que faria”, de-sabafa. Com a comercialização deseus produtos, Maria da Conceiçãoconseguiu mobiliar sua casa emMonte Verde e montar uma fabri-queta desmembrada da cozinha.

O Empório Rural também é im-portante para a associada Ma-ria das Graças Fonseca. Com afilha, produz 40 kg de doce deleite pastoso por semana. A ren-da bruta, cerca de mil reais, aju-da a produtora na compra deseus remédios e no pagamentodas despesas pessoais da filha.“Quando minha mãe adoeceu,resolvi auxiliar na produção.Tomei gosto e pretendo dedi-car mais tempo ao doce de lei-te”, afirma Sandra Terezinha daFonseca, uma jovem que se mos-tra interessada e com vontade dever a produção crescer.

Pimenta reúne a família

Zulmira Pereira Goulart tem 78 anos e muita história para con-tar. Produtora de pimenta-malagueta, ela, o marido e os filhos sereúnem nos finais de semana para fabricar os molhos e a pimenta.“Fui dona-de-casa, costurei para fora e tive uma criação de cabrasem Juiz de Fora. Quando tivemos que sair da cidade, fomos mo-rar em um pedaço de terra que o patrão do meu marido arrendoupara nós. Lá plantei maracujá, utilizado na fabricação de xarope.Agora consegui comprar minha terra, onde estão plantados trêsmil pés de pimenta”, conta Zulmira, satisfeita por ter superadotantas dificuldades.

A família pensa em ampliar os negócios, que estão indo bem.No ano passado, em dois mil pés, foram colhidos mais de 600 kgde pimenta. “Além dos nossos pés de pimenta, estamos compran-

do a matéria-prima deoutros produtores e in-vestindo o lucro em má-quinas para montarmosuma fábrica na zona ru-ral”, acrescenta o filho,José Plínio Goulart, quelargou o ramo da cons-trução civil para se de-dicar à pimenta.

D. Zulmira conta commarido e filhos parafabricar molhosde pimenta

Variedade de pães, biscoitos e doces comercializadosno Empório Rural

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Riqueza com asmãosEdna de Souza

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construída

erâmica, esculturas emmadeira, cestarias, objetosutilitários e decorativosde fibra de bananeira e se-

mentes do cerrado, bonecas de pa-lha de milho, crochê, redes de buriti.Esses são alguns exemplos da diversi-dade artesanal da região de Januária.A maioria dos artesãos desenvolve suaarte a partir de técnicas transmitidasde geração em geração.

Para comercializar seus produtos,os artesãos locais descobriram queera preciso trabalhar em conjunto.Assim, foi criado em 2004 o Centrode Artesanato de Januária. Ao pro-mover o encontro entre cultura emercado, o Centro busca contribuirpara a continuidade do artesanato detradição, zelando pela preservaçãoda identidade cultural da região; es-timular o trabalho solidário com cri-ação e fortalecimento de núcleos,associações e cooperativas de arte-sãos; apoiar os artesãos através deofícios de capacitação para aperfei-çoamento de técnicas e produtos;ampliar canais de acesso ao merca-do; além de contribuir para o au-mento da renda dos artesãos, ele-vando a qualidade de vida de suasfamílias.

Cerca de 90 artesãos dos mu-nicípios de Januária, Cônego Ma-rinho, Bonito de Minas, Pedras deMaria da Cruz e São Francisco par-ticipam do Centro de Artesanatocom seus produtos, acompanhadosde perto pelos técnicos da Ema-ter-MG.

Centro de Artesanato de Januáriacompleta um ano com produtos

diversificados, matérias-primas etécnicas da cultura regional

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Artesanatodiversificado

Veja os trabalhos desenvolvidos em municípios da região:

Cônego Marinho: peças em cerâmica, produzidas pelo grupo pio-neiro “Mulheres do Candeal”, com integrantes da comunidade Olaria

Pedras de Maria da Cruz: peças em madeira, feitas por gameleirosda comunidade do Bom Sucesso

Januária: cestaria, com técnica repassada por mestres artesãos dascomunidades de Lapão e Estiva

Januária: objetos em fibra de bananeira, produzidos pelo grupo demulheres “Mineiras de Fibras”, da comunidade Brejo do Amparo

Januária: bonecas com palha de milho, elaboradas por núcleos demulheres do grupo “Arte na Palha”

Januária: crochê, feito por integrantes da comunidade de Marreca

Bonito de Minas: redes de buriti, da região do Cajueiro

Artesãos individuais: esculturas e peças decorativas em madeira,produtos com sementes do cerrado, trabalhos manuais como fuxico ebordados.

Artesãos emJanuária

desenvolvemtrabalhos em

cerâmica,madeira, fibra de

bananeira, semen-tes, palha demilho, crochê

e buriti

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Parceiros

O Centro de Artesanato é o re-sultado da ação conjunta da Ema-ter, prefeituras dos municípios deJanuária, Cônego Marinho, Pedrasde Maria da Cruz, Bonito de Mi-nas, e dos parceiros Sesc-Laces deJanuária, Cáritas Diocesana de Ja-nuária, IEF, Sebrae, Centro Naci-onal de Folclore e Cultura Popu-lar–RJ. As parcerias viabilizamoficinas de associativismo, gestãocoletiva, melhoria de técnicas deprodução e produtos, visandoaperfeiçoar o trabalho dos gruposde artesãos.

Wânia Antunes Peixoto Saraiva,extensionista da Emater-MG em Ja-nuária, é uma das coordenadorasdo Centro, ao lado de Tereza Cris-tina do Carmo Pereira e MônicaCastro, que atuaram como agenteslocais do Projeto Artesanato Soli-dário. Wânia conta que tudo come-çou com a visita a Januária do an-tropólogo Ricardo Gomes Lima,pesquisador do Centro Nacional deFolclore e Cultura Popular. Seu in-teresse pela região motivou a im-plantação do Projeto Mulheres doCandeal, em 1998, em parceria como programa Artesanato Solidário.A partir daí, outros grupos de ar-tesãos foram incentivados pelo an-tropólogo a se organizar.

Atualmente, Wânia e Terezatrabalham com os artesãos a capa-citação, a gestão do negócio, a me-lhoria da qualidade do produto e,principalmente, a comercialização.Mas os grupos já mostram que que-rem expandir horizontes. “A pre-tensão é que o Centro seja não sóum local de apoio e comercializa-ção, mas um ponto de referência ede cultura da região”, antecipaWânia. Foi encaminhado ao Minis-tério da Cultura um projeto paratransformar o Centro de Artesa-nato em Ponto de Cultura, com oobjetivo de conseguir financiamen-to para ampliação do espaço e di-versificação das atividades.

Organismo deatuação social daIgreja Católica,ligado àRede CaritasInternationalis.

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á tempos as mulheres dasgrandes cidades disputamespaço com os homens emdiversas profissões e, aos

poucos, conquistam sua indepen-dência. Em casa, elas deixaram deser coadjuvantes e passaram a divi-dir responsabilidades com o mari-do. É uma história que acontece tam-bém no meio rural. A necessidadede melhorar as condições de vidadas famílias do campo tem abertoespaço para que a mulher assumaum novo papel nas comunidades.

Em Governador Valadares, des-de 1998 duas comunidades já viven-

Associaçõesmudam

papel socialde mulheres

em GovernadorValadares

ciam essa transformação. Lá, asmulheres de Bananal de Melquía-des e de Córrego do Bugre se or-ganizaram em associações e mon-taram o próprio negócio. Na comu-nidade de Bananal de Melquíades,a 50 km de Governador Valadares,oito mulheres se uniram para pro-duzir doce de banana tipo mariola.Em 2004 elas formaram a Associa-ção de Produtores Rurais de Bana-nal de Melquíades (Aprobamel).“Começamos sem nada, sem di-nheiro nenhum. Cada uma lutavade um jeito, mas passamos por mui-tas dificuldades financeiras”, lem-

conquistadoEspaço

Sebastião Avelar○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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bra a presidente da Associação, Al-mir Maria Rosa.

Mensalmente, o grupo produz2,5 toneladas de doce de banana,fornecidas a escolas da rede muni-cipal de Valadares. A produção geraum faturamento líquido de R$2.500,00 por mês, dividi-do igualmente entre asassociadas. Segundo Al-mir, o doce tem facilita-do a vida de todas.“Cada uma construiucasa ou comprou algopara a família. Muita coi-sa melhorou”, relata.

Maria Conceição Sou-za é uma das integrantesque teve a vida mudada pela Asso-ciação. Com seis filhos, está separa-da do primeiro marido há oito anos,época em que vieram as dificulda-des financeiras. Maria teve de sairde casa e foi morar na propriedadede um irmão. “É bem difícil a gentepelejar sozinha com famí-lia”, afirma. Há quatro anos,ela foi convidada para traba-lhar na produção de doce debanana. Hoje, vivendo comum novo companheironuma casa construída pela fa-mília, Maria conta que a vidamelhorou. “Agora que tra-balho aqui, dá para compraralguma coisa para comer oupara pôr em casa mesmo”,explica.

A extensionista de Bem-estar Social da Emater–MG,Sandra La-Gatta, está como grupo de Bananal de Mel-quíades desde o início. Se-gundo a extensionista, asfamílias da comunidadeprecisavam de uma novafonte de renda, que veioquando a Emater–MG co-meçou a oferecer todo o su-porte técnico para a confec-ção dos doces e a organiza-ção do grupo.

Mesmo com a necessida-de de melhorar a qualida-

de de vida, Sandra lembra que hou-ve resistência dos maridos das as-sociadas, no começo. Mas, quan-do o resultado do trabalho dasmulheres começou a aparecer,a atitude foi logo superada.Para a extensionista, a prática

do associativismo nomunicípio deve au-mentar. “Existemgrupos de mulheresem outras comunidadesque buscam novas ativida-des como alternativa de ren-da para permanecerem nomeio rural com melhor qua-lidade de vida”, explica.

Já na comunidade doCórrego do Bugre, a 58 km de Go-vernador Valadares, doze mulheresestão à frente de um empreendimen-to para produzir e comercializar ros-quinhas caseiras. O grupo faz parteda Associação dos Produtores Ruraisde Cassimiro desde 1997. Com a fal-

ta de recursos, cada associada aju-dou como podia, desde o fornecimen-to de matéria-prima para a produ-ção até o trabalho braçal na constru-ção da unidade de processamento,onde as quitandas são feitas.

Em 1998 surgiu a chance de con-seguir estabilidade no mercado. Ogrupo ganhou o processo de licita-ção para fornecer seus produtos aescolas e creches municipais de Va-ladares. Hoje 80 escolas e 25 crechesrecebem um total de 1.400 tonela-

A extensionista Sandra La-Gatta (esq.) repassa às associadasboas práticas na produção de doces

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Em Governa-dor Valadares,

associaçãofornece 1.400toneladas de

rosquinhas pormês a 80

escolas e 25creches

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das de rosquinhas por mês.Para esse avanço, as parcerias fir-

madas com a Emater–MG e as Se-cretarias Municipais de Educação,Saúde e Agricultura foram essenci-ais. Por meio dessa união, o grupocontou com assistência para levan-tamento de potencialidades da co-munidade, pesquisa de mercado,

cursos de capacitação em gestãofinanceira de produtos cole-

tivos e relacionamento hu-mano, qualificação demão-de-obra na produ-ção de alimentos, segun-do as normas higiêni-co-sanitárias da Agên-cia Nacional de Vigilân-cia Sanitária (Anvisa),inscrição como micro-empresa na Receita Es-tadual, criação da logo-

marca “Da Nossa Terra”e construção das Unidades

de Produção.O resultado foi a consolida-

ção do empreendimento. “É umproduto de boa qualidade, diretodo produtor rural para a cidade.Além de ser saborosa, a rosquinhanão possui aditivos químicos. Issoé fundamental na alimentação”, ex-plica Vera Lúcia da Silva AraújoAbreu, ex-coordenadora da meren-da escolar de Governador Valada-res. Além de atender à SecretariaMunicipal de Educação, a Associa-ção comercializa, por mês, cerca de900 kg de rosquinhas em lojas domunicípio. O comerciante Roberto

Chavez de Aragão foi um dos pri-meiros clientes do grupo. “Começa-mos com 10 kg e hoje revendemos50 kg. O pessoal procura porque éum produto bom e caseiro”, diz ocomerciante.

Novo papel social

A nova fonte de renda trouxemudanças na qualidade de vida dasfamílias envolvidas no empreendi-mento. Mensalmente, cada associ-ada recebe o equivalente a um sa-lário mínimo. Agora elas têm águaencanada, tanque de lavar roupa,TV, telefone e banheiro dentrode casa. O trabalho também mo-dificou as relações entre os mem-bros das famílias. Maria das Gra-ças, uma das doze associadas, seconsiderava dependente do ma-rido por completo até participardo empreendimento. Hoje ela di-vide com o esposo as responsa-bilidades da casa. “Melhoroutanto que meu marido vendeunosso pedaço de terra e comprououtro mais próximo da fábrica.Ajudei a construir a casa e a mo-biliar”, lembra.

Trabalhosério

A atividade das mulheres deunovo ânimo à Associação, antes for-mada só por homens. A mudançafoi tão significativa que a entida-de passou a ser dirigida por elas.

Maria Aparecida Álbares, atu-al presidente da Associação deCassimiro, conta que, no início, ogrupo era alvo de constantes brin-cadeiras, mas aos poucos o esforçodas associadas passou a ser leva-do a sério. “A gente não dependemais do marido. Quando quere-mos comprar alguma coisa, nãoprecisamos pedir dinheiro a eles.Pelo contrário: hoje a gente leva oque ganha para dentro de casa”,afirma Maria Aparecida.

Maria Aparecida eMaria das Graças:

respeito conquistadoem casa e no trabalho

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No entanto, quando seusrendimentos são comparadosaos dos homens, a remunera-ção é 34% menor.

Mulheresno mercado

Outra pesquisa, desta vez realizada pelo Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE) em 2001, aponta que 25% dosdomicílios brasileiros são chefiados por mulheres.

Segundo Edinete Henriques Jú-nior, extensionista de Bem-estar So-cial da Emater–MG que participa doempreendimento desde o início, arelação familiar criada pela condiçãode empresárias é nova e, por isso,conflitante em vários aspectos. “Ohomem que tinha por hábito ditar asnormas para a família agora tem deaprender a negociar. A mulher nãoestá numa posição de submissão,mas de questionamento e crescimen-to. É preciso, então, que marido, fa-mília e comunidade cresçam juntos”,explica Edinete.

Apesar de admitir que muitosobstáculos ainda terão de ser venci-dos, a extensionista acredita que, aospoucos, a mulher assumirá de vez umnovo papel social dentro das comu-nidades rurais. “Com certeza a ex-periência e a coragem dessas mulhe-res, de buscar soluções para suasnecessidades pessoais e demandasmais intrínsecas, são um grandeexemplo para Minas Gerais, espe-cialmente para outros grupos queestão sendo formados espelhando-se nesse trabalho. É importante quetodos nós tenhamos a oportunida-de de crescer”, conclui.

A participação feminina no mercado de trabalhobrasileiro aumenta a cada ano. Segundo pes-quisa do Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-econô-micos (Dieese), hoje as mulherescompõem 47,4% da populaçãoeconomicamente ativa da Re-gião Metropolitana de Belo Ho-rizonte.

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Maria da Conceiçãocomeçou vida nova apósunir-se à produção dedoce de bananadas associadas

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ocialmente justo, economi-camente viável, ecologica-mente correto. Os princí-pios da agroecologia co-

meçam a se concretizar em Andra-das. O município, famoso por suasvinícolas - herança da colonizaçãoitaliana –, apresenta bons resulta-dos na produção de café orgânicoe colhe os primeiros frutos do in-vestimento em uma agricultura queaposta na qualidade de vida.

O interesse pela produção do caféorgânico chegou ao município em2000, por meio de uma parceria en-tre a Cooperativa de Agricultores Fa-miliares de Poço Fundo e Região(COOPFAM) e a Emater–MG. Os ex-tensionistas da Empresa iniciaram umtrabalho de orientação sobre a impor-tância da agroecologia e dos produ-tos orgânicos. Em 2003, com a criaçãoda Associação de Produtores de Agri-cultura Familiar e Orgânicos de An-dradas e região, o que era apenas umaidéia começou a ganhar adeptos. Hojeo café de Andradas é exportado paraos Estados Unidos, Canadá e Japãopor meio da COOPFAM, da qual aassociação é filiada.

Andradas investena produção decafé orgânico ecolhe primeiros

frutos

Sebastião Benevene é um dosagricultores que apostou na novareceita. Apesar da resistência ini-cial, ele migrou seus 3,5hectares de lavoura decafé convencional parao orgânico, e espera co-mercializar o produto jána próxima colheita.Eleito no ano passadopresidente da Associa-ção, Sebastião ressalta aimportância da entida-de: “hoje trocamos expe-riências e informações,além de trabalhar emmutirão. Isso nos dá maissegurança, mais força“.Outro benefício conquistado pelaunião dos agricultores é a reduçãodos custos de certificação e de pro-

dução, além da possibilidade deconseguir o volume necessário paraa comercialização.

Dos nove associados,seis cultivam café total-mente orgânico e três uti-lizam adubo químico (sis-tema SAT – sem agrotó-xico). Juntos, eles plan-tam 47 hectares, entre os8 mil hectares de café cul-tivados na região. No anopassado, foram benefici-adas 370 sacas de café to-talmente orgânico, comprodutividade média de29 sacas por hectare. “Épreciso garantir mercado

para que os sócios atuais e outros130 existentes na Cooperativa dePoço Fundo comercializem seus

com sustentabilidadeCafé

Lílian Pacheco○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Matheus e o pai, Ozório, compartilham a experiência com o cultivodo café orgânico

“O trabalhodesenvolvidopela Emater–MG é um ca-minho para oagricultor fa-

miliar quebusca, princi-palmente, orespeito à

terra”- MariaRaquel Contin,

agricultora

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produtos”, avalia Benevene. Nasafra de 2004, a saca de café foiexportada como orgânico via “mer-cado justo” (veja box) a R$450,00 ecomercializada no mercado inter-no a R$ 357,00. Já o preço do cafétradicional variou de R$ 240,00 aR$330,00.

A Emater–MG esteve presenteem todas essas etapas, conta a ex-tensionista Maria Neuza de Car-valho, a quem os produtores cre-ditam grande parte do sucesso doprojeto devido aos encontros e vi-sitas às propriedades, num traba-lho educativo. “No município, astécnicas convencionais têm gran-de aceitação, mas decidimos inves-tir na cultura do orgânico porqueacreditamos em sua viabilidade”,afirma Maria Neuza.

Transição

Além de mais saudável para oconsumo, o café orgânico é uma re-ceita de vitalidade para o solo. Aochegar à plantação, logo se vê a di-ferença: pés de café mais vistosos,chão mais úmido, e plantas comoa mamona e o feijão guandu, quepreservam os nutrientes da terra,antes desgastada pela ação deagrotóxicos.

Esse cuidado torna a proprie-dade uma espécie de herança, pre-servada para futuras gerações. Éo caso de Ozório José dos Santos,que cultiva com o irmão 9 hecta-res de café e é um exemplo para ofilho Matheus, de 11 anos. Juntos,pai e filho acreditam na potencia-lidade da cultura que, livre dosagrotóxicos, representa um ganhona qualidade de vida e uma opor-tunidade de aprendizado para am-bos.

Em 2004, o produtor experimen-tou o gosto de exportar, pelo pri-meiro ano, 222 sacas de café reco-nhecido como orgânico. Para isso,é necessário um período de tran-sição de três anos - quando o pro-dutor deixa o sistema convencio-nal e adota o manejo orgânico -,

contados a partir da inspeção deuma certificadora. No caso deOzório, esse tempo foi reduzidopara um ano, considerado o perí-odo em que a Emater–MG prestouassistência à propriedade. “Hojetenho mais gosto de trabalhar; deentrar na lavoura e saber que tudoali é puro. Apesar das dificulda-des, a intenção é migrar outras la-vouras para o orgânico, como fei-jão e milho”, revela Ozório.

Opção de saúde

O mercado também abre espa-ço para a participação de mulhe-res, como a agricultora Maria Ra-quel Contin. Criada na zona urba-

Maria Raquelapostou nos

orgânicoscomo opção

de saúde

na, a produtora de 26 anos arrega-çou as mangas e há cinco anos ad-ministra uma plantação de 7 mil co-vas de café, além de participar daassociação como primeira-secretá-ria. Ex-atleta, Maria Raquel apos-tou nos orgânicos como opção desaúde.

Mas para quem pensa que o in-vestimento no manejo orgânico éuma opção de lucro fácil, está nocaminho errado. Segundo MariaNeuza, a proposta é contribuirpara a construção de um planetamais saudável. “Assim, preserva-mos o meio ambiente e garanti-mos a melhoria da qualidade devida do produtor e sua sustenta-bilidade. Essa é a maior recom-pensa”, garante.

Para comercializar no mercado externo, a cooperativa precisa do avalde uma certificadora. A COOPFAM tem a qualidade de seu produtoatestada pela Fairtrade Labelling Organization (FLO), uma das maio-res entidades do setor.

Conquistar essa certificação exige do produtor a adoção de práticascomo proibição de trabalho infantil, foco na agricultura familiar, me-

lhoria das condições de trabalho e da distribuição delucros, investimentos sociais e proteção das condições

ambientais. Assim, o café é vendido por um preçomais alto e com menor flutuação como for-

ma de remunerar melhores condiçõesde trabalho e eqüidade social, alia-

das à proteção do meio ambiente -daí o nome “mercado justo”.

Socialmente justo

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DoceProdução resgataa cultura do doce

e garante rendaem Silveirânia

fruta era colhida no quin-tal. Muitos litros de leiteeram misturados ao açú-car em um tacho bem

grande. Não faz muito tempo a gen-te podia ver na cozinha de casa (an-tigamente bem mais espaçosa eaconchegante) mulheres de váriasgerações de uma mesma famíliamexendo, sem parar, aquela enor-me panela de cobre que cozinhavaos doces de frutas e de leite. Umdoce, como diz o consumidor mi-neiro, “de comer rezando”.

oportunidade

Giordanna Meirelles○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

O antigo costume de fazer docesem casa é mantido na cidade deSilveirânia, com muito orgulho e von-tade empreendedora. A agricultoraPenha Rodrigues Pereira é uma dasfundadoras da Natudoce, associação

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Foto: Alexandre Soares

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que reúne 20 produtores e produto-ras de doce artesanal do município.Criada em 1998, nascia para atenderà mulher produtora de doce e agre-gar valor ao leite comercializado pelaAssociação dos Produtores Rurais deSilveirânia (Aprus).

Penha conta que tudo começoucom um curso de processamento defrutas, ministrado pelo Cefet–MGpor meio da Emater–MG. “O cursofoi na casa do ex-presidente da Na-tudoce, Américo Arantes, onde pro-duzimos doces por dois anos, até con-seguirmos um galpão dentro do Par-que de Exposições de Silveirânia”,lembra a doceira. O grande salto veioem 2001, quando o Servas doou aosprodutores equipamentos que possi-bilitaram um aumento da produção e,assim, maior renda com o trabalho. Emseguida, com a parceria da Prefeiturade Silveirânia, foi construída a FábricaNatudoce, com capacidade para pro-duzir 300 kg de doce por dia.

Penha, que faz doce há cerca de30 anos, teve então o seu sonho re-alizado. “Sempre quis fazer doceem compota, mas não tinha aestrutura necessária. A fábri-ca superou minhas expectati-vas. Hoje, além de ter minharenda e independência finan-ceira, trabalho com alegria”,comenta.

Desenvolvimento sustentável

A Emater–MG sempre este-ve presente na história da Natu-doce. Além de ajudar a criar oprojeto, capacitar, orientar eacompanhar os produtores, se-guindo a linha de desenvolvi-mento rural sustentável, a Exten-são Rural procura fortalecer aunião entre grupos e qualificar oprodutos por eles comercializa-dos. Para isso, promove cursossobre associativismo, gerencia-mento e mercado, legislação e pro-dução agroartesanal.

Os extensionistas da Ema-ter–MG Maria da Glória Ca-

margos Pereira, apoio técnico emJuiz de Fora, e José Alcir Barros deOliveira, engenheiro agrônomo emSilveirânia, enumeram os vários be-nefícios da Natudoce: geração deemprego e renda, agregação de va-lor à matéria-prima da comunida-de, resgate da cidadania, fortaleci-mento do espírito associativista e do

empreendedorismo, valorização dacultura local, contenção do êxodorural e integração entre as gerações.Essa integração abre portas paradoceiras mais jovens, como SôniaAlves de Melo. Com 22 anos, doisdedicados à produção de doce ar-tesanal, Sônia já é presidente da Na-tudoce. Formada técnico em agro-

indústria, a produtora ru-ral busca criar uma empre-sa paralela à associaçãopara, conforme o novoCódigo Civil, comerci-alizar a produção fora dacidade.

”Enquanto esperamoso registro da Anvisa, queatestará a qualidade donosso produto, a produ-ção fica reduzida. Por se-mana, fazemos cerca de150 kg de doce. São maisde 12 tipos, vendidospara o mercado local,Belo Horizonte (Arma-zém da Roça) e para amerenda escolar em Sil-veirânia”, explica Sôniade Melo. Ainda de acor-do com a produtora,quando a fábrica estiverem pleno funcionamento,será a única fonte de ren-da dos associados.

Associadas da Natudoce em companhia do prefeito de Silveirânia,Jânio David (esq.), e dos extensionistas da Emater-MG,

José Alcir Barros e Maria da Glória Camargos

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Foto: Giordanna Meirelles

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ovelino dos Reis Silva sem-pre morou em Planalto deMinas, distrito de Diaman-tina. Casado e com uma fi-

lha de dois anos, estudou até o se-gundo ano do ensino médio e vivecom a família na casa dos pais. De-sanimado com a falta de oportuni-dades de crescimento profissional,há cinco anos ele pensou em largartudo e começar vida nova em outracidade. Como Jovelino, muitos pro-dutores rurais abandonam o campoe tentam a sorte nas grandes cida-des, aventura que, muitas vezes, nãotermina do jeito planejado.

A saída de Jovelino da comuni-dade onde mora há 30 anos foi evi-tada por um arrojado empreendi-mento dos produtores locais: a cons-trução de uma fábrica para produ-zir e comercializar polvilho. “Aqui

Fábrica depolvilho evita

êxodo rural deprodutores em

Diamantina

não tinha grandes coisas para aspessoas fazerem. Quando surgiu aoportunidade de ser associado à fá-brica, pensei: não vou sair agora,vou dar um tempo para ver o queacontecerá”, lembra Jovelino. Hojeele não pensa mais em sair de Pla-nalto de Minas. “Boto muita fé nes-te trabalho aqui”, afirma.

Capacitação

O empreendimento nasceu em1999, como alternativa econômica emelhoria na qualidade de vida dasfamílias no meio rural. Até a cons-trução da fábrica e a comercializa-ção do polvilho, o projeto passou porvárias etapas. A Emater–MG acom-panhou o processo desde o início. Coma orientação dos extensionistas, osprodutores criaram o grupo de pro-

Sebastião Avelar○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

mudançaSonhode

Maris Stela e José Maria(acima), extensionistas da

Emater-MG, orientam a asso-ciação liderada porGeraldo e Jovelino

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A matéria-prima para fabri-car o polvilho é a mandioca, tra-dicionalmente cultivada na re-gião. Para custear o plantio in-dividual, os produtores parti-cipam do Programa Nacional deAgricultura Familiar (Pronaf).Antes do projeto, a área desti-nada ao plantio de mandiocano distrito era de aproximada-mente 9 hectares, no quintal decasa. Hoje foi ampliada para 60hectares, com produtividade de20 toneladas por hectare.

Em 2003 a fábrica produziu42 toneladas de polvilho, forne-cidas a supermercados, padari-as e mercearias de Diamantinae cidades vizinhas. Cada paco-te de um quilo do produto évendido a R$ 2,60. “Muita gen-te não recebia dinheiro algum.Hoje estão recebendo e vêemque é um projeto que vai se de-senvolver muito e beneficiarcentenas de famílias na região”,destaca Jair Antônio Costa, umdos proprietários do projeto.

dução de polvilho e a Associação Cul-tivar dos Produtores Rurais de Pla-nalto de Minas em 2004. Até 2002 fo-ram realizadas diversas ações paraconcretizar o empreendimento, querecebeu o nome de “Proje-to Polvilho: Sonho de Mu-dança”.

Para conhecer o proces-so de fabricação do polvilho,os associados visitaram ou-tras fábricas e participaramde cursos de capacitação emgestão coletiva, financeira,ambiental e cooperativismo.Os produtores também rece-beram orientações sobre téc-nicas higiênico-sanitárias, demodo a garantir a qualidadee a segurança alimentar dopolvilho fabricado por eles. Todas asações foram coordenadas pela Ema-ter–MG.

Nesse período, a Associação con-seguiu financiamento com um gru-po alemão para construir a fábrica ecomprar equipamentos. Como par-ceiros, participaram a prefeituramunicipal, a Cemig e o Pró-RendaRural. O terreno para a obra foi do-ado por um dos produtores. De pos-se da estrutura completa para cons-truir a fábrica, os associados entra-ram com o que faltava: a mão-de-obra. Assim, o empreendimento co-meçou a ser operacionalizado em2002, produzindo 24 toneladas depolvilho em caráter experimental.

O projeto não está totalmente im-plantado, mas já trouxe resultadospositivos. “Algumas pessoas quequeriam ir embora da comunidade

não foram, porque hoje são proprie-tárias desse projeto. Elas estão fixan-do residência porque têm uma op-ção de trabalho”, aponta Maris Ste-la Pires Lima, extensionista em

Bem-estar Social daEmater–MG.

Para expandir o ne-gócio, a Associação pre-tende ampliar seu mer-cado e investir no plan-tio coletivo, com a com-pra de uma área de 300hectares com recursosdo Programa CréditoFundiário. Segundo Ge-raldo Sobrinho Costa,presidente da Associa-ção, a expectativa é deque até 2006 o grupo

esteja produzindo 60 toneladas depolvilho por mês. “A Associação ébem organizada. Espero uma gran-de melhoria na produção e na ven-da”, afirma Geraldo.

Multiplicação do polvilho

Dona Nair, associada mais experiente do Projeto�Polvilho: Sonho de Mudança�

A fábrica de Diamantinaproduziu, em 2003,42 toneladas de polvilho

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“Algumaspessoas quequeriam ir

embora da co-munidade nãoforam, porquehoje têm umaopção de tra-

balho” - MarisStela Pires,

extensionistada Emater-MG

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natura. A nova experiência foi apre-sentada em Japonvar, municípiopróximo de Januária e grande pro-dutor de pequi, num encontro comrepresentantes de comunidades eórgãos públicos da região. “A novi-dade causou surpresa aos partici-pantes”, conta.

ilha de produto-res rurais de Ja-nuária, VicentinaBispo sempre se

preocupou com o destinodas frutas nativas do cer-rado mineiro, em especial opequi. O fruto não era bemaproveitado pelas comunida-des da região e acabava se per-dendo no auge da produção, entrenovembro a janeiro. O pequi eravendido apenas in natura e saía domunicípio em caminhões e mais ca-minhões carregados.

Mas, há cerca de quatro anos,Tina (como é conhecida na cidade)descobriu que o pequi poderia serutilizado de outras maneiras. Du-rante um curso de agroindústriano Centro Federal de EducaçãoTecnológica de Januária (Cefet),realizado em 2001, ela percebeuque a farofa de pequi que fazia hámais de dez anos para as reuniõesde família guardava uma importan-te técnica procurada por estudio-

sos de univer-sidades minei-ras, há longadata. O processopara preparo da fa-rofa nada mais era quea desidratação do pequi, quemuitos pesquisadores tentavam enão conseguiam realizar.

Em 2001 Vicentina e um instru-tor do Cefet viram uma oportuni-dade de negócios com o novo pro-cessamento do pequi. Até então, sóse aproveitava o pequi para fazeróleo, licor, conserva e consumo in

Produtora rural �inventa�a farofa de pequi epromove oportunidade detrabalho e renda

empóPequi

Edna de Souza○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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renda para a população local. A pol-pa utilizada na elaboração de seusprodutos é fornecida por associaçõesde produtores das comunidades deSumidouro, Gaim e Quilombo. Otrabalho de despolpamento realiza-do por esses grupos é orientado pelaEmater–MG, com informações sobrehigienização de processos e organi-zação comunitária para o trabalho.

Segundo Vânia Antunes Peixoto,extensionista de Bem-estar Social daEmater–MG em Januária, a farofa“Pequitina”, marca idealizada porVicentina, já é um produto conhe-cido, vendido de porta em porta,em feiras da região e em espaço in-

formal no Cefet. “Exis-te uma relação detroca: Tina precisada polpa para fa-zer a farofa, e asmulheres dascomunidades

precisam ven-der a polpado produto.Assim, asduas partessaem ganhan-do”, comen-ta Vânia.

Vicentinha Bispo: farofade pequi em processo

de registro de patente

Três comunidades fazem odespolpamento de pequi,sob orientação daEmater em Januária

Além de ser apreciadoem pratos salgados, licorese doces, o pequi é conheci-do pelo alto valor nutricio-nal. O fruto é rico em prote-ínas, sais minerais e vitami-nas A, C e E. Pesquisas indi-cam que esses nutrientes aju-dam a prevenir tumores,doenças cardiovasculares e aformação de radicais livres,principais responsáveis peloenvelhecimento precoce. Porser uma rica fonte de carboi-dratos, o pequi também fun-ciona como importante com-plemento alimentar da popu-lação do cerrado mineiro.

Sua polpa contém cercade 60% de óleo comestível esua amêndoa produz umóleo que pode ser utilizadona indústria de cosméticospara fabricação de sabonetese cremes. Pelo fato de suamadeira produzir um carvãode ótima qualidade, o pequi-zeiro sofre atualmente como extrativismo e as queima-das - o que pode levar a es-pécie à extinção.

cerradoOuro do

Desenvolvimento regional

Convencida de que se tratavade um novo produto, Tina cons-tatou que era preciso aperfeiçoaros métodos de produção. Então,iniciou um processo de registrode patente da farofa e atualmenteespera apenas o registro definiti-vo. Além da farofa, Tina produz,a partir do pequi, condimentos empó e um suplemento alimentar quepode ser adicionado ao leite ou emsopas.

Além de desenvolver um novométodo de processamento do pequi,Vicentina criou uma boa opção de

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á nove anos, 23 mulheresde Mocambinho, no Nor-te de Minas, decidiram ar-regaçar as mangas e bata-

lhar para que a renda de suas famí-lias aumentasse. Certas da necessi-dade de se unirem para facilitar abusca por financiamentos, elas cri-aram a Associação das MulheresUnidas de Mocambinho.

A primeira meta do grupo foiconquistar um espaço para desen-volver trabalhos coletivos. Para isso,enviaram a solicitação a liderançaspolíticas e entidades financeiras.Pouco depois, receberam do Insti-tuto de Desenvolvimento do Nor-deste (Idene) a doação de equipa-mentos para montar uma unidade

de processamento. Da Ruralminas,receberam o galpão que hoje abrigaa Cozinha Comunitária Sertaneja.

Para colocar a mão na massa,elas fizeram alguns cursos,que foram promovidospelo Distrito de Irrigaçãodo Jaíba. A partir de 2003,com a instalação da unida-de da Emater–MG no Pro-jeto Jaíba, as associadas co-meçaram a receber assis-tência técnica das extensi-onistas de Bem-estar Soci-al, que fornecem orientações sobregestão da associação, comerciali-zação, obtenção de crédito, divul-gação de produtos e capacitação naárea de fabricação.

Associaçãodas Mulheres

Unidas deMocambinho

aumentarenda com a

agroindustrialização

Projeto do go-verno de MinasGerais iniciadohá um ano parabeneficiar associ-ações comunitá-rias organizadasque se compro-metam a fazerdoações paraescolas e crechescomunitárias.

Edna de Souza○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

noDe olho futuro

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Na merendaescolar

Depois de quase umano produzindo pães,roscas, biscoitos, pão-de-queijo, salgados edoces de vários tipos(banana, mamão, goiabae abóbora), as associadaselevaram a produção. Omotivo foi o convêniocom a Companhia Naci-onal de Abastecimento(Conab), quando começa-ram a fornecer seus qui-tutes para a merenda decinco escolas estaduais euma municipal. Hoje aprodução é de cerca de 2.600 pãese o mesmo número de unidadesde 20 g de doce todo mês.

Antes do convênio, as associa-das vendiam os produtos no mer-cado local, sob encomenda para acomunidade e para lanches emcursos da Emater-MG, Epamig eCompanhia de Desenvolvimento

dos Vales do São Francisco e doParnaíba (Codevasf). “É um mer-cado pequeno, mas a populaçãocomeça a ver nossa fábrica comoum excelente ponto de venda, atéporque não existe padaria em Mo-cambinho”, destaca a presidenteda Associação, Maria do SocorroOliveira Santos.

Atualmente, todo o dinheiroque entra é utilizado para o cus-teio das atividades, além do pa-gamento das associadas. “Já pas-samos por muitas dificuldades,mas aprendemos que a união é queajuda. Isso é uma escola de vida”,completa a vice-presidente da as-sociação, Luíza Martins Barbosa.

Os quitutes da Associação concorrem ao I Concurso daQualidade do Produto da Agroindústria Familiar do Jaíba.

Os premiados serão conhecidos em abril de 2006

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ComercializaçãoPara o gerente da Unidade Regional da Emater-MG

no Projeto Jaíba, José Aloizio Nery, a agroindústria familiar é uminstrumento de organização, de agregação de valor aos produtos, de ocu-

pação e inserção da mulher no mercado, com a possibilidade de gerar renda emelhorar a qualidade de vida. No entanto, Aloizio destaca a comercializaçãocomo ponto fraco no desenvolvimento da agroindústria familiar: “Comercializarnão é uma questão simples para a agricultura familiar, que não mantém escala

de produção contínua. Uma forma de solucionar essa questão é patrocinara melhoria da merenda escolar com utilização de produtos da agri-

cultura familiar, em parceria com a Conab. No entanto, ou-tras parcerias são necessárias para melhorar esta

questão”, diz.

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inco da manhã. É hora deGeralda Moreira Reis selevantar e preparar o cafépara a família. Enquan-

to isso, Stênio, o filho mais novo,prepara o gado para a ordenhamecânica. Com o café já pronto,Geralda toma banho e troca deroupa. Ela veste avental, calça bo-tas e põe máscara para entrar naqueijaria, após a ordenha, e jogar o

Com a faca e o queijo na mão

Produtores de queijo minas artesanal nasserras do Salitre e da Canastra investem na

qualidade para aumentar lucro

dores, sem utilizar os serviços do quei-jeiro ou atravessador, e investir naqualidade do produto, aprimorandoos métodos de produção.

Com recursos do Programa Na-cional de Fortalecimento daAgricultura Familiar (Pro-naf) e orientado por Wilson,Vanderlino ajustou sua pro-priedade às exigências da lei14185 de 2002, que regula-menta a produção do quei-jo minas artesanal.

Além do tratamentoadequado da água (tem deser potável), a lei determi-na que o rebanho seja sadio,

o produtor seja capacitado em boaspráticas de produção e tenha boa saú-de, o curral de ordenha seja calçado ecoberto, com sala de espera, e o pro-duto seja aprovado em análise labo-ratorial. Já a queijaria deve ser cerca-da, vedada com telas e equipada comutensílios de plástico.

O esforço valeu à pena. O queijonão mais “inchou”, e, há um ano,Vanderlino tornou-se o primeiroprodutor de queijo minas artesanalno Estado a obter o cadastro do Ins-tituto Mineiro de Agropecuária(IMA), órgão responsável pela qua-lidade dos produtos de origem ani-mal e vegetal. Hoje é fornecedor deuma fábrica de pão de queijo emUberlândia, mas quer aumentar asvendas para Belo Horizonte.

O pingo é um sorosalgado obtido no fi-nal da produção doqueijo e que é acres-centado ao leite crupara ajudar na for-mação da coalhada.O coalho é um líqui-do ou pó feito de en-zimas do estômagode bezerros, respon-sável por coagular oleite e transformá-loem coalhada.

Rober ta Vieira○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Na casa de Vanderlino,Stênio e Geralda, a mesa docafé tem pão de queijo, bolode queijo e o próprio queijo,feito em casa

pingo e o coalho no tonel. Agora ésó esperar 45 minutos para o leitetalhar e, então, fazer o típico queijominas artesanal da região da serra doSalitre, no Oeste de Minas.

Geralda aprendeu aamassar o queijo com o pai,e este com o avô, como tan-tas outras gerações minei-ras desde o século XVIII.De suas mãos saem todosos dias cerca de 40 queijos.Ela conta que, às vezes, oqueijo desandava, mas nãotinha idéia do porquê.“Pensávamos que era porcausa do tempo ou de al-gum desarranjo da vaca. Hoje sabe-mos que era relacionado à higiene”,lembra. Ela e o marido, Vanderli-no, descobriram o motivo com a ori-entação de Wilson José Rosa, exten-sionista da Emater–MG.

Investimento

Assim como outros produtores daregião, Vanderlino queria ganhar maiscom a produção de queijo. A soluçãoera vender diretamente aos consumi-

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Importância nacional

Para atender à demanda da ca-pital, Vanderlino e o colega João Joséde Melo – segundo produtor deMinas com cadastro no IMA – com-binaram unir a produção e comerci-alizar em conjunto o produto. Aolado de 63 produtores, eles fazemparte da Associação de Desenvolvi-mento Comunitário de Catulés. Osassociados são orientados desde oinício por Wilson e atualmente pro-duzem cerca de 2 mil quilos de quei-jo por dia.

Apesar do investi-mento, Vanderlino eJoão não aumentaramo preço do queijo. Osdois pretendem aten-der a consumidoresde supermercados,adegas e delicatéssenem Belo Horizonte.Como bons mineiros, nãodeixam a cautela de lado. “Temque ir devagar para ver o retorno.Só aí pensaremos em aumentar aprodução”, diz Vanderlino.

João, que visitou a França e a Itá-lia para conhecer as técnicas e a or-ganização dos produtores daquelespaíses, destaca a importância doqueijo para Minas Gerais. “Produzi-mos com o mesmo padrão dos euro-

peus e com qualidade para competircom queijos importados. Nosso pro-duto é um dos símbolos de Minasno Brasil. Valorizar a padronizaçãodos processos produtivos pode abrirnovos mercados e mudar a vida demuitas famílias no Estado. A Ema-ter–MG tem papel fundamental nes-se objetivo”, reflete.

Evolução na Canastra

Em Medeiros, na serra da Canas-tra, 20 produtores seguem os passos

de Vanderlino e João.Reunidos desde 2002

na Associação dosProdutores deQueijo Canastrade Medeiros(Aprocame), elesajustam suas quei-

jarias para obtertambém o cadastro

no IMA e aumentar arenda da família. Seis associa-

dos estão em processo de cadastra-mento no Instituto.

O grupo é orientado por Alber-to Paciulli Schwaiger, extensionistada Emater–MG, na organização, ca-pacitação, comercialização e obten-ção de crédito. Segundo Alberto, aAprocame permite aos produtorescomercializar em grupo, adquirir in-

Com a ajuda de um panofino e um escorredor,Geralda espreme a massaque dará origem ao queijo

sumos a preços mais baixos e dividirgastos com a divulgação dos quei-jos. Ao todo, produzem 400 kg pordia, vendidos na região, em BeloHorizonte, São Paulo e Rio de Janei-ro. ”Ainda é preciso que a Aproca-me invista na estrutura de trabalho eadquira sede própria e um veículopara transportar os produtos aos cen-tros consumidores”, afirma Alberto.

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Para estimular o aprimoramento das técnicas pelos produtores, Alber-to participa da organização de concursos municipais e regionais de qua-lidade do queijo da Canastra. Na última disputa regional, o primeirolugar foi do produtor Luciano Carvalho, presidente da Aprocame. Apósa assistência do extensionista, o associado garante que a qualidade doqueijo que produz tornou-se infinitamente melhor e com mais seguran-ça alimentar. “Eu tinha medo que meu queijo fizesse mal às pessoas. Oúltimo lugar que mostrava aos outros era onde eu fazia o queijo. Hojetenho satisfação em produzir um alimento com a certeza de que faz bema quem consumi-lo”, revela Luciano.

Para o presidente da Aprocame, o investimento na qualidade do pro-duto deve ser acompanhado pelo aumento na fiscalização. “A renda doprodutor familiar só vai melhorar quando a fiscalização dos queijos co-mercializados for mais intensa. Será um grande estímulo para quem pro-duz com qualidade”, avalia.

Helena e Luciano produzemcerca de 15 queijos na

Serra da Canastra

Orgulho da queijaria

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ROMPENDOCooperativa dos

PequenosProdutores do

Projeto do Jaíbaamplia horizontes

da comunidade

á foi a época em que sobra-vam banana, goiaba e bata-ta-doce em Mocambinho,no Vale do Jaíba. Cansadas

de ver frutas da época que não eramvendidas in natura se perderem, 26pessoas aproveitaram a experiênciaque têm para a cozinha e decidiramfabricar doces. Em 1998, elas se uni-ram e formaram a Cooperativa dosPequenos Produtores do Projeto doJaíba (Cooperjaíba).

Com o tempo, o projeto ganhouforça e, em 2003, foi criada a Unida-de de Processamento de Doces. A“fabriqueta” - como a chamam oscooperados - funciona em terrenoonde existia uma lavanderia comu-nitária. A propriedade foi doada pelaRuralminas à cooperativa. Recursos

de R$ 20 mil, disponibilizados peloInstituto de Terras (Iter) foram utili-zados para a reforma do galpão, com-pra de equipamentos e treinamentodos associados.

Segundo a cooperada CidéliaAnunciação Gomes, a Emater–MGtambém contribuiu para o crescimen-to do grupo. “Com a chegada daempresa a Mocambinho, o caminhoque procurávamos ficou mais claro.Agora contamos com um processotécnico, informações sobre sanitiza-ção, mais segurança e organização”,conta Cidélia.

A responsável pela assistência daEmater–MG aos cooperados é a ex-tensionista Kelly Cristina Gomes Te-odoro, que vê nesse trabalho umapossibilidade de crescimento dos

barreiras

Edna de Souza○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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cooperados, de geração de renda e,principalmente, de organização so-cial. “A união é fundamental para ofortalecimento da agricultura fami-liar”, opina Kelly.

Venda garantida

A produção segue de segunda asexta-feira em regime de rodízio depessoal, de acordo com o recebimen-to de matérias-primas. Os doces sãofeitos no tacho a vapor. O produtofinal é resultado de um trabalhopuramente artesanal de despolpa-mento. “Isso atrasa a produção. Sepudéssemos ter uma despolpadei-ra, a produção passaria para 100 kgde doce”, explica Maria José Ferrei-ra, uma das cooperadas responsá-veis pela fabriqueta.

No início, a comercialização erafeita de porta em porta e em algunspontos de venda em Jaíba. Hoje osprodutos têm destino certo: a pro-dução é comercializada por meio daCompanhia Nacional de Abasteci-mento (Conab) e repassada às esco-las e creches do município. Os coo-perados auferem receitas no forne-cimento de matéria-prima e no re-cebimento da distribuição das so-

bras. Parte do dinheiro arrecadadotem sido reinvestido na própria in-dústria. “Ter uma cooperativa bemorganizada, com tudo legalizado,todos trabalhando juntos em umprojeto que nós mesmos criamos,traz um grande sentimento de rea-lização. Esperamos poder passartudo isso para nossos filhos e ne-tos”, diz Maria José.

Além de aumentar a renda doscooperados, a Cooperjaíba oferecenovas perspectivas para jovens de Mo-cambinho. Em meio ao trabalho dasdoceiras na fabriqueta, quatro ado-lescentes da comunidade aprendemas melhores práticas na produção dedoces. Eles fazem parte do “ProjetoAmanhã”, criado pela Companhia deDesenvolvimento dos Vales do SãoFrancisco e do Parnaíba (Codevasf).

Para participar do projeto, é pre-ciso estar matriculado e freqüentan-do as aulas. Como parceira do pro-grama, a Emater-MG é responsávelpela capacitação dos jovens. “Ao fre-qüentar as reuniões da Cooperjaí-ba, os aprendizes conhecem melhoro ambiente do cooperativismo. Égratificante contribuir para o desen-volvimento desses adolescentes”,afirma Kelly.

A criação da Cooperjaíbaembalou os sonhos do produ-tor Jahertes Manoel Pereira,hoje presidente da cooperativa.Na época, Jahertes tinha com-prado um terreno na região doJaíba e, com um amigo que tra-balhava com crédito rural noBanco do Nordeste, idealizoua cooperativa.

O objetivo era resolver as di-ficuldades dos produtores locaiscom a comercialização, além de au-mentar a disponibilidade de cré-dito para desenvolvimento de pro-jetos. “A criação da Cooperjabíbafoi como o plantio de mais um fru-to. Contar com o conhecimento dostécnicos da Emater-MG, com infor-mação e tecnologia, traz seguran-ça. O bom é que discutimos e exe-cutamos tudo juntos”, concluiJahertes.

Do sonho à realidade

Do sonho à realidade

Em unidade de processamento própria, 26 cooperadas produzemdoces de goiaba, banana e batata-doce

Equipe daCooperjaíba e a exten- sionista daEmater-MG, Kelly Cristina (direita)

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qui era um lugar esqui-sito. Não tinha nemestrada para a gentevir. Só passava quemtinha montaria, e olhe

lá”. O relato é de dona GenésiaMaria Santos, a primeira moradorada comunidade de Sapata, em Al-menara, no Vale do Jequitinhonha.Juntamente com o marido, há 46anos deu início ao seu grupo famili-ar, hoje formado por 45 famílias des-cendentes do casal.

Dona Genésia chegou à regiãocom 17 anos e, até os 32, teve oitofilhos. Criar a família não foi fácil,mas ela faz questão de dizer que nãose arrepende da escolha que fez. O

sustento da família veio do cultivoda mandioca, com a qual fazia fari-nha para vender e alimentar os fi-lhos. “Não tínhamos gado, nem roçade feijão. Aqui é só farinha mesmo.A gente passa dificuldade, mas vailutando e tocando o barco para fren-te. Temos tudo à base de Deus e denossa fabriqueta”, afirma Genésia,hoje proprietária de uma casa, doterreno onde funciona a escola dacomunidade e de duas casas na áreaurbana de Almenara.

Relação de confiança

A “fabriqueta” mencionada pelaprodutora é a Unidade de Proces-samento de Mandioca de Sapata ou“farinheira”, como é conhecida nopovoado. A estrutura nasceu danecessidade de melhorar as condi-

ções de vida na região, onde atual-mente são cultivados 30 hectares demandioca, com plantio individual.Estimulados por extensionistas daEmater–MG, os moradores se orga-nizaram e criaram em 1985 a Asso-ciação de Desenvolvimento RuralSustentável de Sapata.

Com base nas orientações dostécnicos da Empresa, o cultivo tra-dicional da mandioca, antes feito deforma desorganizada, aos poucos foimodificado. Práticas simples ajuda-ram a melhorar a produtividade: osespaçamentos entre cada pé da plan-ta foram reduzidos, o plantio pas-sou a ser em linha, e a utilização defaixas vegetativas aumentou.

“Notamos uma melhoria na qua-lidade do solo e outra ainda maiorna produtividade, que era de 9 to-neladas por hectare há nove anos e

Associação de produtores de farinha de mandiocamelhora estrutura de comunidade em Almenara

e todos por umUm por todos

Sebastião Avelar○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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passou para 12 toneladas”, diz Hec-tor Carlos Barreto Leal, extensionistada Emater–MG. O empenho dos ex-tensionistas em auxiliar a comuni-dade resultou em uma relação deconfiança. “Há uma grande mudan-ça de consciência em relação à bus-ca de novos interesses por parte dosprodutores. Aliado a isso, está o in-centivo ao uso de outras tecnologi-as”, acrescenta Hector.

União

A construção da farinheira, hánove anos, deu mais força ao em-preendimento. Os recursos para co-locar a fábrica em funcionamentovieram do Governo Estadual e deum grupo de empresários alemães.Já para custear a produção, os pro-dutores utilizam recursos do Pro-grama Nacional de Fortalecimentoda Agricultura Familiar (Pronaf).Mensalmente, são produzidas 17toneladas de farinha de mandioca,com a saca de 50 kg vendida a R$40,00. Cada família recebe seu pa-gamento em farinha de mandioca,que depois é vendida na cidade.Outros 8% do total da produção sãoreservados para a associação co-mercializar.

Hoje boa parte do membros dacomunidade de Sapata tem águaencanada, energia elétrica, TV,antena parabólica, escola de 1ª a4ª série e, alguns, até computador.Para o tesoureiro do grupo, Ade-milson Rodrigues dos Santos, fi-lho de dona Genésia, a união dosassociados foi importante para odesenvolvimento da principal po-tencialidade da região – a mandi-oca – e para o fortalecimento daprópria comunidade. “Antes todomundo trabalhava isoladamente,cada um por si e Deus por todos.Hoje não: é um por todos e todospor um. Com organização a gen-te consegue as coisas. Tudo o quetemos aqui, uma casinha na cida-de, gado, tiramos da farinha”, des-taca Ademilson.

Para melhorar os resultados obtidos com a comercialização de fari-nha de mandioca, o grupo de produtores planeja organizar uma feiraespecífica para vender seus produtos, em parceria com o Conselho Mu-nicipal de Desenvolvimento Rural Sustentável e com a Emater–MG.

Outra iniciativa é a busca de novos mercados, localizados fora domunicípio. “Sem essa visão associativista, as comunidades rurais esta-rão fadadas a viver na exclusão social. A concorrência é grande. Esta-mos disputando o mercado de farinha hoje com o mundo inteiro prati-camente. Se não estivermos preparados, ficaremos fora do mercado”,adverte Hector Barreto.

Iniciativas

Com a orientação do extensionista Hector Barreto (centro), aprodutividade da mandioca aumentou de 9 para 12 toneladas/

hectare. À direita, Ademilson Rodrigues, filho de D. Genésia

D. Genésia criou oito filhos com a venda da farinha de mandioca

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uem visita a casa de MariaJosé e José Pires logo per-cebe que o cafezinho ofe-recido tem um gosto dife-

rente. O segredo está no doce: nolugar de açúcar cristal, refinado ouadoçante, a bebida é adoçada comaçúcar mascavo orgânico. O tempe-ro vem das mãos de Maria José, fei-to da cana plantada na propriedadedo casal em Diogo de Vasconcelos,a 25 km de Mariana.

Além do casal, outros 24 produ-tores da cidade vivem de lavourasde subsistência como feijão e milho.Em 2000 eles decidiram se unir parafazer dinheiro com a cana que tam-bém plantavam. Assim, criaram aAssociação Comunitária dos Produ-tores de Cana-de-açúcar de MiguelRodrigues.

Depois de um acordo com a Pre-feitura Municipal, os associados tor-naram-se responsáveis pela gestãode um engenho comunitário, ao ladoda casa de Maria José. Com a exten-sionista de Bem-estar Social da Ema-ter–MG, Thaís Kalil, conheceramboas práticas na produção do açú-car e reformaram a estrutura emparceria com uma empresa que pos-sui um empreendimento hidrelétri-co na região. “Agora o melado nãoazeda mais”, garante Maria José,que aprendeu com Thaís a evitarfungos e objetos físicos no açúcar.

Orientados pelo também exten-sionista da Emater–MG, Mauro Lú-

cio Ferreira, os associados plantaramas mudas doadas pela mesma empre-sa que colaborou com a reforma doengenho e em 2004 colheram na pri-meira safra 10 toneladas de açúcar.A produção foi vendida em BeloHorizonte e Uberlândia,onde foi utilizada paracompor misturas de cere-ais. Em junho, eles corta-ram novamente a canaque cresceu sem aditivosquímicos ou defensivos eque gerou uma rendamédia de R$ 500 por fa-mília. “O associativismoaumenta o poder de ne-gociação dos produto-res, que ganham forçapara lutar por seus ob-jetivos”, explica Thaís.

As metas dos associados são au-mentar a produção e armazenar oaçúcar para vender o ano todo, prin-cipalmente quando a oferta do pro-duto no mercado cai eo preço sobe. Thaís aju-dou o grupo a elaborarum projeto para obtera doação de um tratore recursos para realizarnovas melhorias no en-genho. Além de trans-portar a cana, o veículoseria usado por outras100 famílias em lavou-ras de subsistência.“Queremos aumentar aquantidade plantada,porque só feijão e mi-lho não sustentam agente”, enfatiza a asso-

ciada Zélia Lucas do Espírito Santo.Outras estratégias para agregar

valor ao açúcar e aumentar o lucrosão embalar e rotular o alimento, eli-minando o atravessador na comer-cialização do produto, mas faltam

terra e capital. “Para con-seguir crédito, emitir notafiscal em nome da Associa-ção e buscar novos merca-dos, a legislação tributáriae a trabalhista exigem re-gistro de produtor rural.Entretanto a maioria daspropriedades onde estão osassociados foi herdada eainda está no nome dos pais,o que dificulta ainda mais asituação”, esclarece Thaís. Etrabalhar com crédito ain-

da não está nos planos do grupo.“Não nos sentimos seguros para isso.Temos que saber qual responsabili-dade estamos assumindo, ao pegarum dinheiro desses”, reflete Zélia.

Um �cadinho� mais deGrupo em Mariana deposita

esperança de renda no aumentoda produção de açúcar orgânico

Zélia, Maria José e José Pires: �Queremosaumentar a quantidade plantada, porquesó feijão e milho não sustentam a gente�

doceUm �cadinho� mais deGrupo em Mariana deposita

esperança de renda no aumentoda produção de açúcar orgânico

Rober ta Vieira○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

“O associati-vismo aumentao poder de ne-gociação dosprodutores, queganham forçapara lutar porseus objetivos” - Thaís Kalil,extensionistada Emater-MG

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Minas Exce lênc ia emAgricultura, realizadono dia 18 de abril, em

Belo Horizonte, foi um ines-quecível momento de afirmaçãodo agronegócio mineiro. Ascerca de 40 ações anunciadas noencontro para incrementar ati-vidades que se desenvolvemantes da porteira, dentro daspropriedades e além delas es-tão perfeitamente sintonizadascom o esforço do governo Aé-cio Neves para promover o ple-no crescimento econômico doEstado, com a garantia de umavida melhor para toda a popu-lação.

Nosso Estado, com suas múl-tiplas forças econômicas, mos-tra sua vocação rural por inter-médio do conjunto das cadeiasprodutivas de alimentos, que

respondem por 34% doPIB estadual e 10% doagronegócio nacional.

A diversificada eco-nomia do agronegóciomineiro e o seu grandealcance social, destaca-dos no Minas Excelênciaem Agricultura, justifi-cam a união de forçasdentro do governo parabeneficiar as atividadesrurais e aquelas que lhesdão suporte . Além daSecretaria de Agricultu-ra e de suas vinculadas,

outras instituições do governode Minas estão envolvidas nes-se pro je to permanente , for -mando uma poderosa interfaceque oferece avanços na pesqui-sa, transformação de produtos,proteção ambiental, inserção doagricultor familiar e no desen-volvimento sustentável, entreoutros.

No evento , conf i rmou-setambém o apoio indispensáveldas parcerias privadas, sobre-tudo das entidades que congre-gam os produtores, como a Fe-deração de Agricultura e Pecu-ária de Minas Gerais (Faemg),bem como a indispensável par-ceria dos trabalhadores ruraispor intermédio da Fetaemg, edas cooperativas, do Estado,r e p r e s e n t a d a s p e l a O c e m g ,além de diversas forças da so-ciedade.

Graças à atuação conjunta degoverno e iniciativa privada, oMinas Excelência em Agricultu-ra superou as expectativas, re-afirmando a força e importân-cia do agronegócio na economiaestadual e apresentando deci-sões que irão promover a con-solidação das atividades dessesetor.

A certeza de transformaçõesno cenário do negócio rural,por meio das medidas anunci-adas, gerou um clima de otimis-mo que se refletiu nos resulta-dos da Superagro Minas 2005,vitrine da atividade rural noEstado. Ali também, no ambi-ente do Complexo Expominas,a excelência dos segmentos daprodução teve o suporte da ex-celência das parcerias público-privadas, uma união de forçasconsiderada indispensável pelogoverno Aécio Neves em todasas áreas da atividade econômi-ca.

Estamos certos de que asações anunciadas no Minas Ex-celência em Agricultura e agrande integração promovidapelo evento ainda vão geraroutros grandes frutos para oEstado.

Silas BrasileiroSecretário de Estado de Agri-cultura, Pecuária e Abasteci-mento de Minas Gerais

A excelência do agronegócio

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Unidades Regionais daEMATER�MG

w Alfenas - Fone: (35)3292-1170 - Fax: (35)3292-5144 E-mail: [email protected] Almenara - Fone: (33)3721-1152 - Fax: (33)3721-2378 E-mail: [email protected] Araçuaí - Fone: (33)3731-1514 - Fax: (33)3731-1801 E-mail: [email protected] Araguari - Fone: (34)3241-7522 - Fax: (34)3242-8990 E-mail: [email protected] Bambuí - Fone: (37)3431-2305 - Fax: (37)3431-2305 E-mail: [email protected] Barbacena - Fone: (32)3331-0655 - Fax: (32)3331-5901 E-mail: [email protected] Belo Horizonte - Fone: (31)3349-8347 - Fax: (31)3349-8244 E-mail: [email protected] Belo Horizonte - Fone: (31)3349-8345 - Fax: (31)3349-8121 E-mail: [email protected] Capelinha - Fone/Fax: (33)3516-2028 E-mail: [email protected] Cataguases - Fone: (32)3421-7374 - Fax: (32)3421-5972 E-mail: [email protected] Caxambu - Fone/Fax: (35)3341-4772 E-mail: [email protected] Curvelo - Fone: (38)3721-7523 - Fax: (38)3721-5395 E-mail: [email protected] Diamantina - Fone: (38)3531-1345 - Fax: (38)3531-2277 E-mail: [email protected] Divinópolis - Fone/Fax: (37)3222-7816 E-mail: [email protected] Governador Valadares - Fone/Fax: (33)3271-7288 E-mail: [email protected] Guanhães - Fone: (33)3421-2580 - Fax: (33)3421-1538 E-mail: [email protected] Guaxupé - Fone/Fax: (35)3551-5671 E-mail: [email protected] Ipatinga - Fone/Fax: (31)3821-6882 E-mail: [email protected] Itajubá - Fone/Fax: (35)3623-2576 E-mail: [email protected] Janaúba - Fone: (38)3821-1589 - Fax: (38)3821-1450 E-mail: [email protected] Januária - Fone/Fax: (38)3621-1019 E-mail: [email protected]

w Juiz de Fora - Fone/Fax: (32)3224-5389 E-mail: [email protected] Lavras - Fone: (35)3821-0010 - Fax: (35)3821-3784 E-mail: [email protected] Manhuaçu - Fone/Fax: (33)3331-2060 E-mail: [email protected] Mocambinho/Jaíba - Fone/Fax: (38)3833-4026 E-mail: [email protected] Montes Claros - Fone/Fax: (38)3223-2130 E-mail: [email protected] Muriaé - Fone: (32)3722-5799 - Fax: (32)3722-8373 E-mail: [email protected] Passos - Fone: (35)3522-1166 - Fax: (35)3522-4194 E-mail: [email protected] Patos de Minas - Fone: (34)3823-1551- Fax:(34)3823-1547 E-mail: [email protected] Pirapora - Fone/Fax: (38)3741-3502 E-mail: [email protected] Ponte Nova - Fone/Fax: (31)3817-1556 E-mail: [email protected] Pouso Alegre - Fone: (35)3422-3777- Fax:(35)3422-8985 E-mail: [email protected] Salinas - Fone/Fax: (38)3841-1304 E-mail: [email protected] São Francisco - Fone: (38)3631-1797- Fax:(38)3631-1386 E-mail: [email protected] São João Del Rei - Fone/Fax: (32)3371-8613 E-mail: [email protected] Sete Lagoas - Fone/Fax: (31)3774-7070 E-mail: [email protected] Teófilo Otoni - Fone: (33)3522-5722 - Fax:(33)3522-5726 E-mail: [email protected] Uberaba - Fone: (34)3338-5533 - Fax: (34)3338-6634 E-mail: [email protected] Uberlândia - Fone: (34)3214-1752- Fax: (34)3214-2641 - E-mail: [email protected] Unaí - Fone/Fax: (38)3676-6578 E-mail: [email protected] Viçosa - Fone/Fax: (31)3891-3155 E-mail: [email protected]