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PALAVRA DE DEUS & palavras de homem

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PALAVRA DE DEUS & palavras de homem

“Quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê- lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de miseri- córdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.» | Lc 10, 29-37

Jesus, desafiaste-me a amar o próximo como a mim mesmo. Perguntei-te: “Quem é o meu próximo?” Como é frequente, respondeste-me com uma história, que, no final, lança uma outra questão: “De quem te fazes próximo?” Fiquei pensativo, primeiro. Embaraçado, depois. Desassossegado, no final. Percebi. Não se trata de saber quem é o próximo (desconhecemos quem é?) mas abeirar-me de todos. Caminhar na direção do outro. O homem ferido estava ao alcance do sacerdote, do levita e do samaritano, mas só este último o abraçou. Devo projetar-me para diante, não ficar colado a medos e preconceitos; ser engenheiro de pontes, não construtor de muralhas; oferecer disponibilidade, não virar as costas; estar para o outro, mesmo que o outro não esteja para mim; encurtar distâncias entre corações e torná-los vizinhos; ligar longes. Ser primeiro: no sorriso, no abraço, no amar, no perdoar, na palavra, na lágrima, na oração, na atenção, na visita, na canção, na ternura, na escuta, na verdade, na comunhão… Sempre. Nada fácil, esta forma de viver! Mas é a tua maneira, Senhor... “Vai e faz tu também o mesmo.” Sim!

O deserto e a terra árida vão alegrar-se, a estepe exultará e dará flores belas como narcisos. Vai cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de alegria. Verão a glória do Senhor, e o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos que têm o coração pusilânime: «Tomai ânimo, não temais!» Deus vem em pessoa retribuir-vos e salvar-vos. | Isaías

Advento. Sim, novamente. Para nos prepararmos. É que, mais uma vez, Jesus quer visitar-nos. Sabemos que já veio, que virá, que está. Mas necessitamos de liturgias que nos recordem, de tempos a tempos, o imenso Amor que Deus tem por nós. Vamos aguardá-l’O, de coração escancarado e mãos estendidas, como pobres que necessitam de tudo. Disponhamo-nos a recebê-l’O. Que Ele venha encher os nossos espaços interiores ainda vazios e dissipar todos os receios e angústias que nos consomem; retemperar as nossas forças, algo esgotadas pela caminhada; estimular a nossa criatividade para reinventarmos o amor e a paz; retirar as cortinas que negam a entrada da aurora e nos impedem de contemplar tudo com um olhar de Céu; ensinar-nos novos ritmos e sonoridades de vida; abrir as prisões onde estão retidas a ternura e a compaixão; secar lágrimas e desenhar sorrisos; alentar-nos na defesa da vida desde a sua conceção até ao seu final; erradicar da face da terra a mentira, a inveja, a hipocrisia, a murmuração. Com Deus no meio de nós, atravessaremos todas as tempestades, por mais medonhas e sinistras que sejam, e enfrentaremos os imensos desafios que o Futuro nos reserva, com a serenidade dos simples e a esperança dos Santos. Acolhamos o Senhor que vem. Juntos!

A Palavra fez-se carne e acampou entre de nós. | Jo 1, 14

No centro, à vista de todos, uma tenda: para Deus. Entrará no mundo de mansinho, para não impor-se; mas anuncia a chegada, para propor-se. Vem do Céu, porque é Deus de Deus, mas nascerá da terra, do ventre de uma Mulher, porque quer ser homem entre os Homens. Chamar-se-á JESUS, o Emanuel, Deus-connosco. Ele, que é a PALAVRA, vem dar sentidos novos às nossas palavras, preenchê-las de ternura, decifrar-lhes todos os segredos, revelar-lhes os sabores originais, salpicá-las de bom senso, vesti-las de simplicidade, pintá-las com as cores da verdade e da coerência. As nossas conversações ganharão novos brilhos e tons de festa. Serão sempre diálogos, nunca solilóquios. Nos lugares dos nossos encontros erguer-se-ão catedrais de comunicação, com Deus no meio, fascinado com a beleza das nossas ligações. Falaremos mais de nós e menos sobre os outros. Ficaremos mais perto de nós mesmos e mais próximos dos outros. Seremos mais de nós e também mais dos outros. E daremos mais espaço ao silêncio e à escuta. Os comentários mordazes e cínicos, as afirmações venenosas e obscenas, as opiniões fúteis e boçais, os juízos reles e corrosivos, os palavreados torpes e grosseiros, os julgamentos primários e facciosos, abandonarão para sempre a face da terra. Ficarão, isso sim, palavras “arco-íris”, que fazem sonhar e voar. E gente com a alma cheia de vida para as dizer e cantar. A PALAVRA vai nascer. Numa tenda, à vista de todos. Aqui.

E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de Maria dar à luz e teve o seu filho pri- mogénito. | Lucas

Dois olhos de ver bem e fundo. Duas orelhas, para escutar o palpitar da Vida. Um nariz, para acolher o aroma da santidade e da paz. Uma boca, para anunciar o Reino e proclamar a Boa Nova. Braços pequenitos, mas capazes de abraçar o Universo. Mãos meigas, para abençoar e oferecer a ternura do toque de Deus. Pernas irrequietas, a ensaiar as grandes caminhadas. Pés animados, a marcar a cadência e o ritmo da Dança dos Sonhos. E, dentro do peito, um coração. Imenso. Inteiro. Humano e divino. Matizado com as cores da Beleza. Cheio de Céu. Onde cabemos todos.

Nasceu há dias. Chama-se JESUS. É Deus, que vem para ti. Porque te ama. Muito.

O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te favoreça! O Senhor volte para ti a sua face e te dê a paz! | Livro dos Números 6, 24-25

Ano 2011. Uma nova etapa. Com a distância de 365 dias. Esperanças que acordam. Sonhos que renascem. Possíveis que amanhecem. Avancemos, sem medo, com o coração centrado em Deus. Deixemo-nos conduzir por Jesus. Com Ele, alcançaremos todos os horizontes. Escreveu Emílio Mazariegos: “Amo a minha vida e não quero morrer em coisas que me agarrem e não me deixem seguir a minha marcha”. Sim, somos viandantes. Temos alma de andarilhos. Palmilhamos o mundo. Mas não nos fixamos nele. Estamos de passagem. A nossa caminhada tem um sentido. E uma meta: o Céu. E o Céu, a Vida em plenitude, começa aqui, na terra, dentro da nossa casa. “O Reino já está entre vós”!, foi Jesus que o disse. Por isso, empenhamo-nos na viagem da vida. Esta vida. A nossa vida. Não permitiremos ser retidos por coisas mesquinhas, reles, comezinhas. Na estrada depararemos com ‘profetas da desgraça’, ‘velhos do Restelo’, ‘fazedores de opinião’, ‘gente do contra’, ‘feiticeiros de soluções mágicas’. Sim, vamos encontrá-los. Mas passaremos adiante. E rezaremos por eles. Deixaremos para trás, os egoísmos que petrificam, os receios que angustiam, os comodismos que instalam, as invejas que corroem. Recolheremos todos os instantes em que o Amor vencer. Queremos seguir a marcha. Livres. Até ao fim. Nada nos vai parar! Queres vir também?

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita. O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arro- gante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo descul- pa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. | Cor 13, 1-8

Ano 2011 em movimento.

2011 gestos de amor por pessoa, a dividir por 365 dias dá, como resultado final,

5,50958904 gestos de amor por pessoa/por dia. Aceitamos o desafio?

Os anciãos dos judeus prosseguiram com êxito a reconstrução do templo, segundo as profecias de Ageu, o profeta, e de Zacarias, filho de Ido. | Esdras 6, 14

Uma igreja. Com um longo Passado por detrás. E, pela frente, um Futuro que depende de nós: porque, Hoje, ela pertence-nos; mora no coração desta Cidade. Por isso queremos cuidar dela, honrar os que a edificaram, juntarmo-nos aos que por ali passaram. Não vamos aguardar por fins de crises ou por ofertas que nunca chegarão. Também não esqueceremos os que vivem com carências: continuaremos ao seu lado. Mas estamos empenhados em enfrentar outras expressões de pobreza. Deixar degradar-se uma igreja, que ‘vive’ na nossa Casa, é uma delas. Por isso, vamos avançar. Sem ter nada. Mas com confiança. Determinados. Contribuiremos com o possível, partilharemos o muito ou pouco. E, ao mesmo tempo, acrescentaremos pedacinhos das nossas almas, para que o restauro seja confirmado com o selo da solidariedade. E, assim, a igreja de Nossa Senhora da Conceição, qual beijo de Mãe, e abraço de Pai, continuará a acolher-nos. Com mais beleza. Mais nossa. Mais de Alcobaça.

Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu cora- ção. | Mt 6, 19-21

Tesouros na terra. Tesouros no Céu. Os primeiros são visíveis (para os ladrões e para as traças é vantajoso...). Os segundos, percebidos pelo coração, mas vislumbrados por Deus. Uns têm uma duração que se mede em anos. Outros, ultrapassam a finitude dos tempos e plantam raízes na eternidade. Alguns, quanto mais os aumentamos, mais carecidos ficamos. Alguns, quanto mais os dispensamos, mais ricos nos tornamos. Tesouros que são como asas, para voarmos ao encontro dos outros e tesouros que nos trancam em nós, pintam-nos com as cores da ganância, e até nos fazem pensar e agir como donos de tudo e de todos. Como definição de ‘família’, afirmou alguém: “um grupo de pessoas unidas pelo sangue e desunidas pelas partilhas”. Para além da ironia presente na expressão, está uma verdade: o poder do ‘vil metal’ a vencer, até, a força da seiva que une gerações! Claro que necessitamos de bens para viver (ou, pelo menos, sobreviver!), e até de armazenar pedaços, para enfrentar os dias que ainda vão nascer. Mas, quando terminarmos a viagem deste lado de cá da Vida, nada de material levaremos na bagagem. Carregaremos, apenas, o que o dinheiro nunca poderá comprar: amor, afetos, instantes de dádiva, sorrisos que cantam, dignidade íntegra, silêncios que falam, amizade sincera, ternura, olhares de luz, unidade, cumplicidades fraternas, liberdade, gestos de paz, abraços que curam. Na Casa do Pai iremos encontrar uma outra fortuna. Uma riqueza incorpórea, pintada em tons de ressurreição, que Deus, ao longo da nossa vida, foi recolhendo e arrecadando: todos os momentos em que os nossos pensamentos, palavras e ações, revelaram, aqui na terra, o fulgor da Beleza e o brilho da Santidade.

É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração. | Oseias 2, 16

Quaresma 2011. Deus convida-nos para um encontro. No Deserto. Só ELE e nós. E o silêncio. Para nos falar ao coração. A cada coração. Quer seduzir-nos; atrair-nos para ELE. Apesar das nossas infidelidades, continua encantado connosco. Não desiste de nós. Também nos vai falar de Jesus, o Filho Amado. Aquele que foi pregado numa cruz, entre dois malfeitores, por causa de um Amor levado ao limite. Sim, Jesus morreu, mas Ressuscitou! O Poder de Deus é mais forte do que a Morte! Esta é a Vitória que iremos festejar na Páscoa. Regressaremos do Deserto mais livres, mais felizes, mais serenos, mais confiantes, mais disponíveis, mais amados, mais amantes. A viagem principia com um sinal: cinzas derramadas sobre a cabeça. Para recordar a nossa pequenez e finitude, e confirmar a nossa força quando nos unimos a Deus e uns aos outros. Entremos no Deserto, ou antes, deixemos que o Deserto venha até nós. AQUELE DESERTO. Onde um AMOR imenso, ansiosamente, nos aguarda. Para nos cativar e deslumbrar. De novo.

Partiram de Elim e toda a comunidade dos filhos de Israel chegou ao deserto de Sin, que está entre Elim e o Sinai, no décimo quinto dia do segundo mês, após a sua saída da terra do Egipto. | Êxodo, 16, 1

Diário de viagem (dia 15): ainda há pouco iniciámos a caminhada através do Deserto da Quaresma, e descobrimos, fascinados, que cada grão de areia que calcamos tem nome e lança-nos desafios: perdão, generosidade, verdade, simpatia, disponibilidade, gratidão, educação, afabilidade, amiza- de, escuta, benevolência, boa disposição, bom senso, humor, alegria, entu- siasmo, doação, encanto, inteligência, liberdade, atenção, persistência, audácia, paz, simplicidade, sobriedade, compromisso, empenho, partilha, misericórdia, atenção, honestidade, paciência, humildade, justiça, amor, tolerância, elegância, sobriedade, obediência, dever, honra, dignidade, bondade, confiança, castidade, serenidade, conversão, fidelidade, coragem, disciplina, criatividade, oração, santidade, sabedoria, acolhimento, beleza, comunhão, compaixão, ternura, respeito, responsabilidade, pudor, pureza, esperança, fé, fraternidade, amabilidade, temperança, harmonia, fortaleza, igualdade, louvor, prudência, serviço, gentileza, carinho. Com meiguice e recato, como um ritual sagrado, receando inquietar o silêncio que nos circunda, cada um de nós recolheu uma mão-cheia desta terra abençoada, que recebe com prodigalidade os nossos passos de anda- rilhos que têm a Páscoa como destino. Quem imaginava que, no coração do Deserto, iríamos encontrar tanta riqueza?

Judas foi falar com os sumos sacerdotes e os oficiais do templo sobre o modo de lhes entregar Jesus. Eles regozijaram-se e combinaram dar-lhe dinheiro. Judas concordou e procurava ocasião de o entregar, sem a multidão saber. | Lc 22, 4-5

Subir com decisão a Jerusalém. Com Ele. Participar com alegria na Ceia. Com Ele. Rezar a dor no Gestsémani. Com Ele. Ser preso e torturado. Com Ele. Fazer o caminho para o Calvário. Com Ele. Morrer. Com Ele. Ressuscitar. Com Ele. Viver. Com Ele. Tríduo Pascal: o tempo e o espaço da ternura de Deus com as dimensões do infinito. Por ti, por mim, por nós, por todos. Com uma Cruz pelo meio. E o AMOR a vencer. Sempre! Como no princípio…

Os sumos sacerdotes, porém, instigaram a multidão a pedir que lhes soltasse, de preferência, Barra- bás. Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: «Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?» Eles gritaram novamente: «Crucifica-o!» Pilatos insistiu: «Que fez Ele de mal?» Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-o!» Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou- lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado. | Mc 15, 11-15

Pedro: amigo de Jesus. Negou-O. Deu a vida por Jesus. Judas: admirava o Mestre. Queria-O como Rei de Israel. Atraiçoou Jesus. Guardas: os ‘seguranças’ do templo. Capturaram Jesus. Sacerdotes e escribas: os cabecilhas do ‘sistema’ religioso. Culparam Jesus. Herodes: um joguete nas mãos dos Romanos. O frívolo. Gozou com Jesus. A multidão: o triunfo da manipulação e da mentira. Ódio sobre Jesus. Soldados romanos: máquinas eficazes de destruição. Brutalizaram Jesus. Barrabás: o guerrilheiro zelota. O felizardo. Libertado na vez de Jesus. Pilatos: o Poder. A debilidade cínica da cobardia. Mandou matar Jesus. Simão Cireneu: coagido a socorrer o Condenado. Carregou a cruz de Jesus. Um dos crucificados: a desesperança e a injúria. Não compreendeu Jesus. O outro crucificado: o reconhecimento da culpa. Entrou no Céu com Jesus. O centurião romano: a voz do acordado pelo espanto. Viu Deus em Jesus. Algumas mulheres: sempre presentes e próximas. Ao lado de Jesus. José de Arimateia: o respeito e o cuidado. Deu sepultura a Jesus. Maria Madalena: uma discípula fiel. Primeira nas Aparições de Jesus. Maria de Nazaré: a Mulher e a Esposa. Mãe de Jesus. E o teu nome, onde está?

“Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo”. Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. | João

Era cego. Desde o meu nascimento. Naquele dia, encontrei-me com o inesperado. Estava sentado, a olhar para dentro da minha noite, quando Jesus passou. Acercou-se de mim. Com lodo, feito de terra e saliva, esfregou os meus olhos. E ordenou-me: “Vai lavar-te à piscina de Siloé”. Fui. Hesitante. Desconfiado. Lavei-me. E o imprevisível abraçou-me. Invadiu-me uma explosão de luz e um turbilhão de cores. Confusão… assombro… alegria… deslumbramento. Estava a ver! Chorei e ri. Gritei e cantei. Mergulhei num silêncio de gratidão. Rezei. Seguiram-se dias de tormenta e confusão. Estava a redescobrir o mundo. Mas, o mais espantoso, o verdadeiramente importante, ocorreu depois. Com Jesus, a quem me liguei por gratidão e me prendi como amigo, comecei a perceber, aos poucos, que a visão mais importante é a da alma, que “só se vê bem com o coração; o essencial é invisível aos olhos”. Jesus foi-me revelando diferentes tipos de ‘cegueiras’ e curando-me delas. Fez-me descobrir ‘mundos’ que muitos seres humanos desconhecem, porque só se avança por eles com os ‘óculos’ de Deus: o olhar de Jesus. Jesus é a Luz do mundo. Deu-me uma vista nova, deu-me uma vida nova. Ao fim destes anos, ainda não consigo visualizar tudo na perfeição: o meu ver é, por vezes, preconceituoso, redutor, faccioso, snob, malicioso. Mas já sou capaz de enxergar, com fascínio e contentamento de criança, inúmeros sinais de Esperança e Luz, que dançam e cantam no escuro, e aclarar o mistério de Deus, o sentido da vida e o destino do Homem. Numa das minhas viagens, passei por Alcobaça. Querem saber o que vi?

Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. | Lc 2, 19.

Ao longo destes dias de Maio, tu, Mulher, visitarás as nossas vidas. Chamas-te Maria. És a Mãe de Jesus. E nossa Mãe, também. Vens falar a todos do teu Filho: aos que O amam e O seguem, aos que caminham por outras estradas espirituais; aos que não crêem em Deus; aos que acreditam em tudo; aos que perseguem o nada; aos que troçam do sagrado; aos que vivem inquietos; aos que andam à procura. Vens ensinar-nos a acolher e guardar os tempos que passam e que nem sempre somos capazes de compreender, para, depois, na intimidade do coração, numa conversa com Deus, desvendarmos o sentido de cada instante. Vens revelar o segredo da palavra ENCONTRO, cuja magia se manifesta quando largamos as amarras dos preconceitos e dos fundamentalismos, e derrubamos os muros que nos separam em classes, cores de pele, motivações políticas, crenças religiosas, hierarquias aberrantes, para ficarmos apenas com a nossa humanidade, a nossa pequenez. Homens e mulheres, simplesmente. Só assim é possível viver a aventura de atravessarmos espaços e tempos de mãos dadas e corações estreitados, juntos, mesmo que diferentes. Bem vinda sejas, Maria! Estávamos à tua espera. Contigo, aromas novos dançarão por estas bandas. E um pedido teu ficará gravado em nós: “fazei tudo o que Ele vos disser.”

Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor. | Lc 4, 42-44

Pedro, André, Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, Simão, Judas (filho de Tiago) e Judas Iscariotes. Jesus escolheu estes, não por serem bons mas para serem bons e santos. E foram. Adalberto, Afonso Maria de Ligório, Agostinho, Águeda, Ana Maria Javouhey, Alberto Magno, Ambrósio, André Dung-Lac, Anselmo, António de Lisboa, Atanásio, Beatriz da Silva, Bento, Bernardo, Bonifácio, Bruno, Carlos Borromeu, Catarina de Sena, Clara, Domingos, Filipe de Néri, Francisco de Assis, Inácio de Loiola, Isabel de Portugal, Jerónimo, João Bosco, João da Cruz, João Crisóstomo, João de Deus, João de Brito, João Maria Vianney, João Paulo II, Jorge, José, Maria Goretti, Maria, Maria Madalena, Martinho, Maximiliano Kolbe, Metódio, Nuno de Santa Maria, Teresa de Jesus, Teresa do Menino Jesus, Teresa de Calcutá, Tomás de Aquino, Tomás More, Vicente de Paulo… Deus escolheu estes, não por serem bons mas para serem bons e santos. E foram. Jesus, também te escolheu, não por seres bom/boa mas para seres bom/boa e santo/a. Posso colocar aqui o teu nome?

Jesus disse-lhes: «Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.» | Mt 19,14

Os territórios de onde Deus é expulso não ficam vazios. São, geralmente, ocupados por feiras de deuses coloridos e fofinhos, rodízios de misticismos bacocos, devoções mais ou menos exóticas, ou mesmo de palácios de ‘divindades’ de carne e osso. Dentro de nós, bem no centro no coração, existe uma ‘sala interior’ onde nos encontramos frente a frente com nós mesmos: o local onde se constrói a alma e fabrica o futuro; o espaço onde compomos a sinfonia da nossa vida; o jardim onde plantamos as sementes de todos os sonhos. Nesse compartimento, a um canto, um pequeno santuário: para Deus. Ou para deus (quase sempre o deus-eu); ou para deuses. Mas, sempre, para ‘alguém’ ou para ‘algo’, que é possível reciclar, modificar, mascarar, manipular, mas nunca anular. Procurar saber quem é esse ALGUÉM constitui um imenso desafio. É que não é indiferente saber que, em nós, habita um Deus-Pessoa-Amor ou uma ‘divindade-virtual-ou-material’, um ‘deus-faz-de-conta’, fabricado segundo os nossos critérios de conveniência ou oportunismo. Em todas as crianças devemos providenciar um ‘lugar para Deus’, onde podem acolher o Inesperado e experienciar uma ‘Presença’. É lá que elas se encontram com o Senhor que acalma os grandes medos, apaga solidões, vence a maldade, ensina a arte do amor, a pureza dos actos, a técnica do encanto, os ritmos da comunhão, os caminhos da auto-estima, os voos da esperança, os tons da alegria, os alicerces das grandes convicções. Deixemos as crianças aproximar-se de Jesus. Ninguém melhor do que Ele lhes pode falar da Vida.

Todo o que escuta as minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. | Mt, 7, 24.

Tudo muda em grande velocidade: à nossa volta e dentro de nós. Como encontrar um local seguro no meio de tanta agitação e confusão? Como evitar o desgaste de estar sempre em movimento apressado? Talvez parar. Mergulhar no silêncio, ou seja, ficar lado a lado comigo mesmo. Neste lugar, onde me posso escutar, seja crente ou não, perguntarei: onde se enterram as raízes da minha vida? Onde me alicerço? O que é imutável em mim, aquilo que, no meio de tanto desassossego, me oferece a certeza de não me perder de mim mesmo? Releio a história dos que me precederam. Recolho a sua experiência e o manancial de valores que transmitiram. Agradeço tudo que comunicaram. O que deixaram como herança. Ajudaram-me a ser responsável. A orientar-me dentro e fora de mim. Mas sei que não posso, nem devo, ser guiado sempre por outros. Devo caminhar pelos meus próprios pés. Voar o meu voo. Ser eu. Único. A fé, ‘garantia das coisas que se esperam’, é um bom ponto de partida, pois coloca-nos no universo de uma Realidade maior do que nós, e escora-nos numa posição que não muda conforme os ventos. Jesus diz que devemos construir a vida sobre a rocha que é a sua Palavra e não sobre o pó das nossas ilusões ou na vacuidade de sonhos quiméricos. Precisamos de nos afastar, de tempos a tempos, do tempo e do espaço, para repousarmos na nossa casa interior, estaleiro da nossa singularidade. Se, na opinião de muitos, a doença do nosso tempo é a falta de relações, então o desafio primeiro da nossa vida é estarmos bem com nós mesmos. Porque, se assim não for, não conseguiremos estar bem com ninguém. Entra dentro de ti. Que vês?

Esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em dire- ção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus. | Filipenses 3,13-14

Corro, porque tenho pernas e pés. Corro, porque a beleza de Deus me atrai. Corro, porque Jesus corre ao meu lado. Corro, para encher de Espírito a minha alma. Corro, para alcançar os Santos. Corro, para partilhar-me depressa com todos. Corro, porque “parar é morrer”. Corro, porque há gente que chama por mim. Corro, porque há gente de quem preciso, sim. Corro, para que todos possam correr. Corro, para ultrapassar os meus pecados. Corro, para chegar, com tempo, à Festa da Eucaristia. Corro, para pintar um arco-íris em todos os corações. Corro, para nunca falhar os encontros com o Amor. Corro, porque ainda não cheguei à meta. Corro, porque o Céu me espera com impaciência. Corro, para que o Céu comece aqui. Corro, para fugir deste texto de tinta. Corro, para começar a escrever com a minha própria vida.

Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou, tempo para matar e tempo para curar, tempo para destruir e tempo para edificar,

tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar e tempo para dançar, tempo para atirar pedras e tempo para as ajuntar, tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço, tempo para procurar e tempo para perder, tempo para guardar e tempo para atirar fora, tempo para rasgar e tempo para coser, tempo para calar e tempo para falar, tempo para amar e tempo para odiar, tempo para guerra e tempo para paz. Ecl 3, 1-8

Afinal, há ou não, tempo para tudo?

Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. |Mc 3, 13

Entre o ‘sim’ que voou dos meus lábios há 20 anos e o ‘sim’ que canto hoje, uma ponte, fabricada de puro dom, com a extensão da palavra ’gratidão’. Gratidão a Deus, por me ter desafiado a ser padre. Ele lá sabe porquê. De mansinho, sem se impor, Jesus conduziu-me ao lugar onde me queria. Ele conhece, melhor que nós próprios, qual o nosso ‘local de trabalho’. Aceitei. Não com a evidência da razão, mas com a certeza da fé. Gratidão, a tantos com quem me fui cruzando e tecendo cumplicidades, e me ajudaram a alçar as paredes interiores daquilo que sou e do que faço. Juntos, partilhámos a serenidade das planícies encantadas e fecundas, o sobressalto das grandes tempestades, o desgaste das dúvidas e dos medos, os compassos soturnos do desânimo, os cumes dos montes da contemplação, a riqueza imensa da comunhão, os instantes mágicos de todas as festas, o fascínio de semear sonhos, a ousadia de sermos de Deus e amigos de Jesus. Recordo os muitos momentos em que me vesti com tons de pecado: quando falhei e fui tão pouco; quando me calei e devia falar; quando fui mais de mim do que de Deus e dos outros; quando fui opaco. De todos os vazios de beleza e de santidade me envergonho e peço perdão. E, apesar do desgosto de experimentar como nos desperdiçamos tanto, podendo partilharmo-nos mais uns com os outros, uma Sinfonia de esperança e júbilo ecoa dentro de mim: a música tem Deus por autor (o tom é Sol Maior); a letra é um trabalho comum de homens e mulheres, crentes e não crentes, que apostam na força do Amor, no fulgor da verdade, no brilho da simplicidade, no dom da inteligência, na virtude da sabedoria, no tesouro da fraternidade. O arco-íris continuará a ser pintado nos céus das nossas terras! Não passamos pela vida; a vida é que passa por nós. Não ‘fazemos anos’; os anos é que nos fazem. Continuemos a caminhada. A viagem ainda não chegou ao fim.

Por isso, também nós não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que vos encha do conheci- mento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual, a fim de caminhardes de modo digno do Senhor, para seu total agrado: dai frutos em toda a espécie de boas obras e progredi no conhecimento de Deus; deixai-vos fortalecer plenamente pelo poder da sua glória, para chegar- des a uma constância e paciência total com alegria; dai graças ao Pai, que vos tornou capazes de tomar parte na herança dos santos na luz. |Cl 1, 9-13

E… E se… E se eu… E se eu não… E se eu não avançasse… E se eu não avançasse por… E se eu não avançasse por esta… E se eu não avançasse por esta folha... E se eu não avançasse por esta folha branca… E se eu não avançasse por esta folha branca, disponível... E se eu não avançasse por esta folha branca, disponível e... E se eu não avançasse por esta folha branca, disponível e acolhedora? Então,… Então, não… Então, não poderia… Então, não poderia deixar... Então, não poderia deixar escrito… Então, não poderia deixar escrito algo... Então, não poderia deixar escrito algo que… Então, não poderia deixar escrito algo que cumpro... Então, não poderia deixar escrito algo que cumpro todos... Então, não poderia deixar escrito algo que cumpro todos os... Então, não poderia deixar escrito algo que cumpro todos os dias: rezo por ti!

Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite. | Gn 1, 16

Deus deu-te um nome: Lua. E elegeu-te como rainha de todas as noites. Em ti, decifro alguns sinais que me falam de beleza. Mudas de expressão exterior, mas, por dentro, permaneces igual. Rodas sobre ti, mas manténs sempre a mesma face voltada para mim. Não chamamos a isto, fidelidade? A tua luz é singular. Tem o tom da magia e a musicalidade da plenitude. Mas tens consciência de que este tesouro não te pertence. Sabes que o teu resplendor tem como fonte outro luzeiro maior do que tu. Não chamamos a isto, humildade? De longe, a tua visão encanta-me. E faz-me sonhar todos os possíveis. Mas, quando me aproximo de ti, verifico que és feita de pedras e pó. Não ficas perturbada. Continuas a sentir-te feliz. O Criador ama todas as suas criaturas. Todas. E tu és obra de Deus. Não chamamos a isto, simplicidade? Por vezes, disfarças-te de negro fundo sideral. Escondes-te do nosso olhar. Como que a procurar folgar de uma excessiva exposição que não te apraz. Disfarças-te de invisibilidade. Mas continuas a velar. No teu lugar. Atenta. Não chamamos a isto, discrição? Na tua dança à nossa volta, de tempos a tempos, abeiras-te mais de nós. Para, depois, novamente, te afastares. Como que a dizer: “estou aqui, ao pé de ti”. E: “estou ali, ao pé de ti”. Não chamamos a isto, amizade? “Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Lua…”, cantava Francisco de Assis. E não tinha razão?

O Senhor disse a Elias: «Sai e mantém-te neste monte, na presença do Senhor; eis que o Senhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se uma voz de silêncio ligeiro. Ao ouvi-la, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. | 1 Rs 19, 11-13

Não foi bom, escutarmos a voz de silêncio ligeiro, murmúrio de leve brisa?

Disse Jesus: dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. | Jo 13, 34-35

Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai -vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei. Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei...

Nota: aos que tiveram a gentileza de viajar até aqui, peço desculpa pelo incómodo ou irritação que, provavelmente, terão sentido por esta obstina- da repetição de frase. É que o repto que Jesus nos lança, encanta-me (a ti, também?). Mas ainda não consegui, totalmente, que cada palavra se diluís- se no meu sangue e se tornasse parte de mim. Por isso, se não se importa- rem, vou continuar a rezar: amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei… Queres juntar-te a mim?

Deus disse: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra». | Gn 1, 28

Agora, somos nós. Todos nós. A nossa missão é encher a Terra com vidas e Vida. E dominá-la, ou seja, cuidar dela com respeito e ternura. Transportamos o saber que recolhemos na Escola do Passado, a ousadia de querer semear Amanhãs de Encanto e de Esperança, a arte de desenhar sonhos no firmamento de Hoje. Somos pó na imensa vastidão do cosmos. Mas possuímos um ‘universo’ dentro de nós. Na viagem, registaremos várias cadências, mas não afrouxaremos o passo. Há tanto caminho a percorrer! Tanta violência para extinguir e feridas para curar! O “grito” do Planeta Terra, nossa Casa, convoca-nos. Consegues ouvi-lo? Um Mundo vestido de Paz e sem Fomes, desafia-nos. É possível, sim! Por onde passarmos, deixaremos tudo melhor do que encontrámos. Na alma da Terra e do Universo imprimiremos marcas: a tua e a minha. Queremos cumprir o nosso dever. E o dever é: amar! Todos os dias! Seremos uns dos outros. Uns com os outros. Uns para os outros. Deus é nosso companheiro. Mesmo que não acredites n’Ele ou não O ames, Ele acredita em ti e ama-te. Com Ele, vamos continuar e defender a Criação.

Revisitar o instante em que Deus entoou a primeira nota do Cântico. Decifrar o Sentido de ‘tudo isto’. Reencontrar melodias que levem o ‘já e ainda não’ a dançar em Festa. «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra».

Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de lhe prepararem hospedagem. | Lc 9, 51

-52

Um passo. Depois outro. E outros. Muitos. Os que forem necessários. De Alcobaça a Fátima. A pé. Podemos chamar a esta pequena aventura: “caminhação”. Tem a visibilidade de uma CAMINHAda e as cores de uma peregrinaÇÃO. A sonância dos nossos passos, com ritmos desiguais mas idêntica firmeza, vai recordar-nos outras andanças: aquelas que realizamos dentro de nós. Aproveitaremos esta viagem, esta “caminhação”, avançar con(sentido), para unir ‘aldeias’ que existem dispersas pelos territórios interiores, e que, na faina diária, não conseguimos interligar com a devida exactidão. Usamos as ‘redes sociais’, que nos permitem estar ‘ao lado’ uns dos outros, mas quanta dificuldade em traçar vias de comunicação dentro do coração! Nova visão nos será oferecida para lermos melhor o mapa-daquilo-que-somos, afinar comportamentos, corrigir rumos, clarificar sonhos embrionários. Ao longo da estrada seremos poucos. Apenas um pequeno grupo. Mas levaremos, no silêncio da oração, as nossas famílias, os nossos amigos, os nossos grupos, a nossa cidade, o nosso mundo. Portanto, vamos ser uma multidão. Iremos pobres, solícitos, decididos, solidários, humildes, disponíveis. Algumas vezes, sozinhos. Outras, em grupo. Nunca sós. E unidos, do princípio ao fim. Atentos ao inesperado e às surpresas de Deus. Chegaremos com as pernas mais ‘pesadas’. Mas com a alma mais leve! Entraremos no Santuário de Fátima como no Útero de Mãe. Sentiremos aquele instante como o início de uma nova gestação. Para, depois, renascermos com mais Vida.

Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu. | Mt 5, 14-16

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 141, 142, 143, 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 160, 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 197, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223...

Por manifesta falta de espaço interrompo a escrita da minha contagem. Mas asseguro-vos que estou a avistar uma multidão de gente que quer ser luz do mundo…

Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo. (…) Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes. | Mt 25, 34-40

Uma desconfortável inquietação assaltou-me: então, Jesus, não vai ter em conta o facto de eu ser cristão e, até, padre, as Missas que celebrei, os tempos de oração, as reuniões sem conta, as horas de estudo e de trabalhos, o curso de Teologia, as peregrinações em que participei, os retiros que orientei, os rituais que vivi, as andanças daqui para ali? Para receber o Reino, não é necessário e suficiente tudo aquilo? ‘Sempre que tu deste de comer e de beber a um precisado, vestiste o desnudado, acolheste o forasteiro, visitaste o doente e o cativo, foi a mim que o fizeste’. A grelha de leitura de Jesus sobre a nossa vida tem, apenas, um item: amar. Deus não se agrilhoa a invólucros religiosos ou ‘vestiduras’ espirituais; nem a termos como: crente, praticante, não praticante, agnóstico, ateu… O seu Sonho é que cuidemos uns dos outros. Com gestos concretos. Muitos embarcam nesta aventura, árdua, mas fascinante. E, também, vivificante. E, se alguns, como eu, avançam com a graça da fé e a força da esperança, e se nutrem dos Sacramentos, da sabedoria e do amparo da Mãe Igreja, outros, movem-se ao ritmo de diferentes ímpetos de alma e de coração. Mas encontramo-nos, com estima e agrado, nos espaços onde há bem a fazer, numa cumplicidade colorida de gente que canta a melodia do amor. E alegramo-nos por estarmos, juntos, ali! Quando servimos, tornamo-nos irmãos. Que seja acolhida toda a bondade que está a ser gerada entre nós!

Disse Jesus: tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento. É como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa; não seja que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai! | Mc 13, 33-37 | Primeiro Domingo do Advento 2011.

Vamos vigiar, ou seja, mantermo-nos atentos e comprometidos. Daremos mais sentido às pedras da calçada, mas, também, às estrelas do céu. Arriscaremos a ser verdadeiros. A mentira deixará de gostar de nós. Falaremos uns com os outros de forma polida, edificante, confiante, colocando nas palavras a sinceridade do pensamento e o vigor das convicções. Enjeitaremos as conversas torpes e enviesadas que envenenam, e deixam na atmosfera o odor da suspeição e a pestilência da discórdia. Estaremos ao lado da inteligência, contra a estupidez e a idiotice. Fitar-nos-emos, não, apenas, através dos olhos, mas com o olhar da alma. Atenderemos o apelo das nossas responsabilidades. Nunca cruzaremos os braços. Não esperaremos que tudo aconteça: faremos, nós próprios, acontecer. Cogitaremos menos no ‘direito à greve’ e mais no ‘dever de trabalhar’. Partilharemos o que temos, sobretudo com os que menos têm. E, por respeito e ternura para com eles e pelos que não têm quase nada, evitaremos as lamúrias estéreis, que nada resolvem; só abespinham e desgastam. Em cada gesto, por mais insignificante ou despretensioso que seja, imprimiremos o tom do belo, o cunho da alegria, a matiz da gratuidade. Daremos uma limpeza e nova arrumação na ‘casa interior’, o lugar do ‘eu’, onde se acumulam ’crises’ por resolver e um oceano de sonhos a germinar. Deixemos que este Tempo de Advento peregrine dentro de nós. Preparemos a visita de Deus, que vem aí. Vigiemos!

Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Naza- ré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linha- gem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu- lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.» De repente, jun- tou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.» Quando os anjos se afastaram deles em direcção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: «Vamos a Belém ver o que acon- teceu e que o Senhor nos deu a conhecer.» Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele menino. Todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores. Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora anunciado. | Lc 2, 1-20

Natal, dentro do Jornal de todos nós! Não é uma boa notícia?

“Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra”. | cf Mt 2, 1-12

Finalmente, chegou o momento! Ansiava por ele. A mensagem dizia: “Nasceu. Vem. Traz um presente.” Peguei na caixinha, preparada há muito. Minúsculo recipiente. Mas, por dentro, com as dimensões do Cosmos. E da Eternidade. Senão, como poderia albergar tantos tesouros? A saber: todos os cantores da alegria e da esperança, no palco do desalento; a bravura dos que ficaram sem emprego mas não quebrantam; o engenho dos construtores de pontes de comunhão e ternura; os muitos perseguidos e violentados, que não desertam do Amor; a paixão dos protagonistas na aventura da educação e da cultura; a solidariedade de tantos, transfigurada em abraços e assistência; a memória dos que perderam a vida por serem fiéis à verdade; a fragância dos que têm um jardim, para todos, dentro do coração; o rosto dos que acreditam no poder do perdão e na magia da paz; o sorriso dos que, apesar de todos os golpes, apostam na Vida; a honra dos que não se vendem nem se deixam corromper; o testemunho daqueles que estão sempre atentos e disponíveis; o nome dos injustamente excluídos, acusados ou condenados; o empenho dos jovens que se forjam para serem um futuro de luz; a tenacidade dos que pugnam por um mundo sem fome; os artífices de catedrais de beleza, nos terrenos da vulgaridade; o olhar fascinante dos que transportam o Céu dentro de si. Cheguei. E ofertei cada uma das preciosidades que levava. O Menino acolheu-as com um ‘sorriso-gratidão-bênção’. E não ficou surpreso com o facto de uma tão exígua caixeta ser uma fonte de onde jorrou tamanho manancial de dons. Afinal, um Deus que reduz o seu Coração à dimensão do meu, percebe, na perfeição, como estas coisas funcionam.

Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê o Espírito de sabedoria e vo-lo revele, para o conhecerdes; sejam iluminados os olhos do vosso cora- ção, para saberdes que esperança nos vem do seu chamamento, que riqueza de glória con- tém a herança que Ele nos reserva entre os santos e como é extraordinariamente grande o seu poder para connosco. | Ef 1, 17-19

Fixa-te na imagem. Se a observares com os olhos, apenas verás a camada externa. Mas se a contemplares com o coração, vais captar-lhe a alma. E ser-te-ão revelados os segredos que nela se escondem. Como gostaria de guiar-te numa viagem por esta ‘pintura de Deus’!

Jesus começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes enchiam-se de espanto e diziam: «De onde é que isto lhe vem e que sabedoria é esta que lhe foi dada? Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria?» E isto parecia-lhes escandaloso. Jesus disse-lhes: «Um profe- ta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.» E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. | Mc 6, 1-6

Ao chegar, ouvi um comentário: “Como é possível que este homem, que conhecemos tão bem, um artesão, se atreva a doutrinar em público como um mestre sábio?” Juntei-me a Jesus. Senti que estava surpreendido com aquela gente. “Sabes, Jonas - disse-me Ele - é custoso, para muitos, aceitar que não somos massa inerte e inalterável, mas projetos em construção. Que todos os dias nos podemos transfigurar, que ansiamos viajar conti- nuamente para além de todos os horizontes. O apelo do futuro seduz -nos e determina-nos. Estou a cumprir uma missão: anunciar que o Céu alcançou a Terra; que Deus também mora aqui. Mas não me dão ouvidos. Fixaram-se na palavra ‘carpinteiro’. Estão herméticos às palavras e gestos proféticos que nascem no meu coração, e que falam da soberania do Amor e da convocação para a Eternidade. Ousam, até, supor que sabem ler a minha alma. E pedem curas e soluções rápidas para todos os problemas. Mas o que eu anseio é por milagres: que cada pessoa se encante pela boa nova, acolha o Reino, se converta e se assuma como irmão de todos. Este é o sonho que dança dentro de mim.” Relembrei os tempos em que me sustentava do roubo e da vigarice, e o instante em que Jesus se aproximou e, olhos nos olhos, pergun- tou-me: “És feliz nesta forma de vida?” E o milagre teve início. Sou um novo homem. Mas, alguns, ainda me catalogam com o rótulo de outrora. Mudei, e fingem não perceber. Ficaram lá. Eu estou aqui. Livre. Eles não.

Deus respondeu a Moisés: «Eu mesmo irei adiante de ti, e dar-te-ei descanso.» Moisés disse: «Se Tu mesmo não vieres connosco, não nos obrigues a partir deste lugar. Como havemos de saber que eu e o teu povo alcançámos graça aos teus olhos? Para isso, não será indispen- sável que caminhes connosco? É a única forma de nos distinguirmos, eu e o teu povo, de todas as nações da terra.» | Ex 33, 14-15

Tu caminhas connosco. Por isso, ganhamos ânimo e arrebatamento para partir. Sem Ti, como arriscaríamos deixar este lugar? Para onde ir? Assim, enfrentaremos, uma vez mais, a essencialidade do Deserto, com a convicção de que vamos acompanhados e guiados. Tu caminhas connosco. Nos quarenta dias e quarenta noites que nos separam da Páscoa, revisitaremos, com o coração disponível, espaços já conhecidos. Também ousaremos arriscar novos percursos e desafiar o ignoto. Tu caminhas connosco. Reconhecemo-nos pequenos e frágeis. Como todos. Mas, ’cá dentro’, mora uma certeza que nos transfigura e distingue: Tu caminhas connosco. Sim, Tu viajas ao nosso lado. No meio do pó e do vento. És difícil de encontrar. Mesmo para os que acreditam em Ti. Pareces estar escondido, silencioso, ausente, fugido. Contudo, ‘sabemos’ que estás aí. Vais adiante de nós, para nos ‘dar descanso’. Tu caminhas connosco. É na estrada que, verdadeiramente, Te reconhecemos.

No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abis- mo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas. Deus disse: «Faça-se a luz.» E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou dia à luz, e às trevas, noite. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o primeiro dia. Deus disse: «Haja um firmamento entre as águas, para as manter separadas umas das outras.» E assim aconteceu. Deus chamou céus ao firmamento. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o segundo dia. Deus disse: «Reúnam-se as águas que estão debaixo dos céus, num único lugar, a fim de aparecer a terra seca.» E assim aconteceu. E Deus viu que isto era bom. Deus disse: «Que a terra produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que deem fruto sobre a terra, segundo as suas espécies, e contendo semente.» E assim aconteceu. Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o terceiro dia. Deus disse: «Haja luzeiros no firmamento dos céus, para separar o dia da noite e servirem de sinais, determinando as estações, os dias e os anos; servirão também de luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a Terra.» E assim aconteceu. Deus fez dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir à noite; fez também as estrelas. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quarto dia. Deus disse: «Que as águas sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que por cima da terra voem aves, sob o firmamento dos céus.» Deus criou, segundo as suas espécies, os monstros marinhos e todos os seres vivos que se movem nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que isto era bom. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o quinto dia. Deus disse: «Que a terra produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e animais ferozes, segundo as suas espécies.» E assim aconteceu. E Deus viu que isto era bom. Depois, Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.» Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: «Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. E assim aconteceu. Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa. Assim, surgiu a tarde e, em seguida, a manhã: foi o sexto dia. Concluída, no sétimo dia, toda a obra que tinha feito, Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia que Ele repousou de toda a obra da criação. Esta é a origem da criação dos céus e da Terra. | Gn 1,1-2,4

Nota: o texto sofreu pequenos cortes que não alteram o seu sentido.

Mergulhámos no silêncio e atravessámos de novo o texto (que é uma narrativa religiosa, não um relatório científico). Desta vez, viajámos ao lado de Deus. Assumimo-nos como co-Criadores, apesar de sermos criaturas. No final, o incrível sucedeu: o Universo sorriu e abraçou-se a nós. E vimos que isto era muito bom!

Disse Jesus: “A lâmpada do corpo são os olhos; se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado. Se, porém, os teus olhos estiverem doentes, todo o teu corpo anda- rá em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas!” | Mt 6, 22-23

Sim, tal como tu, também vejo muito cinzento.

Mas, concentro-me neste pontinho de luz. Que, para mim, tem um nome: Jesus.

Como se chama a tua Esperança?

No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos foram ter com Jesus e perguntaram-lhe: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Ele respondeu: «Ide à cidade, a casa de um certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo’». | Mt 26, 17-18

A CEIA: Deus que come connosco. GETSÉMANI: Deus que mergulha em todas as solidões. A PRISÃO: Deus que se deixa alcançar e dominar. O ESPANCAMENTO: Deus ’vencido’ pela bestialidade humana. A CRUZ: Deus que se oferece a todos até ao fim. O TÚMULO VAZIO: Deus que confirma o Poder absoluto da Vida. A COMUNIDADE: Deus que permanece na terra através de nós.

A chave para decifrar o mistério dos dias próximos tem a forma do Amor e a consistência de um Nome: Jesus. Queres entender o Espanto que vamos celebrar?

“Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!” | Lc 24 5-6

‘Que aconteça a I Gala d’O Alcoa!’ E a I Gala d’O Alcoa aconteceu!

8 de Abril de 2012, DOMINGO DE PÁSCOA.

De muitos de nós, para todos nós. Com amor!

“Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fração do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação”. | At 2, 42-47

Dei o texto a ler. Recolhi comentários. “Pura utopia”. “Esta proposta é para os membros das seitas. Não é para mim.” “Como era bom vivermos todos daquela maneira!” “O relato é uma falsa propaganda. Foi escrito para seduzir.” “Por que não tentar concretizar o desafio?” “Não acredito em Deus. O texto não me interessa.” “Só um imbecil pode acreditar que se pode viver assim.” “Fiquei com muita vontade de tentar viver daquela forma...” “É impossível!” “É bonito de se ler, mas os cristãos estão muito longe daquilo.” “Sei que é difícil viver assim, mas acho que é um ideal muito belo.” “Aceito que aconteceu, mas só no princípio do cristianismo.” “Na paróquia a que pertenço, procuramos viver aquele Sonho.” “Eu acredito neste ‘retrato’. Já o ‘vi’ em lugares por onde passei.” “Em alguns conventos vivem de maneira semelhante.” “Se todos quiséssemos, podíamos tentar algo parecido.” E tu, o que dizes?

“Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.” | Lc 1, 30-31.

Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria. Maria...

No meio de tantas Marias, Deus elegeu uma. Encantou-se com ela. Convocou-a para uma Missão. E ela aceitou. Tu, também foste escolhido. Sabes qual é a tua tarefa?

“O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas; e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más”. | Mt 12, 35

Recorda o momento em que o boato desbocado ou malicioso te atingiu como uma flecha e feriu o teu coração… Fazes o mesmo? Recorda o momento em que admitiste o teu erro, rogaste perdão, e recebeste, como resposta, a repulsão, o rancor, a ironia... Fazes o mesmo? Recorda o momento em que alguém simulou que não te viu, desviou o olhar, passou para o outro ‘lado da rua’, para te evitar... Fazes o mesmo? Recorda o momento em que assististes a uma ação degradante, ou te sentistes violentado por uma atitude perversa ou corrupta... Fazes o mesmo? Recorda o momento em que a traição de um amigo te abalroou ou tomaste conhecimento de intrigas para manchar a tua honra... Fazes o mesmo? Recorda o momento em que presenteaste o melhor de ti mesmo e recebeste, como retribuição, a indiferença ou a crítica patega... Fazes o mesmo? Recorda o momento em que te trataram com maus modos, com ‘duas pedras na mão’, numa atitude colérica ou grosseira... Fazes o mesmo? Recorda o momento em que alguém te olhou ou falou do ‘alto’, como se fosse teu senhor e juiz ou dono da tua alma… Fazes o mesmo? “O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas”.

Vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros. Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom da profecia e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser quei- mado, se não tiver amor, de nada me aproveita. O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias terão o seu fim, o dom das línguas terminará e a ciência vai ser inútil. Pois o nosso conhecimento é imperfeito e também imperfeita é a nossa profecia. Mas, quando vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era criança, fala- va como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Mas, quando me tornei homem, deixei o que era próprio de criança. Agora, vemos como num espelho, de maneira confusa; depois, veremos face a face. Agora, conheço de modo imperfeito; depois, conhece- rei como sou conhecido. Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor. |1Cor 12,31-13,13

Depois de ler e reler estas palavras de S. Paulo, escrever o quê? Vou ficar por aqui. A rezar. E suponho que não se vão importar... Provavelmente estão a fazer o mesmo, não é?

Ouvi-me, hab itantesda s ilhas, prestaiatenç ão,povosdelo nge. Q uandoaindaestava no ventre materno, oSenho r chamou-me,quandoain daestava no seio dam inhamãe, pronun- ciouome u nome.Fez damin hapalavra uma esp adaafiada,escon deu-me naconcha d a sua mão. Fezdami nhamensagemuma seta penetra nte, guard ou-menasu a aljava. D isse-me: «Isr ael, tués omeu servo, e m ti serei glorifi cado.»Eu dizia a mimmesmo:«Em vão mecan- sei , em

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Senhor, e no meu Deus a minha recompensa. E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre materno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob, e para lhe congre- gar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob, e reunires os sobreviven- tesde Israel. Voufaz er de ti luzdas naç ões, para q uea minha sal vaçãoch egueaté aoscon- fins daterra.» |Is 49, 1-6 Jesus percorriaascidadese as aldeias, ensinando nas sinagogas, pro clamando o Evangelho do Reino e curando todas as enfermidades ed oenças.Co ntemplando amultidão, en cheu-se de compaixão por ela,po�is estava cansada e abatida, comoovelhassem pastor. Diss e, então, aos seusdiscíp ulos:«Amesseé grande, mas ostrabalhadores sãopoucos. Rogai, p ortanto, ao Sen horda messe para queenvietr abalhado respara asua messe.» |Mt 9, 35-38

Jesus s ub iu depois a ummonte, ch amouosque Elequeriaefor amtercomEle. Est abeleceu

doz e paraest arem comElee para o s enviar a pre gar, com opoderdeexp ulsar demónios. Estabeleceu e stes doze: Simão, aoqual pôsonome dePed ro;Tiago, filhode Zebedeu,e João, irmãode Tiago, aosquaisdeu onome deBoan erges, isto é, f ilhos do trovão; André, Fili pe,Bartolom eu,Mateus, Tomé, Tia go, filh o deA lfeu,Tadeu, S imão,oCananeu,e Judas Iscar iotes,que oentreg ou.| Mc 3, 13-1 9

No próximo dia 1 de Julho, o ‘nosso’ diácono Duarte Morgado vai ser ordenado presbítero, no Mosteiro dos Jerónimos. A propósito deste momento, especial, feliz e intenso para muitos, particularmente para os que amam Jesus e a Igreja, escolhi 3 pequenos textos da Bíblia, de grande beleza e mensagem. Infelizmente o ruído do ‘mundo’ e o bulício das nossas ‘correrias’ ofuscou a sua visualização, impedindo a sua perceção. Só no SILÊNCIO é possível ler e escutar a Palavra de Deus. Amanhã, tentaremos de novo. Entretanto, rezaremos pelo Duarte.

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” | Gn 1, 1

(Ao Deus do ‘bosão de Higgs’ e de todas as outras partículas.)

Já sabes da novidade? Identificaram mais uma partícula que Tu criaste e que, apesar de ser a mais exígua de todas, é fundamental para que todo este Universo exista. Para Ti, nada de insólito: sabes bem como ‘tudo isto funciona’ e concedeste-nos inteligência para, aos poucos, irmos compreendendo, também. Para mim, para todos os que são apaixonados por estas questões da ciência, esta descober- ta constitui um momento fantástico de deslumbramento e eferves- cência. Partilho algumas notícias que foram surgindo:

● “O CERN anunciou que descobriu uma partícula nova que pode ser o bosão de Higgs, conhe- cido como «partícula de Deus», porque confere ordem e massa ao universo.” ● “O princípio do bosão de Higgs é que essa partícula subatómica seria o elemento que faltava na teoria da interação de forças no universo, para explicar como os elementos e a matéria ganham massa. O que seria o passo para explicar muito do que ainda não se sabe sobre o universo.” ● “O bosão de Higgs é fundamental para explicar a razão por que todas as outras partículas que constituem a matéria têm massa, isto é, porque existe o Universo onde vivemos. É a peça que faltava no puzzle do chamado Modelo-Padrão, uma coleção de teorias que integra todos os conhecimentos atuais sobre o comportamento das partículas fundamentais da matéria.” ● “É provavelmente uma das descobertas mais esperadas de sempre. A descoberta do bosão de Higgs, ou «partícula de Deus», é um passo significativo na História universal e pode estar para breve. Os físicos informaram que têm tudo... menos a prova final que a «partícula» existe mes- mo. Têm uma «pegada» e uma «sombra», mas ainda assim o que falta mesmo é ver a partícu- la subatómica que terá dado origem a toda a matéria no universo.” ● “A notícia é oficial: o bosão de Higgs, que explicaria porque é que todas as coisas do universo têm uma massa, exis- te", assinala o jornal do Vaticano.”

Este acontecimento tem sido, para mim, motivo de oração. Projeta- me para Jesus, que veio ao nosso encontro para nos permitir ganhar ‘massa’, ser ‘matéria’, podermo-nos ligar uns aos outros, gerar comu- nhão. Tornou possível um ‘universo’, ainda em criação e expansão, em que as ‘partículas’ somos nós. Não é, Jesus, uma realidade muito mais espantosa do que a do bosão de Higgs?

Quando se aproximou, ao ver a cidade de Jerusalém, Jesus chorou sobre ela e disse: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos». | Lc 19, 41-42

● No texto reproduzido acima, substitui a palavra ‘Jerusalém’ pelo nome da tua localidade (a tua ‘cidade’). ● Lê, de novo, o texto. Mas coloca-te no lugar de Jesus. Reflete no que sentiste. ● Responde às seguintes questões: 1. Amas a tua ‘cidade’? 2. Na tua ‘cidade’ sentes-te: a) Um ‘ocupante’. b) Um ‘habitante’. c) Um ‘morador’. d) Um ‘estranho’. 3. O que reconheces de bom na tua ’cidade’? Que fazes TU para enri- quecer, mais ainda, o que está bem? 4. Do que não gostas na tua ‘cidade’? Que fazes TU para mudar ou corrigir o que está mal? 5. Que fazes TU para ‘inventar’ o que ainda falta na tua ‘cidade’? 6. Assume a personagem de forasteiro na tua ‘cidade’: a) Sentes que ela é hospitaleira e simpática para os que a visitam? b) Que podes fazer TU para que a tua ‘cidade’, que é, também, a tua ‘casa’, seja sempre um abraço para os que são recebidos por ela? 7. Que marca estás a gravar no ‘coração da história’ da tua ‘cidade’?

Elias entrou no deserto e andou o dia inteiro. Depois sentou-se debaixo de um junípero e, desejando a morte, exclamou: «Já basta, Senhor. Tirai-me a vida, porque não sou melhor que meus pais». Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Nisto, um Anjo do Senhor tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come». Ele olhou e viu à sua cabeceira um pão cozi- do sobre pedras quentes e uma bilha de água. Comeu e bebeu e tornou a deitar-se. O Anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come, porque ainda tens um longo caminho a percorrer». Ele levantou-se, comeu e bebeu. Depois, fortalecido com aque- le alimento, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, Horeb. | 1 Rs 19,4-8

Tal como Elias, também nós, por vezes, vociferamos: Desisto! Já chega! Não aguento mais! Basta! Estou farto! Naqueles momentos, sufoca-nos a escuridão, a angústia, o medo. Sentimo-nos engolidos pela espessura do desalento e da derrota. Tocamos as dimensões derradeiras da nossa finitude e impotência. “Levantem-se e comam.” Sim, e depois? O que vai isso resolver? “Levantem-se e comam, porque têm um caminho a percorrer. O nutrimento é para vos ativar e impulsionar na viagem, não para se conservarem atolados neste chão de trevas.” Depois do frugal repasto, partimos. Fomo-nos distanciando dos ‘mostrengos’ que nos oprimiam, e encaminhámo-nos para o ‘monte de Deus’, o ‘Horeb’. (Que nome tem o teu ‘monte’ e onde fica?) Ali, tonificámos as energias, avivámos sonhos primordiais, retificámos olhares e perspetivas, revestimo-nos de audácia. Depositámos nas mãos do Senhor da Montanha, todos os instantes de opacidade e de tempestade que vivíamos, e participámos na Festa da Vida e na Refeição da Luz. Regressámos. Encontrámos tudo na mesma. Tudo. Mas nós estávamos diferentes, transformados, reparados. E uma convicção revoluteava dentro de nós: Deus não extingue os nossos problemas e dramas, nem os evita, mas oferece as respostas e o arrojo para os defrontar. E vencê-los. Perante os imensos obstáculos, que permaneceram, Elias avançou. Nós, também.

De madrugada, Jesus voltou outra vez para o templo e todo o povo vinha ter com Ele. Sen- tou-se e pôs-se a ensinar. Então, os doutores da Lei e os fariseus trouxeram-lhe certa mulher apanhada em adultério, colocaram-na no meio e disseram-lhe: «Mestre, esta mulher foi apanhada a pecar em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou-nos matar à pedrada tais mulheres. E Tu que dizes?» Faziam-lhe esta pergunta para o fazerem cair numa armadi- lha e terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se para o chão, pôs-se a escrever com o dedo na terra. Como insistissem em interrogá-lo, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós esti- ver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!» E, inclinando-se novamente para o chão, conti- nuou a escrever na terra. Ao ouvirem isto, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher que estava no meio deles. Então, Jesus ergueu-se e per- guntou-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?» Ela respondeu: «Ninguém, Senhor.» Disse-lhe Jesus: «Também Eu não te condeno. Vai e de agora em diante não tornes a pecar.» | Jo 8, 2-11

Foram saindo um a um, a começar pelos mais idosos. Mas, eu fiquei. Não por achar que estava sem pecado (alguém está?), mas por reconhecer que, só com Jesus, serei capaz de abrir as mãos e largar na terra as ‘pedras’ com que agrido os meus irmãos. Quando cessaremos de lançar ‘pedriscos’ uns aos outros? Sim, fiquei. “Também eu não te condeno. Vai e, doravante, não tornes a pecar.” Tal como aquela mulher, eu ouvi estas palavras de Jesus, o único que tinha autoridade para a ajuizar e punir. Tal como aquela mulher, fui tocado pela sublime força do Perdão. Uma nova claridade despertou em mim. E nela. Porque ficámos. A mulher, forçada. Eu, porque quis. Também lá estavas. Que sucedeu contigo?

Digo-vos, porém, a vós que me escutais: amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam. A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica. Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames. O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também. Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agrade- cimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada espe- rar em troca. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. | Lc 6, 27-37

Estas palavras de Jesus, forjadas no seu coração repleto de Céu, atravessaram épocas, transformaram vidas e juntaram-se a nós. E são, sim, imperativas para os que, hoje, são discípulos do Mestre. Mas, pergunto-te, prezado viandante neste trilho de letras, que, porventura, habitas num outro universo espiritual e religioso ou te consideras desinteressado, indiferente, agnóstico, ateu, mas que te assumes como ator no palco da história humana, rejeitando, resolutamente, o papel de mero espectador, e estás determinado a forçar ‘barreiras’ quando a meta é o Amor: queres, também, imergir nos reptos de Jesus, ousados e radicais, (coloco-me ao teu lado), com um franco, generoso e indubitável

SIM?

Aproximando-vos de Jesus, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, também vós - como pedras vivas - entrais na construção de um edifício espiritual. | 1Pe 2,4-5

Num tempo de ‘vacas magras’ e de ’vendilhões de desalento’, quando os indicadores apontavam para ‘adiar’, ‘resignar’, ‘desistir’, o nosso Jornal, ‘O Alcoa’, meteu ‘mãos à obra’ e renovou a sua Casa. Começámos sem nada. Terminámos cheios de tudo. Valeu a inexcedível participação de alguns e o desvelo de muitos. OBRIGADO! Também não faltou o amparo cúmplice do Deus-connosco. Ele acompanhou-nos em todas as etapas desta aventura. Com o coração trajado com as vestes dos dias de Festa, dedicamos este ousado empreendimento aos filhos de Alcobaça. Aos de hoje e aos de amanhã. Que na materialidade do que se pode observar com os olhos, sejam percetíveis as razões que nos animaram e conduziram: uma paixão fiel pela nossa Cidade e pelas terras de Cister; um propósito firme de honrar e continuar a ‘missão cumprida’ dos que nos precederam na ‘fabricação’ deste Jornal; uma necessidade genuína em dar resposta aos apelos do Futuro que nos desafia a escrevê-lo com as nossas próprias palavras; uma vontade feliz de anunciar o Amor no meio do ‘baile das letras’. Mais do que o lugar onde nasce o Jornal que é de todos nós, seja, a renovada Sede do ’O Alcoa’, uma ‘humanoteca’, espaço de acolhimento de pessoas que se encontram e comunicam. E, ali, possam ser recolhidas, partilhadas e editadas ‘boas notícias´. Daquelas que, sem ocultar as trevas, nos informam da luz. Daquelas que nos aquecem ‘cá dentro’ quando faz frio ‘lá fora’. Daquelas que nos despertam e nos devolvem o poder do Sonho.

“Quando chegar o Ano Santo dos filhos de Israel…” | Nm 36, 4

O ‘Ano da Fé’, proposto pelo Papa Bento XVI, é para ti. Em primeiro lugar, é para ti, cristão, que amas Jesus e a Igreja, mas queres mergulhar, mais profundamente e com entusiasmo, na deslumbrante imensidade do ‘mistério’ divino que nos envolve. É para ti, que estás ligado a Jesus, e dás testemunho dessa relação, mas sentes dificuldade em apreender certas razões da tua fé. É para ti, que te assumes como ’católico praticante’, mas estás acorrentado a ’dogmas’, ’fórmulas’ e ‘religiosidades’, fabricadas na tua forja, não no pensamento de Deus ou da Igreja: já te esqueceste que o peregrino da fé leva, somente, uma sacola, sandálias e um coração permeável ao Encontro? É para ti, que te identificas como ‘católico não praticante’, e afirmas: “tenho a minha fé; não preciso de missas.” É para ti, que gostas de pesquisar, que demandas a verdade, que te interrogas sobre Deus, Jesus, a Igreja, o Divino, a Vida... É para ti, não cristão, romeiro de outro itinerário espiritual, amante da fraternidade, atento a todos os sinais do ‘Invisível’, e que desejas calcorrear, com afeto, o ‘território’ do cristianismo. É para ti, que és hostil para os cristãos e para a Igreja, que, muitas vezes, agrides e condenas com excessiva intensidade: achas que tens razão em tudo o que pensas e dizes? É para ti, que usufruis de um espírito aberto e ponderado, que és versado num vasto rol de conhecimentos, mas experimentas um ‘vazio’ incómodo acerca do ‘tema’ de Deus: estás disponível para te deixares interpelar e surpreender? É para ti, que te dizes ‘indiferente’, ‘ateu’, ‘agnóstico’: agarra na lanterna e atreve-te a desceres até à cave de ti mesmo. Aí, nesse lugar escondido e tão pouco usado, Deus aguarda-te. Principiou o ‘Ano da Fé’. Acreditas em quê, porquê e para quê?

“Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes!” | Lc 12, 35-37

Vigia: alguém está necessitado do teu abraço. Não faltes. Vigia: há obscuridade no espaço ao teu redor. Queres iluminá-lo? Vigia: muitos colocam a confiança em ti. Não os desiludas. Vigia: a falsidade ataca em cada esquina. Defende-te dela. Vigia: há gente a conspirar contra a bondade. Vais juntar-te a eles? Vigia: não te deixes capturar pela tristeza. Voa para longe dela. Vigia: tens um universo de dons dentro de ti. Como os tens usado? Vigia: estás a desviar-te da rota inicial. Já te deste conta disso? Vigia: és um ramo de uma árvore magnífica. Mas, estás vivo? Vigia: querem envenenar-te com o desânimo. Estás atento? Vigia: dizem que o futuro é sombrio. Mas, o futuro és tu; e tu és luz. Vigia: ´lavaste os pés’ a alguém, hoje? Amanhã também é dia. Vigia: reclamas, amiúde, que ‘tudo está mal’. Fazes melhor? Vigia: fraquejaste e caíste, sim. Mas, consideras-te vencido? Vigia: nestes dias, quantas vezes disseste ‘obrigado’ e ‘desculpa’? Vigia: a boca dá voz aos teus pensamentos. Rezas antes de falares? Vigia: és um tesouro de Deus. Não te vendas por preço algum. Vigia: hoje, pode ser o teu derradeiro dia de vida. Que estás a fazer? Vigia: o que desejas pode não vir. Como enfrentas os fracassos? Vigia: por que motivo és tão azedo? Queres curar-te? Vigia: colocas muitas questões. Confessa: procuras as respostas? Vigia: é muito bom amar. Mas não aviltes o teu corpo e a tua alma. Vigia: ofendeste ou magoaste alguém, hoje? Confirma. Vigia: por que será que não vês nada, quando tudo está lá? Vigia: precisam de ti, agora. Vais ou ficas? Vigia: alguém está, encantado, a olhar para ti. Já reparaste? Vigia: afirmas que a oração é basilar na tua vida. Rezaste, hoje? Vigia: o Amor precisa de ti. Por que demoras em partir? Vigia: Deus anda à tua procura. Vais permitir que Ele te encontre?

Jesus subiu para o barco e os discípulos seguiram-no. Levantou-se, então, no mar, uma tem- pestade tão violenta, que as ondas cobriam o barco; entretanto, Jesus dormia. Aproximando -se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!» Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?» Então, levantando-se, falou imperio- samente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma. Os homens, admirados, diziam: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» | Mt 8, 23-27

Tal como o mar, a vida nem sempre decorre em ritmo de bonança. De tempos a tempos, borrascas sacodem a nossa débil embarcação. Nesses instantes, o medo toca-nos e a nossa pequenez é provada. Mas, nenhuma tormenta nos consegue intimidar ou subjugar. Não por sermos intrépidos heróis ou fantásticos aventureiros, mas porque circula em nós a seiva dos grandes navegadores e confiamos n’Aquele ‘a quem até o vento e o mar obedecem’. Ele vai na barca, em todas as nossas viagens. Mesmo que a dormir.

‘Senhor, olha por nós, pois o mar é tão grande e o nosso barco tão pequeno. Ámen.’

(Oração bretã dos pescadores)

Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver. Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hos- pedar-se em casa de um pecador. Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe qua- tro vezes mais.» Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa.» | Lc 19, 1-9a

Sou o Zaqueu. Tudo o que leram no texto anterior, aconteceu. Gravei, para sempre, o que ouvi naquele instante: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa”. Espantoso! Tinha ido para o ver e, afinal, foi Ele quem me viu! Fiquei tão surpreendido que ‘caí’, mais do que desci, do sicómoro. E acolhi Jesus na minha habitação. Estava pasmado por Ele não ter ligado aos falatórios habituais. Eu era reputado (com razão, reconheço) como um grande pecador. Saberia, Ele, quem eu era? Qual a minha profissão? A curta estadia de Jesus, na minha casa, alterou-me por completo. Ele fez-me perceber que, tal como a minha estatura física, eu perpetuava uma vida pequena, salpicada de misérias. Tinha oportunidade de ser sério. Mas aproveitava para extorquir. Tinha tudo para mim. Mas não tinha ninguém por mim. Tinha muito dinheiro. Mas era um necessitado. Tinha gente sob o meu mando. Mas estava só. Tinha objetivos. Mas não tinha sonhos. No final daquele encontro com Jesus, senti-me salvo. Feliz. Restituí o que furtei. Partilhei o que podia. Encontrei-me comigo. “Zaqueu, hoje tenho de ficar em tua casa”. Foi o princípio.

Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José, deixando a cidade de Naza- ré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linha- gem de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. Um anjo do Senhor apareceu- lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.» De repente, jun- tou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.» Quando os anjos se afastaram deles em direção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: «Vamos a Belém ver o que aconte- ceu e que o Senhor nos deu a conhecer.» Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o menino deitado na manjedoura. Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele menino. Todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores. Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham vis- to e ouvido, conforme lhes fora anunciado. | Lc 2,1-20

Jesus nasceu para ti e para mim!

E agora?

O Senhor disse a Moisés: «Fala a Aarão e a seus filhos: Assim abençoareis os filhos de Israel. Dizei-lhes: ‘O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te favoreça! O Senhor volte para ti a sua face e te dê a paz!’» | Nm 6,22-27

Estás a ver um espaço inquinado com marcas de escuridade, ou, antes, a divisar as 365 oportunidades que 2013 te oferece? Converte cada ponto num abraço, num perdão, numa partilha, numa dádiva, numa paixão, numa atenção, num beijo, num desejo, numa decisão, numa iniciativa, numa proposta, numa vitória, numa reconciliação, numa evolução, numa viagem, num sorriso, numa oração, numa conversão, numa nascença, num compromisso, numa carícia, numa renovação, num sim, num não, numa invenção, numa partida, numa chegada, numa pausa, numa demanda, num amor, num sonho, numa marca, num desafio, numa bênção... Viajemos por 2013 ao lado de Deus. Com a simplicidade dos humildes e a ousadia dos santos.

“Não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concede- rá. É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.” | Jo 15, 15-17

(Coloca aqui o teu nome), não te chamo servo, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a ti, (coloca aqui o teu nome), chamo-te amigo, porque te dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai (viaja até ao centro de ti mesmo: irás encontrar todas as palavras). Não foste tu, (coloca aqui o teu nome), que me escolheste; fui Eu que te escolhi, e desafio-te a partires e dares fruto, e fruto que permaneça (‘faz da tua vida uma obra prima’!). (Coloca aqui o teu nome), convoco-te para a aventura do amor!

Senhor: que é o homem para te lembrares dele, / o filho do homem para com ele te preocu- pares? / Quase fizeste dele um ser divino; / de glória e de honra o coroaste. / Deste -lhe domínio sobre as obras das tuas mãos, / tudo submeteste a seus pés: /rebanhos e gado, sem exceção, / e até mesmo os animais bravios; / as aves do céu e os peixes do mar, / tudo o que percorre os caminhos do oceano. / Ó Senhor, nosso Deus, / como é admirável o teu nome em toda a terra! | Sl 8, 4-10

O surfista Garrett McNamara provou, há dias, uma vez mais, que podemos usar o que parece ter um domínio absoluto sobre nós para nos lançarmos, com determinação, na senda de mais caminho. De um lado, uma massa de água com a sua colossal energia. Do outro lado, um homem, na sua fragilidade ingénita. No fim, a submissão do que aparentava ser todo-poderoso. No fim, a vitória da ousadia humana sobre a força da natureza. No fim, o fraterno ‘domínio sobre uma obra das mãos de Deus ’. Sempre nutri uma grande admiração pela ‘arte’ do surf. Fascinam-me certos ‘cromatismos’ percetíveis num surfista: a sua paciência, enquanto aguarda a ‘visita’ das ondas; a sua diminuta ‘bagagem’ (apenas uma prancha); a sua hábil visão, que decifra as ondas ‘que valem a pena’; o seu êxtase, com sabor a eternidade, ‘naqueles’ breves instantes; o seu arrojo e destreza para ‘dançar’ com aquela ‘parceira’; a sua liberdade, que o faz sentir-se príncipe de todos os mares. Estes ’sinais’ convidam-me a refletir e rezar. A ser mais sábio. Na vida, nem sempre conhecemos a ‘hora da onda’. Na expetativa do momento, é vital manter o coração atento, aberto, como que a viver, por antecipação, a festa que se adivinha. Uma dessas ’ondas’ pode ser o próprio Deus. Nem sempre ‘chega’ quando ou como desejamos. Pode surgir sob a forma de suave ondulação ou onda gigante. Mas vem. Nunca falta.

‘Tu é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.’ | Mt 16, 18

Caro Pai (não é o que significa a palavra ‘papa’?) Bento XVI:

A tua resignação não foi, para mim, uma total surpresa, tenho que dizer. Recordo duas afirmações que, há 3 anos, li no livro, ‘Luz do Mundo’, que transcreve uma entrevista que concedeste a um jorna- lista alemão, Peter Seewald. Uma: “Tenho confiança que o bom Deus me dará a força de que preciso para fazer o necessário. Mas também noto que as forças me vão faltando”. E, perante a questão de saber se existe uma situação concebível em que se pode considerar apropria- da a resignação do Papa, respondeste: “Sim. Quando um Papa tenha a clara perceção de que física, psíquica e espiritualmente já não conse- gue levar a cabo a missão do seu cargo, tem o direito, e em determina- das circunstâncias também o dever, de se retirar.” A partir desse momento fiquei com a convicção de que ias fazer ‘aquilo’. E o instan- te chegou. Acolho a tua decisão como um admirável ensinamento de um grande Mestre. Que todos, sobretudo os que ocupam cargos de poder, sejam eles quais forem, consigam ler o teu ‘sinal’. Não sabes quem eu sou. Mas eu ‘conheço-te’: pela leitura de muitas obras literárias e artigos que foste publicando ao longo dos anos; pelo que fui presenciando e escutando de ti; pelo que sei por pessoas que te são próximas. Fica aqui registado, para que toda a gente pos- sa ler: OBRIGADO! O resto comunicar-to-ei no silêncio da oração. Onde as palavras nascem e chegam inteiras. Um livro sobre educação das crianças, começa assim: “Eu era uma excelente mãe antes de ter filhos”. O nosso mundo está atulhado de ‘especialistas’ em todas as matérias. Os apelidados ’treinadores de bancada’. Daqueles que, não estando ‘lá’, se convencem que perce- bem tudo sobre tudo. Só tu sabes, na realidade, o que é estar nesse lugar. Comentários sobre ti, e sobre o teu ‘desempenho’, não faltam. Mais chegarão. A História tudo purificará. Eu, e outros milhões de homens e mulheres, estamos agradecidos por teres aceite estar ‘aí’. Continuaremos a rezar por ti. E a rezar pelo próximo Papa, que já está no pensamento de Deus. Em breve, saberemos o seu nome.

Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolo- meu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor. | Lc 6, 12-16

Ao nascer do dia, depois de ter passado a noite a orar, Jesus reúne os seus discípulos e escolhe doze. Este momento é tão profético como surpreendente. Então, depois de uma longa vigília de oração (eram habituais!), a preparar-se para a importante decisão que iria tomar, vai destacar AQUELES? Alguns pescadores e zelotas, um publicano, nenhum teólogo, nenhum doutor, nenhum sacerdote ou levita... E não podia ter selecionado gente com maior ‘perfil’ de ‘santidade’? Ia iniciar a maior Revolução da História com ‘aqueles’ doze? Tenho uma ‘teoria’ sobre este episódio. Fica entre nós, de acordo? Suponho que Jesus passou a noite a rezar, no aconchego do monte, não para encontrar certezas sobre quais os homens a escolher, mas, sim, para aceitar, sem reservas, os que ia convidar, com todas as suas limitações, opacidades, feitios, pecados. Homens tão semelhantes a outros (e, mesmo, ‘piores’ que muitos). Era, com eles, que ia anunciar o Reino, prefácio do Céu na Terra. Jesus foi célere naquela tarefa. Apenas o tempo de dizer 12 nomes. A história mostrou que Ele não se enganou. Sabemos o que se passou, depois, com todos eles. Com ‘aqueles’. Jesus ensinou-nos que, no seu projeto, de que a Igreja é um Sinal, as pessoas não são ‘recrutadas’ de acordo com tabelas-padrão, mas convocadas na liberdade e recebidas como dons. Jesus não nos escolhe por sermos os melhores (quem é?), mas, simplesmente, porque nos ama. Para Ele, não interessa como somos, quando entramos. Importa-se, unicamente, como vamos estar no fim.

Na proximidade do Dia Internacional da Mulher (saúdo todas!) gostaria de deixar expresso, neste espaço, a minha profunda gratidão a muitas Mulheres (destaco a minha mãe e irmãs) que têm viajado ao meu lado, ou com quem me cruzei ao longo do caminho. Os seus testemunhos de vida desafiam-me a ser mais Homem e melhor padre. Nelas consigo reconhecer, com muita clareza e encanto, o rosto materno de Deus.

E Jesus disse a Pedro: «Apascenta as minhas ovelhas». | Jo 21, 17b

E Jesus disse a Pedro: «Apascenta as minhas ovelhas». E Jesus disse a Karol Wojtyla: «Apascenta as minhas ovelhas». E Jesus disse a Joseph Ratzinger: «Apascenta as minhas ovelhas». E Jesus disse a Jorge Bergoglio: «Apascenta as minhas ovelhas». Entre estes homens, um mar de dissemelhanças. Entre estes homens, algo em comum: um desmedido amor a Jesus. Para todos, a mesma pergunta. De todos, a mesma resposta. O ‘sim’ brotou de vários corações, frágeis, como os de todos nós. Mas, a escolha irrompeu, sempre, do coração de Deus. Papa Francisco: bom dia! Bem vindo!

“Então, exclamou: «Eu creio, Senhor!» E prostrou-se diante de Jesus.” | Jo 9, 36

Creio em Deus, que me abraça como Pai e me beija como Mãe. Creio em Jesus, Deus que se fez como um de nós, mas nunca pecou, e que morreu numa cruz, livre e inteiro, totalmente para o Pai. Creio que Jesus venceu a sua morte e também a minha morte. Creio no Espírito Santo, Deus que viaja dentro de mim, e me conduz com exigência de mestre e mesura de amigo. Creio na Igreja, pecadora porque tem ‘corpo’ feito do meu corpo, mas santa, porque tem alma e coração com o ADN de Deus. Creio que há gente que quer viver na Comunhão e na Unidade. Creio no poder da bondade, da delicadeza, da simplicidade. Creio que um abraço cristalino ergue vencidos e aviva sonhos. Creio que no sorriso de uma criança se antediz a alegria do Céu. Creio que na oração Deus senta-se ao meu lado. Creio que por cada ato de bestialidade humana e violência gratuita alguém, algures, lança à terra sementes de amor e de paz. Creio que não devo pecar: o pecado afasta-me de Deus e de mim. Creio que devo exercitar o dom da paciência e a arte da escuta. Creio que, apesar de imperfeito, sou imensamente amado por Deus. Creio que Deus nunca desistirá de mim, ainda que eu desista d’Ele. Creio que a fome, a pobreza, a mentira, a hipocrisia, a inveja, podiam extinguir-se amanhã, se eu e tu quiséssemos mesmo. Creio que sou único e que tu és único. Creio que o testemunho de vida vale mais que mil palavras. Creio que a morte é o fim da vida e o princípio da Vida. Creio no Encontro com Deus, face a face. Creio que o arco-íris nunca deixará de aparecer.

Jesus perguntou-lhe: “Que queres que te faça?” (Lc 18, 40b-41)

A 13 de Maio de 1917, três crianças, Lúcia, Jacinta e Francisco, depararam-se com uma ‘senhora vestida de branco’. Até Outubro, em todos os dias 13 (exceto em Agosto, que foi a 19), os pequenos pastores reataram novos encontros. Muitas explicações têm sido avançadas para explicar o sucedido. Cada um procure a resposta. Eu já encontrei a minha. Na primeira aparição (mais corretamente deveria dizer-se, visão), o diálogo entre os quatro principia desta forma: - Não tenham medo, porque não vos faço mal. - diz a Senhora. - Donde é vossemecê? (Lúcia) - Eu sou do Céu. - O que é que vossemecê me quer? (Lúcia) Esta última pergunta fixou-se em mim. Acho-a arrebatadora. Depois de aclarada de que nada havia a recear, uma menina, da terra, pergunta a uma Mulher, do Céu, em que é que lhe pode ser útil. Não começa a pedir mas, antes, por oferecer disponibilidade. Como tantas coisas seriam diferentes se, em vez de: ‘o que podem fazer por mim’, nos empenhássemos mais no: ‘que posso eu fazer pelos outros’, até mesmo, por Deus. Vem-me à memória uma história: Perguntaram a uma criança: - Rezas a Deus? Respondeu com um sorriso magnífico e olhos brilhantes: - Sim, todas as noites! - E o que lhe pedes? - Nada. Não lhe peço absolutamente nada. - Então, o que fazes? - Apenas Lhe pergunto se O posso ajudar em alguma coisa. Podemos ficar um bocadinho a pensar em tudo isto?

Disse Jesus: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreen- der por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anun- ciar-vos o que há de vir. Ele há de manifestar a minha glória, porque receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer. Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: ‘Receberá do que é meu e vo-lo dará a conhecer’.» | Jo 6,12-15

1+1+1=1. Esta expressão matemática está errada. Mas, quando falamos de Amor, a coisa é mesmo assim. Amar tem a ver com sair de si, lançar-se, doar-se, partilhar-se. É uma explosão, não uma implosão; um êxodo, não uma absorção. ‘Amar-se’(?) somente a si, conduz a um narcisismo alienante. Amar, exprime-se na construção de pontes que ligam vidas: de um ‘eu’ para um ‘tu’ e de um ‘tu’ para um ‘eu’, que passam a ser ‘um’ apesar de eu ser ‘eu’ e tu seres ’tu’. Mas este ligâmen não sobrevive se se trancar numa sala só para dois. Apesar da força entre 1+1, é necessária a presença de outro 1, para que 1+1 não se encasulem em torno de si próprios, e sufoquem num abraço de precipício. Embora ‘incómodo’, porque desinstala, desafia, descentra, o terceiro 1 vem revelar que o ‘mundinho’ do ‘amor’ não pode fixar-se nas medidas do 1+1, numa ligação exclusivista, que conduz, quase sempre, a uma paralisia da relação. O Amor só é verdadeiro, inteiro, completo e total, quando o ‘eu’ e o ‘tu’, se tornam disponíveis para um ‘outro’. O universo do Amor exige as dimensões, mínimas, do 1+1+1. Espaço mais diminuto não permite respiramentos e gestações. São necessários, pelo menos, 3 bailadores para a Dança do Amor. Estás a ver por que é que Deus, o AMOR, é Trindade?

Caindo em si, disse: ‘Quantos jornaleiros de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Irei ter com meu pai e vou dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros.’ E, levan- tando-se, foi ter com o pai. Quando ainda estava longe, o pai viu-o e, enchendo-se de com- paixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. O filho disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho.’ Mas o pai disse aos seus ser- vos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha; dai-lhe um anel para o dedo e sandálias para os pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o; vamos fazer um banquete e alegrar-nos. Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi encontrado.’ | Lc 15, 17-24

Decidi retornar a Casa. Vencido e humilhado. Esfarrapado e fétido, por fora. Pejado de feridas, dentro da alma. Regressei, não plenamente arrependido, reconheço e confesso, mas porque passava fome e estava só. Morava no inferno da vida. Aprontei um discurso ‘politicamente correto’, mais do que sincero: Pai, falhei contigo e com Deus. Fui um patife. Ofendi-te e magoei-te. Não sou digno de ser teu filho. Peço-te que me aceites como escravo. Estava ainda longe de Casa, quando vi alguém dirigir-se para mim. Era o meu Pai. Vinha apressado. Corria. Voava ao meu encontro. Como podia ele saber que eu estava a chegar? Alcançando-me, embrulhou-me num abraço e vestiu-me de beijos. Tentei organizar as ideias. O que se estava a passar? Quando, finalmente, tinha conseguido balbuciar algumas palavras, o meu Pai interrompeu-me, abruptamente. E ordenou: Trazei a túnica, o anel, as sandálias. Buscai o vitelo mais gordo. Façamos um grande festim. O meu filho voltou para Casa. Estava morto e voltou à vida. Estava perdido e foi encontrado. Nenhuma censura, reprimenda, punição... mas, um festão! Sim, um sumptuoso banquete! Não é surpreendente e inesperado? Mas a verdadeira festa aconteceu em mim: nasci de novo! Compreendi que o meu Pai sempre acreditou que eu voltaria. Nunca desistiu do seu filho. Aguardava-me, todas as manhãs. Por isso me avistou, naquele dia, na remota linha do horizonte. Sim, voltei a Casa, o lugar onde sou amado, desejado, esperado. Com um Pai assim, não dá vontade de ser filho?

‘…e a certeza daquelas coisas que não se veem’. | Heb 11, 1

Olá, João! Tudo bem? E o estudo para os exames do 12º? Há uns dias estivemos a conversar sobre da esperança. Quero parti- lhar mais algumas ideias acerca do assunto. A esperança verdadeira não é uma visão colorida da realidade ou um ‘sentar-se no sofá’, passivamente à espera que algo aconteça. Para mim, ter esperança é acreditar nas coisas que não vejo pela certeza que delas tenho. Sou induzido a aguardar, com paciência ‘ativa’, o que ainda não chegou. E a tornar-me ‘cúmplice da menina esperan- ça’, no dizer de Charles Péguy. Sou convocado para ser, eu mesmo, esperança para os outros. Destaco duas afirmações, com perfume de esperança, pronunciadas na Jornada da Pastoral da Cultura 2013: ‘Ser jovem é dizer que viver não é inútil’ (Manuel Fúria) e ‘Na medida em que depender de mim, vou lutar pelas causas e convicções em que acredito’ (João Brites). Que pensas destas asserções? Uma história: Sobreveio um terrível incêndio numa floresta. Os ani- mais fugiam em todas as direções, tomados pelo pânico, exceto um pequeno pássaro que voava, incansável, entre um lago próximo e as tremendas labaredas. Enchia o seu bico com uma gota de água e lan- çava-se, destemidamente, sobre as chamas. Passando por ele, um ele- fante bramiu-lhe: ’Achas que, assim, vais conseguir extinguir o fogo?’ O pássaro retorquiu: ‘Estou a fazer a minha parte’. Ter esperança é divisar que ainda há algo que pode ser feito. ‘A espe- rança não é um sonho, mas uma maneira de traduzir os sonhos em realidade’ (Cardeal Suenens). Acreditar em Deus, abre-me a uma Esperança que se destaca de todas as outras. Saber que Deus está no princípio e no fim de tudo, encoraja-me a esperar, incansavelmente, o nascer do sol, depois da mais longa e fria noite. Como é contigo? Até breve! Um abraço. M

Disse Jesus: “Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as põe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.” | Mt 7, 24-25

Khalil Gibran escreveu estas palavras:

‘A neve e a tempestade matam as flores, mas nada podem contra as sementes.’

Hoje, desejo manifestar a minha gratidão às ‘pessoas-sementes’. Fascinadas pela terra. Atraídas pelo Dom. Amantes do Infinito. Vivem ‘vivas’, com o coração todo, a alma límpida, a face iluminada. Alegram-se por serem diminutas, pois não gostam de ser notadas, mas são facilmente descobertas pelos ‘caçadores’ de beleza. Não estão cativas do passado nem do futuro. Habitam o hoje. Peritas nas artes de amar e perdoar, recolhem todas as cores porque não querem pintar a vida apenas a preto e branco. Vestem-se de resistência e resiliência. Não usam adornos. Deixam-se repousar na palma de uma mão, apesar do risco, mas não permitem ser apresadas nas mãos de ninguém. Quando nos perdemos em sinistras florestas e confusos labirintos, atravessamos momentos sombrios e torrentes de incertezas, hesitamos diante de horizontes pouco nítidos e negros amanhãs, sentimos o amargo das promessas vazias de tudo e cheias de nada, somos fustigados por ventos gélidos que esfriam sonhos e ideais, elas são, para nós, presenças de ‘primaveras’ de esperança. Obrigado, ‘pessoas-sementes’!

Jacob tendo ficado só, alguém lutou com ele até ao romper da aurora. Vendo que não podia vencer Jacob, bateu-lhe na coxa, e a coxa de Jacob deslocou-se, quando lutava com ele. E disse-lhe: «Deixa-me partir, porque já rompe a aurora.» Jacob respondeu: «Não te deixarei partir enquanto não me abençoares.» Perguntou-lhe então: «Qual é o teu nome?» Ao que ele respondeu: «Jacob.» E o outro continuou: «O teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra Deus e contra os homens e conseguiste resistir.» Jacob interro- gou-o, dizendo: «Peço-te que me digas o teu nome.» «Porque me perguntas o meu nome?» - respondeu ele. E então abençoou-o. | Gn 32, 25-30

Este episódio tem tanto de fascinante como de enigmático. Deixemo-nos envolver pelo tom misterioso, pela movimentação, pelos enunciados concisos, pelos silêncios, pelas alusões... Jacob luta com ‘alguém’, que se lhe interpõe no caminho: principia na escuridão, franqueia a aurora, termina de dia. Há múltiplas leituras e interpretações para este relato. Uma delas, talvez a mais relevante, relaciona-se com a luta. Quando se enfrentam desafios, geram-se tumultos dentro da alma, batalhas internas a travar, trânsito de um ‘antes’ para um ‘depois’. Para um crente, a relação com Deus pode tomar a forma de ‘duelo’, quase como um ‘combate corpo-a-corpo’, um confronto entre o que aquele é e quer, e o que Deus É e quer. Após a refrega, que pode durar ‘toda a noite’, Deus ‘inventa’ um empate: não se deixa derrubar nem dominar, mas não permite, também, que ’Jacob’ prove o amargo da derrota. Ganham ambas as partes. Uma vitória repartida (a única que vale). Aquele que não desiste d’Ele, que ‘não O quer deixar partir’, o que ‘luta contra Deus e contra os homens, e consegue resistir’, recebe um nome novo. Torna-se cidadão da Vida. E, no final, Deus abençoa-o, ou seja, fala bem dele, aplaude-o. Que ninguém tenha receio de ter Deus como ’adversário’. No final de cada ‘combate’ não haverá vencidos. Só vencedores.

Jesus tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo: “Felizes os pobres em espírito, por- que deles é o Reino do Céu. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque possuirão a terra. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu.” | Mt 5,1-10

Felizes aqueles cujos nomes não serão gravados em parte alguma, mas deixam a sua marca de beleza em cada palmo de história. Felizes os amantes da Liberdade, da Bondade, da Verdade, fiéis opositores a todas as ideologias e fundamentalismos. Felizes os jovens, ‘janela pela qual o futuro entra no mundo’, que acolhem, com ternura e gratidão, a herança dos mais velhos. Felizes os estudantes que percorrem o seu itinerário escolar com um coração íntegro e uma inteligência amanhecida. Felizes os que assumem cargos de poder com a paixão de Servir: não traficam promessas, não negoceiam a honra, não sujam a alma. Felizes os idosos que vivem, com placidez, o carrego dos anos, e albergam, nos corações, a fragrância de mil primaveras. Felizes os que não usam ‘máscaras’ nem se ocultam em disfarces, mas deixam-se ver, com limpidez e recato, na sua vera imagem. Felizes os filhos da Esperança, irmãos do Sonho, amigos da Utopia, firmes rivais de todos os que ‘não fazem nem deixam fazer’. Felizes os casais que, nas intempéries da sua vida conjugal, substituem as increpações mútuas por abraços de perdão. Felizes os que não se fixam no estrondo de uma árvore a tombar, mas escutam, fascinados, o ‘sussurro’ da crescença das outras. Felizes os crentes que não se refugiam em castelos dogmáticos, mas habitam em frágeis tendas de Encontro e Diálogo. Felizes os provados pelo sofrimento e golpeados pelo infortúnio, e que avançam com o fulgor dos heróis e o garbo dos vencedores. Felizes os que resistem às propostas provisórias e descartáveis, e alicerçam a vida no terreiro dos valores com tom de eternidade.