paisagens naturais brasileiras e expressões...

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Paisagens naturais brasileiras e expressões culturais regionais E studamos no capítulo anterior os grandes temas ligados à ques- tão da terra no Brasil. Entre eles abordamos posse da terra, con- centração fundiária, produção brasileira, papel do agronegõcio e avanço da soja sobre as diferentes paisagens naturais brasileiras. Enfo- camos a luta dos trabalhadores rurais pelo direito à terra e pelo direito de nela produzir. Agora, vamos estudar as diferentes paisagens naturais que existem em nosso país e as diferentes formas de organização de vida dos grupos humanos, que habitam e convivem há muito com essas formações vegetais. Domínio morfoclimático e domínio amazônico Na década de 1970, o geógrafo Aziz Ab'Sáber propôs uma teoria sobre os domínios da natureza. Essesdomínios resultam da interação de diversos fatores, tais como: relevo, hidrografia, clima, solo e vegetação. Ele os deno- minou de domínios morfoclimáticos. Na proposição do autor, as relações construídas ao longo do tempo entre essesfatores resultaram em uma paisa- gem, na qual o que observamos advém principalmente da forma do relevo e da relação com seu clima (umidade e temperatura), sendo essesfatores ora um, ora outro o que mais predomina na existência da paisagem. Um domínio morfoclimático manifesta-se em uma área específica do territórioj onde os fatores clima-relevo propiciam uma homogeneidade paisagística. Obviamente dentro da vasta área de um domínio pode haver uma formal diferente de paisagem, já que nele há outros fatores. Os domínios morfocli- l máticos brasileiros são os da floresta Amazônica; dos Mares de Morros; da floresta de Araucária; do\Cerrado; da Caatinga e dos Campos Sulinos. Como afirmamos, na área de ocorrência de um domínio em que há grande homogeneidade de relevo e clima, pode ocorrer variação de um fator que acaba por especificar outra paisagem, mas que nem por isso o descaracteriza. Ou seja, no domínio do Cerrado, por exemplo, há áre- as florestais de matas galeria, vegetação de alagados, graças à existên- cia de maior umidade na margem dos rios e áreas baixas com acúmu-I 10 de águas pluviais, mas que não alteram a predominância do Cerrado. É importante salientar o conceito de limite: um determinado domíniol não se confronta diretamente com outro domínio, afinal, as condiçÕeSj climáticas e de relevo não mudam abruptamente, senão em poucos ca- sos. A passagem de um domínio para outro é gradual, as condições de) clima e relevo vão se alterando até que se estabeieça outro domínioj Entre eles, há uma faixa que não pode ser defi- nida nem como um, nem como outro domínio- são as faixas de transição - que podem ter tama- nhos variados. Um exemplo de faixa de transição ocorre na mata Atlântica, no Nordeste brasileiro, I que se separa da Caatinga pela faixa de transição , que é o Agreste. No domínio amazônico, que veremos agora, a mata dos Cocais é a faixa de transição para a Caati nga. Domínio amazônico Domínios morfoclimáticos brasileiro CltT::!I::::' ATui.~ ;::!C(r O domínio morfoclimático amazônico ocupa ae . quase totalidade da porção norte do território bra- '. , sileiro, com uma área de aproximadamente 5 rni- 'I I I~~~sde kr:n 2 , o que equivale a cerca de 60% do ter- =::r::ô:~c:orros ntono nacional e compreende terras dos seguintes 1;>'lí,,'1 Araucárias estados:Amazonas, Amapá, Acre, Pará,Maranhão.] @~:~a'l Cerrados Rondônia, Roraima,Tocantins e Mato Grosso. I c=J Caatingas A Amazônia, como também é chamado o doJ Campossulinos ". . ......" _ Pantanal mrruo arnazonrco, e extremamente influenciada _ . Cocaís pelo regime de cheias de seus rios, já que esse _ Agreste domínio encontra-se na maior bacia hidrográfica-------l d d Elaborado por: Cláudio Eduardo de Castro da Universidade Estadual O mun O, a bacia amazônica, alimentada pelas Maranhão para esta coleçã chuvas abundantes dos dois hemisférios e pelo degelo das águas acumuladas na cordilheira dos Andes. A grande quantidade de rios e seu volu- me de água é o resultado dessas águas. Outra explicação requer um pouquinho de conheci- mento de Geologia, que é a ciência que estuda a estrutura da crosta terrestre, seu modelado e as diferentes fases da história física da Terra, que esclarece a existência dessa bacia fluvial, pelo soerguimento da placa onde havia um mar raso ladeado por planaltos ao norte, sul e oeste. Loca- liza-se na porção equatorial da América do Sul. As chuvas de verão-outono do Hemisfério Sul alimentam essa bacia hidrográfica nesse período; além disso, o degelo dos Andes, onde nasce o rio O*N.... ( " s ,I .:' 190 o 3801<rn· ... ' .....•. '--,

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Paisagens naturais brasileiras eexpressões culturais regionais

Estudamos no capítulo anterior os grandes temas ligados à ques-tão da terra no Brasil. Entre eles abordamos posse da terra, con-centração fundiária, produção brasileira, papel do agronegõcio e

avanço da soja sobre as diferentes paisagens naturais brasileiras. Enfo-camos a luta dos trabalhadores rurais pelo direito à terra e pelo direitode nela produzir. Agora, vamos estudar as diferentes paisagens naturaisque existem em nosso país e as diferentes formas de organização devida dos grupos humanos, que habitam e convivem há muito com essasformações vegetais.

Domínio morfoclimático e domínio amazônicoNa década de 1970, o geógrafo Aziz Ab'Sáber propôs uma teoria sobre

os domínios da natureza. Essesdomínios resultam da interação de diversosfatores, tais como: relevo, hidrografia, clima, solo e vegetação. Ele os deno-minou de domínios morfoclimáticos. Na proposição do autor, as relaçõesconstruídas ao longo do tempo entre essesfatores resultaram em uma paisa-gem, na qual o que observamos advém principalmente da forma do relevoe da relação com seu clima (umidade e temperatura), sendo essesfatoresora um, ora outro o que mais predomina na existência da paisagem. Umdomínio morfoclimático manifesta-se em uma área específica do territóriojonde os fatores clima-relevo propiciam uma homogeneidade paisagística.Obviamente dentro da vasta área de um domínio pode haver uma formaldiferente de paisagem, já que nele há outros fatores. Os domínios morfocli-

lmáticos brasileiros são os da floresta Amazônica; dos Mares de Morros; dafloresta de Araucária; do\Cerrado; da Caatinga e dos Campos Sulinos.

Como afirmamos, na área de ocorrência de um domínio em que hágrande homogeneidade de relevo e clima, pode ocorrer variação de umfator que acaba por especificar outra paisagem, mas que nem por isso odescaracteriza. Ou seja, no domínio do Cerrado, por exemplo, há áre-as florestais de matas galeria, vegetação de alagados, graças à existên-cia de maior umidade na margem dos rios e áreas baixas com acúmu-I10 de águas pluviais, mas que não alteram a predominância do Cerrado.É importante salientar o conceito de limite: um determinado domíniolnão se confronta diretamente com outro domínio, afinal, as condiçÕeSjclimáticas e de relevo não mudam abruptamente, senão em poucos ca-sos. A passagem de um domínio para outro é gradual, as condições de)

clima e relevo vão se alterando até que seestabeieça outro domínioj

Entre eles, há uma faixa que não pode ser defi-nida nem como um, nem como outro domínio-são as faixas de transição - que podem ter tama-nhos variados. Um exemplo de faixa de transiçãoocorre na mata Atlântica, no Nordeste brasileiro, I

que se separa da Caatinga pela faixa de transição ,que é o Agreste. No domínio amazônico, queveremos agora, a mata dos Cocais é a faixa detransição para a Caati nga.

Domínio amazônico

Domínios morfoclimáticos brasileiro

CltT::!I::::'ATui.~·;::!C(r·

O domínio morfoclimático amazônico ocupa ae .quase totalidade da porção norte do território bra- '. ,sileiro, com uma área de aproximadamente 5 rni- 'I I

I~~~sde kr:n2, o que equivale a cerca de 60% do ter- =::r::ô:~c:orros

ntono nacional e compreende terras dos seguintes 1;>'lí,,'1 Araucárias

estados:Amazonas, Amapá, Acre, Pará,Maranhão.] @~:~a'lCerrados

Rondônia, Roraima,Tocantins e Mato Grosso. I c=J Caatingas

A Amazônia, como também é chamado o doJ Campossulinos". . ......" _ Pantanal

mrruo arnazonrco, e extremamente influenciada _ .Cocaís

pelo regime de cheias de seus rios, já que esse _ Agreste

domínio encontra-se na maior bacia hidrográfica-------ld d

Elaborado por: Cláudio Eduardo de Castro da Universidade EstadualO mun O, a bacia amazônica, alimentada pelas Maranhão para esta coleçã

chuvas abundantes dos dois hemisférios e pelodegelo das águas acumuladas na cordilheira dosAndes. A grande quantidade de rios e seu volu-me de água é o resultado dessas águas. Outraexplicação requer um pouquinho de conheci-mento de Geologia, que é a ciência que estudaa estrutura da crosta terrestre, seu modelado eas diferentes fases da história física da Terra, queesclarece a existência dessa bacia fluvial, pelosoerguimento da placa onde havia um mar rasoladeado por planaltos ao norte, sul e oeste. Loca-liza-se na porção equatorial da América do Sul.

As chuvas de verão-outono do Hemisfério Sulalimentam essa bacia hidrográfica nesse período;além disso, o degelo dos Andes, onde nasce o rio

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As estradas que cortam a Amazônia durante boa parte do ano se apresentam:om inúmeros atoleiros, como o visto nesta foto, graças à quantidade significa-'iva de chuvas distribuídas em quase todos os meses do ano. Como a estaçãoJe poucas chuvas e curta, essa cena se repetecom muita_frequência.----------------~~----

Amazonas, aumenta o fluxo de águas na bacia.No período de inverno, as águas da margem es-querda da bacia amazônica advêm das ch~va.sdoHemisfério Norte, porém com menores índices.Essavariação do nível dos rios define as princip~isrelações que dão as características dessedo~mlo.

O relevo é plano, com altas taxas de sedirnen-tação pelas águas dos rios. Os solos são po~r~s I

em nutrientes minerais, mas ricos em matenarsorgânicos, pois a alta umidade e o cal?r favor:- [cem a decomposição de restos veget~ls ~a P~7jpria floresta, bem como de restos,a.nlmal;, .qu~imantém o solo "adubado" por matena orgamca:

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Toda essa quantidade de água e o relevo plino fazem com que o deslocamento rodoviáriocomum no Brasil, seja muito dificultado. As~ii.o transporte fluvial e o aéreo são muito utili~a?~devido às facilidades encontradas nessedoml,~,Iol

Ainda que a aptidão natural da região esti~1se ligada ao transporte hidroviário, na dé~ad~,j1970 houve um grande projeto que visavamt~a Amazônia ao restante do país por via rod~vl~~Trata-sedo projeto de construção da rodoviaTr;,samazônica. Conforme Yurij Castelfranchi::

Em 10 de outubro de 1970, a' capa da'Folha de S.Paulo noticiava dois grandesacontecimentos.

Após meses de debates violentos, os itali~;nos acordavam num país onde o divórcio .:~,ser permitido. Oito mil quilômetros ao sudo~~~te, uma árvore de 50 metros derrubada no mel~l;da selva amazônica era a muda testemunha.âcontrário, da intenção de um casamento ('não iria ter v~da fácil: entr: a região Norte .~~resto do Brasil. Ao lado da arvore, uma placa '.'.'1bronze incrustada no tronco de uma castanhY~ira, descerrada no dia anterior pelo general Ent!~~,lio Garrastazu Médici, dizia: "~e~tas marg~do Xingu, em plena selva amazomca, o sr.~sidente da Republica dá início à construção ~

Transamazônica, n~a arrancada histórica,~1

a conquista desse gigantesco n:undo,~erde ' ..1,Mais de trinta anos depois, a arranca,

'\histórica" está longe de ser acabada. D~:sonhos do Plano de Integração Nacional]do "Brasil Grande" do regime militar, re~~uma pista de terra vermelha e amarela que~

durante seis meses, poeira e outros seis me-ses, lama. E resta um milhão de pessoas es-perando que a BR-230, que já foi rebatizadade "Transamargura" e "Transmiseriana", setome exemplo de um caminho possível emdireção ao desenvolvimento da região. Pes-quisadores, colonos e representantes de movi-mentos sociais trabalham hoje juntos, buscan-do inventar um futuro sustentável, que superetanto o dogma da penetração e integração daselva a qualquer custo, quanto a antiga convic-ção ambientalista que via na presença humanaprofecia de catástrofes e nas estradas pavimen-tadas o vilão número um da floresta.

O resultado hoje é visível até do espaço:imagens ~~télite mostram as típicas con-formações (f~~!!~~e~ta~~n!o fO~~~~R~~aestrada e suas vicinais. em forma de espmhade peixe~ Some-;;t~"'i:5mil quilômetros da ro-dovi~Tígando Aguiamópolis a Lábrea (AM),foram abertos. O que seguiu foi o abandono.

Cerrado

Os Cerrados são a expressão clara de for.mação -de transição entre as florestas (cons-tituídas predominantemente de árvores) e a,!

domínios áridos (onde arbustos e grarníneai

~

ôominam a paisagem), e são assim denomi-~ados por apresentarem várias fisionomias,iâependendo dos fatores formadores. Estão

~situados nas porções interiores do Brasil cen-~fral,onde os solos são resultado do intempe-.ifismoacentuado, pois são formados por áreas:jnuito antigas da crosta, daí serem profundos,'bem drenados e muito lixiviados. Essa lixi-~'yiaçãoremoveu grande parte dos sais e dasipartículas finas para a parte mais profunda~as solos, tornando-os ácidos. Essaacidez li-berao alumínio, que em altas concentrações

:é tóxico e interfere no desenvolvimento dasi:llantas. O relevo é de planaltos antigos, emgeral areníticos, mas com ocorrências de ou-:,!rasrochas sedimentares,. como o calcário,.e rochas vulcânicas, como o basalto. Esses~Ianaltos têm a feição de chapadas dos mais:Biversos tamanhos e morros testemunhos deantigos planaltos que hoje se rebaixaram pela~açãoda erosão. É no domínio do Cerrado que~muitasnascentes de grandes rios se originam,Icomo o rio São Francisco, o rio' Paraná e mui-~,

~tosda margem direita do rio Amazonas. Esse:domínio também limita a grande área do Pan-

Jtanal, segundo maior domínio por extensãoilerritorial, detendo uma área de 45 milhões{i',çehectares.il ~

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A ocupação dessa porção do BrasiI deu-se deforma irregular até o século XX, quando o gover-no federal iniciou os programas de interiorização,primeiramente nas décadas de 1940-1950, coma construção de Brasília, e depois, na década de1970, com programas de integração nacional. Apartir daí, esse domínio passou cada vez mais aser ocupado, como veremos adiante.

O clima dos Cerrados tem como característi-ca fundamental uma pronunciada estação secaanual e a continental idade, ou seja, a amplitudetérmica diária é maior que em áreas litorâneas,causada pela menor umidade relativa do ar pro-veniente da grande distância do mar. A poucaumidade do ar possibilita que ele se aqueça ra-pidamente quando há insolação e se esfrie coma mesma rapidez à noite, daí a grande diferençaentre as temperaturas. A umidade chega a níveisbaixíssimos no fim da estiagem, em setembro eoutubro, provocando até problemas de saúde àpopulação.

A vegetação do Cerrado

A vegetação apresenta-se muito variada,indo dos campos formados basicamente porgramíneas até uma floresta. As árvores têmtroncos tortuosos e folhas coriáceas (parecen-do couro, com porosidade embaixo das folhase lustrosas na parte superior), para diminuir aperda de água. Por serem solos profundos, asraízes são longas para obter a água subterrânea.O fogo é uma constante no período seco, daíos caules serem protegidos por cascas grossas.O aspecto que chama mais atenção é a tortu-osidade dos caules, que crescem curvando-sealeatoriamente. Tal fato se dá pela precarieda-de mineral do solo e toxidez do alumínio. Du-rante muito tempo, esse foi um impedimentoà ocupação pelas atividades humanas. Depois

de estudos indicarem que a acidez era o fatora ser controlado para que se desenvolvesse aagropecuária, o Cerrado começou a ser ocu-pado graças às técnicas agrícolas modernas.Algumas espécies da flora são muito conheci-das, como os ipês de várias tonalidades, o an-gelim, o cedro, o jatobá, a caviúna e o pequi,que é a fruta símbolo desse domínio.

O Cerrado pode ser dividido segundo amaior ou menor presença de gramíneas, árvo-res e arbustos, o que pode ser observado nafigura abaixo.

Campolimpo

Camposujo

além das já comentadas, contribuiu para isso:o relevo plano.

Campocerrado

m

I,

I

18Vis:a aérea d~ fazenda de soja no Cerrado, no município de Riachão, sul do Mara-nhao. t uma area de amortecimento do Parque Nacional da Chapada das Mesas.Observe que, com a remoção da vegetação, os ventos têm facilidade de circulação,exlqindo que se plante um cordão de eucaliptos em torno da área de moradia e detrabalho. Ao lado, cerrado natural e solos recém-plantados.

O uso intenso de tecnologia no domínio doCerrado tornou a área a maior produtora de soja

do Brasil, levando o país à segunda posição murdial em produção de soja e a assumir o prirneir.lugar em produtividade por área (toneladas dsoja por hectare), atraindo investimentos inch,sive dos Estados Unidos. A ocupação pela agricultura altamente tecnificada vem expulsando omoradores para áreas de solos mais pobres, extinguindo espécies animais e vegetais, aumentanda migração para as cidades e criando uma paisagem de monocultura nunca antes vista.

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Até a década de 1970, o principal aprovei-tamento econômico do Cerrado foi a pecuária I

extensiva. O rendimento das gramíneas natu-rais era baixo para uma pecuária intensiva e ouso de pastagens plantadas era pouco di-fundido, devido à carência mineral do solo.Com a correção da acidez pela calagem (apli-cação de calcário que eleva o pH do solo e

, permite que as plantas absorvam os nutrientescom facilidade, o que não ocorre com pH bai-xo-ácido), as plantas não sofreram mais coma toxidez e ganharam rendimento comercial.Foi com o uso da agropecuária altamente tec-nificada, por volta da década de 1970, que oCerrado começou a ser amplamente ocupado,com migração de agricultores do Sul do paísem busca de terras e financiamentos baratospara a produção voltada à exportação de sojaprincipalmente. Havia uma facilidade que,

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Domínio morfoclimático de Marestde Morros

r seu clássico Iivro A vegetação brasileira, co->menta que essa vegetação é muitíssimo pare- Ifcida com a floresta Amazônica, diferenciando- '

Os Mares de Morros abrangem uma vastaárea ~-seapenas na altura e quantidade de espécies.de Norte a Sul da porção Lestede nossoterritóri~, ;;Asárvores são menores, porém mais variadas,indo do litoral dos estados da região Sul passanc19:re existe nela um denso sub-bosque composto'pelos litorais de todos os estadosaté a Paraíba.Ele: ; por espécies específicas, não só árvores jovens. Iencontra-se ainda no interior dos estados de 5ãô .~..Entre elas, há muitas epífitas (plantas que se;Paulo, Rio de Janeiro,Minas Geraise EspíritoSanto.'i alojam sobre árvores ou rochas usando-as ape-

No domínio dos Mares de Morros há um eleva.~j~_nascomo suporte) e cipós. Ferri diz que é umado índice de devastação, uma vez que a paisage; %. floresta sempre verde, cujos componentes em Ié a de mata Atlântica. Da floresta original resta,.: geral possuem folhas largas, indicando ainda \muito pouco, menos de 8% do total. Sepensarm~ ique há umidade durante todo o ano e, final- !

que os :i~los de ocupação se de~ama part~ d t r men~e,.que essa vegetaçAão.ac;ompanha a costa)se dornfnio, que acompanha o litoral, o numeroIbrasileira do oceano Atlântico.pode até parecer alto, mas um fato que contribui' ~ É importante ressaltar que a mata Atlântica,é exatamente a existência de muitos morros defbr;.l é extremamente diversa do ponto de vista bio- )mas residuais e curtos em sua convexidade, cóni lógico, pois seus recursos representam grandemovimentos de massa generalizados, impedin. . riqueza pelo enorme potencial de uso: fonte deque a atividade agrícola ou o desenvolvimento'" ~ novos rem~~ios, .alimentos, fibras, pigmentos e I

cidades ocupassem toda a área. O encadeamen' como rnatena-pnma para produtos e processosde morros compõe-se basicamente de rochas rl1Y," lagrfcolas, químicos e industriais. Além disso,to antigas, os granitos, uma rocha magmática;.'~· [ ... ] a mata Atlântica proporciona inúme-gnaisses, uma rocha metamórfica. Mais ao No. ros benefícios diretos e indiretos. Um delesem Pernambuco e na Paraíba,asaltitudes estãoe, é a água, já que a floresta protege as nas-tre 500 e 800 m; no Sudestea média fica em to'~' centes de diversos rios e regula o fluxo dosdos 900 m, com morros de mais de 1.800 m. mananciais hídricos que abastecem as cida-

A vegetação natural da mata Atlântica c~ des e principais metrópoles brasileiras. Alémta com poucas áreas nativas preservadas n disso, controla o clima, assegura a fertilidaderegiões onde a exacerbação do extrativism do solo e protege escarpas e encostas das ser-a agricultura e a sociedade urbano-indusn] ras, preserva beleza paisagística e abriga umse estabeleceram. Essas matas são perenifóli patrimônio histórico e social extremamente(não têm uma estação específica para trocar. representativo. [...]folhas, fazendo-o ao longo do ano), e de foth' ALMANAQUEBRAs!L5oCloAMBIENTAL.São Paulo: InstitutoSocioambient ai,

fflargas, chamadas de latifol iadas. Como não há 2005. p. 116·117.

t necessidade de adaptação à falta de água emal/nenhum período específico, essas folhas po-.~dem realizar suas trocas gasosas 24 horas por• •.,dia, sem o risco de desidratar. Por isso, são de- ,fnominadas higrófilas, que significa: "amigas da;.água". O professar Mário Guimarães Ferri, em I

Radicular: que pertence ou que diz respeito à raiz.

Grande Didonário Larousse eu/tu,,!/ da Ifngua portuguesa. São Paulo, NovaCultural. 1999. . .

Manguezais

Na faixa costeira, há a vegetação de mangue,que constitui um riquíssimo sistema em decompo-sição de matéria e ciclo de nutrientes para a baseda reprodução de espécies marinhas, servindocomo berçário marinho. O mangue é compostopor espécies vegetais que desenvolveram disposi-tivos para viver com alta salinidade, uma vez quese situa na zona de marés, onde a água doce semistura à água do mar. As raízes não podem ab- I

sorver o sal da água, o que força a existência deduas formas distintas para a respiração radicular. Aprimeira está mais presente nas árvores das bordasdos canais, elas são aérease a respiração é realiza-da acima do nível de inundação pelas marés; nosegundo tipo, as raízes emergem do solo alagadopara retirar o oxigênio do ambiente. Como uma I

parcela do sal entra na planta, elas conseguemeliminá-Io pela transpiração foliar.

Os Mangues estendem-se de Laguna, emSanta Catarina, ao Amapá e abrigam uma va- I

riada quantidade de fauna, constituindo-se namaior porção contínua de todo o mundo. NoNorte, o peixe-boi marinho, espécie em riscode extinção, vem ao Mangue alimentar-se degramíneas que nele brotam. A preservação des-sa faixa é de vital importância para os maresbrasileiros, mas ela vem sendo devastada paraa ocupação urbana de bairros, portos, indús-trias, estradas, oleodutos e gasodutos, condo-mínios de alto luxo, residências de veraneio,além de sofrer com a poluição despejada nosrios e mesmo diretamente.