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Paisagens de queima em mosaico no Jalapão : as práticas tradicionais e seus desafios Ludivine Eloy (CNRS / UNB-CDS) Silvia Laine Borges Lucio (UNB-ECL) Axelle Duverger (Mont. Supagro) Cecilia Fernandes (UNB-CDS) Isabel Schmidt (UNB-ECL) Maximiller Cardoso (UNB-ECL) Seminário Internacional sobre Manejo Integrado de Fogo (MIF): resultados do Projeto Cerrado Jalapão Hotel San Marco, Brasília-DF, 21-23 Novembro 2017 Ascolombolas-Rio Assoc. Artesões do povoados de Mumbuca Associação Boa Esperança Carol Barradas (ICMBio) Rejane F. Nunes (Naturatins)

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Paisagens de queima em mosaico no Jalapão : as práticas tradicionais e seus desafios

Ludivine Eloy (CNRS / UNB-CDS)

Silvia Laine Borges Lucio (UNB-ECL)

Axelle Duverger (Mont. Supagro)

Cecilia Fernandes (UNB-CDS)

Isabel Schmidt (UNB-ECL)

Maximiller Cardoso (UNB-ECL)

Seminário Internacional sobre Manejo Integrado de Fogo

(MIF): resultados do Projeto Cerrado Jalapão

Hotel San Marco, Brasília-DF, 21-23 Novembro 2017

Ascolombolas-RioAssoc. Artesões do povoados de

MumbucaAssociação Boa Esperança

Carol Barradas (ICMBio)Rejane F. Nunes (Naturatins)

Regimes de queima antrópicos nas savanas tropicais

Padrão tradicional de queimada em mosaico: observado na Austrália

(Russel Smith et al 1997), Africa do Sul (Brockett et al. 2001) e do Oeste (Laris, 2002)

Crescente reconhecimento científico (biodiversidade e

prevenção de incêndios) base dos programas de MIF

http://climatechange.umaine.edu/Research/Contrib/html/13.html

Cerrado: foco nos conhecimentosindígenas (Mistry et al., 2005, Falleiro, 2011; Mello e

Saito, 2011, Welch et al 2013)

Outros grupos/territórios/atividades? Padrões espaço-temporais?

http://chc.org.br/fogo-do-bem/

PEJAPAJ

Comunidades quilombolas do Jalapão

Povoado do PrataMumbucaAmbrosioCarrapatoFormigaRio NovoRiachãoRio PretoBoa esperança

9 comunidadescertificadas pelaFundação Cultural Palmares2005-2014

EESGT

PEJ

APA

Perguntas

-Quais são as práticas de uso do fogo atuais?

-Como estas práticas evoluiram e por quê?

-Quais efeitos na paisagem?

Métodos

Fogo na agricultura

EESGT: 13 familias

PEJ: 10 familias

Fogo na pecuária

EESGT: 5 familias

PEJ: 14 familias

Historia agrária

Práticas atuais

Geografia das queimadas

Entrevistas

Observação participante

Percurso comentado(leitura de paisagem)

Interpretação de imagenscom os moradores

-Leitura de paisagem-Levantamento agrobionas roças-estudo sucessão vegetalnas capoeiras -Mapeamento das cicatrizes com GPS

SIG (dados INPE+dados campo)

« Cerrado » (Cerrado ss) / « Campina » (campo sujo) pastagem natural, frutos

« Brejo » (Mata de galeria inundável) « roça de esgoto », madeira

« Vereda » (campo limpo umido) pastagem natural, capim dourado

« Capão » (Mata de galeria/cerradão) roça de toco, roça de pasto (pastagem

artificial)

Nas nascentes: « Varjão » (Buritizal) roça de esgoto, capim

dourado, pastagem natural

Manejo do fogo para agricultura

1. Cultivo de sequeiro (na chuva): roça de toco

Desmate seletivo, tocos não arrancados

Em areas de Cerradão ou mata de galeria

Pousio: 5 a 15 anos

Queima: agosto ou set (depois primeira chuva)

Manejo do fogo para agricultura

2. Cultivo na seca : roça de esgoto

Desmate seletivo, tocos não arrancados

Em mata de brejo (inundado) e brejo de vereda

Base do sistema agrário

Drenagem

Produção continua durante 5 a 30 anos

Pousio: entre 5 a 50 anos

Roça de esgoto : base do sistema agricola jalapoeiro, reserva de agrobiodiversidade

16 agricultores

111 espécies e variedades cultivadas

Mandioca (24)Banana (9)Feijão (7)Cana (7)

ESEC Serra

Geral do

Tocantins

17

"Quando entope o esgoto, nasce o mesmo tipo de mata, só que nasce mais““o esgoto renova a terra”

Estivinha 2

anos

Brejo de

Sissila 11

anos

Moitinha 50

anos

160 transectos (32

capoeiras 1-50 anos)

1,6 ha

3613 individuos

102 espécies

Biodiversidade nas capoeiras de Roça de Esgoto (matas de

galeria inundáveis)

Pesquisa em andamento/ Dout. Ecologia (UNB) Silvia Laine Borges

Produção e

sustentabilidade

Manejo do fogo para pecuária

O gado come...

Em pastagem naturais-« Gerais »

- Veredas e Cerrado perto de casa

Em pastagem plantadas« roça de pasto »

1. O fogo de início de estação seca (maio-junho)“chapada”, “campina” (PEJ), ou “varjão” (EESGT)

-Produzir pastagem nova no início da estação seca

-Aceirar o cerrado e as veredas/brejos (« reservas »)

-Afastar o gado das matas de galeria (« capão »)

2. O fogo de meio e fim de estação seca (julho-set)

Cada criador faz uma ou duas queimadas nas veredas durante a secaSetembro é o mês mais critico para gado « aproveita » incêndios

De 2 em 2 anos

Nas veredas (anual ou bisanual) : perto ou longe de casaQueimadas de diferentes tamanhos (para gado ou para animais de montaria)

Queimada do Adão, julho de 2017

Cerrado Capim limpo Brejo

Pântame

Queimada de 2016

3. O fogo de início de estação chuvosa (out./nov.)( “fogo de porta”)

-alimentar os animais que voltam dos Gerais

-aceiro para queima na vereda do ano seguinte

-Vedar a roça de pasto

De 3 em 3

anos

no Cerrado e nas roças de pasto

Nome local 1 Nome local 2 Nome científico Ocorrência

Capim melosoCerrado, pé de

Serra

Maçaranduba Grão de galo Pouteria Ramiflora Cerrado

Maniçoba Manihot sp. Cerrado

Marmelada Tocoyena formosa Cerrado

Capim nativo 1 "Brachiarinha" Ericholoa sp. Cerrado

Capim agreste Trachypogon spicatus Cerrado, varjão

Capim nativo 2 "Capim gordura" Cerrado

Murici rasteiroByrsonima

subterraneaCerrado

Pimpão Flor de Canela Vellozia sp. Cerrado

Fava Cerrado

Puça Preto Mouriri pusa Cerrado

Espécies nativas consumidas pelo gado na EESGT

Fogo na roça de pasto

De 2 em 2 anos

Depois da primeira chuva (se não, mata a raiz do capim)

Manejo da rebrota (arvores protegidas da queima)

Roça de pasto: sistema agrosilvopastoril com alta diversidadede espécies nativas, manejado com fogo

8 Roças de pasto39 espécies arbóreas nativas cultivadas

Paisagem de queima sasonal em mosaico

-Queimadas de 2 à 150 ha “encostadas uma na outra” no Cerrado e capim limpo (pecuaria) / 0,2 à 1 ha nas matas (roças)

- Em diferentes fitofionomias (cerrado/campo sujo, cerradão, vereda, brejo)- Regime de queima anual: regulares ao longo do ano- Múltiplos propósitos: produtivos (agricultura, pecuária, extrativismo, caça) e de manejo de paisagem

-Manejo adaptável: de acordo com o combustível, o vento, a temperatura e a humidade

"Desde sempre, nos fizemos os aceiros para proteger os capões da Serra da Muriçoca para cá. Com os inêndios que teve nos ultimos anos, muitas matas

de brejo estão acabando "

Paisagem de queimada em mosaico

Eloy et al (submitted)

Eloy et al (submitted)

A fragilização dos regimes tradicionais de queimada em mosaico

•Ressecamento dos rios e mudança dos regimes de chuva

Video

•Exôdo rural + proibição do uso do fogo: 2003-2010

•Intensificação dos sistemas de criação de gado

Intensificação da pecuária

Queimada de iniciode estação seca

Queimadas na veredade meio e fim de

estação secaEstimular a rebrota do agreste no

Cerrado « Aceiro »

Fogo de portaCerrado

Aumento das roça de pasto

« Escassez de veredas » para alimentação do gado em

ago/setembroaumenta com a queima prescrita precoce nas

veredas

Importância de queimadas prescritaspara estimular queimadas precoces

que estão perdendo sua funçãoprodutiva

Conclusão

-MIF: permitiu evidenciar e promover a permanência de regimes tradicionais de queima em mosaico conservação da biodiversidade em paisagens cultivadas e prevenção contra incêndios

-Práticas complexas , « racionais » e sustentáveis , sem separaçãoentre « manejo » e « produção » 1 queimadas=multiplos objetivos

-Reforçar estas práticas: -Não procurar subsituí-las por quê insistir com alternativas ao uso do fogo no Cerrado?-Promover autonomia-Apoio da brigada para todos os fogos (inclusive setembro)-Reflexão coletiva sobre manejo de fogo tardio em vereda

-Abordagens compreensivas desta práticas (oficinas, experimentos, etc.) estimular pesquisa colaborativa e pluridisciplinar

Agricultores-pesquisadores-gestores

Obrigada

[email protected]

Publicações

Eloy, L.; Bilbao, B. ; Mistry, J. ; Schmidt I. B. (In press) From fire suppression to fire management: advances and resistances to changes in fire policy in the savannas of Brazil and Venezuela. Geographical Journal.

Lúcio, S. L. B. ; Eloy, L.; Barradas, C., Schmidt, I., dos Santos, I. A. (2016). Impactos do fogo em veredas no Cerrado: novas perspectivas a partir dos sistemas agrícolas tradicionais no Jalapão (Tocantins). Ambiente e Sociedade. v. 19, n. 3, p. 275-300.

Eloy L., Schmidt I., Lúcio S.L.B.,Barradas C. (In press) 'Fire Management in Brazilian Savanna Wetlands: New Insights from Traditional Swidden Cultivation Systems in the Jalapão Region (Tocantins)', in Fowler C. & Welch J. (eds.) Human dimensions of Fire Ecology and Environmental Change. University of Utah Press.

Eloy L., Aubertin C., Toni F., Lúcio S.L.B., Bosgiraud M. 2016. On the margins of soy farms: traditional populations and selective environmental policies in the Brazilian Cerrado. The Journal of Peasant Studies, 43(2): 494-516. DOI: 10.1080/03066150.2015.1013099

Eloy L., Carvalho I.S.,Figueiredo I. (2017) 'Sistemas agrícolas tradicionais no Cerrado: caracterização, transformações e perspectivas', in Santilli J., Bustamante P. & Barbieri R.L. (eds.) Conservação e uso da agrobiodiversidade. Relatos de experiências locais. Embrapa: Brasilia, DF.

Eloy L. (2017) 'Relatório da oficina Manejo do fogo por povos indígenas e tradicionais da América do Sul. 11 a 17 de Março de 2017': Brasilia.