pais: quem precisa deles?

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1 APASE - Associação de Pais e Mães Separados www.apase.org.br PAIS: QUEM PRECISA DELES? Por Karl Zinsmeister Antes que comece a falar sobre a influência que o pai exerce, parece que preciso lançar a questão se o pai faz algo pelos filhos que seja realmente distinto do que a mãe faz. Como podemos ver, podemos lidar com essa questão rapidamente porque o debate sobre se há diferenças intrínsecas na maneira em que homens e mulheres criam seus filhos está agora fechada. Durante aproximadamente toda a última década psicólogos, sociobiólogos e neurocientistas produziram novas e poderosas evidências sobre a diferenciação entre os sexos. Tenho olhado por diversas delas para escrever o capítulo sobre paternidade do meu livro. E o que aprendi, basicamente, é que enquanto a mãe e pais estão igualmente bem preparados para criar seus filhos, suas inclinações e modos de agir, suas habilidades naturais e até mesmo suas maneiras de percepção tendem a ser bastante diferentes. Sabemos, por exemplo, que a infância é uma época especial para a mãe. Ela tem ferramentas hormonais e vantagens psicológicas distintas que a permite entender e satisfazer com mais facilidade um recém-nascido, e pesquisadores encontram isso em todo tipo de famílias, a mãe assume o controle até os 18 meses. O período crítico para o pai geralmente inicia quando a criança começa a interagir com o mundo impessoal. Há uma grande capacidade de complementação entre o pai e a mãe na criação dos filhos. As exigências no pai e na mãe variam à medida que a criança passa por diferentes estágios de desenvolvimento. Não há discussão de que homens e mulheres tendem a prover às crianças com coisas diferentes, de maneiras diferentes. Não há nem mesmo um indício na literatura científica que a androginia do papel familiar seja passível de ocorrer entre humanos. Ao contrário, parece haver fortes barreiras psicológicas e bioquímicas contra isso. QUANDO O PAI ESTÁ PRESENTE

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Pais: quem precisa deles? - a ausência dos pais na criação dos filhos.

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APASE - Associação de Pais e Mães Separados

www.apase.org.br

PAIS: QUEM PRECISA DELES?

Por Karl Zinsmeister

Antes que comece a falar sobre a influência que o pai exerce, parece que

preciso lançar a questão se o pai faz algo pelos filhos que seja realmente distinto do

que a mãe faz. Como podemos ver, podemos lidar com essa questão rapidamente –

porque o debate sobre se há diferenças intrínsecas na maneira em que homens e

mulheres criam seus filhos está agora fechada.

Durante aproximadamente toda a última década psicólogos, sociobiólogos e

neurocientistas produziram novas e poderosas evidências sobre a diferenciação entre

os sexos. Tenho olhado por diversas delas para escrever o capítulo sobre paternidade

do meu livro. E o que aprendi, basicamente, é que enquanto a mãe e pais estão

igualmente bem preparados para criar seus filhos, suas inclinações e modos de agir,

suas habilidades naturais e até mesmo suas maneiras de percepção tendem a ser

bastante diferentes.

Sabemos, por exemplo, que a infância é uma época especial para a mãe. Ela

tem ferramentas hormonais e vantagens psicológicas distintas que a permite entender

e satisfazer com mais facilidade um recém-nascido, e pesquisadores encontram isso

em todo tipo de famílias, a mãe assume o controle até os 18 meses. O período crítico

para o pai geralmente inicia quando a criança começa a interagir com o mundo

impessoal.

Há uma grande capacidade de complementação entre o pai e a mãe na criação

dos filhos. As exigências no pai e na mãe variam à medida que a criança passa por

diferentes estágios de desenvolvimento. Não há discussão de que homens e mulheres

tendem a prover às crianças com coisas diferentes, de maneiras diferentes. Não há

nem mesmo um indício na literatura científica que a androginia do papel familiar seja

passível de ocorrer entre humanos. Ao contrário, parece haver fortes barreiras

psicológicas e bioquímicas contra isso.

QUANDO O PAI ESTÁ PRESENTE

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Quais são algumas das coisas úteis que um pai pode prover aos seus filhos

quando está presente em casa? Bronislaw Malinowski argumentou que a principal

coisa que um pai faz é colocar seus filhos no mais amplo contexto social, ajudá-los a

entender as exigências necessárias para viver em um mundo fora da família.

Sabemos, assim como uma descoberta clínica, que ser cuidado exclusivamente por

mulheres restringe a exploração do ambiente por uma criança e retarda o

desenvolvimento de alguns tipos de competência externa.

Psicólogos e pediatras mostraram que mesmo tão cedo quanto na sua terceira

semana de vida, crianças experimentam e reagem ao seu pai muito diferentemente

que à sua mãe. Até mesmo as posturas físicas da criança se ajustam de acordo com

qual dos dois esteja por perto. Esse é um reflexo do fato que mães e pais geralmente

se aproximam de seus filhos com intenções diferentes em mente – com o pai vindo

para brincar e estimular, enquanto a mãe tendem a trazer conforto e cuidados. (Essas

observações, aliás, não são específicas da cultura – elas aparecem em vários países).

Estudos mostram que o pai também cumpre um papel importante em construir a

auto-estima da criança. Ele é importante também, de uma maneira que não podemos

explicar, para desenvolver nas crianças limites internos e controle.

Não há discussão de que o pai tende a ser mais efetivo na disciplina. Tanto nas

famílias intactas quanto nas divorciadas, por exemplo, as crianças estão mais

propensas a obedecer o pai do que a mãe. Pesquisadores descobriram que enquanto

“as mães são mais ativas que os pais em ajudar jovens com problemas pessoais... no

que diz respeito ao uso de drogas por adolescentes, o envolvimento do pai é mais

importante”.

O pai tem um papel critico como mestre de seus filhos. Trabalhos clínicos

mostram que o pai é mais propenso que a mãe a encorajar a criança a explorar os

níveis mais externos de sua competência e suportar a frustração. Ele faz mais

treinamento direto e estimulação cognitiva, sua parte tem uma ênfase de orientação, e

ele tende a quebra-cabeças, palavras cruzadas e jogos educativos. À medida que as

crianças crescem, uma área onde freqüentemente o pai se concentra é ajudando seus

filhos a navegar através de crises existenciais específicas, como por exemplo, àquelas

da puberdade.

Pesquisas também mostram que o pai é crítico para estabelecer a sexualidade

nas crianças. De modo interessante, o envolvimento paterno produz uma identidade e

caráter sexuais mais fortes tanto em meninos quanto em meninas. Está bem

consolidado que a masculinidade em meninos, e a feminilidade em meninas, é a

maior possível quando o pai está ativo na vida familiar.

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Seria estúpido sugerir que entre as características e capacidades diferentes que

o pai e a mãe trazem para a família qualquer um grupo de qualidades seja superior a

outro. A questão é que estas habilidades e visões variadas se combinam de maneiras

maravilhosas para dar às crianças tudo que elas necessitam. Uma criança que esteja

enormemente envolvida tanto com o pai quanto com a mãe tem o modelo completo

de onde aprender.

QUANDO O PAI ESTÁ AUSENTE

Tendo estabelecido que as coisas fluem de maneira diferente em famílias nas

quais o pai esteja presente, vamos discutir mais especificamente o que pode ocorrer

quando o pai não está lá. Famílias sem pai e as crianças dessas famílias têm a

tendência, como já é sabido, a terem muitos problemas. Uma razão para isso é

simplesmente que a família regida por uma “mãe solteira” tem falta de mais uma

mão para ajudar. Um cérebro, uma boca, uma par de mãos e olhos não podem cuidar

e prover tanto quanto dois poderiam.

Mas também há problemas associados especificamente com a falta da presença

masculina. Essas desvantagens variam muito de acordo com o motivo da ausência do

pai, com o abandono paterno geralmente resultando em maiores danos nas crianças

que a sua morte. Os problemas também afetam diferentemente meninos e meninas.

Os meninos geralmente sofrem mais. Eles tendem a ter problemas de

concentração na escola, têm resultados fracos em testes de inteligência, e têm

dificuldade em Matemática. A ausência do pai também tem sido associada com

distúrbios de aprendizado, e alguns psiquiatras acreditam que ela esteja por trás de

muitos casos de hiper-atividade e distúrbios de déficit de atenção que afetam

particularmente muitos meninos jovens.

A ausência do pai aumenta significativamente a probabilidade do menino

tornar-se violento, e é muito comum para as mães – sem mencionar professores,

terapeutas e outros – terem dificuldade em lidar particularmente com adolescentes

sem pai.

Meninos sem a presença do pai em casa ficam geralmente confusos quanto a

sua identidade masculina. Estudos mostram que quando comparados com outros

meninos de famílias intactas, eles se envolvem mais em atividades consideradas

tradicionalmente como femininas, e que eles brincam mais como meninas. Essa

tendência para a perplexidade do papel sexual pode resultar em modos imprevisíveis

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à medida que o menino cresce, com muitos meninos sem pai se encaminhando para

um machismo defensivo. Isso pode parcialmente explicar porque meninos em

famílias comandadas por mulheres geralmente desenvolvem uma relação coerciva

com sua mãe, como demonstrado em pesquisa.

Acredito que seja importante reconhecer que o cerne do nosso problema atual

com violência em casa e nas ruas vem do fato de haver muito pouca autoridade

masculina na base de nossa sociedade, e não demais. Tenha em mente que os mais

radicais homens misóginos da América de hoje são aqueles que cresceram nos

matriarcados das cidades do interior. Todas aquelas músicas de rap sobre estupro e

tortura em mulheres vem de um mundo totalmente desprovido da presença

masculina.

A ausência do pai produz em meninos e meninas uma orientação pessoal

exagerada, e tendências à delinqüência juvenil e ausência de controle social. Entre

meninas, os efeitos da ausência do pai são geralmente retardadas, e somente se

manifestam mais tarde, em um tipo de “efeito zumbi”, na puberdade. Ela geralmente

aparece naquela época através de flertes exagerados e comportamento sexual

promíscuo. Dificuldades em formar relacionamentos confortáveis e duráveis com

homens são muitos comuns entre mulheres que cresceram sem a presença consistente

do pai.

A IMPORTÂNCIA DE TER AMBOS OS PAIS

Tudo o que isso argumenta é a importância de crianças terem ambos os pais

morando com eles. É comum se dizer hoje em dia que a sociedade entre o pai e a mãe

é algum tipo de aberração histórica – uma invenção arbitrária de Vitorianos

neuróticos, ou talvez de Republicanos ligados à Eisenhower. Isso é uma bobagem

histórica. Na verdade, o lar mãe-pai-filho é uma instituição universal da humanidade

na criação de filhos. Como lido nos textos históricos e antropológicos dessa questão,

como eu fiz no verão passado, o que realmente chama a atenção é como a norma pai-

mãe se manteve constante, através de enormes períodos de tempo e espaço e

tendências culturais, com relativa pouca variação. Inclusive, temos descobertas

fósseis sugerindo que o núcleo familiar data desde os primórdios da existência

humana. Muito provavelmente, os processos culturais através dos quais machos

humanos se envolveram com a criação dos descendentes foi central no sucesso da

emergência do homo sapiens em primeiro lugar. E há muitas indicações de que o pai

é tão importante para o sucesso da vida familiar hoje quanto o foi no passado.

Mesmo que alguém ignore a pesquisa que acabei de resumir sobre o papel especial

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do pai, há muitos motivos para observar os resultados da criação infantil em famílias

com apenas um dos pais.

Quando falamos hoje sobre famílias com um dos pais, em nove de cada dez

casos falamos de uma família sem o pai. Em áreas variando da saúde física, da renda,

dos distúrbios comportamentais e do sucesso educacional, crianças vivendo em tais

ambientes se saem bastante mal, num contexto geral.

Da literatura sobre famílias não-intactas, deixe-me sumarizar rapidamente

algumas observações relevantes nas notícias do último mês:

Jovens de famílias com apenas um dos pais ou famílias adotivas são 2 à

3 vezes mais propensos a terem problemas emocionais ou comportamentais quando

comparados àqueles que têm tanto o pai quanto a mãe presentes. Eles são

encaminhados à psicoterapia com freqüência três vezes maior, de acordo com o

National Survey of Children.

Um estudo que monitorou cada criança nascida na ilha havaiana de

Kauai descobriu que cinco de cada seis delinqüentes com uma ficha criminal adulta

vieram de famílias onde um dos pais – mais comumente o pai – estava ausente.

O U.S. Bureau of Justice Statistics mostrou números que indicam que

70% dos delinqüentes juvenis em reformatórios estaduais cresceram em ambientes

com somente um dos pais ou nenhum deles. A correlação entre a ausência do pai e

fazer parte de gangues de rua está muito próxima. Gangues existem basicamente por

dois motivos: para preencher um vácuo de autoridade, e para satisfazer uma vontade

de pertencer a um grupo – ambas funções que estão proximamente relacionadas com

a falta da presença do pai.

A taxa de consumo de drogas é muito mais alta entre adolescentes

morando longe de seu pai.

Jovens de famílias decadentes pontuam menos nos testes de inteligência,

mesmo quando ajustadas as variáveis sócio-econômicas, e tem registros muitos

menores em medidas de participação, cooperação e esforço na escola. Crianças sem o

pai exigem mais disciplina, tem índices de suspensão consideravelmente maiores,

tem notas menores e repetem de ano com maior freqüência.

Mesmo após processando as diferenças em contextos econômicos e

demográficos, estudantes de famílias sem pai têm menores expectativas no colégio,

completam menos anos de estudos, e são bem mais propensos a abandonar

completamente a escola.

Vivendo em uma família com apenas a mãe reduz a chance da criança

completar o estudo secundário em 40% para os brancos e 70% para os negros.

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A taxa de pobreza em famílias com apenas a mãe, após toda a ajuda do

governo, é de 31%, enquanto comparado com o número de famílias com pai e mãe

casados é de 5%. Ajustes demográficos mostram que uma porção muito significativa

do aumento da pobreza infantil nas últimas duas décadas é atribuído simples e

diretamente a crescer sem a presença do pai. A pobreza de crianças em famílias

comandadas pela mãe é também muito mais profunda e persistente.

A dependência em ajuda do governo é muito alta em crianças sem o pai.

Mais que a metade de todas as famílias comandadas pela mãe irá receber algum tipo

de ajuda social em um determinado ano. Mesmo após serem feitos ajustes sócio-

econômicos, vivendo em uma família com apenas a presença da mãe triplica a

probabilidade de uma criança se tornar um receptor de ajuda do governo mais tarde,

para ambas crianças negras e brancas.

Diferenças econômicas entre tipos de famílias indicam uma grande

variação no estilo de vida das crianças. Por exemplo, 73% das crianças que vivem

com o pai e a mãe residem em casas próprias, enquanto que dois terços dos pais ou

mães solteiros vivem de aluguel. A chance de uma criança viver em um orfanato é

dez vezes maior quando somente a mãe está presente. Suas possibilidades de morar

em um bairro residencial são muito menores.

Crianças crescendo em um ambiente com apenas um dos pais tendem a

ser sexualmente precoces. Meninos e meninas são muito mais propensos a ter a sua

primeira relação sexual no início de sua adolescência.

A ausência do pai tende a se replicar. Meninas brancas, por exemplo,

que cresceram com a presença de apenas um dos pais tem o dobro da probabilidade

de se divorciarem, e mais do que duas vezes e meia de gerarem filhos fora do

casamento quando comparados com meninas que cresceram com a presença do pai e

da mãe.

(Coincidentemente, uma das mais surpreendentes conclusões a que chegou a

pesquisa realizada nos últimos dois anos é que crianças em famílias adotivas e outros

ambientes familiares re-arranjados sofrem com muitos dos mesmos problemas que

afligem as crianças que crescem com apenas a presença de um dos pais. Aliás, eles

inclusive passam por outros problemas adicionais. Apesar de algumas promessas

otimistas na fase de liberação familiar, nenhum dos substitutos para famílias

biológicas trouxe resultados satisfatórios em crianças.)

ESTRUTURA FAMILIAR E BEM-ESTAR INDIVIDUAL

Está claro que a ausência do pai biológico da família não é bom para as

crianças. E há também todas as maneiras como esse fenômeno afeta os adultos.

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Assim como significam expressões do tipo “a feminilização da pobreza”, famílias

com apenas um dos pais se tornaram um péssimo lugar para as mães prosperarem.

Igualmente surpreendente, e menos contemplado, é o fato que a negação da

paternidade prejudicou também o bem-estar dos homens. Homens que não se

relacionam com seus filhos e sua esposa tem índices de violência, acidentes e

criminalidade muito mais altos que pais e maridos. Eles tem taxas mais altas de

doenças crônicas, são submetidos a tratamentos psiquiátricos com freqüência maior

que o normal, e tem muito menos êxito na força de trabalho.

O ponto onde tudo isso vai levar pode ser ilustrado com uma pequena estória

que ouvi recentemente:

Parece que dois indivíduos estavam dirigindo por uma estrada em um grande

caminhão quando eles chegaram a uma passagem sob uma ponte onde havia uma

grande placa que dizia: “Não é permitida a passagem de veículos com mais de

3,50m”. Eles pararam no acostamento e saíram com uma fira métrica, e observaram

que o seu veículo media 3,70m. Neste ponto, o segundo homem olhou para o

motorista e falou: “O que você acha que devemos fazer?”. O motorista olhou para os

dois lados e respondeu: “Não há nenhum policial por perto ... Vamos arriscar”. Há

algumas regras que obviamente são inúteis de serem exibidas. Todos nós acabamos

por ignorá-las e colocar nossa vida e daqueles que viajam conosco em risco. Isso é

especialmente verdadeiro quando são culturais, e não legalistas, as regras que

estamos infringindo. Muito comumente, essas orientações estão lá para o nosso

próprio bem.

As leis informais que tradicionalmente governam a estrutura familiar são um

excelente exemplo disso. As grandes placas amarelas “Proibido” que existem nessa

área não estão lá para punir ou incomodar, mas para tentar salvar o máximo de

pessoas possível de descobrir o que pode ocorrer se você dirigir inadvertidamente

para as duras rochas ou para as vigas metálicas da realidade.

Desta maneira, as correntes (se me permite) a favor de um casamento estável,

de dois pais cuidando de seus filhos, de pais atendendo as exigências familiares com

sua presença em casa, são todas preceitos profundamente humanitárias e para servir

às pessoas. Elas foram cultuadas na simples vida diária porque, com o tempo, elas

produziram os resultados mais felizes para o maior número de pessoas. Elas são as

preferências coletivas desenvolvidas através de séculos de experiências rigorosas e

longos testes.

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LEVANDO A SÉRIO A AUSÊNCIA DO PAI

Deixe-me encerrar falando que o surgimento da ausência do pai e a decadência

da família, que começou nos últimos 25 anos. está diretamente relacionada com o

surgimento do crime, uso de drogas, pobreza infantil, e a queda da educação que

aflige atualmente a sociedade americana. Uma das teses do livro que estou

escrevendo é que a relação entre o colapso de nossa família e essas crises sociais não

é coincidência. Se vamos resolver os problemas sociais que mais nos afligem hoje

em dia, acredito que vamos ter que encorajar um movimento de retorno ao que

poderia ser referido como “família natural”, composto por pai, mãe e filho.

Para esse fim, precisamos experimentar com medidas a revigorar o casamento,

e ativamente desencorajar ilegitimidade, divórcio e abandono de lar. Enquanto a

criação de uma família com apenas a mãe é hoje o principal caminho para a pobreza

do lar e patologias infantis, os principais caminhos de saída continuam a ser o

casamento e a relação de comprometimento: simplesmente por evitar filhos fora do

casamento e terminar o estudo secundário, por exemplo, dá de maneira igual a negros

e brancos uma chance de nove entre dez de evitar a pobreza. De maneira idêntica,

mães que foram abandonadas e que depois se casam novamente têm sua renda

familiar quase duplicada. Isto, em outras palavras, não é somente uma questão

simbólica. Casamento e solidariedade familiar funcionam, e políticas práticas devem

aceitar esse fato.

Em lugares onde o colapso da paternidade é maior, acredito que teremos de

tentar reintroduzir as virtudes da presença masculina também através de maneiras

artificiais. Em algumas de nossas cidades do interior devemos montar algumas

escolas residenciais para meninos e meninas, além de algumas academias somente

para homens – talvez sob a supervisão de oficiais militares encarregados, que sabem

bastante de construir disciplina, auto-respeito e moral coletiva.

Claro, qualquer esforço recente nessas correntes foi rapidamente esmagado

pela sociedade liberal. Alguns meses atrás eu entrevistei os diretores de duas das

escolas especiais que os sistemas educacionais públicos de Detroit e Milwaukee

tentaram montar no ano passado exclusivamente para homens negros, e eles ficaram

absolutamente frustrados que processos movidos pela Organização Nacional para

Mulheres e o ACLU bloquearam ambos projetos. Feministas se recusam a considerar

colégios para apenas um dos sexos, argumentou escritor Leon Podles, porque isso

iria minar seu argumento a um “monopólio de vitimização sexual”. “Melhor que

muitos jovens negros morram vítimas de ferimentos a bala”, escreve ele

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amargamente, “que permitir que políticas governamentais que pressuponham que

haja diferenças significativas entre homens e mulheres, e que essas diferenças

algumas vezes trabalham contra os homens”.

Uma última sugestão: em famílias que estão atualmente intactas, precisamos

ligar mais fortemente o pai ao seu filho. Há um aspecto emocional tanto quanto físico

na presença do pai, e um pai interessado e envolvido sempre encontrará soluções

para tudo. Mas nada disso irá ocorrer até que setores influentes da sociedade

americana parem de tratar pais como um equipamento opcional. Enquanto

continuarmos a racionalizar a presença do pai e perdoar o êxodo paterno, tenho medo

que teremos muito trabalho para manter nossos psiquiatras, assistentes sociais e

policiais muito ocupados.

Karl Zinsmeister é um professor na American Enterprise Institute

http://www.naplesfl.net/~bestself/father.htm