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Revolução Socialista “Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 12 – Nº 29 – Março 2011 – R$2,00 Jornal Jornal Jornal Jornal Jornal Posadista Posadista Posadista Posadista Posadista Continuação do Jornal Frente Operária, fundado em 1953 EDITORIAL Os primeiros passos do governo Dilma O s primeiros dois meses do governo Dilma revelam uma conjuntura polí- tica na qual fica mais claro, tanto o processo de debilitamento da oposição con- servadora, como as possibilidades concre- tas para que sejam aprofundadas as medi- das iniciadas no governo Lula com o senti- do de resgatar, mais rapidamente, a imensa dívida social que sacrifica duramente gran- des parcelas do povo brasileiro. Entre os sinais de debilitamento encon- tram-se as derrotas da oposição conserva- dora no Congresso, revelando, concretamen- te, que o governo poderia ter mais audácia em uma série de pontos cruciais para sus- tentar um curso de transformações sociais necessárias e urgentes, sem as quais, o Bra- sil poderá seguir figurando como um dos países de maior desigualdade social no mun- do. Simbolizando a selvageria desta desi- gualdade, pesquisa recente indicou o cres- cimento de homicídios entre jovens negros. É também um sinal evidente da debilida- de da direita as erráticas escolhas editoriais feitas pela mídia comercial com o claro intui- to de tentar fabricar uma ruptura ou mudan- ça de linha entre Dilma e Lula – sem perder a chance de criticar Lula – o que de fato não ocorre. Ao contrário, a eleição de Dilma e as condições em que inicia o seu governo, com expressiva maioria parlamentar, revelam exa- tamente a aspiração da maioria esmagadora do povo brasileiro para dar seguimento àque- la linha de desenvolvimento com distribui- ção de renda iniciada no governo Lula. Po- rém, com muito mais intensidade e audácia, (continua na página 2) O povo líbio tomou as ruas para defender o Estado revolucionário líbio e o governo de Khadafi Líbia: É imperativo impedir a intervenção militar imperialista! N os últimos meses o mundo tem presenciado uma enorme rebelião social no Oriente Médio, desde a Tunísia ao Egito, com a queda de dita- duras decenais, correias de transmissão do império neoliberal norte-americano e europeu e suas corporações petroleiras e financeiras, que haviam mantido a mai- oria da população destes países sob re- pressão, carestia e uma distribuição ex- tremamente desigual das riquezas. Um movimento popular que tem a força de um vulcão e que recoloca na pauta as tradições do nacionalismo revolucioná- rio árabe e do movimento islâmico pro- gressista, reduzindo a cacos toda a ge- ografia de dominação do imperialismo na região. Apesar da instalação da nova junta mili- tar de governo no Egito, com fins indefi- nidos, não resta dúvida de que a queda de Mubarak no bojo de imponentes ma- nifestações de massas representa um golpe ao imperialismo, e abre a brecha para o ressurgimento revolucionário que pode se estender em toda a região, do Yemen, à Argélia ao Bharein. Afinal, o regime de Mubaraki era o principal alia- do dos EUA e de Israel na região O nacionalismo revolucionário nos anos 50 contou com forte aceitação popular com Nasser no Egito, con Ben Bella na Argélia, e hoje encontra expressão no Irã, sob a liderança de Ahmadinejad, com o resgate do nacionalismo de Mossadegh, na resistência palestina, na guerrilha do Hezbolah do Líbano. A diáspora do nacionalismo revolucionário derivada da derrota da ex-Urss havia iso- lado as massas árabes e persas sob um rígido sistema neocolonial, sustentado com o tacão nuclear do baluarte do im- pério na região, o Estado de Israel. Tudo isso está em questão. Nesse contexto o Irã tem exercido um importante protagonismo político, coor- denando a insubordinação econômica contra o FMI, denunciando a emissão de dólar sem lastro e estimulando instru- mentos de união, mercados e infra-es- truturas interligadas com o Iraque, a Tur- quia, Armênia, Azerbaijan, Rússia, Afeganistão, Pakistão Índia, e o Hamas do governo palestino; e estabelecendo acordos com Brasil e Turquia para a (continua na página 3) A revolução na Líbia e o processo de transformação social J. Posadas (página 6) Página 8 Março 2011 Revolução Socialista nessa sociedade. Mas, não era como hoje – motivo de desprezo, de utilização da mu- lher – mas, sim como um aspecto do de- senvolvimento que, ante a falta de cultura, de literatura, de arte e ciência, se dava por esta via. Na sociedade árabe, na Líbia em particular, como também no Egito, essa é a base es- sencial: a mulher é um instrumento do sexo. E não instrumento do homem, mas instru- mento do sexo, como era antes na China. Esta sociedade criada pela Revolução na Líbia elimina isto: a mulher já não é nem instrumento do sexo, nem do homem. É um progresso da Líbia. E os capitalistas dizem: “Vejam, eles põem calças compridas nas mulheres!”. Mas, não falam do imenso pro- gresso feito em poucos anos. A criança na Líbia já forma parte da socie- dade. Antes era um objeto, onde o adulto reclamava que tinha que tomar conta da criança. Agora, ela está incorporada à soci- edade. Ao mesmo tempo em que passam da limitação da concepção religiosa, limita- ção muito grande (não do islamismo, mas da concepção religiosa) à abertura, ao de- senvolvimento das idéias. O que movem estes movimentos tipo Líbia são as idéias, e não a concepção religiosa. A concepção religiosa monopoliza e monolitiza o pro- gresso do ser humano a certas regras que vêm da relação com os deuses. O desen- volvimento social supera isto; não a derru- ba, nem a liquida, mas a supera. E o ser humano vai elevando sua compreensão social, científica; por meio do amor huma- no vai elevando sua compreensão social, científica e superando a concepção religio- sa. Não vão ficar se queixando: “Ah, tantos anos dedicados a Deus!”, mas vão concluir: “É, são etapas da história humana; foi assim por causa da propriedade privada”. Isto está ocorrendo na Líbia e este proces- so está preparando uma elevação do islamismo. Não significa liquidar o islamismo e sim, superá-lo através da concentração das idéias de progresso e justiça social que o islamismo possui, e que são muito boas. Algumas das suas concepções são assim, muito mais que na religião católica, porque esta já serviu à classe que dirigiu o mundo capitalista. O islamismo tem uma série de concepções de progresso, que grupos di- rigentes como os sultões acabaram pondo a seu serviço. A Líbia está passando por este processo. Antes era um país que não era nada. Se antes da revolução alguém perguntasse o que era a Líbia não se sabia nem onde se localizava. Hoje, ao contrário, a Líbia signi- fica Khadafi, e Khadafi significa antiimperialismo, desenvolvimento, ser amigo da Urss, apoio à revolução. E tudo isso está se desenvolvendo com o senti- mento muçulmano. Não é o primeiro caso. Foi a Urss quem primeiro protagonizou o enorme progresso dos muçulmanos e os incorporou à revolução, e estes, sem deixa- rem de ser muçulmanos, antes de tudo, eram soviéticos, depois muçulmanos. O progresso social das massas líbias convergirá em medidas mais profundas A Líbia está fazendo um imenso progresso. Antes não passava de um harém com o solo cheio de petróleo. Começou a ter al- gum significado a partir disto, pois antes não era nada, era um deserto. A pior parte do deserto coube a ela. E a Líbia não tinha nenhum poder. Desse deserto, uma equipe de militares acompanhados de civis (pois não eram apenas militares) teve a decisão de fazer este esforço que faz parte do pro- gresso da revolução mundial. Ela não era nada antes. Fazem o que fazem, não para eles mesmos ou para o islamismo, e sim, para preparar as condições para um futuro salto rumo a medidas socialistas. A experi- ência das massas indica que dirão: “Bom, agora está faltando isto...”, ou seja, a pro- gramação, a planificação, o desenvolvimen- to de indústrias, o desenvolvimento hídrico, a aliança com os Estados operários e o apoio incondicional a toda revolução, como faz Khadafi, ainda que de forma um pouco inconseqüente, pois ele não tem partido. O processo na Líbia é um dos aconteci- mentos mais elevados da História, porque é a forma como o progresso da revolução, sem partidos comunistas, penetrou nos países árabes. A Líbia não tinha Partido Comunista, e quem era de esquerda era morto. Mas, mesmo sem Partido Comunis- ta, a revolução chegou aí através da influ- ência sobre uma camada militar. Este pro- cesso mostra a forma como se dá a história: os países mais atrasados do mundo alcan- çam as formas mais elevadas de progresso devido à relação mundial de forças. Quan- do existe este nível é porque a necessidade de progresso se impõe e se baseia em um exemplo. Por isso a Líbia pôde passar de uma ditadura de sultões ao desenvolvimen- to de Estado Revolucionário rapidamente. O petróleo da Líbia é uma “riqueza” para o mundo capitalista, portanto uma fonte de progresso. Mas quem deu o uso para o progresso foi o programa revolucionário. Este processo aí foi precedido pelo Egito, através de golpe contra o rei Faruk em 1952. O Egito antes tinha um regime quase igual ao da Líbia. O golpe da Líbia foi estimulado e impulsionado pelo progresso do Egito. Daí se conclui que as condições mais ad- versas criadas pela religião são superadas pelo progresso revolucionário, porque este não rechaça a religião, e sim, avança na necessidade de compreender a função insubstituível da economia, da sociedade e das relações humanas; portanto, adapta a religião a este processo. A revolução não rechaça, não combate, nem se opõe à reli- gião, mas vai criando condições para que ela desapareça. Com o desenvolvimento da revolução, a religião não encontra ponto de apoio e vai sendo superada pela consci- ência das pessoas. E sem que as massas abandonem seus conceitos ou crenças re- ligiosas, submetem-nas às necessidade do progresso social. O apoio soviético impede que o imperialismo sufoque estas revoluções É isto que mostra a Líbia de forma termi- nante, pois sendo um país pequeno, sem nada, era um sultanato, pôde progredir a formas muito elevadas. Enquanto que nos outros países árabes não ocorreu isso o mesmo, porque não se deram condições de combinação de base social e militar para impulsioná-los. Em dois países do Oriente Médio (Iraque e Egito) aconteceu isto. Eles tinham o exemplo da Argélia que se liber- tou do imperialismo francês e deu um exem- plo claro e terminante. Tinham também o exemplo do apoio dos soviéticos a todo processo de libertação. E a vontade combativa e vigorosa destes camaradas militares que dirigiram a libertação da Líbia, Egito e Argélia, estava baseada no apoio soviético e na experiência feita no capita- lismo que já havia perdido a força e a capa- cidade histórica de conter o progresso. A represa de Assuan (3) foi um impulso muito grande a todo o mundo árabe. Mos- trou que a Urss, à custa de um enorme es- forço e de uma grande inversão como foi a represa de Assuan, impulsionava o progres- so da história. Ao mesmo tempo em que impulsionava a própria Urss. Por isso, o capitalismo mundial comandado pelos ianques e pelos ingleses, matou Nasser através de Sadat. Mataram Nasser no Egi- to, mas nasceram outros em outros luga- res. A morte não é estática, a morte faz nas- cer outras vidas. É muito importante compreender este pro- cesso, porque não existe educação do mo- vimento comunista sobre esses problemas. Os soviéticos, sim, tendem a basear-se nes- ta compreensão, pela necessidade objeti- va da sua existência. Os soviéticos investi- ram uma quantidade enorme de dinheiro e de tempo no Egito e, Sadat, agora, não paga nada e crê com isto que vai continuar vi- vendo. Mas, Sadat é um morto que trata de aproveitar os últimos dias de vida que lhe restam; é um homem degenerado que não produz uma idéia; tem, particularmente, um espírito assassino contra o progresso da população. Mas, ainda que tenha que ma- tar, matar, matar e matar, e proibir a vida em seu país, tem que depender da ajuda, dos investimentos ou das propinas dos ianques para continuar vivendo. Nasser se dava ao luxo de exportar a revolução; pa- gava para exportar a revolução. Ao passo que Sadat vive submetido aos ianques, que lhe dão empréstimos e vendem-lhe armas por milhões de dólares para impedir o pro- cesso revolucionário em todo o mundo ára- be e em outros lugares. Querem que todos capitulem diante de Israel, enquanto que Khadafi impulsiona a revolução em todos os lugares. J. Posadas 20 de abril de 1981 (*) A revolução foi em 1º de setembro de 1969 (1) Refere-se à ruptura das relações diplomáticas dos Estados Unidos com a Líbia, e que foi dado um prazo de “5 dias para que a Líbia retirasse seu corpo diplomático dos Estados Unidos” (2) General que assumiu o governo depois do golpe militar de direita no Brasil em 1964 (3) Projeto realizado pela Urss no Egito a partir de 1958 durante o governo naciona- lista de Gamal Abdel Nasser. Expediente Revolução SocialistaÓrgão da Corrente Posadista do PT – Regulamentada junto ao Diretório Nacional Continuação do Jornal “Frente Operária”, fundado em 1953. Diretor Responsável : C.A. de Almeida – Reg. Prof. 049/ SP E-mail: [email protected] Página Web: www.revolucaosocialista.com Caixa Postal: 6275 - Brasilia (DF) Brasília DF Circulação interna ao PT (Vem da página 7) Refinaria conjunta Venezuela, Irã, Síria e Malásia, em Homus (Siria)

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RevoluçãoSocialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 12 – Nº 29 – Março 2011 – R$2,00

JornalJornalJornalJornalJornalPosadistaPosadistaPosadistaPosadistaPosadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

EDITORIAL

Osprimeirospassos dogovernoDilma

Os primeiros dois meses do governoDilma revelam uma conjuntura polí-tica na qual fica mais claro, tanto o

processo de debilitamento da oposição con-servadora, como as possibilidades concre-tas para que sejam aprofundadas as medi-das iniciadas no governo Lula com o senti-do de resgatar, mais rapidamente, a imensadívida social que sacrifica duramente gran-des parcelas do povo brasileiro.

Entre os sinais de debilitamento encon-tram-se as derrotas da oposição conserva-dora no Congresso, revelando, concretamen-te, que o governo poderia ter mais audáciaem uma série de pontos cruciais para sus-tentar um curso de transformações sociaisnecessárias e urgentes, sem as quais, o Bra-sil poderá seguir figurando como um dospaíses de maior desigualdade social no mun-do. Simbolizando a selvageria desta desi-gualdade, pesquisa recente indicou o cres-cimento de homicídios entre jovens negros.

É também um sinal evidente da debilida-de da direita as erráticas escolhas editoriaisfeitas pela mídia comercial com o claro intui-to de tentar fabricar uma ruptura ou mudan-ça de linha entre Dilma e Lula – sem perder achance de criticar Lula – o que de fato nãoocorre. Ao contrário, a eleição de Dilma e ascondições em que inicia o seu governo, comexpressiva maioria parlamentar, revelam exa-tamente a aspiração da maioria esmagadorado povo brasileiro para dar seguimento àque-la linha de desenvolvimento com distribui-ção de renda iniciada no governo Lula. Po-rém, com muito mais intensidade e audácia,

(continua na página 2)

O povo líbio tomou as ruas para defender o Estado revolucionário líbio e o governo de Khadafi

Líbia:É imperativo impedir a

intervenção militarimperialista!

Nos últimos meses o mundo tempresenciado uma enorme rebeliãosocial no Oriente Médio, desde a

Tunísia ao Egito, com a queda de dita-duras decenais, correias de transmissãodo império neoliberal norte-americano eeuropeu e suas corporações petroleirase financeiras, que haviam mantido a mai-oria da população destes países sob re-pressão, carestia e uma distribuição ex-tremamente desigual das riquezas. Ummovimento popular que tem a força deum vulcão e que recoloca na pauta astradições do nacionalismo revolucioná-rio árabe e do movimento islâmico pro-gressista, reduzindo a cacos toda a ge-ografia de dominação do imperialismo naregião. Apesar da instalação da nova junta mili-tar de governo no Egito, com fins indefi-nidos, não resta dúvida de que a quedade Mubarak no bojo de imponentes ma-nifestações de massas representa umgolpe ao imperialismo, e abre a brechapara o ressurgimento revolucionário quepode se estender em toda a região, doYemen, à Argélia ao Bharein. Afinal, oregime de Mubaraki era o principal alia-do dos EUA e de Israel na região O nacionalismo revolucionário nos anos50 contou com forte aceitação popularcom Nasser no Egito, con Ben Bella na

Argélia, e hoje encontra expressão noIrã, sob a liderança de Ahmadinejad, como resgate do nacionalismo deMossadegh, na resistência palestina, naguerrilha do Hezbolah do Líbano. Adiáspora do nacionalismo revolucionárioderivada da derrota da ex-Urss havia iso-lado as massas árabes e persas sob umrígido sistema neocolonial, sustentado

com o tacão nuclear do baluarte do im-pério na região, o Estado de Israel. Tudoisso está em questão. Nesse contexto o Irã tem exercido umimportante protagonismo político, coor-denando a insubordinação econômicacontra o FMI, denunciando a emissão dedólar sem lastro e estimulando instru-mentos de união, mercados e infra-es-truturas interligadas com o Iraque, a Tur-quia, Armênia, Azerbaijan, Rússia,Afeganistão, Pakistão Índia, e o Hamasdo governo palestino; e estabelecendoacordos com Brasil e Turquia para a

(continua na página 3)

A revolução na Líbia e o processo detransformação social

J. Posadas(página 6)

Página 8 Março 2011RevoluçãoSocialista

nessa sociedade. Mas, não era como hoje– motivo de desprezo, de utilização da mu-lher – mas, sim como um aspecto do de-senvolvimento que, ante a falta de cultura,de literatura, de arte e ciência, se dava poresta via.

Na sociedade árabe, na Líbia em particular,como também no Egito, essa é a base es-sencial: a mulher é um instrumento do sexo.E não instrumento do homem, mas instru-mento do sexo, como era antes na China.Esta sociedade criada pela Revolução naLíbia elimina isto: a mulher já não é neminstrumento do sexo, nem do homem. É umprogresso da Líbia. E os capitalistas dizem:“Vejam, eles põem calças compridas nasmulheres!”. Mas, não falam do imenso pro-gresso feito em poucos anos.

A criança na Líbia já forma parte da socie-dade. Antes era um objeto, onde o adultoreclamava que tinha que tomar conta dacriança. Agora, ela está incorporada à soci-edade. Ao mesmo tempo em que passamda limitação da concepção religiosa, limita-ção muito grande (não do islamismo, masda concepção religiosa) à abertura, ao de-senvolvimento das idéias. O que movemestes movimentos tipo Líbia são as idéias,e não a concepção religiosa. A concepçãoreligiosa monopoliza e monolitiza o pro-gresso do ser humano a certas regras quevêm da relação com os deuses. O desen-volvimento social supera isto; não a derru-ba, nem a liquida, mas a supera. E o serhumano vai elevando sua compreensãosocial, científica; por meio do amor huma-no vai elevando sua compreensão social,científica e superando a concepção religio-sa. Não vão ficar se queixando: “Ah, tantosanos dedicados a Deus!”, mas vão concluir:“É, são etapas da história humana; foi assimpor causa da propriedade privada”.

Isto está ocorrendo na Líbia e este proces-so está preparando uma elevação doislamismo. Não significa liquidar o islamismoe sim, superá-lo através da concentraçãodas idéias de progresso e justiça social queo islamismo possui, e que são muito boas.Algumas das suas concepções são assim,muito mais que na religião católica, porqueesta já serviu à classe que dirigiu o mundocapitalista. O islamismo tem uma série deconcepções de progresso, que grupos di-rigentes como os sultões acabaram pondoa seu serviço.

A Líbia está passando por este processo.Antes era um país que não era nada. Seantes da revolução alguém perguntasse oque era a Líbia não se sabia nem onde selocalizava. Hoje, ao contrário, a Líbia signi-fica Khadafi, e Khadafi significaantiimperialismo, desenvolvimento, ser

amigo da Urss, apoio à revolução. E tudoisso está se desenvolvendo com o senti-mento muçulmano. Não é o primeiro caso.Foi a Urss quem primeiro protagonizou oenorme progresso dos muçulmanos e osincorporou à revolução, e estes, sem deixa-rem de ser muçulmanos, antes de tudo, eramsoviéticos, depois muçulmanos.

O progresso social das massaslíbias convergirá em medidas mais

profundas

A Líbia está fazendo um imenso progresso.Antes não passava de um harém com osolo cheio de petróleo. Começou a ter al-gum significado a partir disto, pois antesnão era nada, era um deserto. A pior partedo deserto coube a ela. E a Líbia não tinhanenhum poder. Desse deserto, uma equipede militares acompanhados de civis (poisnão eram apenas militares) teve a decisãode fazer este esforço que faz parte do pro-gresso da revolução mundial. Ela não eranada antes. Fazem o que fazem, não paraeles mesmos ou para o islamismo, e sim,para preparar as condições para um futurosalto rumo a medidas socialistas. A experi-ência das massas indica que dirão: “Bom,agora está faltando isto...”, ou seja, a pro-gramação, a planificação, o desenvolvimen-to de indústrias, o desenvolvimento hídrico,a aliança com os Estados operários e oapoio incondicional a toda revolução, comofaz Khadafi, ainda que de forma um poucoinconseqüente, pois ele não tem partido.

O processo na Líbia é um dos aconteci-mentos mais elevados da História, porqueé a forma como o progresso da revolução,sem partidos comunistas, penetrou nospaíses árabes. A Líbia não tinha PartidoComunista, e quem era de esquerda eramorto. Mas, mesmo sem Partido Comunis-ta, a revolução chegou aí através da influ-ência sobre uma camada militar. Este pro-cesso mostra a forma como se dá a história:os países mais atrasados do mundo alcan-çam as formas mais elevadas de progressodevido à relação mundial de forças. Quan-do existe este nível é porque a necessidadede progresso se impõe e se baseia em umexemplo. Por isso a Líbia pôde passar deuma ditadura de sultões ao desenvolvimen-to de Estado Revolucionário rapidamente.

O petróleo da Líbia é uma “riqueza” para omundo capitalista, portanto uma fonte deprogresso. Mas quem deu o uso para oprogresso foi o programa revolucionário.

Este processo aí foi precedido pelo Egito,através de golpe contra o rei Faruk em 1952.O Egito antes tinha um regime quase igualao da Líbia. O golpe da Líbia foi estimuladoe impulsionado pelo progresso do Egito.Daí se conclui que as condições mais ad-versas criadas pela religião são superadaspelo progresso revolucionário, porque estenão rechaça a religião, e sim, avança nanecessidade de compreender a funçãoinsubstituível da economia, da sociedadee das relações humanas; portanto, adaptaa religião a este processo. A revolução nãorechaça, não combate, nem se opõe à reli-gião, mas vai criando condições para queela desapareça. Com o desenvolvimento darevolução, a religião não encontra pontode apoio e vai sendo superada pela consci-ência das pessoas. E sem que as massasabandonem seus conceitos ou crenças re-ligiosas, submetem-nas às necessidade doprogresso social.

O apoio soviético impede que oimperialismo sufoque estas

revoluções

É isto que mostra a Líbia de forma termi-nante, pois sendo um país pequeno, semnada, era um sultanato, pôde progredir aformas muito elevadas. Enquanto que nosoutros países árabes não ocorreu isso omesmo, porque não se deram condições decombinação de base social e militar paraimpulsioná-los. Em dois países do OrienteMédio (Iraque e Egito) aconteceu isto. Elestinham o exemplo da Argélia que se liber-tou do imperialismo francês e deu um exem-plo claro e terminante. Tinham também oexemplo do apoio dos soviéticos a todoprocesso de libertação. E a vontadecombativa e vigorosa destes camaradasmilitares que dirigiram a libertação da Líbia,Egito e Argélia, estava baseada no apoiosoviético e na experiência feita no capita-lismo que já havia perdido a força e a capa-cidade histórica de conter o progresso.

A represa de Assuan (3) foi um impulsomuito grande a todo o mundo árabe. Mos-trou que a Urss, à custa de um enorme es-forço e de uma grande inversão como foi arepresa de Assuan, impulsionava o progres-so da história. Ao mesmo tempo em queimpulsionava a própria Urss. Por isso, ocapitalismo mundial comandado pelosianques e pelos ingleses, matou Nasseratravés de Sadat. Mataram Nasser no Egi-to, mas nasceram outros em outros luga-res. A morte não é estática, a morte faz nas-cer outras vidas.

É muito importante compreender este pro-cesso, porque não existe educação do mo-vimento comunista sobre esses problemas.Os soviéticos, sim, tendem a basear-se nes-ta compreensão, pela necessidade objeti-va da sua existência. Os soviéticos investi-ram uma quantidade enorme de dinheiro ede tempo no Egito e, Sadat, agora, não paganada e crê com isto que vai continuar vi-vendo. Mas, Sadat é um morto que trata deaproveitar os últimos dias de vida que lherestam; é um homem degenerado que nãoproduz uma idéia; tem, particularmente, umespírito assassino contra o progresso dapopulação. Mas, ainda que tenha que ma-tar, matar, matar e matar, e proibir a vida emseu país, tem que depender da ajuda, dosinvestimentos ou das propinas dosianques para continuar vivendo. Nasser sedava ao luxo de exportar a revolução; pa-gava para exportar a revolução. Ao passoque Sadat vive submetido aos ianques, quelhe dão empréstimos e vendem-lhe armaspor milhões de dólares para impedir o pro-cesso revolucionário em todo o mundo ára-be e em outros lugares. Querem que todoscapitulem diante de Israel, enquanto queKhadafi impulsiona a revolução em todosos lugares.

J. Posadas20 de abril de 1981

(*) A revolução foi em 1º de setembro de1969

(1) Refere-se à ruptura das relaçõesdiplomáticas dos Estados Unidos com aLíbia, e que foi dado um prazo de “5 diaspara que a Líbia retirasse seu corpodiplomático dos Estados Unidos”

(2) General que assumiu o governo depoisdo golpe militar de direita no Brasil em1964

(3) Projeto realizado pela Urss no Egito apartir de 1958 durante o governo naciona-lista de Gamal Abdel Nasser.

Expediente

“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista doPT –

Regulamentada junto aoDiretório Nacional

Continuação do Jornal “FrenteOperária”, fundado em 1953.

Diretor Responsável :C.A. de Almeida – Reg. Prof. 049/

SPE-mail: [email protected]

Página Web:www.revolucaosocialista.com

Caixa Postal: 6275 - Brasilia (DF)

Brasília DFCirculação interna ao PT

(Vem da página 7)

Refinaria conjunta Venezuela, Irã, Síria eMalásia, em Homus (Siria)

Página 2 Março 2011RevoluçãoSocialista

já que Lula teve que enfrentar uma adver-sidade quase que permanente no Congres-so, sendo obrigado a inúmeras conces-sões, que o impediram, certas vezes, deaprofundar muitas das políticas sociais eeconômicas indispensáveis para tirar opovo brasileiro da miséria em que ainda seencontra, apesar de todas as conquistasde seu governo.

Também expressando o debilitamentodos conservadores pode-se citar a tentati-va midiática de fabricar crises entre as cen-trais sindicais e Dilma, sobretudo na ques-tão do salário mínimo. Se bem os especia-listas mais progressistas apontam para apossibilidade de um reajuste maior do queo concedido - houve arrecadação recorde- a direita foi a grande derrotada porque oque ela menos queria era uma política per-manente de recuperação do salário míni-mo, com um mecanismo de indexação comoo aprovado. E a recente reunião de Dilmacom centrais sindicais mostra não uma cri-se, mas uma possibilidade de participaçãoprogramática organizada dos trabalhado-res nas políticas de governo. Pior para adireita, a aprovação desta lei do salário mí-nimo soa como ameaça. revelando tambémas condições para a aprovação, por exem-plo, de uma nova CPMF, grande temor daoligarquia financeira, por constituir-se emmecanismo de controle de parte de seusmovimentos financeiros, que ela quer sem-pre manter às sombras.

No entanto, esses e outros sinais dedebilidade da direita não encontram do ladodo governo, até o momento, uma decisãopolítica para implantar medidas que sigamsustentando o crescimento econômico e oaumento da massa salarial, com a conse-qüente ampliação do consumo para as ca-madas mais pobres. Ao contrário, o cortede 50 bilhões de reais do Orçamento, acom-panhado de declarações categóricas doMinistro da Fazenda de que é preciso re-duzir o crescimento para no máximo 5 porcento, simbolizam uma decisão de esten-der e não questionar os indecentes privilé-gios do setor financeiro, o único interessa-do num crescimento raquítico da produ-ção e do consumo.

Durante o governo Lula também hou-ve momentos em que alas mais sensíveisaos ditames do setor financeiro tentaramreduzir os planos econômicos de cresci-mento, sobretudo quando Palocci esteve àfrente do Ministério da Fazenda, mas tam-bém com Guido Mantega. A intervençãode Lula na época foi decisiva para a opçãopor uma linha de crescimento mais acelera-do, o que é rigorosamente justificável enecessário, pois um país com as carênciasde infra-estrutura, de emprego, com as de-sigualdades regionais ainda acintosas, temurgência de um crescimento mais arrojado

com base a ações de estado. Basta lembrardas tragédias anuais vividas com a popula-ção pelas chuvas, como no Rio de Janeiro eagora no Sul, resultado de falta de obrasurgentes de infraestrutura e habitação, parao que se requer crescimento acelerado nes-te setor, para salvar vidas dos mais pobres.

Provavelmente seja esta a grande dis-cussão a ser feita no interior do PT e dossindicatos que dão sustentação ao gover-no: é possível alcançar as metas deerradicação da miséria anunciadas pela pró-pria Presidenta Dilma em seu discurso deposse sem uma ação estatal mais

British Petroleun, enquanto o governo nãochegou ainda a uma conclusão para editaruma lei que barre esta investida do capitalestrangeiro. Enquanto o etanol vai sedesnacionalizando, transformando estaquestão em tema de soberania nacional, umimenso potencial para o desenvolvimentoda produção descentralizada de etanol pormeio de mini-destilarias combinadas com oestímulo ao multi-cultivo, em contraposiçãoà monocultura, incorporando pequenosmunicípios, agricultores familiares coope-rativas e até por assentamentos da reformaagrária, vai sendo deixado de lado, em quepese sua expressiva capacidade de gerar

quer passividade, ou falta de protagonismoou omissão, na pior das hipóteses, trans-forma-se em fator adverso à luta dos po-vos do mundo pelo direito à autodetermi-nação e por um mundo mais equilibrado,mais justo.

O Brasil não deve renunciar ao cumpri-mento da missão que se deu e que foi apoi-ada nas urnas pelo povo brasileiro, elegen-do Lula duas vezes e Dilma. Não demons-tra sintonia com a política exterior de Lula,notável na questão de Honduras, o silên-cio em relação à proposta da Venezuelasobre a formação de uma “Comissão Inter-nacional para uma Saída Pacífica” na ques-tão da Líbia; essa omissão destoa do es-forço do Brasil em impulsionar a UNASUR.Talvez também sejam um sintoma de altera-ção na política externa, as notícias de quena próxima visita de Obama ao Brasil seri-am celebrados acordos para a exportaçãode petróleo da camada pré-sal para os EUA,o que se constituiria numa contradição comtodo o discurso feito por Lula, e pela pró-pria Dilma, de que o Brasil não pode su-cumbir à “maldição do petróleo” e ser limi-tado a mais um exportador de petróleo, aocontrário de reforçar e expandir a indústriapetroquímica em bases estatais.

Seja pelos sinais complexos ou pelasevidentes possibilidades de um maior avan-ço nas políticas de sustentação estatal aocrescimento e à distribuição de renda, o quese faz urgente é que o próprio PT e os mo-vimentos sindical e social organizem o de-bate para uma participação mais ativa,propositiva e programática no sentido denão permitir que as condições construídasnos 8 anos de Lula e com a vitória da Dilma,não sejam plenamente aproveitadas “o Bra-sil seguir mudando”. Ou, para consolidartodas as conquistas de uma política exter-na que colocou o Brasil numa posição pro-tagonista para a unidade dos povos daAmérica Latina, África e Mundo Árabe,avançando na construção de uma multi-polaridade progressista e superadora deinjustiças e distâncias entre os países de-senvolvidos e os países pobres. Mas, tam-bém, para aproveitar devidamente, sem ti-midez e sem vacilações diante das pressõesque o setor financeiro certamente está fa-zendo sobre segmentos do governo, todasas condições para um crescimento à alturadas possibilidades e das necessidades deum povo ainda carente de todas as infra-estruturas essenciais, tais como estradas,obras de urbanização, programahabitacionais, hospitais, escolas. Não hánada que justifique a opção por um cresci-mento rebaixado, o que apenas faria tornarmais lento o pagamento da dívida social eacelerar a acumulação de capital dos ban-queiros. Esta contradição exige uma plenaintervenção político-programática do PT,partidos de esquerda, sindicatos e movi-mentos sociais, para assegurar uma políti-ca mais arrojada de transformações soci-ais.

13 de março de 2011

PresidentaDilma se reúnecom dirigentessindicais noPalácio doPlanalto

determinante? O que se verifica, no entan-to, é uma pobre vida política no interior doPT, sem funcionamentos de núcleos, sem aparticipação concreta do partido e de suamilitância na discussão sistemática e regu-lamentar das políticas de governo, seja noplano nacional ou estatal. Vale mencionarque o governador do Rio Grande do Sul,Tarso Genro, está buscando inaugurar me-canismos de participação mais direta damilitância e da população na formulação ena avaliação das políticas de governo. Esteexemplo deve ser acompanhado.

Seria fundamental que os partidos, ossindicatos, os movimentos sociais atendes-sem ao chamado feito por Dilma para a apre-sentação de propostas que combatam amiséria extrema, e organizassem um grandeForum Nacional de Debates sobre este de-safio convocando amplos setores, dos sin-dicatos à universidade, do clero progres-sista aos militares nacionalistas, dos inte-lectuais e artistas aos movimentos sociais.Entre elas destacamos propostas que cor-rijam os problemas apresentados pelo Pla-no Nacional de Biocombustíveis e tambémdo Plano Nacional do Álcool, que, na práti-ca, impedem rigorosamente a incorporaçãoda agricultura familiar e dos sindicatos ecooperativas rurais, com condiçõesinalcançáveis para este setor. O resultado éevidente: o programa de biocombustíveisnão tem conseguido incorporar os peque-nos produtores e está praticamente sob ocomando das quatro maiores multinacionaisda soja no Brasil. No caso do álcool-etanolverifica-se algo semelhante, com o agrava-mento de uma crescente desnacionalizaçãodo setor, tendo, como mais recente capítu-lo, compras de grandes empresas produto-ras de etanol brasileiras pela Shell e pela

renda, milhões e milhões de emprego, au-tonomia energética e fator de fortalecimen-to da transformação agrária brasileira, talcomo tem sinalizado a presidenta Dilma.Apesar de ter aprovado a idéia da criaçãode uma Empresa Brasileira de EnergiaRenovável em seu congresso, o PT aindanão levou a proposta adiante; por isso, otema não avança nem dentro do governo,nem junto aos movimentos sociais, muitoembora devastadora a ocupação deste se-tor produtivo estratégico pelo capital es-trangeiro, até o momento, sem qualquer re-sistência da esquerda.

Apesar de que a primeira visita interna-cional de Dilma tenha sido à Argentina, sim-bolizando corretamente a continuidade deuma parceria estratégica capaz de dar su-porte ao aprofundamento da política deintegração latino-americana, linha que sereforça com o próximo encontro marcadocom o presidente Hugo Chávez, há sinaisde que a política do Itamaraty possa sofreralteração que não faz jus ao prestígio e àautoridade alcançados pelo Brasil no pla-no internacional. Primeiramente, nota-secerta passividade do Brasil em relação aoevidente plano do imperialismo de dividir aLíbia – onde muitas empresas, serviços etrabalhadores brasileiros estavam operan-do. Talvez indique uma tendência atuandono governo Dilma que não queira manter oelevado e arrojado nível de iniciativas queo governo Lula implementou na sua políti-ca externa, constituindo-se em fator de enor-me importância num mundo que ainda estálonge de conquistar a multipolaridade e,também, inibir, com outras relações de for-ças, o intervencionismo crescente das gran-des potências contra os países mais fra-cos. Amanhã o alvo pode ser o Brasil! Qual-

EDITORIAL

(Vem da página 1)

Página 7Março 2011 RevoluçãoSocialista

não havia e, hoje, elas abandonam o véu,estudam, trabalham, andam sozinhas pelasruas, o que antes não podiam, exercem ati-vidades econômicas e trabalham a sós. Istoé uma revolução no mundo muçulmano, enão foi feito por Maomé. O exemplo do pro-cesso de libertação na Líbia é uma demons-tração da relação de forças mundiais.

O programa de Khadafi e da equipe dirigidapor ele, que não é só de Khadafi, foi au-mentando e elevando-se no curso da revo-lução. Partiu de uma consideração geral,boa, de expropriar, estatizar, mas sem terainda um programa claro. O programa foise definindo na medida em que a revoluçãoavançava. O ponto de partida do programaera muito simples, mas havia uma luta nadireção e não havia uma decisãoprogramática. Mas, poucos meses depoisde a equipe de Khadafi ir ao poder, foi pro-posto e desenvolvido um programa seme-lhante ao programa dos Estados operários,que terminou levando a Líbia à condiçãode Estado Revolucionário, com todas ascondições de ser um Estado operário. Estátudo estatizado; não existe mais proprieda-de privada de importância. A propriedadeprivada é pequena no comércio e no arte-sanato. Todo o setor importante – petróleoe outros minerais – está nas mãos do Esta-do. A direção líbia baseou seu programaeconômico e social na experiência dos Es-tados operários. É esta a verdadeira natu-reza do progresso dos países africanos, asi-áticos e também da América Latina.

A União Soviética não é um modelo, é umprograma. Para avançar do estado de pri-vação ao desenvolvimento é necessário es-tatizar, planificar e fazer as massas intervi-rem. E é isto que os líbios estão fazendo,mesmo que de forma limitada, porque não

têm ainda um programa marxista. Mas, jáexistem os fundamentos para que, em pou-cos anos, se proponha um programa, coe-rente, que é o marxismo. A coerência signi-fica que a produção dever ser programadae para isto ser estatizada. Mas, para pro-gramar a produção é preciso uma direçãoque tenha a compreensão deste processo.

É preciso considerar o imenso progressofeito pela Líbia, mas mesmo sendo impor-tante, ainda existem limitações por parte dadireção política e militar do país, porquesua compreensão histórica e política é ain-da limitada; junto ao fato de ser uma dire-ção de origem muçulmana, que antes este-ve limitada pela concepção teológica, reli-giosa, social e humana. E o Estado operá-rio influenciou esta direção diretamente. OIrã fará o mesmo que a Líbia fez, pois o queesta fez não foi como muçulmanos e, sim,como seres humanos que convenceram aMaomé de que este era o caminho, e Maomédisse sim, que estava correto. Isso é pro-duto da relação de forças mundial e é umexemplo para todos os países, inclusivepara o Afeganistão.

O islamismo e o progresso social

O progresso da história não está determi-nado por Maomé ou pela concepção mu-çulmana, mas pelo programa, pela políticae pela intervenção da população; e tudoisso, baseado na concepção científica doprogresso da história, cuja base é o marxis-mo. Os líbios não são marxistas, mas tam-bém não são anti-marxistas. Entretanto,tudo o que aplicam é marxismo. Não fazemnenhum ataque direto ao marxismo; limi-

tam sua relação com ele, mas não orechaçam.

Este processo na Líbia é fundamental parao mundo muçulmano, porque é um exem-plo de que para o progresso social e dahistória da humanidade é preciso antes detudo, resolver o que fazer com a economiae com a sociedade; ou seja, o que fazer como Estado capitalista. A Líbia mostra a todosos outros países árabes que ela deu umimenso salto porque fez o mesmo que aUrss. As massas árabes entendem, apesarde que não o digam; viram que a Líbia an-tes da Revolução não era nada e que agorao capitalismo tem um medo enorme dela.Os capitalistas têm um tremendo medo do“louco” Khadafi (como eles o qualificam),que disse recentemente: “Todos devem fa-zer como a Líbia, pois aqui não há proprie-tários de casas. Todos têm casas, escolas etrabalhos. Todos têm o que comer”. E an-tes, não tinham nada. Hoje, tudo isso exis-te e, inclusive, um progresso enorme dasmulheres.

Há um princípio que se desenvolve pelavia da necessidade histórica, e esta via é abase para o marxismo. Não é um programamarxista, mas a base de desenvolvimentoda Líbia é marxista. É uma conclusão fun-damental para todos os países árabes, quenão é imposta pela concepção muçulmanae sim pela necessidade social, pelo exem-plo social que vem da Urss, como tambémde Cuba, da Etiópia, do Vietnã, da Argélia,de Angola e Moçambique. Este processomostra a tendência da história que vinculatodos estes progressos dos países com aUrss. Não somente pela estrutura econô-mica e social, mas pela resolução históricada União Soviética que estimula mudançasem todos os pequenos países.

Junto com isto é preciso ter em conta alimitação do processo de desenvolvimen-to da Líbia por falta de uma direção coeren-te. É possível ir muito mais adiante aí. Seisso não ocorre é por limitação da direção.Demonstra-se também como o mundo ára-be não está fechado ao progresso marxistada história. A maior prova é a experiênciada Líbia.

Outra experiência é a da Etiópia, que eramuito mais atrasada. A Etiópia se agarroudo programa marxista para progredir, e to-dos os países árabes e suas massas vêemeste processo. Elas não se limitam ao Alco-rão; vêem e assimilam a experiência que serealiza em outros países que iniciaram pro-cessos de transformação. E este processoé Líbia.

Neste processo é preciso direção e inter-venção dos Estados operários sobre essespaíses. Tem sido a debilidade dos partidoscomunistas, de sua política não resoluta, afalta de programa, de capacidade e de dire-

ção, os fatores que não permitiram exerceruma maior influência sobre os países ára-bes. A Líbia não era o menor deles, mas erao mais fraco de todos. Tinha uma camadade Xeiques enorme, que desprezavam avida humana.

O processo na Líbia é um aspecto do pro-cesso mundial, que sendo muito importan-te, é limitado porque se pode fazer muitomais. Porém, isso mostra que existe umaluta interna que não é pública. Não existe amesma capacidade ou o mesmo programaentre os diferentes setores da direção. Unsestão mais à esquerda e são mais consci-entes. O que há é um acordo entre as diver-sas alas, onde alguns se mostram menos“muçulmanas” que outras e mais amigasda Urss.

Do nacionalismo árabe aoprocesso de transformações

sociais

A falta de cultura no sistema capitalista seexpressa no que se escreve sobre a Líbia.São obrigados a falar sobre seu progresso,mas minimizam-no e o reduzem ao nível doobscurantismo religioso; buscam minimizaros aspectos progressistas, o fato de cadaum ter sua casa, de que não existem desem-pregados, que não há fome, nem miséria,onde tudo isso foi eliminado, e o principalda economia está estatizado. A mulher, porsua vez, não anda mais de véu, veste-senormalmente. Fazem-na vestir-se de umamaneira especial para que não se destaquea forma feminina, o que indica a sociedadeanterior, onde havia o sadismo, que é o quedeve haver no Egito. Quando ocultam suasformas femininas, igualando a mulher aohomem, é no sentido de eliminar a base dainstigação sexual. Agem assim em virtudedas relações sociais anteriores serem umfator que induz a estas conclusões. O fatode elas usarem calças compridas tem tam-bém o sentido de impor sua igualdade comos homens. O fundo histórico para o usoda calça comprida por parte da mulher épara colocá-la em pé de igualdade com ohomem, é a busca de uma relação de igual-dade com o homem, onde nem mesmo amulher, ou a sociedade tem noção desteprocesso.

Quem inaugurou o uso das calças compri-das na mulher foi a sociedade celta. Porque teriam necessidade de calça compri-da? É em virtude do desenvolvimento dasociedade celta; desenvolvimento muitoelevado, o que implica também nas relaçõessexuais. A calça comprida é para qualificara divisão sexual e para impedir insinuaçõessexuais, que deviam ser muito profundas

(continua na página 8)

Khadafi e a revolução que uniu a farda militar ao Alcorão

Página 3Março 2011 RevoluçãoSocialista

Líbia:É imperativo impedir a

intervenção militarimperialista!

energía nuclear para fins pacíficos, de-safiando as potências capitalistas. Neste quadro de estímulo a rebeliõespopulares em todos os países vizinhos,surge uma insurreição no norte da Líbia,aparentemente de sentido contrário: os“rebeldes” reivindicam a bandeira da mo-narquia e a intervenção doscolonialistas. Só na superfície há iden-tidade com as rebeliões contra oneocolonialismo na região, porque aLíbia havia deixado, há muito, de seruma colônia. A Líbia tem uma trajetóriaoposta ao Egito: desde 1969, comKhadafi à cabeça, havia promovido umarevolução, acabado com as relaçõesmonárquicas e feudais, nacionalizadoo petróleo e a economia, oferecendoeducação e saúde gratuitas ao povo, pro-movendo com os recursos do petróleonacionalizado grandes obras de infra-estrutura. (1) A revolução líbia que libertou e deu dig-nidade às mulheres, é vítima de umaferoz guerra midiática queestá desencadeando uma guerra defato, com bombas, mísseis a ponto detransformar-se num novo Iraque.Porqueum país que tem o IDH mais alto daÁfrica, o maior salário mínimo dos paí-ses do chamado Terceiro Mundo, ren-da per capita comparável à brasileira,passou a ser manchete de jornal e terum presidente que, repentinamente, vi-rou “ditador” e “assassino de civis”,repressor de um duvidoso movimento derebelião social, entrou no banco de réusda ONU, e é ameaçado de intervençãomilitar da Otan? Uma das razões, além da cobiça pelo“ouro negro”, está na configuração re-volucionária que assume o Oriente Mé-dio que acima descrevemos: a quedado poderio imperialista no Egito e osavanços do Irã. Isso, incluindo o fato queKhadafi, irritando os EUA, tem propos-to a formação de uma OTAS, uma es-pécie de Otan dos países do sul, nareunião de “Cúpula América Latina -Africa”, realizada na Venezuela em2009. Antes, ele já havia proposto àRussia construir uma base militar navalnas costas líbias, sendo que o ladooposto do Mediterrâneo, há uma basenaval da Otan, na Itália. O imperialismoentra na brecha aberta pelos revoltososlíbios, entre os quais há correntes aber-tamente monárquinas e aliadas ao im-perialismo, para mudar o sentido anti-colonialista de todas as outras rebeli-ões em curso; Está emitindo um sinal:“que ninguém vá para a esquerda quepode sofrer uma agressão militar”, quealiás, já está em curso na Líbia com a

presença de mercenários e militares deelite da Otan e dos EUA. E o que é gravíssimo, enquanto a tra-gédia do povo japonês e o tsunami noJapão inundam os meios de comunica-ção, tirando o foco da Líbia, se reúnemcomo abutres 27 Ministros de RelaçõesExteriores da União Européia, seguidosde 28 Ministros de Defesa da Otan, emesmo em disputa interna e sem oapoio da ONU a favor do decreto de“zona de exclusão aérea”, a França e aInglaterra tratam de dar um palanquepolítico, se antecipam, reconhecendocomo governo um ilegítimo “Comitê Líbiode Oposição” dos chamados “rebeldes”,instigando o separatismo de Benghasi,para ver quem chega primeiro e se apro-pria da riquíssima zona petroleira.

Há muitos motivos geoestratégicos paratão estrondosa ofensiva imperial contraa Líbia. Segundo o jornal Kommersant,desde fins de 2008, relações bilateraisentre a Russia e Líbia, anunciavam ainstalação de empresas russas, e aabertura de uma base naval militar noporto de Benghazi, para prevenir um ata-que dos EUA.

Meios de comunicação: a ordemimperial é mentir para lançar a

guerra

Os meios de comunicação oligopólicos,TVs, jornais e, agora, blogueiros semcredencias, passaram a ser fabrican-tes de falsas notícias, indutores de opi-nião pública, para justificar e decidir odesencadear de guerras fratricidas con-tra a humanidade. A mentira informativa e informatizada ca-minha mais rápido e com extensão pla-netária que um míssil de longo alcan-ce. A falsidade da denúncia sobre a fa-bricação de armas bacteriológicas noIraque, se comprovou através de fontesdo próprio aparato político-militar norte-americano, somente depois de anos dedestruição e massacre de 1 milhão decivis; tudo em nome dos “direitos hu-manos” desrespeitados por SadamHussein, o mesmo que dez anos antesandava de braços dados com o imperi-alismo, que pouco se importava comkurdos, xiitas, persas e minorias, talcomo Mubarak, açougueiro de palesti-nos e da oposição interna. Paradoxalmente, a arma virtual dos “di-reitos humanos” é sempre invocada an-tes do lançamento das armas reais,mortais e arrasadoras. A “emergênciahumanitária” é a chave de acesso domilitarismo mais descarado, frente à elanão há debate, não há informação, nãohá dialética, negociação, verificação. Sóresta a demonização absoluta daque-les que se opõem de algum modo àspolíticas imperiais. Entre os 2 milhõesde trabalhadores estrangeiros (egípci-os e tunisinos) que agora fogem da

guerra civil, até mesmo instigados à for-ça pelos chamados “rebeldes” para cri-ar a famosa “crise humanitária” que jus-tifique uma intervenção armada da Otan,há muita gente que vivia e ganhava me-lhor na Líbia que na Tunísia ou no Egi-to, beneficiada pela repartição social darenda petroleira. Ao retornarem, voltamao desemprego. Nos anos 90 as mesmas agências in-formativas, porta-vozes da CIA e doPentágono, difundiram, repetidamente,falsas imagens – com a conivência deum órgão da ONU de “defesa humani-tária” – sobre massacres de civisalbaneses em massa por mãos deMilosevic. As notícias percorreram omundo e deram o aval para bombarde-ar, desintegrar a Iugoslávia – que aindatentava manter conquistas do períodosocialista – e transformar o Kossovonum país-base da Otan. A derrubada das “Torres Gêmeas” deNova York, que deu origem à mais co-lossal guerra midiática imperial, serviupara justificar a intervenção militar daOtan no Afeganistão, a guerra do Iraquee inaugurar uma era de intervenções deguerra em todos os cantos do mundo,em nome da “luta contra o terrorismo”.Hoje se sabe muito mais sobre a cons-piração dos serviços secretos dos EUAcom a colaboração do Mossad para apromoção daquele auto-atentado, e boaparte da opinião pública, os meios polí-ticos e científicos conhecem pelo me-nos parte das maquinações que con-duziram à farsa do 11 de setembro. Masnesse momento, foi o detonantemidiático que permitiu a militarizaçãodo país com a restrição aos direitos in-dividuais, o aumento colossal do orça-mento do Pentágono e o início das gran-des campanhas militares que são a “he-rança maldita” do governo Obama, re-fém da sua Secretária de Estado edo complexo industrial-militar. Nenhuma dessas guerras contou coma aprovação democrática das massas,com a consulta popular nos EUA e nospaíses que alojam bases da Otan. Ne-nhuma respeitou a legalidade internaci-onal, nem ouviu o clamor das gigantes-cas manifestações contra a guerra naEuropa e em Wisconsin nos EUA.Nenhuma delas foi para punir Israel quecometeu dezenas de genocídios emGaza e atacou a Flotilha da Liberdade.Quem é que dá o direito aos EUA deameaçar com arrogância, na figura doseu presidente Obama, a soberania dogoverno e do povo líbio dizendo:“Khadafi tem que se retirar e deixar oseu país”?. Até quando a falsa campa-nha do respeito aos “direitos humanos”,dará o aval ao imperialismo de impor ademocracia dos mísseis?

LIBIA

(Vem da página 1)

Os Senhoresque dominam omundo edecidema guerra contra aLíbiae a humanidade

Aviões de guerra da OTAN, que quer decretar aLíbia “zona de exclusão aérea”

(continua na página4)

Página 6 Março 2011RevoluçãoSocialista

Os problemas que surgem na Líbiasão problemas dos mais importan-tes da história da humanidade. A

Líbia vem a expressar novas relações deforças mundiais que permitem que um paísatrasado possa dar um salto adiante; nãosomente quantitativo, mas com extensãosecular. A Líbia passa de uma condiçãoquase primitiva, sem vida cultural, científi-ca e esportiva ao que é hoje (*).

A Líbia, por si mesma, não tinha condiçõespara promover isto. Se a vemos no contex-to mundial, ela era antes dependente dosistema capitalista mundial e não tinha for-ça social, nem sindicatos e partidos, paradar início a este processo de transforma-ções sociais. O que existia aí era uma oli-garquia dirigente que se apoiava no exérci-to para dominar o país. Suas vinculaçõescom o imperialismo inglês, italiano e, emparte, francês, lhes davam força militar paraque pudessem dominar. Esta oligarquia ti-nha o exército para esta finalidade: não paraguerrear contra os vizinhos, mas contra apopulação. Não havia tradição de partido,de sindicatos, nem de idéias; havia poucoslivros e a população era quase toda analfa-beta. As mulheres não tinham nenhum di-reito; nem mesmo na família e, até antes deKhadafi chegar ao poder, o marido podiater até mesmo 7 esposas.

O progresso da Líbia foi possível devidoàs relações de forças mundiais e à influên-cia da URSS e dos Estados operários (paí-ses socialistas) sobre o Oriente Médio e,particularmente, sobre a camada militar daLíbia. Esta equipe deu um golpe militar econduziu o país a posições nacionalistas.No início, não havia ainda uma direção for-mada e, inclusive, houve uma luta que du-rou anos até chegar a uma direçãoprogramaticamente mais homogênea quebuscava o desenvolvimento do país. Issofoi possível graças a uma aliança com osEstados operários; mesmo que não con-sistissem em acordos assinados. A aliançaconsistia em que os Estados operários da-vam a garantia e a segurança de que a Líbiapodia se desenvolver, porque o imperialis-mo não tinha força e capacidade para inter-vir. A existência dos Estados operários per-mitiu que um país tão atrasado como a Líbiapudesse dar tamanho salto na história. Sãoraros os historiadores que analisam destamaneira o processo da Líbia. Eles somentedizem: “os militares que deram o golpe, eramvalentes!”. É verdade, mas o processo nãodependia da bravura dos militares, mas dapossibilidade histórica e social que depen-de das relações de forças mundiais. Rela-ção de forças sociais significa: a idéia, aconsciência, a capacidade, a necessidadede progresso da história. Só assim é quefoi possível a Líbia dar um salto tão gran-de.

Antigamente, os ianques não rompiam re-lações com os grandes países; rompiam como país e simplesmente mandavambombardeá-lo (1). Com Khadafi tiveram quedizer: “saia daqui!”, e deram 5 dias para queele saísse. E dizem que Khadaffi ainda res-pondeu: “Estamos acostumados com ospalhaços.”;

O imperialismo mostra sua impotência fren-te à Líbia. Rompeu relações para influenci-ar e intimidar outros países a que não ti-vessem relações com ela. Esse era o objeti-vo do rompimento das relações. O imperia-lismo queria, com esta atitude, mostrar-seforte; só que o mundo vê que é fraco, inca-paz de tomar uma medida contra os líbios.Nem sequer pôde dizer a Khadafi: “Você éum bobo”. Teve que dizer diplomaticamen-te: “Senhor terrorista, retire suas bombasdaqui e vá embora!”.

A URSS não é um modelo, é umprograma

O processo na Líbia tem um significadomaior do que os ianques dão ou podemconceber, porque todo pequeno país vêque a URSS é o centro de apoio de qual-quer progresso; e, então, busca o apoio daUnião Soviética; e vê que a Líbia não é ne-nhum país pobre que tenha necessidadede ajuda econômica. É um dos países maisricos do mundo, se considerarmos, propor-cionalmente, o número de habitantes emrelação à sua riqueza; tem uma imensa ri-queza para uma população de poucos mi-lhões de habitantes, e a está utilizando parao progresso. A população diz isso e diz (aosque criticam ou atacam a Líbia): “Podemdizer o que quiserem, mas o país se desen-volve”, “temos trabalho, casa, comida, te-mos tudo e antes não tínhamos nada”.Antes, estava o rei Idris, que era um dege-nerado, um indivíduo com 100 esposas.Hoje, a Líbia existe e se desenvolve objeti-va e organizativamente porque aí está pre-sente a Urss e nela se apóia. Todos os pa-íses que buscam apoio na Urss se desen-volvem. O Egito, que rompeu com a Urss ebuscou o apoio dos ianques, retrocedeu e,hoje, é dirigido por uma camarilha. O Egitovai explodir; é uma questão de tempo masvai explodir.

Não há nenhum progresso no mundo quetenha iniciado e, depois, retornado e se afir-mado no seu ponto de partida. Não existeexemplo algum; nem mesmo Pinochet, ouCastelo Branco (2) foi exemplo disso.

Entre os progressos da revolução líbia estáa libertação da mulher, mesmo que aindanão seja completa; porém, vai nesse rumo.Para começar, a mulher foi incorporada naatividade normal do país, coisa que antes

A revolução na Líbiae o processo de

transformação socialJ. Posadas

20 de abril de 1981

Este artigo de J. Posadas traz, à tona dos acontecimentos atuais,elementos históricos para entender os fundamentos econômicos,

sociais e políticos da revolução líbia iniciada em 1969 sob a liderançado coronel Khadafi. Naquela época, a relação de forças mundiais,

contava com a existência da URSS. A Líbia é um país jovem que malse havia liberado do colonialismo britânico nos anos 50, com uma

monarquia baseada no regime tribal. A nacionalização do petróleo e aajuda da URSS compensaram a falta de desenvolvimento capitalista

e a ausência de classe operária na Líbia, permitindo passar dotribalismo à luta pelo socialismo.

Evidentemente, deve-se contextualizar a situação atual, a partirdas concessões do governo líbio à economia neo-liberal do capitalis-mo europeu, como produto do debilitamento econômico, trazido peladesorganização da URSS. O salto para passar da “tribo ao socialis-mo” sofreu um freio. A possível inexperiência de direções islâmico-

militar “sui generis” e o seu isolamento, retardou o avanço no rumode um nacionalismo mais revolucionário.

Porém, há que avaliar também que, apesar da queda da URSS, acrise capitalista mundial atingiu um nível irreversível na história, e

entraram no cenário mundial novas forças revolucionárias na Améri-ca do Sul, no Irã e no Oriente Médio, e que a Rússia, a China e

Cuba, continuaram a atuar como parte do bloco econômico e militarantiimperialista. Além disso, a política exterior da Líbia buscando

uma aliança com UNASUR, propondo a formação de uma Organiza-ção do Tratado do Atlântico Sul, justo no momento em que a OTANdecide operar também nesta região, não permitem uma conclusão

categórica de que Khadaffi abandonou a trincheira antiimperialista,como argumentam segmentos da esquerda européia. Ao associarem-se, criminosamente, à idéia de uma intervenção “imperialista huma-

nitária” contra a Líbia, fica demonstrado, uma vez mais que estessegmentos de esquerda jamais entenderam o processo revolucionário

líbio, desde o seu início.

O artigo mostra as raízes do processo líbio, além de examinar asdificuldades para a formação de uma direção capaz de atender ao

desafio de avançar em medidas socialistas, contando com a participa-ção organizada das massas líbias que, com todas as limitações do

processo, sempre souberam resistir às pressões, sabotagens e agres-sões do imperialismo contra o Estado Revolucionário. A estrutura

fundamental da Líbia, continua sendo o exposto no artigo deJ. Posadas. Qualquer retrocesso, divisionismo regional ou tribal

no Estado revolucionário líbio terá resultados catastróficos contra aLíbia e toda a região.

Página 4 Março 2011RevoluçãoSocialista

As massas norte-americanas e européi-as, vítimas da maior crise econômica docapitalismo dos últimos tempos, jamaisforam consultadas. Nada indica que o de-sespero das corporações bélico-financei-ras, que não vêem outra saída para suacrise que a guerra, encontrará um cal-mante. As massas européias e norte-americanas não estão paradas, nem que-rem pagar com sangue e desemprego opreço de um novo Iraque e Vietnã. Umanova guerra contra a Líbia, com implica-ções mundiais, poderá representar umaimplosão para o capitalismo europeu,sobretudo italiano, que teria que sacrifi-car seus negócios e intercâmbios comesse país e toda a região norte-africana.A Itália, não somente criaria um proble-ma social interno, mas arriscaria de per-der o mercado líbio para multinacionaisamericanas. A insegurança interna nocampo burguês é real, apesar de que aloucura, e o instinto guerreiro de sobrevi-vência das grandes corporações do im-pério norte-americano sustentadas pelaOtan são imprevisíveis. Já Fidel Castroalertou para o eminente perigo deum ataque nuclear imperialista contra aLíbia e o Irã.

A reação da Rússia, China e dospaíses da ALBA

Com exceção do canal Telesur e da AlJazheera, todos os meios de comuni-cação estão tocando os tambores deguerra contra a Líbia, promovendo a his-teria, distorcendo fatos, difundindo fal-sas matérias. É imprescindível que osmovimentos sociais e os governos re-volucionários tomem consciência do ris-co que corre, não somente a Líbia, seupovo, mas a inteira humanidade. A revelação que fazem os russos atra-vés do seu controle de radares por sa-télite de que não houve nenhum mas-sacre de civis por parte do governo líbio,desmonta o esquema midiático imperi-alista e revela uma decisão política daRússia confirmada no seu rechaço, jun-to à China, a qualquer intervenção mili-tar contra a Líbia. É sintomático o des-concerto interior no próprio EUA, quan-do o secretário de defesa Robert Gatesnão confirma o bombardeio. De fato, háum temor de, no improviso, criar umareação oposta, como os mercenáriosbritânicos que desembarcaram na re-gião dos “rebeldes” na Líbia e foram pre-sos e deportados. Quem disse que oslíbios estão procurando um “libertador”imperialista? Quem disse que os egíp-cios, os tunisianos querem voltar à tu-tela colonial? Nada é seguro, e nem aChina e a Rússia estão de braços cru-zados. As costas líbias não são desco-nhecidas para o submarino russo“Pedro, o Grande” que já realizou exer-cícios anteriores. O Irã enviou recente-mente duas naves militares que atra-

vessaram o Canal do Suez em direçãoà Síria, selando um acordo naval-militar entre os dois países A reação dos governos progressistas daAmérica Latina se une ao clamor daRússia e China em respeito à sobera-nia dos povos do “Sul” do mundo, Áfri-ca, Ásia e Médio Oriente. O ConselhoPolítico da UNASUR em reuniu-se emCaracas, e todos os seus componen-tes apoiaram o chamado de HugoChávez para a formação de uma “Co-missão Internacional para uma Saí-da Pacífica”. É fundamental que o governo brasileiroapoie esta proposta, dando continuida-de ao importante papel que o Brasilcumpriu no governo do ex-presidenteLula para fortalecer a aliança Sul-Sulentre os países em desenvolvimento.

As relações diplomáticas Brasil-Líbia

Com coragem, o Brasil se opôs oficial-mente à ação militar no Iraque. Seriade se esperar a continuidade desta acer-tada política externa quando agora, con-tra a Líbia, também se constroem ver-sões – razões propagandísticas – paraque aquele território seja ocupado pe-los marines. Se as teses dos direitoshumanos são as que balizam a autori-zação diplomática para tal monstruosi-dade militar, é de se esperar condena-ção a todos que estão hoje encharcandode sangue muçulmano o solo do orien-te. A começar pelos EUA que já mata-ram mais de um milhão de civis no Iraquee, somente nesta semana, despejoubombardeios que causaram a morte de65 civis no Afeganistão. Por que oItamaraty não condena tal carnificina? A construção de uma política externabrasileira enfatizando a integração lati-no-americana, não apenas em discur-sos, mas concretamente, com obrasunificadoras de infra-estrutura que já nãopodem mais ser negadas pelo dilúviode mentiras midiáticas, tem seu des-dobramento na formatação de uma re-lação mais cooperativa com o mundoárabe e também com o Irã. Além dis-so, a busca de uma diversificação deexportações e importações – o que nun-ca agradou aos EUA – desdobra-secoerentemente numa relação mais pro-tagonista a partir da relação com ospaíses do BRICS, bem como no G-20. Esta nova maneira de estar presenteno mundo levou o Brasil a pelo menosduas operações de alto esforço e cora-gem, qual seja, a busca de uma saídanegociada e pacífica para a crise a par-tir do prepotente veto imperial ao pro-grama nuclear do Irã, e, na questão deHonduras, quando o governo Lula as-sumiu com arrojo a defesa da demo-

cracia diante do golpe de estado contraZelaya, sinalizando que ela, a demo-cracia, não é um atributo que estariafora da agenda da cooperação eintegração latino-americana, bem comodo princípio da autodeterminação dospovos, violentada nas duas oportunida-des pelos EUA. Há muito que a elite brasileira e a suamídia pró-império têm pressionadoDilma Roussef, desde a campanha elei-toral, para uma reviravolta pró-america-na na política exterior, sob o para-ventoda defesa dos “direitos humanos” quantoao caso Sakineh no Irã, e ao caso daoposição contra-revolucionária em Cuba.Fazem de tudo para enviar uma cunhaentre Dilma e Lula. Assumir que a polí-tica externa vai defender os direitos hu-manos abstratamente, em qualquer lu-gar em que se encontrem ameaçados,é mais que um tiro no pé, abre o flancoda nação brasileira a uma intervençãomilitar para defender supostos ou reaisdireitos humanos violados, quem sabena Amazônia, quem sabe no Nordeste.Como sempre sustentou o Itamaraty naera Lula, contribui mais para a defesados direitos humanos a paz no mundo,a relação harmoniosa entre todas asnações, o desenvolvimento econômico,a integração entre os países e a distri-

Mundo, Interpress, Mídia Latina, e pelaimprensa do Paquistão, é outra. Come-çando que já houve desde 23 de feve-reiro ataques de navios militares estran-geiros de origem estadunidense e fran-cesa e barcos nos portos líbios deBenghazi e Tobruk, aos quais, obviamen-te teve que reagir o governo líbio. E asnotícias mais recentes confirmam queopositores do regime utilizam mercená-rios, tendo já assassinado 212 partidá-rios de Khadafi em Benghazi; merce-nários controlados pela CIA e compa-nhias como Halliburton e Blackwater. Ainstigação ao golpe de estado separa-tista em Benghazi é estimulada pelacobiça ao manancial petrolífero e pelascontradições tribais da região. Essestipos de “rebeldes”, tentaram naVenezuela com o “paro petrolero” reaci-onário, com greves e sabotagens, masfracassaram. Na Líbia, diante dorechaço dos “rebeldes” à negociaçãoproposta pelo presidente Chávez daVenezuela, mostrando que eles não têma ver com a causa revolucionária de cu-nho socialista – como supõe uma parteequivocada das esquerdas – o exércitolíbio está recuperando, à força, as refi-narias ocupadas. Mesmo com a contenção do projeto re-volucionário e concessões por parte dogoverno líbio nos últimos 10 anos, comacordos improdutivos com os EUA, aInglaterra ou com o FMI, ou injus-tificáveis privatizações, abrindo mão, uni-lateralmente do programa de energianuclear (em contraposição ao Irã e aoBrasil), não se justifica a conivência comqualquer ataque militar dos EUA e daOtan, ou golpe de estado contra o regi-me de Khadafi. O povo soviético nãodeixou de defender a Urss, durante a2ª. guerra mundial, contra Hitler, ape-sar da sua crítica ao burocratismostalinista.Os trotskistas, quando libera-dos das prisões stalinistas, pegavam emarmas na luta contra Hitler e não contraStalin, pois preservar o Estado Operáriosoviético é obrigaçã histórica in-condicional. Quando da Guerra dasMalvinas, Cuba também ofereceu tropasa Galtieri para lutarem ao lado do povoargentino contra o imperialismo inglês.Eis exemplos de táticas dialéticas. E eraGaltieri! Não era um Khadafi. Não se podeabstrair sobre quem está organizando asdefesas do estado contra a agressãoimperialista é o governo Khadafi. Comonão apoiar ao governo Khadafi e seupovo, que evidentemente está sendo ví-tima de um ataque midiático e amea-çado de invasão bélica imperialista quese concretizada, inclusive com o avalda ONU, será um dano para Líbia, paratoda a região e para a soberania de to-dos os povos do mundo. O que não sig-nifica abrir mão de posições críticas di-ante das concessões políticas deKhadafi ao FMI, sempre que dirigidas afazer avançar o processo revolucionáriolíbio do tribalismo ao socialismo.

Lula e Khadafi na reunião de Cúpula América doSul – África realizada em 2009 na Venezuela

buição equilibrada das riquezas do mun-do entre todos os povos. As forças imperiais querem transformaressa guerra contra a Líbia num elementode desunião dos blocos progressistasda América do Sul e do Oriente Médio.Em nome do respeito aos “direitos hu-manos”, estimulam posições que afas-tem o Irã da Líbia (como instigaram aguerra Irã-Iraque na época de Khomeini)para afirmar tendências internas con-servadoras no Irã contrárias à políticade aproximação do presidenteAhmadinejad com o bloco de paísesantiimperialistas da região, como Tur-quia, Líbia e Síria. E desta forma, esti-mular o golpismo dos “verdes deMussavi” no interior do Irã.

As razões do apoio à Líbia e aopresidente Khadafi.

A realidade dos fatos, divulgada porTelesur e por outros meios como Rede

Página 5Março 2011 RevoluçãoSocialista

Logo no início do conflito líbio, ojornal governista “Iran” emitiucríticas duras a Khadafi, responsa-

bilizando-o e até mesmo justificando asrevoltas de alguns segmentos da socieda-de líbia. O presidente do Irã, Ahmadinejad,que não fez pessoalmente a crítica, pas-sou a concentrar seus discursos no ata-que ao imperialismo e a uma provável in-tervenção militar na Líbia, o que já estáocorrendo no apoio armado pelas gran-des potências aos chamados rebeldes.Esta aparente mudança no discurso deAhmadinejad coincide com a importanteação política de Hugo Chávez articulan-do politicamente com vários presidentesno sentido de se formar uma Comissão In-ternacional de Paz para a Líbia, contan-do com o apoio de Fidel Castro e dos pa-íses da ALBA. Chávez, após contato tele-fônico com Kadafi, chegou a telefonar paraum dos líderes da sublevação armada querechaçou qualquer mediação para umasolução pacífica. O que por si mesmo re-vela a posição destes supostos revolucio-nários que recusam uma mediação daVenezuela e pedem apoio à OTAN.

Provavelmente, a percepção mais cla-ra de que de fato há uma intervenção mi-litar em curso contra a Líbia, o que deixa-ria o Irã e a Síria numa posição mais iso-lada na luta antiimperialista naquela re-gião, fez com que a realidade dura e obje-tiva dos fatos – concretamente a possibi-lidade da Líbia ser transformada em maisuma base militar da OTAN – pesou nestaaproximação entre as posições deAhmadinejad e Hugo Chávez em nome daAlba. Isso reforçou a decisão deAhmadinejad de diferenciar-se de tendên-cias internas no Irã, incluindo setores par-lamentares, às quais interessa o não-ali-nhamento com Unasur, para debilitar opapel do Executivo e de Ahmadinejad, fa-vorecendo um golpe interior contra-revo-lucionário. Os mesmos que apoiam os cha-mados “rebeldes” na Líbia, terminam fa-vorecendo os “verdes” de Mussavi.

As oligarquias árabes e islâmicas te-mem a explosão de novos movimentos re-volucionários e querem dividir as forçasprogressistas, isolando Khadafi, torcen-do para sua derrota, como meio de travare conter a influência de mudanças que vaise espalhando pelas massas da região.”

É possível que o antiimperialismo doIrã deslize assim, repentinamente, em di-reção ao plano imperialista? Quais sãoas forças internas, quais as fraturas e ospontos de apoio? O misterioso desapare-cimento do Imam Musa Sadr, na Líbia em1975, libanês de origem iraniana que pre-viu a revolução islâmica iraniana algunsanos antes de seu advento, não é suficien-te para explicar tal inimizade contra o

A diferença de posições entre Irã e Venezuela

IRÃ

governo de Khadafi a ponto de determi-nar a escolha do campo neste conflito es-tratégico. Pode servir como uma descul-pa útil a ser aproveitada pelos plane-jadores da guerra imperialista e ajudaràs várias áreas do poder iraniano – entreos reformistas capitalistas e os religiososortodoxos – que não suportam o governoo governo Ahmadinejad, para acusá-lo depopulismo socialista sintonizado com aesquerda revolucionária como Chávez eos dirigentes da ALBA.

Não é de se estranhar que a maioriado parlamento, ferozmente anti-governis-ta, tenha tomado uma posição contraKhadafi desde o início do conflito. Po-rém, é surpreendente ver como forças dopróprio governo fazem-lhe eco: sejam oporta-voz dos Negócios Estrangeiros,Mehmanparast, o comandante-chefe dasforças armadas, Firuzabadi, os articulis-tas do jornal oficial do Irã, usando essamesma frase lançada pelos círculos impe-rialistas contra “Kadafi que bombardeiao seu próprio povo”. Enquanto isso, o jor-nal Kayhan, que é fundamentalista orto-doxo a ponto de ser fanático e crítico emrelação a Ahmadinejad falou da intifadalíbica e do genocídio do povo por partedo governo líbio acusando-o de haverpedido ajuda a Israel que estaria envian-do “ajuda maciça” para Khadafi, quan-do, ao contrário, são os líderes desta re-volta que apelam à OTAN para intervirmilitarmente, e que são capazes de, empoucas semanas, levantar-se contra o exér-cito líbio, bem armados e bem treinados,mesmo considerando o fato que Kadafinão utiliza ainda grande parte dos seusarmamentos. Ahmadinejad atacou o im-perialismo dizendo que não é mais o tem-po do “11 de setembro” e que, caso o im-perialismo intervir contra os movimentospopulares, será derrotado. Mesmo o líderAli Khamenei intervém constantementecontra a tentativa do imperialismo de apo-derar-se dos movimentos em curso. Mas sãoinsinuações muito leves para por em dis-cussão o complô seja na Líbia que no Irã.

O jornal governista “Iran” publicoua posição da Venezuela que propõe a in-tervenção de uma comissão de inquéritopara apurar os fatos na Líbia, mas conti-nua a torcer pela queda de Trípoli e dogoverno de Khadafi. Os fatos vão ajudar aesclarecer de forma inequívoca os planosde invasão imperialista na Líbia e suasintonia não só na Itália ou na Europa,mas no próprio Irã, onde a bomba líbiaestá por causar um “11 de setembro”; mas,se chegar àquele ponto, não se sabe se asverdades desvendadas poderão ainda serúteis para recolocar a revolução irania-na no próprio rumo internacional.

A falta de uma informação sadia e re-volucionária, colocou até mesmo Dilma

Russeff no plano da crítica ao Irã no casoSakiné, sendo lógico pensar que as rela-ções estratégicas não devem sersacrificadas no altar dos “casos particu-lares”. Além disso, o Irã como qualqueroutro país não é todo homogêneo ouesquemático; a contraposição de classes,dos poderes executivo com o jurídico e olegislativo, serve aos planos imperialis-tas de desestabilização, contra os gover-nos revolucionários que debatem em umcenário de dualidade de poderes, paralevar adiante um plano de transformaçõessócio-econômicas. Neste contexto, o queera “um detalhe”, ou “um caso particu-lar”, se transformou em motivo pelo qualo “poder iraniano”, unido desta vez, estátrocando, interessadamente, a esperançade reencontrar o Iman Musa Sadr, após35 anos do seu desaparecimento sob opoder do Estado líbio e do governo deKhadafi, com a sustentação de um movi-mento, aparentemente islâmico, mas coma bandeira do sultão Idris – que manti-nha o país norte-africano no atraso e notorpor – que prepara a justificativa paraa invasão e ocupação do próprio país.

Contra as forças reacionárias irania-nas, aliadas com o sistema capitalista,opositoras da idéia da exportação da re-volução islâmica iraniana, os líderes etendências revolucionárias precisavam,há anos, de um novo vento e revoltas po-pulares, como aconteceu no Irã há 32anos, para derrubar ditaduras no mundoislâmico; o seu atraso motivou os líderesreacionários e a burocracia usurpadoraa combater contra a tendência revoluci-onária. Portanto, quando estourou a re-volta das massas árabes, sobretudo, egíp-cias, e também do Bharein e do Yeman,reavivaram-se as razões da revolução de1979. O fato de que os dois navios milita-res iranianos, no regresso da Síria, napassagem do Canal de Suez, tenham feitohomenagem às vítimas da revolta egípciacontra o “Faraó” e saudado o exércitoegípcio é a conseqüência lógica.

O fato que o parlamento expressouontem um plano para afastar vários mi-nistros, apesar da resistência do governo(tentaram eliminar também o ministro dasenergias há poucas semanas após oimpeachment do ministro dos transpor-tes), demonstra as forças reacionárias quese aproveitam da “oportuna” aventura econfusão na Líbia. Esta é, talvez, a cons-piração mais perigosa realizada até hoje.Mas, seja como for, a contra-revolução nãovigorará. A sua força consistiria em ata-car de surpresa e agir com rapidez, mastudo indica que estão perdendo tempo eterreno.

09 de março de 2011

(1) Leia o texto de J.Posadas, de 20de abril de 1981 sobre osignificado da revolução líbia docoronel Khadafi, publicado neste

Toda solidariedade e apoio aogoverno de Khadafi e ao povo

líbio.

Não a qualquer intervenção militardo imperialismo, do EUA e da

Otan contra a Líbia.

Contra a decretação de “zona deexclusão aérea” na Líbia que

significa aceitação dobombardeio. Respeito à resolução1970 da ONU que proíbe “zonas deexclusão aérea” e a intervenção

militar da Otan.

Pleno apoio à proposta dopresidente venezuelano, HugoChávez, de formação de uma

“Comissão Internacional para umaSaída Pacífica”, com participação

preferencial do ex-presidentebrasileiro Lula da Silva.

Pelo direito do povo líbio à

autodeterminação, à integridadeterritorial e à soberania nacional.

Pela integração dos povos egovernos revolucionários e

progressistas do Oriente Médio eOriente Próximo e da África,através de uma Federação

Socialista da região nos moldesde UNASUR e da ALBA da América

Latina.

Pela continuidade da política decooperação entre América do Sul -

Países Árabes, iniciada nogoverno Lula.

Pelo OTAS (Organização de

Defesa dos países do Sul) propostopelo presidente Khadafi.

Lula e Khadafi na reunião de CúpulaAmérica do Sul – África

RRRRReeeeevvvvvoluçãooluçãooluçãooluçãoolução Socialista Socialista Socialista Socialista Socialista

“Sem a luta pelo socialismo, a vida não tem sentido” (J. Posadas) Ano 12 – Nº 30 – Julho 2011 – R$2,00

JornalJornalJornalJornalJornalPosadistaPosadistaPosadistaPosadistaPosadista

Continuação doJornal

Frente Operária,fundado em 1953

EDITEDITEDITEDITEDITORIALORIALORIALORIALORIAL

(continua na página 3)

As estatizações, os direitos democráticos,a função dos sindicatos e o progresso revolucionário no Peru

J. Posadas(página 6)

AGRAVA-SE A CRISE DO CAPITALISMOINTERNACIONAL

Se você realmente quer a paz, prepare-se para a guerra (“Igitur qui desideratpacem, praeparet bellum”, do espe-

cialista militar romano Vegecio, 390 D.C.),devem estar pensando o Ministro Mântegae o estado-maior do governo Dilma frente àguerra cambial desencadeada pelos EstadosUnidos e pelos bancos e especuladores in-ternacionais, ao tomar a decisão de cobrartaxa de 1% em operações com dólares futu-ros, aumentáveis até a 25%. Porque, justa-mente, de guerra se trata.

O imperialismo se prepara para jogar nascostas do mundo inteiro as crises sem solu-ção da Europa e dos Estados Unidos. Háevidências gritantes de que se trate do “BigOne”, o grande terremoto tão esperado umdia pela Califórnia, desta feita representan-do uma crise econômico-financeira interna-cional violenta, insolúvel pelo capitalismo.A possibilidade de calote dos EUA faz tre-mer o mundo. A debilidade da zona Euro e afragilidade da União Européia estão a mos-trar que o sistema capitalista e imperialistapode tentar encontrar, como sempre fez asaída da guerra total para cobrir a própriacatástrofe. Em primeira mão, atacam aindamais as conquistas sociais dos trabalhado-res nos próprios países: saúde, aposenta-dorias, educação, habitação e emprego. Asprivatizações serão apenas um biombo paracobrir o massacre, afinal, os capitalistas sãoespecialistas em massacres sociais: os “Es-tados democráticos” se livram dos empre-gados das estatais privatizando e deixandolivres as mãos dos verdugos. Mas mesmoassim, de onde virão os capitais que assu-mirão o patrimônio público? Já não há can-didatos sequer para a privatização selvagem.

Que o digam os capitalistas brasileiros,que ultimamente se dão por desertar atémesmo de licitações de obras públicas (BeloMonte, trem de alta velocidade, obras deinfra-estrutura, PPPs). Melhor especular, en-viar dinheiro para os paraísos fiscais, viverda renda dos títulos públicos. Até onde der!

Em 2011, a burguesia brasileira enviou 69bilhões para paraísos fiscais!

Desta feita, não haverá mais dinheiro nosBancos Centrais dos países para cobrir ostítulos podres, as especulações, os derivati-vos, como em 2008. Naquela época, empur-rou-se com a barriga, a toque de emissõesirresponsáveis de Euros e Dólares, de ma-nobras. As moedas vão se derreter. Os déficitsfiscais e de balança de pagamentos são in-solúveis sem mudanças estruturais.

Daí para a guerra comercial total, às cus-tas de manipulações cambiais, é só um pas-so. A América Latina já é o celeiro dos lucrosdas multinacionais, entre eles os bancos,muitas delas só sobrevivem graças às re-messas de lucros das vendas enormes querealizam na região, graças, paradoxalmente,à elevação do nível de vidas de milhões depessoas devido às políticas progressistasdos governos brasileiro, argentino, bolivia-no, venezuelano, equatoriano. A expansãoeconômica da América Latina é em grandeparte o fruto da integração continental, daspolíticas de distribuição de renda, da reto-mada da soberania e das políticasindustrialistas e desenvolvimentistas.

É evidente que o fluxo de capitais exter-nos geralmente especulativos, mas tambémprodutivos, à procura desesperada do lucroe da “realização”, contribui para o cresci-mento dos PIBs, mas as remessas de lucros

Frente aoagravamentoda catástrofe

do capitalismointernacional,

avançar nasoberania, nas

conquistassociais e na

aliança entreos países

emergentes!

Reunião Extraordinária no Peru do Conselho deChefas e Chefes de Estado e do Governo daUNASUR (28/07/2011)

Dilma inaugura teleférico no Complexo do Alemão(07/07/2011)

e a perda de soberania envolvida nessasoperações são o flanco descoberto dessasoperações.

As oportunidades da América Latina edos países emergentes podem-se converterem tragédia se não há uma mudança drásti-ca no modelo de desenvolvimento global,em favor de uma sólida intervenção estatal edesenvolvimentista, uma forte integraçãoregional e inter-blocos como entre os BRICSe outros parceiros em desenvolvimento, queos libere das garras do sistema financeirointernacional dominado pelas metrópoles, doFMI, e garanta o atual ciclo de distribuiçãode renda e elevação do nível de vida daspopulações desses países. Esta é a únicamaneira de garantir a estabilidade do cresci-mento, torná-lo menos dependente da ex-portação de commodities ou das exporta-ções para os países “ricos” cada vez maisem ruínas, industrializar e garantir a sobera-nia dos países, e empreender outras vias dedesenvolvimento com planejamento econô-mico estatal, investimentos produtivos,

A mulher no Irã(página 12)

Espanha(página 10)

Irã(página 9)

Venezuela(página 9)

Solidariedade com a Líbia(página 5)

Agroenergia(página 5)

Brasília: Analfabetismo zero(página 4)

Cuba-Brasil(página 3)

Foto

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Página 2 Julho 2011RevoluçãoSocialista

EDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIALEDITORIAL

(Vem da página 1)

erradicação da pobreza e do analfabetis-mo, políticas de pleno emprego e de cresci-mento de longo prazo, que permitirão em-preender, finalmente o caminho inevitáveldo socialismo.

O DIVERSIONISMO MORALISTA DAOPOSIÇÃO

O bombardeio diário da mídia sobre acorrupção, as propinas, os atropelos dospartidos aliados do governo, a pressãosobre os ministros e funcionários, não visaresolver problema algum além da disputapelo poder. Tenta-se por todos os meioscondicionar e intimidar o governo de DilmaRoussef, deslocá-lo à direita, bloqueá-lo ouorientá-lo para interesses de grupos pode-rosos como são o agronegócio e seus eter-nos aliados, as multinacionais, que delambuja estão levando as usinas de etanol.

Às propinas e aos caixas dois, que de-veriam chamar-se de “sobrecustos”, acom-panham toda e qualquer obra pública des-de os tempos do Império. Tanto no Brasildos “milagres” quanto no Brasil do PAC, odesenvolvimento se faz enriquecendo gru-pos capitalistas vorazes e predadores. An-tes que perguntar-se qual o político ou oministro, ou o partido responsável por uma“partilha”, é preciso perguntar-se qual foio grupo capitalista que impôs o saqueio.Porque disso se trata, os grupos capitalis-tas chantageiam o governo, sabotam asobras do PAC, multiplicam e falsificam oscustos, não há TCU que agüente, não háuma planilha exata, os governantes e admi-nistradores são impotentes para controlaruma licitação sequer, todas combinadas, àsbarbas da tão famosa quanto impotente Lei

das Licitações (8666). Os capitalistas já ten-taram sabotar a usina hidrelétrica de BeloMonte, e o governo Lula decidiu fazer aobra assim mesmo. Agora, decidiram sabo-tar o trem-bala, desertando a licitação. Ondehá uma obra, há um roubo. Agora tentamaté macular os batalhões do exército, quefazem as obras que os capitalistas esnobam.Enfim, o capitalismo tupiniquim não joga afavor do país, além de chorar pela proteçãocambial. Somente um Estado poderoso eorientado pela audácia, pela idéia de fortesoberania nacional e inseparável sensibili-dade social pode enfrentar a quebradeirageral do capitalismo que se aproxima.

PORQUE A REFORMA POLÍTICA ÉIMPOSSÍVEL

O sistema político é e sempre será o“balcão de negócios” da burguesia, comoo definiu Lenin e ninguém conseguiu des-menti-lo. Balcão de negócios do setor agrá-rio, dos construtores, dos industriais, dosbanqueiros, da criminalidade organizada emempresas. Este é o sistema capitalista, nãoo sistema “político”. O sistema eleitoral é oque é, a reforma tributária não sai do papel,as leis anti-corrupção são letra morta, osfichas-sujas transitam impunemente, e todae qualquer obra esconde o “por fora”, osobrepreço, o financiamento oculto. Qual éa novidade? Então fala-se de “custo-Bra-sil”, de “modernização do Estado”, mas estanão é possível sem reverter a lógica do Es-tado a estar ao serviço dos grupos capita-listas, e colocar o Estado para servir ao povoe à Nação. Este é o verdadeiro embate, ide-ológico, político, que tem tudo a ver com aidéia do socialismo. Por exemplo, não fora ainiciativa de recriar a Telebrás, seria impos-sível pensar na universalização do acesso.E é preciso fortalecer ainda mais esta esta-tal para que a banda larga seja barata e aces-sível a todos, escapando da hegemonia dosteleoligopólios. Sem o “Luz para Todos”,milhões de pessoas ainda estariam na pe-numbra. Graças à expansão do orçamentoestatal na saúde, milhões de brasileiros re-cebem gratuitamente remédios para a hi-pertensão e diabetes.

Na verdade precisa-se de cada vez maise mais Estado, mas com mais e mais partici-pação, democracia, transparência, propos-tas audazes de concessão de direitos decidadania, como a erradicação completa e

urgente do analfabetismo, a radical demo-cratização da mídia com a quebra dos mo-nopólios privados atuais, a solução defini-tiva para a pobreza extrema e a questão agrá-ria, ainda mal resolvida e ainda por cimadesnacionalizada. Esta é a principal moder-nização do Estado! Não é colocar um capi-talista “eficiente”, dar um pito geral, au-mentar a atividade da Polícia Federal, doTCU. Tudo isto está bem, exigir da base dogoverno pelo menos a indicação de pesso-as tecnicamente preparadas, “decentes”,isso é normal, mas totalmente insuficiente.O que quer a oposição, em última instân-cia, não é eficiência, é comprometer agovernabilidade. A base aliada é terrenofértil de interesses alheios ao desenvolvi-mento do Estado e do país. Entretanto, ascruzadas moralizantes NÃO VISAM MU-DAR ESTE QUADRO, mas mudar a gestãopara outros interesses, todos inimigos dogoverno progressista, ao qual há que pres-tar apoio e firme solidariedade.

Não basta proclamar os “60 milhões denovos membros da classe média” se oparâmetro é o consumo de carros ou eletro-domésticos, num mundo dominado pelafinanceirização e pelo endividamento demilhões de pessoas. Os parâmetros têm queser IDH, qualidade de vida, cidadania real,defesa do ambiente, dos direitos das mino-rias, a efetiva aplicação dos ditados cons-titucionais que garantam educação, saúde,casa decentes para toda a população.

AS PRESSÕES CONTRA A POLÍTICAEXTERNA PROGRESSISTA

Paralelamente, os eternos quintas-co-lunas, os servos do império, continuam ati-vos na campanha contra a integração lati-no-americana, no bombardeio contra oMercosul e em particular a Argentina, nasespeculações anti-chavistas, enquanto umatempestade de bombas desaba sobre opovo da Líbia, na indiferença total da mídia“democrática”. Esta é a mídia que celebraqualquer vacilação da política exterior, comofoi a de condenar o Irã pela falta de “direi-tos humanos” ou cumprir medidasassessórias nas sanções anti-Líbia. Os tor-cedores da política externa pró-yankee ain-da circulam nos corredores do Itamaraty.Pena que o mundo não lhes ajuda: ou oBrasil afirma a sua soberania, ou vai su-cumbir no abismo da crise do Império, quevai lançar provocação atrás de provoca-ção, como se vê na cobertura descarada-mente manipulada dos fatos da Síria, ou noatentado na Noruega.

Os sinais do governo Dilma, a esse res-peito, são contraditórios, tímidos. Assina-se o contrato para a construção do subma-rino nuclear, decladamente para defender asoberania e o petróleo, o que é extrema-mente positivo e urgente; mas prorroga-sea compra de aviões de combate avança-dos, como se houvesse muito tempo pela

Cristina Kirchner, Dilma e Lula na inauguraçãoda nova Embaixada Argentina no Brasil

frente. O país se abstém sobre os ataques àLíbia, mas é obrigado a regulamentar asmedidas de saqueio e bandidagem da Otan,não levanta a voz contra a barbárie contraaquele país. São as turbulências de ummundo que não promete paz, frente ao qualo governo progressista tem que se prepa-rar com firmeza e determinação, como é abatalha contra o dólar que, aliás, há muitonão deveria ser a nossa principal fonte dereservas internacionais. Neste sentido, éimportante a reunião de emergência de che-fes e chefas de Estado da UNASUR, reali-zada em Lima, sob a presidência inauguralde Humala Ollanta, onde até mesmo a Co-lômbia se alinhou com o Brasil e a Argenti-na na urgência de uma firme posição deunião e soberania frente à crise do impériodo FMI, e as posições da Venezuela, Equa-dor e Bolívia, pela nova moeda, o “sucre”,e o Banco do Sul, tomam corpo como únicasolução alternativa de independência daAmérica Latina frente à crise.

OS PARTIDOS PROGRESSISTAS EMOVIMENTOS SOCIAIS NÃO DEVEM

ABAIXAR A GUARDA

A crise mundial atual é a crise da faltade ideologias, e é de grande responsabili-dade das esquerdas que se intimidaramapós a queda do muro de Berlim e conside-raram que o desaparecimento da Urss era o“fim da história” do socialismo. Todos es-tavam equivocados. A crise atual do capi-talismo mostra que o socialismo é mais atu-al que nunca. Sem as suas propostas, semas concepções de igualdade social, plane-jamento econômico, racionalidade, uniãoentre nações, o mundo vai para o abismoda 3ª. Guerra mundial.

É preciso que partidos, sindicatos, or-ganizações sociais, igreja progressista,movimentos rurais, todos se unam para darsuporte ao governo Dilma para que não seintimide e avance, para que assuma a suaresponsabilidade e enfrente a tempestadeque se aproxima, para que gire à esquerda,para que aprofunde tudo aquilo que a eraLula fez de mais avançado. É importantetambém a decisão de Lula continuar a luta,discursando recentemente aos militares naESG, chamando à consciência nacionalista.à união das Forças Armadas no desempe-nho de uma função social. O Partido dosTrabalhadores tem que sair da letargia go-vernista e dos entrelaçamentos políticospara assumir a vanguarda das propostasprogressistas, partindo do reconhecimen-to que se trata de um governo de alianças eacordos, mas ir depurando o governo, osgovernantes, os administradores, os seuspróprios militantes, excessivamente envol-vidos em eleitoralismos de cabotagem, paraque respondam primordialmente aos inte-resses nacionais e do povo brasileiro, aju-dando o Executivo a tomar as medidas ne-cessárias, fortes, para dar continuidade àluta por um Brasil soberano, uma AméricaLatina unida e socialista.

Expediente

“RevoluçãoSocialista”

Órgão da Corrente Posadista do PT–

Regulamentada junto aoDiretório Nacional

Continuação do Jornal “FrenteOperária”, fundado em 1953.

Diretor Responsável :C.A. de Almeida – Reg. Prof. 049/SP

E-mail: [email protected]ágina Web:

www.revolucaosocialista.comCaixa Postal: 6275 - Brasilia (DF)

Brasília DFCirculação interna ao PT

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Página 3Julho 2011 RevoluçãoSocialista

Neste mês de junho, completam-se 25anos do reatamento das relações entreBrasil e Cuba. Era Sarney o presiden-te. A ruptura veio no golpe de 64. Sob aditadura muitos trabalharam para pavi-mentar o caminho da retomada. ChicoBuarque, o jornalista Fernando Moraescom o seu livro “A ilha”, a imprensa al-ternativa e de esquerda, Frei Betto e FreiBoff e tantos que fizeram um trabalhoanônimo para que hoje Brasil e Cubatenham as excelentes relações quepossuem, Mas, podem expandir-se

Há uma nova situação política na re-gião, que pode ser melhor aproveitadapela Solidariedade a Cuba, que tambémneste mês de junho, realiza sua Con-venção Nacional. Para além de todasas bandeiras históricas já defendidas,há imensas possibilidades de ampliare qualificar as relações bilaterais Brasile Cuba, que neste momento já coope-ram em importantíssimos programas.

Com financiamento do BNDES,constrói-se o Porto de Mariel, decisivono fortalecimento econômico de Cuba.Será o maior porto do Caribe. Na práti-ca, empresas brasileiras furam o blo-queio à Ilha. Em outro projeto, Brasil eCuba estão cooperando na produção devacinas para a África, inclusive na es-pecialização de médicos timorensesformados em Cuba que passam pelaFiocruz antes da volta ao Timor.

Para citar mais um, Cuba e Brasilestão cooperando também no sistemade saúde do Haiti, com financiamentobrasileiro de 80 milhões de dólares,mais pessoal e tecnologia. Eis porque

testável. Esta reflexão e o debate cons-trutivo se fazem ainda mais necessári-os diante da incompreensão instaladaem alguns círculos da esquerda sobrea importância decisiva destas políticasimpulsionadas por Lula, mantidas porDilma, para instalar empresas brasilei-ras em território cubano, retirando con-cretamente Cuba do isolamento, e con-tribuindo para o desenvolvimento desuas forças produtivas.

Apesar da evidente importância des-tes acordos e desta política, há críticassugerindo que isto é apenas comércioe de que revelaria de fato uma tendên-cia sub-imperialista no governo brasi-leiro, quando o desenvolvimento das for-ças produtivas, seja em Cuba, na Bolí-via ou no Paraguai, indicam a possibili-dade de um desenvolvimento com a re-

de Federação Socialista Latino-ameri-cana. Ele desenvolveu importantes aná-lises quando estava no México e apoia-va o nacionalismo revolucionário deCárdenas e de Getúlio Vargas, por eleidentificados como fenômenos progres-sistas sui generis, destacando seu con-teúdo antiimperialista e de potencial re-volucionário, sustentando – face a evi-dente limitação objetiva para um qual-quer curso de desenvolvimento isolada-mente – que fossem apoiados pelosrevolucionários mesmo de diante de suaformação híbrida. diante da constataçãodos limites objetivos de cada um dospaíses isoladamente. Esses movimen-tos nacionalistas revolucionários jamaisforam compreendidos pelos partidoscomunistas que adotaram a equivoca-da política da oposição tanto aCárdenas, como a Vargas, como aPerón, ou mais tarde à Revolução Inca,no Peru, com o general Alvarado à fren-te. Fidel Castro, em entrevista recentea Ramonet, destacou a função revolu-cionária das correntes militares progres-sistas latinoamericanas, o que não foinunca uma linha política dos partidoscomunistas. O tema é atual, com asadaptações e diferenças decontextualização. O que a Venezuelanão pode desenvolver na área da indus-trialização e da infra-estrutura, desen-volve-se agora com a parceria com oBrasil, sobretudo para superar a pesa-da herança de seu atraso na agricultu-ra, resultado da chamada “maldição dopetróleo”.

O debate do tema deve ser muitomais estimulado pela CUT, o PT e osmovimentos sociais, mas, sobretudopelo governo que pode, por meio daimplementação do convênio da TV Bra-sil com a Telesur, trazer ao conhecimen-to dos brasileiros a importância daspolíticas de integração, com a partici-pação do BNDEs, e que podem sermuito mais aprofundadas, no que rece-berá ainda maior apoio popular, comose observou na generosa política do Bra-sil para com o Paraguai e a Bolívia.

Cuba-Brasil,25 anos doreatamento

Debate: “A revolução cubana, 52 anos depois:transformações e desafios”. Realizado noauditório Freitas Nobre, da Câmera deDeputados. Participaram: deputada e presidentado Instituto Cubano de Amizade com os Povos,Kenia Serrano, a presidenta do InstitutoCubano do Livro, Zuleica Romay, a editora doCubadebate, Rosa Miriam Elizalde, e MagaliLlort, mãe de Fernando González, um dosantiterroristas cubanos presos injustamentenos Estados Unidos; Frei Betto, senadorCristóvan Buarque e Beto Almeida.

Porto de Mariel

Fidel, visionário, declarou em encontrointernacional, em 2005, preferir solda-dos brasileiros a marines dos EUA noHaiti. Como indica o raciocínio de Cas-tro, a cooperação Brasil-Cuba é estra-tégica para muitos povos. E pode serqualificada com mecanismos de coo-peração melhor trabalhados. Exemplo:na área da informação, colocando-seem prática o convênio da EBC com aPrensa Latina e a Telesur, para que opovo brasileiro escape do bloqueio in-formativo de que padece sobre as con-quistas sociais da Ilha.

Mas, além disso, o momento tam-bém é sugestivo para se discutir aintegração latinoamericana, de modomais amplo, e, diante dos evidenteslimites em que está metida a Revolu-ção Cubana, cabe uma reflexão, impres-cindível, sobre a impossibilidade daconstrução do socialismo em um sópaís, tema que já foi motivo de polêmi-ca há décadas no seio do movimentorevolucionário internacional e que, faceàs severas lições de história, revela-sehoje com força cada vez mais incon-

dução da hegemonia dos EUA. Quantasdécadas deveriam esperar Cuba parater sua própria capacidade de engenha-ria nacional para construir este Portode Mariel? Ou para retirar explorar o pe-tróleo que tem em sua plataforma marí-tima, o que ela não pode fazer por limi-tações tecnológicas intransponíveis nomomento? O subdesenvolvimento e suaherança também pesam mesmo sobCuba que realizou uma revolução soci-al. E implicam em dar prioridade naformatação do que Trotsky chamava

“América Latina: Do Nacionalismo Revolucio-nário ao Socialismo”

“A música, o canto e a luta pelo socialismo”

“O processo da revolução permanente no Irã”

Em língua espanholaAutor: J. Posadas

Faça o seu pedido através doemail: [email protected] da Caixa Postal: 6275 - Brasília (DF)

Página 4 Julho 2011RevoluçãoSocialista

O governador Agnelo Queiroz as-sumiu o corajoso compromissode erradicar o analfabetismo na

Capital da República e no DF até 2014.Este compromisso deve ser apoiado portodos os brasileiros – não apenas pe-los moradores do DF – por todas asforças progressistas, movimentos soci-ais, intelectuais, movimento estudantil,pois trata-se, simbolicamente, de umaatitude que revela claramente o poten-cial de que o Brasil, com todos os seusrecursos, tem seguramente todas ascondições para ver-se livre desta ma-zela social.

Agnelo está também enviando, comeste compromisso, uma mensagem deotimismo, de convocação à luta, de cha-mado para as transformações sociais,indicando claramente que o Brasil SemMiséria tem que ser também um Bra-sil livre da miséria do analfabetismo, daignorância, da incultura. É como se dis-sesse: um país com as imensas rique-zas que possui, do petróleo ao nióbio,sendo uma das maiores economias doplaneta, não tem o direito de convivercom uma herança tão opressiva e de-sumana que afeta, sobretudo, as cama-das mais pobres dos brasileiros, no DFe em todo o território nacional!

A América Latina está derrotando

o analfabetismo! A guerra contra o analfabetismo na

América Latina sempre esteve vincula-da à luta revolucionária, aos programasde governos populares, a governantesantiimperialistas e de esquerda. Agnelloestá indicando que estão presentes ascondições para que o Brasil dê um sal-to político. Deste modo, está chaman-do a superar a simples prática e umaadministração rotineira, convencional esem audácia, trazendo para os partidosprogressistas o desafio de se colocar àaltura das reais possibilidades de trans-formações sociais que o Brasil possuiagora depois de dois governos Lula eapós a eleição da presidenta Dilma,derrotando as forças conservadoras, quejamais se levantaram contra o analfa-betismo, como também jamais se pro-puseram a transformar a sociedade.

Vale lembrar que o próprio Plano Es-tratégico para o Brasil, lançado duranteo governo Lula, previa apenas para 2022a superação do analfabetismo, o que éuma prova de timidez e de falta de prio-ridade política imensas, se observarmosque vários países muito mais pobres queo Brasil estão conseguindo derrotar oanalfabetismo na América Latina. O pro-

blema está claramente localizado naesfera das decisões políticas. Exem-plo: como é lamentável a substituiçãodo Embaixador Samuel Pinheiro Gui-marães pelo ex-governador MoreiraFranco para comandar a Secretária deAssuntos Estratégicos! Colocar comoministro desta pasta um homem quedestruiu os CIEPs no Rio de Janeiro;quando pela primeira e única vez umgoverno estadual dedicou 50 por centode seu orçamento para a educação.Acabar com o CIEPs é lançar dúvidassobre um verdadeiro e sincero combateao analfabetismo.

A atitude de Agnelo Queiroz, na prá-tica, é um chamado às forças progres-sistas a se mexerem mais além da lutainstitucional ou parlamentar. Em todosos países que derrotaram o analfabe-tismo na América Latina a mobilizaçãopopular é uma condição indispensável.Assim foi em Cuba, onde o analfabetis-mo foi extinto há 50 anos!! Assim foi naNicarágua Sandinista, quando a Cruza-da Nacional da Alfabetização, que con-tou com a participação ativa de profes-sores cubanos, levou a suspensão dasaulas nas universidades por seis me-ses, período em que os estudantes uni-versitários subiram às montanhas e fo-ram para o campo para alfabetizar oscamponeses, numa generosa demons-tração de maturidade revolucionária ede entrega, que só os processos revo-lucionários alcançam, porque elevam asrelações humanas, vencem o individua-lismo, promovem a consciência de queo progresso cultural de um povo é tare-fa de todos, tarefa coletiva!

Tiririca: alfabetizado com o

método cubano A Venezuela Bolivariana também já

é Território Livre do Analfabetismo, comreconhecimento da UNESCO, devendosua conquista também à generosa aju-da de Cuba com o seu método de alfa-betização “Yo si puedo”, que permiteaprender a ler e escrever em um prazode 45 dias em média. Aliás, conformerevelou Frei Betto em Conferência so-bre Cuba, hoje, transmitida pela TV Ci-dade Livre de Brasília, foi com o méto-do cubano que o Deputado Tiririca apren-deu a ler e escrever rapidamente parafazer frente às exigências elitistas earrogantes da Justiça Eleitoral que nãoqueria dar-lhe o diploma parlamentar aque faz jus em razão de milhares devotos recebidos, em sua maior parte dascamadas mais oprimidas do Estado deSão Paulo, sobretudo dos trabalhado-

res nordestinos da construção civil, aquem ele apresentou uma série de pro-postas corretas e necessárias, escon-didas maliciosamente pela mídia. Umavez mais, foi Cuba, com sua contribui-ção humanista em escala internacio-nal, que demonstrou, neste episódio doTiririca, que quando há vontade políti-ca, os instrumentos estão disponíveise podem ser utilizados pelos mais ines-perados setores sociais com vistas aelevar sua condição de cidadania. Aconclusão é clara: o programa BrasilSem Miséria, justo e necessário, nãodeve limitar-se à alimentação e forma-ção profissional dos mais miseráveis.Aos animais é que se oferece apenasalimento, aos seres humanos é preci-so oferecer também cultura, educação,livros, produtos culturais, etc...

Prioridade política ou

planejamento conservador? Se a Bolívia de Evo Morales também

já é, segundo a UNESCO, Território Li-vre de Analfabetismo, as condições paraque o Distrito Federal (muito melhorequipado e estruturado), mas tambémo Brasil, alcance tal conquista, estãototalmente presentes. É paradoxal queo Brasil seja um dos maiores consumi-dores de automóveis e de telefones ce-lulares do mundo, que São Paulo tenhaa segunda maior frota de helicópterosdo mundo, e ainda existam milhões emilhões de analfabetos! A solução des-te dilema está no plano da política.Agnelo está fazendo uma convocatóriadecisiva, urgente, inadiável! Não há ne-nhuma razão para que a erradicação doanalfabetismo não tenha sequer metasconcretas, apesar de oito anos de go-verno Lula, de vários governos estadu-ais progressistas que tivemos nesteperíodo, mas, ainda assim, sem que ofim do analfabetismo tenha sido enca-rado com tarefa prioritária, central, rea-lizável.

Basta lembrar que o Evo Morales,em criança, quando seus pais trabalha-vam como canavieiros no norte da Ar-gentina, foi considerado inepto para oletramento. Hoje, não apenas ele é opresidente da Bolívia, como nossos ir-mãos bolivianos, uma das economiasmais pobres da América do Sul, já es-tão livres da praga do analfabetismo! Seum país como o Brasil que conseguiurecuperar a indústria naval, destruídapela privataria tucana, como não pode-ria superar definitivamente o analfabe-

tismo? Sobretudo sendo o Brasil a pá-tria de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro,Paulo Freire? É porque tem faltado von-tade política e Agnelo, com o compro-misso que assumiu publicamente, estádemonstrando que é preciso uma novaarrancada política e que Brasília nãoquer apenas ser a sede da Abertura daCopa do Mundo em 2014, construindoo estádio, mas também tem que man-dar ao mundo a mensagem de queerradicou o analfabetismo.

A alfabetização é uma luta política

O governo Agnelo credencia-se a

convocar todas as forças progressistas,não aquelas que o apoiaram eleitoral-mente, para que seja realizado um ver-dadeiro Mutirão contra o Analfabetismo.O movimento estudantil, a CUT, o Sin-dicato dos Professores, as Universida-des, todos devem ser convocados e in-corporados nesta luta por meio da rea-lização de uma Conferência Popularcontra o Analfabetismo no DF, na qualsejam planejadas todas as iniciativaspossíveis e necessárias, entre elas amobilização política, pois derrotar oanalfabetismo não é uma tarefa apenastécnica, é de cunho político e transfor-mador. É preciso discutir e planejar ten-do presente experiências do passado,entre elas a do Rio Grande do Sul, que,quando governado por Leonel Brizola,conseguiu erradicar praticamente oanalfabetismo no início dos anos 60. Épreciso organizar acordos com o gover-no de Cuba para que seus especialis-tas possam participar deste Mutirão.

O uso revolucionário do rádio É fundamental que haja a consciên-

cia sobre o uso da Rádio Cultura-FM,uma ferramenta que pode cumprir umpapel indispensável nesta empreitada,ao contrário de ser apenas umacaixinha de música como vinha sendona triste Era Arruda, quando só as ban-das de rock apoiadas por esquemasmilionários da indústria cultural imperi-al tinham, ao passo que sua direção,naquela época, discriminava a músicapopular brasileira, o samba, a músicade raiz, inclusive os artistas negros,numa orientação claramente racista. Éum verdadeiro desperdício de recursosnão ter a Rádio Cultura atuando nestae outras causas da elevação cultural dopovo candango. Aliás, vale lembrar quepedagogos cubanos desenvolveram ummétodo para a alfabetização em dialetocreole do povo haitiano, por meio dasondas do rádio, a partir de Cuba. Auniversalização da banda larga tambémdeve ter como objetivo central, elevaçãode conteúdos de cunho social e cultu-ral, via internet e ser um instrumentoparalelo no processo de alfabetização.Temos que abrir espaços à criatividade,ao desenvolvimento de novas experiên-cias, políticas e educativas. E a basepara isto é o compromisso assumidopelo governador Agnelo Queiroz, queindica um compromisso de luta!

Brasília:Território Livre do

Analfabetismo Bolivia é país livre de analfabetismo graças ao

método cubano “Yo si puedo”

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Página 5Julho 2011 RevoluçãoSocialista

“Os desafiosurgentes paraconquistar asoberania naagroenergia”

A necessidade da criação daEMPRESA BRASILEIRA DE

AGROENERGIA (EBA),em mãos do Estado e baseada na

pequena e média agriculturafamiliar

Há um profundo abismo entre asconquistas econômicas e sociaisdos governos Lula e Dilma e a

desnacionalização do setor doagrocombustível no pais. Posição inadmis-sível pra uma nação que busca se afirmarpela inclusão social e como potência eco-nômica e política nos cenários da Améri-ca Latina e Internacional.

A produção de agrocombustível nãopode ser analisada apenas como umacommodity a ser explorada economica-mente pela iniciativa privada, pois trata-se de um produto estratégico, um produtoenergético, ao nível de importância de ou-tros produtos como o petróleo, o carvãomineral, a energia elétrica, a energia nu-clear em disputas militares no mundo.

Recentemente, a Presidenta Dilma, di-ante do absurdo do desabastecimento deálcool, decretou que o álcool fosse consi-derado um produto estratégico e não maisum simples produto agrícola, ficando acargo da ANP coordenar o setor. Desta for-ma, sinalizou a necessidade de se cons-truir uma estratégia para assegurar ocontrole estatal na área de produção deagroenergia. Da produção de álcool com-bustível, a Petrobrás participa apenas com5% do mercado.

A crise econômica de 2008 não teveum efeito desastroso para a economia ge-ral do país como se alardeou mas provo-cou uma crise artificial no setorsucroalcooleiro, orquestrada portransnacionais que passaram a compraras usinas do setor, num cenário deaprofundamento da concentração da eco-nomia mundial, nas mãos de poucas em-presas. Para se ter uma idéia, os maioresBancos do mundo como o Bank of America,JP Morgan Chase, Citygroup e WellsFargo são vinculados a petroleiras ExxonMobil, Royal Dutch/Shell, BP ChevronTexaco que estão adquirindo usinas de ál-cool e açúcar no Brasil recentemente. AShell passou a controlar um dos maioresconglomerados sucro-alcooleiros, aCosan, numa clara ação dedesnacionalização do setor.

O crescimento econômico do Brasil ea inclusão de milhares de pessoas a me-lhores condições de vida não pode levar ogoverno da Presidenta Dilma a sedesprover de uma concepção de defesa dasoberania nacional dos setores estratégi-cos. Desta forma, reiteramos a propostada criação da Empresa Brasileira deAgroenergia (EBA) que teria a função decoordenar o setor sob controle do estadobrasileiro, papel que não está sendo cum-prido pela “Petrobrás Biocombustível”. Agrande mídia seguramente vai alardear,pois está a serviço das transnacionais, maseste é o único caminho para assegurar umdesenvolvimento baseado em fundamentoseconômicos sólidos.

Os movimentos dos agricultores fami-liares do campo e os partidos de esquerdaem geral foram tímidos na defesa do setore na defesa de um modelo que incorporas-se a agricultura familiar na produção daagroenergia, através da construção demicro-destilarias. É preciso retomar estedebate, com urgência. Atualmente, cincoempresas produzem 50% do etanol no Bra-sil: a anglo-holandesa Raizen (Shell/Cosan), a francesa Louis Dreyfus, a nor-te-americana Bunge, a francesa Tereos ea ETH, do grupo Odebrecht. Além disso,tem a norte-americana Adecoagro, deGeorge Soros; a CNAA, comprada pelapretroleira inglesa British Petroleum; aEquipav e Vale do Ivaí, adquiridas pela in-diana Shree; a Rio Vermelho, empalmadapela suíça Glencore. Ou seja, adesnacionalização da economia é a causapara o aumento do preço do etanol. Por isso,se faz necessário o aumento da participa-ção do Estado, para que tenhamos sobera-nia neste setor. Depois que astransnacionais controlarem a produção doálcool combustível, irão abrir os seus mer-cados no exterior, nos impor preços e con-dições de venda, como já acontece com ospreços, a comercialização e exportação dascommodities de grãos, dos fertilizantes,de máquinas e equipamentos agrícolas.

Diante da crise dos paíseshegemônicos, o governo Dilma conta comuma correlação de forças ímpar para as-segurar o controle estatal sob um dos maisimportantes setores da economia brasilei-ra e mundial. Não há que deixar passar otempo e a oportunidade antes que nos tor-nemos irreversivelmente uma colônia.

Leia no www.patrialatina.com.br

OTAN bombardeia TV estatal da Líbia

O bombardeio da TV Líbia, dan-do continuidade aoscriminosos bombardeios da

OTAN contra o país, atingindo jáalvos civis, residências familiares,hospitais, pontes, estradas e es-tações de energia, merecem o maisenérgico repúdio de toda humani-dade, sendo inadmissível que go-vernos progressistas não se unampara exigir a condenação dos lí-deres imperialistas por crime deguerra. Toda a Convenção deHaia vem sendo diuturnamente vi-olentada. Isto é crime de guerra!

É fundamental que o governo

Dilma encabece iniciativas nestesentido, com apoio dos partidos,das Centrais sindicais e dos movi-mentos sociais, o MST, a UNE.Qualquer país que tem petróleo eriquezas minerais, e uma políticasoberana, pode ser o próximo alvo,como o Brasil, ou a Argentina, quejá foi alvo de neocolonialismo naGuerra das Malvinas. Diante des-tes crimes, revela-se o equívocodo Itamaraty votar contra o Irã notema dos direitos humanos, usan-do-o como baliza de sua políticaexterna. E agora, com esta carnifi-cina imperialista da OTAN, por quenão exigir mais além da suspen-são dos bombardeios à Líbia, aabertura de um processo contraestes dirigentes como Obama,Sarkozy, Cameron, Zapatero, –que estão usando munição de urâ-nio empobrecido na Líbia – e suacondenação por Crimes de Guer-ra?

Há uma sintonia fina e perver-sa entre este bombardeio à TVLíbia, o terrorista de Oslo e osbombardeios contra Iraque,Afeganistão e Líbia, e também osmassacres de Shabla e Shatillacontra palestinos. Cada piloto é umAnders Breivick! O massacre rea-lizado por esse “killer” norueguêsnão é produto de uma mente lou-ca, mas de uma ação da Otan. Sãoos “exércitos secretos” da Otan,como foram a Gladio e a P2 da Itá-lia, que saem à luz publicamente.Ações desse tipo já foram anunci-adas na reunião de Cúpula daOtan em Lisboa, onde o tal do“novo conceito estratégico” anun-ciava o perigo do terrorismo “in-terno” nos países membros daOtan. Este massacre é para ad-vertir os chefes dos partidos soci-alistas que tem força no parlamen-to e em vários governos europeuspara que se mantenham firmescontra a Líbia e intimidem estesmovimentos sociais críticos quecomeçaram na Espanha e se alas-tram pela Europa. E todo este cri-me recebe uma cobertura midiáticaque vai da Al-Jazeera à BBC, to-dos defendendo os “bombardeioshumanitários”... É urgente que aTV Brasil divulgue o trabalho feitopela Telesur, única TV internacio-nal que transmite a partir de Trí-poli. Isto sim, seria parte de umaaplicação coerente dos direitoshumanos em política externa.

O bombardeio da TV Líbiae os crimes de guerra da

OTAN

Leia mais sobre a Líbia no jornal“Revolução Socialista”, no. 29(Março 2011) ou no site:www.revolucaosocialista.com

Página 6 Julho 2011RevoluçãoSocialista

As estatizações, os direitosdemocráticos, a função dos

sindicatos e o progressorevolucionário no Peru

26 de novembro de 1973J. Posadas

A vitória eleitoral de Humala Ollanta reforça as possibilidades de reto-mar o processo nacionalista revolucionário dos anos 70 no Peru, da “Revo-lução Inca”, promovido pela corrente do general Velasco Alvarado e inter-rompido por sucessivos governos neo-liberais dos últimos 30 anos (desde ogolpe de Morales Bermudez, a Fujimori, Toledo e Alan Garcia). Apesar detoda a pressão contrária, e da campanha midiática desonesta a favor dafilha de Fujimori, apoiada abertamente pela BBC de Londres, o povo peru-ano mostrou que, quando há uma proposta que une as forças sociais, suaconsciência se manifesta, recuperando o que está na memória social, e reve-lando, uma vez mais, o papel das correntes militares progressistas. No con-texto atual do fracasso global e sistêmico do capitalismo que tem levado aosurgimento de governos progressistas na América Latina, desde a Venezuela,Equador, Bolívia, Argentina, Uruguai, Brasil, Nicarágua e os países da ALBA,o triunfo de Humala amplia o cordão unificador dos países soberanos epovos da região contra o imperialismo. De fato, o seu governo já inicioubem, presidindo a recente reunião de emergência de UNASUR em Lima,diante da crise econômica mundial, onde predominou a linha de não aceita-ção de que o FMI e os EUA descarreguem sua crise sobre as economias dosnovos países insurgentes da América Latina e, que medidas como uma novamoeda, o “sucre” e a implementação do Banco do Sul, estão na ordem dodia.

Humala Ollanta, declarou no dia da sua posse tres decisões importantes:um imposto sobre as mineradoras; o pagamento de uma aposentadoria paratodos os idosos (uma espécie de “bolsa família” ou de Funrural dos milita-res); e o não reconhecimento da Constituição de Fujimori.

Oportunamente, estamos republicando o artigo de J. Posadas que deu adevida importância a processos militares nacionalistas de então, como JuanTorres na Bolívia e Torrijos no Panamá, bem como ao governo de Alvaradoque nacionalizou o petróleo, a indústria da pesca, criou organismos demobilização popular como a SINAMOS, estabeleceu relações com váriospaíses socialistas de então. A contribuição essencial deste texto se refere àsmedidas necessárias para fazer avançar governos nacionalistas a estruturassociais de Estado revolucionário e poder popular para impedir golpes eavançar rumo a transformações socialistas.

Este artigo foi traduzido e extraído do livro “América Latina: do Nacio-nalismo Revolucionário ao Socialismo”, de J. Posadas, publicado em Co-edição entre a Edição Ciência Cultura e Política (Brasil) e a Editora “Perroy La Rana” do Governo Bolivariano da Venezuela. Por questão de espaço, otexto não vai na íntegra nesta edição. Leia-o na versão completa no site:wwwrevolucaosocialista.com

No Peru, o governo quer avançar im-pulsionando a propriedade social,que é um dos pontos mais difíceis

para a direção nacionalista; está buscan-do formas para o desenvolvimento da eco-nomia, afirmando o movimento operário eimpedindo o reforço, a extensão, a repro-dução da burguesia como classe.

É preciso promover um debate sobreos problemas da propriedade privada, dacomunidade industrial, da propriedadesocial e a propriedade estatal, a função e

importância histórica dessas formas de pro-priedade e os seus resultados concretosna história. Tanto a comunidade industrial,como a propriedade social, são veículosmuito débeis para o desenvolvimento daeconomia (1). O problema consiste na ca-pacidade de produzir, de desenvolver, deassociar a população à produção e à renta-bilidade para o desenvolvimento conjuntoda economia, e não somente para a empre-sa. A rentabilidade não pode ser medida emfunção de uma empresa ou outra, pois cadauma tem seu interesse privado. A rentabili-

dade para ela se baseia no seu bom funcio-namento, a custas dos demais. Desta for-ma se desenvolve o interesse de um ououtro, numa espécie de autogestãominimizada.

As formas de propriedade são funda-mentais para a produção. A comunidadeindustrial, mesmo com a intervenção dosoperários, não é uma saída. Os operáriospodem melhorar a produção dessa fábrica,impedir o roubo e o desperdício. O custode produção será um pouco inferior a an-tes, mas de todas as maneiras terá que com-petir com os demais. Desta forma, a apro-priação se reduz ao interesse dessa fábri-ca, sem lhes importar como vão as outras,nem como se coordena a matéria prima, avenda, o uso, a acumulação do capital, arentabilidade em todo o país, a não ser o daprópria empresa. Portanto, há um desper-dício geral e uma falta de acumulação sufi-ciente, porque cada empresa faz o que qui-ser, cada uma vai querer tirar o maior pro-veito à custas dos demais; cada fábrica de-terminará em função do seu lucro, e o pre-ço e a matéria prima, às custas da popula-ção e dos setores menos pagos da fábrica.

A planificação da produção não servepara realizar a equidade e a igualdade, masé a forma necessária para que avance a pro-dução geral de todo o país. O Peru é umpaís que precisa competir no mundo; nãotem a força para desenvolver uma econo-mia que abasteça a população. Para isto, énecessária a planificação e a estatização daeconomia. A planificação se faz de acordoà capacidade, à necessidade, a força quetem o país e, consequentemente, não à acu-mulação de uma ou outra fábrica onde cadaum trabalha sem lhe importar o outro.

O problema geral a resolver é: quê for-ma de propriedade é necessária para cons-truir um grande Peru que produza para todaa população. O Peru é um país essencial-mente camponês e com um mercado con-sumidor muito estreito. Para criar um gran-de mercado consumidor, necessita-se deuma grande produção industrial. Mas, opaís não tem o tempo para realizar, nem osmeios e as condições através desta forma

atual de propriedade. Mas, se fizer a expro-priação e a estatização, tendo o Estado todonas suas mãos, será possível planificar aprodução. Se a propriedade social se elevarumo à planificação, então já estaremos fa-lando de propriedade estatizada. Nestecaso, não se trata somente do interesse deuma ou outra fábrica; não será mais o pes-soal ou os administradores de fábrica osque decidirão, mas o Estado na forma cen-tralizada.

É preciso referir-se às experiências dosEstados operários, mesmo com todos osseus erros e com a falta de democracia so-viética proveniente da era “staliniana”. AChina passou, em 25 anos de propriedadeestatizada, de um país oprimido pela fome,pela seca e inundações, matanças e misé-ria, a exportar máquinas e energia atômica.A União Soviética, em 65 anos, passou deser o país mais atrasado da Europa capita-lista, ao país mais adiantado do mundo de-pois dos EUA e em muitos aspectos supe-rior. Apesar de erros e limitações devido àanulação da democracia soviética, e de to-dos os erros cometidos na época de Stalin,que a propriedade estatizada, a planifica-ção da produção levou adiante semelhanteprogresso. O que é preciso melhorar nosEstados operários é a planificação e a in-tervenção democrática das massas.

A estatização, a planificação da econo-mia e a intervenção democrática das mas-sas são os três elementos insubstituíveisdo progresso da população. Inclui-se ademocracia soviética, ou seja, o direito àliberdade de discutir publicamente todosos problemas, inclusive, a diferença de sa-lários, a limitação que a diferenciação re-presenta. Isto cria na população o senti-mento de justiça, de compreensão, de re-solução coletiva que é a forma mais com-pleta da chamada comunidade. Caso con-trário, sempre existirá a diferenciação inte-rior entre o operário que recebe menos e o

Humala Ollanta, novo presidente do Peru

Juan Velasco Alvarado

Página 7Julho 2011 RevoluçãoSocialista

administrador ou o planificador que têminteresse em produzir de maneira a ganharmais. Em geral, o operário não tem esse in-teresse, mas não decide. Então, os que pla-nificam, os que determinam a vida da fábri-ca, farão tudo para conseguir o melhor re-sultado: a forma de produzir, o quê produ-zir, a forma de vender, a materialização dopreço, tudo de acordo ao que lhes convém.As massas não podem intervir porque nãotêm a possibilidade de pesar e decidir.

É essencial que o exército intervenhacomo parte de todo este processo, subme-tido a esta forma; não imediatamente por-que o exército tem uma ala reacionária quese prepara para dar um golpe, mas é preci-so estimular os sindicatos camponeses eoperários a influí-lo com este objetivo. Opoder deve estar em mãos da população,seja através do governo, dos órgãos quesustentam o governo, para que exerça afunção de controle para impedir atentados,sabotagens ou oposição a estes planos dedesenvolvimento da economia coletiva.

Todos os países que se desenvolvemdevem encarar, inevitavelmente, aestatização dos setores estratégicos daeconomia e a planificação da produção;desenvolver a produção com planificadoresou com gerentes, conduz a que estes le-vem uma parte da produção e planifiquemde acordo com seu próprio critério e usu-fruto privado. Para impedir isso, é precisoimpulsionar a população a que intervenhae construa um partido de massas.

É preciso organizar uma intensa ativi-dade cultural e revolucionária junto aoscamponeses, aos operários e estudantes,levando este programa e enfrentando to-das estas alas reacionárias do APRA (2)que estão preparando um golpe contra ogoverno, fazendo greves como as que fize-ram no Chile de Allende, como esta greveda SUTEP (3) que é uma greve reacionária.Apesar de pedir reivindicações atendíveis,como um aumento salarial, a finalidade damesma é contra-revolucionária. É uma es-cusa para golpear o governo.

Chamamos o governo peruano a queresponda a esta necessidade e que dê aplena democracia aos operários das fábri-cas, das minas, e aos camponeses. Que fa-çam comícios e que dêem sua opinião complena democracia sindical. Se o governonão fez isso ainda é porque não se sentecom a força e porque seu programa é limita-do. Isto conduzirá a encerrar e a limitar odesenvolvimento da economia.

A democracia sindical é um fator fun-damental para o desenvolvimento da eco-nomia. Caso contrário, o deixam em mãosdos técnicos, dos gerentes que, de todamaneira, confiam na propriedade privada.Com a sua capacidade individual, à custados operários que são os que produzem,eles tiram maior proveito para a proprieda-de privada. Pelo contrário, sob o controle

operário, desenvolvendo técnicos e enge-nheiros, com a mesma capacidade, mesmosem títulos, se atua com o interesse nacio-nal e não em benefício pessoal.

Os operários e os camponeses devemconcretizar esta tarefa; desenvolver muitomais a coletivização da agricultura, passan-do da comunidade agrária à coletivizaçãoda produção. Se não há meios técnicos, aplanificação se reduz e é lentíssima. Mas,mesmo sem uma coletivização geral, po-dem-se fazer algumas experiências impor-tantes acompanhadas de cooperativas. Istodeve ser apoiado por uma vasta atividadede planificação educacional, de distribui-ção mais eqüitativa, de participação dasmulheres e das crianças, realizando planosde trabalho; mesmo com meios técnicosescassos ou falta de maquinários é precisodesenvolver estes planos. Pode-se realizarexperiências de comunas, como na China,nas quais se organize as forças dispersasdas zonas camponeses em territórioscomunais, com plena democracia soviéticapara discutir todos os problemas e planifi-car a produção.

Tudo isto requer organizar um partido,uma direção, ter programa e objetivo paraestas conclusões. Indubitavelmente, o go-verno e todos os setores militares não po-dem ter confiança neste processo, mas nãoo rechaçam. Eles têm demonstrado com-preensão e realizado progressos. Uma dasresoluções desta equipe de militares é avan-çar na economia. Eles são conscientes;declararam e demonstraram que o capita-lismo não pode desenvolver a economia ebuscam de forma cada vez maior o apoiodos Estados operários.

É preciso ajudar a esta equipe militar aalcançar esta compreensão. Isto requer or-ganizar as massas, as equipes de operári-os, camponeses e estudante em organis-mos políticos de discussão e planificação.Estes militares não têm experiência e sen-tem que podem ser superados; junto comum progresso muito grande, eles demons-tram certo temor, cautela, desconfiança;

temem a direita do exército que está espe-rando para dar o golpe e levantar-se. Por-tanto, é essencial mostrar que é precisomobilizar a população, não somente atra-vés da agitação política, mas expropriandoas fontes de poder da burguesia. Expropri-ar a terra, o comércio, a imprensa! Expropriá-los! Esse é o caminho para avançar. O capi-talismo vai cair encima, mas também vaisurgir o apoio. No Chile, o imperialismopôde golpear porque não se expropriou.Mas, o fato que demorou tanto para isso,indicou que não estava seguro. O apoiovirá da Argentina para reanimar o Chile; etambém da Colômbia, do Equador, daVenezuela, do México e do Panamá. A situ-ação do Panamá é formidável. É um peque-no país, que vive submetido, atrelado aoimperialismo, e mesmo assim, se anima aacusar, ameaçar e a chamar a lutar contraele. Esta equipe de militares, de civis nacio-nalistas revolucionários no Panamá tem taldecisão porque é um reflexo da revoluçãomundial. O Panamá não tem a possibilida-de de estender-se por suas próprias for-ças. O que lá ocorre é um movimento popu-lar apoiado nos sindicatos, universitáriose camponeses. Ajudar o Panamá é desen-volver a revolução no Peru. É preciso ajudá-lo econômica, política e militarmente e, aomesmo tempo, fazer com que no Panamá seorganize um movimento revolucionário queleve adiante as tarefas das estatizações,expropriações e expulsão do imperialismo.Tudo isso acompanhado pela luta revolu-cionária na América Latina e no resto domundo.

A função insubstituível dossindicatos no Peru

O movimento operário se move sempreem função do interesse social, não da pro-priedade ou das novas formas de proprie-dade. Por isso a autogestão na Iugoslaviafracassou. Todas as tentativas deautogestão terão o mesmo fim. Aautogestão na Iugoslavia resultou nadescentralização, no enriquecimento pode-roso de camadas que se vincularam com o

imperialismo e que tentaram esmagar o Es-tado operário iugoslavo. Mas, sua estrutu-ra econômica foi mais poderosa que todosos erros e os superou, liquidou a todos osque estavam contra a propriedade centrali-zada, estatizada e planificada e agora se estáreanimando.

Os sindicatos têm um papel essencialcom sua intervenção porque objetivamen-te buscam o desenvolvimento da produ-ção, da sociedade; não têm interessesindividualis. Os operários de Cerro dePasco no Peru disseram: “se estatizam asminas, trabalhamos doze horas por dia”;enquanto que a patronal de Cerro de Pascolhes reivindicavam seis horas de trabalho.Os camponeses também disseram: “se épara o desenvolvimento do Peru, estamosdispostos a trabalhar; mas, se é para a oli-garquia, no”. Os operários demonstram quenão têm interesse de casta e de classe opos-to à necessidade do desenvolvimento dopaís. O interesse dos operários coincide, éharmônico com o interesse do desenvolvi-mento do país.

É preciso desenvolver o movimentosindical e pedir democracia sindical paratodos: discutir, falar, resolver e fazer as de-mandas e reivindicações necessárias. Dis-cutir com o governo aquelas que devemser limitadas e as que não. Por exemplo, osoperários de Cerro de Pasco estão dispos-tos a limitar suas reivindicações se o go-verno nacionaliza a empresa.

É preciso chamar a criar um movimentoque contemple o desenvolvimento, os di-reitos democráticos e conter os pedidosparticulares de aumentos de salários. Ossindicatos também querem desenvolver oPeru e acompanhar esta experiência. Pos-teriormente, é preciso colocar todas as rei-vindicações. Estas reivindicações de cate-gorias (como a dos professores) não sãototalmente indispensáveis, dada a situaçãoatual do Peru e a dos setores mais necessi-tados da população.

É preciso mostrar aos professores queo que eles reivindicam é justo, mas que, seeles quiserem conquistar com todo custo,fazem uma mobilização que favorece aoimperialismo. É preciso manter as reivindi-cações imprescindíveis, mas ter em conta,ao mesmo tempo, a situação existente noPeru de modo a fazer uma frente com o go-verno a fim de avançar. Há que dizer: re-nunciamos aos nossos pedidos particula-res se vocês nacionalizam as minas de Cer-ro de Pasco sem indenização. Renunciamosa nossas reivindicações se vocêscoletivizam as terras. Isso não significa re-nunciar à luta de classes, nem ao interessede classe, mas por o interesse de classe aserviço do processo revolucionário.

É preciso dirigir-se persuasivamente aogoverno, para apoiá-lo na resistência con-tra o imperialismo, manifestar-se no rechaçoao imperialismo e o apoio à política nacio-nalista; chamar a expropriar tudo o que res-

Povo peruanocomemora otriunfo de HumalaOllanta e se juntaàs fileiras da lutapela soberaniados povos daAmérica Latina

Página 8 Julho 2011RevoluçãoSocialista

A valentia donosso Chávez eo alerta contra

o império (*)

Não é comum ver o comandanteChávez ler uma mensagem,dado que estamos acostumados

a ouvi-lo improvisar longos discursos ouconversações. Por isso, nesta hora fa-tídica, vendo-o ler quase um relatóriomédico que fala sobre a sua saúde, coma mesma coragem daquele glorioso 4de fevereiro de 1992, do “Por enquan-to!” (1) e corajosamente assumir a res-ponsabilidade pelo levante, como nosdias sombrios de 11 e 12 de Abril de2002, seqüestrado pelos militares fas-cistas, reduzido, e, com a astúcia deuma raposa, consegue enviar uma men-sagem ao seu povo, mudando assim ocurso dos acontecimentos, e às 47 ho-ras retomando o poder graças à açãodo povo/exército.

Hoje, o vemos com a mesma valen-tia, a face triste, um pouco magro, masde pé, forte, otimista e transmitindo afé ao povo e exortando-nos a continuara luta pelo socialismo. Como este lídercresce na adversidade! Que líder dequilates tão altos que nós, osvenezuelanos, nos damos ao luxo deter! Que outra fé o levanta, senão o amora seu povo e à revolução bolivariana, eà certeza de que a mudança social éprofunda?

Ninguém contava com isso, nem opróprio Chávez que hoje assume publi-camente que cometeu erros importan-tes com a sua própria saúde. Ele, nasua paixão incomensurável com a revo-lução, ultrapassou sua força física, comuma atividade fora do normal, um ho-mem-vendaval, que quer que tudo sejafeito rapidamente e bem; mas sacrifi-cou sua saúde, e talvez essa desco-berta inesperada de uma doença na re-gião pélvica, que felizmente foi detecta-da e extirpada pela magnífica medicinae ciência cubana, o obrigue a mudar osritmos da sua atividade, considerandoque ainda tem um ano e meio de gover-no e que 2012 é um ano eleitoral e nes-sa jornada em que a revoluçãobolivariana e socialista aposta a suasorte e o seu destino, ele deve estarem ótimas condições para a vitória es-magadora que obteremos, e a sua ree-leição será uma garantia fundamentalpara a continuidade revolucionária.

Há vários casos recentes na Améri-ca Latina de presidentes acometidospor doenças graves como a que hojeafeta o presidente Hugo Chávez: a

presidenta do Brasil, Dilma Rousseff,que sofria de câncer linfático; o presi-dente do Paraguai, Fernando Lugo, quetambém teve câncer linfático. Todos su-peraram seus males e estão dirigindoseus povos. Ao que tudo indica, a doChávez é menos grave.

Mas tão esmagadora revelação quechocou todo um povo, não nos pode aba-ter e fazer-nos descuidar diante das as-tutas ciladas do vil e voraz imperialis-mo norte-americano e seus lacaios cri-oulos. Sabemos quão maus e canalhassão, e que vão tentar confundir e explo-rar esta circunstância. É preciso pre-parar-se para enfrentar a conspiraçãode Obama, do fascismo e do neo-fas-cismo crioulo que começará com o pú-trido esgoto da Globo Terror, da UniãoRádio, do jornal El Nazional e o do Uni-versal e toda a sem-vergonhice dosmeios nacionais e internacionais, que,sem dúvida, vão tentar tirar proveito dasituação política e tentarãodesestabilizar. É preciso impedir isso;impor a lei “Resorte” (Lei de Responsa-bilidade Social) para os canais de tele-visão, fazer com que a cumpram, e sea violam, fechá-los !

É preciso ocupar as ruas! Não ce-der os espaços, nem permitir que a di-reita e a extrema direita externem suasasquerosas garras golpistas. Se a di-reita armar provocações, a força do povona rua deve derrubá-la! Unir-nos mais,fortalecer a revolução, os movimentossociais, os partidos de esquerda! Unire afinar o Exército e ativar as MilíciasPopulares! É preciso preparar-se paratudo e colocar a mão firme frente à con-tra-revolução. Não deixar que passemprovocações, nem que deixar que seagrupem forças para lançar e destruir arevolução.

É hora que saia à arena a liderançaque foi forjada com a revolução, os ho-mens e mulheres que se têm forjado nocalor destes 12 anos de luta revolucio-nária e a legião de revolucionários quesempre lutaram na frente de uma es-querda que nunca vacilou: o PSUV, oPCV, o PRT, o MEP e a legião de orga-nizações operárias, camponesas e es-tudantis.

O tempo é primordial, único e, comopovo e como vanguarda revolucionáriahá que marchar como um único povo,continuar a obra de Chávez e da revolu-ção.

Caracas, 30/06/2011Humberto Gómez García

[email protected]

(*) Artigo extraído da Revista Caracola(Venezuela)

(1) “Por ahora” é uma frase que foi utilizadapelo comandante Chávez, nessa data,durante o levante militar. Frase enigmáticaque escondia ações de futuras lutas e otriunfo revolucionário como ocorreu em1998, ou seja, após 6 anos.

ta da oligarquia, seja na imprensa, as ter-ras, as fábricas. As mobilizações sindicaisdevem se apoiar nestas bases. Há que con-denar todo movimento que sirva à prepara-ção da contra-revolução como ocorreu noChile com os motoristas de caminhão, e terconsciência de que o imperialismo está àespera de dar um golpe.

Por sua vez, o governo nacionalista nãopode pedir aos operários, estudantes e pro-fessores que deixem de reivindicar quandose pode satisfazê-los. É necessário cons-truir a direção e o partido para ordenar asreivindicações, sem ceder ao inimigo declasse, apoiando o governo nacionalistapara que avance nas medidasantiimperialistas, enquanto se constrói opartido operário baseado nos sindicatos.

O governo deve reduzir a dependênciaaos técnicos e aos engenheiros. Diante daameaça da penúria de técnicos é precisoformar rapidamente novos profissionais,acudindo aos Estados operários para quecolaborem na sua formação; enviar equi-pes de operários para a formação técnica eaprender na marcha; realizar cursos e estu-dos nos sindicatos para discutir a técnica,a planificação, a administração; que se rea-lizem escolas e programas de educaçãoonde se estude, desde a escola primária àuniversidade, a necessidade da planifica-ção para desenvolver o Peru contra a oli-garquia, contra o imperialismo, contra oslatifundiários que são um impedimento aoprogresso.

A crise atual do sistema deixa claro quenenhum Estado capitalista e, muito menosum capitalismo tão atrasado como a Améri-ca Latina, pode sair da miséria e competircom os grandes países desenvolvidos; ex-cepcionalmente algumas camadas podemenriquecer-se, mas o país, não. Portanto, épreciso buscar as formas de produção e depropriedade que permitam superar o atra-so: propriedade estatizada e produção pla-nificada.

Eis é uma medida que devem tomar osgovernos do Peru e do Equador: o mono-pólio do comércio exterior. O lucro vai parao Estado e este pode reinvestir no desen-volvimento da economia do país, melho-rando as condições de vida da população;pode determinar onde investir, debilitandoa propriedade da oligarquia. Esta incorrerána sabotagem e na contra-revolução, e en-

contrará sempre no APRA a tendência paraisso. Mas a base da APRA pode ser ga-nhar. Para isso, os setores que estão dis-postos a avançar na revolução devem apli-car medidas contra a propriedade privada.

É preciso chamar o exército a intervir eque os soldados intervenham nesta forma,realizando cursos sobre todos estes temas.Tanto o soldado como o general, deve rea-lizar esta tarefa: desenvolver o Peru paratodos os peruanos, e não para um peque-no grupo seleto. Todos os peruanos sãopartes da América Latina e do mundo. Háque tomar medidas dentro do exército, in-troduzir os direitos sindicais, civis e os di-reitos políticos. Não se deixa de ser cida-dão ao trabalhar no exército. Da mesma for-ma como não perde seus direitos quandovai ao trabalho ou ao colégio. Porque osperderia ao entrar no exército? É precisomanter os direitos políticos e sindicais. Issoaumentará o peso das alas, dentro do exér-cito, que apoiarão as medidas revolucioná-rias do governo, chocando contra a estru-tura, sem afetar absolutamente a funçãomilitar.

Dilma na posse do presidente Humala Ollanta

A função do militar não está determina-da pela rigidez da disciplina, mas pelo obje-tivo que sustenta. Os melhores exércitosdo mundo são aqueles que mostraram quedefendem o progresso da sociedade: o exér-cito soviético, o chinês e o cubano. Asmassas cubanas derrotaram a invasão dePlaya Girón. O exército vermelho derrotouo imperialismo nazista em Stalingrado. Oschineses derrotaram Chang Kai Chek e oimperialismo mundial. O povo coreano, semnada, venceu contra a Coréia do Sul, queatuava em nome do imperialismo ianque ederrotaram a Mac Arthur. São exemplos paranão esquecer. Os vietnamitas derrotaram oimperialismo ianque, com o apoio militarsoviético e das massas do mundo que nãointervêm pessoalmente nas lutas militares,mas nas lutas sociais contra o imperialis-mo, impedindo que este interviesse comoclasse no Vietnã. São exemplos nos quaisdevem se apoiar os dirigentes revolucio-nários dos exércitos e governos naciona-listas do Peru e do Equador.

(1)Lei de Empresas de Propriedade Socialque (criada pelo governo nacionalista dogeneral Velasco Alvarado em 2 de maiode 1974)

(2)APRA; Aliança Popular RevolucionariaAmericana, partido burguês conservador

(3)SUTEP: Sindicato Unitário de Trabalhado-res na Educação do Peru.

Humala Ollanta visita e se solidariza comHugo Chávez

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Página 9Julho 2011 RevoluçãoSocialista

A situação no Irã está fugindo docontrole de Khamenei e continuana direção de um golpe sui generis,

sutil, gradual, mas em todos os campos,todos! A questão é que prenderam mem-bros mais próximos de Ahmadinejad; jádesde ontem, houve uma segunda ondade prisões, ao mesmo tempo em que não éclaro ainda o que ocorreu com a primeiraonda. Não se divulga nenhum nome dospresos, mas tudo indica que EsfandiarRahim Mashaeie, o vice de Ahmadinejadno Gabinete da Presidência é um deles. OParlamento e o Judiciário promovem ata-ques e, como que querendo definir a situa-ção, buscam eliminar Ahmadinejad atravésde um “impeachment”. Não se trata maisde uma pura luta interior, política e de clas-se. É algo mais. É o golpe de órgãos deEstado contra órgãos do Estado. A contra-revolução não pode dar nenhum golpe cru-ento, porque tem que reprimir a reação es-pontânea da população, dos milicianosorganizados e também parte importante doPasdarán (Guardiões da revolução). Issonão é possível, mas o que realmente ocor-re é um golpe palaciano, do parlamento quehá pouco denunciou o governo para a ma-gistratura em um ataque cruzado, entre bi-gorna e martelo, pelo fato de não haverobedecido, nem feito, nem aplicado a tem-po, decisões do parlamento.

Há 3 anos, nas últimas eleiçõeslegislativas, a maioria do atual parlamentolançou falsamente sua candidatura como“fundamentalistas”, apoiando a Khamenei,abusando de falta de partidos, organiza-ções e programa. Na realidade, eles repre-sentam as cúpulas das máfias dos podereslocais. Que fizeram então? Viraram a casa-ca ao entrar no parlamento, colaborandocom a minoria neoliberal defendida por AliLarijani, presidente do parlamento. No par-lamento, constituído por 290 delegados,mais ou menos 80 são liberais, 80 estãoausentes e representam dirigentes de em-presas privadas, e somente 50 são os quesustentam o gabinete do executivo.

Todo o Quinto Programa Quinqüenal eo seu balanço financeiro foram radicalmentemodificados na sua natureza, o que o par-lamento não pode fazer, transformando odecreto governamental em sua própria lei,demorando tanto, antes de ser aprovadopara prolongar o Quarto Programa liberal

de Khatami por mais um ano; isso foi apro-vado em plenária do parlamento, atandomãos e pés ao Executivo e ocultando estamanobra, contra os protestos de Khameneie do governo após ataque como os de su-postos roubos de bilhões de dólares porparte do governo. O parlamento impõe seupoder por cima de todos, e quer que o go-verno seja somente um executor. Isso é umatransgressão da Constituição da Repúbli-ca Presidencial

O eficiente Ministro das Comunicações,Behbehani, foi deposto pela maioria do par-lamento no ano passado, na sua ausência,sem poder defender-se. Ele estava por de-nunciar os empresários privados que nãoestavam regulares, ou que construíram coi-sas desastrosas para golpear Ahmadinejaddurante as eleições presidenciais de doisanos atrás. São verdadeiros sabotadores.Agora, conseguiram suficientes firmas paradiscutir a demissão de Najjar, o Ministrodo Interior, de origem militar que foi Minis-tro da Defesa no precedente governo deAhmadinejad. Ele também é de uma grandeeficiência. Tudo isso é uma provocaçãocontra s próximas eleições do parlamentode 4 de março próximo.

No campo da política exterior, a ques-tão da Líbia interrompeu as relações entrea República Islâmica do Irã e a dos aliadosantiimperialistas como a Venezuela e os de-mais países da ALBA e Brasil, enquantoque a Turquia mudou sua posição contra aSíria (pouco depois, a Turquia mudou no-vamente a favor da Síria, mas no final, re-conhece oficialmente o fantasmagóricoConselho transitório nacional líbio. Esteponto é importante de se destacar porqueHashemi Rfasanjani fez uma declaração hátempo a favor dos tumultos na Síria e hápoucos dias, Ali Larijani, presidente doparlamento, esteve na República deAzerbaijan propondo uma reunião parauma colaboração estreita entre o Irã,Azerbaijan e Turquia. É preciso recordarque a Otan moveu seu comando de forçasde terra na Turquia e Azerbaijan é um alia-do e serve de ponte da Otan, entre os dabacia do mar Caspio, o que permite acessoao foco da crise com a questão deQarabakh, a zona de conflito com aArmênia. Larijani apoiou a “integridadeterritorial” de Azerbaijan; enquanto isso,Ahmadinejad teve que interromper a sua

viagem à Armênia e não se sabe do que setratava.

A Armênia é mais próxima ao Irã e commuito mais relações estratégicas que comAzerbaijan. Estas manobras de Ali Larijanisignificam meter gasolina no fogo. Isso éreforçar a Otan na zona e pressionar a Tur-quia nesta direção. Isto é parte de um pla-no contra-revolucionário e uma provoca-ção contra a Rússia e Bielorussia; é umaincitação aos nacionalismos, como fez opresidente neo-liberal anterior, MohammedKhatami. O Irã importa muita eletricidadedesde a Armênia e exporta muito gás paraesta república. A política de Ahmadinejadfoi sempre de ser útil e de ajudar a buscaracordos entre os dois. Um dos presos, pró-ximo a Mashaeie e Ahmadinejad foi o res-ponsável da Zona Franca de Jolfa noAzerbaijan iraniano que une na parte sul asrepúblicas do Azerbaijan, da Armênia e daautônoma Nakhijavan.

os, anti-comunistas e anti-socialistas. Aíestá o rancor, o ódio e a concorrência ego-ísta dos setores clericais ortodoxosislâmicos, que antes e durante a presidên-cia de Rafsanjani apoiaram à Otan na guer-ra contra a Iugoslávia e, durante o governode Khatami, na guerra do Afeganistão, eagora contra a Jamahiria popular líbia, ali-nhando-se à Otan.

É preciso recordar-se do que era a Re-pública Islâmica do Irã antes da chegadade Ahmadinejad. O paraíso fiscal dos di-nheiros sujos, dos capitais sem impostos,dos Ayatolás milionários, com as o dinhei-ro especulativo diretamente do Banco Cen-tral aos Bancos de Dubai e do mundo. Coma moeda exterior de petrodólares exposta àchantagem dos bancos imperialistas. Umariqueza e uma acumulação tremenda de ca-pital financeiro especulativo e de renda, detransações com os vizinhos, no GolfoPérsico, sobretudo com os Emirados Ára-bes unidos e empresas petroleiras e de gáscomo “Crescente” ou a de “Dick Cheney”,e o filho de Rafsanjani, Mehdi, em tudo isso,enquanto havia uma pobreza interior, compessoas entregues à própria sorte. São osmesmos que se juntaram e reacionaram parase salvar; e nisto, só podem se aliar com oimperialismo.

Rafasanjani foi visitar o Rei da ArabiaSaudita há dois anos e, Ali Larijani foi háum ano atrás visitar Husni Mubarak. Estenão saudou a vitória histórica de OllantaHumala no Peru. Isso indica que esta novavitória da frente dos países soberanos alia-dos com Chávez lhe incomoda. A magistra-tura fechou vários sites informáticos depessoas físicas e jurídicas próximas do Pre-sidente. A magistratura não condenou osespeculadores, os corruptos econômicose se lançou contra os diretores do IRNA,noticiário do governo, e condenou o presi-dente, mesmo com o jurado que votou emseu favor. O jurado protestou, mas a ordemdos tribunais se impôs. Instalou-se umaditadura jurídica e parlamentar legislativa.O parlamento muda e rechaça as diretivasdo governo, e, ao mesmo tempo, aprovaque para ser candidato às próximas elei-ções do nono parlamento, é obrigatório teruma graduação superior ao da licenciaturauniversitária: entre a licenciatura e o dou-torado.

Ahmadinejad interveio anteontem e dis-se que vai continuar no silêncio. Isso foipedido, provavelmente, por Khamenei. Po-rém, disse que se atacarem o seu gabinete,isso significará que o país e a revoluçãoestão em perigo e, portanto, ele vai se diri-gir à população!

5 de julho de 2011

(Leia o texto completo no site:www.revolucaosocialista.com)

Os desafios doprocesso

revolucionário no Irã

Sim, o parlamento condenou, em segui-da, o “ditador líbio” com a exata verborra-gia de los agressores de “quem mata a suaprópria população”, e todos os meios doIrã se opuseram à Líbia. Não se trata deeqüidistância. Ao não condenar a agres-são da Otan, ao chamar de “revolucionári-os” aos opositores, mercenários e chefes,agentes declarados do imperialismo e dochamado Conselho de Transição da Líbia,reconhecido pelos agressores; al criticar àOtan por não apoiar suficientemente oscontra-revolucionários separatistas e fazero duplo jogo “apoiando pouco aos comba-tentes”, tudo isso, demonstra que foi umplano já feito antes, junto com a mídia im-perialista.

Em geral, pode-se dizer que os fatos nospaíses árabes acentuaram o processo decrise de identidade da revolução iraniana epôs à luz o espírito dos grêmios reacionári-

Ahmedinejad disse na ONU; “Energia Nuclear para Todos!,Armas Nucleares para Ninguém!”

Página 10 Julho 2011RevoluçãoSocialista

O movimento dos “indignados” naEspanha é de uma importância fun-damental e influiu amplos setores

da sociedade. Os jovens disseram “Bas-ta!” e começaram a conectar-se por SMS,internet e organizar pequenas reuniões queforam crescendo rapidamente e que encon-traram eco em outros setores marginais ecastigados pela crise econômica, política esocial: desempregados, estudantes e pro-fissionais sem perspectivas de futuro, afe-tados pelas hipotecas e pelo negócio imo-biliário. Desta forma surgiu o movimentodos “Jovens Indignados” cuja palavra deordem era: “Sem casa! Sem trabalho! Semaposentadoria! Sem medo!”

Este movimento chamado de “Demo-cracia real já!” estendeu-se às praças maisimportantes da Espanha. Em Barcelona ins-talou-se uma assembléia na PraçaCatalunha: começou com 100 pessoas eacabou recebendo a solidariedade das As-sociações de vizinhos, movimentos soci-ais, aposentados, estudantes e donas decasa. Todo mundo, em algum momento dodia, dava uma escapada do trabalho e vi-nha participar desta experiência.

A cada dia aumentava o número deacampados, pondo à prova o amadureci-

mento do movimento que, mesmo com difi-culdades respondeu às necessidades. Or-ganizaram-se comissões de comida, limpe-za, comunicação, ecologia, atividades edebates sobre imigração, vítimas de hipo-tecas, questões internacionais, meios decomunicação. Formaram-se uma bibliotecapública, uma equipe sanitária para os acam-pados, espaços de desenho e pintura paraas crianças enquanto os pais participavamdas assembléias.

Foram convidados conferencistas so-bre a crise econômica, os cortes sociais, aAmérica Latina e as mobilizações nos paí-ses árabes. Nos debates participavam ci-dadãos com terno e gravata, queretornavam do trabalho, para escutar e par-ticipar. O movimento é seguro, decidido, eexpressa o amadurecimento do movimentooperário e do conjunto da população. Ànoite, as assembléias liam as propostas dasreuniões; em Madrid chegaram a participarde 10 mil a 30 mil pessoas, sem incidentes.Votavam e decidiam com entusiasmo as re-soluções das comissões.

Muitas frases de cunho anticapitalistacompunham os cartazes: “Se nos levaremnossos sonhos, não os deixaremos dormir.

decidir sobre o futuro, construir uma soci-edade sem privilégios. Este foi um exercí-cio de funcionamento soviético, sem aindauma participação massiva do movimentooperário, sem poder de decisão, mas dis-putando com as instituições e a estruturacapitalista.

Estes protestos não nasceram agora,mas desde maio do ano passado, quando oPartido Socialista, submetendo-se àsmultinacionais, ao Banco Central Europeue aos EUA impôs uma política de cortessociais, redução de salários e demissõesaos empregados públicos, congelamentode pensões e aprovou uma reforma traba-lhista com a cumplicidade dos grandes sin-dicatos (CCOO e UGT), que flexibilizou maisa contratação.

Esta onda de indignação foi alimentadapelo processo na América Latina e pelasrecentes mobilizações nos países árabes.Todas as praças continham uma zona cha-mada Praça Tahrir em homenagem à luta dopovo egípcio. Outro setor seautodenominava Praça Palestina ou PraçaIslandia. Por outro lado, tudo isto expressaa crítica aos Partidos tradicionais da esquer-da que abandonaram seus princípios, aossindicatos que traíram a classe operária,desmobilizando-a. O programa era contra ocapitalismo. O sistema foi pego de surpre-sa pelo duplo poder e não ousou reprimirpara não piorar. Os policiais diziam: “comovamos reprimir, se temos os mesmos pro-blemas de hipoteca, nos reduziram o salá-rio e nem chegamos ao fim do mês”. O mo-vimento de massas sempre abala até os quetêm a função de defender o sistema.

Mesmo que não se mantenha perma-nente este nível de participação, ficará naconsciência dos jovens que a ocupação daspraças forma uma disputa com os poderese a estrutura capitalista e que aí se discuti-ram as propostas e o programa para mudara sociedade. Isto será decisivo para prepa-rar as próximas lutas. Acaba de serconvocada a 10ª greve geral na Grécia con-tra o aumento dos cortes e privatizações.Houve greve geral em Portugal e mobiliza-ções importantes na Inglaterra, França eItália. O sistema vaza por todos os lados.

Se o Caracazo ganhou a Chávez e gran-de parte do exército venezuelano, abrindoo processo revolucionário no país e naAmérica Latina, se a mobilização de 2001na Argentina conduziu o governo deKirchner ao processo dirigido pela esquer-da peronista com ampla participação juve-nil, como pensar que estas mobilizações seapagarão sem deixar rastros? Isto se expres-sará brevemente e estimulará a vanguardaoperária a seguir o exemplo da juventude,passando por cima dos aparatos, das dire-ções conciliadoras e, junto ao resto do povoexplorado encontrarão o caminho, as for-mas, os órgãos para aplicar o programa dastransformações sociais na Espanha, naEuropa e no mundo em uma Assembléiaque diga “Basta ao capitalismo!”, “Basta apisotear nossos direitos e conquistas!”.Porque todos os jovens junto à populaçãosaíram a defender a tranformação social, poruma sociedade melhor.

Nossos sonhos não cabem nas vossas ur-nas!” Contra a corrupção nas instituiçõese nos Partidos: “Não há pão para tantosalame (ladrões). Outra palavra de ordem:“Os bancos nos roubam. Os políticos nosmentem. Os sindicatos nos vendem.” Ha-via também contra os Bancos e o roubodas hipotecas: “Teu botim é minha crise”,com duplo sentido, pois Botin é o presi-dente do Banco Santander, dos mais pode-rosos da Espanha. Contra o capitalismo eos cortes na saúde, educação, habitação:“Nosso futuro não se recorta. O funciona-mento do sistema democrático é um obstá-culo para o progresso da humanidade!”.Organizou-se uma comissão de moradiaspara lutar contra os despejos dos bancos.Discutiu-se um fundo de moradias públi-cas expropriando apartamentos vazios eimóveis pertencentes aos Bancos; estes fi-caram com vários deles, como produto dacrise e do desemprego.

Expressava-se também a combatividadee a decisão de enfrentar o sistema: “Se lu-tas, poder perder. Se não lutas, estás per-dido. Perdemos o medo. Não somos anti-sistemas, somos muda sistemas. Nem umpasso atrás. Agora a praça, amanhã as ruas,passado o mundo.”

O chamado “Movimento de 15 deMaio” ou “Democracia Real Já!” tem umprograma muito profundo e decidido: Con-tra os Bancos, pela defesa do Banco Públi-co, contra os cortes salariais e a diminui-ção dos orçamentos da saúde e educação;trabalho e casa para todos, defesa dos di-reitos dos imigrantes, contra a corrupçãonas instituições e nos Partidos Políticos,pela reforma da lei eleitoral, pela eliminaçãodos privilégios da classe política. À medi-da que se estendia a luta, vinham aposen-tados, famílias com crianças, profissionais,para aderir aos acampamentos, assinar ade-são e dar dinheiro. Os cartazes nos carri-nhos das crianças diziam: “meus filhos vãolutar pela dignidade!”. Esta luta tem sidouma luta pela dignidade, pelos direitos so-ciais, pela liberdade de se manifestar-se,

ESPESPESPESPESPANHAANHAANHAANHAANHA

O MOVIMENTO“DEMOCRACIA REAL JÁ!”

A rebelião das massas na Europa, particularmente na Espanha e na Grécia merecedestaque especial e a nossa solidariedade neste contexto mundial em que as chamadasgrandes potências capitalistas, capitaneadas pela Otan, decidem deflagrar a guerra contraa Líbia e os países do Oriente Médio, para despistar sua abissal crise econômica sistêmica.A situação abaixo narrada por nossos companheiros espanhóis surge de uma explosão deconsciência, fruto da contradição sentida na própria pele pelas massas européias, especi-almente dos jovens, que não querem pagar pela crise, nem dobrar-se frente aos gastosmilitares de uma guerra inventada, criada com a cumplicidade dos grandes meios decomunicação, e imposta pelos “senhores da guerra”.

Outra característica destes movimentos pela “Democracia Real Já!” é a crítica explosi-va que supera as direções dos partidos da esquerda européia, atreladas nas últimas décadasà política parlamentar amorfa e conivente com o neoliberalismo. A perspectiva de sucessoe a continuidade destes movimentos depende da superação desta deficiência. A ação es-pontânea das massas necessita ser canalizada para a formação de órgãos de poder, numareal revisão do que significa ser um partido revolucionário de massas.

Trata-se de tarefa complexa tendo em vista o abandono da política e do programarevolucionárias por alas importantes da esquerda européia. Basta citar que a Espanha, emmeio a esta crise monumental, participa da Guerra Imperialista contra Líbia e a esquerdaespanhola ainda não organizou uma ação de protesto contra este crime, que se reflete nodesemprego e na queda do nível de vida da população.

É imprescindível que uma direção se estruture em tempo de organizar as lutas pelosproblemas e conquistas locais e nacionais, internacionalizando o embate contra a criseeconômica, enfocando uma decidida oposição à guerra. Não há como impor uma “demo-cracia real”, sem opor-se à falsa “democracia dos mísseis”, ao ataque da Otan contra opovo líbio, às ameaças à Síria, a ocupação do Bahrein. Não há recuperação econômicapara a Europa e nem para os EUA, sem mudar completamente a programação da econo-mia, solucionando os grandes problemas destes países, especialmente o desemprego cres-cente. Sem isto, não há solução mesmo sem guerra; e com guerra será o suicídio em massa.A única saída é a transformação revolucionária.

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amamentação e para isso concede umhorário livre à mãe, de 2 a 3 horas du-rante o trabalho, pelo período de até 2anos após o nascimento da criança,sem reduzir o seu salário.

Todas estas são conquistas depoisda revolução liderada por Komeiny, eafirmadas nos últimos anos em meioa pressões do imperialismo, a umaguerra e a uma luta interna com seto-res conservadores. Antes, elas eramconsideradas mulher-objeto, e as quese projetavam eram mulheres de mi-nistros e pertencentes às camadasmais ricas.

Sobre o uso do véu ou davestimenta (hijab) das mulheres irani-anas explicam que não é verdade queisso represente uma limitação. Houveum plebiscito e 98% votou a favor douso do “hijab”. “A maioria das mulhe-res do Irã não sente a obrigatoriedadedo uso do véu como uma limitação,ao contrário, isso lhes dá paz e prote-ção. Não é uma limitação, mas umfator positivo”. Antes da revolução jáusavam o hijab. Antes não permitiamela escolher a vestimenta. Na épocada guerra muitas mulheres usavam ohijab. E foi com o véu que as mulhe-res participaram da revolução contraa ditadura do Xá e depois, armadas,muitas participaram da guerra contrao Iraque, que era apoiado pelos EUA.As mulheres que trabalham na áreamédica e desportiva usam o hijab, enunca sentiram isso como um proble-ma. As desportistas iranianas regis-traram excelentes desempenhos nosjogos olímpicos asiáticos.

Maryam Mojtahedzadeh declarouque confiam na continuidade de umprocesso de integração entre o Brasile o Irã, “apesar de que há inimigos quenão querem”. Cita o exemplo do casoSakineh: “é um processo que corredesde 5 anos atrás. A condenaçãoseria para garantir a segurança doshomens” (ela assassinou barbaramen-te o marido, esquartejando-o). “Háuma lei do código penal. O não cum-primento da lei causa um outro pro-blema. Seja como for, os opositorescriarão um problema. O que o ociden-te questiona é a forma de condena-ção. Sempre há uma minoria que querdesestabilizar com falsidades.”

Sabe-se que em 30 anos de revo-lução, não houve nenhum caso deapedrejamento. O presidenteAhmedinejad bem respondeu que oca-

elas não fechem, nem diminuam o seupessoal no arco de 5 anos. Muitas fá-bricas trabalham com a mínima pro-dutividade, e até suspendem a ativi-dade, sustentando uma política anti-governamental. Neste primeiro demaio, o ministro do trabalho ameaçarenacionalizar as empresas que demi-tem os operários.

Sobre a participação da mulherno contexto atual da guerra

As mulheres iranianas tiveram umaativa participação na guerra Irã-Iraquena defesa da pátria. MaryamMojtahedzadeh afirma que a guerra en-tre o Irã e o Iraque não foi uma esco-lha do povo iraniano. Houve muitas mu-lheres que perderam maridos, filhos efamiliares na guerra. Segundo ela, lu-tar na guerra para defender o país e opovo é um caminho sagrado. Ela mes-ma tinha, nessa época, 22 anos e per-deu um filho de um ano e meio na guer-ra e diz que daria a sua vida em outraguerra se necessário. Durante a guer-ra muitas mulheres estavam na reta-guarda preparando coisas necessári-as, eram enfermeiras sob os tiros decanhão, à mão desarmada contra ostanques que invadiam as cidades.Elas nunca vacilaram em bendizerseus filhos e enviá-los para a guerra,para defender o Islam e a revoluçãocom Khomeyni. Existe um Centro deMártires da Guerra (há em várias ci-dades do país) que dá ajuda financei-ra estatal às mulheres viúvas dos com-batentes. Maryam recordou que hojeem dia há vários países muçulmanosque podem se unir para lutar contraos invasores das casas em Bhareinque estão espancando mulheres. Oque dizem os defensores dos “direi-tos humanos” no Ocidente sobre isso?Isso corresponde a milhões deapedrejamentos. Confirma-se, maisesta vez, que as mulheres do Irã es-tão dispostas a lutar até as últimasconseqüências diante da ameaçaintervencionista e guerreira contra o Irã,na defesa dos reais direitos humanose da soberania do seu país.

A delegação agradeceu o troféu quelhe brindou o Centro de Defesa da Mu-lher e da Família junto à Presidência doIrã, denominado: “Transmissores da Ver-dade”. O recado era: “Basta que digama verdade sobre o que viram no Irã”.

Brasilia, 26 de abril de 2011

[De 11 a 19 de abril, um grupo de jornalistasde TVs comunitárias e educativas, eblogueiros independentes viajou a Teerã,Shiraz, Isfahan e Yazd para conhecer a rea-lidade iraniana)

Homenagem aTheo Melville

No início deste ano2011, faleceu o cama-rada Theo Melville, a

quem rendemos nossa pro-funda homenagem peloexemplo de sua vida digna, derevolucionário dedicado à ba-

talha das idéias e das ações imprescindíveisao combate das atrocidades e injustiças doimpério capitalista britânico e mundial. Des-de a sua juventude, aos anos transcorridoscomo professor de história de arte deNottingham a Birmingham, acompanhou a lutados estudantes em Londres, dos operáriosmetalúrgicos de Sheffield, estimulou a con-cepção do internacionalismo, intervindo naunião com os trabalhadores da Bélgica, parti-cularmente do pólo industrial de Charleroi, ebatalhou incansavelmente contra a guerra im-perialista da qual foram e continuam sendocúmplices os governos ingleses, conservado-res e trabalhistas reformistas.

Theo Melville, após levar uma militânciaescrevendo para a “Revista Socialismo Inter-nacional” entre os anos 51 e 61, foi um dosprincipais quadros fundadores da seção in-glesa da IV Internacional Trotskista-Posadista, que lançou o jornal “Red Flag” em1962. Theo Melville manteve a continuidadedesta publicação, instrumento de debate e for-mação teórica marxista para impulsionar oPartido Comunista, a esquerda do Partido Tra-balhista Ingles, a corrente classista dos sindi-catos da Trade Union, ao longo de muitasdécadas. Acompanhou ao já falecido dirigen-te J. Posadas em várias viagens culturais naInglaterra, desde Greenwich a Stonehenge,contribuindo para que seu mestre pudesseelaborar e deixar obras inauditas de interpre-tação marxista da história da cultura humana.

Hoje, a luta das massas inglesas contra aguerra da OTAN, e as gigantescas mobiliza-ções dos “Indignados” na Espanha, na Gréciae na Europa mostram que a sua luta não foiem vão, e que a sua indignação constantecontra as atrocidades do capitalismo inglês, ea perseverante crítica objetiva à inoperânciados aparatos sindicais, do Partido Trabalhistaestão presentes como nunca. Theo Melvilleem certo sentido foi vítima das pressões des-te capitalismo vil (o mesmo que matou nossojovem brasileiro Jean Charles de Menezes),pois poderia ter vivido muito mais, como mui-tos companheiros e companheiras que fale-ceram precocemente por enfermidades, masteve a felicidade de lutar pelo socialismo e verrenascer após a queda da Urss, uma AméricaLatina combativa dos últimos tempos, com a“espada de Bolívar” empunhando a esperan-ça da soberania e da justiça social dos povosdo mundo, e fazendo emanar a idéia de uma“Nova Internacional” comunista. Seja qualsejam as circunstâncias, as perdas de com-panheiros revolucionários nos hão de deixarsempre a conclusão: “a vida sem a luta pelosocialismo, não tem sentido!”. Theo deu umsentido revolucionário digno à sua vida até ofim de suas energias, e com o seu exemplo ededicação, reforçou em todos nós, seus com-panheiros, os ideais revolucionários de nos-sas vidas. Obrigado Theo! Valeu!

MULHERES NO IRÃ

(Vem da página 12)

Centro de Defesa da Mulher e da Família

so de Sakineh está na área do poderJudiciário e não do Executivo. Os pa-íses do chamado Ocidente queremfazer disso um caso político paradesestabilizar o seu governo. Na im-prensa do país o caso de Sakinehnão tem tanta difusão, como na mídiainternacional e brasileira. O que com-prova como o caso é artificialmentedestacado aqui para envenenar asboas relações entre o Brasil e o Irã.Outra comprovação da fabricação in-teressada de inverdades é o caso dafalsa notícia sobre a censura aos li-vros de Paulo Coelho; a delegaçãobrasileira comprovou que há pelomenos 4 títulos expostos à venda emuma livraria visitada em Teerã.

Organização popular e sindicalEvidentemente, o sindicato não

constitui uma tradição no país. Mas,sabe-se que na falta dele, as rezasde 6ª. feira nas mesquitas, têm sidolugar de reunião, de debate sobre vá-rios temas econômicos, energéticose até sobre os conflitos mundiais.Não tivemos a ocasião de presenci-ar, mas o presidente Ahmadinejad,trata de mobilizar a população reali-zando assembléias semanais emcada região, abertas ao público emantê-la em ativa discussão sobreos problemas locais e nacionais,através de viagens e caravanas nointerior do país. Isso tem estimuladoas mulheres a ocuparem 68% dosbancos da universidade e a retoma-rem as manifestações, onde elascompõem a parte mais alegre erumorosa. É verdade também que,por outro lado, como indica um de-bate oficial, somente 17% delas sãoabsorvidas no mercado de trabalho.Há um fator cultural que induz a mu-lher a optar posteriormente pela de-dicação às tarefas domésticas, ouao trabalho artesanal e familiar comoa tapeçaria, dado que o marido, emmuitos casos, não permite que a mu-lher trabalhe num ambiente separa-do do núcleo familiar. Soma-se aofato que há uma corrente privatizantena economia, regida por proprietári-os de fábricas, que corre contra asleis governamentais que exigem que

Página 12 Julho 2011RevoluçãoSocialista

A questão dos direitos humanosno Irã, com um dos focos naquestão “mulher” no Irã ocupou,

nos últimos tempos, vários espaços dosgrandes meios de comunicação, a pon-to de levar esse país, injustamente, aobanco dos réus da ONU, com o sur-preendente alinhamento do governo bra-sileiro no voto condenatório. Isso, pou-cos dias antes da chegada de uma de-legação de 8 brasileiros, composta dejornalistas, produtores de TVs comuni-tárias e educativas, escritores eblogueiros, ávidos a conhecer a vida, acultura e a história deste pequeno egrande herdeiro do antigo império persa,berço de tantos patrimônios culturaisda humanidade.

Ao se defrontar no longo percursorealizado desde Teerã, a Shiraz,Persépolis, Isfahan a Yazd, com umpovo culto, respeitador, comunicativo esolidário, livre, alegre, incluindo todasas mulheres com o hijab (véu) na ca-beça, e ao visualizar cidades organiza-das, limpas, sem favelas, nem mendi-gos nas ruas, o sentimento inicial,como brasileiros, foi de desculpar-seperante este povo e seu governo pelainjusta e equivocada posição do Brasilna ONU, que feriu todos os esforçosde integração Brasil-Irã levados nos úl-timos anos pelo governo Lula. Lamen-tável a concessão à falsa ladainhamidiática dos “direitos humanos” tocadapelos Estados Unidos e Israel, promo-tores de guerras, massacres, e exem-plares transgressores dos direitos hu-manos da legalidade internacional daprópria ONU. (1)

Os direitos humanos no queconcerne a vida do trabalhador, do jo-vem, das mulheres, crianças e anciãosiranianos são razoavelmente respeita-dos e como! Desde 1979, após 32 anosda Revolução Iraniana iniciada comKomeyni e continuada comAhmanidejad, o Irã, com o petróleo na-cionalizado, adquiriu um alto desenvol-vimento tecnológico no campoaeroespacial, automotor, na indústria

farmacêutica, implementou medidas so-ciais, de educação, saúde e moradiaque tendem a se elevar visivelmente.Quase 90% de seu povo é alfabetiza-do; há 400 universidades, 50 mil univer-sitários por 1 milhão de habitantes (odobro do Brasil), 3,5 milhões de univer-sitários, dos quais 68% são mulheres(na época do Xá eram somente 5% eas mulheres maquiadas erammalvistas, chamadas de prostitutas pelamoral de então. Isto tudo foi superado).

A participação da mulher no IrãDado que um dos focos da vergo-

nhosa campanha internacional contrao Irã é a questão dos direitos da mu-lher, vale a pena relatar algumasconstatações em loco. A visita culturalno Irã nos permitiu colocar uma luz deobjetividade na sublime participação damulher na história da humanidade comoela merece, e não com a vulgarização

islamismo na Pérsia não se sente omesmo peso da igreja medieval católi-ca romana, sob a égide do obscuran-tismo e da inquisição, com rostos demulheres perseguidas e submetidas.Hoje, por exemplo, no Irã islâmico e emtransformação, não há impedimentospara a realização de pesquisas comcélulas troncos. Isso, superado um dosperíodos mais tenebrosos no Irã que foio da dinastia do Xá Reza Palevi. Nossuntuosos palácios de inverno e verãoda família do Xá (hoje museu, aberto aopúblico), se espelhava o individualismo,a repressão contra o povo, e o “direitohumano e exclusivo” da mulher do Xá.

Os direitos da mulher, a sua partici-pação dirigente na sociedade, latentesno ancestral império persa, renasceramatravés da revolução de Komeyni.

Visita ao Centro de Defesa da Mu-lher e da Família junto à Presidên-cia da República

A delegação brasileira foi recebidapela Presidenta do Centro de Defesada Mulher e da Família, MaryamMojatahedzadeh, Conselheira do Pre-sidente da República que, junto comMaryam Arshadi, Secretária de Rela-ções Públicas do Centro expuseram asituação atual da mulher no Irã. Colhe-mos também depoimentos de MahdiehJamshidi, Diretora da Secretaria deCultura de Yazd.

O Centro foi fundado em 1988. Apartir de 1990, a Diretora passa a sermembro da Secretaria da Presidência.Depois disso foram escolhidasConselheiras do Ministério da Mulherpara defender os interesses da mulher.Qualquer decisão passa por essasConselheiras. Há mecanismos em to-das as cidades e províncias onde asConselheiras intervém em problemaseducacionais. Há 148 versos do Alco-rão que compreendem 700 páginas so-bre os direitos da mulher na sociedadeiraniana.

O Centro focaliza o papel da mulhercomo mãe e impulsiona a sua funçãodirigente na família para ser útil na so-ciedade. Nos tribunais há conselheiraspara ajudar em casos de divórcio nareconciliação das famílias. No caso dedivórcio se asseguram direitos financei-ros à mulher, como o valor chamado“mahrieh” (afeto) estabelecido por con-trato matrimonial, resgatável em extre-ma necessidade, mesmo sem separa-ção. Há também intervenções contra aviolência à mulher sobretudo nos extra-tos mais baixos da população, nos su-búrbios das cidades, onde a ausênciade uma erradicação completa da explo-ração econômica burguesa se faz sen-tir, e as mulheres são ainda as primei-ras vítimas. Mesmo que as mulheresnão estejam segregadas por razões le-gais como na Arábia Saudita. Há umaluta contra a máfia dos taxistas queexercem a violência contra a mulher. Detoda forma, na balança dos desiguais ecombinados, há um grande estímulo aoprotagonismo feminino, sob a gestão deAhmadinejad. Há mulheres taxistas,motoristas de ônibus, caminhões e di-rigentes de fábrica.

Nos locais visitados como uma Clí-nica Oftalmológica, escritórios da PressTV, a maioria do pessoal era de mulhe-res. Há muitas mulheres na área da en-genharia, da pesquisa aero-espacial emédica. Na agricultura aumentou de35% a participação das mulheres, e de39% em trabalhos de engenharia e agri-cultura (de 1976 a 2006). Nos serviçospúblicos aumentou 41% e nas áreasgovernamentais, 77,5%. O número decooperativas de mulheres, aumentou de958% (de 1986 a 2006). Nos trabalhostécnicos e científicos, 140% de 1976 a2006.

A Presidenta do Centro de Defesada Mulher e da Família, MaryamMojatahedzadeh destacou que “a mu-lher iraniana cresceu muito na produ-ção de pensamento e idéias”. Há 7mulheres deputadas e uma Ministra daSaúde. Sabemos que deveriam ser ele-gidas outras 2 ministras indicadas pelaPresidência, mas foram cortadas pelossetores conservadores do Parlamento.Há 15% de mulheres em postos impor-tantes do governo. Há várias mulheresdirigentes de empresa. De fato, é notá-vel que sob o hijab na cabeça das mu-lheres, não há rostos submissos, masolhares inteligentes e participativos. Osalário da mulher trabalhadora é igual àdo homem. É proibida a demissão damulher grávida; 6 meses de licença ma-ternidade com salário integral; o esta-do reconhece a função social da

A participação da mulher e osdireitos humanos no Irã

(continua na página 11)

Mahdieh Jamshidi, Diretora da Secretariade Cultura de Yazd.

O Cilindro de Ciro

dos seus direitos que respondem a umprotótipo de mulher fabricado no mer-cado capitalista. Já o famoso cilindrode Ciro (559 a 530 a.c.) trazido do Mu-seu Britânico ao Museu Nacional do Irãem exposição nos últimos meses, nospermitiu constatar uma carta milenar dosdireitos humanos na raiz deste povo,no longínquo império persa. A lição dehistória na visita realizada a Persépolisberço da dinastia dos Aquemênidas, nosdiz que na época de Dario, a mulherjogou um papel central nesse período:eram supervisoras, conselheiras do co-mando naval e membros do Conselhode guerra.

Nas fases posteriores ao estabele-cimento do islamismo, nas mesquitase palácios de Isfahan, durante a dinas-tia de Safavid, se denotam a harmonia,a inteligência embutida no renascimentoislâmico, onde se combinam arte e ca-pacidade técnico-científica, com pintu-ras coloridas de mulheres que refletemrelações sociais harmoniosas e relati-va igualdade de gênero. Na história do

(1) No momento da edição deste jornal, após 3meses desta viagem ao Irã, houve uma positivamudança de posição da presidenta Dilma emrelação à questão dos direitos humanos no Irã:ela recusou-se a receber Shirin Ebadi, advogadairaniana, que recebeu o suspeitoso Premio Nobelda Paz em 2003, sendo dissidente e opositora deAhmadinejad e da revolução, e aliada dos go-vernos dos EUA e da Inglaterra.