página 5 página 4 página 3 página 9...

12
h ipertext o Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril de 2008 – Ano 10 – Nº 62 ANO DEZ As linhas do tempo Tibete usa Olimpíada na luta pela libertação Uma Porto Alegre de 236 anos Camila Domingues/Hiper Protestos reforçam debate sobre a falta de liberdade de imprensa na China PÁGINA 5 Passarela em ensaio fotográfico Jango foi envenenado no exílio? Machado supera a morte Os Flávios venceram a repressão PÁGINA 4 PT vai de Maria do Rosário PÁGINA 3 PÁGINA 9 PÁGINA 7 PÁGINA 8 PÁGINA 6 Ousadia, charme e sedução em um desfile de modas na capital Maria Joana Avellar/Hiper Henry Corrêa/Hiper Tavares, Schilling e Koutzii HISTÓRIA DITADURA ELEIÇÕES Ela venceu as prévias LITERATURA Vinícius Carvalho/Hiper

Upload: dinhdiep

Post on 03-Dec-2018

223 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

hipertextoJornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril de 2008 – Ano 10 – Nº 62

Anodez

As linhas do tempo

Tibete usaOlimpíadana luta pelalibertação

Uma Porto Alegre de 236 anos

Camila Domingues/Hiper

Protestos reforçam debatesobre a falta de liberdadede imprensa na China

PáginA 5

Passarela em ensaio fotográfico

Jango foienvenenadono exílio?

Machadosuperaa morte

Os Flávios vencerama repressãoPáginA 4

PT vai de Maria doRosárioPáginA 3 PáginA 9

PáginA 7

PáginA 8

PáginA 6

Ousadia, charme e sedução em um desfile de modas na capital

Maria Joana Avellar/Hiper Henry Corrêa/Hiper

Tavares, Schilling e Koutzii

História ditadura eleições

Ela venceu as prévias

literatura

Vinícius Carvalho/Hiper

Page 2: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 20082 abertura hipertexto

Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hiper-texto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora/ Jornalismo: Cristiane

FingerProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojor-nalismo).

ESTAGIÁRIOS:

Gerente de produção: Thais Silveira

Editores: Paula Sperb e Sérgio Giacomel Editor de Fotografia: Vinícius Roratto Carvalho

Redação: Bernhard Schlee, Bruna Weis Scirea, Bruna Silveira, Bruno Goulart, Camila Soares, Cristiano Navarro, Danie-la Cenci, Edmar Gomes, Fernando Rotta Weigert, Gustavo De Stumpfs, Jamile Callai, Júlia Timm, Leonardo Serafim, Luciano Valermann, Maiara Andrade, Maurício Círio, Pamilli Braga, Patrícia

Lima, Paula Letícia Nunes da Silva, Ra-phael Ferreira, Rodrigo Nunes e Tamara Carvalho.

Repórteres Fotográficos: Amanda Copstein, Antônio Cruz, Camila Domin-gues, Camila Kaufmann, Cláudio Rabin, Cristiano Lima, Fernanda Botta, Gui-lherme Santos, Henry Corrêa, Isadora Neumann, Júlia Otero, Laura Fraga, Luísa Kiefer, Maria Joana Avellar, Pedro Belo Garcia e Pedro Revillion.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

Por Rafael Codonho

Já era rotina. Eu ia para a padaria perto do meu condomínio e lá ficava por horas. No início, levava um notebook emprestado, enviava uns e-mails, lia as notícias do Brasil e as crônicas do Lucas Mendes e Ivan Lessa. Yellow Submarine era tocada todos os dias. Eram quatro mesas, duas altas e a outra metade baixa. Eu tinha preferência por uma, bem no cantinho, refugiada; atrás de mim, se-parados por apenas uma vitrine, um dos funcionários fazia bolos. Eles eram lin-dos, confeccionados com uma habilidade de artesão e poderiam ser selecionados entre dois cadernos com diversas opções. Saí de lá graduado. A decepção vinha quando percebia que por dentro os bolos eram sempre iguais: a mesma massa, o mesmo creme; só mudava a cobertura. Não que eu tenha preferido me abster de comer um bolo da gloriosa padaria. Comi, sim, e foi num aniversário de uma pessoa

muito querida. No entanto, obviamente, sem muitas expectativas. Tinha aparên-cia de chocolate e foi entregue à porta de meu apartamento no horário combinado, com uma coroa de papel para o agraciado pelo presente. Não nego que era bem simpático.

Aquela padaria era minha segunda casa. A família que mantinha o local me tratava de maneira muito amigável, diferente dos outros estabelecimentos da cidade. Vez ou outra ensaiava um mandarim, no começo mal-falado e tí-mido, depois apenas mal-falado. O dono sorria e corrigia minha pronúncia. Por lá, encontrava outros moradores, meus melhores amigos, Michael e Natalie. Comíamos bolachas, pães, salgados e uma torta de nata, portuguesa de nome apenas. Quando comecei a trabalhar, era lá que eu montava meu escritório: computador, mouse, fone de ouvido e um chá com leite, sabor de batata rosa. Eu era figura freqüente lá, quase uma caricatura.

Dominava meu ponto como um mendigo acompanhado de seu cão se apodera de uma esquina coberta.

Terminado o expediente, íamos para o restaurante de sempre, um chinês-árabe que servia espetinhos de carne de ovelha apimentados, um tipo de pão as-sado, além de uma variedade de massas. Na primeira vez que passei por aquele restaurante, dei uma risada para uma amiga e falei: “Temos que avisar aqueles estrangeiros que este lugar é muito sujo, que eles podem ficar doentes aqui”. Eram Mike e Naty, na época desconhecidos. Depois se tornaram meus guias em tudo que se relacionava a China e mandarim. Moravam no país há 3 anos e tinham passado por tudo que um estrangeiro recém-chegado se assusta: infecção ali-mentar, ser enganado nas situações mais incomuns e a incomunicabilidade. Foram eles que me apresentaram também os restaurantes que eu temia e evitava com uma teimosia infantil. Cedi.

Michael era de Las Vegas, mantinha uma barba que o envelhecia 10 anos. Na-talie nasceu no Alaska e tinha uma pela branca que contrastava com seus olhos também claros, azuis. Não mantinham luxos, moravam num apartamento sim-ples e alegavam que a qualidade de vida na China era melhor do que nos EUA. Em Pequim, eles achavam emprego fácil, lecionando inglês, ganhavam bem e tra-balhavam pouco. Ao Mike eu perguntava sobre os republicanos e democratas. Eu provocava Naty, falando que Alaska não era parte dos Estados Unidos e que ninguém morava lá. Ela respondia, fingindo ter raiva: “You *#@*%# south american!”. Mas, a gargalhada veio meio mesmo quando ele me ensinou como se falava ginecologista em mandarim: fuke yisheng (pronúncia: fucã).

Eles voltaram para os Estados Unidos poucos dias antes de eu retornar ao Brasil e Pequim já não tinha a mesma graça. Eles eram incondicionais.

Um brinde à amizade em mesa de padariaCRôNICAS DA CHINA

Por Maurício Círio

Era uma vez, na pátria verde-amarela, um misterioso saco de dinheiro. Ali, em posse privada (de alguns) estaria o que antes havia pertencido a muitos. As notas emboladas eram suspeitas, algumas mais novas, outras mais antigas. Então, eis que num súbi-to ato de verdade, alguém resolve abrir os laços do saco e passar a limpo todas as falcatruas do len-dário país da malandragem.

No recheio, aparece de tudo. Mensalão calculado e esperto; dinheiro usado para comprar políticos que não valem um centavo. Impostos geram lucros infindáveis ao governo que pare-ce não saber ao certo o que fazer com tanta grana. Uma justiça lerda e dolorosa realiza processos que demoram anos para serem concretizados, e enquanto isso, famílias continuam desabriga-

das, vítimas da má construção de suas moradias próprias. Reitores moram em apartamentos milio-nários, com lixeiras que valem ouro. Bancos debitam centavos, gerando milhões para seus co-fres. Há uso desenfreado e sem limites dos cartões de crédito corporativos.

Um acidente aéreo em pleno local de pouso; aeroportos mal confeccionados e sem estrutura. No chão, estradas esburacadas, mesmo diante de pedágios que cobram o olho da cara. A licença para carteira de motorista a cus-tos altíssimos e alunos freqüen-temente rodam nos exames da habilitação. Por baixo do pano, R$ 44 milhões desviados.

Brinquedos caríssimos são vendidos sem qualidade, o bas-tante para serem perigosos às crianças e sem graça nenhuma aos pais aflitos. Carros de luxo, com dispositivos que cortam o

dedo dos consumidores que não se tocaram de comprar a tal da “borrachinha” para proteção. Embalagens que não informam claramente os atributos do pro-duto, vindo a desrespeitar e ainda pôr em risco a saúde dos usuá-rios das marcas ditas confiáveis. Produtos de prateleira descara-damente vencidos. A fraude do leite que gerou alta desconfiança nas principais marcas de um dos mais importantes alimentos para o ser humano. E o Inmetro sem-pre apontando erros que nunca são corrigidos.

As lambanças são tão incon-táveis quanto o dinheiro perdido. Nessa idéia de “infinito” que está o motivo de tanta preocupação. O clichê “até quando?” nunca foi tão pertinente e amedrontador. Enquanto isso, nesse absurdo conto de fadas, cada personagem vai tentando encontrar seu pró-prio conceito de “final feliz”.

EDITORIAL Conto de fadas às avessasEstá na essência do jornalis-

mo o caráter internacional. O de-sejo por informações e notícias do que ocorre em outras nações guia os profissionais da comunicação e também os consumidores dos produtos midiáticos. No Hiper-texto não é diferente. Na edição de abril, há duas matérias sobre o conflito no Tibete. Na primeira, o repórter Luciano Verelmann contextualizou a luta do povo tibetano pela independência. Na segunda, Rafael Codonho escutou um alemão morador de Pequim e uma chinesa para mostrar como os protestos na província são vei-culados na mídia estrangeira. As duas matérias complementam-se. Mais do que isso: fazem refletir sobre a censura na China.

A falta de liberdade de im-prensa já foi enfrentada no Brasil e países da América Latina em períodos de ditadura. Maiara Andrade escreveu sobre a home-

O macro e o micronagem que a Assembléia Legisla-tiva prestou para os três flavios que foram vítimas da repressão. A professora universitária Flávia Schilling, o ex-deputado Flávio Koutzii e o jornalista Flávio Tava-res. No Uruguai, a imprensa tam-bém sofreu com o governo mili-tar. O jornal El Popular teve seu fechamento decretado. Para não perder os registros fotográficos da época, Aurélio González, chefe do setor de fotografia, procurou um lugar seguro para escondê-las. A repórter Thais Silveira descreve como as fotos foram encontradas mais de 30 anos depois.

Também está na essência do jornalismo a proximidade. A can-didata à prefeitura de Porto Ale-gre, Maria do Rosário (PT), con-cedeu entrevista falando da con-juntura política, da disputa e da administração atual. Boa leitura!

Paula Sperb, editora

Page 3: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 2008 3capitalhipertexto

Maria do Rosário quer vice deoutra legenda próxima ao PT

Candidata defende alianças, critica adversários e o prefeito Fogaça

Por Fernando Rotta Weigert

Após quatro anos longe do co-mando da cidade que foi símbolo para o partido, o PT pode voltar à prefeitura com Maria do Rosário, escolhida pelos seus filiados para tentar retomar o poder. A can-didata avalia que hoje o partido está mais maduro. Nesta campa-nha, Rosário quer o “PT de cara nova”, porém sem esquecer de tudo que já fez por Porto Alegre. Na busca de um vice, a priorida-de é alguém de outra legenda. “Mas sem essa de unir quem não tem nada a ver, não dá para unir quem está no governo Lula com quem esteve no governo Britto”, ressalta a candidata e deputada federal. Os projetos políticos devem ser parecidos, inclusive o Partido dos Trabalhadores ainda não apresentou um plano para a cidade porque deseja desenvolvê-lo junto ao possível aliado.

Maria do Rosário é natural de Veranópolis, nasceu em 22 de novembro de 1966, formada em pedagogia pela UFRGS com especializaçao na USP. Em 1992, foi eleita vereadora pelo PC do B e repetiu o feito em 1996, já no PT. Foi deputada estadual (1999-2002) e federal (2003-2006). Nas últimas eleições, foi reeleita deputada federal, cargo que deixará se for eleita prefeita de Porto Alegre.

A primeira mulher a concor-rer à prefeitura da capital gaúcha pelo PT vê no quadro estabeleci-do, em que mais duas mulheres concorrem, uma qualificação do pleito. Entretanto, frisa que as mulheres não debaterão sozi-nhas, visto que outras candida-turas estão em formação. Hoje,

além de Rosário, estão na disputa pela prefeitura, as candidatas e também deputadas federais Lu-ciana Genro (PSol), e Manuela D’Ávila (PCdoB).

Entre as rivais, Rosário ob-serva que Luciana Genro segue a linha de alianças, como seu parti-do faz em nível nacional. Manuela D’Ávila tem uma política de alian-ças que causa certa estranheza à candidata petista, “não se pode ter um pé no governo Lula e outro no governo Yeda, são projetos to-talmente diferentes”. Para Rosá-rio, a candidata do PCdoB, como teve uma experiência de dois anos na Câmara Municipal de Verea-dores, deve tornar o debate mais rico. Manuela tem buscado apoio de partidos que não têm a mesma linha do PCdoB, por exemplo, o PPS, legenda do ex-governador do Estado Antônio Britto.

Prévia interna As prévias do partido foram

acirradas, Maria do Rosário saiu vitoriosa, com apenas 56 votos frente seu concorrente, Miguel Rosseto. O ex-ministro de Desen-volvimento Agrário, era apoiado por grandes forças da política gaúcha, como ex-governador Olívio Dutra e os ministros da Justiça, Tarso Genro, e da Casa

Civil, Dilma Rousseff. Mesmo assim Maria do Rosário foi a mais votada nas urnas. “Eu sempre afirmei que cada filiado era um voto. O voto do Tarso ou do Olívio não são mais importantes que o do filiado que mora na Bom Jesus ou em Ipanema”, posiciona-se. Mesmo não sendo apoiada pelas correntes mais fortes dentro do Rio Grande do Sul, ela crê que o diálogo, agora, é com a populaçao e não mais dentro do partido. “A esquerda hoje está desafiada a ter menos dogmas e mais abertura ao diálogo”.

Crítica a FogaçaA administração José Fogaça

mudou de forma brusca algu-mas culturas da cidade de Porto Alegre. Entre as mudanças, são citadas a alteração no plano di-retor do município, autorizando a construção de prédios mais altos em bairros antigos; proibiu estabelecimentos comerciais de manter mesas na rua após a meia noite; troca de terceirizadora de serviço no projeto de saúde da fa-mília, deixando a população mais carente de atendimento médico por um mês e o projeto portais da cidade, que prevê o deslocamento dos terminais de ônibus do centro para a periferia. Para a candidata

petista, o município retrocedeu dez anos. “Voltou-se ao tempo do clientilismo político”. Para Rosário, o projeto Portais da Cidade mais parece a famigerada baldeação, porque a população terá que descer de um ônibus e subir em outro, além de não resolver o problema do trânsito na capital.

Todos os serviços da Capital foram reduzidos durante essa gestão, reclama Rosário. Isto deve ser combatido com uma

administração eficiente, que define prioridades. Na questão do trânsito, o projeto petista prevê a criaçao de um metrô, em parceria com o governo federal, que deve ir da Avenida Bento Gonçalves até o Campus do Vale (UFRGS), passando pela PUC, e estender-se à Zona Norte. Além disso, todos os novos projetos, explica a candidata do Partido dos Trabalhadores, voltarão a ter ampla participação da sociedade em seu desenvolvimento.

A deputada federal derrotou nas prévias a cúpula do partido

Por Edmar Gomes

A cantilena do “vale-vale” pra-ticamente desapareceu no centro de Porto Alegre, mas a fichinha verde do vale-transporte conti-nua em uso e não há data certa

para sua substituição pelo cartão eletrônico. A Empresa Pública de Transporte Coletivo (EPTC) informa apenas que o prazo máxi-mo para a comercialização do vale não deve passar desse ano.

A implantação do Sistema

de Bilhetagem Eletrônica (SBE) na Capital se realiza em etapas e a expectativa inicial da EPTC de que, as fichas de ônibus co-meçassem a ser substituídas em abril de 2008 ficou apenas na intenção. Enquanto isso os usuários reclamam das filas que se formam na porta de acesso aos coletivos, devido à lentidão do va-lidador na leitura dos dados dos cartões em uso por estudantes e aposentados.

A instalação da aparelhagem técnica e a adequação dos co-letivos estão concluídas desde janeiro deste ano, dentro do prazo previsto. Porém, a parte prática de adoção do sistema pa-rece longe da realidade, conforme opinião de usuários. Passageiros reclamam das filas ocasionadas pela demora da leitura dos car-tões, falta de treinamento dos cobradores e erros apresentados pela máquina. O estudante de medicina Rafael Lessa reconhece

que o sistema aumenta a segu-rança em razão da diminuição da circulação de dinheiro dentro do ônibus, porém a demora na fila e a falta de paciência dos cobradores causam desconforto.

O uso dos cartões já é experi-mentado pelos estudantes desde fevereiro de 2008, enquanto os de vale-transporte e de usu-ários avulsos foram entregues em março. A frota de ônibus de Porto Alegre foi devidamente adequada na parte interna, com alteração na posição da roleta. O cobrador está mais perto do motorista e os assentos especiais estão situados no meio do carro. O assessor de imprensa da EPTC, Cláudio Furtado, alega que a demora, em comparação com a de quando eram usados somente vale transportes, é mínima. “O projeto garante mais segurança no interior dos ônibus e mais conforto”, garante.Para ele, o costume virá com o tempo. “No

início, as mudanças são mais lentas, a própria agilidade dos cobradores auxiliará na rapidez do processo”, conclui.

A demora, no caso de Porto Alegre, deveu-se a necessidade de encontrar uma fórmula de financiamento que fosse aceita pelo Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social (BNDES). Sendo a EPTC órgão gestor do projeto e a operacio-nalização de responsabilidade a cargo da Associação de Transpor-tadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP), o financiamento foi liberado pelo Banrisul, agente financeiro repassador de recursos do BNDES. O empréstimo está orçado em R$ 27,7 milhões. O apoio técnico-científico ao projeto é da PUCRS. Estima-se que todo o investimento para implantação do TRI seja compensado pelas vantagens que a bilhetagem trará para o sistema, não causando re-percussões extras na tarifa.

Implantação do cartão eletrônico nos ônibus gera filas e reclamações

Ficha verde continua em uso no transporte coletivo da Capital

Guilherme Santos/ Hiper

Hnery Corrêa/ Hiper

Page 4: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 20084 memória hipertexto

Ditadura: lembrar para não reviverPor Maiara Andrade

Há 60 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) apro-vou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Depois disso, o Brasil foi submetido à ditadu-ra por 20 anos. Os brasileiros foram privados de liberdade de expressão e alvos de violência física e humilhações. Os direitos humanos foram postos de lado. Nos países vizinhos a situação não foi diferente nas décadas de 70 e 80. No chamado Cone Sul, termo que se refere aos países do extremo sul da América do Sul, Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai tiveram regime ditatorial no período.

Para que a sociedade não esqueça os momentos de repres-são, o deputado Adão Villaverde (PT) reuniu, em 25 de março, na Assembléia Legislativa, algumas figuras que foram vítimas da repressão como os três flávios, isto é, a professora universitária Flávia Schilling, o ex-deputado Flávio Koutzii e o jornalista Flávio Tavares. Villaverde, em seu dis-curso, destacou a importância dos movimentos populares da época e dos grupos de defesa dos direitos humanos. Para ele, a oposição à ditadura apareceu de diver-sas formas, através de setores populares, grupos da sociedade civil, instituições democráticas, estudantis, e partidos políticos, que foram fortemente reprimidos pela censura, cassação de direitos

OS FLáViOS

políticos, prisões e até mortes. Foi o que aconteceu com o estudante de 18 anos, Edson Luiz, morto em conflito com a polícia militar em frente ao restaurante universitá-rio Calabouço, em 1968, no Rio, e com o jornalista Vladimir Herzog, em 1975, em São Paulo.

Também foi lembrada a anis-tia, ocorrida em junho de 1979, fundamental para o processo de redemocratização do Brasil. Muitos brasileiros exilados ga-nharam o direito de retornar ao país, enquanto eram conhecidos aqueles dados como desapare-cidos ou mortos. O período da ditadura deixou seqüelas para os que sofreram diretamente e para nação em si. Nem tudo foi esclarecido. Por isso, Villaverde disse ser necessária a abertura completa dos arquivos do regime arbitrário.

Na homenagem da Assem-bléia Legislativa, foi relembrada a história dos três convidados que como vítimas testemunharam a atuação conjunta das forças repressivas dos países do Cone Sul que combatiam duramente os movimentos que ousam discordar da sua orientação política.

A educadoraGaúcha, Flávia Schilling foi

morar no Uruguai aos dez anos, com o pai, o historiador Paulo Schilling, que havia se exilado devido ao golpe militar no Brasil de 1964. Ela foi presa em 24 de novembro de 1972, com 18 anos.

Natural de Santa Cruz do Sul, foi detida em Montevidéu, acusada de ser militante do grupo político Tupamaros. Depois de passar por diversos quartéis, viver sem comunicação alguma, sofrer hu-milhações e castigos corporais, foi libertada em 14 de abril de 1980, após intensa campanha feita no Brasil e na Europa. “Finalmente esse país, mesmo com defasagem de 50 anos em relação a outros países, começa a universalizar o acesso à educação, isso é um avanço, é muito bom”, disse Flávia. Formada em pedagogia pela PUC de São Paulo, hoje ela é professora de educação na USP. Escreveu dois livros que retratam seu tempo de prisão: “Querida Liberdade” e “Querida Família”.

O jornalista Flávio Tavares nasceu em

Lajeado, Rio Grande do Sul, em 1934. Foi preso em 1964, pela primeira vez, em Brasília. Em 1967, foi acusado de ser o mentor de uma guerrilha no triângulo mineiro e de ser o personagem “doutor Falcão”. Foi preso no-vamente dois anos depois, por participar de uma operação no Rio de Janeiro que libertou nove presos da penitenciária Lemos Brito. Libertado em 1969, em troca do embaixador dos Estados Unidos no Brasil que havia sido seqüestrado, foi para o exílio no México e depois se transferiu para a Argentina. Detido em Montevi-déu, em 1977, ganhou novamente a liberdade em janeiro do ano

seguinte, depois de uma campa-nha internacional liderada pelos jornais Excelcior e Estadão. Foi para Lisboa e só voltou ao Brasil em outubro de 1979, após a anis-tia política. Hoje, Flávio Tavares é colunista do jornal Zero Hora e autor dos livros “Memórias do Esquecimento” e “O dia em que Getúlio matou Allende”. Flávio Tavares garante que mantém to-das as suas posições da época. “O que mudou foi a época”, mas ad-mite: “Hoje sou mais maduro.”

O políticoEm 20 de março de 1943, Flá-

vio Koutzii nasceu em Porto Ale-gre, onde estudou economia na UFRGS. Já militante político, em 1970, deixou o Brasil por causa de perseguição política. Foi preso em 1975, na Argentina, onde ficou até 1979. Depois de livre, exilou-se na França, e só voltou ao Brasil em 1984. “Na época da ditadura, sem liberdade de imprensa, sem habeas corpus, a esquerda era massacrada: pau, prisão, exílio ou morte. Hoje é um novo tempo”, respira. Eleito deputado estadual pelo PT três vezes, Koutzzii foi secretário de estado no governo Olívio Dutra. Escreveu o livro “Pedaços de Morte no Coração”, relato sobre sua experiência nas prisões da Argentina. Nas últimas eleições parlamentares de 2006, resolveu não concorrer a mais uma reeleição, mostrando-se desiludido com rumos da política brasileira.

Schilling, Koutzzi e Tavares, ex-presos políticos, foram hoemnageados no RS

Maria Joana Avellar/Hiper

Por Thais Silveira imagine fotografar um perío-

do muito importante da história do seu país e, devido à ditadura vigente na nação, ter de esconder o material para evitar que essa parte da história se perca? isso aconteceu com Aurélio Gonzá-lez, fotógrafo marroquino que, durante mais de 30 anos, teve de conviver com a incerteza da existência de suas imagens.

Aurélio González trabalhava no diário El Popular, de Mon-tevidéu, como chefe do setor de fotografia. Em 1973, quando o governo militar uruguaio de-cretou o fechamento do jornal, Gonzáles foi incumbido de en-contrar algum lugar seguro para que fossem guardadas todas as imagens que registrou durante um dos momentos mais tensos

da ditadura do Uruguai. No dia 6 de julho de 1973, às 2h, González escondeu o arquivo fotográfico dentro de latas de alumínio na garagem do prédio onde funcio-nava o jornal.

O fotógrafo, na época com 56 anos, foi preso. Partiu para o exílio e só retornou ao Uruguai em 1985. Não teve mais notícia, nenhum comentário sobre as imagens, ou sobre alguém que pudesse ter encontrado o mate-rial. “Não queria crer. Era impos-sível que tudo aquilo tivesse de-saparecido”, conta. Mas González sentia que poderia haver uma esperança. “Eu sabia que ainda existiam, mas não sabia aonde”, relata emocionado.

O local onde foram escon-didos os negativos passou por várias reformas e o material só foi reencontrado em 31 de janei-

ro 2006, por intermédio de um jovem que trabalhava no edifício e que possuía algumas das latas onde foram guardados os ne-gativos. Como González e seus ajudantes no resgate não tinham autorização, invadiram o prédio à noite e, com o auxílio de ímãs, re-tiraram das tubulações as latas de alumínio contendo mais de 50 mil fotogramas. imagens das décadas de 60 e 70 da história uruguaia. São fotografias do cotidiano dos trabalhadores, a movimentação política na capital e a reação às mudanças do regime político du-rante as décadas de 60 e 70.

Devido aos mais de 30 anos que permaneceram fechadas, as latas estavam soldadas e não era possível abri-las. Mas, uma força mágica e estranha, como definiu González, criou uma proteção. A umidade excessiva as salvou.

“Quando abri uma das latas, quase fui ao chão. Ver o rosto de antigos companheiros de muitos anos foi muito emocionante. Sinto que a vida me premiou”, disse na sua passagem por Porto Alegre, no início de abril.

Os negativos estão sendo recuperados e digitalizados pelo Centro Municipal de Fotografia de Montevidéu e tem a ajuda de dois

personagens que foram vítimas da Operação Condor, Universin-do Diaz e Lilian Celiberti. Os dois foram seqüestrados, em 1978, em Porto Alegre, e levados ao Uru-guai, por policiais brasileiros que atuavam em conjunto com órgãos de repressão de países do Cone Sul. Até o final do ano, deverá ser publicado um livro sobre o resgate dos negativos.

Fotógrafo resgata filmes da repressão uruguaia

Emoção: González recuperou os negativos, 36 anos depois

Henry Corrêa/Hiper

Page 5: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 2008 5políticahipertexto

Por Gonçalo Valduga

A única possibilidade de con-firmação da causa da morte do ex-presidente João Goulart no exílio, em uma de suas fazendas na Argentina, em 1976, é a exu-mação do cadáver, segundo dois especialistas em medicina legal ouvidos pelo Hipertexto. Mesmo assim, dependendo da substância e do estado de conservação da ossada, pode não haver certeza, como exige a legislação para a emissão de um laudo conclusivo.

O tema morte de Jango res-surgiu com a declaração de Mário Neira Barreiro, 54 anos, ex-agente do serviço secreto uruguaio, de que os frascos do remédio que o ex-presidente tomava para o coração teriam sido trocados por veneno. Barreiro afirmou que integrava a operação Centauro, responsável pelo monitoramento diário de João Goulart em sua fazenda no Uruguai. Atualmente, ele cumpre pena de 11 anos no Presídio de Segurança Máxima de Charqueadas (RS) por crimes de assalto a banco, porte ilegal de armas e contrabando.

O perito do Instituto Médico Legal de Porto Alegre (IML/RS), Manoel Constant Neto, especialis-ta em antropologia forense (ciên-cia de análise de restos humanos há muito enterrados), afirma que existe a possibilidade de se des-cobrir a causa da morte de Jango através de perícia, mas que o procedimento depende de alguns outros fatores, como o estado de conservação da ossada e o tipo de substâncias que teriam sido usadas. Manoel foi um dos dois peritos gaúchos chamados para ajudar com depoimentos técnicos a comissão externa da Câmara dos Deputados que investigou a causa da morte do ex-presidente,

no ano 2000.“É possível descobrir a causa

da morte em um corpo enterrado há longo tempo, mas isso não quer dizer que ocorra em todas as exumações”, destaca. O pe-rito observa que a investigação “pode chegar apenas a resultados parciais”, além de ser também necessário um aprofundamento na busca de indícios externos. Ele acredita que a perícia depende de dados específicos previamente levantados, para definição do que exatamente se está procurando. Caso se defina a busca, um me-canismo de pesquisa, chamado de teste de screening, é capaz de identificar a presença de uma determinada substância. No caso de um corpo enterrado há muitos anos, seria preciso existir a sus-peita de algum veneno específico para facilitar a confirmação.

Metais pesadosO perito do IML de São Paulo,

Jorge Mário Tsuchya, que liderou a equipe que trabalhou na iden-tificação dos corpos no acidente com o avião A-320 da TAM, tam-bém acredita que a identificação da causa mortis seria possível somente para determinados tipos de venenos. “A perícia depende muito das condições em que a ossada se encontra, mas isso só poderemos comprovar se for au-torizada a abertura do túmulo”, analisa Tsuchya. Para um corpo enterrado há tanto tempo é gran-de a possibilidade do esqueleto não estar bem preservado, difi-cultando o caminho até prováveis indícios. O perito informa que os venenos com maior probabilida-de de identificação são aqueles que contêm metais pesados, como chumbo, cádmio, cromo e mercúrio, ou semimetais, como o arsênico.

Só exumação pode comprovar assassinato de Jango no exílio

No último dia 18 de março, os ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Aldir Passarinho Junior, Nancy Andrighi e Sidnei Beneti analisaram o recurso solicitado pela família de Jango. A família pede indenização aos Estados Unidos por suposta participação no golpe militar de 1964. Segundo a assessoria de imprensa do STJ, o ministro Beneti exigiu um pedido de vista do processo para o órgão poder analisar melhor o caso. Ainda não há data para novo julgamento.

O STJ decidirá se a suposta participação dos EUA no golpe foi um ato de império ou de gestão. Se for ato de gestão, motivado por interesses particulares, o processo seguirá sendo analisado pela Justiça brasileira. Caso seja ato de império, a ação não poderá prosseguir devido à imunidade jurisdicional.

Governoamericanoé acusado

Mas não há garantia de que o veneno continua na ossada 31 anos depois

A família do ex-presidente não estabelece a exumação do corpo como prioridade na investigação, mesmo não tendo sido feita au-tópsia após a morte, ocorrida há 31 anos. Um neto de Jango, João Alexandre (filho do João Vicente), que estuda no curso de Publicida-de e Propaganda da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (Famecos), afirma que a família acha difícil que algum laborató-rio possa identificar as causas ou vestígios de algum veneno nos restos mortais. “A questão que nós precisamos levantar não gira em torno de fazer ou não a exumação. O momento é propício para ser contada a verdade da história brasileira e quem foi realmen-te João Goulart”, avalia. “Caso apareça algum laboratório capaz de realizar a investigação, daí, sim, iremos pensar no que fazer, mas por enquanto essa hipótese

está descartada”, confirmou. Ele acredita que o mais importante é resgatar a imagem do avô por-que “todos os brasileiros têm o direito de saber o que realmente aconteceu no regime militar, por mais vergonhosa que essa história tenha sido”.

Para o conselheiro do Mo-vimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, Jair Krischke, antes de exumar é necessário investigar o tema exaustivamente em busca de da-dos mais consistentes, para que os peritos possam focar o trabalho científico com mais objetividade. “Se exumarmos o corpo agora, e dermos o azar da perícia não identificar a causa da morte, o tema pode perder força e cair no esquecimento”, afirma. Segundo ele, pelo apelo político que tem, é importante para a história do País que as investigações pros-

sigam, pois “a morte de Jango é altamente suspeita”.

O advogado José Roberto Ba-tochio, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nacional e da secção de São Paulo, informou que no caso de sair uma determinação judicial que autori-ze a exumação, não há nada que possa descumpri-la. “Do ponto de vista legal, se existir uma de-terminação judicial no processo, a família teria que acatar a deci-são, embora a Justiça coloque em primeiro plano o direito sagrado que os familiares têm de preservar a intocabilidade dos restos mor-tais”, analisa. Segudo ele, surgiria um conflito poderoso entre dois interesses que se contrapõem, pois de um lado, a história do País quer saber a verdade, e de outro, há o lado sensível que mexe com os sentimentos da família do ex-presidente.

Família quer resgatar imagem do ex-presidente

O presidente Goulart com a esposa Maria Teresa e o filho João Vicente

Memória/ Fundação Getúlio Vargas

Por Pamilli Braga

O ex-bispo adepto da Teologia da Libertação, Fernando Lugo, de 56 anos, é o presidente eleito do Paraguai que tomará posse em 15 de agosto. O candidato da Aliança Patriótica pela Mudança venceu a eleição presidencial de 20 de abril com 41% dos votos, contra 31% do Partido Colorado que estava há

mais de 60 anos no poder. Em 2 de abril, 18 dias antes

das eleições, o paraguaio veio ao país para conversar com o presidente Lula, o motivo seria trocar idéias sobre o Mercosul. A pauta que gerou maior polêmica e medo nos brasileiros que moram no lado estrangeiro da fronteira foi inevitavelmente citada. O esquerdista garantiu aos “brasi-

guaios”, como são chamados os imigrantes no local, que não havia motivos para se preocupar. “É um medo infundado, sem nenhuma argumentação, trata-se de uma propaganda do Partido Colorado”, esclareceu em entrevista à Folha de São Paulo. Para os brasileiros resta saber se, depois de eleito, o futuro presidente vai cumprir a promessa.

O caso de Itaipu promete gerar discussões entre as nações vizinhas. Durante toda a campa-nha, Lugo prometeu reivindicar do Brasil os direitos que acredita ter sobre os recursos naturais utilizados pela hidrelétrica. Um dia após o resultado da votação, Lula disse em entrevista coletiva que não vai mudar o que já foi tra-tado e minimizou a importância

das negociações, afirmando que Itaipu não é o principal assunto a ser discutido: “São muitos os temas; não é só a questão de Itai-pu. A nossa fronteira, que é muito grande e envolve vários estados, também a questão da Ciudad Del Leste, de investimentos… Temos muito para continuar conversan-do com o Paraguai”, minimizou o presidente Lula.

Ex-padre da Teologia da Libertação vence eleições no ParaguaiÚLTIMA HORA

Page 6: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 20086 fotografia hipertexto

Ensaio de estiloCamila Domingues/ Hiper

Vinícius Carvalho/ HiperVinícius Carvalho/ Hiper

Pedro Revillion/ Hiper

Pedro Revillion/ Hiper

Ensaio de estilo

Por Andressa Foresti

Alexandre Herchcovitch trouxe muito pre-to à passarela do Donna Fashion Iguatemi 2008. A cor que já predominava nas vitrines do país inteiro favorece os cortes e forma-tos das roupas. O estilista paulistano evi-denciou, ainda, sua inspiração geométrica. Looks de caubóis urbanizados e golas de veludo devorê completam a coleção.A Lua apresentou as principais tendências do inverno inspirada no folk nas costuras das jaquetas acinturadas e de veludo co-telê. A Zoomp mostrou, no desfile, peças com cintura alta. A tendência da calça lá em cima, lançada no verão, continua forte na próxima estação. Agora, vem acompanhada de trench-coats de lã grossa, além dos mini-vestidos de jeans, outra opção.O público também aprovou as novas dis-posições apresentadas pela Renner. A rede gaúcha trouxe de volta o estilo anos 80 que chega com força através das calças largas. Quem também segue a moda das pantalonas é a Dopping, que usou e abusou da cintura alta.A Studio Mix, especializada em vestidos de festa, resolveu substituir o brilho das lante-joulas por bordados com tachas e pedrarias. Outra idéia da marca para sair do tradicio-nal foram os casacos de xantung violeta.

Page 7: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 2008 7especialhipertexto

Um passeio pelas formas de Porto AlegreAos 236 anos, Capital dos gaúchos tem uma história arquitetônica a ser preservada

Por Bruna Weis Scirea

Uma cidade é a junção de costumes, sentimentos e atitudes; é o espelho de uma população. Molda-se à imagem de seus habi-tantes, mesmo quando resiste ao que tentam lhe impor. No campo artístico e cultural, forma-se um verdadeiro mosaico. Opiniões e gostos encontram espaço para a divergência. Há sempre lugar para uma idéia nova, um terceiro olhar. Porto Alegre é assim, aos 236 anos: um palco eclético de expressões artísticas que tomam forma pelas ruas e avenidas.

A Capital é conhecida pela Bienal do Mercosul Sul, Feira do Livro e Brique da Redenção – al-guns dos reflexos da diversidade cultural. Como habitat do homem civilizado, a cidade também se revela nas construções históricas, que, além de embelezar, se com-plementam e reproduzem estilos quase antagônicos. Porém, há uma diferença: enquanto as expo-sições ficam apenas na memória, a arquitetura não foge aos olhares cotidianos.

No início do século 20, trau-matizados pela a 1ª Guerra Mun-dial, muitos alemães resolveram tentar a vida fora de sua terra na-tal. Porto Alegre recebia navios de imigrantes, e assim, a arquitetura germânica se fez sentir na arqui-tetura gaúcha dos anos 30. Carac-terizada pela simplificação formal das construções, obras como o Edifício Ely (Tumelero), Hotel Majestic (Casa de Cultura Mario Quintana), entre tantas outras, exemplificam o princípio crucial das obras alemãs: a imitação de diversas tendências artísticas em um mesmo prédio.

Theodor Wiederspahn é o grande nome da arquitetura em Porto Alegre. Partindo da Ale-

O desafio: preservar a identidade, sem imobilizar a arquiteturaAs perspectivas para preserva-

ção arquitetônica de Porto Alegre são negativas, na visão do profes-sor da PUCRS, Günter Weimer. “As iniciativas de reciclar alguns dos melhores prédios da cidade são por demais tímidas para produzir um efeito significativo. Quanto aos prédios históricos, em linhas gerais, ainda predomina a lei do faroeste: índio bom é índio morto. No caso, prédio velho só é bom quando vem abaixo e dá lugar para um estacionamento de veículos”.

No entanto, há quem acredita que a revitalização petrifica as ci-dades. Essa é a opinião do francês Henri-Pierre Jeudy, autor do livro “Espelhos das Cidades”. Para o filósofo, o processo de conserva-ção patrimonial tem provocado a morte dos centros históricos, que se transformaram em museus. Em sua concepção, a museificação urbana tem como origem uma estratégia de marketing turístico, que torna os centros urbanos mais homogêneos e desinteressantes. Em entrevista à Folha de São

Paulo, em junho de 2005, Jeudy dizia que “uma utilidade da con-servação patrimonial é proteger os rituais, manter uma lembrança simbólica do espaço. Na Europa, as pessoas sentem culpa por esquecer alguma coisa, o que também é resultado das guerras (pelas quais os países passaram). Como é possível esquecer, se per-guntam. Há muitos memoriais em todos os lugares, porque é neces-sário lembrar, lembrar, lembrar. Mas, assim é impossível viver o presente”.

A restauração de centros his-tóricos não impossibilita a vi-vência do presente, argumenta a estudante Camila Biavatti, 19 anos, no quarto de arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Há vários edi-fícios antigos e restaurados que ainda abrigam uma atividade e, ao mesmo tempo, guardam a história do lugar, da cidade”. Ela considera a arquitetura porto-ale-grense bastante rica, inclusive por terem preservado parte dos edifí-cios antigos. “É uma cidade que

comporta construções feitas em diversas épocas de estilos diferen-tes. Só acho uma pena que alguns prédios não tiveram a valorização necessária e hoje se encontram em situações precárias”.

Assim como as formas se misturam, as idéias e opiniões sobre o que é melhor para manter a riqueza arquitetônica também divergem. São 236 anos e 470 qui-lômetros quadrados de história e novos olhares que se entrelaçam na concepção coletiva do que cada um entende por “minha cidade”.

manha, chegou para trabalhar no Brasil em 1908, dedicando-se a projetar as obras de maior noto-riedade na cidade. A imponência de seus detalhes pode ser vista na fachada de importantes cons-truções, como a que hoje abriga o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), antigo prédio da Delegacia Fiscal; o Santander Cultural, que abrigou o Banco do Comércio, revela traços neo-classicistas; e o Memorial do Rio Grande do Sul (antigamente dos Correios e Telégrafos), em estilo barroco, que exibe profunda or-namentação.

Em meados da década de 40, o Modernismo tomou conta

das formas artísticas. “Devido à concepção modernista de que o melhor era colocar tudo a baixo e começar do zero, foi perdida muita coisa importante”, explica o arquiteto e professor da PUCRS, Günter Weimer, autor de livros e artigos sobre arquitetura. Antes da 2ª Guerra, Porto Alegre era uma cidade harmônica, com ruas proporcionais e que atendiam bem à demanda reduzida da população, e que no âmbito da arquitetura, correspondia a pré-dios de dois ou três pisos. “Com o Modernismo, a construção em altura e a avassaladora aquisição de automóveis quebraram esta harmonia, fazendo com que a

cidade perdesse suas qualidades espaciais”, lamenta Weimer.

A percepção de que a arqui-tetura modernista havia causado mais problemas que obras signifi-cativas, só ganhou consciência no fim da ditadura militar. No Esta-do Novo, havia se implantado o Serviço do Patrimônio. Devido ao autoritarismo do período, o órgão passou a ser temido e visto como uma limitação do uso de propriedade sem recompensa, uma considerável perda para o proprietário. As leis visando compensar as limitações impos-tas pelo tombamento não foram regularizadas. No entendimento de Weimer, foram adotadas ape-

nas “soluções paliativas como leis de incentivos fiscais para fins de restauração e conservação de prédios, muito tímidas e que continuam não produzindo os devidos efeitos”.

Outra solução encontrada foi passar esse encargo para os esta-dos e municípios que, muitas ve-zes, preferem aplicar seus recur-sos em outras áreas. Nas palavras de Weimer: “Os prédios que estão sendo colocados sob preservação estatal são ridículos em número. As decisões a respeito da inclusão na lista dos protegidos depende muito mais de ações casuais ou interesseiras que de um progra-ma lógico e técnico”.

Casa de Cultura Mario Quintana, o antigo Hotel Majestic A Igreja das Dores Memorial do RS ocupa o prédio dos Correios

Antiga Delegacia Fiscal, contrastes arquitetônicos no centro da cidade

Camila Domingues/Hiper

Camila Domingues/Hiper

Fernando Correa/Hiper

Fernando Correa/Hiper

Page 8: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 20088 mundo hipertexto

Por Luciano Varelmann

Às vésperas do início dos Jo-gos Olímpicos de Pequim, uma velha questão volta à tona. A luta do povo tibetano pela indepen-dência ganha força midiática, quando as atenções se dirigem ao país mais populoso do planeta. A história do Tibete se confunde com sua luta pela independência. Desde 1720, a China reivindica a soberania sobre o território, mas o início das investidas chinesas data do longínquo século VI, durante a dinastia Tang.

Os tibetanos só ficaram inde-pendentes em 1912, na queda da dinastia Ching. Em 1913, firma-ram um acordo, mediado pela Inglaterra, oficializando a sepa-ração, mas nunca cumprido pela China. Em 1918, uma intervenção inglesa foi necessária para apazi-guar outro forte conflito armado entre ambos.

No início da década de 50, a China comunista de Mao Tse Tung invadiu o Tibete e a ocupa-ção dura até hoje. Em 10 de março de 1959, um grande levante na capital Lhasa foi violentamente combatido pelos chineses. O Dalai Lama, líder político e religioso do Tibete, deixou a região dias depois e, até hoje, vive exilado em Dharamsala, na Índia. Ele viaja pelo mundo buscando apoio diplomático à causa tibetana. Anos atrás esteve, inclusive, na PUCRS e lotou o salão de atos. Assim como seu líder, milhares de tibetanos se encontram exilados em outros países.

DiferençasreligiosasAs diferenças religiosas não

são o principal motivo do confli-to, diz Pedro Kunrath, professor da Faculdade de Teologia da PUCRS. “A questão não é pura-mente religiosa, embora chame a atenção os monges liderarem um movimento contra a intervenção de uma potência como a China. Apesar da diferença política e

cultural, o que está em jogo é mais uma disputa econômica e geográfica”, explica. Herança do comunismo, o regime fechado chinês restringiu o trabalho da imprensa internacional na região, tornando muito complicada a repercussão dos anseios do povo tibetano. A ocupação chinesa até hoje é marcada por uma forte repressão política e religiosa que já fez milhares de vítimas.

“Há alguns anos, a China está na vitrine como superpotência. A Olimpíada e a questão do Tibete acabaram revelando o que a China tem de pior, como a repressão, violação dos direitos humanos, a censura à internet e aos meios de comunicação”, afirma o jornalis-ta Rodrigo Lopes, subeditor de Mundo do jornal Zero Hora.

O Tibete também nunca obte-ve sucesso em suas reivindicações junto à Organização das Nações Unidas (ONU). A China é um dos cinco países com poder de veto a qualquer decisão da ONU. É razo-ável ponderar ainda que nenhum outro país teria interesse em se indispor com uma nação do po-tencial econômico e de mercado como a China.

O governo de Pequim, por sua vez, executa um plano de desenvolvimento econômico que, provavelmente, Dalai Lama e o governo tibetano no exílio não teriam conhecimento técnico nem know-how para oferecer ao Tibete. A quatro meses do início da Olímpiada, a onda de protes-tos e manifestações contrárias à ocupação constrangem o governo chinês. “Acho perigoso quando a política se mistura com o esporte como tem acontecido agora e já aconteceu nas Olimpíadas de Moscou, Los Angeles e Seul. É importante tentar preservar o espírito olímpico, mas abre uma discussão válida a respeito da China, que demonstra ainda ter um longo caminho a percorrer até ser considerada uma nação completamente democrática”, pondera Rodrigo Lopes.

Por Rafael Codonho

“Você acha razoável discutir sobre isso na internet”, questio-na Christoph Bley, morador de Pequim desde agosto de 2006. “O que posso dizer é que a pro-paganda funciona, pelo menos deste lado da fronteira do Tibete”, completa o alemão de 25 anos. Christoph refere-se ao controle da informação aplicado pelo governo chinês sobre todos os meios de comunicação, inclusive a rede mundial de computadores

“Não é fácil para um país tão grande como a China, que tem tantas religiões e minorias étni-cas. Questões étnicas e religiosas não devem interferir na política”, avalia a estudante chinesa Zhu Gesha, intercambista na Irlanda. Zhu lê os jornais locais e acom-panha a questão do Tibete pela BBC. “A mídia ocidental está afir-mando que o governo chinês não respeita os direitos humanos. Na minha opinião, esta perspectiva de direitos humanos é ocidental”, conclui.

O Tibete esteve em evidência desde os protestos ocorridos em Lhasa, no mês de março. Os mani-festantes iniciaram as demonstra-ções com o aniversário de 49 anos do levante armado dos tibetanos contra o governo comunista, que ocupa a província desde 1951. Com a repressão do Exército de Libertação Nacional, o líder espi-ritual dos tibetanos, Dalai Lama, seguiu em exílio para a Índia.

A imprensa oficial chinesa justifica a invasão comunista, denominada “libertação”, com o

fato de que o Tibete era dominado por um regime feudal e escravo-crata. O poder é legitimado pelo atual crescimento econômico de 12% – acima da média nacional, de 9,6% -, o aumento da qualida-de de vida da população local e investimentos em grande escala do governo central. Entretanto, a província ainda é a região mais pobre da China..

Em entrevista ao jornal O Es-tado de São Paulo, o professor An-drew Martin Fischer, da London School of Economics, denunciou a estratégia de assimilação do Parti-do Comunista Chinês: “O governo reduz gradualmente a educação média tibetana e introduz a edu-cação média chinesa, minando as maneiras pelas quais a educação tibetana média poderia se desen-volver”. O pesquisador afirma que as minorias étnicas chinesas – no total, 55 – são forçadas a se tornarem, num processo de aculturação, semelhantes à etnia predominante (han, 92% da po-pulação).

Durante os incidentes no mês de março, jornalistas estrangeiros foram proibidos de permanecer na província. Para reprimir os manifestantes, tropas foram co-locadas nas ruas, ancoradas por tanques, e a violência empregada contou com o apoio da população chinesa. Entre os esforços nos meios de comunicação, o governo bloqueou diversos sites de ONGs sobre o Tibete e o YouTube, além dos canais de televisão da BBC e CNN.

Na televisão estatal do país (CCTV), os tibetanos aparecem

apenas queimando bandeiras chi-nesas, quebrando lojas e carros. Os soldados comunistas não são os agressores que causaram mais de uma centena de mortes: tor-nam-se vítima dos protestantes e são filmados gravemente feridos. Os servidores da união nacional e os representantes da opinião pública contrapõem-se aos “vân-dalos”, guiados pelo Dalai Lama num “movimento subversivo e articulado”.

Em campanha contra a co-bertura estrangeira sobre as ma-nifestações, o jornal China Daily caracterizou a mídia internacional de “desonesta e manipuladora”. Publicado em 25 de março pela agência de notícias Xinhua, o editorial resume o ponto-de-vista oficial: “Não importa o que a mídia chinesa veicule sobre as atrocidades cometidas pelos amotinadores em Lhasa, como eles violam a lei, como impopular eles são entre os residentes locais, o roteiro de alguns veículos de comunicação estrangeiros já está pronto. A autoridade pública é o mal e os protestantes são vul-neráveis. Isto se adequa bem à história ocidental e cristã de Davi e Golias”.

A poucos meses das Olimpí-adas de Pequim, a comunidade internacional não sabe o que esperar de algumas das condi-ções impostas à China para que fosse indicada como sede dos Jogos Olímpicos. Os chineses se comprometeram a promover a livre circulação¬, liberdades de expressão e imprensa para os jornalistas estrangeiros.

Protestos provocam guerra de versõesentre as mídias chinesa e internacional

Conflito entre China e Tibete começouno século VI

Na era moderna, país só ficouindependente em curto período

A exposição da China na imprensa mundial em razão das Olimpíadas desencadeou onda de protesto dos tibetanos

Prakash Mathema/AFP

Page 9: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 2008 9culturahipertexto

Por Bruna Silveira

Lembrado como um dos maio-res literatos do Brasil, Machado de Assis, advindo de família hu-milde, foi romancista, cronista e poeta. As ações rotineiras do homem eram sua maior inspira-ção. No ano de seu centenário de morte, o fundador da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras mostra-se, ainda, atual.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no dia 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro. Machadi-nho, como era conhecido por seus amigos, dividia a ânsia de escre-ver com o trabalho burocrático em um ministério, chegando em 1889 a diretor de Comércio.

Durante sua formação, Ma-chadinho contou com o apoio de Madamme Gallot, proprietária de uma padaria. O forneiro do local lhe forneceu as primeiras lições de francês, tornando-se mais tarde um poliglota. Assim, o literato, durante sua trajetória, traduziu obras do francês Victor Hugo e do norte-americano Edgar Allan Poe.

Machado de Assis, que iniciou sua carreira trabalhando como aprendiz de tipógrafo na Impren-sa Oficial, aos 15 anos estreou na literatura com a publicação do poema Ela na revista Marmota Fluminense e, em seguida, tinha como amigo e admirador o ro-mancista José de Alencar, prin-cipal escritor da época.

Como escritor de livros, sua primeira obra publicada foi uma reunião de poemas intitulado Crisálidas, no ano de 1864. Com a estabilidade financeira garan-tida pelo trabalho burocrático, Machado de Assis inicia seu perí-odo romancista em 1872. Porém, também é considerado hoje, além de um dos maiores homens da literatura do país, um escritor do realismo.

Utilizando-se de introspec-ção, humor e pessimismo com relação à essência humana e seu relacionamento com o mundo, Machado, segundo a professora Dileta Silveira Martins, doutora em Letras, o escritor definiu-se como inovador não só na lingua-gem como na estrutura do roman-ce. “Uma de suas qualidades era subverter a ordem narrativa como em Memórias Póstumas de Bras Cubas”, comenta. Dileta explica, também, que as cogitações filosó-ficas, o humor amargo, o tempo e a memória transformaram o romance do século XIX. “As per-sonagens traduziram aquilo que em Machado foi classificado como

o homem subterrâneo, buscando no recôndito do ser humano suas emoções e sentimentos.”

Dileta Silveira Martins tam-bém destaca que o escritor ala-goano trabalhou com a intertex-tualidade. “É um recurso muito utilizado por escritores que con-siste em usar outro texto no seu próprio texto”, explica a doutora em Teoria Literária. “Machado se utiliza de passagens da Bíblia,dos escritores ingleses e franceses e até textos coloquiais como frases feitas . A intertextualidade pode ser de temas, de linguagem e de sentido”, conclui.

Por suas obras voltarem-se para problemas relacionados com o gosto da época, incluindo sua relação com os modelos linguís-ticos, Machado apresentava em suas obras também o estilo do realismo visto em Quincas Borba, seguida de Dom Casmurro. Consi-derado pelo norte-americano Ha-rold Bloom um dos 100 maiores gênios da literatura de todos os tempos, ele mescla em suas obras elegância e crueldade.

Machado de Assis, casado 35 anos com Carolina Augusta Xavier de Morais, teve nela sua maior inspiração. Carolina não lhe deu filhos. Dois anos antes de sua morte, o escritor perdeu a esposa. Sua vida ficou em preto e branco e fez declarações de que gostaria que ela lhe esperasse além tumulo. Neste período, escreveu seu último romance, Memorial de Aires, que conta o drama de um viúvo solitário. Com infecção intestinal e úlcera na língua, Machado de Assis vai pela ultima vez à Academia Brasileira de Letras no mês de agosto. Em 29 de setembro de 1908, morre ucom a certeza do reconhecimento do público por sua literatura e suas críticas.

Considerado o maior expoente de todos os tempos da literatura nacional, Machado de Assis ga-nha, no ano do seu centenário de morte, uma programação especial na Academia Brasileira de Letras e, a Lei nº 11.522 que institui o ano de 2008 como o Ano Nacional de Machado de Assis. Além disso, já foi lançada a obra Toda Poesia de Machado de Assis, pela editora Record. O livro organizado pelo professor universitário e também poeta Cláudio Murilo Leal trará aos leitores toda a vertente da poesia machadiana. Serão quase 200 poemas não só dos livros publicados como também outros dispersos em jornais e publicados sob pseudônimo. Um funcionário burocrata que se mostrou genial.

O estilo literário de Machado de Assis é estudado nas escolas de todo o Brasil e marca a vida de muitas pessoas, justamente pelo seu estilo realista. Mas, em alguns casos, a paixão por Machado de Assis nem sempre chega durante o período escolar. Henrique Perin, formando em jornalismo, depa-rou-se com as obras de Machado de Assis aos nove anos de idade.

Sem muita opção do que fazer durante as férias na casa dos avós no interior do Rio Grande do Sul, o refúgio do pequeno Henrique eram os livros da biblioteca da casa, nem sempre em português. Dos raros de nossa língua nativa estavam Érico Veríssimo, Eucly-des da Cunha, Monteiro Lobato e uma série completa de Machado de Assis, edição luxo do ano de 1957.

“Os livros de Machado me alucinavam pela forma com a qual Machado de Assis fluía a história”, lembra. “Memórias Póstumas, por exemplo, além de ser revolucionário para época em

que foi escrito, foi marcante pra mim, simples leitor de histórias em quadrinhos. A maneira como estão descritos os personagens. Nunca antes havia lido, em lugar algum, que uma mulher pudesse “ter olhos de cigana oblíqua e dissimulada, olhos de ressaca”, como em Dom Casmurro. Aquilo pra mim foi quase uma revelação, como quando uma pessoa recebe a “visão” de um anjo, que lhe revela sua missão, ou lhe designa alguma tarefa”, explica.

Ao conversar com o avô sobre as histórias lidas, Henrique des-cobriu que Machado de Assis era jornalista e pensou ser este o seu caminho. “Com a ingenuidade que apenas uma criança de nove anos pode ter, pensei seguir a carreira. Essa é, talvez, a mais antiga lem-brança de como escolhi minha futura profissão. Queria ser igual ao Machado, escrever como ele, pensar do mesmo modo, enfim, algumas vezes emocionado com os livros”, comenta. A idéia de Perin não era, como a da maioria

das crianças, ser os personagens de histórias, e sim o criador deles. “Fantasiava ser o próprio escritor. Ter poderes sobre o destino, as emoções e sensações dos perso-nagens. E como eram reais esses personagens!”, elucida o fã que quando criança facilmente enxer-gava os personagens de tão reais que lhe pareciam.

Porém, além dos romances realistas de Machado, Perin tam-bém estreitou laços com o jorna-lista Machado de Assis e tem em seu conceito o literato como um jornalista político. Para ele, Ma-chado “sempre será encontrado debruçado sobre as enfastiadas atas da Câmara de Deputados, ou ouvindo os chatos e repetitivos discursos proclamados para as paredes, pelos deputados. Mas com certeza, assim como para Balzac, na Comédia Humana, essas pessoas serviram de inspi-ração e molde na criação de seus personagens, assim como os cos-tumes e características do Rio de Janeiro do século XIX”, elucida.

Machado de Assis, renovador e atualCem anos depois da morte, o escritor brasileiro continua uma referência na literatura mundial

Ele o conheceu na biblioteca do avô

Pedro Belo Garcia/Hiper

Formado em Jornalismo, Henrique Perin se encantou por Machado de Assis durante umas férias, na infância

Page 10: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 200810 música hipertexto

A união faz o somColetânea Rock incentiva bandas independentes agenda

24 abril - Ivone Lara e Leci Brandão. Teatro do Sesi

25 abril - Vanessa da Mata. Teatro Bourbon Country

26 abril - Maria Rita.Teatro Bourbon Country

28 e 29 abril - Charles azna-vour. Teatro do Sesi

10 Maio - Zach ashton.Pepsi On StageMaria Bethânia. Teatro do Sesi

11 Maio - Fábio Júnior.Tea-tro do SesiWhiteskane. Teatro Bour-bon Country

14 Maio - João Bosco.Teatro do Sesi

15 Maio - MV Bill. Bar Opi-niãoMiúcha e galo Preto.Teatro do Sesi

18 de Maio - Misfits.

Porto Alegre: shows musicais para todos os gostos em maio

Bandas independentes: somando forças para produzir um CD no Rio Grande do Sul com apoio da mídia e gravadora

Por Leonardo Serafim

Se o mês de março foi um marco histórico para Porto Ale-gre, devido à passagem da maior banda de metal, o Iron Maiden, abril e maio chegam com atrações mais modestas, mas que prome-tem agradar todos os gêneros mu-sicais. Do rock pesado da baiana Pitty, ao samba de Leci Brandão. Do rap social de MV BILL ao som farofa do Whiteskane. Da MPB delicosa de Vanessa da Mata ao coroas punk´s do Misfits. Todos dão uma paradinha na capital gaúcha para a alegria dos dife-rentes públicos.

Depois da banda alemã Hallo-ween, outra grande expressão do rock internacional, com show no Pepsi On Stage, dia 22 de abril, é a vez de conferir a boa música nacional de Maria Rita. A filha da diva Elis Regina mostra no-vamente, em Porto Alegre, todo seu talento. Ano passado ela já havia estado em dezembro, di-vulgando seu terceiro trabalho, Samba Meu. Agora, no final de abril, estará no Teatro do Bour-bon Country. Vanessa da Mata, no dia 25, e as consagradas Mária Bethânia e Miúcha, em maio, completam a lista de cantoras de MPB a desfilar por aqui.

A roqueira Pitty é outro desta-que do Atlântida �estival. DepoisAtlântida �estival. Depois. Depois de fazer o show de encerramento do BBB 8, o reality show da Rede Globo, a banda baiana tenta se redimir com uma turne nacional. �resno, Charlie Brown Jr e Mar-celo D2 também comparecem no evento, no teatro do Sesi, em 1º de maio. Nove dias depois, é a vez da Pop Rock promover sua festa, no Pepsi On Stage. A grande atração da noite será o norte-americano Zach Ashton. O cantor que se en-cantou com os ritmos brasileiros em suas diversas passagens por aqui, aderiu ao samba e a bossa nova em suas trilhas sonoras e, em 2004, gravou o álbum Mellow dia, em solo nacional.

O Whitesnake fecha sua tur-ne no Brasil, no Teatro Bourbon Country, no dia 11 de maio. O grupo liderado pelo vocalista David Coverdale vem ao país para lançar o CD -, último disco com músicas inéditas em 11 anos.

Seguindo na linha do rock, os tiozinhos do Misfits também apresentarão seu repertótrio na cidade. A vinda deles para cá não é novidade para os porto-alegren-ses, já que eles aparecem tantas vezes no Brasil quanto a Sheila Mello na revista Playboy. Suas músicas e suas rugas poderão ser conferidas no Bar Opinião, em 18 de maio, dia histórico para o rock devido ao suícido de Ian

Curtis, vocalista do Joy Division,e do nascimento do cantor Jack Johnson.

De todas as apresentaçãos marcadas para Porto Alegre, a mais aguardada é do cantor Char-les Aznavour. �reqüentemente descrito como o �rank Sinatra da �rança, Aznavour faz turne de despedida dos palcos. Dentro do setlist, estão garantidos sucessos como �enecia Sin Ti e She, m���enecia Sin Ti e She, m��e She, mú-sica depois regravada por Elvis Costello para o filme Um Lugar Chamado Nothing Hill. Além de grande cantor, o farancês tam-bém deixou sua marca no mundo do cinema. Aznavour participou de mais de 60 longas metragens, incluindo A Bateria Tim, ganha-dor do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1980. As apre-sentaçãos acontecerão no Teatro Sesi, nos dias 28 e 29 de abril.

Agenda cultural

Por Daniela Cenci

�oram mais de 90 horas de gravação. Durante um mês, 15 bandas independentes – das 300 que se inscreveram no processo seletivo – estiveram envolvidas na produção do CD Coletânea Rock Bandas Gaúchas, que foi lançado em 12 de abril. O incentivo partiu do Portal Bandas Gaúchas em parceria com a gravadora ACIT.

A idéia da criação de um CD que mostrasse as novas caras da música tomaram forma durante dois anos e meio. Mas só depois de reunir “marcas boas” como Kzuka, Rádio Atlântida, T�Com, Zero Hora e ClicRBS, além do selo mais conceituado de rock no Rio Grande do Sul – a Antídoto – é que os idealizadores Renato Lau-rino e Ricardo Noschang tiraram o projeto do papel. “A gente pre-fere a credibilidade e confiança”, afirma este �ltimo. O objetivo não é apenas lançar um produto, mas fazer com que os formadores de opinião ouçam o trabalho dessas bandas novas – algumas já inse-ridas, com CDs autônomos.

Para escolher os participantes do primeiro volume, o principal critério adotado pelo portal foi a qualidade do material enviado pelos grupos, além daquilo que Noschang chamou de “vestir a camisa do projeto”. Também foi pesquisado o que esses músicos estavam produzindo, como cli-pes no Youtube, shows nas suas respectivas cidades, a quantidade de fãs no site de relacionamento Orkut e no hotsite do Portal.

A obra reúne grupos com ca-racterísticas musicais marcantes do rock and roll das décadas de 80 e 90, bem como o hard rock, o pop rock e o metal. A maioria deles começou em garagens, pri-meiro com covers, e por fim com som próprio. As influências nos arranjos e letras reproduzem o cotidiano – situações que aconte-ceram na vida dos integrantes ou de amigos, pensamentos e senti-mentos, angústias e imperfeições do ser humano.

Em clima de confraternização, produtores e músicos comemo-raram o resultado do projeto na festa de lançamento. “�icamos muito satisfeitos quando recebe-mos o convite para participar do Coletânea, já que a Pentagrama existe há dois anos e sempre teve como maior objetivo a divulgação das músicas próprias. Este projeto veio para intensificar o nosso tra-balho”, declara o vocalista João Maria Mendonça, da banda Pen-tagrama, de Alegrete. “Depois do lançamento do CD, aumentaram os acessos no nosso site, nos per-fis e comunidades relacionadas à banda no Orkut”, revela.

O vocalista Vinícius Savi, da Lee Jhones, de Passo �undo, destaca a importância da opor-tunidade. “A Coletânea Rock Bandas Gaúchas marcou uma nova perspectiva para a banda. É mais um sonho – dentre os milhares que temos – tornando-se realidade”,enfatiza. Para ele, o CD está coeso, harmonioso, tem início, meio e fim. “O encarte e a produção estão ‘gringos’. Enfim,

não é preciso tantas palavras para explicar: basta escutar, deixar a música entrar e medir os deci-béis da ressonância”, assegura o músico.

Para essas bandas, a internet é o principal meio de publicação dos trabalhos. O contato com os fãs acontece através da rede, como o próprio Portal Bandas Gaúchas, além de sites oficiais, de relacio-namento, fotologs, entre outros. Um exemplo disso é a Calibre, de Porto Alegre, que abre o projeto com a faixa “Dois Corpos”. São os próprios integrantes que se responsabilizam pela exposição na web. Nas palavras do bate-rista Gustavo Szuster, “hoje em dia, tudo acontece primeiro na internet. A divulgação nas gran-des mídias como T� e rádios acontecem na segunda etapa. A banda se fortalece com a internet, conquista um público e se aproxi-ma dele”.

Desde o começo a intenção da obra foi de somar forças. “As bandas tem que fazer intercâmbio entre elas”, explicou Noschang, referindo-se às parcerias e à expo-sição dos sons. Ele aproveita para avaliar o resultado: “Não houve falha em parte alguma do proces-so. Todas se envolveram”. Diante do sucesso, a perspectiva não poderia ser outra: até o final do ano, há chances de sair do forno outro disco – o segundo volume de rock, ou então em outra linha, como reggae ou pagode. Material para isso não será problema, já que são mais de 3500 grupos inscritos no Portal.

Daniela Cenci/Hiper

Virginie Lefour/AFP

Page 11: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 2008 11universidadehipertexto

Por Cristiano Hoppe Navarro

Nos nove andares do prédio poliesportivo da PUCRS, como na Torre de Babel, são faladas várias línguas – dialetos esportivos dominados por seus praticantes específicos e compreendidos por uma categoria humana que habi-ta o edifício em toda sua extensão: o estudante de Educação Física. Embora onipresente, o aluno da faculdade divide espaço com usuários dos diversos espaços de atividade física (quadras, piscina, tatame), saídos em grande parte da comunidade universitária, que tem descontos no aluguel.

O nono e último andar do edifício comporta quadras de squash, uma modalidade que é uma variação daquela praticada logo um andar abaixo, no oitavo nível – onde três quadras de tênis de piso de concreto revestido, o mais rápido, viabilizam praticar o esporte na altitude, com toda a vista da Ipiranga e do estaciona-mento da PUCRS. A reportagem do Hipertexto esteve lá numa sex-ta à tarde, e encontrou uma turma de cerca de 20 alunos provenien-tes da Vila Fátima. Tratava-se de um dos seis núcleos do projeto social da Fundação Tênis que, em junho do ano passado, promoveu ali um campeonato de integração com o sugestivo nome de Rolando Garra, parafraseando o torneio francês em que Guga foi tri.

No sétimo andar, ao emergir do elevador, o transeunte vê, de cima, um amplo espaço com os diversos aparelhos dedicados à ginástica olímpica, além de um tatame para as artes marciais – nos quais se pode entrar des-cendo até o sexto andar, que concentra também a secretaria do curso de Educação Física. O tatame, emprestado pelo Parque todas as noites para a Faculdade de Letras (Fale), une as palavras - o curso de japonês da Fale - aos gestos motores - aulas de kendo (espadas), aikido, shorinji kempo (defesa pessoal) e karatê.

Ao se aproximar do quinto andar, ouvia-se um crescente burburinho. Eram cerca de 50 pessoas no coffee-break de um evento organizado pela Faculda-de de Serviço Social no auditório que ali está instalado. Freqüen-temente ociosa (naquela sexta, as seis quadras poliesportivas do Parque estavam vazias), a estru-tura parece ser grande demais para somente as atividades da Educação Física.

No quarto andar, três quadras poliesportivas possibilitam aos alunos e a comunidade praticar e estudar futsal, vôlei, basquete e handebol. O espaço já foi uti-lizado até para um campeonato de basquete em cadeira de rodas, ocorrido em 2006. O estudante de Educação Física na UFRGS Josias Góis Soares que, em 2006, foi vice dos Jogos Universitários

Em 5 de abril, sábado à tar-de, o Boca Fischer, time orga-nizado por um aluno do Direito e composto majoritariamente por estudantes de Educação Física, venceu a Copa DCE de futsal, organizada pelo Diretó-rio Central dos Estudantes.

Na final, a equipe azul e amarela definiu a partida no primeiro tempo ao aplicar um três a zero no Samba Futebol Clube (Administração e Educa-ção Física). Após uma contusão do goleiro, um jogador de linha o substituiu e o time acabou goleado por 8 a 2.

Na decisão de terceiro lugar, entre duas equipes com a maio-ria dos alunos das Engenharias, uma polêmica: após receber o vermelho, um jogador xingou o juiz e, diferente do que é comum, o árbitro não deixou por isso e partiu para cima do expulso, mas foi segurado.

A Copa DCE

Fotos Cristiano Lima/Hiper

(Jugs) ali defendendo sua univer-sidade no vôlei, diz que “o piso é muito bom”, mas critica o teto baixo e marcações da quadra não muito claras.

A obra mais majestosa do prédio, porém, é aquela existente no terceiro e segundo andares. A piscina olímpica com arquiban-cada já sediou a final nacional da Copa Petrobrás, entre os traba-lhadores da empresa, e possibilita a muitos praticar um dos esportes mais completos em termos de articulações movimentadas: a natação. O chinês Chen, 20, da Universidade de Comunicação em Nanying, que no Brasil adotou o nome Abranches e se divide entre a Fale e a Famecos, é um desses praticantes. Ele diz que na China todas as universidades tem prática esportiva semanal (basquete, futebol e natação, principalmente) e que algumas têm parques esportivos, mas pio-res e não tão modernos quanto o da PUC, até porque “em geral, as instalações da universidade são abertas apenas para os alunos”,

revela o intercambista. Lá, a comunidade não-universitária desfruta de Centros de Saúde e Centros de Atividade.

Uma oportunidade rara no Estado disponível na piscina do Parque é o pólo aquático, que em março deste ano abriu uma nova turma para adultos iniciantes: “O desgaste físico é enorme, por-tanto o condicionamento físico é muito exigido desde o início da aprendizagem”, afirma o profes-sor Alexandre Pinho. Condiciona-mento para a saúde, assim como desenvolvimento da massa mus-cular, é o objetivo mais comum dos 1080 alunos matriculados na academia de ginástica do Parque, orientados por 18 professores no mesmo andar.

Aterrissando finalmente no andar térreo, é possível conhecer Antônio Cézar da Silva Oliveira. Funcionário no Parque desde 1981, ele é um dos responsáveis pelo setor de materiais – bolas, bambolês, cordas, entre outros – essencial nas aulas dos es-tudantes de Educação Física.

São fundamentais também para quem vai bater uma bolinha nas três quadras poliesportivas em frente, que abrigam projetos so-ciais (Show de Bola), escolinhas esportivas para crianças e adoles-centes e eventos escolares.

Os arredores do prédio de nove andares com a cobertura em forma de arco trazem qua-dras de tênis de saibro, circuito de caminhada ou corrida e pista atlética oval de oito raias, mas se destacam mais pelos espaços para o futebol. Há gramado sintético, quadra de fut-7 e de areia e o estádio projetado sobre o estacio-namento, impecável. Ali, em mar-ço, a seleção brasileira feminina sub-20 venceu o Sul-Americano e seguidamente ocorrem even-tos como os Jugs ou os Jogos da Primavera, dos quais participou o bixo de Psicologia da PUCRS Vinicius Fischer. “No estádio da PUC vivi a grande emoção de jo-gar naquele excepcional gramado e me sagrar vice-campeão dos Jogos da Primavera em 2006”, conta o jovem calouro.

A Torredos Esportes

Complexo Esportivo da PUCRS tem nove andares para exercícios físicos O estádio de futebol fica em cima de um estacionamento

As quadras poliesportivas no térreo

A piscina olímpica tem utilização permanente

Page 12: PáginA 5 PáginA 4 PáginA 3 PáginA 9 hipertextoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013-04-16 · Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). ... além de uma

Porto Alegre, março-abril 200812 ponto final hipertexto

Por Rodrigo Nunes

O Brasil se tornou campeão sul-ameri-cano da categoria sub-20 em março. Essa seria apenas mais uma conquista, supe-rando as equipes da Argentina, Colômbia, Chile, Peru, Paraguai, Bolívia e Equador, se não fosse um detalhe: as jogadoras eram mulheres. No país do futebol, onde o fute-bol feminino ainda não tem reconhecimen-to oficial, as mulheres deram espetáculo outra vez. Os jogos foram disputados no Complexo Esportivo da PUCRS.

As jovens atletas, comandadas pelo técnico Kleiton Lima, terminaram a com-petição com uma campanha invejável: sete vitórias, 30 gols marcados e nenhum sofri-do. O resultado garantiu a participação das meninas no Mundial feminino Sub-20, que vai acontecer em novembro, no Chile.

O título confirma o bom momento da modalidade no Brasil. Os resultados são os melhores possíveis, a começar pelo título pan-americano de 2003, em Santo Domingo, na República Dominicana. De-

pois, veio um surpreendente segundo lugar no Torneio Olímpico de 2004, em Atenas, na Grécia. Ninguém apostava muito nas brasileiras, mas elas derrubaram adversá-rias poderosas e só foram paradas na final, diante da forte seleção dos Estados Unidos. O troco foi dado no ano passado, quando as norte-americanas levaram cinco a zero na final do torneio do Pan, no Rio de Janeiro. Ainda em 2007, a seleção foi vice-campeã do Mundial, sendo derrotada pela Alema-nha, país sede.

O maior destaque nacional é a alagoense Marta Vieira da Silva. Ela liderou a equipe em todos os campeonatos importantes, fez bonitos gols e foi eleita a melhor jogadora do mundo pela FIFA, em 2006 e 2007. Sem apoio na sua terra natal, Marta foi tentar a sorte no exterior. Hoje, atua na Liga da Suécia. Outras importantes jogadoras do plantel principal atuam nos Estados Uni-dos, na Espanha e Dinamarca. A Seleção Brasileira principal também vai em busca de seus objetivos e tenta a classificação para as Olimpíadas de Pequim, na China.

Os principais clubes do país não for-maram ainda equipes femininas. No Rio Grande do Sul, apenas Internacional e Juventude possuem departamentos de futebol feminino. Questionada sobre o assunto, a Assessoria de Imprensa do Grêmio se manifestou da seguinte forma: “Em nome da direção, gostaríamos de dizer que o Grêmio não tem equipe feminina no momento devido à falta de apoio que este esporte recebe no Brasil. Porém, a direção estuda uma possibilidade para o futuro.”

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) organizou no ano passado uma Copa do Brasil de Futebol Feminino. Foi a mais séria tentativa de se criar uma liga nacional. O Inter eliminou o Juventude na primeira fase, mas foi desclassificado na seqüência pelo São José, de São José dos Pinhais. Muitas das garotas que defenderam as cores do Inter eram gremistas dispostas a tudo, independente da rivalidade.

Sem muito apoio da imprensa, o tor-neio encerrou-se em dezembro, com o título conquistado por um combinado de jogadoras do Mato Grosso do Sul. A CBF não confirma uma segunda edição do cer-tame para 2008.

“O maior problema é o fato de não ha-ver a profissionalização. O futebol feminino ainda é encarado como algo amador, apesar de algumas equipes no Brasil oferecerem espaço. Quem quer efetivamente se tornar jogadora, almejar algo maior, precisa se sobressair. Preocupar-se não só com jogar bem, mas em ter bom comportamento. Vale lembrar que futebol é igual pra todos, não importa se masculino ou feminino”, lembra o professor Ronaldo Lopes.

O sucesso internacional do futebol feminino brasileiro não esconde uma constrangedora realidade: meninas inte-ressadas em jogar futebol no País só podem fazer isso em escolinhas. Uma das mais conhecidas é a Galvão Esportes (Avenida Ipiranga 549). O local é administrado por Eduarda Luizielli, a Duda. Ex-jogadora do Inter e da Seleção, seu trabalho é pioneiro no Estado. Muitas atletas que passaram por lá se tornaram profissionais.

“A coisa cresceu bastante e está mais próspera e madura. As escolinhas prepa-ram as meninas, treinam de forma séria e aparecem profissionais capacitados, que se preocupam com o condicionamento dessas jovens desde cedo”, destaca Ronaldo Lopes,

professor da escolinha, oito anos de expe-riência com futebol feminino. Na Galvão Esportes, existem seis categorias de turmas (baby-foot, pré-mirim, mirim, infantil, infanto-juvenil e adulto). Os treinamentos ocorrem de segunda a sexta-feira. Fami-liares estão sempre presentes para apoiar as filhas. Até mães mais corajosas entram em campo.

“Faz muito tempo que eu jogo bola, eu realmente amo o futebol. Atuo para poder manter a minha saúde, serve como lazer também. Mas eu sempre me cuido, nunca cheguei a me machucar. Prefiro jogar do que só assistir”, afirma Genoveva Zimmer, de 48 anos. Sempre que possível, ela joga ao lado da filha Liziê, de 18 anos. Liziê en-

trou na escolinha aos seis anos. “Eu penso mesmo em seguir uma carreira. Acho que os grandes clubes vão mudar a postura, até por causa dos resultados da Seleção Brasi-leira. Tenho confiança de que, aos poucos, mais portas vão se abrir para nós.”

Alunas de Educação Física da PUCRS estão tentando formar uma equipe de competição. “Criamos com a ajuda do pro-fessor de futebol, um projeto de extensão. A coisa demorou a engrenar, mas agora criamos a cadeira Tópicos Especiais em Futebol. O legal é que os próprios alunos de Educação Física dão aula. É aberto para qualquer guria treinar. Queremos fazer um time forte”, diz a estudante Giedre Costa, integrante do projeto.

Escolinhas abrem espaço em Porto Alegre

Faltam incentivo e apoio ao esporte feminino

Inter e Juventude são exceções no Sul

Camila Domingues/Hiper

Brasil e Peru disputaram o Sul-Americano Sub-20, no Parque Esportivo da PUCRS, em março

Um show de elasticidade e plástica: jogadora da Seleção Brasileira cobra uma lateral no estilo de ginástica olímpica

Pedro Revillion/Hiper

O lado mulherdo futebol no País