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Ismênia Gurgel Martins Padrão de atividades do sagüi Callithrix jacchus numa área de Caatinga Natal 2007

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Page 1: Padrão de atividades do sagüi Callithrix jacchus numa área ... · uma mulher maravilhosa, forte e presente em todos os momentos de minha vida. A Fátima Arruda, por ter aceitado

Ismênia Gurgel Martins

Padrão de atividades do sagüi

Callithrix jacchus numa área de

Caatinga

Natal

2007

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Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte UFRN/Biblioteca

Central Zila Mamede

Martins, Ismênia Gurgel. Padrão de atividades do sagüi callithrix jacchus numa área de caatinga / Ismênia Gurgel Martins. – Natal, RN, 2007. 56 f Orientadora : Maria de Fátima Arruda. Dissertação (Mestre). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia.

1. Sagüi – callithrix jacchus - Dissertação. 2. Comportamento animal – Dissertação. 3.Caatinga – Dissertação. I. Arruda, Maria de Fátima. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 599.821

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ISMÊNIA GURGEL MARTINS

PADRÃO DE ATIVIDADES DO SAGUI Callithrix jacchus NUMA ÁREA DE CAATINGA

Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do título de Mestre do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia. Orientadora: Profª. Maria de Fátima Arruda ([email protected]).

Natal 2007

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Título: PADRÃO DE ATIVIDADES DO SAGÜI Callithrix jacchus

NUMA ÁREA DE CAATINGA

Autora: Ismênia Gurgel Martins

Data da defesa: 11 de setembro de 2006

Banca Examinadora:

___________________________________________________ Profª Simone Almeida G. L. costa

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, RN.

___________________________________________________ Profº Arrilton Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN.

___________________________________________________ Profª Maria de Fátima Arruda

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN.

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A Luz de Deus faz maravilhas.

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AGRADECIMENTOS

Sou grata a Deus pelo profundo mecanismo da criação, da evolução e da prosperidade de todas as coisas e por ter me dado a permissão de ter chegado ate aqui.

A meus pais Rita Gurgel e Francisco Sales pela vida, em especial à minha mãe, por ser

uma mulher maravilhosa, forte e presente em todos os momentos de minha vida. A Fátima Arruda, por ter aceitado em me orientar no estudo do Comportamento

Animal, obrigada pela confiança e ajuda na minha vida acadêmica. Simone, grata estou com sua presença em mais uma etapa da minha vida acadêmica,

pois tudo começou com o nosso trabalho na especialização. Você é responsável por este passo à frente e aqui estou concluindo mais um capítulo.

A você Arrilton, obrigada por mais estar mais uma vez contribuindo com o meu

trabalho e no meu crescimento profissional. Aos primatas Neotropicais que vivem no IBAMA-AÇU, que além de terem

contribuído para a existência deste trabalho me proporcionou momentos maravilhosos de superação.

Ao Filósofo Damião Dantas e família e ao “irmão” José Fernandes e família pela

confiança em ajudar-me sempre, pelo cuidado carinho e compreensão em todas as etapas da minha pesquisa. Aos funcionários Canindé e “Chiquinho” pela amizade e apoio.

Meus agradecimentos a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em especial

aos Professores do Departamento de Fisiologia pelas informações valiosas e ao IBAMA pelo apoio e infra-estrutura na realização deste estudo.

Aos meus irmãos Dário e Érico que são tudo pra mim e sempre estiveram do meu

lado, em especial a Dário que foi o maior incentivador desta jornada no meu aprimoramento acadêmico.

Ao meu noivo e amigo Paulo Henrique, pelo amor, otimismo e paciência nos

momentos difíceis dessa longa caminhada. Aos colegas de classe Fabiana, Yalkiria, Ernani, Fernando, que se mostraram

verdadeiros amigos. A Val e a Eric pelas informações e ajudas valiosas, meu muito obrigada. As minhas verdadeiras amigas da UERN Cristiane, Camila e Alininha, pela ajuda no

trabalho de campo, força e companhia nos momentos de incertezas. A minha maravilhosa amiga de graduação e trabalho do PROFORMAÇÃO Marília,

obrigadas pelos nossos encontros descontraídos e alegres.

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RESUMO

Callithrix jacchus é um primata da família Callitrichidae que vive em grupos sociais.

Pode ser encontrado em vários tipos de habitat, cujas fisionomias e comunidades

florísticas distintas estão intrinsecamente relacionadas com a ecologia comportamental

e relações sociais. Nosso objetivo foi descrever as relações sociais e hábitos

alimentares do sagüi Callithrix jacchus no Bioma Caatinga. Observamos um grupo de

sagüi na Floresta Nacional de Açu-IBAMA/RN, composto no início do estudo por

cinco animais adultos, 2 fêmeas e 3 machos. Foi registrado o nascimento de 5 filhotes

ao longo do estudo. A técnica de amostragem foi o animal focal, ao longo de 11

meses, uma vez/semana, com registro das seguintes categorias comportamentais:

catação social, contato, proximidade, forrageio, ingestão, locomoção e descanso. O

forrageio foi a atividade mais realizada pelos animais, sendo significativamente mais

freqüente na seca. Já a catação social, foi significativamente mais elevada no período

chuvoso, e com os maiores índices entre os reprodutores. Esse mesmo padrão foi

observado com relação a proximidade. O alimento mais ingerido pelo grupo foi o

exsudado, sendo mais expressivo no período chuvoso. A espécie vegetal mais

procurada foi o limão Cirus limon e a jurema branca Pitecolobium foliolosum. Quando

comparada a ingestão de frutos e insetos ao longo das estações, foram observados

níveis mais elevados no período seco. O padrão de atividades do grupo foi de um

modo geral, semelhante ao registrado em grupos estudados em ambiente de Mata

Atlântica, o que indica a flexibilidade da espécie, que sobrevive e se reproduz em

ambientes tão diferentes física e biologicamente.

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ABSTRACT Callithrix jacchus, as the other species in the family Callitrichidae, lives in social

groups. The groups cam be found in different habitats, whose distinct floristic

physiognomies and communities are intrinsically related to their behavioral ecology

and social relations. Our objective was to describe the social relations and feeding

behavior of Callithrix jacchus in the Bioma Caatinga. We observed a group at the

FLONA (National Forest – IBAMA), in Açu-RN, in northeastern Brazil, compose of

five adults (2 females and 3 males) at the beginning of the study. The birth of five

animals was registered along the study. The following behavioral categories were

registered along eleven months, once a week, through instantaneous focal animal

sampling: social grooming, contact, proximity, foraging, feeding, locomotion and rest.

Foraging presented the highest levels comparing to other activities, and was more

frequent in the dry season. Social grooming was the second more frequent activity,

with higher levels in the rainy season, and between the reproductive couple. We found

similar results for proximity. The most explored feeding item was the gum, specially

in the rainy season. The most explored species for exudates feeding were Cirus limon

(limão) and Pitecolobiun foliolosum (jurema branca). The comparision of fruit and

insect ingestion between the seasons showed higher percentage for both in the dry

season. The general activity pattern was similar to what is registeded in groups the

inhabit the Atlantic Forest. These results indicate the flexibility of the species which

survives and reproduces in such physically and biologically different environments.

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................

1.1 - Padrão de atividade....................................................................... 1.2 - Comportamento alimentar............................................................ 1.3 - Interações sociais.......................................................................... 1.4 - O bioma caatinga..........................................................................

1 3 4 6 8

2. OBJETIVOS............................................................................................ 2.1 – Geral............................................................................................. 2.2 – Específicos...................................................................................

10 10 10

3. MÉTODO................................................................................................. 3.1 - Local de estudo................................................................................. 3.2 - Grupo de Estudo............................................................................... 3.3 - Captura e Marcação dos Animais..................................................... 3.4 - Observação Comportamental............................................................ 3.5 - Registro de Utilização da Área......................................................... 3.6 - Análise Estatística dos Dados...........................................................

11 11 14 16 16 18 18

4. RESULTADOS........................................................................................ 4.1 - Padrão de Atividade do Grupo.......................................................... 4.2 - Padrão de ingestão do grupo............................................................. 4.3 - Utilização da área.............................................................................. 4.4 - Interação Social.................................................................................

21 21 23 27 28

5. DISCUSSÃO............................................................................................

30

6. CONCLUSÕES.......................................................................................

43

7. BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 44

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 Mapa da região oeste do Estado do Rio Grande do Norte, destacando a

área da Flona-Açu (IBAMA) no município de Açu-

RN.........................................................................................................12

Figura 02 Representação da área utilizada no estudo (IBAMA/Flona-

Açu).......................................................................................................13

Figura 03 Grupo Bosque: B1, fêmea subordinada forrageando, com a metade da

cauda inferior pintada; B2, fêmea reprodutora alimentando-se com

inseto, com os tufos tingidos; B3, macho reprodutor com colar de

identificação (seta); B4, macho adulto subordinado com colar de

identificação (seta); B5, macho juvenil (início do estudo) em repouso,

com as patas posteriores e metade da cauda superior

tingida....................................................................................................15

Figura 04 Representação da área de uso de Callithrix jacchus, na FLONA-Açu. O

Ponto 005 representa a Entrada Principal da FLONA. O Ponto 006

representa o limite direito inferior da área de uso. O Ponto 007

representa o final da trilha 1. O Ponto 008 representa o final da trilha 2.

O Ponto 009 representa o limite esquerdo inferior da área de uso. O

Ponto 010 representa o limite esquerdo superior da área de uso. O

Ponto 011 representa o limite direito superior da área de uso. Toda essa

área é composta de vegetação nativa da caatinga. POMAR: área com

árvores frutíferas e pouca vegetação nativa da caatinga, situada nos

limites inferior dos pontos 006 a

011.........................................................................................................20

Figura 05 Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma

Caatinga) no período de março/05 a fevereiro/06.................................22

Figura 06 Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma

Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-

jan/2006). Rep: repouso; For: forrageio; Loc: locomoção; Ing: ingestão;

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Cat: catação. As linhas contínuas acima das barras indicam diferenças

significativas na variável entre as estações chuvosa e seca. (*) indica

níveis significativamente mais elevados...............................................22

Figura 07 Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma

Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006.....................................24

Figura 08 Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma

Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-

jan/2006)................................................................................................24

Figura 09 Árvores de exsudado e fruto utilizados na dieta de Callithrix jacchus

em ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a

jan/2006.................................................................................................26

Figura 10 Espécies vegetais utilizadas para a gomivoria de Callithrix jacchus em

ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de março/05 a

janeiro/06...............................................................................................26

Figura 11 Árvores de frutos utilizados na dieta de Callithrix jacchus em ambiente

natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006............27

Tabela I Composição do Grupo Callithrix jacchus estudado (FEV/2006).........14

Tabela II Matrix da interação de catação (catação feita e catação recebida)

realizada pelos animais adultos do grupo..............................................28

Tabela III Matrix da interação de contato e proximidade (distância máxima de

2matros) entre os animais adultos do grupo..........................................29

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1. INTRODUÇÃO

Os aspectos comportamentais e morfológicos dos primatas são produtos do

processo evolutivo que selecionou as características que beneficiaram a aptidão dos

indivíduos (Strier, 1999). A aptidão caracteriza-se pela representação gênica que os

membros de uma geração parental contribuem para a descendência futura.

Cada indivíduo empenha-se em elevar ao máximo sua contribuição genética

às gerações seguintes, empenho que pode ser medido através do esforço reprodutivo

individual (Strier, 1999). Diante dessa condição, fêmeas e machos desenvolvem

ações que visam aumentar a probabilidade de sobrevivência de seus filhos e de gerar

outros (Alcock, 2001).

Os primatas apresentam um longo período de imaturidade, implicando em

grande investimento parental (Webb, Houston, McNamara & Székely, 1999). Na

maioria dos primatas, a mãe é o principal responsável pelo cuidado no princípio de

vida dos filhotes. Posteriormente, há grande variabilidade no que diz respeito à

participação dos membros do grupo social nessa atividade.

Em primatas, a evolução de grupos multi-machos e multi-fêmeas foi associada

à evolução de altos níveis de tolerância social (Blanckenhorn, 1990). Os grupos

sociais mostram coesão duradoura, coordenação das atividades entre os membros do

grupo e separação espacial em relação a indivíduos extra-grupo (Fedigan, 1992).

Dentro das sociedades dos primatas, alguns indivíduos, especialmente os machos

adolescentes deixam seu grupo para juntar-se a outros. Muitos indivíduos são

membros permanentes do grupo e mostram hostilidade a estranhos. Algumas

espécies formam associações temporárias e viajam em pequenos bandos. O que

refletem suas características comportamentais e ecológicas, tais como, sistema de

acasalamento, diferença entre sexos, habitat e alimentação (Fedigan, 1992).

Dentre as diversas famílias da Ordem Primata, a Callitrichidae é atualmente

composta pelos gêneros Cebuella, Callithrix, Saguinus, Leontopithecus, Callimico e

Mico (Rylands et al., 2000). Estes apresentam massa corporal variando de 119 a

750g (Leutenegger, 1973; Yamamoto, 1991; Araújo et al, 2000), cauda longa e não

preênsil.

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Algumas características morfológicas e comportamentais desses primatas são

a geração de gêmeos, exceto em Callimico, ausência do terceiro molar, órbita ocular

presa no crânio, modificação das unhas, manutenção da forma preênsil do hálux e a

redução no tamanho do corpo (Stevenson & Rylands, 1988), que se apresentam como

resultado de um processo de especialização ecológica.

Podemos encontrar Callithrix ocupando diferentes habitats, como a costa

Atlântida do Brasil, a Caatinga do nordeste do Brasil e o Cerrado central do Brasil

(Stevenson & Rylands, 1988; Coimbra-Filho, 1984). Colonizar um novo habitat

depende da distribuição e abundância espacial e temporal dos recursos alimentares,

bem como da disponibilidade de uma vegetação que forneça abrigo contra

predadores e diminua a competição, especialmente com outros primatas.

As espécies de Callitrichidae se alimentam de três itens básicos - frutos,

insetos e goma, podendo incluir na dieta flores, brotos, ovos de aves e pequenos

vertebrados (Sussman & Kinzey, 1984; Rylands & Faria, 1993). Cada um desses

itens alimentares requer diferentes estratégias de forrageio e técnicas de exploração.

Callithrix, Mico e Saguinus ocupam preferencialmente nichos insetívoros e

frugívoros em manchas de matas secundárias ou fragmentadas; Leontopithecus

ocorre em florestas primárias, alimentando-se de presas e frutos; Cebuella ocupa

nichos insetívoros e gomívoros de florestas inundadas (Rylands, 1996). Callimico

são comumente encontrados em florestas secundárias, explorando os níveis baixos da

mata próximo ao solo, alimentando-se basicamente de invertebrados e frutos

(Fleagle, 1988).

Os gêneros Callithrix e Cebuella desenvolveram dentição que lhes permite

fazer furos em árvores para extração de exsudado. (Rylands & Faria, 1993). Por

outro lado, Saguinus, Leontopithecus e Mico apresentam caninos inferiores maiores e

incisivos em forma de espátula o que dificulta tal exploração, sendo assim

considerados comedores oportunistas de goma. Dessa forma, alimentam-se da goma

que exsuda dos vegetais em conseqüência da ação dos insetos, roedores e outros

animais (Garber, 1984; Rylands, 1984). De acordo com Ferrari & Lopes Ferrari

(1989), as mudanças sazonais na abundância dos recursos influenciam marcadamente

a ecologia comportamental dos grupos de calitriquideos.

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1.1 - Padrão de atividade

O padrão de atividade representa a descrição quantitativa das respostas a uma

variedade de fatores que influenciam a sobrevivência e o sucesso reprodutivo

(Defler, 1995). As características individuais que podem influenciar no padrão de

atividade incluem sexo, idade, peso e estado fisiológico (Fragaszy, 1990, Miller &

Dietz, 2005). As características do grupo incluem o tamanho e a composição e as

características ambientais incluem o risco de predação e disponibilidade de recursos

(Fragaszy, 1990).

Os primatas vivem em ambientes complexos e variáveis. O tamanho da área

de uso entre populações da mesma espécie e diferentes espécies pode ser

compreendido com base na distribuição dos recursos alimentares, ciclos sazonais e

áreas de dormir. Assim muitos primatas restringem suas atividades a ambientes

particulares, que freqüentemente são englobadas em quatro categorias principais:

descaso, deslocamento, alimentação e atividade social (Dunbar, 1988).

Hawkins (1992), estudando o padrão diário de um grupo de macaco de cheiro

Saimiri sciureus, observou que o deslocamento dos animais apresenta uma relação

com as condições climáticas. Nos dias de sol, os animais se deslocavam mais que nos

dias chuvosos e o aumento da temperatura também aumentava a freqüência de

deslocamento. O estudo com um grupo de bugios pretos Allouata caraya, mostrou

resultados semelhantes, quanto maior a temperatura média diária, maior a

percentagem de tempo dedicado à alimentação e maior a locomoção (Bicca-Marques,

1993). Wallace (2005), observando o padrão sazonal de Ateles chamek, verificou que

em geral os indivíduos gastam 75-90% do seu tempo forrageando e alimentando-se

de frutas e o restante do dia passam realizando as demais atividades

comportamentais.

A distribuição das atividades de Callithrix jacchus, ao longo do dia segue um

padrão determinado pela exploração de exsudado no início e fim do dia, o descanso

no meio do dia e forrageio no restante do tempo (Alonso & Langguth, 1989). Uma

estimativa do tempo em diferentes atividades nessa espécie foi 11% em movimento,

24% em forrageio, 15% em atividade social, 27% em alimentação e 18% em repouso

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(Alonso & Langguth, 1989). O tempo gasto alimentando-se de frutos, flores ou

exsudados gradualmente diminui de manhã e aumenta durante à tarde. O padrão de

atividades para a espécie não é rígido e pode sofrer alterações em função das

condições bióticas e abióticas do habitat no qual determinada população está

inserida, assim como da dinâmica social.

Digby & Barreto (1996) estudaram três grupos de C. jacchus, um que habitava

uma área de plantação experimental com características de pomar e dois que

habitavam uma área de mata atlântica secundária. O padrão de atividades foi

equivalente nos três grupos, não tendo sido encontradas diferenças entre os registros

de descanso, locomoção e comportamentos sociais entre os grupos. Apenas, foram

registrados níveis reduzidos de forrageio e alimentação na área de plantação

experimental com relação aos demais grupos. Nascimento (1997), estudando um

grupo de C. jacchus, que habitava uma área de mata atlântica comparou o padrão

geral de atividade do grupo após o nascimento de três proles consecutivas. Pode-se

verificar que as atividades que mais se destacaram ao longo dos três

acompanhamentos foram o parado e o forrageio.

Observando o comportamento em grupos selvagens de C. jacchus, Cavalcanti

(2002) verificou que os perfis de atividades diárias foram semelhantes ao longo de

todo o estudo. A autora destaca que a atividade que ocupou a maior parte do tempo

dos indivíduos desses grupos foi o forrageio (com valores médios em torno de 50%),

ingestão (15%), embora tenha variado bastante em função do mês e do grupo

estudado. A seguir, destacou-se a atividade social, com valores médios de 13,6%. A

variação de tempo gasto em cada atividade ocorreu em função da estrutura e

composição ambiental, que mostrou uma variação no padrão geral para os três grupos

estudados, o qual influenciou a atividade social, sendo mais elevada quando o

forrageio e a ingestão de alimentos foi reduzida.

1.2 - Comportamento alimentar

A busca do alimento é uma atividade indispensável na vida dos primatas e tem

influência sobre tudo o que eles fazem (Oates, 1987). Supõe-se dessa forma que os

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animais deverão estar envolvidos na maior parte do seu período de atividade na

procura e ingestão do alimento.

O tipo de dieta determina quanto o animal deverá investir na procura e

aquisição do alimento a fim de equilibrar os custos e benefícios relacionados com o

forrageio. Também está relacionado com outros aspectos do padrão de atividade

diária, entre eles, o tamanho da área de uso, área diária percorrida e tamanho do

grupo (Fleagle, 1988).

Investigação sobre os compostos químicos presentes na dieta dos primatas tem

promovido um entendimento único nas estratégias de forrageio, facilitando a

avaliação das explicações socioecológicas da organização social (Chapman et al,

2003). Esses autores investigando a variação nos valores nutricionais dos alimentos

dos primatas sugerem que há considerável diversidade dos nutrientes ingeridos por

Colobus guerezai entre as árvores e área visitada.

Todas as espécies de primatas diurnos são forrageadores sociais e viajam na

busca de recursos como membros de um grupo social, no qual os indivíduos

empregam diferentes estratégias para localizar áreas de alimentação (Bicca-Marques

& Garber, 2005). Os diferentes tipos de alimento ingeridos pelos primatas indicam as

estratégias de forrageamento. Assim dentro de uma categoria alimentar, tais como

frugivoria, diferentes espécies podem apresentar diversas estratégias de

forrageamento dentro de um mesmo tipo de habitat (Garber, 1987). Estas diferenças

nas áreas de alimentação demonstram as ricas adaptações dos primatas.

A utilização dos recursos está relacionada em parte ao tamanho corporal e das

necessidades metabólicas e nutricionais (Strier, 1999). Pequenos animais apresentam

altas taxas metabólicas, necessitando de uma dieta rica em nutrientes e altamente

energética por unidade de peso (Garber, 1987).

Diferenças fundamentais quanto às necessidades nutricionais, digestibilidade,

abundância, distribuição e disponibilidade sazonal dos recursos alimentares, atuam

diretamente no padrão de alimentação dos primatas (Sussman, 1987). As

necessidades de cada animal podem ser diferentes em função do sexo, idade e até

mesmo da fase reprodutiva e em decorrência das mudanças fisiológicas e

necessidades nutricionais (Lopes, 2002). O alimento é especial para as fêmeas

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primatas em decorrência dos custos associados com a reprodução, gestação interna e

a lactação (Strier, 1999). Dessa forma é importante um balanço adequado dos

nutrientes/energia, cuidado aos filhotes e estratégias eficientes de ingestão alimentar.

O acesso ao alimento pelos calitriquideos aponta para uma diferença

intersexos, apresentando a fêmea uma tendência ao acesso preferencial aos itens

alimentares (Maier et al, 1982; Box, 1997), tendo em vista que a reprodução em

calitriquídeos é bastante custosa para fêmeas reprodutoras. As fêmeas reprodutoras

do Callithrix jacchus, em ambiente natural são agressivas com os demais do grupo,

no que se refere a manter a prioridade de acesso alimentar (Araújo, 1996). Isto pode

ser visto como uma estratégia para manter seu desempenho reprodutivo, uma vez que

a disponibilidade de recursos exerce uma influência significativa nas variações de

fecundidade das fêmeas.

Cavalcanti (2002), analisando o comportamento alimentar de três grupos de C.

jacchus, concluiu que essa espécie apresenta perfil exsudatívoro-frugívoro em

ambientes que quase não sofreram ação antrópica, em função de sua flexibilidade de

dieta. O comportamento de modo geral, torna-se frugívoro-insetívoro em ambientes

degradados, podendo apresentar variação nas estratégias de busca do alimento de

acordo com mudanças no tipo de recurso.

1.3 - Interações sociais

O estudo do comportamento afiliativo, como a catação, tem sido descrito em

algumas espécies. Para o indivíduo, a catação mantém e estabelece a relação social,

reduz a tensão e previne a agressão (Lazaro-Perea et al, 2000).

Algumas características da organização social dos primatas são refletidas no

padrão de catação. Ahumada (1992), estudando um grupo de Ateles geoffroyi em

ambiente natural, observou que as fêmeas catam mais os juvenis, machos catam mais

outros machos, juvenis catam mais outros juvenis. Por outro lado, as fêmeas recebem

mais catação de outras fêmeas; machos de outros machos; juvenis recebem mais das

fêmeas. Estes dados sugerem que as interações da catação parecem refletir os laços

afiliativos mãe-filhote e a relação idade/sexo dos animais envolvidos. Uma vez que

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os juvenis apresentam um longo período de dependência, os machos são filopátricos

e a dispersão é feita palas fêmeas.

O padrão de catação pode variar dependendo não somente do sistema social,

mas também das condições ecológicas que podem afetar a defesa dos recursos em

diferentes espécies. O estudo de duas populações de babuínos com diferentes padrões

de relações de dominância mostra que o padrão de catação muda dentro das espécies

quando o balanço entre subordinados e dominantes variam (Barrett et al, 1999).

Nas espécies de primatas em que as fêmeas migram do grupo natal, a teoria da

seleção de parentesco sugere que os machos podem associar-se preferencialmente

com outros, sendo mais afiliativos e cooperativos do que com as fêmeas (Fiore &

Fleischer, 2005).

Nos grupos sociais, a freqüência e a duração da catação variam de acordo com

o sexo, idade, condições reprodutivas, posição hierárquica e grau de parentesco entre

os animais. Em grupos de chimpanzés, a catação concentra-se em regiões corporais

que são inacessíveis ao próprio animal. Essa atividade promove um benefício

biológico essencial que compreende a remoção de ectoparasitas, mas também requer

pouco custo energético. Entre os chimpanzés essa atividade atua como uma

reciprocidade para futuras cópulas, acesso aos infantes e suporte para o combate

(Nishida, 1988). As fêmeas tendem a se acasalar com machos que têm mostrado alta

freqüência de afiliação, como a catação. A catação é uma atividade social também

importante em Callithrix jacchus, sendo realizado predominantemente pelo casal

reprodutor (Woodcock, 1978; Albuquerque, 1998). Os animais dominantes são

apontados como os principais parceiros dos animais não reprodutivos na catação. Os

quais preferem interações sociais com os dominantes como forma de criar laços

sociais e permanecer no grupo (Digby, 1995a).

Em grupos familiares de Callithrix jacchus o pai faz mais catação nos filhotes

do que a mãe e os machos tendem a fazer mais catação do que as fêmeas (Silva &

Sousa, 1997; Yamamoto, 1991), sendo estas mais freqüentemente receptoras da

catação (Azevedo et al, 2001). As interações de catação da fêmea reprodutora

alteram-se de acordo com seu estado reprodutivo. Durante a gravidez, as freqüências

de catação recebidas pela fêmea de C. jacchus aumentam próximo ao parto e durante

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o estro pós-parto (Woodcock, 1978; Dixson & Lunn, 1987; Barreto, 1996, Sousa,

1999; Busch, 2000).

Em relação ao padrão de catação entre fêmeas de sagüi no mesmo grupo

familiar em ambiente natural, Lazaro-Perea et al (2004) investigaram a relação entre

a estrutura social e a catação entre fêmeas. Constataram que as fêmeas reprodutoras

cataram mais as não-reprodutoras e houve baixos índices de agonismo. Os autores

sugerem que em grupos com sistemas de reprodução cooperativa, as fêmeas

reprodutoras podem usar a catação como um incentivo para as ajudantes ficarem no

grupo.

1.4 - O Bioma Caatinga

Ecorregião semi-árida exclusivamente brasileira compreende cerca de 12% do

território nacional incluindo as áreas de transição para outros biomas (IBAMA,

SEMACE, IDEMA, SUDEMA, IMA, ADEMA & CRA, 2000). A caatinga tem uma

fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos, durante o ano. A

região da caatinga está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a

aridez da paisagem nos meses de seca.

A vegetação da caatinga é constituída de espécies lenhosas e herbáceas de

pequeno porte, geralmente dotadas de espinhos e caducifólias que perde suas folhas

no início da estação seca para reduzir a perda da água por transpiração (Sampaio &

Rodal, 2000) e de cactáceas e bromeliáceas (Kiill et al, 2000). A diversidade,

freqüência e dominância das espécies são determinadas pelas variações topográficas,

tipo de solo e pluviosidade.

As espécies vegetais da caatinga apresentam três estratos: arbóreo (8 a 12

metros), arbusto (2 a 5 metros) e herbáceo (abaixo de 2 metros) (Kiill et al, 2000). A

flora dos sertões é constituída por espécies de longa história da adaptação ao calor e à

seca, é incapaz de reestruturar-se naturalmente se máquinas forem usadas para alterar

o solo. A degradação é, portanto, irreversível na caatinga.

O aspecto geral da vegetação na seca é de uma mata espinhosa e agreste.

Algumas poucas espécies de plantas da caatinga não perdem as folhas na época da

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seca. Entre estas se destaca o juazeiro, uma das plantas mais típicas desse

ecossistema. Ao caírem às primeiras chuvas no fim do ano, a caatinga perde seu

aspecto rude e torna-se rapidamente verde e florida. Além das cactáceas, com o

Cereus (mandacaru e facheiro) e Pilocereu (xiquexique), também apresenta muitas

leguminosas (mimosa, acácia e imburana).

Análises da mastofauna da caatinga têm revelado uma baixa incidência de

endemismo, com uma mastofauna relativamente restrita a algumas espécies (Willig

& Mares, 1989). Os mamíferos são de pequeno porte, sendo os roedores os mais

abundantes, e as espécies encontrados em maior número são aquelas que apresentam

comportamento migratório na época da seca (Kiill et al, 2000). Um levantamento

realizado por Oliveira, Gonçalves & Bonvicino (2003) permitiu listar 143 mamíferos

para a região da caatinga, dentre eles espécies de primatas (guariba: Alouatta

belzebue, A. ululata e A. caraya; macaco-prego: Cebus apella; sauá: Callicebus

barbarabrownae; sagüi: Callithrix jacchus e C. penicillata).

Dentre os primatas, C. jacchus pode ser encontrado em vários tipos de habitat,

cujas fisionomias e comunidades florísticas distintas estão intrinsecamente

relacionadas com a ecologia comportamental e relações sociais. Há, no entanto, uma

lacuna de registro sistemático dessa espécie em vegetação de Caatinga, com relação

aos aspectos sócio-ecológicos, tais como o nicho alimentar, reprodução e relações

sociais.

Neste contexto, estudar primatas neotropicais em um ambiente físico e

biológico diferente daquele onde a espécie tem sido comumente estudada torna-se de

fundamental importância, pois a resposta a essas adaptações pode trazer

contribuições para melhor compreensão da flexibilidade do comportamento desta

espécie.

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2. OBJETIVOS

2.1 - Geral:

- Descrever o padrão de atividades do grupo de sagüi Callithrix jacchus no Bioma

Caatinga.

2.2 - Específicos:

- Registrar as atividades dos indivíduos do grupo da saída da árvore de dormir até o

retorno à mesma nas estações seca e chuvosa;

- Registrar as interações sociais intragrupo nas estações seca e chuvosa;

- Registrar o comportamento alimentar;

- Registrar as modificações na composição do grupo, por nascimentos, entrada ou

saída de animais.

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3. MÉTODO

3.1 - Local de Estudo

A Floresta Nacional (FLONA) de Açu (5° 34’ 20” S e 16° 54’ 33” W) é uma

Unidade de Conservação Federal (IBAMA), situada no sudoeste do sítio urbano de

Açu, na região central do Rio Grande do Norte (figura 01).

A FLONA confronta-se ao norte, leste e oeste com propriedades particulares

cujas atividades econômicas são voltadas para a pecuária, especificamente a

caprinocultura, e ao sul, com a Avenida Senador João Câmara, localizada no Bairro

Alto de São Francisco na cidade do Açu.

A Unidade em questão foi criada na década de 50 através de Decreto Federal

Nº 1.175 de 19 de agosto de 1950, instituindo a criação do Horto Florestal de Açu.

Seu funcionamento teve início após aprovação das leis municipais de Açu de Nº

04/52 e 07/52 e do Decreto Lei que criou o ex – IBDF em 28 de fevereiro de 1967.

Posteriormente foi regulamentado a doação da área de 215,25 hectares da FLONA,

com anexação da Lagoa do Piató.

Compreende uma área de caatinga do tipo arbóreo arbustivo, sendo que sua

vegetação vem sendo preservada desde 1950 (Ferreira, 1988). Os arbustos presentes

são vegetais lenhosos que começam a esgalhar desde a sua base compondo os

maciços florestais da zona seca. Alguns levantamentos preliminares foram feitos para

execução do plano de manejo da FLONA/IBAMA, dentre eles o da mastofauna

(Feitosa, 2004), com registros de 07 espécies e 03 gêneros de mamíferos não-

voadores, representadas por espécies noturnas e diurnas, incluindo o sagüi (Martins,

2004), estando algumas espécies de mamíferos ameaçadas de extinção.

Levantamento preliminar da herpertofauna da unidade registrou 19 espécies

distribuídas em 15 famílias (Rodrigues, 2004). Quanto à composição da ornitofauna,

foram catalogadas 59 espécies de aves (Oliveira, 2004), pertencentes a 15 ordens e

27 famílias.

Localiza-se geograficamente em uma região de clima semi-árido, onde a

temperatura média do mês mais quente é superior a 29°C e a média do mês mais frio

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não é inferior a 26°C. A precipitação pluviométrica média anual atinge 704 mm,

sendo o clima do tipo BSwh´, segundo a classificação de Köppen (região mais quente

com estação chuvosa no outono), ou seja, clima muito quente e semi-árido. O solo

predominante é do tipo litólico, com cascalho de quartzo arredondado e areia

quartzosa (IBAMA, 2001).

Figura 01: Mapa da região oeste do Estado do Rio Grande do Norte, destacando a área da Flona-Açu (IBAMA) no município de Açu-RN. Foto: Gláucio Fabrizio.

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A área utilizada no estudo está situada ao sul na FLONA (figura 02), próximo

à entrada principal, onde há toda a infra-estrutura para as atividades administrativas

da instituição, alojamentos, trilhas escolares para fins de educação ambiental e

pesquisas científicas.

A reserva tem uma área de 518 hectares. Esta área possui espécies vegetais

como o angico, Anadenathera colubrina, aroeira, Myracrodruon urundeuva,

catingueira, Caesalpinia pyramidales, coqueiros Coccos nucífer, cumaru, Amburana

cearensis, feijão-brabo, Capparis flexuosa, goiabeira, Psidium guajava, juazeiro,

Zizyphus joazeiro, Juca, Caesalpinea ferrea, jurema branca, Mimosa verrucosa,

limão Cirus limon, mangueira, Mangifera indica, pau-d’arco, Tabebuia impetiginosa,

pereiro, Aspidosperma pyrifolium, pinha Anona sp, sabiá, Mimosa caesalpiniaefolia e

timbaúba, Enterolobium contortisiliquum.

A FLONA é considerada uma área muito importante para a conservação da

flora e fauna da Caatinga, em especial os primatas, devido à sua extensão de

ambientes naturais preservados.

Figura 02: Representação da área utilizada no estudo (IBAMA/Flona-Açu).

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3.2. Grupo de Estudo

O acompanhamento do grupo teve início em novembro de 2004. No entanto,

os animais foram capturados e marcados em março de 2005, quando o grupo passou

a ser chamado de grupo do Bosque (figura 03) e foi iniciada a coleta de dados. Era

composto então por sete indivíduos, o casal reprodutor B2 e B3, um macho adulto B4

e a fêmea adulta B1, o macho infante B5 e o casal de filhotes, com data estimada de

nascimento em fevereiro de 2005 (Tabela I). O nascimento da prole que se seguiu,

ocorreu em julho de 2005, sendo de filhote único. Uma terceira prole, desta vez de

gêmeos, nasceu em dezembro do mesmo ano. O grupo passou a ter, no final do

período de estudo 10 indivíduos.

Tabela I – Composição do Grupo em janeiro de 2006.

COMPOSIÇÃO DO GRUPO1

SEXO

NASCIMENTO

CLASSE DE IDADE2

B1 B2 B3 B4 B5 - - - - -

F F M M M M F F M F

? ? ? ? ?

02/05 02/05 07/05 12/05 12/05

Adulto Adulto Adulto Adulto Adulto

Subadulto Subadulto

Juvenil Infante

Infante

1B1 fêmea adulta subordinada; B2 fêmea adulta reprodutora; B3 macho adulto reprodutor; B4 macho adulto subordinado; B5 macho juvenil. 2Classes de idade segundo Yamamoto (1993).

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Figura 03: Grupo Bosque: B1, fêmea subordinada forrageando, com a metade da cauda inferior pintada; B2, fêmea reprodutora alimentando-se com inseto, com os tufos tingidos; B3, macho reprodutor com colar de identificação (seta); B4, macho adulto subordinado com colar de identificação (seta); B5, macho juvenil (início do estudo) em repouso, com as patas posteriores e metade da cauda superior tingida.

B2 B1

B3 B4

B5

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3.3 - Captura e Marcação dos Animais

A primeira etapa do processo de captura consistiu na habituação dos animais à

presença de uma armadilha em sua área de uso, para onde foram atraídos através de

frutos da época, utilizados como iscas. As armadilhas continham cinco

compartimentos individuais, permitindo a captura de animais separadamente.

Capturados, os animais foram levados para o laboratório e, ainda na armadilha,

anestesiados, exceto os infantes com até 2 meses de idade, utilizando-se o Ketalar –

50 mg/ml, em doses variando de 0,02 a 0,04 ml de acordo com a idade do animal.

Inicialmente, foi verificado se o animal possuía marcas naturais.

Posteriormente, foi realizada na parte interna da coxa uma tatuagem, a seguir, a

biometria, a avaliação das condições físicas, e nas fêmeas adultas, em particular, a

sua condição reprodutiva.

Ao final do processamento, efetuou-se a marcação na pelagem do animal. Essa

marca foi feita através de pinturas com ácido pícrico (que produz uma cor amarelada

que contrasta com o pêlo predominantemente cinza da espécie) na pelagem; colar de

três contas coloridas (figura 03), sendo a primeira vermelha para identificar os

animais do grupo, e as demais de cores sortidas para distinção entre os indivíduos.

Realizou-se também a tricotomia do pêlo da cauda dos animais. Essas marcas

geralmente desaparecem após três ou quatro meses, já o colar pode ser visualizado

com binóculo e raramente é perdido, garantindo a existência de uma marca externa

mesmo após o desaparecimento das marcas no pêlo.

3.4. Observação Comportamental

3.4.1 - Técnicas utilizadas

As observações iniciavam em torno das 05:00 h, quando os animais saiam da

árvore de dormir e finalizavam quando os mesmos retornavam para a mesma, por

volta das 17:30 h, tendo como sujeitos do estudo os adultos do grupo. Foi utilizado o

método animal focal, sendo a seqüência de focais estabelecida a partir de sorteio

previamente às observações do dia. Cada animal era seguido durante o período de 15

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minutos, com registro instantâneo a cada minuto. Uma vez concluído um focal,

iniciava-se o seguinte, tendo como base a seqüência do sorteio. Cada animal era

amostrado três vezes ao longo do dia. Além deste tipo de amostragem, foram feitos

registros ad libitum.

3.4.2 - Atividades comportamentais registradas

As categorias comportamentais consideradas neste trabalho foram:

1. Catação social: quando um animal realizava limpeza da pelagem de

indivíduos do grupo, utilizando as mãos ou a boca. A catação foi dividida em:

� Receber: limpeza da pelagem do corpo de um indivíduo por outro animal;

� Fazer: quando um animal realizava limpeza da pelagem de um outro

indivíduo.

2. Contato: quando um animal permanecia parado em contato físico com outro

(s) membro do grupo.

3. Proximidade: quando os animais estavam a uma distância inferior a 2m do

animal focal sem que houvesse contato físico.

4. Forrageio: procura de itens alimentares, no qual o animal se deslocava

lentamente utilizando as mãos para a manipulação de itens ou captura de

insetos, bem como a perfuração das árvores para a extração do exsudado.

5. Ingestão de alimentos: quando o animal introduzia algum item alimentar na

boca e o ingeria, lambia ou mordia. Era anotado o tipo de alimento ingerido

(fruto, exsudado ou inseto).

6. Locomoção ou deslocamento: quando o animal deslocava-se de um ponto

para outro a uma distância mínima de 2m; diferencia-se do forrageio porque

nessa atividade os animais não param para examinar o ambiente em busca de

alimento.

7. Descanso ou repouso: quando o animal estava imóvel, às vezes realizando

varredura visual do ambiente, com postura relaxada, apresentando os

membros estendidos.

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8. Outras Atividades: atividades que ocasionalmente ocorreram

concomitantemente às atividades principais. Incluíram-se neste caso as

categorias comportamentais sexuais (Cópula e tentativa de cópula) e a

agonísta (agressão), com registros ad libitum.

3.5 - Registro de Utilização da Área

Para obtenção dos dados referentes à área de uso do grupo, foram

identificadas as árvores utilizadas pelos animais ao longo do dia, tendo como

referência o percurso diário nas trilhas ali abertas em função do deslocamento dos

animais na área (figura 04). O registro foi realizado com o auxílio de um “mapa”

esboçado durante o período de observação dos animais.

Apesar de não ter sido realizado um estudo fenológico, era anotado o tipo de

recurso utilizado dentro da área, fazendo um levantamento quando possível das

espécies vegetais utilizadas como fonte de alimento (fruto e exsudado) e o local de

dormida.

3.6 - Análise Estatística dos Dados

Para a análise dos dados das categorias comportamentais (repouso, forrageio,

locomoção, ingestão e catação), bem como para o padrão de ingestão (fruto,

exsudado, inseto) quanto as estações do ano (chuvosa e seca), utilizou-se o teste U de

Mann-Whitney. Esse teste estatístico não-paramétrico compara se uma amostra de

dois grupos independentes foi ou não extraída de uma mesma população. Podendo-se

identificar assim se houve ou não diferenças estatísticas na freqüência observada nas

estações analisadas (chuvosa e seca). A estação chuvosa compreendeu os meses de

março a julho de 2005 e a estação seca, os meses de agosto de 2005 a janeiro de

2006.

Para a análise dos comportamentos de fazer e receber catação, assim como o

comportamento de contato/proximidade (analisados como uma variável única)

utilizou-se o teste não-paramétrico de Friedman. O objetivo foi testar a hipótese de

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que algum comportamento foi mais praticado em relação aos demais, considerando o

grupo do animal analisado. Nos casos onde foi rejeitada a hipótese de igualdade,

usou-se o teste de Wilcoxon para comparar os diversos animais dois a dois. A

justificativa para utilização destes testes (Friedman e Wilcoxon) se dá pelo fato dos

comportamentos serem relacionados, ou seja, a unidade observacional (sagüi) ser a

mesma para cada comportamento estudado.

Todos os dados utilizados na análise estatística foram coletados com e técnica

animal focal. Para análise estatística foram utilizados os softwares Microsoft Excel

2000 e o Statistica 6.0. A significância para todos os testes estatísticos aplicados foi

igual a 5%.

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Figura 04 - Representação da área de uso de Callithrix jacchus, na FLONA-Açu. O Ponto 005 representa a Entrada Principal da FLONA. O Ponto 006 representa o limite direito inferior da área de uso. O Ponto 007 representa o final da trilha 1. O Ponto 008 representa o final da trilha 2. O Ponto 009 representa o limite esquerdo inferior da área de uso. O Ponto 010 representa o limite esquerdo superior da área de uso. O Ponto 011 representa o limite direito superior da área de uso. Toda essa área é composta de vegetação nativa da caatinga. POMAR: área com árvores frutíferas e pouca vegetação nativa da caatinga, situada nos limites inferior dos pontos 006 a 011.

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4. RESULTADOS

4.1 - Padrão de Atividade do Grupo

O padrão diário de atividades do grupo de Callithrix jacchus ao longo dos

meses de observação, apresentou variações (figura 05). O forrageio foi, de um modo

geral, a atividade predominante com uma porcentagem média de 46,7% do tempo,

variando os percentuais entre 31,6% (março) e 59,9% (outubro). Quanto à ingestão

14,1%, os meses com maior número de registros foram junho, julho e agosto, não

tendo havido necessariamente coincidência com o perfil do forrageio ao longo do

período de estudo.

A segunda atividade mais freqüente foi o repouso, com um percentual médio

em torno de 22,4%. O mês com maior expressão deste comportamento foi dezembro

(46%), tendo havido em contrapartida uma redução nos níveis de locomoção,

ingestão e catação (figura 05).

Na catação, foram registradas variações ao longo do estudo. O mês de maior

índice correspondeu a maio com 28%. A partir de agosto, foi observada uma

tendência à redução na expressão desse comportamento atingindo um menor

percentual em janeiro. Mesmo assim, destacamos níveis elevados em novembro

(20,1%), mês que antecedeu o nascimento de filhotes.

A atividade de locomoção foi menos freqüente em relação às demais,

apresentando um percentual médio em torno de 3,9% ao longo de todo período de

estudo.

Ao analisarmos o padrão de atividades durante as estações chuvosa e seca,

observou-se diferença significativa na expressão de dois dos cinco comportamentos

analisados: forrageio e catação (figura 06). Comparando o forrageio entre as

estações, verificamos que a atividade foi significativamente mais expressiva (teste U

de Mann-Whitney:p=0,0000) na estação seca. A catação, ao contrário, foi

significativamente mais elevada no período chuvoso (teste U de Mann-

Whitney:p=0,0036), e abrangeu todos os membros do grupo.

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Figura 05 – Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga) no período de mar/2005 a jan/2006.

Figura 06 - Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-jan/2006). Rep: repouso; For: forrageio; Loc: locomoção; Ing: ingestão; Cat: catação. As linhas contínuas acima das barras indicam diferenças significativas na variável entre as estações chuvosa e seca. (*) indica níveis significativamente mais elevados.

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4.2 – Padrão de ingestão do grupo

Durante o período de estudo (figura 07), o grupo ingeriu diferentes itens

alimentares, os quais foram agrupados em três tipos: fruto, exsudado e inseto. O

alimento mais ingerido por todo o grupo foi o exsudado (média percentual de

45,4%), seguido do fruto (39,2%). Os recursos de origem animal (15,4%) foram

ingeridos em menor proporção.

A ingestão do exsudado apresentou dois picos, sendo o primeiro nos meses de

junho (51,1%), julho (65,4%) e agosto (56,9%), coincidindo com níveis mais

reduzidos na ingestão do fruto. O segundo pico ocorreu nos meses de janeiro

(63,35%) e março (46,8%), quando foram observados os menores índices de

consumo do inseto (figura 07).

O consumo de frutos a partir de março apresentou uma tendência a reduzir,

atingindo o menor consumo em agosto (16%) (figura 07). A partir de setembro,

houve um aumento no consumo desse item, tendo sido registrados os níveis mais

elevados em outubro (74%) e dezembro (61%).

Nesse grupo, o recurso de origem animal mais consumido foram os insetos, os

quais estiveram presentes nos onze meses de estudo, sendo seu consumo mais

expressivo no mês de abril, maio, agosto e dezembro. Entretanto nos meses de março

e abril foi observada a ingestão de ovos de pássaros e em dezembro a ingestão de

lagartixa.

A comparação entre as estações chuvosa e seca na ingestão de cada um dos

itens alimentares não apontou diferença significativa, apenas tendências (figura 08).

No período chuvoso, o consumo de exsudado foi mais expressivo, quando

aparentemente houve uma maior produção de exsudado. Por outro lado, quando

comparadas a ingestão do fruto e a de presa animal ao longo das estações, em ambos

foram observados níveis mais elevados no período seco.

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Figura 07 - Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006.

Figura 08 - Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-jan/2006).

0%

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mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan

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Chuvosa Seca

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O limão Cirus limon (Rutáceas) foi à fonte mais procurada pelo grupo, com

uma porcentagem de 56% (figura 09). Em seguida, tivemos a jurema branca Mimosa

verrucosa (Leguminosae-Mimosoideae) (16%). Com níveis ainda mais reduzidos de

procura, identificamos o angico Anadenathera colubrina (Leguminosae-

Mimosoideae) (8%), caju Anacardium occidentale (Anacardiaceae) (5%), cumaru

Amburana cearensis (Leguminosae-Papilionoideae) e a catingueira Caesalpinia

pyramidales, (Leguminosae) ambas com 4%, e outras espécies com uso ocasional

(7%).

Na análise ao longo dos meses de estudo (figura 10), verificamos que a jurema

branca Mimosa verrucosa (Leguminosae-Mimosoideae) foi ingerida em todos os

meses, porém o maior consumo foi registrado nos meses de maio (48,1%), outubro

(38,4%), e dezembro, quando atingiu o pico máximo (100%). O cumaru, Amburana

cearensis (Leguminosae-Papilionoideae) foi ingerido principalmente em junho (11%)

e novembro (15%). Os animais ingeriram o exsudado da catingueira Caesalpinia

pyramidales (Leguminosae) basicamente entre maio e setembro, sendo maio, o mês

de maior exploração, com 33,3%. O limão Cirus limon (Rutáceas) foi consumido em

quase todos os meses do estudo, em geral, com valores acima de 50%, exceto em

junho, outubro, novembro e janeiro, quando outros itens foram mais explorados. O

consumo do angico Anadenathera colubrina (Leguminosae-Mimosoideae) esteve

concentrado apenas em junho (59,8%) e a exploração realizada em uma única árvore.

O exsudado do caju Anacardium occidentale (Anacardiaceae) foi consumido em

cinco meses, atingindo valores mínimos em janeiro (1,2%) e máximos em novembro

(35%), sendo esse consumo concentrado em uma única árvore. Outras espécies

vegetais nativas da caatinga foram consumidas em menor quantidade ao longo de

todos os meses de estudo, as quais somadas variaram entre 1% e 31%.

Quanto à ingestão de frutos, observou-se que a goiaba Psidium guajava

(Myrtaceae) (48%) e a manga Mangifera indica (Anacardiaceae) (38%) foram os

mais consumidos (figura 09). Com níveis ainda mais reduzidos de ingestão,

identificamos a pinha Anona sp. (Anonaceae) (9%) e o caju Anacardium occidentale

(Anacardiaceae) (5%).

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Ao longo dos meses (figura 11) verificou-se que a goiaba Psidium guajava,

quando presente, foi, de um modo geral, o fruto mais procurado pelos animais,

exceto em agosto, quando começou a frutificação da manga. Por outro lado, a manga

Mangifera indica foi ingerida em todos os meses, porém em maior quantidade nos

meses entre agosto e dezembro, atingindo a ingestão máxima em novembro (100%).

O caju Anacardium occidentale foi ingerido nos meses de setembro e outubro em

proporções equivalentes. Quanto à pinha Anona sp, foi observado consumo máximo

em dezembro (57%).

Figura 09 – Árvores de exsudado e fruto utilizados na dieta de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006. Figura 10 - Espécies vegetais utilizadas para a gomivoria de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de março/05 a janeiro/06.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan

Po

rcen

tag

em

Limão Jurema Catingueira Cumarú A ngico Caju Outros

Exsudado

56%

16%

4%

4%

8%

5%7%

Limão Jurema Catingueira CumarúAngico Caju Outros

Fruto

48%

38%

9%5%

Goiaba Manga Pinha Cajú

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Figura 11 - Árvores de frutos utilizados na dieta de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006.

4.3 – Utilização da área

A área domiciliar apresentou diferenças quanto à composição florística e o

tipo de recurso utilizado (figura 04).

A área de caatinga utilizada pelo grupo era caracterizada por árvores de

tamanhos bastante variados, entre elas, algumas de grande porte como a catingueira,

timbaúba e cumaru. Essas foram utilizadas principalmente como árvores de dormir.

Plantas arbustivas, geralmente com troncos finos e pouca folhagem quando

ramificadas, foram utilizadas principalmente para a gomivoria. Herbáceas, as quais

se ramificavam desde a base, foram utilizadas principalmente durante o forrageio e a

procura de insetos.

Uma segunda área utilizada foi a de pomar, situada atrás das dependências

físicas da FLONA, onde eram encontradas árvores frutíferas, exploradas diariamente

pelo grupo, sendo o local onde os animais passavam a maior parte do seu tempo.

Devido a problemas quanto à marcação de trilhas, não foi possível fazer uma

estimativa precisa dos locais que foram mais utilizados durante as estações chuvosa e

seca.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan

Po

rcen

tag

em

Goiaba Manga Pinha Cajú

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4.4 – Interação Social

4.4.1 – Catação

Os resultados mostraram que todos os indivíduos se envolveram nesta

atividade, entretanto os maiores índices de catação ocorreram entre os reprodutores

(B2-fêmea e B3-macho) (Tabela II). Estes animais foram considerados os

reprodutores do grupo com base no registro de cópulas, que só foi registrada entre

eles, em março de 2005 (pariu em julho) e em janeiro de 2006 (pariu em junho). O

macho reprodutor foi o indivíduo que mais catou a fêmea reprodutora (Teste de

Wilcoxon: p= 0,0000) e por ela foi catado (Teste de Wilcoxon: p= 0,0000).

Considerando as interações macho-macho, o dominante (B3) interagiu

significativamente mais com o adulto subordinado (B4), tanto fazendo quanto

recebendo catação (Teste de Wilcoxon: p= 0,0000 e p= 0,0001, respectivamente).

Quanto à catação entre a fêmea reprodutora (B2) e a não-reprodutora (B1) foi bem

menos freqüente, não sendo observada diferença significativa na interação entre elas.

Tabela II: Matriz de interação do comportamento de catação feita e recebida pelos

animais adultos do grupo.

Recebe B1 B2 B3 B4 B5 TOTAL Faz B1 - 8 6 4 16 34 B2 10 - 206 6 5 227 B3 41 194 - 128 25 388 B4 1 21 95 - 10 127 B5 32 11 30 23 - 96 B1 (fêmea adulta subordinada); B2 (fêmea adulta dominante); B3 (macho adulto dominante); B4 (macho adulto subordinado); B5 (macho adulto subordinado).

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4.3.2 - Proximidade

Com base na tabela III, que apresenta a matriz de proximidade, verificamos

que o casal reprodutor (B3-macho e B2-fêmea) teve mais vezes um ao outro como o

animal mais próximo (Teste de Wilcoxon: p= 0,0011).

Quanto aos animais subordinados a fêmea B1 ficou significativamente mais

próxima de B5 (Teste de Wilcoxon: p= 0,0008). O macho subordinado B4 esteve

sempre significativamente próximo da fêmea reprodutora (B2) (Teste de Wilcoxon:

p= 0,0033).

Tabela III: Matriz da interação do comportamento de proximidade (distância

máxima de 2 metros) entre os animais adultos do grupo.

Proximidade B1 B2 B3 B4 B5 TOTAL Animal Focal B1 - 207 241 263 408 1119 B2 234 - 463 301 254 1252 B3 307 496 - 300 370 1473 B4 193 401 358 - 236 1188 B5 379 301 344 298 - 1322 B1 (fêmea adulta subordinada); B2 (fêmea adulta dominante); B3 (macho adulto dominante); B4 (macho adulto subordinado); B5 (macho adulto subordinado).

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5. DISCUSSÃO

Os resultados aqui encontrados nos permitem indicar que o sagüi C. jacchus

habitando a caatinga nordestina, desenvolve um padrão de atividades semelhante

daqueles que habitam regiões de mata atlântica. O forrageio ocupa a maior parte do

tempo destes, seguido pelo repouso, ingestão, catação e locomoção. A comparação

com os dados citados na literatura mostra que as adaptações dos sagüis ao ambiente

refletem-se claramente no ciclo de suas atividades diárias. Estas por sua vez, podem

trazer contribuições para melhor compreensão da flexibilidade do comportamento

desta espécie.

Verificamos que o forrageio efetuado pelos sagüis ocupou cerca de 47% do

tempo de atividade dos animais independente da área, sendo intensificada

significativamente no período seco. Assim como em nosso estudo, Cassimiro (2003)

e Cavalcanti (2002) verificaram que os grupos de C. jacchus em área de mata

atlântica investiram mais tempo no forrageio, com a ingestão dos alimentos

conseguidos nessa procura. Alonso & Langguth (1989) e Digby & Barreto (1996)

descrevem o mesmo padrão de atividade, tendo o forrageio e a alimentação como

atividades principais dos animais adultos, em sítios diferentes de mata atlântica. O

fato dos animais ocuparem a maior parte do seu tempo forrageando está relacionada

com a obtenção dos recursos necessários para sua sobrevivência (Giraldeau &

Caraco, 2000).

Nos sagüis que estudamos na FLONA Açu, o forrageio estendeu-se desde o

chão até a copa das árvores, aproximadamente 12 metros de altura, parte delas com

folhas presentes apenas no período chuvoso. Os arbustos e emaranhados de cipós

também eram inspecionados. O forrageio realizado nos arbustos parecia proporcionar

uma melhor possibilidade de investigação do solo, onde está presente a maioria dos

ortópteros (bicho-pau, gafanhotos e grilos) capturados e ingeridos. Ao forragear nos

galhos e folhas, os indivíduos se deslocavam lentamente, atentos a movimentos nas

folhagens, manipulando o substrato, revirando folhas, arrancando cascas nos galhos e

inspecionando buracos. Nos troncos, os sagüis manipulavam apenas as cascas

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frouxas, permanecendo parados na maior parte do tempo, olhando em volta e

saltando sobre as presas quando eram avistadas.

Esse padrão também foi observado por Cavalcanti (2002) ao estudar C.

jacchus em ambiente alterado de mata atlântica. Isso reflete mais uma vez a

flexibilidade destes animais, uma vez que os ambientes são muito diferentes,

principalmente quanto à composição vegetal. Araújo (1996), estudando um grupo

que vivia em plantação experimental, encontrou que os animais utilizaram

freqüentemente, o extrato médio (2-10 metros de altura) no forrageio. Já o extrato

inferior (0-2 metros) foi utilizado com menor freqüência. Em contraste, o grupo que

vivia no fragmento de mata atlântica forrageou, preferencialmente, entre 0-6 metros

de altura. Segundo o autor, a altura do forrageio depende das características do

ambiente.

Porter (2001) estudando as técnicas utilizadas por Callimico goeldii no

forrageio de insetos, observou que, ao contrário de Saguinus fuscicollis, eles não

forrageiam nos buracos e cavidades das árvores, e utilizam as garras como técnica de

captura, ao explorar diversos extratos arbóreos na procura de insetos. Bicca-Marques

(1999) e Peres (1993) ao estudar Saguinus fuscicollis, verificaram que a maneira de

forragear presas nesta espécie era manipulativa e ocorria em substratos altos e

médios da floresta, com exploração de microhabitats de floresta. Esses primatas

demonstraram uma procura visual das presas móveis expostas nas folhagens, com um

padrão semelhante ao observado para Callithrix jacchus quando forrageava nos

troncos das árvores, uma vez que nesta espécie a atividade manipulativa é

exploratória (Varella & Yamamoto, 1991).

Nossos resultados demonstraram que o repouso foi a segunda atividade

realizada pelos animais. Isso também é relatado com relação a dois (grupo PB e ES)

dos três grupos de C. jacchus estudados por Cassimiro (2003). Por outro lado, o

mesmo padrão não foi observado pela pesquisadora para o terceiro grupo (TR), que

teve como segunda atividade à locomoção. Provavelmente isso se justifica pelo fato

daquele grupo ocupar uma área mista, onde se fazia necessário um maior

deslocamento para obtenção dos recursos, o que não ocorria nos outros dois grupos

que tinham áreas com apenas uma característica florística.

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Segundo Alonso & Langguth (1989), o repouso é mais acentuado no período

de meio-dia (12:00h às 14:00h), as horas mais quentes do dia, favorecendo os

comportamentos de socialização, como a catação. Em Ateles chamek selvagem, foi

observado padrão semelhante, com os animais permanecendo em repouso mais

intensamente por volta das 12:00-14:00 horas. Esse padrão deveu-se principalmente

às condições ambientais, ou seja, elevada temperatura e alta umidade (Wallace,

2001). Em nossa pesquisa, após este intervalo, registrava-se um novo aumento de

forrageio, exploração de exsudados vegetais e frutos até o deslocamento para a

árvore de dormir, quando se encerrava a atividade diária. Os locais utilizados para o

descanso diurno estiveram sempre associados às áreas onde os animais previamente

tinham comido. As árvores escolhidas para o descanso eram sempre árvores de frutos

(mangueira Mangifera indica) e de goma (sabiá Mimosa caesalpiniaefolia).

O padrão de repouso do Callithrix geoffroyi habitando a floresta Atlântica

pode estar relacionado ao grande consumo do exsudado, uma vez que os maiores

índices de repouso compreenderam o período chuvoso, quando havia maior

disponibilidade desse recurso. Outro fator que pode ter contribuído para esse padrão

foi à concentração de árvores próximas umas das outras (Passamani, 1998).

Em nosso trabalho, a locomoção apresentou níveis mais reduzidos quando

comparada às demais atividades. Esteve relacionada principalmente com o forrageio

e com a dispersão dos animais dentro da área domiciliar, a qual apresentava uma

distribuição homogênea em sua vegetação. Analisando o padrão de atividade

realizada por grupos de C. jacchus em mata atlântica, Cassimiro (2003) observou que

o comportamento de locomoção mostrou índices variados para os diferentes grupos.

Sugeriu que a expressão da atividade sofre influências particulares de cada área,

tendo como base a relação entre seu tamanho e a forma como estão disponíveis

sazonalmente os recursos dentro da mesma. Em estudo sobre a influência da presença

de filhotes e do tamanho do grupo nas atividades diárias de um grupo silvestre de

sagüis, Nascimento (1997) registrou que no período com filhotes dependentes, o

deslocamento tendeu a ser menor.

Em Saguinus mystax e S. fuscicollis no Peru, Garber (1993) verificou que não

houve variação significativa para a atividade de locomoção ao longo das estações

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seca e chuvosa, assim como na nossa pesquisa. Também, Passamani (1998)

demonstra que em Callithrix geoffroyi, o tempo gasto na locomoção não apresentou

diferença significativa entre as estações. O principal pico dessa atividade seria no

final da tarde, quando o grupo dirigia-se para sua árvore de dormir.

Os nossos resultados nos permitem destacar que os sagüis ingeriram frutos,

exsudados e insetos diariamente, sendo fácil observar os itens ingeridos, exceto

pequenos insetos na copa das árvores e nos arbustos próximos ao chão. Em estudo

realizado por Ferrari (1991) com Callithrix aurita, C. geoffroyi e C. flaviceps

habitando na floresta Atlântica, e por Rylands (1981) com C. humeralifer na

Amazônia, foi observado um aumento no consumo de goma na estação seca. Já na

estação chuvosa ocorreu uma maior ingestão de frutos, mais abundantes nessa

estação, sendo a goma incluída na dieta em menor quantidade. Essa variação teve

uma estreita relação com o padrão de sazonalidade do ambiente.

Semelhante ao observado com as espécies de Callithrix citadas acima, Castro

et al (2000) mostraram que o consumo de goma em C. jacchus diminuiu em função

do aumento da disponibilidade de frutos, na estação chuvosa. Na estação seca, os

frutos, exsudados e insetos foram consumidos igualmente. Esse mesmo padrão foi

verificado para C. jacchus na Floresta Atlântica costeira (Scanlon et al, 1991) e para

C.penicillata em áreas do cerrado no Distrito Federal (Vilela & Faria, 2002).

O padrão de ingestão do grupo em ambiente de caatinga não foi semelhante ao

dessas espécies, ou seja, durante o período seco os animais ingeriram mais o fruto e o

inseto. É importante destacarmos a presença de um bosque no limite da área de

caatinga, onde o grupo passava grande parte do período de atividades, no qual eram

encontradas árvores frutíferas exóticas, irrigadas diariamente, algumas delas com

maior disponibilidade de frutos na estação seca e bastante exploradas pelos sagüis. Já

no período chuvoso, a ingestão mais intensa foi do exsudado, provavelmente devido

ao aumento da água presente no solo o que intensifica a troca de substâncias,

conseqüentemente o fluxo de exsudado.

No ambiente árido, como a caatinga, durante a seca as espécies vegetais são

adaptadas para evitar a perda d’agua. Mesmo assim, é importante destacar que o

exsudado foi um recurso que os sagüis exploraram o ano inteiro, sendo uma boa

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fonte de energia e de sais minerais para os organismos capazes de metabolizá-los

(Melo et al, 1997). Algumas espécies vegetais foram consumidas em meses bastante

específicos, como por exemplo, o Angico Anadenathera colubrina (Leguminosae-

Mimosoideae), na qual os animais exploraram seu exsudado somente em junho.

Em algumas espécies do gênero Callithrix, como C. penicillata, C. kuhli, C.

humeralifer, C. flaviceps, C. geoffroy, C. aurita, C. melanura e C. jacchus, foi

observada a exploração de goma em espécies vegetais das famílias Anacardiaceae,

Mimosaceae, Meliaceae, Combrataceae, Leguminosae e Vochysiaceae (Stevenson &

Rylands, 1988; Alonso & Langguth, 1989; Araújo, 1996). Cavalcanti (2002) ao

analisar o comportamento alimentar do C. jacchus em mata Atlântica secundária e

numa área de plantação, verificou que as duas únicas espécies vegetais incluídas na

dieta dos animais para o consumo de exsudado pertencem à família Anacardiaceae

estando uma espécie situada na área de mata (Tapirira guianensis) utilizada pelos

três grupos e outra na área de plantação (Anacardium occidentale) utilizada por dois

grupos. Ainda nesse trabalho, a pesquisadora constatou que houve uma concentração

no consumo do exsudado de um cajueiro localizado na parte central de sua área, no

período em que os frutos estavam escassos. Alonso & Languth (1989), Araújo (1996)

e Castro et al (2000) relatam a ingestão de exsudados nas espécies vegetais

anacardiáceas citadas acima.

No estudo realizado por Garber (1984), os exsudados das espécies

Anacardium excelsum e Spondias mombim (Anacardiaceae) foram avaliados. A

análise química dos exsudados do Anacardium excelsum mostrou a presença de

diversos minerais, em particular o cálcio, com uma relação de cácio: fósforo de 31:1.

Saguinus fuscicollis e S. labiatus, em particular, consomem exsudados de poucas

espécies vegetais (Garber, 1993) particularmente durante a estação seca (Lopes &

Ferrari, 1994).

No presente estudo, mesmo quando havia uma concentração de exemplares de

uma mesma espécie vegetal numa determinada área, ocorria uma seletividade com

relação às árvores utilizadas pelos animais para a gomivoria. Se os sagüis selecionam

árvores exsudativas, é de se esperar que eles as escolham de acordo com a sua

distribuição, a taxa de exsudação e o valor nutritivo da goma (Scanlon et al, 1991).

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C. aurita, em Monte Belo (Minas Gerais) explora o exsudado principalmente da

Acácia paniculata o que indica o uso do recurso alimentar que se encontra em

abundância (Martins & Setz, 2000). Miranda & Faria (2001) estudando os aspectos

ecológicos do C. penicillata no Cerradão do Brasil Central, analisou as espécies

arbóreas e arbustivas utilizadas como alimento. De acordo com os autores, o uso de

exsudado de Vochysiaceae e Araliaceae na estação chuvosa pode ser devido à alta

densidade de indivíduos destas espécies nas áreas de vida dos grupos e,

conseqüentemente, a maior facilidade de acesso e uso das mesmas. A maior

facilidade de acesso foi também observada para a espécie em estudo, pois apesar de

existirem apenas dois exemplares do limão Cirus limon na área de pomar era de fácil

acesso. A clara preferência pelo exsudado do limão Cirus limon (Rutáceas) e a

jurema branca Mimosa verrucosa (Mimosoideae) em relação aos exsudados das

demais árvores pode ser devido a uma maior palatabilidade, conteúdo nutricional ou

pela facilidade de roer e exsudação.

Scanlon et al (1991) relata que os saguis da Floresta Atlântica costeira

utilizam árvores de todos os tamanhos. A porcentagem de árvores maiores com

lesões produzidas pelos sagüis foi maior que a de árvores menores. As maiores

também foram visitadas mais freqüentemente. Os nossos dados não evidenciaram o

mesmo padrão para C. jacchus na caatinga. Apesar de não ter conduzido um

levantamento da distribuição das árvores na área de estudo, bem como da medição do

diâmetro, foi possível verificar que as duas espécies vegetais mais utilizadas para a

gomivoria (limão e jurema branca) eram arbustos, apesar de na mesma área haver

árvores de grande porte com troncos largos.

O consumo freqüente de frutos pelos animais como fonte de carboidratos não

estruturais de diversas espécies pode ser explicado pela necessidade de uma dieta

nutricional balanceada (Aguiar et al, 2003). Apesar de ser um dos principais itens na

dieta de Callithrix, o consumo de frutos não variou significativamente entre as

estações, embora tenhamos verificado um pequeno aumento durante o período seco.

Embora não tenhamos realizado um estudo fenológico das árvores utilizadas no

consumo de frutos, foi possível verificar que as espécies ingeridas pelo grupo de

sagüis apresentaram uma seqüência nos períodos de frutificação, ou seja, o término

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da frutificação em algumas espécies coincidiu com o início desse evento biológico

em outras. Isso permitiu o grupo consumir frutos em ambas estações.

Com relação ao efeito da sazonalidade na produção de frutos e sobre o

consumo realizado pelos animais Stevenson & Rylands (1988) verificaram que

Callithrix humeralifer apresenta um padrão marcadamente sazonal. De forma

semelhante, Ferrari & Lopes-Ferrari (1989) evidenciaram que a sazonalidade de

recursos ocorre de modo bastante marcante. A sazonalidade na produção de frutos é

maior em áreas de mata secundária ou que sofreram ação antrópica, onde

normalmente a diversidade de espécies vegetais é menor que em áreas de mata

primária.

As frutas são componentes importantes na dieta de Saguinus fuscicollis, S.

labiatus e Callimico goeldii (Porter, 2001). Este autor discute que durante o início da

estação seca, ambos primatas consomem frutas de espécies vegetais variadas. Peres

(1993) relata que Saguinus fuscicollis, S. mystax dedicaram a maior parte do tempo

de alimentação ao fruto maduro, sendo esses sempre maduros, pequenos, amarelos

ou vermelhos e espacialmente agrupados.

No nosso estudo, o grupo apresentou um elevado índice no consumo de frutos

da goiaba Psidium guajava. Este fato deve-se provavelmente a alta disponibilidade

dos mesmos durante a estação chuvosa. Por outro lado, o fruto da manga foi

consumido em ambas as estações, porém em maiores proporções no período seco.

Para consumir os frutos de mangueira os sagüis seguravam com as duas mãos,

faziam um furo na casca até atingir a polpa quando começavam a lamber, mastigar e

ingeri-la retirando-a com os dentes. Já na ingestão do fruto da goiabeira, que eram

menores e com cascas mais finas, os animais faziam furos lambendo e ingerindo a

polpa e jogando fora as sementes. Frutos pequenos avermelhados também foram

consumidos, localizados na área de caatinga. O manuseio era rápido e os animais

utilizavam as mãos para segurar os cachos ou inflorescência, coletando-os

diretamente com a boca, mastigando-os e engolindo-os, descartando as sementes.

Entretanto não foi possível identificar a espécie vegetal em decorrência da não

realização do estudo fenológico.

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O terceiro item importante da dieta dos sagüis foram presas animais. Entre os

itens de origem animal, tivemos larvas de insetos, pequenos lagartos e ovos de

pássaros, entretanto destacaram-se os insetos pela sua maior representatividade.

Barker et al (1998) comenta que os insetos e outros invertebrados contêm altos níveis

de proteínas, lipídios e fósforo e que invertebrados no estágio larval contém

significativamente mais gordura do que na fase adulta. Verificamos que os ortópteros

representaram a maioria dos insetos consumidos pelos sagüis. Os ortópteros são

freqüentemente citados como sendo o principal grupo de insetos consumidos por

Callitrichidae (Stevenson & Rylands, 1988). As presas eram freqüentemente caçadas

sobre os galhos, troncos, frestas dos caules, folhas verdes, secas ou mortas, bem

como nos emaranhados de cipós e no solo. Esses mesmos comportamentos e posturas

são descritos por Alonso & Langguth (1989) e Cavalcanti (2002) para Callithrix

jacchus em áreas distintas de mata atlântica, com características climáticas

semelhantes.

Invertebrados também foram de suma importância na alimentação de C.

penicillata em áreas do cerrado, sendo uma fonte de recursos contínuos e abundantes

durante todo e ano (Vilela & Faria, 2002).

Com relação ao nascimento de filhotes em nossa pesquisa, parece estar

associado com a sazonalidade da composição florística, abundância de frutos, goma,

néctar e presa animal. Martins e Setz (2000) discutem que o nascimento da prole de

C.aurita ocorreu durante estação seca, período de grande disponibilidade de frutos.

Bitetti (1997) mostrou que em Cebus apella nigritus, Iguazú (Argentina), os

nascimentos são sazonais, coincidindo com os picos de disponibilidade de frutos e

insetos. Essa relação entre alimento e nascimento de filhotes em C. jacchus foi

observada por Nascimento (1997). Nesse estudo, o nascimento da primeira prole no

grupo recém-estruturado, no qual havia apenas 3 adultos, potenciais cuidadores,

coincidiu com o elevado consumo dos frutos. Os três cuidadores permaneciam a

maior parte do tempo numa pequena área de mata próximos a duas Cacropia

adenobus (embaúba), item alimentício bastante consumido pelos sagüis nesse

período de estudo. Aparentemente, devido à abundância e facilidade de obtenção,

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logo se saciavam e permaneciam parados por prolongados períodos de tempo,

minimizando a demanda energética e a possibilidade do risco de predação.

No nosso estudo, ocorreram três partos da fêmea reprodutora B2, dos quais,

dois foram de gêmeos, porém na prole nascida em julho, mês que em que não foi

mais registrada a ocorrência de chuvas, nasceu apenas um filhote. Para explicar o

nascimento da prole de filhote único, pode-se especular que diferentes fatores podem

ter interferido no período correspondente a esta estação.

Um dos fatores poderia ser a escassez de alimento, uma vez que no verão, a

maioria das espécies de animais que vivem em ambiente de caatinga apresenta

comportamento migratório (Kill et al, 2000). Neste período, em nosso estudo,

ocorreu uma redução aparente na quantidade de pequenos invertebrados. Pode-se

perceber também que as árvores exsudam menos e os frutos não são tão freqüentes,

exceto a manga que está numa área de pomar visitada pelo grupo diariamente.

A disponibilidade de recursos para os sagüis é crucial para sua sobrevivência e

conseqüente reprodução. É importante ressaltar que segundo Digby & Ferrari (1994)

a reprodução em um grupo social pode estar relacionada com a disponibilidade

contínua de alimento.

Além da argumentação anteriormente apresentada para justificar o nascimento

de apenas um filhote, poderia ser levantada a possibilidade do aumento do risco de

predação, como por exemplo, o tempo gasto no cuidado e no transporte em uma

vegetação de porte arbóreo baixo e que perdem suas folhas na seca. Diante dessas

considerações, um aspecto essencial para o entendimento da reprodução é a

distribuição das atividades diárias, principalmente aquelas que estão relacionadas à

obtenção de recursos energéticos, por parte da fêmea reprodutora ao longo do

desenvolvimento do(s) filhote(s).

A disponibilidade e a distribuição espacial das fontes de alimento têm um

importante papel em determinar o tamanho da área de vivência e o padrão de uso do

espaço (Castro et al, 2000). Cassimiro (2003), estudando a utilização da área por C.

jacchus, evidenciou que a área utilizada no consumo de frutos e insetos foi maior do

que aquela utilizada no consumo de exsudado. Essa diferença se deve ao fato das

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fontes de exsudados se encontrarem mais agrupadas do que as fontes de frutos e

insetos.

Em nossa pesquisa, a área de vivência do grupo não foi definida através de um

sistema de quadrados alfanuméricos, apenas realizou-se a determinação das trilhas de

acordo com o percurso realizado pelos animais, tendo em vista a dificuldade de

abertura de trilhas em tal ambiente. Apesar do não detalhamento das áreas visitadas

pelos sagüis, foi possível observar que sazonalmente, o grupo utilizou sua área em

diferentes setores conforme a distribuição espaço-temporal de frutos e árvores

gomívoras. Já as presas encontraram-se dispersas no ambiente, fazendo com que a

área utilizada para aquisição desse item alimentar fosse mais ampla. Em estudo

realizado com C. jacchus por Alonso & Langguth (1989), é descrito que a

necessidade de se conseguir proteínas na forma de insetos e pequenos vertebrados

exige uma ampla área de procura em diversos locais da floresta, enquanto que para

satisfazer a necessidade de obter carboidratos em forma de frutos e goma, os animais

não irão necessitar ampliar suas áreas, restringindo o uso do espaço à localização de

árvores fornecedoras. Esse padrão também foi encontrado para C. geofroyi

(Passamani & Rylands, 2000).

Os sagüis não precisaram percorrer longas distâncias para obter alimento, uma

vez que as árvores frutíferas exploradas pelo grupo estavam distribuídas em

agrupamentos dentro da área de pomar próximos à área administrativa da Reserva.

Além do mais, havia continuidade com espécies nativas que estão inseridas na área

de moradia do grupo, oferecendo alimento fácil e sem grandes custos. Durante este

estudo, constatamos que as áreas de caatinga e de pomar, cada uma com formação

arbórea distinta, apresentavam padrões de frutificação particular ao longo do ano e

diversidade de espécies. O grupo não utilizou uniformemente a área disponível e

certos locais foram usados mais intensamente do que outros. O ambiente com uso

mais intensivo ficava em torno da área de pomar. A caatinga foi explorada

intensamente nas três primeiras horas após a saída da árvore de dormir, onde foram

identificadas oito delas, e nas duas horas que antecediam o retorno ao local de

dormida, no fim do dia.

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Um grupo de Callithrix humeralifer aumentou o tamanho da área de vida na

estação chuvosa. Tal comportamento esteve associado à abundância nas fontes de

frutos que se encontravam amplamente distribuídas (Rylands, 1986). O inverso é

encontrado em espécies como Saguinus nigricollis graellsi, que reduz sua área em

até 25% na estação chuvosa (Torre et al, 1995). Para Alouatta, os percursos diários

estão relacionados à qualidade do habitat e são também adaptações relacionadas à

dieta folívora utilizada (Bicca-Marques & Calegaro-Marques, 1995). O mesmo é

discutido por Aguiar et al (2003) para Aluoata guariba em um remanescente florestal

no norte do estado do Pará. Além de diferentes tamanhos de grupos, diferentes

estratégias em respostas às disponibilidades de alimento estariam influenciando nos

percursos diários.

A distribuição em agrupamentos tanto das fontes de frutos quanto das de

goma determinaram a utilização da área de vivência do grupo de sagüi na caatinga,

com o grupo não necessitando se deslocar a longas distâncias para obter esses

recursos.

Com relação às interações sociais, o resultado desta pesquisa parece ser

consistente com outros estudos de campo e cativeiro, os quais destacam a catação e

proximidade entre os animais (Digby, 1995a; Silva & Sousa, 1997; Lazaro-Perea et

al, 2004). Os episódios de catação e de proximidade foram realizados por todos os

integrantes do grupo, principalmente nos períodos de descanso. As interações sociais,

enfocando a catação entre os pares reprodutores de calitriquideos, podem ser

compreendidas através da análise da dinâmica social do grupo. Segundo Price

(1992), o tempo gasto na catação por machos e fêmeas, freqüentemente variam de

acordo com o grau de investimento nessa relação e com o status reprodutivo da

fêmea. Considerando o tempo gasto na catação como um indicador de investimento

no fortalecimento da relação, Silva & Sousa (1997) observaram que os machos de C.

jacchus apresentaram altos níveis de investimento nessa relação, identificando a

condição reprodutiva da fêmea.

Ao analisar as interações dos indivíduos nas atividades sociais em ambiente de

caatinga, verificamos que o casal reprodutor interagiu mais entre si do que com os

demais animais adultos do grupo. Essa condição também é relatada por Sousa et al

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(2005) em C. jacchus em ambiente de mata atlântica. Os pesquisadores observaram

que a reciprocidade da catação entre o par reprodutor foi maior do que entre macho

reprodutor com fêmea subordinada e entre fêmea dominante com a subordinada.

Também, os machos foram os catadores principais do grupo.

Woodcock (1978) sugere que em C. jacchus o comportamento de catação é

realizado predominantemente pelo par reprodutor, os quais seriam os principais

parceiros nessa atividade. Dunbar (1992) discute a importância dessa interação,

enfatizando que a redução no tempo dedicado à catação social pode levar a sérias

implicações para a estabilidade da relação social dos animais, para a coesão do grupo

e aptidão dos indivíduos. Quanto ao contato e proximidade, Epple (1975) discute que

o par reprodutor do grupo de C. jacchus gasta mais tempo em contato e proximidade

entre si do que com os outros membros do grupo. O comportamento social fortalece

os laços entre os animais, assim como deixa patente a hierarquia existente entre os

membros do grupo (Silveira & Codenotti, 2001). Os resultados da pesquisa de Digby

(1995b) com C. jacchus em ambiente natural, mostram que os animais reprodutores

estiveram sempre próximos aos demais membros do grupo.

Os índices de catação entre o par reprodutor podem aumentar nas duas últimas

semanas antes do parto, como também durante o estro pós-parto (Box, 1975). Mota,

Sousa & Campos (1995) mostraram que a catação da fêmea no macho reprodutor foi

mais freqüente antes do nascimento dos filhotes, ao contrário que investiu mais na

catação no período pós-parto. Assim, a fêmea investiria antes do parto para garantir

que o macho participasse do cuidado a prole, enquanto o macho investiria após o

parto, justamente no período do estro, buscando acesso à cópula.

Nossos dados referem-se ao padrão do grupo ao longo do estudo,

impossibilitando a análise relativa ao parto. No entanto, a catação tem sido sugerida

como um indicador do grau de relação entre os pares reprodutores de C. jacchus

podendo estar relacionada ao sucesso reprodutivo dos mesmos (Box, 1975; Azevedo

et al, 2001).

Em relação aos indivíduos subordinados do grupo, observou-se que o macho

B5 e a fêmea B1, os quais são irmãos de proles diferentes interagiram mais entre si,

tanto em termos de catação quanto de proximidade.

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A catação e a proximidade entre fêmeas reprodutoras e não-reprodutoras de C.

jacchus foi bem menos freqüente do que entre os animais reprodutores do grupo.

Lazaro-Perea et al (2004), estudando grupos de C. jacchus em ambiente de mata

atlântica, encontrou dados semelhantes aos nossos. A distribuição da catação entre

fêmeas reprodutoras e não reprodutoras foram menos freqüentes do que entre os

indivíduos reprodutores. Entretanto quando a catação ocorreu, as reprodutoras

cataram mais as não reprodutoras do que vice-versa.

A catação entre fêmeas tem sido extensivamente estudada para algumas

espécies de primatas (Cheney, 1992). A observação de cinco grupos de Cebus apella

em cativeiro mostrou que as fêmeas dominantes cataram mais suas parceiras

subordinadas e foi mais freqüente nas díades hierarquicamente próximas (Parr et al,

1997). Strier (1990), estudando a interação social em Brachyteles arachnoides,

observou que as fêmeas adultas têm outras como vizinhas mais próximas em 70% do

seu tempo quando não há filhotes dependentes e o padrão de contato com fêmeas

aparentadas foi de 65% do tempo.

Verificamos que muitos aspectos do padrão de atividade do grupo foram

semelhantes daqueles que habitam outras formações vegetais. Isso sugere que há uma

flexibilidade na expressão do repertório comportamental desses animais, o qual

possibilita a sua adaptação e sobrevivência aos mais variados tipos de habitat.

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6. CONCLUSÕES

A partir dos resultados encontrados em nosso estudo com um grupo de

Callithrix jacchus, na Floresta Nacional de Açu (FLONA-AÇU), foram elaboradas as

seguintes conclusões:

• O padrão de atividade do grupo apresentou um perfil semelhante a outros

trabalhos realizados com Callithrix jacchus em Mata Atlântica, com o

forrageio e repouso como principais atividades, seguido da ingestão, catação e

locomoção.

• O padrão de ingestão durante as estações não foi semelhante ao registrado em

Mata Atlântica, tendo havido um maior consumo de exsudado durante a

estação chuvosa e manga e insetos na estação seca.

• Callithrix jacchus explorou diversas árvores para o consumo do exsudado. A

principal foi o limão Cirus limon,uma árvore exótica, seguida da jurema

branca Pitecolobium foliolosum, nativa da caatinga.

• As interações sociais afiliativas, como a proximidade e catação, mostraram

um perfil semelhante ao registrado em outros estudos de campo e cativeiro,

com o casal reprodutor interagindo mais entre si.

• O ambiente de Caatinga, da mesma forma que a Mata Atlântica, apresenta-se

como um ecossistema que dispõe de uma variedade de recursos, que são

utilizados pelos sagüis que ali habitam. Observamos que esses primatas se

ajustam às variações sazonais e fenologias que a caatinga oferece.

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