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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES CCHLA DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PADRES MESTRES NA PARAÍBA OITOCENTISTA: UMA NARRATIVA SOBRE FREI FRUCTUOSO DA SOLIDADE SIGISMUNDO 1839 - 1871 MICHELE LIMA DA SILVA JOÃO PESSOA, ABRIL DE 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARABA UFPB CENTRO DE CINCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES CCHLA

    DEPARTAMENTO DE HISTRIA

    PADRES MESTRES NA PARABA OITOCENTISTA:

    UMA NARRATIVA SOBRE FREI FRUCTUOSO DA SOLIDADE

    SIGISMUNDO 1839 - 1871

    MICHELE LIMA DA SILVA

    JOO PESSOA, ABRIL DE 2013

  • PADRES MESTRES NA PARABA OITOCENTISTA:

    UMA NARRATIVA SOBRE FREI FRUCTUOSO DA SOLIDADE

    SIGISMUNDO (1839 1871)

    MICHELE LIMA DA SILVA

    Orientadora: Professora Dr. Cludia Engler Cury

    Monografia apresentada ao Departamento de Histria, do

    Centro de Cincias Humanas Letras e Artes, em

    cumprimento s exigncias para obteno do ttulo em

    Licenciatura Plena em Histria, na Universidade Federal

    da Paraba.

    JOO PESSOA PB 2013

  • MICHELE LIMA DA SILVA

    PADRES MESTRES NA PARABA OITOCENTISTA:

    UMA NARRATIVA SOBRE FREI FRUCTUOSO DA SOLIDADE

    SIGISMUNDO 1839 - 1871

    Avaliado em _____________________com conceito _______________.

    Banca examinadora da Monografia

    ______________________________ Prof Dr Cludia Engler Cury (orientadora)

    ______________________________ Prof Dr Solange Pereira da Rocha (leitora interna)

    ______________________________ Prof Dr Mauricia Ananias (leitora externa)

    JOO PESSOA PB 2013

  • Catalogao da Publicao na Fonte.

    Universidade Federal da Paraba.

    Biblioteca Setorial do Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes (CCHLA).

    Silva, Michele Lima da.

    Padres mestres na Paraba oitocentista: uma narrativa sobre Frei

    Fructuoso da Solidade Sigismundo (1839 1871) / Michele Lima da Silva. - Joo Pessoa, 2013.

    70f.

    Monografia (Graduao em Histria) Universidade Federal da Paraba - Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes.

    Orientadora: Prof Dra.Cludia Engler Cury.

    1. Provncia da Paraba do norte. 2. Padres mestres. 3. Sigismundo, Fructuoso da Solidade. I. Ttulo.

    BSE-CCHLA CDU

    930(813.3):2

  • Dedico essa monografia a todas as pessoas que me

    incentivaram a entrar na vida acadmica quando todas

    as direes apontavam para o contrrio.

    Embora ningum possa voltar atrs e fazer um novo comeo, qualquer um pode comear agora e fazer um novo fim.

    (Chico Xavier)

  • Agradecimentos

    Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por tudo que aconteceu comigo at agora.

    Sem ele nada seria possvel;

    A joia mais preciosa, D.Maria, minha me que sempre esteve comigo me apoiando em

    todas as decises, e puxando minha orelha quando necessrio;

    Ao meu pai, que no habita mais uma pele carnal, pelo simples fato de sempre ter dito

    que s em eu ter nascido j era seu maior orgulho;

    A Mrcio, meu amor, sem sua ajuda e compreenso em todos os sentidos, essa

    monografia no teria passado de um sonho no realizado;

    A professora Cludia Cury, mesmo nossa relao tendo se iniciado de uma forma

    tmida, a ela que devo meus primeiros passos na pesquisa, e principalmente foi a

    pessoa que me ensinou o que ter humildade no meio acadmico;

    As pessoas que estiveram comigo nos difceis caminhos que levavam at o Campus da

    UEPB em Guarabira, meu primeiro endereo acadmico, de l que tiro minhas

    maiores lies, aos caroneiros mais queridos: Marcio, Thiago, Feoli, Danielson,

    Lenilson, Rafaela;

    Aos professores que me inspiraram quando entrei no curso de Histria da UEPB,

    Professor Ramss Nunes, Professora Solange Rocha e ao meu querido Professor

    Waldeci F. Chagas;

    A Paulinha, com quem dividi muitas caronas, experincias, e a alegria da transferncia

    para a UFPB;

    Aos amigos e amigas que conheci na UFPB, com os quais desfrutei momentos muito

    agradveis, fosse para jogar conversa fora, ou tirar alguma dvida: Suelen, Mara,

    Tamires, Thiago, Leandro, Gilmrio, Fabrian, Marcela, Severino, Miguel, Aderlan,

    Carol, Perclia, Felipe, Danilo, Crispim, Jonatas, Sheyla, Francinezio, Lucian, Lis,

    Cibelly, Rayssa, Alyne, e a todos que fizeram parte da minha trajetria na graduao.

    A todos os integrantes do GHENO, que me acolheram sem distines, e com os quais

    dividi momentos de aprendizado e aprofundamento na Histria da Educao: Prof.

    Antnio, Prof Mauricia, Prof. Jean, Prof Rose, Prof Carla, Mariana, Thiago, Wilson,

    Itacyara, em especial a Maday, com quem dividi as angstias e alegrias de ser uma

    PIBIC;

    As professoras leitoras: Mauricia Ananias e Solange Rocha que prontamente se

    dispuseram a fazer a leitura desta monografia;

    Aos meus familiares representados por: S. Nelson, Tia Dagmar, Ivonize e Tia Antnia,

    E a todos aqueles que torcem pela minha felicidade, muito obrigada, amo todos vocs.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Quantidade de padres mestres que aparecem na documentao entre os anos

    de 1839 e 1871.

    Quadro 2: Dificuldades de implantao das cadeiras de Ingls e Francs.

    Quadro 3: Artigos da reforma geral da instruo de 1864 criticados pelo Frei Fructuoso

  • Resumo

    Essa pesquisa de carter monogrfico tem o objetivo de se inserir na crescente

    ampliao dos estudos sobre a cultura educacional nos oitocentos. Buscamos apreender

    o cotidiano da instruo empreendida pelas mos dos padres mestres, e as relaes que

    se deram entre o poder provincial e esses religiosos. O cruzamento entre as fontes

    permitiu a efetivao do presente trabalho e destaco as principais: que compem o

    Arquivo Histrico Waldemar Duarte e a Coleo de Lei e Regulamentos da Instruo na

    Paraba Imperial. Partimos de um plano geral na observao dos padres mestres, sua

    atuao e principais instituies na qual estavam inseridos. Para em seguida, centrarmos

    nossos esforos, em desvelar as prticas de um padre mestre especfico, Frei Fructuoso

    da Solidade Sigismundo, que aos poucos foi se fazendo notar na documentao por ns

    pesquisada. A temporalidade abarcada por este trabalho tem incio no ano de 1839

    quando o referido religioso provido na cadeira de Ingls do Lyceu Provincial, indo at

    o ano de 1871, quando acontece a sua aposentadoria. Pautamos nossas reflexes no

    arcabouo terico metodolgico da nova histria cultural. No tivemos a pretenso de

    criar uma biografia do frei pesquisado, mas traar conexes entre um sujeito especfico

    e o universo educacional na provncia da Paraba.

    Palavras chave: Provncia da Paraba do Norte; Padres mestres, Frei Fructuoso da

    Solidade Sigismundo.

  • Sumrio

    Dedicatria Agradecimentos Resumo Sumrio

    Primeiro captulo - Insero do leitor nos percursos da pesquisa: fontes e tema............................................................................................................................... 8

    Segundo captulo - O cotidiano educacional dos padres mestres na Paraba oitocentista................................................................................................................... 18

    2.1 - Os padres mestres e o ensino de primeiras letras....................................... 18

    2.2 A rotina de um Padre Mestre: Diretor do Colgio de Educandos e

    Artficies............................................................................................................. 24

    2.3 - As atividades desenvolvidas pelos padres mestres no Liceu Provincial

    Paraibano.............................................................................................................. 28

    Terceiro Captulo A difcil jornada de um Frade na instruo pblica na Paraba oitocentista.................................................................................................................. 32

    3.1 Fr. Fructuoso da Solidade Sigismundo personagem central de nossa

    trama.................................................................................................................. 32

    3.2 A disciplina de Ingls nos oitocentos......................................................... 34

    3.3 Uma complicada repartio....................................................................... 39

    3. 4. Polmicas envolvendo o Frade Fructuoso................................................ 46

    Consideraes Finais.................................................................................................. 54

    Referncias................................................................................................................. 55

    Anexos

  • Primeiro Captulo: Insero do leitor nos percursos da pesquisa: fontes e tema.

    Nos ltimos anos a historiografia da educao na Paraba tem crescido bastante,

    no que tange ao sculo XIX, essa progresso em parte se deve aos trabalhos

    desenvolvidos pelo Grupo de Histria da Educao no Nordeste Oitocentista GHENO

    - este j conta com quase 10 anos e uma considervel produo, seja de projetos PIBIC1,

    monografias, dissertaes, teses, publicaes de livros e organizao de eventos

    nacionais. nesse ambiente de construo histrica educacional que inserimos nosso

    trabalho, na tentativa de contribuir para a ampliao de temticas que vem sendo

    desenvolvidas nos ltimos anos.

    O presente trabalho surgiu a partir do desenvolvimento de dois anos de pesquisa

    como bolsista PIBIC. O primeiro na vigncia 2010/2011, intitulado: A educao nos

    relatrios dos presidentes de provncia e nas mensagens de presidente de estado na

    transio da monarquia para a repblica, cuja temporalidade firmou-se entre os anos de

    1889 a 1910. Objetivava ampliar as opes de pesquisa do GHENO at os a nos iniciais

    do perodo republicano. Dessa forma, buscamos novas abordagens sobre a escrita da

    histria educacional paraibana, para alm das leituras das referidas mensagens por meio

    do confronto entre as mensagens dos presidentes no recm-criado estado da Paraba e os

    jornais do perodo que traziam contedos referentes instruo.

    O segundo projeto que deu origem a presente monografia vigorou entre

    2011/2012 e foi denominado: Instituies escolares na capital da provncia da Paraba

    do Norte e vilas do interior: 1822-18502 e teve o propsito de se enveredar pelo

    universo do cotidiano escolar, problematizando as normatizaes impostas pelo poder

    oficial, bem como as formas de resistncias empreendidas pelos sujeitos envolvidos

    nesse processo. Este segundo projeto obteve o reconhecimento pblico, recebendo o

    prmio Jovem pesquisador, no XX Encontro de Iniciao Cientfica no ano de 2012,

    bem como a publicao de um artigo no Livro Histrias da Educao na Paraba:

    Rememorar e Comemorar, publicado tambm no mesmo ano. Entre as instituies

    1 O Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica (PIBIC) tem o objetivo de apoiar os alunos

    da graduao, incentivando a pesquisa por meio de concesso de bolsas. 2 A temporalidade abarcada pela referida pesquisa, foi ampliada at o ano de 1889, tendo em vista que a

    documentao referente s instituies escolares at o ano de 1850 era escassa.

  • exploradas na documentao temos as escolas de 1as

    letras, o Lyceu3 Provincial e o

    Colgio de Educandos e Artfices. Encaminhamos tambm, reflexes acerca dos

    investimentos na instruo, nas reclamaes de pais de alunos, e professores, e todo tipo

    de informao que compunha o universo da instruo na Paraba imperial.

    Nosso aporte terico esteve amparado sobre o conjunto de ideias que

    caracterizam a nova histria cultural, permitindo entender as esferas macro e micro, e o

    cruzamento entre as diversas fontes.

    A documentao trabalhada na pesquisa referida anteriormente, bem como na

    monografia, foi coletada e sistematizada pelo Grupo de Histria da Educao no

    Nordeste Oitocentista GHENO4 a partir do ano de 2004, junto ao Arquivo Histrico

    - Waldemar Duarte, localizado no Espao Cultural Jos Lins do Rego. O levantamento

    documental no Arquivo esteve sob a superviso dos professores Antonio Carlos Ferreira

    Pinheiro e Cludia Engler Cury, que juntamente com alunos voluntrios e bolsistas,

    transcreveram os documentos localizados nas caixas sobre instruo no oitocentos.

    Alcanada a finalizao dessa primeira fase, tais documentos passaram a ser digitados, e

    passou-se ao terceiro momento com a correo dos mesmos que estavam classificados

    oficialmente em: Ministrio dos Negcios do Imprio, Pao da Cmara Municipal,

    Diretoria da Instruo Pblica, Diretoria do Externato Normal, Assembleia Legislativa

    Provincial, Palcio da Presidncia, Secretaria do Governo, relatrios presidenciais,

    solicitaes de professores, de pais de alunos. Enfim, uma gama enorme de documentos

    escritos.

    Alcanada e finalizada a transcrio e digitao do material coletado, foram

    iniciadas as correes, o que igualmente nas fases anteriores necessitou de vrias

    pessoas. At o fechamento dessa monografia, apenas alguns integrantes5 do grupo esto

    se reunindo para os ltimos ajustes de forma que posteriormente esse material seja

    publicado em formato digital.

    Paralelamente ao desenvolvimento da Pesquisa PIBIC, frequentamos as reunies

    do GHENO, para discusso de textos. Esses encontros serviram para adentrarmos

    3Optamos por utilizar esta grafia.

    4 O GHENO como grupo de pesquisa surgiu no ano de 2004 e tinha a proposta de coleta do material

    supracitado. 5 Esse pequeno grupo que est trabalhando na finalizao composto pelos professores Antonio Carlos

    Ferreira Pinheiro, e as Professoras Cludia Engler Cury e Mauricia Ananias, bem como por trs bolsistas

    PIBIC.

  • efetivamente no universo educacional, seja pelas discusses de tericos sobre o tema ou

    at mesmo na anlise das obras de intelectuais que viveram no perodo mencionado.

    Para compor o nosso arcabouo documental utilizamos o material disponvel no

    GHENO como nossa fonte fundamental, pois foi nesse material que encontramos uma

    considervel quantidade de documentos falando sobre um s indivduo Frei Fructuoso

    da Soledade Sigismundo que decidimos escrever sobre esse personagem da histria da

    educao paraibana.

    Utilizamos tambm as Leis e Regulamentos da Instruo no Perodo Imperial6

    no sentido de colhermos informaes sobre as normatizaes que eram promulgadas

    contendo diversos assuntos, inclusive envolvendo o nosso personagem. O

    entrecruzamento de informaes foi muito importante para o esclarecimento de algumas

    problemticas envolvendo Frei Fructuoso. Completando o corpus documental por ns

    utilizado, temos os relatrios dos presidentes de provncia7 e, mais especificamente, os

    relatrios dos diretores da instruo publica que vinham anexados aos relatrios dos

    presidentes de provncia.

    Ao tratar com esse vasto material de cunho oficial tivemos bastante cuidado e,

    sempre lembrando as palavras do Professor Antonio Pinheiro8: a lei prescrita muitas

    vezes no ocorria na prtica, como poderemos ver no nosso terceiro capitulo.

    Para nos auxiliar no trato com esses documentos recorremos a Bacellar (2011, p.

    63) que nos fala:

    Documento algum neutro, e sempre carrega consigo a opinio da pessoa e/

    ou rgo que o escreveu. Um dos pontos cruciais no uso das fontes reside na

    necessidade imperiosa de se entender o texto no contexto de sua poca, e isso

    diz respeito, tambm ao significado das palavras e das expresses. Sabemos

    que os significados mudam com tempo, mas no temos de incio, obrigao

    de conhecer tais mudanas. No entanto, boa dose de desconfiana o

    princpio bsico a nos orientar nesses momentos, alm de uma leitura muito

    atenta dos autores que j trabalham na mesma linha de pesquisa.

    Mesmo sabendo que no nosso trabalho esto incutidas as nossas escolhas

    terico-metodolgicas e viso de mundo, pretendemos elencar esses atores e situaes,

    no contexto da poca, tentando destacar a forma como esses personagens encaravam a

    6 Essa obra (2004) foi organizada pelos professores Antnio Carlos Ferreira Pinheiro e Cludia Engler

    Cury, e foi publicada, atravs de meio eletrnico pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

    Educacionais Ansio Teixeira (INEP) e est disponvel em:

    http://www.publicacoes.inep.gov.br/detalhes.asp?pub=3965 7 Esses relatrios dos presidentes de provncia esto sendo compilados de meio eletrnico e digitados pelo

    Professor Cristiano Ferronato, para posterior publicao em meio eletrnico. 8 O professor Antonio Carlos Ferreira Pinheiro, membro fundador do GHENO, vinculado a ps-

    graduao em educao e desenvolveu sua tese de doutorado na rea de educao.

  • sociedade em que estavam inseridos. Dessa forma, tentaremos elaborar o retrato de uma

    poca, pois jamais chegaremos a mostr-la tal qual ela foi, e nem nossa pretenso.

    Tendo como referncia a clssica obra de Peter Burke O que Histria

    Cultural (2005), tomamos como base, a sua concepo de no existncia de uma

    unidade cultural, uma vez que trazemos tona o pensamento de um frei, e que mesmo

    em sua singularidade se fazia ouvir de alguma forma, e que possivelmente outras

    pessoas o acompanharam em seu modo de pensamento e ao. Ainda nos pautando nas

    ideias do mesmo autor buscamos entender o nosso tema de pesquisa como parte

    integrante das narrativas culturais que buscam na individualidade pistas sobre os

    contextos em que surgiram.

    com este suporte terico que vamos adentrar no mundo do ensino pblico na

    Provncia da Parahyba9 do Norte no sculo XIX.

    Ainda no Projeto PIBIC, buscamos entender o que seriam consideradas

    instituies educacionais no sculo XIX, dessa forma elencamos a criao das

    categorias: escolas e colgios no oitocentos conforme as leituras da documentao

    consultada. Entendemos que escolas no sculo XIX, corresponderam s cadeiras de

    primeiras letras que eram abertas pelo poder pblico e que por diversas vezes

    funcionavam em local alugado, ou at mesmo nas casas dos mestres10

    e que poderiam

    ser suprimidas a qualquer momento. Entendemos que a categoria dos colgios, se

    aplicava para a existncia de uma estrutura fsica destinada exclusivamente para a

    instruo como indica o documento de 17 de maro de 182811

    .

    Manda sua Majestade o Imperador, pela Secretaria do Estado dos Negcios

    do Imprio que o Vice-Presidente da Provncia da Parahiba informe pela

    mesma Secretaria qual ser o melhor lugar da Vila da dita Provncia para

    estabelecimento de um Colegio d Estudos menores; devendo atender-se nesta averiguao assim a algum edifcio, que nela exista, e que possa

    aproveitar-se para aquele fim, como a salubridade do lugar, e barateza de

    viveres para cmodo dos alunos.12

    9 Optamos por utilizar essa grafia.

    10 Com a promulgao da Lei N 455 de 1872, os professores pblicos no puderam mais lecionar nas

    suas casas, sob pena de perderem a gratificao que recebiam para aluguel de casa. Essa lei no se aplicou

    s professoras. 11

    Mesmo no se tratando da temporalidade abarcada pela presente pesquisa, faz-se necessrio essa

    demonstrao para elencar a diferena entre o que entendemos por escolas e colgios. 12

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1828.

  • Inferimos que houve uma preocupao com o espao fsico a ser destinado para

    a instruo, mas que permaneceu muito mais no plano das intenes governamentais,

    uma vez que poucos foram os espaos construdos exclusivamente para a instruo. A

    categoria13

    supracitada pode ser confirmada com a instaurao a partir de 1864 do

    Colgio de Educandos e Artficies e do Lyceu que constitua um espao destinado

    exclusivamente para o ensino secundrio ocupando o primeiro lugar nas preocupaes

    dos dirigentes da provncia. Conforme podemos acompanhar no trecho do documento

    de 2 de Maro de 1846, que traz o discurso proferido na abertura do ano letivo no Lyceu

    por seu diretor, Manrique Victor de Lima:

    Entretanto alguns melhoramentos se tem realisado, eu no tenho a pretenso

    de as referir a num s, como seu nico autor, no, bem pelo contrrio; alguns

    tem partido de vs mesmos, por vs mesmos tem sido propostos, outros tem

    emanado espontneamente do governo da provncia possudo, como no tem

    cessado de dar-me reflectidos demonstraes do desejo mais constante e mais

    solhato de collocar o Lyceo na ponta de ellevao que corresponde a alta

    caracterstica de sua misso ao duplo fim de cultivar o esprito, e formar o

    corao da mocidade, eu no tenho feito se no solicit-los com aquelle

    empenho e diligncia que sero seguramente desenvolvidas para qualquer de

    vs em maior grau e com aquelle interesse que deve naturalmente animar a

    hum empregado antigo, cuja carreira tem sido toda consagrada e sem

    partilha, as funes do magistrio, e que nenhuma outra espcie de glria

    mais ambiciosa do que ver solidamente firmada a reputao nascente e

    progressiva do Lyceo.14

    Para entender as instituies escolares buscamos as contribuies de Chartier

    (1990) e Magalhes (2004) nas seguintes direes: o primeiro autor nos auxiliou a

    compreender o movimento das instituies escolares no sculo XIX, como algo que no

    surge de forma neutra, mas que resultado de estratgias e prticas que tendem a

    impor uma autoridade, neste sentido que observamos a constituio dos espaos

    escolares no oitocentos; a abertura e fechamento de cadeiras; a administrao do Lyceo

    Provincial e dos diversos colgios, ligados aos interesses de uma elite letrada e das

    autoridades provinciais. Com o segundo autor, Magalhes (2004) compartilhamos o

    seguinte entendimento acerca da Histria das instituies escolares:

    A histria do sistema educativo no o somatrio de instituies escolares

    justapostas nem, por outro lado, a histria de uma dessas instituies se torna

    13

    Em nossas observaes para a elaborao das referidas categorias, observamos Pinheiro (2012, p. 119),

    que traz um quadro com os nomes das Instituies Educacionais e Escolares existentes na Paraba entre

    os anos de 1836 a 1870. 14

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1846.

  • possvel fora de um todo coerente. nos domnios da representao e da

    apropriao que esta autonomizao se revela mais consequentemente,

    porque mais relacional e menos autocentrada. Constituindo um todo em si

    mesmo, cada instituio escolar ou educativa integra esse todo mais amplo

    que o sistema educativo. (MAGALHES 2004, p.114)

    Observamos as instituies escolares oitocentistas, como partes integrantes de

    uma complexa rede de sociabilidades que pretendiam formar um conjunto escolar

    composto por vrias formas ou modelos; ainda que uma ou outra tenha sido vista na sua

    poca com maior relevncia, o que estamos querendo dizer que cada uma com as suas

    particularidades tm a sua contribuio na histria escolar paraibana.

    O que seria considerada instituio escolar no sculo XIX, tendo em vista que

    naquele momento tinha-se muito mais o funcionamento de cadeiras isoladas em casas

    alugadas, do que em edifcios que estivessem destinados para este fim. Perguntamos-

    nos o seguinte: o que definia a constituio de uma instituio escolar: seria a existncia

    de um espao fsico exclusivo, e um curso sequencial, como passamos a ter no sculo

    XX, com a efetiva constituio dos grupos escolares?

    Na direo de tentar responder as questes anteriormente elencadas, buscamos

    uma anlise para alm das caractersticas fsicas da estrutura escolar e da organizao

    do saber, conforme nos mostra Magalhes (2004, p.121)

    Vistas a partir de uma epistemologia especfica, a histria da educao como

    histria da escola, constituem um campo aberto e em franca renovao, seja

    na acepo da superao de lacunas do conhecimento, seja na de novas

    formas de abordagem, como se referiu.

    No queremos dizer que a constituio das instituies escolares, teve a mesma

    estrutura das que existiram a partir do sculo XX, mas que partindo da hiptese de que

    de certa forma as instituies educativas do sculo XIX, ainda que estivessem em um

    perodo de transformaes tiveram caractersticas peculiares que as tornavam

    instituies escolares. Afirmamos isso com amparo da documentao porque muitas

    vezes encontramos meno aos responsveis pela educao da seguinte forma: escolas

    de meninas, escolas pblicas, Escola de 1s Letras da Cidade Baixa, Colgio

    dEstudos Menores. Compreendemos que o entendimento do funcionamento dessas

    instituies se faz importante, uma vez que os padres mestres nosso objeto de estudo -

    transitavam em todos esses espaos de variadas formas.

    Consideramos necessrio evidenciar alguns pontos acerca do processo histrico

    vivenciado no Brasil naquele momento, pois uma nova configurao estava sendo

  • formada, uma vez que o pas passava a ter sua independncia poltica. Naquele

    contexto, diversos interesses e projetos de construo da nao estavam se processando.

    Entre eles temos a disputa entre liberais e conservadores sobre a forma administrativa a

    ser adotada, se seria o federalismo, concedendo autonomia para as provncias sem

    perder a centralidade poltica ou se o melhor seria a total centralizao poltica. Nesse

    contexto, o norte do Brasil, como era conhecida a regio na qual se encontrava a

    Provncia da Parahyba, no aparece apenas como um mero repetidor de um centro, pelo

    contrrio, deu a sua contribuio para a constituio desse processo. Como nos mostra

    Gouveia (2008, p.21).

    Os principais setores, na regio Nordeste do pas, desempenharam um papel

    crucial em favor do processo de ajustamento poltico em curso no Brasil nas

    dcadas de 1820 e 1830. Essa regio tinha um forte papel na economia do

    pas graas importncia da exportao do acar ali produzido em um

    perodo de alta dos preos desse produto nos mercados internacionais em

    razo do colapso da produo Antilhana, no ps independncia do Haiti.

    Outro importante elemento era o grande nmero de indivduos qualificados

    existente naquela regio em termos da prtica poltica at ento exercida no

    Brasil. Esses homens, articulados com o novo grupo de polticos que surgia

    na regio Sudeste, conseguiram organizar recursos e estratgias capazes de

    promover a estabilizao da monarquia constitucional no pas.

    De acordo com a historiografia mais recente sobre o tema a que nos referimos

    acima, podemos dizer que tivemos uma efetiva participao da regio norte nas decises

    nacionais como pudemos identificar na documentao analisada, bem como a

    participao de professores nos assuntos polticos que estavam se colocando, como foi o

    caso do professor paraibano de uma cadeira de primeiras letras que adere

    independncia, antes da declarao oficial da mesma15

    . Pudemos perceber que a

    Parahyba do Norte estava inserida em um contexto mais amplo, mas no de uma forma

    inerte, e sim atuante, ento no queremos partir para as questes educacionais sem

    mostrar que estas estavam atreladas ao emaranhado poltico e que receberam influncias

    externas bem como poderia fazer a diferena na tomada das decises de cunho poltico,

    social, cultural e econmico.

    Em 1839 ano inicial abarcado pela presente pesquisa, a discusso social tambm

    aparecia na pauta das principais preocupaes daqueles que estavam empreendendo as

    transformaes que tinham promovido independncia poltica, e que povoavam o

    imaginrio dos dirigentes. Havia a preocupao com o processo civilizatrio como

    forma de se alcanar um nvel mais elevado frente s naes consideradas mais

    15

    Conforme citado por Pinheiro (2008, p. 18).

  • avanadas. Assim, as questes educacionais so evidenciadas, pois essa seria uma das

    maneiras de se alcanar esse estgio.

    Na pauta dos gestores pblicos paraibanos estava o propsito de levar a

    instruo a todas as pessoas livres, mas na prtica o que pudemos perceber na pesquisa

    documental foi a constante falta de recursos e reclamaes tanto de professores,

    exigindo os pagamentos de seus provimentos, quanto dos pais solicitando a abertura de

    cadeiras de primeiras letras. Apesar de termos constatado que havia destinao de

    verbas pblicas considerveis para a instruo elementar e secundria, considerando que

    estamos tratando de uma provncia com parcos recursos, ainda assim pela permanncia

    das queixas e reclamaes ao longo de todo o sculo XIX podemos inferir que as verbas

    eram insuficientes para atender s demandas por escolas, principalmente, de primeiras

    letras.

    Sobre os investimentos na instruo pblica observamos um jogo de interesses,

    mas no sabemos ao certo se a instruo foi beneficiada:

    2 Directoria da Secretaria de Estado dos Negcios do Imprio

    N 6216 Rio de Janeiro, 28 de Outubro de 1880

    Illmo

    e Exmo.

    Snr.

    V. Ex o Snr Ministro e Secretario de Estado dos Negcios do Imprio, a

    quem foi presente o officio de V.Ex de 14 de setembro findo, ficou inteirado

    de que, por haver V. Ex determinado a permanencia no bairro baixo da

    capital dessa provncia, da repartio do Conselho Provincial, os negociantes

    cujos nomes constam do citado officio offertaram a quantia annual de

    500$000 em beneficio das escolas publicas, enquanto no dito bairro se

    conservar aquella repartio; e outrossim de haver V. Ex, em nome da

    provncia, agradecido to importante donativo.

    Deus guarde a V. Ex

    Illmo

    e Exmo

    Snr. Presidente da Provincia da Parahyba

    O sub-director

    Antonio Augusto da Silva16

    Lanando um olhar atento, inferimos que os investimentos na instruo pblica

    se davam por vrias vias, como no exemplo acima, o que temos uma troca de favores

    entre poder pblico e particular, beneficiando possivelmente as escolas pblicas da

    capital, dessa forma temos nitidamente o recurso chegando, ento fica a pergunta,

    teriam as escolas da capital recebido tal investimento?

    16

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1880.

  • Como pudemos perceber, ser um lente17

    na Paraba oitocentista, era um grande

    desafio, tendo em vista que no havia uma legislao consolidada, ou a formao

    especializada para tal cargo, aquele momento era muito mais de tentativas seja de

    implantao de leis, de mtodos educacionais, ou at mesmo de escolha dos professores.

    Foi nessas circunstncias histricas que tentaremos observar o cotidiano das atividades

    dos padres mestres inseridos no ensino secular.

    No segundo captulo do presente trabalho monogrfico nos empenhamos em

    mostrar a insero dos padres mestres nos principais espaos escolares da provncia,

    seja na capital ou no interior, os problemas enfrentados pelos mesmos e os cargos de

    confiana que conquistaram junto ao poder provincial, essa abordagem foi feita a partir

    das principais instituies escolares existentes na provncia.

    No terceiro captulo tratamos mais detidamente de um ator especfico, frei

    Fructuoso da Solidade Sigismundo. Primeiramente procuramos refazer o caminho

    percorrido por ele na condio de professor na instruo pblica, desde o seu

    provimento at a sua aposentadoria. Em seguida, nos dedicamos a entender as

    problemticas que envolveram a implantao da matria de ingls em nvel nacional,

    bem como na provncia paraibana, tambm analisamos o perodo em que o frei

    permaneceu ocupando o cargo de diretor da instruo pblica e identificamos alguns

    dos problemas enfrentados por ele, frente da mais importante repartio ligada

    instruo. Finalmente analisamos as polmicas nas quais o padre mestre esteve

    envolvido utilizando o entrecruzamento de diferentes fontes, no sentido de evitarmos

    parcialidade na anlise das tenses que envolveram o frei.

    17

    No sculo XIX lente se referia ao professor da instruo secundria ou superior, conforme BUFFA e

    PINTO in Bencostta (2005), o termo lente, tem origem na idade mdia, uma vez que ensinar, era ler um

    livro, e aquele era o professor, portanto, o lente.

  • Segundo Captulo O cotidiano Educacional dos padres mestres na Paraba oitocentista18

    Nesse captulo nos deteremos sobre as atividades que envolviam a participao

    dos padres mestres na conjuntura oitocentista, relacionando-os com as principais

    instituies escolares na Paraba do Norte.

    Para termos uma ideia acerca da quantidade de instituies existentes na

    provncia da Parahyba do Norte tomamos como referncia um Relatrio do Presidente

    da Provncia do ano de 1865, que nos informa que existiam na provncia cerca de 54

    escolas pblicas do sexo masculino e 17 do sexo feminino, ao todo 1.922 alunos

    frequentavam as escolas da provncia em 1864, total muito pequeno em relao

    quantidade de habitantes da provncia19

    , mencionava ainda a existncia de trs20

    escolas

    particulares em funcionamento, licenciadas para funcionarem regularmente. Uma escola

    particular na vila de Cajazeiras comandada pelo Padre Incio de Souza Rolim, onde se

    aprendiam disciplinas do ensino secundrio, sempre elogiado por sua atuao na aludida

    vila, provavelmente por ser a nica escola particular daquela regio.

    2.1. Os padres mestres e o ensino de primeiras letras As escolas de 1

    as letras funcionavam em casas alugadas pelos professores para

    este fim ou at mesmo nas casas dos mesmos, como nos mostra um documento de 1869:

    Palacio do Governo da Parahiba, em 20 de abril de 1869.

    Approvando o procedimento da Professra da 2 cadeira do ensino primario

    do bairro baixo desta capital D. Catharina Emilia Cavalcante Pessa de abrir a respectiva aula em sua casa dita rua das Mercs n 10, em consequencia

    da impossibilidades, que encontra, na acquisio de uma casa, em que ali o

    faa declaro Vmce

    . q. fica marcada a sobredita Professra o praso de

    sessenta diaz, contado desta data, para que remova para aquele bairro a mencionada cadeira.

    Deos Guarde Vmce

    .

    18

    Esse captulo aborda o cotidiano das principais instituies da provncia paraibana,e traz trechos que fizeram parte do relatrio final enviado ao CNPq, como parte integrante do projeto de pesquisa PIBIC,

    vigncia 2011/2012, que estava intitulado Instituies escolares e cultura material escolar (1822 a 1850):

    temas e possibilidades de pesquisa, orientado pela professora Cludia Engler Cury. 19

    Sobre a quantidade de matriculados temos a informao no Relatrio do ano de 1865, de um Presidente de Provncia que foi exonerado, tal documento traz os nmeros de matrculas, mas no informa os

    nmeros totais referentes populao, para efeito de comparao. 20

    Mesmo mencionando a existncia de trs escolas particulares, o relatrio s fala o nome de uma delas

    que a do Padre Rolim

  • Silvino Euvidio Carneiro da Cunha.

    Senro. Director interino da Instruco Publica.

    21

    Na documentao observamos que os professores tinham que constantemente

    provar a assiduidade de suas escolas, por meio de um atestado elaborado por alguma

    autoridade provincial, que poderia ser o comissrio da instruo pblica, por exemplo,

    para que pudessem receber os seus proventos. Essas solicitaes eram feitas pelos

    prprios professores.

    Um desses pedidos analisados em nossa pesquisa diz respeito ao professor de

    primeiras letras da vila de Patos, Padre Manoel de Carvalho, solicitando sua

    aposentadoria, na referida petio este enumera as suas qualidades enquanto professor

    atuante da dita vila, tendo sido provido primeiramente como professor das mesmas

    aulas na povoao de Serra da Raiz. O que mais nos chamou ateno foi o motivo

    alegado para no mais exercer o seu cargo, o mesmo argumentou que sofria de muitas

    molstias e que estas tinham sido causadas pelo exerccio sem interrupo do

    magistrio, esta petio tambm corrobora com o que vimos em outras peties de que

    as cadeiras de primeiras letras eram fechadas a qualquer momento, pois o

    remanejamento do dito professor no se deu em virtude de suas molstias, mas com o

    encerramento das atividades escolares na povoao supracitada.

    Havia uma preocupao, por parte do poder imperial, com os ndios que ainda

    no se encontravam civilizados como pudemos perceber em correspondncia de 24 de

    setembro de 1861, enviada a provncia da Paraba para que todos os esforos e empenho

    fossem feitos inclusive o monetrio para que estes tivessem acesso ao ensino de

    primeiras letras, as artes fabris e, principalmente, a obra civilizatria, nos pareceu que

    essa foi uma preocupao presente durante todo o sculo XIX, qual seja: o processo

    civilizatrio, em nvel nacional e local, no s para os ndios, mas para todos os

    habitantes da provncia, como nos mostra Miranda (2012, p. 46).

    Civilizar por meio da instruo era, portanto, pensar em desenvolver sujeitos

    aptos a corroborarem a moral pblica e crist, seres cultos, sabedores dos

    seus direitos e dos seus deveres.

    Essa preocupao com a catequizao dos ndios j estava na pauta da assembleia

    provincial antes mesmo da correspondncia citada anteriormente, como pudemos

    perceber na ata da Sesso do dia 8 de agosto de 1861, na qual verificamos que estava

    21

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1869.

  • sendo feito uma espcie de levantamento sobre a quantidade de indgenas da provncia

    paraibana.

    Em correspondncia de 22 de maio de 1864, encontramos um documento

    enviado ao poder provincial pelo Cnego Joo Chrisostomo mencionando a existncia

    dos restos de uma antiga igreja na vila da Preguia, nos arredores de Mamanguape. Eis

    o documento:

    Concordo Igreja da

    Preguia

    Illmo

    e Exmo

    Snr

    Occupado em meus trabalhos de misso nesta cidade tive de ir hum dia athe a

    extinta Villa de Montemor habitada por ndios; aos quaes teem alli os restos

    de uma antiga Egreja, para cujo conserto segundo me disse o mui digno sr D

    or

    Juiz municipado podia-se-lhe applicar os dinheiros provenientes dos

    aforamentos de suas terras, existentes no cofre. A meu convite esto

    carregando material para o fim indicado. Entretanto digne-se V. Ex. mandar

    por a disposio de uma direo estes Dinheiros encarregando-se esta de

    dirigir o trabalho afim de que tenho elles a conotao de receberem o

    alimento espirituado e huma egreja descente. Alm do exposto, Sr.

    Presidente: Os Indios que ali vi talves excedo de trezentos as quais se me

    informou no recebem instruo alguma: o que me condoeo. Disso ainda a V.

    Ex que lance suas vistas fraternas a favor desta pobre gente, fazendo lhes

    melhoras de conhecimento.

    Ds G

    e a V. Ex por muitos annos. Consistorio da Matris de Mamanguape 22

    de Maio de 1864.

    Illmo

    e Exmo

    Sr. Dos

    Sinval Odorico de Moura

    Presidente desta Provincia

    Conego Joo Chrisostomo de Paiva Torres.22

    Considerando o processo vivido pelos ndios no perodo colonial, temos uma

    quantidade considervel destas pessoas no sculo XIX, vivendo prximos regio

    litornea, e que ainda no haviam sido inseridos no processo de aculturao, com o

    desenrolar do ofcio entendemos que estas trezentas pessoas acabavam de entrar no

    sobredito processo. O mais interessante que rapidamente as solues financeiras foram

    encontradas para que se pudesse iniciar o processo de dar instruo e catequizar os

    indgenas.

    Em ofcio de 25 de julho de 1864 encontramos um ofcio, dando conta sobre a

    reforma da supracitada igreja, localizada na vila da Preguia, para que pudessem ser

    iniciadas as aulas de 1as

    letras e a catequizao dos ndios e do empenho do missionrio

    Cnego Joo Chrisostomo.

    22

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1864.

  • Acreditamos que havia uma preocupao com a instruo dos indgenas, mas

    no apenas no sentido de se ensinar a ler e escrever, e sim com o intuito de se levar a

    civilizao a todos os cantos da provncia, dessa forma nada melhor do eu que unir a

    instruo com a religio, a questo religiosa se mostra importante no documento a partir

    do momento que h uma enorme preocupao com a recuperao da igreja que serviria

    para os trabalhos do missionrio.

    Nas correspondncias analisadas na presente investigao era constante a

    cobrana de salrio por parte dos padres mestres, o que era bastante comum na poca,

    tambm com os demais professores, entendemos que na maioria das vezes, havia uma

    demora no pagamento dos proventos dos lentes, devido ao comissrio no atest-los,

    pois era necessrio tal documento para que o poder provincial pudesse fazer o

    pagamento dos salrios, esse atestado comprovava se o professor havia faltado no ms,

    bem como, se havia ocorrido alguma intercorrncia em relao a sua atuao, e tambm

    trazia o nmero de alunos que frequentavam tais aulas. Eis um desses exemplos:

    O Padre Firmino Herculano de Figueiredo, Professr Publico de 1s lettras na

    Pov da Cruz do Espto

    . S.to

    , requer a V. Sa lhe atteste se no p.p. mez de Fev.

    do corr.e anno de 1862 cumprio com os deveres do seu Magisterio, tendo

    deixado apenas de funccionar no exercicio da m.ma

    . Aula do dia 16 do mesmo

    mez em diante ______ de ter divulgado a epidemia de cholera no lugar, e

    assim houver tido ordem supperior e freqentavam a mesma aula 25

    alumnos, Sed.o assim necessita p. poder cobrar do Thesouro provincial os

    vencimen.tos

    do predito mez: ______

    P______ Illo. Senr. Comissrio

    da I. P. da Cruz do Esp.to

    S.to

    assim lhe defira.

    Sim. Cruz do Espr.t S.

    t

    28 de fev. de 1862 -

    Jos Fernandes de Carvalho

    Comissrio de I. P. de

    Cruz do Esp.to

    S.to

    E. R. M.a

    P.e Firmino Herculano de Figr.

    do23

    Entendemos que ocorreram diversos desentendimentos entre os comissrios da

    instruo pblica e professores. No tivemos como saber se algo do tipo ocorreu no

    caso mencionado ou de outros padres mestres, mas esse entendimento se tornou

    plausvel a partir da troca de acusaes expostas em correspondncias entre

    23

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1862.

  • comissrio e professores que no eram padres mestres, acerca do funcionamento das

    aulas, por isso levantamos essa possibilidade.

    O que encontramos foi uma situao na qual os papis estavam invertidos se

    comparado ao caso mostrado anteriormente, o que temos uma briga entre um

    professor e um comissrio da instruo, tratava-se de um padre que atendia pelo nome

    de Francelino Coelho Vianna. De acordo com o documento localizado por ns pudemos

    ter uma ideia do que poderia ocorrer no relacionamento entre os comissrios e os lentes.

    Acompanhemos alguns trechos da correspondncia:

    Ilmo. e Exmo. Snr. ______ Em cumprimento ao preceito de V.Exa ; que pelo

    Snr. Commissrio me foi ultimado, venho responder representao que

    aprove ao mesmo Sr. Commissario contra mim dirigi... o Snr. Commissario

    desta vez esqueceu-se da Justia, e imparcialidade, que deve dominar em

    todos os seus atos; esqueceu-se do nobre cargo, que exerce, esqueceu-se

    finalmente do venervel carter sacerdotal de que invertido...Diz o Snr.

    Commissario, que por mais de uma vez tem levado ao conhecimento dos

    meus superiores o meu ______ e minha insuficincia pelo Magisterio, e que

    eu por forma alguma me tenho corrigido. ... so estas finalmente as razes

    que tenho para dizer que esta denuncia, no passa de um terrvel manejo

    Poltico ______. -Felizmente a minha sorte no est dependente do Snr.

    Padre Francelino Coelho Vianna...

    Araagi, 25 de junho de 1864. O Professor Luiz Paulino de Figueiredo24

    Os lentes ficavam em uma situao difcil, uma vez que necessitavam de um

    atestado emitido pelo comissrio para o recebimento de seus proventos. Acreditamos

    que essa imparcialidade mencionada pelo professor no existia em cargo algum da

    provncia, para se defender, o lente cita a posio religiosa da qual o padre estava

    investido, o que nos parece que este no estava ligando muito para as suas qualidades

    sacerdotais, fez a denncia ao poder provincial de que o professor era insuficiente para

    o magistrio, existia uma segunda acusao mas pelo estado do documento no

    pudemos identificar. Na mesma correspondncia o professor informa que recebeu um

    bilhete do referido comissrio com a seguinte pergunta: Snr. Professor________ que

    tal? At onde pudemos entender, tratava-se de um conflito que j se arrastava h algum

    tempo, pois ainda na mesma correspondncia temos o professor informando que j

    haviam sido feitas outras denncias. Dessa forma, no temos apenas os padres mestres

    em posio de vtimas, esses religiosos tambm poderiam se utilizar dos cargos pblicos

    para atingir seus objetivos, nesta situao entendemos que o mesmo poderia ter

    24

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1864.

  • ambies polticas, no podemos afirmar, pois s temos um lado dessa discusso, a do

    professor, no foram encontrados at o momento de finalizao desse trabalho, outros

    documentos que pudessem nos indicar o posicionamento do dito comissrio. Tambm

    tivemos casos em que os padres recusavam tal cargo, entendemos que possivelmente

    este requeria alm de muita responsabilidade, tambm um posicionamentos poltico.

    Em documento de 1860, temos a preocupao por parte do presidente da

    provncia sobre o estado em que se encontrava a instruo e a pergunta era:

    Qual o estado do ensino primario e secundario, com declarao do numero

    das respectivas aulas ou escolas, assim publicas como particulares, e dos

    alumnos de um e de outro sexo que as freqentaro no corrente anno,

    enunciando V. Exa. sua opinio sobre as causas que tenho concorrido para o

    progresso ou atraso deste interessante ramo do servio publico lembrando

    para o seu melhoramento alguma medida que julgue eficaz, e que por ventura

    dependa do Governo Geral.25

    Temos a indicao de que havia realmente uma preocupao com o estado da

    instruo na provncia paraibana, mas o que encontramos so sempre desculpas de

    todo tipo, fosse pela falta de pessoas qualificadas ou de interesse do professorado, ou

    at mesmo por causa dos parcos recursos, o que se mostra bastante irnico tendo em

    vista as altas somas voltadas para a instruo.

    Ainda que tenha existido essa preocupao conforme nos mostra a oficialidade,

    nessa mesma dcada ocorreu um numero enorme de nomeaes e diante de tal quadro o

    Diretor da Instruo Pblica solicitou urgentemente que cessassem as referidas

    nomeaes para professores interinos e que fosse realizado concurso para o provimento

    dessa funo, como bem podemos observar em documento de 17 de setembro de 1868:

    Considerando que o estado da Instruco Publica na Provncia urge pela

    medida de que cessem as nomeaes de Professores interinos para escolas de

    instruco primaria, determino que sejo postas em concurso, por partes, as

    que constam da relao que acompanhou o officio de Vmce

    n 338 de hontem

    datado, continuando a ser regidas, como esto sendo, at definitivo

    provimento, para que nellas no se interrompa o ensino. Deos Guarde Vm

    ce.

    Theodoro M. F. Pereira da Silva

    Senr. Dr. Director da Instruco Publica26

    Entendemos que o aumento na quantidade de professores interinos tenha

    aumentado possivelmente a partir da preocupao com a instruo, mas tambm

    25

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1860. 26

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1868.

  • entendemos que poderiam estar ligadas aos interesses polticos uma vez que no temos

    a solicitao do Diretor da Instruo, e mais ainda a partir de 1869 alguns concursos

    foram realizados em vrias vilas da provncia paraibana como: Mamanguape, Pillar,

    Areia. Para o Lyceu tambm houve concurso, bem como em escolas da capital, pode-se

    dizer que naquele ano havia um discurso das autoridades provinciais em relao certa

    qualidade no provimento de cadeiras isoladas de primeiras letras e da instruo

    secundria.

    2.2. A rotina de um Padre Mestre: Diretor do Colgio de Educandos e Artficies.

    No mesmo ano 1865, cogitou-se a possibilidade da criao de uma Casa de

    Educandos e Artfices, mencionando que o mesmo tipo de instituio vinha obtendo

    sucesso em outras provncias e que serviria como um complemento Santa Casa de

    Misericrdia, e que possivelmente funcionaria na propriedade Cruz do Peixe.

    Ainda durante o processo de construo dessa instituio foi escolhido o seu

    diretor, que deveria ser preferencialmente um sacerdote27

    , conforme o estatuto do

    referido estabelecimento. O religioso escolhido foi um professor que j lecionava em

    uma escola de 1as

    letras no bairro Alto da capital, o Padre Joaquim Victor Pereira.

    Durante a fase de construo do Colgio de Educandos e Artficies, o referido

    religioso esteve frente da instituio e em algumas ocasies at mesmo colocou

    dinheiro do seu prprio bolso28

    para algumas despesas, a documentao mostrou que

    posteriormente ele foi ressarcido. Ao longo de nossas anlises percebemos que o

    mencionado diretor era o responsvel por executar todos os pagamentos referentes aos

    gastos com a construo do prdio que abrigou o Colgio, bem como, acompanhava

    pessoalmente passo a passo29

    algumas atividades relativas s obras de efetivao do

    espao onde deveria funcionar a instituio. O processo de construo levou cerca de

    um ano, como aponta Lima (2008, p.44)

    Encontrar um local para instalar o Collgio no foi o problema mais difcil,

    foi apenas o primeiro. Durante todo o transcorrer das obras de reforma e

    construo do novo edifcio (12 de setembro de 1865 a setembro de 1866), o

    Diretor enfrentou dificuldades quanto ao fornecimento de material e de

    recursos para obteno dos mesmos. No que concerne ao material, s

    27

    Encontramos essa informao em Lima, 2008, p.49. 28

    Tal informao foi extrada de um documento do ano de 1865, e tem o religioso informando os gastos

    com a dita construo e solicitando reembolso. 29

    Em correspondncia de 20 de janeiro de 1866, o sobredito padre, informa que considera mais

    econmico acompanhar algumas atividades da construo do colgio bem de perto.

  • dificuldades se justificavam pelo fato de s haver uma olaria, e uma

    serralharia na capital, cujos trabalhos e produo estavam destinados

    construo da nova sede do Tesouro da Provncia, o qual exigia toda a

    produo destas oficinas, e o que restava era vendido por um preo altssimo,

    uma vez que a procura era maior que a oferta.

    Observamos que a construo dessa instituio voltada para a instruo dos

    desvalidos na provncia teve que enfrentar desafios mesmo antes de iniciar o seu

    funcionamento, uma vez que o seu diretor precisou solicitar a compra e entrega de

    materiais para que as aulas pudessem ser realizadas, o que acontecia sob muitas

    dificuldades. A partir de 1865 iniciou-se o funcionamento do Colgio de Educandos e

    Artfices em prdio especfico30

    para as suas atividades, conforme mencionamos

    anteriormente.

    Entre as dificuldades encontradas para o funcionamento deste estabelecimento

    encontramos uma questo de ordem interna no que diz respeito ao quadro de

    funcionrios. Identificamos a solicitao de contratao de mais uma funcionria para

    os cuidados com a limpeza do estabelecimento. Ao mesmo tempo em que enfrentava

    diversos percalos para manter-se funcionando, a documentao indicou que a

    instituio continuava tentando adquirir materiais, contratar professores como foi o caso

    de um mestre de msica que foi nomeado31

    para a mesma.

    No ms de novembro de 1866 vamos ter a nomeao de um mdico, dessa

    forma, entendemos que diferentemente do Lyceo Provincial, que j teve sua

    inaugurao marcada sob o signo da importncia, o Colgio de Educandos e Artfices

    galgou degraus at que pudesse ter um mnimo de reconhecimento.

    Os gestores sabiam que se deveria ter uma instituio voltada para a instruo da

    infncia e juventude desvalida - at mesmo porque j se tinha como referncia a criao

    de instituies no mesmo formato em outras provncias do imprio, nas quais esse tipo

    de educao vinha dando certo, entretanto, no caso paraibano os recursos despendidos

    para a sua construo e manuteno se deram de forma bastante lenta.

    Quando falamos em grau de importncia bom que se tenha claro que durante o

    seu perodo de funcionamento (1865 a 1874), o Colgio de Educandos e Artfices,

    jamais chegou a ser visto com a mesma importncia que se dava ao Lyceu, do que

    pudemos depreender a hiptese de que o Lyceu destinava-se formao dos filhos das

    30

    Tal prdio era o local conhecido como Stio Cruz do Peixe; hoje seria nas imediaes do hospital Santa

    Isabel, localizado na rea central da capital, Joo Pessoa. 31

    O professor foi nomeado em 5 de novembro de 1866 e chamava-se Justiniano Garcia do Amaral.

  • famlias abastadas da provncia e que, no caso do Colgio de Educandos Artfices,

    tratava-se de uma instituio voltada para os filhos de famlias mais pobres.

    Podemos dizer amparados pela pesquisa que para os gestores pblicos, conduzir

    uma instituio como a do Colgio de Educandos e Artficies, requeria uma direo que

    entendesse ser uma funo de sacerdcio, tendo em vista que a maior parte do que era

    requisitado para o Colgio demorava muito para ser atendido. Alm dos atrasos tambm

    havia o modo como o diretor terminava suas cartas, utilizando verbos como: rogar, o

    que nos mostra que em parte o poder provincial estava aqum das problemticas que

    envolviam o Colgio.

    O candidato a aluno da instituio deveria comprovar que era pobre e vacinado

    porque em virtude dos problemas de falta de recursos e da precria estrutura fsica, nem

    todas as pessoas que solicitavam o ingresso de seus filhos tinham a garantia de que

    seriam atendidos.

    Sobre essas admisses observamos por meio da documentao que em

    determinados momentos ocorreu o favorecimento de um ou outro indivduo. Como foi o

    caso do documento que localizamos no ano de 1873 com a solicitao de vaga feita por

    uma pessoa de reconhecida posio social e poltica na capital paraibana e que foi

    prontamente atendida. Entretanto, o mesmo tipo de pedido feito por uma escrava teve o

    seguinte desdobramento:

    Cumprindo o respeitavel despacho de V. Excia

    . de 6 do corrente, lanado na

    petio, que restituo, de Lourena escrava, na qual pede para ser admittido

    neste Collgio seu filho menor de nome Luiz Antonio, tenho a informar a V.

    Excia

    . que avaliando em 30 educandos o numero que pode comportar este

    Collegio, e sendo 35 os que actualmente existem, encontra j bastantes

    dificuldades em sua marcha ordinaria, no s pelas acanhadas propores do

    edificio, que poucos comodos offerece para conter um to grande numero de

    alumnos, se no tambm pela verba do oramento, que, pelas constantes e

    quotidianas necessidades do estabelecimento, se tem tornado bastante

    limitada para a sustentao de muitos collegiais, porisso no permitte que

    seja admittido o de que trata a dita petio.

    Deos Guarde a V. Ex

    cia.

    Collgio de Educandos Artifices da Parahyba em 12 de Setembro de 1873.

    Ilmo

    . Exmo

    . Senr Dor

    . Francisco Teixeira de S. D. Presidente desta Provncia.

    O Director32

    Antonio de Solza Gova.

    33

    32

    Arquivo Histrico Waldemar Bispo Duarte FUNESC, ano 1873 33

    Desde o ano de 1868, o cargo de Diretor do Colgio de Educandos e Artficies, foi ocupado pelo senhor

    Antnio de Souza Gouva, que no era padre e permaneceu no cargo at o fechamento do referido

    colgio.

  • Tal solicitao no foi atendida sob a alegao de que no existiam vagas

    disponveis naquele momento. O que mais nos chamou ateno foi o fato de que a

    primeira criana indicada no estava vacinada desobedecendo a uma regra do

    Regulamento do Colgio34

    que no aceitava jovens que no fossem vacinados. A

    situao descrita anteriormente nos leva a pensar que persistem as regras do

    favoritismo, dos interesses polticos, dos arranjos de poder local e dos jogos de poder.

    O cotidiano dos alunos envolvia as aulas de primeiras letras, e as atividades de

    aprendizagem de algum oficio que lhes fosse conveniente, tambm tinham que

    frequentar as missas. Como pudemos perceber em documento de 9 de outubro de 1866,

    quando se solicitava autorizao ao vigrio capitular35

    , por meio do poder provincial,

    para que o diretor do Colgio que era um padre pudesse rezar as missas no

    estabelecimento, uma vez que os meninos tinham que andar muito para assistir uma

    missa na igreja mais prxima. Da leitura de tal documento inferimos que talvez

    tivssemos nessa situao uma forma de reconhecimento ou visibilidade empreendida

    pelo ento diretor para solidificar as atividades desenvolvidas na instituio e ao mesmo

    tempo dar visibilidade aos problemas cotidianos vividos pela mesma.

    Ainda sobre o Colgio de Educandos Artfices podemos dizer que a inteno

    era a de preparar os alunos para o mundo do trabalho, o que se pretendia era que os

    jovens que por ali passassem aprendessem uma profisso e se tornassem aptos a

    sobreviver do seu prprio trabalho sem ficar vagando pelas ruas da capital da provncia

    na condio de desocupados ou desordeiros.

    A sada dessa instituio se dava no momento em que os jovens aprendiam a

    profisso que estavam estudando, pois era considerado que os mesmos j poderiam

    sobreviver do seu prprio trabalho.

    O padre mestre Joaquim Victor Pereira, permaneceu no cargo de Diretor do

    Colgio de Educandos e Artficies at o ano de 1868, quando se retirou para tomar

    assento na Assembleia Legislativa Provincial.36

    34

    O fechamento do Colgio de Educandos e Artfices ocorreu no ano de 1874, devido ao alto custo que o

    Governo Provincial estava tendo para a sua manuteno, conforme nos informa Lima (2008, p. 86). 35

    Entendemos pelo teor do requerimento, que, Vigrio Capitular teria o poder de fazer concesses

    religiosas, tal afirmao passvel de verificao. 36

    No temos a informao, de que nesse mesmo ano, outros diretores de alguma instituio escolar

    tenham tomado assento na Assembleia Legislativa Provincial.

  • 2.3 Atividades desenvolvidas pelos padres mestres no Lyceu

    Provincial Paraibano. Criado em 1836, o Lyceu Provincial, iniciou suas atividades para atender uma

    demanda das elites paraibanas, que necessitavam instruir seus filhos para assumir cargos

    polticos, ou para comandar as casas de comrcio existentes na cidade, que seriam

    herdadas de seus pais. Indicando o que outros autores37

    j afirmaram a respeito do

    Lyceu ter sido uma instituio voltada para a formao da elite poltica, econmica e

    cultural da provncia. Mesmo se configurando como a mais importante instituio educacional da

    Parahyba, o Lyceu enfrentou uma pequena batalha, travada entre o presidente da

    provncia e a assembleia legislativa para o reconhecimento do seu Estatuto, o que

    entendemos como uma briga poltica, no ano de 1843, uma vez que solicitado da

    Assembleia que reconhea o Estatuto daquele estabelecimento educacional, e a mesma

    no o faz - em cumprimento a uma Lei de 8 de novembro de 1841, e que era funo da

    mesma fazer as devidas modificaes para o bom andamento das instituies. Podemos

    inferir que a criao e manuteno do Lyceu traziam imbricado um jogo de interesses

    polticos, pois aquela instituio de certa forma conferia status queles que poderiam

    dirigir o seu destino.

    Os lentes do Lyceu eram pessoas influentes, nesse ambiente que encontramos

    alguns padres, e como pudemos perceber estes transitaram por todas as esferas pblicas

    da provncia, nas nossas anlises demos nfase aos cargos ligados instruo pblica.

    No perodo por ns analisado vamos ter 5 padres mestres no quadro de professores da

    dita instituio, e 1 como diretor da mesma, nmero considervel tendo em vista que

    no estavam lecionando no ensino religioso, ainda que em algum momento de suas

    aulas possivelmente inclussem tais contedos, mas oficialmente se tratava de um

    ensino secular. Percebemos que a presena desses religiosos se dava em diversos

    mbitos, como at mesmo na elaborao de compndios que foram trabalhados na

    referida instituio como no caso da Gramtica de Lngua Nacional produzida pelo

    37

    Tomamos como principal referncia tese de doutorado defendida no ano de 2012, pelo professor

    Cristiano Ferronato intitulado: DAS AULAS AVULSAS AO LYCEU PROVINCIAL: as primeiras

    configuraes da instruo secundria na Provncia da Parahyba do Norte (1836-1884).

  • Padre Jos Antnio Lopes da Silveira38

    . Por se tratar de um perodo em que no havia

    um preparo especfico para os lentes da provncia, o trabalho executado por esses padres

    deveria ser de grande importncia para o andamento da instruo, reconhecemos essa

    configurao educacional como uma permanncia das prticas coloniais, ainda que em

    uma conjuntura diferenciada, tomamos como base o pensamento de Eric Hobsbawm

    (1998) de rupturas e permanncias histricas.

    A situao dos padres mestres do Lyceu Provincial era at certo ponto, um

    pouco mais favorvel do que outros religiosos que exerciam suas atividades em outras

    instituies educacionais da provncia, apresentamos tal assertiva a partir do material

    analisado neste trabalho. No ano de 1859, a Assembleia legislativa provincial

    promulgou uma lei concedendo ao professor de filosofia, o Padre Joo do Rego Moura,

    licena com ordenado para frequentar a Faculdade de Direito, para terminar o seu curso,

    dessa forma, nos atrevemos a elaborar reflexes sobre essas concesses, insistindo que

    possivelmente havia um posicionamento poltico desses padres, entretanto, na

    documentao no tivemos acesso acerca da questo das aspiraes polticas dos

    mesmos e, portanto, tal afirmao ainda carece de investigao.

    Constantemente os lentes do Lyceu se afastavam das atividades educacionais

    para ocupar cargos de importncia no governo provincial, fosse na condio de Diretor

    da Instruo, ou tomando assento na Assembleia Provincial; tambm desenvolviam a

    funo de examinadores de concursos para o provimento das cadeiras de primeiras

    letras espalhadas pela provncia e do prprio Lyceu.

    Em 1842 vamos ter um padre como Diretor do Lyceu indicando a presena dos

    quadros da Igreja Catlica atuando nos assuntos educacionais. Sobre a importncia de a

    religio andar de mos dadas com a instruo o intelectual, Jos Liberato Barroso

    (1867), discorreu vrias pginas do seu livro A Instruo Publica no sentido de afirmar

    a importncia da presena religiosa na instruo pblica, o que no nosso entendimento

    seria mais um instrumento de regulao do comportamento das pessoas em uma das

    vrias passagens destacamos:

    O christianismo, principio da civilisao moderna, fonte da prosperidade das

    naes mais poderosas, e fundamento da verdadeira liberdade, offerece no

    complexo de suas doutrinas, como as concebeo a sabedoria infinita e a

    vontade onipotente do Creador.

    38

    Temos essa informao a partir de um fragmento de documento, que tem a promulgao de algumas

    leis entre elas a de gratificao ao referido padre pela elaborao do compndio supracitado.

  • E a moral evanglica o cdigo da sublime philosophia, que deve dirigir a

    educao das geraes modernas, as quaes foro pela Providendcia

    destinadas para a grande obra da regenerao moral. (BARROSO, 1867,

    p.XXV)

    Dessa forma compreendemos que para que houvesse uma efetiva manuteno da

    ordem, religio e preceitos morais deveriam estar vinculados, o que de certa forma se

    concretizava atravs do padroado que predominavam nas terra lusitanas desde o sculo

    XVI, ento nada melhor do que colocar padres mestres na instituio que

    reconhecidamente era um modelo a ser seguido. Durante todo o perodo imperial vamos

    encontrar os padres compondo os quadros do ensino primrio. Historiograficamente na

    Paraba tal temtica ainda carece de um estudo mais aprofundado. A seguir elaboramos

    um quadro com os dados que identificamos na documentao a respeito da presena dos

    padres mestres na instruo secundria da provncia da Parahyba do Norte:

    Quadro 1: Quantidade de padres mestres que aparecem na documentao entre os

    anos de 1839 e 1871

    Este quadro foi elaborado com base nas fontes documentais coletadas pelo GHENO, no Arquivo histrico

    Waldemar Bispo Duarte, s tem nomes que apareceram entre os anos de 1839 e 1871, perodo que a

    presente pesquisa abrange.

    Neste quadro pudemos perceber a presena de religiosos de vrios segmentos da

    igreja, bem como a insero destes em todas as fases da instruo. Ao longo da nossa

    pesquisa, apreendemos que os padres que circulavam nas instituies escolares de maior

    destaque, poderiam ocupar cargos polticos, inferimos que possivelmente estavam

    ligados aos principais partidos existentes no perodo. Esses lentes tambm se

    envolveram em polmicas que poderiam lhes custar o cargo ou uma possvel

    Padre Mestre Funo Frei Fructuoso da Soledade Sigismundo Professor do Liceu (ingls) e Diretor da instruo

    Publica

    Padre Domingo Alvares Vieira Professor de Filosofia racional e moral

    Padre Antnio da Trindade Antunes Meira Diretor do Liceu (1842)

    Padre Jos Antnio Lopes da Silveira Professor do Liceu

    Padre Manoel Carvalho e Silva Professor e 1as

    letras (Patos)

    Padre Joo do Rego Moura Professor do Liceu (filosofia) e Diretor da

    Instruo pblica

    Padre Joaquim Vitor Pereira Professor de 1 as

    letras (Bairro alto da capital)

    Padre Firmino Herculano de Figueiredo Professor de 1 as

    letras (Cruz do Esprito Santo)

    Vigrio Francisco Antnio de Souza e Silva Comissrio da Instruo Pblica

    Vigrio Manoel Jacome Bezerra Cavalcanti Professor Jubilado

    Padre Augusto Cirilo dOliveira e Mello Professor do Ensino Primrio (Lucena)

    Cnego Joo Chrisostomo de Paiva Torre Missionrio

    Padre Antnio Fernandes Teixeira Professor da Instruo primria

    Padre Lindolfo Jos Correia das Neves Professor de Filosofia (Liceu)

    Padre Francisco Pinto Pessoa Diretor da Instruo Pblica

    Padre Ricardo J. Brasiliense Professor de Primeiras Letras (Serra da Raiz)

  • gratificao, como veremos a seguir com o nosso principal personagem, Frei Fructuoso

    da Solidade Sigismundo.

  • Terceiro Captulo A difcil jornada de um Frade na instruo pblica na Paraba oitocentista.

    [...] se a documentao nos oferece a

    oportunidade de reconstruir no s

    as massas indistintas como tambm

    personalidades individuais, seria

    absurdo descartar estas ltimas.

    (Ginzburg, 2006, p. 20)

    Neste terceiro captulo nossas discusses centram-se em um ator especfico que

    como mencionado anteriormente, medida que avanvamos em nossas leituras, foi se

    fazendo presente e despertando a nossa curiosidade especialmente nas questes relativas

    a sua atuao no cenrio educacional paraibano no sculo XIX. Dessa forma, optamos

    por organizar a narrativa desse ltimo captulo de nossa monografia traando

    inicialmente um esboo do seu itinerrio na educao, enquanto professor da cadeira de

    ingls do Lyceu Provincial e como Diretor Interino da instruo pblica para em

    seguida tratarmos das polmicas nas quais Frei Fructuoso Solidade Sigismundo esteve

    envolvido.

    Para evidenciarmos a sua presena podemos dizer que nossas principais fontes

    foram: a documentao coletada nos arquivo da FUNESC e j catalogada pelo GHENO,

    e os relatrios dos diretores da Instruo Pblica, em paralelo recorremos

    documentao referida nos captulos anteriores, uma vez que o nosso objeto foi sendo

    construdo a partir de nossas leituras e interpretaes da documentao consultada.

    3.1 Fr. Fructuoso da Solidade Sigismundo personagem central de nossa trama.

    Durante a nossa investigao sobre as principais instituies na Paraba

    oitocentista nos deparamos com um nome que aparecia constantemente, o de um

    professor de ingls do Lyceu Provincial chamado Fructuoso da Solidade Sigismundo.

    Sobre sua vida pessoal no conseguimos obter muitas informaes, apenas que foi um

    religioso mendicante da ordem de So Francisco, conforme consta em um dos

    documentos pesquisados e que se tratava de um Frei, pois sempre frente do seu nome

  • vinha sigla Fr.. At a finalizao do texto de nossa monografia, no conseguimos

    fontes que nos dessem informaes consistentes sobre a sua formao religiosa e em

    qual parquia desenvolvia sua atividades, sabemos que foi provido vitaliciamente na

    cadeira de ingls do Lyceu Provincial em 1839, permaneceu no cargo at 1842 quando

    foi aposentado. Em 1849 foi provido interinamente na referida cadeira na qual seguiu

    por seis meses, no mesmo ano tambm ministrou as aulas de retrica, potica,

    geografia, cronologia e histria onde permaneceu at maro de 1850, quando foi

    reintegrado na cadeira de ingls e permaneceu at o ano de 1871 quando foi jubilado.

    Ao longo de sua trajetria na instruo tambm foi, por dois anos - 1865 e 1866,

    Diretor Interino da Instruo Publica, substituindo o Dr. Joo Leite Ferreira.39 Esse

    personagem no chamou nossa ateno apenas porque seu nome aparecia vrias vezes,

    mas em virtude das situaes que o envolviam e, desta forma, foi conquistando o nosso

    interesse e a nossa vontade de olh-lo mais atentamente, pois alm de ser um dos

    lentes40 do Liceu tambm ocupou um cargo de confiana no estado provincial.

    Ao longo do XIX como j foi afirmado por vrios autores41, a instruo

    paraibana teve uma configurao bastante diversificada, no que tange aos mtodos

    aplicados, s punies aos alunos, formao dos professores e at mesmo no que seria

    considerada uma instituio escolar. Neste ambiente temos a insero dos padres

    mestres nos vrios nveis educacionais e nas mais diversas funes como j discutido no

    captulo dois dessa monografia. E foram nesses espaos que encontramos o nosso padre

    mestre, que mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelos lentes no sculo XIX de

    alguma forma tentaram se fazer ouvir enquanto sujeitos participantes da elaborao do

    recente estado nacional, mesmo que no fosse um desejo intencional. Conforme

    indicado por Teixeira (2009 p. 30), referindo-se aos salrios dos professores do

    oitocentos na Paraba:

    Quando o assunto so os salrios atrasados encontramos 27 documentos,

    sendo quatro deles referentes aos padres-professores. Em sua maioria eles so

    39

    O Dr. Joo Leite Ferreira se retirou do cargo de Diretor da Instruo Pblica na data de 4 de maio de

    1865, para ocupar a vaga de representante da provncia da Paraba nas cmaras temporrias no Rio de

    Janeiro. 40

    No sculo XIX lente se referia ao professor da instruo secundria ou superior. 41

    Sobre essa diversificao educacional nos oitocentos podemos citar os trabalhos de Itacyara Viana

    Miranda (2009) que na sua monografia de final de curso, mostra os mtodos punitivos empregados na

    Paraba do Norte. Acerca da formao de professores vamos ter a monografia de final de curso de

    Mariana Marques Teixeira (2009), que aborda o processo inicial da formao dos docentes que se dava

    em um ambiente de muita dificuldade. A respeito das instituies escolares vamos ter um artigo

    produzido por Cury e Silva em (2011), no qual se tem uma tentativa de definir instituies educacionais

    no XIX.

  • solicitaes dos prprios lentes da dcada de 1860. Nesses os docentes

    pedem que a fiscalizao acontea para que seus servios possam ser

    atestados e eles possam enfim receber seus salrios. A ausncia de

    fiscalizao costumava acarretar os atrasos de um, dois e s vezes at trs

    meses nos ordenados dos docentes.

    Mesmo com poucas informaes sobre o personagem principal da nossa trama,

    alguns questionamentos animaram a nossa pesquisa, destacamos as seguintes: por que

    um frade da ordem mendicante resolveu partir para a vida educacional? Quais

    motivaes o levaram por essas vias? Descobrimos que ele o nico que recebeu a

    referncia de frade dentre os vrios religiosos que so denominados na documentao

    como padres. Conforme a leitura que fizemos dos documentos percebemos que o nosso

    frade envolveu-se em algumas polmicas como discutiremos mais adiante no texto e a

    nos perguntamos: Teria o referido frade algum envolvimento poltico direto com algum

    partido imperial?

    Antes de iniciarmos nossas discusses a respeito das problemticas envolvendo

    o nosso religioso, tentaremos esboar o que era a disciplina de ingls no perodo

    imperial.

    3.2 A disciplina de Ingls nos oitocentos Estudar ingls no sculo XIX tinha um carter bem diferenciado do que temos

    atualmente, foi uma disciplina introduzida no ensino brasileiro aps a chegada da

    Famlia Real ao Brasil em 1808, e tinha o objetivo de instruir os filhos das casas

    abastadas que iriam dirigir os negcios de famlia.

    A cadeira de ingls passou a ser ofertada a partir do estreitamento comercial

    entre Brasil e Inglaterra, e ao longo de todo o sculo XIX, juntamente com a cadeira de

    francs, que era a cadeira mais procurada, compuseram o universo das chamadas

    lnguas vivas42. Na Paraba verificamos uma diferena considervel entre o nmero de

    matriculados na cadeira de ingls em relao aos matriculados na de francs que teve

    nmeros bem mais altos, como podemos conferir logo abaixo na movimentao do

    Lyceu provincial da Paraba no ano de 1865.

    O movimento do Lyceo foi o seguinte:

    Matricularam-se nas cadeiras:

    De Latim .......................................... 04 alumnos

    42

    Os estudiosos do sculo XIX utilizam esse termo em contraposio ao latim.

  • De Francez ...................................... 43 alumnos

    De Inglez .......................................... 10 alumnos

    De Geometria ................................... 07 alumnos

    De Geographia ................................. 05 alumnos

    De Rhetorica .................................... 03 alumos

    TOTAL............................................. 136 alumnos

    (Relatrio incompleto do presidente de provincia, Paraba do

    Norte, 1865.43

    )44

    Tal afluxo pode ser explicado pela influncia da misso artstica francesa45 que

    veio para o Brasil atendendo o convite do governo de D. Joo VI. Mesmo com toda essa

    influncia da referida misso, a disciplina de francs, bem como a de ingls tiveram

    dificuldade para serem implantadas como cadeiras mantidas pelo poder estatal. Como

    podemos perceber a seguir.

    As Aulas Menores de Ingls de ambos os Cursos Jurdicos teve um problema

    para estabelecer-se; a falta de Professores, algo que tambm ocorria com as

    Cadeiras de Francs criadas nas provncias, como sugere o j referido decreto

    de n. 16, de 26 de junho de 1833, que ao criar no Piau uma Cadeira de

    Francs e Geografia, mandava abrir concurso na Corte do Rio de Janeiro,

    visto que na Provncia, no h absolutamente quem a ella se oponha

    (CLIB46

    1907,apud OLIVEIRA,2006,p. 128)

    interessante que essa questo no ocorreu apenas no perodo inicial da criao

    das duas cadeiras, mais que se estendeu pelos anos seguintes, os poucos mestres que se

    habilitavam a ministrar uma das disciplinas terminavam sendo aproveitados para

    ministrar as duas cadeiras, tendo em vista que poucos se aventuravam pelos caminhos

    das aulas no ensino pblico.

    Anteriormente quando afirmamos que poucos se aventuravam para ministrar

    aulas no ensino Publico podemos inferir que essas pessoas especializadas j atuavam

    como professores de lnguas. Maria Celi Chaves Vasconcelos (2005) em seu estudo

    pioneiro sobre a instruo domstica detalha e confirma tais informaes. A referida

    autora nos mostra que ao longo de todo o sculo XIX, as pessoas especializadas nas

    chamadas lnguas vivas estavam o tempo todo oferecendo seus servios atravs de

    anncios nos jornais. O estudo nos mostra que para essas pessoas era muito mais

    rentvel ministrar aulas no espao domstico no sculo XIX, por diversas vezes

    43

    Esse Relatrio incompleto originalmente encontra-se sem data, mas chegamos a concluso da data de

    1865, porque foi o ano em que o frei por ns pesquisado, passou a ocupar a Direo Interina da Instruo,

    e tal fato mencionado no referido documento. 44

    Relatrio do Diretor da Instruo Pblica do ano de 1860 45

    A misso artstica francesa chegou ao Brasil no ano de 1816 e foi responsvel por influenciar as artes e

    por consequncia o modo de agir e pensar dos brasileiros durante todo o sculo XIX tinha como

    principais nomes Nicolas-Antonine Taunay e Jean-Baptiste Debret. 46

    A sigla CLIB, significa Colees de Leis do Brasil e refere-se fonte pesquisada pelo autor da citao.

  • confundindo o universo pblico e o privado. Para exemplificar como o ensino

    domstico era muito mais requisitado pelos professores, Vasconcelos (2008, p.56)

    aponta:

    Nos anncios em que a denominao era genrica, as caractersticas que

    descreviam o fim para o qual se destinava o pedido de emprego de uma senhora ou um senhor. Geralmente, informando possuir excelente conduta, meia-idade, independncia de famlia, ser solteiro ou solteira,

    ensinar pelo mtodo mais fcil, estes indivduos se candidatam a administrar uma casa nobre. Eles se encarregavam da educao dos filhos da famlia, de ensinar a ler e a tomar conta da casa, de educar os filhos de um

    senhor vivo. Desejavam achar discpulos para aperfeioar a educao,

    ensinar primeira letras e demais matrias.

    Nos casos citados, em 1839, foram registrados 11 anncios, 5 colocados por

    estrangeiros: 2 de portugueses, 1 de ingls, 2 de franceses. Entre esses, 3

    colocados por homens, 5 por mulheres e pedindo 1 homem. Dois no

    mencionavam o sexo do candidato.

    Optamos por trabalhar com o exemplo de 1839 por se tratar da primeira dcada

    da implantao das cadeiras de ingls e francs aqui na Paraba, e que podemos

    comparar com a crise enfrentada pelas autoridades do Municpio da Corte no sentido da

    consolidao das mesmas cadeiras e que evidenciado por Oliveira (2006).

    Na citao acima retirada do estudo de Vasconcelos (2005), podemos notar que

    a oferta maior que a procura no que diz respeito instruo domstica, ou seja, muitos

    estrangeiros vinham para o Brasil e chegando aqui ofereciam seus servios como

    professores ou professoras nas casas das famlias abastadas. No caso do estudo de

    Oliveira (2006), o autor ressalta que para as aulas pblicas de cadeiras de lnguas

    estrangeiras h escassez de oferta, o que pode nos levar a pensar que pessoas

    qualificadas e habilitadas existiam, mas no queriam se encaminhar para o ensino

    pblico.

    A partir das leituras referenciadas acima ficamos nos perguntando se na Paraba

    a instituio da disciplina de ingls no teria enfrentado dificuldades quando da sua

    implantao? Ao nos deparamos com os relatrios e falas dos presidentes de provncia,

    percebemos que, no caso paraibano, as autoridades provinciais encontravam-se no

    mesmo patamar de dificuldades enfrentadas por outras localidades com relao a

    situao das aulas pblicas, j que para a instruo domstica no temos dados

    suficientes para interpretaes mais consistentes.

    Para que nos faamos entender, os acontecimentos foram colocados sob uma

    cronologia para que se possa ter uma compreenso de como se chegou a efetiva

    implantao da cadeira de ingls no Lyceu Provincial, tendo em vista que era a

  • disciplina que pertencia ao frei Frutuoso da Solidade Sigismundo, foco de nosso

    estudo.

    Quadro 2: Dificuldades de implantao das cadeiras de Ingls e Francs

    Quadro elaborado a partir de informaes que constavam nos relatrios dos presidentes de provncia entre

    os anos de 1836 a 1848.

    O quadro acima nos deu um panorama da irregularidade no que tange ao ensino

    das chamadas lnguas vivas no Lyceu Provincial.

    Em um documento de 1842 localizamos a aposentadoria de Frutuoso da

    Solidade Sigismundo como professor da cadeira de ingls do Lyceu Provincial. Ficamos

    nos perguntando o que teria acontecido entre o ano de aposentadoria do frei em 1842 e

    1847 quando a cadeira provida novamente. Essa resposta pode ser encontrada no

    mesmo ano de 1842 quando o presidente da provncia informa que diminuiu algumas

    matrias que faziam parte das aulas do Liceu, acreditamos que essa aula tenha sido

    suprimida pela falta de um professor habilitado bem como pelo baixo nmero de alunos

    como pudemos perceber em tabelas de anos posteriores47, quando a referida cadeira foi

    restituda.

    No ano de 1845 vamos ter o Presidente da Provncia Tenente Coronel Frederico

    Carneiro de Campos, falando sobre a necessidade da implantao na provncia da

    cadeira de ingls como j houve e ainda acrescenta A summa difficuldade de que se

    47

    As tabelas as quais estamos nos referindo encontram-se ao final de cada ano nos relatrios dos

    presidentes de provncias, esse material foi coletado e digitado por Cristiano de Jesus Ferronato, para

    posterior publicao em uma coleo organizada pelo GHENO (Grupo de Histria da Educao no

    Nordeste Oitocentista) atravs de meios digitais.

    Dificuldade para a implantao das cadeiras de ingls e francs no Lyceu Provincial, nos

    anos iniciais de seu funcionamento.

    Ano Cadeira de Francs Cadeira de Ingls

    1836 a 1839 Funcionou regularmente No existia

    1839 a 1842 Vaga no ano de 1842 Funcionou regularmente

    1843 a 1847 Funcionando Deixa de existir, no ano de 1847

    restituda, mas permanece

    vaga.

    1848 Funcionamento regular Funcionamento regular

  • h de encontrar pessoas, que tenho a requerida aptido para o ensino do Ingls e do

    Francez, exige distinco de Professores, e deve ser objecto de duas Cadeiras. Em

    tabela de 1846 a cadeira de francs j estava vaga o que podemos inferir que mesmo se

    tratando da cadeira mais procurada era difcil mant-la funcionando, da inferimos a

    dificuldade da restituio das aulas de ingls no caso de aposentadoria do professor

    como foi o caso do frei Fructuoso.

    Com a chegada do ano de 1847 acreditamos que medidas mais enrgicas foram

    tomadas na tentativa de colocar as ditas aulas em funcionamento novamente, pois o

    mesmo presidente de provncia que havia mencionado a necessidade das aulas de ingls

    inicia o seu relatrio apresentado Assembleia Legislativa Provincial da seguinte

    forma:

    O Lyco da Parahyba prossegue com a necessria regularidade: para que elle

    toque aquelle gro de desenvolvimento que fitastes na lei 5 de 28 de Maio

    do anno findo, pretendo em breve, ou apenas haja pessa competentemente

    habilitada, prover a Cadeira de lngua Ingleza.48

    No ano de 1847 no mapa anexado ao mesmo relatrio do Presidente de

    Provncia, no quadro referente aos professores do Liceu, vamos ter a presena da

    cadeira de ingls, sinal de que a Assembleia atendeu ao pedido do presidente, mas ainda

    assim a cadeira permaneceu vaga provavelmente porque no havia pessoas habilitadas

    para ocup-la. As pessoas que possivelmente poderiam ter tal qualificao estariam

    mais interessadas em oferecer seus servios para o ensino domstico49. Nos dois anos

    seguintes encontramos o relato de que o lente da cadeira de ingls estava de licena e

    que em seu lugar estaria um professor substituto de nome Herculano Marinho Falco.

    Com o avano da nossa pesquisa em direo ao ano de 1850 tivemos uma

    surpresa porque encontramos a seguinte afirmao do Presidente da Provncia:

    Tambem est provida em outro com manifesta inju