padre vilson groh

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Propostas do padre Vilson Groh para a transformação da realidade. Eu conheci o Movimento dos Focolares quando eu tinha cerca de 20 anos, durante a ditadura no Brasil. Quando eu soube que seus membros viviam em comunidade e colocavam as coisas em comum, para mim, foi uma iluminação. Desde então, eu pensei que era possível transformação social. O entendimento de Jesus crucificado e abandonado me levou a olhar internamente. Era uma maneira de compreender o meu ministério. Então senti que não poderia estar em uma paróquia; fechado. Eu vivi por um ano em uma catedral, que foi o acordo com o Bispo, e depois fui para a periferia trabalhar neste tema, onde estou até hoje. Minha fé causou uma mudança geográfica na compreensão da Encarnação social, de estar aberto a isso. Jesus Crucificado e abandonado é um ponto-chave para a América Latina e o Caribe dentro destes assuntos, o que traz várias imagens dele. Temos em mãos uma grande chance de responder a partir desta compreensão, Jesus Crucificado e Abandonado é um meio para a etapa de compreensão desta realidade, oferecendo uma perspectiva de resgate humano. Na América Latina e Caribe desigualdades são profundas e grandes, tornaram-se culturais, e se acostumou a conviver com a injustiça social. João Paulo II

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Propostas do padre Vilson Groh para a transformação da realidade.

Eu conheci o Movimento dos Focolares quando eu tinha cerca de 20 anos, durante a

ditadura no Brasil. Quando eu soube que seus membros viviam em comunidade e

colocavam as coisas em comum, para mim, foi uma iluminação. Desde então, eu

pensei que era possível transformação social.

O entendimento de Jesus crucificado e abandonado me levou a olhar internamente.

Era uma maneira de compreender o meu ministério. Então senti que não poderia estar

em uma paróquia; fechado. Eu vivi por um ano em uma catedral, que foi o acordo

com o Bispo, e depois fui para a periferia trabalhar neste tema, onde estou até hoje.

Minha fé causou uma mudança geográfica na compreensão da Encarnação social, de

estar aberto a isso.

Jesus Crucificado e abandonado é um ponto-chave para a América Latina e o Caribe

dentro destes assuntos, o que traz várias imagens dele. Temos em mãos uma grande

chance de responder a partir desta compreensão, Jesus Crucificado e Abandonado é

um meio para a etapa de compreensão desta realidade, oferecendo uma perspectiva de

resgate humano. Na América Latina e Caribe desigualdades são profundas e grandes,

tornaram-se culturais, e se acostumou a conviver com a injustiça social. João Paulo II

disse, em sua primeira viagem à América Latina, que estranhou ver um continente

cristão tão desigual.

Tocar o abandono é a nossa capacidade de entrar nessa relação de comunhão com os

mais excluídos. Pode-se fazer uma outra leitura da Doutrina Social da Igreja na

encarnação e na relação para desencadear processos com e entre as pessoas. Portanto,

é importante inculturar-nos no mundo afro ou indígena, tão profundos. O caminho

antropológico da Encarnação com essas ferramentas nos ajudam a entender essas

desigualdades e ver como trabalhar com o desigual. O discurso comum sobre a

pobreza concentra-se fortemente no acesso às oportunidades. Não está totalmente

errado, mas é muito mais enriquecedor partir do pobre e da sua realidade; não é que o

pobre tenha somente carências, pelo contrário, é alguém muito rico de conhecimento,

de mudanças. Quando Chiara disse que em Jesus Abandonado está todo o Paraíso

com a Trindade, por exemplo, só com isso é possível fazer uma outra leitura dos

documentos da Igreja.

A igreja é um povo de Deus, um grande aporte para o continente, especialmente

graças às comunidades de base, que fazem vivas as Palavras em uma visão social. Os

documentos das conferências falam sobre o pobre, como um rosto do Crucificado que

abre um caminho para a Ressurreição. O grito cria o diálogo. O vinculo com o pobre

abre o diálogo. Na religiosidade popular, Jesus Abandonado está dentro do continente

americano, assim como Maria Desolada. Não podemos nos esquecer que vemos

Maria em Guadalupe e Aparecida já inculturada. Para que Jesus seja ressuscitado,

sem falta, é indispensável o elemento mariano, e nós somos Obra de Maria, que

graças a nossa espiritualidade, podemos fazer uma nova leitura do Magnificat.

Como podemos viver isso nas grandes cidades? É muito interessante faze-lo no

vínculo centro-periferia, ou na relação empresa privada e pobres. Temos que construir

esse diálogo e comunicar-nos através do ecumenismo, dialogando com todos, com o

mundo ateu dentro das universidades, por exemplo.

Nestas novas leituras, recuperando de novo a memória de uma Igreja, que deve estar

em processo contínuo de conversão e missão. Qual pode ser a vontade de Deus para o

continente? O bem comum, para gerar oportunidades através de ferramentas

fundamentais como o trabalho em rede (sozinhos, não vamos a nenhum lugar), e

gerando o protagonismo do pobre, ajudando-os a ser autônomos no exercício de sua

cidadania e promovendo a justiça social.

Temos que criticar a apatia política, que deve ter um compromisso com a

humanização da vida. A solidariedade nasce quando não me dá vergonha a carne do

outro. Deve existir compromisso com a justiça, ajudando a redistribuição dos bens. A

Palavra é força de emancipação e ajuda a recuperar a dignidade, sempre na

supremacia do amor. O bem comum é um direito. É preciso fortalecer a sociedade

com os mecanismos de controle e articulação global e local. Por último, lembremo-

nos de que Jesus Crucificado e Abandonado é um patrimônio do continente, não é

somente para nós.