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Rogério Germani Outros Amores www.papokult.jex.com.br 2010

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Rogério Germani

Outros Amores

www.papokult.jex.com.br

2010

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Outros Amores*

Ibiporã

2010

*Todos direitos reservados ao autor

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“Tudo o que sabemos do amor, é que o amor é tudo que existe.”

Emily Dickinson

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I

Aos que nutrem ódio por mim,

Os que com bocas espumosas dilaceram meu nome

E desfraldada deixam minha alma nas tristes ruas,

Entrego meu canto de amor e paz.

Não está em mim a pérfida vingança

Nem raízes estabeleceu a amargura

Em meu peito claro e aberto

Habitat dos pássaros, dos peixes, dos seres terrestres

Minha bandeira dilatada é o verso

A luz sulcada nos campos da Terra

E contida secreta nos olhos dos pequeninos.

Juntos, enlacemos os fogos os sonhos, meu povo:

A evolução ainda é máximo mistério

Que só cardume de mãos pode singrar.

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II

Estes olhos, este pouso contido

Em seu colo e em sua madura boca

Não cabem em mim, não me são cativos;

São livres em teu corpo: palavras acesas num livro.

Ainda que as aves voem perto

E, junto ao mar; levem meus olhos

Como vampiros tardios, não temerei

Pois teu rosto pertence aos sonhos

Pertence ao pacífico silêncio dos anos,

Às estrelas pastoras das noites insones

Aos recifes que revelam teus segredos

Tua lembrança a mim pertence

Como o gosto da semente

Cálida adormecendo num solo adubado.

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III

Não tragas nas mãos o canto,

Os rígidos ventos que emite o outono;

Não tragas, não é tempo…

Ainda respira o amor

Como o planeta recém nascido

Ainda caminha o sentimento

Entre as almas de vinho e fel

Seguindo ninfas e arvoredos

Não encerres com um beijo o fruto

A ilusão perdida nos séculos

E nas pradarias de luas eternas

Cantes tu o momento

O embate lascivo dos corpos

A entrega dos poetas à flor.

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IV

Guerra de ríspidas línguas

Salgando os indóceis espinhos

Sentinelas das ocas torres

Que são o fogo e o beijo

Preciosidade! Nome caliente e profundo!

Enlace de rosas, feras no cio!

Maior que o combate dos anjos

É o sumo do amor saciado!

Nem os leões regurgitando a carne,

O doce perfume das presas,

Propagam tamanha sorte

De morrer suspirando sonhos,

Nem mesmo as eternas águias

Recolhem na boca o doce gosto de Deus.

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V Alados virão os anos

Um a um suplicar teus lábios,

Carnívora planta que devora meus olhos

Minha sombra derramada ao sol.

Contínuos, irão requerer teus sorrisos

Que alimentam o brilho das manhãs

As noites que se perdem em brumas

E as tardes que velam meus medos

O tempo cairá em armadilhas

Na condição de caça e puma

Aguardando o teu trinar,

Desejando a essência fresca de tua boca

A alma que sobe aos céus

E faz do meu coração habitat de tua voz.

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VI Segredos não há no enlace dos dedos

Nem nas gaivotas que desafiam rochedos:

Amor e entrega flamejam nas veias

Como o doce barulho do silêncio.

Não há mistérios em sentar-se nas nuvens

Tendo lágrimas como travesseiro nem

Buscam respostas os olhos

Sorrindo debilmente no espelho

Nada dito e ainda assim solucionado:

Eis a fórmula das almas

Colhendo os pomos humanos,

Cruzando calor e fatos

Como avançadas raízes sacras

Atrás de simples e híbridos amores.

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VII Em cordas de violoncelos arrebentadas

Imagino teus cabelos lisos e presos

A um canto de harpia

Esquecida nos campos da infância

Recordo o livre vôo de teus pêlos

Buscando em minha pele a permissão

Para adormecer criança

E ressurgir linda primavera

Ainda ouço o gozo

O corpo repleto de orvalho

Kiwi mágico que se exibe

Aos olhos do mundo incrédulo. Ainda

Lavo nos cúmplices ventos

A lembrança da vida revigorada.

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VIII

Quem são os druidas

Que, sem se despedirem, partem

E levam consigo as fases da lua,

Os sonhos, os desejos e o abrigo ?

Que pensam? Que fazem

Os ateadores de medos?

Acaso são macabros deuses

Que fogem em desespero?

O certo é que o amor é eterno

E que juntos bem e mal caminham

Espreitando corações vazios.

Que pensas tu seguindo alheios?

Paraíso ou sombras só cabem

A teus próprios conselhos.

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IX

Comparam à fogueira as cinzas? Assim Deves seguir a rota dos teus dias

Sem olhar para as pegadas de teus descalços pés,

Sem ferir os sonhos com sombras.

Deves respeito às musas e aos beijos

Colhidos numa orla contínua

Onde os anjos desafiam o mar

E os mar desperta os anjos.

Mesmo que com o coração sangrando

Deves esquecer os erros puídos

Como um prisma que, de repente, evapora

E, em vida nova, deves continência

Amor às bases de um castelo

Onde, revigorado, surgirá o amanhã pleno.

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X

Eternos são teus delicados braços Derivando estações ao pôr do sol; são

Lindos laços aromáticos que carregam

Firmes e plácidos os meus gestos esquecidos

Igualam-se à chuva num páreo

Precioso como as rosas atiradas ao mar,

À terra que abraça seus filhos

Antes mesmo deles acordarem.

Sinto-me menino num colo de amante:

Quero arrancar meus olhos com os dedos

Só para ver crescer no tato o sentido,

A busca desesperada pelo corpo feminino

E nele sepultar meu descanso

Prazeroso caminho da eternidade.

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XI

No acaso estão os retratos Eriçados como aéreas orquídeas

Espalhando ramas e versos

Entre o silêncio e o espaço

Teu rosto preso no ar fica

Etéreo, luminoso feito o dia

Em que por leves passos

Abandonei o gosto de viver.

Ah! Se meu peito falasse…

Dava-lhe um fone de ouvido e uma faca

Para que juntos dançássemos uma valsa,

Um tango cretino como as últimas palavras

Usadas para plantar desespero

E despedida nas frias calçadas.

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XII

Que não me detenham os desejos Os erros que se sobrepõem nos caminhos,

As frases que se exibiram malfadadas,

Os gestos contidos por medo

Trago aberto ainda no peito

Um amor que vulcaniza as palavras

Um passo de nova alvorada, um

Beijo que se manteve secreto pássaro

Ao puro ninho de tua boca,

Ao teu formoso corpo exposto,

Frescor da luzidia aurora e,

De olhos fechados, trago

Uma paixão que incendeia tempos

Com precisão e claridade.

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XIII

Morte só é justa morte Quando dois amantes morrem

Juntos e ao mesmo tempo

Em que o amor de ambos se recolhe;

Só é brilhante quando

Um coração para trás não fica

Sozinho navegando na vida

Triste nos portos a sofrer.

A morte- aberta armadilha aos corpos

Apenas encontra digno sentido

Quando o amor une as almas

E acompanha seus silentes discípulos

Numa oração de desafio onde

Frios lábios permanecem unidos.

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XIV

Tuas mãos de nuvens, quero sobre mim A acalmar os devaneios que descarregam

Sobre o meu corpo a tua ausência;

Quero o destino dos pássaros

Quando suaves retornam ao ninho

Afoitos por um afago conciliador

Onde as batalhas fiquem esquecidas

Como palavras silentes

Quero que, de quando em quando,

Repouse em meu peito os teus sonhos,

Tua razão feminina que embriaga os ares

E assim, quando todos dormirem,

Sairemos únicos pelas ruas

Pulverizando nas flores o mesmo e límpido amor.

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XV

Para que vivas, eu morro Para que flutues eu corro,

Para que cantes eu, em silêncio, choro

Porque nos áridos solos anjos não pisam

Nem levam da terra os olhos

Dos homens consumidos em chamas

Em ofícios de amor desordenados

Como as rochas curando o mar;

Anjos não atinam palavras

Onde poetas sangram e dançam

Sigilosos e precisos quanto os beijos

Florescendo dentro das humanas bocas,

Nem desconfiam que entristecidos

Os amantes sonham com eles.

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XVI

Tu me deste a brisa Que os elfos calados levam

Em cálidos selos sobre o horizonte

Sobre o despertar dos fúlgidos raios.

Me deste a razão do meu sangue

Correr sigiloso e impresso

Nos rostos, nos traços

Das multiplicadas e sumarentas coisas

Indo vagar seus destinos

Numa interminável estação de bem-querer,

De crédito aos nobres sentimentos.

Tu me deste a mão ruborizada

Suarenta e trêmula.

Mão que afaga o início, a vida.

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XVII

Edificados os cardumes do teu corpo vi-me presa rasa, homem

feito em líquidas forças e taras

aprendendo mistérios de pescador.

Meus férreos braços de anzol

Nada querem nada buscam

A não ser um mergulho calado

Neste riacho que é fêmea e fogo

Abrasando os olhos cerrados,

Os corações que se fazem vasos

A espera de aquáticas flores.

Navegar na saliva de tua boca…

Quantas lendas, quantas vezes

Afundou-se o barco nos portos fechados?

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XVIII

Religiosa experiência este suor Este desejo queimando na noite

Duas doces feras e um silêncio

Adestrando fôlego e sonhos

Crepitam as luzes do âmago

O sabor único que segue

Descoberta de errantes estrelas

Caindo aos pés da amada

Cortejando o alvo e puro ventre

Onde a eterna chama se esconde

Se guarda em valioso diamante.

De mãos unidas oro

Selo-me em sangue cristalizado

À catarse dos bruscos gestos pagãos.

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XIX

Ouço o sussurro da chuva e corro Fujo- águia celeste sem rumo

Vou, cabisbaixo e sereno

Polir lembranças no meu quarto

Vou, ao som da líquida cortina

Incitar risos ao espectador espelho

Com meus desgovernados passos

Atrás dos teus molhados beijos

Na solidão não há esconderijo maior

Que o próprio peito ferido, o próprio

Tempo que segue e solidifica

Seu contínuo castelo de tormento,

Sua triste voz que cai água

Nas ruas e aqui dentro.

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XX

Fresca face de romã, quão Belos são teus alvos braços abertos

Amim: são celestes tesouros

Calmo amor que não se encerra;

São redes dando abrigo e paz

Aos ínfimos e tristes peixes,

Imensa luz de um farol

Armazenando aromas e abrigo

Linda rosa dos trópicos,

Por ti palavras e luas se curvam

Se mesclam aos meus dias

Onde não mais sou poeta:

Sou de sonhos, sou de gesso

Pira acesa por claros braços.

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XXI

Ainda que com o coração cravado Não busque em outras estradas

Novos terremotos de uma paixão

Arrebatamento de bosques tolhidos por lavas,

Sóis crispados em porosas chuvas.

Não ouça o interno grito

Dilacerando as tardes e os ouvidos,

Extirpando da razão as tripas.

Para existir o amor tem motivos

Como os felinos cuidando das próprias feridas

Ao seguir o mesmo destino:

Sinceridade não brota das ruas

Nem em inúmeras moradas;

Amor só é maduro na própria casca.

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XXII

Pensar em ti, faz-me fantasma Ungido por santos e pálidos raios

Trazidos frescos e serenos de tua lembrança,

De teus gemidos íntimos, dourados

À luz dos gestos secretos,

Cravados no ar e nos sonhos

Como as pedras instalando seus nomes

Nos encontros diários com o mar.

Ando solto nas águas e na terra

Faminta por minhas leves pegadas,

Meu caminhar polido

Correto ao traduzir ao mundo

Os mistérios de ser-me vivo

Vivendo pluma e sombra do teu corpo.

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XXIII

Violinos atados em rabos de cães Também tocam sussurros sentimentais

Também retiram lágrimas das luas pálidas

Com acordes feitos no cio.

Ser besta de amor: ninguém carece

De luz aos nobres modos.

Paixão só pede sentidos

Alma aberta, entrega ao fogo

Clareira acesa nos corpos

Bocas e mãos cegas, loucas

Como banho de lago no inverno

Como cães comendo desconhecidas ervas

Para as dores eternas

Que são a solidão e a vida.

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XXIV

Das sombras criei um coral Que constantemente lançava teu nome

Contra os eriçados abismos

Flutuantes em meu corpo e tua ausência

Raízes fincou nos olhos do sol,

Fez ressurgir os antigos mistérios

Que as tardes e as bocas

Jamais tocar ousaram

E desta plúmbea sorte

Recolhi vida e ecos passados

Para que a noite pudesse chegar

Afável , madura e lenta

Nos povoados ermos e sombrios

E quebrasse, de vez, os meus labirintos

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XXV

Com anchovas saúdo a noite Os órfãos filhos da penumbra

As híbridas luas e suas linhas

Coroando os beijos vazios.

De vinho encho as taças e rio

Dos saltos que os frios corações dão

Frentes aos lindos olhos falsos,

Do carvão fingindo anda ser madeira

Verde e nobre como a inocência;

Vejo nas risadas cósmicas

As sombras baterem à porta

E bêbado de amor novamente respiro

Canto às fêmeas do tempo

Antes que verdade e estrelas venham.

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XXVI

Em idiomas de aroma e mel

Teu ventre eu quero eternizar

Para que, ao esconder do sol,

Recaia em mim tua essência de mulher

E inundados de perfume meus olhos

Contemplem a natureza viva

As lágrimas oferecidas à saudade

Que os sopros da brisa trazem.

Teu ventre é doce coluna

Onde se instalam meus beijos

Volúpia de guerreiro vencido,

Farol que acena aos meus dedos

E incita as revoltas do mar

Enciumado por não ser barco aéreo.

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XXVII

Concentra sempre nas mãos A delicadeza das pétalas marinhas

Os resquícios dos perfumes segredados

E mesmo pequeninas, nelas leva a vida

Os meus límpidos sorrisos

Cujo segredo é amá-la mais e mais

Profundamente até que das palmas só reste

A certeza de só eu poder tocá-las.

Mãos de raízes planetárias

E órbitas que a mim fazem

Abrigo castigo morada,

Há noutros vales sulcados

Tanta dedicação e afagos

Quanto esta fina chuva de dedos?

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XXVIII

Talhadas em luas claras e pêssego Vieram saudar o mundo tuas pernas

Tua mínima e macia relva dourada

Por onde desejos famintos trafegam

Ansiosos por um pouso eterno.

Tuas pernas- roliças vigas do universo

Cujo Deus, num descontrole de tino,

Concebeu mistério e perfeição.

Por certo elevadas torres

Armadas de pureza e rosas as tenho

Como distintas águas cristalinas

Que, nas planícies dos meus sonhos

Correm, viajam livres e leves;

Alvas, vêm ao meu encontro.

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XXIX

Entre os anjos que busquei, amados Por tempos e orlas distantes,

Por seres límpidos e sacros,

Eu acolhi a luz que eu sonhava

E ela fez-me alma iluminada.

Escolhi-a não pelas brancas asas

Ou pela fogueira dos finos cabelos,

Amei-a por ser mulher amiga e companheira.

Deusa que retira das noites

As azuis lágrimas selvagens

Que caem em boca de chuva.

Acolhi num beijo a namorada

E entre gestos, silvos e palavras

Adormeci entregue ao justo destino.

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XXX

Não são os teus pés de espáduas flamejantes Passando graciosos pelos caminhos que eu desejo

Nem tuas bocas mescladas de mel

Arrebatamento e alegrias contínuas

Eu busco. Também tua alva pele

Produzida em longínquas e celestes pradarias

Onde os anjos armazenam desejos

Ainda pouco me servem.

Procuro e espero somente em ti

O enlace, saudável encontro das almas claras:

Minha vida dentro da tua vida

Jorrando sussurros secretos e poesia

Como se fossem verdades cristalizadas

Surgindo azuis da mesma e única fonte.

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XXXI

Avancemos os remos na palavra amor E ao cair da última estrela

Antes que os exaustos corpos floresçam

Teremos na mente e nos sonhos novo ser

Mistura de âmbar e luzente aurora

Que por si caminha para as multidões:

Se projeta invisível e serena

No silêncio armado dos povos;

Teremos de um crime a prova

Capaz de cobrir e apascentar os dias sombrios

Onde a dor é maior quando sozinhos,

Teremos aberto a fonte e o espaço

Por onde claro nascem os mistérios

A pureza da vida e o amor vivificado.

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XXXII

Estatura de oceanos, de planetas E pouco para cobrir a rasa palma da mão

Assim é e será o amor infinito

Atravessando corpos universo e tempo,

Atravessando todos os sonhos

Daqueles que se fazem portos e maresias,

Revoltas de areia e vida

Ouvindo breves conselhos ao vento.

Amor de luz e brisa que varre pensamentos

Nos quintais onde séculos brincam

De revelar aos homens seus mistérios.

Amor que transcende coragem e medos

Guardados num vermelho gênio vadio,

Amor que me é a própria vida.

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XXXIII

Caso uma mortífera lança Perfurasse de leve os ossos do espelho

E ferisse os órgãos, internos mistérios

Esta noite ainda não grite

Quase louco ou traído, enfim, talvez descobrisse

Que amor, às vezes, rima melhor com fel;

Talvez os lhos quisesse arrancar

E entregá-los à adoração dos corvos sentinelas

Tais furacões talvez fossem conselhos e,

Em verdade, a morte lhe cuspisse certas cinzas

Mas esta noite não morra: resista.

Talvez as direções apenas mudaram

Os sentimentos e os secretos planos.

Talvez dor seja recomeço, digna vida.

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XXXIV

As ramas enveredadas da primavera Conspiram pela luz de tuas narinas

Descendo de flor em flor, de relva em relva

A mágica aprendida: brisa das fadas

Esperam teu fôlego alado os botos

Os tritões aflitos a nadar em turvas águas

Em mares de líquidos pensamentos

Velados em infantis sorrisos

A terra os moinhos os pássaros

Rituais e cantos a ti consagram;

Curvam as vidas e deitam pontes

Para que tuas narinas, sentidos sacros

Exerçam tua realeza nos prados

Caminho livre à deusa dos ventos.

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XXXV

Noturnos mistérios crispados no ar Revelador de sombrias idéias marinhas

Cuja língua de sal não cobriu o tempo:

Tenho-os como fumegantes tatuagens internas.

Dentro de mim estão as falas do vento

A aconselhar os passos de pluma

As fugitivas pegadas que conservam

O espírito morno e aceso.

Tenho intactas marcas de sombra

Transbordando dúvidas num chafariz de medos

Serenos e pretos como uma ferida

Exposta gritante e viva em meu peito:

Em qual labirinto o amor se perdeu?

Por quais países quedaram as vozes, os femininos cheiros?

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XXXVI

Para que se manifeste o meu amor por ti Tenho eu que amar-me por inteiro

Assim como o fogo beijando o papel

Consumindo sua essência deixa-se ser consumado.

Outra maneira de labareda interna não há

Nem ouso deflorar neste mundo obscuro

Onde os corpos gladiam-se em trevas

E, na luz, murcham sôfregas as almas.

Amo-te porque sem orgulho me amo

Não sinto medo ou enjôo

Quando encontro cativa tua língua em minha boca,

Quando teu suor fresco sai do meu corpo

Molhando em êxtase os astros

E num único arco formado cruzamos os céus.

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XXXVII

Antes que o sol quebrasse o silêncio das frutas,

Acendesse o canto nas asas dos pássaros,

Na clareira que o horizonte planejava expor

Meus olhos acolheram o sonho

A doce visão de uma mística estrela

Sem formas sem rostos e repleta de aromas

Firmes como sagrados solos

Cravando nas flores sua milenar existência

Assim, antes que o mar despertasse

Com seu reino meus eternos pés descalços,

Eu caminhei solto no ar dos amantes

Fui nuvem vagando na luz

Tendo nas fibras cardíacas a certeza

De em ti, amada minha, encontrar um dia de paz.

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XXXVIII

Fogueira de cerejas maduras São os seus cálidos seios

Abrindo clareiras nas sombras das tardes

Em minhas mãos de humilde lavrador

São-me a mesa farta

Merecedora de elevadas preces e lágrimas

Nos altares de luas claras

Onde o amor assinala os sermões.

Montes onde as cruzes hereges

Não atinam vozes ou sentidos:

Apenas veneram a força das luzes

Coroam as alianças em fachos

Que servem de vigas celestes,

Escadaria no caminho dos homens errantes.

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XXXIX

Estrela fundida em meus ossos Em emaranhados rios de veias

Cuja direção e sentido é dos dias

Retirar os aromas e a alma

Desconheço as terras de sua constelação

As areias verdes que seus pés assinaram

Livre infância de perfumadas pétalas

Que o tempo a mim trouxe

Analfabeto sou de seu remoto universo

Mas cuido, respeito o que vejo

Cintilando em minhas águas de outono

Sou grato, amado astro,

Por suas formas de lua prata

Abrirem janelas em meu peito: pleno pouso.

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XL

Por entre florestas de silêncio Caminho reto cabisbaixo e sereno

Sem que antigas canções de elfos

Alcancem e enlouqueçam restos de pensamentos.

Palavras de claras nuvens não tenho

Comigo levado no eterno vagar:

Não são-me bagagens leves ou fartas

Ou abrigos de ventos ou descampados aflitos;

Apenas taciturno eu sonho e sigo

Arrastando imensas correntes vazias.

Não disponho de portos vorazes

Risadas que acordem centauros;

Não quero respostas. Quero uma alma

Que me aguarde amadurecendo exausto.

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XLI

Sem freios invades as fronteiras Existentes entre o inferno e os beijos

E com o fogo demarcas o meu corpo

Em macias mãos de artesã

Recrias a paz extirpada

Por sombras oriundas dos mudos tormentos;

Esmagas da solidão os olhos

E, na cama, desenvolves teu alvo trinado.

Sem medo, és selvagem pássaro

Trazendo no bico as florestas acesas

Que ateiam luzes nos poros

Tu és a magma rocha desenhando

Com lavas e puros desejos

O destino ardente dos séculos.

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XLII

Discutiam verdades os quartos Zumbindo suas falas de tempos e gemidos

Quando os amantes, ainda adormecidos,

Descobriram nos olhos sigilosos mútuos segredos

De tal modo que o silêncio revelado

Como valiosos vasos abertos ao amor

Alçou no espaço um vôo azul

Até pousar nas lágrimas dos anjos

E delas fez um rio de esperança

Pronto para acolher barcos de sonhos.

Assim mulher e homem desenovelaram seus medos

Confiantes como os peixes incitando o mar;

Iluminados e serenos compreenderam

Que juntos permaneceriam uma vida.

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XLIII

Esta maneira suave que tu tens De constantemente lavar e amar a vida

Espraiando auxílio e largos sorrisos

Em chãs que em teu precioso olhar se fundem

Se confunde com meus gestos de polvo

Retirando dos múltiplos mundos

Coroas e espinhos amargos

Correntes de erros nos pés humanos.

Tu me és mais que claro espelho

Mais que as belas águas dos olhos

Regando valentes flores nos sombrios caminhos.

És me a mulher amada

A voz mansa, a estrela próxima e distante

Que meu coração na vida clama.

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XLIV

A primeira vez dos amantes,

Como dois astronautas escoltados,

Provoca no espaço um silêncio calcinado

Rastro que o piedoso tempo cauteriza

Com sua língua de vidas e borracha

Com seu zelo contínuo que almas demarcas.

Não pela tentativa em si consiste

Erro o carnal e fátuo enlace,

Dá-lhe descrédito a famigerada pressa,

O furto, o abuso dos curtos sonhos e dedos

Longe das orquídeas douradas e violinos

E sim, próximos aos nebulosos vazios

Que espreitam e revelam a jornada

Caminho impúbere de corpos e nave.

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XLV

Os cães domésticos abanam as estações Cobrindo tórridas lágrimas com seus latidos,

Sua essência de trovões e relâmpagos

Chovendo nos donos a confiança leal

Animais cuja realeza é o escudo

O afago tardio e incerto de humanos dedos.

Suas lanças são seus dias de neve

Onde o frio lhes aquece os úmidos olhos

Seus castelos alicerçados no ar

São pequenos: quase não se escuta

O crepitar bravio dos nobres corações

Que avançam contra as horas e a morte

Para trocarem seus sonhos e reinos

Por um instante junto aos tristes donos.

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XLVI

Recordo teus cabelos e neles monto Cavalgo num quadro aberto aos anjos,

Num quadro dourado feito de sorrisos e quenturas

Seladas nas ancas do veloz passado.

E nestes negros pêlos as estrelas

Galopam baixo num páreo de cavalos marinhos,

Vão por entre pistas de mãos estendidas

Alvejar as líquidas lembranças,

Vão com seus martelos de lume

Retirar as empedernidas ferraduras do tempo.

Nesta negra moldura onde cintila tua face

Tuas cores de mulher e primavera

Recolho meus pincéis de poeta

E no coração admiro e levo teu retrato.

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XLVII

Nada mais almejo de ti Senão a razão dos seres existirem

A resposta que esperam estrelas e bardos

Vagando em longo caminho: Amor,

Tuas torres de águia caçadora

Sozinhas, sem precisos motivos ficam.

Isolada, tua imensa e isotérmica inteligência

Fogueira crepitante de palavras azuis

Dirigida em ondas, a mim não serve:

Preciso de céu aromas e sentimentos

Um palco aberto iluminado e tranqüilo.

Necessito da revolta dos teus cabelos

Esculpindo luzes em meu peito,

Teus cálidos lábios recitam Eu te amo.

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XLVIII

Escolho a ti pela breve vida Alva e calma que sustentas nas mãos

Nas palavras douradas que acordam quintais

E dos jardins ressuscitam o canto de flor

Em tua estrelada chama encontro

A força sagrada, aéreo escudo de sonhos

A proteger-me os dias sem fôlego

Os olhos exaustos de tanta água salina

Meus gelatinosos joelhos não mais sangram

Não colorem estradas com rubra penitência

Pois em ti recebo a purificação das flores,

Os largos sorrisos que adornam paz.

Entre musas celestes, ciências femininas

E precisas não sofro: escolho a ti.

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XLIX

Estive marchando não somente na quentura da neve Feminina,

No alvo corpo esculpido formoso no Olimpo

Região onde as delícias apresentam-se suaves sob as narinas.

Teus labirintos oníricos também conheceram meu canto.

Navegando em teus mistérios e secretos abrigos,

Também senti o hálito fresco de tua rosa

Flor renascida em fantasias e lágrimas

Nos campos luzentes que te saudaram mulher.

Nos teus cerrados olhos aportei

Com minha bagagem de compreensão e desejos

E sincero, finquei a etérea bandeira do amor.

Em tuas terras de orvalho

Depositei meu fulgor e meu caminho

Lavando no rio dos teus lábios minha vida.

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L

Tua pele, motivo para eu beber saliva Inundar a casa com salinas águas

Que trovejam nos eclipsados olhos

Onde, onde secreta foi flutuar?

Ainda percebo no ar teu aroma de pluma

Fragrância que vulcaniza meus sentidos

E deixa meus sonhos em estado de alerta

Desespero lúcido ante a mágica ausência.

A primavera do teu corpo

É janela aberta serenamente aérea

Cuja raiz cristalizou-se em meus olhos,

É a brisa que infla meus braços de vela

E incita minhas mãos sem direção

A remar em teus claros lagos.

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LI

Tão logo se dissipem as neblinas, As teias emaranhadas que retardam os passos,

Negros fios equilibrados em abismos,

Novamente eu buscarei o teu céu.

És-me tormento e paraíso absoluto

Estações claras e multiplicadas

Que além da razão e do fôlego me levam

Inerte e leve feito folhagem ao vento.

Tão logo as penumbras se calem

Eu, cego na luz dos teus olhos,

Despertarei meus sonhos em teus femininos vales,

Em cestas de vime guardarei teu sumo

Tuas essência reveladora de intermináveis sóis

E desperto, seguirei tua eterna estrela.

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LII

A lua remete seus raios de prata Nas almas caladas que incitam a noite

Com seus internos cantos de tristeza e solidão.

Mistérios de estátuas que solitárias sangram.

Os humanos bosques silentes balançam

Seus corações de rede vazada

E como metálicas parabólicas serenas

Aguardam as ilusões que trazem os ventos.

Seus braços verdes, suas raízes de sonhos

Plantadas nas rasas planícies orvalhadas

Esperam o celeste e maduro pomo

O tempo secreto onde os corpos se aquecem

Os desejos crescem livres e desenfreados

E os corações apaixonados, enfim, se encontrem.

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LIII

Constantemente e tanto amo a ti Que, quando desperto, abro teus olhos

Respiro com tuas narinas perfumadas

As luzes do vento saltando as janelas.

Amo-te em vida e cinza morte

E em qualquer região revelada

Me descubro cativo alimento em teus

Lábios

Vermelho e suave fruto

No espelho das almas te encontro

Fogueira de canto e estrelas

Reflexo dos meus alegres dias;

Abraço o meu corpo e sinto

O mel que emana do teu corpo

Capricho celeste que nos une.

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LIV

Rasante trator que sulca os torrões da alma Com seu arado de sensações e enigmas,

Seu constante labor de cultivar sonhos

E esperança nos olhos humanos.

Por sobre os solos dispersos

Pulveriza o seu líquido canto de ilusão

Aduba e acalenta a semente

Lançada no ar como felicidade que brilha

Em esquinas feitas de dias e ventos.

Nos braços, ergue o desejo bravio

Latente vontade de os céus desvendar.

Com a boca recolhe os frutos

As riquezas da farta seara

E o seu nome, amor, no coração é armazenado.

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LV

Outras praias enluaradas,

Outros recantos onde os amores se banham

Se encontram e se fundem num mesmo corpo

Não ouso, não quero descanso.

Tuas mãos de palmeiras são-me suficiente:

Abrigam-me dos seguidos maus tempos

Põem em meus olhos serenos

O desejo de querer-te a cada pôr do sol.

E é na tua desafiadora boca

Que o mar recita segredos do infinito,

Fala dos poéticos e etéreos ventos.

Não quero outros paraísos, outros amores

Senão a cabana de tua companhia,

A segurança tranqüila dos teus beijos.

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