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SUPLEMENTO ESPECIAL BOLÍVIA PRIMEIRO ATO DA REVOLUÇÃO BOLIVIANA FOI VITORIOSO. A QUESTÃO DO PODER ESTÁ COLOCADA NA ORDEM DO DIA PÁGINAS 5-7 Ano VIII Edição 162 De 04 a 18/11/2003 Contribuição: R$ 2,00

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PRIMEIRO ATO DA REVOLUÇÃO BOLIVIANA FOI VITORIOSO. SUPLEMENTO ESPECIAL BOLÍVIA PÁGINAS 5-7 Ano VIII Edição 162 De 04 a 18/11/2003 Contribuição: R$ 2,00

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SUPLEMENTO ESPECIAL BOLÍVIA

PRIMEIRO ATO DA REVOLUÇÃOBOLIVIANA FOI VITORIOSO.

A QUESTÃO DO PODER ESTÁCOLOCADA NA ORDEM DO DIA

PÁGINAS 5-7

Ano VIII Edição 162De 04 a 18/11/2003Contribuição: R$ 2,00

2 OOOOOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃO S S S S SOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTA

Cadê o emprego, o salárioe a reforma agrária?

O Brasil precisa de um governo dos trabalhadoresque rompa com a Alca e com o FMI

Há um ano, Lula foi eleito em meio a uma grande expectativa de mudanças. Mas passados10 meses, a promessa de mais de 10 milhões de empregos, de melhores salários e reformaagrária estão muito longe de acontecer. O desemprego cresceu. Só na grande São Paulo,20,6% da população se encontra desempregada. A reforma agrária prometida por Lula,registra o ridículo índice de 13 mil famílias assentadas, isso sem falar na enorme onda derepressão e de criminalização que se abate sobre os movimentos sociais.

O que se registrou nesse período foi a queda brutal do nível de vida dos trabalhadores. Ossalários nunca estiveram tão arrochados. E o governo ainda quer impor o congelamento databela do Imposto de Renda o que implica em mais confisco salarial. Na outra ponta, as“reformas” do FMI, como a da Previdência, retira direitos em benefício dos banqueiros.

Tirando dos pobres para dar aos ricosEsse dinheiro que está saindo do bolso dos trabalhadores está indo para pagar as dívidas

externa e interna. Só de juros, o governo pagou aos banqueiros mais de 76 bilhões de reais,sendo que até o final do ano o montante de juros chega a 140,8 bilhões.

O governo Lula está dando continuidade às negociações da Alca e posiciona-se claramentecontra um plebiscito oficial, conforme exigem os movimentos sociais. Aliás, todas as medidasque o governo vem adotando pavimentam a implementação da Alca, como, por exemplo, aliberação dos transgênicos, que garante um lucro de mais de 100 milhões de reais à Monsanto.E a Alca só nos reserva mais miséria e perda de qualquer vestígio de soberania no país.

Direções governistas: um obstáculo para as lutas dos trabalhadoresO governo do PT aplica os “ajustes” do FMI e governa para banqueiros , empresários

e latifundiários. A direção majoritária da CUT e a Força Sindical tentam evitar qualquertipo de enfrentamento e choque com o governo. A postura da maioria da CUT nas campanhassalariais é ilustrativa. Desmonte de greves, manobras burocráticas e acordos rebaixados forama marca registrada de sua política. A maioria da direção da CUT chegou ao absurdo de nãoarrancar dos banqueiros, que lucraram mais de 180% nesse ano, a reposição cheia da inflação.

É preciso ganhar as ruas, plebiscito da Alca já!Para mudar o Brasil, garantir emprego, salários e reforma agrária é preciso parar de pagar

a dívida aos banqueiros, romper com o FMI e a Alca. O Brasil precisa de um governo dostrabalhadores, sem banqueiros, latifundiários e empresários. Um governo com coragem deparar de pagar a dívida. Disposto a governar apoiado na mobilização dos trabalhadores e dopovo. Mas Lula e o PT, infelizmente, não estão dispostos a romper alianças com a burguesiae o imperialismo. Por isso, não cumprirão suas promessas.

Os trabalhadores e a juventude precisam ir à luta por emprego, salário e terra pela rupturacom o FMI e a Alca. Precisamos ganhar as ruas e exigir Plebiscito Oficial.

E, nas lutas, é preciso construir uma nova direção para os sindicatos, para a CUT e a UNEe também unir os lutadores e a esquerda num Movimento por um Novo Partido, de classe,de luta, revolucionário e socialista.

EDITORIAL

A S S I N AT U R A

Envie cheque nominal ao PSTU no valor da assina-

tura total ou parcelada para Rua Loefgreen, 909

- Vila Clementino - São Paulo - SP - CEP 04040-030

24 EXEMPLARES

� 1x R$ 48

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Opinião Socialista é uma publicação quinzenal doPartido Socialista dos Trabalhadores Unificado

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Atividade principal 91.92-8-00

CORRESPONDÊNCIARua Loefgreen, 909 - Vila Clementino

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Fax: (11) 5575-6093

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMariúcha Fontana (MTb14555)

CONSELHO EDITORIAL Bernardo Cerdeira, Cyro Garcia, Concha Menezes,

Dirceu Travesso, Eduardo Almeida, João Ricardo Soares,

Joaquim Magalhães, José Maria de Almeida, Luiz Carlos

Prates ‘Mancha’, Nando Poeta e Valério Arcary

REDAÇÃOAndré Valuche, Jeferson Choma, Luiza Castelli, Rodrigo

Ricupero, Wilson H. Silva, Yuri Fujita, Valério Paiva

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOGustavo Sixel

FOTOGRAFIAAlexandre Leme, Ana Luisa Martins, Sérgio Koei

COLABORARAM NESTA EDIÇÃOAmérico Gomes, André Freire, Flávio de Castro, José

Martins, José Nicolau Pompeu, Maria Lucia Fatorelli,

Sebastião Carlos Cacau,

IMPRESSÃOGazetaSP - Fone: (11) 6954-6218

E X P E D I E N T E

NOTAS/FAL AZÉ MARIA

A L C A

D Í V I D A

INTERNACIONAL

BANCÁRIOS /JUVENTUDE

METALÚR GIC OS

CAMPANHA / DES-CONTO EM FOLHA

P S T U

FÓRUM SOCIALBRASILE IRO

S U M Á R I O

2

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5 - 7

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C A R TA S

“Entre 11 e 13 de novembro aconte-cerão as eleições para o DCE daUFRJ. Um DCE que protagonizounos últimos anos as principais lutasdo movimento estudantil, como oFora Vilhena (interventor do MEC)e no adiamento do vestibular durantea greve de 2001, determinante para odesgaste de Paulo Renato.No último período, o DCE estevedirigido por setores governistas eabandonou a principais lutas. Comona última greve, quando o DCE nãoparticipou e não mobilizou.Nós, da chapa Não Vou me Adaptar– Oposição Unida, estamos ao ladodos trabalhadores na defesa intransi-gente da Universidade pública egratuita. Portanto, contamos com acontribuição política e material dasentidades e dos militantes comprome-tidos com a luta contra as reformas e aindependência do movimento frenteao governo. Contribua!”

Thiago ([email protected])

Vicentinho e Luiz Marinho são osprincipais protagonistas da campa-nha publicitária da Universidade Ban-deirante (Uniban), uma das princi-pais universidades privadas de SãoPaulo. Em anúncios na televisão e nosjornais e em outdoors espalhadospor toda a Grande São Paulo, os doisfazem rasgados elogios à instituição— famosa por suas altas mensalidadese baixa qualidade, além do tratamentodraconiano dispensados a seus fun-cionários. Tampouco é desprezível ofato de que o reitor da Uniban,Heitor Pinto, foi companheiro dechapa de Maluf nas últimas eleiçõesao governo do Estado de São Paulo.

Papel lamentável e vergonhoso parao ex e o atual presidente da CUT,uma entidade que, pelo menos emtese, deveria estar na vanguarda daluta pelo ensino público.

ENCONTRO NACIONAL

UNIVERSITÁRIO DISCUTE

DIREITOS DE GAYS

E LÉSBICAS

Estudantes universitários de todo opaís estão participando, em BeloHorizonte, — entre o dia 31 de outu-bro e 4 de novembro — do EncontroNacional Universitário pela Diversida-de Sexual (Enuds). Segundo CarlosMagno Fonseca, dirigente do Centrode Luta pela Livre Orientação Sexual(Cellos) e da Secretaria de Gays e

Lésbicas do PSTU, o encontro foiconvocado porque “infelizmente omovimento estudantil não dá espa-ço para discutir as questões GLBT ehá, cada vez mais, a necessidade deincorporar as reivindicações dessesetor na pauta e discussões dasentidades estudantis”. Já SorayaMenezes, da Associação de Lésbicasde Minas Gerais (Além) e também daSecretaria do PSTU, “o Enuds tam-bém é importante para fazer comque os militantes do movimentoGLBT incorporem lutas mais am-plas ao seu cotidiano, como o com-bate à Alca e aos planos neoliberaisimpostos pelo governo Lula”.

NOTAS

GAROTOS-PROPAGANDA

DO ENSINO PAGOFOTOS ALEXANDRE LEME

GUIDO MANTEGA,

ministro do Planejamento, dizendoque a quantia não está assegurada

Entramos noeixo certo.“

O QUE SE DISSE

Não possogarantir nada.

LULA, anunciando R$ 5,3 bilhõespara os programas sociais

Aonde vai parar a CUT?Na última semana ocorreu um espetáculo lamentável. A marca da

Central Única dos Trabalhadores esteve associada aos principaisbancos do país (Bradesco, Real, etc). Quem abrisse os jornais veriaanúncios como “CUT Bradesco juntos para oferecer ao trabalhadorempréstimo com desconto em folha” que envolve além da CUT a ForçaSindical. Esse acordo permitirá empréstimos com desconto em folha,permitindo os bancos cobrarem taxas de juros de até 82,69% ao ano.Um “presente da China” para os banqueiros e um golpe nos traba-lhadores e na independência de classe da central. É revoltante ver essaaliança da central com os principais representantes do capital finan-ceiro. Mas o papelão da CUT não parou por aí. Na mesma semana

outdoors em São Paulo e TV veiculavam uma propaganda com o ex e o atual presidente daCUT, Vicentinho e Luiz Marinho, como garotos-propaganda de uma universidade paga.A bandeira histórica da CUT em defesa do ensino público e gratuito e da Universidadepública foi para o ralo. Para concluir o festival de horrores promovido pelos dirigentes dacentral, no dia 25/10, foi publicado um artigo no jornal Folha de São Paulo, assinado porLuiz Marinho, Luiz Carlos Delben -presidente do Sindicato Nacional da Industria deMaquina (Sindimaq) e Adilson Luís Sigarini -diretor do Sindicato Nacional das Industriasde Autopeças (Sindipeças) onde juntos defendiam as comissões de conciliação previa, umaverdadeira armadilha para os trabalhadores, que tem como objetivo pressionar os trabalha-dores a abrirem mão de seus direitos.

A direção majoritária da CUT ultrapassou todos os limites. Aonde vai parar a CUTassim? No último Congresso da Central, nós alertávamos para a necessidade de construir umaalternativa de direção para a CUT. Governista e “chapa branca”, a atual direção majoritáriasustenta e apóia o governo Lula, que está aliado à burguesia, atrelado à Alca e o FMI, dandocontinuidade à política de FHC. Apoiando o governo e fazendo parceria com a patronal, adireção tem comprometido a independência e a capacidade de luta da central. Os primeirosenfrentamentos com o governo já demonstraram isso.

É necessário unir todos os lutadores, sindicatos combativos e construir uma novaalternativa de direção para a CUT, em oposição à atual. Novos desafios virão, como é o casodas reformas sindical e trabalhista que os trabalhadores terão que derrotar. Está mais quecomprovado que não podemos depositar nenhuma confiança na direção majoritária, que comessa postura e política leva a cada dia que passa a CUT a assemelhar-se com a Força Sindical.

FALA ZÉ MARIA

3Edição 162 - Ano VIII - De 4 a 18/11/2003

eter Allgeier, embaixadornorte-americano e co-pre-sidente das negociações daAlca, declarou dias atrás, noEncontro Parlamentar so-

bre a Alca, realizado no Brasil, que os“EUA vão fazer a Alca com ou sem o Brasil”.

Os EUA iniciam uma ofensiva paraimpor a Alca a todo custo, acelerandoa recolonização da América Latina.Além da abertura completa dos mer-cados dos países latino-americanos parasuas multinacionais, eles querem im-por regras sobre investimentos queprotegem suas empresas; acesso ilimi-tado às riquezas naturais etc. Enfim, achamada “Alca Abrangente”.

A pressa imperialista visa superarsua crise econômica, agravada com aocupação do Iraque, que já consomeum bilhão de dólares semanais. Acrise também se estende à agricultura.A mecanização e a introdução de no-vas tecnologias - a chamada revoluçãoverde - aumentou a produção mundialde alimentos, ocasionando uma crisede superprodução.

Em razão disso, o governo dos EUAadotou recentemente medidas prote-cionistas para defender seus produto-res, deixando o mercado agrícola foradas negociações da Alca.

A ESTRATÉGIA DO GOVERNOLULA: ALCA LIGHT OU“NACIONALISMO DE

FAZENDEIRO”

Em resposta à pressão norte-ameri-cana, Lula declarou: “O que não fazsentido é conceder acesso preferencial a nossomercado sem uma contrapartida em áreas ondesomos mais competitivos, como a agricultura”.

O próprio Lula confirma que olimite de defesa da soberania está emque os EUA aceitem negociar a aber-tura do seu mercado agrícola para queos grandes fazendeiros brasileiros ex-portem suco de laranja e soja.

Desta forma, os atritos com os EUAnão são manifestações de defesa dasoberania. O governo aceita a estraté-gia norte-americana para a AméricaLatina, e está discutindo somente comomelhorar a situação de um setor daclasse dominante brasileira, os gran-des latifundiários. Em que pese osatritos, o que prevalece na política dogoverno não é o enfrentamento com oimperialismo, mas a submissão.

Aliás, o governo Lula vem adotan-do medidas que pavimentam esse ca-minho, liberando os transgênicos, acei-tando discutir na OMC temas comoinvestimentos, compras governamen-tais etc. e aplicando uma política eco-nômica de recessão e arrocho salarialpara continuar pagando a dívida ex-terna e manter o superávit do FMI.

ITAMARATY: SOBERANIA OUSUBMISSÃO?

Na mesma reunião, Lula declarou:

Na Alca, governo Lula também dácontinuidade à política de FHC

MESESDE GOVERNO LULA ALCA

JEFERSON CHOMA,da redação

P

“Quero que fique claro para todos, de uma vezpor todas: para o Brasil, para o Mercosul, ofoco da questão não é dizer ‘sim’ ou ‘não’ àAlca, mas definir qual Alca nos interessa”.

O problema é que não existe ne-nhuma Alca que interessa ao povobrasileiro. Seja no modelo defendidopelos EUA, seja no formato doItamaraty, somente atende os interes-ses dos grandes industriais e fazendei-ros. Para os trabalhadores restará odesemprego e o país se converterá emuma colônia dos EUA.

No Brasil e na América Latina foiconstruído um grande movimentocontra a Alca. O ponto alto desta lutafoi o plebiscito popular, no qual dezmilhões votaram não à Alca e pelasaída do Brasil das negociações.

Mas, pouco a pouco, a maioria dadireção da Campanha Contra a Alcano Brasil foi deixando de lado umadas bandeiras fundamentais sob as quaisfoi constituída, a exigência da saída doBrasil das negociações.

Ao alimentar ilusões de que a estra-tégia do Itamaraty é “progressista” oupoderá inviabilizar a Alca, como naspalavras de um representante doItamaraty na última plenária nacional,a campanha vai se confundindo aospoucos com uma campanha de apoioà estratégia de negociação “soberana”,dando legitimidade às negociações.

Acontece que Lula já deixou claro

para todos que existe uma Alca queinteressa ao país. Ao contrário da cam-panha nacional, que já se posicionoucontra a Alca em qualquer versão.

Por isso o Itamaraty não tem umapolítica independente do governo.Toda sua estratégia é buscar condiçõespara um acordo de “livre comércio”,que atenda aos interesses de todos ossetores da classe dominante brasileira.

O discurso do Itamaraty não ques-tiona a estratégia imperialista, e suadivergência com a “Alca Abrangente”também se dá em um quadro de sub-missão. Por exemplo, sua proposta de“Alca Light” prevê negociações bilate-rais entre Mercosul e os EUA sobre ostemas que ficarem de fora da Alca,preparando gradativamente a imple-mentação da “Alca Abrangente”.

A tal “firmeza” do Itamaraty nãoresiste ao primeiro ultimato dos EUA.No primeiro endurecimento do im-perialismo, o Itamaraty começou arecuar e apresentou uma lista dos se-tores de serviços, aceitando aprofundaro controle das multinacionais em 21setores, entre eles educação, tratamentomédico e dentário e advocacia.

O embaixador Adhemar Bahadian,co-presidente da Alca pelo Brasil, afir-mou, por ocasião da apresentação dalista, que esse fato “prova nosso interesseem negociar”. O que ele não disse é queestá negociando a nossa soberania.

FORTALECER A

CAMPANHA PELO

PLEBISCITO

Nestes dez meses de governo Lula,não houve nenhuma mudança subs-tancial em relação à política que tinhaFHC no tocante a Alca. A estratégiado governo segue sendo a defesa deum “livre comércio” que atenda aosinteresses dos grandes grupos indus-triais e dos latifundiários.

Entre o imperialismo norte-ameri-cano e a nossa luta contra a Alca, existeum governo no Brasil, que não podeser ignorado e menos ainda apoiado.Este governo, além de negociar a Alca,está disposto a assiná-la e não aceitasequer convocar um Plebiscito.

O ano 2004 será decisivo para a im-plantação da Alca. Se os EUA acenaremcom uma concessão mínima no temaagrícola, estará aberto o caminho paraque o governo Lula avance na transfor-mação do Brasil em uma colônia.

Portanto, a derrota da política dogoverno Lula é parte fundamental denossa luta contra a Alca. A CampanhaNacional Contra a Alca, e em particu-lar sua coordenação, não podem se-guir navegando em duas margens. Énecessário encarar esse debate e darum salto na campanha abandonandoqualquer ilusão nas negociações.

A coordenação da Campanhacontra a Alca não pode legitimaras negociações e nem apoiar apolítica do governo. É precisoexigir a ruptura imediata dasnegociações e Plebiscito Oficial

JOÃO RICARDO SOARES,da redação

A última plenária da campanha votouum calendário de luta exigindo plebis-

cito oficial em 3 de outubro de 2004.

Foram marcadas manifestações noFórum Social Brasileiro e durante areunião ministerial, que ocorrerá emMiami nos dias 20 e 21 de novembro.Devem ser realizados atos nos estadosno dia 21. Os comitês devem ser reto-mados e as entidades devem unir a lutacontra a Alca às lutas específicas.

FOTOS ROOSEWELT PINHEIRO (AGÊNCIA BRASIL) E INDYMEDIA

PETER ALLGEIER, co-presidente das negociações da Alca pelos EUA

recebe uma tortada do grupo Confeiteiros sem Fronteiras, no Rio de Janeiro

10

CALENDÁRIO DA CAMPANHA

4 OOOOOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃO S S S S SOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTA

10 MESESDE GOVERNO LULA

e observarmos especifica-mente o orçamento federalde 2003, veremos que, en-quanto foram destinados145 bilhões de reais para o

pagamento das dívidas externa e in-terna, apenas 81,3 bilhões de reaisserão destinados à soma dos gastoscom Segurança Pública, AssistênciaSocial, Saúde, Educação, Cultura, Ur-banismo, Habitação, Saneamento,Gestão Ambiental, Ciência e Tecno-logia, Agricultura, Organização Agrá-ria, Energia e Transporte. Quandoconsideramos o gasto já realizado dejaneiro a setembro, vemos que foramdestinados à dívida mais de 76 bilhõesde reais, quase o dobro dos 40 bilhõesde reais gastos com todas estas áreassociais. Além disto, gastos fundamen-tais estão sendo relegados a segundoplano, como urbanismo, habitação esaneamento, onde foram consumidosmenos de 5% do programado para oano. Não sobrou quase nada para osinvestimentos: apenas 6% dos parcosR$ 14 bilhões foram efetivamenteaplicados nos oito primeiros meses doano.

E a dívida diminuiu por causa desteenorme sacrifício imposto à socieda-de? Não. A dívida líquida do setorpúblico passou de 56,5% do PIB, emdezembro de 2002, para 57,7% emsetembro de 2003.

Enquanto isto, a dívida externa con-tinua subindo, devido aos três primei-ros saques do acordo com o FMI (quetotalizaram 14,3 bilhões de dólares).A dívida, que era de 227,7 bilhões dedólares em dezembro de 2002, atingiuem julho (segundo a última informa-ção do governo) a cifra de 235,5 bi-lhões de dólares. Nos primeiros novemeses de 2003, do tão comemoradosaldo comercial recorde (de 17,8 bi-lhões de dólares), 16 bilhões de dóla-res foram gastos para pagarmos osjuros desta dívida (8,9 bilhões de dó-lares), as remessas de lucros dasmultinacionais aqui instaladas (3,5 bi-lhões de dólares), e os serviços contra-tados do exterior (3,7 bilhões de dó-lares). Ou seja, continuamos a drenaras riquezas do país para o exterior, sobo pretexto de pagarmos os juros deuma dívida que já pagamos.

Porém, a conta de capitais (queinclui a tomada de empréstimos, amor-tizações e a entrada de investimentosno país) mostra nossa vulnerabilidade.São 30 bilhões de dólares de amorti-zações todo ano, o que nos obriga,

permanentemente, a depender denovos empréstimos para pagar as dívi-das anteriores. Se analisarmos comoessa conta se comportou até setembro,veremos que ela somente fechou po-sitiva nesses nove meses devido aoempréstimo de 17,6 bilhões de dóla-res do FMI este ano. Nesse período,a entrada de investimentos diretos foide apenas 6,2 bilhões de dólares, bemmenos do que o observado no mesmoperíodo do ano passado (10,3 bilhõesde dólares), o que nos deixa depen-dentes do capital especulativo.

Além do mais, todos estes 17,6bilhões de dólares emprestados doFMI deverão ser devolvidos até 2007.A fim de garantir a continuidade dospagamentos aos credores e ao pró-prio Fundo, o governo optou porrenovar o acordo com o FMI. Nessalinha, as reformas anti-sociais têm

MARIA LUCIA FATTORELLI*,especial para o Opinião Socialista

S

LULA CONTINUA PAGANDO A DÍVIDA AOSBANQUEIROS COM A FOME DO POVO

DE JANEIRO A SETEMBRO, O GOVERNO FEDERAL, OS ESTADOS E MUNICÍPIOS “ECONOMIZARAM”57 BILHÕES DE REAIS PARA PAGAR A DÍVIDA INTERNA, O QUE SIGNIFICOU 5,08% DO PIB (MAIS QUE OS 4,25%

IMPOSTOS PELO FMI). COMO SEMPRE, NÃO FOI SUFICIENTE PARA PAGAR NEM OS JUROS DESSA DÍVIDA

DÍVIDA

sido cada vez mais aprofundadas pelogoverno.

AS REFORMAS DAPREVIDÊNCIA E ATRIBUTÁRIA

Duas grandes marchas de milharesde pessoas a Brasília não impediramque o governo continuasse trabalhan-do pesadamente para a aprovação daEmenda Constitucional da reforma daPrevidência. O projeto que privatiza aPrevidência dos servidores públicosfoi votado na Câmara em agosto, emmeio a denúncias de compra de votosde parlamentares e oferta de verbas ecargos, expediente inaceitável sob to-dos os aspectos, especialmente sob oprisma ético. Manobra nunca vistavem sendo utilizada mediante a apre-sentação de uma “PEC Paralela”, me-dida claramente inconstitucional que

desrespeita o Poder Legislativo.Quanto à reforma tributária, o go-

verno vem conseguindo garantir aaprovação da prorrogação da exigên-cia de CPMF e a manutenção daDesvinculação das Receitas da União(DRU), que se prestam a garantir acontinuidade de produção dos eleva-dos superávits primários para o paga-mento dos juros da dívida.

A NOVA LEI DE FALÊNCIASNo dia 15 de outubro, foi aprovada

a nova Lei de Falências na Câmara,que coloca os créditos tributários emigualdade de condições com seus cre-dores, geralmente bancos. Essa altera-ção imposta pelo FMI é muito grave,pois coloca o interesse privado acimado público. O credor mais importanteé a coletividade, na forma do paga-mento de impostos, e não o setorfinanceiro privado, como indica o novotexto. A lei também prejudicará orecebimento de créditos trabalhistas,ao garantir a prioridade absoluta aopagamento de empréstimos concedi-dos a empresas exportadoras, geral-mente, por instituições financeiras. Oprojeto segue para o Senado.

Como vemos, o governo e o FMInão estão brincando. Caso não nosmobilizemos para impedir as refor-mas, haverá um retrocesso sem pre-cedentes na luta histórica dos traba-lhadores pelos seus direitos. As con-quistas mais importantes, conse-guidas após muita luta, estão sendoatacadas pelo governo Lula.

CARTAZ da campanha presidencial de Lula em 1989

VEJA QUEM GANHOU E QUEM PERDEU

TRABALHADORES

EMPREGO

Lula prometeu criar 10 milhões deempregos, mas só criou mais desem-prego. Segundo o Dieese, só na gran-

de São Paulo mais de dois milhões

de pessoas estão desempregadas e ataxa de desemprego voltou a atingir20,6% da População Economicamente Ativa,a mais alta desde 1985.

SALÁRIO

A queda da renda dos trabalhadores foi de 14,6%, segundo oIBGE. Nas seis regiões pesquisadas a renda só desce: Recife(-13,3%), Salvador (-5,4%), Belo Horizonte (-11,8%), Porto Alegre(-9,1%), Rio de Janeiro (-16,0%) e São Paulo (-15,9%).

REFORMA AGRÁRIA

Outra promessa que virou lenda. Lula afirmou na campanhaeleitoral que faria a reforma agrária com “uma canetada”.

Mas até 10 de outubro, o Incra havia assentado apenas 13,6

mil das 4,5 milhões de famílias sem-terra. No orçamento para2004, só há dinheiro para assentar pouco mais de 25 mil famílias.

* Maria Lúcia Fattorelli é auditora fiscal daReceita Federal, presidente da Unafisco Na-cional e coordenadora da Auditoria Cidadãda Dívida pela Campanha Jubileu Sul

CAPITALISTAS

BANQUEIROS

Até setembro, o governo

Lula pagou 76,69 bilhões

de reais aos banqueiros,referente a juros das dí-vidas externa e interna.

Como se não bastasse, osbancos aumentaram seuslucros no primeiro semestre, em comparação ao mesmoperíodo de 2002. Só o Bradesco lucrou 1,59 bilhões de reais.

EMPRESÁRIOS

Aumentaram seus lucros em 2003. Empresa doministro do Desenvolvimento, Luis FernandoFurlan, a Sadia lucrou 108,422 milhões de reais

no terceiro trimestre do ano, resultado 12,5%superior a 2002. E a Bunge Brasil, que exporta

soja, teve o seu melhor resultado no país,lucrando 832 milhões de reais.

Em setembro, a indústria aumentou a produção em 6%. Osoperários trabalharam mais horas, mas aumento de salário ecriação de empregos que é bom, nada.

5Edição 162 - Ano VIII - De 4 a 18/11/2003

s trabalhadores de todo omundo e da América Latinaem particular têm um gran-de motivo para comemo-rar: caiu Goni o governo

fantoche do imperialismo norte-ame-ricano na Bolívia: um símbolo daentrega do país e da repressão selva-gem aos trabalhadores e camponesesbolivianos. Era tão evidente a posiçãode agente imperialista de Sanchez deLozada, que ele sequer sabia falarcorretamente o espanhol e o faziacom o sotaque inglês adquirido emsua larga estadia nos EUA, daí serchamado de “gringo”. Seu papel delacaio do imperialismo ficou aindamais explícito, quando em sua fugade última hora voou diretamente paraMiami e em seguida foi a Washingtonprestar contas a seus senhores do Nortesobre o ocorrido e segundo suas pró-prias palavras “alertá-los do perigoque correm na Bolívia”.

A insurreição boliviana ressaltouum momento no processo de ascensolatino-americano, em que as massas jánão se contentam em votar ou emesperar passivamente que as coisasmelhorem na próxima eleição. Elasrebelam-se contra o imperialismo eos governos que são agentes dele.

O primeiro ato da revoluçãoboliviana foi vitorioso.

E agora?A QUESTÃO DO PODER DOS TRABALHADORES

ESTÁ COLOCADA NA ORDEM DO DIAJOSE WEILMOVICK,da revista Marxismo Vivo

O

Na Bolívia, a gota d’água ou o quedetonou o levante foi o roubo do gáspelas multinacionais, afinal se trata da2ª reserva mundial. Mas o que está portrás do grau de radicalização da luta emdefesa do gás, chegando a uma insur-reição nacional contra o governo Goni,é a exaustão de todo o povo com aentrega do país, com a política deerradicação da coca a mando dos EUA,com a tentativa de privatização da águae a miséria cada vez maior a que vemsendo submetida a população.

A disposição de luta das massas bo-livianas enfrentou a repressão selva-gem do governo, mais de 80 mortos eacabou por expulsá-lo.

A CLASSE OPERÁRIANO CENTRO E A VOLTADO DUPLO PODER

Uma das características centrais darevolução boliviana foi o papel devanguarda, protagonista, da classe ope-rária. Ela se colocou à cabeça da na-ção, sendo porta voz e líder dos indí-genas, do campesinato pobre e outrascamadas exploradas.

Os meios de comunicação da bur-guesia em todo o mundo, martelaramna tecla de que a insurreição haviasido um movimento indígena. Essa,porém, é só uma parte da verdade.Sem dúvida, a questão nacional temum peso enorme na Bolívia, já que as

A partir de 1952, um nome ficou associadoà idéia de revolução operária na América Lati-na: COB – a sigla da Central Operária Bolivi-ana. Foi ela que dirigiu a insurreição armadaque então destruiu o exército a partir de suasmilícias operárias encabeçadas pelos mineiroscom suas dinamites. No programa, as famosasTeses de Pulacayo, que defendiam a expropria-ção da burguesia e o poder dos trabalhadores.

Mas a gloriosa COB, coluna vertebral tam-bém da insurreição de 1985, depois da derrotadesse processo pela falta de alternativa e asubseqüente vitória na eleição presidencial doMNR de Paz Estenssoro e Sanchez de Losadapassou por um declínio nos 17 anos seguintes,que corresponderam para a Bolívia ao auge doneoliberalismo, com as privatizações e com osataques à própria estrutura das minas. Duranteos últimos anos, a direção da COB era hegemo-nizada por um setor governista. Mas em 2003,mesmo após esse eclipse e apesar dos durosgolpes com a demissão de milhares de minei-ros e fechamento de minas, a COB volta a estarno centro das mobilizações e aparecer comoreal alternativa de poder.

diferentes nacionalidades indígenassomam quase 80% da população e amaioria esmagadora dos operários ecamponeses são indígenas e a opres-são sobre elas é brutal e remonta sécu-los. Porém, quando os meios de comu-nicação falam apenas do movimentoindígena, tentam ocultar o caráter pro-fundamente proletário da insurreiçãoe a própria tradição que a classe operá-ria e seus métodos de luta têm no país.

A classe operária voltou ao centroda cena e voltaram também com todaforça os organismos que expressam oduplo poder na Bolívia, começandopela COB. A organização barrial, emparticular na cidade de El Alto, vizi-nha a La Paz, também jogou um papelimportantíssimo para o triunfo da in-surreição, com comitês de autodefesae com a marcha sobre La Paz.

Mas se essa foi uma primeira egrande vitória, a dinâmica da revolu-ção boliviana exige que se siga avan-çando até o poder dos trabalhadores.A contradição reside em que se não seprossegue, a revolução pode se atolare permitir a recomposição da burgue-sia e do imperialismo. Estes podem,usando as armas da democracia bur-guesa, recompor seu Estado e o regi-me. A disjuntiva Revolução ou Colôniaestá colocada como perspectiva paraos ativistas latino-americanos, mas deforma imediata para a vanguarda e asorganizações de massas na Bolívia.

O retorno da COBA partir de seu último congresso, no qual

mudou a direção e aprovou um plano de luta,a COB passou a cumprir um papel decisivo,que ficou mais claro com a greve geral em 29 desetembro. Esse papel ficou ainda mais cristali-no quando a coluna dos mineiros de Huanunientrou em La Paz, aclamada pelos demaistrabalhadores e camponeses que viam nelesuma direção que chegava para dar o golpe finalem Sanchez de Losada. Os companheiros doMovimento Socialista dos Trabalhadores, se-ção da LIT na Bolívia, tiveram o mérito deperceber essa tendência de que a COB estariarecuperando seu papel histórico e participaramcom força de seu Congresso, onde apresenta-ram uma proposta que apontava a derrubada deGoni e a greve geral como ferramenta de luta.

O MÉTODO DA GREVE GERAL E AINSURREIÇÃO URBANA

E a COB pôde cumprir esse papel de prota-gonista de uma insurreição novamente, ao usara arma clássica da classe operária nas revolu-ções: a greve geral e a insurreição urbana. Paraos teóricos que teimaram em prever o “fim da

classe operária”, a revolução boliviana está sen-do uma lição viva e prática. À medida que ostrabalhadores iam parando o país, La Paz, ElAlto, Cochabamba, Oruro - apesar da tremendarepressão - cercando a capital, e entrando em LaPaz em marchas com contingentes de milhares,o governo Goni ia perdendo o controle, até quenão lhe restou opção a não ser entregar o poder,abrindo uma crise revolucionária.

A COB NÃO É SÓ UMA CENTRALSINDICAL, MAS UMA ORGANIZAÇÃODE TODOS OS EXPLORADOS

A experiência da COB é pouco conhecidapelo movimento latino-americano. Ela agrupanão só o movimento sindical, mas o movimen-to camponês, estudantil e popular. Só nãoparticipam empresários, militares e o clero. Elaorganiza camelôs, cegos etc. Ao mesmo tem-po, seu estatuto prevê que a presidência deveser sempre operária. Tem ainda característicasde poder alternativo até nas secretarias. Embo-ra não tenha tido uma milícia nos últimos anos,ainda possui uma “secretaria de milícias”, he-rança da tradição revolucionária de 1952.

BOLÍVIA

6 OOOOOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃO S S S S SOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTA

sta é mais uma revoluçãoque se dá na América Lati-na contra um regime de-mocrático burguês.

O governo do “gringo”colocou a nu o caráter colonial dademocracia boliviana (foi sob esseregime que foi sendo aplicada a priva-tização, a erradicação da coca etc). Porisso, quando já no fim, Goni apelava àdemocracia enquanto mandava assas-sinar os trabalhadores que resistiam asuas negociatas, a credibilidade doregime democrático-burguês tambémhavia sido duramente golpeada.

A solução encontrada por dentrodo regime, com a posse do vice, CarlosMeza, é muito frágil.

Quem é Meza? Um jornalista ehistoriador, desconhecido até ser con-vidado por Goni para compor suachapa, um político que não tem umforte partido, como tinha Goni até hápouco, nem apoio próprio no movi-mento de massas; afinal, era o vice deGoni. Ele só pôde subir aopoder pelo apoio ou omis-são das direções do movi-mento de massas e com amediação de Lula eKirchner.

Devido à profunda crisedo regime e dos principaispartidos burgueses, que sus-tentaram Goni até quase ofim, ele compôs o governocom “técnicos” sem partidoe pediu um “tempo”, umatrégua às direções dos mo-vimentos populares. Paraassumir, Meza teve de con-ciliar com as direções, fazer muitademagogia e falsas promessas.

Aqui começa uma das encruzilha-das da revolução boliviana e o crimedas direções que apoiaram a subida deMeza em nome da democracia. Meza,se continuar no poder, não somentenão vai cumprir as promessas, mas vaitambém buscar salvar as forças repres-sivas, rearticular o Estado burguês epreparar uma repressão assim quepuder.

Hoje o imperialismo e a burguesianão podem tomar uma política clara, aderrota foi grande, mas não vão ficarpassivos muito tempo. Em tempos derevolução, as classes dominantes têmhorror ao vazio. Na grande revoluçãode 1952, as forças armadas foramdestruídas, os oligarcas fugiram, hou-ve a nacionalização das minas e umaprofunda reforma agrária, mas a COBse recusou a assumir o poder, entre-gando-o ao então jovem dirigentepolítico Paz Estenssoro e seu partido

burguês, MNR, que se reivindicavanacionalista e defensor da revolução.Que fez o governo Estenssoro? Aospoucos foi reconstruindo a espinhadorsal do estado burguês e as forçasarmadas, até ter condição de atacar omovimento, abrindo em seguida umasucessão de golpes militares.

A burguesia, como dizia Lênin,busca derrotar os trabalhadores pelaforça ou pelo engano. Tendo sidoderrotada na força, trata agora de usardo engano, enquanto ganha tempo. Odescrédito da democracia dos ricos éenorme, a disposição revolucionáriadas massas muito grande, o problemaencontra-se nas direções majoritáriasque não querem tomar o poder.

AS DIREÇÕES DO MOVIMENTOTRATARAM DE EVITAR AREVOLUÇÃO E AGORAAPOSTAM NA “DEMOCRACIA”

As direções mais conhecidas domovimento camponês e indígena, EvoMorales do MAS e Felipe Quishpedo MIP, trataram primeiro de evitar edepois de desviar o movimento revo-

lucionário. Evo, que passou boa partedo movimento fora do país, estavacontra a consigna de renúncia de Gonino início do movimento. Depois, apartir da greve geral, passou a defen-der “uma saída por dentro da demo-cracia”, uma saída institucional. Nessesentido, levantou a proposta de umaAssembléia Constituinte. Frente aoprimeiro discurso do novo governo,Meza, seu partido, o MAS, declarouque “uns 80 por cento da mensagem do[novo] presidente tinham sido a mensagem doMAS, e que agora esperam que Carlos Mezapasse do dito aos fatos”.

Já Quishpe, embora falasse em “re-volução indígena” na prática chamouseus liderados a dar uma trégua de 90dias ao novo governo. Após a nome-ação do novo governo, declarou:“Muito bem agora vamos ver o queocorre com o Congresso. Assumindoo vice, trataremos de negociar”. E paraacalmar a base indígena reunida em LaPaz, ameaçou voltar às grandes mobi-

E

ESTÁ COLOCADO O PROBLEMA Dlizações após a trégua de três mesespara derrubar o novo presidente,casoeste não cumpra com os pontos exigi-dos pela CSTUCB (ConfederaçãoSindical Única de Trabalhadores Cam-poneses da Bolívia). Outro dirigentedo MIP, Juan Gabriel esclareceu que“não é o momento de ameaças nem de darprazos ao presidente Carlos Mesa, o paísnecessita um respiro, necessita um tempo (...)Deixemos ele trabalhar, eu diria que todos osparlamentares, todos os dirigentes estamos naobrigação de dar um ombro, uma mãozinha”.

A nova direção da COB, com JaimeSolares à cabeça, embora tenha cha-mado a greve geral e exigido a renún-cia de Goni, se recusou a tomar opoder, alegando a ausência de umadireção revolucionária: “não se podetomar o poder por falta de partidorevolucionário”. Mas essa afirmativasó se torna correta na medida em quea direção da COB se nega a cumprirum papel revolucionário, a expulsar ovice Meza, chamar os trabalhadores eo povo a se organizarem em torno àCOB (como alguns dirigentes dosorganismos de bairro de El Alto pedi-

ram no ampliado da COBapós a vitória) como po-der e tomá-lo junto às or-ganizações populares.

Num momento comoesse, a classe operária ne-cessita de uma alternativade poder sua. Do contrá-rio, a burguesia se reestru-tura e fecha a crise revolu-cionária.

Por isso, as forças quese reivindicam de esquer-da cometem um crime aoapresentar como alterna-tiva a Assembléia Consti-

tuinte. Não por acaso esta é a políticada burguesia para superar a crise revo-lucionária.

Está colocado o problema do po-der: a posse de Meza, quando ele foiobrigado ir pedir apoio em El Alto, alamentar as mortes junto aos indíge-nas reunidos com Quishpe e a nego-ciar com os parlamentares da esquerdafoi a demonstração gráfica disso. Se asdireções dos movimentos sociais epopulares não lhe dessem apoio outrégua, ele não poderia assumir.

A burguesia sabe que a situaçãodesse governo é muito insegura pelaprofundidade da revolução. Por issojá trabalha com a possibilidade de umaAssembléia Nacional Constituinte.Querem trabalhar com o engano, ga-nhar tempo, tirar as massas das ruas,evitar a formação e extensão das milí-cias populares, alimentar ilusões nasmassas para reconstruir o poder bur-guês, já que a via da repressão pura esimples foi derrotada nas ruas.

Mais uma vez a política externado governo Lula, desta vez em alian-ça com o argentino Kirchner, cum-priu um papel de defesa da ordem.Os dois enviaram delegados à Bolí-via na véspera da queda de Goni,

para aconselhar Evo Morales, o MAS,o MIP, etc., a aceitarem a solução“constitucional”, ou seja, a posse deMeza e a manutenção dos compromis-sos assumidos por Losada de venda dasriquezas de seu país (o que inclui oscontratos que a PETROBRÁS temcom a venda de gás boliviano). Nãodisseram uma palavra de condenação

dos assassinatos perpetrados porGoni, mas saíram em defesa da“ordem constitucional”. Não é àtoa que, em sua entrevista apósfugir do país, Goni elogiou a parti-cipação dos governos brasileiro eargentino, apenas lamentando queseus emissários tenham chegado“atrasados”.

“Muy amigos”

urante as recentes mobili-zações na Bolívia boa parteda imprensa nacional e es-trangeira insistia em chamaro processo de uma “subleva-

ção indígena” contra o governo. Esta éuma “meia-verdade” com o propósitode ocultar o verdadeiro caráter darevolução que sacudiu o país. Se é umfato que a grande maioria dos mani-festantes — e dois dos principais diri-gentes, Evo Morales e Felipe Quispe— é de origem indígena (quíchua ouaymara), também é verdade que olevante teve um caráter evidentemen-te operário e anti-imperialista.

Dizer a verdade completa, então,seria afirmar que o que vimos naBolívia foi a combinação da luta denacionalidades oprimidas com a lutaoperária, anti-imperialista e anticapi-talista. Algo que também presencia-mos recentemente e do Equador.

Essa combinação de etnia e classe— ou raça e classe, no caso brasileiro— é uma questão fundamental nocontinente.

É muito importante e, na verdade,têm cada vez mais importância políti-ca as nacionalidades oprimidas e tam-bém minorias étnicas para as revolu-ções no continente.

O caso boliviano é exemplar. Amaioria indígena não só se encontraentre os mais miseráveis, como tam-

BOLÍVIA

Uma questão dWILSON H. SILVA,da redação

D

JOSE WEILMOVICK,

da revista Marxismo Vivo

7Edição 162 - Ano VIII - De 4 a 18/11/2003

IRAQUE: CADA VEZ MAISPARECIDO COM O VIETNÃ

A resistência do povo iraquiano àocupação norte americana se inten-sifica, chegando a uma média de 33ataques diários contra as tropas deocupação.

Depois do ataque a mísseis ao quartel-general norte-americano, onde seencontrava o sub-secretário de Defe-sa dos EUA, Paul Wolfowitz, enviadopor Bush justamente para garantir“que tudo estava sob controle” e daderrubada de um helicóptero norte-americano, resultando na morte de16 soldados, a imprensa americanacomeçou a lançar sérias dúvidas so-bre a ocupação, chegando a compa-rar com o pesadelo da derrota impe-rialista no Vietnã. A quantidade desoldados mortos influencia na compa-ração e reacende o movimento anti-guerra. Durante os combates com astropas de Saddam, morreram 115 sol-dados e, depois que teve início aocupação, os mortos em combate jásomam 139.

Além das tropas dos EUA, os principaisalvos dos atentados são à “polícia”iraquiana - criada pelos EUA e querepresenta no momento o principalsetor de colaboração com as forçasimperialistas, organizações internaci-onais como a Cruz Vermelha, e asinstalações reconstruídas para garan-tir a exploração de petróleo.

BRUKMAN É DASOPERÁRIAS!

As trabalhadoras da Brukman, fábricatêxtil ocupada desde 18 de dezembrode 2001 — um dia antes das enormesmobilizações que sacudiram o país ederrubaram o então presidente De LaRua —, conseguiram fazer aprovar naJustiça de Buenos Aires uma lei trans-ferindo a fábrica para uma cooperati-va das operárias.

As 57 mulheres protagonizaram algu-mas das principais lutas, resistindo atrês tentativas de desocupação, aúltima com a solidariedade de cercade 10 mil trabalhadores, que resisti-ram a uma violenta repressão.

REVEJA O ESPECIAL SOBRE A BRUKMAN:

www.pstu.org.br/internacional.asp

PELO MUNDO

FOTO INDYMEDIA ARGENTINA

ARTE LATUFF

insurreição boliviana se ins-creve na luta dos povos detodo mundo contra a ofen-siva recolonizadora impe-rialista, que tem outro pon-

to alto na resistência popular iraquianacontra a ocupação dos EUA. Nessaúltima semana isso ficou claro, com osataques ao Hotel Rashid que quaseatingiu o subsecretário da defesa PaulWolfowitz e na derrubada de um he-licóptero Chinook, tornando ridículasas afirmativas de Bush, de que as coisas

primeira questão que di-vide águas na Bolívia hojeé a atitude em relação aonovo governo Meza. Aocomemorar a saída de

Goni e ao ver suas direções apoian-do-o, há uma primeira fase de certaexpectativa, como mostram algumaspesquisas. Mas Meza está obrigadoa seguir aplicando os planos de en-trega, ainda que deva negociar mui-to mais com as direções dos movi-mentos de massas devido à sua fra-queza.

Depois de afirmar que “não querianem vingança, nem esquecimento apenascastigo” já está tratando de evitar viaCongresso de maioria oligárquica,qualquer julgamento de Goni, dosministros e mili-tares assassinos dapopulação, emandou reprimiruma ocupação deterras de propri-edade da famíliade Goni (a fazen-da Collana) e deum ex-ministroodiado por ter or-denado a repres-são, SanchezBerzain.

O primeiroponto de um pro-grama para a re-volução bolivia-na é explicar seucaráter aos traba-lhadores e aopovo e chamá-los a não depositarNenhuma confiança em Meza e seugoverno.

Em segundo lugar é preciso dizer:Nada de trégua!, imediato atendi-mento das reivindicações: gás para osbolivianos, expropriação dos gringosque tomaram as riquezas do país,suspensão do pagamento da dívidaexterna, fim da erradicação da coca,terra e território, expropriação doslatifúndios, Expropriação em primei-ro lugar das terras dos oligarcas quemandaram reprimir o povo. Por um

DO PODER NA BOLÍVIAUM PROGRAMA EM DIREÇÃO

AO PODER OPERÁRIO

Aplano de obras públicas que garantatrabalho para todos.

Para conquistar essas reivindica-ções é necessário e urgente que aCOB proponha uma plano de lutas,chamando as demais organizações atambém encaminhá-lo. Desenvol-ver junto com essas organizações ecomo propuseram os dirigentes deEl Alto, centralizar na COB os orga-nismos que estiveram à frente dainsurreição.

Além disso, é preciso exigir puni-ção a todos os culpados pelos assas-sinatos; livre sindicalização das For-ças Armadas para que a base organi-ze-se contra a cúpula e possa impe-dir que estas sejam armas de repres-são contra os trabalhadores e o povo.

Ao mesmo tem-po, para impedirque novamente sefaça a repressão im-punemente, é pre-ciso avançar na or-ganização de comi-tês de autodefesanas comunidades,centralizados naCOB, reorgani-zando assim a milí-cia operária que aCOB tem seu esta-tuto.

É necessário de-senvolver mais emais os organismosde base no campo,bairros, em torno àCOB e chamar a

que expulsem a burguesia e o impe-rialismo do controle das riquezas.

E é necessário exigir das direçõescom peso de massas, como Solares,Evo Morales, Mallku, que rompamcom a burguesia e com a democraciaburguesa colonial e assumam suaresponsabilidade. Que os trabalha-dores organizados na COB à cabeçade todos os setores explorados assu-mam o poder político.

Por um governo da COB e orga-nizações populares, com Evo, Sola-res, Mallku.

Uma luta que se inscreve na lutamundial contra o imperialismo

estão cada vez melhor, “por isso, elesestão desesperados e nos atacam mais”. Emúltima análise esses dois processos sãoa ponta mais avançada da luta mundialcontra o saque colonial desatado peloimperialismo norte-americano.

Essa revolução se inscreve tambémna luta continental contra a Alca, oFMI e a colonização. É um grandeexemplo, portanto, para todos os po-vos latino-americanos e seu destinoterá muita importância na luta de todaa América Latina.

A

de etnia e classebém está totalmente alijada do poder.Ao saírem às ruas para derrubarLozada, o povo também estava ten-tando fazer seu acerto de contas comos mais de 500 anos de opressão.

A luta pela liberação das nacionali-dades oprimidas é parte fundamental,se insere e só pode ser resolvida nosmarcos da liberação do Estado bolivi-ano do imperialismo, luta que, porsua vez, só pode ser levada até o seufinal se os trabalhadores tomarem opoder e avançarem para o socialismo.

Há séculos, por exemplo, são osdescendentes dos colonizadores es-panhóis que dominam o país, políticae economicamente. Durante a rebe-lião, a tensão étnica ou racial ficouparticularmente evidente em um epi-sódio em Santa Cruz — a capitalfinanceira do país e local de maiorconcentração da população branca —quando setores de classe média searmaram para impedir que as massasindígenas “invadissem a cidade”.

Assim como ser negro no Brasil épraticamente sinônimo de ser pobre eexplorado, os ser quíchua ou aymara naBolívia significa estar em maioria en-tre os desempregados, sem-terra, anal-fabetos, etc. E tanto lá quanto aqui, oúnico caminho para acabar com oracismo e segregação étnica é unirestes setores aos trabalhadores do cam-po e da cidade, sob um programaanti-capitalista. Esta é mais uma liçãodada pelos bolivianos: uma lição deRaça e Classe.

FOTOS INDYMEDIA

8 OOOOOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃO S S S S SOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTA

pós derrotar a maioria dasdireções sindicais nas as-sembléias, os bancários doBanco do Brasil e da CaixaEconômica Federal foram

à greve. Entre os dias 14 e 24 deoutubro, os bancários viveram mobi-lizações massivas, assembléias lotadas,passeatas alegres e coloridas.

Mas, a ação das Comissões de Em-presa no BB e CEF e das direções dossindicatos, hegemonizadas pela Arti-culação Sindical, impôs um limite à fortemobilização: o acordo rebaixado nosbancos privados, que garantiu apenas12,6% de reposição nos salários.

A possibilidade de construir umagreve nacional da categoria não teve arealidade como limite, mas sim o ali-nhamento das direções sindicais coma política econômica de arrocho sala-rial do governo. Mesmo com desgas-te, as direções tiraram os trabalhadoresdos bancos privados da greve, impe-diram a unificação e o avanço da lutaaté o questionamento global dessapolítica.

Assim, o setor mais beneficiadopela política econômica do governo –os banqueiros – pôde surrupiar boa

parte dos salários dos bancários.Dessa forma, o governo pôde se

preparar para enfrentar a greve dosbancários no BB e na Caixa. Cedeuem parte às reivindicações, mas man-teve a situação dentro do limite fixadopela área econômica e “reivindicado”pelas direções sindicais, que insistiamem pedir a extensão do acordo rebai-xado dos bancos privados para os ban-cários federais, a despeito da greve.Lula e Zé Dirceu chegaram a declararque precisavam evitar o efeito dominóde uma possível vitória dos bancários.

Os bancários obtiveram uma vitóriaparcial. As primeiras rodadas de nego-ciação sinalizavam para um reajuste deapenas 6% nos bancos federais.

Mas, ao mesmo tempo, demons-tram que, para avançar, precisam ter anoção exata do inimigo que estãoenfrentando – o governo do PT ealiados – e do papel das direções sin-dicais ligadas ao governo, que a todocusto buscaram frear e impor um limi-te rebaixado à mobilização, quandoforam ultrapassadas pela base da cate-goria.

As direções sindicais governistassaem desgastadas do processo, queagora precisa tomar uma expressãoconsciente: os ativistas devem organi-zar oposições em cada um dos sindi-catos que amarelaram.

O PSTU na greveJunto com sindicalistas combati-

vos, ativistas independentes e gru-pos regionais, os militantes do PSTUforam uma oposição consciente àpolítica governista da Articulação ealiados.

Muitas vezes a Articulação procu-rava responsabilizar o Partido pelasrebeliões de base que a ultrapassa-vam, queriam esconder o alinha-mento da Articulação com as propos-tas de arrocho salarial do governo.

O problema era que as greves sóseriam vitoriosas se conseguissemlevar o enfrentamento até o finalcontra o governo, e também contraas direções sindicais.

Esse é o dado novo da conjuntu-ra que estamos vivendo no movi-mento sindical: os limites das dire-ções sindicais petistas a partir dachegada de seu partido ao governo.

Muitos ativistas deram um passoadiante e se somaram à militância doPSTU. Compreenderam a impor-tância de uma ferramenta políticasuperior aos sindicatos, pelo seuprograma e objetivo histórico, queorganize os novos setores de van-guarda que surgem nas lutas contrao governo e os patrões.

SEBASTIÃO CARLOS CACAU,da Executiva da Confederação dosBancários (CUT) e militante do PSTU

A

BANCÁRIOS ENFRENTARAMBANQUEIROS, GOVERNO E

DIREÇÕES DOS SINDICATOS

BANCÁRIOS

s crises no transporte coleti-vo urbano ocupam, cadavez mais, o cenário políticonacional. Desta vez, os jor-nais noticiam que a iniciati-

va da ação pertence a um segmentoque traz em seu currículo, um impor-tante histórico de lutas: os estudantes.

Estes são tolhidos do direito de ir evir, ou seja, são milhões de jovensimpedidos de continuar seus estudospor não terem condições de pagar atarifa. Este argumento demonstra agravidade do problema e a legitimida-de de sua luta. Trata-se, entretanto, deum embate desigual, pois enfrentamas forças do capital e do Estado. Osempresários do setor apresentam-secomo abnegados prestadores de umserviço, dito social, quando na prática,todas suas ações são regidas pelo im-perativo do lucro. Não sem motivos,estes capitalistas são conhecidos porsuas contribuições generosas às prin-cipais campanhas eleitorais.

Em segundo lugar temos as causasmais profundas: a divisão social dotrabalho; o perfil do usuário; especu-

lação imobiliária; a matriz energética;o caráter anárquico do capitalismo eseu grau de desenvolvimento. Come-çando por este último, lembramosque o capitalismo não se desenvolveude forma combinada nos diversos paí-ses. Diferentemente dos países cen-trais, onde se percebeu a importânciaestratégica do transporte urbano para acirculação de mercadorias, entre elas aprópria força de trabalho, aqui a con-corrência entre o setor produtivo e osetor de serviços de transporte fazcom que as grandes empresas invistamno fretamento, dada as precárias con-dições do serviço que seus colegas,empresários do sistema, oferecem.

Outro aspecto que influi decisiva-mente na manutenção do deslocamen-to por ônibus é a concorrênciaintercapitalista pelo padrão energético.Para assegurar o monopólio do padrãodiesel, montadoras e fabricantes depneus, peças e lubrificantes praticamuma disputa absolutamente desigual:através de sua enorme capacidade depressão sobre o Estado, conseguemdirecionar os investimentos públicosno transporte para o ônibus, impossi-bilitando o transporte de massas, comoo veículo leve sobre trilhos e o metrô.

Outra prática é o superfaturamentode chassis, pneus e peças que, agrega-dos aos custos das empresas, irão com-por os itens da planilha tarifária. Nestarepousa o principal e mais vigorosoargumento da burocracia estatal parajustificar aumentos e redução de li-nhas e frota. Por seu vício de origem,a planilha tarifária não serve de refe-rência para nada. A decisão do valor datarifa é meramente política, podendo,assim, atender as frações de classe commaior poder de pressão.

Outro fator importante é que nãosão os trabalhadores que escolhemseu lugar de moradia. Através da espe-culação e da estocagem de terrenos,

são expulsos para a periferia das cida-des, tornando-se cativos do sistema detransporte coletivo.

Hoje, mesmo nas pequenas cida-des, o transporte coletivo urbano tor-nou-se tão vital quanto a saúde, aeducação, a moradia e o lazer e, igual-mente, deve ser público, universal,gratuito e de qualidade. O primeiro,corajoso e insubstituível passo nestadireção foi dado: nossa juventude está,de novo, nas ruas.

* Flávio de Castro é cientistapolítico, é pesquisador do Centrode Estudos Marxistas – Cemarx/IFCH/Unicamp

FOTO LATUFF

JUVENTUDE

FLÁVIO DE CASTRO*,especial para o Opinião Socialista

A

Passe-livre, direito de todos

MANIFESTAÇÃO de estudantes no Rio de Janeiro

FOTO AGÊNCIA DOCUMENTA

9Edição 162 - Ano VIII - De 4 a 18/11/2003

METALÚRGICOS

FOTO MANOEL PEREIRA

Opinião Socialista: Os metalúr-gicos das montadoras, ao contráriode bancários e outras categorias, ar-rancaram, além da inflação cheia,aumento real. Qual a explicação paraisso?

Mancha: Os metalúrgicos conseguiramna maioria das fábricas – apenas a Volkssegue sem acordo – reajuste de 15,7% refe-rente à inflação do período e mais 2% deaumento real. Além disso, um abono quevariou de fábrica a fábrica, de R$ 400 naToyota a R$ 2.060 na GM. Essa conquistase deu porque depois de muitos anos houvegreves e paralisações em todas as fábricas doEstado de São Paulo. Com a produção emalta e com a força e unidade do movimento,a patronal se dividiu e começou a fazeracordo por fábrica. A Honda e a Toyota deCampinas concederam reajuste de 20% paraevitar a greve. Em seguida, já no processo degreve, a Scania, depois de ver recusada pelabase em assembléia uma proposta de manter15,7% de reajuste com abono de R$ 1.000,cedeu e ofereceu 18,01% e R$ 600 de abono.Aí, uma a uma as montadoras foram ceden-do para evitar a generalização da greve. Esseresultado rompeu com a lógica anterior dasgrandes campanhas, que saíram todas comreajuste abaixo da inflação e demonstra queera possível categorias fortes, como bancáriospor exemplo, terem reposto as perdas se nãotivessem tido sua luta bloqueada pela direçãomajoritária da CUT, que aceitou acordosrebaixados, alegando não haver correlaçãode forças para arrancar mais. Sem dizer que,se a CUT tivesse unificado numa só luta osbancários, correios, petroleiros, químicos,metalúrgicos e outros, nossa força seria aindamaior. De qualquer forma, o resultado daluta dos metalúrgicos das montadoras sina-lizará para os futuros embates a possibilida-

de de não aceitar essa política dos patrões edo governo de reajustes rebaixados.

OS: Por que des-sa vez, a propostada patronal de re-posição da inflaçãofoi rejeitada por to-dos e não apenas porSão José dos Cam-pos e Campinas?

Mancha: No pri-meiro momento, a obje-ção que a Articulaçãofazia à proposta da pa-tronal era que ela ape-nas repunha a inflação para quem ganhaaté R$ 4.200. Eles se contentariam comreposição da inflação para todos. Nós de-fendíamos aumento real no salário e porisso rejeitávamos a proposta. No entanto,houve grande radicalização na base doABC, que já está cansada de acordos rebai-

LUIZ CARLOS PRATES, O MANCHA, PRESIDENTE DO SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE SÃO JOSÉ DOS

CAMPOS (SP), NOS FALA DOS PRIMEIROS RESULTADOS DA CAMPANHA SALARIAL METALÚRGICA

“Campanha salarial dos metalúrgicosarrancou aumento real”

xados e anos de apatia imposta pela direçãodo Sindicato. Os trabalhadores se organi-

zaram nas fábricas parair às assembléias rejeitara proposta. Pressiona-da pela base, a direçãodo ABC teve que seadaptar, diferente doque fez na campanhaemergencial do mês deabril, quando se posi-cionou contra a anteci-pação do reajuste de sa-lário, defendeu um abo-no e assinou acordo coma patronal no meio da

greve da GM, isolando-a. Dessa vez acategoria participou massivamente das as-sembléias e impôs a luta pelo aumento realà direção do sindicato do ABC.

OS: Como foi a mobilização emSão José dos Campos e Campinas?

Mancha: A patronal fez uma grandepressão sobre os trabalhadores para forçar aaceitação da proposta do Sinfavea na GMem São José. No entanto, os trabalhadoresresistiram: rejeitaram a proposta e fizeramvárias paralisações setor a setor, atingindo os10 mil trabalhadores da empresa e se prepa-rando para entrar em greve por tempo inde-terminado. Em Campinas, a Honda e aToyota fecharam acordo de 20% - 3,7% deaumento real - depois de várias paralisa-ções, e a Mercedez entrou em greve. Nosoutros setores, a mobilização continua comparalisações de várias fábricas na região.

Esta foi a campanha nos últimos anoscom maior participação dos trabalhadores.Nas fábricas havia grande facilidade paraparar. A vontade de lutar superou o medo dodesemprego e a bandeira do aumento realpassou a ser uma referência para todos.

OS: Que conclusões você tira des-sa luta e quais as perspectivas?

Mancha: Disposição de luta não faltaaos trabalhadores. Além da disposição, abase impôs a luta também à direção gover-nista (Articulação). Isto mostra que é possí-vel lutar e derrotar a política do governoLula, dos patrões e do FMI, de arrocharsalários e confiscar direitos. Mostra tambémque o movimento tem força para derrotar areforma sindical e a trabalhista, que visaarrancar direitos históricos, e o confisco aossalários que representa a manutenção databela do imposto de renda nos índices atu-ais, numa reforma Tributária que só serveaos ricos. Para levar adiante estas lutas, abase terá que seguir se organizando nasfábricas para impor sua vontade, derrotandoa parceria com os empresários e agora com ogoverno como faz a direção majoritária noABC e também a Força Sindical.

“ O resultadomostrou que

categorias comoa dos bancários

poderiam terconquistado

mais”

pós vários anos de acor-dos de flexibilização dedireitos, redução de sa-lários, banco de horas ede dias, os metalúrgicos

das montadoras do ABC reapare-ceram no cenário nacional prota-gonizando um importante enfrenta-mento com a patronal e com apolítica econômica do governo Lula.

Eles impuseram à direção doSindicato (Articulação) uma greve queela não queria. Os membros dacomissão de fábrica Francisco (Tico)e Sinval (Sassá) contam o que acon-teceu na Volkswagen: “A direção dosindicato não superou a desconfiança de-pois da aprovação do acordo que criou aAutovisão e demitiu 1.923 companheirosaté 2006. Mesmo antes do início da greve,os diretores do sindicato não conseguiramfalar na assembléia de tanta vaia. Queriampassar a proposta de compensação e não

conseguiram nem apresentá-la”.A assembléia que decidiu pela gre-

ve mostrou bem o ânimo de luta dostrabalhadores e sua desconfiança emrelação à direção. Às 14 horas, a dire-ção do sindicato fez uma assembléiano pátio da Volks que, pra variar,começou com vaias. Um diretor dosindicato apresentou a seguinte pro-posta: os trabalhadores deveriam en-trar para trabalhar e sair às 17h, já quehaveria assembléia no sindicato às 18h.Os trabalhadores decidiram não en-trar e foram ao sindicato votar contraa proposta.

A ORIENTAÇÃO DA DIREÇÃOERA APROVAR O ACORDO NAASSEMBLÉIA

A orientação da direção do sindica-to era aprovar a proposta de acordo nosetor de auto-peças. Na Ford, umtrabalhador que não quis se identifi-car contou que “a comissão e os diretores dosindicato estão chamando os trabalhadores parair à assembléia votar a favor da proposta por-

que do contrário os trabalhadores da Volks,Scania, e Mercedes votarão pela greve”.

Antes de começar a assembléia, adireção reuniu o comando às pressas,para constatar que não conseguiriamaprovar a proposta e teriam que de-cretar a greve. Debaixo de chuva,pouco mais de 15 minutos foram su-ficientes para a direção reconhecerque “as montadoras estão em greve”.

A greve conquistou aumento real

na maioria das montadoras. Quan-do fechávamos esta edição, os ope-rários da Volkswagen continuavamem greve e aguardavam o julga-mento no Tribunal Regional doTrabalho, pois a empresa não quisdar o reajuste conquistado nas de-mais empresas.

A revolta contra o congelamentoda tabela do imposto de renda tam-bém é generalizada nas fábricas.

EMMANUEL DE OLIVEIRA,de São Bernardo do Campo (SP)

A

No ABC, a base atropelou a direção e foi à greveFOTO JANUÁRIO

10 OOOOOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃOPINIÃO S S S S SOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTAOCIALISTA

LIVRO

DESCONTO EM FOLHA

AMÉRICO GOMES,de São Paulo (SP)

S

Cresce a criminalizaçãodos movimentos sociais

FOTO VALÉRIO PAIVA

ATO pela libertação dos presos políticos, na Faculdade de

Direito da USP

Participe da oficina do Instituto Latino-Americano deEstudos Socio-econômicos (ILAESE) no Fórum SocialBrasileiro, sobre “MOVIMENTOS SOCIAIS,MOBILIZAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO NO GOVERNOLULA”. Na sexta, dia 7 de outubro, às 19 horas.

CAMPANHA

C O N V I T E

PRESENTE DE NATALACORDO DA CUT E FORÇA SINDICAL COM BANCOS

PARA EMPRÉSTIMOS COM DESCONTO EM FOLHAÉ UM PRESENTE DA CHINA PARA OS BANQUEIROS

JOSÉ MARTINS EJOSÉ NICOLAU POMPEU,economistas do Núcleo de Educa-ção Popular 13 de Maio

Essa história de “conces-são de empréstimoscom desconto em fo-lha de pagamento” estámuito mal contada.

Dizem que é um verdadeiro pre-sente de Natal que os bancos, asdireções das principais centrais sin-dicais e o governo resolveram con-ceder aos trabalhadores, com asmenores taxas de juros do merca-do, facilidades de pagamento etc.

Mas cuidado. Esse presente vemembalado em um pacote cheio dearmadilhas e sutilezas. Vejamos acoisa mais de perto. Em qualquerhipótese que se tome, os banqueiros estarãoganhando muito mais do que em outras opera-ções correntes de crédito. Eles terão um riscomuito menor de calote do que nos financia-mentos para a compra de veículos, por exem-plo, pois a garantia que o trabalhador oferecepara sua dívida é o desconto automático no seusalário mensal e não um bem qualquer queninguém sabe em que estado se encontra,quanto estaria valendo, nem onde se localiza.

PREPARANDO O ASSALTOE ainda tem gente dizendo que os bancos,

coitados, podem até perder em certos tipos deempréstimos. É o caso do sócio da TrevisanConsultores, Richard Dubois, contratado pelaCUT para auxiliar na negociação com os ban-cos, para quem “o acordo é bas-tante favorável aos trabalhadores. Aoperação não vai remunerar tão bemquanto os bancos esperavam, masainda assim será rentável. Para al-guns bancos, as operações de até R$500 para pagamento em seis mesespoderão até ser deficitárias” (O Esta-do de S. Paulo, 28/10).

Esse tal Richard é um men-tiroso que está querendo en-rolar e abrir o caminho para osbanqueiros meterem a mão nobolso dos trabalhadores. Mes-mo tomando a sua hipótese de500 reais de empréstimo, taxacontratual de 2,50% ao mês epagamento em seis prestaçõesmensais, os banqueiros estarão sendo excepcio-nalmente remunerados e a operação será maismuito mais rentável do que quando eles em-prestam para a classe média comprar carros.

Empréstimos com desconto em folha depagamento são operações com risco zero paraos banqueiros. Mesmo que o trabalhador sejadespedido, o saldo devedor será deduzido deuma só vez do valor da rescisão trabalhista. Masa beleza da coisa é que neste caso os banqueirosganharão muito mais do que se não tivesseocorrido o desemprego!

ALÉM DO RISCO ZEROVamos fazer alguns cálculos para esclarecer

melhor esse golpe, pois são raros os consumi-dores que sabem calcular, ou mesmo se preo-cupam com o cálculo da taxa efetiva de jurosque ele vai acabar pagando. Acontece queaquela taxa nominal de 2,50% ao mês queaparece no contrato vai ser “maquiada” e eleva-da lá para cima.

Consideremos a hipótese de um empréstimobem pequeno de 200 reais à “generosa” taxanominal de juros de 2,5% ao mês, a menor taxade abertura de crédito (TAC) de 10 reais e paraser pago em doze “suaves” prestações mensaisde 22,75 reais. Não consideramos nem a taxa decadastro (0,5%), que será cobrada por algunssindicatos, nem a cobrança de CPMF (0,38%),pois se a prestação for descontada da folha depagamento, isso representa uma movimentaçãobancária, o que eleva ainda mais a taxa de jurosa ser efetivamente paga.

No caso do trabalhador nãoperder o emprego durante osdoze meses das prestações,aquela taxa nominal de 2,25%ao mês se transforma em umataxa efetiva de 5,15% ao mêsou de 82,69% ao ano!! Já sãotaxas muito superiores às cor-rentemente praticadas pelosbancos para pessoas físicas(crédito ao consumidor), queem setembro girou em tornode 4,56% ao mês ou de 70,70%ao ano, segundo o Banco Cen-tral. Às empresas, os banquei-ros cobram em média 3,40%ao mês ou 50,11% ao ano.

E se o trabalhador ficar de-sempregado no sexto mês após a retirada doempréstimo? O saldo da dívida (R$ 159 ou 7xR$ 22,75) será subtraído do valor da rescisãotrabalhista e quitado de uma só vez. Isso estáclaramente escrito no contrato. Nesta hipótese,a taxa efetiva de juros seria de 6,93% ao mês oude 123,42% ao ano!! Só perderia, por pouco, dataxa cobrada dos cheques especiais, que embu-tem a maior taxa de risco do mundo.

Essa é a realidade. Estamos dispostos a deba-ter publicamente esses números e outras hipó-teses possíveis com o sr. Richard Dubois ouquaisquer “autoridades em matemática financeira”que estejam assessorando os bancos e as princi-pais centrais sindicais neste assalto legalizadopelo governo.

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CRÍTICA SEMANAL

“Sabe qual a diferençaentre um assaltante de

banco e um banqueiro?

O banqueiro é o queconseguiu abrir um

banco, o assaltante ainda

não. Quer outra?O assaltante assalta

com revólveres e metra-

lhadoras, o banqueirocom empréstimos e taxas

de juros”

Montagem

de Luiz

Marinho,

sobre

anúncio do

Bradesco

ob o governo Lula, a repressão aos mo-vimentos sociais está batendo todos osrecordes. De acordo com os números daComissão Pastoral da Terra (CPT), en-tre janeiro e agosto os despejos judiciais

cresceram 84%. Até agosto, 223 pessoas forampresas, 41% a mais do que em 2002. Mais impres-sionante é o número de assassinatos. Até o final desetembro já eram 60 os trabalhadores mortos, odobro do registrado no mesmo período de 2002.

Os latifundiários são os responsáveis, mas ogoverno Lula é cúmplice, pois não enfrenta olatifúndio e nem defende os movimentos. À vio-lência no campo somam-se despejos, prisões emortes de lideranças dos movimentos urbanos. EmRecife (PE), o prefeito João Paulo (PT) prendeumais de dez lideranças dos “kombeiros”.

UMA VITÓRIA DA CAMPANHA:DIOLINDA E MINEIRINHO SÃO SOLTOS

Onze presos políticos do MST em São Pauloconseguiram uma primeira vitória: o habeas-corpusdo Superior Tribunal de Justiça contra um dosprocessos. Com isso, Diolinda Alves e FelintoProcópio, o Mineirinho, serão libertados. Zé Rai-nha também foi beneficiado com a decisão, mascontinuará preso, já que tem um prisão preventivadecretada por porte de arma ilegal de arma. Tam-bém existem outros processos, nos quais o juiz Átisde Oliveira pode determinar ordens de prisão.

Está demonstrado que esta vitória é resultado dasatividades da campanha, como a do dia 23 deoutubro, na Faculdade de Direito da USP. Apesarda força do ato, faltaram duas coisas. Os principaisdirigentes da CUT não compareceram e a maioriados oradores não identificou os principais respon-sáveis, como se no país e no estado não houvessegoverno. O PSTU identificou o governador Geral-do Alckmin (PSDB) como o principal arquiteto daescalada de violência contra os movimentos noestado e o governo Lula como cúmplice.

POLICIA FEDERAL PRENDE DIRIGENTESDOS SEM-TETO NO AMAZONAS

Há algumas semanas, o governador EduardoBraga (PPS) ordenou que a Polícia Militar doAmazonas ateasse fogo nos barracos de uma ocu-pação. Os sem-teto resistiram e colocaram a Tropade Choque e os seguranças contratados para correr.Dias depois, a Polícia Federal prendeu Julio Ferraz,do Movimento dos Sem Teto de Luta (MSTL) eIsmael de Oliveira, do Movimento dos Sem Tetodo Amazonas (MSTA), acusados de formação dequadrilha e depredação do patrimônio público.Estas organizações dirigem 52 ocupações emManaus (AM), com 30 mil pessoas.

É preciso crescer a campanha contra a crimina-lização dos movimentos e pela libertação de todosos presos políticos no governo Lula, independen-temente do movimento a que pertençam.

11Edição 162 - Ano VIII - De 4 a 18/11/2003

SÃO LEOPOLDORua João Neves da Fontoura,864Centro 591.0415

SANTA CATARINA FLORIANÓPOLISRua Nestor Passos, 104 Centro(48)[email protected]

RIBEIRÃO PRETOR. Saldanha Marinho, 87Centro - (16) [email protected]

SANTO ANDRÉR. Adolfo Bastos, 571 Vila Bastos

SÃO BERNARDO DO CAMPOR. Mal. Deodoro, 2261 - Centro(11)[email protected]

SÃO CAETANO DO SULRua Eng. Rebouças, 707(esq. com Amazonas)Oswaldo Cruz

SÃO JOSÉ DOS [email protected]

VILA MARIAR. Mário Galvão, 189(12)3941.2845

ZONA SULRua Brumado, 169 Vale do Sol

SOROCABARua Prof. Maria de Almeida, 498 -Vila Carvalho(15)[email protected]

SUMARÉAv. Principal, 571 - Jd. Picemo I

SUZANOAv. Mogi das Cruzes,91 - Centro(11)4742-9553

TAUBATÉRua D. Chiquinha de Mattos, 142/sala 113 - Centro

SÃO PAULO SÃO [email protected]

CENTROR. Florêncio de Abreu, 248 -São Bento (11)3313.5604

ZONA LESTEAv. São Miguel, 9697Pça do Forró - São Miguel(11) 6297.1955

ZONA OESTEAv. Corifeu de AzevedoMarques, 3483 Butantã -(11)3735.8052

ZONA NORTERua Rodolfo Bardela, 183(tv. da R. Parapuã,1800)Vila Brasilândia

ZONA SULSANTO AMAROR. Cel. Luis Barroso, 415 -(11)5524-5293

CAMPO LIMPOR. Dr. Abelardo C. Lobo, 301 -piso superior

BAURUR. Cel. José Figueiredo, 125 -Centro - (14)[email protected]

CAMPINASR. Marechal Deodoro, 786(19)[email protected]

CAMPOS DO JORDÃOAv. Frei Orestes Girard, 371sala 6 - Bairro Abernéssia(12)3664.2998

EMBU DAS ARTESAv. Rotary, 2917 - sobrelojaPq. Pirajuçara(11) 4149.5631

FRANCO DA ROCHAR. Washington Luiz, 43 Centro

GUARULHOSR. Miguel Romano, 17 - Centro(11) 6441.0253

JACAREÍR. Luiz Simon,386 - Centro(12) 3953.6122

LORENAPça Mal Mallet, 23/1 - Centro

MAUÁRua Capitão João, 1152 sala 6(11) 6761.7469

OSASCOR. São João Batista, 125

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GRANJA PORTUGALRua Taquari, 2256

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JUAZEIRO DO NORTER. Santa Cecília, 480A,bairro Salesiano

DISTRITO FEDERAL BRASÍLIASetor Comercial Sul - Quadra 2 -Ed. Jockey Club - Sala [email protected]

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GOIÁS GOIÂNIAR. 242, Nº 638, Qda. 40, LT 11,Setor Leste Universitário -(62)261-8240 [email protected]

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DUQUE DE CAXIASR. das Pedras, 66/01, Centro

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VOLTA REDONDARua 2, 373/101 - Conforto

RIO GRANDE DO NORTE NATALCIDADE ALTAR. Dr. Heitor Carrilho, 70(84) 201.1558

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RIO GRANDE DO SUL PORTO ALEGRER. General Portinho, 243(51) 3286.3607 [email protected]

BAGÉRua do Acampamento, 353 -Centro - (53) 242.3900

CAXIAS DO SULRua do Guia Lopes, 383, sl 01(54) 9999.0002

GRAVATAÍRua Dr. Luiz Bastos do Prado,1610/305 Centro (51) 484.5336

PASSO FUNDOXV Novembro, 1175 - Centro -(54) 9982-0004

PELOTASRua Santa Cruz, 1441 - Centro -(Próximo a Univ. Católica)(53)[email protected]

RIO GRANDE(53) 9977.0097

SANTA MARIA(55) 9989.0220 [email protected]

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BARREIROAv. Olinto Meireles, 2196 sala 5Praça da Via do Minério

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SÃO FRANCISCO DO PARÁRod. PA-320, s/nº (ao lado daCâmara Municipal) (91) 96172944

PARAÍBA JOÃO PESSOAR. Almeida Barreto, 391 -1º andar- Centro (83)241-2368 [email protected]

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PERNAMBUCO RECIFER. Leão Coroado, 20/1º andar,Boa Vista (81)[email protected]

CABO DE SANTO AGOSTINHORua José Apolônion° 34 A - Cohab

O PSTU realizou no dia 17 deoutubro o lançamento da pré-can-didatura de Florinda Lombardi aPrefeitura de Duque de Caxias (RJ)num ato na Câmara Municipal ecom uma festa na sede do partido.

Florinda é fundadora do Sindi-cato Estadual dos Profissionais deEducação e já foi vereadora no Riode Janeiro. Ingressou em 2001 noPSTU e foi candidata pelo partidoao Senado nas últimas eleições.

O ato contou com trabalhadoresda Petrobrás e das empresas ter-ceirizadas, além de diretores de vá-rios sindicatos da região e de váriosestudantes, que estão na luta pelopasse-livre e na construção de grê-mios estudantis. Foi lida uma cartade apoio da professora da UFFVirgínia Fontes e saudaram o atoIsabel Cristina, da comissão anti-racismo da CUT, e Róbson, daCoordenação Estadual da Campa-nha Contra a Alca.

A candidatura de Florinda seráuma alternativa socialista para os tra-balhadores nas próximas eleições.

PSTU

Ato lança pré-candidaturade Florindaem Caxias

ANDRÉ FREIRE,de Duque deCaxias (RJ)

livro Os governos de FrentePopular na História é com-posto por duas importantesobras escritas por NahuelMoreno, trotskista argenti-

no, dirigente e fundador da Liga In-ternacional dos Trabalhadores – Quar-ta Internacional, falecido em 1987.

Sob os títulos O governo Mitterrand,suas perspectivas e nossa política e A traição daOCI (u), os dois trabalhos deste livroforam escritos em 1981 e 1982, res-pectivamente, como parte de uma pro-funda polêmica em torno da políticada organização francesa OrganizaçãoComunista Internacionalista – Unificada(OCI–u) perante o governo de FrentePopular de François Mitterrand.

Moreno, além de realizar uma aná-lise marxista e apontar uma políticarevolucionária perante o governo deMitterrand, faz uma sistematização daprodução marxista, leninista e trotskistaacerca das Frentes Populares.

Do Governo Provisório russo, pas-sando pelos governos da França e da

Espanha na década de 30, pelos go-vernos da social-democracia nos paí-ses nórdicos e na Inglaterra, por go-vernos dessa natureza em países semi-coloniais, como o de Allende no Chi-le, até Mitterrand na França, se veráque tais governos têm invariavelmen-te uma natureza burguesa e contra-revolucionária, ainda que respondama diferentes circunstâncias e correla-ção de forças.

Este livro ganha enorme atualida-de, quando governos de Frente Po-pular ou de colaboração de classesestão surgindo na América Latina emais ainda no Brasil, com Lula.Além de ser de grande utilidadepara a ação de todos os mili-tantes e ativistas que quei-ram construir uma al-ternativa socialis-

ta e revolucionária contra o governode Frente Popular e a burguesia, quepossa superar o PT.

MARIÚCHA FONTANA,da redação

O

Editora José Luiz e Rosa publicalivro sobre as frentes populares

LIVRO DE NAHUEL MORENO ANALISA GOVERNOS DE FRENTE POPULAR, COMO OS

DE MITTERRAND E ALLENDE, E É FUNDAMENTAL PARA ENTENDER GOVERNO LULA

OS GOVERNOS DE FRENTEPOPULAR NA HISTÓRIA

PEDIDOS: [email protected]

280 páginas, R$ 24

NAHUEL

MORENO

em palestra no

Rio de Janeiro,

em 1986

O FÓRUM SOCIAL BRASILEIRO (FSB) acontecerá entre os dias 6 e9 de novembro em Belo Horizonte (MG), como parte da preparaçãodo IV Fórum Social Mundial, que ocorrerá em janeiro na Índia.O FSB acontece em uma nova situação mundial. O imperialismonorte-americano, para enfrentar sua crise, promove cada vez maisguerras e ocupações militares, visando recolonizar o mundo. Porisso tenta implementar a Alca a todo custo para acelerar o processode recolonização da América Latina.Mas a ofensiva imperialista tem esbarrado no crescimento das lutase na resistência dos trabalhadores. Revoluções derrubam governose derrotam golpes, como na Venezuela, Equador, Argentina e agorana Bolívia. A resistência do povo iraquiano à ocupação imperialistaaumenta a cada dia, provocando crise no governo dos EUA. NaPalestina, a Intifada segue enfrentando o fascista Sharon.Aqui no Brasil, o governo Lula assumiu em meio a grande expecta-tiva de mudança. Mas, depois de nove meses, já está clara a opçãodeste governo, ao continuar pagando a dívida externa, garantir osuperávit primário, as reformas do FMI e aceitar a Alca.

É nessa situação que milhares estarão reunidos em BeloHorizonte. Mas qual é a alternativa apresentada pela direção

do Fórum? Infelizmente, a mesma política apresentada emoutras edições do FSM, como a proposta de “humanização do

capitalismo”. Para a direção do Fórum, as revoluções são coisasdo passado, não existem mais exploradores e explorados, mas sim“cidadãos”. Para eles, o Estado burguês não precisa ser derrotado,mas sim reformado. Aceitam também que o governo continue anegociar uma “Alca Light” com o imperialismo. Essa é uma concep-ção que leva os trabalhadores a se adaptarem ao neoliberalismo,domesticando suas lutas e evitando choques com o capitalismo.Nós, do PSTU, afirmamos que viver sob o sistema capitalista não émais possível. O capitalismo só promove a miséria, a barbárie e aguerra. Nesse Fórum, continuaremos dizendo que a única transfor-mação possível será construída pelos trabalhadores, sem pactoscom os capitalistas. É necessário derrotar a Alca e não negociá-la.Romper com o FMI e não pagar a dívida. Afirmamos que o únicocaminho para acabar com a miséria e a exploração é a revoluçãosocialista. O capitalismo promove miséria, desemprego e guerras aserviço do lucro.Por isso, nesse Fórum, temos que gritar “Capitalismo mata!Morte ao capitalismo. Um mundo socialista é possível”.

PAINEL“GOVERNO LULA: EM DISPUTA OUCONTINUIDADE DO NEOLIBERALISMO?”O debate pretende fazer um balanço dos dez meses degoverno, que vem aplicando uma política de continuida-de do neoliberalismo, e comparar as diversas frentespopulares que houveram na história com a brasileira.

14h, na Tenda Socialista (estacionamento doginásio Mineirinho)

OFICINAS DO DIA: ‘A homossexualidade e as leis do

mercado’ (9h, Tenda Socialista)

‘Movimentos Sociais, lutas, repressão e criminalizaçãodurante o governo Lula’ (19h, Tenda Socialista)

SEXTA-FEIRA, 7 DE NOVEMBRO

SÁBADO, 8 DE NOVEMBRO DOMINGO, 9 DE NOVEMBRO

PAINEL“AS REFORMAS TRABALHISTA ESINDICAL E O DESAFIO PARA ACLASSE TRABALHADORA”Debate organizado pelo ANDES-SN,Fenam, Fenasps e FSDMG. Irá debateras reformas do governo Lula, que amea-ça acabar com direitos históricos.Também vai formular perspectivas deluta para enfrentar o ataque.

9h, na Tenda Socialista

PLENÁRIA NACIONAL

O DESAFIO DA CONSTRUÇÃODE UM NOVO PARTIDO DEESQUERDA NO BRASILDando continuidade aos debates e seminários nos estados, aplenária nacional irá discutir a criação do Movimento por umNovo Partido. Convocada por lideranças do ANDES-SN, peloMovimento de Iniciativa Socialista (SC), pelo Reage PT (RJ), peloPSTU e outras organizações, a plenária reunirá militantes detodo o país que assinaram o manifesto por um novo partido.

14h, na Tenda SocialistaOFICINA DO DIA:‘A Revolta do Buzu e a luta da juventude pelo passe-livre’(18h, na Tenda, com dirigentes do Movimento Ruptura

Socialista e do movimento estudantil de Salvador)

Música, comidas, cerveja e a famosacachacinha mineira. Como em PortoAlegre, a Tenda será um ponto deencontro diário. A grande festa será no sábado, dia 8.

Acompanhe a cobertura dasatividades do Fórum no es-pecial do site do PSTU(www.pstu.org.br)

?h, na Tenda Socialista

OFICINAS DO DIA:‘Mulheres e trabalhono governo Lula’(14h, Tenda Socialista)

‘Globalização, racismo epolíticas públicas’(14h, na UFMG)