os usos da etnografia na pesquisa educacional

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1 OS USOS DA ETNOGRAFIA NA PESQUISA EDUACACIONAL 1 Trabalho apresentado na 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 01 e 04 de junho, Porto Seguro, Bahia, Brasil”. Sandra Pereira Tosta- Professora da PUC- Minas Heloisa Moreira Renata Buenicontro- Bolsiatas do FIP- PUC- Minas RESUMO A pesquisa foi realizada entre 2006 e 2007 e analisou em três programas de pós- graduação em Educação no país, UFMG, UFRJ e USP, entre os anos de 1990 e 2005 um conjunto de, nas quais procurou-se compreender se existe e como ocorre a articulação teórica entre Educação e Antropologia na pesquisa de problemas educacionais, tendo como referenciais a clássica em Malinowski e a etnografia contemporânea em Geertz. Como nestes e outros autores, a Etnografia foi entendida como uma dimensão constituinte da ciência antropológica, e não como um conjunto de técnicas qualitativas na aproximação e investigação de problemas sociais. A metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica de natureza exploratória, tendo como fonte de coleta de dados o portal da CAPES. Foram analisados os resumos .59 dissertações e 26 teses, que declararam ter feito “pesquisa etnográfica”. E analisadas na íntegra, 06 dissertações e 02 teses da UFMG, 01 tese e 01 dissertação da UFRJ e 06 dissertações e 02 teses da USP, selecionadas por intervalos de cinco e três anos respectivamente as quais conseguimos acessar. Os resultados da pesquisa mostraram uma larga receptividade de referenciais da antropologia pela pesquisa em educação, como também evidenciou a realização de investigações que: não mostram claramente como essa transposição foi feita, ausência de base teórica e duvidosa apropriação metodológica. Do conjunto de 85 pesquisas analisadas apenas 02 puderam ser consideradas etnografias teórica e metodologicamente. Palavras - chave: Antropologia - Etnografia – Pesquisa Educacional 1. INTRODUÇÃO Este texto apresenta os resultados da pesquisa desenvolvida no ano de 2006 que procurou identificar, mapear e analisar os modos como o campo da educação vem incorporando a Etnografia na investigação de problemas educacionais. Tomamos como pressuposto que a etnografia é uma dimensão constituinte da ciência antropológica em seu percurso histórico e de demarcação de estatuto teórico, não podendo ser entendida meramente como um conjunto de técnicas qualitativas e empregada descolada de sua origem epistemológica. Tal proposição não se fez sem razão, pois, já é de conhecimento e vem sendo bastante debatido em fóruns de especialistas, não só da Antropologia, como da Sociologia, 1 Pesquisa realizada com financiamento da PUC- Minas- Pro- reitoria de Pesquisa e Pós- graduação- Comissão de Pesquisa - FIP

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Os Usos Da Etnografia Na Pesquisa Educacional

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  • 1 OS USOS DA ETNOGRAFIA NA PESQUISA EDUACACIONAL1

    Trabalho apresentado na 26. Reunio Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 01 e 04 de junho, Porto Seguro, Bahia, Brasil. Sandra Pereira Tosta- Professora da PUC- Minas Heloisa Moreira Renata Buenicontro- Bolsiatas do FIP- PUC- Minas

    RESUMO A pesquisa foi realizada entre 2006 e 2007 e analisou em trs programas de ps- graduao em Educao no pas, UFMG, UFRJ e USP, entre os anos de 1990 e 2005 um conjunto de, nas quais procurou-se compreender se existe e como ocorre a articulao terica entre Educao e Antropologia na pesquisa de problemas educacionais, tendo como referenciais a clssica em Malinowski e a etnografia contempornea em Geertz. Como nestes e outros autores, a Etnografia foi entendida como uma dimenso constituinte da cincia antropolgica, e no como um conjunto de tcnicas qualitativas na aproximao e investigao de problemas sociais. A metodologia usada foi a pesquisa bibliogrfica de natureza exploratria, tendo como fonte de coleta de dados o portal da CAPES. Foram analisados os resumos .59 dissertaes e 26 teses, que declararam ter feito pesquisa etnogrfica. E analisadas na ntegra, 06 dissertaes e 02 teses da UFMG, 01 tese e 01 dissertao da UFRJ e 06 dissertaes e 02 teses da USP, selecionadas por intervalos de cinco e trs anos respectivamente as quais conseguimos acessar. Os resultados da pesquisa mostraram uma larga receptividade de referenciais da antropologia pela pesquisa em educao, como tambm evidenciou a realizao de investigaes que: no mostram claramente como essa transposio foi feita, ausncia de base terica e duvidosa apropriao metodolgica. Do conjunto de 85 pesquisas analisadas apenas 02 puderam ser consideradas etnografias terica e metodologicamente.

    Palavras - chave: Antropologia - Etnografia Pesquisa Educacional

    1. INTRODUO

    Este texto apresenta os resultados da pesquisa desenvolvida no ano de 2006 que

    procurou identificar, mapear e analisar os modos como o campo da educao vem

    incorporando a Etnografia na investigao de problemas educacionais. Tomamos como

    pressuposto que a etnografia uma dimenso constituinte da cincia antropolgica em seu

    percurso histrico e de demarcao de estatuto terico, no podendo ser entendida meramente

    como um conjunto de tcnicas qualitativas e empregada descolada de sua origem

    epistemolgica.

    Tal proposio no se fez sem razo, pois, j de conhecimento e vem sendo

    bastante debatido em fruns de especialistas, no s da Antropologia, como da Sociologia,

    1 Pesquisa realizada com financiamento da PUC- Minas- Pro- reitoria de Pesquisa e Ps- graduao- Comisso de Pesquisa - FIP

  • 2 Histria e da prpria Educao, iniciativas que resultam de um certo modismo que

    contagia estudiosos e instituies de pesquisa no uso da etnografia fora de seu campo de

    origem (VALENTE 1996). Tambm j de certo modo comum a divulgao de pesquisas

    nomeadas de etnogrficas em diversas reas no s das cincias humanas. A da sade um

    exemplo, com estudos sobre corpo, comportamento fsico, doena etc. O que indica,

    primeira vista, uma larga receptividade e aceitao de referenciais epistemolgicos clssicos

    da Antropologia por outros pesquisadores, como tambm evidencia um certo contrabando de

    idias no campo da produo do conhecimento, fato que salutar se concorrer para as

    discusses muito em voga sobre inter e transdisciplinaridade.

    Por isso mesmo h que se indagar como e porque essa transposio entre campos

    distintos de saberes est ocorrendo e que resultados se podem aferir. Em termos da prpria

    discusso metodolgica, usos, possibilidades, limites e avanos e seus resultados para o

    conhecimento, bem como as possveis contribuies para a compreenso dos problemas

    sociais, especificamente os relativos educao.

    1.1 Educao e antropologia: caminhos cruzados na etnografia

    Se a educao se define por um conjunto de especificidades, e, ao mesmo tempo, por

    elementos que dizem respeito a interface com diversos outros campos na tarefa de dar conta

    de desvendar e organizar a realidade educacional, pode-se dizer que esta uma cincia que,

    por um lado, busca a identificao de elementos culturais que precisam ser assimilados pelos

    indivduos da espcie humana para que se tornem humanos; e por outro, e ao mesmo tempo,

    busca descobrir formas adequadas para atingir esse objetivo.

    Historiadores da pesquisa educacional do conta de que o ano de 1954, teria sido o

    ponto de viragem que marca a introduo da pesquisa qualitativa na educao, ainda que ela

    tenha sido reconhecida s mais tarde, j nos anos 70 (TRAVERS, 1978 TYLER, 1976 em

    BOGDAN, 1994). Situando essas mudanas no contexto histrico mais geral, possvel

    afirmar, ainda, segundo os autores citados, algumas caractersticas j presentes na sociedade

    norte-americana e europia no sculo XIX, como resultantes dos processos de urbanizao e

    do impacto da imigrao, que deram origem a diversos problemas sociais: sade pblica, bem

    estar, educao, habitao, entre tantos outros.

    A origem da pesquisa qualitativa na educao j se encontra convincentemente

    documentada e remonta, pelos estudos de Robert (1976), ao alemo Franz Boas, considerado

    o primeiro antroplogo a residir nos contextos de origem de seus sujeitos, ainda que em

    curtos perodos de tempo. E aos estudos conhecidos como a Sociologia de Chicago, sob

  • 3 forte influncia da pesquisa etnogrfica de Robert Redfield, que prosseguiram e

    perseguiram a tradio antropolgica do trabalho de campo o que incidiu principalmente na

    observao participante (1971). A Sociologia de Chicago teve em Albion Small seu

    fundador, no Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago (EUA), em 1892, e

    tornou-se mundialmente conhecida como Escola de Chicago- denominao aplicada a um

    grupo de docentes e discentes do referido Departamento, que, entre os anos 20 e 30 do sculo

    passado, muito contribuiu para o desenvolvimento dos mtodos qualitativos no mbito da

    sociologia norte- americana.

    Para se entender a pesquisa educacional algumas caractersticas herdadas desta

    Escola so importantes: Os socilogos baseavam - se em dados recolhidos em primeira mo,

    introduzindo novos elementos na investigao e novas tcnicas no afetas a investigao

    emprica tradicional. A nfase na vida urbana centrada nos clebres trabalhos sobre

    comunidades (Becker, 1970), em que se buscava, na interseo entre o contexto social e a

    biografia de indivduos ou de grupos, entender determinados comportamentos considerando-

    se a situao no qual surgiram; A abordagem interacionista, enfatizando a natureza social e

    interativa da realidade, a exemplo de Park que, na sua introduo metodologia de um

    estudo sobre as relaes raciais entre orientais e ocidentais na Califrnia, sugeriu que ele

    era importante pelo reconhecimento que fazia de que todas as opinies pblicas ou

    privadas so um produto social (BOGARDUS, 1926 em BOGDAN, 1994.)

    No campo da Educao essas influncias no ocorreram ao mesmo tempo que na

    Sociologia, em que j se observava o uso da pesquisa qualitativa na investigao de

    problemas educacionais. Um dos trabalhos mais importante o de Becker, no Departamento

    de Sociologia de Chicago, que entrevistou professores objetivando compreender com maior

    clareza caractersticas de suas carreiras e perspectivas relativas atividade docente. Outro

    trabalho a ser destacado um estudo de educao mdica Boys in White (BECKER et al.,

    1961), que traava um retrato da cultura estudantil mdica. Por volta dos anos 60

    investigadores educacionais comeam a manifestar preocupao e interesse acadmico pela

    pesquisa qualitativa com o apoio de financiamentos pblicos. Em 1968 j existia um grupo

    mais formalizado, especificamente nas abordagens antropolgicas aplicadas educao,

    materializado no Council on Antropology (BOGDAN ,1994). Perodo que emblemtico de

    mudanas sociais, movimentos de minorias, reivindicaes de polticas de identidade e a

    ateno dos educadores no pode desviar-se dessa conjuntura. As investigaes comeam a se

    voltar, ento, para a populao pobre buscando - se saber como ocorria e o que significava a

    experincia escolar para suas crianas, jovens e adultos. Destaca-se o Project True,

  • 4 desenvolvido em 1967, no Hunter College, cujo objetivo central era conhecer e

    compreender os diferentes aspectos da vida nas salas de aula urbanas. Neste empreendimento,

    os pesquisadores - socilogos e antroplogos, utilizaram de entrevistas no diretivas

    envolvendo membros da escola e da comunidade para avaliar os processos de integrao

    escola- comunidade, entrevistas em profundidade para analisar as experincias de novos

    professores em escolas urbanas e a observao participante para avaliar experincias

    individuais em sala de aula. Essa audincia significativa da pesquisa qualitativa em educao

    cresce nos anos posteriores e algumas razes podem explicar esse fato: os movimentos sociais

    da poca indicavam claramente que pouco se sabia sobre como alunos, professores e famlias

    experimentavam a escola e significavam essa experincia; os mtodos qualitativos ganham

    popularidade devido ao reconhecimento que emprestavam s perspectivas de lutas dos grupos

    desfavorecidos e excludos social e culturalmente; o debate na academia sinalizava por

    mudanas na Antropologia e na Sociologia, enquanto campos cientficos; a primeira voltava-

    se para o estudo das populaes urbanas na sua prpria cultura, frente a um certo

    esgotamento de pesquisas junto aos grupos considerados mais simples, e a Sociologia

    comea a reangular suas reflexes para as teses fenomenologistas, aps cerca de vinte anos de

    predomnio das teorias estrutural- funcional.

    Neste perodo, abordagens do cotidiano, das diferenas culturais e desigualdades

    sociais sero largamente tematizadas com relao educao e aos processos de

    escolarizao. J nos anos de 1970, a exploso da diversidade social como fenmeno de

    reconhecida relevncia sociopoltica e cultural apontaria de modo mais contundente para um

    certo esgotamento dos estudos quantitativos. Finalmente, no se pode deixar de anotar a

    discusso da vertente social ps- moderna que acena para investigaes mais experimentais e

    abertas- provisrias, na qual se pe em debate o conceito de verdade e se afirma que todo

    conhecimento o , na adoo de uma perspectiva ou de escolhas interessadas, rompendo de

    vez com a premissa positivista da neutralidade cientfica e de um certo projeto de cincia

    moderna (SOUZA SANTOS, 1989).

    1.2 Educao e Pesquisa Qualitativa no Brasil

    No Brasil, mesmo que tardiamente, a pesquisa qualitativa encontra forte

    receptividade por parte dos cientistas e, j na dcada de 1980, observam-se indicadores de um

    movimento que vai gradativamente interpelando a predominncia dos mtodos de

    mensurao na pesquisa educacional, que, situada no campo das cincias humanas, no

    poderia passar imune ao desenvolvimento e inflexes ocorridas nesta rea. Assim, o

  • 5 fenmeno educacional foi investigado por longo tempo na perspectiva das anlises das

    cincias fsicas e naturais, buscando-se isolar, como nestas, variveis que pudessem dizer da

    composio do fenmeno. Dito de outro modo acreditava-se que a mensurao quantitativa de

    varveis bsicas do fenmeno educativo seria suficiente para a explicao de sua totalidade.

    Com o desenvolvimento de estudos em campos afins e no prprio campo educacional, foi-se

    constatando que poucos so os problemas que poderiam ser esgotados pela pesquisa

    quantitativa, dado que, em sua maior parte, pensar sobre a educao requer entende-la como

    fenmeno dinmico, complexo e mutvel, alm de datado historicamente. evidente que no

    se tira o valor da pesquisa quantitativa e os indicadores estatsticos sobre a sociedade esto a

    amplamente divulgados e so absolutamente indispensveis para a compreenso dos

    problemas da educao e, inclusive, h que se reconhece-los, sempre, como fontes geradoras

    de questes a serem investigados e aprofundados.

    Enquanto procedimento predominante na pesquisa educacional at meados dos anos

    de 1980, a orientao quantitativa comea a gerar um certo incmodo em estudiosos com os

    mtodos e com os dados obtidos. Por exemplo, os recorrentes resultados sobre dficit de

    aprendizagem, evaso e repetncia junto a determinados setores da populao, alm de serem

    evidenciados, necessitavam de esclarecimentos que a pesquisa quantitativa, pelas suas

    caractersticas, no poderia responder. Sobre a abordagem do tipo experimental, Giroux

    emitiu o seguinte parecer: a pesquisa e seus resultados deveriam ser vistos no somente pelos

    princpios que governam as questes que prope, mas tambm pelos temas que ignora e

    pelas questes que no prope (GIROUX, 1983, p. 63).

    Era necessrio, ento, que se articulassem novas propostas de abordagem com

    alternativas metodolgicas tambm distintas para se superar, seno no todo, pelo menos

    parcialmente, limitaes percebidas na pesquisa quantitativa. Deste contexto de dvidas e

    inquietaes vai se adotando na investigao educacional pesquisas do tipo participantes,

    pesquisa - ao, estudo de caso e a pesquisa do tipo etnogrfica (ANDR e LUDKE, 1986).

    Esta ltima, trazendo em seu nome, um eufemismo que, na verdade, no esclarece e nem

    realiza efetivamente pressupostos terico metodolgicos da etnografia. Fato que, o que se

    constata no campo da pesquisa educacional, desde meados da penltima dcada do final do

    sculo passado, uma certa profuso de investigaes que revelam, seno a conjuno de

    mtodos quantitativos e qualitativos, posto que este um debate mais recente, a

    predominncia da pesquisa qualitativa. Basta percorrer as centenas de trabalhos apresentados

    nas reunies anuais da ANPED, nos anos de 1990 em diante, para se ter uma idia da larga

  • 6 apropriao de mtodos como a Histria Oral, as Representaes Sociais, a

    Etnometodologia, alm da Etnografia, ancorados nos estudos de caso.

    1.3 Etnografia: a Antropologia em ato

    Os estudos de Malinowski e Geertz, evidenciam que fazer etnografia observar e

    interpretar culturas, e esse empreendimento exige observao ampla e prolongada da cultura e

    da vida social que no dada: crenas, sentimentos, normas legais e costumeiras. E fazer

    antropologia no apenas descrever mundo, seja ele trobriands ou balins, ou qualquer

    outro; uma questo de mtodo e de dar conta da totalidade da cultura, pois, graas a esta

    apreenso, que se apreende seu sentido para os pesquisados. (TOSTA, 2005). Por tudo que a

    antropologia j elaborou, no difcil deduzir que fazer etnografia seja na sua verso clssica,

    seja na verso moderna, demanda algumas condies que se tornam imprescindveis

    pesquisa de campo. A primeira delas de ordem terica, na medida em que fazer etnografia

    exige no apenas o treino na pesquisa qualitativa, mas o entendimento conceitual implicado

    neste tipo de pesquisa. A segunda condio o tempo prolongado de insero do pesquisador

    no campo - o que requer no apenas disponibilidade do pesquisador, como a existncia de um

    tempo longo para a investigao pouco permitido ou possvel, considerando, entre outros

    fatores, as exigncias da CAPES para titulao nos programas de ps- graduao.

    Portanto, desta perspectiva terica e metodolgica que buscamos, nessa

    investigao, inventariar, descrever e analisar o que se faz na pesquisa educacional quando se

    nomeia a etnografia como uso no processo da investigao. Ou dito de outro modo, o que se

    faz com a Etnografia na pesquisa educacional.

    Assim, a eficincia da anlise proposta neste projeto s poderia ocorrer aps a

    passagem por, pelo menos, trs etapas que dizem respeito aos modos como se construiu o

    problema de pesquisa e a metodologia foi selecionada. Pois,

    1. Levar a srio a proposio na pesquisa etnogrfica a no se pode limitar a

    descrio de fenmenos (conhecimento da forma), mas aos modos como ele vivido e

    representado pelos sujeitos envolvidos no processo;

    2. A busca de informao, de dados, qualitativos ou quantitativos, no importa,

    deve ser permanentemente monitorada pelo referencial terico que incorpora questes da

    cultura e do cotidiano. Neste caso, a passagem por um rigoroso balano crtico da

    produo de referncia fundamental;

    3. necessrio que tais conceitos, como tantos outros j conhecidos enquanto

    categorias de anlise na Antropologia - tradio, civilizao, identidade, alteridade,

  • 7 diversidade, diferena e j assumidos teoricamente se manifestem na prtica cotidiana da

    pesquisa. O que significa no perder de vista o referencial terico constitudo (BOURDIEU,

    1988, 1999).

    Foram selecionados, ento, trs programas de ps-graduao em educao no Brasil

    e mapeamos as dissertaes e teses, apresentadas entre os anos de 1990 e 2005 inclusive. Os

    programas foram escolhidos por apresentarem em sua rea de concentrao ou linhas de

    pesquisa a clara preocupao com a problemtica da relao entre culturas/educao/ escola.

    2. DESENVOLVIMENTO

    2.1 Resultados do levantamento junto ao Portal da CAPES

    A metodologia de pesquisa documental foi realizada atravs da leitura dos resumos

    encontrados junto ao Portal da CAPES, elaborao de uma ficha de leitura e anlise dos

    trabalhos selecionados para leitura na ntegra. Desse modo, alm de trazer os dados

    bibliogrficos de referncia, conforme apostos na CAPES, transcrevemos os resumos das

    dissertaes e teses e o ttulo dos mesmos. Na leitura integral das pesquisas, tambm

    procuramos identificar e transcrever qual era o problema/ tema definido para a investigao, a

    relao estabelecida entre esse problema e a cultura, os principais aportes tericos de

    sustentao da pesquisa, especialmente os autores em que o pesquisador se referenciou para

    discutir a questo da cultura e a metodologia, identificando citaes diretas nas referidas teses

    e dissertaes.

    A busca tomou como descritores: etnografia, antropologia, educao, escola, pesquisa

    qualitativa, estudos culturais. O levantamento indicou um nmero significativo de pesquisas

    denominadas como etnogrficas dentre os programas pesquisados. Encontramos at o final

    desta investigao (dezembro de 2006), um total de 59 dissertaes e 26 teses. As pesquisas

    foram catalogadas de acordo com as instituies, programa, ano de concluso da mesma, rea

    de conhecimento ou linha de pesquisa, denominao dada metodologia, autor e orientador.

    Aps a concluso dessa primeira etapa, foram selecionadas teses e dissertaes nos trs

    programas para leitura na integra dos textos. Os critrios previstos seriam: a cada intervalo de

    quatro anos, selecionaramos uma tese de doutorado e a cada dois anos, selecionaramos

    dissertaes de mestrado. Posto que so esses os prazos previstos para concluso dos trabalhos

    pela prpria CAPES. DISSERTAES/UFMG (06)

    ANO TITULO DA PESQUISA AUTOR (A) 1991 Potencial educativo da organizao do trabalho escolar na

    formao do professor das series iniciais do primeiro grau Terezinha Maria Cardoso

  • 8 1992 As disciplinas dos indisciplinados cdigos de normas e valores

    de jovens favelados numa rea industrial. Suzana Lanna Burnier Coelho

    1999 A televiso sob o olhar da criana que brinca: a presena da televiso nas brincadeiras de crianas de uma creche comunitria

    Rogrio Correia da Silva

    2002 Um estudo sobre um processo de construo do letramento na educao de jovens e adultos

    Marina Lcia De Carvalho Pereira

    2003 Quando a renda passa pela escola: as fronteiras entre a economia e a educao no programa bolsa-escola

    Breynner Ricardo De Oliveira

    2004 Educao fsica no ensino mdio: interveno pedaggica de um professor em uma escola estadual de Minas Gerais

    Guilherme Carvalho Franco da Silveira

    TESES/UFMG

    ANO TITULO DA PESQUISA AUTOR (A) 2004 Cara professora: prtica de escrita de um grupo de docente Maria Emlia Lins e Silva

    DISSERTAES/UFRJ

    ANO TITULO DA PESQUISA AUTOR (A) 2000 A formao do educador de pessoas jovens e adultas numa

    perspectiva multicultural critica Ana Paula Ribeiro Bastos

    Arbache

    TESES/UFRJ

    ANO TITULO DA PESQUISA AUTOR (A) 2002 Avaliao na escola de ensino fundamental: Continuidade de

    padres e tendncias Zacarias Jaegger Garna

    DISSERTAES/USP

    ANO TITULO DA PESQUISA AUTOR (A) 1996 Estgio: Da pratica pedaggica cotidiana prtica pensada um

    estudo exploratrio Nilce da Silva Ramirez

    1998 Espaos ldicos ao ar livre na educao infantil Isabel Porto Figueira 2001 Imagens sociais e culturais em brincadeiras de construo na

    educao infantil. Claudia Ximenez Alves

    Martinez Veiga 2002 Embuste? Fico? Utopia? O ensino de lngua inglesa na escola

    publica: mistrios que o complicam, caminhos que viabilizam.

    Ana Lcia de Mello Lemos Carriel

    TESES /USP

    ANO TITULO DA PESQUISA AUTOR (A) 1998 Professor, professora: um olhar sobre prticas docentes nas sries

    iniciais do ensino fundamental. Marlia Pinto de Carvalho

    2001 O que se pode esperar de uma escola de qualidade? As expectativas dos pais dos alunos matriculados na 1. Srie do

    ensino fundamental numa escola da rede

    Denise Medeiros Furtado Romero

    2004 Meninas e meninos no recreio: gnero, sociabilidade e conflito. Tnia Mara Cruz

    Em uma leitura preliminar desse conjunto de dados coletados um primeiro aspecto a

    ser destacado a diversidade de definies da metodologia atribuda pelos autores das

    pesquisas, conforme demonstrado nos quadros abaixo:

  • 9 DENOMINAO DAS TESES

    Etnografia 6 Tipo etnogrfico 3 Cunho etnogrfico 3 Caracterstica etnogrfica aliada etnologia 1 Moldes etnogrficos e outros complementares 1 Perspectiva etnogrfica 1 Caractersticas de autobiografia e da etnografia 1 Pesquisa e / estudo etnogrfico 4 Abordagem etnogrfica 2 Uso instrumental da etnografia 2 Cave de enfoque etnogrfico 1 Descrio/ Narrao etnogrfica 1 TOTAL 26 Fonte: Pesquisa no portal da CAPES

    DENOMINAO DAS DISSERTAES

    Pesquisa / estudo / trabalho e investigao etnogrfica 18 Cunho etnogrfico 3 Carter etnogrfico 1 Tipo etnogrfico 7 Estudo de caso com abordagem etnogrfica 4 Estudo de caso com orientao ou perspectiva etnogrfica 3 Estudo de caso de cunho etnogrfico 1 Abordagem comparativa etnogrfica 1 Estudo de caso da pesquisa etnogrfica e da coleta de depoimentos 1 No informou 1 Interveno etnogrfica 1 Observao etnogrfica 3 Qualitativa e parte etnogrfica 1 Estudos de escala reduzida- micro- histria e etnografia 1 Levantamento etnogrfico 1 Abordagem etnogrfica 3 Enfoque etnogrfico 1 Busca a compreenso da etnografia para a etnologia 1 Referencial etnogrfico 1 Perfil etnogrfico 1 Momentos etnogrficos 2 Modelo qualitativo (etnogrfico) 1 Perspectiva etnogrfica 2 TOTAL 59 Fonte: pesquisa no Portal da CAPES

    De acordo com os quadros apresentados, o Programa de ps-graduao da USP o

    que mais diversifica as denominaes atribudas s metodologias usadas nas pesquisas.

    Observando o quadro geral das 15 investigaes lidas e analisadas na ntegra, pelo menos oito

    delas se referenciam a duas professoras e autoras da publicao de dois textos. Das 15

    pesquisas analisados na ntegra, 8 se baseiam em duas autoras especificamente (ANDR e

    LUDKE,1986) para justificar a escolha da metodologia. E a anlise dessas 8 investigaes nos

  • 10

    permite inferir que a chamada prtica etnogrfica na pesquisa educacional, conforme

    apresentado pelas autoras acima citadas, abriga sentidos alargados e imprecisos. Impreciso

    essa que pode ser identificada na leitura atenta feita das referidas obras e que vem sendo

    reproduzidas nas pesquisas. Sugerindo, por exemplo, essa variao de nomes que pouco ou

    quase nada dizem a respeito da metodologia empregada nas pesquisas.

    Todavia e de modo controverso, Andr (1997) reconhece que, na dcada de 1980, a

    Etnografia ganhou muita fora nos estudos educacionais, fato que ela classificou como

    quase que um modismo. Porm esse modismo no s permanece como inspirado na

    prpria autora.

    Exemplo dessa apropriao por parte de pesquisadores da educao foi encontrado em

    nossa pesquisa: Os resultados indicam que os espaos ldicos ao ar livre das EMEIs apresentam brinquedos de concepo obsoleta com problemas de manuteno; as professoras, via de regra, restringem sua participao a aspectos de segurana e disciplina, embora valorizem a brincadeira para o desenvolvimento social, motor e afetivo; a apropriao do espao pelas crianas mostra a busca de desafios e a integrao da motricidade ao imaginrio e as interaes sociais. Ao final, O trabalho prope intervenes praticas a fim de enriquecer a brincadeira infantil no espao do parque da escolas de educao infantil, acrescentando recursos de baixo custo e transformando limitaes e recursos virtuais em recursos reais. (FIGUEIRAS, 1998, pg. 01).

    Da ser possvel compreender, porque muitos pesquisadores, ao elegerem Etnografia

    como metodologias de trabalho, acabam trilhando por caminhos que no o da Etnografia

    propriamente. Pois, na falta de referncias consistentes e adequadas ficam sem o suporte

    necessrio para fazerem a devida 2transposio de conhecimento gerados em outras reas para

    a educao. Com isso, vrias pesquisas tendem a demonstrar que a etnografia na educao

    tem sido entendida por parte de muitos pesquisadores, como um conjunto de tcnicas

    qualitativas que melhor atende a aproximao da realidade observada. E to somente isso.

    3 LENDO AS PESQUISAS

    De acordo com o exposto identificamos elementos com os quais a etnografia foi

    tratada nas pesquisas, tais como:

    Etnografia como tcnica para se aproximar da realidade e no descrever interpretar e

    compreender, ou buscar as lgicas impressas na cultura do outro nos modos como esse outro

    pensa na cultura; [...], uma vez que, parafraseando Andr (91995:32), tal estudo me permitiria

    2 Em relao a essa transposio outras pesquisas indicam a procedimentos semelhantes quando se toma a histria oral e as representaes sociais para estudos na rea da educao.

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    retratar situaes vivas do dia a dia da educao fsica escolar, sem prejuzo da

    compreenso de sua complexidade e de sua dinmica natural. (SILVEIRA, 2004 p. 12).

    Em algumas pesquisas os autores, alm de influenciarem no ambiente pesquisado,

    ainda propuseram intervenes para a modificao do mesmo. Como estas:

    Ao final, O trabalho prope intervenes praticas a fim de enriquecer a brincadeira infantil no espao do parque das escolas de educao infantil, acrescentando recursos de baixo custo e transformando limitaes e recursos virtuais em recursos reais. (FIGUEIRAS, 1998, pg. 01). Trata-se de um trabalho desenvolvido a partir de uma pesquisa bibliogrfica e de dois estudos de campo realizados numa escola publica do Ensino Mdio que objetivou investigar duas salas de aula de lngua inglesa procurando identificar os fatores que complicam o ensino e a aprendizagem do idioma. Atravs de um estudo etnogrfico e de uma proposta de colaborativa com a professora, foram experimentadas estratgias especificas visando a uma movimentao no sentido da transformao de representaes da docente, de seus alunos e, ainda que imprevista, da pesquisadora. (CARRIEL, 2002, pg.10)

    Ausncia de aprofundamento terico do que seja Etnografia como parte que constitui e

    institui empiricamente a Antropologia; Para melhor compreenso destes enfoques, recorri literatura pedaggica e nela escolhi autores que considero representam significativa contribuio s questes que pretendo pesquisar, Tais como Hall e Canclini, segundo Canclini (1999 a, b), aquela viso unificada que tanto as etnografias clssicas, quanto os museus nacionais organizados por antroplogos consagram, pouco capaz de captar situaes de interculturalidade. (ARBACHE, 2004. p.10 11)

    Com exceo de uma das pesquisas, encontramos a falta de compreenso da prpria

    Antropologia, do antroplogo e suas proposies em termos histricos do que fazem, como

    fazem e para que fazem.

    Quanto dimenso tica na pesquisa e no fazer antropolgico especificamente; apenas

    um dos trabalhos analisados contemplava essas dimenses como: Ter cuidado e sigilo e privacidade tanto entre crianas quanto entre estas e os adultos; solicitar permisso escola; esclarecer ao conjunto dos sujeitos sobre a minha finalidade de pesquisa; evitar ir alm do que os sujeitos de pesquisa esto dispostos a discutir, j que as questes de gnero envolvem valores da vida privada de modo mais caracterstico; e por fim fornecer o retorno dos dados pesquisados. (CARVALHO, 2004)

    [...] Crianas como objetos de pesquisa, a segunda a concebe como crianas sujeitos de pesquisa, a terceira como atores sociais; e ainda uma recente abordagem derivada desta ltima que v as crianas como participantes coopesquisadoras (CARVALHO, 2004).

    Os registros so fragmentrios e desarticulados de um referencial terico que

    pretendesse realizar Etnografia;

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    A abordagem dos contedos organizada por Pedro no jogo de vlei com as regras originais, na discusso dos aspectos fisiolgicos da atividade fsica e da caminhada, a exemplo da pesquisa do jogos e brincadeiras,

    do jogo e da encenao do futebol, realizados no primeiro trimestre, reforam a idia de Valter Bracht de que diferentemente do saber conceitual, o saber de que trata a Educao Fsica (e a Educao Artstica) encerra uma ambigidade ou um duplo carter a) Ser um saber que traduz num saber fazer, num realizar corporal; b) um saber sobre este realizar corporal. (BRACHT, 1997:18) (grifo meu) (SILVEIRA, 2004, p.96).

    Ausncia de discusses tericas e de dilogo com a prpria etnografia; em outros

    termos, ausncia do necessrio e permanente dilogo entre teoria e empiria.

    [...] a despeito da relevncia desses enfoques, a abordagem que ser aqui privilegiada tem carter sociolgico. [...] e me pareceu mais promissor para compreenso do que me diziam e faziam o professor e as professoras primrias que entrevistei e observei. (CARVALHO, 1998, p. 28)

    Ausncia de requisitos mnimos e imprescindveis para interpretar culturas: estada

    prolongada no campo, observao participante como tcnica privilegiada da Etnografia, dar

    voz aos sujeitos polissemia, descrio densa, a interpretao das culturas locais pelos

    diversos cdigos disponveis, tenses e contradies, desconstruo do real para reconstru-lo

    como uma sistematizao do antroplogo, na dinmica do por dentro e de perto. Foram ao todo 95 horas de observaes na escola, entre as quais 45 em sala de aula, e 16 horas de entrevistas gravadas e transcritas. As observaes duraram at abril de 1997. Em geral eu comparecia uma ou duas vezes por semana s aula de dois professores alternadamente, ao longo de dois meses, ficando em classe por perodos em torno de uma hora e meia a duas horas (CARVALHO, 1998, Pg. 121). [...] as observaes foram interrompidas para que eu tivesse tempo de fazer as primeiras analises dos dados produzidos nos primeiros cinco meses de pesquisa de campo. Os acontecimentos desse perodo, em que no realizei observaes foram reconstrudos nas conversas com Pedro quando reiniciei as observaes em Outubro. (SILVEIRA, 2004.p.21)

    A deliberao da equipe de pesquisadoras em emitir pareceres somente ao final da

    Ficha de Leitura foi coerente com propsitos de compreender que usos so feitos da

    Etnografia na pesquisa educacional e, ao se fazer tal uso, como se compreende e se explicita

    um empreendimento intelectual. Assim sendo, foi muito importante trazer para o leitor a

    transcrio direta de partes dos trabalhos lidos, procurando, na anlise, no perder de vista o

    texto integral. Isto , ao registrar falas, citaes, proposies, objetivos, autores e resultados,

    tentamos, ao mximo no descola - los do contexto geral e de desenvolvimento das

    pesquisas analisadas.

    2.4 CONCLUSESGERAIS:

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    Ao final da pesquisa foi possvel tecer algumas concluses para responder aos

    objetivos de nossa investigao. Constatamos que a Etnografia na rea educacional ainda

    se apresenta bastante problemtica. Do total de tese e dissertaes analisadas, apenas trs

    trabalhos atenderam aos critrios necessrios para uma Etnografia. A maioria do corpus

    analisado evidencia a falta de entendimento por parte dedos autores quanto aos princpios

    bsicos da metodologia em questo. Em vrios trabalhos sequer foi identificado

    problemtica central e fundamental numa pesquisa Etnogrfica: a discusso da cultura.

    Do mesmo modo, o cotidiano como tempo e espao imprescindvel realizao da

    Etnografia, apresentado meramente como uma descrio de acontecimentos e falas.

    Outras pesquisas revelam anlises realizadas em curtos perodos de tempo que no

    garantem ao pesquisador a to necessria insero na realidade pesquisada, de maneira a

    apreender os significados de cada ao ali desenvolvida.

    Outro aspecto identificado foi o egocentrismo cientfico, ou a auto suficincia

    da maioria dos pesquisadores. Uma vez que no recorreram s fontes antropolgicas

    clssicas e contemporneas para fundamentarem suas defesas. Sobre esse fato,

    oportuno recorrer escrita de uma pesquisa em que uma autora escora-se em Nestor

    Garcia Canclini, para criticar o fazer antropolgico. Para melhor compreenso destes enfoques, recorri literatura pedaggica e nela escolhi autores que considero representam significativa contribuio s questes que pretendo pesquisar. Tais como Hall e Canclini [...] segundo Canclini (1999 a, b), aquela viso unificada que tanto as etnografias clssicas, quanto os museus nacionais organizados por antroplogos consagram, pouco capaz de captar situaes de interculturalidade. (ARBACHE, 2004. p.10 11)

    Finalmente, podemos afirmar que os ensaios de interdisciplinaridade revelam tenses

    permanentes que no podem ser desconsideradas, diludas. Tenses na interface educao e

    antropologia, educao e suas implicaes histrico- conceituais; que trazem como

    conseqncia uma apropriao que destitui a Etnografia de sua constituio cientfica, de suas

    categorias que fundamentam seu fazer. O resultado uma articulao terica em que a

    educao pouco se desloca de seu campo e faz uso instrumental da antropologia. E tcnicas

    que no carregam teorias, esquecem-nas.

    REFERENCIAS: BECKER, Howard S. Mtodos de pesquisa em cincias sociais. 3 ed. So Paulo:

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    Hucitec, 1997.

    BOGDAN, Robert e BIKLEN, Sari. Investigao qualitativa em educao: uma introduo teoria e aos mtodos. Porto: Porto Editora, 1994. BOURDIEU, Pierre et al. El oficio de socilogo. 11. Ed. Madrid, Espanha: Siglo Vientiuno, 1988. BOURDIEU, Pierre O poder simblico. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1989. GIROUX, H. Pedagogia radical. Subsdios. So Paulo: Cortez, 1983. LUDKE, Menga. ANDR, Marli E. D. A. pesquisa em educao: abordagens qualitativas. So Paulo: EPU, 1986. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O trabalho do antroplogo: Olhar, Ouvir, Escrever. Revista de Antropologia. So Paulo: USP, 1996, v. 39, n 1 SANTOS, Boaventura de Souza. Introduo a uma cincia ps moderna. Rio de Janeiro: Graal, 1989

    TOSTA, Sandra de F. Pereira. Projeto de Pesquisa Os usos da Etnografia na Pesquisa

    Educacional. Belo Horizonte: FIP/PUC- Minas, 2005.

    VALENTE, Ana Lcia. Usos e abusos da antropologia na pesquisa educacional. Pro-Posies. Vol. 7, n. 2 [20], 54-64, julho de 1996.