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GRADUAÇÃO 2014.2 PARTE I OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) AUTOR:LEONARDO DE ANDRADE COSTA

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GRADUAÇÃO 2014.2

PARTE I

OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)AUTOR:LEONARDO DE ANDRADE COSTA

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SumárioOS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

I. PROGRAMA DA DISCIPLINA ................................................................................................................................. 3

II. PRÉ-COMPREENSÃO ......................................................................................................................................... 6

III. OS TRIBUTOS DE ACORDO COM O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E AS BASES ECONÔMICAS DE INCIDÊNCIA ........................... 8

IV. BLOCO I — A TRIBUTAÇÃO E A FEDERAÇÃO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ............................................................. 13A. Contextualização do tema ....................................................................................................................... 13

1) Federalismo ...................................................................................................................................... 132) Imunidade Recíproca ........................................................................................................................ 183) Uniformidade Geográfi ca ................................................................................................................ 224) Não discriminação: Origem/Destino ................................................................................................. 29

B. As decisões a serem examinadas em aula .................................................................................................. 31

V. BLOCO II — AS TAXAS NO STF ........................................................................................................................... 45

VI. BLOCO III — A TRIBUTAÇÃO DA RENDA NO STF .................................................................................................... 52

VII. BLOCO IV — A TRIBUTAÇÃO DO PATRIMÔNIO E O STF ........................................................................................... 66

VIII. BLOCO V — A TRIBUTAÇÃO DO CONSUMO E O STF ............................................................................................... 67

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 3

I. PROGRAMA DA DISCIPLINA

I.1 EMENTA

Estudo dos casos tributários decididos no âmbito do Supremo Tribunal Federal. Exame dos aspectos jurídicos, econômicos e contábeis envolvidos. Análise crítica do conteúdo das decisões proferidas pela Corte Suprema. Ra-ciocínio e argumentação jurídico-tributária nos chamados “hard cases”.

I.2 CARGA HORÁRIA TOTAL

30 horas/aula — 17 encontros

I.3 OBJETIVOS

• Relembrar os tributos que compõem o Sistema Tributário Nacional.• Aprofundar o conhecimento das teses tributárias e desenvolver nos

alunos o senso crítico sobre as decisões proferidas pelo Supremo Tri-bunal Federal acerca da matéria tributária.

• Apresentar aos alunos os detalhes pertinentes dos casos tributários mais relevantes em discussão pela Suprema Corte.

I.4 AVALIAÇÃO

A avaliação será realizada por meio da aplicação de uma prova escrita, no dia 25.09.2014, e a apresentação de um trabalho em sala, em grupo, cada qual correspondente a 45% (quarenta e cinco por cento da nota). Os 10% (dez por cento) restantes, para se alcançar 100% (cem por cento) da nota atribuível, dependerá da presença e efetiva participação do aluno nos debates realizados em sala.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 4

I.5 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO POR SEGMENTO

Aula 1 07.08.2014• Apresentação do curso e pré-compreensão do tema.• Os tributos de acordo com o STF e a sua segmentação por bases econô-

micas de incidência (renda, patrimônio e consumo).

BLOCO I(3 aulas)

14.08.201421.08.201428.08.2014

• A Tributação e a Federação no STF• Análise das principais decisões que tenham impacto sobre o delinea-

mento do federalismo fi scal brasileiro, elemento estruturante do siste-ma tributário.

BLOCO II(1 aula)

04.09.2014 • As taxas no STF

BLOCO III(3 aulas)

04.09.201411.09.201418.09.2014

• A Tributação da Renda no STF.• A universalidade do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica• A generalidade e progressividade e o Imposto da Pessoa Física• A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido• A retenção na Fonte

Avaliação 1 25.09.2014 • Prova — P1

BLOCO IV(2 aulas)

02.10.201409.10.2014

• A Tributação do Patrimônio no STF.• O Imposto sobre propriedade Territorial Rural (ITR), o Imposto sobre a

propriedade de veículos automotores (IPVA) e o Imposto sobre a pro-priedade predial e territorial urbana (IPTU).

• O Imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos (ITD) e o imposto sobre a transmissão “inter vivos”, a qual-quer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição (ITBI).

Avaliação 216.10.201423.10.2014

• Trabalhos em grupo a serem apresentados em sala

BLOCO V(4 aulas)

30.10.201406.11.201413.11.201427.11.2014

• A Tributação do Consumo no STF.• Os impostos sobre a importação de produtos estrangeiros; exportação,

para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; produtos in-dustrializados; operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, defi nidos em lei complementar.

• O PIS e a COFINS.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

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I.6 GLOSSÁRIO

ADI — Ação Direta de InconstitucionalidadeSTF — Supremo Tribunal FederalPIS — Programa de Integração Social (A Lei Complementar n° 07/1970

instituiu o PIS)COFINS — Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (A

Lei Complementar n° 70/91 instituiu a COFINS)

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FGV DIREITO RIO 6

1 LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência

do Direito. 3. ed. Tradução de José La-

mego. Lisboa: Fundação Calouste Gul-

benkian, 1997. p. 439. Para Karl Larenz,

o processo interpretativo se realiza na

“mediação, pela qual o intérprete traz

à compreensão o sentido do texto que

se lhe torna problemático”. De acordo

com o jurista, tem-se como ponto de

partida interpretativo o sentido que cada palavra inserida no texto pode

constituir, sendo esse sentido, por sua

vez, informado pelo sentido global do texto, o qual deve ser extraído em sua

permanente interação com as demais

normas jurídicas aplicáveis. O autor ale-

mão adverte, no entanto, que interpre-

tação vai além da mera subsunção do

fato à norma, traduzindo-se em uma

valoração (p.300), vez que a norma ja-

mais poderá descrever a complexidade

do caso concreto. Por outro lado, salien-

ta que a interpretação encontra como

limite as possibilidades oferecidas pelo

sentido literal linguisticamente pos-sível (p.454). A partir do sentido literal

linguisticamente possível surge a inte-gração, que se revela pelo preenchi-

mento das lacunas contrárias ao plano

do legislador e o desenvolvimento do

direito para além da lei (p. 524).

2 VIEIRA, Oscar Vilhena. Supremocra-cia. Revista direito GV, São Paulo 4(2),

p. 441-464 | jul-dez 2008. O artigo, que

pode ser acessado no sítio <http://

bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bits-

tream/handle/10438/9674/Oscar%20

Vilhena%20Vieira.pdf?sequence=1>,

possui o seguinte resumo: “O STF está

hoje no centro de nosso sistema políti-

co, fato que demonstra a fragilidade de

nosso sistema representativo. tal tribu-

nal vem exercendo, ainda que subsidia-

riamente, o papel de criador de regras,

acumulando a autoridade de intérprete

da Constituição com o exercício de po-

der legislativo, tradicionalmente exer-

cido por poderes representativos. Este

texto mostra como o Supremo, de fato,

tem exercido tais funções pela análise

de alguns de seus julgados recentes.

em seguida, propõe mecanismos capa-

zes de lidar com as tensões produzidas

pela Supremocracia, sem caracterizá-la

como algo necessariamente bom ou

ruim, mas buscando compreender seu

sentido e apontar para seus perigos.”

3 II Relatório Supremo em Números.

O Supremo e a Federação. p.14. Dis-

ponível em <http://supremoemnu-

meros.fgv.br/relatorios/relatorio-2-o-

-supremo-e-a-federacao>. Acesso em

22.06.2014.

4 II Relatório Supremo em Números. O

Supremo e a Federação. p.49. Disponível

em <http://supremoemnumeros.fgv.

br/relatorios/relatorio-2-o-supremo-e-

-a-federacao>. Acesso em 22.06.2014.

O primeiro tema é o Direito Administra-

tivo e o terceiro é Direito Previdenciário.

II. PRÉ-COMPREENSÃO

Nos últimos 20 (vinte) anos o Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu o protagonismo do cenário jurídico nacional, exercendo papel central não apenas na interpretação e aplicação do direito.

A Suprema Corte tem atuado de forma ativa na integração1 do sistema jurídico, criando regras, ainda que subsidiariamente, situação que permite caracterizar a República Federativa do Brasil como verdadeira Supremocra-

cia, termo cunhado por Oscar Vilhena Vieira2.Nesse contexto, conhecer e compreender criticamente as decisões do STF

passou a ser requisito essencial ao estudo do direito no país, em especial no que se refere à matéria tributária, que ocupa posição de destaque na pauta da Corte. O 2º relatório Supremo em Números3, intitulado O Supremo e a

Federação aponta nesse sentido:

Nenhum tema aparece entre os três principais em todos os estados. Mesmo Direito Administrativo, que é o tema que aparece em primeiro lugar no país, não está entre os três principais assuntos de três estados. Mas é um tema nacional. Tributário, o segundo tema que mais aparece no agregado de todos estados não está presente em mais da metade dos estados — é um tema local nacionalizado. Mas é o principal tema dos processos oriundos de São Paulo. Isso faz com que os processos fi scais de um único estado da Federação ocupam mais de 5% da pauta do Supremo.

Não obstante o peso relativo do estado de São Paulo na pauta do STF, importante salientar que a matéria tributária ocupa o 2º lugar dos processos oriundos do Estado do Rio de Janeiro4.

Em âmbito nacional, a concentração dos principais subtemas em Direito Tributário é substancialmente alta, conforme revela o gráfi co abaixo, extraído do citado Relatório do Supremo em Números5:

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 7

5 II Relatório Supremo em Números.

O Supremo e a Federação. p.52. Dis-

ponível em <http://supremoemnu-

meros.fgv.br/relatorios/relatorio-2-o-

-supremo-e-a-federacao>. Acesso em

22.06.2014.

6 II Relatório Supremo em Números.

O Supremo e a Federação. p.52. Dis-

ponível em <http://supremoemnu-

meros.fgv.br/relatorios/relatorio-2-o-

-supremo-e-a-federacao>. Acesso em

22.06.2014.

Contribuições, crédito tributário e impostos dividem mais de quatro quintos da pauta sobre o assunto6:

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

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7 Para o estudo dos diferentes subs-

tratos econômicos de incidência reco-

menda-se a leitura das aulas 1 a 5 do

material didático da disciplina Sistema

Tributário Nacional, ou o material re-

ferente às aulas 13 e 14 da disciplina

Direito Tributário e Finanças Públicas I.

III. OS TRIBUTOS DE ACORDO COM O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E AS BASES ECONÔMICAS DE INCIDÊNCIA

A receita tributária, que tem sido a principal fonte de recursos públicos, pode ser classifi cada de acordo com múltiplos critérios, destacando-se entre eles as distinções quanto:

(1) ao substrato ou a base econômica de incidência7 do tributo, po-dendo ser a renda auferida, o patrimônio ou o consumo de bens e serviços;

(2) ao ente político (União, Estado, Distrito Federal ou Município) competente para instituir o tributo específi co, estabelecer a discipli-na jurídica, cobrar, fi scalizar e decidir o contencioso administrativo e judicial;

(3) à tríplice função que o tributo pode exercer:(3.1) a função fi scal, segundo a qual a sua instituição visa à arreca-

dação para fazer face à atividade fi nanceira do Estado;(3.2) a função parafi scal, cuja designação, apesar de controvertida

no campo doutrinário, denota a cobrança e a utilização de al-guns tributos por entidades paraestatais de natureza privada ou pública, com personalidade jurídica própria, que, ao exercerem as suas tarefas ao lado da administração direta, ampliam o al-cance das múltipas atividades de interesse público e a efetivida-de da intervenção do Estado na ordem social; e

(3.3) a função extrafi scal de algumas espécies tributárias, de acordo com a qual prepondera a sua utilização como instrumento de intervenção no domínio econômico ou social, direcionando--os à redistribuição de renda e riqueza ou à indução de com-portamento das pessoas (naturais ou jurídicas), estimulando ou desestimulando o consumo de determinados bens e serviços, a poupança ou o investimento e etc;

(4) à possibilidade de transferência do ônus ou do encargo fi nanceiro do tributo a terceira pessoa;

(5) ao regime jurídico aplicável ao produto da arrecadação tributária, podendo assumir três modelos distintos: (a) no primeiro, somente há liberdade do ente político para determinar o destino do produto da arrecadação a cada exercício fi nanceiro, no bojo do processo or-çamentário, sendo vedada pela Constituição a prévia vinculação da receita do tributo a uma despesa específi ca pelo legislador ordiná-rio, o que afastaria a possibilidade de alterações futuras do destino dos recursos arrecadados de acordo com as mutantes condições eco-nômicas e as decisões políticas durante cada ciclo orçamentário; (b)

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 9

8 Nesse sentido, a lei do ente político

que cria uma taxa, como regra geral,

pode ou não vincular o produto de sua

arrecadação a uma destinação especí-

fi ca. No entanto, o Supremo Tribunal

Federal (ADI 1444) considera as custas

e os emolumentos judiciais de que trata

o §2º do artigo 98 da CR-88 como espé-

cie de taxas. Dessa forma, considerando

que a própria Constituição determina

que “as custas e emolumentos serão

destinados exclusivamente ao cus-teio dos serviços afetos às atividades específi cas da Justiça”, trata-se de espécie tributária na modalidade de taxa cuja receita é vinculada, ao contrário da regra geral.

no segundo conjunto, ocorre a sua vinculação constitucional, ou seja, o constituinte determina que a receita deve ser necessariamen-te utilizada em uma dotação de despesa orçamentária específi ca, não havendo qualquer margem para a sua alteração a cada exercício fi nanceiro durante a elaboração do orçamento; e (c) aqueles tribu-tos em que não há vinculação constitucional obrigatória em relação ao produto da arrecadação, mas o legislador infraconstitucional, ao instituir o tributo ou discipliná-lo posteriormente, possui margem de liberdade para fi xar e vincular em lei o destino da receita, o que deve ser observado durante a elaboração e a execução das peças orça-mentárias. Portanto, esta classifi cação diz respeito à discricionarie-dade que o ente político possui para decidir o destino dos recursos arrecadados com os tributos. Nessa perspectiva, os tributos são ge-ralmente subdivididos em dois grupos: (a) aqueles de arrecadação não vinculada pela Constituição (podendo haver nesse grupo duas modalidades distintas: (a.1) aqueles que a Constituição veda ex-pressamente a vinculação da arrecadação, não deixando margem ao legislador ordinário; e (a.2) aqueles em que o constituinte é silente quanto à possibilidade de o legislador infraconstitucional vincular ou não a receita tributária a uma despesa específi ca) e (b) os tributos cuja receita deve ser necessariamente aplicada, exclusivamente, em determinada atividade ou fi nalidade específi ca, não sendo possível a sua alteração no plano infraconstitucional. A explicitação de exem-plos concretos facilitará a compreensão do exposto. O imposto é o exemplo típico do chamado tributo de receita não vinculada, em que é constitucionalmente vedada, como regra geral, a destinação de sua receita para órgão, fundo ou despesa. Portanto, o imposto é espécie de tributo que deve ter a sua utilização ou a destinação de sua receita livremente determinada no bojo do processo orçamentá-rio. De fato, ressalvadas as exceções, fi xadas no inciso IV do artigo 167 da CR-88, a regra geral é que as receitas dos impostos não po-dem ser previamente vinculadas. Por sua vez, como regra geral, as receitas arrecadadas com a exigência das contribuições de melho-ria e de taxas8 também não são vinculadas, inexistindo, entretanto, diferentemente dos impostos, vedação constitucional para que o legislador ordinário, ao instituir essas duas exações, vincule o pro-duto de suas arrecadações para serem utilizadas em despesas especí-fi cas. Em sentido diverso, são constitucionalmente vinculadas as receitas dos empréstimos compulsórios, tendo em vista o disposto no parágrafo único do artigo 148 da CR-88 (“A aplicação dos re-cursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição”). Nessa mesma linha, de

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FGV DIREITO RIO 10

9 Algumas contribuições sociais de caráter geral também possuem vin-

culação específi ca do produto de sua

arrecadação, apesar de não servirem

ao fi nanciamento da seguridade so-cial, como é o caso do fundo do salário

educação ( art. 212,§5º, da CR-88) que

possui natureza tributária, de acordo

com o STF.

associação ou conexão entre a instituição e arrecadação do tributo de um lado e o gasto relacionado à causa que justifi ca a exigência da exação de outro, as receitas das contribuições de seguridade social9 são vinculadas às despesas com a própria seguridade social, podendo ser destinados aos dispêndios com a saúde, a assistência ou a previdência social. Saliente-se que algumas espécies de exa-ções securitárias possuem grau ainda mais específi co de vinculação, como ocorre, por exemplo, com as receitas decorrentes das contri-buições previstas no inciso I, alínea “a”, incidente sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho, e no inciso II, cobrada do trabalhador e demais segurados da previdência social, ambos do já citado artigo 195 da CR-88, que não podem ser utilizadas para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdência, consoante determinação do inciso XI do artigo 167 da CR-88, espécie do gênero seguridade social. As contribuições sociais gerais, apesar de não se vincularem ao fi nan-ciamento da Seguridade Social, têm os seus recursos arrecadados também vinculados, como é o caso do salário educação (art. 212, §5º, da CR-88). No mesmo passo, os recursos arrecadados com a contribuição de intervenção sobre o domínio econômico, relati-va às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível de que trata o artigo 177, §4º, da CR-88 (CIDE petróleo) devem ser necessariamente destinados: (1) ao pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus deri-vados e derivados de petróleo; (2) ao fi nanciamento de projetos am-bientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; ou (3) ao fi nanciamento de programas de infra-estrutura de transportes;

(6) às características da hipótese de incidência a ensejar a instituição, cobrança e arrecadação do tributo, isto é, diz respeito aos elementos e contornos dos atos, fatos, negócios e situações jurídicas e bem assim aos eventos e situações de fato eleitas pelo constituinte para fundamentar a instituição do tributo pelo legislador infraconstitu-cional. Nessa perspectiva as hipóteses de incidência podem se referir a duas espécies de tributos: (a) aqueles cujo fato gerador independe de qualquer atuação estatal específi ca para fundamentar a exação, como é o caso dos impostos, que são exigidos sem haver qualquer ação estatal pressuposta; e (b) os tributos cuja hipótese de incidên-cia vincula-se a uma atividade estatal determinada, isto é, a exação pressupõe uma atuação contraprestacional do ente político, como é o caso das taxas, a exigir o exercício do poder de polícia ou a pres-tação de serviço público específi co e divisível ou a sua colocação à

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 11

10 Dispõe o artigo 5º do CTN: “Art. 5º Os

tributos são impostos, taxas e contri-

buições de melhoria.”

11 BRASIL. Poder Judiciário. Supremo

Tribunal Federal. RE n° 13884-CE. Dis-

ponível no sítio: <www.STF.jus.br>.

Pesquisa realizada em 12/02/2009.

O Ministro Carlos Velloso classifi cou

as contribuições sociais da seguinte

forma: “As contribuições sociais desdo-

bram-se em: ( a.1 ) contribuições de se-

guridade social, disciplinadas no artigo

195, I, II, e III da CF/88, compreendendo

as contribuições previdenciárias, as

contribuições do FINSOCIAL ( hoje CO-

FINS ), as da Lei 7689, o PIS, e o PASEP (

art. 239 ). Não estão sujeitas à anterio-

ridade ( art. 149, art. 195, parágrafo 6°

); (a.2) outras de seguridade social ( art.

195, parágrafo 4° ): não estão sujeitas

à anterioridade ( art. 149, art. 195, pa-

rag. 6° ). A sua instituição, todavia, está

condicionada à observância da técnica

da competência residual da União, a co-

meçar, para a sua instituição, pela exi-

gência de lei complementar ( art. 195,

parág. 4°, art. 154, I ); ( a.3 ) contribui-

ções sociais gerais art. 149 : o FGTS, o

salário-educação ( art. 212, parág. 5° ),

as contribuições do SENAI, SESI, SENAC

( art. 240 ). Sujeitam-se ao princípio da

anterioridade.”

disposição do contribuinte. Na mesma linha, a cobrança da contri-buição melhoria também pressupõe uma atuação estatal específi ca, ou seja, depende da realização de obra pública da qual decorra valo-rização imobiliária. Já as denominadas contribuições especiais de que trata o art. 149 da CR-88 (sociais, de intervenção no domínio econômico ou de interesse das categorias profi ssionais ou econômi-cas) podem ou não ter as respectivas hipóteses de incidência vincu-ladas diretamente a uma ação estatal prévia. Por outro lado, essas contribuições interventivas deveriam ter sempre como pressuposto subjacente o alcance de determinados fi ns na ordem econômica ou social, não havendo justifi cativa de natureza constitucional para a sua adoção apenas com objetivos arrecadatórios para fazer face aos gastos gerais ou para a produção de superávits fi scais;

(7) às espécies tributárias existentes. Apesar da separação das receitas tributárias em relação às contribuições pela Lei n° 4.320/64 e em que pese a literalidade do artigo 145 da CR-88 e do artigo 5º do CTN10, que restringem as espécies tributárias aos impostos, às taxas e às contribuições de melhoria, o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente no RE 138.284-811, no RE 146.733 e na ADC-1/DF, adotou a tese qüinqüipartide dos tributos, para defi nir que são cinco as espécies tributárias no atual sistema constitucional brasi-leiro:(1) os impostos (artigo 145, I, da CR-88);(2) as taxas (artigo 145, II, da CR-88);(3) as contribuições de melhoria (artigo 145, III, da CR-88);(4) os empréstimos compulsórios (artigo 148 da CR-88) e(5) as contribuições especiais (artigo 149 da CR-88), subdivididas

em três grupos:(5.1) sociais as quais se desdobram, por sua vez, em: (5.1.1) so-

ciais gerais; (5.1.2) de seguridade social e (5.1.3) outras de seguridade social. As contribuições de seguridade social lis-tadas nos incisos do artigo 195 e aquelas criadas pela União com fundamento no §4º do mesmo artigo tem por objeti-vo o fi nanciamento da Saúde, Assistência e Previdência So-cial. Por outro lado, as denominadas contribuições sociais gerais (5.1.1) são destinadas a custear a atuação do Estado em outras áreas sóciais. O salário-educação (art. 212, § 5º, da CF/88) é um exemplo de contribuição social geral.

(5.2) de intervenção no domínio econômico (CIDE), que tem como exemplo constitucionalmente previsto a denomina-da CIDE petróleo e combustíveis de que trata o art. 177,

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 12

12 De acordo com a jurisprudência fi xa-

da pelo STF os Municípios não podem

cobrar taxas de iluminação pública.

Vide Súmula nº 670: “O serviço de ilu-

minação pública não pode ser remune-

rado mediante taxa”.

§4º, da CR-88, além daquelas criadas por meio de lei com fundamento no art. 149 da CR-88; e

(5.3) de interesse das categorias profi ssionais e econômicas. São exemplos dessa modalidade as contribuições destinadas às entidades privadas de serviços sociais autônomos e de for-mação profi ssional, vinculadas ao sistema sindical (SESC, SENAI, SENAC, SEBRAE), conforme preconiza o artigo 240 da Constituição, etc.

Saliente-se que após as referidas manifestações da Suprema Corte, foi in-troduzido o artigo 149-A à CR-88, pela Emenda Constitucional 39/2002, dispositivo que atribuiu competência aos Municípios para instituírem a de-nominada contribuição de iluminação pública12.

Dessa forma, atualmente, de acordo com o entendimento fi xado pelo Su-premo, seriam seis espécies tributárias no nosso sistema, as quais serão ob-jeto de estudo no curso.

Assim, o tributo é, ao mesmo tempo, gênero com seis espécies, e, também, espécie de receita pública, ao lado das receitas originárias e daquelas prove-nientes da aplicação de multas pecuniárias.

Por todo o exposto até o momento, constata-se que, diferentemente da relação jurídica-fi nanceira que se estabelece em razão de manifestação de vontade do particular, decorrente da autonomia individual, ou do dever de pagar a multa decorrente do descumprimento de norma de caráter penal, civil, administrativa ou fi scal, a relação jurídica-tributária decorre da simples realização, pelo sujeito passivo da obrigação, de ato, fato ou negócio jurídico no mundo dos fatos, que se enquadre em hipótese de incidência de tributo genérica e abstratamente prevista em lei do ente político competente para instituí-lo.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 13

13 O princípio Republicano suscita o

ideário da limitação, temporariedade e

exercício responsável do poder. Diferen-

cia-se, dessa forma, da Monarquia, que

se caracteriza por ser forma de governo

hereditário. Vide artigo 2º dos Atos das

Disposições Constitucionais Transitórias

(ADCT) acerca do plebiscito realizado

em 07 de setembro de 1993, por meio

do qual foi decidida a não adoção da

Monarquia como forma de governo

para a República Federativa o Brasil e

bem assim a manutenção do sistema

de governo Presidencialista.

14 Os termos “a República Federativa do

Brasil”, “a Federação”, “o Estado Federal”

ou “Estado Federado” tem o mesmo

signifi cado e serão utilizados indistin-

tamente.

15 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Es-

tado Federal e Estados Federados na

Constituição brasileira de 1988: do

equilíbrio federativo. BDA – Boletim de Direito Administrativo. 1993. p.

290-310.

16 PRUD´HOMME, Rémy e SHAH, Anwar.

Centralização versus descentralização:

o diabo está nos detalhes. In: REZENDE,

Fernando e OLIVEIRA, Fabrício Augusto

de (Organizadores). Federalismo e Intergração Econômica Regional – Desafi os para o Mercosul. Fórum das

Federações. Konrad Adenauer Stiftung.

2004. p. 63-99.

IV. BLOCO I — A TRIBUTAÇÃO E A FEDERAÇÃO NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

A parte escrita deste Bloco I subdivide-se em dois segmentos.No primeiro, intitulado “Contextualização do tema”, apresenta-se o ma-

terial de leitura prévia de todo o segmento, objetivando-se facilitar a compre-ensão do que se deseja, uma verdadeira pré-compreensão dos temas a serem abordados em sala.

A segunda parte, denominada “As decisões a serem examinadas em sala”, orienta o estudo do que será examinado em cada uma das 3 aulas que com-preende o presente Bloco I, contendo os casos e decisões que serão estudados em sala, a partir das pesquisas realizadas no sítio do Supremo Tribunal Federal.

A. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

1) Federalismo

O princípio Federativo é um dos pilares fundamentais ao delineamen-to do perfi l institucional pátrio, ao lado do princípio Republicano13 e bem assim do caráter Democrático do Estado de Direito brasileiro, no qual a soberania popular pressupõe que governantes e governados sejam submetidos à mesma lei editada pelos representantes do povo, consoante o disposto no parágrafo único do art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88).

Na história recente o Estado Federal14 tornou-se o modelo que melhor se associa à organização do Estado Democrático, haja vista ser um sistema fl exível e efi ciente para evitar o excesso de concentração do poder estatal e os riscos de abusos. Assim, na linha de intelecção do ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Mário da Silva Velloso15, o Federalismo consubstan-cia uma forma de distribuição espacial de poder:

o Estado Federal é na verdade, forma de descentralização do poder, de descentralização geográfi ca do poder do Estado. Constitui técnica de governo, mas presta obséquio, também à liberdade, pois toda a vez que o poder centraliza-se num órgão ou numa pessoa tende a tornar-se arbitrário. (grifo não existente no original)

A doutrina estrangeira16, fugindo da dicotomia simplista de escolha entre maior centralização ou não, também destaca o papel fundamental que o Fe-deralismo desempenha para evitar o arbítrio e propiciar ambiente econômico efi ciente:

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 14

17 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional Financeiro e Tributário. Volume I. Constituição Financeira, Sistema Tributário e Es-tado Fiscal. Rio de Janeiro: Renovar,

2009. p. 82 e 90-91.

18 HORTA, Raul Machado. Reconstrução

do federalismo brasileiro. Revista de Direito Público. nº 64, p. 15-29, 1982.

Aponta o autor que o Estado Federal

possui estrutura complexa, no qual “a

dualidade estatal projeta-se na plu-

ralidade dos ordenamentos jurídicos

dentro da concepção tridimensional

dos entes federativos: a comunidade

jurídica total – o Estado federal -, a

federação, uma comunidade jurídica

central, e os Estados-Membros, que são

comunidades jurídicas parciais.”

O segundo motivo porque um debate entre prós e os contra seria estéril é que a descentralização tem sido um imperativo político. Na maioria dos países, ela teve motivação política. Um país descentrali-zado tem menor probabilidade de se tornar uma ditadura do que um centralizado. Essa é a justifi cativa principal para a descentralização. É um motivo muito forte. E que tem implicações econômicas, porque um pouco de estabilidade política é, com efeito, um pré-requisito para a efi ciência, a estabilização e redistribuição econômicas. (grifo não existente no original)

No entanto, apesar da concentração absoluta de poder ser um mal que se objetiva combater, os riscos do excesso de descentralização também têm sido identifi cados há algum tempo por muitos estudiosos, mesmo por parte dos simpatizantes da Federação como forma de Estado. Com efeito, o próprio Rui Barbosa, que havia sido grande defensor de um federalismo extremado como forma de superação revolucionária do Estado Unitário no Brasil (ado-tado na Constituição do Império de 1824), posto ser a centralização absoluta “incompatível com o liberalismo fi nanceiro em país de dimensão continen-tal”, alertava para o lado negativo dos excessos cometidos posteriormente, conforme leciona Ricardo Lobo Torres17:

A discriminação de rendas da Constituição de 1891 e a voracidade dos Estados em busca da ampliação de suas fontes mereciam críticas constantes [de Rui]: ‘Aqui, pelo contrário, tudo que os Estados são, devem-no à revolução de 1889 e à Constituição de 1891. Eram provín-cias centralizadas: elevaram-se a Estados autônomos. Vegetavam à custa das sobras da matéria tributável reservadas nas suas fontes principais ao orçamento geral: hoje dominam independentemente, pela Constitui-ção republicana, um vasto campo tributário. E não lhes basta’. (...)

Essa dicotomia entre os objetivos de pulverização de poder para evitar o arbítrio e a corrupção e, ao mesmo tempo, a busca pela harmonia e coorde-nação das políticas públicas nacionais, favorece amplamente a adoção de um modelo federativo de equilíbrio ou de conciliação, o que representa uma das vantagens dessa forma de organização estatal. De fato, o modelo de federa-lismo político implementado em cada país, o qual é determinante para o sistema de federalismo fi scal adotado, se realiza sob a constante tensão en-tre o imperativo da unidade que congrega e une a nação de um lado com a necessidade de autonomia das partes que compõem o todo íntegro de outro lado. De fato, a Federação é, ao mesmo tempo, conforme ensina Raul Machado Horta,18 um só Estado, fator de diferenciação da Confederação de

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 15

19 O artigo 1º da CR-88 adota a forma

federativa de Estado, ao dispor sobre a

“República Federativa do Brasil”, o que

é complementado, entre outros dispo-

sitivos, pelo art. 18, que estabelece a

autonomia da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, nos

termos da Constituição, e pelo artigo

60, §4º, I, que impede “a deliberação de

proposta de emenda tendente a abolir

a forma federativa de Estado”.

20 MIRANDA, Jorge. Manual de Direito Constitucional. 3. ed. Coimbra: Coim-

bra Editora, 1985, t. III. p. 268. Explica o

autor luso: “O Estado Federal tem como

núcleo uma estrutura de sobreposição,

a qual recobre os poderes políticos lo-

cais (dos Estados-membros), de modo

a cada cidadão fi car simultaneamente

sujeito a duas constituições (....).”

21 DA SILVA, José Afonso. Curso de Direito Constitucional Positivo. 17ª

edição. São Paulo: Malheiros, 2000. p.

103: Aponta o professor que “a federa-

ção consiste na união de coletividades

regionais autônomas que a doutrina

chama de Estados federados, Estados-

-membros ou simplesmente Estados”.

22 Vide, em especial, os artigos 21, 22,

23, 24, 25 e 30 da CR-88.

23 Esse dispositivo constitucional (art.

24, §1º) parece se dirigir (“limitar-

-se-á a estabelecer normas gerais”)

exclusivamente à função coordenadora

da União, tendo em vista que a mesma

União, como pessoa jurídica de direito

público interno, no exercício de suas

funções como ente político autôno-

mo, nos termos do art. 18 da CR-88,

também expede normas específi cas

de caráter exclusivamente federal no

bojo da competência concorrente,

dentro dos limites constitucionais es-

tabelecidos, inclusive no que pertine à

matéria fi nanceira e tributária. Dessa

forma, pode-se distinguir a legislação

expedida pela União em pelo menos

duas modalidades, as leis de caráter

nacional, posto vincularem a atividade

legislativa dos entes políticos, e as leis

de natureza eminentemente federal.

A União pode expedir normas, por

exemplo, de direito fi nanceiro e de

direito tributário concernentes à sua

atividade fi nanceira específi ca, inde-

pendentemente da edição das normas

gerais referidas no citado §1º do artigo

24 da CR-88.

24 NETTO, André Luiz Borges. Normas

Gerais e competência concorrente –

Uma exegese do art. 24 da Constituição

Federal, p. 179.

25 ATAILIBA, Geraldo. Normas gerais de

direito fi nanceiro e tributário e auto-

nomia dos Estados e municípios. RDP.

v. 10. p. 49.

Estados, e, também, “uma pluralidade de Estados vinculados pelo laço fede-rativo, e nisso se diferencia do Estado Unitário”.

No caso brasileiro, a atual Constituição de 1988 consagra a sua forma de Estado já no seu mencionado artigo 1º,19 ou seja, qualifi ca a República como federativa, o que caracteriza o Brasil como uma Federação. Assim sendo, ao contrário do Estado unitário, em nosso país é adotado um sistema de organização político-institucional de sobreposição,20 no qual coexistem e se coordenam múltiplas ordens jurídicas distintas que incidem sobre o mesmo território21, com funções previamente traçadas pelo sistema de repartição de competências constitucionais,22 o qual é ínsito a esta forma de Estado.

À União, aos Estados, ao Distrito Federal compete legislar concorrente-mente sobre Direito Financeiro e Tributário, nos termos do artigo 24, inciso I, da CRFB/88. O âmbito da competência da União,23 como ente político de coordenação, é limitado à edição de normas gerais, conferindo a Constituição (§1º do art. 24), ao mesmo tempo, competência suplementar aos Estados.

Sobre o tema, André Luiz Borges Netto24 enfatiza a importância da distin-ção entre as normas gerais e específi cas expedidas pela mesma União, refl exo das múltiplas funções desse ente central da Federação, ao destacar:

(...) as normas gerais a que buscamos um conceito constituem-se em típico exemplo de leis nacionais, pois não se tratam de comandos nor-mativos simplesmente referentes à União ou disciplinadores de relações dessa pessoa política com jurisdicionados e administrados seus, mas sim de normas que têm aplicação à totalidade do Estado Federal, sem exclusão de nenhuma parcela do território pátrio. Não se esqueça, po-rém, que a União, no âmbito da competência legislativa concorrente, além de editar normas gerais como produto legislativo do Estado na-cional, também edita normas especifi cas, descendo a pormenores de para tratar de assuntos relacionados à administração federal (serviços e agentes federais), vinculando somente a conduta daqueles que se sub-metem às regras do Governo Federal.

A existência de leis editadas pelo Congresso Nacional com característi-cas distintas, algumas de caráter exclusivamente federal, as quais vinculam apenas os seus jurisdicionados e administrados, e outras de âmbito nacional, disciplinadoras da atuação de todos os entes políticos autônomos, inclusive da própria União como pessoa jurídica de direito público interno, confere maior complexidade ao sistema, conforme adverte Geraldo Ataliba25:

as difi culdades para o estabelecimento da distinção entre leis federais e leis nacionais decorrem da origem comum, porque ambas são leis editadas pela União.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 16

26 No âmbito do Direito Constitucional

a competência comum se refere às

atribuições de natureza administrati-

va de que trata o art. 23 da CRFB/88,

ao lado da competência exclusiva

(enumerada, no art. 21 da CRFB/88,

e remanscente, de que trata o art. 25,

§1ºda CRFB/88), decorrente (que está

implícita na CRFB/88) e originária (art.

30da CRFB/88) dos Municípios. Por ou-

tro lado, as competências legislativas

são classifi cadas em: privativa (art. 22

da CRFB/88); concorrente (art. 24 da

CRFB/88), suplementar (art. 24, §§1º

a 4º da CRFB/88); delegada (art. 22,

parágrafo único, e 23, parágrafo único,

da CRFB/88) e originária (art. 30 da

CRFB/88).

27 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11 ed. rev. e atual. São Pau-

lo: Editora Saraiva, 2005, p.95.

28 CARRIÓ, Genaro A. Notas sobre Derecho y Language. Buenos Aires:

Abeledo-Perrot, 1973, p. 72.

Corolário da autonomia federativa estampada nos artigos 1º, 18 e 60, §4º, I, da CRFB/88, o Município, além de instituir e arrecadar os seus tributos (art. 30, III, da CRFB/88), também tem a atribuição de suplementar a legis-lação federal e estadual (artigo 30, II, da CRFB/88) no que couber.

Essa prerrogativa para legislar sobre Direito Tributário conferida aos entes políticos constitui uma competência genérica para disciplinar os múltiplos aspectos das relações jurídicas tributárias por meio de leis dos seus respectivos parlamentos. É a denominada competência concorrente dos entes políticos para editar normas objetivando disciplinar a tributação.

Por sua vez, a competência tributária consubstancia a atribuição cons-titucionalmente conferida ao ente político para instituir e disciplinar os tri-butos específi cos de sua competência, também por meio de lei editada por seu Poder Legislativo. Nesse sentido, a chamada competência tributária comum26, nomenclatura utilizada no campo tributário para designar a com-petência tributária concorrente, ocorre na hipótese em que a Constituição confere a mais de um ente federado a prerrogativa de instituir determinado tributo de acordo com a sua competência administrativa, como ocorre nos casos (1) das taxas (art. 145, II, da CRFB/88); (2) das contribuições de me-lhoria (art. 145, III, da CRFB/88) e (3) das contribuições previdenciárias sobre os seus servidores (art. 149 caput e §1º da CRFB/88).

Assim sendo, não se deve confundir a competência concorrente para legislar sobre Direito Tributário (art. 24, I, e 30, I, da CRFB/88) com a competência tributária concorrente ou comum (art. 145, II, III e 149 ca-put e §1º da CRFB/88). A competência tributária, atribuição de natureza política que também se vincula à função legislativa, representa a prerrogativa constitucionalmente conferida aos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) para instituir e disciplinar os respectivos tributos, por meio de seu Poder Legislativo, no âmbito, limites e contornos de seu poder de tributar. Cabe, ainda, salientar que a competência, em seu sentido amplo, abarca também a capacidade tributária ativa, uma vez que o Ente competente para instituir e disciplinar a exação tem, igualmente, a prerrogativa de execu-tar as leis, serviços, atos ou decisões administrativas relativas aos tributos a ele atribuídos, inclusive no que se refere à cobrança, arrecadação e fi scalização.

A doutrina27 aponta, basicamente, três modalidades de competências tribu-tárias. Na realidade, a estratifi cação do instituto da competência em espécies ou modalidades visa, basicamente, facilitar o entendimento do tema, pois, na realidade, é sempre possível apontar imperfeições e novas perspectivas. Nessa toada, importante destacar que “as classifi cações não são certas ou erradas — são úteis ou inúteis, na medida em que servem para identifi car melhor o objeto de análise”, assevera Genaro A. Carrió28. Nesse contexto, vejamos as referidas modalidades apresentadas pela doutrina: 1) a competência comum, a qual, conforme já salientado, consubstancia a prerrogativa de todos os Entes Políti-

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 17

29 Nesses casos, de competência tri-butária comum, a defi nição do ente

político específi co que tem a atribuição

para instituir e disciplinar determinado

tributo em particular depende da com-petência material defi nida pela Cons-

tituição. A competência para instituir

e cobrar determinada taxa ou contri-

buição de melhoria depende de qual o

ente político com atribuição para a rea-

lização da obra pública ou para o exercí-

cio do poder de polícia ou da prestação

de serviço público específi co e divisível,

ou seja, a unidade federada que realiza

o serviço público e a obra será a titular

da exação. Nesses termos, somente

é possível determinar qual é o ente

competente para tributar nessas três

hipóteses após desvendar-se a quem a

Constituição conferiu a atribuição para

prestar o serviço público específi co,

exercer o poder de polícia, realizar a

obra pública ou, ainda, estabelecer a

qual ente político se vincula o servidor público cuja contribuição previdenciá-

ria se exige. Dessa forma, por exemplo,

a taxa de incêndio é de competência

dos Estados enquanto a taxa de lixo é

de titularidade dos Municípios, haja

vista as repectivas atribuições mate-

riais. Em suma, o ente político compe-

tente para instituir, cobrar e arrecadar

a taxa, a contribuição de melhoria e

a contribuição previdenciária sobre o

servidor público será aquela unidade

federada a qual se conecta a situação

ensejadora da tributação, podendo ser,

alternativamente, a União, o Estado, o

Distrito Federal ou o Município.

30 A competência privativa se desdobra

em ordinária e extraordinária, sendo

que esta somente a União possui, nos

termos do art. 154, II, da CRFB/88, que

assim dispõe: “Art. 154. A União poderá

instituir: II. na iminência ou no caso de

guerra externa, impostos extraordi-

nários, compreendidos ou não em sua

competência tributária,os quais serão

suprimidos, gradativamente, cessadas

as causas de sua criação”.

31 AMARO, Luciano. Direito Tributá-rio Brasileiro. 11 ed. rev. e atual. São

Paulo; Editora Saraiva, 2005, pp. 97-98.

32 CARVALHO, Paulo de Barros. Com-

petência Residual e Extraordinária. In:

MARTINS, Ives Gandra da Silva ( coor-

denador ). Curso de Direito Tributário.

10 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora

Saraiva, 2008, pp. 707-709.

cos instituírem tributos. Exemplos usualmente apontados quanto a esta atri-buição são as taxas, a contribuição de melhoria e as contribuições previdenci-árias cobradas dos respectivos servidores29; 2) a competência privativa30, por meio da qual apenas o Ente Político específi co possui a atribuição para criar determinado tributo: por exemplo, cabe à União criar o imposto sobre ex-portação (vide art. 153, II, da CRFB/88); cada Estados tem a prerrogativa de instituir o ITCMD (cf. art. 155, I, da CRFB/88), aos Municípios incumbe o dever institucional relativo ao IPTU (nos termos do art. 156, I, da CRFB/88); e 3) a competência residual, que é conferida à União para instituir outros impostos, além daqueles expressamente descriminados na Constituição.

Ensina Luciano Amaro31, no tocante à competência privativa da União, em sua vertente extraordinária, que “o critério de partilha de situações ma-teriais para a criação de impostos é afastado em caso de guerra ou sua imi-nência, pois, dada a excepcionalidade dessas situações, atribui-se à União competência para criar impostos extraordinários”. Ainda, segundo o autor, a Constituição de 1988, neste caso, permitiu à União instituir impostos cujas situações materiais estão fora da moldura de sua competência tributária; ou seja, a União para criar impostos extraordinários “não fi ca adstrita às situações materiais a ela normalmente atribuídas (nomeada ou residualmente), poden-do, além dessas, tributar aquelas inseridas, ordinariamente, na competência dos Estados ou dos Municípios (por exemplo, a circulação de mercadorias ou serviços de qualquer natureza)”.

Ainda, com relação à competência privativa extraordinária da União, per-tinente é a observação feita por Paulo de Barros Carvalho32: “(...) convém esclarecer, todavia, que por guerra externa haveremos de entender aquela de que participe o Brasil, diretamente, ou a situação de beligerância internacio-nal que provoque detrimentos ao equilíbrio econômico-social brasileiro”. Na linha de intelecção do mencionado autor, a União pode lançar mão da com-petência extraordinária, desde que cumpridos os requisitos esculpidos no art. 154, II, da CRFB/88, ou seja, em casos de guerra ou de sua iminência, nos quais o Brasil busca a defesa de seus interesses nacionais.

Apenas para fi ns didáticos, vejamos grafi camente as mencionadas classifi -cações:

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FGV DIREITO RIO 18

33 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Es-

tado Federal e Estados Federados na

Constituição brasileira de 1988: do

equilíbrio federativo. BDA – Boletim de Direito Administrativo. p. 49-50,

1993. O Ministro destaca a necessidade

de um sistema constitucional de discri-

minação de rendas, compreendendo a

repartição de competência tributária e

a distribuição de receita tributária.

34 TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Di-reito Financeiro e Tributário. 11 ed.

Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2004,

pp. 70-71.

Ao lado das receitas não tributárias e do sistema de partilha de re-cursos tributários, que formam o complexo mecanismo de fi nanciamento federado, o sistema constitucional de repartição de competências materiais e legislativas consubstancia o núcleo central do federalismo, pois delimita e confi gura o perfi l da autonomia constitucional de cada regime, sendo certo que o grau de independência fi nanceira das unidades subnacionais determina o grau de autonomia da Federação. De fato, inexistente aquela, não há que se falar em Federalismo, isto é, a autonomia fi nanceira é um dos elementos nucleares do regime, podendo, no entanto, efetivar-se de diversas formas e com diferentes níveis de descentralização, especialmente pelo fato de que os recursos fi nanceiros disponíveis para cada unidade federada realizar os seus gastos — e cumprir os encargos constitucionalmente designados — corres-ponde ao conjunto:

(1) do somatório das receitas obtidas por cada unidade política no exercício das respectivas competências tributárias33, das receitas de-correntes da exploração do seu patrimônio, da exploração de ati-vidades econômicas (comércio, agropecuária, indústria e serviços), das operações de crédito, da alienação de bens, do recebimento de amortização de empréstimos concedidos e ainda do superávit do orçamento corrente etc.; adicionado

(2) da parcela decorrente do sistema de repartição de receitas e de trans-ferências intergovernamentais na Federação, que podem ser volun-tárias ou obrigatórias.

2) Imunidade Recíproca

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu art. 150, inciso VI, alínea a, contempla a imunidade recíproca entre os Entes Políticos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), o que signifi ca di-zer que tais pessoas jurídicas de direito público não podem cobrar impostos sobre o patrimônio, a renda ou serviços uns dos outros. Por exemplo, a União não pode cobrar ITR de algum bem do Município localizado em área rural; o Município não pode cobrar IPTU de imóvel do Estado ou da União loca-lizado em sua jurisdição administrativa.

A imunidade recíproca é uma das modalidades subjetivas do instituto, isto é, ela decorre da especial condição das pessoas jurídicas de direito público, as quais encontram sua razão existencial no desempenho das funções essenciais do Estado.

Preleciona Ricardo Lobo Torres34 que o instituto da imunidade recíproca é uma construção jurisprudencial da Suprema Corte americana, tendo como

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FGV DIREITO RIO 19

35 TORRES ( 2004 ). p. 71.

36 A título de exemplo: a CRFB/88, em

seu art. 23, que trata da competência

comum da União, dos Estados, do DF,

e dos Municípios, proclama a respon-

sabilidade de todos os mencionados

Entes Políticos o cuidado com a saúde

e a assistência pública, da proteção e

garantia das pessoas portadoras de

defi ciência.

37 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 11 ed. São Paulo: Editora

Saraiva, 2005, pp. 153-154.

38 A regra da incidência dos tributos

indiretos comporta exceções, conforme

já se pronunciou o STF, por exemplo, no

julgado RE 242.827, no qual entendeu

que cabia a extensão da imunidade

recíproca para afastar a imposição

da cobrança de ICMS sobre atividade

agroindustrial realizada pelo INCRA.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE

n. 242.827-PE. Primeira Turma. Rela-

tor: Ministro Menezes Direito. Brasília,

02 de setembro de 2008. Disponível

em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso

em 16 de fevereiro de 2012. Dispõe a

ementa do acórdão: “Imunidade tribu-

tária. Exploração de unidade agroin-

dustrial. Ausência de confi guração de

atividade econômica capaz de impor o

regime tributário próprio das empre-

sas privadas. 1. A atividade exercida

pelo Incra, autarquia federal, não se

enquadra entre aquelas sujeitas ao

regime tributário próprio das empresas

privadas, considerando que a eventual

exploração de unidade agroindustrial,

desapropriada, em área de confl ito so-

cial, está no âmbito de sua destinação

social em setor relevante para a vida

nacional. 2. A imunidade tributária só

deixa de operar quando a natureza ju-

rídica da entidade estatal é de explora-

ção de atividade econômica. 3. Recurso

extraordinário conhecido e provido”.

39 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 20 ed. São Paulo:

Editora Saraiva, 2008, p.206.

40 COSTA, Regina Helena. Curso de Di-reito Tributário: Constituição e Código

Tributário Nacional. São Paulo: Editora

Saraiva, 2009, pp. 84-85. Para a autora

em tela, a imunidade recíproca esten-

de-se também aos impostos indiretos,

como é o caso do IPI e ICMS, com vistas

à proteção do patrimônio dos Entes

Políticos.

marco o caso McCulloch v. Maryland, em 1819, cujo relator foi o Ministro Marshall. Na ocasião, a referida Corte de Justiça decidiu que não poderia incidir impostos estaduais sobre instituição fi nanceira da União. Tal tese re-percutiu no Brasil, o que já se podia verifi car na Constituição de 1891, em especial pelas mãos de Rui Barbosa.

Segundo Ricardo Lobo Torres,35 a ratio essendi da imunidade recíproca é a liberdade, e explica:

Os Entes Políticos não são imunes por insufi ciência de capacida-de contributiva ou pela inutilidade das incidências mútuas, senão que gozam da proteção constitucional em homenagem aos direitos funda-mentais dos cidadãos, que seriam feridos com o enfraquecimento do federalismo e da separação vertical dos poderes do Estado. (grifo não existente no original)

Como se pode verifi car, o estudioso fundamenta a imunidade recíproca na proteção dos direitos humanos, o que não discrepa da sua concepção de imunidade. Ainda, vincula tais direitos ao federalismo, nossa forma de Esta-do, sustentada na separação de poderes, na repartição da carga tributária e das prestações de serviços públicos.36

Também Luciano Amaro37 fundamenta a imunidade recíproca na prote-ção do sistema federativo. Nesse sentido, sustenta que a norma imunizante alcança apenas “o patrimônio, a renda e os serviços dos entes da federação o que não impede a incidência de impostos indiretos, como o IPI e o ICMS”.38

Ainda, nessa linha de preleção, Paulo de Barros Carvalho39 sustenta que a imunidade recíproca, prevista no art. 150, inciso VI, alínea a, da Carta de 1988, é “uma decorrência pronta e imediata do postulado da isonomia dos entes constitucionais, sustentado pela estrutura federativa do Estado brasilei-ro e pela autonomia dos Municípios”.

Oportuno trazer também a contribuição de Regina Helena Costa40 sobre a imunidade recíproca, que fundamenta o instituto a partir de duas pers-pectivas: a uma, do princípio federativo (elencado no rol das denominadas cláusulas pétreas, art. 60, §4º, inciso I, da CRFB/88) e da autonomia dos Municípios; e, a duas, diferentemente da tese sustentada por Lobo Torres aci-ma referida, se justifi ca em razão da ausência da capacidade contributiva das pessoas políticas, porquanto seus recursos já estariam comprometidos com os serviços públicos que lhes são inerentes.

Saliente-se que a imunidade recíproca não abarca as hipóteses em que a exploração das atividades tem caráter econômico, consoante se extrai do art. 150, §3º, da Constituição de 1988, porquanto não se evidencia aí o funda-mento básico do instituto da imunidade, que é a garantia da efetiva prestação dos serviços públicos.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 20

41 CRETELLA JR., José. Administração indireta brasileira. Rio de Janeiro:

Editora Forense, 1980, p.139.

42 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direi-to Administrativo. 16 ed. São Paulo:

Editora Atlas, 2003, pp.366-367.

Conforme será examinado abaixo, o véu imunizatório recíproco encobre também as respectivas Autarquias e Fundações desses Entes, qualifi cando--se a hipótese, entretanto, como uma imunidade extensiva condicionada, na medida em que se restringe ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas fi nalidades essenciais ou às delas decorrentes, limitação inexistente em relação aos próprios entes políticos. Assim, caso a União, por exemplo, utilize um imóvel para o lazer dos seus servidores públicos, e não para a prestação dos serviços públicos diretamente aos cidadãos, ainda assim, persistirá a imu-nidade, ao contrário do que ocorre com as autarquias e fundações.

2.1 O véu da imunidade recíproca ou mútua sobre as Autarquias dos Entes Políticos

Para que se possa melhor compreender a razão pela qual o legislador cons-tituinte estendeu a imunidade recíproca às autarquias e fundações dos Entes Políticos, nos termos do art. 150, §2º, da CRFB/88, cabe, ainda que de forma sucinta, examinar alguns aspectos dessas entidades da Administração Indireta (matéria afeta à disciplina de Direito Administrativo, porém conexa com o tema aqui abordado).

A estrutura administrativa do Estado é dividida em Administração Direta, e pelo critério da descentralização, em Administração Indireta, desta inte-gram as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mistas e outras empresas controladas.

Segundo lições de José Cretella Junior41 a expressão “autarquia” compre-ende duas palavras: autós (que signifi ca próprio) e arqui (traduzida nas ex-pressões comando, governo, direção). Tal expressão teria sua origem na Itália, utilizada por Santi Romano, em 1897, ocasião em que escreveu sobre o tema da descentralização administrativa. No Brasil, ensina Maria Sylvia Zanella di Pietro42, já existiam autarquias mesmo antes do desenvolvimento de seu conceito. O primeiro diploma legal a tratar do conceito desta entidade foi o Decreto-Lei n. 6.016/43, o qual a defi nia como “serviço estatal descentrali-zado, com personalidade de direito público, explícita ou implicitamente re-conhecida por lei”. Hoje o seu conceito legal está no Decreto-Lei n. 200/67, em seu art. 5º, inciso I, que dispõe, in verbis: “serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e fi nanceira descentralizada”.

Em síntese, as Autarquias são criadas por lei, nos termos do art. 37, XIX, da CRFB/88, com vistas a desempenhar atividades típicas de Estado, as quais a Administração Direta delega, dentro do processo de descentralização admi-nistrativa. Elas funcionam como um braço da Administração central, por isso detém as mesmas prerrogativas daquela, como, por exemplo: as imunidades

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FGV DIREITO RIO 21

tributárias (art. 150, §2º, da CRFB/88); o duplo grau de jurisdição (art. 475, do CPC); prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer (art. 188, do CPC); e foro privativo (art. 109, I, da CRFB/88).

Nesse cenário, a imunidade recíproca das Autarquias se justifi ca em razão de suas fi nalidades essenciais de interesse público.

2.2 A extensão da imunidade recíproca ou mútua sobre as Fundações Públicas dos Entes Políticos.

A base constitucional desta prerrogativa encontra-se também no art.150, §2º, da Carta de 1988.

Assim como as Autarquias, a criação das Fundações Públicas obedecem critérios fi nalísticos de interesse público, cuja atividade a ser desenvolvida depende uma série de fatores, os quais impõem certos atributos implicando a necessária criação de uma entidade específi ca. Ao contrário, no entanto, das Autarquias, que são criadas por lei, as Fundações são, a seu turno, autorizadas por lei específi ca, assim como o são as empresas públicas e as sociedades de economia mista, ex vi do artigo 37, XIX, da CRFB/88.

O Decreto-Lei n. 200/67, em seu art. 5º, inciso IV, defi ne as fundações públicas como pessoas jurídicas de direito privado sem fi ns lucrativos. O Có-digo Civil de 2002, por sua vez, em seu art.41, elenca as pessoas jurídicas de direito público interno, e não há previsão expressa da fi gura das fundações no referido rol, mas pode-se extraí-la do disposto no inciso V, do indigitado arti-go, que dispõe: “as demais entidades de caráter público criadas por lei”. Dito de outra forma: nada impede de o Poder Público, por meio de lei específi ca, dar personalidade jurídica de direito público a uma fundação pública, que, em regra, conforme expresso no Decreto-Lei 200/67, teria personalidade ju-rídica de direito privado.

Ressalte-se, entretanto, que a Constituição de 1988, em seu art. 150, §2º, quando estende às fundações o véu imunizante ela não faz distinção entre Fundação Pública com personalidade jurídica de direito público daquela de direito privado. A única exigência estabelecida é que o patrimônio, a renda e os serviços da entidade benefi ciada com a norma imunizatória estejam atre-lados às suas fi nalidades essenciais ou às delas decorrentes.

2.3 As empresas públicas e as sociedades de economia mista prestadoras de servi-ço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado e a imunidade recíproca.

Dispõe o §3º do art. 150 da CR-88 que a denominada imunidade recí-proca não se aplica ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com

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FGV DIREITO RIO 22

43 BRASIL. Supremo Tribunal Federal.

RE n. 407.099-RS. Segunda Turma.

Relator: Ministro Carlos Velloso. Bra-

sília, 22 de junho de 2004. Disponível

em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso

em 13 de fevereiro de 2012. Decisão:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRI-

BUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE

CORREIOS E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE

TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150,

VI, a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE

ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA

PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO

PÚBLICO: DISTINÇÃO. I. - As empresas

públicas prestadoras de serviço público

distinguem-se das que exercem ativi-

dade econômica. A Empresa Brasileira

de Correios e Telégrafos é prestadora

de serviço público de prestação obri-

gatória e exclusiva do Estado, motivo

por que está abrangida pela imunidade

tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a.

II. - R.E. conhecido em parte e, nessa

parte, provido”.

44 Dispõe o artigo 150, II, da CRFB/88:

“ Art. 150. Sem prejuízo de outras ga-

rantias asseguradas ao contribuinte,

é vedado à União, aos Estados, ao Dis-

trito Federal e aos Municípios: I- (...);

II-instituir tratamento desigual entre

contribuintes que se encontrem em si-

tuação equivalente, proibida qualquer

distinção em razão de ocupação pro-

fi ssional ou função por eles exercida,

independentemente da denominação

jurídica dos rendimentos, títulos ou

direitos;”.

exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a em-preendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obri-gação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel. Nessa linha, estabelece o § 1º do art. 173 da CR-88 que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, determinando que elas se sujeitam ao regime jurídi-co próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários. Na mesma toada, dispõe o § 2º do mesmo art. 173 que as empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fi scais não extensivos às do setor privado.

O STF, em sede de recurso extraordinário, RE n. 407.09943, se manifes-tou no sentido da possibilidade de extensão da imunidade recíproca quando as atividades daquelas pessoas jurídicas estiverem vinculadas à prestação de serviço público obrigatória e exclusiva do Poder Público, o que se diferen-cia, de acordo com a lógica do Supremo, daquelas que exploram atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário. Pode-se trazer como exemplos: a Empresa de Correios e Telégrafos, a ECT; e a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia — a CAERD.

3) Uniformidade Geográfica

O princípio da uniformidade geográfi ca da tributação federal está estam-pado no inciso I do artigo 151 da CRFB/88, segundo o qual é vedado à União “instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distri-to Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fi scais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País”.

Nesse sentido, a título ilustrativo, vale lembrar o caso do imposto incidente sobre a renda, tributo de competência da União cuja incidência e a carga tri-butária dos residentes e domiciliados nas regiões sul e sudeste do Brasil, como regra geral, deve ser a mesma daqueles contribuintes com idêntica capacidade econômica localizados na região norte, centro-oeste ou nordeste do país.

Sem dúvida, este princípio da uniformidade geográfi ca em relação aos tri-butos federais decorre da isonomia como igualdade formal, prevista expres-samente no artigo 150, II, da CRFB/8844, razão pela qual, a primeira vista, parece possível sustentar a dispensabiliade desta previsão constitucional adi-cional. No entanto, a parte fi nal do dispositivo apresenta importante ressalva,

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FGV DIREITO RIO 23

45 BRASIL. Poder Judiciário. Supremo

Tribunal Federal. RE nº 344.331/PR,

Primeira Turma. Rel. Min. Ellen Gracie.

Julgamento em 11.02.2003. Brasília.

Disponível em: <http://www.stf.jus.

br>. Acesso em 15.03.2011. Decisão

unânime.

46 Nesse sentido vide ADI 1634 e ADI

1276.

no sentido da possibilidade de a União adotar incentivos fi scais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferen-tes regiões do País, o que confere caráter interventivo na ordem econômica e social por meio da adoção de tratamento tributário diferenciado — uma das projeções da denominada extrafi scalidade, que adota como fundamento para o discrime dos tributos federais as distinções sociais e econômicas entre as diversas regiões do país. A aplicabilidade do princípio da igualdade material nesse caso, que autoriza o tratamento distintivo, se coaduna com os objetivos da República Federativa do Brasil fi xados no artigo 3º da CRFB/88, dentro dos quais se inclui aquele relacionado à redução das desigualdades sociais e regionais. Com esse objetivo, o constituinte originário, ao editar o artigo 40 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), manteve expressamente a Zona Franca de Manaus, com as suas características ante-riormente existentes de área de livre comércio, de exportação e importação, e de incentivos fi scais pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da Constituição. Posteriormente, o constituinte derivado, ao introduzir o art. 92 ao mesmo ADCT, pela Emenda Constitucional nº 42/2003, acresceu dez anos ao prazo fi xado no citado dispositivo do ADCT. Dessa forma, ressalvada a hipótese de edição de nova emenda constitucional, o tratamento tributário excepcional da Zona Franca de Manaus permanecerá até o ano de 2023.

Conforme se extrai da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, con-solidada no RE 344.331/PR45, observados e atendidos os requisitos formais à concessão do benefício e bem assim aos parâmetros da razoabilidade obje-tiva46, podem as autoridades públicas conceder isenções e tratamentos tribu-tários diferenciados, com fundamento no juízo — de conveniência e opor-tunidade — necessário à implementação das políticas econômicas e fi scais. Importante destacar que nessa decisão o STF fi xou entendimento no sentido de que não cabe ao Poder Judiciário estender isenção a contribuinte não contemplado pela lei, tampouco substituir o juízo de conveniência e oportu-nidade das autoridades públicas relativamente à implementação de políticas fi scais e econômicas, conforme revela a ementa do acórdão:

1. Incentivos fi scais concedidos de forma genérica, impessoal e com fundamento em lei específi ca. Atendimento dos requisitos for-mais para sua implementação. 2. A Constituição na parte fi nal do art. 151, I, admite a “concessão de incentivos fi scais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do país”. 3. A concessão de isenção é ato discricionário, por meio do qual o Poder Executivo, fundado em juízo de conveniência e oportunidade, implementa suas políticas fi scais e econômicas e, portanto, a análise de seu mérito escapa ao controle do Poder Judi-ciário. Precedentes: RE 149.659 e AI 138.344-AgR. 4. Não é possível

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FGV DIREITO RIO 24

ao Poder Judiciário estender isenção a contribuintes não contem-plados pela lei, a título de isonomia (RE 159.026). 5. Recurso extra-ordinário não conhecido. (grifo não existente no original)

3.1 Demais vedações específicas à União para proteção do Pacto Federativo

Além do supracitado mandamento constitucional, no sentido da adoção da uniformidade geográfi ca da tributação federal, o mesmo artigo 151 da CRFB/88 estabelece duas outras garantias visando a proteção do Pacto Fe-derativo.

No inciso II do dispositivo, o constituinte veda que a União tribute “a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fi xar para suas obrigações e para seus agentes”. Na mesma linha do que já foi exposto, em relação ao disposto no inciso I, a aplicação do princípio da isonomia também seria sufi ciente para extrair o tratamento tributário previsto no transcrito inciso II, na medida em que não é admissível que a União estabeleça tratamento diverso à renda auferida em razão da origem da dívida pública ou do ente político ao qual se vincula o servidor público.

Por sua vez, o disposto no inciso III do mesmo artigo 151, que proíbe à União “instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Dis-trito Federal ou dos Municípios”, pode ser melhor compreendido se exa-minado em contraposição ao regime jurídico-constitucional anterior. Nesse sentido, importante salientar o disposto no § 2º do art. 19 da Constituição de 1967, com a sua redação conferida pela Emenda Constitucional nº 1, de 17.10.1969, o qual estabelece in verbis:

a União, mediante lei complementar e atendendo a relevante interêsse social ou econômico nacional, poderá conceder isenções de impostos estaduais e municipais.(grifo nosso)

A doutrina qualifi ca essa situação autorizada pela Carta anterior como hipótese de isenção heterônoma, na medida em que o ato que concede o benefício não é do ente competente para exigir o tributo. Em sentido diverso, corolário do poder de tributar, as isenções concedidas pelo próprio ente cons-titucionalmente competente para instituir o tributo denomina-se de isenção autônoma (ou autonômica). Portanto, sob a égide da CF-67/69, permitia-se à União conceder isenções de impostos cuja competência não lhe pertencia, uma afronta à autonomia fi nanceira dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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FGV DIREITO RIO 25

47 Interessante observar que o consti-

tuinte originário submeteu a reavalia-

ção e a reconfi rmação, dos convênios

concessivos de benefícios e incentivos

relacionados ao antigo ICM, apenas

ao prazo de que trata o artigo. Nesse

sentido, parece ter dispensado que a

confi rmação se realizasse por meio de

ato legislativo no caso do ICMS, condi-

ção fi xada para a continuidade dos in-

centivos dos demais impostos aludidos

no §1º do artigo. De fato, não haveria

sentido explicitar a regra do imposto

estadual em dispositivo específi co caso

o regime jurídico pretendido fosse exa-

tamente o mesmo dos demais tributos,

em especial se for considerado que a

redação original do §6º do art. 150 da

CRFB/88, antes da edição da Emenda

Constitucional nº 03/93, não dispunha

sobre incentivos e benefícios nem alu-

dia à alínea “g” do inciso XII do §2º do

art. 155 da CR-88. Esse entendimento

reforça a interpretação no sentido de

que a exceção a que alude o citado

art. 150, §6º, da CRFB-88, com a sua

redação conferida pela EC nº 03/93,

relativamente ao ICMS, ao utilizar na

parte fi nal do dispositivo a expressão

“sem prejuízo do disposto no art. 155,

§2º, XII,”g”, excluiria a exigência de lei

em caráter formal nas hipóteses disci-

plinadas em lei complementar a que

a alude. Nesse sentido, conforme será

examinado no módulo pertinente aos

tributos incidentes sobre a produção

e circulação de bens e serviços, a Lei

Complementar nº 24/1975, norma ex-

pressamente recepcionada pelo art. 34,

§8º, do ADCT da atual Constituição, exi-

ge apenas a edição de convênio como

a forma de concessão de incentivos e

benefícios fi scais relacionados ao ICMS.

48 Redação atual do dispositivo confe-

rida pela Emenda Constitucional nº 37,

de 12/6/02.

Em sentido diametralmente oposto o transcrito inciso III do artigo 151 da CRFB/88, conforme já destacado, veda de forma absoluta a possibilidade de isenção heterônoma concedida pela União relativamente aos tributos dos entes políticos subnacionais. Em consonância com essa limitação ao Poder de Tributar da União, os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da atual Constituição, ratifi cando a preocupação do constituinte originário com a autonomia fi nanceira dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, consagrada, em especial, no art. 1º, 18 e 60, §4º, I, da CRFB-88, determina em seu art. 41:

Art. 41. Os Poderes Executivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios reavaliarão todos os incentivos fi scais de na-tureza setorial ora em vigor, propondo aos Poderes Legislativos respec-tivos as medidas cabíveis.

§ 1º — Considerar-se-ão revogados após dois anos, a partir da data da promulgação da Constituição, os incentivos que não forem confi r-mados por lei.

§ 2º — A revogação não prejudicará os direitos que já tiverem sido adquiridos, àquela data, em relação a incentivos concedidos sob condi-ção e com prazo certo.

§ 3º — Os incentivos concedidos por convênio entre Estados, cele-brados nos termos do art. 23, § 6º, da Constituição de 1967, com a re-dação da Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969, tam-bém deverão ser reavaliados e reconfi rmados nos prazos47 deste artigo.

Nesse sentido, a interpretação conjunta do disposto no inciso III do artigo 151 combinado com o disposto no artigo 40 do ADCT, ambos da CRFB/88, revela o objetivo do constituinte originário, no sentido de vedar a intromis-são da União na política tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, os quais devem suas prerrogativas impositivas e as suas políticas extrafi scais de forma autônoma. De fato, a previsão constitucional protege o pacto federativo, impedindo que ocorra indevida interferência na arrecada-ção dos entes subnacionais de forma a colocar em risco a autonomia consti-tucionalmente consagrada.

Em que pese o exposto, o próprio constituinte originário previu duas ex-ceções em que o Congresso Nacional, por meio de lei complementar, exclui-ria a incidência de impostos dos Estados e dos Municípios. Dessa forma, ex-cepciona o princípio geral de que o Poder de Não Tributar deve ser exercido pelo mesmo ente político competente para instituir e exigir o tributo.

O art. 156, § 3º, II, da CRFB/8848 prevê que Lei Complementar expedi-da pelo Poder Legislativo federal excluirá as “exportações de serviços para o exterior” da incidência do Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS).

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FGV DIREITO RIO 26

49 BRASIL. Poder Judiciário. Supremo

Tribunal Federal. ADI 1600/UF, Tribu-

nal Pleno, Rel. Min. Sydney Sanches.

Julgamento em 26.11.2001. Brasília.

Disponível em: <http://www.stf.jus.

br>. Acesso em 09.02.2011. Decisão

por maioria de votos. Conforme se

constata na ementa do acórdão o STF

também considerou inválida a exigên-

cia na hipótese de transporte aéreo

internacional de cargas.

Nos mesmos termos, em relação ao ICMS estadual, a alínea “e” do inciso XII do § 2º do artigo 155 da CRFB/88, com a sua redação conferida pelo constituinte originário, estabelece que cabe à Lei Complementar a ser editada pelo Congresso Nacional afastar a incidência do imposto estadual na hipóte-se de exportação, nos seguintes termos:

e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso X, “a”;

Esse dispositivo fazia sentido se considerada a redação original da alínea “a” do inciso X do § 2º do artigo 155, o qual estabelecia que não incidiria o imposto estadual “sobre operações que dest inem ao exterior produtos indus-trializados, excluídos os semi-elaborados defi nidos em lei complementar”. Entretanto, a Emenda Constitucional nº 42, de 19/12/2003, ao conferir nova redação à citada alínea “a” determinou que o ICMS não incidirá:

a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a ma-nutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores;

Dessa forma, tendo em vista a ampliação do campo da não incidência constitucional a partir de 2003, o disposto na citada alínea “e” do inciso XII do § 2º do artigo 155, nos termos fi xados pelo constituinte originário, parece ter perdido o seu fundamento ou razão de existir.

Além dessas duas exceções previstas expressamente na própria Constitui-ção, a jurisprudência recente do Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido no sentido de que as isenções previstas em tratados internacionais não se sub-metem à citada limitação constitucional à concessão de isenção heterônoma. Nesse sentido, o STF, na ADI 1600,49 considerou que o âmbito de aplicação do citado artigo 151 da CRFB//88 é o das relações das entidades federadas entre si, o que não alcançaria as normas editadas pela União como presen-tante da República Federativa na ordem externa, conforme revela ementa da decisão:

Constitucional.Tributário. Lei Complementar 87/96. ICMS e sua instituição. arts. 150, II; 155, § 2º, VII ‘a’, e inciso VIII, cf. Conceitos de passageiro e de destinatário do serviço. Fato gerador. ocorrência. Alíquotas para operações interestaduais e para as operações internas. Inaplicabilidade da fórmula constitucional de partição da receita do ICMS entre os estados. Omissão quanto a elementos necessários à ins-tituição do ICMS sobre navegação aérea. Operações de tráfego aéreo

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FGV DIREITO RIO 27

50 XAVIER, Alberto. Direito Tributário Internacional do Brasil, Forense, 6ª

edição, 2004, p. 106-107. Por esse mo-

tivo, conforme será examinado nas au-

las pertinentes ao ICMS, não é possível

a analogia entre a ratifi cação dos atos

internacionais com aquela referida na

Lei Complementar nº 24/75, que dis-

ciplina a concessão de incentivos e be-

nefícios do ICMS por meio de convênio.

internacional. Transporte aéreo internacional de cargas. tributação das empresas nacionais. quanto às empresas estrangeiras, valem os acordos internacionais — reciprocidade. Viagens nacional ou internacional — diferença de tratamento. ausência de normas de solução de confl itos de competência entre as unidades federadas. Âmbito de aplicação do art. 151, cf é o das relações das entidades federadas entre si. Não tem por objeto a União quando esta se apresenta na ordem externa. Não incidência sobre a prestação de serviços de transporte aéreo, de passa-geiros — intermunicipal, interestadual e internacional. Inconstitucio-nalidade da exigência do ICMS na prestação de serviços de transporte aéreo internacional de cargas pelas empresas aéreas nacionais, enquanto persistirem os convênios de isenção de empresas estrangeiras. ação jul-gada, parcialmente procedente.

De fato, nos termos do art. 21, I, da CRFB/88 compete à União manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais. Ao Presidente da República foi atribuída a prerrogativa de manter relações com os Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos (art. 84, VII) e bem assim celebrar tratados, convenções e atos internacionais (art. 84, VIII) em nome da República Federativa do Brasil, isto é, do Estado Fe-deral. Esses atos estão sujeitos a referendo do Congresso Nacional, o qual é realizado com fundamento no art. 84, VIII combinado com o art. 49, I, da Constituição, dispositivo que estabelece competência exclusiva do Congresso Nacional para resolver defi nitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter-nacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, o que se realiza, conforme já salientado, por meio de decreto legis-lativo. Uma vez referendado o tratado ou o acordo internacional pelo ato do parlamento (decreto legislativo), o Chefe do Poder Executivo da União, com base no artigo 84, IV, da CRFB-88, edita decreto para ratifi car e internalizar a disciplina jurídica fi xada nos termos dos atos internacionais. Alberto Xa-vier50 ensina que a ratifi cação expressa neste caso é ato de vontade unilateral indispensável, sendo inadmissível a ratifi cação tácita:

ato unilateral pelo qual o Presidente da República, devidamente autori-zado pelo Congresso Nacional, confi rma um tratado e declara que este deverá produzir os seus devidos efeitos. Constitui pois o ato unilateral com que o sujeito de direito internacional, signatário de um tratado, exprime defi nitivamente, no plano internacional, sua vontade de obri-gar-se. Caracterizado pela liberdade que o Poder Executivo tem quanto à opção de praticá-lo ou não, o ato de ratifi cação deve ser expresso e tem caráter formal, tomando a forma externa de instrumento de rati-

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 28

51 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 16 ed. São Paulo: Editora

Saraiva, 2010, pp. 202-212.

52 BRASIL. Poder Judiciário. Supremo

Tribunal Federal. RE 229.096-RS, Tri-

bunal Pleno, Rel. Min. Ilmar Galvão.

Julgamento em 16.08.2007. Brasília.

Disponível em: <http://www.stf.jus.

br>. Acesso em 01.03.2011. Decisão

unânime.

fi cação, assinado pelo Presidente da República e referendado pelo Mi-nistro das Relações Exteriores

O Código Tributário Nacional (Lei nº 5172/66) inclui os tratados e as convenções internacionais no âmbito da denominada legislação tributária, o que pode suscitar dúvidas quanto à efi cácia da norma impositiva interna antecedente ou superveniente à edição do ato internacional. Isso ocorre por-que o ato internacional não cria tributo nem impõe obrigação adicional além daquela já fi xada internamente, tendo em vista que o seu objetivo precípuo, ao lado da disciplina das trocas de informações e de solução de disputas e controvérsia entre os Fiscos e os contribuintes de países signatários diversos, é evitar a dupla ou a múltipla tributação. A minimização da possibilidade de várias incidências sobre o mesmo fato econômico envolvendo mais de uma jurisdição fi scal em âmbito internacional pode ser operacionalizada por meio de diversos mecanismos, tais como a isenção, a concessão de deduções ou o crédito pelo imposto pago no outro país signatário do acordo e etc.

O tributarista Luciano Amaro,51 utilizando os critérios clássicos de solução de antinomias (temporariedade, hierarquia e especialidade), sustenta interes-sante tese sobre a solução de possível confl ito entre os tratados e as normas internas dos países signatários. Considerando que, em regra, a sua disciplina é específi ca relativamente à matéria a que alude, seria a norma convencional sempre aplicável. Dito de outra forma, face o critério da especialidade, a dis-cplina fi xada no tratado prevalece, seja este anterior ou posterior à lei, tendo em vista o seu caráter e natureza especial.

No entanto, o critério da especialidade não parece ser sufi ciente para solu-cionar o possível confl ito na hipótese em que uma lei interna posterior trate expressamente de forma diversa a mesma situação disciplinada no tratado. Isto é, se for editada uma lei interna específi ca, após o início da produção dos efeitos do tratado, dispondo sobre a mesma matéria em termos distintos ou opostos, os critérios clássicos de resolução de antinomias indicam no sentido da prevalência da lei interna superveniente, o que implicaria descumprimen-to do acordo internacional, pelo menos no âmbito externo.

Nesse contexto, importante apresentar o artigo 98 do CTN, o qual esta-belece verbis:

Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou mo-difi cam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha.

A interpretação desse dispositivo do CTN é objeto de muita controvérsia na doutrina e na jurisprudência, havendo, entretanto, decisão do Supremo Tribunal Federal em recurso extraordinário52, no sentido de que “o artigo 98

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 29

53 ADAMS, Charles. For good and evil: the impact of taxes on the course of civilization. 2nd ed. United States: Ma-

dison Books, 2001. p. 164.

54 ADAMS. Op. Cit. p. 164.

do Código Tributário Nacional possui caráter nacional, com efi cácia para a União, os Estados e os Municípios”. Nesse sentido, o STF consagra que o monopólio da personalidade internacional é do Estado Federal, expressão institucional da comunidade ju rídica total, que não se confunde com a União como ente político autônomo e pessoa jurídica de direito público interno.

4) Não discriminação: Origem/Destino

A origem histórica do princípio da não discriminação em razão da pro-cedência ou destino é remota, pois já na Carta Magna inglesa de 1215, mo-mento em que a legalidade ascendeu como princípio norteador das relações tributárias, impondo ao Rei João-sem-Terra o dever de observar limites para a criação de tributos, também se extrai o princípio da livre circulação das mercadorias, conforme revela Charles Adams53 ao transcrever a previsão:

Let all merchants have safety and security to go out of England, to come into England, and to remain in and go about through England, as well by land as by water, for the purpose of buying and selling, wi-thout payment of any evil or injust tolls, on payment of ancient and just customs.

Conforme aponta o mesmo autor54, referida normativa foi seguida pelos Estados Unidos e Canadá:

(…) the United States and Canadian constitutions adopted this princi-ple of internal free trade. Commerce moving within the nation cannot be taxed. Freedom to travel in and out the country cannot be curtailed. Th e Russians fi nd diffi cult to understand why the West emphasizes this basic human right. Magna Carta is the source.

No caso brasileiro atual, o artigo 152 da CRFB/88 consagra o princípio da uniformidade da tributação estadual e municipal, independentemente da procedência ou destino de bens ou serviços, nos seguintes termos:

Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municí-pios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino.

Conforme se constata pela leitura do dispositivo, o comando se aplica exclusivamente aos entes políticos subnacionais, razão pela qual os Estados, Distrito Federal e Municípios não podem utilizar como critério de descrime

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 30

55 A doutrina em geral apresenta o

disposto no artigo 155, §2º, incisos

IV e VIII da CRFB/88, dispositivos que

estabelecem diferenças entre as alí-

quotas do ICMS incidentes sobre ope-

rações internas e interestaduais, como

um exemplo de exceção à vedação de

tratamento tributário diferenciado.

Conforme será examinado nas aulas

pertinentes ao ICMS, a aplicação de

alíquotas diferenciadas serve ape-

nas como mecanismo escolhido pelo

constituinte para alocar maio parcela

de receita do imposto nas operações e

prestações interestaduais aos Estados

localizados nas Regiões Norte, Nordes-

te e Centro-oeste e o Espírito Santo.

Ainda, as alíquotas são fi xadas pelo

Senado da República, razão pela qual a

diferenciação foge à decisão unilateral

dos entes políticos subnacionais.

56 DJ 07/12/1990 p. 14682; REPDJ

13/12/1990 p. 15022; RSTJ vol. 16 p.

515; RT vol. 662 p. 167.

57 DJ 04/02/1993 p. 775; RSSTJ vol. 5

p. 101; RSTJ vol. 44 p. 323; RT vol. 696

p. 212.

58 BRASIL. Poder Judiciário. Superior Tri-

bunal de Justiça. Resp nº 615.447-PE,

Segunda Turma, Rel. Min. Castro meira.

Julgamento em 20.11.2007. Brasília.

Disponível em: <http://www.stj.jus.

br>. Acesso em 16.02.2012. Decisão

unânime.

a origem ou destino de bens e serviços para conferir tratamento tributário distinto55. O princípio protege o pa cto federativo na medida em que afasta possível discriminação entre os entes políticos subnacionais.

Em sentido diverso, conforme já examinado, o constituinte estabeleceu a possibilidade da União conferir tratamento tributário distinto entre os dife-rentes Estados, haja vista a possibilidade de conceder “incentivos fi scais des-tinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País”, objetivando alcançar os fi ns traçados no artigo 3º da CRFB/88.

Assim sendo, se por um lado a União pode estabelecer como critério dis-tintivo as diferentes regiões do país para excepcionar a regra geral de tribu-tação no âmbito de sua competência, objetivando o equilíbrio federativo, o constituinte vedou expressamente a adoção de distinções por parte dos entes políticos subnacionais em razão da procedência ou destino de bens e serviços, objetivando proteger o pacto federativo.

Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, essa limitação ao po-der de tributar imposta aos Estados, do Distrito Federal e Municípios não se aplica somente ao plano interno, isto é, a uniformidade da tributação estadual e municipal se aplica, também, no plano internacional, ou seja, independen-temente da procedência ou destino de bens ou serviços ser local (nacional) ou estrangeiro. O princípio tem como objetivo impossibilitar vantagem ou des-vantagem econômica comparativa em razão de tratamento tributário distinto.

A cláusula de tratamento nacional prevista no Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio — GATT, do qual o Brasil é signatário, estabelece a equivalência de tratamento tributário entre a mercadoria e o produto importado, a partir do momento em que ingressa no território nacional, e o similar nacional. Nesse sentido estabelecem a Súmula 2056 e 7157 do Superior Tribunal de Justiça:

Súmula nº 20 A mercadoria importada de Pais signatário do GATT é isenta do ICM, quando contemplado com esse favor o similar nacional.

Súmula nº 71 O bacalhau importado de pais signatário do GATT é isento do ICM.

Importante destacar que a equivalência em relação ao produto estrangei-ro continua a vigorar após a alteração do tratamento tributário conferido ao produto nacional. Nesse sentido, suprimida, por exemplo, a isenção do produto nacional o similar estrangeiro passa a ser normalmente tributado, conforme revela a ementa do RESP 61544758:

1. Na assentada de 24 de outubro de 2007, a Primeira Seção con-cluiu que as importações de bacalhau de país signatário do GATT so-

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 31

59 BRASIL. Poder Judiciário. Supremo

Tribunal Federal. RE 367785 AgR -RJ,

Segunda Turma, Rel. Min. Eros Grau.

Julgamento em 09.05.2006. Brasília.

Disponível em: <http://www.stf.jus.

br>. Acesso em 016.02.2012. Decisão

unânime.

60 Pesquisa realizada no seguinte ende-

reço eletrônico: <http://www.stf.jus.

br/portal/jurisprudencia/listarJuris-

prudencia.asp?s1=%28federalismo+

fi scal%29&base=baseAcordaos&url=

http://tinyurl.com/opag73t>. Acesso

em: 22.06.2014.

61 BRASIL. Supremo Tribunal Federal.

ADI 4167. Pleno. Relator: Ministro

Joaquim Barbosa. Brasília, 17 de

dezembro de 2008. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br>. Acesso em:

22 jun. 2014. Discute-se nos autos a

constitucionalidade do piso salarial

nacional dos professores públicos de

ensino fundamental. instituído pela

Lei federal 11.738/2008, matéria que

tem impacto direto sobre os gastos dos

estados e municípios, não havendo, en-

tretanto, discussão acerca da incidên-

cia dos tributos, apesar de a questão

envolver a discussão da vinculação de

receita de tributos dos entes políticos

subnacionais.

mente estiveram desoneradas do ICMS até 30 de abril de 1999, data em que expiraram as regras do Convênio 60/91 (REsp 302.190/RJ).

2. Por conseqüência, a Súmula 71/STJ aplica-se às importações rea-lizadas até 30 de abril de 1999, enquanto vigoraram as regras do Con-vênio 60/91.

3. No caso, estão isentas do ICMS as importações de bacalhau re-alizadas pela impetrante até 30 de abril de 1999, sob a vigência do Convênio 60/91, mas não aquelas que se consumaram a partir de 1º de maio de 1999, que deverão ser tributadas pelo imposto.

4. Recurso especial provido em parte.

No mesmo sentido é a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal es-tampada na Súmula 575, que dispõe verbis:

Súmula nº 575 À mercadoria importada de país signatário do (GATT), ou membro da (ALALC), estende-se a isenção do imposto de circulação de mercadorias concedida a similar nacional.

Por fi m, importante destacar que o STF considerou inconstitucional o artigo 5º da Lei nº 948/1985 do Estado do Rio de Janeiro, norma que esta-belecia alíquotas diferenciadas para veículos importados e nacionais, confor-me se constata pela leitura da ementa do acórdão no Agravo Regimental no Recurso Extraordinário 367785 /RJ59:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRA-ORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IPVA. VEÍCULO IMPORTADO. ALÍQUOTA DIFERENCIADA. 1. Não se admite a alíquota diferen-ciada de IPVA para veículos importados e os de procedência nacional. 2. O tratamento desigual signifi caria uma nova tributação pelo fato gerador da importação. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento.

B. AS DECISÕES A SEREM EXAMINADAS EM AULA

A pesquisa no sítio do Supremo Tribunal Federal60, utilizando-se o termo “federalismo fi scal” como expressão de busca, apresenta 4 (quatro) acórdãos como resultado: (1) RE 559943; (2) ADI 3138 (3) RE 572762; e (4) ADI 4167 MC.

Apenas a ADI 416761 não se refere diretamente à matéria tributária.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 32

Os demais acórdãos [(1) RE 559943; (2) ADI 3138 (3) RE 572762] pos-suem a seguinte ementa, respectivamente:

(1) Recurso Extraordinário 559943:

RE 559943 / RS — RIO GRANDE DO SULRECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. CÁRMEN LÚCIAJulgamento: 12/06/2008 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoREPERCUSSÃO GERAL — MÉRITODJe-182 DIVULG 25-09-2008 PUBLIC 26-09-2008EMENT VOL-02334-10 PP-02169LEXSTF v. 30, n. 359, 2008, p. 321-366Parte(s)RECTE.(S): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL —

INSSADV.(A/S): PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONALRECDO.(A/S): ABDALLA HUSEIN HUMAD MEEmenta

EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONALIDADE FORMAL DOS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI N. 8.212/1991. ARTIGO 146, INCISO III, ALÍNEA B, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA TRIBUTÁRIAS. MATÉRIA RESER-VADA À LEI COMPLEMENTAR. ARTIGOS 173 E 174 DO CÓDI-GO TRIBUTÁRIO NACIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 1. A Constituição da República de 1988 reserva à lei complementar o estabelecimento de normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre prescrição e deca-dência, nos termos do art. 146, inciso III, alínea b, in fi ne, da Constitui-ção da República. Análise histórica da doutrina e da evolução do tema desde a Constituição de 1946. 2. Declaração de inconstitucionalidade dos artigos 45 e 46 da Lei n. 8.212/1991, por disporem sobre matéria reservada à lei complementar. 3. Recepcionados pela Constituição da República de 1988 como disposições de lei complementar, subsistem os prazos prescricional e decadencial previstos nos artigos 173 e 174 do Có-digo Tributário Nacional. 4. Declaração de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, salvo para as ações judiciais propostas até 11.6.2008, data em que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dos artigos 45 e 46 da Lei n. 8.212/1991. 5. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 33

62 Para exame das múltiplas funções da

lei complementar tributária sugere-se

a revisão da Aula 15 do material di-

dático da disciplina Sistema Tributário

Nacional.

DecisãoDecisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da relatora,

conheceu do recurso extraordinário e a ele negou provimento, declarando a inconstitucionalidade dos artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, e do pará-grafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Em seguida, o Tribunal adiou a deliberação quan-to aos efeitos da modulação, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Fa-lou pela recorrente o Dr. Fabrício da Soller, Procurador da Fazenda Nacional. Ausentes, justifi cadamente, neste julgamento, os Senhores Ministros Carlos Britto e Eros Grau e, na modulação, a Senhora Ministra Ellen Gracie e o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. Plenário, 11.06.2008.

Decisão: O Tribunal, por maioria, vencido o Senhor Ministro Marco Au-rélio, deliberou aplicar efeitos ex nunc à decisão, esclarecendo que a modula-ção aplica-se tão-somente em relação a eventuais repetições de indébitos ajui-zadas após a decisão assentada na sessão do dia 11/06/2008, não abrangendo, portanto, os questionamentos e os processos já em curso, nos termos do voto da relatora. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Ausente, justifi ca-damente, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. Plenário, 12.06.2008.

Trata-se, portanto, de decisão relevante acerca do papel da Lei Comple-mentar62 de caráter nacional em matéria tributária no contexto da Federação brasileira.

Considerando o disposto nesta decisão, e bem assim nos precedentes fi xa-dos no RE 560626, RE 556664, RE 559882, RE 559943, RE 106217 e RE 138284, o STF editou a Súmula Vinculante nº 8, a qual dispõe:

Súmula Vinculante nº 8: São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-Lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário.

Fonte de PublicaçãoDJe nº 112 de 20/6/2008, p. 1.DOU de 20/6/2008, p. 1.LegislaçãoConstituição Federal de 1988, art. 146, III.Decreto-Lei nº 1.569/1977, art. 5º, parágrafo único.Lei nº 8.212/1991, art. 45 e art. 46.

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FGV DIREITO RIO 34

(2) ADI 3138:ADI 3138 / DF — DISTRITO FEDERALAÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. CÁRMEN LÚCIAJulgamento: 14/09/2011 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoACÓRDÃO ELETRÔNICODJe-030 DIVULG 10-02-2012 PUBLIC 13-02-2012Parte(s)REQTE.(S): ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS

— AMBADV.(A/S): ALBERTO PAVIE RIBEIRO E OUTRO(A/S)INTDO.(A/S): CONGRESSO NACIONALEmenta

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 149, § 1º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA (ALTERADO PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 41/2003). 1. A norma que fi xa alíquota mínima (contribuição dos servidores titulares de cargos efe-tivos na União) para a contribuição a ser cobrada pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios de seus servidores, para o custeio, em benefício destes, do regime previdenciário de que trata o art. 40 da Cons-tituição da República não contraria o pacto federativo ou confi gura que-bra de equilíbrio atuarial. 2. A observância da alíquota mínima fi xada na Emenda Constitucional n. 41/2003 não confi gura quebra da autonomia dos Estados Federados. O art. 201, § 9º, da Constituição da República, ao estabelecer um sistema geral de compensação, há ser interpretado à luz dos princípios da solidariedade e da contributividade, que regem o atual sistema previdenciário brasileiro. 3. Ação julgada improcedente.

DecisãoO Tribunal, por maioria e nos termos do voto da Relatora, julgou impro-

cedente a ação direta, contra os votos dos Senhores Ministros Ayres Britto, Marco Aurélio e Celso de Mello. Votou o Presidente, Ministro Cezar Peluso. Ausente, justifi cadamente, o

Senhor Ministro Joaquim Barbosa. Falaram, pela requerente, o Dr. Alber-to Pavie Ribeiro e, pela Advocacia-Geral da União, a Dra. Grace Maria Fer-nandes Mendonça, Secretária-Geral de Contencioso. Plenário, 14.09.2011.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 35

63 BRASIL. Supremo Tribunal Federal.

ADI 4167. Pleno. Relator: Ministro Joa-

quim Barbosa. Brasília, 17 de dezembro

de 2008. Disponível em: <http://www.

stf.jus.br>. Acesso em: 22 jun. 2014.

(3) RE 572762:RE 572762 / SC — SANTA CATARINARECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKIJulgamento: 18/06/2008 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoREPERCUSSÃO GERAL — MÉRITODJe-167 DIVULG 04-09-2008 PUBLIC 05-09-2008EMENT VOL-02331-04 PP-00737Parte(s)RECTE.(S): ESTADO DE SANTA CATARINAADV.(A/S): PGE-SC — ROGÉRIO DE LUCARECDO.(A/S): MUNICÍPIO DE TIMBÓADV.(A/S): CARLOS EDUARDO SERPA DE SOUZAEmenta

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ICMS. REPARTIÇÃO DE RENDAS TRIBUTÁRIAS. PRODEC. PROGRAMA DE INCENTIVO FISCAL DE SANTA CATARINA. RETENÇÃO, PELO ESTADO, DE PARTE DA PARCELA PERTENCENTE AOS MUNICÍPIOS. INCONSTITUCIO-NALIDADE. RE DESPROVIDO. I — A parcela do imposto estadual so-bre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, a que se refere o art. 158, IV, da Carta Magna pertence de pleno direito aos Municípios. II — O repasse da quota constitucionalmente devida aos Municípios não pode sujeitar-se à condição prevista em programa de be-nefício fi scal de âmbito estadual. III — Limitação que confi gura indevida interferência do Estado no sistema constitucional de repartição de recei-tas tributárias. IV — Recurso extraordinário desprovido.

A mesma matéria, sob a perspectiva da repartição de receita entre a União e os municípios, por meio do Fundo de Participações dos Municípios (FPM), também está sendo discutida no âmbito do Supremo Tribunal Federal, em recurso extraordinário RE 705423 RG63 para o qual foi reconhecida a reper-cussão geral, nos seguintes termos:

RE 705423 RG / SE — SERGIPEREPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKIJulgamento: 09/05/2013PublicaçãoACÓRDÃO ELETRÔNICODJe-099 DIVULG 24-05-2013 PUBLIC 27-05-2013

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 36

64 Pesquisa realizada no seguinte ende-

reço eletrônico: <http://www.stf.jus.

br/portal/jurisprudencia/listarJuris-

prudencia.asp?s1=%28federalismo+

fi scal%29&base=baseAcordaos&url=

http://tinyurl.com/opag73t>. Acesso

em: 22.06.2014.

Parte(s)RECTE.(S): MUNICÍPIO DE ITABIADV.(A/S): JONAS GOMES DE MOURA NETO E OUTRO(A/S)RECDO.(A/S): UNIÃOPROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIO-

NALEmenta

Ementa: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. REPARTIÇÃO DE RECEITAS TRIBUTÁRIAS. IR E IPI. FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS. ART. 159, I, b e d, DA CF. CÁLCULO. EXCLU-SÃO DOS BENEFÍCIOS, INCENTIVOS E ISENÇÕES FISCAIS CON-CEDIDOS PELA UNIÃO. REPERCUSSÃO ECONÔMICA, JURÍDI-CA E POLÍTICA. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.

DecisãoDecisão: O Tribunal, por unanimidade, reputou constitucional a questão.

O Tribunal, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão ge-ral da questão constitucional suscitada. Ministro RICARDO LEWANDO-WSKI Relator

Por sua vez, a pesquisa dos temas com repercussão geral no sítio do Supre-mo Tribunal Federal64, utilizando-se a expressão “federação e tributos” para a busca, apresenta 10 (dez) acórdãos como resultado: (1) RE 576155; (2) RE 576336; (3) RE 597092; (4) RE 603917; (5) RE 635443; (6) RE 627280; (7) RE 614384; (8) RE 684169; (9) ARE 737977; e (10) RE 789218.

O quadro abaixo apresenta a síntese da descrição das matérias tratadas.

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

056

Legitimidade do Minis-tério Público para pro-por ação civil pública em que se questiona acordo fi rmado entre o contribuinte e o Poder Público para pagamen-to de dívida tributária.

Recurso extraordiná-rio em que se discute, à luz dos artigos 5º, XXXV; e 129, III e IX, da Constituição Federal, a legitimidad...

RE 576155Manifestação

Acórdão

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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081

Estorno na remunera-ção de auditores fi scais do Estado de Rondônia com base no subsídio do Governador.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 37, XI a XIII; e 167, IV, da Consti-tuição Federal, a cons-titucion...

RE 576336Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

NãoPlenário Virtual

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 37

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

231

Seqüestro de recursos fi nanceiros do Estado no caso de parcela-mento compulsório de precatório.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do dos artigos 2º; 18; 60, § 4º, I e III; 100 e 167, II; da Constituição Fede...

RE 597092Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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382Sujeição da Lei Com-plementar 122/2006 a prazo nonagesimal.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, III, b e c, da Constituição Fe-deral, se a Lei Comple-mentar n. 12...

RE 603917Manifestação

MIN. ROSA WEBER

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391

Incidência do PIS e da COFINS nas importa-ções realizadas por conta e ordem de ter-ceiros no contexto do Sistema Fundap.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos arts. 109; 153, I; 155, § 2º, IX, a; e 195, I, b, da Constituição Fe-deral...

RE 635443Manifestação

MIN. DIAS TO-FFOLI

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502Incidência de IPI sobre bacalhau seco e salga-do

Recurso extraordiná-rio em que se discute, à luz dos princípios constitucionais da iso-nomia, da seletividade, da extrafi scalid...

RE 627280Manifestação

MIN. ROBERTO BARROSO

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559

Convalidação, pela EC 57/2008, de desmem-bramento municipal realizado em desobe-diência ao § 4º do art. 18 da Constituição Federal e suas conse-quências sobre execu-ções fi scais ajuizadas anteriormente à pro-mulgação da citada emenda constitucio-nal.

Recurso extraordinário que trata da conva-lidação, pela Emen-da Constitucional 57/2008, de desmem-bramento de municí-pios do Est...

RE 614384Manifestação

MIN. LUIZ FUXSim

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572

Competência para pro-cessar e julgar causas alusivas à parcela do imposto de renda reti-do na fonte pertencen-te ao Estado-membro.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do inciso III do art. 153, do inciso I do art. 157 e do art. 159 da Constitui...

RE 684169Manifestação

MIN. LUIZ FUXSim

Plenário Virtual

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 38

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

648

Competência da Jus-tiça Federal para pro-cessar e julgar crimes ambientais transnacio-nais.

Agravo de decisão que inadmitiu o recurso extraordinário em que se discute, à luz dos arts. 5º, LIII e 109, IV, da Constituiç...

ARE 737977Manifestação

MIN. LUIZ FUXSim

Plenário Virtual

721

Constitucionalidade de taxa cobrada em razão da expedição de guias de recolhimento de tributos.

Recurso extraordiná-rio em que se discute, à luz do art. 145, II, da Constituição federal, a constitucionalidade da cobrança d...

RE 789218Manifestação

MIN. DIAS TO-FFOLI

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Exibindo 1 a 10 de 10 registros

Considerando os objetivos deste Bloco I do curso, serão examinados no momento apenas o RE 684169 e o RE 576155, nessa ordem:

(1) RE 684169 RG / RS — RIO GRANDE DO SULREPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. LUIZ FUXJulgamento: 30/08/2012Publicação. ACÓRDÃO ELETRÔNICODJe-208 DIVULG 22-10-2012 PUBLIC 23-10-2012Parte(s)RECTE.(S): ULMERINDO ALBINO FERREIRA E OUTRO(A/S)ADV.(A/S): ROBERTO DE FIGUEIREDO CALDAS E OUTRO(A/S)RECDO.(A/S): UNIÃOPROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONALEmenta

DIREITO CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. ILEGITIMIDADE DA UNIÃO PARA CONFIGURAR NO POLO PASSIVO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA.

DecisãoDecisão: O Tribunal, por unanimidade, reputou constitucional a questão.

O Tribunal, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada. No mérito, por maioria, reafi rmou a jurisprudência dominante sobre

a matéria, vencidos os Ministros Ayres Britto e Marco Aurélio. Não se manifestou o Ministro Joaquim Barbosa. Ministro LUIZ FUX Relator

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 39

(2) RE 576155 / DF — DISTRITO FEDERALRECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKIJulgamento: 12/08/2010  Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Publicação

REPERCUSSÃO GERAL — MÉRITODJe-226 DIVULG 24-11-2010 PUBLIC 25-11-2010REPUBLICAÇÃO: DJe-020 DIVULG 31-01-2011 PUBLIC 01-02-

2011EMENT VOL-02454-05 PP-01230

Parte(s)

RECTE.(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

RECDO.(A/S): BRINK MOBIL EQUIPAMENTOS EDUCACIO-NAIS LTDA

ADV.(A/S): JACQUES VELOSO DE MELORECDO.(A/S): DISTRITO FEDERALADV.(A/S): PGDF — TIAGO STREIT FONTANAINTDO.(A/S): UNIÃOADV.(A/S): PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONALEmenta

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. MI-NISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. TERMO DE ACORDO DE REGIME ESPECIAL — TARE. POSSÍVEL LESÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. LIMITAÇÃO À ATUAÇÃO DO PARQUET. INADMISSIBILIDADE. AFRONTA AO ART. 129, III, DA CF. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. RECURSO EXTRAOR-DINÁRIO PROVIDO. I — O TARE não diz respeito apenas a interesses individuais, mas alcança interesses metaindividuais, pois o ajuste pode, em tese, ser lesivo ao patrimônio público. II — A Constituição Federal estabeleceu, no art. 129, III, que é função institucional do Ministério Pú-blico, dentre outras, “promover o inquérito e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”. Precedentes. III — O Parquet tem legiti-midade para propor ação civil pública com o objetivo de anular Termo de Acordo de Regime Especial — TARE, em face da legitimação ad causam que o texto constitucional lhe confere para defender o erário. IV — Não

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 40

se aplica à hipótese o parágrafo único do artigo 1º da Lei 7.347/1985. V — Recurso extraordinário provido para que o TJ/DF decida a questão de fundo proposta na ação civil pública conforme entender.

Decisão

Decisão: Após o relatório, o Tribunal deliberou adiar o julgamento. Au-sentes, justifi cadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello e, nesta deli-beração, o Senhor Ministro Cezar Peluso. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 19.12.2008.

Decisão: Reiniciado o julgamento, o Tribunal indeferiu requerimentos de participação de terceiros na condição de amici curiae, suscitados pelo Rela-tor, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes.

Em seguida, o Tribunal deliberou adiar o julgamento. Ausentes, justifi -cadamente, a Senhora Ministra Ellen Gracie e, ocasionalmente, os Senhores Ministros Celso de Mello e Eros Grau. Plenário, 18.02.2009.

Decisão: Preliminarmente, o Tribunal indeferiu o pedido de adiamento do julgamento. Em seguida, após o voto do Senhor Ministro Ricardo Lewan-dowski (Relator), que dava provimento ao recurso, e os votos dos Senhores Ministros Menezes Direito, Cármen Lúcia e Eros Grau, negando provimento ao recurso, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. Ausen-tes, justifi cadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello e a Senhora Ministra Ellen Gracie. Falaram, pelo Ministério Público Federal, o Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza; pela recorri-da, Brink Mobil Equipamentos Educacionais Ltda., o Dr. Jacques Veloso de Mello; pelo recorrido, Distrito Federal, o Dr. Luís Eduardo Correia Ser-ra, Procurador do DF e, pela interessada, União, a Dra. Cláudia Trindade, Procuradora da Fazenda Nacional. Presidência do Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 06.05.2009.

Decisão: Após o voto-vista do Senhor Ministro Joaquim Barbosa e o voto do Senhor Ministro Carlos Britto, que acompanhavam o do Relator para dar provimento ao recurso, pediu vista dos autos a Senhora Ministra Ellen Gracie. Ausente, justifi cadamente, o Senhor Ministro Eros Grau, com voto proferido em assentada anterior. Presidência do Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 14.10.2009.

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, deu provimento ao recurso extraordinário, contra os votos dos Senhores Minis-tros Menezes Direito, Cármen Lúcia, Eros Grau e Gilmar Mendes. Votou o Presidente, Ministro Cezar Peluso.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 41

Ausentes, ocasionalmente, o Senhor Ministro Dias Toff oli e o Senhor Mi-nistro Joaquim Barbosa, com voto proferido em assentada anterior. Plenário, 12.08.2010.

RE 576155 QO / DF — DISTRITO FEDERALQUESTÃO DE ORDEM NO RECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKIJulgamento: 11/06/2008 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoDJe-172 DIVULG 11-09-2008 PUBLIC 12-09-2008EMENT VOL-02332-05 PP-01048LEXSTF v. 30, n. 360, 2008, p. 246-255Parte(s)RECTE.(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E

TERRITÓRIOSRECDO.(A/S): BRINK MOBIL EQUIPAMENTOS EDUCACIO-

NAIS LTDAADV.(A/S): JACQUES VELOSO DE MELO E OUTRO(A/S)RECDO.(A/S): DISTRITO FEDERALADV.(A/S): PGDF — TIAGO STREIT FONTANAEmenta

EMENTA: QUESTÃO DE ORDEM. PREJUDICIALIDADE CONS-TITUCIONAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICO. TERMO DE ACORDO DE REGIME ESPE-CIAL — TARE. LESÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. AFRONTA AO ART. 129, III, DA CF. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. PRE-JUDICIALIDADE CONSTITUCIONAL VERIFICADA. I — A prejudi-cial suscitada consubstancia-se em uma prioridade lógica necessária para a solução de casos que versam sobre a mesma questão. II — Precedente do STF. III — Questão resolvida, com a determinação de sobrestamento das causas relativas ao Termo de Acordo de Regime Especial que estive-rem em curso no Superior Tribunal de Justiça e no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios até o deslinde da matéria pelo Plenário da Suprema Corte. IV — O Plenário decidiu também que, a partir desse julgamento, os sobrestamentos poderão ser determinados pelo Relator, monocraticamente, com base no art. 328 do RISTF.

DecisãoO Tribunal, por maioria, resolveu a questão de ordem nos termos do voto

do relator, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio. Votou o Presidente, Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 11.06.2008.

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 42

65 Pesquisa realizada no seguinte endereço

eletrônico: <http://www.stf.jus.br/por-

tal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.as

p?s1=%28federalismo+fi scal%29&base

=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/

opag73t>. Acesso em: 25.06.2014.

Ainda no âmbito da questão federativa, além das múltiplas funções cons-titucionais da lei complementar de caráter nacional, da restituição de indé-bito do IR retido a maior na fonte, do impacto dos benefícios fi scais entre os diversos entes políticos, merece destaque a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca da imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição. A pesquisa dos temas com repercussão geral no sítio do Supremo Tribunal Federal65, utilizando-se a expressão “imunidade recíproca” para a busca, apresenta 14 (quatorze) acórdãos como resultado:

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

115

Aplicação da imunida-de tributária recípro-ca às sociedades de economia mista que prestam serviços de saúde exclusivamente pelo SUS.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 6º; 145, § 1º; 150, VI, a, e § 2º; e 196, da Constituição Federal...

RE 580264Manifestação

Acórdão

MIN. JOAQUIM BARBOSA

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Decisão de mérito?

SIM

224

Imunidade tributária recíproca do respon-sável tributário por sucessão.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 150, VI, a; 151, III; e 156, da Constituição Federal, se a imunid...

RE 599176Manifestação

MIN. JOAQUIM BARBOSA

SimPlenário Virtual

235

Imunidade tributária das atividades exer-cidas pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos — ECT.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, da Constituição Federal, se a imunidade tributá-ria recípr...

RE 601392Manifestação

Acórdão

MIN. JOAQUIM BARBOSA

SimPlenário Virtual

254

Equiparação de Caixa de Assistência de grupo profi ssional a entidades benefi centes de assistência social para fi ns de imunidade tributária.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, c, da Constituição Federal, a aplicação, ou não, da imunidad...

RE 600010Manifestação

MIN. ROBERTO BARROSO

SimPlenário Virtual

385

Reconhecimento de imunidade tributária recíproca a sociedade de economia mista ocupante de bem público.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, da Constituição Federal, se a imunidade tributá-ria recípr...

RE 594015Manifestação

MIN. MARCO AURÉLIO

SimPlenário Virtual

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 43

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

402

Imunidade tributária recíproca quanto à in-cidência de ICMS sobre o transporte de enco-mendas pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos — ECT.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, da Constituição Federal, se a imunidade tributá-ria recípr...

RE 627051Manifestação

MIN. DIAS TOFFOLI

SimPlenário Virtual

412

Extensão da imunida-de tributária recíproca às empresas públicas prestadoras de servi-ços públicos.

Agravo interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário, em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, da Consti...

ARE 638315Manifestação

MINISTRO PRESIDENTE

SimPlenário Virtual

Decisão de mérito?

SIM

437

Reconhecimento de imunidade tributária recíproca a empresa privada ocupante de bem público.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, §§ 2º e 3º, da Constituição Federal, se a imunida-de tribu...

RE 601720Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

SimPlenário Virtual

508

Imunidade tributária recíproca para socieda-de de economia mista com participação acionária negociada em bolsa de valores.

Recurso extraordinário, em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, da Constituição Federal, se a imunidade tributá-ria recíp...

RE 600867Manifestação

MIN. JOAQUIM BARBOSA

SimPlenário Virtual

Decisão de mérito?

NÃO

644

Imunidade tributária recíproca quanto ao Imposto sobre Proprie-dade Territorial Urbana — IPTU incidente sobre imóveis de pro-priedade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos — ECT.

Agravo de decisão que inadmitiu recurso ex-traordinário em que se discute, à luz dos arts. 21, X; 150, VI, a, e §§ 2º e 3º; 17...

RE 773992Manifestação

MIN. DIAS TOFFOLI

Sim

685

Extensão da imunida-de tributária recíproca ao IPVA de veículos adquiridos por mu-nicípio no regime da alienação fi duciária.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, a, da Constituição federal, a possibilidade de exten-são da i...

RE 727851Manifestação

MIN. MARCO AURÉLIO

SimPlenário Virtual

688

Incidência do Impos-to Sobre Serviços de Qualquer Natureza — ISSQN sobre serviços de registro público, cartorários e notariais.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos arts. 30, III; 146, I, II e III; 150, VI, a; 156, III, e 236 da Constitui...

RE 756915Manifestação

MIN. GILMAR MENDES

SimPlenário Virtual

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 44

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

691

Submissão dos entes federativos ao paga-mento de contribuição previdenciária patro-nal incidente sobre a remuneração dos agentes políticos não vinculados a regime próprio de previdência social, após o advento da Lei 10.887/2004.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 195, I, II e § 4º, da Constituição federal, a possibilidade de submis...

RE 626837Manifestação

MIN. DIAS TO-FFOLI

SimPlenário Virtual

Decisão de mérito?

NÃO

693

Incidência do IPTU sobre lotes vagos de propriedade de insti-tuições de educação e de assistência social sem fi ns lucrativos.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, VI, c, e § 4º, da Constituição federal, a possibilidade de incid...

RE 767332Manifestação

MIN. GILMAR MENDES

SimPlenário Virtual

Decisão de mérito?

SIM

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 45

V. BLOCO II — AS TAXAS NO STF

Para o estudo deste tópico é indicada a leitura preliminar do texto intitula-do “As taxas de fi scalização em crise: a culpa é do Supremo Tribunal Federal?”, de Rafhael Frattari, publicado na RDA— revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 261, p. 147-177, set./dez. 2012, o qual pode ser obtido em sua íntegra no seguinte endereço eletrônico: < http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewArticle/8854 >.

Destaque-se ainda sobre a matéria a edição das Súmulas Vinculante 19 e 29 pelo STF:

Súmula Vinculante nº 19A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de

coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos prove-nientes de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal.

Fonte de PublicaçãoDJe nº 210 de 10/11/2009, p. 1.DOU de 10/11/2009, p. 1.LegislaçãoConstituição Federal de 1988, art. 145, II.PrecedentesRE 576321 RG-QO; RE 256588 ED-EDv; AI 476945 AgR;

AI 460195 AgR; RE 440992 AgR; AI 481619 AgR; AI 684607 AgR; RE 273074 AgR; RE 532940 AgR; RE 411251 AgR; RE 481713 AgR; RE 473816 AgR; AI 457972 AgR; RE 393331 AgR; AI 459051 AgR; RE 362578 AgR e RE 206777

ObservaçãoVeja PSV 40 (DJe nº 223/2009), que aprovou a Súmula Vincu-

lante nº 19.

Súmula Vinculante nº 29É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou

mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra.

Fonte de PublicaçãoDJe nº 28 de 17/2/2010, p. 1.DOU de 17/2/2010, p. 1.LegislaçãoConstituição Federal de 1988, art. 145, § 2º.Precedentes

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 46

66 Pesquisa realizada no seguinte endereço

eletrônico: <http://www.stf.jus.br/por-

tal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.as

p?s1=%28federalismo+fi scal%29&base

=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/

opag73t>. Acesso em: 19.07.2014.

RE 576321 RG-QO; RE 232393; RE 177835; AI 441038 AgR; RE 346695 AgR; RE 241790; ADI 1926 MC; RE 491216 AgR; RE 220316

ObservaçãoVeja PSV 39 (DJe nº 45/2010), que aprovou a Súmula Vincu-

lante nº 29.

A pesquisa dos temas com repercussão geral no sítio do Supremo Tri-bunal Federal66, utilizando-se a expressão “taxa” para a busca, apresenta 35 (trinta e cinco) acórdãos como resultado:

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

016

Cobrança de taxa pela utilização potencial do serviço de extinção de incêndio.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 145, II e § 2º, da Constituição Federal, a constitucio-nalidade, ou nã...

RE 643247Manifestação

MIN. MARCO AURÉLIO

Sim

040Cobrança de taxa de matrícula em universi-dades públicas.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 205; 206, I; 208, VII; e 212, § 3º, da Constituição Federal, a po...

RE 500171Manifestação

Acórdão

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Sim

085

Delegação ao Ministro da Fazenda da compe-tência para instituir taxa destinada ao ressar-cimento de custos de selo de controle do IPI.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 150, I, da Constituição Federal, a revogação, ou não, do art. 3º do D...

RE 559994Manifestação

Acórdão

MIN. MARCO AURÉLIO

NãoPlenário Virtual

102

Incidência do IOF sobre transmissão de ações de companhias abertas.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 153, V, da Constituição Federal, a constitucionalidade, ou não, do ar...

RE 583712Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

SimPlenário Virtual

135

Exigibilidade do porte de remessa e retorno de autos de autarquia federal no âmbito da Justiça Estadual.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 5º, XXXV, XXXVI e LV; 24, IV; 98, § 2º; e 145, II, da Constituiçã...

RE 594116Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 47

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

146

a) Cobrança de taxa em razão de serviços públicos de limpeza; b) Adoção de um ou mais elementos que compõem a base de cálculo própria de imposto para apuração do valor de taxa.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 145, II, e § 2º, da Constituição Federal, a constitucio-nalidade, ou n...

RE 576321Acórdão

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Sim

175

Modulação dos efeitos de declaração inciden-tal de inconstitucio-nalidade de lei muni-cipal que instituiu a cobrança de IPTU com alíquotas progressivas, TIP e TCLL.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 1º, ca-put; e 97, da Constitui-ção Federal, a possibili-dade, ou não...

RE 592321Manifestação

Acórdão

MIN. CEZAR PELUSO

NãoPlenário Virtual

185

Incidência do impos-to de renda sobre os resultados fi nanceiros verifi cados na liqui-dação de contratos de swap para fi ns de hedge.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 146, III; 150, IV; e 153, III, da Constituição Federal, a constit...

RE 596286Manifestação

MIN. MARCO AURÉLIO

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214

a) Inclusão do ICMS em sua própria base de cálculo; b) Emprego da taxa SELIC para fi ns tributários; c) Natureza de multa moratória fi -xada em 20% do valor do tributo.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 150, I, III, IV; e 155, II, da Constituição Federal, a constituci...

RE 582461Manifestação

Acórdão

MIN. GILMAR MENDES

SimPlenário Virtual

217

Comprovação do poder de polícia para cobrança de taxa de localização e funciona-mento.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 145, II, da Constituição Federal, a necessidade, ou não, de comprovaç...

RE 588322Manifestação

Acórdão

MIN. GILMAR MENDES

SimPlenário Virtual

226

Cobrança do IPTU pela alíquota mínima nos casos de declaração da inconstitucionalidade da sua progressividade.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 156, I, da Constituição Federal, a possibilidade, ou não, da cobrança...

RE 602347Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 48

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

261

Cobrança de taxa de ocupação do solo e do espaço aéreo por poste de transmissão de energia elétrica.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 145, II; e 155, XII, § 3º, da Constituição Federal, a constitucio...

RE 581947Manifestação

Acórdão

MIN. EROS GRAU

SimPlenário Virtual

281

Contribuição para a seguridade social a cargo das agroindús-trias sobre a receita bruta prevista na Lei nº 10.256/2001.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 150, II; 154, I; e 195, I e §§ 4º ao 13, da Constituição Federal,...

RE 611601Manifestação

MIN. DIAS TO-FFOLI

SimPlenário Virtual

310

Alteração judicial, ao patamar de 12% ao ano, de juros contra-tados após a Emenda Constitucional nº 40/2003.

Agravo de instrumen-to interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário em que se discute a constitucionalidade,...

AI 804209Manifestação

MIN. GILMAR MENDES

NãoPlenário Virtual

319

Critérios de correção monetária para a devolução de emprés-timo compulsório de energia elétrica.

Agravo de instrumen-to interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário, em que se discute, à luz dos artigos 2º...

AI 735933Manifestação

MIN. GILMAR MENDES

NãoPlenário Virtual

331Incidência de juros progressivos sobre o FGTS.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 5º, XXXV; e 7º, da Consti-tuição Federal, a aplica-bilidade, ou não...

RE 628137Manifestação

MIN. ELLEN GRACIE

NãoPlenário Virtual

332

Restituição dos valores pagos a consórcio em razão de desistência do consorciado.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do artigo 5º, XXXVI, da Constituição Fede-ral, o direito, ou não, de consorcia...

RE 628914Manifestação

MIN. ELLEN GRACIE

NãoPlenário Virtual

337

Majoração da alíquota de contribuição para o PIS mediante medida provisória.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 2º; 5º, II; 150, I; 195, § 9º; e 246, da Constituição Federal, a...

RE 607642Manifestação

MIN. DIAS TO-FFOLI

SimPlenário Virtual

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 49

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

389

Âmbito de incidência de isenção de taxas judiciárias, custas e emolumentos concedi-da por lei estadual.

Agravo de instrumen-to interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário, em que se discute, à luz dos artigos 2º...

AI 826496Manifestação

MIN. GILMAR MENDES

NãoPlenário Virtual

421

Aplicação do artigo 1º da Lei de Usura, que limita a taxa de juros a 12% ao ano, aos con-tratos bancários.

Agravo de instrumen-to interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário, em que se discute, à luz dos artigos 5º...

AI 844474Manifestação

Acórdão

MINISTRO PRE-SIDENTE

NãoPlenário Virtual

431

Contribuição para assistência à saúde incidente sobre pro-ventos e pensões dos servidores públicos no interregno das EC n. 20/98 e n. 41/03.

Agravo de instrumen-to interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 6º,...

AI 831223Manifestação

Acórdão

MINISTRO PRE-SIDENTE

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433

Competência de jui-zados especiais face à alegação de complexi-dade da prova.

Agravo interposto contra decisão que inadmitiu recurso ex-traordinário em que se discute, à luz do art. 5º, LV, da Constituiçã...

ARE 640671Manifestação

MINISTRO PRE-SIDENTE

NãoPlenário Virtual

460

Prosseguimento de Execução Fiscal lastre-ada em Certidão de Dívida Ativa suposta-mente ilíquida.

Agravo de instrumen-to interposto contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário, em que se discute, à luz do artigo 5º,...

AI 846803Manifestação

MINISTRO PRE-SIDENTE

NãoPlenário Virtual

461

Ilegalidade de cláu-sulas previstas em contratos regidos pelo Código de Defesa do Consumidor.

Agravo interposto contra decisão que inadmitiu recurso ex-traordinário em que se discute, à luz do artigo 5º, XXXVI, da Consti...

ARE 640713Manifestação

MINISTRO PRE-SIDENTE

NãoPlenário Virtual

504Crédito presumido do IPI na base de cálculo do PIS e da COFINS.

Recurso extraordinário, em que se discute, à luz dos artigos 149, § 2º, I, 150, § 6º e 195, I, da Constituição Fede-ral, a pos...

RE 593544Manifestação

MIN. ROBERTO BARROSO

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 50

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

535

Cobrança de mensali-dade em curso de pós--graduação lato sensu por instituição pública de ensino.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 205, 206, I, 208, VII, e 212, § 3º, da Constituição Federal, a po...

RE 597854Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

SimPlenário Virtual

625

Aplicabilidade dos juros de mora previs-tos no art. 1º-F da Lei 9.494/1997 aos casos em que a Fazenda Pública é condenada subsidiariamente pelas obrigações trabalhis-tas inadimplidas pelo empregador principal.

Agravo interposto de decisão que não admitiu recurso extra-ordinário em que se discute, à luz do art. 5º, caput e inciso II, d...

ARE 696101Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

NãoPlenário Virtual

633

Direito ao credita-mento, após a Emen-da Constitucional 42/2003, do ICMS decorrente da aquisi-ção de bens de uso e de consumo empre-gados na elaboração de produtos desti-nados à exportação, independentemente de regulamentação infraconstitucional.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz dos artigos 155, § 2º, incisos X, a e XII, c, da Constituição Fede-ral, a poss...

RE 704815Manifestação

MIN. LUIZ FUXSim

Plenário Virtual

645

Legitimidade proces-sual ativa do Ministério Público para deduzir, em ação civil pública, pretensão de natureza tributária em defesa dos contribuintes.

Agravo de decisão que inadmitiu recurso extraordinário em que se discute, à luz dos arts. 127 e 129, III, da Constituição fed...

ARE 694294Manifestação

MIN. LUIZ FUXSim

Plenário Virtual

676

Situação dos terrenos de marinha localizados em ilhas costeiras com sede de município, após o advento da Emenda Constitucio-nal 46/2005.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 20, IV, da Constituição federal, a titularidade do domí-nio sobre os t...

RE 636199Manifestação

MIN. ROSA WEBER

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 51

Tema Título Descrição Leading Case RelatorHá

Repercussão

Tema Título Descrição Leading Case Relator Há Repercussão

692

Possibilidade de o Conselho Federal de Engenharia, Arqui-tetura e Agronomia (CONFEA) fi xar por resolução os valores das taxas pela expe-dição de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).

Recurso extraordinário com agravo em que se discute, à luz dos arts. 5º, II; 37, caput; 146, III; 149; e 150, I e II, da Cons...

ARE 748445Manifestação

MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

SimPlenário Virtual

721

Constitucionalidade de taxa cobrada em razão da expedição de guias de recolhimento de tributos.

Recurso extraordinário em que se discute, à luz do art. 145, II, da Constituição federal, a constitucionalidade da cobrança d...

RE 789218Manifestação

MIN. DIAS TO-FFOLI

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736RE 796939

ManifestaçãoMIN. RICARDO

LEWANDOWSKISim

Plenário Virtual

752RE 753681

ManifestaçãoMIN. TEORI ZAVASCKI

Plenário Virtual

754ARE 791475

ManifestaçãoMIN. DIAS TO-

FFOLIPlenário Virtual

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 52

VI. BLOCO III — A TRIBUTAÇÃO DA RENDA NO STF

A tributação da renda da pessoa jurídica no plano internacional.

ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: RE 71.077 —SP. DJU 26.03.71, P. 1.149 — REL. LUIZ GALLOTTI — IMPOSTO DE RENDA:

“Juros remetidos para o exterior, como parte de pagamento de ma-terial importado, adquirido por contrato celebrado fora do País, e de vendedor que não opera no Brasil. Não se trata de rendimentos auferi-dos no Brasil e assim, não pode incidir a lei tributária brasileira, pois a prerrogativa de tributar é inerente à soberania, só podendo incidir so-bre os nacionais ou sobre os negócios ocorridos em território nacional. Recurso extraordinário da União não conhecido”. (grifo nosso)

ADI 2588 / DF — DISTRITO FEDERALAÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. ELLEN GRACIERelator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSAJulgamento: 10/04/2013 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoDJe-027 DIVULG 07-02-2014 PUBLIC 10-02-2014EMENT VOL-02719-01 PP-00001Parte(s)REQTE.(S): CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA —

CNIADV.(A/S): GUSTAVO DO AMARAL MARTINS E OUTROSINTDO.(A/S): PRESIDENTE DA REPÚBLICAINTDO.(A/S): CONGRESSO NACIONALEmenta

Ementa: TRIBUTÁRIO. INTERNACIONAL. IMPOSTO DE REN-DA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA. PARTICIPAÇÃO DE EMPRESA CONTROLADORA OU COLIGADA NACIONAL NOS LUCROS AUFERIDOS POR PESSOA JURÍDICA CONTROLA-DA OU COLIGADA SEDIADA NO EXTERIOR. LEGISLAÇÃO QUE CONSIDERA DISPONIBILIZADOS OS LUCROS NA DATA DO BA-LANÇO EM QUE TIVEREM SIDO APURADOS (“31 DE DEZEM-BRO DE CADA ANO”). ALEGADA VIOLAÇÃO DO CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RENDA (ART. 143, III DA CONSTITUI-ÇÃO). APLICAÇÃO DA NOVA METODOLOGIA DE APURAÇÃO

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 53

DO TRIBUTO PARA A PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS APURADA EM 2001. VIOLAÇÃO DAS REGRAS DA IRRETROATIVIDADE E DA ANTERIORIDADE. MP 2.158-35/2001, ART. 74. LEI 5.720/1966, ART. 43, § 2º (LC 104/2000).

1. Ao examinar a constitucionalidade do art. 43, § 2º do CTN e do art. 74 da MP 2.158/2001, o Plenário desta Suprema Corte se dividiu em quatro resultados:

1.1. Inconstitucionalidade incondicional, já que o dia 31 de de-zembro de cada ano está dissociado de qualquer ato jurídico ou econômico necessário ao pagamento de participação nos lucros;

1.2. Constitucionalidade incondicional, seja em razão do caráter antielisivo (impedir “planejamento tributário”) ou antievasivo (im-pedir sonegação) da normatização, ou devido à submissão obriga-tória das empresas nacionais investidoras ao Método de Equivalên-cia Patrimonial — MEP, previsto na Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/1976, art. 248);

1.3. Inconstitucionalidade condicional, afastada a aplicabilida-de dos textos impugnados apenas em relação às empresas coligadas, porquanto as empresas nacionais controladoras teriam plena dis-ponibilidade jurídica e econômica dos lucros auferidos pela empre-sa estrangeira controlada;

1.4. Inconstitucionalidade condicional, afastada a aplicabilida-de do texto impugnado para as empresas controladas ou coligadas sediadas em países de tributação normal, com o objetivo de preser-var a função antievasiva da normatização.

2. Orientada pelos pontos comuns às opiniões majoritárias, a compo-sição do resultado reconhece:

2.1. A inaplicabilidade do art. 74 da MP 2.158-35 às empresas nacionais coligadas a pessoas jurídicas sediadas em países sem tri-butação favorecida, ou que não sejam “paraísos fi scais”;

2.2. A aplicabilidade do art. 74 da MP 2.158-35 às empresas nacionais controladoras de pessoas jurídicas sediadas em países de tributação favorecida, ou desprovidos de controles societários e fi s-cais adequados (“paraísos fi scais”, assim defi nidos em lei);

2.3. A inconstitucionalidade do art. 74 par. ún., da MP 2.158-35/2001, de modo que o texto impugnado não pode ser aplicado em relação aos lucros apurados até 31 de dezembro de 2001. Ação Direta de Inconstitucionalidade conhecida e julgada parcialmen-te procedente, para dar interpretação conforme ao art. 74 da MP 2.158-35/2001, bem como para declarar a inconstitucionalidade

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 54

da clausula de retroatividade prevista no art. 74, par. ún., da MP 2.158/2001.

DecisãoApresentado o feito em mesa, o julgamento foi adiado por indicação de

Sua Excelência, a Senhora Ministra Ellen Gracie, Relatora. Presidência do Senhor Ministro Marco Aurélio. Plenário, 18.12.2002.

Decisão: Após o voto da Senhora Ministra Ellen Gracie, Relatora, rejei-tando a preliminar de legitimidade e julgando procedente, em parte, o pe-dido formulado na inicial para declarar a inconstitucionalidade da expressão “ou coligada”,

duplamente contida na cabeça do artigo 74 da Medida Provisória nº 2.158-35, de 24 de agosto de 2001, pediu vista o Senhor Ministro Nelson Jobim. Impedido o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Ausente, justifi cada-mente, o Senhor Ministro Celso de Mello. Falou

pela requerente o Dr. Gustavo do Amaral Martins. Presidência do Senhor Ministro Marco Aurélio. Plenário, 05.02.2003.

Decisão: Renovado o pedido de vista do Senhor Ministro Nelson Jobim, justifi cadamente, nos termos do § 1º do artigo 1º da Resolução nº 278, de 15 de dezembro de 2003. Presidência do Senhor Ministro Maurício Corrêa. Plenário,

28.04.2004.Decisão: Após o voto da Senhora Ministra Ellen Gracie (Relatora), jul-

gando procedente, em parte, a ação, e do voto do Senhor Ministro Nelson Jobim (Presidente), julgando-a improcedente para dar interpretação confor-me à Constituição,

nos termos de seu voto, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Marco Aurélio. Renovado o relatório e a sustentação. Impedido o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Falaram, pela requerente, o Dr. Gustavo do Amaral Martins e, pela Advocacia-Geral da União, o

Dr. Álvaro Augusto Ribeiro Costa, Advogado-Geral da União. Plenário, 09.12.2004.

Decisão: Renovado o pedido de vista do Senhor Ministro Marco Aurélio, justifi cadamente, nos termos do § 1º do artigo 1º da Resolução nº 278, de 15 de dezembro de 2003. Presidência do Senhor Ministro Nelson Jobim. Plenário,

24.02.2005.Decisão: Após o voto-vista do Senhor Ministro Marco Aurélio, julgando

procedente a ação, no que foi acompanhado pelo Senhor Ministro Sepúlveda Pertence, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Ricardo Lewandowski. Ausentes, justifi cadamente, os Senhores Ministros Celso de Mello e Carlos Britto. Impedido o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Não participou da vo-tação a Senhora Ministra Cármen Lúcia por suceder ao Senhor Ministro Nel-

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 55

son Jobim, que proferira voto. Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 28.09.2006.

Decisão: Após o voto do Senhor Ministro Ricardo Lewandowski que, na linha dos votos dos Senhores Ministros Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence, julgava procedente a ação para dar interpretação conforme ao artigo 43, § 2º, do Código Tributário Nacional, de forma a excluir do seu alcance qual-quer interpretação que resulte no desprezo da disponibilidade econômica ou jurídica da renda para efeito de incidência do imposto, e declarava a incons-titucionalidade do artigo 74, seu parágrafo único, da Medida Provisória nº 2.158, e do voto do Senhor Ministro Eros Grau que, acompanhando a linha do voto do Senhor Ministro Nelson Jobim, julgava improcedente a ação, também para dar interpretação conforme à Constituição, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Carlos Britto. Ausentes, justifi cadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia e, neste julgamento, o Senhor Ministro Joaquim Bar-bosa. Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 25.10.2007.

Decisão: Após o voto-vista do Senhor Ministro Ayres Britto, julgando improcedente a ação direta para dar interpretação conforme ao artigo 74 da Medida Provisória nº 2.158-35/2001, no que foi acompanhado pelo Senhor Ministro Cezar

Peluso (Presidente), e o voto do Senhor Ministro Celso de Mello, julgan-do-a procedente para dar interpretação conforme ao § 2º do artigo 43 do Código Tributário Nacional, o julgamento foi suspenso para colher o voto do Senhor Ministro Joaquim Barbosa,

licenciado. Impedido o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 17.08.2011.

Decisão: Após o voto-vista do Ministro Joaquim Barbosa (Presidente), julgando parcialmente procedente a ação direta para dar interpretação con-forme a Constituição ao art. 74 da Medida Provisória nº 2.158, de modo a limitar a sua aplicação à tributação das pessoas jurídicas sediadas no Brasil cujas coligadas ou controladas no exterior estejam localizadas em países de tributação favorecida, ou seja, países desprovidos de controles societários e fi scais adequados, normalmente conhecidos como “paraísos fi scais”, o julga-mento foi suspenso. Impedido o Ministro Gilmar Mendes. Não participam da votação os Ministros Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toff oli e Cármen Lúcia, por sucederem a ministros que já proferiram votos em as-sentadas anteriores. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Celso de Mello. Plenário, 03.04.2013.

Decisão: Prosseguindo no julgamento, o Tribunal, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação para, com efi cácia erga omnes e efeito vin-culante, conferir interpretação conforme, no sentido de que o art. 74 da MP nº 2.158-35/2001 não se aplica às empresas “coligadas” localizadas em países sem tributação favorecida (não “paraísos fi scais”), e que o referido dispositivo

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 56

67 Quadro disponível no sítio: <http://

www.netinternacional.org/web/>.

Pesquisa em 21/07/2014.

68 A 1ª Turma do STJ, ao julgar o REsp nº

1.325.709, decidiu pela inaplicabilida-

de do art. 74 da MP nº 2.158-35/2001

nas situações que envolvam contro-

ladas localizadas em país com o qual

o Brasil fi rmou tratado para evitar a

dupla tributação da renda.

69 Sítio: <http://www.netinternacional.

org/web/>. Pesquisa em 21/07/2014.

se aplica às empresas “controladas” localizadas em países de tributação favo-recida ou desprovidos de controles societários e fi scais adequados (“paraísos fi scais”, assim defi nidos em lei), vencidos os Ministros Marco Aurélio, Sepúl-veda Pertence, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. O Tribunal deliberou pela não aplicabilidade retroativa do parágrafo único do art. 74 da MP nº 2.158-35/2001. Votou o Presidente, Ministro Joaquim Barbosa, que lavrará o acórdão. Não participaram da votação os Ministros Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toff oli e Cármen Lúcia, por sucederem a ministros que votaram em assentadas anteriores. Impedido o Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 10.04.2013.

Segue abaixo quadro referente ao cômputo do voto médio67 na decisão da referida ADI 258868:

No sítio do Núcleo de Estudos de Tributação Internacional69 encontram--se os seguintes comentários:

Na sessão do dia 10.04 p.p., em que efetivamente declarado o re-sultado do julgamento, foi adotado o critério usualmente adotado na aferição do voto médio, implicando, no que concerne à aplicação do

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OS TRIBUTOS E O FEDERALISMO FISCAL NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)

FGV DIREITO RIO 57

caput do art. 74 da MP 2.158-35/01, no atingimento da maioria abso-luta de seis votos para declarar: (i) constitucional em relação às contro-ladas em paraísos fi scais; e (ii) inconstitucional no tocante às coligadas no exterior localizadas em países de tributação normal (visto que a Mi-nistra Ellen havia afastado a incidência sobre coligadas em seu voto); e

Também alcançou a maioria absoluta o julgamento pela (iii) in-constitucionalidade do parágrafo único do dispositivo citado, que pretendeu alcançar os lucros apurados por controlada ou coligada no exterior até 31 de dezembro de 2001, por ofensa à irretroatividade (para melhor elucidação, confi ra-se o quadro elaborado pelo NETI). Passou desapercebida a circunstância de que os votos dos 4 Minis-tros (Celso de Mello, Sepúlveda Pertence, Marco Aurélio, e Ricardo Lewandowski) que declararam a inconstitucionalidade total do art. 74 da MP 2158-35/01 deveriam ser somados aos dos Ministros Joaquim Barbosa e Ayres Britto, no que concerne à aplicação do dispositivo em relação às controladas situadas em países com os quais o Brasil celebrou tratado para evitar e dupla tributação da renda e prevenir a evasão fi scal, onde também alcançada a maioria necessária. É que o voto do Ministro Joaquim Barbosa dá pela inconstitucionalidade do referido artigo, ressalvando apenas os paraísos fi scais e os regimes fi scais privilegiados assim defi nidos em lei, enquanto que o voto do Ministro Ayres Britto excetua expressamente os tratados. É de se esperar que a CNI (Confederação Nacional da Indústria — CNI, na qualidade de proponente da ADI) oponha embargos de declaração ao acór-dão que proclamar o resultado verifi cado, requerendo seja sanada a omissão em relação à ressalva contida no voto do Ministro Ayres Britto apurando-se o voto médio em relação ao afastamento do art. 74 da MP 2158-35/01 quando a controlada localizar-se em país com o qual o Brasil tenha fi rmado acordo para evitar a dupla tri-butação. A eventual procedência desses embargos terá o condão de en-cerrar favoravelmente ao pleito dos contribuintes, em caráter defi nitivo e com efeito vinculante, a matéria em questão, dado o atingimento da maioria absoluta de seis votos favoráveis à não aplicação do art. 74 em países com tratados. Desse modo, encerrada a ADI 2.588, ainda per-manecem indefi nidas as cobranças sobre lucros no exterior quando do balanço das (iv) coligadas em paraísos fi scais e das (v) controladas em países de tributação normal sem tratado de dupla tributação com o Brasil. É que nestas matérias não se atingiu a maioria (o resultado foi de cinco votos em um sentido e de cinco votos no sentido oposto), preva-lecendo, nestes casos, o ato impugnado, sem caráter vinculativo. Tudo indica, ademais, que estas específi cas hipóteses serão reexaminadas pelo STF nos RREE que lá tramitam e foram apregoados juntamente com

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a ADI: um versando sobre atividades desenvolvidas por sociedade con-trolada isenta em Aruba (RE 611.568) e outro sobre controladas loca-lizadas em países com os quais o Brasil celebrou tratado para evitar a dupla tributação da renda e prevenir a evasão fi scal, a saber, China e Itália (RE 541.090).”

Em relação à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, a discussão cin-ge-se em defi nir o alcance da imunidade referente às exportações, se alcança-ria ou não o lucro das empresas exportadoras:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO RE 564413 / SC — SANTA CATA-RINA

Relator(a): Min. MARCO AURÉLIOJulgamento: 12/08/2010  Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoREPERCUSSÃO GERAL — MÉRITODJe-209 DIVULG 28-10-2010 PUBLIC 03-11-2010REPUBLICAÇÃO: DJe-235 DIVULG 03-12-2010 PUBLIC 06-12-

2010EMENT VOL-02445-01 PP-00137RTJ VOL-00218— PP-00523Parte(s)RECTE.(S): INCASA S/AADV.(A/S): EROS SANTOS CARRILHO E OUTRO(A/S)RECDO.(A/S): UNIÃOADV.(A/S): PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONALEmenta

IMUNIDADE — CAPACIDADE ATIVA TRIBUTÁRIA. A imunida-de encerra exceção constitucional à capacidade ativa tributária, cabendo interpretar os preceitos regedores de forma estrita. IMUNIDADE — EX-PORTAÇÃO — RECEITA — LUCRO. A imunidade prevista no inciso I do § 2º do artigo 149 da Carta Federal não alcança o lucro das empresas exportadoras. LUCRO — CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LU-CRO LÍQUIDO — EMPRESAS EXPORTADORAS. Incide no lucro das empresas exportadoras a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

DecisãoApós o voto do Senhor Ministro Marco Aurélio (Relator), negando provi-

mento ao recurso, e o voto do Presidente, Ministro Gilmar Mendes, dando--lhe provimento, o julgamento foi suspenso para continuação em sessão pró-xima. Ausentes, licenciado, o Senhor

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FGV DIREITO RIO 59

Ministro Joaquim Barbosa e, neste julgamento, o Senhor Ministro Celso de Mello e a Senhora Ministra Ellen Gracie. Falaram, pela recorrente, a Dra. Estefânia Viveiros e, pela recorrida, o Dr. Luís Carlos Martins Alves Jr., Pro-curador da Fazenda Nacional.

Presidência do Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 03.12.2008.Decisão: Após o voto do Relator, Ministro Marco Aurélio, negando pro-

vimento ao recurso, no que foi acompanhado pelos Senhores Ministros Me-nezes Direito, Ricardo Lewandowski e Carlos Britto, e os votos dos Senhores Ministros Gilmar Mendes (Presidente),

Cármen Lúcia, Eros Grau e Cezar Peluso, dando-lhe provimento, pediu vista dos autos a Senhora Ministra Ellen Gracie. Ausentes, justifi cadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello e, licenciado, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. Plenário, 04.12.2008.

Decisão: Após os votos dos Senhores Ministros Marco Aurélio (Relator), Menezes Direito, Ricardo Lewandowski, Ayres Britto e Ellen Gracie, negan-do provimento ao recurso, e os votos dos Senhores Ministros Gilmar Men-des, Cármen Lúcia, Eros Grau, Cezar

Peluso e Celso de Mello, dando-lhe provimento, foi o julgamento suspen-so para aguardar o voto de desempate do Senhor Ministro Joaquim Barbosa, licenciado, devendo os autos ser imediatamente conclusos a Sua Excelência. Não participa da votação o Senhor

Ministro Dias Toff oli por suceder ao Senhor Ministro Menezes Direito. Presidência do Senhor Ministro Cezar Peluso. Plenário, 04.08.2010.

Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, negou provimento ao recurso extraordinário, contra os votos dos Senhores Minis-tros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Eros Grau, Celso de Mello e Cezar Peluso (Presidente). Não votou o Senhor

Ministro Dias Toff oli por suceder ao Senhor Ministro Menezes Direito, que proferiu voto em assentada anterior. Plenário, 12.08.2010.

Por fi m, ainda em relação à tributação sobre a renda, vale mencionar o caso em que se discute se seria constitucional a vedação à dedução da CSLL na base de cálculo própria da contribuição e do IRPJ, imposta pela Lei nº 9.316/96.

RE 582525 / SP — SÃO PAULORECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. JOAQUIM BARBOSAJulgamento: 09/05/2013 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoACÓRDÃO ELETRÔNICOREPERCUSSÃO GERAL — MÉRITO

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DJe-026 DIVULG 06-02-2014 PUBLIC 07-02-2014Parte(s)RECTE.(S): SANTANDER S.A — SERVIÇOS TÉCNICOS, ADMI-

NISTRATIVOS E DE CORRETAGEM DE SEGUROS, ATUAL DENO-MINAÇÃO DE BANESPA S/A SERVIÇOS TÉCNICOS ADMINISTRA-TIVOS E DE CORRETAGEM DE SEGUROS

ADV.(A/S): MARIA RENATA ORLANDI ROBAZZI DAVANSO E OUTRO(A/S)

ADV.(A/S): MARIA RITA FERRAGUTRECDO.(A/S): UNIÃOPROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIO-

NALEmenta

Ementa: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE A RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA DEVIDO PELA PESSOA JURÍDICA (IRPJ). APURAÇÃO PELO REGIME DE LUCRO REAL. DEDUÇÃO DO VALOR PAGO A TÍTULO DE CON-TRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO. PROIBIÇÃO. ALEGADAS VIOLAÇÕES DO CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RENDA (ART. 153, III), DA RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR DE NORMAS GERAIS (ART. 146, III, A), DO PRINCÍPIO DA CAPACI-DADE CONTRIBUTIVA (ART. 145, § 1º) E DA ANTERIORIDADE (ARTS. 150, III, A E 195, § 7º). 1. O valor pago a título de contribuição social sobre o lucro líquido — CSLL não perde a característica de corres-ponder a parte dos lucros ou da renda do contribuinte pela circunstância de ser utilizado para solver obrigação tributária. 2. É constitucional o art. 1º e par. ún. da Lei 9.316/1996, que proíbe a dedução do valor da CSLL para fi ns de apuração do lucro real, base de cálculo do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas — IRPJ. Recurso extraordinário co-nhecido, mas ao qual se nega provimento.

DecisãoApós o voto do Senhor Ministro Joaquim Barbosa (Relator), que conhecia

e negava provimento ao recurso, e o voto do Senhor Ministro Marco Aurélio, que também conhecia do recurso, mas dava-lhe provimento, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Cezar Peluso. Ausente, justifi cadamente, porque em representação do Tribunal no exterior, o Senhor Ministro Eros Grau. Fala-ram, pelo recorrente a Dra. Maria Rita Ferragut e, pela recorrida o Dr. Luís Carlos Martins Alves, Procurador da Fazenda Nacional.

Presidência do Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário, 22.10.2008.Decisão: O Tribunal, preliminarmente, rejeitou o pedido de nova sus-

tentação oral. Em seguida, colhido o voto do Ministro Teori Zavascki, o

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Tribunal, por maioria, conheceu do recurso e negou-lhe provimento, vencido o Ministro Marco Aurélio. Ausentes, justifi cadamente, o Ministro Celso de Mello e, neste julgamento, o Ministro Gilmar Mendes. Presidiu o julgamen-to o Ministro Joaquim Barbosa. Plenário, 09.05.2013.

Importante destacar ainda o RE 591340, ao qual foi conferida a Reper-cussão Geral, apesar de a matéria de fundo já ter sido objeto de decisão an-terior pelo Plenário do STF. De fato, o Tribunal, na sessão plenária de 25 de março de 2009, concluiu o julgamento do Recurso Extraordinário nº 344.994/PR, de relatoria do Ministro Marco Aurélio, acórdão redigido pelo ministro Eros Grau, o qual substituiu o mencionado processo RE 591340 como paradigma de repercussão geral. O STF assentou naquele feito (RE 344.994) ser constitucional a limitação em 30%, para cada ano-base, do di-reito de o contribuinte compensar os prejuízos fi scais do Imposto de Renda Pessoa Jurídica e a base de cálculo negativa da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido — artigos 42 e 58 da Lei nº 8.981, de 1995, e 15 e 16 da Lei nº 9.065, de 1995. Em que pese o exposto, considerando estar “em jogo princípios constitucionais fundamentais do Sistema Tributário Nacional que não mereceram análise quando do julgamento do precedente observado”, o Ministro Marco Aurélio reconsiderou “a decisão atacada a fi m de que o extra-ordinário [RE 591340] tenha sequência e seja submetido ao Colegiado para solução defi nitiva do tema.

(1) RE 591340 RG / SP — SÃO PAULOREPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. MARCO AURÉLIOJulgamento: 09/10/2008PublicaçãoDJe-211 DIVULG 06-11-2008 PUBLIC 07-11-2008EMENT VOL-02340-07 PP-01437LEXSTF v. 31, n. 361, 2009, p. 259-262LEXSTF v. 31, n. 362, 2009, p. 276-279

Parte(s)PROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIO-

NALRECDO.(A/S): UNIÃOADV.(A/S): FERNANDA ELÍSSA DE CARVALHO AWADARECTE.(S): POLO INDUSTRIAL POSITIVO E EMPREENDIMEN-

TOS LTDAEmenta

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IMPOSTO DE RENDA DE PESSOA JURÍDICA E CONTRIBUI-ÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO — PREJUÍZO — COM-PENSAÇÃO — LIMITE ANUAL. Possui repercussão geral controvérsia sobre a constitucionalidade da limitação em 30%, para cada ano-base, do direito de o contribuinte compensar os prejuízos fi scais do Imposto de Renda sobre a Pessoa Jurídica e a base de cálculo negativa da Contribui-ção Social sobre o Lucro Líquido — artigos 42 e 58 da Lei nº 8.981/95 e 15 e 16 da Lei nº 9.065/95.

DecisãoDecisão: O Tribunal reconheceu a existência de repercussão geral da ques-

tão constitucional suscitada, vencidos os Ministros Celso de Mello, Eros Grau, Joaquim Barbosa e Menezes Direito. Ministro MARCO AURÉLIO Relator

LegislaçãoLEG-FED LEI-008981 ANO-1995

ART-00042 ART-00058 LEI ORDINÁRIA

LEG-FED LEI-009065 ANO-1995 ART-00015 ART-00016 LEI ORDINÁRIA

Indexação— FINALIDADE, INSTITUTO, REPERCUSSÃOGERAL, VALORIZAÇÃO, EXERCÍCIO, DIREITO DE DEFESA,

OBJETIVAÇÃO, EFEITOVINCULANTE, RACIONALIZAÇÃO, TRABALHO, PODERJUDICIÁRIO. MATÉRIA, ABRANGÊNCIA, PLURALIDADE, CON-

TRIBUINTE.EXISTÊNCIA, RECURSO EXTRAORDINÁRIO, REFERÊNCIA,

MATÉRIA, PENDÊNCIA,JULGAMENTO, PLENÁRIO,STF.Observação— Tema 117 — Limitação do direito de compensação de prejuízos fi scais doIRPJ e da base de cálculo negativa da CSLL.— Veja RE 344994.Número de páginas: 4Análise: 26/11/2008, IMC.Revisão: 01/12/2008, JBM.Alteração: 29/09/2011, MMR.

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(2) RE 344994 / PR — PARANÁRECURSO EXTRAORDINÁRIORelator(a): Min. MARCO AURÉLIORelator(a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAUJulgamento: 25/03/2009 Órgão Julgador: Tribunal PlenoPublicaçãoDJe-162 DIVULG 27-08-2009 PUBLIC 28-08-2009EMENT VOL-02371-04 PP-00683RDDT n. 170, 2009, p. 186-194Parte(s)RECTE.: RP FOMENTO COMERCIAL LTDAADVDOS.: PEREGRINO DIAS ROSA NETO E OUTRO(A/S)RECDA.: UNIÃOADV.: PFN — RICARDO PY GOMES DA SILVEIRAEmentaEMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IM-

POSTO DE RENDA. DEDUÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS. LIMITA-ÇÕES. ARTIGOS 42 E 58 DA LEI N. 8.981/95. CONSTITUCIONALI-DADE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 150, INCISO III, ALÍNEAS “A” E “B”, E 5º, XXXVI, DA CONSTI-TUIÇÃO DO BRASIL. 1. O direito ao abatimento dos prejuízos fi scais acumulados em exercícios anteriores é expressivo de benefício fi scal em favor do contribuinte. Instrumento de política tributária que pode ser revista pelo Estado. Ausência de direito adquirido 2. A Lei n. 8.981/95 não incide sobre fatos geradores ocorridos antes do início de sua vigên-cia. Prejuízos ocorridos em exercícios anteriores não afetam fato gerador nenhum. Recurso extraordinário a que se nega provimento.

DecisãoApós o voto do Senhor Ministro Marco Aurélio (Relator), conhecendo e

provendo o recurso, e dos votos dos Senhores Ministros Eros Grau, Joaquim Barbosa, Carlos Britto, Cezar Peluso e Gilmar Mendes, também conhecendo do recurso, mas negando-lhe provimento, pediu vista dos autos a Senhora Ministra Ellen Gracie. Ausente, justifi cadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Carlos Velloso. Falou pela recorrente o Dr. André Martins de An-drade. Presidência do Senhor Ministro Nelson Jobim. Plenário, 11.11.2004.

Decisão: Renovado o pedido de vista da Senhora Ministra Ellen Gracie, justifi cadamente, nos termos do §

1º do artigo 1º da Resolução nº 278, de 15 de dezembro de 2003. Presi-dência do Senhor Ministro Nelson Jobim. Plenário, 17.02.2005.

Decisão: Prosseguindo no julgamento, o Tribunal, por maioria, conheceu e negou provimento ao recurso extraordinário, vencido o Senhor Ministro

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Marco Aurélio, Relator. Redigirá o acórdão o Senhor Ministro Eros Grau. Ausentes, justifi cadamente, o Senhor Ministro Joaquim Barbosa e, neste jul-gamento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes (Presidente), com votos profe-ridos em assentada anterior. Presidiu o julgamento o Senhor Ministro Cezar Peluso (Vice-Presidente). Plenário, 25.03.2009.

Indexação— VIDE EMENTA.— FUNDAMENTAÇÃO COMPLEMENTAR, MIN. ELLEN GRA-

CIE: BENEFÍCIO FISCAL, ABATIMENTO, PREJUÍZO, TRIBUTO, EMPRESA, EXPECTATIVA DE DIREITO, MANUTENÇÃO, PERCEN-TAGEM, FIXAÇÃO, LEGISLAÇÃO, REGULAMENTAÇÃO, EXERCÍ-CIO, MOMENTO ANTERIOR.

— VOTO VENCIDO, MIN. MARCO AURÉLIO: PROVIMENTO, RECURSO

EXTRAORDINÁRIO, DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONA-LIDADE, ARTIGO, LEI IMPUGNADA. CONCESSÃO, MANDADO DE SEGURANÇA, RECONHECIMENTO, PRETENSÃO, PARTE IM-PETRANTE, COMPENSAÇÃO, PREJUÍZO FISCAL, CUMULAÇÃO, MOMENTO ANTERIOR, PREVISÃO, LIMITAÇÃO LEGAL. PUBLI-CAÇÃO, MEDIDA PROVISÓRIA, DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO (DOU), SÁBADO, ENCERRAMENTO, ANO BASE, OFENSA, PRIN-CÍPIO DA ANTERIORIDADE. INCIDÊNCIA, IMPOSTO DE RENDA (IR), NECESSIDADE, ACRÉSCIMO, PATRIMÔNIO, RESULTADO, LUCRO REAL.

LegislaçãoLEG-FED CF ANO-1988

ART-00005 INC-00036 ART-00102 INC-00003LET-A ART-00145 PAR-00001 ART-00148ART-00150 INC-00003 LET-A LET-BART-00153 LET-A LET-B ART-00195PAR-00006CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

LEG-FED LEI-000154 ANO-1947LEI ORDINÁRIA

LEG-FED LEI-008383 ANO-1991LEI ORDINÁRIA

LEG-FED LEI-008541 ANO-1992LEI ORDINÁRIA

LEG-FED LEI-008981 ANO-1995ART-00042 PAR-ÚNICO ART-00058LEI ORDINÁRIA

LEG-FED DEL-001598 ANO-1977

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DECRETO-LEILEG-FED MPR-000812 ANO-1994

CONVERTIDA NA LEI-8981/1995MEDIDA PROVISÓRIA

LEG-FED SUMSTF-000266SÚMULA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL — STF

Observação— Acórdãos citados: RE 117887, RE 172058, RE 591340.Número de páginas: 29.Análise: 08/09/2009, CLM.Revisão: 09/09/2009, JBM.

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VII. BLOCO IV — A TRIBUTAÇÃO DO PATRIMÔNIO E O STF

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FGV DIREITO RIO 67

VIII. BLOCO V — A TRIBUTAÇÃO DO CONSUMO E O STF

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LEONARDO DE ANDRADE COSTAMestre em Direito Econômico e Financeiro, pela Harvard Law School e USP. Pós-Graduado em Contabilidade pela FGV. Bacharel em Ciências Econômicas, pela Puc-RJ, Bacharel em Direito, pela Puc-RJ. Auditor Fis-cal do Estado do Rio de Janeiro.

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FGV DIREITO RIO 69

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Joaquim FalcãoDIRETOR

Sérgio GuerraVICE-DIRETOR DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Rodrigo ViannaVICE-DIRETOR ADMINISTRATIVO

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO

Marília AraújoCOORDENADORA EXECUTIVA DA GRADUAÇÃO