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www.europeanlung.org 1 Os seus pulmões e o exercício A actividade física regular e o exercício melhoram a qualidade de vida, quer você seja saudável quer tenha um problema pulmonar. Muitas pessoas associam a boa forma física com um coração saudável, com a perca de peso ou com a diminuição do risco de doenças como a diabetes, mas o exercício também ajuda a manter os pulmões saudáveis. Esta folha explica como é que o exercício afecta os pulmões, como a actividade física influencia a respiração e quais os benefícios do exercício em pessoas com e sem doença pulmonar. O que é o exercício e quanto devo praticar? Qualquer tipo de actividade física conta como exercício. Pode ser um desporto planeado como corrida, natação, ténis, bowling, ou um programa de treino de exercício ou até um hobby, como andar de bicicleta ou caminhar. Pode também incluir actividades físicas que fazem parte da sua vida, como jardinar, limpar a casa ou ir às compras. Para se manter saudável, deve realizar cerca de 30 minutos de exercício moderado, cinco dias por semana. Exercício moderado, para uma pessoa saudável, pode ser andar a pé a um ritmo de 4 a 6 Km por hora. Se tiver uma doença pulmonar, deverá andar suficientemente rápido para se sentir moderadamente sem fôlego. O que acontece aos meus pulmões quando faço exercício? Durante o exercício, dois dos órgãos mais importantes do organismo entram em acção: o coração e os pulmões. Os pulmões fornecem oxigénio ao corpo, para proporcionar energia, e removem o dióxido de carbono, resíduo libertado pela produção de energia. O coração bombeia o sangue oxigenado até aos músculos que estão a desempenhar o exercício. Quando se exercita e os seus músculos têm de trabalhar mais, o seu organismo utiliza mais oxigénio e gera mais dióxido de carbono. Para corresponder a esta necessidade aumentada, a respiração tem de aumentar, em relação ao repouso, de cerca de 15 respirações por minuto (12 litros de ar), para até 40 a 60 respirações por minuto (100 litros de ar) durante o exercício. A circulação também acelera para fornecer oxigénio aos músculos, de modo que possam manter o movimento. Quando os pulmões estão saudáveis, têm uma grande reserva respiratória. Pode sentir “falta de fôlego” depois do exercício, mas não irá sentir “falta de ar”. Quando a sua função pulmonar está diminuída, grande parte da reserva respiratória já está em uso. Isto pode fazer com que sinta “falta de ar”, uma sensação desagradável, mas que geralmente não é perigosa.

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Os seus pulmões e o exercícioA actividade física regular e o exercício melhoram a qualidade de vida, quer você seja saudável quer tenha um problema pulmonar. Muitas pessoas associam a boa forma física com um coração saudável, com a perca de peso ou com a diminuição do risco de doenças como a diabetes, mas o exercício também ajuda a manter os pulmões saudáveis.

Esta folha explica como é que o exercício afecta os pulmões, como a actividade física influencia a respiração e quais os benefícios do exercício em pessoas com e sem doença pulmonar.

O que é o exercício e quanto devo praticar?

Qualquer tipo de actividade física conta como exercício. Pode ser um desporto planeado como corrida, natação, ténis, bowling, ou um programa de treino de exercício ou até um hobby, como andar de bicicleta ou caminhar.

Pode também incluir actividades físicas que fazem parte da sua vida, como jardinar, limpar a casa ou ir às compras.

Para se manter saudável, deve realizar cerca de 30 minutos de exercício moderado, cinco dias por semana. Exercício moderado, para uma pessoa saudável, pode ser andar a pé a um ritmo de 4 a 6 Km por hora. Se tiver uma doença pulmonar, deverá andar suficientemente rápido para se sentir moderadamente sem fôlego.

O que acontece aos meus pulmões quando faço exercício?

Durante o exercício, dois dos órgãos mais importantes do organismo entram em acção: o coração e os pulmões. Os pulmões fornecem oxigénio ao corpo, para proporcionar energia, e removem o dióxido de carbono, resíduo libertado pela produção de energia. O coração bombeia o sangue oxigenado até aos músculos que estão a desempenhar o exercício.

Quando se exercita e os seus músculos têm de trabalhar mais, o seu organismo utiliza mais oxigénio e gera mais dióxido de carbono. Para corresponder a esta necessidade aumentada, a respiração tem de aumentar, em relação ao repouso, de cerca de 15 respirações por minuto (12 litros de ar), para até 40 a 60 respirações por minuto (100 litros de ar) durante o exercício. A circulação também acelera para fornecer oxigénio aos músculos, de modo que possam manter o movimento.

Quando os pulmões estão saudáveis, têm uma grande reserva respiratória. Pode sentir “falta de fôlego” depois do exercício, mas não irá sentir “falta de ar”. Quando a sua função pulmonar está diminuída, grande parte da reserva respiratória já está em uso. Isto pode fazer com que sinta “falta de ar”, uma sensação desagradável, mas que geralmente não é perigosa.

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Os seus pulmões e o exercício

Quais são os benefícios do exercício?

É normal ter uma respiração mais difícil durante o exercício. No entanto, o exercício regular ajuda a aumentar a força e a função dos músculos respiratórios, tornando-os mais eficientes. Os seus músculos necessitarão de menos oxigénio para se moverem e produzirão menos dióxido de carbono. Isto irá reduzir a quantidade de ar que tem de inspirar e expirar num determinado exercício. O treino também melhora a circulação e fortalece o coração.

O exercício irá melhorar o seu bem-estar físico e psicológico em geral. Pode reduzir o risco de desenvolver outras doenças, como o AVC, doenças cardíacas ou depressão. O exercício regular é também uma das intervenções mais importantes para prevenir o aparecimento da diabetes tipo 2.

O que posso fazer para ajudar os meus pulmões a adaptarem-se ao exercício?

A coisa mais importante para manter os pulmões saudáveis é cuidar deles. Fumar afecta a capacidade de realizar actividade física e de atingir o seu potencial. Se deixar de fumar, vai conseguir exercitar-se durante mais tempo, logo após duas semanas depois do último cigarro. Na folha ELF sobre “O Tabaco e os Pulmões” encontrará mais informação sobre este tópico.

O exercício pode causar problemas aos meus pulmões?

As pessoas que fazem regimes de treino de alta intensidade ou que treinam regularmente em determinados ambientes podem ter mais risco de desenvolver asma, ou uma condição chamada hiperreactividade brônquica, na qual as vias aéreas se tornam obstruídas após o exercício.

Os cientistas pensam que isto é causado por substâncias nocivas no ambiente, como o cloro numa piscina, ou o ar frio numa pista de ski. Os atletas de endurance podem potencialmente inalar mais substâncias nocivas, pois estão expostos a estes ambientes durante períodos mais longos. A folha ELF “Asma em atletas de elite” tem mais informação sobre este tópico.

Se eu sentir algum problema, o que devo fazer?

É importante que esteja alerta para os sintomas associados às doenças pulmonares, como a tosse, a falta de ar ou o cansaço, e que fale com o seu médico sobre eles assim que possível.

O seu médico poderá pedir-lhe que faça um exame chamado espirometria. Este teste avalia a sua respiração e pode ajudar a identificar algumas doenças pulmonares. Consiste em respirar para um aparelho que avalia a quantidade de ar nos seus pulmões e a velocidade a que consegue expirá-lo. A folha ELF sobre “Espirometria” tem mais informações sobre este teste.

Pode ainda ser necessário realizar uma prova de exercício para medir as suas limitações.

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Fazer exercício com uma doença pulmonar crónica

As pessoas que sofrem de doenças pulmonares crónicas podem melhorar os seus sintomas através de exercício regular.

Se tem uma doença respiratória crónica, a perspectiva de rapidamente ficar com falta de ar pode ser assustadora e desmotivá-lo de fazer exercício. Pode ser tentado a evitar o exercício por pensar que vai ficar com falta de ar, mas quanto menos actividade realizar, menos capaz ficará e as actividades diárias tornar-se-ão cada vez mais difíceis.

É boa ideia pedir apoio ao médico ou ao fisioterapeuta antes de começar a fazer exercício, para assegurar que o seu plano de exercício está adaptado às suas capacidades, de forma segura. Todos os programas de exercício devem ter um incremento gradual para permitir que o corpo se vá adaptando. Se atingir um ponto em que fica demasiado ofegante para conseguir falar, abrande o ritmo ou faça uma pequena pausa, se necessário. Quanto mais fizer, mais conseguirá fazer!

Exercícios intermitentes também podem ajudá-lo a lidar com a falta de ar. Neste caso, pode alternar exercícios breves, com uma duração de 1-2 minutos, com períodos de repouso (ou exercício mais lento). A isto chama-se “treino intervalado”.

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)

Se sofre de DPOC, as suas vias aéreas estão danificadas. Isto significa que, quando respira, os seus brônquios se tornam mais estreitos antes de conseguir esvaziar o ar dos pulmões. Muitos doentes respiram com os lábios semi-cerrados, que os ajuda a expirar de forma mais lenta e eficaz. Pode também respirar mais facilmente caminhando com os braços apoiados (por exemplo, apoiando-se no carrinho de compras ou até segurando o cinto das calças). Os doentes com doença pulmonar avançada podem beneficiar de utilizar um apoio de marcha com rodas.

Se sofre de DPOC grave, pode ter dificuldade em fornecer suficiente oxigénio ao seu corpo. Neste caso é necessário utilizar oxigénio suplementar durante as suas actividades. O seu médico poderá avaliar esta necessidade antes de começar um programa de exercício.

Leia a folha ELF sobre “Viver uma vida activa com DPOC” para mais informações sobre como manter-se activo com DPOC.

Fibrose pulmonar

Se sofre de fibrose pulmonar, doenças intersticiais do pulmão ou de problemas da parede torácica, pode ter dificuldade em expandir os seus pulmões. Pode ser necessário respirar mais profunda e lentamente, para permitir que os pulmões se expandam o melhor possível.

Se a falta de ar se agravar subitamente ou não melhorar rapidamente com o repouso, deve procurar o médico.

A European Lung Foundation (ELF) foi fundada pela European Respiratory Society(ERS) com o objetivo de reunir doentes, público e profissionais da área respiratória, demodo a influenciar de forma positiva a medicina respiratória. A ELF dedica-se à saúderespiratória em toda a Europa e reúne os principais peritos médicos europeus paradisponibilizar informações aos doentes e sensibilizar o público para a doença pulmonar.

Este material foi compilado com a ajuda do Dr. Tierry Troosters, Dr. Lieven Dupont, Julia Bott e Kjeld Hansen. Tradução de José Pedro Boléo-Tomé.

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Os seus pulmões e o exercício

AsmaO seu médico pode ajudá-lo a controlar os seus sintomas. Se a asma estiver bem controlada, é possível treinar ao mesmo nível que uma pessoa saudável.

O seu médico pode prescrever-lhe medicamentos para controlar os sintomas. Os corticóides inalados são uma das substâncias mais utilizadas e são a mais importante medicação de controlo. Os beta2-agonistas são os broncodilatadores mais eficazes, utilizados para aliviar os sintomas a curto-prazo.

Se é atleta e desejar participar em competições, deve verificar se os seus medicamentos se encontram na lista de substâncias de doping. Muitos fármacos para a asma (incluindo os corticóides inalados) não têm restrições em competição, mas é importante verificar cada um dos fármacos que planeia tomar. Se fizer o melhor tratamento o mais precocemente possível terá maior probabilidade de competir em pé de igualdade com atletas não-asmáticos.

Dicas gerais

• Comece sempre pelo aquecimento muscular• Melhore a sua flexibilidade com alongamentos• Melhore a sua resistência para poder treinar mais tempo• Aumente a actividade ao seu próprio ritmo.• Aumente a sua força muscular, por exemplo levantando pesos• Não se esqueça do arrefecimento no final, até que a sua respiração volte ao normal.

Case study: O atleta dinamarquês Kjeld Hansen completou a maratona de Nova Iorque, apesar de ser asmático.

“É difícil motivarmo-nos a treinar a 100% quando o nosso melhor não corresponde ao dos não-asmáticos. Por vezes sentia-me como se respirasse com um apito. Tentem correr e soprar um apito ao mesmo tempo para terem essa sensação.”

“Durante os treinos para a maratona senti a minha confiança crescer. Segui cuidadosamente o meu plano de tratamento e treinava pelo menos três vezes por semana. Este plano permitiu-me livrar-me dos sintomas da asma. O treino para a maratona fez-me superar-me a mim próprio e sentir melhorias a cada dia, e a sensação é fantástica.”

Lembre-se: o exercício traz muitos benefícios e prazer, mesmo com uma doença crónica. Mesmo que uma tarefa pareça difícil ao início, se a enfrentar gradualmente e ao seu ritmo vai notar uma melhoria progressiva nos seus sintomas.