os seis signos da luz - susan cooper
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“oi então, sem aviso, que o medo veio. A primeira onda o pegou enquanto ele estava atravessando a sala até sua cama. Fez com que ele ficasse paralisado no meio do quarto, o uivo do vento do lado de fora enchendo seus ouvidos. A neve chicoteou contra a janela. Repentinamente Will estava mortalmente frio...”TRANSCRIPT
(The Dark is Rising)
Livro 2 de 5 na série "The Dark is Rising"
Susan Cooper
Tradução Não Oficial: Eduardo A. Chagas Jr.
“ oi então, sem aviso, que o medo veio. A primeira onda o pegou
enquanto ele estava atravessando a sala até sua cama. Fez com que ele ficasse
paralisado no meio do quarto, o uivo do vento do lado de fora enchendo seus
ouvidos. A neve chicoteou contra a janela. Repentinamente Will es tava
mortalmente frio . . .”
ARTE UM: O ACHADO
éspera do Solstício de Inverno
ia do Solstício de Inverno
Buscador dos Signos
Andarilho no Antigo Caminho
ARTE DOIS: O APRENDIZADO
éspera de Natal
Livro de Gramarye
raição
ia de Natal
ARTE TRÊS: O TESTE
Chegada do Frio
Hawk no Escuro
Rei do Fogo e Água
Caçador Cavalga
União dos Signos
1
ARTE UM: O ACHADO
éspera Do Solstício De Inverno
“Demais!” James gr itou, e bateu a porta atrás dele. “O Quê?” disse Will.
“Crianças demais nessa famíl ia, é isso. Simplesmente demais.” James f icou fumaçando
na plataforma intermediár ia da escada como uma pequena locomotiva furiosa, então
andou rápido até o peitoril da janela e olhou para o jardim. Will colocou de lado seu
livro e ergueu suas pernas para abrir espaço. “Eu pude ouvir toda a gritar ia,” disse ele,
de pernas encolhidas.
“Não foi nada,” disse James. “Apenas a estúpida Bárbara novamente. Mandando.
Pegue isso, não toque naquilo. E Mary apoiando, rindo, rindo, rindo. Você poderia
pensar que essa casa era grande o bastante, mas sempre tem gente.”
Os dois olharam pela janela. A neve jazia f ina e irregular sobre o mundo. Aquele
enorme devastado cinza era a grama, com as árvores irregulares do pomar além ainda
negras; os quadrados brancos eram os telhados da garagem, do velho celeiro, das gaiolas
dos coelhos, das gaiolas das galinhas. Mais a trás havia apenas os campos planos da
fazenda dos Dawsons, com turvas faixas brancas. O céu todo estava cinza, cheio de mais
neve que se recusava a cair. Não havia cor em lugar a lgum.
“Quatro dias para o Natal,” disse Wil l. “Eu gostar ia que nevasse direito .”
“E o seu aniversário é amanhã.”
“Humm.” Ele ia dizer aqui lo também, mas teria s ido muito mais como um
lembrete. E o presente que mais deseja va em seu aniversário era algo que ninguém
poderia dar a ele: Era neve, l inda, profunda, cobertora neve, e ela nunca veio. Pelo
menos esse ano havia o chuvisco cinza, melhor do que nada.
Ele disse, lembrando de uma obrigação: “Ainda não alimentei os coelh os. Quer
vir?”
De botas e agasalhados, eles andaram pesadamente pela comprida cozinha. Uma
orquestra s infônica estava saindo do rádio; a irmã mais velha deles, Gwen, es tava
cortando cebolas e cantando; sua mãe estava curvada com um largo sorriso e com o r osto
vermelho sobre um forno. “Coelhos!” ela gritou, quando ela os avistou. “E um pouco
mais de feno da fazenda!”
“Estamos indo!” Will gri tou de volta . O r ádio soltou um súbito barulho pavoroso
de estática assim que ele passou pela mesa. Ele pulou. A senh ora Stanton berrou,
“ABAIXE ESSA COISA .”
Do lado de fora, estava repentinamente mui to calmo. Will retirou um balde de
grãos da caixa no celeiro com cheiro de granja, que na verdade não era celeiro algum,
mas uma comprida construção baixa com um a cobertura de telhas, que uma vez foi um
estábulo. Eles caminharam através da neve f ina até a f ile ira de pesadas caixas de
madeira, deixando escuras marcas de pés no chão congelado.
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Abrindo as portas para encher as caixas para comida, Will passou, f ranzindo o
rosto . Normalmente os coelhos estar iam amontoados sonolentos nos cantos, apenas os
famintos vindo em frente ta teando com o nariz para comer. Hoje eles pareciam inquietos
e nervosos, movendo-se para f rente e para trás, batendo contra suas paredes de madeira;
um ou dois até saltaram para t rás alarmados quando ele abriu suas portas. Ele foi até o
seu coelho favorito , chamado Chelsea, e tentou coçar carinhosamente atrás das orelhas
dele, como de costume, mas o animal afastou -se e encolheu-se em um canto, os redondos
olhos rosados olhando f ixamente vazios e aterrorizados.
“Ei!” disse Will, per turbado. “Ei James, olha isso. Qual é o problema com ele? E
com todos eles? '
“Eles parecem muito bem para mim.”
“Bem, para mim não parecem. Todos estão agitados. Até mesmo Che l sea. Ei,
vamos lá, garoto ” – Mas isso não fez bem algum.
“Engraçado,” disse James com leve interesse, observando. “Ouso dizer que suas
mãos cheiram mal. Você deve ter tocado algo que eles não gostam. Do mesmo modo que
cães e erva-doce, ou o contrário.”
“Não toquei em nada. Para dizer a verdade, Tinha acabado de lavar as mãos
quando vi você.”
“Então aí está,” James disse rapidamente. “Esse é o problema. Eles nunca
sentiram o seu cheiro limpo antes. Provavelmente todos morrem de choque.”
“Ha, muito ha.” Will o atacou, e eles se engalf inharam, sorrindo, enquanto o balde
vazio caiu no chão fazendo barulho. Mas quando ele olhou para trás ao saírem, os
animais continuavam se movendo dist raidamente, ainda sem comer, olhando para ele com
aqueles es tranhos olhos assustados.
“Deve ter uma raposa por per to de novo, eu acho,” disse James. “Lembre -me de
dizer para Mãe.” Nenhuma raposa poderia chegar aos coelhos, em sua f ile ira f irme, mas
as galinhas eram mais vulneráveis; uma família de raposas havia entrado em um dos
galinheiros no inverno anterior e carregou seis aves bem gordas pouco antes da época de
venda aos mercados. A Sra. Stanton, que contava com o dinheiro das galinhas a cada ano
para a judar a pagar por onze presentes de Natal, f icou tão furiosa que depois manteve
vigília no celeiro f rio por duas noites , mas os vilões não retornaram. Will pensou que se
ele fosse uma raposa ter ia mantido distância também; sua mãe podia ser casada com um
joalheiro, mas com gerações de fazendeiros de Buckinghamshire antes dela , ela não era
brincadeira quando os velhos instintos eram desper tados.
Arrastando o carrinho, uma ger ingonça feita em casa com uma barra unindo seus
eixos, ele e James f izeram seu caminho descendo a curva do caminho cheio de vegetação
e seguindo pela est rada até a Fazenda Dawsons. Rapidamente passando pelo terreno da
igreja, suas grandes árvores Teixo escuras curvando -se sobre a parede em ruínas; mais
lentamente pela Floresta das Gralhas, na esquina da Church Lane. A grande faixa de
árvores de castanha da índia, barulhentas com o grito das gralhas e entulhadas com a
desordem de seus ninhos que se espalhavam, era um dos lugares familiares deles.
“Escute as gralhas! Algo as perturbou.” O irregular coro desagradável era
ensurdecedor, e quando Will olhou para o topo das árvores ele viu o céu escuro com as
aves gi ratór ias. Elas voavam e mergulhavam para f rente e para t rás ; não havia agi tação
com movimentos súbitos, apenas o barulhento entrelaçar do amontoado de gralhas.
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“Uma coruja?”
“Elas não estão perseguind o nada. Vamos lá, Will, vai escurecer logo.”
“É por isso que é tão estranho que as gralhas este jam agi tadas. Todas deveriam
estar dormindo a essa hora.” Will baixou sua cabeça de forma relutante novamente, mas
então sal tou e agarrou o braço de seu irmão, seu olho capturado por um movimento na
escura rua est rei ta que conduzia para longe da estrada na qual eles es tavam. Church
Lane: e la corria entre a Floresta das Gralhas e o terreno da igreja até a pequena igreja
local, e então seguia até o Rio Thames.
“Ei!”
“O que foi?”
“Tem alguém al i. Ou havia. Olhando para nós.”
James suspirou. “E daí? Apenas alguém que saiu para caminhar.”
“Não, Não era.” Will gi rou seus olhos nervosamente, varrendo a pequena estrada
lateral. “Era um homem de aparência estranha tod o curvado, e quando me viu olhando ele
correu para trás de uma árvore. Se escondendo, como um besouro.”
James puxou o carrinho e foi subindo a estrada, fazendo Will correr para
acompanhar. “Então é apenas um mendigo. Não sei, todos parecem estar f icando
estranhos hoje - Barb e os coelhos e as gralhas e agora você, todos malucos. Vamos lá,
vamos pegar aquele feno. Quero meu chá.”
O carrinho saltou pelos sulcos congelados dentro do quintal dos Dawsons, o
grande quadrado de terra envolto por construções de t rês lados, e eles senti ram o
familiar cheiro de fazenda. O estábulo deve ter f icado todo sujo nesse dia; Velho George,
o tratador de gado desdentado, estava espalhando esterco pelo jardim . Ele ergueu uma
mão para eles. Nada escapava do Velho George; ele po deria ver um falcão mergulhar de
uma milha de distância. O Senhor Dawson surgiu de um celeiro.
“Ah,” disse ele. “Feno para a Fazenda dos Stantons?” Era a sua piada com a mãe
deles, por causa dos coelhos e das gal inhas. James falou, “Sim, por favor.”
“Está vindo,” Disse o Senhor Dawson. Velho George tinha desaparecido dentro do
celeiro. Continuam bem? Diga à sua mãe que comprarei dez aves dela amanhã. E quatro
coelhos. Não f ique assim, jovem Will. Se não for o feliz Natal deles, é para as pessoas
que os possuem.” Ele olhou para o céu, e Will pensou que uma aparência estranha cobriu
o seu marcado rosto moreno. Lá em cima, contra as nuvens cinza mais baixas, duas
gralhas negras estavam voando lentamente sobre a fazenda em um amplo círculo.
“As gralhas es tão fazendo um barulho estranho hoje,” Disse James. “Wil l viu um
mendigo na f loresta lá em cima.”
O Senhor Dawson olhou para Will f riamente. “Como ele era?”
“Apenas um pequeno homem velho. Ele saiu correndo.”
“Então o Andarilho está longe de casa,” o fazend eiro disse suavemente para si
mesmo. “Ah. Ele es tar ia mesmo.”
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“Clima ruim para caminhar,” disse James alegremente. Ele balançou a cabeça para
o céu ao norte sobre o telhado da casa da fazenda; as nuvens al i pareciam estar f icando
mais escuras, juntando-se em ameaçadores montes cinzentos com um tom amarelado. O
vento estava aumentando também; ele balançava seus cabelos, e eles podiam ouvir um
distante ruído dos topos das árvores.
“Mais neve chegando,” disse o Sr. Dawson.
“É um dia horrível,” Will falou re pentinamente, surpreso com a sua própria
violência; af inal de contas, ele havia desejado neve. Mas de algum modo uma
inquietação estava crescendo dentro dele. “É . . . assustador, de certo modo.”
“Será uma noite ruim,” disse o Sr. Dawson.
“Lá está o Velho George com o feno,” disse James. “Vamos lá, Wil l.”
“Você vai .” o fazendeiro disse. “Quero que Will pegue algo da casa para sua
mãe.” Mas ele não se moveu, enquanto James empurrou o carrinho em direção ao celeiro;
ele f icou com suas mãos enf iadas fundo nos bolsos de sua velha jaqueta de tweed,
olhando para o céu que escurecia.
“O Andarilho es tá longe de casa,” e le falou novamente. “E essa noite vai ser ruim,
e amanhã será além da imaginação.” Ele olhou para Wil l, e Wil l olhou de volta com
crescente alarme para o rosto cast igado, os brilhantes olhos escuros enrugados por
décadas de exposição ao sol, chuva e vento. Nunca antes ele havia notado o quão escuros
eram os olhos do Fazendeiro Dawson: estranho, nesse país de olhos azuis deles.
“Você tem um aniversár io chegando,” disse o fazendeiro.
“Humm,” disse Wil l.
“Tenho algo para você.” Ele olhou brevemente ao redor do terreno, e re ti rou uma
mão de seu bolso; nela, Will viu o que parecia um tipo de ornamento, feito de metal
negro, um círculo plano dividido por duas l inhas cruzadas. Ele o pegou, tateando -o
cur iosamente. Era quase do tamanho de sua palma, e um pouco pesado; rudemente
forjado em ferro, ele supôs, embora não tivesse pontos agudos ou arestas. O ferro era
f rio em sua mão.
“O que é isso?” disse ele.
“Por enquanto,” disse o Sr. Dawson, “apenas chame -o de algo para guardar. Para
guardar sempre com você, o tempo todo. Coloque -o no bolso, agora. E mais tarde, passe
o seu cinto através dele e use -o como uma f ivela extra.”
Will colocou o círculo de ferro em seu bolso. “Muito obrigado,” ele disse, meio
trêmulo. Sr. Dawson, geralmente um homem confortador, não es tava melhorando o dia de
modo algum.
O fazendeiro olhou para ele do mesmo jeito concentrado, enervante, a té que Will
sentiu o cabelo se eriçar na p arte de trás de seu pescoço; então ele deu um meio sorriso
torto , sem contentamento algum mas sim um tipo de ansiedade. “ Mantenha-o em
segurança, Will. E quanto menos você falar dele, melhor. Você precisará dele depois que
a neve vier.” Ele se tornou alegr e. “Vamos lá, agora, a Sra. Dawson tem um pote do seu
recheio de torta para sua mãe.”
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Eles se moveram em direção à casa da fazenda. A esposa do fazendeiro não estava
lá, mas esperando na porta estava Maggie Barnes, a leiteira de rosto redondo e de
bochechas avermelhadas da fazenda, que sempre lembrou Wil l de uma maçã. Ela sorr iu
para os dois, segurando uma grande jarra de louça branca com uma f ita vermelha
amarrada.
“Obrigado, Maggie,” disse o Fazendeiro Dawson.
“Missus disse que você i ria querer i sso pa ra o jovem Will aqui,” disse Maggie.
“Ela desceu até o vilarejo para ver algo com o vigário. Como está o seu irmão maior,
então, Will?”
Ela sempre disse isso, toda vez que o via; ela estava se referindo ao próximo
irmão mais velho de Will, Max. Era uma b rincadeira da família Stanton que Maggie
Barnes, dos Dawsons, t inha algo com Max.
“Bem, obrigado,” disse Will polidamente. “Deixou seu cabelo crescer muito.
Parece uma garota.”
Maggie deu um a risadinha com alegria. “Caia fora daqui!” Ela r iu e acenou
despedindo-se, e justo no último momento Will notou o olhar dela deslizar por cima de
sua cabeça. Pelo canto do seu olho enquanto ele virava, e le pensou ter visto um leve
movimento no portão da fazenda, como se alguém estivesse abaixando rapidamente para
fora de vista. Mas quando ele olhou, ninguém estava lá.
Com o grande pote de recheio de torta calçado entre dois fardos de feno, Will e
James empurraram o carrinho para fora do terreno. O fazendeiro f icou na porta atrás
deles; Will podia sentir os olhos dele, observando. Olhou nervosamente para c ima, para
as ameaçadoras nuvens crescentes, e de forma meio inconsciente deslizou uma das mãos
para dentro de seu bolso para ta tear o est ranho círculo de ferro. “Depois que a neve
chegar.” O céu parecia que estava pres tes a cai r sobre eles. Ele pensou: O que está
acontecendo?
Um dos cães da fazenda apareceu saltando, a cauda abanado; então ele parou
abruptamente algumas jardas de distância, olhando para eles.
“Ei, Racer!” chamou Will.
A cauda do cão abaixou, e ele ro snou, mostrando seus dentes.
“James!” disse Will.
“Ele não vai te machucar. Qual o problema?”
Eles continuaram, e viraram na es trada.
“Não é isso. Algo está errado, só isso. Algo ruim. Racer, Chelsea – os animais
estão todos com medo de mim.” Agora ele estava começando a f icar realmente assustado.
O barulho do bando de aves era al to , ainda que o dia estivesse começando a
morrer. Eles podiam ver os pássaros negros se amontoando no topo das árvores, mais
agitados do que antes, batendo as asas e virando d e um lado para outro. E Will estava
certo; havia um estranho na alameda, parado ao lado do terreno da igreja.
Ele era uma f igura ras tejante, mal trapilha, mais como um amontoado de roupas
velhas do que um homem, e ao avis tá - lo os rapazes diminuíram seu passo e
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inst intivamente chegaram mais perto do carro e um do outro. Ele virou sua cabeça
desgrenhada para olhar para eles.
Então, repentinamente, em um terr ível borrão de i rrealidade, uma confusa e
barulhenta massa negra estava descendo depressa do céu, e du as gralhas enormes
mergulharam no homem. Ele recuou, gr itando, suas mãos erguendo -se para proteger seu
rosto, e as aves bateram suas grandes asas em um cruel rodopiar negro e parti ram,
passando pelos rapazes e indo para o céu.
Will e James f icaram congelados, observando, pressionados contra os fardos de
feno.
O estranho escondeu-se novamente contra o portão.
“Kaaaaaaak. . . kaaaaaak. . .” saiu o barulho de rachar cabeça da revoada f renética
sobre a f loresta, e então mais t rês formas negras giratórias estavam seguindo at rás das
outras duas, mergulhando selvagemente no homem e então afastando -se. Dessa vez ele
gritou de terror e t ropeçou para a estrada, seus braços ainda enrolados em defesa ao
redor da sua cabeça, seu rosto abaixado; e ele correu. Os rapazes o uviram a penosa
respiração assustada enquanto ele se abaixava rapidamente passando por eles, subindo a
estrada, passando os portões da Fazenda Dawsons e seguindo em direção do vilarejo.
Eles viram um espesso cabelo cinza gorduroso debaixo de uma suja capa velha; um
sobretudo rasgado marrom costurado com barbante, e algumas outras peças de roupa
esvoaçando por baixo dele; botas velhas, uma com uma sola solta que o fazia chutar sua
perna para os lados estranhamente, meio saltando, enquanto ele corria. Mas ele s não
viram seu rosto.
O alto turbilhão acima de suas cabeças estava encolhendo em lentos vôos em loop,
e as gralhas começaram a descer uma a uma para as árvores. Elas ainda es tavam
conversando ruidosamente umas com as outras em um longo crocitar confuso, mas agora
a loucura e a violência não es tavam presentes. Surpreso, movendo sua cabeça pela
primeira vez, Will sentiu sua bochecha roçar contra algo, e colocando sua mão em seu
ombro, encontrou uma comprida pena negra. Ele a empurrou para dentro do bolso d e sua
jaqueta, movendo-se lentamente, como alguém semi -acordado.
Juntos e les empurraram o carro carregado descendo a estrada até a casa, e o
crocitar atrás deles morreu em um murmúrio assustador, como o do Thames cheio na
primavera.
James disse f inalmente, “Gralhas não fazem esse tipo de coisa. Elas não atacam
pessoas. E elas não descem quando não há muito espaço. Elas s implesmente não fazem
isso.”
“Não,” disse Will. Ele a inda estava se movendo em um desconectado semi -sonho,
não totalmente consciente de coisa alguma exceto uma curiosa sensação vaga em sua
mente. No meio de todo o barulho e do alvoroço, de repente teve uma est ranha sensação
mais forte do que qualquer outra que já tenha conhecido: Estava ciente de que alguém
tentava dizer -lhe algo, algo que havia lhe escapado pois não conseguiu entender as
palavras. Não exatamente palavras; t inha sido como um tipo de grito silencioso. Mas ele
não havia s ido capaz de capturar a mensagem, porque ele não soube como.
“Como não ter o rádio na estação certa,” di sse bem alto .
“O quê?” falou James, mas ele não es tava realmente escutando. “Que coisa ,” disse
ele. “Suponho que o mendigo deve ter tentado pegar uma gralha. E elas f icaram furiosas.
Ele vai f icar bisbilhotando por aí a trás das galinhas e dos coelhos, apo sto com você. É
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engraçado que ele não tivesse uma arma. Melhor dizer à mãe para deixar os cães no
celeiro esta noite.” Ele continuou conversando cordialmente até chegarem em casa e
descarregarem o feno. Will percebeu gradualmente, com espanto, que todo o c hoque do
selvagem ataque estava escorrendo da mente de James como água, e que em uma questão
de minutos até mesmo o fato daquilo ter acontecido havia sumido.
Algo tinha varrido completamente todo o incidente da memória de James; a lgo que
não quer ia que is so fosse relatado. Algo que sabia que isso impediria Will de contar
também.
“Aqui, pegue o recheio de torta da mamãe,” disse James. “Vamos entrar antes que
congelemos. O vento es tá aumentando de verdade . Foi bom nós termos corrido de volta.”
“Sim,” ' disse Will. Ele sentiu f rio , mas não era por causa do vento crescente. Seus
dedos se fecharam ao redor do círculo de ferro em seu bolso e seguraram -no com força.
Dessa vez, o ferro pareceu quente.
O mundo cinza havia desl izado para o escuro na hora em que ele s voltaram para a
cozinha. Do lado de fora da janela, a pequena van acabada do pai deles permanecia em
uma caverna de luz amarela. A cozinha es tava até mais barulhenta e quente do que antes.
Gwen estava colocando a mesa, pacientemente abrindo seu caminho a o redor de um trio
de f iguras curvadas onde o Sr. Stanton es tava observando algum pequeno pedaço de
maquinário sem nome com os gêmeos, Robin e Paul ; e agora com a forma rechonchuda
de Mary vigiando-o, o rádio estava berrando música pop a um enorme volume. Logo que
Will se aproximou, ele ir rompeu novamente em um chiado alto , de modo que todos
f izeram caretas e deram gr itos.
“DESLIGUE ESSA COISA !” A Sra. Stanton gr itou da pia desesperadamente. Mas
embora Mary, fazendo bico, tenha desligado o chiado e a músic a abafada, o nível de
ruído mudou muito pouco.
De alguma forma isso nunca aconteceu quando mais da metade da família estava
em casa. Vozes e risos enchiam a longa cozinha de piso de pedra enquanto eles sentavam
ao redor da mesa de madeira polida; os dois collies Welsh, Raq e Ci, jaziam cochilando
no canto da sala ao lado do fogo. Will f icou longe deles; não conseguir ia suportar se os
seus próprios cães tivessem rosnado para ele. Sentou calmamente para o chá – era
chamado chá se a Sra. Stanton o f izesse ant es das cinco horas, ceia se fosse mais tarde,
mas era sempre o mesmo tipo de refeição alegre – e manteve seu prato e sua boca cheia
de lingüiça para evi tar ter que falar. Não que alguém fosse sentir falta de sua conversa
em meio a balbúrdia da Família Stan ton, especialmente quando você era seu membro
mais jovem.
Acenando para ele da outra ponta da mesa, sua mãe questionou, “O que teremos
para o chá amanhã, Will?”
Ele falou indistintamente, “Fígado e bacon, por favor.”
James deu um grunhido alto .
“Cale a boca,” disse Bárbara , super ior e com dezesseis. “É o aniversário dele, ele
pode escolher.”
“Mas f ígado,” disse James.
“Fica muito bom para você,” disse Robin. “Em seu último aniversário, se eu me
lembro bem, todos tivemos que comer aquela revoltante cou ve-f lor com queijo.”
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“Eu preparei, ” disse Gwen, “e não es tava revoltante.”
“Sem ofensa,” disse Robin gentilmente. “Simplesmente não suporto couve -f lor. De
qualquer modo, você me entendeu.”
“Sim. Não sei se James entendeu.”
Robin, com voz alta e profund a, era o mais forte dos gêmeos e com o qual não se
deveria fazer gracinhas. James falou rapidamente, “Ok, ok.”
“Porções duplas amanhã, Wil l,” disse o Sr. Stanton da cabeceira da mesa.
“Deveríamos ter algum tipo especial de cer imônia. Um ri to tribal.” Ele sorriu para seu
f ilho mais jovem, seu rosto redondo e um t anto rechonchudo se enrugando com afeição.
Mary suspirou. “Em meu décimo primeiro aniversário, eu apanhei e fui mandada
para cama.”
“Meu Deus,” disse a mãe dela, “Incr ível que você lembre daquilo. E que jeito de
descrever. Para dizer a verdade, você levou uma palmada no traseiro, e bem merecida,
também, se eu bem me lembro.”
“Era meu aniversário,” disse Mary, balançando seu rabo de cavalo. “E eu nunca
esqueci.”
“Dê um tempo a si mesma,” Robin dis se a legremente. “Três anos não são muito
tempo.”
“E você era uma jovem de onze anos muito recente,” disse a Sra. Stanton,
mastigando pensativamente.
“Hum!” disse Mary. “E suponho que Will não seja?”
Por um momento todos olharam para Will. Ele piscou ass ustado para o círculo de
rostos observadores, e baixou para seu prato de modo que nada dele estava vis ível exceto
uma espessa cort ina caída de cabelo castanho. Era mais perturbador ser observado por
tantas pessoas de uma só vez, ou de qualquer modo por mai s pessoas para as quais
alguém poderia olhar de volta. Ele quase sent iu como se estivesse sendo atacado. E de
repente ele estava convencido que poderia, de algum jei to , ser mais perigoso ter tantas
pessoas pensando nele, todas ao mesmo tempo. Como se algué m hosti l pudesse “ouvir”. . .
“Will,” Gwen f inalmente falou, “é alguém de onze anos mais velho.”
“Sem idade, quase,” disse Robin. Ambos soaram solenes e distantes, como se
estivessem discut indo sobre algum estranho.
“Vamos lá, agora,” disse Paul inesperad amente. Ele era o gêmeo quieto, e o gênio
da família, talvez um verdadeiro: ele tocava a f lauta e pensava sobre poucas coisas mais.
“Alguém virá para o chá amanhã, Wil l?”
“Não. Angus Macdonald foi à Escócia, passar o Natal, e Mike está com sua avó,
em Southall* . Não me importo.”
Houve uma repentina comoção na porta dos fundos, e uma explosão de ar f rio;
muito est rondosa, e ruídos de um grande calafrio . Max colocou sua cabeça na sala pela
passagem; seu longo cabelo estava molhado e branco luminoso. “Descu lpem por estar
* Southall: um subúrbio de Londres.
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atrasado, Mãe, tive que andar desde a Comunidade. Uau, vocês deveriam ver lá fora –
como uma nevasca.” Ele olhou para a coluna de rostos brancos, e sorriu. “Vocês não
sabem que es tá nevando?”
Esquecendo tudo por um momento, Will deu um grit o alegre e correu
desajeitadamente com James até a porta. “Neve de verdade? Forte?”
“Eu diria,” falou Max, lançando gotas de água sobre eles enquanto ret irava seu
cachecol. Ele era o irmão mais velho, sem contar Stephen, que esteve na Marinha por
anos e raramente veio em casa. “Aqui.” Ele abriu um pouco a porta, e o vento assobiou
através dela novamente; do lado de fora, Will viu uma névoa branca cint ilante de grandes
f locos de neve – nenhuma árvore ou arbustos visíveis, nada além da neve ondulante. Um
coro de protesto veio da cozinha: “FECHE ESSA PORTA!”
“É a sua cerimônia, Will,” disse o seu pai. “Bem na hora.”
Bem mais tarde, quando ele foi para cama, Wil l abriu a cortina do quar to e
apertou seu nar iz contra o vidro f rio da janela, e ele viu a neve cai ndo mais espessa do
que antes. Duas ou três polegadas já estavam depositadas no beiral da janela, e ele quase
podia ver o nível aumentando enquanto o vento se lançava contra a casa. E le podia ouvir
o vento, também, lamurioso no teto próximo, acima dele, e em todas as chaminés. Will
dormia em um sótão de teto incl inado no topo da casa; e le havia se mudado para lá
apenas alguns meses antes, quando Stephen, a quem esse quarto sempre pertenceu, tinha
retornado para o seu navio após uma licença. Até então Will s empre tinha dividido um
quarto com James – todo mundo na família dividia com mais alguém.
“Mas o meu sótão tem que ser ocupado,” seu irmão mais velho havia dito , sabendo
o quanto Will gostaria disso.
Em uma estante em um canto do quarto agora f icava um r etrato do Tenente
Stephen Stanton, R.N., parecendo um tanto quanto desconfortável em vest ir o uniforme,
e ao lado dele uma caixa de madeira entalhada com um dragão na tampa, cheia com as
cartas que ele enviou a Will, às vezes, de lugares impensavelmente di stantes do mundo.
Eles formavam uma espécie de altar privado.
A neve at irava -se contra a janela, com um som semelhante a dedos esfregando o
vidro. Novamente Will ouviu o vento resmungando no telhado, mais alto do que antes;
estava se t ransformando em uma verdadeira tempestade. Ele pensou no mendigo, e f icou
imaginando onde ele teria conseguido abrigo. “O Andarilho está longe de casa. . . essa
noite será ruim.. .” Ele pegou sua jaqueta e tirou o es tranho ornamento de ferro dela,
correndo seus dedos pelo círculo, subindo e descendo a cruz interior que o dividia. A
superf ície do ferro era irregular, mas embora não mostrasse sinal algum de ter s ido
polida, era completamente suave – suave de um jeito que o lembrava de um certo lugar
no áspero chão de pedra da cozin ha, onde toda a aspereza havia sido eliminada por
gerações de pés virando para dar a volta na porta. Era um tipo de ferro estranho:
profundo, totalmente negro, sem brilho algum nele mas nenhum ponto de descoloração
ou oxidação em lugar algum. E mais uma ve z agora ele estava f rio ao toque; tão f rio
dessa vez que Will es tava preocupado que ele entorpecesse a ponta de seus dedos.
Largou-o rapidamente. Então retirou seu sinto das calças, pendurando -o solto como de
costume sobre a costa da cadeira, pegou o círcu lo, e passou através como uma f ivela
extra, como o Sr. Dawson disse a ele . O vento cantou no vidro da janela. Will colocou o
cinto de volta em suas calças e colocou -as na cadeira.
Foi então, sem aviso, que o medo veio.
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A primeira onda o pegou enquanto el e es tava atravessando a sala até sua cama.
Fez com que ele f icasse paralisado no meio do quarto, o uivo do vento do lado de fora
enchendo seus ouvidos. A neve chicoteou contra a janela. Repentinamente Wil l estava
mortalmente f rio , tremendo todo. Ele estava tão aterrorizado que não podia mover um
dedo. Em um f lash de recordação ele viu novamente o céu descendo sobre as árvores,
escuro com as gralhas, as grandes aves negras gi rando e circulando acima. Então aquilo
se foi, e ele viu apenas o rosto assustado do mendigo e ouviu seu gr ito enquanto ele
corria. Por um momento, então, havia apenas uma ameaçadora escur idão em sua mente,
uma sensação de olhar dentro de um grande buraco negro. Então o alto uivo do vento
morreu, e ele f icou livre.
Ficou parado tremendo, olhando selvagemente pelo quar to. Nada estava errado.
Tudo estava como de costume. O problema, ele pensou consigo, veio de pensar. Tudo
f icaria bem se ao menos ele pudesse parar de pensar e ir dormir. Ele trocou sua roupa,
subiu na cama, e deitou ali olhando para a luz do céu no telhado incl inado. Ele estava
cinza, coberto de neve.
Apagou a pequena lâmpada ao lado da cama, e a noite envolveu o quarto. Não
havia nem um pouquinho de luz mesmo quando seus olhos se acostumaram com o escuro.
Hora de dormir. Vamos lá, vá dormir. Mas embora ele vi rasse para o lado, puxasse os
cobertores até seu queixo, e f icasse ali relaxado, contemplando o alegre fato de que seria
seu aniversário quando ele acordasse, nada aconteceu. Isso não fez bem algum. Algo
estava errado.
Will estremeceu inquieto. Ele nunca teve uma sensação assim antes. Estava
f icando pior a cada minuto. Como se algum peso enorme est ivesse pressionando sua
mente, ameaçando, tentando tomar conta dele, transformá -lo em algo que ele não queria
ser. É isso, ele pensou: transformar-me em outra pessoa. Mas isso é estúpido. Quem iria
querer isso? E me transformar no quê? Algo rangeu do lado de fora da porta semi -aberta,
e e le pulou. Então aqui lo rangeu de novo, e ele soube o que era: uma certa tábua que
f reqüentemente conversava consigo mesma de noite, com um som tão familiar que
geralmente ele quase nunca havia notado. De qualquer modo, ele continuou deitado
escutando. Um tipo diferente de rangido veio de uma dis tância maior, no outro sótão, e
ele est remeceu novamente, puxando tanto que o cobertor esfregou contra o seu queixo.
Você só está assustado, ele disse a s i mesmo; es tá lembrando desta tarde, mas realmente
não há muito a lembrar. Ele tentou pensar no mendigo como alguém que não tivesse nada
de notável, apenas um homem comum com um casaco sujo e botas velhas; mas ao invés
disso, tudo que ele podia ver era o sinis tro mergulho das gralhas. “O Andarilho es tá
longe de casa. . . “Mais um estranho ruído de rangido surgiu, dessa vez sobre a sua
cabeça, no teto, e o ven to resmungou repentinamente al to , e Will sentou -se depressa ma
cama e procurou pela lâmpada.
De uma vez o quarto era uma reconfortante caverna de luz amarelada, e ele deitou
novamente envergonhado, sent indo -se es túpido. Com medo do escuro, ele pensou: que
horrível. Simplesmente como um bebê. Stephen nunca ter ia f icado com medo do escuro,
aqui em cima. Veja, al i está a estante e a mesa, as duas cadeiras e o peitoril da janela;
veja, al i estão os seis pequenos modelos de barcos da mobília pendurados no teto , e as
suas sombras navegando bem ali sobre a parede. Tudo comum. Vá dormir.
Ele desligou a luz novamente, e instantaneamente tudo estava muito pior do que
antes. O medo saltou sobre ele pela tercei ra vez como um grande animal que estava
esperando para dar o bote. Will jazia aterrorizado, tremendo, sent indo -se balançar, e
ainda incapaz de se mover. Ele sent iu que devia estar f icando louco. Do lado de fora, o
vento resmungou, fez uma pausa, ergueu -se em um rugido repentino, e houve um
barulho, um baque arra stado, contra a clarabóia no te to do seu quarto. E então, em um
ameaçador momento furioso, o horror tomou conta dele como um pesadelo tornado real;
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houve uma violenta pancada, com o rugido do vento subitamente muito mais a lto e mais
próximo, e uma grande explosão de f rio; e a sensação veio rápida contra ele com uma
força ameaçadora tamanha que o arremessou.
Will gri tou. Ele só f icou sabendo disso depois; ele estava imerso demasiadamente
fundo no medo para ouvir o som de sua própria voz. Por um momento de u m
aterrorizante apagão ele f icou deitado semi -consciente, perdido em algum lugar fora do
mundo, do lado de fora no espaço negro. E então houve passadas rápidas subindo a
escada do lado de fora de sua porta, e uma voz preocupada chamando, e uma abençoada
luz aquecendo o quarto e trazendo -o de volta a vida novamente.
Era a voz de Paul. “Wil l? O que foi? Você está bem?”
Lentamente Wil l abriu seus olhos. Ele percebeu que estava encolhido na forma de
uma bola, com seus joelhos apertados contra seu queixo. Ele viu Paul parado sobre ele,
piscando ansiosamente por t rás de seus óculos de aros escuros. Ele assentiu, sem
encontrar sua voz. Então Paul virou sua cabeça, e Will seguiu seu olhar e viu que a
clarabóia no teto estava pendurada, aberta, a inda balançando com a força de sua queda;
havia um quadrado negro de noite vazia no teto, e a través dele o vento trazia um frio
penetrante. No carpete abaixo da clarabóia estava um amontoado de neve.
Paul observou na borda da moldura da clarabóia. “O trinco es tá quebrado .
Suponho que a neve foi pesada demais para e le. De qualquer modo, deve ser um pouco
velho, o metal está todo enferrujado. Vou pegar um pouco de arame e consertarei até
amanhã. Isso acordou você? Deus, que susto terr ível. Se eu acordasse assim, você me
encontraria em algum lugar embaixo da cama.”
Will olhou para ele com impronunciável grat idão, e deu um leve sorriso. Cada
palavra na voz profunda de Paul era reconfortante, o trouxe de volta para perto da
real idade. Ele sentou na cama e puxou as cobertas.
“Papai deve ter a lgum arame junto daquela t ranqueira no outro sótão,” disse Paul.
“Mas vamos jogar fora essa neve antes que ela derreta. Olhe, tem mais entrando. Aposto
que não há muitas casas onde você pode ver a neve caindo no carpete.”
Ele estava certo: f locos de neve es tavam girando at ravés do espaço negro no te to,
espalhando por toda parte. Juntos eles juntaram o que puderam em uma bola de neve
deformada sobre uma velha revista, e Will desceu as escadas para jogá -la no banheiro.
Paul amarrou a clarabóia d e volta no lugar.
“Aí es tá,” ele disse com energia, e embora ele não tenha olhado para Will , por um
instante e les compreenderam um ao outro muito bem.
“Sabe de uma coisa, Wil l, está congelando aqui em cima . Porque não desce até
nosso quar to e dorme em mi nha cama? E acordarei você quando eu levantar mais tarde ,
ou posso até dormir aqui em cima se você puder sobreviver aos roncos de Robin. Tudo
bem?”
“Tudo bem .” disse Will brevemente. “Obrigado.”
Ele pegou suas roupas jogadas , com o cinto e seu novo ornamento, e os colocou
debaixo do braço, então parou na porta quando eles saiam, e olhou para trás. Não havia
nada para ver, agora, exceto um leve rast ro no carpete onde esteve o amontoado de neve.
Mas ele sent iu-se mais f rio do que o ar f rio o tinha fei to sen tir, e a doentia, sensação de
vazio do medo ainda es tava em seu peito . Se não houvesse nada errado além de estar com
medo do escuro, ele não ter ia de modo algum descido para refugiar -se no quarto de
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Paul. Mas da forma como as coisas estavam, ele sabia que não poderia f icar sozinho no
quarto dele. Pois quando eles es tavam limpando aquele monte de neve, ele tinha visto
algo que Paul não viu. Era impossível, em uma uivante tempestade de neve, que algo
vivo tivesse feito aquele inconfundível som contra o vidro que ele ouviu pouco antes da
clarabóia cair. Mas enterrado no monte de neve, ele encontrou uma fresca pena negra de
uma gralha.
Ele ouviu a voz do fazendeiro novamente: “Essa noite será ruim. E amanhã será
além da imaginação”.
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ARTE UM: O ACHADO
ia do Solstício de Inverno
Ele foi acordado por música. Ela o saudou, cadenciada e insis tente; música
delicada, tocada por delicados instrumentos que ele não conseguiu ident i f icar, com um
ritmo ondulante semelhante ao som de sinos, correndo através dela em uma dourada
cadeia de contentamento. Havia nessa música tanto do mais profundo encantamento de
todos os seus sonhos e imaginações que ele despertou sorrindo em pura alegria com o
som. No momento de seu despertar, e la começou a sumir, despedindo -se enquanto partia,
e então quando ele abriu seu olhos ela se fora. Ele tinha apenas a lembrança daquele
ritmo ondulante a inda ecoando em sua cabeça, e desaparecendo tão rápido que ele sentou
na cama abruptamente e esticou seu braço para o ar, como se ele pudesse t r azê- la de
volta.
O quarto estava mui to calmo, e não havia música alguma, e a inda assim Will sabia
que isso não tinha sido um sonho.
Ele ainda es tava no quarto dos gêmeos; ele podia ouvir a respiração de Robin,
lenta e profunda, vindo da outra cama. Luz f ria c int ilou ao redor das bordas das cortinas,
mas ninguém estava se movendo em lugar a lgum; era muito cedo. Will colocou suas
roupas amarrotadas do dia anterior , e deslizou para fora do quarto. Ele cruzou a
plataforma até a janela central, e olhou para ba ixo.
No primeiro momento brilhante e le viu o todo estranho mundo familiar, branco
cint ilante; o teto das casas do lado de fora se amontoavam em torres quadradas de neve,
e além delas todos os campos e cercas enterrados, mesclados em uma grande expansão
branca cont ínua e plana até o l imite do horizonte. Wil l deu em um feliz e longo suspiro,
silenciosamente alegre. Então, muito levemente, ele ouviu a música novamente, o mesmo
ritmo. Ele gi rou ao redor procurando por ela em vão no ar, como se pudesse vê -la em
algum lugar como uma luz oscilante.
“Onde está você?”
Ela se foi novamente. E quando ele o lhou de volta através da janela, ele viu que o
seu próprio mundo tinha ido com ela . Naquele f lash, tudo havia mudado. A neve estava
ali como estivera um momento an tes, mas agora não estava depositada em telhados e
espalhando-se plana sobre gramados e campos. Não havia te lhados, não havia campos.
Havia apenas árvores. Wil l estava olhando sobre uma grande f loresta branca: uma
f loresta de árvores espessas, f irmes como torres e antigas como rocha. Elas não possuíam
folhas, envoltas apenas em profunda neve que jazia intocada ao longo de cada galho,
cada pequeno ramo. Elas estavam em toda parte. Elas começavam tão perto da casa que
ele es tava olhando através dos galhos mai s al tos da árvore mais próxima, poderia até
esticar-se e balança-los se ele t ivesse ousado abrir a janela. Ao redor dele as árvores se
extendiam pelo horizonte plano do vale. A única interrupção naquele mundo branco de
galhos es tava longe ao sul, onde o Thames corria; ele podia ver a curva no rio marcada
como uma simples onda imóvel nesse branco oceano de f loresta, e a forma dele parecia
como se o rio fosse mais largo do que deveria ser.
Will observou e observou, e quando f inalmente se mexeu ele percebeu q ue es tava
esfregando o suave círculo de ferro atravessado em seu cinto. O ferro es tava quente ao
seu toque.
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Ele voltou para dentro do quarto.
“Robin!” ele disse bem alto . “Acorde!” Mas Robin suspirava lentamente e
ritmadamente como antes, e não se moveu. Ele correu até a próxima porta do quarto, o
familiar pequeno quarto que uma vez ele t inha dividido com James, e balançou James
com força pelo ombro. Mas quando parou de balançar, James jazia imóvel,
profundamente adormecido.
Will foi para a plataforma no vamente e tomou fôlego profundamente, e e le gritou
com toda força: “Acordem! Acordem, todo mundo!”
Agora ele não esperava qualquer resposta, e nenhuma veio. Havia um silêncio
total, tão profundo e atemporal quanto a neve cobertora; a casa e todos nela per maneciam
em um sono que não seria quebrado.
Will desceu as escadas para colocar suas botas, e a velha jaqueta de pele de
ovelha que havia pertencido, antes dele, a dois ou três de seus i rmãos. Então saiu pela
porta de trás, fechando -a suavemente atrás dele, e f icou olhando através do rápido vapor
de sua respiração.
O estranho mundo branco estava tomado pelo silêncio. Nenhum pássaro cantava. O
jardim não estava mais lá, nessa terra de f loresta. Nem estavam as construções nem as
antigas paredes decadentes. Havia apenas uma pequena clareira ao redor da casa agora,
cheia de montes de neve, antes que as árvores surgissem, com um pequeno caminho
levando para longe. Will começou a descer o túnel branco do caminho, lentamente,
pisando alto para manter a neve fora de suas botas. Tão logo ele se afastou da casa, ele
se sent iu muito sozinho, e e le se forçou a seguir sem olhar para t rás sobre o seu ombro,
porque quando ele olhasse, ele descobriria que a casa havia sumido.
Ele acei tou tudo que veio em sua mente, sem pe nsar ou quest ionar, como se ele
estivesse se movendo por um sonho. Mas uma parte profunda dele sabia que ele não
estava sonhando. Ele es tava bem acordado, em um Dia do Solstício de Inverno que tinha
esperado que ele acordasse desde o dia em que ele nasceu, e, de algum modo ele sabia,
por séculos antes disso. “Amanhã será a lém da imaginação”. . . Will saiu do caminho
branco-arqueado para uma estrada, levemente coberta de neve e ladeada em toda parte
pelas grandes árvores, e ele olhou para cima entre os galhos e viu uma gralha passar
voando lentamente, bem alto no céu da manhã.
Virando à direita, ele caminhou subindo a pequena estrada que em seu próprio
tempo era chamada de Huntercombe Lane. Era o caminho que ele e James tinham tomado
até a Fazenda Dawsons, a mesma estrada que ele havia pisoteado quase todos os dias de
sua vida, mas ela estava muito diferente agora. Agora, e la não era mais do que uma tr ilha
pela f loresta, com grandes árvores carregadas de neve cercando -a em ambos os lados.
Will moveu-se de olhos bem abertos e com cuidado através do silêncio, até que,
repent inamente, ele ouviu um leve ruído bem a f rente dele.
Ele f icou parado. O som veio novamente, abafado através das árvores: uma
rítmica, forte pancadinha, como um martelo atingindo metal. Veio em cur tas bat idas
irregulares, como se alguém estivesse martelando pregos. Enquanto ele f icou escutando,
o mundo ao redor dele pareceu iluminar -se um pouco; as árvores pareceram menos
densas, a neve cint ilou, e quando olhou para cima, a faixa de céu sobre a Huntercombe
Lane estava azul c lara. Ele percebeu que o sol f inalmente tinha subido saindo do escuro
banco de nuvens cinzentas.
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Ele marchou em direção ao som de marteladas, e logo chegou a uma clarei ra. Não
havia mais vilarejo ou Huntercombe, apenas isso . Todos os seus sent idos ganharam vida
de uma só vez, sob uma chuva de sons inesperados, visões, imagens. Ele viu duas ou três
pequenas construções de pedra com o teto espesso de neve; e le viu fumaça azul de
madeira subindo, e sent iu o cheiro também, e sen tiu ao mesmo tempo um voluptuoso
aroma de pão recém preparado que fez surgir água em sua boca. Viu que a mais próxima
das três construções tinha três paredes, aberta para a tr ilha, com um fogo amarelo
queimando brilhante dentro como um sol cativo. Grandes chuvas de centelhas estavam
jorrando de uma bigorna onde um homem estava martelando. Ao lado da bigorna estava
um alto cavalo negro, um lindo animal radiante; Wil l nunca tinha visto um cavalo tão
esplendidamente negro em cor, sem marca branca alguma.
O cavalo levantou sua cabeça e olhou bem para ele, pisoteou o chão, e deu um
pequena relincho. A voz do ferrei ro ergueu -se em protesto, e outra f igura moveu-se
saindo das sombras por trás do cavalo. A respiração de Wil l acelerou ao avistá -lo , e e le
sentiu um nó em sua garganta. Ele não sabia por quê.
O homem era al to , e vestia uma capa escura que caia reta como um robe; seu
cabelo, que crescia baixo sobre o seu pescoço, brilhava com um curioso tom
avermelhado. Ele bateu no pescoço do cavalo, murmurando em seu ouvido; então ele
pareceu senti r a causa de seu desconforto, virou -se, e viu Will. Seus braços caíram
subitamente. Deu um passo a f rente e f icou ali , esperando.
O brilho da neve desapareceu e o céu, e a manhã escureceu um pouco, enquanto
uma camada extra de nuvens distantes engoli ram o sol.
Will cruzou a rua at ravés da neve, suas mãos enf iadas fundo dentro dos bolsos.
Ele não olhou para a al ta f igura encapuzada encarando-o. Ao invés disso, ele olhou
resolutamente para o outro homem, agora curvado novament e sobre a bigorna, e percebeu
que o conhecia; era um dos homens da Fazenda Dawsons. John Smith, f ilho do Velho
George.
“Bom dia, John,” ele disse.
O homem de ombros largos no avental de couro deu uma olhada. Franziu a testa
levemente, então balançou a cabeça em saudação. “Ei, Will. Você saiu cedo. ”
“É meu aniversário .” disse Will.
“Um aniversário no Solstício de Inverno,” disse o estranho na capa. “Auspicioso,
de fato. E então você completará onze anos.” Era uma af irmação, não uma pergunta.
Agora Wil l t eve que olhar. Claros olhos azuis acompanhavam o cabelo castanho
avermelhado, e o homem falou com uma curiosa entonação que não era do Sudeste.
“Isso mesmo,” disse Will.
Uma mulher saiu de uma das casas próximas, carregando uma cesta com pães, e
com eles o cheiro de pão recém preparado que antes havia causado tamanha tentação em
Will. Ele cheirou, seu estômago lembrando -o de que não tinha tomado café da manhã. O
homem de cabelo avermelhado pegou um pão, rasgou -o, e estendeu metade em direção a
ele.
“Aqui . Você está com fome. Quebre o seu je jum de aniversár io comigo, jovem
Will.” Ele mordeu a metade res tante do pão, e Will ouviu a casca estalar
convidat ivamente. Ele se esticou para a f rente, mas assim que o fez, o ferreiro ti rou uma
ferradura quente do seu fogo e a colocou levemente sobre o casco preso entre seus
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joelhos. Houve um rápido cheiro enfumaçado de queimado, cortando o cheiro do pão
novo; então a ferradura estava de volta no fogo e o ferreiro verif icando o casco. O cavalo
negro f icou paciente e imóvel, mas Will recuou, baixando seu braço.
“Não, obrigado.”
O homem encolheu os ombros, rasgando seu pão avidamente, e a mulher, seu rosto
invisível por trás da borda de um capuz, foi embora novamente com sua cesta. John
Smith t irou a ferradura do fogo p ara chiar e fazer vapor em um balde com água.
“Vamos, vamos,” disse o cavaleiro irritadamente, levantando a cabeça. “O dia
passa. Quanto tempo mais?”
“Seu ferro não será apressado,” disse o ferreiro, mas agora ele estava martelando
a ferradura no lugar com golpes f irmes e rápidos. “Fei to!” ele disse f inalmente, raspando
o casco com uma faca.
O homem de cabelo avermelhado deu uma volta com seu cavalo, apertou as cilhas,
e desl izou para c ima, rápido como um gato saltando, em sua cela. Al tivo, com as dobras
de seu robe escuro esvoaçando sobre os f lancos do cavalo negro, ele parecia uma estátua
entalhada na noite. Mas os olhos azuis estavam vidrados de forma opressiva em Will.
“Suba, rapaz. Eu o levarei onde você quiser ir. Cavalgar é o único jei to , em uma ne ve tão
espessa quanto essa.”
“Não, obrigado,” disse Will. “Vou encontrar o Andarilho.” Ele ouviu suas
próprias palavras com espanto. Então é isso, ele pensou.
“Mas agora o Cavalei ro está longe de casa,” o homem disse, e com um rápido
movimento ele virou a cabeça de seu cavalo, curvado na cela, e fez um movimento para
agarrar o braço de Will. Will vi rou para o lado, mas ele ter ia sido pego se o ferreiro, que
estava parado na parede aberta da fornalha, não tivesse sal tado para f rente e o arrastado
para fora do alcance. Para um homem tão grande, e le se moveu com incrível velocidade.
O corcel da meia-noite empinou-se, e o cavaleiro encapuzado quase foi derrubado.
Ele gri tou com raiva, então se recompôs, e sentou olhando para baixo em um contemplar
f rio que era mais terrível do que a fúria. “Esse foi um movimento tolo, meu amigo
ferreiro,” Ele disse suavemente. “Não iremos esquecer.” Então ele deu um giro no corcel
e cavalgou na direção de onde Will t inha vindo, e os cascos de seu grande cavalo f izeram
apenas um assobio abafado na neve.
John Smith cuspiu, com escárnio, e começou a pendurar suas ferramentas.
“Obrigado,” disse Wil l. “Eu espero. . .” Ele parou.
“Eles não podem me fazer mal algum,” disse o ferrei ro. “Eu venho da geração
errada para isso. E nesse tempo eu pertenço à es trada, assim como minha habilidade
pertence a todos aqueles que usam a estrada. O poder deles não pode causar mal a lgum
na es trada através de Hunter 's Combe. Lembre -se disso, para si mesmo.”
O estado de sonho est remeceu, e Wil l sentiu seus pensamentos começarem a gi rar.
“John,” ele disse. “Eu sei que é verdade que eu devo encontrar o Andarilho, mas não sei
por quê . Você vai me dizer?”
O ferreiro vi rou e olhou diretamente para ele pela pr imeira vez, com uma espécie
de compaixão em seu rosto cast igado. “Ah não, jovem Will. Você despertou tão cedo
ass im? Isso você deve aprender por si próprio. E muito mais, hoje é seu primeiro dia.”
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“Primeiro dia?” disse Will.
“Coma,” disse o ferreiro. “Não há perigo nisso agora que você não estará
dividindo o pão com o Cavalei ro. Veja o quão rápido você viu o perigo disso. Assim
como soube que haveria grande perigo em cavalgar com ele. Siga o seu nariz durante o
dia, rapaz, simplesmente siga o seu nariz.” Ele chamou para a casa, “Martha!”
A mulher saiu novamente com sua cesta. Dessa vez ela baixou seu capuz e sorriu
para Will, e e le viu olhos azuis como os do Cavaleiro mas com uma suave luz neles.
Agradecido, ele deu uma grande mordida no quente pão crocante, que agora fora partido
e preenchido com mel. Então além da clareira houve um novo som de passadas abafadas
na es trada, e e le girou ao redor assustado.
Uma égua branca, sem cavaleiro ou cela, trotou até a clarei ra em direção a ele:
uma imagem inversa do corcel negro meia -noite do Cavaleiro, al ta e esp lêndida e sem
marcas de tipo algum. Contra a luminosidade da neve, agora cintilando como o sol re -
emergido da nuvem, parecia haver um leve brilho dourado em sua brancura e na longa
crina caindo sobre o pescoço arqueado. Foi parar ao lado de Will, baixou s eu nariz
levemente e tocou o ombro dele como que em saudação, então balançou sua grande
cabeça branca, soprando uma nuvem de sua respiração no ar f rio . Will es ticou -se e
pousou uma mão reverente em seu pescoço.
“Você vem em boa hora,” John Smith disse. “O fogo está quente.”
Ele voltou para a fornalha e bombeou uma ou duas vezes nos braços do fole, e o
fogo rugiu; então ele pegou uma ferradura da parede escurecida e a colocou no calor.
“Olhe bem,” ele disse, estudando o rosto de Will. “Você nunca viu uma é gua como essa
antes. Mas essa não será a última vez.”
“Ela é linda,” Will disse, e a égua o tocou outra vez genti lmente, em seu pescoço.
“Monte,” disse o ferreiro.
Will riu. Isso era tão obviamente impossível; sua cabeça mal chegava ao ombro da
égua, e mesmo se houvesse um est ribo ele estaria muito fora de alcance de seu pé.
“Não estou brincando,” disse o ferreiro, e realmente ele não parecia o tipo de
homem que costumava sorrir, muito menos fazer uma piada. “É seu privilégio. Agarre em
sua crina onde pode alcançá-la, e você verá.”
Para satisfazê-lo, Will esticou-se e enf iou os dedos de ambas as mãos nos longos
f ios espessos da crina da égua branca, na parte baixa do pescoço. No mesmo instante, ele
sentiu-se tonto; sua cabeça zuniu como um pião, e por t rás do som ele ouviu claramente,
mas muito distante, o ritmo constante de música semelhante ao som de sinos que ele
tinha escutado antes de acordar naquela manhã. Ele gri tou. Seus braços tremeram
estranhamente; o mundo girou; e a música se foi. Sua mente a inda estava lutando
desesperadamente para se recuperar quando ele percebeu que estava mais perto dos
galhos espessos de neve das árvores do que est ivera antes, sentado bem alto na larga
costa da égua branca. Ele olhou para baixo, para o ferreiro , e riu sat isfei to .
“Quando ela estiver com ferradura,” disse o ferrei ro, “ela o carregará, se você
pedir.”
Will acalmou-se repentinamente, pensando. Então algo atraiu sua atenção para
cima, at ravés das árvores arqueadas, para o céu, e ele viu duas gralhas negras p assarem
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voando preguiçosamente, bem alto . “Não,” disse ele. “Acho que eu devo i r sozinho.” Ele
bateu no pescoço da égua, gi rou suas pernas para um lado, e deslizou o longo caminho
descendo, preparando-se para um solavanco. Mas ele percebeu que pousou suave mente
seus pés na neve. “Obrigado, John. Muito obrigado. Adeus.”
O ferreiro balançou a cabeça levemente, então ocupou -se da égua, e Wil l
caminhou um pouco desapontado; ele tinha esperado ao menos uma palavra de despedida.
Da borda das árvores, ele olhou p ara trás. John Smith t inha uma das patas traseiras presa
entre seus joelhos, e es tava esticando sua mão enluvada para suas tenazes. E então aqui lo
que Will viu o fez esquecer de qualquer pensamento sobre palavras de despedidas. O
ferreiro não havia feito r emoção de ferraduras antigas, ou concerto de uma ferradura
danif icada; essa égua nunca tinha sido ferrada. E a ferradura que agora estava sendo
colocada em sua pata, como a linha de três outras ferraduras que agora ele podia ver
brilhando na parede mais di stante da ferraria, não era de modo algum uma ferradura mas
de uma outra forma, uma forma que ele conhecia muito bem. Todos os quatro “calçados”
da égua eram réplicas do círculo dividido por uma cruz que es tava em seu próprio cinto.
Will caminhou por um pequeno caminho descendo a estrada, debaixo de seu
pequeno te to de céu azul. Ele colocou uma das mãos dentro de sua jaqueta para tocar o
círculo em seu cinto, e o ferro estava gelado. Agora ele estava começando a entender o
que aqui lo signif icava. Mas não h avia sinal algum do Cavalei ro; ele não conseguia nem
ao menos ver quaisquer rast ros deixados pelas patas do cavalo negro. E ele não estava
pensando em encontros malignos. Ele podia apenas sentir que algo o estava arras tando,
com mais e mais força, em direção ao lugar onde em seu próprio tempo estaria a Fazenda
Dawsons.
Ele encontrou a estreita tr ilha lateral e vi rou descendo -a. A tr ilha seguia por um
longo caminho, virando em leves curvas. Parecia haver muito arbusto nessa parte da
f loresta; as ramif icações do topo de pequenas árvores e moitas salientes carregadas de
neve que se amontoavam, como armações brancas de cabeças brancas arredondadas. E
então, virando a próxima curva, Wil l viu diante dele um pequeno quadrado , mas com
paredes rudemente revest idas d e barro e um telhado alto com um chapéu de neve como
um espesso bolo congelado. Parado hesitante com uma das mãos na f rágil porta, estava o
velho mendigo cambaleante do dia anterior. O comprido cabelo cinza era o mesmo, e
também eram as roupas e a encolhid a face astuta.
Will aproximou-se do homem idoso e disse, como o Fazendeiro Dawson havia dito
no dia anterior: “Então o Andarilho está longe de casa.”
“Apenas um,” disse o velho. “Apenas eu. E o que isso tem a ver com você?” Ele
fungou, virando de lado para Will, e esfregou seu nar iz em uma manga gordurosa.
“Quero que você me diga algumas coisas,” disse Will, mais audaciosamente do
que sentiu. “Quero saber por que você estava perambulando por aí ontem. Porque estava
observando. Porque as gralhas o perseg uiram. Quero saber,” ele disse honestamente em
um súbito rompante, “o que signif ica que você seja o Andarilho?. ”
Com a menção das gralhas o velho encolheu -se per to da cabana, seus olhos
girando nervosamente para o topo das árvores; mas agora ele olhava pa ra Will com
suspeita mais af iada do que antes. “Você não pode ser o escolhido!” ele disse.
“Não posso ser o quê?”
“Você não pode ser. . . você deveria saber tudo isso. Especialmente sobre esses
pássaros infernais. Tentando me enganar, hein? Tentando engana r um pobre homem
velho. Você está com o Cavalei ro, não está? Você é o garoto dele, não é, hein? ”
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“Claro que não,” disse Will. “Não sei o que você quer dizer.” Ele olhou para a
cabana miserável; a trilha acabava aqui, mas muito malmente havia uma clareira de
verdade. As árvores f icavam perto ao redor deles, bloqueando grande parte do sol. Ele
disse, subitamente desolado, “Onde está a fazenda?”
“Não há fazenda alguma,” disse o velho mendigo impacientemente. “Ainda não.
Você deveria saber. . .” Ele fungou de novo violentamente, e resmungou para si mesmo;
então seus olhos se estreitaram e ele se aproximou de Will, olhando atentamente seu
rosto e soltando um forte cheiro repelente de suor antigo e pele suja. “Mas você deve ser
o escolhido, você deve. Se estiver c arregando o primeiro Signo que o Ant igo Escolhido
deu a você. Você o possui aí, então? Mostre. Mostre ao velho Andarilho o Signo .”
Tentando não se afastar com nojo, Will remexeu nos botões de sua jaqueta. Ele
sabia o que deveria ser o Signo. Mas ass im que ele afastou a pele de ovelha para mostrar
o círculo preso em seu cinto, sua mão esbarrou contra o ferro suave e o sentiu
queimando, mordendo com o f rio gél ido; no mesmo instante e le viu o velho sal tar para
trás, abaixando-se, olhando não para ele mas para t rás dele, sobre o seu ombro. Will
virou-se, e viu o Cavaleiro encapuzado em seu cavalo meia -noite.
“Seja bem -vindo,” disse o Cavaleiro suavemente.
O velho guinchou como um coelho assustado, virou e correu, t ropeçando pelos
montes de neve para o meio das árvores. Will f icou onde estava, olhando para o
Cavaleiro, seu coração batendo com tanta ferocidade que era dif íci l respirar.
“Foi tolice deixar a estrada, Will Stanton,” disse o homem na capa, e seus olhos
arderam como estrelas azuis. O cavalo negro di rigiu-se para f rente, para f rente; Wil l
encolheu-se contra o lado da f rágil cabana, olhando dentro dos olhos, e então com um
grande esforço ele fez seu braço lento afastar sua jaqueta e ass im o círculo de ferro
mostrou-se claramente. Ele agarrou o cinto pe lo lado; a f rieza do Signo era tão intensa
que podia senti r a força dele, como a radiação de um feroz calor ardente. E o Cavaleiro
parou, e seu olhos tremeram.
“Então você já tem um deles.” Ele encolheu seus ombros estranhamente, e o
cavalo balançou sua cabeça; ambos pareceram estar ganhando força, f icando maiores.
“Um não irá ajudá - lo , não sozinho, não ainda,” disse o Cavaleiro, e ele cresceu e
cresceu, ref letindo contra o mundo branco, enquanto seu garanhão relinchou triunfante,
empinando-se, o solado de suas patas chutando o ar de modo que Will podia apenas
espremer-se indefeso contra a parede. Cavalo e cavaleiro elevaram -se sobre ele como
uma nuvem negra, obscurecendo tanto a neve quanto o sol.
E então ele ouviu novos sons vagamente, e as crescentes fo rmas negras pareceram
cair para um lado, varridas por uma radiante luz dourada, brilhante com padrões ardentes
de círculos com um branco quente, sóis, estre las . Will piscou, e de repente viu que era a
égua branca da ferraria, empinando -se sobre ele. Ele agarrou f reneticamente a crina
ondulante, e da mesma forma que antes e le sentiu -se empurrado para a costa larga,
curvado baixo sobre o pescoço da égua, lutando pela sua vida. A grande égua branca
soltou um guincho agudo e sal tou para a tri lha através das árv ores, passando pela
disforme nuvem negra que es tava imóvel na clareira como fumaça; passando tudo em um
galope crescente, até que eles f inalmente chegaram a estrada, Huntercombe Lane, a
estrada através da Hunter 's Combe.
O movimento da grande égua mudou p ara um lento trotar poderoso, e Will ouviu a
batida de seu próprio coração em seus ouvidos enquanto o mundo reluziu por um borrão
branco. Então de uma vez só o cinza surgiu ao redor deles, e o céu foi escurecido. O
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vento se enf iou para dentro do colarinho, mangas e do topo das botas de Wil l,
chicoteando em seu cabelo. Grandes nuvens moviam -se em direção a eles vindo do norte,
fechando-se, enormes cabeças de trovões preto -acinzentados; o céu retumbou e rugiu.
Uma pequena fenda branca permaneceu, com um leve toque de azul por t rás dela, mas
também estava fechando, fechando. O corcel branco saltou para ela desesperadamente.
Sobre o seu ombro Will viu, descendo em direção a eles, uma forma ainda mias escura do
que as nuvens gigantes: o Cavaleiro, imensamente alt o , seus olhos eram dois pontos
ameaçadores de fogo azul e branco. Relâmpagos brilharam, trovão se espalhou pelo céu,
e a égua pulou nas nuvens que se chocavam enquanto a última abertura se fechou.
E eles estavam seguros. O céu es tava azul adiante e acima deles; o sol bri lhando,
aquecendo a pele de Will. Ele viu que tinham deixado seu Vale do Thames para trás.
Agora eles estavam entre as curva das ladeiras de Chi ltern Hills, cobertas com grandes
árvores, faia, carvalho e f reixo. E correndo como f ios pela ne ve ao longo das linhas dos
vales estavam as divisas que eram as marcas dos campos antigos – mui to antigos, como
Will sempre soubera; mais ant igos do que qualquer coisa em seu mundo exceto os
próprios vales, e as árvores. Então, em um vale branco, ele viu u ma marca diferente. A
forma estava cortada pela neve e re lva dentro da greda* debaixo da terra; ter ia sido
dif ícil percebê- la se ela não fosse familiar. Mas Wil l a conhecia. A marca era um
círculo, dividido por uma cruz.
Então suas mãos foram afastadas do forte aperto delas na espessa crina, e a égua
branca deu um longo rel incho agudo que era alto em seus ouvidos e então morreu
estranhamente em uma grande distância. E Will estava caindo, caindo; e ainda assim ele
não sentiu choque algum de queda, mas perce beu apenas que estava deitado com o rosto
virado para baixo na neve f ria. Ele ergueu -se cambaleante, sacudindo -se. A égua branca
se fora. O céu estava claro, e o raio do sol aquecia a costa de seu pescoço. Ele f icou
parado em um morro cheio de neve, com um a mata de árvores al tas cobrindo -o até bem
longe, e dois pássaros negros desl izando para f rente e para t rás acima das árvores.
E diante dele, sozinhas e enormes no declive branco, conduzindo a lugar algum,
estavam duas grandes portas de madeira entalhadas .
* Sedimento carbonático ou calcário, muito macio e friável, amarelo esverdeado, granulometria fina, composto primariamente por
microfósseis planctônicos, fracamente endurecido e prontamente deformável sob a ação da unha ou uma lâmina de canivete. A
variedade branca da greda recebe o nome de cré. Muito usada, especialmente para escrever em pedra ou em quadros negros (giz).
21
arte Um: O Achado
Buscador dos Signos
Will enf iou suas mãos f rias nos seus bolsos, e f icou parado observando os painéis
entalhados das duas portas fechadas que erguiam -se diante dele. Eles não lhe diziam
nada. Ele não conseguia encontrar signi f icado algum no zigue zague de símbolos
repetidos, em inf ini ta variação, em cada painel. A madeira das portas não era como
nenhuma que ele já tinha visto; era rachada, com pequenas depressões e ainda polida
pela idade, de forma que você mal poderia dizer q ue era madeira exceto por uns círculos
aqui e ali , onde alguém não havia conseguido evi tar de deixar o t raço de nós. Se não
fosse por sinais como aqueles, Will teria confundido as portas com pedra.
Seus olhos deslizaram além de seu contorno enquanto obser vava, e ele viu que ao
redor delas havia tremular de coisas , um movimento como o balançar do ar sobre uma
fogueira ou sobre uma estrada pavimentada aquecida por um sol de verão. E ainda ass im
não possuía diferença de calor para explicar isso.
Não havia puxadores nas portas. Will est icou seus braços para f rente, com a palma
de cada mão aberta contra a madeira , e empurrou. As portas de abriram sob suas mãos,
ele pensou ter escutado um pouco da música suave semelhante ao som de sinos
novamente; mas então ela se foi, dentro da nebulosa brecha entre a memória e a
imaginação. E ele passou através do portal, e sem murmúrio algum de som as duas
imensas portas fecharam -se atrás dele, e a luz, o dia e o mundo mudaram tanto que ele
esqueceu completamente o que eles ti nham sido.
Agora ele estava parado em uma grande sala. Não havia luz do sol aqui. Na
verdade, não havia janela alguma nas belas paredes de pedra, mas apenas uma série de
f inas aberturas. Entre essas, em ambos os lados, pendiam várias tapeçarias tão estran has
e lindas que pareciam brilhar na meia - luz. Will estava deslumbrado pelos brilhantes
animais, f lores e pássaros, de f ios entrelaçados ou bordados ali em ricas cores como
vitrais iluminados pelo sol.
Imagens saltaram até ele; ele viu um unicórnio pratea do, um campo de rosas
vermelhas, um luminoso sol dourado. Acima de sua cabeça as al tas vigas curvas do teto
arqueavam-se subindo para dentro das sombras; outras sombras mascaravam o f inal da
sala. Ele moveu-se sonhadoramente alguns passos para f rente, seus pés não fazendo som
algum nos tapetes de pele de ovelha que cobriam o chão de pedra, e ele observou em
frente. De uma só vez, centelhas pularam e fogo cintilou na escuridão, acendendo uma
enorme larei ra na parede mais dis tante, e ele viu portas, cadeiras de encosto longo e uma
pesada mesa entalhada. Paradas, uma em cada lado da lareira, duas f iguras esperavam
por ele: uma senhora idosa apoiando-se em um cajado, e um homem alto.
“Bem -vindo, Will,” disse a senhora idosa, com uma voz que era suave e gentil , e
ainda ass im ecoou através da sala arqueada como um sino agudo. Ela colocou uma f ina
mão em direção a ele, e a luz do fogo brilhou em um espesso anel que se ergueu sobre o
seu dedo. Ela era muito pequena, f rágil como um pássaro, e mesmo assim era a ltiva e
aler ta, Will, olhando para ela, teve uma impressão de imensa idade.
Ele não conseguiu ver seu rosto. Ficou parado onde estava, e inconscientemente
sua mão deslizou para o cinto. Então a f igura alta no outro lado da lareira moveu -se,
incl inando, e acendeu uma longa vela no fogo, e dirigindo -se à mesa, começou a colocar
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a vela em um anel de altos cast içais ali . A luz da esfumaçada chama amarela dançou no
rosto dele. Wil l viu uma forte, cabeça ossuda, com olhos profundos e um nar iz arqueado
ameaçador como o bico de um falcão; um punhado de espessos cabelos brancos caindo
pela al ta testa; sobrancelhas eriçadas e o queixo saliente. E embora ele não soubesse
porque, assim que olhou nas ameaçadoras linhas secretas daquele rosto, o mundo que ele
tinha habitado desde que nasceu pareceu girar, quebrar e vir abaixo novamente em um
padrão que não era o mesmo de antes.
Ficando ereto, o homem alto olhou para e le, sobre o círculo de velas acesas que
f icavam em cima da mesa como um aro de uma roda deitada. Ele deu um leve sorr iso, a
boca severa curvando -se nas pontas, e um súbito leque de linhas enrugando -se em cada
lado dos olhos profundos. Ele so prou a chama da vela com um rápido respirar.
“Entre, Will Stanton,” disse e le, e a voz profunda também pareceu saltar na
memór ia de Will. “Venha e aprenda. E traga aquela vela com você.”
Intr igado, Will olhou ao seu redor. Perto de sua mão direita, ele encontrou um
suporte negro feito de ferro tão alto quanto ele, ele vando-se em t rês pontas; duas das
pontas tinham uma est rela de ferro com cinco pontas e a terceira um cast içal com uma
espessa vela branca. Ele ret irou a vela, que era pesada o bastante para tornar necessário
o uso das duas mãos, e atravessou a sala até as duas f iguras que aguardavam na outra
ponta. Piscando através da luz ele viu, enquanto se aproximava deles , que o círculo de
velas na mesa não era um círculo completo; um suporte no anel es tava vazio. Ele se
apoiou na mesa, agarrando os lados suaves da vela, acendeu -a com em uma das outras, e
encaixou-a no soquete vazio. Era idêntica às outras. Eram velas muito es tranhas,
desiguais na largura mas f rias e r ígidas como mármore branco; elas queimavam com uma
comprido chama e sem fumaça, e tinham cheiro levemente resinoso, como pinheiros.
Foi somente quando inclinou -se para trás, para f icar ereto , que Will notou os dois
braços de ferro cruzados dentro do anel do candelabro. Aqui novamente, como em todo
lugar, estava o Signo: a cruz dentro do círculo, a esfera dividida. Havia outros soquetes
para velas dentro da moldura, e le via agora: dois por cada braço da cruz, e um no ponto
central onde eles se encontravam. Mas esses a inda estavam vazios.
A senhora idosa relaxou, e sentou na cadeira de encosto alto ao lado da larei ra.
“Muito bom,” ela disse confortavelmente naquela mes ma voz musical. “Obrigada, Will. ”
Ela sorriu, seu rosto curvando -se em uma teia de rugas, e Will sorriu em retorno
completamente animado. Ele não tinha idéia de porque estava tão feliz de repente;
parecia natural demais para ser questionado. Ele sentou -se em um assento que estava
claramente esperando por ele em frente ao fogo, entre as duas cadeiras.
“As portas,” disse e le, “as grandes portas pelas quais eu passei. Como elas
simplesmente f icam ali sozinhas? '
“As portas?” disse a senhora.
Algo em sua voz fez que Will olhasse por sobre os ombros para a parede de onde
ele acabara de vir : a parede com as duas portas altas, e o suporte de onde ele havia ti rado
a vela. Ele f icou olhando; tinha algo errado. As grandes portas de madeira t inham
sumido. A parede c inza estendia-se vazia, seus maciços blocos de pedra totalmente sem
características notáveis exceto por um escudo dourado, sozinho, pendurado alto e
reluzindo palidamente na luz do fogo.
O homem alto riu suavemente. “Nada é o que parece, garoto. Não esper e por nada
e não tema nada, aqui ou em qualquer lugar. É a sua primeira lição. E aqui es tá o seu
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primeiro exercício. Temos diante de nós Will Stanton – d iga-nos o que aconteceu com
ele, nesse último dia ou dois. ”
Will olhou dentro das chamas, quentes e be m vindas em seu rosto na sala f ria. Foi
necessár io muito esforço para arrastar sua mente de vol ta para o momento quando ele e
James tinham deixado a casa indo para a Fazenda Dawsons para colher feno - feno! – na
tarde anterior. Ele pensou, ref le tindo, sobr e tudo que f icava entre aquele momento e o
seu próprio presente. Depois de um tempo ele disse: “O Signo. O círculo com a cruz.
Ontem o Sr. Dawson me deu o Signo. Então o Andarilho veio atrás de mim, ou tentou, e
mais tarde eles – quem quer que eles sejam – eles tentaram me pegar.” Ele engoliu, f rio
com a lembrança de seu medo noturno. “Para pegar o Signo. Eles o querem, é sobre isso
que tudo se tra ta. Hoje é sobre isso também, embora seja muito mais complicado porque
agora não é agora, é a lguma outra época, não sei quando. Com tudo como um sonho, mas
real. . . Eles ainda estão atrás dele. Não sei quem são eles, exceto pelo Cavaleiro e o
Andarilho. Não conheço vocês também, apenas sei que estão contra e les. Você s, Sr.
Dawson e John Wayland Smith.”
Ele parou.
“Continue,” disse a voz profunda.
“Wayland?” disse Wil l, perplexo. “É um nome curioso. Não é parte do nome de
John. O que me fez dizer isso?'
“Mentes guardam mais do que elas sabem,” o homem alto disse. “A sua
particularmente. E o que mais você tem a diz er?”
“Não sei,” disse Wil l. Ele olhou para baixo e correu um dedo pela borda de seu
assento; era entalhado em suaves ondas regulares, como um pacíf ico mar. “Bem, sim , eu
sei. Duas coisas. Uma é que tem algo engraçado sobre o Andarilho. Realmente não acho
que ele seja um deles, porque ele f icou bastante assustado com o Cavaleiro quando o viu,
e fugiu.”
“E a outra coisa?” disse o grande homem.
Em algum lugar nas sombras da grande sala um relógio bateu, com uma profunda
nota como um sino abafado: uma simple s nota, uma “meia -hora”.
“O Cavaleiro,” disse Wil l. “Quando o Cavalei ro viu o Signo, ele disse: "Então
você já tem um deles." Ele não sabia que eu o tinha. Mas ele veio atrás de mim.
Perseguindo-me. Porque?”
“Sim,” disse a senhora idosa. Ela es tava olhando para e le um pouco tris te. “Ele
estava caçando você. Temo que a suposição que está em sua mente esteja certa, Will.
Não é o Signo que eles desejam mais que tudo. É você.”
O grande homem f icou de pé, e cruzou por trás de Will de modo que f icou com
uma das mãos na costa da cadeira da senhora idosa e a outra no bolso da jaqueta de
colarinho alto que ele usava. “Olhe para mim, Will,” disse e le. A luz do anel ardente de
velas na mesa cint ilou em seu cabelo branco, e coloc ou seus estranhos olhos sombreados
em sombras mais escuras ainda, piscinas de escur idão na face dura. “Meu nome é
Merriman Lyon,” disse ele. “Eu o saúdo, Will Stanton. Estivemos esperando por você um
longo tempo.”
“Conheço você,” disse Will. “Quero dizer. . . Você parece. . . Eu senti . . . Não
conheço você?”
24
“De um certo modo ,” disse Merr iman. “Você e eu somos, nós diríamos, parecidos.
Nascemos com o mesmo dom, e para o mesmo grande propósito . E você es tá neste lugar
nesse momento, Will, para começar a entender que propósito é esse. Mas primeiro v ocê
deve ser instruído sobre o dom.”
Tudo pareceu estar correndo longe demais, rápido demais. “Não entendo,” Will
disse, olhando assustado para o rosto forte. “Não tenho dom algum, realmente não tenho.
Quero dizer que não há nada de especial em mim.” Ele olhou de um para o outro deles,
f iguras al ternadamente acesas e sombreadas pelas chamas dançantes das velas e fogo, e
ele começou a sentir um medo crescente, uma sensação de ser pego em uma armadi lha.
Ele disse, “São apenas as coisas que têm acontecido com igo, é tudo.”
“Pense para trás, e lembre -se de algumas dessas coisas,” a senhora idosa falou.
“Hoje é seu aniversário. Dia do Solstício de Inverno, o seu décimo primeiro Dia do
Solstício de Inverno. Pense voltando ao ontem, a sua décima Véspera do Solstíc io de
Inverno, antes de você ter visto o Signo pela primeira vez. Não houve mesmo nada
especial, então? Nada novo?”
Will pensou. “Os animais estavam com medo de mim,” ele disse relutantemente.
“E os pássaros talvez. Mas não pareceu signif icar nada naquele momento.”
“E se você t inha um rádio ou aparelho de televisão ligados na casa,” disse
Merriman, “eles se comportaram de forma estranha sempre que você f icava perto deles.”
Will olhou para ele. “O rádio realmente f icava emitindo ruídos. Como você sabia
disso? Pensei que fosse interferência ou algo ass im.”
Merriman sorr iu. “De certo modo. De certo modo.” Então ele estava sombrio
novamente. “Ouça agora. O dom de que eu falei, é um poder, que eu vou lhe mostrar. É o
poder dos Antigos Escolhidos, que são tão antigos quanto essa terra e até mais antigos
do que isso. Você nasceu para herdá - lo, Will, quando chegou ao f im de seu décimo ano.
Na noite antes do seu aniversário, e le estava começando a acordar, e agora no dia do seu
nascimento ele está l ivre, f lorescendo, totalmente crescido. Mas ele ainda está confuso e
não direcionado pois você ainda não possui o controle adequado. Você deve ser tre inado
para lidar com ele, antes que ele possa cair em seu verdadeiro padrão e realizar a busca
para a qual você está aqui . Não f ique tão abatido, garoto. Fique de pé. Mostrarei a você
o que ele pode fazer.”
Will levantou-se, e a senhora idosa sorriu para e le encorajadoramente. Ele disse
para ela subitamente, “Quem é você?”
“A senhora . . .” Merr iman iniciou.
“A senhora é mui to idosa,” ela disse em sua clara voz jovem, “e teve em sua época
muitos, muitos nomes. Talvez isso seria melhor por agora, Will, se você continuasse a
pensar em mim como... a senhora idosa .”
“Sim, madame,” disse Will, e com o som da voz dela sua fel icida de surgiu de
volta, o alerta crescente se afastou, e ele f icou ereto e ansioso, observando dentro da s
sombras atrás da cadeira dela onde Merriman havia se movido alguns passos atrás. Ele
podia ver o brilho do cabelo branco na f igura alta, mas nada mais.
A voz profunda de Merriman surgiu da sombra. “Fique parado. Olhe para o que
você quiser, mas não com f irmeza, não concentre -se em nada. Deixe a sua mente vagar,
f inja que está em uma aula chata na escola.”
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Will riu, e f icou al i re laxado, inclinando sua cab eça para trás. Ele forçou os olhos,
preguiçosamente tentando distinguir entre as escuras vigas entrelaçadas no teto al to e as
l inhas negras que eram suas sombras. Merriman disse casualmente, “Estou colocando
uma imagem em sua mente. Diga -me o que você vê.”
A imagem formou-se na mente de Will tão naturalmente como se ele tivesse
decidido pintar uma paisagem e est ivesse visualizando o esboço dela antes de colocá -la
no papel. Ele disse, descrevendo os detalhes assim que eles surgiam: “Há o lado de uma
colina gramada, sobre o mar, como um tipo de suave penhasco. Muito céu azul, e o mar
de um azul mais escuro embaixo. Um longo caminho descendo, bem ali onde o mar
encontra a terra, há uma faixa de areia, adorável areia dourada brilhante . E dentro do
promontório gramado – você realmente não consegue ver daqui a não ser pelo canto do
seu olho – colinas, colinas nebulosas. Elas são de um tipo de púrpura suave, e suas
extremidades dissolvem-se dentro de uma névoa azul, do modo como as cores na pintura
dissolvem-se den tro uma da outra se você a deixar molhada” – ele saiu de seu semi -
transe de ver e olhar f ixo para Merriman, observando dentro da sombra com inquisi tivo
interesse – “e é uma imagem triste. Você sente saudade dela, você sente falta onde quer
que ela esteja. Onde f ica isso?”
“Basta,” disse Merriman depressa, mas ele soou contente. “Muito bem. Agora é a
sua vez. Dê-me uma imagem, Will. Apenas escolha alguma cena comum, qualquer coisa,
e pense no modo com o qual ela se parece, como se estivesse parado olhando p ara ela.”
Will pensou na primeira imagem que veio em sua mente. Era uma que, agora ele
percebia, est ivera o incomodando no fundo de seus pensamentos o tempo todo: a imagem
das duas grandes portas, i soladas ao lado da colina coberta de neve, com todos os s eus
intr incados entalhes, e o est ranho azul em suas bordas.
Merriman disse de uma vez: “As portas não. Nada tão próximo. De algum lugar de
sua vida antes que esse inverno viesse.”
Por um segundo Will olhou para e le desconcer tado; então ele engoliu em sec o,
fechou seus olhos e pensou na joalheria da qual seu pai cuidava na pequena cidade de
Eton.
Merriman disse, lentamente, “O puxador da porta é do tipo alavanca, como uma
barra arredondada, para ser empurrada para baixo ta lvez dez graus ao abrir. Uma
pequena campainha de sinos pendurada toca enquanto a porta se move. Você pisa
descendo algumas polegadas para a lcançar o chão, e o solavanco da descida é assustador
sem ser per igoso. Há expositores de vidro por todas as paredes, e sob o balcão de vidro –
é claro, essa deve ser a loja do seu pai. Com algumas coisas bonitas dentro dela. Um
relógio do avô, muito antigo, no canto lá atrás, com uma face pintada e uma profunda
marca. Um ornamento turquesa no expositor central com um conjunto de serpentes
prateadas: t rabalho Zuni, eu acho, um caminho muito distante de casa. Um pingente
esmeralda como uma grande lágrima verde. Um pequeno modelo encantador de um
castelo das Cruzadas, em ouro – ta lvez um saleiro – que você adorava, eu acredito, desde
que era um pequeno garoto. E aquele homem atrás do balcão, pequeno, contente e gentil ,
deve ser o seu pai, Roger Stanton. Interessante f inalmente vê-lo claramente, l ivre da
névoa. . . Ele tem um óculos de joalheiro em seu olho, e es tá olhando para um anel: um
antigo anel de ouro com nove pedras pequeninas montadas em três colunas, três
f ragmentos de diamante no centro e três rubis em cada lado, e algumas curiosas linhas
rúnicas nos extremos, as quais acredito que eu deva olhar mais de perto algum dia em
breve.”
26
“Você viu até o anel!” disse Will, fascinado. “É o anel da mamãe, Papai estava
olhando para ele na última vez em que eu est ive na loja. Ela pensou que uma das pedras
estava solta, mas ele disse que era uma ilusão de ótica. . . Como você faz isso?'
“Faço o quê?” Havia uma a ssustadora suavidade na voz profunda.
“Bem . . . aquilo. Colocar uma imagem em minha cabeça. E depois ver aquela que eu
mesmo tenho ali . Telepat ia, não é chamado assim? É espantoso.” Mas um desconforto
estava surgindo em sua mente.
“Muito bem,” Merriman dis se pacientemente. “Vou mostrar de outra maneira. há
um círculo de chamas das velas ao seu lado ali na mesa, Will Stanton. Agora , você
conhece alguma maneira possível de apagar uma daquelas chamas, além de soprá -la ou
extingui -la com água, um apagador de ve las ou a mão?”
“Não.”
“Não. Não há. Mas agora, direi que você, por ser quem você é, pode fazê -lo
simplesmente desejando-o. Para o dom que você tem, essa é uma pequena tarefa na
verdade. Se em sua mente você pensar em uma daquelas chamas e pensar nela sem nem
ao menos olhar, pense nela e diga a e la para se apagar, então aquela chama se apagará. E
isso é uma coisa possível para qualquer rapaz normal fazer? ”
“Não.” Will disse desanimadamente.
“Faça,” disse Merriman. “Agora.”
Houve um repentino si lêncio pesado na sala, como veludo. Will podia senti r os
dois o observando. Ele pensou desesperadamente: Vou cair fora dessa, pensarei em uma
chama, mas não será uma dessas; será algo muito maior, algo que não poderia ser
apagado exceto por alguma tremenda mágica i mpossível que até mesmo Merriman não
saiba. . . Ele olhou cruzando a sala para a luz e sombra dançando lado a lado pelas ricas
tapeçarias nas paredes de pedra, e pensou f irme, em furiosa concentração, nas toras
ardentes na grande lareira a trás dele. Ele sent iu o calor dela na costa de seu pescoço, e
pensou no coração laranja da grande pilha de toras e nas saltitantes l ínguas de fogo
amarelas . “Apague, fogo”, ele disse para ele em sua mente, sentindo -se subitamente
seguro e livre dos perigos do poder, porque é claro que fogo algum daquele tão grande
como aquele poderia possivelmente apagar sem uma razão real. “Pare de queimar, fogo.
Apague”.
E o fogo apagou-se.
De uma vez a sala es tava f ria – e mais escura. O anel de chamas de velas na mesa
continuava queimando, somente em uma pequena piscina f ria de sua própria luz. Will
deu um giro, olhando em consternação para o coração das toras; não havia s inal de
fumaça, ou água, ou qualquer outra maneira pela qual o fogo poderia possivelmente ter
morrido. Mas ele estava morto, f rio e negro, sem uma centelha. Ele se moveu ao redor
lentamente. Merriman e a senhora idosa não disseram palavra alguma, e não se moveram.
Will curvou-se e tocou as toras enegrecidas no centro, e elas estavam frias como pedra –
ainda enrugadas com uma camada de cinza nova que se esvaiu em uma poeira branca sob
os seus dedos. Ele f icou de pé, esfregando as mãos lentamente para cima e para baixo na
perna de sua calça, e olhou desamparado para Merriman. Os olhos profundos do homem
ardiam como chamas de velas negras , mas havia compaixão neles, e quando Will olhou
nervosamente para a senhora idosa, viu uma espécie de ternura em seu rosto também. Ela
disse gent ilmente: “Está um pouco frio , Will.”
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Por um intervalo atemporal que não durou mais do que o es t remecer de um nervo,
Will sentiu um gritante f lash de pânico, uma recordação do medo que ele havia sent ido
no escuro pesadelo da tempestade de neve; então ele se foi, e na paz do seu desaparecer
ele sentiu-se de algum modo mais forte, maior, mais relaxado. Ele soube de algum modo
que tinha aceitado o poder, seja lá o que ele fosse, ao qual ele esteve resis tindo, e soube
o que deveria fazer. Dando um profundo suspiro, enquadrou seu ombros e f icou ereto e
f irme ali na grande sala. Sorriu para a senhora idosa; então olhou além dela, para o nada,
e concentrou-se na imagem do fogo. “Retorne, fogo”, ele disse em sua mente. “Queime
novamente”. E a luz es tava dançando sobre as paredes atapetadas mais uma vez, e o calor
das chamas estava de volta ao seu pescoço, e o fogo queimou.
“Obrigada,” disse a antiga senhora.
“Bem feito ,” Merriman disse suavemente, e Will sabia que ele não estava falando
apenas da extinção e reacendimento de um fogo.
“É uma responsabilidade,” Merriman disse. “Não se engane com relação a isso.
Qualquer grande dom, poder ou talento é uma responsabilidade, e esse mais do que
qualquer outro, e você constantemente irá desejar estar l ivre dele. Mas não há nada a ser
feito . Se você nasceu com o dom, então você deve servi -lo , e nada nesse mundo ou fora
dele deve f icar no caminho desse serviço, pois foi para isso que você nasceu e essa é a
Lei. E é assim, jovem Will, que você possui apenas um vislumbre de uma idéia do dom
que está em você, pois até que as primeiras provações do aprendizado estejam
terminadas, você estará em grande perigo. E quanto menos você souber do signif icado do
seu poder, melhor ele será em protegê - lo como ele tem feito pelos últimos dez anos.”
Ele contemplou o fogo por um momento, f ranzindo a testa. “Direi a você apenas
isso: que você é um dos Antigos Escolhidos, o primeiro a nascer por quinhentos anos, e o
último. E assim como todos, está preso pela natureza para devotar -se ao longo conflito
entre a Luz e o Escuro. Seu nascimento, Will, completou um círculo que tem crescido
por quatro mil anos em cada par te mais antiga dessa terra: o círculo dos Antigos
Escolhidos. Agora que você chegou ao seu poder, sua tarefa é tornar o círculo
indest rut ível. É sua missão encontrar e guardar os seis grandes Signos da Luz, feitos
através dos séculos pelos Ant igos Escolhidos, para se unirem em poder apenas quando o
círculo estiver completo. O primeiro Si gno já está pendurado em seu cinto, mas
encontrar o resto não será fáci l . Você é o Buscador dos Signos, Will Stanton. Esse é o
seu dest ino, sua primeira missão. Se puder realizá -la, terá trazido à vida uma das três
grandes forças que os Antigos Escolhidos devem direcionar para derrotar os poderes do
Escuro, que agora es tão se espalhando de modo constante e sorrateiro por sobre todo esse
mundo.”
O ritmo de sua voz, que esteve subindo e descendo em um crescente padrão
formal, subitamente tornou -se um tipo de grito de batalha cantado; um a convocação , Will
pensou de repente, com um calafrio comprimindo sua pele, para coisas a lém da grande
sala e além do tempo desse chamado . “Pois o Escuro, o Escuro está surgindo. O
Andarilho está longe de casa, o Cavaleiro está cavalgando; eles acordaram, o Escuro está
surgindo. E o último do Círculo veio para clamar pelo que é seu, e todos os círculos
agora devem ser unidos. O cavalo b ranco deve ir até o Caçador, e o r io tomar o vale;
deve haver fogo na montanha, fogo sob a rocha, fogo sobre o mar. Fogo para afastar o
Escuro, pois o Escuro, o Escuro está surgindo!”
Ele f icou ali parado, alto como uma árvore na sala escure cida, sua voz profunda
soando em um eco, e Will não conseguiu tirar os olhos dele. “O Escuro está surgindo”.
Isso foi exatamente o que ele sent iu noite passada. Era isso que ele estava começando a
sentir novamente agora, uma sombria consciência do mal espe tando nas pontas de seus
dedos e no topo de sua espinha, mas pela sua vida ele não conseguiu emiti r uma palavra.
28
Merriman disse, em um tom de canção que veio estranhamente de sua surpreendente
f igura, como se ele fosse uma criança recitando:
When the Dark comes rising , six shall turn it back;
Three from the circle , three from the track;
Wood, bronze, iron; water, f i re, stone;
Five wi ll return ,and one go alone.
Então ele deslizou para f rente saindo da sombra, passando pela senhora idosa,
imóvel e de olhos claros em sua cadeira de encosto longo; com uma das mãos ele t irou
uma das espessas velas brancas do anel ardente, e com a outra virou Wil l em direção à
grandiosa parede lateral.
“Olhe bem, a cada momento, Will,” ele disse. “Os Antigos Escolhidos mostrarã o
algo de si mesmos, e relembrarão a parte mais profunda de você. Por um momento, olhe
para cada um.” E com Will a seu lado ele deu passos largos ao redor da sala, segurando a
vela no alto de novo e de novo ao lado de cada tapeçaria pendurada nas paredes. A cada
vez, como se ele houvesse dado um comando, uma imagem clara brilhou por um instante
saindo de cada quadro adornado, tão luminosa e profunda como uma f igura banhada pelo
sol vista at ravés de uma janela. E Wil l viu.
Ele viu uma pequena árvore branca de f lores, crescendo do telhado de palha de
uma casa. Ele viu quatro grandes pedras cinzentas em um promontório verde acima do
mar. Ele viu o sorriso no crânio com olhos vazios de um cavalo, com um simples chif re
grosso quebrado em uma testa ossuda e l inha s vermelhas entrelaçando as longas
mandíbulas. Ele viu um raio at ingindo uma enorme árvore de faia e, saindo do f lash, um
grande fogo ardendo em uma ladeira vazia contra um céu negro.
Ele viu o rosto de um garoto não muito mais velho do que ele mesmo, olh ando
cur iosamente para dentro de si mesmo: uma face negra debaixo de liso cabelo negro, com
estranhos olhos de gato, as pupilas cercadas por luz mas quase amarelas no interior. Ele
viu um rio largo em inundação e ao lado dele um homem velho encolhido empol eirado
em um enorme cavalo. Enquanto Merr iman o conduzia inexoravelmente de uma imagem a
outra, repent inamente ele viu com um f lash de terror a imagem mais clara de todas: um
homem mascarado com um rosto humano, a cabeça de um cervo, os olhos de uma coruja ,
os ouvidos de um lobo, e o corpo de um cavalo. A f igura saltou, arrastando alguma
lembrança perdida bem fundo dentro de sua mente.
“Lembre -se deles,” disse Merriman. “Eles serão uma força.” Will assentiu, então
f icou tenso. E de uma só vez ele ouviu ruí dos crescendo do lado de fora da sala, e soube
com um terrível choque de certeza porque ele havia sent ido tanta inquietação pouco
tempo antes. Enquanto a senhora idosa sentava imóvel em sua cadeira, e ele e Merriman
f icavam de pé ao lado da lareira, a gran de sala foi subitamente preenchida com uma
horrenda mistura de gemidos, resmungos e lamentos, como as vozes engaioladas de um
zoológico do mal. Esse era um som mais puramente desagradável do que qualquer outro
que ele já tivesse ouvido.
O cabelo eriçou na costa do pescoço de Will, e então de repente houve um
silêncio. Uma tora caiu, chiando, no fogo. Will escutou o sangue batendo em suas veias.
E dentro do silêncio um novo som surgiu de algum lugar lá fora, além da parede distante:
o tristonho e sér io lamento de um cão desamparado, pedindo em pânico por ajuda e
compaixão. Soava exatamente como Raq e Ci, seus próprios cães, t inham feito quando
eram f ilhotes chorando por conforto no escuro; Wil l sentiu como se estivesse
dissolvendo de pena, e ele vi rou instin tivamente em direção ao som.
“Oh, onde ele es tá? Pobre criatura . . .”
29
Quando olhou para a rocha branca da parede distante, e le viu uma porta ganhar
forma nela. Não era uma porta como o desaparecido grande par pelo qual ele tinha
entrado, mas uma portinha est reita muito menor, parecendo totalmente fora de lugar. Mas
ele sabia que podia abr i-la para ajudar o cão suplicante. O animal choramingou
novamente em miséria maior do que antes; mais alto , mais apelat ivo, em um desesperado
meio-uivo. Will gi rou para f re nte impulsivamente para correr até a porta; então f icou
congelado no meio do passo pela voz de Merriman. Ela era suave, mas f ria como rocha
no inverno. “Espere. Se você visse a forma do pobre cão triste, f icaria imensamente
surpreso. E essa seria a última coisa que ver ia.”
Incrédulo, Will f icou parado e esperou. O choro foi sumindo, em um longo uivo
f inal. Houve silêncio por um momento. Então de repente ele ouviu a voz de sua mãe de
trás da porta.
“Will? Wiii --- i i l l . . . Venha me ajudar , Will !” Era inconfundivelmente a voz dela,
mas cheia de uma emoção não familiar: havia nela uma nota de pânico semi -controlado
que o aterrorizou. Ela surgiu novamente. “Will? Preciso de você. . . onde está você, Will?
Oh, por favor, Will, venha me ajudar . . .” E então uma infeliz interrupção no f inal, com
um soluço.
Will não conseguiu suportar. Ele lançou -se a f rente e correu para a porta . A voz
de Merriman veio atrás dele como uma chicotada. “Pare!”
“Mas eu tenho que ir, não consegue escutá - la?” Will gri tou com raiva. “Eles
pegaram minha mãe: Tenho que ajudar . . .”
“Não abra aquela porta!” Havia um certo desespero na voz profunda que disse a
Will, através do instinto, que em último caso Merriman estava incapaz de impedi -lo .
“Essa não é sua mãe, Will,” a senhora idosa falou claramente.
“Por favor, Will!” a voz de sua mãe implorou.
“Estou indo!” Will est icou -se a té o pesado trinco da porta, mas em sua pressa ele
tropeçou, e bateu no grande cast içal fazendo com que seu braço fosse imprensado contra
o seu lado. Houve uma repentina dor de queimadura em seu antebraço, e ele gritou e caiu
ao chão, olhando para a parte de dentro do seu pulso onde o Signo do círculo dividido
estava queimado agonizantemente vermelho em sua pele. Mais uma vez o símbolo de
ferro em seu cinto o tinha pego co m sua feroz mordida de f rio; dessa vez ele queimou
com um frio semelhante a um calor b ranco, em um feroz aviso ardente contra a presença
do mal, a presença que Will t inha sentido mas havia esquecido . Merr iman e a senhora
idosa ainda não haviam se movido. Will f icou de pé cambaleante e escutou, enquanto do
lado de fora da porta a voz de sua mãe choramingava, e então f icou raivosa, e
ameaçadora; então suavizou novamente e persuadiu e bajulou; então f inalmente cessou,
desaparecendo em um soluço que o feriu ai nda que sua mente e sentidos dissessem que
não era real.
E a porta desapareceu com ele, desfazendo -se como névoa, até que a parede de
pedra cinza estava sólida e intacta com o antes. Do lado de fora, o arrepiante coro de
resmungos e choramingos inumanos co meçou de novo.
Então a senhora idosa levantou-se e atravessou a sala, seu longo vestido verde
roçando genti lmente a cada passo. Ela pegou o antebraço machucado de Will com ambas
as mãos e colocou sua f resca palma d irei ta sobre ele. Então ela o soltou. A d or no braço
de Will se fora, e onde a queimadura vermelha es tivera ele via agora a brilhante pele sem
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cabelo que cresce quando uma queimadura foi curada faz mui to tempo. Mas a forma da
cicatriz era clara, e e le soube que a carregaria até o f im de sua vida; era como uma
marca. Os sons de pesadelo além da parede cresceu e caiu em ondas ir regulares.
“Sinto muito,” disse Will miseravelmente.
“Estamos cercados, como você vê,” Merriman disse, indo juntar -se a eles. “Eles
esperam obter controle sobre você enqua nto ainda não tiver seu poder completo. E esse é
apenas o início do perigo, Will. Por toda essa estação do Solstício de Inverno o poder
deles estará mui to forte, com o poder da Antiga Magia capaz de mantê -lo à distância
apenas na Véspera de Natal. E até mesmo após o Natal ele crescerá, não perdendo sua
grande força até o Décimo Segundo Dia, a Décima Segunda Noite – que uma fez fora o
Dia de Natal, e uma vez antes disso, há muito tempo, foi o festival do alto inverno do
nosso ano velho.”
“O que vai acontece r?” disse Wil l.
“Devemos pensar apenas nas coisas que devemos fazer,” falou a senhora idosa . “E
a primeira é liber tá- lo do círculo de poder negro que agora es tá desenhado ao redor desta
sala.”
Merriman disse, ouvindo atentamente, “Fique de guarda. Contra qualquer coisa.
Eles falharam com uma emoção; eles tentarão pegá - lo at ravés de outra na p róxima vez.”
“Mas não deve ter medo,” ela disse. “Lembre -se disso, Will. Você f icará
assustado, muitas vezes, mas nunca os tema. Os poderes do Escuro podem fazer mui tas
coisas, mas eles não podem destruir. Eles não podem matar os da Luz. Não até que eles
obtenham um domínio f inal sobre toda a terra. E essa é a tarefa dos Antigos Escolhidos –
sua tarefa e nossa – evitar isso. Então não permita que eles o mergulhem no medo ou
desespero.”
Ela prosseguiu, dizendo mais, mas sua voz estava afundando como uma pedra
submersa em uma onda de maré alta, enquanto o horrível coro que lamentava e
murmurava do lado de fora das paredes f icou mais alto , mais alto , mais rápido e furios o,
dentro de uma cacofonia de chiados e risos sobrenaturais, guinchos de terror e
gargalhadas de alegria, uivos e rugidos. Enquanto Will ouvia, sua pele t remia e f icava
úmida.
Como em um sonho ele escutou a voz profunda de Merriman soar at ravés do
terr ível ruído, chamando-o. Ele não poderia ter se movido se a senhora idosa não tivesse
pego sua mão, puxando-o através da sala, de volta em direção à mesa e da lareira, o
único ponto de luz no salão escuro. Merriman falou per to de seu ouvido, rapidamente,
“Fique no círculo, o círculo de luz. Fique com sua costa para a mesa, e pegue nossas
mãos. Essa é uma união que eles não podem quebrar.”
Will f icou parado ali , seus braços abertos, enquanto fora de vista ao lado dele
cada um deles pegou uma de suas mãos. A luz do fogo na larei ra morreu, e e le f icou
ciente de que atrás dele as chamas do círculo de velas na mesa haviam f icado grandes,
gigantescas, tão altas que quando ele inclinou para trás sua cabeça conseguiu vê -las
erguendo-se sobre ele em um pilar b ranco de l uz. Não havia calor algum saindo dessa
grande árvore de chama, e embora ela estivesse iluminada com grande brilho ela não
lançava luz alguma além da mesa. Will não conseguia ver o resto da sala, nem as paredes
nem as imagens nem qualquer porta. Ele não con seguia ver nada além de escuridão, o
grande vazio negro da horrível visão da noite.
31
Isso era o Escuro, erguendo -se, erguendo-se para t ragar Wil l Stanton antes que ele
pudesse f icar forte o bastante para causar -lhe mal. Na luz da est ranha vela , Will seguro u
f irme nos f rágeis dedos da senhora idosa, e ao punho rígido de Merriman. O guincho do
Escuro cresceu a um pico intolerável, um alto rel incho tr iunfante, e Will soube sem
dúvida que diante dele , na escur idão , o grande garanhão negro estava empinando -se
como tinha feito do lado de fora da cabana na f loresta, com o Cavaleiro al i para derrubá -
lo se as ferraduras novas não f izessem seu trabalho. E dessa vez nenhuma égua branca
poderia descer do céu em seu socorro.
Ele ouviu Merriman gr itar, “A árvore de chama , Wil l ! Golpeie com a chama!
Assim como você falou com o fogo, fale com a chama, e golpeie! ”
Em desesperada obediência Wil l preencheu toda a sua mente com a imagem do
grande círculo de chamas das velas atrás dele, crescendo como uma árvore branca; e
quando ele o fez, sentiu a mente de seus dois apoiadores fazendo o mesmo, soube que os
três juntos poderiam alcançar mais do que ele jamais havia imaginado. Ele sentiu em
cada mão uma rápida pressão da mão que a segurava, e ele golpeou para f rente em sua
mente com a coluna de luz, batendo -a como se fosse um chicote gigante. Sobre a sua
cabeça surgiu um grande f lash de luz branca, enquanto as chamas al tas empinaram para
f rente e desceram em uma espiral de raios, e um t remendo grito das trevas além enquanto
algo – o Cavalei ro, o garanhão negro, ambos – foram lançados, fora, caindo, caindo
eternamente.
E na fenda dentro da escuridão ali diante deles, enquanto ele ainda piscava olhos
ofuscados, estavam as duas grandes portas de madeira entalhadas através das quais e le
havia entrado na sala.
Em um repentino silêncio Will ouviu a si mesmo gri tar triunfantemente, e ele
saltou para f rente, l ibertando -se das mãos que seguravam as suas, para correr até a porta.
Merriman e a senhora idosa gri taram em alarme, mas era tarde demais. Will t inha
quebrado o círculo, ele estava sozinho. Antes mesmo que percebesse isso ele então
sentiu-se tonto, e cambaleou, apertando sua cabeça, um estranho som começando a
pressionar seus ouvidos. Forçando suas pernas a se moverem, ele balançou at é as portas,
apoiou-se contra elas, e bateu nelas febrilmente com seus punhos. El as não se moveram.
O estranho retinir em sua cabeça cresceu. Ele viu Merriman movendo -se diante dele,
caminhando com grande esforço, inclinando -se para f rente como se est ivesse lutando
contra um forte vento.
“Tolo,” Merr iman ofegou. “Tolo, Will.” Ele agarrou as portas e as balançou,
empurrando para f rente com a força de ambos os braços de modo que veias torcidas ao
lado de suas sobrancelhas saltaram na pele como espessos f ios; e enquanto fazia isso, ele
levantou sua cabeça e gritou uma longa f rase de comando que Will não entendeu. Mas as
portas não se moveram, e Wil l sent iu a f raqueza derrubando -o, como se ele fosse um
boneco de neve derretendo ao sol.
A coisa que o trouxe de volta à consciência, jus tamente quando ele estava
começando a entrar em uma espécie de transe, foi algo que ele jamais foi capaz de
descrever , ou até mesmo lembrar muito bem. Foi como o f im da dor, como discórdia se
transformando em harmonia; como o iluminar dos espíritos que você pode senti r
subitamente no meio de um pálido dia cinzento, incontável até que você perceba que o
sol começou a bri lhar. Essa música s ilenciosa que entrou na mente de Will e assumiu o
controle de seu espíri to veio, ele soube instan taneamente, da senhora idosa. Sem
palavras, e la estava falando com ele. Ela estava falando com ambos , e com o Escuro. Ele
olhou para trás, deslumbrado; ela parecia mais a lta, maior, mais ereta do que antes, uma
f igura em uma escala completamente ampliada . E havia um nevoeiro dourado sobre ela,
um brilho que não vinha da luz de vela.
32
Will piscou, mas não conseguia ver claramente; era como se estivesse separado
dela por um véu. Ele ouviu a voz p rofunda de Merr iman, mais genti l do que já t inha
ouvido, mas esmagada por alguma repentina e forte infelic idade. “Madame,” Merr iman
disse penosamente. “Tenha cuidado, tenha cuidado.”
Voz alguma respondeu, mas Will teve uma sensação de benevolência. Então ela se
foi, e a alta forma brilhante que era e ainda ass im não e ra a senhora, moveu-se para
f rente lentamente na escuridão em direção às portas, e por um instante Will ouviu
novamente o surpreendente trecho de música que ele nunca conseguiu reter em sua
memória, e as portas abri ram lentamente. Do lado de fora havia uma luz cinza e silêncio,
e o ar estava f rio .
Atrás dele, a luz do anel de velas tinha sumido, e havia apenas escur idão. Era uma
inquietante escuridão vazia, então ele sobe que o salão não estava mais lá. E de repente
ele percebeu que a luminosa f igura doura da diante dele estava sumindo também,
desfazendo-se, como fumaça que f ica mais f ina, mais f ina, até que não pode mais ser
vista. Por um instante houve o f lash de um brilho rosado do grande anel que estava na
mão da senhora idosa, e então ele também enfraqu eceu, e a luminosa presença dela se
desfez em nada. Wil l sentiu uma desesperada dor de perda, como se o mundo todo tivesse
sido tragado pelo Escuro, e ele gritou.
Uma mão tocou seu ombro. Merriman estava a seu lado. Eles passaram pelas
portas. Lentamente os grandes portais de madeira entalhada fecharam -se atrás deles, por
tempo suf iciente para Will ver claramente que eles eram os mesmos portões estranhos
que tinham aber to para ele antes na intocada ladeira branca de uma colina de Chiltern.
Então, no momento em que fecharam, as portas também não estavam mais lá. Ele não viu
nada: apenas a luz cinza da neve que ref letia um céu cinzento. Estava de volta ao mundo
da f loresta coberta de neve no qual tinha caminhado cedo naquela manhã.
Ele se vi rou ansiosamente para Merriman. “Onde ela está? O que aconteceu?
“Foi demais para e la. O esforço foi grande demais, a té mesmo para ela . Nunca
antes. . . Eu nunca tinha visto isso.” A voz dele estava grossa e amarga; ele olhou
furiosamente para o vazio.
“Será que eles . . . a levaram?” Will não sabia que palavras usar para o medo.
“Não!” disse Merriman. A palavra foi tão rápida e com tanto desdém que deve ter
sido uma risada. “A Senhora está a lém do poder deles. Além de qualquer poder. Você
não fará uma pergunta como essa quando tiver aprendido um pouco. Ela se foi por algum
tempo, isso é tudo. Foi a aber tura das portas, n a cara de tudo que as es tava mantendo
fechadas. Embora o Escuro não pudesse destruí -la, e le a drenou, deixou-a como uma
concha. Ela deve se recompor, longe e sozinha, e i sso é ruim para nós se por acaso
precisar-mos dela. Como precisaremos. Como o mundo sempre precisará.” Ele olhou para
Will sem calor; subitamente pareceu distante, quase ameaçador, como um inimigo; e le
balançou uma das mãos impacientemente. “Fe che seu casaco, garoto , antes que você
congele.”
Will se atrapalhou com os botões de sua pesada jaqueta; Merriman, ele viu, estava
enrolado em uma longa capa azul surrada, de colarinho alto .
“Foi culpa minha, não foi?” ele disse miseravelmente. “Se eu nã o tivesse corrido
em frente, quando vi as portas . . . Se eu cont inuasse segurando suas mãos, e não quebrasse
o círculo . . .”
33
Merriman falou de modo curto: “Sim.” Então ele abrandou um pouco. “Mas foi um
feito deles, Will, não seu. Eles se aproveitaram de você , através de sua impaciência e sua
esperança. Eles adoram distorcer boa emoção para fazer o mal.”
Will f icou encolhido com suas mãos em seus bolsos, olhando para o chão. Por trás
de sua mente um cântico estava zombando pela sua cabeça: você perdeu a Senho ra, você
perdeu a Senhora. A infelicidade era espessa em sua garganta; e le engoliu em seco; não
conseguiu falar. Uma brisa soprou através das árvores, e espalhou cris ta is de neve em
seu rosto.
“Will,” Merr iman disse. “Eu estava zangado. Perdoe -me. Quer você tenha
quebrado os Três ou não, as coisas teriam sido as mesmas. As portas são nosso grande
portal para dentro do Tempo, e você saberá mais sobre os usos delas em breve. Mas
dessa vez você não as podia ter aberto, nem eu, nem talvez nenhum do círculo. Po is a
força que estava empurrando contra elas era todo o poder do Solstíc io de Inverno do
Escuro, o qual ninguém sozinho, a não ser a Senhora, pode superar – e até mesmo ela,
somente a um grande custo. Conforte -se; no momento apropriado, ela retornará.”
Ele puxou o alto colarinho de sua capa, e ele se tornou um capuz que cobriu sua
cabeça. Com o cabelo branco escondido de repente e le era uma f igura negra, alta e
inescrutável. “Venha,” ele disse, e conduziu Will pela neve profunda, entre grandes faias
e carvalhos sem folhas. Após longo tempo eles pararam, em uma clareira.
“Você sabe onde está?” disse Merriman.
Will olhou em volta para os suaves bancos de neve, as árvores a trás. “É claro que
não.” disse e le. “Como eu poderia?”
“Ainda antes que t rês quartos do inverno tenha se passado,” disse Merriman,
“Você estará raste jando para dentro desse vale para observar os f locos de neve que
crescem por toda par te entre as árvores. E então na primavera você voltará para
contemplar os narcisos. Todos os dias por uma s emana, a julgar pelo último ano.”
Will olhou para e le. “Você quer dizer a Mansão?” ele disse. “Os terrenos da
Mansão?”
Em seu próprio século, a Mansão de Huntercombe era a grande casa do vilarejo. A
casa propriamente dita não podia ser vista da est rada, mas seus terrenos jaz iam pelo lado
da Huntercombe Lane do lado oposto à casa dos Stantons, e estendiam -se um longo
caminho em todas as direções, ladeados alternadamente pelas a ltas cercas feitas de ferro
e antigas paredes de ti jolos. Uma Srta. Greythorne a possuía, ass im como sua família
tinha possuído por séculos, mas Will não a conhecia bem; ele raramente a via ou a sua
Mansão, da qual ele lembrava vagamente como uma massa de altos espigões de tijolo e
chaminés Tudor. As f lores de que Merriman tinha falad o eram terreno particular em seu
ano. Tanto quanto podia se lembrar, ele t inha desl izado pelas cercas da Mansão no f inal
do inverno para f icar nessa única clarei ra mágica e observar os suaves f locos de neve
expulsos pelo vento, e mais tarde o brilho dourad o do narciso na pr imavera. Ele não
sabia quem havia plantado as f lores; nunca tinha vis to ninguém vis itando -as. Ele não
tinha nem certeza se alguém sabia que elas es tavam lá. A imagem delas cresceu agora em
sua mente.
Mas questões emergentes logo afast aram-na . “Merriman? Você quer dizer que esta
clareira es tá aqui por centenas de anos antes de eu vê -la pela primeira vez? E a grande
sala, ela é como uma Mansão antes da Mansão, surgindo de séculos at rás? E a f loresta ao
nosso redor, através da qual eu aparec i quando vi o ferreiro e o Cavaleiro . . . se estende
por toda parte, tudo isso pertence a. . .”
34
Merriman olhou para ele e riu, uma risada alegre, subitamente sem o peso que
esteve sobre ambos.
“Permita que eu mostre algo mais,” d isse ele, e levou Wil l mais l onge at ravés das
árvores, longe da clareira, a té que houve um f im à seqüência de troncos e montes de
neve. E diante dele Will viu não a es tre ita tri lha daquela manhã que ele estava
esperando, fazendo seu caminho através de uma interminável f loresta de anti gas árvores
curvas, mas a familiar l inha da Huntercombe Lane do século vinte, e a lém dela, subindo
um pouco a estrada, um vislumbre de sua própria casa. As cercas da Mansão estavam
diante deles, de cer ta forma encurtadas pela neve profunda; Merriman passou por cima,
Will passou pela sua fenda costumeira, e e les estavam parados na es trada ladeada de
neve.
Merriman colocou seu capuz novamente, e ergueu sua cabeça de cabelos brancos
como que para farejar o ar desse século mais novo. “Você percebe, Will, ” ele disse, “nós
do Círculo estamos plantados apenas f rouxamente dentro do Tempo. As portas são um
caminho através dele, em qualquer direção que possamos escolher. Pois todos os tempos
co-existem, e o futuro às vezes pode afetar o passado, ainda que o passado seja uma
estrada que conduz ao futuro. . . Mas os homens não conseguem entender isso. Nem você
poderá ainda por algum tempo. Podemos viajar pelos anos de outras formas também .
Uma delas foi usada es ta manhã para trazê -lo de vol ta a través de aproximadamente c inco
séculos. É onde você estava . . . na época das Florestas Nobres, que se estendiam por toda
a parte mais ao sul dessa terra de Southampton Water subindo até o vale do Thames
aqui.”
Ele apontou para o outro lado da est rada para o horizonte plano, e Will l embrou
de como tinha visto o Thames duas vezes naquela manhã: uma entre seus familiares
campos, uma enterrada entre árvores. Ele observou a intensidade da lembrança no rosto
de Merriman.
“Quinhentos anos atrás,” disse Merriman, “os reis da Inglaterra esco lheram
preservar essas f lorestas deliberadamente, engolindo vilarejos inteiros e aldeias dentro
delas, de modo que coisas selvagens, o cervo, os porcos selvagens e a té mesmo os lobos,
pudessem procriar ali para a caça. Mas f lorestas não são lugares complacentes, e os reis
estavam, sem o saber, estabelecendo também um paraíso para os poderes do Escuro, que
ao invés disso deveriam ter sido enviados de volta para as montanhas e terras remotas do
Norte. . . Então ali é onde você esteve até agora, Wil l. Na f lorest a de Anderida, como eles
costumavam chamá-la. No passado muito distante. Você esteve lá no início do dia,
caminhando pela f loresta na neve; a li no lado vazio da colina de Chi lterns; ainda al i
quando você caminhou pela primeira vez at ravés das portas , aqui lo foi um símbolo, sua
primeira caminhada, para seu aniversário como um dos Antigos Escolhidos. E ali , no
passado, é onde deixamos a Senhora. Gostar ia de saber onde e quando a veremos
novamente. Mas ela virá, quando puder.” Ele encolheu os ombros, como que para afastar
de novo o peso. “E agora você pode ir para casa, pois está em seu próprio mundo.”
“E você está nele também,” disse Wil l.
Merriman sorriu. “De volta outra vez. Com sentimentos misturados.”
“Aonde você vai?”
“Para cá e para lá. Eu tenho um l ugar nesse tempo presente, assim como você. Vá
para casa agora, Wil l. O próximo estágio na busca depende do Andarilho, e ele o
encontrará. E quando o círculo dele estiver em seu cinto ao lado do primeiro, eu virei. ”
35
“Mas. . .” de repente Will queria se agar rar a e le, implorar para que não fosse
embora. Sua casa não parecia mais aquela fortaleza impenetrável que sempre havia sido.
“Você f icará bem,” Merr iman falou gentilmente. “Acei te as coisas como elas se
apresentam. Lembre que o poder protege você. Não fa ça nada precipitado para lhe trazer
problemas, e tudo estará bem. E nos encontraremos em breve, prometo a você.”
“Tudo bem,” disse Will de modo incerto .
Uma estranha rajada de vento turbilhou ao redor deles, na manhã parada, e
f ragmentos de neve caíram das árvores ao lado da estrada. Merriman jogou sua capa em
volta de si mesmo, sua parte inferior fazendo um desenho na neve; ele deu um olhar f rio
para Wil l, de alerta e encorajamento misturados, puxou seu capuz sobre o seu rosto, e foi
descendo a est rada s em uma palavra. Desapareceu ao fazer a curva ao lado da Floresta
das Gralhas, no caminho para a Fazenda Dawsons.
Will deu um suspiro profundo, e correu para casa. A alameda estava silenciosa na
neve profunda e manhã cinza; nenhum pássaro se moveu ou chilr eou; nada se mexia em
lugar algum. A casa também estava completamente t ranqüila. Ele ti rou suas roupas de
sair, subiu os degraus s ilenciosos. Na plataforma no meio da escadar ia ele f icou olhando
os telhados brancos e campos. Nenhuma grande f loresta cobria a terra agora. A neve era
tão profunda, mas suave sobre os planos campos do vale, por todo o caminho até a curva
do Thames.
“Muito bem, muito bem,” disse James sonolento dentro do seu quarto.
De trás da porta seguinte, Robin deu um t ipo de rugido disform e e resmungou,
“Em um minuto. Estou indo.”
Gwen e Margaret vieram t ropeçando juntas saindo do quarto que elas dividiam,
vestindo camisolas, esfregando seus olhos. “Não é preciso gritar,” Margaret disse
reprovadoramente para Will.
“Gritar?” ele f icou olhando para ela.
“Acordem todos” ela disse com um gr ito zombeteiro. “Quero dizer, é feriado, pelo
amor de Deus.”
Will disse, “Mas eu . . .”
“Não se preocupe,” disse Gwen. “Vocês podem perdoá -lo por querer nos acordar
hoje. Afinal de contas, ele tem uma boa ra zão.” E ela se aproximou e deu um rápido
beijo no topo de sua cabeça.
“Feliz aniversário, Will,” ela disse.
36
arte Um: O Achado
Andarilho no Antigo Caminho
“Mais neve está para vi r, eles dizem,” falou a mulher gorda com a bolsa de alça
para o condutor do ônibus.
O condutor do ônibus, que era das Índias O cidentais , balançou sua cabeça e deu
um grande suspiro mal-humorado. “Clima louco,” disse ele. “Mais um inverno como
esse, e eu vol to para Porto de Espanha.”
“Anime-se, amor,” falou a mulher gorda . “Você não verá mais nenhum como esse.
Sessenta e seis anos eu vivo no Vale Thames, e nunca vi neve desse jeito , não antes do
Natal. Nunca.”
“Mil novecentos e quarenta e sete,” disse o homem sentado perto dela, um homem
magro com um longo nariz pontudo. “Aquele foi um ano para neve. Palavra que foi.
Montes mais altos do que sua cabeça, descendo por toda a Huntercombe Lane e Marsh
Lane e diretamente at ravés da Comunidade. Você não conseguia nem atravessar a
Comunidade por duas semanas. Tiveram que consegui r removedores de neve. Oh, aquele
foi um ano para neve.”
“Mas não antes do Natal,” disse a mulher gorda.
“Não, era Janeiro.” O homem assentiu lamentosamente. “Não antes do Natal,
não . . .”
Eles devem ter continuado assim por todo o caminho até Maidenhead, e talvez
tenham, mas Will subitamente notou que sua parada estava se ap roximando no
descaracter izado mundo branco lá fora. Ele f icou de pé, agarrando sacolas e caixas. O
condutor tocou o sinal para ele.
“Compras de Natal,” ele observou.
“Uh-huh. Três. . . quatro. . . cinco. . .” Will espremeu os pacotes contra seu peito , e
segurou-se no corrimão do ônibus sal titante. “Terminei todas agora,” ele disse. “Bem na
hora.”
“Gostaria que eu também tivesse,” disse o condutor. “Véspera de Natal amanhã
também. Sangue congelado, esse é meu problema. . . preciso de um pouco de clima quente
para me acordar.”
O ônibus parou, e ele segurou Will enquanto ele desceu. “Fel iz Natal, garoto ,”
Eles se conheciam das viagens de ônibus de Will indo e vindo da escola.
“Feliz Natal,” disse Wil l. Em um impulso ele gri tou para e le, enquanto o ônibus se
afastou. “Você terá um pouco de clima quente no Dia de Natal !”
O condutor abriu um largo sorriso branco. “Você vai a jei tar isso?” ele gritou de
volta.
37
Talvez eu pudesse, Will pensou, enquanto caminhou pesadamente pela estrada
principal em direção à Huntercombe Lane. Talvez eu pudesse. A neve estava funda
mesmo nas calçadas; poucas pessoas saíram para caminhar por el as nos últ imos dois dias.
Para Will eles tinham sido dias pacíf icos, indepen dente da lembrança do que tinha
acontecido antes. Ele havia passado um feriado alegre, com uma festa de família tão
tumultuada que t inha caído na cama e dormido com pouquíssimo pensamento no Escuro.
Depois disso, houve um dia de guerras de bola de neve e t obogãs improvisados com seus
irmãos, no campo inclinado atrás da casa. Dias cinzentos, com mais neve pairando sobre
as cabeças mas inexplicavelmente ainda não caindo. Dias si lenciosos; malmente um carro
desceu a alameda, exceto as vans do leiteiro e do pad eiro. E as gralhas es tavam quietas,
de vez em quando apenas uma ou duas delas desl izando lentamente para f rente e para
trás sobre sua f loresta.
Os animais, Will percebeu, não tinham mais medo dele. Na verdade, eles pareciam
mais afetuosos do que antes. Ap enas Raq, o mais velho dos dois collies, que gostava de
sentar com seu queixo descansando no joelho de Will, se afas tava dele às vezes sem
nenhuma razão aparente, como se propelido por um choque elétrico. Então ele espreitaria
pela sala inquieto por alguns momentos, antes de voltar para observar inqu isit ivamente o
rosto de Will, e f icar calmo novamente como antes. Will não sabia o que fazer quanto a
isso. Ele imaginou que Merr iman saberia; mas Merriman estava fora de alcance. O
círculo com a cruz em seu cin to tinha permanecido quente ao seu toque desde que ele
tinha retornado para casa duas manhãs antes. Ele enf iou sua mão debaixo de seu casaco
agora enquanto caminhava, para checar, e o círculo estava f rio; mas ele pensou que
deveria ser simplesmente porque estava do lado de fora onde tudo estava f rio . Tinha
passado a maior par te da tarde fazendo compras de presentes de Natal em Slough, a
cidade grande mais próxima deles; era um r itual anual, o dia antes da Véspera de Natal
ser o dia quando ele tinha cer teza de ter dinheiro como presente de aniversário de várias
tias e tios para gastar. Esse, entretanto, era o primeiro ano em que tinha ido sozinho. Ele
estava adorando; você podia pensar melhor nas coisas sozinho. O presente todo -
importante para Stephen – um livro sobre o Thames – havia sido comprado fazia muito
tempo, e postado para Kingston, Jamaica, onde seu navio estava no que era chamada a
Estação Caribenha. Will pensou que isso soava como um trem. Ele decidiu que dever ia
perguntar a seu amigo condutor como era Kingston; embora mesmo que o condutor do
ônibus tivesse vindo de Trinidad ta lvez pudesse ter sentimentos severos sobre outras
ilhas.
Ele sent iu novamente aquela pequena queda de espírito que tinha surgido nos
últimos dois dias, pois esse ano pela pri meira vez que ele podia lembrar não houve
presente de aniversár io de Stephen. E afastou o desapontamento pela centésima vez, com
o argumento de que a correspondência t inha se extraviado, ou o navio tivesse
repent inamente navegado em alguma missão urgente e ntre as ilhas verdes. Stephen
sempre lembrou; Stephen teria lembrado dessa vez, se alguma coisa não atrapalhasse.
Stephen não poderia possivelmente esquecer.
Na f rente dele, o sol es tava descendo, vis ível pel a primeira vez desde a manhã de
seu aniversár io . Ele brilhou gordo e laranja -dourado através de uma brecha nas nuvens, e
por toda parte o mundo prateado de neve cintilou com pequenos f lashes de luz. Depois
das ruas c inzentas de neve derretendo da cidade, tudo estava l indo novamente. Will foi
caminhando, passando por paredes d e jardins, árvores, e então o topo de uma pequena
trilha não pavimentada, malmente uma est rada, conhecida como Tramps' Al ley, que
brotava da estrada principal e eventualmente curvava para se unir a Huntercombe Lane
perto da casa dos Stantons. As crianças a usavam como atalho algumas vezes. Will olhou
para ela agora, e viu que ninguém estivera naquele caminho desde que a neve começou;
lá embaixo ela jazia intocada, suave, branca e convidativa, marcada apenas pelos
desenhos das pegadas dos pássaros. Terri tório inexplorado. Will achou isso irres ist ível.
38
Ele virou descendo na Tramps ' Al ley, pisando com vontade pela neve clara,
levemente incrustada, de modo que f ragmentos dela presos na borda das calças entraram
em suas botas. Ele perdeu o sol de vista de repente, bloqueado pela f loresta que estava
entre a pequena t rilha e as poucas casas no f inal do topo da Huntercombe Lane. Enquanto
atravessava a neve, ele segurou seus embrulhos contra o peito , contando -os novamente: a
faca para Robin, a f lanela de pele de ovelha para Paul, para limpar sua f lauta; o diário
para Mary, os sais de banho para Gwennie; as super -especiais canetas com ponta de
feltro para Max. Todos os seus outros presentes já estavam comprados e embrulhados. O
Natal era um fest ival complicado quando você era uma entre nove crianças .
A caminhada descendo a Tramps' Al ley logo começou a f icar menos diver tida do
que ele tinha esperado. Os joelhos de Will doíam do esforço de chutar um caminho
através da neve. Os embrulhos eram desaj ei tados para se carregar. O brilho vermelho -
dourado do sol morreu em um cinzento pálido. Ele estava com fome, e estava com frio .
Árvores erguiam-se alto à sua direi ta : na maioria elmos, com uma ocasional faia.
Do outro lado da trilha havia uma extensão de terras improdutivas, transformadas pela
neve de um confuso monte de ervas daninhas e moitas em uma paisagem lunar de vastas
ladeiras brancas e buracos sombreados. Por todo seu redor na tr ilha coberta de neve,
ramos e pequenos galhos jaziam espalhados, der rubados das árvores pelo peso da neve;
logo em frente, Will viu um enorme galho caído bem no meio de seu caminho. Ele olhou
para cima apreensivamente, imaginando quantos outros braços mortos dos grandes elmos
estavam esperando que o vento ou o peso da neve os derrubassem. Uma época boa para
colher lenha, e le pensou, e teve uma repent ina imagem tentadora do fogo salti tante que
ardera na lareira da grande sala: o fogo que tinha mudado seu mundo, ao desaparecer
com uma palavra de comando sua e então obedientem ente queimando vivo novamente.
Enquanto tropeçava pela f ria neve, uma súbita idéia alegre brotou em sua cabeça
surgindo do pensamento naquele fogo, e ele parou, rindo para si mesmo. Você vai ajeitar
isso? Bem, não, amigo, provavelmente eu não posso conseg uir para você um Dia de Natal
quente de verdade, mas agora eu poderia aquecer as coisas um pouquinho por aqui.
Olhou confiante para o galho morto caído diante dele, e agora com um fácil comando
usando o dom que sabia estar nele, disse suavemente, de forma travessa, “Queime!”
E ali na neve, o braço caído da árvore explodiu em ch amas. Cada polegada dele,
desde a espessa base podre até o menor ramo, ardeu com línguas de fogo amarelado.
Houve um som sibilante, e um alto feixe de brilho ergueu -se do fogo como um pilar.
Nenhuma fumaça saiu da queima, e as chamas eram constantes; ramos que deveriam ter
queimado e estalado brevemente e então caído em cinzas queimavam continuamente,
como se alimentadas por outro combustível interior. Parado ali sozinho, de repente W ill
sentiu-se pequeno e assustado; esse não era um fogo comum, e não seria controlado por
meios comuns. Ele não estava de forma alguma se comportando do mesmo modo que o
fogo na lareira t inha feito . Não sabia o que fazer com ele. Em pânico, focou sua mente
nele novamente e disse para se apagar, mas ele continuou, f irme como antes. Sabia que
tinha feito algo tolo, impróprio, perigoso talvez. Olhando para cima através do pilar de
luz bruxuleante, viu bem alto no céu cinzento quatro gralhas voando lentamente e m
círculo.
Oh, Merriman, ele pensou infel iz, onde você está?
Então ele engasgou, enquanto alguém o agarrou por trás, bloqueou seus pés que
chutavam em um remexer de neve, e dobrou seus braços pelos pulsos a trás de sua costa.
Os embrulhos se espalharam pe la neve. Wil l gritou com a dor em seus braços. O aperto
em seus pulsos afrouxou no mesmo instante, como se o atacante estivesse relutante em
causar -lhe algum mal de verdade; mas ele a inda estava seguro f irmemente.
39
“Apague o fogo!” disse uma voz rouca em s eu ouvido, rapidamente.
“Não consigo!” disse Will. “De verdade. Eu tentei, mas não consigo.”
O homem amaldiçoou e resmungou estranhamente, e ins tantaneamente Will soube
quem era. Seu terror desapareceu, como um peso liberado. “Andarilho,” e le disse, “Me
solte. Não precisa me segurar desse jeito .”
O aperto aumentou de repente. “Oh não, você não vai garoto. Conheço seus
truques. Você é o escolhido, tudo bem, agora eu sei, você é um Antigo Escolhido, mas eu
não confio em sua gente mais do que confio no Escu ro. Você é recém desperto, você é, e
deixe que eu diga algo que você não sabe . Quando você é recém desper to, não pode fazer
nada para ninguém a não ser que possa vê -lo com seus olhos. Então você não vai me ver,
isso eu sei.”
Will falou: “Não quero fazer nada a você. Realmente tem pessoas que podem ser
confiáveis, você sabe.”
“Poucos preciosos,” o Andarilho disse tris temente.
“Eu poderia fechar meus olhos, se você me soltar.”
“Hah!” o homem velho disse.
Will falou, “Você carrega o segundo Si gno. Dê para mim.” Houve um si lêncio. Ele
sentiu as mãos do homem se afastarem de seus braços, mas ele f icou onde estava e não se
virou. “Eu já tenho o primeiro Signo , Andar ilho,” ele disse. “Você sabe que tenho. Olhe,
estou abrindo minha jaqueta, e a colocarei para t rás, e você pode ver o primeiro cí rculo
no meu cinto.”
Ele colocou de lado seu casaco, ainda sem mexer sua cabeça, e estava ciente da
forma curvada do Andari lho deslizando para seu lado. A respiração do homem sibilou
através de seus dentes em um longo suspiro enquanto olhava, e e le virou sua cabeça para
cima observando Will sem cautela. Sob a luz amarela do galho que ardia constantemente
Will viu um rosto contorcido por emoções conflitantes : esperança, medo e a lívio unidos
fortemente por angustiada incert eza.
Quando o homem falou, sua voz es tava quebrada e simplória como a de uma
pequena criança triste.
“É tão pesado,” ele disse queixosamente. “E tenho carregado ele por tanto tempo.
Nem lembro porque. Sempre assustado , sempre tendo que fugir. Se ao menos eu pudesse
me livrar dele, se ao menos eu pudesse descansar. Oh, se ao menos ele fosse embora.
Mas não ouso arr iscar entregá -lo para a pessoa errada, não ouso. As coisas que
aconteceriam a mim se eu o f izesse, elas são terríveis demais, não podem ser desc ritas
em palavras. Os Antigos Escolhidos podem ser cruéis, cruéis. . . acho que você é a pessoa
certa, garoto, estive procurando por você um longo tempo, um longo tempo, para lhe
entregar o Signo. Mas como posso realmente ter cer teza? Como posso ter certeza de que
você não é apenas um truque do Escuro?”
Ele esteve com medo por tanto tempo, pensou Will, que esqueceu como parar. Que
horrível, f icar tão absolutamente soli tário . Ele não sabe como confiar em mim; faz tanto
tempo desde que ele conf iou em alguém, e le esqueceu como.. . “Olhe,” ele disse
gentilmente. “Você deve saber que não faço parte do Escuro. Pense. Você viu o
Cavaleiro tentar me derrubar.”
40
Mas o homem velho balançou sua cabeça miseravelmente, e Wil l lembrou como
ele tinha fugido da clareira gri tando no momento em que o Cavaleiro apareceu.
“Bem, se isso não ajuda,” e le disse, “o fogo não lhe diz?”
“O fogo quase,” disse o Andarilho. Ele olhou para ele esperançosamente; então
seu rosto se contorceu em renovado alarme. “Mas o fogo, ele os trará, gar oto, você sabe
disso. As gralhas já estarão guiando -os. E como eu sei se você acendeu o fogo porque é
um Antigo Escolhido recém desperto se divert indo, ou como um sinal para trazê -los at rás
de mim?” Ele resmungou para s i mesmo em angúst ia, e aper tou seus b raços ao redor de
seus ombros. Ele era um pobre desgraçado, Will pensou com pena. Mas de alguma forma
ele tinha que fazê -lo entender.
Will olhou para cima. Agora havia mais gralhas c irculando preguiçosamente, e ele
podia ouvi-las gri tando umas para as out ras de forma estridente. Estaria o homem velho
certo, os pássaros negros eram mensageiros do Escuro? “Andarilho, pelo amor de Deus,”
ele disse impacientemente. “Você deve confiar em mim . Se não confiar em alguém ao
menos uma vez, tempo o bastante para entr egar a ele o Signo, você o carregará para
sempre. É isso que você quer?”
O velho mendigo resmungou e emudeceu, olhando para ele com pequenos olhos
enlouquecidos; ele parecia preso em seus séculos de suspeita como uma mosca em uma
teia. Mas a mosca ainda tem asas que podem partir a teia ; dando a e le a força para batê -
las, só uma vez. . . Conduzido por alguma parte desconhecida de sua mente, sem saber
completamente o que estava fazendo, Will agarrou o círculo de ferro em seu cinto, e
f icou tão ereto e altivo q uanto podia e apontou para o Andarilho, e gri tou, “O último dos
Antigos Escolhidos surgiu, Andarilho , e está na hora. O momento de entregar o Signo é
agora, agora ou nunca. Pense apenas nisso , nenhuma outra chance surgirá. Agora,
Andarilho. A não ser que o carregue para sempre, obedeça os Antigos Escolhidos agora.
Agora!”
Foi como se a palavra liberasse uma mola. Em um instante, todo o medo e suspeita
no rosto velho contorcido relaxou em infantil obediência. Com um sorriso de quase tola
ansiedade o Andaril ho se at rapalhou com uma larga tira de couro que usava
diagonalmente sobre o peito , e retirou dela um círculo dividido idêntico ao que Will
usava em seu cinto, mas cinti lando com o pálido brilho marrom -ouro do bronze. Ele o
colocou nas mãos de Will, e deu uma pequena r isada de surpreendente a legria.
O galho em chamas amarelas na neve diante deles ardeu subitamente mais
brilhante, e apagou-se.
O galho jazia do mesmo jei to que estava quando Will desceu a Tramps ' Al ley pela
primeira vez: cinza, sem queimadura, f rio , como se nenhuma parte dele jamais tivesse
sido tocada por centelha ou chama. Segurando o círculo de bronze, Will olhou para a
casca áspera de madeira, caída ali na neve sem marcas. Agora que sua luz havia
desaparecido, o dia repentinamente parecia muito mais escuro, cheio de sombras, e ele
percebeu com um choque o quão pouco da tarde havia res tado. Era tarde. Ele devia i r. E
então uma clara voz disse, saindo da sombras em frente, “Alô, Will Stanton.”
O Andarilho guinchou de terror, um som f ino e f eio. Will enf iou rapidamente o
círculo de bronze em seu bolso, e deu um passo f irme em frente. Então ele quase sentou
na neve com al ívio, quando viu que o recém chegado era apenas Maggie Barnes, a
leiteira da Fazenda Dawsons. Nada s inis tro a respei to de Ma ggie, a admiradora de Max
com bochechas de maçã. Sua forma grande estava enf iada em casaco, botas e cachecol;
ela es tava carregando uma cesta coberta, e descendo em direção à estrada principal. Ela
olhou para Will, então observou acusadoramente o Andari lho .
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“Porque,” ela disse, com sua voz de Buckinghamshire, “esse é aquele velho
vagabundo que esteve perambulando na quinzena passada. O Fazendeiro disse que ele
queria te ver pelas costas, velho. Ele estava incomodando você, jovem Will? Aposto que
agora estava.” Ela olhou para o Andarilho, que se encolheu silenciosamente em seu
casaco sujo semelhante a uma capa.
“Oh, não,” disse Will. “Eu estava apenas correndo vindo do ônibus de Slough, e
eu. . . esbarrei nele. Esbarrei de verdade. Derrubei todas as minhas co mpras de Natal,” ele
adicionou depressa, e se curvou para juntar seus embrulhos e pacotes que ainda estavam
espalhados na neve.
O Andari lho fungou, encolheu -se mais fundo dentro de seu casaco, e se arrastou
para passar por Maggie subindo a tr i lha. Mas qua ndo ele f icou ao nível dela, e le parou
abruptamente, empurrado para trás como se tivesse batido em alguma barreira invis ível.
Ele abriu sua boca, mas som algum saiu. Will se ergueu lentamente, observando, seus
braços cheios de pacotes. Uma terrível sensaçã o de inquietação começou a rastejar sobre
ele, como o calafrio causado por uma brisa f ria.
Maggie Barnes disse amavelmente: “Faz muito tempo desde o último ônibus de
Slough, jovem Will. Na verdade, eu acabei de sair para pegar o próximo. Você sempre
leva meia hora para fazer aquela caminhada de cinco minutos do ponto de ônibus, Will
Stanton?”
“Não acho que seja da sua conta quanto tempo eu levo para fazer qualquer coisa,”
Will disse. Ele estava observando o Andarilho congelado, e algumas imagens mui to
confusas estavam girando em sua cabeça.
“Modos, modos,” disse Maggie. “Que lindo rapazinho bem crescido você é,
também.” Seus olhos eram muito brilhantes, olhando para Will da cabeça envolta em
cachecol.
“Bem, adeus, Maggie,” disse Will. “Tenho que ir para casa. Já es tá passando da
hora do chá.”
“O problema com desagradáveis vagabundos sujos, como esse em quem você
acabou de esbarrar mas que não está te incomodando,” Maggie Barnes disse suavemente,
sem se mover, “o problema com eles é, que eles roubam coisa s. E esse aqui roubou algo
da fazenda outro dia, jovem Will, algo que pertence a mim. Um ornamento. Um grande e
colorido tipo de ornamento marrom -dourado, em forma de círculo, que eu usava em uma
corrente em meu pescoço. E eu o quero de volta. Agora!” A ú l t ima palavra tremulou
maldosamente, e então ela era toda delicadeza novamente, como se a sua voz gentil
nunca t ivesse mudado. “Eu o quero de volta, eu quero. E realmente acho que ele deve ter
simplesmente enf iado ele em seu bolso quando você não estava ol hando, quando esbarrou
nele. Se ele me viu chegando, quer dizer, como deve ter visto na luz daquela engraçada
fogueirinha que vi queimando aqui agorinha. O que você acha de tudo isso, jovem Will
Stanton, hein?”
Will engoliu em seco. O cabelo es tava se eri çando na costa de seu pescoço
enquanto ele a ouvia. Al i estava ela parada, parecendo a mesma de sempre, a
descomplicada garota de fazenda de bochecha rosada que operava a máquina de leite dos
Dawsons e cuidava dos bezerros menores; e ainda assim a mente da qual aquelas palavras
estavam saindo não poderia ser outra a não ser a mente do Escuro. Será que eles pegaram
Maggie? Ou Maggie sempre foi uma deles? Se era, o que mais ela poderia fazer?
42
Ele f icou parado encarando -a, uma das mãos segurando os embrulhos, uma
deslizando cautelosamente para dentro de seu bolso. O Si gno do Bronze estava f rio , f rio
ao seu toque. Ele invocou todo o poder de pensamento que podia encontrar para afastá -
la, e ela a inda permanecia ali , sorrindo friamente para ele. Mandou que ela fosse embora
com todos os nomes de poder que conseguia lembrar de Merriman ter usado: pela
Senhora, pelo Círculo, pelos Signos. Mas ele sabia que não tinha as coisas cer tas a dizer.
E Maggie r iu bem alto e moveu-se para f rente deliberadamente, olhando em seu rosto, e
Will descobriu que não conseguia mover um só músculo.
Ele estava preso, congelado da mesma forma que o Andari lho; imobilizado em
uma posição que não conseguir ia a l terar nem ao menos por uma polegada. Ele olhou
furiosamente para Maggie Barnes, em seu delicado cachecol vermelho e um modesto
casaco negro, enquanto ela calmamente enf iava sua mão no bolso de seu casaco e
reti rava o Signo do Bronze. Ela o segurou na f rente de seu rosto, e então rapidamente
desabotoou seu casaco, reti rou o cinto dele, e enf iou o cí rculo de bronze nele próximo ao
de ferro.
“Segure suas calças, Will Stanton,” ela disse zombetei ra.
“Oh, agora querido, você não consegue, s im, você consegue. . . Mas então você não
usava aquele c into para segurar suas calças de verdade, usava? Você o usava para manter
essa pequena. . . decoração. . . segura. . . ” Will notou que ela segurava os dois Signos tão
levemente quanto possível, e est remecia quando tinha que tocá -los com qualquer
f irmeza; o f rio que es tava saindo deles certamente deveria es tar queimando-a até os
ossos.
Ele observou em total desespero. Não havia nada que pudesse fazer. todo o seu
esforço e busca estava chegando ao f im antes que tivesse começado adequadamente, e
não havia nada que pudesse fazer. Ao mesmo tempo, queria gri tar com fúria e chorar. E
então, bem lá no fundo, algo se agitou em sua mente. Algum detalhe na memória
cint ilou, mas não conseguiu retê -lo . Ele só lembrou no momento em que Maggie Barnes
segurou o cinto diante dele com o primeiro e o segundo círculo enf iados jun tos a li , ferro
pálido e bronze cinti lante lado a lado. Olhando avidamente para os dois círculos, Maggie
irrompeu em um baixo murmúrio de risada sarcást ica que soou mais mal igno do que o
rosto rosado do qual ele veio. E Will lembrou.
“. . . E quando o círculo dele es tiver em seu cinto ao lado do primeiro, eu virei. . .”
No mesmo instante, fogo saltou do galho caído da árvore de elmo que Will t inha
acendido brevemente antes, e chamas es talaram do nada em um círculo de ardente luz
branca ao redor de Maggie Barnes, um círculo de luz mais alto do que a cabeça dela. Ela
se encolheu na neve de repente, submissa, com sua boca f rouxa de medo. O cinto com os
dois Signos juntos caiu de sua mão f lácida.
E Merriman estava ali . Altivo na longa capa escura, seu rosto escond ido na
sombra pelo capuz, ele estava ali ao lado da estrada, logo além do círculo f lamejante e
da garota agachada.
“Tire-a dessa es trada,” ele disse em uma voz al ta e c lara, e o círculo de luz
f lamejante moveu-se lentamente para um lado, forçando a garota Maggie a ir tropeçando
com ele, até que ele f lutuou no chão áspero perto da estrada. Então com um súbito som
de estalar ele se foi, e Will viu ao invés disso uma grande barrei ra de luz brotar em cada
lado da est rada, ladeando -a com um fogo crepitante em ambos os lados, estendendo -se ao
longe nas duas direções , muito mais longe do que a extensão da trilha que Will conhecia
como Tramps' Alley. Ele olhou para ela, um pouco assustado. Do lado de fora, na
obscuridade, ele podia ver Maggie Barnes desamparada enc olhida na neve, seus braços
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protegendo os olhos da luz. Mas ele, Merriman e o Andari lho permaneciam em um
grande túnel inf ini to de f ria chama branca.
Will se abaixou e pegou seu cinto, e em uma espécie de gesto de alívio ele agarrou
os dois Signos em suas mãos, ferro em sua mão esquerda, bronze na direita. Merr iman
veio para seu lado, ergueu seu braço direito de modo que a capa desl izou dele como a asa
de algum grande pássaro, e apontou um longo dedo para a garota. Ele gr itou um longo
nome estranho, que Wi ll nunca t inha ouvido antes e não conseguiu guardar em sua
mente, e a garota Maggie urrou bem alto .
Merriman disse, com frio e mortal desprezo em sua voz, “Retorne, e diga a eles
que os Signos es tão além de seu toque. E se você cont inuar i lesa, não tente novamente
real izar sua vontade enquanto est iver em um de nossos Caminhos. Pois as est radas
antigas acordaram, e seu poder está vivo novamente. E dessa vez, e las não terão
nenhuma pena e nenhum remorso. Ele gritou o nome estranho novamente, e as chamas
ladeando a estrada saltaram mais a lto , e a garota gritou alto e guinchou como se
estivesse em grande dor. Então ela se arrastou para longe at ravés do campo nevado como
um pequeno animal curvado.
Merriman olhou para Wil l. “Lembre as duas coisas que o salvaram, ” ele disse, a
luz agora brilhando em seu nar iz curvado e profundos olhos debaixo da sombra do capuz.
“Primeiro, eu sabia o verdadeiro nome dela. O único modo de desarmar uma das cr iaturas
do Escuro é chamar ele ou ela pelo seu verdadeiro nome: nomes que e les mantêm bem
secretos. Então, assim como o nome, houve a est rada. Você sabe o nome dessa t rilha?”
“Tramps Alley .” Will falou automaticamente.
“Esse não é um nome verdadeiro .” Merriman disse com desgosto.
“Bem, não. Mamãe nunca o usaria, e nós também n ão deveríamos. É feio, ela diz.
Mas ninguém mais que eu conheça jamais a chamou de outra coisa. Eu me sentir ia bobo
se a chamasse de Oldway…” de repente Will parou, ouvindo e provando o nome
adequadamente pela pr imeira vez em sua vida. Ele disse lentamente , “Se eu a chamasse
pelo seu verdadeiro nome, Oldway Lane.”
“Você se sent iria bobo,” disse Merriman severamente. “Mas o nome que o teria
feito sentir-se bobo ajudou a salvar sua vida. Oldway Lane. Sim. E ela não foi nomeada
por algum distante Sr. Oldway. O nome simplesmente diz o que a est rada é, como os
nomes de est radas e lugares nas terras antigas mui to f reqüentemente fazem, se ao menos
os homens prestassem mais atenção a eles. Foi sorte sua qu e est ivesse em um dos
Antigos Caminhos, pisados pelos Ant igo s Escolhidos por cerca de t r ês mil anos, quando
fez sua pequena brincadeira com fogo, Will Stanton. Se estivesse em algum outro lugar,
em seu estado de poder não treinado, teria tornado a si mesmo tão vulnerável que todas
as coisas do Escuro que estão nessa terra teriam sido atraídas em direção a você. Como a
garota-bruxa foi conduzida pelas aves. Agora olhe bem para essa est rada, rapaz, e não a
chame por nomes vulgares novamente.”
Will engoliu em seco e olhou para o Caminho ladeado por chamas que se esten dia
na distância como alguma nobre es t rada do sol, e em um súbito impulso ele fez uma
pequena reverência desajei tada, curvando -se na cintura tanto quanto seus braços cheios
de pacotes o permitiria. As chamas saltaram novamente, e curvaram -se para dentro,
quase como se es tivessem se curvando em resposta. Então elas se apagaram.
“Bem feito ,” disse Merr iman, com surpresa e um toque de contentamento.
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Will disse, “Jamais, jamais farei novamente qualquer coisa com o . . . o poder, a não
ser que tenha uma razão. Eu prometo. Pela Senhora e o velho mundo. Mas” – ele não
conseguiu resis tir – “Merriman, foi o meu fogo que trouxe o Andarilho até mim, não foi ?
E o Andarilho tinha o Si gno .”
“O Andarilho es tava esperando por você, garoto estúpido,”' disse Merriman
irritadamente. “Eu disse que ele o encontraria, e você não se lembrou. Lembre -se agora.
Nessa nossa magia, cada pequena palavra tem um peso e um signif icado. Cada palavra
que eu digo a você, ou que qualquer outro Antigo Escolhido possa dizer. O Andarilho?
Ele esteve esperando que você nascesse, e f icasse sozinho com ele e reclamasse o Si gno
dele, por um tempo além de sua imaginação. Você o fez bem, eu diria – era um problema
trazê-lo ao ponto de entregar o Signo quando a hora chegou. Pobre alma. Ele traiu os
Antigos Escolhidos uma vez, há muito tempo, e essa foi sua maldição.” Sua voz suavizou
um pouco.
“Tem sido uma era dif ícil para ele, carregar o segundo Si gno. Ele tem mais uma
parte em nosso trabalho, antes que ele possa ter descanso, se ele escolher. Mas não
ainda.”
Os dois olharam para a f igura imóvel do Andarilho, ainda presa em movimento
congelado ao lado da estrada como Maggie Barnes o tinha deixado.
“Essa é uma terrível posição desconfortável,” disse Wil l.
“Ele não sente nada,” disse Merr iman. “Nenhum m úsculo f icará nem mesmo
dolorido. Alguns pequenos poderes que os Antigos Escolhidos e as pessoas do Escuro
têm em comum, e um deles é essa captura de um homem fora do Tempo, por tanto tempo
quanto necessário. Ou no caso do Escuro, por tanto tempo quanto el es acharem
divert ido.”
Ele apontou um dedo para a f igura sem forma imóvel, e falou algumas rápidas
palavras suaves que Will não ouviu, e o Andari lho relaxou com vida como uma f igura de
um f ilme em movimento que tivesse sido pausada e então liberada novame nte.
Observando de olhos arregalados, ele olhou para Merriman e abriu sua boca, e fez um
cur ioso som seco sem palavras.
“Vá,” Merriman disse. O homem velho afastou -se, aper tando suas roupas
oscilantes ao redor de si, e cambaleou em uma meia -corrida subindo o est reito caminho.
Observando-o enquanto ele par tia, Will piscou, então est rei tou o olhar, e esfregou seus
olhos; pois o Andarilho parecia es tar desaparecendo, f icando estranhamente t ranslúcido,
de modo que você poderia ver as árvores at ravés de seu cor po. Então de repente ele t inha
sumido, como uma estrela encoberta por uma nuvem. Merriman disse, “Fei to meu, não
dele próprio. Ele merece paz por um tempo, eu acho, em outro lugar que não este. Esse é
o poder dos Ant igos Caminhos, Will. Você teria usado o truque para escapar da garota -
bruxa, muito faci lmente, se soubesse como. Você aprenderá isso, e os nomes verdadeiros
e muito mais mui to em breve agora.”
Will disse cur iosamente, “Qual é o seu verdadeiro nome?” '
Os olhos negros piscaram para ele dentro do capuz. “Merriman Lyon. Eu falei a
você quando nos conhecemos.”
“Mas acho que se esse fosse realmente o seu nome verdadeiro, como um Antigo
Escolhido, você não o teria dito a mim,” disse Will. “Pelo menos, não tão alto .”
45
“Você já es tá aprendendo,” disse Merriman alegremente. “Venha, está f icando
escuro.”
Eles parti ram juntos descendo a alameda. Will foi saltando ao lado da f igura
encapada de passos largos, agarrando suas bolsas e caixas. Eles falaram pouco, mas a
mão de Merr iman sempre estava lá para seg urá- lo se e le tropeçasse em qualquer buraco
ou monte. Assim que eles saíram na distante curva da t rilha entrando na grande abertura
de Huntercombe Lane, Will viu seu irmão Max caminhando alegremente até eles.
“Olhe, lá está Max!”
“Sim,” disse Merriman.
Max gri tou, acenando feliz, e então se aproximou. “Eu estava vindo encontrar com
você ao sair desse ônibus,” disse e le . “Mamãe estava f icando um pouco nervosa porque
seu bebezinho estava atrasado.”
“Oh, pelo amor de Deus,” disse Will.
“Porque você estava vindo por aquele caminho?” Max apontou na di reção de
Tramps ' Alley.
“Nós estávamos apenas . . .” Will começou, e quando virou sua cabeça para incluir
Merriman nos comentár ios ele parou, tão abruptamente que mordeu sua l íngua.
Merriman se fora. Na neve onde ele estivera parado um momento antes, nenhuma
marca de qualquer tipo foi deixada. E quando Will olhou para o caminho pelo qual eles
tinham caminhado até Huntercombe Lane, e descendo a curva no topo da trilha menor,
ele conseguiu ver apenas uma linha de pe gadas. . . as suas.
Ele pensou ter ouvido uma leve música, em algum lugar no ar, mas quando ele
ergueu sua cabeça para escutar, ela também tinha sumido.
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arte Dois: O Aprendizado
éspera de Natal
Véspera de Natal. Era o dia em que o encanto do Natal realmente acendia na
família Stanton. Sugestões, vislumbres e promessas de coisas especiais, que t inham
brilhado para dentro e para fora da vida durante semanas antes, agora desabrochavam
subitamente em uma constante expectativa alegre. A casa estava cheia de cheiros
maravilhosos de assados da cozinha, em um canto da qual Gwen podia ser encontrada
dando os toques f inais à cobertura do bolo de Natal. Sua mãe tinha fei to o bolo três
semanas antes; o pudim de Natal, três meses antes disso.
Sem idade, a famili ar música de Natal permeava a casa onde quer que alguém
ligasse o rádio. O aparelho de te levisão não foi ligado de modo algum; ele havia se
tornado, nessa temporada, uma irrelevância. Para Will, o dia entrou em foco natural
muito cedo. Logo após o café da manhã – um acontecimento muito mais ao acaso do que
usual – havia o duplo ritual da Yule log* e da árvore de Natal.
O Sr. Stanton estava terminando o último pedaço de torrada. Wil l e James estavam
um de cada lado dele na mesa do café da manhã, inquietos. O pai deles segurava uma
casca esquecida em uma mão enquanto olhava a página de esportes do jornal. Will
também era apaixonadamente interessado na sorte do Chelsea Football Club, mas não na
manhã da Véspera de Natal.
“Você gostaria de mais um pouco de tor rada, Papai?” ele disse alto .
“Humm,” disse o Sr. Stanton. “Aaah.”
James falou, “Tomou bastante chá, Papai?”
O Sr. Stanton olhou para cima, girou ao redor sua redonda cabeça de olhos gentis
de um para o outro deles, e riu. Ele abaixou o jornal, bebeu su a xícara de chá, e enf iou o
pedaço de torrada em sua boca. “Vamos lá, então,” ele falou indist intamente, pegando
cada um deles por uma orelha. Eles urraram felizes, e correram para pegar botas,
jaquetas e cachecóis.
Eles foram descendo a estrada com o car rinho, Will, James, Sr. Stanton, e o alto
Max, maior do que seu pai, maior do que qualquer um, com o seu longo cabelo negro se
unindo em uma franja cômica saindo de um desonrado gorro velho. O que Maggie Barnes
teria pensado daquilo, Will imaginou alegreme nte, quando ela desse uma espiada pela
cortina da cozinha para encontrar os olhos de Max como de costume; e então no mesmo
instante ele lembrou sobre Maggie Barnes, e pensou em repentino alerta : O Fazendeiro
Dawson é um dos Antigos Escolhidos, ele deve ser alertado a respeito dela – e ele f icou
surpreso de não ter pensado nisso antes.
Eles pararam no quintal dos Dawsons, o velho George Smith saindo para encontrar
com eles com seu sorriso aberto. A caminhada foi mais fácil pela estrada essa manhã,
desde que uma máquina de t irar neve t inha passado; mas em toda parte a neve jazia
imóvel em um frio co rtante e cinza sem vento.
* Uma Yule log é uma grande tora que é queimada na lareira como parte de um ritual de Natal tradicional em algumas culturas. Pode
ser uma parte do festival do Solstício de Inverno, Véspera de Natal, Dia do Natal, a Décima Segunda Noite, etc.
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“Vou lhes conseguir uma árvore para superar todas!” o Velho George gritou
alegremente. “Reta como um mastro, como a do Fazendeiro. Amba s árvores Nobres
novamente, eu suponho.”
“Nobres como vieram,” disse o Sr. Dawson, apertando seu casaco enquanto saiu.
Ele quis dizer isso literalmente, Wil l sabia; todo ano, um número de árvores de Natal
eram vendidas das plantações Crown ao redor do Cas telo Windsor, e muitas voltavam
para o vilarejo no caminhão da fazenda Dawson.
“Bom dia, Frank,” disse o Sr. Stanton.
“Bom dia, Roger,” disse o Fazendeiro Dawson, e sorr iu para os garotos. “Ei
rapazes. Levem o carrinho lá por trás.” Seus olhos desl izaram impessoalmente sobre
Will, sem muito mais do que uma leve atenção, mas Will t inha deixado sua jaqueta
aberta propositalmente de um jeito que agora era evidente que havia dois Signos com um
círculo atravessado por uma cruz em seu cinto, não um.
“Bom vê-los parecendo tão vigorosos,” disse animadamente o Sr. Dawson para
todos, enquanto eles moviam o carrinho por trás do celei ro; e sua mão pousou
brevemente no ombro de Will com uma leve pressão que disse a ele que o Fazendeiro
Dawson tinha uma boa idéia do que aconteceu nos últ imos dias. Ele pensou em Maggie
Barnes procurou apressadamente palavras para formar um aviso.
“Onde está sua namorada, Max?” ele disse, cuidadosamente al to e claro.
“Namorada?” disse Max indignado. Estando profundamente envolvido com u ma
estudante de tranças loiras em sua escola de arte em Londres, da qual car tas enormes em
envelopes azuis chegavam ao correio todo dia, ele estava totalmente desinteressado em
todas as garotas locais.
“Ho, ho, ho,” disse Will, insis tindo. “Você sabe.”
Fel izmente James adorava esse tipo de coisa, e se uniu a ele com entusiasmo.
“Maggie -maggie-maggie,” e le cantou alegremente. “Oh, Maggie a doce lei teira de Maxie
o grande artista, oooh - oooh. ..” Max o esmurrou nas costelas, e ele deu risadinhas
abafadas.
“A jovem Maggie teve que nos deixar ,” disse o Sr. Dawson friamente. “Doença na
família. Precisavam dela em casa. Ela arrumou as coisas e foi cedo essa manhã. Sinto
muito desapontar você, Max.”
“Não estou desapontado,” disse Max, f icando vermelho. “ São apenas esses
estúpidos pequenos . . .”
“Oooooh - oooooh,” cantou James, dançando fora do alcance dos braços. “Oooh
pobre Maxie, perdeu sua Maggie . . .”
Will não disse nada. Ele estava satisfeito .
A árvore alta de pinheiro, seus galhos amarrados com ti ras de fel puda corda
branca, foi colocada no carrinho, e com ela a áspera raiz velha de uma árvore faia que o
Fazendeiro Dawson tinha cortado mais cedo naquele ano, part ida ao meio, e colocada de
lado para fazer Yule logs para os Stantons e para ele mesmo. Tinha que ser a raiz de uma
árvore, não um galho, Will sabia, embora ninguém jamais t ivesse explicado porque. Em
casa, eles colocar iam a tora no fogo hoje à noite na grande lareira de ti jolos na sala de
estar, e e la queimaria lentamente por todo o anoitecer a té que eles fossem para cama.
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Guardada em algum lugar estava um pedaço da Yule log do último ano, reservada para
ser usada como acendedor para sua sucessora.
“Aqui,” disse o velho George, aparecendo de repente ao lado de Will enquanto
todos eles empurravam o ca rr inho para fora do portão. “Vocês dever iam pegar um pouco
disso.” Ele empurrou para f rente um grande punhado de azevinho, pesado de f rutos.
“Muita bondade sua, George,” falou o Sr. Stanton. “Mas nós temos aquela grande
árvore de azevinho na porta da f ren te, você sabe. Se você souber de alguém que não
tenha . . .”
“Não, não, pegue.” O homem velho balançou seu dedo. “Não tem nem a metade
desses f rutos naquele arbusto de vocês. Esse é um azevinho especial.” Ele o depositou
cuidadosamente no carrinho; então rap idamente ele arrancou um ramo e o enf iou na casa
do botão superior do casaco de Will.
“E uma boa proteção contra o Escuro,” a velha voz disse baixo no ouvido de Will,
“se colocado sobre a janela,e sobre a porta.” Então o sorr iso de gengiva rosada partiu
sua enrugada face morena com uma antiga r isada, e o Antigo Escolhido era o Velho
George novamente, despedindo -se deles. “Feliz Natal !”
“Feliz Natal, George!”
Quando eles carregaram cer imoniosamente a árvore at ravés da porta da f rente, os
gêmeos a prenderam com três travessas e chaves de fenda, para dar a ela uma base. Do
outro lado da sala Mary e Bárbara sentavam em um farfalhante mar de papel colorido,
cortando-o em tiras, vermelha, amarela, azul, verde, e colocando -os em círculos
entrelaçados por corrent es de papel.
“Vocês deveriam ter fei to esses ontem,” disse Will. “Eles precisarão de tempo
para secar.”
“Você deveria ter feito ontem,” disse Mary ressentida, jogando para trás seu
cabelo longo. “Isso deveria ser trabalho para o mais jovem.”
“Cortei montes de tiras outro dia,” disse Wil l.
“Nós usamos aquelas horas a trás.”
“Eu as cortei, do mesmo jeito .”
“Além disso,” disse Bárbara pacif icadora, “ele estava fazendo compras de Natal
ontem. Então é melhor você calar a boca, Mary, ou ele pode decidir leva r de volta o seu
presente.”
Mary emudeceu, mas reduzida, e Will meio satisfei to uniu algumas correntes de
papel. Mas ele manteve um olho na porta, e quando viu seu pai e James aparecerem com
seus braços cheios de velhas caixas de papelão, ele escapuliu at rás deles discretamente.
Nada poderia impedi-lo de decorar a árvore de Natal.
Saindo das caixas surgiu todo tipo de decoração familiar que transformaria a vida
da família em um festival por doze noites e dias : a f igura de cabelos dourados para o
topo da árvore; as tiras de luzes coloridas. Então havia as f rágeis bolas de Natal de
vidro, preservadas com carinho por anos. Semi -esferas arrumadas como conchas do mar
vermelhas e verde-douradas, f inas setas de vidro, teias de aranha de linhas de vidro
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prateadas e pérolas; nos galhos escuros da árvore elas pendiam e vi ravam lentamente,
tremeluzindo.
Havia outros tesouros, então. Pequenas es trelas de ouro e cí rculos de palha
trançada; leves sinos de papel prateado. Depois, uma mistura de decorações feitas por
diversas crianças dos Stanton, indo desde a infantil rena de escovas para l impar tubo de
Will até uma linda cruz trabalhada em metal que Max tinha feito de f io de cobre em seu
primeiro ano na escola de arte. Então havia ti ras de lantejoulas para serem colocada s em
qualquer espaço, e então a caixa estava vazia.
Mas não totalmente vazia. Passando seus dedos cuidadosamente pelo amontoado
de pedaços de embalagem, em uma velha caixa de papelão quase tão alt a quanto ele, Will
encontrou uma pequena caixa achatada não muito mais larga do que sua mão. Ela
chocalhou.
“O que é isso?” ele disse curiosamente, tentando abrir a tampa.
“Meu Deus,” disse a Sra. Stanton da cadeira de braços central. “Deixe -me ver isso
um momento, amor. Isso é. . . sim, é mesmo! Isso estava na ca ixa grande? Pensei que
tínhamos perdido anos atrás. Olhe só para isso, Roger. Veja o que seu irmão mais novo
encontrou. É a caixa de car tas de Frank Dawson.”
Ela aper tou uma presilha na tampa da caixa, então ela se abr iu, e Wil l viu dentro
um número de pequenos entalhes ornados feitos de alguma madeira suave que ele não
conseguia identif icar. A Sra. Stanton segurou um: uma curvada letra S, com as
lindamente detalhadas cabeça e corpo escamado de uma cobra, rodopiando em uma linha
quase invis ível. Então outr a: um M arqueado, com pontas como os pináculos gêmeos de
uma pequena catedral. Os entalhes eram tão del icados que era quase impossível ver onde
eles se uniam às linhas nas quais eles pendiam.
O Sr. Stanton desceu do degrau da escada, e enf iou um dedo gent il dentro da
caixa. “Bem, bem,” disse ele. “O esperto velho Will.”
“Nunca tinha visto elas,” disse Will.
“Bem, na verdade você viu,” disse sua mãe. “Mas faz tanto tempo que você não
lembraria. Elas desapareceram anos e anos atrás. Engraçado elas es tarem no fundo
daquela velha caixa todo esse tempo.”
“Mas o que elas são?”
“Ornamentos para árvore de Natal, é claro,” disse Mary, espiando por cima do
ombro de sua mãe.
“O Fazendeiro Dawson as fez para nós,” disse a Sra. Stanton.
“Elas são lindamente entalh adas, como podem ver. E exatamente tão velhas quanto
a família – em nosso primeiro Dia de Natal nessa casa Frank fez um R para Roger” – e la
o segurou – “e um A para mim.”
O Sr. Stanton reti rou duas let ras que pendiam juntas na mesma linha. “Robin e
Paul. Esse par veio um pouco mais tarde do que de costume. Não estávamos esperando
gêmeos. . . Realmente, Frank era incrivelmente bom. Fico imaginando se e le tem tempo
para algo como isso agora?”
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A Sra. Stanton ainda estava girando os pequenos anéis da madeira em seus dedos
f inos e fortes. “M para Max, e M para Mary. . . Frank f icou muito descontente conosco por
ter uma repetição, eu me lembro. . . Oh, Roger,” disse ela, sua voz subitamente
suavizando. “Olhe para esse.”
Will f icou ao lado de seu pai para olhar. Era u ma le tra T, entalhada como uma
esquisita arvorezinha projetando dois galhos largos. “T?” ele disse. “Mas nenhum de nós
começa com T.”
“Esse era Tom,” sua mãe disse. “Realmente não sei porque nunca falei sobre Tom
para vocês mais jovens”. Já faz tanto temp o.. . Tom foi seu pequeno irmão que morreu.
Ele tinha algo errado com seus pulmões, uma doença que alguns bebês novos pegam, e
ele só viveu por três dias após ter nascido. Frank já t inha a inicial entalhada para e le,
porque era nosso primeiro bebê e nós tínhamos dois nomes escolhidos; Tom se fosse um
garoto, Tess se fosse uma garota. . .”
Sua voz soou levemente abafada, e de repente Wil l se arrependeu de ter
encontrado as cartas. Ele deu um tapinha desajeitado no ombro dela. “Não se preocupe,
Mamãe,” disse ele.
“Oh, querido,” disse a Sra. Stanton vivamente. “Não estou tr iste, amor. Já faz
muito tempo. Tom seria um homem crescido agora, mais velho do que Stephen. E além
disso” – ela deu uma cômica olhada ao redor da sala, entulhada de pessoas e caixas –
“uma ninhada de nove deveria ser o bastante para qualquer mulher.”
“Pode dizer isso de novo,” disse o Sr. Stanton.
“Isso é resultado de ter ancestrais fazendeiros, Mãe,” disse Paul.
“Eles acreditavam em grandes famílias. Montes de trabalhadores grátis.”
“Falando em trabalho grátis, ” disse seu pai, “aonde foram James e Max?”
“Abrindo as outras caixas.” '
“Bom Deus. Quanta iniciativa!”
“Espírito de Natal,” disse Robin do degrau da escada. “Os bons cris tãos
regozi jam-se, e tudo isso. Porque alguém não coloca a lguma música?”
Bárbara, sentada no chão ao lado de sua mãe, pegou o pequeno T entalhado em
madeira da mão dela e a colocou em uma coluna de cada inicial em ordem que ela tinha
feito no carpete. “Tom, Steve, Max, Glen, Robin e Paul, eu, Mary, James,” ela d isse.
“Mas onde es tá o W de Will?”
“Will estava lá com todo o resto. Na caixa.”
“Na verdade não era um W, se você se lembra,” disse o Sr. Stanton. “Era uma
espécie de símbolo. Ouso dizer que Frank tinha se cansado de fazer iniciais.” Ele sorr iu
para Will .
“Mas ele não está aqui,” Bárbara disse. Ela segurou a caixa de cabeça para baixo,
e balançou-a. Então olhou solenemente para seu i rmão mais novo. “Will,” ela disse,
“você não existe.”
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Mas Will es tava sentindo uma crescente inquietação que parecia brota r de alguma
parte dis tante muito profunda de sua mente. “Você disse que era um símbolo, não um
W,” ele falou casualmente. “Que tipo de símbolo, Pai?”
“Uma mandala, como eu me lembro,” disse o Sr. Stanton.
“Uma o quê?”
Seu pai deu uma r isada. “Não ligue, eu só estava brincando. Não imagino que
Frank a chamaria ass im. Uma mandala é um tipo de símbolo muito antigo datando da
época dos adoradores do sol e esse t ipo de coisa , qualquer símbolo feito de um círculo
com linhas radiais saindo ou entrando. O seu pe queno ornamento de Natal era um tipo
simples, um círculo com uma estrela dentro, ou uma cruz. Uma cruz, acho que era isso.”
“Não consigo imaginar porque ele não está ali com o resto,” disse a Sra. Stanton.
Mas Will conseguia. Se havia poder em saber os n omes verdadeiros das pessoas do
Escuro, talvez o Escuro pudesse em contra par tida fazer magia sobre outros usando alg o
que fosse o símbolo de um nome, como uma inicial entalhada. . . Talvez alguém tenha
pego o seu para tentar obter poder sobre ele des se jeito . E talvez, na verdade, fosse por
isso que o Fazendeiro Dawson tinha entalhado para ele não uma inicial, ma s um símbolo
que ninguém do Escuro poderia usar. Eles o tinham roubado de qualquer modo, para
tentar. . .
Um pouco mais tarde, Will escapuliu da decoração da árvore, subiu as escadas e
prendeu um ramo de azevinho sobre a porta e cada uma das janelas de seu quarto. Ele
enf iou um pedaço dentro do recém -remendado trinco da clarabóia também. Então ele fez
o mesmo com as janelas do quarto de James, q ue ele iria dividir na Véspera de Natal,
desceu as escadas e f ixou um pequeno cacho cuidadosamente sobre as portas da f rente e
de trás da casa. Ele ter ia feito o mesmo com todas as janelas, também, se Gwen não
tivesse atravessado a sala e notado o que ele estava fazendo.
“Oh, Will,” disse ela. “Não em todo lugar. Coloque pela pratelei ra da lareira ou
em algum lugar, assim será controlável. Quero dizer, caso contrár io poderemos ter f rutos
de azevinho debaixo dos pés toda vez que alguém puxar as cortinas.”
Uma típica atitude feminina, Will pensou com desgosto; mas ele não estava
incl inado em atrair atenção para seu azevinho fazendo qualquer grande protesto. Em todo
caso, ele ref let iu enquanto tentava arrumar o azevinho artis ticamente sobre a pratelei ra,
aqui em cima ele seria uma proteção contra a única entrada dentro da casa que ele t inha
esquecido. Tendo deixado seus dias de Papai Noel para trás, ele não tinha pensado na
chaminé. Agora a casa estava cintilando com luz, cor e excitamento. A Véspera de Natal
estava quase concluída. Mas para f inalizar tudo havia o canto natalino.
Depois do chá daquele dia, quando as luzes de Natal t inham sido acesas, e quando
os últimos sons de apressado desembrulhar de presentes estavam acabando, O Sr. Stanton
se es ticou em sua surrada poltrona de couro, tirou seu cachimbo, e olhou solenemente
para todos eles.
“Bem,” ele disse, “quem vai na caminhada esse ano?”
“Eu,” disse James.
“Eu,” disse Will.
“Bárbara e eu,” disse Mary.
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“Paul, é c laro,” disse Will. A caixa da f lauta de seu irmão já estava pronta na
mesa da cozinha.
“Eu não sei se eu vou,” disse Robin.
“Sim, você vai,” disse Paul. “Não f ica bom sem um barítono.”
“Oh, tudo bem,” disse o seu gêmeo meio relutante. Essa breve t roca t inha se
repetido anualmente por três anos. Sendo grande, com uma mente mecânica e um
excelente jogador de futebol americano, Robin sentia que não era completamente
apropriado para ele mostrar ansiedade para qualquer a tividade semelhante a de uma
garota como o canto natalino. Na verdade, ele e ra genuinamente devotado à música,
como o resto deles, e tinha uma agradável voz negra.
“Ocupada demais,” disse Gwen. “Sinto muito.”
“O que ela quer dizer é,” disse Mary de uma distância segura, “que ela tem que
lavar seu cabelo para o caso em que Johnni e Penn possa aparecer.”
“O que quer dizer com – possa – ?” disse Max da poltrona perto de seu pai.
Gwen fez uma careta terrível para ele. “Bem,” ela disparou, “e quanto a você i r
cantar?”
“Muito mais ocupado do que você,” Max disse preguiçosamente. “Sin to muito.”
“E o que ele quer dizer é,” disse Mary, agora bem ao lado da porta, “que ele tem
que sentar em seu quarto e escrever outra car ta enormemente longa para sua ave loira em
Southampton.”
Max tirou uma de seus chinelos para jogar, mas ela tinha ido .
“Ave?” disse o seu pai. “Qual vai ser a próxima palavra para isso?”
“Bela preocupação, Pai!” James olhou para ele com horror. “Você realmente vive
na Idade da Pedra. Garotas são aves desde o ano um. Por terem quase tanto cérebro
quanto as aves também, se você me perguntar.”
“Alguns pássaros de verdade têm grande quantidade de cérebro,” Will falou
ref lexivamente. “Você não acha?” Mas o episódio das gralhas tinha sido tão efetivamente
removido da mente de James que ele nem notou; as palavras se perderam.
“Todos você irão,” disse a Sra. Stanton. “Botas, casacos grossos, e de volta às
oito e meia.”
“Oito e meia?” disse Robin. “Se nós cantarmos três músicas para a Senhorita Bell,
e a Senhori ta Greythorne nos convidar para tomar ponche?”
“Bem, nove e meia bem al i fora,” ela disse.
Estava muito escuro na hora em que eles part iram; o céu não tinha limpado, e
nenhuma lua ou nem mesmo uma s imples est rela brilhou através da escura noite. A
lanterna que Robin carregou em uma vara lançava um círculo de luz brilha nte na neve,
mas cada um deles tinha uma vela em um bolso do casaco de qualquer modo. Quando
eles chegaram à Mansão, a velha Senhorita Greythorne insisti ria que eles entrassem e
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f icassem em sua grande sala com entrada de pavimento de pedra com todas as lu zes
acesas, cada um segurando uma vela enquanto cantavam.
O ar estava congelante, e sua respiração projetava -se em uma nuvem espessa e
branca. De vez em quando um f loco de neve perdido mergulhava do céu, e Will pensou
na mulher gorda no ônibus e suas prev isões. Bárbara e Mary es tavam tagarelando tão
confortavelmente como se est ivessem sentadas em casa, mas por trás da conversa os
passos de todo o grupo soava f rio e duro na estrada congelada de neve. Will es tava feliz,
confortado pelo pensamento no Natal e no prazer do canto natalino; ele caminhou em um
contente estado de sonho, segurando a grande caixa coletora que eles carregavam em
ajuda para a pequena, antiga, famosa e rapidamente f ragmentada igreja de Saxon. Então,
ali em frente a eles es tava a Fazenda Dawsons com um grande monte d os azevinhos
cheios de f rutos presos sobre a porta de trás, e o canto natalino tinha começado.
Através do vilarejo eles cantaram: “ Nowell” para o pároco; “God Rest Ye Merry
Gentlemen” para o alegre Sr. Hut ton, o enorme homem d e negócios na nova imitação de
casa Tudor no f im do vilarejo, que sempre pareceu como se estivesse descansando muito
feliz, sem dúvida; “Once in Royal David 's City” para a Sra. Pettigrew, a viúva
responsável pelo correio, que pintou seu cabelo com folhas d e chá e mantinha um
pequeno cão manco que parecia um bolo de lã cinza. Eles cantaram “ Adeste Fideles” em
latim e “Les Anges dans nos Campagnes” em Francês para a pequena Srta. Bell, a
pequena professora aposentada do vilarejo, que tinha ensinado cada um de les a ler e
escrever, somar e subtrai r, falar e pensar, antes que eles fossem para outras escolas em
algum outro lugar. E a pequena Sr ta. Bell disse roucamente, “lindo, lindo,” colocou
algumas moedas das quais eles sabiam que ela não poderia dispor dentro da caixa de
coleta, deu um abraço em cada um deles, e – “Fel iz Natal, Feliz Natal !” – eles saíram
para a próxima casa na li sta.
Havia mais quatro ou cinco, uma delas a casa da lúgubre Sra. Horniman, que
“cuidava” da mãe deles uma vez por semana e t inha na scido e sido criada em uma região
ao leste de Londres até que uma bomba tinha explodido em pedaços sua casa t rinta anos
antes.
Ela sempre havia dado uma moeda prateada de seis pennies para cada um deles, e
ass im ela a inda fez, f riamente reclamando das mud anças no dinheiro atual. “Não seria
Natal sem os seis pennies,” disse a Sra. Horniman. “Eu guardei um bom estoque antes
que fôssemos enterrados com todos aqueles decimais, então eu guardei . Então posso
continuar em todo Natal do mesmo jeito que costumava, meus patinhos, e eu suponho que
esse meu estoque vai me ver cair, até que eu es teja bem fundo em meu túmulo e vocês
estejam cantando para outra pessoa nessa mesma porta. Feliz Natal !” E então lá estava a
Mansão, a última parada antes de casa.
“Here we come a-wassailing among the leaves so green,
Here we come a -wandering, so fair to be seen. . . ”
Eles sempre começavam com a antiga Wassail Song para a Srta. Greythorne, e esse
ano o trecho sobre as folhas verdes, Will ref letiu, es tava ainda mais inadequado do que
de costume. O coro seguiu por seu caminho e para o último verso , Will e James ergueram
a voz em um alto destaque que eles nem sempre usam para o f im pois exige muito fôlego.
“Good master and good mistress whi le you're sitt ing by the fire,
Pray think o f us poor children who are wandering in the mire. . . ”
Robin apertou o grande botão de metal da campainha, cujo profundo clangor
sempre encheu Will de um alarme obscuro, e enquanto eles espiralaram no último verso a
enorme porta se abriu, e lá estava parado o mordomo da Srta. Greythorne, no comprido
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casaco de cauda que ele usava sempre na noite de Véspera de Natal. Ele não era lá um
mordomo muito formidável; seu nome era Bates, um al to , curvado, homem carrancudo
que geralmente podia ser visto ajudando o velh o jardineiro com os vegetais no jardim
perto ao portão de trás da Mansão, ou discutindo sobre sua artri te com a Sra. Pettigrew
no Correio.
“Love and joy come to you
And to you your wassail too. . . ”
O mordomo sorriu e inclinou a cabeça polidamente para e le s e manteve a porta
aberta, e Wil l de repente engoliu sua última nota al ta, pois não era Bates; era Merr iman.
O coro terminou, e todos relaxaram, fungando na neve. “Encantador,” Merriman
falou gravemente, olhando para todos impessoalmente, e os altos tons imperiosos soaram
atrás dele. “Tragam -nos para dentro ! Tragam-nos para dentro ! Não os deixem esperando
na porta!”
Ela sentava al i no longo corredor de entrada, na mesma cadeira de encosto alto
que eles viam toda Véspera de Natal. Não era capaz de andar a nos após um acidente
quando era uma mulher jovem – o seu cavalo t inha caído e rolado sobre ela, dizia o
vilarejo – mas ela sempre recusava ser vista em uma cadeira de rodas. De roso f ino e
olhos claros, seu cabelo cinza sempre estava enrolado no topo da ca beça em um tipo de
nó, ela era uma f igura de completo mistér io em Huntercombe.
“Como está sua mãe?” Srta. Greythorne perguntou a Paul. “E seu pai?”
“Muito bem, obrigado, Srta. Greythorne.”
“Tendo um bom Natal?”
“Esplêndido, obrigado. Espero que você ta mbém esteja.” Paul, que sentia muito
pela Srta. Greythorne, sempre teve problemas em ser calorosamente polido; agora ele
tinha tornado claro que seus olhos não correram pela sala de teto alto enquanto ele
falava. Pois embora o cozinheiro e a cr iada est ives sem sorr indo parados no fundo da
sala, e é claro, houvesse o mordomo que abriu a porta da f rente, em toda essa grande
casa não havia traço de nenhum vis itante, árvore, decoração, ou qualquer outro sinal de
festividade de Natal, salvo por um enorme galho de azevinho cheio de f rutos pendurado
sobre a lareira.
“Uma estação incomum, essa,” disse a Srta. Greythorne, olhando para Paul
pensativamente. “Tão cheia de um número de coisas, como aquela detestável garotinha
no poema disse.” Ela virou subitamente para W i l l . “E você es tá tendo uma época ocupada
esse ano, não é , jovem?”
“Certamente es tou,” disse Will f rancamente, pego de surpresa.
“Uma luz para suas velas,” disse Merriman em respeitosos tons baixos, andando
para f rente com uma caixa de fósforos enormes. Rapidamente todos tiraram suas velas de
seus bolsos, e ele acendeu um fósforo e se move u cuidadosamente entre e les, a luz
transformando suas sobrancelhas em fantásticas divisas eriçadas e as linhas do nariz até
a boca em ravinas profundamente sombreadas. W ill olhou pensativamente para seu
casaco com cauda, que era par tido na cintura, e que ele usava com um t ipo de lenço no
pescoço ao invés de uma gravata branca. Ele estava sent indo alguma dif iculdade em
imaginar Merriman como um mordomo.
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Alguém no fundo da sala desligou as luzes, deixando a sala iluminada somente
pelo grupo de chamas tremulantes em suas mãos. Houve a leve bat ida de um pé; então
eles começaram com a doce, suave canção de ninar, “ Lullay lullay, thou lit t le t iny
child . . .” f inalizando -a com um último verso sem palavras tocado apenas por Paul. O
claro, forte som da f lauta caiu através do ar como barras de luz e encheu Will com uma
estranha saudade dolorosa, uma sensação de algo esperando muito longe, que ele não
conseguia entender. Então , para contras tar , eles cantaram “God Rest Ye Merry,
Gentlemen”; em seguida “The Holly and the Ivy”. E logo estavam de volta em “Good
King Wenceslas”, sempre um grande f inal para Sr ta. Greythorne, e sempre fazendo Will
sentir muito por Paul, que uma vez havia obser vado que essa canção era totalmente
inadequada para esse tipo de música, que deve ter sido escrita por alguém que
desprezava a f lauta.
Mas era divert ido ser o pajem, tentando fazer sua voz combinar tão perfeitamente
com a de James que os dois soavam como um só.
“Sire, he lives a good league hence. . .”
. . .e Will pensou: es tamos realmente fazendo bem dessa vez, eu poderia jurar que
James não estava cantando se. . .
“Underneath the mountain . . .”
. . . se não fosse pelo fato de sua boca estar se mexendo. . .
“Right against the forest fence. . .”
. . . e ele olhou at ravés da escuridão enquanto cantava, e viu, com um choque tão
brutal como se alguém o tivesse golpeado no estômago, que de fato a boca de James não
estava se movendo, nem qualquer outra parte de Ja mes, nem de Robin ou Mary ou
qualquer um dos Stantons. Estavam ali imóveis, todos eles, presos fora do Tempo, como
o Andarilho tinha f icado na Oldway Lane quando a garota do Escuro o encantou. E as
chamas de suas velas não tremulavam mais, mas cada uma que imava com o mesmo
estranho, inconsumível pilar de ar branco luminoso que havia se e levado do galho
ardente de Will naquele outro dia. Os dedos de Paul não se mexiam mais em sua f lauta;
ele também estava imóvel, segurando -a em sua boca. A música, muito seme lhante mas
muito mais doce do que a música de uma f lauta, a inda continuou, e Will também,
cantando independente de s i mesmo, concluindo o verso. . .
“By Saint Agnes' fou. . . oun.. . tain. . .”
. . . E justamente quando ele começava a imaginar, através da est ranha doce música
de acompanhamento que parecia sai r do ar, como o próximo verso poderia ser feito , a
não ser que imaginassem que um garoto soprano soasse como o bom King Wenceslas
ass im como seu pagem, uma grande voz bela e profunda ecoou pela sala com as palavras
familiares, uma grande voz profunda que Will nunca tinha ouvido empregada na canção
antes e rapidamente reconhecida.
“ . . .Bring me flesh and bring me wine
Bring me pine-logs hither;
Thou and I wil l see him dine
When we bear them thither. . . ”
A cabeça de Will girou um pouco, a sala pareceu crescer e então encolher
novamente; mas a música continuou, e os pilares de luz permaneciam sobre as chamas
56
das velas, e assim que o próximo verso começou Merriman est icou -se casualmente e
pegou sua mão, e eles caminharam em frente, cantando juntos:
“Page and monarch forth they went,
Forth they went together,
Through the rude wind's wild lament
And the bitter weather.”
Eles caminharam descendo o longo saguão de entrada, para longe dos Stantons
imóveis, passando pela Srta. Greythorne em sua cadeira, pela governanta cozinheira, e a
empregada, todos imóveis, vivos e a inda assim suspensos fora da vida. Will sent iu como
se estivesse caminhando no ar, não tocando o chão, descendo o saguão escuro; nenhuma
luz estava em frente a eles, mas apenas um brilho vindo de trás. Dentro do escuro. . .
“Sire, the night is darker now,
And the wind blows stronger;
Fails my heart I know not how,
I can go no longer. . .”
Will ouviu sua voz tremer, pois as palavras eram palavras certas para o q ue estava
em sua mente.
“Mark my footsteps, good my page;
Tread thou in them boldly. . .”
Merriman cantou; e subitamente t inha algo mais em frente a Wil l do que o escuro.
Diante dele erguiam-se as grandes portas, as grandes portas entalhadas que ele
tinha vis to pela primeira vez em uma ladeira cheia de neve de Chiltern, e Merr iman
levantou seu braço esquerdo e apontou para elas com seus cinco dedos bem abertos e
retos. Lentamente as portas se abri ram, e a indef inível música dos Antigos Escolhidos
veio crescendo devagar para se unir ao acompanhamento do cor al, e então se perdeu
novamente. E ele seguiu em frente com Merriman para dentro da luz, dentro de um tempo
diferente e de um Natal diferente, cantando como se ele pudesse despejar toda a música
do mundo dentro dessas notas – e cantando tão confiante que o líder do coro da escola,
que era muito r igoroso no que diz respeito a cabeças erguidas e mandíbulas bem
mexidas, teria mergulhado em um orgulho mudo de deslumbramento.
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arte Dois: O Aprendizado
Livro de Gramarye
Eles estavam em uma sala brilhante novamente, uma sala diferente de tudo que
Will já tinha vis to. Os tetos eram altos, pintados com imagens de árvores, f lorestas e
montanhas; as paredes tinham painéis de madeira dourada brilhante, acesas aq ui e ali por
estranhos globos luminosos. E a sala estava cheia de música, o seu próprio coro tomado
por muitas vozes, em uma reunião de pessoas vestidas como uma brilhante cena de um
livro de história. As mulheres, de ombros nus, usavam longos vestidos com laçadas
elaboradas e saias com folhos; os homens vestiam roupas parecidas com as de Merriman,
com casacos com caudas retangulares , compridas calças retas, com folhos ou gravatas de
seda negra no pescoço. Na verdade, agora que Will olhou de novo para Merri man,
percebeu que as roupas que ele usava nunca foram realmente as de um mordomo, mas
pertenciam completamente a esse outro século, qualquer que ele pudesse ser.
Uma senhora de vestido branco estava se dirigindo até e les para recebê-los, as
pessoas ao seu redor se afastavam respeitosamente para abrir espaço, e quando o coral
terminou ela gri tou: “Lindo! Lindo! Entrem, entrem!” A voz era exatamente a voz da
Srta. Greythorne saudando -os à porta da Mansão um pouquinho mais cedo, e quando Will
olhou para o rosto dela ele viu que de cer to modo essa era a Sr ta. Greythorne também.
Havia os mesmos olhos e rosto de ossos salientes, a mesma conduta amigável mas
imperiosa – apenas essa Sr ta. Greythorne era muito mais jovem e mais bonita, como uma
f lor que tivesse desabrochado do botão mas ainda não castigad a pelo sol, vento e pelos
dias.
“Venha, Will,” ela disse, e pegou sua mão, sorrindo para ele, e ele foi até ela; era
tão claro que ela o conhecia e que aqueles ao redor dela, homens e mulheres, jovens e
velhos, todos sorrindo e felizes, o conheciam também. A maioria da brilhante mul tidão
estava deixando a sala agora, casais e grupos conversando, na direção de um delicioso
cheiro de algo cozinhando que claramente indicava ceia em algum outro lugar da casa.
Mas um grupo de aproximadamente vinte permaneceu.
“Estávamos esperando por você,” disse a Srta. Greythorne, e o conduziu até o
fundo da sala onde um fogo ardia quente e amigável em uma lareira ornada. Ela estava
olhando para Merriman também, incluindo -o em suas palavras. “Estamos todos prontos,
não há nenhum.. . obstáculo.”
“Você tem certeza?” a voz de Merr iman surgiu rápida e profunda como uma batida
de martelo, e Will observou curiosamente. Mas o rosto com nar iz de falcão es tava tão
enigmático como sempre.
“Certeza absoluta,” disse a senhora. De repente ela ajoelhou ao lado de Will, sua
saia espalhando-se ao redor dela como uma grande rosa branca; agora ela estava ao nível
dos olhos dele, e ela segurou as suas duas mãos, olhando para ele, e falou suave e
rapidamen te. “É o terceiro Signo, Will. O Signo da Madeira. Nós o chamamos às vezes
de Signo do Aprendizado. Essa é a hora de refazer o Si gno. Em cada século desde o
princípio, Will, a cada cem anos, o Si gno da Madeira deve ser renovado, porque ele é o
único dos seis que não pode manter sua natureza imutável. A cada cem anos nós o temos
refeito , do modo que fomos ensinados pela primeira vez. E agora essa vai ser a úl tima
vez, pois quando o seu próprio século vier você o tomará por todo o tempo, para a união,
e então não será mais necessár ia a renovação.”
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Ela se levantou, e disse claramente, “Estamos contentes em vê -lo , Will Stanton,
Buscador dos Signos. Muito, muito contentes.” E houve um retumbar geral de vozes,
baixas e altas, suaves e profundas, todas aprovando e concordando; era como uma
parede, Will pensou, você poderia se encostar nela e sentir apoio. Muito profundamente
ele podia senti r a força da amizade que surgia desse pequeno grupo de pessoas
desconhecidas e belamente vestidas; f icou imaginando se todos el es eram Antigos
Escolhidos. Olhando para Merriman ao seu lado, ele sorriu de contentamento, e
Merriman sorriu para ele com uma aparência de um relaxado prazer mais aberto do que
Will já t inha visto no rosto austero, quase severo.
“Está quase na hora,” Srt a. Greythorne disse.
“Primeiro um pouco de refresco para os recém chegados, talvez,” disse um homem
ao lado deles: um homem pequeno, não muito mais al to do que Will. Ele segurava um
copo. Will o pegou, olhando, e encontrou-se observando um rosto f ino e an imado, quase
triangular, de linhas espessas embora não fosse velho, com um par de assustados olhos
brilhantes olhando para ele e de algum modo dentro dele. Era um rosto perturbador, com
muito por trás dele. Mas o homem tinha se afastado dele, presenteando Will apenas com
uma costa l impa coberta por veludo verde, e estava oferecendo um copo para Merr iman.
“Meu senhor,” e le disse de forma diferente do que t inha feito , e curvou-se.
Merriman olhou para ele com um cômico franzir da boca, não disse nada, mas f ic ou
olhando zombeteiramente e esperou. Antes que t ivesse uma chance até mesmo de f icar
confuso com a saudação, o pequeno homem piscou e subi tamente pareceu recuperar seu
juízo, como um sonhador acordado repentinamente. Ele começou a rir.
“Ah, não,” ele disse cuspindo. “Pare. Eu tive o hábito por longos anos, depois de
tudo.” Merriman deu uma risada afetuosa, ergueu o copo para ele, e bebeu; e uma vez
que não conseguiu compreender esse est ranho intercâmbio Will bebeu também, e foi
preenchido com deslumbramen to por um sabor irreconhecível que era menos um gosto do
que um raio de luz, uma explosão de música, algo feroz e maravilhoso tomando conta de
todos os seus sentidos de uma vez só.
“O que é isso?”
O pequeno homem deu um giro e riu, seu rosto enrugado inc l inando todas as suas
l inhas para cima. “Metheglyn costumava ser o nome mais próximo,” disse ele, pegando o
copo vazio. Ele soprou dentro dele, disse inesperadamente, “Um Antigo Escolhido como
os olhos podem ver,” e o segurou; e olhando dentro da base clar a, Wil l de repente sent iu
que podia ver um grupo de f iguras de robes marrons fazendo o quer que fosse aquilo que
ele t inha acabado de beber. Ele olhou para cima para ver o homem de casaco verde
observando-o de perto, com uma expressão perturbadora que era como uma mistura de
inveja e sat isfação. Então o homem riu e rapidamente afastou o copo, e a Sr ta.
Greythorne estava chamando para que eles fossem até ela; os globos brancos de luz na
sala f icaram embaçados, e as vozes quietas. Em algum lugar da casa Will pensou que
ainda podia ouvir a música, mas ele não tinha certeza.
Srta. Greythorne f icou perto do fogo. Por um momento ela olhou para Wil l, então
para Merriman. Então ela se afastou deles e olhou para a parede. Ela olhou e olhou por
um longo tempo. Os painéis, a larei ra e a prateleira acima eram um só, todos entalhados
da mesma madeira dourada: muito plana, sem curvas ou f loreios, mas apenas uma rosa de
quatro pétalas colocada em um quadrado aqui e ali . Ela ergueu sua mão até um desses
pequenos entalhes de rosa no canto superior esquerdo da lareira, e ela pressionou o seu
centro. Houve um clique, e abaixo da rosa, ao nível de sua cintura, um buraco quadrado
59
escuro apareceu no painel . Will não viu painel algum deslizar ; o buraco simplesmente
estava, de repente, a li .
E a Srta. Greythorne pegou e reti rou um objeto com a forma de um pequeno
círculo. Era a imagem dos dois que ele mesmo tinha, e ele percebeu que sua mão, como
uma vez antes, já tinha se movido e estava segurando -os protetoramente. Houve silêncio
total na sala. Do lado de fora das portas Will certamente podia ouvir música agora, mas
não conseguia def inir a natureza dela.
O círculo-signo estava mui to f ino e escuro, e um de seus braços -cruzados
interiores estava par tido como ele observou. A Srta. Gre ythorne entregou-o a Merriman,
e mais um pouco se desfez em poeira. Will agora podia ver que era madeira, rúst ica e
gasta, mas com um grão correndo por ela.
“Isso tem cem anos de idade?” disse e le.
“A cada cem anos, a renovação,” disse ela. “Sim.”
Will disse impulsivamente, dentro da sala s ilenciosa, “Mas a madeira dura muito
mais do que isso. Vi algumas no Museu Britânico. Pedaços de velhos barcos que eles
escavaram no Thames. Pré-históricos . Com milhares de anos.”
“Quercus Britannicus,” disse Merr iman , severa e abruptamente, soando como um
professor rabugento. “Carvalho. As canoas às quais você se refere eram feitas de
carvalho. E mais ao sul, as pilhas de carvalho nas quais a a tual catedral de Winchester se
apóia foram colocadas cerca de novecentos an os at rás, e são tão f irmes hoje como
estavam então. Oh, sim, carvalho dura muito tempo, Will Stanton, e virá um dia em que a
raiz de uma árvore de carvalho terá uma parte muito importante em sua jovem vida. Mas
carvalho não é a madeira para o Si gno. Nossa madeira é uma que o Escuro não ama.
Tramazeira, Wil l, essa é a nossa árvore. Sorbus Aucuparia. Há qualidades na tramazeira,
como em nenhuma outra madeira na terra, que nós precisamos. Mas também há esforços
no Signo aos quais a t ramazeira não consegue sobr eviver como o carvalho consegue, ou
como ferro e bronze. Então o Signo deve ser renascido” – ele o ergueu, entre um dedo
comprido e um dedão profundamente curvado para trás – “a cada cem anos.”
Will concordou com a cabeça. Não disse nada. Encontrou -se muito consciente das
pessoas na sala. Era como se todos eles estivessem se concentrando muito em uma coisa,
e você pudesse ouvir a concentração. E de repente eles pareceram multiplicados,
inf initos, uma vasta mult idão estendendo -se além da casa e além desse século ou
qualquer outro.
Ele não entendeu completamente o que aconteceu em seguida. Merriman projetou
sua mão para f rente subitamente, par tiu o Signo da Madeira ao meio e o atirou no fogo,
onde uma grande tora como a Yule log deles estava queimada pela me tade. As chamas
saltaram. Então a Srta. Greythorne esticou -se em direção ao pequeno homem no casaco
de veludo verde, pegou dele o jarro prateado com o qual ele havia colocado os drinques,
e jogou o conteúdo do jarro no fogo. Houve um grande silvo e fumaça, e o fogo estava
apagado. E ela se incl inou para f rente em seu longo vestido branco e colocou seu braço
dentro da fumaça e das cinzas ardentes, e reti rou um pedaço parcialmente queimado da
grande tora. Era como um grande disco irregular.
Segurando a protuberância de madeira bem alto para que todos pudessem ver, ela
começou a retirar pedaços enegrecidos dela como se est ivesse descascando uma laranja;
seus dedos se moviam rapidamente, e as bordas queimadas caíram e restou o esqueleto da
peça de madeira: um c laro círculo liso, contendo uma cruz.
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Não havia irregularidade alguma nele, como se nunca houvesse tido qualquer
outra forma a não ser essa. E nas mãos brancas da Srta. Greythorne não restava t raço de
fuligem ou cinza.
“Will Stanton,” disse ela, virando -se para ele, “aqui es tá o seu terceiro Signo. Não
devo entregá-lo a você nesse século. Sua busca deve ser completada dentro de seu
próprio tempo. Mas a madeira é o Signo do Aprendizado, e quando tiver terminado com o
seu próprio aprendizado individual você o encontrará. E posso deixar em sua mente os
movimentos que serão necessár ios.” Ela olhou f irme para Wil l, então est icou -se e enf iou
o estranho círculo de madeira no buraco escuro no painel. Com a outra mão, ela
pressionou a rosa entalhada na parede acima dele, e com o mesmo f lash cegante de antes
o buraco subi tamente não estava mais lá. A parede com painéis de madeira es tava lisa e
sem quebras como se não tivesse ocorrido mudança alguma.
Will observou. Lembre como isso foi feito , lembre. . . Ela havia pres sionado a
primeira rosa entalhada no canto superior esquerdo. Mas agora havia três rosas em um
grupo no canto; Qual deveria ser? Quando olhou mais de perto, ele viu com temeroso
assombro que agora toda a parede de painéis es tava coberta de quadrados de mad eira
entalhada, cada um contendo uma rosa de quatro pétalas. Elas tinham crescido nesse
momento, debaixo de seus olhos? Ou elas estiveram ali o tempo todo, invisíveis por
causa de uma ilusão da luz? Ele balançou sua cabeça assustado e procurou ao redor por
Merriman. Mas era tarde demais. Ninguém estava per to dele. A solenidade tinha deixado
o ar; as luzes estavam brilhantes novamente, e todo mundo estava conversando
alegremente. Merriman estava murmurando algo para Sr ta. Greythorne, curvando -se
quase em dobro para falar perto de seu ouvido. Will sentiu um toque em seu braço, e
virou-se.
Era o pequeno homem de casaco verde, acenando para ele. Perto das portas do
outro lado da sala, o grupo de músicos que tinha acompanhado o coral começou a tocar
de novo: um som gentil de f lautas, violinos e o que ele pensou que fosse um cravo. Era
outro coro que eles estavam cantando agora, um antigo, muito mais antigo do que o
século da sala. Wil l queria escutar, mas o homem de verde t inha agarrado seu braço e o
estava arrastando insis tentemente em direção a uma porta lateral. Will agüentou f irme,
rebelde, e virou em direção a Merr iman. A f igura alta levantou -se instantaneamente,
girando em volta para procurar por ele; mas quando viu o que estava acontecendo
Merriman relaxou, meramente erguendo uma mão em consent imento. Will sentiu a
conf iança colocada dentro de sua mente: vá em frente, está tudo bem. Eu seguirei.
O pequeno homem pegou uma lanterna, olhou casualmente para ele, então abriu
rapidamente a porta lateral o bastant e para que ele e Will passassem através dela. “Não
confia em mim, confia?” ele disse em sua voz aguda e convulsiva. “Bom. Não confie em
ninguém a não ser que seja preciso, garoto. Então você sobreviverá para fazer o que está
aqui para fazer.”
“Eu pareço saber sobre as pessoas agora, a maioria,” disse Will. “Quero dizer, de
algum modo posso dizer em quais eu posso confiar. Geralmente. Mas você . . .” ele parou.
“Bem?” disse o homem.
Will falou: “Você não se encaixa.”
O homem gri tou com uma risada, seus olho s desaparecendo nas rugas em seu
rosto, então parou abruptamente e ergueu sua lanterna. No círculo de luz oscilante, Wil l
viu o que parecia ser uma pequena sala, com painéis de madeira, sem mobília exceto uma
cadeira de braços, uma mesa, uma pequena escada , e uma grande estante embutida com
um espelho na f rente no centro de cada parede. Ele ouviu uma profunda batida uniforme
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e viu, observando através da escuridão, que um grande relógio antigo es tava no canto. Se
a sala fosse dedicada apenas à leitura , como parecia ser, então ela guardava um medidor
de tempo que daria um aviso bem alto contra ler por tempo demais.
O pequeno homem empurrou a lâmpada na mão de Will. “Acho que tem uma luz
bem aqui . . . ah.” Começou um indef inível som de assobio que Will t inha not ado uma ou
duas vezes na porta seguinte da sala; então houve o estalo de um fósforo acendendo e um
alto “Pop!”, e uma luz apareceu na parede, queimando primeiro com uma chama
avermelhada e então expandindo em um dos grandes globos brancos brilhantes.
“Lanternas a gás,” ele disse. “Ainda muito novas em casas particulares, e mais
elegantes. Srta. Greythorne possui um bom gosto incomum, para este século .”
Will não es tava escutando. “Quem é você?”
“Meu nome é Hawkin,” disse o homem alegremente. “Nada mais. S omente
Hawkin.”
“Bem, olhe aqui, Hawkin,” disse Wil l. Ele estava tentando pensar em algo , e isso
o estava tornando mais inquieto. “Você parece saber o que está acontecendo. Diga -me
alguma coisa. Aqui es tou trazido ao passado, um século que já aconteceu, é parte dos
livros de história. Mas o que acontece se eu f izer algo para al terá -lo? Eu posso, eu
poderia. Qualquer coisinha. Eu estar ia tornando algo na história diferente, como se eu
realmente es tivesse ali .”
“Mas você esteve,” Hawkin disse. Ele tocou um acendedor na chama da lâmpada
que Will segurava.
Will disse confuso, “O quê?”
“Você es teve . . . está. . . nesse século quando isso aconteceu. Se alguém tivesse
escrito uma história regis trando esse momento aqui, essa noite, você e meu Senhor
Merriman estariam nela, descri tos. Inapropriadamente, entretanto. Um Antigo Escolhido
nunca deixa seu nome ser regist rado em lugar algum. Geralmente vocês conseguem afetar
a his tória de maneiras que nenhum homem jamais entende. . .”
Ele encostou o acendedor em chamas em um suporte para três velas na mesa ao
lado de uma das poltronas; a costa de couro da cadeira brilhou na luz amarela. Will
disse, “Mas eu não consegui . . . Não vejo . . .”
“Venha,” Hawkin falou rápido. “É claro que você não vê. É um mistério. Os
Antigos Escolhidos podem viajar no Tempo como escolherem; você não está preso pelas
leis do Universo como nós as conhecemos.”
“Você não é um?” disse Will. “Pensei que você devia ser. ”
Hawkin balançou sua cabeça, sorrindo. “Não,” disse e le. “Um homem pecador
comum.” Ele o lhou para baixo e deslizou sua mão sobre a manga verde de seu casaco.
“Mas um dos mais privi legiados. Pois como você, eu não per tenço a esse século, Will
Stanton. Fui t razido aqui apenas para poder fazer uma cer ta coisa, e então meu Senhor
Merriman me enviará de volta ao meu próprio tempo.”
“Onde,” disse a profunda voz de Merriman ao som do clique suave da porta se
fechando, “eles não têm tal coisa como veludo, que é o motivo pelo qual ele tem tanto
prazer em particular nesse lindo casaco. Um casaco bastan te elegante, pelo padrão atual,
eu devo dizer - lhe, Hawkin.”
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O pequeno homem olhou para cima com um rápido sorriso, e Merriman colocou
uma mão em seu ombro afetuosamente. “Hawkin é uma criança do século treze, Wil l,”
ele disse. “Setecentos anos antes que você nascesse. Ele é de lá. Por feito meu, ele foi
trazido adiante saindo dele para esse dia, e então ele irá voltar novamente. Como poucos
homens comuns f izeram.”
Will correu uma das mãos dist raidamente pelo seu cabelo; ele sent iu como se
estivesse tentando organizar uma tabela de horários de uma est rada de ferro.
Hawkin riu suavemente. “Eu disse a você, Ant igo Escolhido. É um mistério.”
“Merr iman? ' disse Will. “De onde você é?”
O rosto escuro pontudo de Merriman olhou para e le sem expressão, como algum a
imagem entalhada há muito tempo. “Você entenderá em breve,” disse ele. “Nós temos
outro objetivo aqui diferente do Signo da Madeira, nós três. Eu sou de lugar a lgum e de
todo lugar, Will. Sou o primeiro dos Antigos Escolhidos, e eu est ive em todas as era s. Eu
existia. . . existo . . . no século de Hawkin. Lá, Hawkin é meu vassalo. Eu sou seu senhor, e
mais do que seu senhor, pois e le es teve comigo por toda sua vida, educado como se fosse
um f ilho, desde que eu o peguei quando seus pais morreram.”
“Nenhum f ilho jamais teve melhor cuidado,” Hawkin disse, um pouco rouco;
olhou para seus pés, e a jeitou sua jaqueta, e Wil l percebeu que mesmo com todas as
linhas em seu rosto Hawkin não era muito mais velho do que seu irmão Stephen.
Merriman disse, “Ele é meu amigo que me serve, e tenho profunda afeição por ele.
E o tenho em grande confiança. Tão grande que dei a ele uma parte vital para executar na
busca que todos nós devemos realizar nesse século . . . a busca pelo seu aprendizado,
Will.”
“Oh,” Will disse f racamente.
Hawkin sorr iu para ele; então saltou para f rente e inclinou -se fazendo uma
pequena reverência, deliberadamente quebrando a seriedade. “Devo agradecê -lo por ter
nascido, Ant igo Escolhido,” disse ele, “e por ter me dado a chance de correr como um
rato em outra época que não a minha própria.”
Merriman relaxou, sorrindo. “Você percebeu, Will, como ele adora acender as
lanternas a gás? Em seu dia, eles usam mal cheirosas velas fumacentas que na verdade
não são velas, mas s im juncos mergulhados em gordura.”
“Lanternas a gás?” Will olhou para o globo branco preso na parede. “É isso que
eles são?”
“É claro. Ainda não há eletricidade.”
“Bem,” disse Wil l defensivamente. “Eu nem sei que ano é esse, af inal de contas.”
“Anno Domini mil oitocentos e setenta e cinco ,” disse Merr iman. “Não é um ano
ruim. Em Londres, o Sr. Disraeli es tá fazendo o seu melhor para comprar o Canal de
Suez. Mais da metade dos barcos mercantes Britânicos que passarão por ele são barcos à
vela. A Rainha Vitória esteve no trono Britânico por trinta e oito anos. Na América, o
Presidente tem o esplêndido nome de Ulysses S. Grant, e Nebraska é o mais novo dos
trinta e quatro es tados da União. E em uma remota mansão em Buckinghamshire, i lust re
ou notória ao olho público apenas por sua posse da peq uena coleção de livros de
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necromancia mais valiosa do mundo, uma senhora chamada Mary Greythorne está
real izando uma festa de Véspera de Natal, com corais e música, para seus amigos.”
Will moveu-se até a estante mais próxima. Os livros es tavam todos envoltos em
couro, a maioria marrom. havia bri lhantes volumes novos com pontas cinti lando em folha
de ouro; havia pequenos livros gordos tão antigos que o seu couro estava gasto e
reduzido a aspereza de tecido espesso. Ele olhou para alguns dos títulos: Demonol atry,
Liber Poenita lis, Discoverie of Witchcraf t, Mal leus Malef icarum .. . e continuando em
Francês, Alemão, e outras línguas das quais ele não conseguiu nem mesmo reconhecer o
alfabeto. Merriman balançou uma mão indiferente para eles, e para as estantes ao redor.
“Valem uma pequena fortuna,” disse ele, “mas não para nós. Essas são his tórias de
pessoas pequenas, alguns sonhadores e alguns homens loucos. Histórias de bruxaria e
coisas apavorantes que os homens uma vez f izeram às pobres almas simples que eles
chamaram de bruxas. A maioria delas eram inofensivos seres humanos comuns, apenas
uma ou duas realmente tinham relações com o Escuro. . . Nenhuma delas, é claro, t inha
algo a ver com os Ant igos Escolhidos, pois quase toda his tória que os homens contam
sobre magia, bruxas e coisas do t ipo é nascida da tolice, ignorância e doenças da
mente. . . ou é um modo de explicar coisas que eles não entendem. A única coisa da qual
eles não sabem nada, a maioria deles, é sobre o que nós somos. E isso es tá contido, Will,
apenas em um l ivro nesta sala. O resto são úteis de vez em quando como um lembrete do
que o Escuro pode realizar e os métodos negros que às vezes e le pode usar. Mas há um
livro que é a razão pela qual você voltou até esse século. Esse é o livro do qual você
aprenderá seu lugar como um Antigo Escolhido, e não há palavras para descrever o quão
precioso ele é. O l ivro das coisas escondidas, da verdadeira magia. Muito tempo atrás,
quando a magia era o único conhecimento escrito , nosso negócio era chamado apenas de
Saber. Más há coisas demais para conhecer em seu dia, em todos os assuntos sob o sol.
Então usamos uma palavra semi -esquecida, como nós mesmos, Antigos Escolhidos,
somos semi-esquecidos. Nós o chamamos gramarye .”
Ele se moveu pela sala em direção ao reló gio, fazendo sinal para eles irem atrás.
Will olhou para Hawkin, e viu seu f ino rosto confiante tenso de apreensão. Eles o
seguiram. Merr iman parou em frente ao grande relógio no canto, que es tava a dois pés
acima de sua cabeça, t irou uma chave de seu bols o, e abriu o painel f rontal. Wil l podia
ver o pêndulo ali dentro balançando lentamente, hipnoticamente para f rente. . . e para trás,
para f rente. . . e para trás.
“Hawkin,” disse Merriman. A palavra foi muito genti l , até mesmo carinhosa, mas
era um comando. O homem de verde, sem uma palavra, ajoelhou -se ao seu lado esquerdo
e f icou ali , bem parado.
Ele disse em um implorativo meio sussurro: “Meu senhor . . .” Mas Merr iman não
lhe deu atenção. Ele pousou sua mão esquerda no ombro de Hawkin, e es ticou sua mão
direita dentro do relógio. Muito cuidadosamente, ele desl izou seus dedos longos por t rás,
por um lado, mantendo -os tão eretos quanto possível para evitar tocar no pêndulo, e
então com um rápido movimento ele puxou um pequeno livro de capa negra. Hawkin
desabou em um pequeno amontoado, com um suspiro forçado pela garganta de um alívio
tão aterrador que Will olhou para ele surpreso. Mas Merriman o estava afastando. Ele fez
Will sentar-se na única cadeira na sala, e colocou o livro em suas mãos. Não havia t ítulo
algum em sua capa.
“Esse é o livro mais antigo no mundo,” ele falou simplesmente. “E quando você
t iver lido, ele será destruído. Esse é o Livro de Gramarye, escr ito na Língua Ant iga. Não
pode ser entendido por ninguém a não ser os Antigos Escolhidos, e mes mo se um homem
ou cria tura pudesse entender qualquer feitiço ou poder que ele contém, não poderia usar
suas palavras de poder a não ser que ele próprio fosse um Antigo Escolhido. Então não
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houve grande perigo no fato de sua existência, nesses muitos anos. Ainda assim não é
bom manter uma coisa desse tipo além da data de seu dest ino, pois ele sempre estará sob
a ameaça do Escuro, e a inf inita ingenuidade do Escuro poderia ainda encontrar um meio
de usá-lo se o t ivessem em suas mãos. Nesta sala agora, entreta nto, o livro irá completar
seu propósito f inal, que é entregar a você, o últ imo dos Ant igos Escolhidos, o dom do
gramarye. . . e depois disso ele será destruído. Quando você tiver o conhecimento, Will
Stanton, não haverá mais qualquer necessidade de guardá - lo, pois com você o círculo
está completo.”
Will sentou imóvel, observando as sombras se moverem no severo rosto forte
acima dele; então ele deu uma balançada na cabeça, como que para acordar, e abriu o
l ivro. Ele disse, “Mas está em Inglês! Você disse . . .”
Merriman r iu. “Isso não é Inglês, Will. E quando falamos um com o outro, você e
eu, não usamos Inglês. Nós usamos a Língua Antiga. Nascemos com ela em nossas
línguas. Você pensa que es tá falando Inglês agora, porque o seu senso comum lhe diz
que essa é a única linguagem que você entende, mas se a sua família o escutasse eles
ouviriam apenas sons incoerentes. O mesmo acontece com esse livro.”
Hawkin estava de pé novamente, ainda que não houvesse cor alguma em seu rosto.
Respirando irregularmente, ele encostou contra a parede, e Will olhou para ele solidário.
Mas Merriman, ignorando -o, continuou, “No momento em que você ganhou seu
poder em seu aniversário, você conseguiu falar como um Ant igo Escolhido. E o fez, sem
saber que o es tava fazendo. Foi assim que o Cavaleiro o conheceu, quando você o
encontrou na es trada . . . você saudou John Smith na Língua Antiga, e ass im ele teve que
responder da mesma forma, e arriscar ser marcado como um Antigo Escolhido mesmo
embora o of ício de um ferreiro esteja fora dessa f i delidade. Mas homens comuns podem
falar essa língua também.. . como Hawkin aqui, e outros nessa casa que não são do
Círculo. E os Senhores do Escuro podem falar ela também, embora nunca sem um cer to
sotaque traidor deles mesmos.”
“Eu lembro,” Will falou lentamente. “O Cavaleiro realmente parecia ter um
sotaque, um sotaque que eu não conhecia. Apenas, é claro, pensei que ele estava falando
Inglês, e que ele devia ser apenas alguém de outra parte do país. Não me admira ele ter
vindo atrás de mim tão rápido.”
“Tão simples assim,” disse Merriman. Ele olhou para Hawkin pela primeira vez, e
colocou uma mão em seu ombro, mas o pequeno homem não se mexeu. “Agora escute,
Will. Nós o deixaremos aqui até que tenha lido o livro. Essa não será uma experiência
como a de ler um livro comum. Quando tiver terminado, eu voltarei. Onde quer que
possa estar, eu sempre sei quando o livro é aber to ou quando ele é fechado. Leia -o agora.
Você é dos Antigos Escolhidos, e assim você só tem que ler uma vez e ele estará em
você para todo o Tempo. Depois disso, faremos um f im.”
Will disse: “Hawkin está bem? Ele parece doente.”
Merriman olhou para a pequena f igura cambaleante de verde, e a dor atravessou
seu rosto. “Demais para pedir,” ele disse incompreensivelmente , colocando Hawkin
ereto. “Mas o livro, Will. Leia -o. Ele esteve esperando por você por um longo tempo.”
Ele saiu, apoiando Hawkin, de volta para a música e vozes na sala ao lado, e Will
foi deixado com o Livro de Gramarye.
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arte Dois: O Aprendizado
raição
Mais tarde Will jamais foi capaz de dizer quanto tempo ele passou com o Livro de
Gramarye. Tanto entrou dentro dele de suas páginas e o mudou que a le itura deve ter
levado um ano; mesmo assim ela absorveu tanto sua mente que quando chegou ao f im ,
sentiu que naquele momento tinha apenas começado. Realmente esse não era um livro
como os outros. Havia títulos bastante simples em cada página: De Voar; De Desaf io;
Das Palavras de Poder; De Resistência; Do Tempo Através das Portas. Mas ao invés de
presenteá-lo com uma histór ia ou instrução, o livro daria s implesmente um trecho de
verso ou uma imagem bri lhante, que de alguma forma o colocava instantaneamente no
meio de qualquer experiência que estava envolvida.
Ele tinha que ler não mais do que uma linha . . . eu devo ter viajado como uma
águia . . . e subitamente estava voando para o alto como se tivesse asas, aprendendo
através do sentir, sentindo o jeito de descansar no vento girando pelas ascendentes
colunas de ar, de deslizar e planar, de olhar para baixo nos vales de retalhos verdes
encapados por árvores escuras, e um ondulante rio cinti lante entre e les. E ele soube
enquanto voava que a águia era uma das cinco únicas aves que conseguiam ver o Escuro,
e ins tantaneamente ele conheceu as outras quatro, e em retorno ele era cada um a delas. . .
Ele leu: . . . você vem ao lugar onde está a criatura mais antiga que exis te nesse
mundo, e ela que já foi muito mais longe do que se pode conceber, a Águia de
Gwernabwy . . . e Wil l estava lá em cima em um rochedo acima do mundo, descansando
sem medo em um cintilante pedaço de grani to negro -acinzentado, e seu lado direito
apoiava-se contra uma macia perna emplumada dourada e uma asa dobrada, e sua mão
repousava ao lado de uma cruel garra de rígido aço em forma de gancho, enquanto e m
seu ouvido uma voz áspera sussurrava as palavras que controlariam vento e tempestade,
céu e ar, nuvem e chuva, e neve e granizo . . . e tudo no céu exceto o sol e a lua, os
planetas e as es trelas.
Então ele estava voando de novo, livremente no céu negro -azul, com as estrela s
brilhando inf initamente ao redor de sua cabeça, e os padrões das es tre las tornaram -se
conhecidos para ele, de formas tanto semelhantes quanto diferentes das formas e poderes
atribuídos a elas por homens há muito tempo atrás. A Boieiro* passou, assentindo , a
brilhante est rela Arcturus* ao seu joelho; o Touro* rugiu, carregando o grande sol
Aldebarã* e o pequeno grupo de Plêiades* cantando em pequenas vozes melódicas, como
nenhuma voz que ele já tivesse ouvido. Para cima ele voou, e externamente, a través do
espaço negro, e viu as es tre las mortas, as est relas ardentes, a f ina dispersão de vida que
povoava o vazio inf inito além. E quando tinha terminado, ele conhecia cada estrela nos
céus, tanto pelos nomes quanto pelos pontos astronômicos, e novamente como al go mui to
mais do que um ou outro; e ele soube cada encanto do sol e da lua; ele conhecia o
mistér io de Urano e o desespero de Mercúrio, e tinha viajado na cauda de um cometa.
Então, descendo dos céus que o Livro trouxe para ele, com uma linha.
. . . the wrinkled sea beneath him crawls. . .
E ele veio despencando, descendo em direção da rastejante superf íc ie azul
enrugada que mudava, enquanto ele f icava mais perto e mais perto, para uma crescente
seqüência de grandes ondas golpeantes. Então ele es tava no mar , descendo do turbilhão,
* Grupos de estrelas. Boieiro é uma constelação cujo nome em inglês é Herdsman. Arcturos é a primeira estrela da constelação de
Boötes. Aldebarã é a mais brilhante da constelação de Touro. O aglomerado das Plêiades está localizado na constelação de Touro.
66
através da confusão verde, dentro de um espantoso mundo claro de beleza, impiedade e
desolada f ria sobrevivência. Cada uma das cr iaturas atacava a outra, nada es tava
completamente seguro. E aqui o Livro ensinou a Will os padrões de sobrevivência contra
a malevolência, e os feitiços do mar, rio e correnteza, lago, riacho e f iorde, e mostrou a
ele como a água era o único elemento que podia, em certa medida, desaf iar toda magia;
pois a água em movimento não toleraria magia alguma seja para o mal ou para o bem,
mas a eliminaria como se ela jamais t ivesse sido feita.
Através de mortais corais af iados o Livro o conduziu nadando, entre estranhas
ondas afetuosas de verde, vermelho e púrpura, entre peixes brilhantes como arco -íris que
nadavam até ele, observavam, balançavam uma nadadeira ou cauda e desapareciam.
Passando por grosseiros espinhos negros de ouriços -do-mar, passando por delicadas
cria turas ondulantes que não pareciam planta nem peixe; e então subindo para a areia
branca, espir rando através de poças rasas . . . para dentro das árvores. Densas árvores lisas
semelhantes a ra ízes corriam descendo dentro da água do mar ao redor dele em um tipo
de f loresta sem folhas, e em um f lash Will es tava fora daquela massa confusa e piscando
novamente para uma página do Livro de Gramarye.
. . . I am fire-fret ted and I fl irt with wind. ..
Então ele estava entre árvores, árvores da primavera suaves com o verde
incomparável das folhas jovens, e um sol claro cortando -as; árvores do verão cheias de
folhas, sussurrantes, massivas; pinheiros negros do inverno que não temiam mestre
algum e não deixavam luz alguma iluminarem suas f lorestas. Ele aprendeu a natureza de
todas as árvores, as magias part iculares que estão no pinheiro, faia e f reixo. Então, um
verso f icou sozinho em uma página do Livro:
He that sees blowing the wi ld wood tree,
And peewits c ircling their watery glass,
Dreams about Strangers that yet may be
Dark to our eyes, Alas!
E na mente de Wil l, fazendo -o girar em um vento que soprava através e ao redor
de todo o Tempo, surgiu a história dos Antigos Escolhidos. Ele os viu desde o início
quando a magia estava em abundância no mundo; magia que era o poder das rochas, fogo,
água e das coisas vivas, e ass im os primeiros homens viviam dentro dela e com ela, como
um peixe vive na água. Ele viu os Antigos Escolhidos, através das era dos homens que
trabalharam com rocha, com bronze, e com ferro, com cada um dos seis grandes Signos
nascidos em cada era. Ele viu uma raça após a outra vir atacar seu País, traz endo a cada
vez a malevolência do Escuro com eles, onda após onda de navios correndo
inexoravelmente nas praias. Em contra partida cada onda de homens f icava pacíf ica
quando conhecia e amava a terra, e ass im a Luz f lorescia novamente. Mas o Escuro
sempre es tava al i , crescendo e diminuindo, ganhando um novo Senhor do Escuro sempre
que um homem deliberadamente escolhia ser transformado em algo mais ameaçador e
poderoso do que seus companheiros. Tais criaturas não eram nascidas para seu destino,
como os Antigos Escolhidos, mas o escolhiam. Ele viu o Cavaleiro Negro em todas as
épocas desde o início.
Ele viu uma época em que o primeiro grande teste da Luz surgiu, e os Antigos
Escolhidos se dedicaram por três séculos a trazer sua terra para fora do Escuro, com a
ajuda de seu maior líder no f inal, perdido no salvamento a não ser que um dia ele
pudesse acordar e re tornar novamente.
Um declive se ergueu daquela época, coberto de grama e banhado de sol diante
dos olhos de Will, com o Signo do círculo com a cruz cortado em sua relva verde,
cint ilando ali imenso e branco na greda de Chiltern. Ao redor de um braço da cruz
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branca, raspando nela com curiosas ferramentas parecidas com machados de lâminas
longas, ele viu um grupo de f iguras vestidas de verde: homens pequenos , que pareciam
menores ainda por causa do tamanho do grande S igno. Ele viu uma dessas f iguras
rodopiar como em um sonho saindo do grupo em direção a ele : um homem em uma túnica
verde com uma capa azul escura curta, e um capuz sobre a sua cabeça. O homem ab riu
seus braços, com uma pequena espada com lâmina de bronze em uma mão e um copo
brilhante semelhante a um cálice na outra; deu um giro, e desapareceu de rente. Então,
capturado pela página seguinte, Wil l estava andando por um caminho através de uma
espessa f loresta, com algumas ervas verde -escuras sob seus pés; um caminho que
estendia-se e passava dentro da rocha, uma rocha ondulante bastante desgastada
semelhante a calcário, e o conduzia para fora da f loresta até que ele estava caminhando
por uma ventilada cordilheira a lta, sob um céu cinzento, com um escuro vale cheio de
neblina abaixo. E por todo o caminho enquanto ele caminhava, ainda que ninguém
caminhasse com ele, f irmemente em sua mente vieram em procissão as palavras de poder
para os Antigos Caminhos, e as sensações e s inais a través dos quais ele saberia, de agora
em diante, em qualquer parte do mundo, onde o Antigo Caminho mais próximo passava,
tanto em substância ou como o fantasma de uma estrada. . .
Então isso cont inuou, até que Will percebeu que estava quase no f inal do Livro.
Um verso estava escrito diante dele.
I have plundered the fern
Through all secrets I spie;
Old Math ap Mathonwy
Knew no more than I.
Voltada em direção a capa, na última página, havia um desenho de seis Signos de
cruz dentro de um círculo, todas unidas em um círculo. E isso era tudo.
Will fechou o livro, lentamente, e f icou sentado olhando para o nada. Ele sentiu
como se tivesse vivido por cem anos. Para saber tanto, agora, para ser capaz de fazer
tantas coisas; isso deveria tê -lo excitado, mas ele se sent iu pesaroso, melancólico, com o
pensamento em tudo que tinha acontecido e tudo o que estava por vir.
Merriman surgiu at ravés da portas sozinho, e f icou olhando para ele. “Ah sim,”
ele disse suavemente. “Como eu lhe disse , isso é uma responsabilidade, um peso. Mas
aqui está, Will. Nós somos os Antigos Escolhidos, nascidos dentro do Círculo, e não há
como evitar i sso.” Ele pegou o livro, e tocou no ombro de Will. “Venha.”
Enquanto ele cruzava a sala em direção ao grande re lógio ant igo, Will seguiu, e
observou ele pegar a chave de seu bolso novamente e destrancar o painel f rontal. Ainda
lá estava o pêndulo, longo e lento, balançando como a batida do coração. Mas dessa vez,
Merriman não tomou o cuidado de evitar tocá -lo. Ele enf iou o braço para dentro com o
livro em sua mão, mas ele se moveu de uma forma estranha, como um ator fazendo o
papel de um homem desajeitado; e enquanto ele empurrava o livro para dentro, um canto
dele esfregou no longo braço do pêndulo. Will teve apena s o f lash de um momento para
ver a leve quebra no balanço. Então ele estava cambaleando para trás, suas mãos voando
até seus olhos, e a sala es tava cheia com algo que mais tarde ele nunca conseguiu
descrever . . . uma explosão sem o som, uma cegante chama de luz escura, um grande
rugido de energia que não podia ser visto nem ouvido e a inda ass im o fez sentir por um
instante que o mundo todo tinha explodido. Quando tirou as mãos do seu rosto, piscando,
ele percebeu que es tava encostado contra o lado da poltrona , a dez pés de onde ele estava
antes. Merr iman estava com os braços e pernas abertas contra a parede ao lado dele. E
onde o antigo relógio estivera, o canto da sala estava vazio. Não havia dano algum, nem
qualquer sinal de violência ou explosão. Não havia nada simplesmente.
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“Foi isso, você percebe,” Merriman disse. “Essa foi uma proteção do Livro de
Gramarye, desde que nosso tempo começou. Se a coisa o protegendo fosse tocada, e la, o
livro e o homem tocando-o tornar -se-iam.. . nada. Somente os Antigos Escolhidos eram
imunes à destruição, e como você vê” – ele esfregou seu braço machucado – “até mesmo
nós, no evento, podemos ser machucados. A proteção tomou muitas formas, é claro – o
relógio era s implesmente para esse século. Então agora nós destruímos o Livro, da
mesma forma que nós usamos para preservá -lo por todos essas eras. Essa é a única forma
adequada de usar magia, como você deve ter aprendido agora.”
Will falou de forma trêmula, “Onde está Hawkin?”
“Ele não foi necessário dessa vez,” disse Merriman.
“Ele es tá bem? Ele parecia. . .”
“Muito bem.” Havia uma estranha nota na voz de Merriman, como tristeza, mas
nenhuma de suas novas ar tes poderia dizer a Wil l a emoção que a colocou ali .
Eles voltaram para a reunião na sala seguinte, onde o coral que tinh a iniciado
quando eles saíram somente agora estava chegando ao f im, e onde ninguém se
comportava como se eles t ivessem estado fora por mais do que um momento ou dois, ou
por algum tempo de verdade. Mas então, Will pensou, não estamos no tempo real; pelo
menos, estamos no tempo passado, e além disso nós parecemos ser capazes de es ticá -lo
como desejarmos, para fazê-lo ir mais rápido, ou devagar. . .
A mul tidão tinha crescido, e mais pessoas ainda estavam saindo da sala para ceia.
Will percebia agora que a maio ria dessas eram pessoas comuns, e que apenas o pequeno
grupo que havia permanecido na sala mais cedo eram Antigos Escolhido s. É claro, ele
pensou: somente eles ser iam capazes de testemunhar a renovação do Si gno.
Havia outros, e ele es tava virando para estu dá-los quando de repente a surpresa e
horror o ret irou de toda a ref lexão. Seus olho tinha encontrado um rosto bem no fundo da
sala, uma garota, não olhando para e le mas ocupada em uma conversa com alguém não
visto. Enquanto ele observava, ela balançou sua cabeça com uma claro riso auto -
consciente. Então ela es tava curvada escutando novamente, e então ela se foi, enquanto
outros convidados bloqueavam a visão do grupo. Mas tinha s ido tempo o bastante para
que Will visse que a garota risonha era Maggie Barnes , a Maggie da Fazenda Dawsons
daqui a um século. Ela não era nem semelhante a um ref lexo, como a Srta. Greythorne
Vitoriana era um tipo de eco da Srta. Greythorne que ele conhecia. Essa era a Maggie
que ele t inha visto em seu próprio tempo.
Ele se virou confuso, mas logo que encontrou os olhos de Merriman viu que ele já
sabia. Não havia nenhuma surpresa no rosto com nar iz de falcão, mas apenas o início de
um tipo de dor. “Sim,” ele disse fatigado. “A garota bruxa está aqui. E acredito que você
deveria f icar ao meu lado, Will Stanton, nesse próximo momento, e observar comigo,
pois não faço questão de ver i sso sozinho.”
Pensativo, Will f icou com ele no canto, sem ser notado. A garota Maggie ainda
estava oculta na multidão em algum lugar. Eles esperaram; ent ão vi ram Hawkin, em seu
casaco verde na moda, abrir caminho através da mul tidão até a Srta. Greythorne e
permanecer respeitosamente ao lado dela, do mesmo modo que um homem acostumado a
f icar disponível para ajudar.
Merriman endureceu levemente, e Will obs ervou; as linhas de dor tinham se
aprofundado no rosto forte, como se Merriman est ivesse antecipando algum grande
sofrimento que estava por vi r. Ele olhou novamente para Hawkin e viu seu sorriso alegre
brilhar com algo que a Srta. Greythorne havia dito; nã o mostrando agora sinal algum do
que o tinha af ligido na biblioteca, o pequeno homem tinha um brilho, como uma pedra
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preciosa, que traria encanto para qualquer tr isteza. Will podia ver porque ele era quer ido
para Merr iman. Mas ao mesmo tempo ele tinha uma terrível convicção de desastre
pairando no ar.
Ele disse roucamente, “Merriman! O que foi?”
Merriman olhou, por sobre as cabeças, para o animado rosto pontudo. Ele disse,
sem expressão, “É perigo, Wil l, que está para vir a nós através de fei to meu. Grand e
perigo, at ravés de toda essa missão. Eu cometi o pior erro que um Antigo Escolhido pode
cometer, e o erro está prestes a cai r sobre minha cabeça. Colocar mais conf iança em um
mortal do que a força que ele é capaz de aceitar . . . é algo que todos nós aprend emos a
nunca fazer, séculos a trás. Muito tempo antes do Livro de Gramarye f icar sob meu
encargo. Ainda ass im, com a tolice , eu cometi esse erro. E agora não há nada que
possamos fazer para corrigi r isso, mas apenas observar e esperar pelo resul tado.”
“É Hawkin, não é? Algo a ver com a razão pela qual o trouxe aqui?”
“A magia de proteção para o Livro,” Merriman disse dolorosamente, “era em duas
partes, Wil l. Você viu a primeira, a proteção contra os homens . . . era o pêndulo, que os
destruiria se eles o tocassem, mas não destrui ria a mim ou qualquer outro Antigo
Escolhido. Mas eu entrelacei outra parte naquela magia que era uma proteção contra o
Escuro. Ela estabelecia que eu poderia tirar o Livro passando pelo pêndulo apenas se
estivesse tocando Hawkin com m inha outra mão. Sempre que o Livro fosse reti rado para
o último Antigo Escolhido, em qualquer século, Hawkin ter ia que ser t razido de seu
próprio tempo para estar a li .”
Will disse: “Não teria s ido mais seguro ter feito um Antigo Escolhido parte da
magia, não um homem comum?”
“Ah não, o propósito todo era ter um homem comum envolvido. Essa é uma fria
batalha em que es tamos, Will, e nela algumas vezes devemos fazer coisas f rias. Essa
magia foi trançada ao meu redor, como guardião do Livro. O Escuro não pode me
destruir, pois eu sou um Ant igo Escolhido, mas poderia talvez através de magia ter me
induzido a pegar o Livro. No caso disso acontecer, deveria haver algum modo pelo qual
os outros Antigos Escolhidos pudessem me impedir antes que fosse tarde demais. E les
também não poderiam me destruir, para me impedir de executar o t rabalho do Escuro.
Mas um homem pode ser destruído. Se houvesse acontecido o pior, e o Escuro tivesse me
forçado pela magia a pegar o Livro para eles, então antes que eu pudesse começar, a Luz
teria morto Hawkin. Isso ter ia mant ido o Livro seguro para sempre, pois nesse caso, eu
não poderia ter realizado a magia de liberação ao tocá -lo enquanto pegava o Livro. E
então eu não seria capaz de alcançar o Livro. Nem seria o Escuro, nem ninguém m ais.”
“Então ele arriscou sua vida,” Wil l disse lentamente, observando o caminhar
decidido de Hawkin enquanto ele cruzava o chão até os músicos.
“Sim,” disse Merriman. “Em nosso serviço ele estava protegido do Escuro, mas a
vida dele estava em r isco do m esmo jeito . Ele concordou porque era meu vassalo, e
orgulhoso disso. Gostaria de ter me cert if icado de que ele realmente sab ia o risco que
corria. Um risco duplo, pois ele poderia ter sido destruído hoje, por mim, se eu tivesse
tocado o pêndulo acidentalmente. Você viu o que aconteceu quando f inalmente eu o f iz.
Você e eu, como Antigos Escolhidos, fomos meramente sacudidos; mas se Hawkin
estivesse ali , sob meu toque, ele teria s ido morto em um f lash, desintegrado como o
próprio Livro.”
“Ele não deve ser ap enas muito corajoso, ele realmente deve amá -lo como se ele
fosse seu f ilho,” disse Will, “para fazer coisas como essa por você e pela Luz.”
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“Mas ele a inda é apenas um homem,” disse Merriman, e sua voz era dura e a dor
profunda em seu rosto. “E ele ama com o um homem, exigindo prova de amor em retorno.
Meu erro foi ignorar o risco que isso poder ser. E como resultado, nesta sala nos
próximos poucos minutos, Hawkin vai me trair, t rai r a Luz e prejudicar todo o curso de
sua missão, jovem Will. Agora o choque d e realmente arriscar sua vida, por mim e pelo
Livro de Gramarye, foi demais para sua lealdade. Talvez você tenha visto seu rosto, no
momento em que eu segurei seu ombro e peguei o Livro de seu lugar perigoso. Foi
somente naquele momento que Hawkin compreen deu totalmente que eu estava pronto a
deixá-lo morrer. E agora que ele entendeu isso, nunca me perdoará por não amá -lo tanto
– em seus termos – quanto ele me amou, seu senhor. E ele se voltará contra nós.”
Merriman apontou at ravés da sala. “Veja onde isso começa.”
A música tocou alegremente, e os convidados começaram a formar pares para
dançar. Um homem que Wil l t inha reconhecido com o um Ant igo Escolhido moveu-se até
a Sr ta. Greythorne, fez reverência, e ofereceu seu braço; ao redor deles, pares se
juntaram em forma de um oito para a lguma dança que ele não conhecia. E le viu Hawkin
parado irresoluto, movendo um pouco sua cabeça com a batida da música; e então viu
uma garota em um vestido vermelho aparecer ao lado dele. Era a garota bruxa, Maggie
Barnes.
Ela disse a lgo a Hawkin, r indo, e fez a ele uma pequena reverência. Hawkin sorr iu
polidamente, incer to, e balançou sua cabeça. O sorriso da garota aumentou, ela balançou
seu cabelo de modo f lertivo e falou com ele novamente, os olhos dela f ixos nele.
“Oh,” d isse Will. “Se ao menos pudéssemos ouvir!”
Merriman olhou para e le sombriamente por um momento, seu rosto ausente e
pensativo.
“Oh,” disse Will, sent indo -se tolo. “É claro.” Isso exigir ia dele algum tempo,
claramente, para se acostumar a usar seus própri os dons. Ele olhou novamente para
Hawkin e a garota, e desejou ouví -los , e conseguiu ouvir.
“Realmente, Madam,” disse Hawkin, “Não desejo parecer rude, mas eu não
danço.”
Maggie pegou sua mão. “Porque você es tá fora de seu século? Aqui eles dançam
com suas pernas, da mesma forma que você a cerca de quinhentos anos. Venha.”
Hawkin olhou para e la assustado enquanto ela o conduzia para um grupo de
casais. “Quem é você?” ele sussurrou. “Você é um Antigo Escolhido?”
“Não para o mundo todo,” disse Maggie Barn es na Linguagem Antiga, e Hawkin
f icou totalmente branco e imóvel. Ela riu suavemente e disse em Inglês, “Chega disso.
Dance, ou as pessoas vão notar. É bastante fácil . Observe o homem ao lado, enquanto a
música começa.”
Hawkin, pálido e af lito , cambaleou pela primeira parte da dança; gradualmente ele
pegou os passos. Merriman falou no ouvido de Will, “Foi dito a e le que nenhuma alma
aqui saberia dele, e que sob dor de morte ele não deveria usar a Língua Ant iga para
ninguém a não ser você.” '
Então a conversa começou novamente.
“Você parece bem, Hawkin, para um homem que escapou da morte.”
71
“Como você sabe essas coisas, garota? Quem é você?”
“Eles o teriam deixado morrer, Hawkin. Como conseguiu ser tão estúpido?”
“Meu mestre me ama,” disse Hawkin, mas ha via f raqueza nisso.
“Ele usou você, Hawkin. Você não é nada para ele. Você deveria seguir mestres
melhores, que se importariam com sua vida. E a estenderiam através dos séculos, não a
confinar iam ao seu.”
“Como a vida de um Antigo Escolhido?” disse Hawki n, avidamente acordando em
sua voz pela primeira vez. Will lembrou do tom de inveja quando Hawkin tinha falado a
ele dos Antigos Escolhidos; agora também havia uma ponta de cobiça.
“O Escuro e o Cavaleiro são mestres mais benevolentes do que a Luz,” Maggi e
Barnes falou suavemente em seu ouvido, enquanto a primeira parte da dança terminou.
Hawkin f icou imóvel novamente e olhou para ela, até que ela deu uma olhada ao redor e
disse c laramente: “Preciso de uma bebida f resca, eu acho.” E Hawkin saltou e a levou
embora, de modo que agora, com sua atenção capturada e uma chance de conversar com
ele em part icular, a garota do Escuro teria um disposto ouvinte.
De repente Will sentiu-se doente com a deslealdade que se aproximava, e não
escutou mais. Ele encontrou Merriman, a seu lado, ainda contemplando o espaço.
“Então assim será,” disse Merriman. “Ele terá uma imagem doce do Escuro para
atrai-lo , como geralmente acontece com os homens, e ele colocará de lado todas as
demandas da Luz, que são pesadas e sempre serão . O tempo todo ele estará nutrindo seu
ressentimento pelo modo como eu devo ter feito e le desis tir da sua vida sem recompensa.
Pode estar cer to de que o Escuro não dá sinais de exigir qualquer coisa parecida . . . ainda.
Certamente, seus senhores nunca arrisc am requerer a morte, mas só oferecem uma vida
negra. . . Hawkin”, ele falou suavemente, desolado, “meu vassalo, como pode fazer o que
vai fazer?”
Repentinamente Will sentiu medo, e Merriman percebeu isso. “Chega disso,” ele
falou. “Já está claro como acontece. Hawkin agora será um furo no telhado, um túnel
dentro da cela. E assim como o Escuro não podia tocá -lo quando era meu vassalo, agora
que ele é vassalo do Escuro, não pode ser destruído pela Luz. Ele será o ouvido do
Escuro em nosso meio, nessa casa que tem sido nossa fortaleza.” Sua voz era f ria,
aceitando o inevitável; a dor tinha ido embora. “Embora a garota bruxa conseguisse
achar seu caminho de entrada, ela não conseguiria realizar nem um pouquinho de magia
sem ser destruída pela Luz. Mas agora semp re que Hawkin os chamar, o Escuro pode nos
atacar aqui assim como em qualquer outro lugar. E o perigo crescerá com os anos.”
Ele f icou parado, passando os dedos em seu estofado lenço branco no pescoço;
havia uma terr ível severidade em seu ameaçador perf il curvado, e o olhar que por um
momento ardeu sob as sobrancelhas arqueadas fez o sangue de Will correr espesso e
devagar. Era um rosto julgador, implacável, condenador.
“E a maldição que Hawkin lançou sobre si mesmo, com essa ação,” Merriman
falou sem exp ressão, “é a lgo pavoroso, que muitas vezes o fará desejar morrer.”
Will f icou surpreso, envolto em pena e susto. Ele não perguntou o que acontecer ia
com o pequeno Hawkin de olhos brilhantes, que tinha r ido para ele, ajudado e sido, por
um tempo tão curto, seu amigo; ele não queria saber. No salão, a música da segunda
parte da dança chegou ao f im, e os dançarinos f izeram r isonhas reverências uns para os
72
outros. Will f icou imóvel e infeliz. O olhar congelante de Merriman abrandou, e ele se
esticou e o virou gent ilmente para encarar o centro da sala.
Will viu al i apenas uma brecha na multidão, e além dela o grupo de músicos.
Enquanto permaneciam ali , eles tocaram mais uma vez “Good King Wenceslas”, a música
que eles es tavam tocando quando ele entrou pela prim eira vez na sala, at ravés das Portas.
Todos se juntaram ao canto alegremente, então veio o próximo verso e a voz profunda de
Merriman estava ecoando pela sala, e Will percebeu, piscando, que o verso a seguir era
seu.
Ele tomou fôlego, e ergueu sua cabeça.
Sire he lives a good league hence,
Underneath the mountain. ..
E não houve nenhum momento de despedida, nenhum momento no qual ele viu o
século dezenove desaparecer, mas de repente, sem nenhuma consciência da mudança,
enquanto cantava ele soube que o Tem po de alguma forma tinha piscado, e outra voz
jovem estava cantando com ele, os dois quase tão s imultâneos que ninguém que não
pudesse ver os lábios se moverem teria jurado que era a voz de um garoto só. . .
Right against the forest fence,
By St Agnes' fou -ou-ntain. ..
. . . e ele soube que es tava com James, Mary e os outros, e ele e James estavam
cantando juntos, e que a música com suas vozes era a f lauta de Paul. Ele f icou ali no
escuro hall de entrada, com suas mãos erguidas diante de seu peito segurando a vela
acesa, e e le viu que a vela não tinha queimado um milímetro a mais do que quando ele
tinha olhado da última vez.
Eles terminaram o canto.
Srta. Greythorne disse, “Muito bom, muito bom mesmo. Nada como Good King
Wenceslas, sempre foi minha favorita .”
Will espiou além da chama de sua vela para olhar a forma imóvel dela na grande
cadeira entalhada; a voz era mais velha, dura, mais enri jecida pelos anos, e assim era seu
rosto, mas de outra forma ela era apenas como – a avó dela, será que aquela jovem Sr ta.
Greythorne tinha sido? Ou a bisavó dela? a Srta. Greythorne disse, “Os cantores de
Huntercombe têm cantado Good King Wenceslas nessa casa por mais tempo do que vocês
ou até mesmo eu posso lembrar, vocês sabem. Bem, agora, Paul, Robin e o resto de
vocês , que tal um pouco de ponche de Natal?” A pergunta era tradicional, e a resposta
também era.
“Bem,” disse Robin gravemente, “obrigado, Srta. Greythorne. Talvez só um
pouquinho.”
“Até o jovem Will também, esse ano,” disse Paul. “Ele tem onze agora, Srta.
Greythorne, você sabia?”
A governanta estava chegando com uma bandeja de copos brilhantes e uma grande
tigela de ponche marrom avermelhado, e quase todos os olhos na sala es tavam em
Merriman, adiantando-se para encher os copos. Mas a a tenção de Will estav a capturada
pelos olhos subitamente mais jovens e fortes da f igura na cadeira de encosto alto .
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“Sim,” disse a Srta. Greythorne suavemente, com a mente quase ausente, “Eu me
lembro. Will Stanton teve um aniversário.” Ela se virou para Merriman, que já esta va se
movendo em direção a eles, e pegou dele os dois copos em suas mãos. “Um feliz
aniversário para você, Will Stanton, sétimo f ilho de um sétimo f ilho,” disse a Sr ta.
Greythorne. “E sucesso em todas as suas buscas.”
“Obrigado, senhora,” disse Wil l, pens ativo. E eles ergueram seus copos
solenemente um para o outro, e beberam, do mesmo modo que as cr ianças dos Stanton
f izeram na celebração de Natal no único dia do ano em que a todos era permitido beber
vinho no jantar.
Merriman estava ci rculando, e agora todos tinham um copo de ponche e estavam
bebendo satisfeitos. O ponche de Natal da Mansão sempre foi delicioso, embora ninguém
jamais tivesse imaginado o que havia dentro dele. Como os membros sênior da família,
os gêmeos caminharam f irmemente para convers ar com a Srta. Greythorne; Bárbara, com
Mary a reboque, foi direto até a Sr ta. Hampton, a governanta, e Annie a empregada,
ambas relutantes membros de um grupo de drama do vilarejo que ela tentava forçar a
ganhar vida. Merriman disse para James, “Você e se u pequeno irmão cantam muito bem.”
James sorriu. Embora fosse rechonchudo, ele não era mais al to do que Will, e não
era sempre que um est ranho o grat if icava ao reconhecê -lo como o superior irmão mais
velho. “Nós cantamos no coro da escola,” ele disse. “E solos em fest ivais de arte. Até
mesmo um em Londres no ano passado. O coordenador da música é muito exigente em
festivais de ar te.”
“Eu não,” disse Will. “Todas aquelas mães, observando.”
“Bem, você esteve no topo da sua turma em Londres,” disse James, “ então é claro
que todos elas te odiaram, derrotando seus pequenos queridinhos. Eu fui apenas o quinto
na minha,” ele disse para Merriman em tons de sinceridade. “Will tem uma voz muito
melhor do que a minha.”
“Oh, deixa disso,” falou Will.
“Sim, você tem.” James era uma pessoa imparcial ; ele genuinamente preferia a
real idade ao invés de sonhos. Até que nós separemos, de qualquer forma. Nenhum de nós
deverá ser tão bom.”
Merriman disse de forma meio distante, “Na verdade você se tornará um tenor
mais experiente. Quase de padrão prof issional. A voz de seu irmão será barítona .
Agradável, mas nada especial.”
“Suponho que deve ser possível,” disse James, polido mas duvidando. “É claro,
não há como alguém dizer, a inda.”
Will disse beligerantemente, “Mas ele . . .” e viu o olho escuro de Merriman e
parou. “Hummm, aaah,” e le disse, e James olhou para ele com surpresa.
Srta. Greythorne chamou Merr iman at ravés da sala, “Paul gostaria de ver as velhas
f lautas doces e f lautas. Leve -o para dentro, você o faria?”
Merriman inclinou-se em uma leve reverência. Ele disse casualmente para Will e
James, “Importam -se de vir também?”
74
“Não, obrigado,” disse James prontamente. Seus olhos es tavam na porta distante,
pela qual a governanta estava avançando com outra bandeja. “Eu si nto o cheiro das tortas
da Srta. Hampton.”
Will disse, compreendendo, “Eu gostaria mui to de ver.”
Ele seguiu com Merriman em direção a cadeira da Sr ta. Greythorne, onde Paul e
Robin estavam rígidos e meio desajeitados, um de cada lado, como sentinelas. “ Caiam
fora,” disse a Srta. Greythorne alegremente. “Você também vai, Will? É claro, você é
outra pessoa musical, eu estava esquecendo. Tem uma pequena coleção muito boa de
inst rumentos e mater ial lá dentro. Fico surpresa que você não tenha visto antes.”
Embalado pelas palavras, Will disse sem pensar, “Na biblioteca?”
Os olhos af iados da Srta. Greythorne brilharam para ele. “ A biblioteca?” ela disse.
Você deve estar nos confundindo com outras pessoas, Wil l. Não há biblioteca aqui. Uma
vez houve uma pequena, com alguns l ivros muito valiosos, eu acredito, mas ela queimou,
quase um século atrás. Essa par te da casa foi atingida por um raio. Fez muitos estragos,
eles dizem.”
“Oh, Deus,” disse Wil l um pouco confuso.
“Bem, isso não é conversa para o Natal,” diss e a Sr ta. Greythorne, e acenou para
eles. Olhando de volta para ela, enquanto ela virava para Robin com um brilhante sorriso
social, Will f icou pensando se as duas Srtas. Greythorne não eram uma só, af inal de
contas.
Merriman o levou, com Paul, para uma p orta lateral, e eles caminharam por uma
estranha passagem pequena com cheiro de mofo até uma sala brilhante que Will não
reconheceu de imediato. Foi somente quando viu a larei ra que ele percebeu onde ele
estava. Havia a grande lareira, e a sua larga pratel ei ra com seus painéis quadrados e
emblemas de rosas em esti lo Tudor entalhados. Mas ao redor do resto da sala os painéis
tinham sumido; ao invés disso as paredes eram pintadas de branco liso, e iluminadas aqui
e al i por algumas grandes pinturas de aparênci a improvável feitas em azuis e verdes
brilhantes. No local onde Will t inha uma vez entrado em uma pequena biblioteca, não
havia mais qualquer porta.
Merriman estava destrancando uma grande cabine com frente de vidro que f icava
apoiado em uma parede latera l.
“O pai da Srta. Greythorne era um cavalheiro muito musical,” ele disse com sua
voz de mordomo. “E artístico também. Ele pintou todos aqueles quadros nas paredes bem
ali. Nas Índias Ocidentais, acredito eu. Estes, entretanto” – ele ergueu um belo
inst rumento pequeno parecido com uma f lauta doce, prateada e preta no interior – “ele
realmente não tocava, eles dizem. Ele só gostava de olhar para e les.”
Paul es tava absorvido, observando através das velhas f lautas e f lautas doces
enquanto Merriman as re tirava do armário. Ambos eram muito solenes em seu manuseio;
eles colocariam cada um de volta cuidadosamente antes de reti rar o seguinte. Will se
virou para estudar os painéis ao redor da lareira; então pulou de repente quando ouviu
Merriman chamando-o silenciosamente. Ao mesmo tempo ele podia ouvir a voz de
Merriman al ta falando com Paul; era uma combinação estranha.
“Rápido, agora!” disse a voz em sua mente. “Você sabe onde procurar. Rápido,
enquanto você tem a chance. É hora de pegar o Si gno !”
75
“Mas. . .” d isse a mente de Will.
“Vá em frente!” Merriman rugiu silenciosamente.
Will olhou para t rás rápido sobre seu ombro. A porta pela qual e les tinham vindo
ainda estava semi -aber ta, mas seus ouvidos certamente o avisariam de qualquer um que
viesse pela passagem entre esta sala e a seguinte. Ele se moveu pisando suavemente até a
lareira, esticou-se, e colocou sua mão nos painéis.
Fechando seus olhos por um instante, ele apelou para todos os seus novos dons, e
o velho mundo de onde eles vieram. Qual dos painéis qu adrados tinha s ido? Qual rosa
entalhada? Ele estava confuso pela perda da parede com painéis ao redor; a prateleira da
lareira parecia menor do que antes. Estaria o Signo perdido, enterrado em algum lugar
por trás daquela lisa parede branca? Ele aper tou to da rosa que podia ver, ao redor do
canto superior esquerdo da lareira, mas nenhuma se moveu nem uma fração de uma
polegada. Então no último momento ele notou, bem no extremo do canto, uma rosa
parcialmente enterrada na massa, projetando -se da parede que claramente tinha sido
reparada assim como alterada nos últimos cem anos – dez minutos, ele pensou
furiosamente – desde que ele a viu pela última vez.
Velozmente Will est icou-se e press ionou seu dedão tão forte quando podia contra
o centro da f lor entalhada, como se ela fosse um botão de campainha. E assim que ele
ouviu o suave clique, ele estava olhando para um quadrado buraco negro na parede,
exatamente ao nível de seus olhos. Ele se es ticou e tocou o círculo do Si gno da Madeira,
e enquanto ele suspirou de alívio, seu dedo se fechando ao redor da madeira suave, ele
ouviu Paul começar a tocar uma das velhas f lautas.
Era um tocar mui to experimental : primeiro um lento arpeggio , então um hesitante
run ; e então, mui to suave e gent ilmente, Paul começou a tocar a melodia “Greensleeves”.
E Will f icou transf ixado, não apenas pela adorável alegria da ant iga melodia mas pelo
som dos próprios instrumentos. Pois embora a melodia fosse diferente , essa era sua
música, seu encantamento, o mesmo estranho tom distante que ele sempre ouvia, e então
sempre perdia, naqueles momentos que mais importavam em sua vida. Qual era a
natureza dessa f lauta que seu irmão estava tocando? Ela era parte dos Antigos
Escolhidos, pertencendo à sua magia, ou simplesmente muito semelhante, feita p or
homens? Ele re tirou sua mão do buraco na parede, que fechou instantaneamente antes
que ele pudesse press ionar a rosa novamente, e ele estava enf iando o Si gno da Madeira
em seu bolso enquanto se virava, perdido ouvindo a música. E então ele congelou.
Paul f icou tocando, pela sala, ao lado do armário. Merriman t inha sua costa virada
e suas mãos nas portas de vidro. Mas agora a sala mant inha mais duas outras f iguras. No
umbral da porta pela qual eles entraram estava Maggie Barnes, olhando não para Wil l
mas para Paul, com um olhar de ameaçadora malevolência. E perto, ao lado de Will,
muito perto, no local onde uma vez esteve a porta para a velha biblioteca, erguia -se o
Cavaleiro Negro. Ele estava dentro do alcance dos braços de Will, embora ele não se
movesse, mas permanecesse transf ixado, como se a música o tivesse prendido no meio do
passo. Seus olhos es tavam fechados, seus lábios se movendo silenciosamente; suas mãos
estavam est icadas apontando ameaçadoramente em direção a Paul, enquanto a doce
música sobrenatural continuava.
Will fez uma coisa mui to bem, vindo do instinto de seu novo aprendizado.
Instantaneamente ele lançou uma parede de resis tência ao redor de Merriman, Paul e dele
mesmo, fazendo com que os dois do Escuro oscilassem para trás com a força dela. Mas
no mesmo momento ele gr itou, Merriman! E quando a música foi interrompida, e Paul e
Merriman giraram em rápido horror, ele soube o que tinha feito de errado. Ele não tinha
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chamado como os Ant igos Escolhidos deveriam chamar um ao outro, através d a mente.
Ele havia comet ido o péssimo erro de gritar.
O Cavaleiro e Maggie Barnes desapareceram, instantaneamente. Paul es tava
correndo pela sala preocupado. “O que está acontecendo, Will? Você se machucou?”
Merriman disse rapidamente, suavemente, de trá s dele, “Ele tropeçou, eu acho,” e
Will teve o bom senso de contorcer o rosto de dor, curvar -se lentamente como se
estivesse em agonia, e agarrou forte em um braço.
Houve o som de pés correndo, e Robin irrompeu da passagem entrando na sala,
com Bárbara próxima a ele.
“Qual é o problema? Nós ouvimos o berro mais horrível. . .”
Ele olhou para Will e diminuiu até parar, confuso. “Você está bem, Will?”
“Hum ,” disse Will. “Eu . . . hum.. . apenas bati meu osso. Sinto muito. Doeu.”
“Parecia que alguém estava assas sinando você,” Bárbara disse repreensivamente.
Desavergonhadamente Will refugiou -se na rudeza, seus dedos se fechando em seu
bolso para ter cer teza de que o terceiro Si gno estava seguro.
“Bem, sinto mui to desapontar você,” ele falou petulante, “mas realm ente es tou
bem. Apenas me bati e gri tei, isso é tudo. Sinto muito se vocês se assustaram. Eu não
vejo o porquê de toda essa confusão.”
Robin olhou para ele. “Da próxima evite que eu tenha que vir correndo de
qualquer lugar para te salvar,” e le falou de mo do sarcástico.
“Conte sobre o garoto que gritava Lobo*,” disse Bárbara.
“Eu acho,” Merriman disse gent ilmente, fechando o armário e virando a chave,
“que todos deveríamos ir dar à Srta. Greythorne mais um canto.” E esquecendo
completamente que ele não era mais do que o mordomo, todos saíram obedientemente da
sala em f ila seguindo-o. Will falou at rás dele, em apropriado si lêncio dessa vez: “Mas eu
preciso falar com você! O Cavaleiro estava aqui! E a garota!”
Merriman falou dentro de sua mente, “Eu sei. Ma i s tarde. Eles têm maneiras de
ouvir esse tipo de conversa, lembre -se.” E ele seguiu em frente, deixando Will tremendo
de exasperação e tensão. No umbral da porta, Paul parou, agarrou Wil l f irme pelo ombro
e o virou para olhar em seu rosto. “ Você está bem mesmo?”
“Honestamente. Sinto muito pelo barulho. Aquela f lauta soou super.”
“Coisa fantástica.” Paul o deixou ir, virando para contemplar o armário.
“Realmente. Nunca ouvi nada como essa. E é claro nunca toquei uma. Você não faz
idéia, Will, não consigo descrever . . . é tremendamente velha, e ainda ass im sua condição
está boa, ela deve ser quase nova. E o tom dela . . .” Havia uma dor na voz dele e em seu
rosto que algo em Will respondeu com uma profunda e antiga s impatia. Um Antigo
Escolhido, ele de repente soube, es tava fadado a sentir sempre essa mesma necessidade
sem forma, sem nome, por algo fora de alcance, como uma parte sem f im da vida.
“Eu daria tudo,” disse Paul, “para ter uma f lauta como aquela um dia.”
* História de um garoto que dava alarme falso para se divertir com o pânico dos outros. Na ocasião em que ele deu um alarme
verdadeiro, ninguém acreditou. A moral dessa história é: Ninguém acredita em um mentiroso, mesmo quando ele está dizendo a
verdade.
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“Quase tudo,” Will falou gent ilmente. Paul o lhou para ele surpreso, e o Antigo
Escolhido em Will subitamente percebeu tardiamente que essa talvez não fosse a resposta
de um pequeno garoto; então ele sorr iu, colocou sua l íngua provocativamente para Paul,
e sal tou através da passagem, de volta aos rel acionamentos do mundo normal.
Eles executaram “The First Nowel l” ' como seu último canto; f izeram suas
despedidas; logo estavam do lado de fora novamente na neve e no ar f resco, com o
sorriso polido impassível de Merriman desaparecendo atrás das portas da Mansão. Will
f icou nos largos degraus de pedra e contemplou as estrelas. As nuvens tinham clareado
f inalmente, e agora as es tre las brilhavam como pequenos pontos de fogo branco no
buraco negro do céu noturno, em todos os estranhos padrões que tinham sido u m
complicado mistério para ele por toda sua vida, mas agora eram inf initamente
signif icantes. “Vejam como a brilhante Pleiades est á essa noite,” e le disse suavemente, e
Mary olhou para ele assombrada e disse, “A o quê?”
Então Will desviou sua atenção do f aiscante céu negro, e em seu próprio mundo
pequeno iluminado em amarelo, os cantores Stanton seguiram para casa. Ele caminhou
entre eles sem falar, como em um sonho. Eles achavam que ele estava cansado, mas
estava maravi lhado. Agora ele t inha t rês dos Sign os de Poder. Tinha, também, o
conhecimento para usar o Dom de Gramarye: um longo tempo de vida de descoberta e
sabedoria, entregue a ele em um momento de tempo suspenso. Ele não era o mesmo Will
Stanton que ele tinha sido muito poucos dias antes. Agora e p ara sempre, e le sabia, agora
habitava uma escala de tempo diferente daquela em que todos que ele conhecia ou
amava. . . Mas ele se esforçou para afastar seus pensamentos de todas essas coisas, até
mesmo das duas ameaçadoras f iguras invasoras do Escuro. Pois era Natal, que sempre foi
um tempo de magia, para ele e para todo o mundo. Esse era um brilhante festival
iluminado, e enquanto seu encantamento est ivesse no mundo o círculo encantado de sua
família e de seu lar ser ia protegido contra qualquer invasão exte rna.
Do lado de dentro, a árvore bri lhava e cint ilava, e a música do Natal estava no ar,
e cheiros temperados vinham da cozinha, e no largo centro da sala de estar a grande raiz
da Yule partida es talava e ardia enquanto queimava suavemente. Will apoiou su a costa
perto da lareira observando a fumaça girar subindo pela chaminé, e de repente estava
muito sonolento. James e Mary também estavam tentando não bocejar, e até mesmo
Robin parecia ter os olhos pesados.
“Ponche demais,” disse James, enquanto seu irmã o mais a lto est icava-se
boquiaberto em uma poltrona.
“Cai fora,” disse Robin amavelmente.
“Quem gostaria de uma torta?” disse a Srta. Stanton, entrando com uma vasta
bandeja de tortas de chocolate.
“'James já pegou seis,” disse Robin com afetada reprovação. “Na Mansão.”
“Agora são oito ,” falou James, segurando uma torta em cada mão.
“Sim.”
“Você vai f icar gordo,” disse Robin.
“Melhor do que já ser gordo,” falou James, de boca cheia, e olhou apontando para
Mary, para quem a forma rechonchuda já tinha se tornado recentemente a mais tr iste
preocupação. A boca de Mary caiu, então endureceu, e ela avançou para ele, fazendo um
som de rosnado.
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“Ho -ho-ho,” disse Wil l do chão sepulcralmente . “Boas cr iançinhas nunca brigam
no Natal.” E uma vez que Mary estava i rresis tivelmente perto dele, ele a agarrou pelo
tornozelo. Ela caiu por cima dele, urrando alegremente.
“Cuidado com o fogo,” disse a Sra. Stanton, por força do hábito de anos.
“Uau,” disse Will, e sua i rmã o golpeou no estômago, e ele rolou para longe , fora
de alcance. Mary parou, e sentou olhando para ele curiosamente. “Porque você tem tantas
f ivelas em seu cinto?” ela perguntou.
Will puxou seu suéter rapidamente sobre o seu cinto, mas era tarde demais; todos
tinham visto. Mary se aproximou e levanto u o suéter novamente. “Que coisas engraçadas.
O que são elas?”
“Só decoração,” Wil l disse de modo áspero. “Eu as f iz em trabalho de metal na
escola.”
“Nunca vi você,” disse James.
“Você nunca olhou, então.”
Mary enf iou um dedo no primeiro cí rculo no ci nto de Will e recuou com um urro.
“Ele me queimou!” ela gri tou.
“Muito provavelmente,” disse a mãe dela. “Will e seu cinto est iveram deitados
perto do fogo. E os dois estarão em cima dele se continuarem rolando desse jeito . Vamos
lá, agora.
Bebida de Véspera de Natal, Torta de Véspera de Natal . . . Cama de Véspera de
Natal.”
Will f icou de pé agradecido. “Vou pegar meus presentes enquanto a torta esfria.”
“Então eu também.” Mary o seguiu. Nas escadas ela disse, “Essas coisas de f ivelas
são bonitas. Você vai fazer uma como broche para mim no próximo período da escola?”
“Pode ser,” disse Will, e ele sorriu para si mesmo. A curiosidade de Mary nunca
era a lgo com o que se preocupar; ela sempre conduzia ao mesmo ponto.
Eles correram aos seus respectivos quartos , e desceram carregados com pacotes
para serem adicionados à pilha crescente debaixo da árvore. Will t inha tentado muito não
olhar para esse monte mágico desde que eles vieram do canto natalino, mas era muito
dif ícil , especialmente desde que ele conseguiu ver uma caixa enorme rotulada com um
nome que claramente começava com um W. Quem mais começa com W, af inal de
contas. . .? Ele forçou a si mesmo a ignorá -la, e resolutamente empilhou os embrulhos que
enchiam seus braços em um espaço ao lado da árvore.
“Você está olhando, James!” Mary s ibilou, atrás dele.
“Não estou,” falou James. Então ele disse, porque era Véspera de Natal, “Bem,
sim, acho que es tava. Sinto muito.” E Mary f icou tão surpresa que depositou seus
pacotes em si lêncio, incapaz de pensar em algo para dizer.
Na noite de Natal, Will sempre dormiu com James. As duas camas gêmeas ainda
estavam no quarto de James da época antes que Wil l t ivesse se mudado para o sótão de
Stephen. A única diferença agora era que James mantinha a velha cama de Will cheia de
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f iguras de op art*, e se referia a e la como “minha chaise longue**”. Havia algo na
Véspera de Natal, que ambos sentiam, que demandava companhia; cada um precisava de
alguém para sussurrar, durante os quentes e belos momentos de sonho estendido entre
pendurar a meia vazia na ponta da cama, e mergulhar na acolhedora abstração que
f lorescer ia na maravilha da manhã de Natal.
Enquanto James estava no banheiro tomando banho, Will ret irou seu cinto , enf iou -
o novamente nos três Signos, e os colocou debaixo de s eu travessei ro. Parecia prudente,
mesmo que ele a inda soubesse sem dúvida que nada nem ninguém o incomodaria em sua
casa durante essa noite. Esta noite, talvez pela última vez, ele era um garoto comum
novamente.
Fios de música e o suave barulho de vozes f lutuaram vindo de baixo. Em um ritual
solene, Will e James enrolaram suas meias de Natal sobre as pernas de suas camas:
preciosas e feias meias marrons de um material suave e espesso, usadas pela mãe deles
em algum distante tempo inimaginável e agora disfo rmes por anos de serviço como
recipientes de Natal. Quando cheias , elas se tornariam pesadas, e não poderiam mais
f icar penduradas, ao invés disso elas seriam encontradas magníf icas jogadas ao pé das
camas.
“Aposto que sei o que Mamãe e Papai darão a você ,” falou James suavemente.
“Aposto que é. . .”
“Não ouse,” Will sibilou, e seu irmão deu uma risadinha e mergulhou debaixo dos
cobertores.
“Boa noite, Will.”
“Boa noite. Feliz Natal.”
“Feliz Natal.”
E foi do mesmo jeito de sempre, quando ele dei tou enro lando feliz em suas
confortáveis cobertas, prometendo a si mesmo que f icaria acordado, até, até. . .
. . . até que ele acordou, na ofuscada manhã no quarto com um leve brilho de luz
arrastando-se ao redor da escura forma quadrada da janela acortinada, e não v iu nem
sentiu nada por um encantado momento de expectat iva, por que todos os seus sent idos
estavam concentrados na sensação de peso, sobre e ao redor de seus pés encobertos, de
estranhos cantos e formas que não estavam ali quando ele adormeceu. E era Dia d e Natal.
* Op art: tipo de pintura que explora a ilusão óptica. Geralmente é abstrata, e muitas usam apenas o preto e o branco. Dão a
impressão de movimento, clarões ou vibração, parecem inchar ou deformar-se. ** Chaise longue : Uma cadeira suficientemente
comprida para descansar as pernas, semelhante a um sofá, muito popular na Inglaterra no séc. XVIII.
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arte Dois: O Aprendizado
ia de Natal
Quando ele se ajoelhou ao lado da árvore de Natal e arrancou o alegre papel de
embrulho da caixa gigante rotulada “Will”, a primeira coisa que ele descobriu foi que ela
não era uma caixa, mas um engradado de madeira. Um coro de Natal soou distante e
alegre do rádio na cozinha; esse era o momento “pós meias de Natal”, antes da reunião
da família para o café da manhã, quando cada membro abria apenas um de seus
“presentes da árvore”. O resto da pilha bril hante f icar ia ali até depois do jantar,
alegremente tentadora.
Will, sendo o mais jovem, era o primeiro. Ele t inha fei to um caminho direto até a
caixa, em par te porque ela era tão impressionantemente grande e em parte porque ele
suspeitava que ela veio de Stephen. Ele descobriu que alguém tinha reti rado os pregos da
tampa de madeira, para que ele pudesse abrí - la faci lmente.
“Robin retirou os pregos, Bar e eu colocamos o papel,” disse Mary ao seu ombro,
totalmente exci tada. “Mas não olhamos dentro. Vamos l á, Will, vamos lá.”
Ele tirou a tampa. “Está cheia de folhas mortas! Capim ou algo assim.”
“Folhas de palma,” disse o pai dele, olhando. “Para embalagem, eu suponho.
Cuidado com seus dedos, elas podem ter bordas af iadas.”
Will arrancou mãos cheias de ta los de palmas, a té que a primeira forma dura de
algo começou a aparecer. Era uma est ranha forma f ina curvada, marrom, plana, como um
galho; parecia ser feita de um tipo duro de papel machê. Era uma armação, parecida e
ainda assim diferente de uma armação d e um cervo. Wil l parou de repente. Uma sensação
forte e totalmente inesperada sal tou sobre ele quando tocou a armação. Não era uma
sensação que ele já teve antes na p resença da família ; era a mistura de excitamento,
segurança e prazer que tomava conta dele sempre que ele estava com um dos Antigos
Escolhidos.
Ele viu um envelope cair do lado da armação e o abriu. Aquele papel carregava o
belo cabeçalho do navio de Stephen.
Prezado Will: Feliz Aniversário. Feliz Natal. Eu sempre jurei nunca combinar os
dois, não jurei? E aqui es tou fazendo isso. Permita que eu explique porque. Não sei se
você entenderá, especialmente depois que tenha visto o que é o presente. Mas talvez
entenda. Você sempre foi um pouco diferente de todos os outros. Não quero dizer
maluco! Apenas diferente.
Foi desse jei to . Um dia eu estive na parte mais antiga de Kingston durante o
carnaval. O Carnaval nessas i lhas é um momento mui to especial . . . grande diversão, com
ecos fazendo um longo, longo caminho. De qualquer modo, eu me misturei a um a
procissão, todas as pessoas r indo, balançando ti ras de aço e dançar inos com roupas
radicais, e eu encontrei um velho. Ele era um velho muito impressionante, sua pele mui to
negra e seu cabelo muito branco, e ele meio que apareceu do nada, me pegou pelo br aço
e me tirou da dança. Nunca antes em minha vida eu tinha vis to ele, em lugar algum,
tenho certeza disso. Mas ele olhou para mim e disse, “Você é Stephen Stanton, da
Marinha de Sua Majestade. Tenho algo para você. Não para você mesmo, mas para seu
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irmão mais novo, o sétimo f ilho. Você mandará isso para e le como um presente, por seu
aniversário esse ano e pelo Natal, combinados em um. Esse será um presente de você,
seu i rmão, e ele saberá o que fazer com ele no momento apropriado, embora você não vá
saber.”
Tudo isso era tão inesperado que me tirou o equilíbrio. Tudo que pude dizer foi,
“Mas quem é você? Como você me conhece?” E o velho apenas olhou para mim com
profundos olhos muito escuros que pareciam estar olhando através de mim no dia depois
de amanhã , e e le disse, “Eu o conheceria em qualquer lugar. Você é irmão de Will
Stanton. Há uma cer ta aparência que nós, Antigos Escolhidos, temos. Nossas famílias
têm algo dela também.”
E foi isso, Will. Ele não disse outra palavra. Aquela última par te não faz s entido
algum, eu sei, mas foi isso que ele disse. Então ele simplesmente entrou no desf ile de
carnaval e saiu novamente, e quando saiu ele estava carregando . . . vestindo, na verdade , a
coisa que você encontrará nessa caixa.
Então aqui estou enviando isso p ara você. Como me foi dito. Parece louco, e
posso pensar em montes de coisas de que você teria gostado mais. Mas aqui es tá. Tinha
algo extraordinário naquele velho, e de alguma forma eu simplesmente tinha que fazer o
que ele me disse. Espero que goste de s eu presente maluco, colega. Estarei pensando em
você, nos dois dias.
Amor, Stephen.
Lentamente Will dobrou a carta e a colocou de volta em seu envelope. “Uma
aparência que nós, Ant igos Escolhidos, temos. . .” Então o círculo espalhava -se ao redor
do mundo todo. Mas é claro que ele se espalhava, de outro modo não haver ia sent ido. Ele
estava feliz em ter Stephen com parte do padrão; era certo, de algum modo.
“Oh, vamos lá, Will !” Mary estava esperando com curiosidade, seu vestido
balançando. “Abra, abra!”
De repente Wil l percebeu que sua família de mente tradicional estivera a li ,
pacientemente imóvel, esperando por cinco minutos enquanto ele lia sua carta. Usando a
tampa da caixa como uma bandeja, ele começou a tirar depressa mais e mais montes de
folhas de palma até que f inalmente o objeto dentro estava livre. Ele o reti rou,
cambaleando enquanto agüentava o peso, e todos engoliram em seco. Era uma cabeça de
carnaval gigante, brilhante e gro tesca. As cores eram luminosas e brutas, as
características feitas to scamente e facilmente reconhecíveis, todas feitas da mesma
substância leve e suave semelhante a papel machê ou um tipo de madeira sem
granulação. E não era a cabeça de um homem. Will nunca t inha visto algo ass im antes. A
cabeça da qual as armações galhadas saltavam tinha a forma semelhante a uma cabeça de
um cervo, mas as orelhas ao lado dos chifres eram as de um cão ou de um lobo. E o rosto
abaixo dos chifres era humano, mas com os olhos arredondados de uma ave. Havia um
forte nariz humano reto, uma f irme boca humana, formando um leve sorr iso. Não havia
mais nada que fosse puramente humano na coisa toda. O queixo era barbado, mas a barba
tinha uma forma que facilmente indicava que ele deveria ter sido mais o queixo de uma
cabra ou cervo do que o de um homem . O rosto poderia ter sido amedrontador; quando
todo mundo suspirou, o som que Mary emitiu e rapidamente abafou tinha s ido mais como
um pequeno gri to . Mas Will sentiu que o seu efeito dependeria de quem estivesse
olhando para ele. A aparência não era nada. Não era nem feio nem boni to, assustador
nem engraçado. Era uma coisa feita para chamar profundas respostas da mente. Era
realmente uma coisa dos Ant igos Escolhidos.
“Meu Deus!” disse o seu pai.
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“É um tipo engraçado de presente,” disse James.
Sua mãe não disse nada.
Mary não disse nada, mas se afastou um pouquinho.
“Me lembra de alguém que eu conheço,” disse Robin, sorrindo.
Paul não disse nada.
Gwen não disse nada.
Max disse suavemente, “Olhe para esses olhos!”
Bárbara disse, “Mas pra que serve essa coisa?”
Will correu seus dedos sobre o grande rosto est ranho. Levou apenas um momento
para que ele descobrisse para o que ele estava olhando; era quase invis ível a não ser que
você es tivesse esperando por ele, gravado na testa, entre os chif res. A esta mpa de um
círculo, dividido por uma cruz.
Ele disse, “É uma cabeça de carnaval das Índias Ocidentais. É velha. É especial.
Stephen encontrou-a na Jamaica.”
James estava ao lado dele agora, olhando dentro da cabeça. “Tem uma espécie de
armação de arame que repousa em seus ombros. E uma fenda bem onde a boca abre um
pouco, acho que você olha através dela. Vamos lá, Will, coloque.” Ele ergueu a cabeça
por trás para coloca-la sobre os ombros de Will. Mas Wil l se afastou, como se uma outro
parte de sua mente f alasse si lenciosamente para ele. “Agora não,” ele disse. “Alguém
mais abra o seu presente.”
E Mary esqueceu a cabeça e sua reação com ela, no feliz momento em que
descobriu que era sua vez. Ela mergulhou na pilha de presentes da árvore, e as alegres
descobertas começaram novamente.
Um presente por vez; eles tinham quase terminado, e era quase hora do café da
manhã, quando surgiu a batida na porta da f rente. A Sra. Stanton es tava quase para pegar
o seu próprio embrulho no ritual; os braços dela caí ram para os lados, e ela olhou para
cima de modo vazio.
“Quem poderá ser?”
Todos olharam uns para os outros, e então para a porta, como se ela pudesse falar.
Isso es tava totalmente errado, como um trecho de música mudando no meio da melodia.
Ninguém nunca veio a té a casa nessa hora no Dia de Natal, não era o costume.
“Eu acho. . .” disse o Sr. Stanton, com uma leve suposição surgindo em sua voz; e
ele enf iou os pés mais f irmemente em seus chinelos e se levantou para abrir a porta da
f rente. Eles ouviram a porta ab rir. As costas dele encheram o espaço e os impediu de ver
o visitante, mas sua voz se ergueu em óbvio prazer. “Meu querido colega, que bom ver
você. . . entre, entre. . .” E quando se vi rou em direção à sala de estar ele es tava segurando
um pequeno pacote em uma das mãos que não estava ali antes, claramente um produto da
f igura alta que agora aparecia no umbral da porta, seguindo -o. O Sr. Stanton radiante e
sorridente, ocupado com apresentações, “Alice, amor, esse é o Sr. Mitothin. . . tão genti l ,
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todo esse caminho na manhã de Natal apenas para entregar. . . não dever ia ter. . . Mitothin,
meu f ilho Max, minha f ilha Gwen.. . James, Bárbara . . .”
Will ouviu a crescente polidez sem dar atenção; foi somente ao escutar a voz do
estranho que ele ergueu o olhar. Tinha algo fam iliar na profunda voz levemente nasal
com um pouco de sotaque, cuidadosamente repetindo os nomes: “Como você está, Sra.
Stanton. . . Saudações para vocês, Max, Gwen.. .” E Will viu o contorno do rosto, e o
comprido cabelo marrom avermelhado, e ele congelou. E ra o Cavaleiro. Esse Sr.
Mitothin, amigo de seu pai sabe lá de onde, era o Cavaleiro Negro de algum lugar fora
do Tempo.
Will agarrou a coisa mais próxima de sua mão, um brilhante tecido macio que era
o presente da Jamaica de Stephen para sua irmã Bárbara, e o jogou rapidamente sobre a
cabeça de carnaval para escondê- la de vis ta. Quando ele se vi rou novamente, o Cavalei ro
ergueu sua cabeça para olhar para dentro da sala, e o viu. Ele observou Will em aberto
desaf io triunfante, um pequeno sorr iso em seus lá bios. O Sr. Stanton fez um sinal,
balançando a mão, “Will, venha aqui um minuto . . . meu f ilho mais novo, Sr . . .”
Will era instantaneamente um Antigo Escolhido furioso, tão furioso que não parou
para pensar no que deveria fazer. Podia sentir cada polegada de si mesmo, como se
tivesse crescido três vezes o seu próprio tamanho com sua fúria. Esticou sua mão direi ta
com seus dedos es tendidos em direção a sua família, e os viu instantaneamente presos em
uma parada no tempo, congelados em todo movimento. Como está tuas de cera eles
f icaram rígidos e imóveis pela sala.
“Como você ousa entrar aqui!” e le gri tou para o Cavaleiro. Os dois f icaram
encarando um ao outro pela sala, os únicos objetos vivos e em movimento ali: nenhum
humano se movia, os pontei ros do relógio sobre a lareira não se moviam, e embora as
chamas do fogo tremulassem, elas não consumiam as toras que elas queimavam.
“Como você ousa! No Natal, na manhã de Natal ! Vá embora!” Era a primeira vez
em sua vida que ele tinha sentido tal fúria, e isso não era agradável, mas estava
revoltado que o Escuro tivesse ousado interromper esse r itual de família tão precioso.
O Cavaleiro disse suavemente, “Contenha -se.” Na Língua Ant iga, seu sotaque era
repent inamente mais acentuado. Ele sorriu para Will sem nenhum sin al de mudança em
seus f rios olhos azuis. “Eu posso cruzar sua solei ra, meu amigo, e passar pelo seu
azevinho, porque fui convidado. Seu pai, de boa fé, pediu que eu entrasse pela porta. E
ele é o senhor desta casa, e não há nada que você possa fazer a resp ei to .”
“Sim, tem sim,” Will disse. Olhando f ixamente para o sorriso confiante do
Cavaleiro, ele concentrou todos os seus poderes em um esforço para ver dentro da mente
dele, descobrir o que ele pretendia fazer a li . Mas bateu contra uma parede negra de
hostil idade, inquebrável. Wil l sentiu que isso não dever ia ser possível, e est remeceu.
Procurou fur iosamente em sua memória pelas palavras de destruição com as quais em
último recurso – mas somente em últ imo recurso mesmo – um Antigo Escolhido poderia
quebrar o poder do Escuro. E o Cavaleiro Negro riu.
“Oh não, Wil l Stanton,” ele disse tranqüilamente. “Isso você não fará. Não pode
usar armas desse tipo aqui, a não ser que você queira lançar toda sua família para além
do Tempo.” Ele olhou apontando para Mary, que estava imóvel perto dele, sua boca
semi-aberta, capturada fora da vida no meio de algo que diria para o pai dela.
“Isso ser ia uma pena,” disse o Cavalei ro. Então olhou de volta para Will, e o
sorriso sumiu de seu rosto como se ele o tivesse cuspido fo ra, e seus olhos se
estreitaram. “Seu jovem tolo, você acha que por causa de todos os seus Dons recebidos
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do Gramarye você pode me controlar? Mantenha -se em seu lugar. Você não é um dos
mestres ainda. Você pode fazer coisa s tão bem quanto possa inventar, m as os poderes
superiores ainda não são para seu domínio. E eu também não.”
“Você tem medo de meus mestres,” falou Wil l rapidamente, sem saber
completamente o que queria dizer, mas sabendo que era verdade.
O rosto pálido do Cavalei ro enrubesceu. Ele disse suavemente, “O Escuro está
surgindo, Antigo Escolhido, e dessa vez não permiti rá que nada obstrua seu caminho.
Esse é o momento para nossa ascensão, e esses próximos doze meses f inalmente verão
nos estabelecermos. Diga isso a seus mestres. Diga a eles que nada nos impedirá. Diga a
eles, que todas as Coisas de Poder que eles esperam possuir nós tomaremos deles, o
Graal, a Harpa e os Signos. Quebraremos o seu círculo antes mesmo que ele seja unido.
E ninguém impedirá o Escuro de se erguer!”
As últimas palavras foram emitidas em um alto som de triunfo, e Will tremeu. O
Cavaleiro olhou para ele, seus olhos pálidos cinti lando; então desdenhosamente ele
estendeu suas mãos em direção aos Stantons, e de uma vez eles ganharam vida
novamente e o a lvoroço do Natal es tava de vol ta, e não havia nada que Will pudesse
fazer.
“ . . . que serve aquela caixa?” disse Mary.
“ . . . Mitothin, esse é nosso Will. ” O Sr. Stanton colocou sua mão no ombro de
Will.
Will disse f riamente, “Como vai você?”
“Os cumprimentos da estação para você, Will,” o Cavalei ro disse.
“Desejo a você o mesmo que você des eja para mim,” disse Wil l.
“Muito lógico,” disse o Cavaleiro.
“Muito pomposo, se você me perguntar,” disse Mary, balançando sua cabeça. “Ele
é desse jeito às vezes. Papai, para quem é a quela caixa, a que ele t rouxe?”
“Sr. Mitothin, não "ele",” disse o pai dela automaticamente. “Para sua mãe, uma
surpresa,” disse o Cavaleiro. “Algo que não estava f inal izado ontem a noite em tempo de
seu pai t razer para casa.”
“De você?”
“Do Papai, eu acho,” disse a Sra. Stanton, sorrindo para seu marido. Ela virou
para o Cavaleiro. “Você tomará café conosco, Sr. Mitothin? ”
“Ele não pode,” disse Will.
“Will !”
“Ele parece es tar com pressa,” o Cavalei ro disse suavemente. “Não, eu agradeço,
Sra. Stanton, mas estou a caminho para passar o dia com amigos, e eu devo partir.”
Mary disse, “Para onde você vai?”
“Norte daqui. . . que cabelo comprido você tem, Mary. Muito bonito.”
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“Obrigada,” disse Mary convencida, balançando seus longos cabelos so ltos em
volta de seus ombros. O Cavaleiro se est icou e removeu delicadamente um cabelo solto
de sua manga. “Permita -me,” ele disse polidamente.
“Ela está sempre exibindo ele,” falou James calmamente. Mary mostrou sua língua
para ele.
O Cavaleiro olhou pela sala novame nte. “Aquela é uma árvore magníf ica. Uma
árvore local?”
“É uma árvore Real,” falou James, “Do Grande Parque.”
“Venha ver!” Mary agarrou a mão do Cavalei ro e o conduziu. Wil l mordeu seu
lábio, e deliberadamente retirou todo o pensamento da cabeça de carna val de sua mente
concentrando-se bastante no que ele provavelmente ter ia para o café da manhã. O
Cavaleiro, e le t inha quase certeza, podia ver dentro dos níveis mais al tos de sua mente
mas talvez não pudesse naqueles enterrados mais fundo do que isso.
Mas não houve perigo. Embora a grande caixa vazia e sua pilha de exótico
embrulho estivesse bem ao lado dele, O Cavaleiro, cercado pelos Stantons, simplesmente
olhou obediente e admirado para os enfei tes na árvore. Ele pareceu particularmente
interessado com as pequenas iniciais entalhadas da caixa do Fazendeiro Dawson.
“Lindo,” ele disse, girando distraidamente o M de Mary – o qual, Will notou vagamente,
estava pendurado de cabeça para baixo.
Então ele virou para os pais deles. “Eu realmente devo ir, e vocês devem tomar o
seu café da manhã. Wil l parece um pouco faminto, eu acho.” Houve um br ilho de malícia
enquanto eles olhavam um para o outro, e Will soube que es tava cer to quanto aos limi tes
da visão do Escuro.
“Realmente estou imensamente agradecido a você , Mitothin,” disse o Sr. Stanton.
“Sem problema, vocês es tavam bem no meu caminho. Cumprimentos da estação
para todos vocês . . .” Com um alvoroço de despedidas ele se foi, descendo pelo caminho.
Will quase não se arrependeu que sua mão fechasse a porta ante s que eles tivessem a
chance de ouvir o motor de um carro dar partida. Ele não achava que o Cavalei ro tinha
vindo de carro.
“Bem, meu amor,” disse o Sr. Stanton, dando um beijo em sua esposa e
entregando- lhe a caixa. “Aqui es tá o seu primeiro presente da árvore. Feliz Natal !”
“Oh!” disse a mãe deles, quando ela abriu. “Oh, Roger!”
Will se espremeu passando por suas entusiasmadas irmãs para dar uma olhada.
Aninhado em veludo branco, em uma caixa com o nome da loja de seu pai gravado,
estava o velho anel de sua mãe: o anel no qual e le t inha visto o Sr. Stanton procurar por
pedras soltas algumas semanas antes , o anel que Merriman tinha vis to na imagem que
tirou da mente de Will. Mas circulando ele havia algo mais: um bracelete feito como um
alargamento do anel, combinando exatamente. Uma mão de ouro, com três diamantes no
centro, e três rubis em cada lado, e gravado com um estranho padrão de círculos, l inhas e
curvas ao redor de todos eles. Will observou, imaginando porque o Cavalei ro poderia
querer ter isso em suas mãos. Pois com certeza isso deveria estar por trás da visita es ta
manhã; nenhum Senhor do Escuro precisava entrar em qualquer casa meramente para ver
o que tinha dentro.
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“Você o fez, Pai?” disse Max. “Um trabalho adorável.”
“Obrigado,” disse seu pai.
“Quem era aquele homem que o trouxe?” Gwen disse curiosamente. “Ele trabalha
com você? Que nome engraçado.”
“Oh, ele é um negociante,” disse o Sr. Stanton. “De diamantes, na maioria. Um
sujeito estranho, mas mui to agradável . Eu o conheço por cerca d e dois anos, eu suponho.
nós conseguimos um monte de pedras do pessoal dele . . . incluindo estas.” Ele colocou um
dedo gentilmente no bracelete. “Eu t ive que sair cedo ontem enquanto o jovem Jeffrey
ainda estava colocando as pedras , e aconteceu de Mitothin es tar na loja e se oferecer
para entregá-la para evitar que eu t ivesse que voltar. Como ele disse, i ria passar por aqui
essa manhã de qualquer modo. Ainda assim, foi bondade dele, ele não precisava ter
oferecido.”
“Muito gent il ,” disse sua esposa. “Mas vo cê é mais. Acho que ele é lindo.”
“Estou com fome,” disse James. “Quando vamos comer?”
Foi somente depois que o bacon e ovos, torrada e chá, marmelada e mel tinham
acabado, e os restos da primeira abertura de presentes t inham sido removidos, que Will
percebeu que a sua carta enviada por Stephen não podia ser encontrada em lugar algum.
Ele procurou na sala de estar, investigou os pertences de todos, raste jou debaixo da
árvore e ao redor da pilha de presentes que aguardavam ainda não abertos , mas ela não
estava ali . Ela poderia, é c laro, ter sido jogada fora inadvert idamente, confundida com
papel de embrulho; essas coisas às vezes aconteciam no Dia de Natal tumultuado deles.
Mas Will pensou que sabia o que tinha acontecido com sua carta. E ele f icou
imaginando se, af inal de contas, t inha sido a chance de invest igar o anel de sua mãe que
trouxe o Cavalei ro Negro até a casa , ou uma busca por algo mais.
Antes de muito tempo eles notaram que a neve estava caindo novamente.
Gentilmente mas inexoravelmente os f lo cos desciam tremulando, sem falhar nem uma
vez. As pegadas do Sr. Mitothin, no caminho lá fora, logo foram cobertas como se nunca
tivessem estado ali . Os cães, Raq e Ci, que tinham pedido para sair antes que a neve
começasse, vieram arranhar a porta de trá s novamente.
“Sou a favor de um Natal branco de vez em quando,” disse Max, olhando para fora
desanimado, “mas isso é ridículo.”
“Extraordinár io,” disse seu pai, olhando para fora por cima de seus ombros.
“Nunca tinha visto nada assim no Natal, em toda a minha vida. Se cair muito mais hoje,
haverá sér ios problemas de transporte por todo o Sul da Inglaterra.”
“Era isso que eu estava pensando,” disse Max. “Eu deveria i r para Southampton
depois de amanhã para f icar com Deb.”
“Oh, uou, uou,” disse James, aga rrando seu peito .
Max olhou para ele.
“Feliz Natal, Max,” falou James.
Paul apareceu na sala de es tar caminhando de botas desajeitado, abotoando seu
sobretudo. “Com neve ou sem neve, Estou saindo para tocar os sinos. Aqueles velhos
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sinos naquela torre não esperam por ninguém. Algum de vocês vem comigo até a igreja
essa manhã?”
“Os Nightingales vão aparecer,” disse Max, olhando para Will e James, que entre
eles const ituíam um terço do coro da igreja. “Isso quer dizer que vocês também
deveriam, vocês não acham?”
“Se vocês forem realizar a sua ação de caridade da temporada,” disse Gwen,
passando, “com alguma tarefa útil como descascar as batatas, então ta lvez a Mamãe
pudesse ir. Ela gosta de verdade, quando ela pode.”
O pequeno grupo empacotado que f inalm ente saiu para a neve espessa era formado
por Paul, James, Will, Sra. Stanton e Mary, que era, James disse indelicadamente mas
com razão, provavelmente mais interessada em evi tar t rabalho de casa do que em fazer
suas doações. Eles subiram penosamente a est rada, os f locos de neve descendo mais forte
agora e começando a grudar em suas bochechas. Paul t inha ido na f rente para se juntar
aos outros tocadores de sino, e logo as fortes notas dos seis doces s inos antigos que
f icavam pendurados na pequena torre quad rada começariam a repicar através do mundo
rodopiante ao redor deles, i luminando -o para o Natal novamente. O espír ito de Will se
ergueu um pouco com o som, mas não muito; a pesada persis tência da recente neve o
incomodava. Ele não conseguia afastar a suspe ita arrepiante de que ela estava sendo
enviada como precursora de algo mais, do Escuro. Ele enf iou suas mãos dentro dos
bolsos de sua jaqueta de pele de ovelha, e a ponta dos dedos de uma das mãos es tavam se
fechando ao redor de uma pena de gralha, esqueci da desde a terrível noite da Véspera do
Solstício de Inverno, antes do seu aniversár io.
Na est rada nevada, quatro ou cinco carros estavam do lado de fora da igreja; havia
mais, geralmente, na manhã de Natal, mas poucos moradores fora do alcance de
caminhada tinham decidido enfrentar esse rodopiante nevoeiro branco. Will observou os
gordos f locos f icarem determinados e sem derreter na manga de sua jaqueta; eles eram
muito f rios. Até mesmo dentro da pequena igreja, os f locos de neve permaneciam
obstinadamente, e levavam um longo tempo para derreter. Ele foi com James e o punhado
de outros coris tas debater -se dentro das túnicas na est rei ta passagem da sacr ist ia, e
então, quando os sinos se uniram no início do serviço, para fazer sua procissão descer a
coxia e subir na pequena galeria no fundo da pequena nave quadrada. Você podia ver
todos dali , e estava claro que a igreja de St James the Less não estava congestionada no
Natal desse ano, mas parcialmente cheia.
A ordem dos Morning Prayer , como era nessa Igreja da Inglaterra, pela
Autoridade do Parlamento, no Segundo Ano do Reinado do Rei Edward o sexto, seguiu
seu nobre caminho através dos enfei tes de Natal, conduzida pelo extrovertido e teatral
baixo-barítono do Pároco.
“O ye Frost and Cold, bless ye the Lord , praise Him, and magnify Him for ever ,”
disse Will, ref le tindo que o Sr. Beaumont tinha mostrado um certo humor torto ao
escolher o cântico.
“O ye Ice and Snow, bless ye the Lord, praise Him, and magnify Him for ever .”
De repente e le estava tremendo, ma s não por causa das palavras, nem por nenhuma
sensação de f rio . Sua cabeça rodopiou; ele se agarrou por um momento na borda da
galeria. A música por um breve instante pareceu tornar -se medonhamente descordenada,
estr idente em seus ouvidos. Então isso desap areceu e ela era como antes, deixando Will
abalado e arrepiado.
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“O ye Light and Darkness,” cantou James, olhando para e le . “Você es tá bem?
Sente-se. and magnify Him forever .”
Mas Will balançou sua cabeça impacientemente, e pelo res to do serviço ele
agüentou f irme, cantou, sentou, ou ajoelhou, e convenceu a si mesmo que não tinha
acontecido nada de errado exceto por uma vaga sensação de f raqueza, trazida pelo que
seus mais velhos gostavam de chamar de “super excitamento”. E então a est ranha
sensação de algo errado, de discordância, veio novamente.
Foi apenas mais uma vez, bem no f inalzinho do serviço. O Sr. Beaumont estava
fazendo a oração de St Chrysostom: “ . . .who dost promise, that when two or three are
gathered together in thy name thou wil t grant thei r requests. . .” Um barulho surgiu de
repente dentro da mente de Will, um estridente e terrível urro no lugar das cadências
familiares. Ele tinha ouvido isso antes. Era o som do Escuro sitiante, que ele tinha
escutado do lado de fora da Sala na Mansão onde e le t inha sentado com Merriman e a
Senhora, em algum século desconhecido. Mas em uma igreja? disse Wil l, o Angelical
garoto do coro, incrédulo: certamente você não pode sentir i sso dentro de uma igreja?
Ah, disse de forma infeliz Wil l, o Antigo Escolhido : qualquer igreja de qualquer rel igião
é vulnerável ao ataque deles, pois lugares como esse são onde os homens real izam
pensamentos em questões da Luz e do Escuro. Ele encolheu sua cabeça entre seus ombros
enquanto o barulho o atingia , e então ele desapareceu de novo, e a voz do Pároco estava
soando sozinha, como antes.
Will olhou rapidamente ao seu redor, mas estava claro que ninguém mais tinha
notado qualquer coisa errada. Através das dobras de sua túnica branca ele agarrou os t rês
Signos em seu cinto, mas não havia calor nem frio sob seus dedos. Para o poder de alerta
dos Signos, ele suspeitava, uma igreja era uma espécie de terra de ninguém; uma vez que
de fato nenhum mal poderia entrar por suas paredes, nenhum aviso contra ele ser ia
necessár io. Ainda que o mal est ivesse pairando logo ali fora. . .
O serviço estava encerrado agora, todos cantando “ O Come, All Ye Faithful” no
fervor de Feliz Natal, enquanto o coro fazia seu caminho descendo da galeria e indo até
o altar. Então as bênçãos do Sr. Beaumont foram espalhadas sobre as cabeças da
congregação: “ . . . the love of God, and the fellowship of the Holy Ghost. . . ” Mas as
palavras não podiam trazer paz a Will, pois ele sabia que algo estava errado, algo
surgindo do Escuro, algo esperando, lá fora, e que chegaria o momento em que ele
deveria encarar i sso sozinho, enfraquecido.
Ele viu todos formarem f ila saindo radiantes da igreja, sorrindo e acenando uns
para os outros enquanto agarravam suas sombrinhas e levanta vam seus colarinhos contra
a neve ondulante. Ele v iu o alegre Sr. Hutton, o diretor aposentado, remexendo as chaves
de seu carro, envolvendo a pequena Srta. Bel l, a antiga professora deles, na calorosa
oferta de uma carona para casa; e a trás dele o a legre Sr. Hutton, um galeão em uma
viagem alegre, fazendo o mesmo com a Sra. Pettigrew, a car tei ra. Diversas cr ianças do
vilarejo correram saindo pela porta, escapando de suas mães que usavam seus melhores
chapéus, correndo para guerra de bolas de neve e para o peru de Natal. A lúgubre Sra.
Horniman caminhou perto da Sra. Stanton e Mary, ocupada em profetizar o julgamento.
Will viu Mary, tentando não rir, voltando para se juntar a Sra. Dawson e sua f ilha
casada, com o neto de cinco anos empinando -se feliz em brilhantes botas novas de
caubói.
O coro, agasalhado e encapado, começou a par tir também, com gritos de “Feliz
Natal !” e te vejo Domingo, Vigár io!” para o Sr. Beaumont, que estaria fazendo apenas
esse serviço hoje e o resto em suas outras paróquias. O pároco, conversando com Paul
sobre música, sorriu e aceno u vagamente. A igreja começou a esvaziar, enquanto Will
esperava por seu i rmão. Ele podia sentir seu pescoço coçando, ass im como a eletr icidade
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que f lutua fortemente opressiva no ar antes de uma tempestade gigante. Ele podia sent í -
la em toda parte, o ar de ntro da igreja estava carregado dela. O pároco, ainda
conversando, esticou uma mão distraída e desligou a s luzes dentro da igreja, deixando -a
em uma fria escuridão cinza, brilhante apenas ao lado da porta onde a brancura da neve
ref letia. E Will, vendo alg umas f iguras se moverem em direção a porta para fora das
sombras, percebeu que a igreja não estava totalmente vazia. Descendo perto da pequena
fonte do século doze, e le viu o Fazendeiro Dawson, o Velho George, e o f ilho do Velho
George, John, o ferreiro, com sua s i lenciosa esposa. Os Antigos Escolhidos do Círculo
estavam esperando por ele, para ajudá -lo contra qualquer coisa que espreitava lá fora.
Will sentiu-se f raco por um momento enquanto alívio espalhava -se sobre ele em uma
grande onda aquecedora.
“Tudo pronto, Will?” disse o pároco cordialmente, colocando seu sobretudo. Ele
seguiu em frente, ainda preocupado, até Paul, “É claro, realmente concordo que o
concerto duplo é um dos melhores. Eu só queria que ele executasse as desacompanhadas
suites de Bach. Ouvi ele as fazer em uma igreja em Edinburg o uma vez, no Festival .
Maravilhoso .”
Paul, com olhar af iado, disse, “Tem alguma coisa errada, Wil l?”
“Não,” disse Will. “Quer dizer . . . não.” Ele es tava tentando desesperadamente
pensar em algum jei to de levar os dois para fora da igreja antes que ele próprio chegasse
perto da porta. Antes . . . antes que o que quer que pudesse acontecer realmente
acontecesse. Na porta da igreja ele podia ver os Ant igos Escolhidos se moverem
lentamente em um grupo bem unido, apoia ndo um ao outro. Ele podia sent ir a força agora
muito forte, muito próxima, ao redor, o ar estava espesso com ela, do lado de fora da
igreja havia destruição e caos, o coração do Escuro, e ele não conseguia pensar em nada
que pudesse fazer para afastá -lo . Então enquanto o pároco e Paul se viraram para
caminhar pela nave, ele viu os dois pararem no mesmo instante, e suas cabeças se
ergueram como as cabeças de cervo selvagens em alerta. Era tarde demais agora; a voz
do Escuro era tão alta que até humanos podi am sentir seu poder.
Paul estremeceu, como se alguém o tivesse golpeado no peito , e agarrou um banco
para se apoiar. “O que é isso?” ele disse rapidamente. “Pároco? O que é isso?”
O Sr. Beaumont tinha f icado muito branco. Havia um brilho de suor em sua t esta,
ainda que a igreja estivesse muito f ria agora. “Nada que seja da terra, eu acho, ta lvez,”
ele disse. “Deus me perdoe.” E ele cambaleou alguns passos aproximando -se da porta da
igreja, como um homem lutando contra ondas no mar, e inclinando -se para f rente
levemente fez um amplo sinal da Cruz. Ele balbuciou, “Defenda -nos teus humildes
servos de todos os ataques de nossos inimigos; que nós, cer tamente confiando em tua
defesa, não temeremos o poder de quaisquer adversár ios. . .”
O Fazendeiro Dawson falou m uito calmamente mas de forma clara do grupo ao
lado da porta, “Não, Pároco.”
O pároco pareceu não escutá -lo. Seus olhos es tavam arregalados, olhando para a
neve do lado de fora; ele f icou transf ixado, tremeu como um homem com febre, o suor
foi descendo pelas suas bochechas. Ele conseguiu erguer pela metade um braço e apontou
atrás dele: “. . . sacristia. . .” ele arfou. “. . . l ivro, na mesa. . . exorcizar. . .”
“Pobre colega valente,” disse John Smith na Língua Ant iga. “Essa batalha não é
para ser travado por ele. Está inclinado a acreditar que sim, é claro, estando em sua
igreja.”
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“Calma, Reverendo,” falou a esposa dele em Inglês; sua voz era suave e gentil ,
acentuadamente do país. O pároco olhou para ela como um animal assustado, mas nesse
momento todos os seus poderes de fala e movimento tinham sido arrancados.
Frank Dawson disse: “Venha cá, Will .”
Fazendo força contra o Escuro, Will seguiu em frente lentamente; e le tocou Paul
no ombro enquanto passava, olhando dentro de olhos confusos em um rosto tão
contorcido e desamparado quanto o do pároco, e disse suavemente: “Não se preocupe.
Tudo vai f icar bem logo.”
Cada um dos Antigos Escolhidos o tocou genti lmente enquanto ele entrava no
grupo, como se unindo-o a eles, e o Fazendeiro Dawson o pegou pelo ombro. Ele d isse,
“Devemos fazer algo para proteger aqueles dois, Will, ou a mente deles se curvará. Eles
não podem suportar a pressão, o Escuro os deixará loucos. Você tem o poder, e o resto
de nós não.”
Essa foi a primeira intimação de Will que ele poderia fazer qu alquer coisa que
outro Antigo Escolhido não poderia, mas não havia tempo para f icar pensando; com o
Dom do Gramarye, ele fechou as mentes de seu irmão e do pároco atrás de uma barrei ra
que poder algum de qualquer tipo poderia at ravessar. Essa era uma empre itada perigosa,
uma vez que aquele que cr iava a barreira era o único que poderia removê - la, e se alguma
coisa acontecesse com ele os dois protegidos ser iam deixados como vegetais, incapazes
de qualquer comunicação, para sempre. Mas o risco tinha que ser ac ei to; não havia nada
mais a ser fei to . Seus olhos fecharam -se suavemente como se eles tivessem começado a
dormir tranquilamente; eles f icaram imóveis. Após um momento seus olhos se abriram
novamente, mas estavam calmos e vazios, ignorantes.
“Muito bem,” d isse o Fazendeiro Dawson. “Agora.”
Os Antigos Escolhidos f icaram na porta da igreja, seu braços unidos. Nenhum
disse uma palavra para o outro. Um ruído selvagem e turbulência se ergueram do lado de
fora; a luz escureceu, o vento rugiu e gemeu, a neve rodo piou e chicoteou seus rostos
com pedaços brancos de gelo. E de repente as gralhas es tavam na neve, centenas del as,
pequenas ondulações de malevolência , crocitando e grasnando, mergulhando no alpendre
em um ataque barulhento e então arremetendo para cima, p ara longe. Elas não podiam
chegar perto o bastante para arranhar e rasgar ; era como se uma parede invisível os
f izesse recuar a cerca de polegadas de seus alvos. Mas aquilo seria apenas pelo tempo
que a força dos Antigos Escolhidos pudesse agüentar. Em um a furiosa tempestade de
preto e branco o Escuro atacou, golpeando tanto suas mentes quanto seus corpos, e acima
de todos atacando com força o Buscador dos Signos, Will. E Will soube que se ele
estivesse sozinho a sua mente, mesmo com todos os seus dons de proteção, teria entrado
em colapso. Foi a força do Círculo dos Antigos Escolhidos que o manteve f irme agora.
Mas pela segunda vez em sua vida, nem o Círculo poderia fazer mais do que
manter o poder do Escuro encurralado. Mesmo juntos, os Antigos Escolhido s não podiam
fazê-lo re troceder. E agora não havia nenhuma Senhora para t razer a juda de uma forma
grandiosa. Will percebeu mais uma vez, impotente, que ser um Ant igo Escolhido era ser
muito velho antes do tempo apropriado, pois o medo que ele começou a sen ti r agora era
pior do que o terror cego que t inha conhecido em sua cama no sótão, pior do que o medo
que o Escuro t inha colocado nele no grande salão. Dessa vez, seu medo era adulto, feito
de experiência, imaginação e preocupação com outros, e i sso era o p ior de tudo. No
momento em que ele soube disso, ele também soube que ele, Wil l, era o único meio
através do qual seu próprio medo poderia ser vencido, e assim o Círculo fortif icou -se e o
Escuro se afastou. Quem é você? E le perguntou a si mesmo .. . e respondeu: você é o
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Buscador dos Signos. Você tem três dos Signos, metade do círculo das Coisas de Poder.
Use-os.
Agora o suor estava espalhado em sua tes ta assim como ele tinha feito na testa do
pároco, embora agora o pároco e Paul estivessem em paz sorridente, inconscientes,
alheios a tudo que es tava acontecendo. Will conseguia ver o esforço nos rostos dos
outros, no do Fazendeiro Dawson mais do que todos. Lentamente ele moveu suas mãos
para dentro, trazendo as mãos de cada um seguras bem próximas uns dos outro s; A mão
esquerda de John Smith mais próxima da mão direita do Fazendeiro Dawson. E quando
eles es tavam próximos o bastante, e le uniu as mãos de seus vizinhos, t rancando a si
mesmo do lado de fora. Em um momento de pânico ele as agarrou novamente, como se
ele estivesse apertando um nó. Então ele soltou, e f icou sozinho.
Sem a proteção do Círculo, porém abrigado atrás dele, ele oscilou sob o impacto
da furiosa vontade maligna vinda do lado de fora da igreja. Então se movendo muito
cautelosamente, ret irou se u cinto com suas três cargas preciosas e enrolou em seu braço;
pegou a pena de gralha do seu bolso, e a prendeu no Si gno do centro: o c í rculo dividido
de bronze. Então pegou o cinto nas duas mãos, erguendo -o diante dele, e o moveu
lentamente ao redor até q ue f icou sozinho no pórtico da igreja, encarando o rugido, o
grito das gralhas, a escuridão gélida. Jamais tinha se sent ido tão soli tár io . Ele não fez
nada, não pensou em nada. Ficou ali parado, e deixou os Signos trabalharem por si
mesmos. E de repente, houve silêncio.
As aves t inham ido embora. Vento algum rugiu. O ameaçador murmúrio louco que
tinha preenchido o ar e as mentes também desapareceu. Cada nervo e músculo no corpo
de Will f icaram f lácidos ass im que a tensão desapareceu. Do lado de fora, a nev e ainda
caía tranqüilamente, ma os f locos eram menores agora. Os Antigos Escolhidos olharam
uns para os outros e ri ram.
“O círculo completo fará o verdadeiro trabalho,” disse o Velho George, “mas
metade de um círculo pode fazer muito, não é, jovem Will?”
Will olhou para os Signos em sua mão, e balançou a cabeça maravilhado.
O Fazendeiro Dawson falou suavemente, “Em todos os meus dias desde que o
cálice desapareceu, é a primeira vez que vejo alguma coisa além da mente de um dos
grandes escolhidos afastar o Escuro. Coisas, dessa vez. Eles o f izeram sozinhos, por toda
nossa vontade. Nós temos Coisas de Poder novamente. Já fazia um longo, longo tempo.”
Will ainda estava olhando para os Signos, observando, como se eles prendessem
seus olhos por a lgum motivo. “Esperem,” ele disse dist raidamente. “Não se mexam.
Fiquem parados por um momento.”
Eles f izeram uma pausa, assustados. O ferreiro disse, “Algum problema?” “Olhe
para os Signos,” disse Will. “Algo está acontecendo com eles. Eles es tão . . . eles estão
brilhando.”
Ele se virou lentamente, a inda segurando o cinto com os t rês Signos como antes,
até que seu corpo estivesse bloqueando a luz cinza da porta e suas mãos estivessem na
sombra da igreja; e os Signos foram f icando mais bri lhantes e mais brilhantes, cada um
deles brilhando com uma estranha luz interior.
Os Ant igos Escolhidos f icaram olhando. “Esse é o poder de afastar o Escuro?”
disse a esposa de John Smith em seu falar suave. “É algo neles que estava adormecido, e
começou a acordar agora?”
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Will estava tentando inutilmente sentir o que os Signos es tavam lhe dizendo.
“Acho que é uma mensagem, signif ica algo. Mas não consigo captar. . .”
A luz saiu dos três Signos, preenchendo a pequena parte escura da igreja onde eles
estavam com brilho; era uma luz como raio de sol, quente e forte. Nervosamente, Will
esticou um dedo para tocar no círculo mais próximo, o Si gno do Ferro, mas ele não
estava quente nem frio .
O Fazendeiro Dawson disse de repente, “Olhem lá em cima!”
Seu braço es tava apontando para a cima, pa ra a nave, em direção ao altar. No
instante em que eles se viraram, viram o que ele tinha vis to: outra luz, saindo da parede,
justamente do mesmo modo como ao lado deles a luz escapava dos Signos. Brilhava
como a luz de uma grande tocha.
E Will entendeu. Ele disse alegremente, “Então é por isso.”
Ele caminhou em direção ao segundo rast ro de brilho, carregando o cinto e os
Signos de modo que as sombras sobre os bancos e nas vigas do teto se moviam com ele
enquanto ele andava. Enquanto as duas luzes iam f ic ando mais próximas e mais próximas
cada uma parecia f icar ainda mais bri lhante. Com a forma alt a e pesada de Frank Dawson
mostrando-se atrás dele, Will fez uma pausa no meio do feixe brilhante que escapava da
parede. Parecia como se uma janela rachada est i vesse deixando a luz passar vinda de
alguma inimaginável sala brilhante do outro lado. Ele viu que a luz estava vindo de algo
muito pequeno, tão longo quanto um de seus dedos, que estava ao lado.
Ele disse com segurança para o Sr. Dawson: “Devo pegá -lo rápido, você sabe,
enquanto a luz ainda brilha dele. Se a luz não estiver brilhando, ele não pode ser
encontrado.” E colocando o cinto com o Si gno do Ferro, o Signo do Bronze e o Signo da
Madeira nas mãos de Frank Dawson, ele seguiu em frente até a parede c om a f issura de
luz e esticou-se até a pequena fonte do feixe encantado.
A coisa brilhante saiu da parede facilmente de um pedaço quebrado do reboco
onde os blocos de Chiltern da parede apareciam. Ele jazia em sua palma: um círculo,
dividido por uma cruz. Ele não havia sido cortado naquela forma. Mesmo através da luz
nele, Will podia ver a suave redondeza dos lados que disseram a ele que ess a era uma
rocha natural, crescida na greda de Chiltern quinze milhões de anos atrás.
“O Signo da Pedra,” disse o Fazendeiro Dawson. Sua voz era gent il e reverente,
seus olhos negros ilegíveis. “Nós temos o quarto Si gno , Will.”
Eles caminharam juntos para unirem -se aos outros, carregando as brilhantes
Coisas de Poder. Os três Antigos Escolhidos observaram, em silêncio. Paul e o pároco
agora sentavam tranqüilos em um banco como se estivessem dormindo. Will f icou com
seus companheiros e pegou o cinto, e enf iou o Signo da Pedra nele para que f icasse junto
aos outros t rês. Ele teve que f icar com os olhos semi -cerrados para evitar que o brilho o
cegasse. Então quando o quarto Signo estava em posição próximo ao restante, toda a luz
neles morreu. Eles estavam escuros e quietos como estiveram antes, e o Si gno da Pedra
mostrou-se como uma coisa suave e bela com a superf íc ie cinza esbranquiçada de uma
rocha intacta.
A pena de gralha ainda estava enf iada no Si gno do Bronze. Will a re tirou. Agora
não precisava mais dela.
Quando a luz desapareceu dos Signos, Paul e o pároco se agitaram. Eles abriram
os olhos, f icaram assustados de en contrarem-se sentados em um banco quando um
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momento atrás – assim pareceu a eles – estavam de pé. Paul deu um pulo
inst intivamente, sua cabeça se vi rando, procurando. “Foi embora!” ele d isse. Ele olhou
para Will, e uma peculiar expressão de confusão, surpr esa e temor surgiu em seu rosto.
Seus olhos viajaram até o cinto nas mãos de Will. “O que aconteceu?” ele disse.
O pároco f icou de pé, seu rosto liso e redondo contorcido em um esforço para
entender o incompreensível. “Certamente que foi embora,” ele diss e, olhando lentamente
ao redor da igreja. “Qualquer que fosse essa inf luência. Deus seja louvado.” Olhou para
os Signos no cinto de Will, e para cima novamente, sorrindo de repente, um sorriso
quase infantil de alívio e deleite. “Aquilo fez o trabalho, não fez? A cruz. Não a da
igreja, mas uma cruz Cristã, sem dúvida.”
“Muito ant igas, são as cruzes deles, pároco,” disse o Velho George
inesperadamente, f irme e c laro. “Fei tas um longo tempo antes do Cris tianismo. Muito
tempo antes de Cris to.”
O pároco sorriu para ele. “Mas não antes de Deus,” ele disse s implesmente.
Os Antigos Escolhidos olharam para ele. Não havia resposta que não o tivesse
ofendido, então ninguém tentou dar uma. Exceto, após um momento, Will.
“Na verdade não exis te nenhum antes e depois, existe?” ele disse. “Tudo que
importa está fora do Tempo. E vem de lá e para lá pode ir.”
O Sr. Beaumont virou -se para ele surpreso. “Você quer dizer inf inito , é claro , meu
rapaz.”
“Não completamente,” disse o Antigo Escolhido que era Will. “Quero dizer a
parte de todos nós, e de todas as coisas que pensamos e acredi tamos, que não tem nada a
ver com ontem, hoje ou amanhã porque pertence a um tipo de nível diferente. Ontem
ainda es tá lá, naquele nível. Amanhã está lá também. Você pode visi tar ambos. E tod os
os Deuses estão lá, e todas as coisas pelas quais eles sempre lutaram. E,” ele adicionou
com tristeza, “o oposto, também.”
“Will,” disse o pároco, olhando para ele, “Não tenho certeza se você deveria ser
exorcizado ou ordenado. Você e eu devemos ter al gumas longas conversas, muito em
breve.”
“Sim, devemos,” Wil l falou bem -humorado. Ele af ivelou seu cinto, pesado com a
sua preciosa carga. Estava pensando bastante e rapidamente enquanto o fazia, e a
principal imagem diante de sua mente não era das pertur badas hipóteses teo lógicas do Sr.
Beaumont, mas do rosto de Paul. Ele tinha vis to seu i rmão olhando para e le com um t ipo
de medo distante que o atingiu com a dor de uma chicotada. Era mais do que ele podia
agüentar. Os dois mundos dele não deveriam se enco ntrar tão próximos. Ele ergueu a
cabeça, juntando todos os seus poderes, es ticou os dedos de ambas as mãos e apontou
uma das mãos para cada um deles.
“Vocês esquecerão,” ele disse suavemente na Língua Antiga. “Esquecerão.
Esquecerão.” '
“ . . . uma vez em uma igreja em Edinburgo, maravilhoso,” o pároco disse a Paul,
esticando-se para fechar o botão superior de seu sobretudo. “The Sarabande na quinta
suite li teralmente me fez chorar. Ele é o maior violoncelista no mundo, sem dúvida.”
“Oh , sim,” disse Paul. “Oh sim, e le é.” Ele encolheu seus ombros dentro de seu
casaco. “A mamãe foi na f rente, Will? Ei, Sr. Dawson, olá, Fel iz Natal !” E ele acenou e
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cumprimentou os outros, enquanto todos viraram em direção do alpendre da igreja e dos
f locos de neve que caíam.
“Feliz Natal, Paul, Sr. Beaumont,” disse o Fazendeiro Dawson gravemente. “Um
bom serviço, senhor, muito bom.”
“Ah, cumprimentos da temporada, Frank,” disse o pároco. “Uma maravilhosa
temporada também. Nada pode interferir com nossos serviços de Natal, nem mesmo toda
essa neve.” '
Rindo e conversando, eles entraram no mundo branco, onde a neve jazia
amontoada sobre as pedras das tumbas invis íveis e campos brancos estendiam-se até o
congelante Thames. Não havia som em lugar a lgum, nenhum dis túrbio, apenas o
murmúrio ocasional de um carro passando na distante Estrada Bath. O pároco se afastou
para encontrar sua motocicleta. O restante deles seguiram em frente, em um alegre
amontoado, para tomarem seus respectivos caminhos para casa.
Duas gralhas negras es tavam aninhadas sobre o portão telhado enquanto Will e
Paul se aproximavam; elas se ergueram no ar lentamente, meio -saltando, escuras formas
incongruentes contra a neve branca. Uma delas voou perto dos pés de Wil l e largou algo,
emitindo um grasnado depreciativo enquanto passava. Will o pegou; era uma brilhante
noz da f loresta das gralhas, tão f resca como se t ivesse s ido arrancada ontem mesmo. Ele
e James sempre colhiam esse t ipo de noz da f loresta no outono para seus jogos escolares
de conkers*, mas ele nunca t inha visto uma tão grande e arredondada como essa.
“Olha só agora,” disse Paul, surpreso. “Você tem um amigo. Trazendo a você um
presente de Natal extra.”
“Uma oferenda de paz, talvez,” disse Frank Dawson atrás deles sem nenhum traço
de expressão em sua profunda voz de Buckinghamshire. “E mais uma vez, ta lvez não.
Fel iz Natal, rapazes. Aprovei tem seu jantar.” E os Antigos Escolhidos se foram, subindo
a est rada.
Will pegou a noz. “Bem, eu nunca . . .” disse e le. Eles fecharam o portão da igreja,
derrubando uma chuva de neve de suas barras de ferro. Da esquina v ieram os rugidos
abafados de uma motocicleta enquanto o pároco tentava trazer sua montaria de volta à
vida. Então, alguns pés a f rente deles na neve pisoteada, a gralha desceu novamente. Ela
andou para trás e para f rente irresolutamente e olhou para Will.
“Caark,” ela disse, mui to gent ilmente, para uma gralha. “Caaark, caark, caark.”
Então ela caminhou alguns passos em frente até a cerca do terreno da igreja, saltou de
novo para dentro do terreno, e and ou de volta alguns passos como antes. Dif icilmente o
convite poderia ter s ido mais óbvio. “Caark,” disse a gralha novamente, mais alto . Os
ouvidos de um Antigo Escolhido sabiam que aves não falam com a precisão das palavras;
ao invés disso elas comunicam emoção. Há muitos tipos e graus de emoção, e há mui tos
tipos de expressão mesmo na linguagem de uma ave. Mas apesar disso Wil l poderia dizer
que a gralha estava obviamente pedindo a ele para i r olhar alguma coisa, ele não podia
dizer se a ave es tava sendo usada pelo Escuro ou não.
Ele fez uma pausa, pensando no que as gralhas t inham feito; então ele mexeu a
brilhante noz marrom em sua mão. “Tudo bem, ave,” ele disse. “Uma olhada rápida.”
Ele voltou através do portão, e a gralha, chiando como uma velha por ta
balançando, caminhou desajeitada na f rente dele subindo pelo caminho até a igreja e
dobrando a esquina. Paul observou, sorrindo. Então de repente ele viu Will f icar rígido
quando chegou na esquina; desaparecer por um momento, e então reaparecer.
* Conkers é o nome de um jogo no qual crianças usam as nozes de uma árvore chamada horse-chestnut(aesculus).
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"Paul! Venha depressa! Tem um homem na neve!”
Paul chamou o pároco, que t inha começado a empurrar sua moto subindo a est rada
para dar a part ida nela de lá, e juntos eles vieram correndo. Will estava curvado sobre
uma f igura encolhida, caída no ângulo entre a pa rede da igreja e a to rre; não havia
movimento algum, e a neve já tinha coberto as roupas do homem com cerca de meia
polegada de espessura com seus f locos suaves e f rios. O Sr. Beaumont afastou Will para
o lado gentilmente e se ajoelhou, vi rando a cabeça do homem e procurando senti r seu
pulso.
“Ele está vivo, graças a Deus, mas muito f rio . O pulso não está muito bom. Ele
deve ter estado aqui tempo o bastante para a maioria dos homens morrer de exposição . . .
o lhem para a neve! Vamos levá - lo para dentro.”
“Na igreja?”
“Bem, é claro.”
“Vamos levá- lo para nossa casa,” disse Paul impulsivamente. “É logo dobrando a
esquina, af inal de contas. É quente, e muito melhor, pelo menos até que uma ambulância
ou algo ass im possa vir.”
“Uma idéia maravilhosa,” disse o Sr . Beaumont calorosamente. “Sua boa mãe é
uma Samaritana, eu sei. Até que o Dr. Armstrong possa ser chamado.. . certamente não
podemos deixar o pobre sujeito aqui . Não acho que tenha osso quebrado. Problema no
coração, provavelmente.” Ele enf iou suas pesadas luvas sob a cabeça do homem para
evitar seu contato com a neve, e Will viu o rosto pela primeira vez.
Ele disse assustado, “É o Andarilho!”
Eles vi raram para ele. “Quem?”
“Um velho mendigo que perambula por aí. . . Paul, não podemos levá - lo para casa.
Não podemos levá-lo para o consul tór io do Dr. Armstrong?”
“No meio disso?” Paul balançou uma das mãos para o céu que escurecia; a neve
girava ao redor deles, mais espessa novamente, e o vento es tava mais forte.
“Mas não podemos levá -lo conosco! Não o Andar ilho. Ele vai t razer de volta o . . .”
Ele parou de repente, no meio de um ganido. “Oh,” ele falou desanimado. “É claro, vocês
não conseguem lembrar, conseguem?”
“Não se preocupe, Wil l, sua mãe não vai se importar . Um pobre homem no
extremo.. .”. O Sr. Beaumo nt agora es tava com pressa. Ele e Paul carregaram o Andarilho
até o portão, como um amontoado de roupas velhas. Ele f inalmente conseguiu dar partida
na motocicleta, e eles colocaram a forma inerte nela de algum jeito; então meio
dirigindo, meio empurrando, o estranho pequeno grupo seguiu seu caminho até a casa dos
Stantons.
Will olhou para trás uma ou duas vezes, mas a gralha não podia ser vista em lugar
algum.
“Bem, bem,” disse Max fastidioso, enquanto descia à sala de jantar. “Agora eu
realmente encontrei um homem velho sujo.”
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“Ele fedia,” disse Bárbara.
“Você diz isso a mim. Papai e eu demos um banho nele. Meu Deus, você dever ia
ter visto e le. Bem, não, não deveria ter vis to. Coloque o seu jantar de Natal. De qualquer
modo, agora ele está tão l impo quanto um bebê recém nascido. Papai até lavou seu
cabelo e sua barba. E Mamãe queimou suas horríveis roupas velhas, quando teve cer teza
de que não tinha nada val ioso nelas.”
“Sem muito perigo disso, eu diria ,” disse Gwen, em seu caminho vindo da
cozinha. “Aqui, mexa seu braço, esse prato está quente.”
“Deveríamos trancar toda a prata,” falou James.
“Que prata?” disse Mary murchando.
“Bem, as jóias da Mamãe então. E os presentes de Natal. Mendigos sempre roubam
coisas.”
“Esse não vai roubar muito por a lgu m tempo,” disse o Sr. Stanton, indo para seu
lugar na cabeceira da mesa com uma garrafa de vinho e um saca -rolha. “Ele es tá doente.
E dormindo profundamente agora, roncando como um camelo.”
“Você já ouviu um camelo roncar?” disse Mary.
“Sim,” disse o pai dela. “E montei um. Não importa. Quando o doutor virá, Max?
É uma pena interromper o jantar dele, pobre homem.”
“Não interrompemos,” disse Max. “Ele está fora cuidando de um bebê, e eles não
sabem quando ele estará de volta. A mulher es tava esperando gêm eos.”'
“Oh, Deus.”
“Bem, o velho rapaz deve estar bem se está dormindo. Só precisa descansar, eu
espero. Embora eu deva dizer que ele pareceu um pouco delirante, com toda aquela
conversa est ranha que soltou.”
Gwen e Bárbara trouxeram mais pratos de vege tais. Na cozinha a mãe deles estava
fazendo barulhos impressionantes com o forno. “Que conversa es tranha?” disse Wil l.
“Sabe Deus,” disse Robin. “Foi quando o levantamos pela primeira vez. Pareceu
uma linguagem desconhecida ao ouvido humano. Talvez ele ve nha de Marte.”
“Eu só gostar ia que viesse,” disse Will. “Então poderíamos mandá - lo de volta.”
Mas um gr ito de aprovação tinha surgido de sua mãe, curvada sobre o lust roso
peru marrom, e ninguém o escutou. Eles ligaram o rádio na cozinha enquanto estavam se
lavando.
“Neve pesada está caindo novamente sobre o Sul e Oeste da Inglaterra,” disse a
voz impessoal. “A tempestade que esteve castigando por doze horas o Mar do Norte
ainda es tá imobilizando toda a navegação nas costas ao Sudoeste. As docas de Londr es
fecharam essa manhã, devido às quedas de força e dif iculdades de transporte causadas
pela neve pesada e temperaturas se aproximando a zero. Montes de neve bloqueando
estradas isolaram vilarejos em muitas áreas remotas, e a Bri tish Rail* es tá enfrentando
numerosas falhas elé tricas e pequenos descarri lamentos causados pela neve. Um porta -
* British Rail: foi uma companhia ferroviária controlada pelo Estado Grã-Bretanha criada a 1 de Janeiro de 1948 resultante da fusão
dos "quatro grandes": LNER, LMS, GWR e SR.
97
voz disse essa manhã que o público está aconselhado a não viajar de trem exceto em
casos de emergência.”
Houve um som apressado de papel. A voz continuou: “Não é esperado que as
estranhas tempestades que têm cast igado intermitentemente o Sul da Inglaterra nos
últimos dias diminuam até depois do feriado de Natal, o Departamento Metereológico
disse essa manhã. A falta de combust ível tem piorado no Sudoeste, e tem sido solici tado
às pessoas em casas que não usem qualquer forma de aquecimento elétrico entre os
horários de nove da manhã e meio -dia , ou três e seis da tarde.”
“Pobre velho Max,” disse Gwen. “Sem trens. Talvez ele possa pedir carona.”
“Escutem, escutem!”
“Um porta-voz da Associação de Automóveis disse hoje que viajar pelas estradas
no momento era extremamente não recomendado em todas as estradas exceto nas auto -
estradas principais. Ele adicionou que motoristas presos em fortes tempestades de neve
deveriam, se possível, permanecer com seus veículos até que a neve pare. A não ser que
um motorista tenha certeza de sua localização e saiba que pode obter ajuda dentro de dez
minutos, o porta-voz disse, e le não dever ia de forma alguma deixar seu carro.”'
A voz continuou, entre exclamações e chiados, mas Will se afas tou; ele tinha
ouvido o bastante. Essas tempestades não poderiam ser eliminadas pelos Antigos
Escolhidos sem o poder de todo o círculo dos Signos , e ao enviar as tempestades, o
Escuro esperava impedi -lo de completar o círculo. Ele estava encurralado; o Escuro
estava espalhando sua sombra não apenas sobre sua busca mas sobre o mundo comum
também. A parti r do momento em que o Cavalei ro tinha invadido seu aconchegante Natal
naquela manhã, Will t inha observado os pe rigos crescerem; mas ele não tinha antecipado
esta ameaça tão ampla. Por dias agora, ele esteve muito envolvido em seus próprios
perigos para notar aqueles do mundo do lado de fora. Mas agora tantas pessoas estavam
ameaçadas pela neve e pelo f rio: os muito jovens, os muito velhos, os f racos, os
doentes. . . O Andari lho não terá um doutor essa noite, isso é certo, ele pensou. Ainda
bem que ele não es tá morrendo. . .
O Andarilho. Porque ele es tava aqui? Tinha que ter algum signif icado por trás
disso. Talvez ele estivesse apenas vagando por suas próprias razões, e tivesse sido
derrubado pelo ataque do Escuro na igreja. Mas se foi assim, porque ter ia a gralha, uma
agente do Escuro, trazido Will para salvá - lo de congelar a té a morte? Quem era o
Andarilho, af inal de contas? Porque poderiam todos os poderes do Gramarye não dizerem
completamente nada sobre o velho homem?
Havia coros natalinos no rádio novamente. Will pensou amargamente: Fel iz Natal,
mundo.
Seu pai, ao passar, bateu - lhe nas costas. “Anime -se, Will. Isso deve parar essa
noite, você estará descendo no tobogã amanhã. Vamos lá, hora de abr ir o resto dos
presentes. Se deixarmos Mary esperando mais tempo ela explodirá.”
Will foi juntar -se à sua alegre e barulhenta família. De volta para a brilhante e
aconchegante caverna da comprida sala com o fogo e a árvore cint ilante, era o intocável
Natal por um momento, do jeitinho que sempre tinha sido. E sua mãe, pai e Max tinham
se unido para dar a e le uma nova bicicleta, com guidão de corrida e onze catracas de
velocidades.
Will nunca esteve completamente certo se o que tinha acontecido naquela noite foi
um sonho.
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Na parte mais escura da noite, nas pequenas horas f rias que são as primeiras do
dia seguinte, ele acordou, e Merriman estava al i . Ele estava parado altivo ao lado da
cama em uma luz f raca que parecia vir de dentro de sua própria forma; sua face estava
sombreada, inescrutável.
“Acorde, Will. Acorde. Há uma cerimônia que devemos atender.”
Em um instante Will estava de pé; ele descobriu que estava completame nte
vestido, com os Signos no cinto ao redor de sua cintura. Foi até a janela com Merriman.
Ela estava cheia de neve até a metade de sua altura, e os f locos ainda estavam caindo
calmamente. Ele falou, repent inamente desolado, “Não há nada que possamos faze r para
parar isso? Eles estão congelando metade do país, Merriman; pessoas morrerão.”
Merriman balançou sua cabeça de juba branca lentamente, pesadamente. “O
Escuro tem seu poder mais forte de toda a ascensão entre agora e o décimo segundo dia.
Essa é a preparação deles. A deles é uma força f ria, o inverno a al imenta. Eles a lmejam
quebrar o Círculo para sempre, antes que seja tarde demais para eles. Todos deveremos
encarar um duro teste em breve. Mas nem todas as coisas ocorrem de acordo com a
vontade deles. Muita magia ainda f lui intocad a, pelos Caminhos dos Antigos Escolhidos.
E deveremos encontrar mais esperança em um momento. Venha.”
A janela em frente a e les se abriu, para fora, dispersando toda a neve. Um fraco
caminho luminoso como uma larga faixa j azia em frente, es tendendo -se dentro do ar
manchado de neve; olhando para baixo, Will podia ver através dele, ver os contornos dos
telhados cobertos de neve, cercas e árvores abaixo. Ainda assim o caminho também era
substancial. Com um passo largo Merriman tinha alcançado ele através da janela e es tava
se afastando em grande velocidade com um sobrenatural movimento deslizante,
desaparecendo dentro da noite. Will saltou atrás dele, e o est ranho caminho também o
levou at ravés da noite, com nenhuma sensação de velocidade ou f rio . A noite ao redor
dele estava negra e espessa; nada podia ser visto exceto o reluzir do tênue caminho dos
Antigos Escolhidos. E então de repente eles estavam em alguma bolha do Tempo,
f lutuando, balançando no vento como Will t inha apren dido com sua águia do Livro de
Gramarye.
“Observe .” disse Merr iman, e sua capa enrolou -se ao redor de Will como que em
proteção.
Will viu o céu escuro, ou em sua própria mente, um grupo de grandes árvores, sem
folhas, erguendo-se sobre uma sebe sem folhas, gelada mas sem neve. Ele escutou uma
estranha, leve música, um eco alto acompanhado de uma pequena batida constante de um
tambor, tocando de novo e de novo uma simples melodia melancólica. Saindo do escuro
profundo e entrando no fantasmagórico jardim de árvores uma procissão surgiu.
Era uma procissão de rapazes, com roupas de algum tempo distante no passado,
túnicas e calças rústicas; eles tinham cabelos até os ombros e gorros semelhantes a sacos
de uma forma que ele jamais t inha visto antes. Eles eram mais velhos do que ele: com
cerca de quinze, e le achava. Eles t inham a expressão meio solene de jogadores em um
jogo de charadas, mesclando um sér io objetivo com efervescente senso de alegria. Na
frente vieram rapazes com cajados e fardos de ramos; atrás v inham os tocadores de f lauta
e tambor. Entre esses, seis rapazes carregavam um t ipo de plataforma fei ta de juncos e
galhos unidos por trançado, com um punhado de azevinho em cada canto. Era como uma
lite ira, pensou Wil l, exceto que eles a es tavam segurando na altura do ombro. A
princípio ele pensou que não era mais do que isso, e vazia; então ele viu que ela
carregava algo. Algo muito pequeno. Sobre uma almofada de folhas de hera no centro da
99
plataforma trançada estava o corpo de uma pequena ave: uma ave ma rrom, de bico curto.
Era uma Carr iça.
A voz de Merriman disse suavemente sobre a sua cabeça, saída das trevas: “É a
caça da Carriça, realizada todo ano desde que o homem consegue lembrar, no solstíc io.
Mas esse é um ano em particular, e devemos ver mais, se tudo estiver bem. Tenha
esperança em seu coração, Will, que possamos ver mais.”
E enquanto os rapazes e sua música tris te se moviam através das árvores e ainda
ass im não pareciam passar, Wil l viu perdendo seu fôlego que ao invés do pequeno
pássaro, est ava crescendo o turvo contorno de uma forma diferente sobre a plataforma. A
mão de Merriman agarrou seu ombro como um torno de aço, ainda que o grande homem
não emit isse nenhum som. Deitad a na cama de hera entre os quatro maços de azevinho
agora não estava mais um pequeno pássaro, mas uma pequena mulher de ossos f inos,
muito velha, del icada como uma ave, vestida em azul. As mãos es tavam dobradas sobre o
peito , e em um dedo brilhava um anel com uma grande pedra cor de rosa. No mesmo
instante Wil l viu o rosto , e soube que era a Senhora. Ele gritou de dor, “Mas você disse
que ela não estava morta!”
“Não está mais,” disse Merriman.
Os rapazes caminharam com sua música, a plataforma com a forma s i lenciosa
deitada al i se aproximou, e então afastou -se, desaparecendo com a procissão dentro da
noite, e a ecoante melodia triste e as batidas de tambor diminuíram atrás dela. Mas bem
no f inalzinho do desaparecimento, os três rapazes que estiveram tocando f izeram uma
pausa, abaixaram seus instrumentos, e vi raram para f ic ar olhando sem expressão para
Will.
Um deles disse: “Will Stanton, cuidado com a neve!”
O segundo disse: “A Senhora retornará, mas o Escuro está se erguendo.”
O terceiro, em um rápido tom de canção, cantou algo que Will reconheceu tão
logo começou:
“When the Dark comes rising, six shall turn it back;
Three from the circle, three from the track.
Wood, bronze, iron; water, f i re, stone;
Five wi ll return, and one go alone.”
Mas o rapaz não terminou ali , como Merriman tinha feito . Ele continuou…
“Iron for the birthday, bronze carried long;
Wood from the burning, stone out of song;
Fire in the candle-ring, water from the thaw;
Six signs the circle, and the grail gone before.”
Então um vento forte surgiu do nada, e em uma lufada de f locos de neve e
escuridão os rapazes haviam sumido, girando para longe, e Will também sentiu que
estava girando para trás, de volta at ravés do Tempo, de volta pelo br ilhante caminho dos
Antigos Escolhidos. A neve bateu em seu rosto. A noite estava em seus olhos, cegante.
Fora da escur idão ele ouviu Merriman chamando por ele, com urgência, mas com uma
nova esperança e ressonância em sua voz profunda: “O perigo se ergue com a neve, Wil l .
Seja cuidadoso com a neve. Siga os Signos, tenha cuidado com a neve. . .”
100
E Will estava de volta ao seu quar to, de volta em sua cama, caindo no sono com
aquela f rase ameaçadora ressoando em sua cabeça como o repicar do mais profundo sino
da igreja sobre a neve que se acumulava. “Tenha cuidado. . . tenha cuidado. . .”
101
arte Três: O Teste
chegada do Frio
No dia seguinte a neve ainda caía, o dia todo. E no dia seguinte também.
“Realmente queria que isso parasse,” disse Mary infel iz, olhando as cegas janelas
brancas. “É horrível o modo como isso simplesmente continua e cont inua . Eu odeio
isso.”
“Não seja es túpida ,” falou James. “É apenas uma tempestade muito longa. Não
precisa f icar histérica.”
“Essa é diferente. É assustadora.”
“Tolice. É apenas um monte de neve.”
“Ninguém nuca viu tanta neve antes. Olhem como ela está alta – você não poderia
sair pela porta de trás se não es tivéssemos ret irando ela desde que começou a cai r.
Seremos enterrados, é isso mesmo. Está nos espremendo – já quebrou até uma janela na
cozinha, sabiam disso?”
Will disse rapidamente, “O quê?”
“A pequena janela nos fundos, pe rto do fogão. Gwennie desceu essa manhã e a
cozinha estava f ria como gelo, com neve e pedaços de vidro naquele canto. A neve
empurrou a janela para dentro, o peso dela.”
James suspirou bem alto . “O peso não está aper tando. A neve é a tirada pelo vento
dire to naquele lado da casa, isso é tudo.”
“Não me importo com o que você diz, isso é horrível. Como se a neve estivesse
tentando entrar. ” Ela pareceu estar perto das lágr imas.
“Vamos ver se o An.. . o velho mendigo já acordou,” disse Wil l. Era hora de parar
Mary antes que ela chegasse per to demais da verdade. Quantas outras pessoas no país
estariam f icando assustadas desse je i to por causa da neve? Ele pensou furiosamente no
Escuro, e desejou saber o que fazer.
O Andarilho tinha dormido através do dia anter io r, dif icilmente se mexendo
exceto por ocasionais resmungos sem sentido, e uma ou duas vezes um pequeno gr ito
rouco. Will e Mary subiram até o quarto dele agora carregando uma bandeja, com cereal,
torrada, leite e marmelada. “Bom dia!” disse Will al to e cla ro assim que eles entraram.
“Você gostaria de um café da manhã?”
O Andarilho abriu um olho levemente e olhou para eles at ravés de seu cabelo
cinza desgrenhado, mais longo e rebelde do que nunca agora que estava limpo. Will
segurou a bandeja em direção a e le.
“Bah!” o Andari lho resmungou. Foi um barulho como o de cuspir. Mary disse,
“Bem!”
102
“Você quer alguma outra coisa ao invés disso, então?” falou Wil l. “Ou
simplesmente não está com fome?”
“Mel,” o Andarilho disse.
“Mel?”
“Mel e pão. Mel e pão. Mel e . . .”
“Tudo bem,” disse Will. Eles levaram a bandeja embora.
“Ele nem ao menos disse por favor,” falou Mary. “Ele é um velho desagradável.
Não vou mais chegar perto dele.”
“Fique à vontade,” disse Will. Deixado o sozinho, ele encontrou uma jarra de mel
no fundo da despensa, um tanto cris talina nas bordas, e o espalhou generosamente em
três pedaços de pão. Ele os levou, junto com um copo de leite, para o Andarilho que
sentou na cama com voracidade e engoliu tudo. Quando estava comendo, ele não era uma
visão agradável.
“Bom,” disse ele. Tentou t irar um pouco de mel de sua barba e lambeu a costa de
sua mão, olhando para Will. “Ainda nevando? Ainda caindo, não está?”
“O que você es tava fazendo lá fora na neve?”
“Nada,” o Andarilho falou de repente. “Não lemb ro.” Seus olhos se est reitaram
astutamente, e ele apontou para sua testa e disse em um tris te choramingo, “Bati minha
cabeça.”
“Você lembra onde nós o encontramos?”
“Não.”
“Você lembra quem eu sou?”
Muito prontamente ele balançou sua cabeça. “Não.”
Wi l l falou de novo suavemente, dessa vez na Língua Antiga, “Você lembra quem
eu sou?”
O rosto desgrenhado do Andarilho es tava inexpressivo. Will começou a achar que
talvez ele realmente t ivesse perdido sua memória. Curvou-se sobre a cama para pegar a
bandeja com seu prato e copo vazios, e subitamente o Andarilho soltou um grito agudo e
se afas tou dele, encolhendo -se no lado mais distante da cama. “Não!” ele guinchou.
“Não! Vá embora! Leve eles para longe!”
Com olhos arregalados e aterrorizados, estava olhan do para Will com repugnância.
Por um momento Wil l f icou confuso; então percebeu que seu suéter t inha levantado
quando esticou seu braço, e o Andarilho tinha visto os quatro Signos em seu cinto.
“Leve -os para longe!” o homem velho rugiu. “Eles queimam! Afa ste-os!”
Um pouco demais para memória perdida, pensou Wil l. Ele ouviu pés af litos
subindo as escadas, e saiu do quarto. Porque o Andarilho f icar ia assustado com os
Grandes Signos, quando ele mesmo tinha carregado um deles por tanto tempo?
103
Seus pais estavam sér ios. As notícias no rádio f icavam piores e piores enquanto o
f rio tomava conta do país e uma rest rição seguia outra. Em todos os regist ros de
temperatura a Inglaterra nunca tinha f icado tão f ria; rios que nunca tinham congelado
antes es tavam tão sólidos quanto gelo , e cada porto em toda a costa es tava congelado. As
pessoas podiam fazer pouco mais do que esperar que a neve parasse; mas a neve
continuava caindo.
Eles levam uma inquieta vida enclausurada – “como homens da caverna no
inverno”, disse o Sr . Stanton – e foi para cama cedo para economizar o fogo e
combustível. O Dia do Ano Novo veio e passou e mal foi notado.
O Andarilho deitou na cama atormentado, resmungando e se recusou a comer
qualquer coisa a não ser pão e leite, que agora era leite enl atado, diluído em água. A Sra.
Stanton disse gentilmente que ele estava recuperando suas forças, pobre homem. Will
f icou longe. Ele estava f icando cada vez mais desesperado enquanto o f rio apertava e a
neve cont inuava descendo e descendo; ele sentiu que se não saísse logo da casa
descobriria que o Escuro o tinha enclausurado para sempre. No f inal, a sua mãe lhe deu
uma saída. Ela f icou sem farinha, açúcar, e le ite enlatado.
“Sei que ninguém deveria sair da casa exceto em uma emergência,” ela disse
ansiosamente, “mas essa realmente conta como uma. Realmente precisamos de coisas
para comer.”
Os rapazes levaram duas horas para abrir um caminho at ravés da neve no seu
próprio jardim até a es trada, onde uma espécie de túnel sem telhado, da largura de uma
raspadora de neve, tinha sido mantido limpo. O Sr. Stanton tinha anunciado que apenas
ele e Robin deveriam ir até o vilarejo, mas durante as duas horas Wil l, ofegando e
cavando, implorou por permissão para ir também, e no f inal a res istência de seu pai
estava tão enfraquecida que ele concordou.
Eles usavam cachecóis sobre os ouvidos, pesadas luvas, e t rês suéteres cada um
sob seus casacos. Eles pegaram uma tocha. Era no mei o da manhã, mas a neve es tava
caindo tão inexoravelmente como nunca, e ninguém sabia quando eles podiam voltar para
casa. Do corte íngreme na estrada do vilarejo, pequenos caminhos irregulares t inham
sido pisoteados e feitos para as poucas lojas e a maioria das casas centrais; eles podiam
ver pelas pegadas que alguém tinha trazido cavalos vindo da Fazenda Dawsons para
ajudar a cavar um caminho até as casas de pessoas como a Sr ta. Bell e a Sra. Horniman,
que nunca poderiam ter feito isso para elas mesmas. Na loja do vilarejo, O pequenino cão
da Sra. Pettigrew estava enrolado em um contraído amont oado cinza em um canto,
parecendo mais f raco e infeliz do que nunca; o f ilho gordo da Sra. Pettigrew, Fred, que
ajudou a tocar a loja, t inha deslocado seu pulso ao cair na neve e t inha um braço em uma
tipóia, e a Sra. Pettigrew estava em um estado. Ela tre mia e se agitava de nervosismo,
derrubava coisas, procurava por açúcar e farinha sempre nos lugares errados e não
encontrava nenhum deles, e no f inal sentava de repente em uma cadeira, como uma
marionete solta de seus f ios, e explodia em lágrimas.
“Oh,” e la soluçava, “Sinto mui to, Sr. Stanton, é essa neve terrível. Estou tão
assustada, não sei. . . Tenho esses sonhos de que nós f icávamos isolados, e ninguém sabia
onde estávamos. . .”
“Nós já es tamos isolados,” disse o seu f ilho lugubremente . “Nem um carro passou
pelo vilarejo por uma semana. E nenhum suprimento, e todos es tão fugindo . Não há
manteiga, e nem mesmo nenhum leite em lata. E a farinha não vai durar muito; só tem
mais cinco sacos depois desse aqui.”
104
“E ninguém com um pouco de gasolina,” a Sra. Pet t igrew fungou. “E o pobre bebê
Randall doente com febre, a pobre Sra. Randall sem um pedaço de carvão, e só Deus sabe
quantos mais . . .”
A campainha da loja soou quando a porta se abriu, e no hábito automático do
vilarejo, todos se viraram para ver quem tinh a entrado. Um homem muito alto em um
volumoso sobretudo negro, quase uma capa, estava tirando seu largo chapéu de brim
para mostrar um tufo de cabelos brancos; olhos profundos olharam para eles sobre um
feroz nariz em forma de gancho.
“Boa tarde,” disse Merriman.
“Alô,” disse Will, sorr indo, seu mundo iluminou -se de repente.
“Tarde,” disse a Sra. Pettigrew, e sobrou forte seu nariz. Ela disse, abafada pelo
lenço, “Sr. Stanton, você conhece o Sr. Lyon? Ele está na Mansão.”
“Como vai?” disse o pai de Wil l .
“Mordomo da Srta. Greythorne,” disse Merriman, incl inando sua cabeça
respei tosamente. “Até que o Sr. Bates volte do feriado. Isso quer dizer, quando a neve
parar. No momento, é claro, não posso sair, e Bates não pode entrar.”
“Isso nunca vai parar,” l amentou a Sra. Pet tigrew, e e la caiu em lágr imas
novamente.
“Oh, Mamãe,” disse o gordo Fred com desgosto.
“Tenho algumas novidades para você, Sra. Pet tigrew,” disse Merriman em altos
tons suavizadores. “Ouvimos um anúncio na rádio local – nosso telefone está morto, é
claro, como o seu. Haverá o lançamento de combustível e comida no terreno da Mansão,
como o lugar mais facilmente visível do ar nessa neve. E a Srta. Greythorne es tá
perguntando se todos no vilarejo não gostar iam de se mudar para a Mansão, ne ssa
emergência. Será um pouco lotada, é claro, mas quente. E confortadora, talvez. E o Dr.
Armstrong estará lá – ele já está a caminho, eu acredito.”
“Isso é ambicioso,” Sr. Stanton disse ref lexivamente. “Quase feudal, você poderia
dizer.”
Os olhos de Merr iman estreitaram-se levemente. “Mas sem nenhuma intenção
desse tipo.”
“Oh, não, eu sei disso.” As lágrimas da Sra. Pettigrew pararam. “Que idéia
adorável, Sr. Lyon! Oh quer ido, seria um grande alívio estar com outras pessoas,
especialmente à noite.”
“Eu sou outra pessoa,” disse Fred.
“Sim, quer ido, mas. . .”
Fred disse impassível, “Vou pegar a lguns cobertores. E embrulhar algumas coisas
da loja.”
“Isso seria sábio,” disse Merriman. “O rádio diz que a tempestade f icará muito
pior mais esta noite. Então quanto mais cedo todos puderem se reunir, melhor.”
105
“Você gostar ia de alguma ajuda para dizer às pessoas?” Robin começou erguendo
seu colarinho novamente.
“Excelente. Isso ser ia excelente.”
“Todos ajudaremos,” disse o Sr. Stanton.
Will t inha virado para olhar pela janela com a menção da tempestade, mas a neve
descendo do sólido céu cinzento parecia tanto quanto antes. As janelas es tavam tão
embaçadas que era dif ícil ver o lado de fora através delas, mas ele pegou um relance de
algo se movendo do lado de fora. Havia a lguém lá na estrada nevada que cortava at ravés
de Huntercombe Lane. Ele viu claramente só por um segundo, quando a f igura passou
pelo f inal do caminho so ou como Pettigrews, mas um segundo foi tudo que ele precisou
para reconhecer o homem sentado ereto no grande cavalo negro.
“O Cavaleiro passou!” ele disse rápida e claramente na Língua Antiga.
A cabeça de Merriman se inclinou; então ele se recompôs e colocou o chapéu em
sua cabeça ostentosamente. “Ficarei muito agradecido em ter assistência. ”
“O que você disse, Will?” Robin, distraído, estava olhando para seu i rmão.
“Oh, nada.” Will foi até a porta, fazendo uma tremenda algazarra ao abotoar seu
casaco. “Só pensei ter visto alguém.” '
“Mas você disse algo em alguma linguagem engraçada.”
“É claro que não. Eu só disse "Quem é aquele lá fora?" Só que não era mesmo
ninguém.”
Robin ainda estava olhando para ele. “Você falou parecido com aquele velho
mendigo, quando ele estava murmurando no momento em que o colocamos na cama.. .”
Mas ele não costumava gastar tempo em conjecturas; ele balançou sua cabeça prática e
largou o comentário. “Oh, bem.”
Merriman procurou caminhar perto atrás de Will, enquanto es tavam saindo dos
Pettigrews para se espalhar e avisar o resto dos moradores do vilarejo. Ele fal ou
suavemente na Língua Antiga, “Leve o Andarilho para a Mansão se puder . Depressa. Ou
ele o impedirá de sair. Mas você deverá ter um pouco de problema com o orgulho de seu
pai.”
Na hora em que os Stantons chegaram em casa, depois de sua esforçada viagem no
vilarejo, Will quase tinha esquecido o que Merriman falou sobre o seu pai. Ele estava
ocupado demais tentando imaginar um meio com o qual eles pudessem levar o Andari lho
até a Mansão sem ter que carregá -lo. Ele só lembrou quando ouviu o Sr. Stanton fala ndo
na cozinha, enquanto eles ti ravam seus casacos e entregavam seus suprimentos.
“. . .a velha garota fez mui to bem, ter todo mundo lá dentro. É claro que eles têm o
espaço, e o fogo, e aquelas paredes antigas são tão espessas que elas mantêm o f rio do
lado de fora melhor do que as de ninguém. É a melhor coisa para as pessoas das casas
pequenas – a pobre Srta. Bell não teria durado tanto tempo.. . Ainda assim, é claro, nós
estamos muito bem aqui. Independentes. Não há motivo para se juntar à multidão na
Mansão.”
“Oh, Pai,” disse Will impuls ivamente, “não acha que devemos ir também?”
106
“Eu acho que não,” disse o seu pai, com a preguiçosa confiança que Will sabia
que ser ia mais dif ícil de quebrar do que qualquer fervor.
“Mas o Sr. Lyon disse que o per igo aumen taria mais tarde, porque a tempestade
está f icando pior.”
“Acho que posso fazer meu próprio julgamento do tempo, Will, sem a ajuda do
mordomo da Srta. Greythorne,” disse o Sr. Stanton de modo afável.
“Oh, uau,” disse Max com alegre modo rude. “Seu velho arrogante, escute só
você.”
“Vamos lá, não é o que eu queria dizer.” Seu pai jogou nele um cachecol molhado.
“Sem querer esnobar, muito pelo contrário. Eu simplesmente não vejo qualquer boa razão
para que nosso grupo saia para fazer par te da generosidade da Senhora da Mansão.
Estamos perfeitamente bem aqui.”
“Está certo,” disse a Sra. Stanton vivamente. “Agora fora da cozinha, todos vocês.
Quero fazer um pouco de pão.”
A única esperança, Wil l decidiu, era o próprio Andarilho. Ele escapuliu e subiu as
escadas até o pequeno quarto onde o Andarilho jazia na cama. “Quero falar com você.”
O homem velho virou sua cabeça no travesseiro. “Tudo bem,” ele disse. Ele
parecia mudo e infeliz. De repente Will sentiu muito por dele.
“Você está melhor?” ele disse. “Que ro dizer, você es tá doente de verdade agora,
ou você apenas está sentindo -se f raco?”
“Não estou doente,” o Andarilho falou indiferente. “Não mais do que de costume.”
“Você consegue andar?”
“Você quer me jogar lá fora na neve, é isso?”
“Claro que não,” disse Will. “Mamãe nunca deixar ia você sai r nesse tempo, e nem
eu, não que eu tenha muito a dizer quanto a isso. Eu sou o mais jovem nessa família,
você sabe disso.”
“Você é um Antigo Escolhido,” disse o Andarilho, olhando para ele com aversão.
“Bem, isso é diferente.”
“Não é diferente. Apenas signif ica que não há sentido em falar sobre você mesmo
para mim como se fosse apenas uma pequena criança em uma família. Eu sei muito bem.”
Will falou, “Você foi guardião de um dos Grandes Signos – Não vejo porque você
deveria parecer nos odiar.”
“Eu f iz o que eu fui feito para fazer,” o homem velho disse. “Você me pegou. . .
você me acolheu. . .” Sua tes ta se f ranziu, como se ele estivesse a lembrar de algo de um
longo tempo atrás; então ele f icou vago novamente. “Fu i feito para isso.”
“Bem, olha, não quero obriga - lo a fazer nada, mas tem uma coisa que todos nós
temos que fazer. A neve es tá f icando tão forte que todos no vilarejo estão indo para a
Mansão, como um tipo de albergue, porque será mais seguro e mais quent e.” Enquanto
107
falava ele sentiu como se o Andarilho já soubesse o que ele i ria d izer, mas era
impossível entrar na mente do homem velho; sempre que ele tentava, f icava se
debatendo, como se tivesse entrado no estofamento de uma almofada.
“O doutor estará l á também,” ele disse. “Então se você f izer todos acharem que
você precisava estar em outro lugar com um médico, todos poderíamos ir para a
Mansão.”
“Quer dizer que de outro modo vocês não i rão?” O Andarilho olhou para ele de
modo suspeito .
“Meu pai não vai deixar. Mas temos que ir, é mais seguro. . .”
“Eu também não irei,” disse o Andarilho. Ele vi rou sua cabeça. “Vá embora.
Deixe-me.”
Will falou suavemente, adver tindo -o, na Língua Antiga, “O Escuro virá buscar
você.”
Houve uma pausa. Então mui to lentame nte o Andarilho vi rou sua cabeça cinza
desgrenhada de volta, e Will recuou de horror quando viu o rosto. Por apenas um
momento, sua histór ia estava nua sobre ele. Havia profundidades sem fundo de dor e
terror nos olhos, as linhas de negra experiência estav am marcadas claras e terr íveis ; esse
homem tinha conhecido em algum lugar uma ameaça aterrorizante e angústia tamanha
que nada poderia realmente tocá -lo novamente. Seus olhos estavam bem abertos pela
primeira vez, arregalados, com seu conhecimento do horro r transparecendo.
O Andarilho disse de modo vazio, “O Escuro já veio me buscar.”
Will deu uma respirada profunda. “Mas agora o círculo da Luz surge,” ele disse.
Tirou o cinto com os Signos e o segurou diante do Andarilho. O homem velho se afastou,
contorcendo seu rosto, choramingando como um animal assustado; Wil l se sentiu doente,
mas não havia como evitar isso. Ele levou os Signos mais e mais perto do velho rosto
contorcido, até que, como um pedaço de f io se partindo, o auto -controle do Andarilho se
rompeu. Ele guinchou e começou a balbuciar e se agi tar, gr itando por socorro. Will
correu para fora e chamou seu pai, e metade da família veio correndo.
“Acho que ele está tendo algum tipo de ataque. Terr ível. Não deveríamos levá -lo
para o Dr. Armstrong na Mansão, Pai?”
O Sr. Stanton falou cheio de dúvida, “Poderíamos chamar o doutor aqui, talvez.”
“Mas ele poderia estar mui to melhor lá,” disse a Sra. Stanton, olhando para o
Andarilho preocupada. “O homem velho, quero dizer. Com o doutor observando -o – e
mais conforto e comida. Realmente, i sso é alarmante, Roger. Não sei o que fazer por ele
aqui.”
O pai de Will desist iu. Eles deixaram o Andarilho ainda tossindo e delirando, com
Max perto no caso de acidentes, e foram transformar o grande tobogã da família e m uma
maca móvel. Só uma coisa a tormentava a mente de Will. Tinha que ser sua imaginação,
mas no momento em que o Andarilho tinha deparado com a visão dos Grandes Signos, e
tornou-se um homem velho louco mais uma vez, e le pensou ter visto um f lash de tr iun fo
nos olhos cintilantes.
O céu estava cinza e pesado, esperando para nevar, quando eles foram para a
Mansão com o Andarilho. O Sr. Stanton levou os gêmeos com ele, e Will. Sua esposa
108
observou eles par tirem com incomum nervosismo. “Espero que tenha realme nte acabado.
Você realmente acha que Wil l deveria ir?”
“Às vezes pode ser útil ter alguém leve, nessa neve,” disse seu pai, por sobre os
resmungos de Will. “Ele vai f icar bem.”
“Você não vai f icar lá, vai?”
“É claro que não. O único objetivo do exercíci o é entregar o homem velho ao
doutor. Vamos lá, Alice, isso não combina com você. Não há perigo, você sabe.”
“Suponho que não,” disse a Sra. Stanton,
Eles part iram, arrastando o tobogã, com o Andarilho amarrado a e le tão enro lado
em cobertores que estava invis ível, uma espessa salsicha humana. Will saiu por último;
Gwen entregou a ele as tochas e um frasco. “Devo dizer que não sinto mui to por ver sua
descoberta i r,” disse ela. “Ele me assusta. Parece mais um animal do que um homem
velho.”
Pareceu um longo tempo antes que eles chegassem aos portões da Mansão. O
caminho tinha sido limpo, e pisoteado por muitos pés, e duas bri lhantes lâmpadas de
pressão es tavam penduradas na grande porta, i luminando a f rente da casa. Neve es tava
caindo novamente, e o vento começava a soprar gélido em seus rostos. Antes que a mão
esticada de Robin alcançasse a campainha, Merriman estava abrindo a porta. Ele olhou
primeiro para Will, embora ninguém mais notasse o brilho urgente de seus olhos. “Bem -
vindos,” ele disse.
“Boa noite,” Roger Stanton disse. “Não f icaremos. Estamos bem em casa. Mas tem
um velho camarada aqui que está doente, e ele precisa de um doutor. Por todas as coisas
consideradas, pareceu melhor trazê -lo aqui, do que ter o Dr. Armstrong indo pra lá e pra
cá. Então nós caímos fora antes da tempestade chegar.”
“Ela já está se erguendo,” disse Merriman, observando lá fora. Então ele parou e
ajudou os gêmeos a carregar a forma imóvel embrulhada do Andarilho para dentro da
casa. Na soleira o amontoado de cobertores deb ateu-se convulsivamente, e o Andarilho
podia ser ouvido abafado através de suas cobertas gritando, “Não! Não! Não!”
“O doutor, por favor,” disse Merriman para uma mulher que estava perto, e ela se
afastou depressa. A grande sala vazia onde eles tinham can tado suas músicas natal inas
estava cheia de pessoas agora, quente e alvoroçada, ir reconhecível.
O Dr. Armstrong apareceu, cumprimentando rapidamente por toda parte ; ele era
um pequeno homem agitado com uma franja de monge de cabelo cinza circulando sua
cabeça calva. Os Stantons, como toda Huntercombe, conheciam bem ele; ele tinha curado
todo problema de saúde na família por mais anos do que Will t inha vivido. Ele olhou
para o Andarilho, agora se contorcendo e resmungando em protesto. “O que é isso,
hein?”
“Choque, talvez?” disse Merriman.
“Ele realmente se comporta muito estranhamente,” disse o Sr. Stanton. “Ele foi
encontrado inconsciente na neve alguns dias a trás, e pensamos que ele estava se
recuperando, mas agora. . .”
A grande porta da f rente bateu fechando-se com o vento que aumentava, e o
Andarilho gri tou. “Hum,” disse o doutor, e fez sinal para que dois grandes jovens
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ajudantes o carregassem para alguma sala inter ior. “Deixem ele comigo,” ele disse
alegremente. “Nó máximo, nós temos uma perna quebra da e dois tornozelos deslocados.
Ele fornecerá algo de diferente.”
Ele foi saltando atrás de seu paciente. O pai de Will virou para olhar at ravés de
uma janela que escurecia. “Minha esposa vai começar a se preocupar,” disse ele.
“Devemos ir. ”
Merriman fa lou gentilmente, “Se vocês forem agora, acho que partirão mas não
vão chegar. Provavelmente em pouco tempo . . .”
“O Escuro está se erguendo, vocês percebem,” disse Will.
Seu pai olhou para e le com um meio sorriso. “De repente você está tão poético.
Muito bem, esperaremos só um pouquinho. Eu poderia tomar um pouco de fôlego, para
dizer a verdade. Enquanto isso é melhor dizer olá para a Srta. Greythorne. Onde ela está,
Lyon?”
Merriman, o respei toso mordomo, mostrou o caminho pela multidão. Era a reunião
mais est ranha que Will já t inha vis to. De repente metade do vi larejo estava vivendo em
próxima intimidade, uma pequena colônia de camas, malas e cobertores. Pessoas os
saudaram de pequenos ninhos espalhados por toda a grande sala: uma cama ou colchão
enf iado em um canto ou atravessado por uma cadeira o duas. Srta. Bell acenou
alegremente de um sofá. Era como um hotel bagunçado com todos acampando no hall de
entrada. A Srta. Greythorne estava sentada f irme e ereta em sua cadeira de rodas ao lado
do fogo, lendo The Phoenix and the Carpet para um silencioso grupo de crianças. Como
todos na sala, ela parecia incomumente brilhante e alegre.
“Engraçado,” disse Wil l, enquanto eles abriam caminho. “As coisas es tão
absolutamente horríveis, e ass im mesmo as pessoas parece m muito mais fe lizes do que o
normal. Olhe para todos eles. Excitados.”
“Eles são Ingleses,” disse Merriman.
“Isso mesmo,” disse o pai de Will. “Esplêndidos na advers idade, tediosos quando
seguros. Nunca contentes, de fato. Somos um grupo estranho. Você não é Inglês, é?” ele
disse subitamente para Merr iman, e Will f icou surpreso em ouvir um leve tom hostil em
sua voz.
“Um mestiço,” falou Merriman genti lmente. “É uma longa his tória.” Seu
profundos olhos brilharam para o Sr. Stanton, e então a Srta. Greyth orne avis tou todos
eles.
“Ah, aí estão vocês! Boa noite, Sr. Stanton, rapazes, como estão? O que vocês
acham disso, hein? Não é uma diversão?” Enquanto ela baixava o livro, o círculo de
crianças se partiu para admiti r os recém chegados, e os gêmeos e seu pai foram
absorvidos pela conversa.
Merriman disse suavemente para Will, na Língua Ant iga, “Olhe dentro do fogo,
pelo tempo que lhe for necessário para t raçar a forma de cada um dos Grandes Signos
com sua mão direita. Olhe dentro do fogo. Torne -o seu amigo. Não mova seus olhos
durante todo esse tempo.”
Pensativo, Will moveu-se para f rente como se fosse se aquecer, e fez como lhe foi
dito . Olhando para as chamas salt itantes do fogo da tora na larei ra, ele correu seus dedos
gentilmente sobre o Signo do Ferro, o Signo do Bronze, o Signo da Madeira, o Signo da
110
Pedra. Ele falou com o fogo, não como ele tinha feito muito tempo atrás, quando
desaf iado a apagá- lo, mas como um Antigo Escolhido, saído do Gramarye. Ele falou a ele
do fogo vermelho no salão do rei, do fogo azul dançando sobre os pântanos, do fogo
amarelo aceso nas colinas para a Beltane* e o Hal loween; do fogo selvagem ** e do need-
f ire*** e do fogo frio do mar; do sol e das estrelas. As chamas saltaram. Seus dedos
atingiram o f inal de sua jornada ao re dor do último Signo. Ele olhou para cima. Ele
olhou, e viu. . . ele viu, não o grande amontoado de pessoas reunidas em uma moderna
sala al ta e com painéis, i luminada por lâmpadas elét ricas, mas a grande sala de pedra
sombreada com velas, com suas tapeçarias penduradas e de alto te lhado arqueado, que
tinha vis to uma vez antes, um mundo atrás. Ele olhou do fogo da tora que era o mesmo
fogo, mas agora ardendo em uma larei ra diferente, e e le viu como antes, vindas do
passado, as duas pesadas cadeiras entalhad as, uma em cada lado da lareira . Na cadeira a
direita sentava Merr iman, encapuzado , e na cadeira da esquerda sentava a f igura que ele
tinha visto pela última vez, nem um dia antes, dei tada em uma plataforma como se
estivesse morta. Ele se curvou rapidament e e ajoelhou-se aos pés da senhora idosa.
“Madame,” ele disse.
Ela tocou seu cabelo genti lmente. “Will.”
“Sinto mui to por ter quebrado o círculo, naquela pr imeira vez,” ele disse . “Você
está. . . bem... agora?”
“Tudo está bem,”' e la disse em sua clara voz suave. “E f icará, se conseguirmos
vencer a última batalha pelos Signos.”
“O que eu devo fazer?”
“Quebrar o poder do f rio . Parar a neve, o f rio e a geada. Liber tar esse país das
garras do Escuro. Tudo com o próximo do círculo, o Si gno do Fogo.”
Will olhou para e la desamparado. “Mas eu não consegui ele. Não sei como.”
“Um signo do fogo você já possui consigo. O outro aguarda. Ao obtê -lo, você
vencerá o f rio . Mas antes disso, nosso próprio círculo de chamas deve ser completado,
esse é um eco do Signo, e para fazer i sso você deve ret irar poder do Escuro.” Ela
apontou para o grande anel de soquetes para velas feito de ferro sobre a mesa, o círculo
dividido por uma cruz. Enquanto ela erguia seu braço, a luz brilhou no anel rosa em sua
mão. O anel de velas exte rior foi completo, doze colunas brancas queimando exatamente
como tinham queimado quando Will esteve na sala pela última vez. Mas os braços em
cruz ainda tinham soquetes vazios; nove furos abertos.
Will olhou para eles infel iz. Essa parte de sua busca o d eixava em desespero.
Nove grandes velas encantadas, saindo do nada. Poder a ser arrancado do Escuro. Um
Signo que ele já possuía, sem saber disso. Outro que ele deveria encontrar sem saber
onde ou como.
“Tenha coragem,” disse a senhora idosa. Sua voz es tava f raca e cansada; quando
Will olhou para e la, viu que ela mesma parecia f raca em seu contorno, como se não fosse
mais do que uma sombra. Ele esticou sua mão preocupado, mas ela afas tou seu braço.
“Ainda não. . . Ainda há um outro tipo de trabalho a ser feito , também.. . Você vê como as
velas queimam, Will.” A voz dela diminuiu, então se fortaleceu . “Elas mostrarão a
você.”
Will olhou para as chamas brilhantes das velas; o alto anel de luz capturou seus
olhos. Enquanto ele olhava, sentiu uma estranh a sensação de balanço, como se o mundo
todo tivesse es tremecido. Ele olhou para cima, e viu. . . e viu, quando ergueu seus olhos,
* Beltane: antigo feriado Celta celebrado por volta de primeiro de Maio. ** Fogo selvagem: resultante de causa natural, como de um
raio, por exemplo. *** Need-fire: superstição da região montanhosa da Escócia. É aceso por pastores para acabar com doenças em
seus rebanhos. Acreditam que para que ele funcione, todos os outros fogos devem ser apagados.
111
que estava de volta à Mansão d o tempo da Srta. Greythorne, do tempo de Will Stanton,
com as paredes com painéis e o m urmúrio de muitas vozes, e uma voz falando em seu
ouvido. Era o Dr. Armstrong.
“. . . perguntando por você,” ele estava dizendo. O Sr. Stanton estava ao lado dele.
O doutor fez uma pausa e olhou est ranhamente para Wil l. “Você está bem, meu jovem?”
“Sim . . . s im, estou bem. Sinto muito. O que foi que você disse?”
“Eu estava dizendo que seu velho amigo mendigo está perguntando por você. "O
sétimo f ilho”, ele colocou isso l iricamente, embora eu não possa dizer como ele sabia
disso.”
“Entretanto eu sou, não sou?” disse Will. “Eu não sabia até outro dia sobre o
pequeno irmão que morreu. Tom.”
Os olhos do Dr. Armstrong se afastaram por um momento.
“Tom,” ele disse. “O primeiro bebê. Eu lembro. Foi algum tempo atrás.” Seu olhar
retornou. “Sim, você é. Assim como s eu pai, para dizer a verdade.”
A cabeça de Will girou ao redor, e ele viu seu pai sorrir. “Você era um sétimo
f ilho, Pai?”
“Certamente,” disse Roger Stanton, seu rosado rosto redondo relembrando.
“Metade da família foi morta no último ano, mas uma vez ho uve doze de nós. Você sabia
disso, não sabia? Uma tribo peculiar, ela era. Sua mã e adorava, ser uma f ilha única.
Ouso dizer que foi por isso que ela teve todos vocês. Apavorante, em sua era super
populada. Sim, você é o sétimo f ilho de um sétimo f ilho . Nós costumávamos brincar com
isso quando você era um bebê. Mas não depois, para evi tar que você tivesse idéias sobre
ter alguma visão, ou seja lá como eles dizem.”
“Ha, ha,” disse Wil l com algum esforço. “Você descobriu o que está errado com o
velho mendigo , Dr. Armstrong?”
“Para dizer a verdade ele me deixou meio confuso,”' disse o doutor. “Ele deveria
tomar um sedativo em seu estado perturbado, mas ele tem o menor pulso e pressão do
sangue que eu já encontrei na vida, então eu não sei. . . Fisicamente não tem nada de
errado com ele, tanto quanto posso afirmar. Provavelmente só es tá com a mente confusa,
como grande parte desses velhos que perambulam . Não que você veja muitos deles nos
dias de hoje. Eles quase desapareceram. De qualquer modo, ele continua gritando para
ver você, Will, então se puder concordar com isso eu o levarei para dentro por um
momento. Ele está bastante inofensivo.”
O Andarilho estava fazendo um bocado de barulho. Ele parou quando viu Will, e
seus olhos se es tre itaram. Seu humor cla ramente havia mudado; ele es tava confiante
novamente, a lineada face tr iangular iluminou -se. Ele olhou por cima do ombro de Will
para o Sr. Stanton e o doutor. “Vão embora,” ele disse.
“Hum,” disse o Dr. Armstrong, mas levou o pai de Will com ele para per to da
porta, dentro do campo de visão mas fora do alcance do ouvido. No pequeno vestiário
que estava servindo como enfermaria, uma outra ocorrência – a perna quebrada – jazia na
cama, mas ele parecia estar dormindo.
“Você não pode me manter aqui,” o Andar ilho sibilou. “O Cavalei ro virá me
buscar.”
112
“Uma vez você f icou com medo do Cavalei ro,” disse Wil l. “Eu vi você. Esqueceu
disso também?”
“Não esqueci nada,” o Andari lho disse desdenhosamente. “Aquele medo se foi.
Ele se foi quando o Signo me deixou. Deixe-me i r, deixe-me ir para o meu povo.” Uma
curiosa formalidade f irme pareceu es tar surgindo em sua fala.
“Seu povo não se importou em deixá - lo para morrer na neve,” disse Will. “De
qualquer modo, não estou mantendo você aqui. Eu só trouxe você ao médico. Você não
pode esperar que ele o deixe sai r no meio de uma tempestade.”
“Então o Cavalei ro virá,” o velho disse. Seus olhos cinti laram, e ele ergueu sua
voz tanto que estava guinchando para todos na sala. “O Cavalei ro virá! O Cavaleiro
virá!”
Will o deixou, enquanto seu pai e o doutor vieram rapidamente até a cama.
“O que foi tudo isso?” disse o Sr. Stanton. O Andarilho, com o doutor curvando -se
sobre ele, t inha caído para trás e entrado em um resmungo furioso novamente.
“Só Deus sabe,” disse Wil l. “Ele es tava apenas falando bobagens. Acho que o Dr.
Armstrong está cer to, ele está um pouco confuso.” Ele olhou por toda a sala, mas não viu
sinal de Merr iman. “O que aconteceu com o Sr. Lyon?”
“Ele está em algum lugar,” seu pai falou vagamente. “Encontre os gêmeos, faria
isso, Will? Vou ver se a tempestade já diminuiu o bastante para nos deixar sair.”
Will f icou na sala a lvoroçada, enquanto pessoas iam e vinham com cober tores e
travessei ros, xícaras de chá, sanduíches da cozinha, pratos vazios voltando novamente.
Ele sent iu-se estranho, deslocado, como se estivesse suspenso no meio desse mundo
preocupado e ainda ass im não f izesse parte dele. Olhou para a grande lareira. Mesmo o
rugido das chamas não conseguia reduzir o uivo do vento do lado de fora , e o chicotear
da neve contra os vidros das janelas.
As chamas saltaram, prendendo os olhos de Will. De algum lugar fora do Tempo,
Merriman disse em sua mente: “Tome cuidado. É verdade. O Cavaleiro virá buscá -lo . Foi
por isso que eu pedi a você para trazê-lo aqui, para um lugar fortalecido pelo Tempo.
Caso contrário o Cavaleiro teria vindo para sua própria casa, e tudo o que vem com o
Cavaleiro também.. .”
“Will !” o imperioso contralto da Sr ta . Greythorne i rrompeu. “Venha aqui!” E Will
olhou de volta dentro do presente, e foi até ela. Ele viu Robin ao lado da cadeira dela, e
Paul se aproximando com uma longa caixa achatada de uma forma familiar em suas
mãos.
“Nós pensamos que poderíamos ter um tipo de concerto até que o vento reduza,”
disse a Srta. Greythorne vivamente. “Todos fazendo um pedacinho. Quer dizer, todos que
aprovarem a idéia. Um concer to, ou seja lá como os Escoceses os chamam.”
Will olhou para o brilho feliz no olho de seu irmão. “E Paul vai tocar aquela sua
velha f lauta que ele gosta tanto. ”
“No tempo apropriado,” disse Paul. “E vocês cantarão.”
“Tudo bem.” Will olhou para Robin.
113
“Eu,” disse Robin, “vou conduzir o aplauso. Haverá mui tos – nós parecemos ser
um vilarejo loucamente talentoso. Sr ta. Bell recitará um poema, três rapazes de Dor ney
têm um grupo de folk* . Dois deles até trouxeram suas guitarras. O Velho Sr. Dewhurst
fará um monólogo, apenas tentem detê -lo. A f ilhinha de alguém quer dançar. Isso não
tem f im.”
“Eu pensei, Will,” disse a Srta. Greythorne, “que talvez você começasse . Se você
simplesmente começasse cantando, você sabe, qualquer coisa que goste, então
gradualmente as pessoas parariam para escutar até que haveria um completo silêncio –
muito melhor do que eu tocando um sino ou algo e dizendo, "Agora todos teremos um
concerto”, você não concorda?”
“Eu suponho que sim,” disse Wil l, embora nada pudesse estar mais distante de sua
mente naquele momento do que a idéia de fazer música. Ele pensou rapidamente, e em
sua mente surgiu uma pequena canção melancólica que o mestre da escola de música
havia transposto para sua voz na escola justamente no período anterior, como uma
experiência. Sentindo -se como um grande ast ro, Will abriu sua boca onde estava, e
começou a cantar.
“White in the moon the long road lies ,
The moon stands b lank above;
White in the moon the long road lies
That leads me from my love.”
“Still hangs the edge without a gust,
S till , stil l the shadows stay ;
My feet upon the moonlit dust
Pursue the ceaseless way.”
A conversação ao redor dele caiu em silêncio. El e viu rostos virados em sua
direção, e quase errou uma nota ao reconhecer alguns que ele esperava ver, mas não
tinha encontrado antes. Lá es tavam eles, mantendo -se quietos ao fundo; Fazendeiro
Dawson, Velho George, John Smith e sua esposa, os Antigos Escol hidos prontos
novamente para fazer o seu círculo se assim fosse necessário. Perto estava o res to da
família Dawson, o pai de Will junto a eles.
“The world is round, so travellers tel l ,
And straight though reach the track,
Trudge on, trudge on, ' twil l all be well,
The way will guide one back.”
Com o canto de um olho ele viu, com um choque, a f igura do Andarilho; com um
cobertor enrolado em torno dele como uma capa, o velho es tava de pé na porta da
pequena enfermaria, escutando. Por um instante Wil l viu s eu rosto, e estava admirado.
Toda a diss imulação e terror tinha desaparecido daquele triângulo cheio de linhas; havia
apenas t ris teza, e desesperançosa espera. Havia até um reluzir de lágr imas nos olhos. Era
o rosto de um homem mostrando algo imensamente p recioso que tinha perdido.
Por um segundo, Will sent iu que com sua música poderia levar o Andari lho para
dentro da Luz. Olhou para e le enquanto cantava, fazendo das notas melancólicas um
apelo, e o Andarilho f icou mole e infeliz, olhando de vo lta.
“But ere the circle homeward hies
Far, far must it remove;
White in the moon the long road lies
* Folk: gênero de música à capela originada de escravos negros nos Estados Unidos que influenciou no desenvolvimento de outros
gêneros da música popular (especialmente a soul music).
114
That leads me from my love.”
A sala havia se acalmado dramaticamente enquanto ele cantava, e o claro soprano
dos rapazes que sempre pareceu pertencer a um est ranho elevou-se al to e remoto através
do ar. Agora havia um pequeno silêncio, a única parte da performance que realmente
signif icava algo para ele, e em seguida um monte de palmas. Will as ouviu de uma longa
distância. Srta. Greythorne chamou todos, “Nós p ensamos, para passar o tempo, que cada
um que sent ir vontade poderia fazer um pequeno entretenimento”. Para distrai r da a
tempestade. Quem gostar ia de participar?”
Houve um alegre som de vozes, e Paul começou a tocar a velha f lauta da Mansão,
muito suave e baixo. Sua gent il doçura encheu a sala, e Wil l f icou mais conf iante
enquanto ouvia e pensava na Luz. Mas no momento seguinte a música não conseguiu
mais lhe dar força. Ele nem conseguia ouví -la. Seu cabelo se er içou, seus ossos doeram;
ele soube que algo , alguém estava se aproximando, desejando desgraça para a Mansão e
todos dentro dela, e acima de tudo para ele.
O vento aumentou. Ele guinchou na janela. Houve um tremendo som de uma batida
na porta. Do outro lado da sala, o Andarilho deu um pulo, seu ros to estava contorcido
novamente, tenso com a espera. Paul tocava, sem escutar. A batida forte veio de novo.
Nenhum deles conseguia ouvir, Will percebeu de repente; embora o vento estivesse quase
o ensurdecendo, não era para os ouvidos deles, nem eles saberi am o que estava
acontecendo agora. A batida soou uma terceira vez, e ele soube que t inha que responder.
Ele caminhou através das pessoas distraídas a té a porta, segurou o grande círculo de
ferro que era a maçaneta, murmurou algumas palavras sob a sua resp iração na Língua
Antiga, e escancarou a porta.
Neve o atingiu, golpeando seu rosto, ventos assoviaram pela sala. Do lado de fora
na escur idão, o grande cavalo negro se ergueu sobre a cabeça de Will, cascos descendo,
olhos brancos rodopiando, a espuma voan do de seus dentes expostos. E acima dele
cint ilaram os olhos azuis do Cavaleiro e o vermelho incandescente de seu cabelo. No que
diz respei to a ele mesmo, Will gr itou, e levantou um braço instintivamente em auto -
defesa.
E o garanhão negro relinchou e recuou com o Cavalei ro para dentro da escuridão;
e a porta se fechou, e de repente não havia mais nada nos ouvidos de Will a não ser o
doce som da velha f lauta enquanto Paul tocava. As pessoas estavam sentadas e
espalhadas t ranquilamente do mesmo modo que esta vam antes. Will baixou seu braço
lentamente, ainda curvado defensivamente sobre sua cabeça, e quando o fez ele notou
algo que tinha esquecido totalmente. Na parte de baixo do antebraço, que havia f icado
virado em direção ao Cavalei ro Negro quando ele levan tou seu braço, es tava a cicatr iz
queimada do Signo do Ferro. Naquele outro grande salão, na primeira vez, ele tinha se
queimado no Signo quando o Escuro estava fazendo seu primeiro ataque a ele. A Senhora
tinha curado a queimadura. Will havia esquecido que ela estava al i . “Um signo do fogo
você já possui consigo. . .”
Então era isso que ela queria dizer.
Um signo do fogo tinha mant ido o Escuro encurralado; fazendo -o parar em seu
ataque mais forte, talvez. Will apoiou -se f raco contra a parede, e tentou respi rar mais
devagar. Mas assim que olhou através da multidão tranqüila que ouvia a música deles,
ele viu novamente uma f igura que transformou toda a sua confiança em nada, e o rápido
inst into do Gramarye lhe disse que havia sido ludibriado. Pensou que estava encarando
um desaf io, e realmente estava. Mas ao fazê -lo, t inha aberto a porta entre o Escuro e o
Andarilho, e isso de alguma forma havia fortalecido tanto o Andarilho que o velho t inha
ganho um poder pelo qual esteve esperando.
115
Pois o Andari lho agora es tava altivo, seus olhos brilhando, sua cabeça erguida, e
sua costa ereta. Ele manteve um braço erguido, e gritou em uma clara voz forte: “Venha
lobo, venha cão, venha gato, venha rato, venha Held, venha Holda, Eu os convido a
entrar! Venha Ura, venha Tann, venha Coll, venha Quert, venha Morra, venha Mestre, eu
os trago para dentro !”
As invocações continuaram, uma longa lis ta de nomes, todos familiares para Will
do Livro de Gramarye. Na sala da Sr ta. Greythorne, ninguém podia ver ou ouvir; todos
continuavam como antes, e durante o f inal da música de Paul, e o alto começo
determinado do monólogo do velho Sr. Dewhurst, nenhum dos olhos que estavam na
direção de Will pareciam vê-lo. Ele f icou imaginando se o seu pai, que ainda estava
parado conversando com os Dawsons, logo perceberia que seu f ilho mais jovem não
podia ser visto.
Mas rapidamente, enquanto as invocações do Andarilho continuavam e
continuavam, ele parou de imaginar, pois sob os seus sentidos a sala começou a mudar
subitamente; a velha sala da Senhora voltou para sua consciência e absorveu mais e mais
da aparência do presente. Amigos e família desapareceram; somente o Andarilho
permaneceu claro como antes, agora permanecendo no f inal da grande sala longe do
fogo. E enquanto Will continua va olhando para o grupo no qual seu pai estava, mesmo
enquanto ele desaparecia , viu tomar lugar a duplicação através do qual os Antigos
Escolhidos eram capazes de se mover para dentro e para fora do Tempo. Ele viu uma
forma de Frank Dawson sair facilmen te do primeiro, deixando seu outro eu desaparecer
como parte do presente; a segunda forma foi f icando mais clara e clara enquanto vinha
em sua direção, e depois dela , da mesma forma, vei o o Velho George, o Jovem John, e a
mulher de olhos azuis, e Wil l soube que essa tinha s ido a maneira de sua própria chegada
também.
Logo os quatro estavam agrupados ao redor dele no centro da sala da Senhora,
cada um virado para o lado de fora, quatro cantos de um quadrado. E enquanto o
Andarilho fazia suas longas invocaç ões do Escuro, a própria sala começou a mudar de
novo. Luzes est ranhas e chamas tremularam pelas paredes, obscurecendo as janelas e
cortinas. Aqui e al i ao som de um nome em particular, fogo azul dardejava no ar, chiava,
e morria novamente. Em cada uma das t rês paredes viradas para a lareira , três grandes
chamas sinis tras dispararam porém não morreram em seguida, mas permaneceram
dançando e curvando-se em um brilho agourento, enchendo a sala com luz f ria.
Diante da lareira, na grande cadeira entalhada que ele tinha ocupado desde o
início, Merriman estava sentado imóvel. Havia uma terr ível força repr imida em seu
sentar ; Wil l olhou para os ombros largos com um pressentimento, como se ele tivesse
olhado para um gigantesco inverno que deveria ser liberado a qu alquer momento. O
Andarilho cantava mais al to: “Venha Uath, venha Trui th, venha Eriu, venha Loth! Venha
Heurgo, venha Celmis, eu os trago para dentro. . .”
Merriman f icou de pé, um grande pilar negro emplumado de branco. Sua capa
estava enrolado ao seu redo r. Apenas o seu rosto entalhado em pedra estava visível, com
a luz emanando em sua massa de cabelo branco. O Andarilho olhou para ele e vaci lou.
Espessos ao redor da sala, os fogos e chamas do Escuro sibilaram e dançaram, todas
brancas, azuis e negras, sem nenhum dourado, vermelho ou aquecedor amarelo em
qualquer uma delas. As nove chamas maiores f icaram de pé como árvores ameaçadoras.
Mas o Andarilho pareceu ter perdido sua voz novamente. Ele olhou mais uma vez
para Merriman e recuou um pouco. E através d a mistura de desejo e medo nos olhos
brilhantes, de repente Will o reconheceu.
117
arte Três: O Teste
Hawk no Escuro
O Andarilho disse em um sussurro, “Não.”
“Hawkin,” Merr iman falou novamente, gentilmente, “todo homem tem uma última
escolha depois da pr imeira, uma chance de perdão. Não é tarde demais. Vire -se. Venha
para a Luz.”
A voz era quase inaudível , um mero respirar rouco. “Não.”
As chamas mantiveram-se paradas e g randiosas ao redor do grande salão. Ninguém
se moveu.
“Hawkin,” Merriman disse, e não houve comando algum no tom mas apenas calor
e súplica. “Hawkin, vassalo, afas te -se do Escuro. Tente lembrar. Houve amor e conf iança
entre nós, uma vez.”
O Andarilho olhou para ele como um homem condenado, e agora na pontuda face
lineada Wil l podia ver claramente os traços do pequeno, brilhante homem Hawkin, que
tinha sido trazido adiante para fora de seu tempo para a recuperação do Livro de
Gramarye, e t inha, at ravés do choque de encarar a morte, traído os Ant igos Escolhidos
para o Escuro. Ele lembrou da dor que esteve nos olhos de Merriman enquanto eles
observaram que a traição começava, e a terrível certeza com a qual ele havia
contemplado a desgraça de Hawkin.
O Andarilho ainda olhava para Merr iman, mas seus olhos não enxergavam. Eles
olhavam de volta at ravés do tempo, enquanto o velho redescobria tudo que havia
perdido, ou retirado de sua mente. Ele falou lentamente, com reprovação crescente,
“Você me fez arriscar min ha vida por um livro. Por um livro. Então porque eu procurei
por melhores mestre, você me enviou de volta para meu próprio tempo, mas não como eu
tinha sido antes. Você me deu então a maldição de carregar o Si gno .” Sua voz foi
f icando cada vez mais forte com dor e ressentimento enquanto ele recordava. “O Si gno
do Bronze, através dos séculos. Você me transformou de um homem em uma criatura
sempre correndo, sempre procurando, sempre caçado. Você me impediu de envelhecer
decentemente em meu próprio tempo, como todos os homens após suas vidas vão f icando
velhos, cansados e mergulham no sono da morte. Você t irou meu direito à morte. Você
me colocou em meu próprio século com o Si gno, mui to, muito tempo atrás, e você me fez
carregá-lo por seiscentos anos até essa é poca.”
Seus olhos est remeceram em direção a Will, e brilharam com ódio. “Até que o
último dos Antigos Escolhidos nascesse, para pegar de mim o Si gno. Você, garoto, isso
tudo é por você. Essa viagem no tempo, que tirou minha boa vida como homem, foi tudo
por sua causa. Antes que você nascesse, e depois. Pelo seu dom maldito do Gramarye, eu
perdi tudo que já amei.”
“Eu digo a você,” Merriman gritou, “você pode vir para casa, Hawkin! Agora! É a
última chance, e você pode passar para a Luz e ser como era.” Su a f igura orgulhosa,
altiva, inclinou-se para f rente, implorando, e Will sentiu dor por ele, sabendo que ele
sentia que foi seu próprio julgamento mal feito que havia levado seu servo Hawkin para
118
a traição e a vida do encolhido Andarilho, uma concha resmung ante comprometida com o
Escuro.
Merriman disse brevemente: “Rezo por você, meu f ilho.”
“Não,” o Andarilho disse. “Encontrei melhores mestres do que você.” As nove
chamas do Escuro ao redor das paredes saltaram frias e altas e queimaram com uma luz
azul, est remecendo. Ele apertou mais forte o escuro cobertor enrolado em volta dele, e
olhou de modo selvagem para a sala . Agudamente provocador, ele gr itou, “Mestres do
Escuro, eu os trago para dentro !”
E as nove chamas moveram-se para dentro, das paredes para o centro da sala,
aproximando-se de Will e dos quatro Ant igos Escolhidos. Will es tava cego pelos seus
brilhos branco-azulados; ele não conseguia mais ver o Andarilho. Em algum lugar a lém
das grandes luzes, a voz aguda cont inuava gritando, alta e enlouquec ida pela amargura.
“Você arr iscou minha vida pelo Livro! Você me fez carregar o Si gno! Você deixou o
Escuro me caçar através dos séculos, mas nunca me deixou morrer! Agora é a sua vez!”
“Sua vez! Sua vez!” ecoou o gr ito pelas paredes. A s nove chamas altas se moviam
chegando mais perto lentamente, e o s Ant igos Escolhidos permaneciam no centro do piso
e observavam elas se aproximarem. Ao lado da lareira , Merriman virou lentamente em
direção ao centro da sala. Will viu que seu rosto es tava impassível novamente, os
profundos olhos escuros e vazios e as linhas f irmes, e ele soube que ninguém ver ia
qualquer forte emoção que se mostrasse naquele rosto por um longo tempo. A chance do
Andarilho de retornar para a mente e coração de Hawkin havia surgido e sido rejeitada , e
agora ela se fora para sempre. Merr iman ergueu seus dois braços, e a capa caiu deles
como asas. Sua voz profunda chicoteou em meio ao silêncio – “Pare!”
As nove chamas pararam, e f icaram suspensas.
“Em nome do Círculo de Signos,” Merriman disse, clar o e f irme, “Eu ordeno que
deixem essa casa.”
A luz f ria do Escuro que estava ao redor de toda a sala por trás das grandes
chamas imóveis estremeceu e fez um estalo semelhante a uma risada. E saindo da
escuridão além, veio a voz do Cavalei ro Negro.
“O seu círculo não está completo e não tem essa força,” ele falou
desdenhosamente. “E o seu vassalo nos chamou para dentro dessa casa, como ele fez
antes, e pode fazer de novo. Nosso vassalo, meu senhor. O hawk está no Escuro. . . Você
não pode mais nos mandar embora daqui. Não com chama, nem força, nem poder
conjunto. Nós quebraremos seu Signo do Fogo antes que ele possa ser liberado, e o seu
círculo nunca es tará reunido. Ele se quebrará no f rio , meu senhor, no Escuro e no f rio . . .”
Will t remeu. Estava f icando re almente f rio na sala, mui to f rio . O ar era como uma
corrente de água gelada, vindo até e les de todos os lados. Agora o fogo na grande lareira
não emitia calor a lgum, nenhum calor que não fosse sugado pelas f rias chamas azuis do
Escuro ao redor. As nove chamas estalaram novamente, e enquanto olhava para elas, ele
podia ter jurado que não eram chamas mas gigantes pingentes de gelo, branco -azuladas
como antes mas sólidas, ameaçadoras, grandes pilares prontos a cair e esmagar todos eles
com o peso e o f rio .
“. . . f rio . . .” disse suavemente o Cavaleiro Negro das sombras, “. . . f rio .. .”
Will olhou para Merriman assustado. Ele sabia que cada um deles, cada Antigo
Escolhido na sala, es teve combatendo o Escuro com cada poder que ele possuía desde
119
que a voz do Cavalei ro começou, e ele sabia que nenhum deles havia surtido qualquer
efeito . Merriman falou suavemente, “Hawkin os deixou entrar, como fez em sua primeira
traição, e não podemos evi tar isso. Ele teve minha confiança uma vez, e i sso ainda dá a
ele esse poder mesmo que a confiança tenha acabado. Nossa única esperança é o que era
no começo: que Hawkin não seja mais do que um homem.. . Quando as magias do f rio
profundo são feitas, há pouco a ser fe ito contra e las.”
Ele f icou parado com as sobrancelhas f ranzida s enquanto o anel de fogo branco -
azulado tremulava e dançava; até mesmo ele parecia f rio , com a aparência um pouco
sombria ao redor dos ossos de seu rosto. “Eles trouxeram para dentro o f ri o profundo,”
ele disse, em parte para si mesmo. “O frio do vazio, d o espaço negro. . .”
E o f rio foi f icando mais e mais intenso, cortanto através do corpo até a mente.
Ainda assim as chamas do Escuro pareciam ao mesmo tempo tornarem -se opacas, e Will
percebeu que seu próprio século es tava desaparecendo novamente ao redor deles, e que
eles estavam de volta à mansão da Srta. Greythorne.
E o f rio estava ali também. Tudo estava mudando agora; o murmúrio de vozes
tinha caído de um som de animação para um silêncio ansioso, e a grande sala estava
f racamente iluminada, por velas em castiçais, copos e pratos, onde quer que houvesse
espaço. Todas as claras lâmpadas elétricas es tavam escuras, e os longos radiadores de
metal que aqueciam a maior parte da sala não emitiam calor algum.
Merriman passou rapidamente per to dele com a veloc idade de alguém que retornou
de uma rápida tarefa; sua capa estava levemente diferente, t ransformada no ondulante
sobretudo que ele tinha usado mais cedo naquele dia. Ele falou para Srta. Greythorne,
“Não há muito que possamos fazer lá embaixo, madame. O f orno está parado, é claro.
Todas as linhas de força elétrica es tão mortas. E também o telefone. Eu providenciei
para que todos os cobertores e colchas da casa fossem trazidos, e a Srta. Hampton está
fazendo quantidades de sopa e bebidas quentes.”
A Srta. Greythorne balançou a cabeça em rápida aprovação. “Muito bom que
tenhamos mantido os velhos fogões a gás. Eles queriam que eu trocasse, você sabe,
Lyon, quando tivemos a central de aquecimento concluída. Eu não tr ocar ia, entretanto.
Eletricidade, bah – sempre soube que a casa velha não aprovava.”
“Estou fazendo com que tanta madeira quanto possível seja trazida para manter o
fogo alto ,” disse Merriman, mas no mesmo instante, como que em zombaria, um grande
chiado e vapor vieram da grande larei ra, e os mais próximos dela se afastaram,
sufocando e cuspindo. Através da súbita nuvem de fumaça que entrou Will podia ver
Frank Dawson e o Velho George trabalhando para tirar algo do fogo.
Mas o fogo havia se apagado.
“Neve desceu pela chaminé!” gritou o Fazendeiro Dawson, tossindo.
“Precisaremos de baldes, bem depressa. Tem uma grande bagunça aqui.”
“Eu vou,” Will gritou, e disparou para a cozinha, contente com a chance de se
mexer. Mas antes que ele pudesse chegar até a porta através dos confusos grupos de
pessoas assustadas com frio , uma f igura se ergueu diante dele para bloquear seu
caminho, e duas mãos seguraram seus braços com um ap erto tão forte que ele ofegou com
uma dor súbita. Olhos brilhantes penetraram nos dele, c int ilando com louco triunfo, e a
voz f ina e al ta do Andarilho estava guinchando em seu ouvido.
“Antigo Escolhido, Antigo Escolhido, último dos Antigos Escolhidos, você sabe o
que vai acontecer com você? O frio está entrando, e o Escuro vai congelar você. Frio e
120
rigidez e todos vocês impotentes. Ninguém para proteger os pequenos Signos em seu
cinto.”
“Me larga!” Wil l debateu -se furiosamente, mas a pegada em seu pulso era o aperto
da loucura.
“E você sabe quem vai pegar os pequenos Si gnos, Antigo Escolhido? Eu pegarei.
O pobre Andari lho, eu os usa rei. Eles es tão prometidos a mim como recompensa por
meus serviços. Nenhum senhor da Luz jamais me ofereceu ta l prêmio . Ou qualquer
outro. . . Eu serei o Buscador dos Signos, eu serei, e tudo o que teria sido seu no f inal virá
para mim.. .”
Ele tentou agarrar o cinto de Will, seu rosto estava contorcido de triunfo, sal iva
caindo de sua boca como espuma, e Will gr itou por socorro. Em um instante John Smith
estava ao seu lado com o Dr. Armstrong perto logo atrás, e o grande ferreiro tinha
puxado as mãos do Andarilho para t rás de sua costa. O velho amaldiçoou e guinchou,
seus olhos ardendo de ódio para Will, e os dois homens tiveram que se esforçar para
afastá-lo . Após mui to tempo eles o tinham preso e inofensivo, e o Dr. Armstrong recuou
com um suspiro exasperado.
“Esse sujeito deve ser a única coisa quente no país,” disse e le. “Ficando agitado o
tempo todo, com pulso ou sem pulso vou colocá - lo para dormir por algum tempo. Ele é
um perigo para a comunidade e para e le mesmo.”
Will pensou esfregando seu pulso m achucado: se ao menos você soubesse
exatamente que tipo de perigo ele representa. . . Então de repente começou a ver o que
Merriman quis dizer. Nossa única esperança é o que era no começo: que Hawkin não
seja mais do que um homem.. .
“Mantenha -o ali , John, enquanto eu pego minha bolsa.” O doutor desapareceu.
John Smith, com um grande punho agarrando o ombro do Andarilho e com o outro seus
dois pulsos, piscou encorajadoramente para Wil l e balançou sua cabeça para a cozinha;
de repente Will lembrou de sua incumbência original, e correu. Quando ele veio
retornando com dois baldes vazios balançando em cada mão, houve uma nova agi tação na
lareira; um novo chiado tinha começado, fumaça saiu, e Frank Dawson retrocedeu
cambaleando.
“Maldição!” ele disse furiosamente. “Maldição! Você limpa a larei ra por um
momento e mais neve desce. E o f rio .. .” Ele olhou para ele desesperado. “Olhe para eles,
Will.”
A sala estava uma miséria e caos: pequenos bebês chorando, pais apertando seus
corpos em torno de suas cr ianças para man tê-las aquecidas o bastante para respirar. Will
esfregou suas mãos f rias, e tentou sentir seus pés e seu rosto através do entorpecimento
do f rio . A sala estava f icando mais f ria e mais f ria, e do mundo congelado lá fora não
havia som algum nem mesmo do ven to. A sensação de es tar dentro de dois níveis de
Tempo de uma só vez ainda f lutuava em sua mente, embora agora tudo o que ele pudesse
sentir da mansão antiga fosse a consciência, ameaçadora e persis tente, das nove grandes
velas de gelo cintilando ao redor de três lados da sala. Elas tinham sido como fantasmas,
malmente visíveis, quando ele encontrou -se pela primeira vez trazido de volta pelo novo
frio para o seu próprio tempo, mas enquanto o f rio f icava mais intenso, elas f icavam
cada vez mais claras. Wil l f icou olhando para e las. Ele sabia que de algum modo elas
incorporavam o poder do Escuro em seu ápice durante o Solstício de Inverno; e le
também sabia que elas eram parte de uma magia independente realizada pelo Escuro, que
como tudo mais em suas longas b atalhas poderia ser derrotada pela Luz apenas se a coisa
certa fosse feita no momento certo. Como? Como?
121
O Dr. Armstrong estava retornando em direção ao quarto dos doentes com sua
bolsa preta. Talvez possa haver um jeito af inal de contas, apenas um, de pa rar o Escuro
antes que o f rio pudesse atingir o ponto de destruição. Um homem, inconsciente,
ajudando a outro: esse pode ser o pequeno evento para colocar de lado toda fo rça
sobrenatural do Escuro. . . Will esperou, subitamente tenso com a excitação. O doutor se
moveu em direção ao Andari lho, que ainda amaldiçoava incoerentemente no aperto de
John, o ferreiro, e ele tinha enf iado e reti rado uma agulha rápida e habil idosamente de
seu braço antes que o velho soubesse o que ele estava fazendo. “Pronto,” ele diss e
acalmadoramente. “Isso vai a judá - lo . Durma um pouco.”
Ins tintivamente Will moveu -se para f rente para o caso em que houvesse
necessidade de ajuda, quando o fez ele viu que Merriman, o Fazendeiro Dawson e o
Velho George estavam se aproximando também. Do utor e paciente es tavam cercados por
um anel de Antigos Escolhidos, por todo lado, protegendo contra interferência.
O Andarilho avistou Will e rosnou como um cão, mostrando amarelados dentes
quebrados. “Congelar, vocês vão congelar,” ele cuspiu para e le, “e os Signos serão meus,
não importa o que. . . você tente. . . não importa. . .” Mas ele gaguejou e piscou, sua voz
caindo enquanto a droga começou a se espalhar sua sonolência sobre ele, e mesmo
quando a suspei ta começou a surgir em seus olhos, as pálpebras desc eram. Cada um dos
Antigos Escolhidos deu um p asso ou dois em frente, fechando o círculo. O velho piscou
novamente, mostrando o branco de seus olhos em um f lash horrendo, e então ele es tava
inconsciente.
E com a mente do Andari lho fechada, o caminho do Esc uro para dentro da casa
estava fechado também.
Instantaneamente houve uma diferença na sala, um afrouxar da tensão. O frio
estava menos feroz, a infelicidade e susto ao redor deles começou a diminuir como um
nevoeiro. O Dr. Armstrong f icou ereto, com uma expressão confusa de questionamento
em seus olhos; os olhos se arregalaram quando viu o círculo de rostos concentrados
circulando-o. Ele começou a dizer ind ignado, “O que. . . ?”
Mas o resto das palavras foram perdidas para Will, pois rapidamente Merrim an
estava chamando-os de dentro da mul tidão, urgentemente, silenciosamente, na linguagem
da mente que os homens não podiam ouvir. “ As velas! As velas do inverno! Tirem elas,
antes que desapareçam!”
Os quatro Antigos Escolhidos espalharam -se rapidamente na sala, onde os
estranhos cilindros branco -azulados ainda pendiam fantasmagoricamente ao redor das
três paredes, ardendo com suas mortais chamas f rias. Indo ligei ramente até as velas, eles
as agarraram, uma em cada mão; Will , menor, saltou depressa em uma c adeira para pegar
a última. Ela era f ria, suave e pesada ao seu toque, como gelo que não derreteu. No
momento em que a tocou ele f icou tonto; sua cabeça rodopiava. . .
. . . e ele es tava de volta ao grande salão daquele tempo anterior com os outros
quatro, e ao lado da lareira a Senhora estava sentada novamente em sua cadeira de
encosto alto , com os olhos azuis da esposa do ferreiro sentando aos pés dela. Estava
claro o que tinha que ser feito . Carregando as velas do Escuro, eles avançaram em
direção ao grande anel-mandala de ferro de suportes na grande mesa, e um a um
colocaram as velas nos nove soquetes que ainda permaneciam vazios na peça em cruz
central. Cada vela modif icou-se sutilmente ass im que foi colocada no lugar; sua chama
se ergueu mais f ina e al ta, assumindo um tom branco -dourado ao invés do f rio ,
ameaçador azul. Will, com sua vela, foi o último. Ele se est icou para colocá -la dentro do
último suporte bem no centro, e quando ele o fez as chamas de todas as velas subiram em
um triunfante cí rculo de fo go.
122
“A senhora idosa disse, em sua voz delicada, “Ali está o poder re tirado do Escuro,
Will Stanton. Por magia f ria e les chamaram as velas do inverno para destruição. Mas
agora que nós as reti ramos deles para melhores propósitos, as velas tornaram -se mais
fortes, capazes de trazer a você o Si gno do Fogo. Veja.”
Eles se afastaram, observando, e a última vela central que Will t inha colado no
lugar começou a crescer. Quando sua chama f icou alta acima do resto ela tomou cor,
tornando-se amarela, laranja, vermelho mercúrio; enquanto ela a inda crescia, ela mudou
e tornou-se uma estranha f lor em uma est ranha haste. Uma f lor curvada de muitas pétalas
brilhava ali , cada pétala com um diferente tom das cores de chama; lenta e graciosamente
cada pétala se abriu e caiu, voando para longe, derretendo no ar. E no f inal, na ponta da
longa haste curvada da planta vermelho -chama, um bri lhante receptáculo de semente
arredondado foi deixado, balançando gent ilmente por um momento e então abriu -se em
uma rápida e silenciosa eclosão, seus cinco lados desdobrando todos de uma vez como
espessas pétalas. Dentro estava um círculo vermelho -dourado de uma forma que todos
eles conheciam.
A Senhora disse: “Pegue -o, Will.”
Will deu dois passos pensat ivos em direção à mesa, e o grande talo esguio curvou-
se em direção a e le; quando ele colocou sua mão, o círculo dourado caiu nela.
Instantaneamente uma onda de poder invisível o atingiu, um eco do que ele tinha sent ido
na destruição do Livro de Gramarye – e enquanto ele cambaleou e se equi l ibrou
novamente, viu que a mesa estava vazia. Em um f lash de tempo, tudo que es tava sobre
ela desapareceu: a es tranha f lor, as nove velas ardentes e o suporte de ferro em forma de
Signo que continha todas elas. Sumiram. Tudo se foi: tudo exceto o Si gno do Fogo.
Ele estava em sua mão, quente ao toque, uma das coisas mais bonitas que ele já
tinha vis to. Ouro de mui tas cores diferentes t inha sido unido com grande habilidade para
fazer essa forma de cí rculo divido por uma cruz, e em todos os lados ele possuía
pequenas gemas, rubis, esmeraldas, saf iras e diamantes, em est ranhos padrões rúnicos
que pareciam estranhamente familiares a Will. Ele c int ilou e bri lhou em sua mão como
todos os tipos de fogo que haviam. Olhando mais de perto, ele viu algumas palavras
muito pequenas escri tas ao redor da extremidade exterior:
LIHT MEC HEHT GEWYRCAN
Merriman disse suavemente: “A Luz ordenou que eu deveria ser feito .”
Agora eles t inham quase todos a não ser um dos Sinais. Jubilante , Wil l lançou seu
braço no ar, segurando o Signo bem alto para que os outros vissem; e o c írculo de outro
trabalhado pegou o brilho de cada luz na sala, tremulando como se fosse feito de chama.
De algum lugar do lado de fora da sala, surgiu um grande rugido com um longo grito de
raiva at ravés dele. O som retumbou e rosnou e re tumbou novamente. . .
. . .e enquanto ele batia em seus ouvidos, de repente Will es tava de volta na sala da
Srta. Greythorne novamente, com todos ao redor dele os rostos familiares do vilarejo
viraram pensat ivos para o te to, e para o rugido murmurante a lém.
“Trovão?” alguém disse, confuso.
Luz azul tremulou em todas as janelas, e o trovão ribombou tão
ensurdecedoramente perto que todos recuaram. Novamente a luz veio, novamente o baque
do rugido, e em algum lugar uma cr ian ça começou a chorar, f ino e al to . Mas enquanto
toda a sala cheia esperava pela próxima batida, não houve nada. Nenhum f lash apareceu,
123
nenhum trovão, nada tão grande quanto um distante murmúrio. Ao invés disso, após um
pequeno silêncio sem respiração preenc hido apenas pelo chiado das c inzas na lareira,
surgiu um leve som de batidas do lado de fora, aumentando gentilmente, gradualmente,
para um inconfundível e suave staccato* contra as janelas, portas e teto.
A mesma voz anônima gri tou alegremente, “Chuva!”
Vozes ir romperam por todos os lados em excitação, rostos sérios sorriram; f iguras
correram para olhar do lado de fora pelas janelas escuras, acenando para os outros com
prazer. Um velho que Will nunca lembrou de ter visto antes em sua vida virou para ele
com um sorriso desdentado. “Chuva vai derreter essa neve!” ele assobiou. “Derreter em
pouco tempo!”
Robin apareceu saindo da multidão. “Ah, aí está você. Estou f icando maluco, ou
esta sala moribunda de repente parece aquecida?”
“Está aquecida,” disse Wil l , t irando seu suéter. Debaixo dele, o Si gno do Fogo
agora estava enf iado em seu cinto seguro com o resto.
“Engraçado. Estava tão terrivelmente f rio por um tempo. Suponho que eles
colocaram a central de aquecimento para funcionar de novo. . .”
“Vamos ver a chuva!” Um par de garotos passaram esbarrando neles indo até a
porta principal. Mas enquanto eles a inda se atrapalhavam com a maçaneta , uma série de
rápidas batidas al tas veio do lado de fora; e ali no degrau, quando a porta se abriu, seu
cabelo achatado em sua cabeça pela suave chuva que descia, estava Max.
Ele estava sem fôlego; eles podiam vê - lo engol ir o ar depressa para emitir as
palavras. “Srta. Greythorne es tá? Meu pai?”
Will sentiu uma mão em seu ombro e viu Merriman ao seu lado, e ele soube pela
inquietação em seus olhos que de alguma forma esse era o próximo ataque do Escuro.
Max o avistou e foi em frente, chuva escorrendo pelo seu rosto; e le se balançou como um
cachorro.
“Chame o Papai, Will, ” ele disse. “E o doutor se ele puder ser dispensado . Mamãe
sofreu um acidente, e la caiu nas escadas. Ainda está inconsciente, e achamos que ela tem
uma perna quebrada.”
O Sr. Stanton já tinha escutado; ele correu para a sala do doutor. Will olhou
infeliz para Max. Ele chamou Merr iman si lenciosamente, assustado, “Eles f izeram isso?
Eles f izeram? A Senhora disse…”
“É possível,” disse a voz respondendo em sua mente. “Eles não podem fer ir você,
verdade, e eles não podem destruir homens. Mas eles podem encorajar os ins tintos do
próprio homem para causar -lhe mal. Ou fazer uma inesperada batida de t rovão, quando
alguém está no topo de um lance de escadas. . .”
Will não ouviu mais do que aquilo. Ele estava saindo pela porta com seu pai,
irmãos e o Dr. Armstrong, seguindo Max até em casa.
* Staccato ou «destacado»: tipo de fraseio ou de articulação no qual as notas e os motivos das frases musicais devem ser executadas
com suspensões entre elas, ficando as notas com curta duração. É uma técnica de execução instrumental ou vocal que se opõe ao
legato.
124
arte Três: O Teste
Rei do Fogo e Água
James ainda parecia pálido e af lito , mesmo quando o doutor tinha chegado seguro
e es tava examinando a Sra. Stanton na sala de estar. Ele puxou para o lado seus i rmãos
mais próximos, que eram Paul e Will, e os levou para fora do a lcance do ouvido dos
outros. Ele disse infeliz, “Mary desapareceu.”
“Desapareceu?”
“Honestamente. Eu disse a ela para não ir. Não achava que ela fosse, pensei que
ela f icaria assustada demais.” A preocupação tinha feito o estóico James chegar perto das
lágrimas.
“Ir aonde?” disse Paul severamente.
“Sair para a Mansão. Foi após Max ir buscar vocês. Gwennie e Bar estavam na
sala de estar com a Mamãe. Mary e eu es távamos na cozinha fazendo um pouco de chá, e
ela f icou toda descontrolada e disse que Max tin ha ido muito longe e nós deveríamos ir
checar se algo tinha acontecido com ele. Eu disse a ela para não ser tão maluca, é claro
que nós não deveríamos ir, mas então Gwen me chamou para fazer o fogo lá dentro, e
quando eu voltei, Mary tinha sumido. E também seu casaco e botas.” Ele fungou. “Não
consegui ver nenhum sinal de onde ele foi, do lado de fora – a chuva tinha começado, e
não havia nenhuma pegada. Eu estava quase saindo atrás dela sem dizer nada, porque as
garotas já têm o bastante com o que se preoc upar, mas então vocês vieram, e eu pensei
que ela estivesse com vocês. Só que ela não es tava. Oh, Deus,” falou James
pesarosamente. “Ela é uma idiota.”
“Não se preocupe,” disse Paul. “Ela não pode ter ido longe. Simplesmente vá e
espere por um bom momento para explicar ao Papai, e diga a ele que eu fui pegá - la. Eu
levarei Will, nós dois estamos vestidos para isso.”
“Bom,” disse Will, que estava rapidamente tentando pensar em argumentos para
sua saída.
Quando eles estavam fora na chuva, a neve já começava a f icar branca-acinzentada
debaixo dos pés, Paul disse , “Você não acha que é hora de me dizer sobre o que é tudo
isso?”
“O quê?” disse Will, surpreso.
“No que você es tá met ido?” disse Paul, seus pálidos olhos azuis olhando
severamente at ravés dos pesad os óculos.
“Nada.”
“Olhe. Se a saída de Mary tiver a lgo a ver com isso, você tem absolutamente que
explicar.”
“Oh Deus,” disse Will. Ele olhou para a ameaçadora determinação de Paul, e f icou
imaginando como você explica para um irmão mais velho que um j ovem de onze anos não
125
era mais um jovem de onze anos, mas uma cr iatura suti lmente diferente da raça humana,
lutando por sua sobrevivência. . . Você não explica, é claro.
Ele disse, “São esses, eu acho.” Olhando cautelosamente para ele, ele abriu sua
jaqueta e o suéter livrando seu cinto e mostrando a Paul os Signos. “São ant iguidades.
Apenas f ivelas que o Sr. Dawson me deu por meu aniversário, mas eles devem ser
realmente valiosos porque duas ou três pessoas estranhas f icam aparecendo tentando
pegá-los. Um homem me perseguiu na Huntercombe Lane uma vez. . . e o velho mendigo
estava envolvido com eles de algum jeito . Foi por isso que eu não quis trazê -lo para
casa, naquele dia em que o encontramos na neve.”
Ele pensou no quanto tudo isso soava improvável.
“Humm,” disse Paul. “E aquele sujeito na Mansão, o novo mordomo? Lyon, não é
isso? Ele está envolvido com esses palhaços?”
“Oh, não,” disse Will rapidamente. “Ele é um amigo meu.”
Paul olhou para ele por um momento, inexpressivo. Will pensou em sua pacien te
compreensão naquela noite no sótão, no início, e no modo como ele tocou a velha f lauta
e soube que se houvesse qualquer um de seus i rmãos em que ele pudesse confiar, seria
Paul. Mas isso estava fora de questão.
Paul disse, “Obviamente você não me disse a metade disso tudo, mas isso terá que
servir. Acredi to que você pensa que esses caçadores de antiguidades devem ter raptado
Mary para usá- la como algum tipo de refém?”
Eles atingiram o f im da entrada. A chuva caindo sobre eles, forte, embora não
violenta; ela corria pelos bancos de neve, caía das árvores, virava a es trada para dentro
do início de uma corrente em movimento veloz. Eles olharam para cima e para baixo em
vão. Will disse, “Eles devem ter feito isso. Quero dizer, ela teria ido direto até a
Mansão, então porque não a vimos em nosso caminho para casa?”
“Iremos por aquele caminho de qualquer modo, para checar.” Paul balançou sua
cabeça de repente e olhou para o céu. “Essa chuva! É ridícula! Assim de repente,
surgindo de toda aquela neve . . . e está muito mais quente também. Não faz sent ido.” Ele
espirrou água da corrente que foi Huntercombe Lane e olhou para Will com um meio
sorriso confuso. “Mas um monte de coisas não estão mesmo fazendo mui to sentido para
mim no momento.”
“Ah,” disse Will. “Hum. Não. ” Ele espirrou a água de modo barulhento para
encobrir seu remorso, e procurou at ravés das poças de chuva por algum sinal de sua
irmã. O barulho ao redor deles agora estava assombroso: um oceano de ruídos de espuma
que se espalhava, pedregulhos sendo levad os e ondas quebrando, enquanto o vento trouxe
a chuva f luindo ritmadamente pelas árvores. Um barulho mui to mais antigo, como se eles
estivessem à beira de algum oceano enorme antes que os homens ou seus ancest rais
tivessem nascido. Eles foram subindo a est rada, procurando e gritando, ansiosos agora;
tudo que eles viam se tornava estranho repetidas vezes, enquanto a chuva cortava a neve
em novas ruas e montes. Mas quando eles chegaram a uma esquina, Will repentinamente
soube muito bem onde eles estavam. Ele viu Paul abaixar-se defensivamente por trás de
um braço erguido; ouviu o grasnado rouco e áspero que subitamente se elevou e então
sumiu; viu, mesmo através da chuva esvoaçante, o alvoroço de penas negras enquanto o
bando de gralhas desciam baixo passando por suas cabeças.
Paul se ergueu lentamente, observando. “Que diabos . . . ?”
126
“Vá para o outro lado da es trada,” disse Will, empurrando -o f irmemente para o
lado. “As gralhas f icam meio loucas às vezes. Já vi i sso antes.”
Outro bando de pássaros grasnando fo i em direção a Paul por trás, empurrando -o
para f rente, enquanto o primeiro mergulhou novamente para forçar Will contra o banco
de neve ao longo da borda da f loresta semi -enterrada. Elas vieram de novo, e de novo.
Will f icou imaginando, esquivando -se, se o seu irmão havia percebido que eles estavam
sendo conduzidos como ovelhas, levados para onde as gralhas queriam que eles fossem.
Mas mesmo enquanto ele pensava nisso, sabia que era tarde demais. O lençol cinzento de
chuva os tinha separado completamente; e le não tinha idéia para onde Paul tinha ido.
Ele gritou em pânico, “Paul? Paul!”
Mas como o Ant igo Escolhido nele assumiu o controle, acalmando o medo ele
parou de gr itar. Isso não era algo para seres humanos comuns, nem mesmo de sua própria
família; e le deveria es tar fel iz de estar sozinho. Agora ele sabia que Mary devia ter sido
capturada, em algum lugar, presa pelo Escuro. Somente ele t inha qualquer chance de
trazê-la de volta. Ele f icou parado na chuva, procurando por ele. A luz estava morrendo
rapidamente. Will desaf ivelou seu cinto e o enrolou em seu pulso direi to; então ele disse
uma palavra na Língua Ant iga e ergueu seu braço, e dos Signos um f irme caminho de luz
irradiou como se viesse de uma tocha. Ele brilhou na água marrom, onde a estrada estav a
se tornando um rio, mais fundo e f luindo rápido.
Ele lembrou que Merriman havia dito , muito tempo atrás, que o pico mais
perigoso do poder do Escuro viria na Décima Segunda Noite. Teria agora chegado aquele
momento? Ele havia perdido seu lugar nos dias, e les corriam uns dentro dos outros em
sua mente. Água batia na borda de sua bota enquanto f icava pensando; ele pulou para
trás rapidamente pra o banco de neve ao f inal da f loresta, e uma onda marrom no rio -
estrada arrancou um grande pedaço da parede d e neve na qual e le es tivera. Na luz dos
Signos, Wil l viu que agora outros pedaços de neve suja e gelo f lutuavam na água; que
enquanto passava f luindo, gradualmente raspavam os bancos deixados em ambos os lados
pela raspadora de neve, e carregavam para long e pedaços quebrados como icebergs em
miniatura.
Outras coisas es tavam ali no rio também. Ele viu um balde passar por ele
rodopiando, e um objeto estufado que parecia um saco de feno. A água deve estar
elevando-se alto o bastante para carregar coisas dos q uintais das pessoas , talvez as
próprias coisas dele entre elas. Como podia subir tão rápido? Como que em resposta, a
chuva martelou em sua costa, e mais neve se part iu sob seus pé s, e ele lembrou que o
chão debaixo dele ainda devia es tar congelado pelo gra nde f rio que tinha paralisado a
terra antes da chuva surgir. Em parte alguma essa chuva seria capaz de ser absorvida
pelo solo. O degelo da terra levaria muito mais tempo do que o derreter da neve , e nesse
meio tempo a água da neve não tinha para onde ir, nenhuma alternativa a não ser correr
sobre a superf íc ie congelada da região procurando por um rio ao qual se unir. As
inundações ser iam terríveis, pensou Will: piores do que elas já foram antes. Piores até do
que o f rio .. .
Mas uma voz ir rompeu sobre ele, um grito a través da água veloz e da chuva que
rugia. Ele foi tropeçando sobre os montes de neve parcialmente derretidos para olhar na
escuridão. O grito veio novamente. “Will ! Bem aqui!”
“Paul?” Wil l chamou esperançoso, mas ele sabia que essa não era a v oz de Paul.
“Aqui! Bem aqui!”
127
O grito veio do próprio rio -estrada, saindo do escuro. Will ergueu os Signos; sua
luz irradiou sobre a água turbulenta e mostrou -lhe o que ele pr imeiramente havia tomado
por nuvens de vapor. Então ele viu que a fumaça era ba forada de respiração: grandes
respirações profundas, de um cavalo enorme que estava com as quatro patas na água,
pequenas ondas passavam espumando em seus joelhos. Will viu a cabeça larga, a longa
crina marrom molhada colada ao pescoço, e ele soube que ess e era Castor ou Pollux, um
dos dois grandes cavalos da raça shire* da Fazenda Dawsons.
A luz dos Signos t remulou mais a lta; e le viu o Velho George, enf iado em uma
roupa de chuva, empoleirado alto na costa do cavalo maciço.
“Bem aqui, Will. Pela água, ant es que ela f ique rápida demais. Temos trabalho a
fazer. Vamos lá!”
Ele nunca tinha ouvido antes o Velho George soar tão exigente; esse era o Antigo
Escolhido, não a amável velha -mão da fazenda. Curvando -se contra o pescoço do cavalo,
o velho se aproximou através da água. “Vamos lá, Polly, venha, Sir Pollux.” E o grande
Pollux bufou lufadas de fumaça pelas suas largas nar inas e deu alguns passos f irmes em
frente de modo que Will foi capaz de se at irar dentro do rio -est rada e agarrar em sua
perna semelhante a uma árvore. A água chegou quase até suas coxas, mas ele já es tava
tão molhado pela chuva que isso fez pouca diferença. Não havia sela alguma no grande
cavalo, apenas um cobertor encharcado; mas com força surpreendente o Velho George se
abaixou e segurou em sua mão, e com muito esforço ele estava em cima. A luz dos
Signos amarrados em seu pulso não oscilou com todo a movimentação, mas permaneceu
direcionada f irmemente em frente no caminho em que eles deveriam ir.
Will deslizou e escorregou na costa larga, grande demais para a abertura de suas
pernas. George o colocou para sentar na f rente, enganchado no grande pescoço curvado.
“Os ombros de Polly já carregaram peso maior do que você,” ele gritou no ouvido de
Will. Então eles estavam oscilando em frente enq uanto o forte cavalo de carga part iu
novamente, espirrando água at ravés da correnteza crescente, para longe da f loresta das
gralhas, para longe da casa dos Stantons.
“Onde nós es tamos indo?” Will gritou, olhando temerosamente para a escuridão;
ele não conseguia ver nada em lugar algum, somente a água que rodopiava na luz dos
Signos.
“Temos que começar a Caça,” a velha voz entrecortada disse per to de seu ouvido.
“A Caça? Que Caça? George, tenho que encontrar Mary, eles estão com Mary, em
algum lugar. E eu perdi Paul de vista.”
“Temos que começar a Caça,” a voz em sua costa disse f irme. “Eu vi Paul, ele está
seguro em seu caminho para casa nesse momento. Você encontrará Mary na hora certa. É
hora do Caçador, Will, o cavalo branco deve vir a té o Caçador, você d eve levá-lo até lá.
Essa é a ordem das coisas, você esqueceu. O rio está vindo até o vale, e o cavalo branco
deve ir até o Caçador. E então veremos o que deveremos ver. Temos trabalho a fazer,
Will.”
E a chuva caiu mais forte sobre eles, e em algum lugar distante um trovão
ribombou na noite precoce, enquanto o grande cavalo shire, Pollux, galopava
pacientemente através do crescente rio marrom que uma vez havia sido Huntercombe
Lane.
Era impossível dizer onde eles estavam. Um vento estava aumentando, e Will
podia ouvir os sons das árvores osci lantes acima do barulho das patas agitadas de Pollux.
* Shire: raça Britânica de grandes cavalos de carga.
128
Uma luz apareceu f raca no vi larejo; ele supôs que a energia elé trica a inda dever ia estar
cortada, por acidente ou por agente do Escuro. Em todo caso, a maioria das pessoas
dessa parte do vilarejo ainda estava na Mansão. “Onde está Merr iman?” ele gritou
através da chuva barulhenta.
“Na Mansão,” George gritou em seu ouvido. “Com o Fazendeiro. Atacados.”
“Você quer dizer que eles es tão encurralados?” a voz de Will tornou-se aguda com
o susto.
O Velho George disse, assobiando perto, dif ícil de ouvir, “Eles at raem a atenção,
assim nós podemos trabalhar. E as inundações os ocupam também. Olhe para baixo,
rapaz.”
Na água agitada a luz dos Signos mostrava uma dispersão de objetos improváveis
que passavam ondulando: uma cesta de vime, muitas caixas de papelão se desintegrando,
uma clara vela vermelha, alguns montes de f itas emboladas. De repente Will reconheceu
um pedaço de f ita, de uma berrante cor púrpura e amarela, a ss im como uma f ita que ele
tinha visto Mary reti rar cuidadosamente de um pacote e enrolado no Dia de Natal. Ela
era uma grande colecionadora de coisas, como um esquilo; essa fazia par te da coleção
dela.
“Essas coisas são da nossa casa, George!”
“Também tem inundações lá,” o velho disse. “A terra está baixa. Sem perigo
entretanto, acalme-se. Apenas água. E lama.”
Will sabia que ele es tava certo, mas novamente ele desejou ver por si próprio.
Com pressa, eles deviam todos estar ; mexendo na mobília e tapetes , reti rando livros e
tudo que pudesse ser movido. Esses primeiros objetos f lutuantes devem ter escapado
antes que alguém notasse que a água estava carregando as coisas. . .
Pollux tropeçou pela primeira vez, e Will se agarrou na crina marrom molhada;
por um momento ele quase tinha escorregado e sido arrastado. George fez ruídos
acalmadores, e o grande cavalo suspirou e bufou através de seu nariz. Will agora podia
ver algumas luzes f racas que deviam vir das casas maiores em terreno al to no f inal do
vilarejo; i sso signif icava que eles deviam estar se aproximando da Comunidade. Se ainda
fosse a Comunidade, e não um lago.
Algo estava mudando. Ele piscou. A água parecia mais distante, dif íci l de ver.
Então ele percebeu que a luz dos Signos presos em seu pulso est ava f icando fraca,
desfazendo-se em nada; em um momento eles es tavam na escuridão. Logo que todas as
luzes tinham morrido, Velho George disse suavemente: “ Uou , Polly,” e o grande cavalo
shire fez uma parada e f icou imóvel a li com a água ondulando em suas p ernas.
George falou, “Aqui é onde eu tenho que deixá - lo , Will.”
“Oh,” disse Will, desanimado.
“Só há uma instrução,” disse Velho George. “Que você deve levar o cavalo branco
até o Caçador. Isso acontecerá, se você não t iver nenhum problema. E há dois co nselhos
para evitar que você tenha problemas, de mim para você. O primeiro é que você
encontrará luz suf iciente para enxergar se f icar parado e contar até cem depois que eu
tiver partido. O segundo é lembrar o que você já sabe, que água em movimento es tá l ivre
de magia.”
129
Ele bateu confortadoramente no ombro de Will. “Agora coloque os Signos em sua
cintura novamente,” ele disse, “e desça.”
Descer foi um negócio molhado, pior do que subir; Pollux f icava tão alto do chão
que Will espir rou água como um tijolo caindo. Mesmo assim ele não sent iu f rio algum;
embora a chuva ainda caísse sobre ele, ela era suave, e de algum modo curioso ela
parecia evitar que ele f icasse gelado.
Velho George disse novamente, “Eu vou começar a Caça,” e sem nenhuma palavra
de despedida ele fez Pollux cavalgar novamente em direção à Comunidade, e se foi.
Will subiu o banco de neve ao lado do rio -estrada, encontrou espaço para f icar de
pé sem perder o equilíbr io, e começou a contar a té cem. Antes que ele t ivesse alcançado
setenta, ele começou a ver o que Velho George quis dizer. Gradualmente, o mundo
escuro estava assumindo um brilho de luz de dentro de si próprio. A água que corria, a
neve esburacada, as árvores magras; ele podia ver tudo, em uma luz cinza morta como da
madrugada. E enquanto olhava ao redor, confuso, algo que passou por ele f lutuando na
veloz correnteza causou -lhe tamanha surpresa que ele quase caiu dentro da água de novo.
Ele viu as armações primeiro, girando preguiçosamente de um lado para o outro,
como se a grande cabeça es tivesse acenando para si mesma. Então as cores apareceram,
os azuis c laros, amarelos e vermelhos, do mesmo jei to como ele as tinha visto na manhã
de Natal. Não conseguia ver os detalhes do est ranho rosto, os olhos de pássaro, as
orelhas pontudas de lobo. Mas era a sua cabeça de carnaval sem dúvida, o inexplicável
presente que o velho Jamaicano havia dado a Stephen para entregar -lhe, o bem dele mais
precioso no mundo. Will emitiu um som como um soluço, e saltou para f rente
desesperadamente para agarra-la antes que a água a levasse para fora do alcance; mas ele
escorregou enquanto pulava, e no momento em que tinha recuperado o equilíbrio a
brilhante cabeça grotesca estava saltando para fora de vista. Will começou a correr pelo
banco; era uma coisa dos Antigos Escolhidos, e de Stephen, e ele t inha perdido; tinha
que recuperá- la a todo custo. Mas a memória o pegou no meio da ação, e ele parou. “A
segunda coisa,” Velho George havia dito , “é lembrar que água em movimento está livre
de magia.” A cabeça es tava na água em movimento, muito claramente. Enquanto ela
permanecesse ali , ninguém poderia causar -lhe dano ou usá-la para os f ins errados.
Relutantemente, Will colocou isso para fora de sua mente. A grande área da
Comunidade estendia -se diante dele, i luminada por um est ranho brilho próprio. Nada se
movia. Até mesmo o gado que normalmente pastava ali ano após ano, surgindo do nada
em dias de neblina como fantasmas sólidos, agora estavam escondido bem longe nas
fazendas, afastados por causa da neve. Will p rosseguiu, cuidadosamente. Então o barulho
da água que es teve em seus ouvidos por tanto tempo começou a mudar, f icando mais alto ,
diante dele a torrente que preenchia Huntercombe Lane virou para o lado, unindo -se a
uma pequena corrente local que agora tinha se transformado em um rio espumante corria
sobre a Comunidade, indo para longe. A estrada que tinha s ido o rio -estrada curvava-se,
desimpedida, sólida e c int ilante; Velho George, Will sentiu, t inha ido por aquele
caminho. Ele gostaria de ter seguido a estrada também, mas ele sentiu que deveria f icar
com o rio; através do sentido extra dos Ant igos Escolhidos, ele sabia que isso mostrar ia
como levar o cavalo branco até o Caçador.
Mas quem era o Caçador, e onde estava o cavalo branco?
Will seguiu em frente cautelosamente, pelos granulosos bancos de neve que
seguiam nas margens da nova corrente recém criada. Salgueiros a ladeavam, encolhidos e
cortados. Então de repente, surgindo da linha escura de árvores no lado mais distante da
corrente uma forma bran ca saltou. Houve um cintilar de prata, na escur idão que não era
totalmente escura, e em um jato de neve molhada a grande égua branca da Luz es tava
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parada diante de Will, sua respiração formando nuvens pelas linhas de chuva. Ela era
alta como uma árvore, su a cr ina ondulava com o vento.
Will a tocou, genti lmente. “Você me carregará?” ele disse, na Língua Antiga.
“Como fez antes?”
O vento soprou enquanto ele falava, e um relâmpago cint ilou sal tando at ravés do
céu, mais perto do que realmente estava. O cavalo branco est remeceu, sua cabeça
balançando. Mas ela re laxou novamente quase instantaneamente, e Wil l também sent iu
inst intivamente que essa tempestade em formação não era uma tempestade do Escuro.
Isso era esperado. Era par te do que es tava por vir. A Luz es tava se erguendo, antes que o
Escuro pudesse fazê- lo.
Ele certif icou-se de que os Signos estavam seguros em seu cinto, e então como
uma vez antes ele est icou seus dedos ao vento no espesso pêlo longo da crina branca.
Imediatamente sua cabeça girou em uma v ertigem, e clara mas distante ele ouviu sua
mesma música semelhante a sinos e surpreendente, o mesmo trecho que capturava o
coração, a té que com um grande solavanco o mundo girou, a música desapareceu, e ele
estava sobre a costa da égua branca, e levado entr e os salgueiros.
Agora relâmpagos es tavam cintilando por todo o céu brilhante.
Músculos se contraíram na costa poderosa sob Will, e e le agarrou a crina longa
enquanto o cavalo saltou através da Comunidade, sobre os morros e desf iladeiros de
neve, seus cascos arranhando a superf ície deixando um rast ro de borrifos de gelo.
Através do vento que passava veloz ele pensou, enquanto se encostava no pescoço
arqueado da égua, que podia ouvir um estranho ruído no vento, como o som de gansos
que migravam voando alto . O som pareceu curvar -se ao redor deles, e então continuar em
frente, morrendo fora de alcance.
O cavalo branco saltava alto; Wil l segurou mais forte enquanto eles se erguiam
sobre cercas, est radas, paredes, todas emergindo da neve que derret ia. Então um novo
barulho mais a lto do que o vento ou o trovão estava em seus ouvidos, e ele viu um
espelho negro enrugado cintilando em frente e soube que t inham chegado ao Thames.
O rio aqui estava muito mais largo do que ele já tinha visto. Por mais de uma
semana ele es teve confinado e est re itado por paredes de gelo de neve saliente; agora
estava livre, espumando e rugindo, com grandes pedaços de neve e gelo debatendo -se
como icebergs. Isso não era um rio, era a fúria da água. Sibilava e urrava, não era
razoável. Assim que olhou, Will f icou assustado pelo Thames como nunca esteve; ele
estava tão selvagem quanto uma coisa do Escuro poderia ser, fora do conhecimento de
controle dele. Ainda assim ele sabia que ele não pertencia ao Escuro, mas além tanto da
Luz quanto do Escuro, uma das coisas ant igas do início do tempo. As coisas ant igas:
fogo, água, pedra. . . madeira. . . e então, após o surgimento do homem, bronze, e ferro. . . O
rio estava livre, e seguiria de acordo com sua própria vontade. “O rio virá até o val e. . .”
Merriman havia dito .
A égua branca fez uma pausa indecisa na borda da furiosa água f ria, então moveu -
se para f rente e saltou. Foi apenas quando eles se elevaram sobre o rio agitado que Will
viu a ilha, uma i lha onde ninguém estivera antes nessa torr ente ondulante, dividida por
estranhos canais reluzentes. Ele pensou, enquanto o cavalo branco o sacudiu até a terra
entre as árvores negras: é uma colina de verdade, um pedaço de chão alto separado pela
água.
E de repente ele sabia muito claramente que e ncontraria o grande per igo aqui.
Esse era o lugar de seu teste, essa ilha que não era uma i lha. Ele olhou para o céu mais
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uma vez e silenciosamente, desesperadamente chamou por Merriman; mas Merriman não
veio, e nenhuma palavra ou sinal dele surgiu na ment e de Will.
A tempestade ainda não estava caindo, e o vento tinha reduzido um pouco; o
barulho do rio estava mais alto do que todos os outros. A égua branca dobrou seu
pescoço longo e Will desceu desajeitadamente.
Através da neve amontoada, às vezes gelo duro e às vezes suave o bastante para
enterrá-lo a té a coxa, ele foi explorar sua ilha estranha. Tinha pensado nela como um
círculo, nas tinha a forma semelhante a um ovo, com seu ponto mais al to na ponta onde a
égua branca f icou. Árvores cresciam ao r edor de seus pés; acima deles havia uma aberta
ladeira nevada; acima dela uma cober tura de arbusto s ásperos dominada por uma s imples
árvore de faia antiga retorcida. Saindo da neve aos pés dessa grande árvore, de modo
mais surpreendente, quatro correntes se guiam descendo sobre a ilha -colina, dividindo-a
em quatro partes. O cavalo branco permanecia imóvel. Um trovão retumbou no céu
tremulante. Will subiu até a velha árvore de faia, e f icou observando o jato de espuma
mais próximo sair debaixo de uma grande ra iz cheia de neve. E a cantoria começou.
Era sem palavras; vinha no vento; era um f ino, alto e f rio lamento sem tom ou
padrão def inível. Vinha de muito dis tante, e não era agradável de ouvir. Mas o manteve
hipnotizado, afastando seus pensamentos de sua di reção correta, afas tando -os de tudo
exceto da contemplação de seja lá o que fosse que est ivesse mais próximo. Will sentiu
que estava cr iando raízes, como a árvore acima dele. Enquanto ele ouvia a canção, viu
um ramo em um galho baixo da faia perto de s ua cabeça, que por razão alguma parecia
tão totalmente enfei tiçada que ele não conseguia fazer nada a não ser observar, como se
ela contivesse o mundo todo. Ele observou por tanto tempo, seus olhos se movendo tão
gradualmente até o pequeno ramo e de volta, que sentiu como se t ivessem passados
muitos meses, enquanto a alta e estranha canção continuava e cont inuava entrando pelo
céu desde o seu dis tante início. E então de repente ela parou e ele foi deixado surpreso
com seu nariz quase tocando um ramo de faia muito comum.
Ele soube então que o Escuro tinha seus próprios meios de colocar até mesmo um
Antigo Escolhido fora do Tempo por um espaço, se eles precisassem de espaço para sua
própria magia. Pois diante dele, perto do tronco da grande faia, estava Hawki n.
Agora ele era mais reconhecivelmente Hawkin, embora ainda fosse o Andarilho
em idade. Will sentiu que es tava olhando para dois homens em um. Hawkin ainda estava
vestido em seu casaco verde; ele ainda parecia novo, com um toque de um laço branco no
pescoço. Mas a f igura dentro do casaco não era mais asseada e f lexível, era menor,
curvada e encolhida pela idade. E o rosto tinha linhas e era gasto debaixo de longos
tufos de cabelo cinza; os séculos que tinham atingido Hawkin deixaram apenas seus
af iados olhos brilhantes intactos. Agora aqueles olhos olharam para Will com fria
hostil idade, além da neve amontoada.
“Sua irmã está aqui,” disse Hawkin.
Will não conseguia para r de olhar rapidamente ao redor da ilha. Mas ela estava
vazia como antes.
Ele disse f r iamente: “Ela não es tá aqui. Você não vai me pegar com um truque
idiota como esse.”
Os olhos se es tre itaram. “Você é arrogante,” Hawkin sibilou. “Você não vê tudo
que deve ser conhecido no mundo, Antigo Escolhido com o dom, e nem os seus mestres.
Sua irmã Mary es tá aqui, nesse lugar , ainda que ela não possa ser vista por você. Esse é
um encontro para a única barganha que meu senhor o Cavaleiro fará. Sua irmã pelos
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Signos. Você não tem muita escolha. Vocês são bons em arriscar a vida dos outros” – a
boca velha cruel curvou-se em um sorriso – “mas eu não acho que Will Stanton gostar ia
de ver sua irmã morrer.”
Will disse, “Não posso vê - la. Ainda não acredito que ela es teja aqui.”
Observando-o, Hawkin disse para o ar vazio, “Mestre?” E de repente o a lto cant o
sem palavras começou novamente, lançando Will de volta na lenta contemplação que era
quente e relaxante como o sol do verão, mas ao mesmo tempo horrível em sua suave
prisão da mente. Isso o transformou, enquanto ele estava ouvindo; o fez esquecer da
tensão de lutar pela Luz; mergulhou-o, dessa vez, no observar do modo como as sombras
e buracos formavam padrões em um caminho de neve per to de seus pés . Ele f icou ali
solto e re laxado, olhando para um ponto de gelo branco aqui, um buraco de escuridão ali ,
e o canto lamuriou em seu ouvido como o vento at ravés de fendas em uma casa caindo
aos pedaços.
Então parou novamente, e não havia nada, e Will viu com um choque como o f rio
súbito que ele es tava olhando não para um padrão de meras sombras na neve, mas para as
linhas e curvas do rosto de sua i rmã Mary. Ali jazia ela na neve, com as roupas que
usava quando ele a viu pela última vez; viva e i lesa, mas olhando de modo vazio para ele
sem qualquer sinal de que o reconhecia ou soubesse onde ela es tava. Na verdade, Will
pensou infel iz, ele também não sabia onde ela estava, pois embora lhe estivesse sendo
mostrada a aparência dela, era muito improvável que ela est ivesse realmente ali dei tada
na neve. Ele se moveu para tocá -la, e como ele esperava ela desapareceu comp letamente,
e apenas as sombras estavam na neve como antes.
“Você percebe,” disse Hawkin, imóvel ao lado da árvore de faia. “Tem algumas
coisas que o Escuro pode fazer, mui tas coisas, sobre as quais você e seus mestres não
possuem controle algum.”
“Isso é bastante óbvio,” disse Will. “Caso contrár io não haveria tal t ipo de coisa
como o Escuro, haveria? Nós podemos apenas dizer a ele para ir embora.”
Hawkin sorriu, sem irr itação. Ele disse suavemente, “Mas ele nunca irá embora.
Uma vez que ele surge, trans forma toda a resistência em nada. E o Escuro sempre virá,
meu jovem amigo, e sempre vence. Como você vê, temos sua irmã. Agora você vai me
entregar os Signos.”
“Entregá - los a você?” Will disse com desprezo. “Para um verme que ras tejou para
o outro lado? Nunca!”
Ele viu os punhos apertarem brevemente nas mangas da jaqueta de veludo verde.
Mas esse era um velho, velho Hawkin, não seria ludibriado; tinha a s i mesmo sob
controle agora que não era mais o Andarilho que f icava perambulando mas parte do
Escuro. Havia apenas uma pequena pitada de fúria na voz. “Você faria bem em negociar
com o mensageiro do Escuro, garoto. Se não o f izer, pode invocar mais do que gostaria
de ver.”
O céu tremeu e re tumbou, trazendo uma breve luz brilhante para a água que rugia
por todo redor, para a grande árvore que cobria a pequena ilha, para a f igura de jaqueta
curvada ao lado de seu tronco. Will disse, “Você é uma cr iatura do Escuro. Você
escolheu a tra ição. Você não é nada. Não vou negociar com você.”
O rosto de Hawkin se torceu enquanto olhava para ele maldosamente; então olhou
em direção à escura e vazia Comunidade e chamou: “Mestre!” Então de novo, dessa vez
com um guincho raivoso: “Mestre!” Will f icou parado, tranqüilo , esperando. No extremo
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da ilha ele viu a égua branca da Luz, quase invisível contra a neve, ergue r sua cabeça e
farejar o ar, bufando suavemente. Ela olhou uma vez em direção a Wil l como que em
notif icação; então virou na direção da qual eles tinham vindo, e galopou para longe.
Dentro de segundos, algo surgiu. Não houve som algum, ainda, apenas o rio
apressado e a tempestade resmungante e crescente. A coisa que apareceu era totalmente
silenciosa. Era grande, uma coluna de névoa negra como um tornado, gi rando em enorme
velocidade para cima entre a terr a e o céu. Em cada ponta e la parecia larga e sólida, mas
o centro ondulava, f icava delgado e então espesso novamente; ela se entrelaçava para
f rente e para trás enquanto vinha, em um tipo de dança macabra. Era um buraco no
mundo, esse espectro negro rodopiante; um pedaço do vazio eterno do Escuro tornado
visível. Enquanto vinha chegando mais perto e mais perto da ilha, curvando e retorcendo,
Will não conseguia evitar de recuar ; cada parte dele gr itava s ilenciosamente em alarme.
O pilar negro oscilou diante dele, cobrindo toda a ilha. Sua névoa s ilenciosa
rodopiante não mudou, mas separou-se, e parado dentro dela estava o Cavaleiro Negro.
Ele f icou com a névoa girando ao redor de suas mãos e cabeça, e sorriu para Will: um
frio sorriso desprovido de alegria, com as pesadas barras de sobrancelhas curvadas e
ameaçadoras acima. Ele es tava todo de preto novamente, mas as roupas eram
inesperadamente modernas; ele vest ia uma pesada jaqueta preta e ásperas calças de brim.
Sem um tremor sequer no gélido sorr iso ele se moveu um pouco para o lado, e para fora
da serpenteante névoa negra da coluna veio seu cavalo, a grande besta negra com olhos
ardentes, e em sua costa sentava Mary.
“Olá, Will,” Mary falou alegremente.
Will olhou para e la. “Alô.”
“Suponho que estava procurando por mim,” disse Mary. “Espero que ninguém
tenha f icado preocupado. Eu só saí para dar um pequeno passeio, só por um minuto ou
dois. Quero dizer, quando fui procurar por Max, e então encontrei o Sr. Mitothin e
descobri que Papai tinha enviado ele p ara procurar por mim, bem, obviamente estava
tudo bem. Eu f iz uma cavalgada adorável. Esse é um super cavalo. . . e que dia adorável
agora. . .”
O trovão retumbou, por trás da espessa nuvem negra -acinzentada. Will es t remeceu
descontente. O Cavaleiro, observando-o, disse bem alto , “Aqui está um pouco de açúcar
para o cavalo, Mary. Acho que ele merece, não acha?” E ele estendeu sua mão, vazia.
“Oh, obrigada,” disse Mary alegremente. Ela se inclinou para f rente sobre o
pescoço do cavalo e p egou o açúcar imaginário da mão do Cavaleiro. Então ela se esticou
até o lado da boca do garanhão, e o animal lambeu rapidamente em sua palma. Mary
sorriu. “Pronto,” e la disse. “Está bom?”
O Cavaleiro Negro ainda olhava para Will, seu sorriso alargando -se um pouco. Ele
abriu sua palma zombando de Mary, e nela Will viu uma pequena caixa branca, feita de
um vidro translúcido, com linhas de símbolos rúnicos gravados na tampa.
“Eu a tenho aqui, Antigo Escolhido,” disse o Cavaleiro, sua voz acentuadamente
nasa l levemente triunfante. “Presa pelas marcas do Velho Feitiço de Lir, que foi escrito
faz muito tempo atrás em um certo anel e então perdido. Você deveria ter olhado o anel
de sua mãe mais de perto, você e aquele seu pai simples artesão, e Lyon seu mestre
descuidado. Descuidado. . . Sob esse feitiço eu tenho sua irmã presa pelo totem mágico, e
você mesmo preso também, incapaz de resgatá - la. Veja!”.
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Ele abriu a pequena caixa, e Wil l viu nela um arredondado e delicadamente
entalhado pedaço de madeira, com uma f rágil l inha de ouro amarrada. Com espanto ele
lembrou do único ornamento que es tava faltando da coleção de Natal entalhada pelo
Fazendeiro Dawson para a família Stanton, e o cabelo dourado que o Sr. Mitothin, o
visi tante de seu pai, havia ret irado com casu al cortesia da manga de Mary.
“Um s ímbolo de nascimento e um cab elo da cabeça são totens excelentes,” o
Cavaleiro disse. “Nos dias antigos quando éramos todos menos sof isticados, você
poderia, é claro, realizar a magia até mesmo at ravés do chão que o pé de um homem
t ivesse pisado.”
“Ou onde a sua sombra tivesse passado,” disse Will.
“Mas o Escuro não lança sombra alguma,” o Cavalei ro disse suavemente.
“E um Ant igo Escolhido não tem s ímbolo de nascimento,” disse Will.
Ele viu incerteza cinti lar sobre o conc entrado rosto branco. O Cavalei ro fechou a
caixa branca e a enf iou em seu bolso. “Bobagem,” ele disse de modo áspero.
Will olhou para ele pensativamente. Ele disse, “Os mestres da Luz não fazem nada
sem uma razão, Cavaleiro. Mesmo que a razão não seja com preendida por anos e anos.
Onze anos atrás o Fazendeiro Dawson, da Luz, entalhou um cer to s ímbolo para mim em
meu aniversário , e se ele tivesse feito o s ímbolo com a letra de meu nome, como era a
tradição, então talvez vocês pudessem ter usado ele para me apr isionar dentro de seu
poder. Mas ele o fez no s ímbolo da Luz, um círculo cortado por uma cruz. E como você
sabe muito bem, o Escuro não pode usar nada com aquela forma para seus próprios
objetivos. É proibido.”
Ele olhou para o Cavalei ro. Ele disse, “Acho q ue você está tentando me iludir
novamente Sr. Mitothin. Sr. Mithothin, Cavaleiro Negro do cavalo negro.”
O Cavaleiro fez uma careta. “Você ainda es tá impotente,” ele disse. “Pois eu
tenho sua irmã. E você não pode salvá -la a não ser me entregando os Sign os.” A maldade
brilhou de novo em seus olhos. “O seu grande e nobre Livro deve ter dito a você que eu
não posso ferir aqueles que são do mesmo sangue de um Antigo Escolhido , mas olhe para
ela. Ela fará qualquer coisa que eu sugerir que ela deve fazer. Até mesmo pular dentro
desse agitado Thames. Há partes do of ício que vocês negl igenciam, você sabe. É tão
simples persuadir pessoas a entrar em situações onde el as a traem acidente sobre si
mesmas. Como a sua mãe, por exemplo, tão descuidada.”
Ele sorriu de novo para Wil l. Will o encarou em retorno, odiando ele; então olhou
para o rosto feliz semi-consciente de Mary e sentiu por ela estar em tal lugar. Ele
pensou: e tudo porque ela é minha irmã. Tudo por minha causa.
Mas uma voz silenciosa disse dentro de sua mente: “Não por sua causa. Por causa
da Luz. Por causa de tudo que sempre deve acontecer, para evitar que o Escuro se erga.”
E com uma onda de alegria Will soube que não es tava mais sozinho; isso porque o
Cavaleiro estava longe de casa, Merriman também es tava perto novamente, l ivre para
fornecer a juda se fosse necessár io.
O Cavalei ro estendeu sua mão. “Esse é o momento para sua barganha, Will
Stanton. Entregue-me os Signos.”
Will deu a respirada mais profunda de sua vida, e deixou sair lentamente. Ele
disse, “Não.”
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Admiração era uma emoção que o Cavalei ro Negro tinha esquecido muito tempo
atrás. Os penetrantes olhos azuis observaram Wil l em total incredul idade. “Mas você
sabe o que eu farei?”
“Sim,” disse Will. “Eu sei. Mas não entregarei os Signos a vo cê.”
Por um longo momento o Cavaleiro olhou para ele, do vasto pilar negro de névoa
rodopiante no qual e le es tava; em seu rosto incredulidade e fúria estavam mesclados com
um tipo de respeito maligno. Então ele virou para o cavalo negro e para Mary e gr it ou
algumas palavras em uma linguagem que Will deduziu, com o calafrio que elas
colocavam em seus ossos, devia ser a pronúncia de feitiço do Escuro, raramente usada
em voz al ta. O grande cavalo balançou sua cabeça, dentes brancos brilhando, e
projetados para f rente, com a feliz Mary sem juízo agarrando sua crina e rindo
abertamente. Ele se aproximou do banco de neve saliente que ladeava o rio , e parou.
Will aper tou os Signos no seu Cinto, em agonia pelo risco que estava correndo, e
com toda seu poder invoco u o poder da Luz para vir em seu auxílio .
O cavalo negro emitiu um rel incho, guinchando de modo lamurioso e saltou no ar
sobre o Thames. No meio do caminho em seu salto ele se curvou estranhamente, dando
um coice no ar, e Mary gri tou de terror, agarrando desesperadamente seu pescoço. Mas o
equilíbrio dela se foi, e ela caiu. Wil l pensou que ir ia desmaiar enquanto ela girava pelo
ar, seu r isco t ransformando -se em desastre; mas ao invés de mergulhar no rio , ela caiu na
neve macia em sua margem. O Cavaleiro N egro amaldiçoou selvagemente, sal tando para
f rente. Ele nunca a a lcançou. Antes que estivesse no meio do passo, um grande
relâmpago em forma de f lecha saiu da tempestade agora acumulada quase sobre as
cabeças, e um som de trovão gigantesco, e saindo do f la sh e do rugido uma intensa linha
branca correu sobre a ilha em direção a Mary, carregando -a de modo que em um instante
ela desapareceu, levada para longe, segura. Wil l mal conseguiu ver de relance a forma
incl inada de Merr iman, encapada e encapuzada, na ég ua branca da Luz, com o cabelo
loiro de Mary voando onde ele a segurava. Então a tempestade irrompeu, e o mundo todo
girou f lamejante ao redor de sua cabeça.
A terra tremeu. Por um instante ele viu o Castelo de Windsor delineado em preto
contra um céu branco. Relâmpago ofuscou seus olhos, t rovão retumbou em sua cabeça.
Então at ravés da cantoria em seus ouvidos confusos ele ouviu um est ranho chiado e
rangido perto. Ele se virou. Atrás dele, a grande árvore de faia es tava rachada ao meio,
ardendo em grandes chamas, e e le percebeu com assombro que a forte correnteza das
quatro correntes da ilha es tavam diminuindo e diminuindo, transformando -se em nada.
Ele olhou amedrontado para a coluna negra do Escuro, mas ela não podia ser vista em
lugar algum na tempestade furiosa, e a estranheza de tudo mais que estava acontecendo
tirou da mente de Will o pensamento a respei to disso.
Pois não foi apenas a árvore que tinha sido dividida e quebrada. A própria ilha
estava mudando, abrindo -se, afundando em direção ao rio . Wil l observou mudo, agora
f icando em uma borda de terra cheia de neve deixada pelas correntes desaparecidas,
enquanto em torno dele neve e a terra deslizou e desmoronou dentro do revolto Thames.
Acima dele, viu a coisa mais estranha de todas. Algo estava emergindo da ilha, enquanto
a terra e neve se desfaziam. Primeiro surgiu, do que havia sido a parte mais alta da ilha,
a cabeça de um cervo com forma tosca, de armação bem alta. Era dourada, cintilando
mesmo naquela luz f raca. Mais entrou no campo de visão ; agora Wil l conseguia ver o
cervo todo, uma linda imagem dourada, empinando -se. Então apareceu um cur ioso
pedestal curvado no qual ele estava, como que para saltar longe; então por trás dele uma
longa, longa forma horizontal, tão longa quanto a ilha, elev ando-se novamente na outra
extremidade em outro ponto alto de ouro -cinti lante, dessa vez tendo na ponta um tipo de
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pergaminho. E de repente Will percebeu que ele estava olhando para um barco. O
pedestal era a sua alta proa curvada, e o cervo sua carranca.
Surpreso, ele se moveu em direção a ele, e imperceptivelmente o rio moveu -se
atrás dele, a té que não res tava nada da ilha mas apenas o comprido barco em um último
círculo de terra, com um último amontoado de neve que se erguia ao redor dele. Will
f icou observando. Nunca tinha visto tal t ipo de barco. As longas madeiras da qual ele foi
construído sebrepunham-se umas às outras como as madeiras de uma cerca, pesadas e
largas; elas pareciam carvalho. E não conseguia ver mastro algum. Ao invés disso havia
lugares para colunas e colunas de remadores, subindo e descendo por todo o
comprimento da embarcação. No centro es tava um t ipo de cabine que fazia o barco
parecer quase como a Arca de Noé. Não era uma est rutura fechada; seus lados pareciam
ter s ido cortados fora, deixando as vigas dos cantos e telhado como uma coberta. E do
lado de dentro, sob a cobertura, jazia um rei.
Will recuou um pouco ao vê-lo. A f igura enrolada estava imóvel, com espada e
escudo ao seu lado, e tesouros empilhados ao seu redor em mont es cintilantes. Ele não
usava coroa. Ao invés disso um grande elmo gravado cobria a cabeça e a maior parte do
rosto, adornado por uma pesada imagem de prata de um animal com um longo focinho
que, Will pensou, deveria ser de um porco selvagem. Mas mesmo sem u ma coroa esse era
claramente o corpo de um rei. Nenhum homem inferior poderia ter merecido os pratos de
prata e bolsas com jóias, o grande escudo de bronze e ferro, a bainha ornamentada, os
chif res com bordas de ouro, e os montes de adornos. Em um impulso Wil l ajoelhou-se na
neve e abaixou sua cabeça em respeito. Enquanto olhou para c ima novamente,
levantando-se, e le viu por sobre a amurada do barco algo que não havia notado antes.
O rei estava segurando algo em suas mãos, onde elas jaziam tranquilamente
dobradas sobre o seu peito . Era outro ornamento, pequeno e cintilante. E quando Will o
viu mais de perto, ele f icou imóvel como pedra, agarrando a alta borda de carvalho do
barco. O ornamento nas mãos sossegadas do rei do longo barco tinha a forma de um
círculo, dividido por uma cruz. Era f eito de vidro i ridescente, estampado com serpentes,
enguias e peixes, ondas e nuvens e coisas do mar. Ele chamou s ilenciosamente por Will.
Esse era sem qualquer dúvida o Si gno da Água; o último dos Seis Grandes Signos.
Will subiu pelo lado do grande barco e se aproximou do rei. Tinha que ter cuidado
com onde seus pés se moviam, ou ele esmagaria f inos trabalhos de couro estampado e
mantos bordados, jóias decoradas, colares e f ios de ouro. Ficou olhando para baixo po r
um momento no rosto branco meio escondido pelo elmo ornado, e então se esticou
reverentemente para pegar o Signo. Mas primeiro ele teve que tocar a mão do rei morto,
e ela estava mais f ria do que qualquer pedra. Will vaci lou e se afastou, hesi tante.
A voz de Merr iman disse suavemente, de perto, “Não tenha medo dele.”
Will engoliu em seco. “Mas . . . ele está morto.”
“Ele f icou aqui em seu cemitério por mil e quinhentos anos, esperando. Em
qualquer outra noite do ano ele não estaria aqui, ele ser ia pó. Sim, Will, essa aparência
dele é a da morte. O resto dele se foi além do Tempo, há muito.”
“Mas é errado roubar o tributo de um morto.”
“Esse é o Signo. Se ele não fosse o Si gno, e destinado a você, o Buscador dos
Signos, ele não estaria aqui para entreg á-lo. Pegue-o.”
Então Will se inclinou sobre o esquife e pegou o Si gno da Água do aperto f rouxo
das f rias mãos mortas, e de algum lugar distante um murmúrio de sua musica sussurrou
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em seus ouvidos e então desapareceu. Ele vi rou para o lado do barco. Al i a o lado estava
Merriman, sentado na égua branca; ele estava encapuzado de azul escuro, com o seu
rebelde cabelo branco descoberto; os sulcos de sua face ossuda estavam escurecidos pel a
tensão, mas delei te cinti lava em seus olhos.
“Foi bem feito , Will,” ele d isse.
Will estava contemplando o Signo em suas mãos. O bri lho sobre ele era a
iridescência de toda madrepérola, todos os arco -íris; e luz dançou sobre ele enquanto
dançava na água. “É lindo,” ele disse . Meio relutante , af rouxou a ponta do cinto e enf iou
o Signo da Água, para f icar perto do cint ilante Si gno do Fogo.
“Esse é um dos mais antigos,” disse Merr iman. “E o mais poderoso. Agora que
você o possui, eles perderam seu poder sobre Mary para sempre . Aquele feitiço está
morto. Venha, devemos partir .”
Inquietação af iou sua voz; ele t inha visto Will agarrar rapidamente em uma viga
enquanto o longo barco, de repente, inclinou para um lado inesperadamente. Ele se
ergueu, balançou um pouco, então seguiu na direção oposta. Will viu, sub indo pelo lado,
que o Thames tinha se e levado ainda mais enquanto ele não estava olhando. A água
lambia ao redor do grande barco, e ele quase tinha f lutuado. Agora o rei morto não riria
repousar por muito tempo na terra que uma vez havia sido uma ilha.
A égua girou em direção a ele, bufando uma saudação, e no mesmo momento
encantado de música como antes Wil l es tava sobre o cavalo branco da Luz, sentado na
f rente de Merriman. O barco quicou e girou, agora f lutuando totalmente e o cavalo
branco saiu do seu caminho para aguard ar nas proximidades, observando, a água do rio
espumando ao redor de suas pernas robustas. Estalando e chocalhando, o longo barco
entregou-se à fúria do revolto Thames. E ra uma embarcação muito larga para ser
vencida; seu peso o mantinha estável mesmo naquela água rodopiante, uma vez que t inha
encontrado equil íbrio. Então o rei morto jazia imóvel com dignidade, em meio às suas
armas e brilhante tributo, e Will teve uma última visão do rosto branco semelhante a uma
máscara enquanto o grande barco moveu -se para longe r io abaixo.
Ele falou por sobre os ombros, “Quem era ele?”
Houve um grave respeito no rosto de Merr iman enquanto ele observava o longo
barco ir. “Um rei Inglês, das Eras Negras. Acho que não usaremos seu nome. As Eras
Negras eram nomeadas co rretamente, uma época sombria para o mundo, quando os
Cavaleiros Negros cavalgavam livres sobre toda nossa terra. Apenas os Antigos
Escolhidos e alguns nobres homens bravos como esse mantinham a Luz viva.”
“E ele foi enterrado em um barco, como os Vikings .” Wil l es tava observando o
cint ilar de luz sobre o cervo dourado da proa.
“Ele próprio era par te Viking,” disse Merriman. “Havia t rês grandes navios -
cemitério próximos a esse Thames, em dias passados. Um esteve enterrado no século
passado perto de Taplow, e destruído no processo. Um era esse barco da Luz, que não
estava destinado a ser encontrado pelos homens. E um era o maior barco, do maior rei de
todos, e esse eles não encontraram e talvez nunca encontrem. Ele jaz em paz.” Ele parou
abruptamente, e com um movimento de sua mão o cavalo branco virou, pronto para saltar
para longe do rio , para o sul.
Mas Will ainda es tava se esforçando para ver o longo barco, e a lgo de sua tensão
pareceu infectar o cavalo e mestre. Eles pararam. Naquele momento, um extrao rdinário
facho de luz azul surgiu rapidamente do leste, não do céu trovejante mas de algum outro
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lugar do outro lado da Comunidade. Ele atingiu o navio. Um grande monte de chamas
estourou al i , sobre o largo rio e seus brancos bancos íngremes, e da proa até a popa o
barco do rei estava lineado por fogo salt itante. Will deu um chocante gr ito sem palavras,
e o cavalo branco tremeu inquieto, pisoteando a neve.
Atrás de Will, a forte voz profunda de Merriman disse, “Eles sopram seu rancor,
pois sabem que já é tarde demais. É muito fácil , agora e novamente, predizer o que o
Escuro fará.”
Will falou, “Mas o rei, e todas as suas belas coisas. . .”
“Se o Cavalei ro parasse para pensar, Will, ele saberia que sua explosão de malícia
não fez mais do que cr iar um correto e apropriado f im para esse grande barco. Quando o
pai desse rei morreu, ele foi colocado em um barco do mesmo jeito , com tod os os seus
pertences mais explêndidos ao redor dele, mas o barco não foi enterrado. Esse não era o
costume. Os homens do rei colocaram fo go nele e o enviaram queimando sozinho pelo
mar, uma tremenda pira navegante. E isso, veja, é o que nosso Rei do Último Si gno está
fazendo agora: navegando em fogo e água para seu longo descanso, descendo o maior rio
da Inglaterra, em direção ao mar.”
“E bom descanso para ele,” disse Will suavemente, f inalmente vi rando seus olhos
das chamas que saltavam. Mas por um longo tempo depois, para onde quer que fossem,
eles podiam ver o brilho do longo barco ardente clareando uma parte do escuro céu
tempestuoso.
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arte Três: O Teste
Caçador Cavalga
“Venha,” disse Merr iman, “não devemos perder mais tempo!” E a égua branca
girou com eles para longe do rio e se ergueu no ar, espirrando a água espumante,
cruzando o Thames indo para o lado que era o f inal de Buckinghamshir e , o começo de
Berkshire. Ela saltou com desesperada velocidade, e a inda assim Merriman apressava -
lhe. Wil l sabia porque. Ele deu uma o lhada, a través das dobras f lutuantes da capa azul de
Merriman, a grande coluna do tornado negro do Escuro formou -se novamente ainda mais
larga do que antes, cruzando terra e céu, girando silenciosamente no brilho do barco em
chamas. Ela os estava seguindo, e estava se movendo muito rápido.
Um vento irrompeu do leste e chicoteou sobre eles; a capa deslizou para f rente ao
redor de Will, envolvendo -o, como se ele e Merr iman estivessem fechados em uma
grande tenda azul.
“Esse é o pico de tudo,” Merr iman gritou em seu ouvido, o mais alto que podia,
mas ainda assim mal podia ser ouvido em meio ao crescente rugido do vento. “você tem
os seis Signos, mas eles ainda não foram unidos. Se o Escuro puder pegá -lo agora, eles
pegam tudo que precisam para elevar -se ao poder. Agora eles tentarão ao máximo.”
Em seu galope, passavam por casas, lojas e pessoas desavisadas combatendo as
inundações; passaram por telhados e chaminés, sobre cercas, por campos, através de
árvores, nunca longe da terra. A grande coluna negra os perseguia, correndo com o
vento, e dentro dela e a través dela cavalgava o Cavaleiro Negro em seu cavalo negro com
mandíbula de fogo, apressado atrás deles, com os próprios Senhores do Escuro seguindo
no ombro dele como uma escura nuvem giratória.
A égua branca ergueu -se novamente, e Will olhou para baixo. Agora árvores
estavam por toda parte abaixo deles ; grandes carvalhos e spalhados e faias em campos
abertos, e então fechadas f lorestas cortadas por longas avenidas retas. Cer tamente agora
eles estavam galopando em um tipo de avenida, passando por pinheiros pesados de neve
aninhados, e saindo novamente em terra aberta. . . Relâm pagos bri lhavam ao lado
esquerdo dele, saltando nas profundezas de uma grande nuvem, e em sua luz ele viu a
massa escura do Castelo de Windsor erguendo -se bem próximo. Ele pensou: se esse é o
castelo, devemos estar no Grande Parque.
Começou a sent ir, também, que eles não estavam mais sozinhos. Duas vezes ele já
tinha escutado de novo aquele es tranho uivo alto no céu, mas agora havia mais. Seres de
seu próprio tipo estavam por aqui, em algum lugar, no Parque abarrotado de árvores. E
ele sentiu, também, que o maciço céu cinzento não es tava mais sem vida, e sim povoado
por criaturas nem do Escuro, nem da Luz, se movendo para f rente e para trás, agrupando -
se e separando-se, possuindo grande poder. .. Agora a égua branca estava de novo na neve
embaixo, os cascos pisando sobre caminhos com gelo, neve parcialmente derretida, de
forma mais deliberada do que antes. De repente Wil l percebeu que ela não es tava
respondendo a Merriman, como ele havia pensado, mas seguindo algum impulso profundo
dela mesma.
Relâmpagos cint ilaram de novo ao redor deles, e o céu rugiu. Merriman disse ao
lado de seu ouvido: “Você conhece o Carvalho de Herne?”
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“Sim, é c laro,” Will disse prontamente. Ele havia conhecido a lenda local a sua
vida toda. “É onde nós estamos? A grande árvore de carvalho no Grande Parque onde. . .”
Ele engasgou. Como podia não ter pensado nisso? Porque o Gramarye havia
ensinado a ele tudo menos isso? Ele continuou, lentamente, “onde Herne, o Caçador,
deveria cavalgar na véspera da Décima Segunda Noite?” Então e le se virou olhando para
assustado para Merriman. “Herne?”
“Eu vou começar a Caça ,” havia dito o Velho George. Merr iman disse, “É claro.
Essa noi te o Caçador cavalga. E por que você fez bem a sua parte, essa noite pela
primeira vez em mais de mil anos o C açador terá uma caça.”
A égua branca reduziu o passo, farejando o ar. Ventos es tavam dividindo o céu;
uma meia-lua navegou al to através das nuvens, então desapareceu novamente.
Relâmpagos dançaram em seis lugares de uma vez, as nuvens rugiram e rosnaram. o pilar
negro do Escuro veio correndo em direção a eles, então parou, girando e ondulando,
f lutuando entre a terra e o céu. Merriman disse, “Um Antigo Caminho ci rcunda o Grande
Parque, o caminho at ravés de Hunter 's Combe. Eles levarão um tempinho para enco ntrar
um caminho para passar.”
Will es tava se esforçando para ver em frente através da escuridão. Na luz
intermitente e le podia divisar a forma de uma solitária árvore de carvalho, estendendo
grandes braços de seu tremendo tronco curto. Diferente da maior ia das outras árvores a
vista, ela não carregava o menor resto de neve; e uma sombra permanecia ao lado de seu
tronco, do tamanho de um homem.
A égua branca viu a sombra ao mesmo tempo. Ela soprou forte pelo nar iz, e
pisoteou o chão.
Will disse para si mesmo, muito suavemente, “O cavalo branco deve ir até o
Caçador. . .”
Merriman o tocou no ombro, e com rápida facilidade eles deslizaram para o chão.
A égua curvou sua cabeça para eles, e Will pousou sua mão no forte e suave pescoço
branco. “Vá, minha amiga, ” disse Merriman, e o cavalo virou e trotou ansiosa em direção
à grande e soli tár ia árvore de carvalho e da misteriosa sombra imóvel debaixo dela. A
cria tura que possuía aquela sombra era de imenso poder; Wil l recuou diante da sensação
dele. A lua entrou por trás das nuvens de novo; por algum tempo não houve relâmpago
algum; na escur idão eles não conseguiam ver nada se mover debaixo da árvore. Um som
surgiu através da escur idão: um relin cho de saudação da égua branca.
Como que em contraponto, um profundo ganido bufante saiu das árvores ao lado
deles; quando Will se virou, a lua pairou livre da nuvem novamente, e ele viu a grande
silhueta de Pollux, o cavalo shire da Fazenda Dawsons, com o Velho George alto em sua
costa.
“Sua i rmã está em casa, garoto,” dis se Velho George. “Ela se perdeu, você sabe, e
adormeceu em um velho celeiro, e teve um sonho est ranho que ela já está esquecendo. . .”
Will acenou com a cabeça agradecido e sorriu; mas ele estava olhando para uma
cur iosa forma arredondada, embrulhada, que G eorge segurava diante dele. “O que é
isso?” Seu pescoço estava formigando apenas por estar perto daquilo, seja lá o que fosse.
Velho George não respondeu; e le se inclinou para Merriman. “Está tudo bem?”
141
“Tudo vai bem,” disse Merriman. Ele est remeceu, e j ogou sua capa longa em torno
de si. “Entregue para o garoto.”
Ele olhou seriamente para Will com seus profundos olhos inescrutáveis, e Will,
pensativo, foi em direção ao cavalo de carga e f icou ao joelho de George, olhando para
cima. Com um rápido sorriso sem alegr ia que parecia mascarar grande tensão, o velho
abaixou a carga sombria em direção a ele. Tinha a metade da largura do próprio Will,
embora não fosse pesada; estava enrolada em sacos. Assim que colocou as mãos, Will
soube instantaneamente o que era. Não pode ser, ele pensou incredulamente; qual ser ia o
propósito? Trovões retumbaram novamente, por todo lado.
A voz de Merriman disse, profunda nas sombras at rás dele, “Mas é claro que é. A
água trouxe, em segurança. Então os Antigos Escolhidos ti raram da água no momento
apropriado.”
“E agora,” disse Velho George, de sua posição elevada sobre o paciente Pollux,
“Você deve levar até o Caçador, jovem Antigo Escolhido.”
Will engoliu nervosamente. Um Antigo Escolhido não tem nada a temer no mundo,
nada. Ainda assim, havia algo tão est ranho e surpreendente naquela f igura sombria
debaixo do carvalho gigante, a lgo que fazia alguém sentir -se desnecessário,
insignif icante, pequeno. . .
Ele colocou-se ereto. Desnecessário era a palavra errada, de qualquer modo; ele
tinha uma tarefa a cumprir. Erguendo sua carga como um estandar te, ele ret irou suas
cobertas, e a clara, estranha cabeça de carnaval que era metade homem, metade fera
emergiu tão suave e a legre como se tivesse acabado de chegar de sua ilha distante. As
armações f icavam elevadas orgulhosamente; ele viu que elas eram exatamente da mesma
forma daquelas no cervo dourado, a carranca do barco do rei morto. Segurando a máscara
diante dele, caminhou f irmemente em direção da sombra profunda do grande carvalho.
Perto dele, parou. Ele podia ver um brilho de branco vindo da égua, movendo -se
gentilmente em reconhecimento; ele podia ver que a égua tinha um cavaleiro. Mas isso
foi tudo.
A f igura no cavalo curvou-se até ele. Ele não viu o rosto, mas apenas sentiu a
máscara erguida de suas mãos . . . e suas mão despencaram como se tivessem sido
liberadas de um grande peso, ainda que a cabeça desde o início parecesse tão leve. Ele
recuou. A lua surgiu navegando de repente de t rás de uma nuvem, e por um momento
seus olhos foram ofuscados enquanto olhava dentro de sua f ria luz branca; então ela
desapareceu novamente, e o cavalo branco estava se movendo para fora da sombra, com a
f igura em suas costas transformada em seu co ntorno contra o céu pálido. Agora o
cavaleiro tinha uma cabeça que era maior do que a cabeça de um homem e com chifres
em armação como os de um cervo. E a égua branca, carregando esse monstruoso homem -
cervo, estava se movendo inexoravelmente em direção a Wil l.
Ele f icou imóvel, esperando, até que o grande cavalo se aproximou; seu nariz
tocou gentilmente seu ombro, uma vez, pela última vez. A f igura do Caçador erguia -se
sobre ele. A luz do luar agora cintilava clara em sua cabeça, e Will encontrou -se
contemplando estranhos olhos castanho -claros, amarelo -ouro, insondáveis, como os olhos
de algum pássaro enorme. Ele olhou dentro dos olhos do Caçador, e ouviu no céu aquele
estranho uivo alto começar de novo; com a dif iculdade de escapar de um encantamento,
ele desviou seu olhar para olhar adequadamente para a cabeça, a gr ande máscara com
chifres que havia sido entregue ao Caçador para que ele colocasse.
Mas ela era verdadeira.
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Os olhos dourados piscaram, envoltos em penas e redondos, com o piscar
deliberado das fortes pálpebras de uma coruja; o rosto do homem no qual ele s se
encontravam estava vi rado totalmente para Will, e a f irme boca curvada sobre a leve
barba partida em um rápido sorriso. Aquela boca perturbava Wil l; não era a boca de um
Antigo Escolhido. Ela podia sorrir em amizade, mas havia também outras linhas ao redor
dela. Onde o rosto de Merriman estava marcado com linhas de tristeza e raiva, o do
Caçador, ao invés disso, mostrava crueldade, e um impiedoso impulso para vingança. Ele
realmente era metade fera. Os galhos escuros da armação de Herne curvaram -se sobre
Will , a luz do luar bri lhando no resplendor aveludado deles, e o Caçador sorriu
suavemente. Ele olhou para baixo, para Will, com seus olhos amarelos, em seu rosto não
havia mais uma máscara, mas algo vivo, e ele falou em uma voz como a de um tenor. “Os
Signos, Antigo Escolhido,” ele disse. “Mostre -me os Signos.”
Sem ti rar seus olhos da grandiosa f igura, Will se a trapalhou com sua f ivela e
segurou os seis cí rculos bem al to na luz da lua. O Caçador olhou para eles e baixou sua
cabeça. Quando a ergueu novamente, lentamente, a voz suave es tava meio -cantando,
meio-recitando palavras que Wil l já tinha ouvido antes.
“When the Dark comes rising, six shall turn it back;
Three from the circle, three from the track;
Wood, bronze, iron; water, f i re, stone;
Five wi ll return, and one go alone.”
“Iron for the birthday, bronze carried long;
Wood from the burning, stone out of song;
Fire in the candle-ring, water from the thaw;
Six Signs the circle, and the grail gone before.”
Mas ele também não parou onde Will esperava que p arasse; ele continuou. . .
“Fire on the mountain shall f ind the harp of gold
Played to wake the Sleepers, oldest of the old;
Power from the green witch, lost beneath the sea;
All shall f ind the light at last, silver on the tree.”
Os olhos amarelos olharam par a Will novamente, mas agora eles não o
enxergavam; tinham f icado frios, indiferentes, um fogo gélido se acumulando neles que
trouxe de volta as linhas cruéis ao rosto. Mas agora Will viu a crueldade como a feroz
inevitabilidade da natureza. Não era por mal ícia que a Luz e os servos da Luz sempre
caçariam o Escuro, mas pela natureza das coisas.
Herne, o Caçador, virou o grande cavalo branco, afastando -se de Will e da árvore
de carvalho, até que sua assustadora f igura est ivesse em campo aberto, sob a lua e a s
nuvens de tempestade que cont inuavam descendo. Ele ergueu sua cabeça, e deu um grito
ao céu que era como o chamado soprado por um caçador em um chifre para reunir os cães
de caça. O som do chifre de caça de sua voz pareceu crescer e crescer, encher o céu e vi r
de mil gargantas de uma só vez.
E Will viu que era ass im mesmo, pois de cada ponto do Parque, de trás de cada
sombra, árvore e saindo de cada nuvem, saltando pelo chão e através do ar, surgiu um
inf indável monte de cães de caça, ladrando, como os c ães de caça fazem quando estão
partindo atrás de um cheiro. Eram grandes animais brancos, fantasmagóricos na meia -
luz, t rotando, se empurrando e pulando juntos; e les nã o prestaram a mínima atenção aos
Antigos Escolhidos ou para qualquer coisa a não ser para Herne em seu cavalo branco.
Suas orelhas eram vermelhas, seus olhos vermelhos; eram cria turas feias. Will recuou
involuntariamente enquanto eles passavam, e um grande cão prateado quebrou o passo
143
para olhar para ele com uma curiosidade tão casual quanto s e ele fosse um galho caído.
Os olhos vermelhos na cabeça branca eram como chamas, e as orelhas vermelhas f icavam
eretas com uma ânsia ameaçadora, de modo que Will tentou não imaginar como seria ser
caçado por tais cães.
Ao redor de Herne e da égua branca eles la tiam e rosnavam, um mar ondulante de
espuma vermelha salpicada; então de repente o homem com os galhos f icou rígido, seus
grandes chifres apontando como um cão de caça aponta, e ele reuniu os cães com um
rápido chamado de reunião, o menèe , que envia um grupo atrás de sangue. Uma cacofonia
de lat idos elevou-se do amontoado de cães brancos, enchendo o céu, e no mesmo instante
a força total da tempestade ir rompeu. Nuvens part iram rugindo em meio a c laros
relâmpagos ir regulares enquanto Herne e o cavalo branco saltaram exultantes dentro da
arena no céu, com os cães de olhos vermelhos lançando -se dentro do ar tempestuoso
atrás deles em uma grande maré branca.
Mas então surgiu um súbito e sufocante s ilêncio terr ível, bloqueando todo o som
da tempestade. No momento desesperado de sua última chance, at ravessando a barrei ra
que o estava mantendo encurralado, o Escuro veio atrás de Will. Fechando o céu e a
terra, o mortal pilar giratório veio até ele, ameaçador em sua furiosa energia ondulante e
completa t ranqüilidade. Não havia tempo para o medo. Will f icou sozinho. E a grandiosa
coluna negra correu para envolvê - lo com todas as forças monstruosas do Escuro reunidas
em sua névoa retorcida, e em seu centro o grande garanhão com a boca espumante
ergueu-se com o Cavaleiro Negro, seus olhos eram dois pontos brilhantes de fogo azul.
Will chamou em vão cada magia de defesa ao seu comando, sabendo ainda que suas mãos
estavam impotentes para se moverem até os Signos procurando ajuda. Ele f icou onde
estava, desesperançado, e fechou seus olhos.
Mas dentro do si lêncio mortal abafador do mundo que o envolvia, surgiu um
pequeno som. Era o mesmo estranho barulho bem alto no céu, como o passar de muitos
gansos migrando em uma noite de outono, que ele tinha ouvido três vezes naqu ele dia.
Mais per to, mais a lto ele foi f icando, abrindo seus olhos. E então ele viu uma cena como
nada que ele já tinha visto antes, nem veria novamente. Metade do céu estava espesso e
ameaçador com o a fúria silenciosa do Escuro e o poder de seu tornado g iratório; mas
agora, cavalgando em direção a ele, vindo do oeste com a velocidade de pedras que
caem, surgiu Herne e a Caçada Selvagem *. Agora no auge de seu poder, gritando, eles
vieram rugindo da grande nuvem de tempestade negra, at ravés de relâmpagos e nuvens
púrpuras-acinzentadas, cavalgando sobre a tempestade. O homem de olhos amarelos
cavalgou rindo de forma terrível, gri tando o comando que reúne os cães em um ataque
total, e o seu brilhante cavalo branco -dourado indo em frente com a crina e a cauda
esvoaçando.
E ao redor deles e inf initamente at rás deles como um largo rio branco espalhavam -
se os Gritos dos Cães, os Uivadores, os Cães de Caça da Condenação, seus olhos
vermelhos queimando com mil chamas em advertência. O céu es tava branco com eles;
eles preenchiam o horizonte ao oeste; e e les cont inuavam vindo, inf initos. Ao som de
suas mil l ínguas semelhantes a s inos que gritavam, a magnif icência do Escuro se
escolheu, oscilou e pareceu tremer. Will avistou o Cavaleiro Negro mais uma vez, alto na
névoa escura; seu rosto estava contorcido de fúria, horror e malevolência congelada, e
por trás desses a consciência da derro ta. Ele girou seu cavalo com tanta ferocidade que o
maleável garanhão negro tremeu e quase caiu. Enquanto ele puxava as rédeas, o
Cavaleiro pareceu jogar algo impacientemente de sua cela, um pequeno objeto escuro que
caiu f lácido e livre até o chão, e f icou ali como uma capa descar tada.
Então a tempestade e o a veloz Caçada Selvagem estavam sobre o Cavaleiro. Ele
cavalgou subindo para dentro de seu refúgio negro rodopiante. O fantást ico pilar -tornado
do Escuro curvou-se e se contorceu, chicoteando como uma cobra em agonia, até que
* Caçada Selvagem(Wild Hunt): mito que havia na Europa no qual fantasmas de caçadores, cavalos, cães de caça, etc. seguiam em
louca perseguição através do céu, do chão ou pouco acima dele. Mortais que testemunhassem a caçada poderiam ser levados para a
terra dos mortos. Também era considerada uma maneira de explicar as tempestades.
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f inalmente houve um grande ruído no céu, e ele começou a correr em furiosa velocidade
em direção ao norte. Sobre o Parque , a Comunidade e Hunter 's Combe ele voou, e atrás
dele foi Herne e a Caçada gri tando, uma longa cris ta branca na onda da tempestade.
O grito dos cães de caça morreu na distância, desaparecendo depois de todos os
sons da perseguição, e acima do Carvalho de Herne a meia lua prateada foi deixada
f lutuando em um céu salpicado de pequenos restos esfarrapados de nuvem.
Will deu um longo suspiro, e olhou ao redor. Merriman estava exatamente como
ele o tinha vis to da última vez, a lto e ereto, encapuzado, uma escu ra estátua sem forma.
Velho George tinha levado Pollux de volta para dentro das árvores, pois nenhum animal
comum poderia ter encarado a Caçada de tão perto e sobrevivido.
Will disse, “Está acabado?”
“Mais ou menos,” disse Merriman, sem rosto debaixo do capuz.
“O Escuro . . . está. . .” Ele não ousou so ltar as palavras.
“O Escuro está derrotado, f inalmente, nesse encontro. Nada pode resis ti r a essa
Caçada Selvagem. E Herne e seus cães perseguem sua caça tão longe quanto devem ir,
até os confins da terra. Então nos confins da terra os Senhores do Escuro devem
esconder -se, esperando por sua próxima chance. Mas da próxima vez, es taremos mui to
mais fortes, pelo Círculo completado, pelos Seis Signos e pelo Dom do Gramarye. Nos
tornamos mais fortes por sua busca com pletada, Will Stanton, e próximos de obter a
última vitória, no f inal de tudo.” Ele puxou para trás seu largo capuz, o rebelde cabelo
branco cintilando sob a luz do luar, e por um momento os olhos sombrios olharam dentro
dos olhos de Wil l com uma comunicação de orgulho que fez o rosto de Will se aquecer
de satisfação. Então Merriman olhou at ravés do terreno gramado salpicado de neve
derret ida do Grande Parque. “Só está faltando a união dos Signos,” ele disse. “Mas antes
disso, uma. . . pequena. . . coisa.”
Um curioso tremor surgiu em sua voz. Will seguiu, confuso, enquanto ele
caminhou em frente a passos largos se aproximando do Carvalho de Herne. Então ele viu
sobre a neve, na margem da sombra da árvore, a capa embolada que o Cavaleiro Negro
tinha deixado cai r enquanto se virava para fugir. Merriman parou, então se a joelhou ao
lado dela na neve. Ainda pensativo, Will observou mais perto, e viu com assombro que o
monte escuro não era uma capa, mas um homem. A f igura jazia com o rosto virado para
cima, contorcido em um ângulo terrível. Era o Andari lho; era Hawkin.
Merriman disse, sua voz profunda e inexpressiva. “Aqueles que cavalgam alto com
o Senhor do Escuro devem esperar cair. E homens não caem suavemente de tais al turas.
Acho que a costa dele está partida.”
Ocorreu a Wil l, olhando para o pequeno rosto imóvel, que dessa vez ele t inha
esquecido que Hawkin não era mais do que um homem comum. Não comum talvez – essa
não era a palavra para um homem que havia s ido usado tanto pela Luz quanto pelo
Escuro, e enviado por muitos caminhos através do Tempo, para tornar -se no f inal o
Andarilho desgastado por viajar através de seiscentos anos. Mas um homem sem dúvida,
e mortal. O rosto branco tremeu, e os olhos se abri ram. A dor surgiu dentro deles, e a
sombra de um diferente sofrimento relembrado.
“Ele me jogou,” disse Hawkin.
Merriman olhou para ele, mas não disse nada.
145
“Sim,” Hawkin sussurrou amargamente. “Você sabia que isso acontecer ia.” Ele
engasgou com a dor enquanto tentou mover sua cabeça; então o pânico surgiu em seus
olhos. “Só minha cabeça. . . eu sinto minha cabeça, por causa da dor. Mas os meus braços,
minhas pernas, eles não estão. . . não estão ali . . .”
Agora houve uma terrível e desoladora tris teza no rosto marcado. Hawkin olhou
para Merriman. “Estou perdido, ” ele disse. “Sei disso. Você me fará viver, com o pior de
todo o sofrimento vindo agora? O ú ltimo direi to de um homem é morrer. Você evitou
isso todo esse tempo; você me fez viver pelos séculos quando mui tas vezes eu ansiava
pela morte. E tudo por causa d e uma traição na qual caí porque eu não tinha a razão de
um Antigo Escolhido. . .” A mágoa e a súplica em sua voz eram intoleráveis; Wil l virou
sua cabeça.
Mas Merriman disse, “Você foi Hawkin, meu f ilho adotivo e vassalo, que t raiu seu
senhor e a Luz. Então tornou-se o Andarilho, para caminhar pela terra por tanto tempo
quanto a Luz exigisse. E assim você viveu, é verdade. Mas nós não o mantivemos desde
então, meu amigo. Uma vez que a tarefa do Andarilho estava realizada, você estava l ivre,
e poderia ter descansado para sempre. Ao invés disso você escolheu escutar as promessas
do Escuro e tra ir a Luz uma segunda vez. . . Dei a você a liberdade de escolher, Hawkin, e
eu não a ret ire i. Eu não posso. Ela ainda é sua. Nenhum poder do Escuro ou da Luz pode
tornar um homem mais do que um homem, uma vez que qualquer papel sobrenatural que
ele possa ter que real izar chegue ao final. Mas nenhum poder do Escuro ou da Luz pode
tomar seus direitos como homem, também. Se o Cavaleiro Negro disse a você que sim,
ele mentiu.”
O rosto contorcido o observou em crença agonizante. “Eu posso ter descanso?
Pode haver um f im, e descanso, se eu escolher?”
“Todas as suas escolhas devem ser apenas suas,” disse Merriman tristemente.
Hawkin concordou com a cabeça; um espasmo de dor cruz ou seu rosto e
desapareceu. Mas os olhos que olhavam para eles agora eram os olhos brilhantes e vivos
do início, do pequeno homem asseado no casaco de veludo verde. Eles viraram para Will.
Hawkin falou suavemente, “Use bem o dom , Antigo Escolhido.”
Então ele olhou de volta para Merr iman, um longo olhar part icular insondável, e
ele disse quase inaudivelmente: “Senhor. . .”
Então a luz se apagou por trás dos olhos brilhantes, e não havia mais ninguém ali.
146
arte Três: O Teste
A União dos Signos
Na ferrar ia de teto baixo Will permaneceu com sua costa para a entrada, olhando
dentro do fogo. Laranja, vermelho e branco amarelado feroz ele ardia, enquanto John
Smith empurrava os longos cabos do fole; o calor fez Will sentir -se confortável pela
primeira vez naquele dia. Não havia grande mal em um Antigo Escolhido f icar molhado
como um peixe em um rio gelado, mas ele estava alegre em sentir seus ossos aquecidos
novamente. E o fogo acendeu seu espírito , assim como acendeu toda a sala.
Mesmo assim ele não iluminava a sala adequadamente, pois nada que Will
conseguia ver parecia sólido. Havia um tremular no ar. Apenas o fogo parecia real; o
resto deve ter s ido uma miragem.
Ele viu Merriman observando -o com um meio sorr iso. “É aquela sensação de meio
mundo novamen te,” disse Will, perplexo. “A mesma daquele dia na Mansão quando
estivemos em dois tipo de Tempo de uma só vez.”
“É isso. Do mesmo jeito . E assim estamos.”
“Mas estamos no tempo da ferraria .” disse Wil l. “Nós passamos pelas Portas.”
Assim eles tinham feito; ele e Merriman, Velho George, e o grande cavalo Pollux.
Lá fora na molhada e escura Comunidade, quando a Caçada Selvagem havia afastado o
Escuro para longe no céu, eles t inham atravessado pelas Portas dentro do tempo de seis
séculos antes do qual Hawkin uma vez tinha vindo, e dentro do qual Will t inha
caminhado naquela nevada manhã de seu aniversário. Eles t inham trazido Hawkin de
volta ao seu século pela última vez, carregado na costa larga de Pollux; quando todos
eles tinham passado pelas Portas, Vel ho George t inha levado o cavalo embora,
carregando o corpo de Hawkin na direção da igreja. E Will sabia que agora, em seu
próprio tempo, em algum lugar no vi larejo, no terreno da igreja, coberto por sepulturas
mais recentes ou por um deslizamento de pedras na completa ilegibil idade, haver ia o
túmulo de um homem chamado Hawkin, que t inha morr ido em algum tempo no século
treze e al i jazia em paz desde então.
Merriman o conduziu até a f rente da ferraria, onde ela encarava a estreita t rilha de
terra dura através de Hunter 's Combe, o Antigo Caminho. “Escute,” ele disse.
Will olhou para a tri lha, as árvores densas do outro lado, a f ria faixa cinza do céu
quase matut ino, “Posso ouvir o rio!” ele disse, confuso.
“Ah,” disse Merr iman.
“Mas o rio f ica a milhas de distância, do outro lado da Comunidade.”
Merriman virou sua cabeça para o veloz e ondulante som da água. Tinha o som de
um rio que es tava cheio mas não transbordando, um rio correndo depois de mui ta chuva.
“O que estamos ouvindo,” disse ele, “não é o Tham es, mas o som do século vinte. Você
vê, Will, os Signos devem ser unidos por John Wayland Smith nessa ferraria, nesse
tempo, pois não muito tempo depois disso a ferraria foi destruída. Os Signos ainda não
foram reunidos até sua busca, que aconteceu d entro de seu próprio tempo. Então a união
147
deve ser feita em uma bolha de Tempo entre os dois, do qual os olhos e ouvidos de um
Antigo Escolhido conseguem perceber ambos. Não é um rio de verdade que escutamos. É
a água correndo em seu tempo descendo a Hunt ercombe Lane, do derretimento da neve.”
Will pensou na neve e em sua famíl ia perto a inundações, e de repente ele era um
pequeno garoto querendo muito estar em casa. Os olhos escuros de Merriman olharam
para ele compadecidos. “Falta pouco,” ele disse.
Um som de martelar surgiu atrás deles; eles se viraram. John Smith tinha acabado
de bombear os foles em seu fogo branco -avermelhado; ao invés disso ele estava
trabalhando na bigorna, enquanto as longas tenazes aguardavam prontas diante do brilho
do fogo. Ele não estava usando o seu costumeiro martelo pesado, mas outro que parecia
ridiculamente pequeno em seu grande punho; uma ferramenta delicada mais parecida com
aquelas que Wil l viu seu pai usar na joalheria. Mas então, o objeto no qual e le estava
trabalhando era muito mais delicado do que ferraduras; uma corrente dourada, com elos
largos, na qual os Seis Signos penderiam. Os elos estavam em uma coluna ao lado da
mão de John.
Ele olhou para cima, seu rosto avermelhado pelo fogo. “Estou quase pronto.”
“Muito bem, então.” Merriman os deixou e saiu para a es trada. Ele f icou ali
sozinho, alto e imponente na longa capa azul, o capuz puxado para trás de modo que seu
espesso cabelo branco cint ilou como neve. Mas não havia neve alguma aqui, e mesmo
através do som da água que Will ainda podia continuar ouvindo correr, nenhuma água
também.. .
Então a mudança começou. Merriman pareceu não ter se movido. Ele f icou ali com
sua costa para eles, suas mãos soltas em seus f lancos, paradas, sem o mínimo
movimento. Mas ao redor dele, o mundo estava começando a se mover. O ar agitou -se e
tremeu, os contornos das árvores, terra e céu tremularam, borraram, e todas as coisas
visíveis pareceram f lutuar e se misturar. Wil l f icou olhando para esse mundo ondulante,
sentindo-se um pouco tonto, e gradualmente ele começou a ouvir sobre o som do rio
estrada que corria invisível o murmúrio de muitas vozes. Como um lugar visto através da
trêmula distorção do calor, o mundo tremulante começou a se estabi lizar em contornos de
coisas visíveis, e e le viu que uma grande multidão indist inta de pessoas enchiam a
estrada e os espaços entre todas as árvores e tod as as áreas abertas diante da ferraria.
Eles não pareciam reais, nem f irmes; t inham uma qualidade fantasmagórica como se
pudessem desaparecer q uando tocados. Eles sorriram para Merriman, saudando -o onde
ele permanecia, seu rosto ainda vi rado para longe de Will. Atropelando -se ao redor dele,
eles olhavam ansiosamente em frente, para a ferraria, como espectadores prestes a
ass isti r a um jogo, mas a inda ass im nenhum deles pareceu ver Wil l e o ferreiro.
Havia uma inf inita variedade de rostos – alegres, sombrios, velhos, jovens,
brancos como papel, negros, e toda nuance e graduação de rosa e marrom entre elas,
vagamente reconhecíveis, ou totalmente es tranhos. Will pensou ter reconhecido rostos da
festa na Mansão de Sr ta. Greythorne, a festa no Natal do século dezenove que tinha
levado Hawkin ao desastre e e le mesmo ao Livro de Gramarye – e então ele soube. Todas
essas pessoas, essa multidão sem f im que Merriman havia invocado de alguma forma,
eram os Ant igos Escolhidos. De cada ilha, de cada parte do mundo, aqui e les estiveram,
para testemunhar a união dos Signos. Will de repente estava aterrorizado, desejando
afundar no chão e escapar da visão desse seu novo grande mundo encantado.
Ele pensou: Esses são meu povo. Essa é minha família, do mesmo modo que minha
família verdadeira. Os Antigos Escolhidos. Cada um de nós ligados, pelo maior objetivo
no mundo. Então ele viu um movimento na mult idão, correndo como uma ondulação pela
estrada, e a lguns começaram a se vi rar e deslocar como que para abrir caminho. E ele
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ouviu a música: o som cadenciado, constante, quase cômico em sua simplicidade, das
f lautas e tambores que t inha ouvido em seu sonho que podia não ter sido um sonho.
Ficou rígido com suas mãos apertadas, esperando, e Merriman deu um giro e caminhou
para f icar ao lado dele, enquanto saindo da multidão, indo em direção a eles, surgiu a
pequena procissão do mesmo jeito que havia acontecido antes .
Através das f iguras aglomeradas, e cur iosamente parecendo mais sólidas , veio a
pequena procissão de rapazes: os mesmos em suas es tranhas túnicas e perneiras rúst icas,
cabelos compridos até a al tura dos ombros, e gorros esquisitos. Novamente aqueles que
estavam na f rente carregavam bastões e fardos de galhos, enquanto os que estavam atrás
tocavam sua simples melodia melancólica repetitiva, com f lautas e tambores. Novamente
entre aqueles dois grupos vinham seis rapazes carregando em seus ombros um esquife de
galhos e juncos trançados com um punhado de azevinh os em cada canto.
Merriman falou, mui to suavemente, “Primeiro no Dia de St . Stephen, o dia após o
Natal. Então na Décima Segunda Noite. Duas vezes ao ano, se este for um ano em
particular, acontece a Caçada da Carr iça.”
Mas agora Will podia ver o esquife claramente, e mesmo no começo, dessa vez,
não havia carriça alguma. Ao invés disso, aquela outra forma delicada jazia ali , a
senhora idosa, vestida em azul, com um grande anel cor de rosa em uma das mã os. E os
rapazes marchavam até a ferraria e muito gent ilmente colocaram o esquife no chão.
Merriman curvou-se sobre ela, estendendo sua mão, e a Senhora abriu seus olhos e
sorriu. Ele a ajudou a f icar de pé. Caminhando em frente na direção de Will, ela segurou
as duas mãos dele nas suas. “Bem feito , Will Stanton,” disse ela, e através de toda a
multidão de Antigos Escolhidos acotovelando -se na tr ilha, um murmúrio de aprovação se
ergueu como um vento cantando nas árvores.
A Senhora virou para encarar a ferr aria, onde John estava esperando. Ela disse,
“Em carvalho e em ferro, que os Signos sejam unidos.”
“Venha, Will, ” disse John Smith. Juntos eles se dir igi ram até a bigorna. Will
baixou o cinto que havia carregado os Signos durante toda a busca deles. “Em c arvalho e
em ferro?” ele sussurrou.
“Ferro para a bigorna,” disse o ferreiro suavemente. “Carvalho para seu pé. Essa
grande base de madeira da bigorna sempre é de carvalho – a raiz de um carvalho, parte
mais forte da árvore. Não ouvi alguém dizendo a você a natureza da f loresta algum
tempo atrás?” Seus olhos azuis piscaram para Wil l, e então ele virou para seu trabalho.
Ele pegou os Signos um a um e os uniu com anéis de ouro. No centro ele colocou os
Signos do Fogo e Água; de um lado deles os Signos do Fer ro e Bronze, e do outro, os
Signos da Madeira e Pedra. Em cada ponta ele f ixou um pedaço da robusta corrente de
ouro. Trabalhou rápida e delicadamente, enquanto Will observava. Do lado de fora, a
grande mul tidão de Ant igos Escolhidos ainda es tava f irme como grama que crescia. Por
trás das batidas do martelo do ferrei ro e o ocasional assobio dos foles, não havia som em
lugar algum apenas o da água do invisível rio -estrada correndo, séculos de distância no
futuro e ainda sim tão próximo.
“Está feito ,” disse John f inalmente.
Cerimoniosamente ele passou a Will a cintilante corrente de Signos unidos, e Will
engasgou com a beleza deles. Agora, segurando os Signos, de repente e le sentiu vindo
deles uma est ranha sensação assustadora como um choque elétr ico: Um a forte e arrogante
reaf irmação de poder. Will es tava confuso: o perigo tinha passado, o Escuro havia
fugido, qual o propósito disso? Ele caminhou até a Senhora, ainda ref letindo, colocou os
Signos em suas mãos, e ajoelhou-se diante dela.
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Ela disse, “Mas i sso é para o futuro , Will, não percebe? É para isso que são os
Signos. Eles são a segunda das quatro Coisas de Poder, que f icaram dormindo durante
esses mui tos séculos, e eles são uma grande parte de nossa força. Cada uma das Coisas
de Poder foi feita em um ponto diferente no Tempo por um artesão da Luz diferente, para
esperar o dia em que ela ser ia necessária. Há um cálice dourado, chamado de Graal; há o
Círculo dos Signos; há uma Espada de Crista l, e uma Harpa de Ouro. O Graal, como os
Signos, foi encont rado e está em segurança. Os outros dois ainda temos que alcançar,
outras buscas para outros tempos. Mas uma vez que adicionarmos aqueles a esses, então
será quando o Escuro se erguerá para seu ataque f inal e mais terrível sobre o mundo,
deveremos ter espe rança e certeza de que podemos vencer.”
Ela levantou sua cabeça, olhando sobre a incontável mul tidão fantasmagórica de
Antigos Escolhidos. “When the Dark comes r ising ,” e la falou, inexpressiva, e as mui tas
vozes responderam a ela em um suave e surpreenden te r ibombar “six shall drive it back .”
Então ela olhou novamente para Will, as linhas ao redor de seus olhos sem idade
curvando-se de afeição. “Buscador dos Signos,” e la disse, “Com seu nascimento e seu
aniversário você descobriu a si mesmo, e o círculo do s Antigos Escolhidos f icou
completo, agora e para sempre. E com o bom uso do Dom do Gramarye, você completou
uma grande busca e provou-se mais forte do que o teste.
Até que nos encontremos novamente, como nos encontraremos, lembraremos de
você com orgulho.”
A multidão que se es tendia ao longe murmurou novamente, uma resposta
diferente, calorosa, e com suas f inas mãos pequenas, o grane anel rosa cint ilando, a
Senhora se curvou e colocou a corrente de Signos ao redor do pescoço de Will. Então ela
o beijou na tes ta gentilmente, o suave toque da asa de uma ave. “Adeus, Will Stanton,”
ela disse.
O murmúrio das vozes aumentou, e o mundo girou ao redor de Will em uma rajada
de árvores e chama, e sobrepondo -se a tudo isso estava o surpreendente som de sinos de
sua música, agora mais al to e mais alegre do que nunca. Ele repicava e soava em sua
cabeça, enchendo-o com tal deleite que fechou seus olhos e f lutuou em sua beleza; essa
música era, ele soube por uma fração de segundo, o espírito e essência da Luz . Mas então
ela começou a desaparecer gradualmente, a f icar distante e se despedir em uma pequena
melancolia, como sempre tinha acontecido antes, desaparecendo no nada, desaparecendo,
desaparecendo, com o som de água correndo aumentando para tomar seu lugar. Will
gritou de tr isteza, e abriu seus olhos.
E ele estava ajoelhado na neve f ria pisoteada na cinza luz morta do amanhecer, em
um lugar que não reconheceu ao lado da Huntercombe Lane. Árvores nuas erguiam -se da
molhada neve salpicada do outro lado da es trada. Embora a alameda propriamente dita
fosse uma vez mais uma clara es trada pavimentada, água corria furiosamente em cada
uma de suas sarjetas com o som semelhante ao de uma correnteza, ou até mesmo de um
rio. . . A estrada es tava vazia; ninguém podia ser visto em parte a lguma entre as árvores.
Will podia ter chorado com a sensação de perda; toda aquela aquecedora mul tidão de
amigos, a claridade, a luz e a celebração, e a Senhora: tudo se foi, tudo sumiu, deixando -
o sozinho.
Ele colocou sua mão em seu pescoço. Os Signos ainda estavam ali.
Atrás dele, a voz profunda de Merriman disse, “Hora de ir para casa, Wil l.”
“Oh,” disse Will infeliz, sem se vi rar. “Estou feliz que ainda es teja aí.”
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“Você parece muito alegre,” Merriman falou secamente. “Contenha seu êxtase, eu
rezo por você.”
Sentando sobre seus calcanhares, Will olhou para ele sobre os seus ombros.
Merriman olhou para ele com imensa solenidade, seus olhos escuros semelhantes aos de
uma coruja, e de repente as emoções que estavam presas em um inqueb rável nó apertado
dentro de Will racharam e se par t iram, e ele se dissolveu em r isadas. A boca de
Merriman contraiu-se levemente. Ele estendeu a mão, e Will se levantou, ainda tossindo.
“Foi só. . .” disse Wil l, e parou, sem estar totalmente cer to se estava rindo ou
chorando.
“Foi. . . uma alteração,” disse Merr iman genti lmente. “Consegue caminhar agora?”
“É claro que consigo caminhar,” disse Will indignado. Ele f icou observando. Onde
o ferreiro estivera, havia uma construção semelhante a uma garagem em ruín as, e ao
redor dela ele conseguia ver traços de molduras f rias e amontoados de vegetais at ravés
da neve que derretia. Olhou para cima rapidamente e viu o contorno de uma casa
familiar . “É a Mansão! ele disse.
“A entrada t raseira,” disse Merriman. “Per to do vilarejo. Usada principalmente
por mercadores . . . e mordomos.” Ele sorriu para Will.
“Aqui é realmente onde a velha ferrar ia costumava estar?”
“Nos projetos da casa velha ela é chamada de Portão do Ferreiro,” disse
Merriman. “Historiadores de Buckinghamshire escrevendo sobre Huntercombe gostam
muito de especular a razão. Eles estão sempre errados.”
Will olhou at ravés das árvores para as al tas chaminés Tudor da Mansão e telhados
triangulares. “A Srta. Greythorne está lá?”
“Sim, ela es tá, agora. Mas vo cê não a viu na mult idão?”
“Na multidão?” Will percebeu que sua boca estava se abrindo tolamente, e a
fechou. Imagens conflitantes perseguiam umas às outras em sua cabeça. “Você quer dizer
que ela é um dos Antigos Escolhidos?”
Merriman ergueu uma sobrancelha. “Vamos lá, Will, seus sentidos lhe disseram
isso muito tempo atrás.”
“Bem.. . Sim, eles disseram. Mas eu nunca soube com certeza qual era a Srta.
Greythorne que pertencia a nós, aquela de hoje ou da festa de Natal. Bem. Bem, sim, eu
suponho que eu sabia disso também.” Ele olhou para Merriman hesitante. “Elas são a
mesma, não são?”
“Assim está melhor,” disse Merriman. “E a Srta. Greythorne me deu, enquanto
você e o Wayland Smith es tavam concentrados em seu trabalho, dois presentes para a
Décima Segunda Noite. Um é para seu irmão Paul, e um é para você.” Ele mostrou a Will
dois pequenos pacotes sem forma embrulhados no que parecia seda; então colocou -os
novamente debaixo de sua capa. “O de Paul é um presente normal, eu acho. Mais ou
menos. O seu é algo para ser usado apenas no futuro, em algum ponto em que seu
julgamento lhe disser que precisará dele.”
151
“Décima Segunda Noite,” disse Will. “Isso é hoje a noite?” Ele olhou para cima,
para o cinzento céu da manhã. “Merr iman, como você impediu que minha famí l ia f icasse
imaginando onde eu estive? A minha mãe está bem mesmo?”
“Claro que está,” disse Merr iman. “E você passou a noite na Mansão, dormindo. ..
Agora venha, essas são coisas pequenas. Sei todas as perguntas. Você terá todas as
respostas, uma vez que e stiver em casa, e de qualquer modo você realmente já sabe quais
são.” Ele vi rou sua cabeça para baixo em direção a Will, e os profundos olhos escuros
observaram hipnot izantes como os de uma basil isco*. “Venha, Antigo Escolhido,” ele
disse suavemente, “Lemb re-se. Você não é mais um pequeno garoto.”
“Não,” disse Will. “Não sou.”
Merriman falou, “Mas às vezes, sente o quão mais agradável a vida ser ia se você
fosse.”
“Às vezes,” disse Will. Ele sorriu. “Mas não sempre.”
Eles viraram e passaram sobre a peque na corrente na lateral da es trada para
caminharem juntos para a casa dos Stantons pela Huntercombe Lane.
O dia f icou mais claro, e a luz começou a introduzir -se pelo canto do céu diante
deles, onde o sol logo surgir ia. Uma f ina névoa pairava sobre a ne ve em ambos os lados
da estrada, entrelaçando -se ao redor das árvores nuas e das pequenas correntes. Era uma
manhã cheia de promessa, com um enevoado céu sem nuvens levemente t ingido de azul,
o tipo de céu que Huntercombe não t inha visto por muitos dias. E les caminharam como
velhos amigos caminham, sem falar muito, compartilhando o tipo de silêncio que não é
muito silêncio, como um tipo de comunicação muda. Suas pisadas emit indo ruídos sobre
a es trada molhada, fazendo o único som em toda parte do vilarejo e xceto pelo canção de
um pássaro negro, em algum lugar mais além, o som de alguém usando uma pá. Árvores
erguiam-se negras e sem folhas sobre a estrada de um lado, e Will viu que eles estavam
na curva que passava pela Floresta das Gralhas. Olhou para cima. Nenhum som veio das
árvores, ou dos grandes ninhos desordenados lá no alto dos galhos enevoados.
“As gralhas estão muito quietas,” ele disse.
Merriman disse, “Elas não estão ali .”
“Não estão? Porque não? Onde estão?”
Merriman sorriu, um pequeno sor r iso f irme. “Quando Os Caçadores Uivantes estão
caçando pelo céu, nenhum animal ou pássaro pode f icar dentro do campo de vista deles e
não ser afas tado pelo terror. Através de todo esse reino, pelo caminho de Herne e dos
Caçadores, os senhores não serão capazes de encontrar qualquer cria tura que estava solta
na última noite. Isso era bem conhecido nos dias ant igos. Homens do país em toda parte
costumavam trancar seus animais na Véspera da Décima Segunda Noite, para o caso de
acontecer a Caçada.”
“Mas o que acontece? Eles são mortos?” ' Wil l percebeu que independente do que
todas as gralhas tinham feito para o Escuro, e le não queria pensar em todas elas
destruídas.
“Oh, não,” disse Merr iman. “Dispersas. Espantadas através do céu por tanto tempo
quanto o caçador mais próximo escolher. Os Caçadores do Destino não são uma espécie
que mata criaturas vivas ou come carne. . . As gralhas retornarão eventualmente. Uma a
uma, abatidas, cansadas, sofrendo por si mesmas. Pássaros mais sábios que não tinham
* Basilisco: de acordo com Plínio, o Velho, é uma serpente com uma coroa dourada e, no macho, uma pluma vermelha ou negra. É
capaz de matar com um simples olhar.
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laços com o Escuro devem ter se escondido bem longe na noite passada, debaixo de
galhos ou dos telhados das casas, fora de vis ta. Aquelas que o f izeram ainda estão aqui,
i lesas. Mas vai levar um tempo até que nossas amigas, as gralhas, se recuperem. Acho
que você não terá mais problemas com elas novamente, Will, embora eu nunca confiasse
em uma delas se eu fosse você.”
“Olhe,” disse Wil l, apontando em frente. “Há dois nos quais conf iar.”
O orgulho surgiu espesso em sua voz, enquanto descendo a estrada em direção a
eles vieram correndo e saltando os dois cães dos Stanton, Raq e Ci. Eles saltavam nele,
latindo e ganindo de alegria, lambendo suas mãos em uma saudação tão grandiosa quanto
se ele estivesse fora por um mês. Wil l inclinou -se para falar com eles e es tava envolv ido
em caudas balançando, mornas cabeças ofegantes, a grandes patas molhadas. “Saiam,
seus idiotas,” e le disse alegremente.
Merriman disse, mui to suavemente: “Calma, agora.” Instantaneamente os cães se
acalmaram e f icaram parados, apenas as suas caudas ba lançando entusiasticamente ;
ambos viraram para Merriman e olharam para ele por um momento, e então estavam
trotando tranqui lamente em silêncio ao lado de Will. Então a entrada para os Stanton
estava em frente, e o barulho de pás aumentou, e dobrando a esqu ina eles encontraram
Paul e o Sr. Stanton, agasalhados contra o f rio , l impando a neve derretida, folhas e
galhos de um dreno.
“Bem, bem,” disse o Sr. Stanton, e permaneceu curvado sobre sua pá.
“Alô, Pai,” disse Will a legremente, correu e o abraçou.
Merriman disse: “Bom dia.”
“Velho George disse que vocês apareceriam cedo,” disse o Sr. Stanton, “mas não
achei que ele queria dizer tão cedo assim. Entretanto você conseguiu acordá - lo?”
“Eu acordei sozinho,” disse Will. “Sim. Eu virei uma folha nova para o Ano Novo.
O que vocês es tão fazendo?”
“Revirando folhas velhas,” disse Paul .
“Ho, ho, ho.”
“Estamos mesmo. O descongelamento veio tão rápido que o chão ainda estava
congelado, e nada i ria ser drenado. E agora que os drenos estão começando a descongelar
também, a inundação deixou tudo entupido com o entulho carregado pela água. Como
esse.” Ele ergueu um embrulho gotejante.
Will disse, “Vou pegar outra pá e ajudar.”
“Você não gostar ia de tomar café primeiro?” disse Paul. “Mary es tá fazendo para
nós, acredite ou não. Tem um monte de folhas para revirar por aqui, enquanto o ano
ainda está novo.”
De repente Will percebeu que fazia muito tempo desde que ele tinha comido pela
última vez, e sentiu uma fome gigantesca. “Hummm,” ele disse.
“Vamos entrar e tomar um pouco de café, uma xícara de chá ou algo assim,” disse
o Sr. Stanton para Merriman. “É uma fria caminhada da Mansão a essa hora da manhã.
153
Realmente es tou extremamente agradecido a você por entregá - lo, sem falar em ter
tomado conta dele noite passada.”
“Merr iman balançou sua cabeça, sorrindo, e levantou o colarinho do que agora
Will t inha visto, transformara -se subitamente de uma capa para um pesado sobretudo do
século vinte. “Obrigado. Mas eu vou retornar.”
“Will !” uma voz soou, e Mary veio voando pel o caminho. Will foi ao seu
encontro, e ela foi para cima dele e o socou no estômago. “Foi divertido na Mansão?
Você dormiu em uma cama coberta de quatro colunas?”
“Não exatamente,” disse Wil l. “Você está bem?”
“Bem, é claro. Eu f iz uma super cavalgada no cavalo de Velho George, era um dos
maiores do Sr. Dawson, os cavalos da mostra. Ele me pegou na alameda, logo após eu ter
saído. Parece ter sido eras atrás, não noite passada .” Ela olhou para Will meio
embaraçada. “Eu acho que não deveria ter saído atrás de Max d aquele jeito , mas tudo
estava acontecendo tão rápido, e eu estava preocupado com Mamãe não ter ajuda . . .”
“Ela es tá bem de verdade?”
“Ela vai f icar bem, diz o doutor. Foi um deslocamento, não uma perna quebrada.
Ela também f icou nocauteada, entretanto, en tão tem que descansar por uma semana ou
duas. Mas ela es tá tão animada quanto pode estar, você verá.”
Will olhou para o caminho de entrada. Paul, Merr iman, e seu pai estavam
conversando e rindo juntos. Ele pensou que talvez seu pai t ivesse decido que Lyon, o
mordomo, era um bom sujeito af inal de contas, não meramente um empregado de mansão.
Mary disse, “Sinto muito por ter me perdido na f loresta. Foi tudo culpa minha. Na
verdade você e Paul devem ter estado bem perto de mim. Foi muito bom que Velho
George acabou sabendo onde todos estavam. Pobre Paul, preocupando -se por nós dois
estarmos perdidos, ao invés de apenas eu.” Ela deu uma r isadinha, então tentou parecer
arrependida, sem muito esforço.
“Will !” Paul se afastou do grupo, excitado, correndo em d ireção a eles. “Veja só !
A Srta. Greythorne chama isso de empréstimo permanente, que ela seja abençoada , veja!”
O rosto dele estava avermelhado de prazer. Ele segurava o pacote que Merriman esteve
carregando, agora aber to, e Will viu dentro dele a velha f lauta da Mansão.
Sentindo seu rosto se abrir em um grande, lento sorriso, ele olhou para Merriman.
Os olhos escuros olharam para ele de modo sério, e Merriman mostrou o segundo pacote.
“Esse, a Senhora da Mansão enviou para você.”
Will o abriu. Dentro es tava um pequeno chifre de caça, cinti lando, f ino com a
idade. Seu olhar desviou mais brevemente para Merriman, e desceu novamente.
Mary deu pulinhos, r indo. “Vá em frente, Will, sopre. Você poderia fazer barulho
por todo o caminho até Windsor. Vá em frente! '
“Mais tarde,” disse Will. “Tenho que aprender como. Você agradeceria mui to a ela
por mim?” ele disse para Merr iman.
Merriman inclinou sua cabeça. “Agora devo ir,” disse e le.
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Roger Stanton disse, “Não consigo dizer o quanto estamos agradecidos por to da
sua ajuda. Com tudo, durante esse tempo louco – e as crianças – você foi o mais
tremendamente. . .” ele perdeu as palavras, mas es tendeu seu braço e balançou a mão de
Merriman para cima e para baixo tão calorosamente que Wil l pensou que ele nunca ir ia
parar.
O rosto áspero e ameaçador suavizou; Merr iman pareceu agradecido e um pouco
surpreso. Ele sorriu e balançou a cabeça, mas não disse nada. Paul apertou as mãos dele,
e Mary. Então a mão de Will estava no forte aperto, e houve uma rá pida pressão e um
breve olhar dos profundos olhos escuros. Merriman disse, “Au revoir, Will .”
Ele ergueu sua mão para todos e caminhou descendo a alameda. Will foi atrás
dele. Mary disse, saltando ao seu lado, “Você escutou os gansos selvagens noite
passada?”
“Gansos?” disse Will secamente. Ele não estava realmente escutando. “Gansos?
Em toda aquela tempestade?”
“Que tempestade?” disse Mary, e continuou antes que ele pudesse piscar. “Gansos
selvagens, devia ter milhares deles. Migrando, eu acho. Não vimos eles . Só teve esse
incrível barulho, e antes de tudo um monte de grasnados daquelas gralhas malucas na
f loresta, e então um longo, longo tipo de barulho de lat ido pelo céu, muito alto . Foi
emocionante.”
“Sim,” disse Will. “Sim, deve ter s ido.”
“Não acho que você estivesse mais do que semi-acordado,” disse Mary com
desgosto, e ela foi pulando até o f im do caminho de entrada. Então ela parou de repente e
f icou imóvel. “Meu Deus! Will ! Veja!”
Ela estava olhando para algo atrás de uma árvore, escondido pelos restos de um
banco de neve. Will veio olhar, e viu, caída em meio ao matagal molhado, a grande
cabeça de carnaval com os olhos de uma coruja, o rosto de um homem, a armação de um
cervo. Ele olhou e olhou sem uma palavra em sua garganta. A cabeça es tava enrugada,
clara e seca, como sempre es teve e sempre estaria. Parecia com o contorno de herne, o
Caçador, que ele tinha visto contra o céu, e a inda assim diferente.
Ele continuou olhando, e não falou nada.
“Bem, eu nunca . . .” disse Mary claramente. “Você não acha que é sortudo por isso
ter f icado preso ali? Mamãe f icará contente. Ela já estava acordada nesse momento, foi
quando as inundações vieram de repente. Você não es tava lá, é c laro; a água entrou por
todo o chão e um monte de coisas foi carregada da sala de estar antes qu e nós
percebêssemos. Aquela cabeça foi uma delas . . . Mamãe estava descontente porque sabia
que você f icar ia. Bem, olha para aqui lo, engraçado que . . .”
Ela olhou a cabeça bem de perto, a inda tagarelando alegremente, mas Will não
estava mais escutando. A cabeça estava bem perto da parede do jardim, que ainda estava
enterrado na neve mas começando a emergir através dos montes em ambos os lados. E no
monte no outro extremo, cobrindo a beira da est rada e projetando a torrente que corr ia na
sarjeta, havia um bom número de marcas. Eram marcas de casco, feitas por um cavalo
parando, virando e saltando para longe sobre a neve. Mas nenhuma delas tinha a forma
de ferraduras. Elas eram círculos divididos por uma cruz: as marcas daquelas coisas que
John Wayland Smith, uma vez no início, t inha colocado na égua branca da Luz.
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Will olhou para as marcas, e para a cabeça de carnaval, e engoliu com força. Ele
andou alguns passos até o f im do caminho de entrada e olhou descendo a Huntercombe
Lane; ainda conseguiu ver a cos ta de Merriman, enquanto a f igura alta, vestida de negro,
caminhava para longe. E então seu cabelo se eriçou e os pulsos f icaram imóveis, pois de
trás dele veio um som mais doce do que parecia possível no pesado ar da f ria manhã
cinzenta. Era o suave e lindo tom de saudosismo da velha f lauta da Mansão; Paul, não
conseguindo resis tir, deve ter montado o instrumento para testá -lo . Ele estava tocando
“Greensleeves” mais uma vez. A est ranha canção encantada f luiu através da manhã no ar
parado; Will viu Merriman erguer sua cabeça branca assim que ouviu, embora não
interrompesse sua caminhada.
Enquanto olhava descendo a estrada parada, com a música tocando em seus
ouvidos, Will viu que lá fora, além de Merriman, as árvores, a névoa e a extensão da
estrada estavam balançando, tremendo, de um jeito que ele conhecia bem. E então
gradualmente, lá fora, ele viu as grandes Portas tomarem forma. Al i estavam elas, como
ele as tinha vis to no declive aber to e na Mansão: as altas portas entalhadas que
conduziam para fora do Tempo, estavam sozinhas e altivas no Antigo Caminho que agora
era conhecido como Huntercombe Lane. Muito lentamente, e las começaram a abrir. Em
algum lugar atrás de Wil l a música “Greensleeves” parou, com uma risada e algumas
palavras abafadas de Paul; mas não houve parada alguma na música que es tava na cabeça
de Will, pois agora ela havia se t ransformado naquela passagem semelhante ao som de
sinos que surgia sempre com a abertura das Portas ou qualquer grande mudança que
possa alterar as vidas dos Antigos Escolhidos. Will apertou seus punhos enquanto ouvia,
com aquele desejo saudoso indo em direção ao som convida tivo que era o espaço entre
acordar e sonhar, ontem e amanhã, memória e imaginação. Ele f lutuava adorável em sua
mente, então gradualmente foi f icando distante, desaparecendo, enquanto lá fora, no
Antigo Caminho, a f igura alta de Merriman, que agora se movia novamente em uma capa
azul, passou at ravés das Portas abertas. Atrás dele, os grandiosos e pesados pedaços de
carvalho giravam lentamente se juntando, juntando, até que silenciosamente elas se
fecharam. Então enquanto o último eco da música encantada morreu, elas desapareceram.
E em uma grande labareda de luz branca e amarela, o sol se ergueu sobre Hunter 's
Combe e o Vale do Thames.
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Aqui termina THE DARK IS RISING, segundo livro da seqüência de mesmo nome.
O primeiro livro foi chamado de OVER SEA, UNDER STONE. O tercei ro livro
GREENWITCH. O quarto THE GREY KING e o quinto SILVER ON THE TREE.