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RONALDO ROSA SOARES OS RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIROS E O REÚSO DE ÁGUA NO BRASIL UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RIO DE JANEIRO 2011

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Page 1: OS RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIROS E O REÚSO DE ÁGUA … · apresentam variação de acordo com a profundidade com o local onde a água é encontrada,

RONALDO ROSA SOARES

OS RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIROS E O REÚSO

DE ÁGUA NO BRASIL

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RIO DE JANEIRO

2011

Page 2: OS RECURSOS HÍDRICOS BRASILEIROS E O REÚSO DE ÁGUA … · apresentam variação de acordo com a profundidade com o local onde a água é encontrada,

SUMÁRIO

I. INTRODUÇÃO

II. METODOLOGIA

III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. ÁGUA

3.2 ÁGUA NO BRASIL

3.3.1 BACIAS HIDROGRÁFICAS

3.3.2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

3.3 REÚSO DE ÁGUA E A LEI 9.433/97

3.3.1 AÇÕES DO REÚSO NO BRASIL PRECISAM AVANÇAR

3.3.2 CLASSIFICAÇÃO DE REÚSO

3.3.3 FORMAS POTENCIAIS DE REÚSO

3.3.4 A FORMAÇÃO DO SISTEMA NAC. DE RECURSOS HÍDRICOS

IV. CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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I. INTRODUÇÃO

A água tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e

agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos hídricos procuram

continuamente novas fontes de recursos para complementar à pequena disponibilidade

hídrica ainda disponível. Ao longo dos últimos 50 anos, com o crescimento acelerado

das populações e do desenvolvimento industrial e tecnológico, as poucas fontes

disponíveis de água doce do planeta estão comprometidas ou correndo risco.

Mundialmente, o consumo humano de água doce duplica a cada 25 anos, embora o

colapso do abastecimento seja uma realidade em muitos lugares, sobretudo em

periferias das grandes metrópoles densamente povoadas onde ainda se vive à ilusão de

que a água potável é um recurso infinito.

A crescente demanda por água de consumo humano (ou seja, de boa qualidade)

tem feito do reúso planejado um tema atual e de grande importância, principalmente na

nova Política Nacional de Recursos Hídricos. Reúso é o processo de reutilização da

água para o mesmo ou outro fim, e essa reutilização pode ser direta ou indireta,

decorrente de ações planejadas ou não. A água do reúso pode ser utilizada para vários

fins, como irrigação paisagística, irrigação de campos para o cultivo, uso industrial,

algumas finalidades ambientais, para recarga de aqüíferos e outros usos diversos.1

Reuso de água é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais

vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos

benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações

planejadas ou não planejadas.

Este trabalho apresenta como tema central o reúso de água e a sua utilização,

tendo em vista a configuração física do território brasileiro. Por meio deste, busca-se

mostrar a forma como é utilizado o reuso de água no Brasil. Para chegar a alguma

conclusão em relação a questão, se apresentará um panorama dos recusos hidrícos

brasileiros.

1 O termo “água de reúso” passou a ser utilizado com mais influência na década de 1980.

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A água, como sabemos, é fundamental para o desenvolvimento. Ela teve seu

valor reconhecido como bem comercial, isto é, escasso e limitado. Por isso, a água de

reúso vem sendo cada vez mais utilizada. O Brasil, apesar de encontrar em seu território

uma quantidade abundante de água, utiliza-se desse instrumento. O défict de água em

algumas regiões do Brasil, não associadas somente com a escassez, mas também com

uma demanda superior ao volume ofertado, existe em seu território e a água reciclada é

uma saída ideal para a atenuação ou até mesmo a resolução do problema.

II. METODOLOGIA

Para o fim de demonstrar o papel e o potencial do reuso de água no Brasil, em

integração aos já existentes recursos hídricos naturais brasileiros, foi utilizada para o

trabalho uma extensa pesquisa bibliográfica sobre o tema. Por meio desse instrumento,

procurou-se, primeiramente, apresentar as características fundamentais do objeto de

estudo, tanto geológica e biologicamente quanto em suas diferentes formas de interação

com a vida humana.

A utilização de estatísticas também é um dos fundamentos principais da

pesquisa, principalmente referencialmente a dados objetivos, como o volume ou a

demanda de águas em determinadas regiões do país. Por causa da extrema importância

de dados estatísticos no trabalho, foi buscado ater-se a fontes oficiais, como o governo

brasileiro e órgãos internacionais como o Banco Mundial e a Organização das Nações

Unidas. O caráter do seguinte trabalho, portanto, é de pesquisa não-básica, isto é, que

não procura criar conhecimentos práticos, mas sim pegar dados pré-existentes e chegar

a conclusões sobre eles em um nível puramente teórico. É uma pesquisa extensiva, no

sentido de que não tem como objetivo um novo conhecimento, mas um conhecimento

aprofundado sobre um tema já estudado.

Para tanto, primeiramente se buscará fazer uma exposição, seguida de análise,

da conjuntura física do território nacional, assim como uma apresentação da água de

reúso, suas diferentes utilidades e tipos conseqüentes. Depois, serão expostas as

utilizações da água de reúso no Brasil. Também se colocará que a de reuso apresenta um

potencial gigantesco, e que deve ser mais explorados no Brasil, principalmente para

usos não-domésticos, como a agricultura e a indústria.

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III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. ÁGUA

A água pura (H2O) é um líquido formado por moléculas de hidrogênio e

oxigênio. Na natureza, ela é composta por gases como oxigênio, dióxido de carbono e

nitrogênio, dissolvidos entre as moléculas de água. Também fazem parte desta solução

líquida sais, como nitratos, cloretos e carbonatos; elementos sólidos, poeira e areia

podem ser carregados em suspensão. Outras substâncias químicas dão cor e gosto à

água. Íons podem causar uma reação quimicamente alcalina ou ácida. As temperaturas

apresentam variação de acordo com a profundidade com o local onde a água é

encontrada, constituindo-se em fatores que influenciam no comportamento químico.

Subentende-se água como sendo um elemento da natureza, recurso renovável,

encontrado em três estados físicos: sólido (gelo), gasoso (vapor) e líquido.

As águas utilizadas para consumo humano e para as atividades sócio-

econômicas são retiradas de rios, lagos, represas e aqüíferos, também conhecidos como

águas interiores.

Origem geológica e biológica

A vida surgiu no planeta há mais ou menos 3,5 bilhões de anos. Desde então, a

biosfera modifica o ambiente para uma melhor adaptação. Em função das condições de

temperatura e pressão que passaram a ocorrer na Terra, houve um acúmulo de água em

sua superfície, nos estados líquido e sólido, formando-se assim o ciclo hidrológico.

Os continentes representam a litosfera; a água existente na Terra forma a

hidrosfera; cada um dos pólos (Ártico e Antártico) e os cumes das montanhas mais altas

apresentam uma cobertura de gelo e neve denominada criosfera; a massa de ar que

cobre a Terra é chamada de atmosfera, e a vida existente no planeta forma a biosfera.

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O oxigênio tem por propriedade ser reativo, ou seja, unir-se a quase todos os

outros tipos de átomos: o hidrogênio, o carbono e um grande número de metais e

metalóides. Em conseqüência a este fato, quando a Terra se formou, não havia oxigênio

livre na atmosfera primitiva, mas somente óxidos voláteis, como gás carbônico, água e

outros compostos de hidrogênio, como metano e amoníaco.

Classificação Mundial das Águas

Água doce com apresentação de teor de sólidos totais dissolvidos (STD) inferior a 1.000 mg/l.

Salobras com STD entre 1.000 e 10.000 mg/l.

Salgadas com mais 10.000 mg/l

Volume de água

A quantidade total de água na Terra é distribuída da seguinte maneira:

● 97,5% de oceanos e mares;

● 2,5% de água doce;

● 68,9% (da quantidade geral de água doce) formam as calotas polares, geleiras e

neves eternas que cobrem os cumes das montanhas altas da Terra;

● 29,9% restantes de água doce constituem as águas subterrâneas;

● 0,9% respondem pela umidade do solo e pela água dos pântanos.

Características da água

A caracterização da água começa a se compor ainda em seu trajeto atmosférico.

As partículas sólidas e os gases atmosféricos de várias origens são dissolvidos pelas

águas que caem sobre a superfície da Terra em forma de chuva, neblina ou neve.

Contudo, muitas destas características são alteradas mesmo que

inconscientemente pelo homem. O uso intensivo de insumos químicos na agricultura, a

poluição gerada pelas indústrias e pelos grandes centros urbanos concentram alguns

gases na água das chuvas, resultando na chamada chuva ácida, causadora de danos ao

ambiente natural e antrópico. Isso ocasiona também a escassez de água para consumo,

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fazendo com que os aspectos qualitativos da água sejam cada vez mais preocupantes nas

regiões muito povoadas.

As fontes hídricas são abundantes, porém mal distribuídas na superfície do

planeta. Em algumas áreas, as retiradas são bem maiores que a oferta, causando um

desequilíbrio nos recursos hídricos disponíveis. Essa situação tem acarretado uma

limitação em termos de desenvolvimento para algumas regiões, restringindo o

atendimento às necessidades humanas e degradando ecossistemas aquáticos. Os

recursos hídricos são de fundamental importância no desenvolvimento de diversas

atividades econômicas. A água pode representar até 90% da composição física das

plantas; a falta de água pode destruir lavouras.

Na indústria, as quantidades de água necessárias são superiores ao volume

produzido. A utilização de métodos para o tratamento da água é viável; porém, podem

produzir problemas cujas soluções são difíceis, pois que afetam a qualidade do meio

ambiente, a saúde pública e outros serviços. Por sua vez, as águas das bacias

hidrográficas não são confiáveis e recomendáveis para o consumo da população por não

possuírem as características padrões de qualidade ambiental.

3.2 ÁGUA NO BRASIL

A interação do quadro climático com os aspectos geológicos domina os

excedentes hídricos que alimentam uma das mais extensas e densas redes de rios

perenes do mundo.

Em três grandes unidades hidrográficas: Amazonas, São Francisco e Paraná

estão concentrados cerca de 80% da produção hídrica do país. Estas bacias cobrem

cerca de 72% do território brasileiro, dando-se destaque à Bacia Amazônica, que possui

cerca de 57% da superfície do País.

Embora tamanha quantidade de água doce, há um grave problema de

abastecimento no País, que é devido ao crescimento das localidades e à degradação da

qualidade da água. O baixo nível tecnológico-organizacional está em condições

primárias de uso, recebendo a contribuição da ocupação rural, que aumenta o

desmatamento das bacias hidrográficas. O grande desenvolvimento dos processos

erosivos do solo faz com que haja um empobrecimento de pastagens nativas e redução

das reservas de águas do solo, assim produzindo a queda da produtividade natural.

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O conhecimento das variações de tempo, espaço das chuvas, descargas dos rios,

de fatores ambientais, sócio-culturais, condições de uso e conservação dos seus recursos

naturais permitem planejar, evitar ou atenuar os efeitos do excesso ou da falta de água.

O Brasil possui a maior disponibilidade hídrica do planeta, ou seja, 13,8% do deflúvio

médio mundial.

Regiões Oferta (Deflúvio

médio) -1998 Consumo

Total (Km3/ano) Per capita

(m3/hab/ano)

Total

(Km3/ano)

Per capita

(m3/hab/ano)

África 3 996 5 133.05 145.14 202

América do

Norte 5 308.60 17 458.02 512.43 1798

América

Central 1 056.67 8 084.08 96.01 916

América do

Sul 10 080.91 30 374.34 106.21 335

Brasil 5 744.91 30 374.34 36.47 246

Ásia 13 206.74 3 679.91 1633.85 542

Europa 6 234.56 8 547.91 455.29 625

Oceania 1 614.25 54 794.64 16.73 591

Mundo 41 497.73 6 998.12 3240 645

Fonte: WRI, 1998c e ANEEL, 1999.

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3.3.1. BACIAS HIDROGRÁFICAS

É a área ocupada por um rio principal e todos os seus tributários, cujos limites

constituem as vertentes, que por sua vez limitam outras bacias. No Brasil, a

predominância do clima úmido propicia uma rede hidrográfica numerosa e formada por

rios com grande volume de água.

As bacias hidrográficas brasileiras são formadas a partir de três grandes

divisores:

● Planalto Brasileiro

● Planalto das Guianas

● Cordilheira dos Andes

Ressaltam-se oito grandes bacias hidrográficas existentes no território brasileiro;

a do Rio Amazonas, do Rio Tocantins, do Atlântico Sul, trechos Norte e Nordeste, do

Rio São Francisco, as do Atlântico Sul, trecho leste, a do Rio Paraná, a do Rio Paraguai

e as do Atlântico Sul, trecho Sudeste.

Bacias Hidrográficas Brasileiras

Bacia

Hidrográfica

Área

(103Km

2)

% População Vazão

(m3/s)

Disponibilidade

Hídrica

(Km3/ano)

Em 1996 %

Amazonas 3900 45,8 6.687.893 4,3 133.380 4.206,27

Tocantins 757 8,9 3.503.365 2,2 11.800 372,12

Atlântico Norte 76 0,9 406.324 0,3 3.660 115,42

Atlântico

Nordeste 953 11,2 30.846.744 19,6 5.390 169,98

São Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 2.850 89,98

Atlântico Leste 1 242 2,8 11.681.868 7,4 680 21,44

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Atlântico Leste 2 303 3,6 24.198.545 15,4 3.670 115,74

Paraguai 368 4,3 1.820.569 1,2 1.290 40,68

Paraná 877 10,3 49.294.540 31,8 11.000 346,90

Uruguai 178 2,1 3.837.972 2,4 4.150 130,87

Atlântico Sudeste 224 2,6 12.427.377 7,9 4.300 135,60

Brasil 8512 100 157.070.163 100 182.170 5.744,91

Fonte:Superintendência de Estudos e Informações Hidrológicas – ANEEL;

População – IBGE, 1998

Dados referentes à área situada em territórios brasileiro.

Bacia Amazônica

É a maior superfície drenada do mundo. O Rio Amazonas, dependendo da

nascente, é considerado o segundo (6.557 Km) ou o primeiro rio mais extenso do

mundo. É o rio de maior vazão de água (100.000 m3/s), depositando aproximadamente

15% dos débitos fluviais totais do mundo. Possui uma largura média de 4 a 5 Km,

podendo atingir mais de 10 Km em alguns pontos. Nasce na planície de La Raya, no

Peru, com o nome de Vilcanota, desce as montanhas, recebendo os nomes de Ucaiali,

Urubanda e Marañón. No território brasileiro, recebe o nome de Solimões e, a partir da

confluência com o Rio Negro, próximo a Manaus, é chamado de Amazonas. Dos seus

mais de 7 mil afluentes, os principais são: Negro, Trombetas e Jari (margem esquerda);

Madeira, Xingu e Tapajós (margem direita).

A Bacia Amazônica possui cerca de 23.000 Km navegáveis, podendo atingir a

Bacia Platina, a Bacia de São Francisco, a Bacia do Orenoco, na Venezuela, e o Rio

Madalena, na Colômbia. Hoje, a travessia dessas e de outras passagens naturais ainda é

difícil, mas vislumbra-se o dia em que será possível atravessar praticamente todo o

continente sul americano.

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A pesca fluvial apresenta um enorme potencial ainda pouco explorado. Sabe-se

da existência de inúmeras espécies de peixes com aproveitamento econômico viável.

Bacia do Tocantins

Com 803.250 Km² de área ocupada, é a maior bacia em território nacional. O

principal rio é o Tocantins, que nasce em Goiás, nas confluências dos Rios Marañón e

Paraná, desaguando na foz do Rio Amazonas. É aproveitado pela Usina Hidrelétrica de

Tucuruí, no Pará.

Bacia do Paraná

Pertence a uma bacia maior, não estando totalmente em território brasileiro,

banhando também a Argentina e o Paraguai. No Brasil ocupa 10,1% da área do país. O

Rio Paraná nasce da união dos Rios Paranaíba e Grande, na divisa Mato Grosso do

Sul/Minas Gerais/São Paulo; possui o maior potencial hidrelétrico instalado no país,

com destaque para a Usina Binacional de Itaipu, na fronteira com o Paraguai. Os

principais afluentes do Rio Paraná estão na margem esquerda: Tietê, Paranapanema e

Iguaçu. Na margem direita, recebe como principais afluentes os Rios Suruí, Verde e

Pardo.

Além do potencial hidrelétrico, a Bacia do Paraná é utilizada para navegação,

em trechos que estarão interligados no futuro com a construção de canais e eclusas.

Bacia do Uruguai

É formada pela união dos Rios Canoas e Pelotas, correndo em direção oeste, nas

divisas dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e em direção ao Sul, na

fronteira do Rio Grande do Sul com Argentina. Os principais afluentes são os Rios do

Peixe, Chapecó, Ijuí e Turvo.

Tanto para a navegação como para hidrelétrica, a utilização é pequena em

função da irregularidade da sua vazão e topografia do terreno.

Bacia do São Francisco

Nasce em Minas Gerais, na Serra da Canastra, a mais de 1000 metros de altitude,

atravessa o Estado da Bahia e banha as divisas dos Estados de Pernambuco, Alagoas e

Sergipe, uma região basicamente semi-árida.

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É um rio de planalto; todavia, possui cerca de 2.000 quilômetros navegáveis.

Possui bom potencial hidrelétrico e nele está situado a Usina de Paulo Afonso, no

estado da Bahia. Atualmente suas águas estão sendo desviadas para irrigação.

Bacia do Norte – Nordeste

Por onde correm os rios do Meio – Norte do país (Maranhão e Piauí), tais como

o Paranaíba, o Gurupi, Pindaré, Mearim e Itapicuru. Integrante também dessa bacia os

rios intermitentes ou temporários do sertão nordestino: o Jaguaribe, Acaraú, Apodi,

Piranhas, Capibaribe e outros.

Bacia do Leste

É formada principalmente pelos Rios Jequitinhonha, Doce, Itapicuru e Paraíba

do Sul.

Bacia do Sudeste – Sul

Entrecortada pelos Rios Ribeira do Iguape, Itajaí, Tubarão e Jacuí (que se

denomina Guaíba em Porto Alegre).

3.3.2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A utilização das águas subterrâneas tem crescido de forma significativa nos

últimos tempos, inclusive no Brasil. Há um acréscimo contínuo do número de empresas

privadas e órgãos públicos com atuação na pesquisa e captação de recursos hídricos

subterrâneos. Mais que uma reserva de água, as águas subterrâneas devem ser

consideradas como um meio de acelerar o desenvolvimento econômico e social de

regiões extremamente carentes, e do Brasil como um todo.

No Brasil, as secas são fenômenos freqüentes que acarretam graves problemas

sociais e econômicos, como no Polígono das Secas, e também nas regiões Centro-oeste,

Sul e Sudeste. Desta forma, a exploração de águas subterrâneas tem aumentado

significativamente. Vários núcleos urbanos abastecem-se de água subterrânea de forma

exclusiva ou complementar. Indústrias, propriedades rurais, escolas, hospitais e outros

estabelecimentos utilizam água de poços rasos e artesianos.

A exploração da água subterrânea está condicionada a três fatores: quantidade

(condutividade hidráulica, coeficiente de armazenamento de terrenos); qualidade

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(composição de rochas, condições climáticas e renovação das águas) e econômico

(depende da profundidade do aqüífero e das condições de bombeamento).

Reservas de águas subterrâneas do Brasil:

Domínios Aquiferos Áreas

(Km)

Sistemas Aquíferos

Principais

Volumes

Estocados

(Km3)

Embasamento Aflorante 600.000 Zonas Fraturadas 80

Embasamento alterado 4.000.000 Manto de intemperismo

e/ou fraturas 10.000

Bacia Sedimentar Amazonas 1.300.000 Depósitos Clásticos 32.500

Bacia Sedimentar do

Maranhão 700.000

Corda-Grajaú, Motuca,

Poti-Piauí, Cabeças e Serra

grande

17.500

Bacia Sedimentar Potiguar-

Recife 23.000

Grupo Barreiras, Jandaíra,

Açu e Beberibe 230

Bacia Sedimentar Alagoas-

Sergipe 10.000 Grupo Barreiras; Murieba 100

Bacia Sedimentar Jatobá-

Tucano-Recôncavo 56.000

Marizal, São Sebastião,

Tacaratu 840

Bacia Sedimentar Paraná

(Brasil) 1.000.000

Bauru-Caiuá, Serra Geral,

Botucatu-Pirambóia-Rio do

Rastro, Aquidauana

50.400

Depósitos diversos 823.000 Aluviões, dunas 411

Total 8.512.000 --- 112.000

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Fonte: ANEEL, 1999.

No Brasil, estima-se que existam mais de 200.000 poços tubulares em atividade

(irrigação, pecuária, abastecimento de indústrias, condomínios etc.), mas o maior

volume de água ainda é destinado ao abastecimento público. Os estados com maior

número de poços são: São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará e Piauí. Em algumas

áreas, as águas subterrâneas são intensamente aproveitadas e constituem o recurso mais

importante de água doce.

Águas subterrâneas na Região Sul

Compreende os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A

combinação de fatores geológicos e climáticos favoreceu uma estrutura favorável ao

armazenamento de água subterrânea, sendo a Bacia do Paraná um dos maiores

reservatórios de água subterrânea do mundo.

Embora esta região possua tal potencial, o aproveitamento de água subterrânea é

feito visando o abastecimento público de pequenas comunidades do meio rural e no

suporte do abastecimento de cidades de porte médio.

● Paraná: 80% das cidades pequenas (20% da população do estado) são atendidas

com água do subsolo.

● Santa Catarina: 95% da população é abastecida com água de superfície; a água

subterrânea é utilizada apenas no meio rural.

● Rio Grande do Sul: 55% de mais de 300 locais com sistema de abastecimento

são atendidos total ou parcialmente com água subterrânea. ]

Águas subterrâneas na Região Sudeste

Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais fazem

parte desta região.

Da conformação geológica da região e da diversidade das condições climáticas e

fisiográficas resultaram sistemas aqüíferos dos tipos poroso, fissural e cárstico, com

características hidrogeológicas muito distintas.

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O emprego das águas subterrâneas na irrigação e na indústria ainda é muito

pequeno se comparado ao abastecimento público. Ainda são largamente utilizadas no

abastecimento de hotéis, condomínios, colégios e postos de gasolina.

Os volumes de água subterrânea disponibilizados através dos poços tubulares

distribuem-se irregularmente pela região.

● São Paulo: cerca de 70% dos locais é abastecido a partir de manancial

subterrâneo. Hoje a disponibilidade de poços tubulares é cerca de 40.000

● Rio de Janeiro: conta com 2.000 poços tubulares; em algumas regiões do

Estado do Rio, como a Baixada Fluminense, a utilização industrial das águas

subterrâneas é significativa

● Espírito Santo: possui cerca de 600 poços tubulares para a captação da água

subterrânea, sendo esta pouco utilizada no abastecimento público e em outras

atividades sociais e econômicas

● Minas Gerais: cerca de 7.900 poços. Há a participação das águas subterrâneas

nas sedes municipais e distritos e também no meio rural. Como exemplo, há o

Projeto de Irrigação do Jaíba, no Vale do Rio Verde Grande (MG).

Águas subterrâneas na Região Nordeste

Região composta ao todo por nove estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,

Paraíba, Piauí, Pernanbuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. O “Polígono das Secas”,

denominação de parte desta área, caracteriza-se por uma escassez de recursos hídricos

de superfície, devido às baixas precipitações pluviométricas e à alta evapotranspiração

(aproximadamente 90%). O domínio das rochas cristalinas e crisalofilianas,

predominantes do clima semi-árido, está sujeito a diversidades climáticas caracterizadas

por irregularidades na distribuição das chuvas.

Existem, atualmente, cerca de 60.000 poços tubulares em funcionamento no

Nordeste. Também é comum, na zona rural, o atendimento de pequenas comunidades

através de chafarizes abastecidos por poços.

Pode-se afirmar que prevalece o abastecimento público, inclusive nas grandes

cidades como Maceió e Natal, inteiramente abastecidas por água subterrânea, e Recife,

com 20% de sua demanda. Nos Estados do Piauí e Maranhão, o percentual de

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aproveitamento de água subterrânea ultrapassa os 80%. O uso da água subterrânea na

irrigação vem tomando força em vários pontos do Nordeste, como Mossoró (RN), Piauí,

Pernambuco e Bahia.

Águas subterrâneas na Região Centro-Oeste

Abrange o Distrito Federal e os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso

do Sul. Na maior parte da província do Centro-Oeste e em áreas do escudo Central, os

sistemas aqüíferos fissurados encontram-se recobertos por sedimentos cenozóicos e

paleozóicos que constituem, muitas vezes, importantes aqüíferos.

As águas subterrâneas têm sido utilizadas significativamente, principalmente nas

áreas de influência dos grandes centros urbanos, como Brasília, Campo Grande e

Dourados.

● Distrito Federal: possui uma grande quantidade de poços tubulares. A água

subterrânea é utilizada também no abastecimento doméstico e de pequenas

comunidades

● Goiás: cerca de 30% dos locais são atendidos com água subterrânea. A maior

parte das indústrias está localizada na Bacia do Rio Paranaíba, sendo estas,

abastecidas principalmente por água de superfície. Destacam-se nesta região as

águas termais e minerais, intensamente aproveitadas pelo turismo.

● Mato Grosso: cerca de 60% dos locais são abastecidos por água subterrânea.

● Mato Grosso do Sul:encontram-se melhores condições hidrogeológicas, que

conta com a ocorrência dos principais aqüíferos da Bacia do Paraná. A principal

destinação da água subterrânea é para o abastecimento público, através de 500

poços tubulares.

Águas subterrâneas na Região Norte

Caracterizadas por uma situação hidrogeológica favorável, devido a presença na

maior parte de seu território, de depósitos sedimentares de litologia variável, com

ocorrência de horizontes de elevada permeabilidade e com freqüentes condições de

artesianismo.

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A água subterrânea é quase totalmente utilizada para o abastecimento humano

nesta região. Para a irrigação, é de aproximadamente 10% do total; quanto ao uso

industrial, é concentrado nas maiores cidades (Belém e Manaus).

● Amazonas: é o que utiliza o maior volume de água subterrânea; cerca de 25%

do total.

● Acre: 18,7% dos locais utilizam águas subterrâneas.

● Rondônia: 25% dos locais utilizam águas subterrâneas.

● Tocantins: 20% dos locais utilizam águas subterrâneas.

● Pará: cerca de 79,4% dos locais (abastecimento público) são abastecidos com

água subterrâneas

● Amapá: 64% utilizados no abastecimento público.

3.3 REUSO DE ÁGUA E A LEI 9.433/97

Foi promulgada em 8 de janeiro de 1997 a Nova Política de Recursos Hídricos

no Congresso brasileiro, na figura da Lei número 9.433/97. Por meio dessa

legislação, determinou-se uma série de mudanças, todas em consonância

principalmente com os princípios da Declaração de Dublin da Conferência

Internacional de Água e Meio Ambiente (ICWE- International Conference on Water

and Environment). Os principais princípios ali determinados foram:

a) A água doce é um recurso limitado, vulnerável e fundamental para o

desenvolvimento humano;

b) sua gestão, portanto, deve ser feita com a participação de seus usuários em

todos os níveis políticos, desde o Municipal até o Federal;

c) a água tem valor econômico.

Esses princípios são importantíssimos para entender de que forma o governo

deve se portar referentemente à questão da água. O terceiro princípio, isto é, o

entendimento de que a água é um bem econômico, ou seja, dotado de valor

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monetário, foi especialmente importante face a atitude de desperdício com que ele

era encarado. Quando se submete a água à lógica economicista, de que sua

economia se refere, assim como qualquer outro bem, à distribuição desigual de

recursos escassos.

A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da

Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso III, do art. 5º da Lei

Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento tem como objetivo

assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos

direitos de acesso à água.

De acordo com o inciso IV, do art. 4º da Lei Federal nº 9.984, de 17 de junho de

2000, compete à Agência Nacional de Águas, ANA outorgar, por intermédio de

autorização, o direito de uso de recursos hídricos em corpos de água de domínio da

União, bem como emitir outorga preventiva. Também é competência da ANA a emissão

da reserva de disponibilidade hídrica para fins de aproveitamentos hidrelétricos e sua

conseqüente conversão em outorga de direito de uso de recursos hídricos.

Em cumprimento ao art. 8º da citada Lei 9.984/00, a ANA dá publicidade aos

pedidos de outorga de direito de uso de recursos hídricos e às respectivas autorizações,

mediante publicação sistemática das solicitações e dos extratos das Resoluções de

Outorga (autorizações) nos Diários Oficiais da União e do respectivo Estado.

● A declaração faz referência também à questão do reúso de água, o

incentivando. Porém, tanto a declaração quanto a legislação brasileira não fazem

nenhum tipo de recomendação quanto à forma como o reuso deve ser feito, e

nem qual deve ser a finalidade de sua água resultante. Essa ausência de marcos

indicatórios torna bastante livre àqueles que realizam o reúso o modo mais

correto.

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3.3.1 AÇÕES DO REUSO NO BRASIL PRECISAM AVANÇAR

A incorporação da filosofia de reuso nos planos nacionais de gestão de recursos hídricos

e desenvolvimento agrícola é de fundamental importância para regiões áridas e semi-

áridas, e naquelas onde a demanda é precariamente satisfeita, através de transposição de

água de bacias adjacentes. O reuso implica em redução de custos, principalmente se é

considerado em associação com novos projetos de sistemas de tratamento, uma vez que

os padrões de qualidade de efluentes, necessários para diversos tipos de uso, são menos

restritivos do que os necessários para proteção ambiental.

O uso de esgotos tem sido praticado em muitas partes do mundo, por muitos séculos.

Sempre que água de boa qualidade não é disponível, ou é difícil de ser obtida, águas de

menor valor, tais como esgotos, águas de drenagem agrícola ou águas salobras, são

espontaneamente utilizadas, principalmente em agricultura e aqüicultura. Infelizmente,

essa forma de uso não institucionalizado, não planejado e, às vezes, inconsciente, é

realizada sem quaisquer considerações para com os aspectos de saúde, de meio

ambiente e de práticas agrícolas adequadas.Embora ocorram manifestações de reuso

agrícola não planejado ou inconsciente em diversas regiões brasileiras, inclusive em

algumas regiões metropolitanas, a prática do reuso de água associada ao setor público

ainda é extremamente incipiente no Brasil. Em alguns Estados do nordeste,

particularmente Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco alguns projetos foram

implantados visando a irrigação de capim elefante com efluentes domésticos, sem

nenhum tratamento e sem nenhuma forma de proteção à saúde pública dos grupos de

risco envolvidos.

Por outro lado o setor privado, particularmente o industrial, vem, gradualmente se

conscientizando de que a prática de reuso e reciclagem pode trazer benefícios

significativos tanto no que concerne ao processamento industrial quanto em relação às

águas de utilidades. As políticas tarifárias, praticadas pela maioria das companhias

municipais e estaduais de saneamento, assim como o advento e a implementação das

estruturas de outorga e cobrança, tanto na tomada de água como na diluição dos

despejos produzidos, têm levado as indústrias a dedicarem especial atenção às novas

tendências e tecnologias disponíveis para reuso e reciclagem de efluentes.

Torna-se necessário, portanto, estabelecer mecanismos para institucionalizar,

regulamentar e incentivar a prática do reuso estimulando as que permanecem

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embrionárias e promover o desenvolvimento daquelas que ainda não se iniciaram no

Brasil.

A Agência Nacional de Águas – ANA, dentro de sua função básica de promover o

desenvolvimento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos previsto

no inciso XIX do art. 21 da Constituição e criado pela Lei nº 9.433 de 8 de janeiro de

1997, tem competência para administrar, entre uma gama significativa de atribuições

(relacionadas no Art. 4º, Capítulo II, Lei Nº 9.984 de 17 de julho de 2000), os aspectos

relativos às secas prolongadas, especialmente no nosso Nordeste e à crescente poluição

dos cursos de água, no território nacional.

Uma política de reuso adequadamente elaborada e implementada contribuiria

substancialmente ao desenvolvimento de ambos os temas: a seca, dispondo de volumes

adicionais para o atendimento da demanda em períodos de oferta reduzida, e a

poluição, atenuada face à diversão de descargas poluidoras para usos benéficos

específicos de cada região.

Atualmente, nenhuma forma de ordenação política, institucional, legal ou regulatória

orienta as atividades de reuso praticadas no território nacional. Os projetos existentes

são desvinculados de programas de controle de poluição e de usos integrados de

recursos hídricos nas bacias hidrográficas onde estão sendo implementados, não

empregam tecnologia adequada para os tipos específicos de reuso implementados e não

incluem as salvaguardas necessárias para preservação ambiental e proteção da saúde

pública dos grupos de risco envolvidos. Alem disso, não são formulados com base em

análises e avaliações econômico-financeiras e não possuem estruturas adequadas de

recuperação de custos

3.3.2 CLASSIFICAÇÃO DE REUSO

O reúso de água não é uma invenção recente. Há relatos de mais de quatro mil

anos de idade descrevendo um processo primitivo de filtração de água para seu uso

posterior.

Dessa forma, é lógico que se defina seu reúso na medida que:

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a) se saiba onde a água vem;

b) se saiba qual será seu uso posterior.

Só se pode reusar uma água que já foi previamente utilizada. Por mais que essa

deifinição pareça óbvia, ela não o é. Se uma cidade joga seu esgoto em um corpo de

água muito grande, a diluição dos resíduos é praticamente infinita, sendo seu uso

descaracterizado como reúso.

O Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou, em 1973, o reuso de água

em uma série de tipos, sendo eles:

Reúso indireto não planejado: Quando a água utilizada em algumas atividades

humanas é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a fusante em sua

forma diluída de maneira não intencional e não controlada.

Reúso indireto planejado: Quando os efluentes depois de trados são

descarregados de forma planejada em corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para

serem utilizados a fusante de maneira controlada no atendimento de alguns no uso

benéfico.

Reúso planejado ou reúso intencional: Quando o reúso da água é o resultado

de uma ação humana consciente, a partir de uma descarga de efluentes podendo ser de

forma direta ou indireta. Neste caso, pressupõe-se a existência de um sistema de

tratamento de efluentes que atenda aos padrões de qualidade requeridos pelo uso e

objetivo.

Reciclagem de água: É o reúso interno da água em um determinado processo,

antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição.

3.3.3 FORMAS POTENCIAIS DE REÚSO

Graças ao ciclo hidrológico, a água é um recurso renovável. Quando reciclada

por meio de sistemas naturais, é um recurso limpo e seguro que é pela atividade

antrópica, deteriorada a níveis diferentes de poluição. Entretanto uma vez poluída, a

água pode ser recuperada e reusada para fins benéficos diversos. As possibilidades e

maneiras de reúso dependem, evidentemente, de características, condições e fatores

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locais, tais como decisão política, esquemas institucionais, disponibilidade técnica e

fatores econômicos, sociais e culturais.

Usos Urbanos

No setor urbano, o potencial de reúso de afluentes é muito amplo e diversificado.

Entretanto, usos que demandam água com qualidade elevada requerem sistemas de

tratamento e de controle avançados. De uma maneira geral, esgotos tratados podem, no

contexto urbano, ser utilizados para fins potáveis e não potáveis.

Usos Urbanos para fins potáveis

A presença de organismos patogênicos e de compostos orgânicos sintéticos na

grande maioria dos efluentes disponíveis para reúso, principalmente aqueles oriundos de

estação de tratamento de esgotos de grandes conturbações com pólos industriais

expressivos, faz com que sua recuperação com o objetivo de obter água potável seja

uma alternativa associada a riscos muito elevados e praticamente inaceitáveis.

Entretanto, caso seja imprescindível implementar o reúso urbano para fins

potáveis, devem ser obedecidos os seguintes critérios básicos:

● Utilizar apenas sistemas de reúso indiretos

A Organização Mundial de Saúde não recomenda o reúso direto, ou seja, a

conexão direta dos afluentes de uma estação de tratamento de esgotos a uma estação de

tratamento de águas e, em seguida, ao sistema de distribuição.

O reúso indireto é a diluição dos esgotos, após tratamento, em um corpo hídrico

(lago, reservatório, aqüífero subterrâneo), no qual, após tempos de detenção

relativamente longos, é efetuada a captação, seguida de tratamento adequado e posterior

distribuição.

● Uso exclusivo de esgotos domésticos

Em virtude da impossibilidade de identificar adequadamente a enorme

quantidade de compostos de alto risco, micros poluentes orgânicos presentes em

afluentes líquidos industriais, mananciais que recebem ou receberam durante períodos

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prolongados esses afluentes são desqualificados para a prática de reúso para fins

potáveis. O reúso, para fins potáveis só pode ser praticado tendo como matéria prima-

básica esgotos exclusivamente domésticos.

• Usos Urbanos para fins não potáveis

Os usos urbanos não potáveis envolvem riscos menores e devem ser

considerados como primeira opção de reuso na área urbana. Entretanto, cuidados

especiais devem ser tomados quando ocorre contato direto com o público com água

reutilizada em gramados de parques, jardins, hotéis, áreas turísticas e campos de

esporte. Os maiores potenciais desse processo são os que empregam esgotos tratados

para:

● Irrigação de parques e jardins públicos, centros esportivos, campos de futebol,

quadra de golfe, jardins de escolas e universidades, gramados, árvores e arbustos

em avenidas e rodovias;

● Irrigação áreas ajardinadas ao redor de edifícios públicos, residenciais e

industriais;

● Reserva de proteção contra incêndios;

● Sistemas decorativos aquáticos, tais como fontes e chafarizes, espelhos e

quedas-d’águas;

● Descarga sanitária em banheiros públicos e em edifícios comerciais e industriais;

● Lavagem de trens e ônibus públicos.

Os problemas associados ao reúso urbano para fins não potáveis são,

principalmente, os custos elevados de sistemas duplos de distribuição, dificuldades

operacionais e riscos potenciais de ocorrência de conexões cruzadas. Os custos devem

ser considerados em relação aos benefícios de conservar a água potável e de,

eventualmente, adiar ou eliminar a necessidade de desenvolvimento de novos

mananciais para abastecimento público.

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Diversos países industrializados da Europa e Ásia com escassez de água

exercem extensivamente a prática de reúso urbano não potável para uso em descarga de

banheiro em edifícios residenciais. Esse efluente tratado também é utilizado para outros

fins, incluindo irrigação de árvores em áreas urbanas, no que proporciona uma

economia significativa dos escassos recursos hídricos localmente disponíveis.

Usos Industriais

Os custos elevados da água industrial associados às demandas crescentes têm

levado as indústrias a avaliar as possibilidades internas de reúso e a considerar ofertas

potáveis dos sistemas públicos de abastecimento. A água produzida pelo tratamento de

afluentes secundários é, atualmente, um grande atrativo para abastecimento industrial,

uma vez que permite adutoras e custos unitários de tratamento menores.

Os usos industriais com maior potencial de aproveitamento de reuso em áreas de

concentração industrial significativa são basicamente os seguintes:

● Torres de resfriamento;

● Caldeiras;

● Construção civil, incluindo preparação e cura de concreto e para compactação do

solo;

● Irrigação de áreas verdes de instalações industriais, lavagens de pisos e alguns

tipos de peças, principalmente na indústria mecânica;

● Processos industriais;

Outros usos que podem ser considerados nas fases posteriores da implementação

de um programa metropolitano de reúso incluem água para produção de vapor, para

lavagem de gases de chaminés e para processos industriais específicos, tais como

manufatura de papel e papelão, indústria têxtil, de material plástico e produtos

químicos, petroquímicas, curtumes, construção civil etc. Essas modalidades de reúso

envolvem sistemas de tratamento avançados.

Reúso e conservação devem, também, ser estimulados nas próprias indústrias

por meio da adoção de processos industriais e de sistemas de lavagem com baixo

consumo de água, assim como em estações de tratamento de água para abastecimento

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público, por meio da recuperação e do reúso das águas de lavagem de filtros e de

cantadores.

Usos agrícolas

A agricultura depende atualmente de suprimento de água de tal nível que a

sustentabilidade da produção de alimentos não poderá ser mantida sem o

desenvolvimento de novas fontes de suprimentos e a gestão adequada dos recursos

hídricos convencionais por mera expansão de terra cultivada.

Com poucas exceções, tais como áreas significativas do nordeste brasileiro que

vêm sendo recuperadas para uso agrícola, a terra arável, em nível mundial, aproxima-se

muito rapidamente de seus limites de expansão. A Índia já explorou praticamente 100%

de seus recursos de solo arável, enquanto Bangladesh dispõe de apenas 3% para

expansão lateral. O Paquistão, as Filipinas e a Tailândia ainda têm um potencial de

expansão de aproximadamente 20%. A taxa global de expansão de terra arável diminuiu

de 0,4% durante a década 1970-1979 para 0,2% durante o período de 1980-1987. Nos

países em vias de desenvolvimento e em estágios de industrialização acelerada, a taxa

de crescimento também caiu de 0,7% para 0,4%. Durante as duas últimas décadas, o uso

de esgotos para irrigação de culturas aumentou significativamente em razão dos

seguintes fatores:

● Dificuldade crescente de identificar fontes alternativas de águas para irrigação;

● Custo elevado de fertilizantes;

● A segurança de que os riscos de saúde pública e os impactos sobre o solo são

mínimos, se as precauções adequadas forem efetivamente tomadas;

● Os custos elevados dos sistemas de tratamento necessários para descarga de

efluentes em corpos receptores;

● A aceitação sociocultural da prática do reuso agrícola;

● O reconhecimento, pelos órgãos gestores de recursos hídricos, valor intrínseco

da prática.

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Estima-se que, na região do Alto Tiête, a jusante do reservatório de ponte Nova

até as imediações de Guarulhos, seria possível, com atendimento da demanda agrícola

por meio dos esgotos coletados dos municípios da região, dispor de aproximadamente

3m³ por segundo adicionais de água de boa qualidade para abastecimento público.

Na região da influência da ETE Suzano, por exemplo, existe uma grande área de

uso agrícola irrigada com água de qualidade elevada. Essa área concentra-se em

particular ao longo do Rio Taiaçupeba, distante, aproximadamente, oito quilômetros a

da ETE de Suzano. È muito provável, que a elevada concentração de efluentes

industriais recebidos na ETE Suzano torne seus afluentes incompatíveis para o reuso

agrícola.

A aplicação de esgotos no solo é uma forma efetiva de controle da poluição e

uma alternativa viável para aumentar a disponibilidade hídrica em regiões áridas e semi-

áridas. Os maiores benefícios dessa prática são associados aos aspectos econômicos,

ambientais e de saúde pública.

Benefícios econômicos do reúso agrícola

Os benefícios econômicos são aferidos graças ao aumento da área cultivada e da

produtividade agrícola, que são mais significativos se o reuso for aplicado em áreas

onde se depende apenas de irrigação natural proporcional pelas águas das chuvas. Um

exemplo notável na recuperação econômica associada à disponibilidade de esgotos para

irrigação, no México a renda agrícola aumentou no início do século, quando os esgotos

da Cidade do México foram postos à disposição da região, até aproximadamente 4

milhões de dólares americanos por hectare, em 1990.

Estudos efetuados pelo Instituto Nacional de Pesquisas de Engenharia

Ambiental (Neeri) que em alguns países demonstraram a produtividade agrícola

aumentaram em sistemas de irrigação com esgotos adequadamente administrados.

TABELA

Aumento da produtividade agrícola (ton/ha/ano) possibilitada pela irrigação com

esgotos domésticos.

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Irrigação

Efetuada com

Trigo

8 anos (*)

Feijão

5 anos (*)

Arroz

7 anos (*)

Batata

3 anos (*)

Algodão

3 anos (*)

Esgoto bruto

3,34

0,90

2,97

23,11

2,56

Efluente primário

3,45

0,87

2,94

20,78

2,30

Efluente de lagoa

De estabilização

3,45

0,78

2,98

22,31

2,41

Água + NPK

2,70

0,72

2,03

17,16

1,70

Número de anos para cálculo da produtividade média

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas de Engenharia Ambiental (Neeri)

Efluentes de sistemas convencionais de tratamento, tais como lodos ativados,

têm uma taxa concentrada típica de 15 mg/litro de N total e 3 mg/litro de P total,

proporcionando, portanto, às taxas usuais de irrigação em zonas semi-áridas

(aproximadamente dois metros por ano) uma aplicação de N e P de 300 kg/há/ano e 60

kg/ha/ano, respectivamente. Essa aplicação de nutrientes reduz substancialmente, ou

mesmo elimina a necessidade do emprego de fertilizantes comerciais. Além dos

nutrientes e dos micros nutrientes não disponíveis em fertilizantes sintéticos, a aplicação

de esgotos proporciona a adição de matéria orgânica, que age como condicionador do

solo, aumentando sua capacidade de reter água.

O aumento de produtividade não é o único benefício, uma vez que se torna

possível ampliar a área irrigada, e efetuar colheitas múltiplas durante todo o ano.

A prática da aqüicultura fertilizada com esgotos ou com excreta também

representa uma fonte de receita substancial em diversos países, entre os quais

Bangladesh, Índia, Indonésia e Peru. Os sistemas de lagoas, operando a muitas décadas

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em Calcutá, é o maior sistema já existente atualmente, utilizando apenas esgotos como

fonte de alimentos para a produção de peixes.

Benefícios ambientais e a saúde pública

Sistemas de reúso planejados e administrados adequadamente trazem melhorias

ambientais de condições de saúde, entre as quais podemos citar:

● Evita a descarga de esgotos em corpos de água;

● Preserva recursos subterrâneos, principalmente em áreas onde a utilização

excessiva de aqüíferos provoca intrusão de cunha salina ou subsidência de

terrenos;

● Permite a conservação do solo por meio da acumulação de “húmus” e aumenta a

resistência à erosão e;

● Contribui principalmente em países em desenvolvimento, para o aumento da

produção de alimentos, elevando assim os níveis de saúde, a qualidade de vida e

as condições sociais de populações associadas aos esquemas de reúso.

Apesar disso, alguns efeitos negativos podem ocorrer com o uso de esgotos na

irrigação. Um efeito potencialmente negativo é a poluição, particularmente por nitratos,

de aqüíferos subterrâneos, utilizados para abastecimento de água. Isso ocorre quando

uma camada insaturada e altamente porosa situa-se sobre o aqüífero, permitindo a

percolação de nitratos.

O acúmulo de contaminantes químicos no solo é outro efeito negativo que pode

ocorrer. Dependendo das características dos esgotos, a irrigação por períodos longos

poderá acumular compostos tóxicos e aumento da salinidade em camadas insaturadas.

Para evitar este problema, a irrigação deve ser efetuada com esgotos de origem

predominante domestica.

É necessário um sistema de drenagem também , visando minimizar o processo

de salinização de solos irrigados com esgotos. A aplicação de esgotos por longos

períodos pode levar a criação de habitat propício à proliferação de vetores transmissores

de doenças, mosquitos e caramujos.

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Recarga de Aqüíferos

Os aqüíferos subterrâneos são continuamente realimentados por zonas ou áreas

de recarga ou diretamente por irrigação ou precipitações, o que eventualmente, pode

resultar em poluição de suas águas. A engenharia de recursos hídricos desenvolveu, com

a finalidade de aumentar a disponibilidade de água e eventualmente tratados.

A recarga de aqüíferos com afluentes tem os seguintes objetivos:

1. Prevenir a intrusão de cunha salina em aqüíferos costeiros;

2. Proporcionar tratamento adicional de afluentes para uso futuro;

3. Aumentar a disponibilidade de água em aqüíferos potáveis ou não potáveis;

4. Proporcionar reservatório de água para uso futuro;

5. Prevenir subsidência do solo.

O bombeamento excessivo de água subterrânea de aqüíferos adjacentes a áreas

costeiras pode provocar a intrusão de água salina, tornado-as inadequadas como fontes

de água potável ou para outros usos que não toleram salinidade elevada. Vários poços

de injeção são construídas em áreas criticas, criando barreiras para evitar a intrusão

salina. Efluentes tratados são injetados nos aqüíferos confinados, estabelecendo um

gradiente hidráulico no sentido do mar, no que previne a penetração de água salgada no

aqüífero. Essa metodologia poderá ser aplicada no Brasil em áreas afetadas pela

salinização de aqüíferos costeiros.

A excessiva extração de água dos aqüíferos subterrâneos provocou além da

penetração da cunha salina a distâncias superiores a dez quilômetros da costa, a

subsidência de solos em grande parte da região costeira. Ambos os problemas foram

resolvidos com injeção de efluentes tratados em baterias de poços adequadamente

localizados ao longo do litoral afetado. A infiltração e a percolação de afluentes tratados

beneficiam-se da capacidade natural de biodegradação infiltração dos solos,

proporcionando um tratamento in situ ,permitindo – em função do tipo de efluente

considerado, dos métodos de recarga de condições hidrogeológicas e dos usos previstos

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– eliminar a necessidade de sistemas de tratamento avançados. A recarga contribui para

a perda de identidade entre efluentes tratados e a água subterrânea, reduzindo o impacto

psicológico do reúso para fins benéficos diversos.

Além disso, os aqüíferos subterrâneos são reservatórios naturais e elementos de

transporte de efluentes tratados. O uso de água para irrigação, que apresenta

características sazonais, requer grandes reservatórios.

Os programas de reúso para fins potáveis devem ser, desde a fase de

planejamento, motivo de ampla divulgação e discussão com todos os setores da

sociedade, que deve dar o aval para sua implementação.

3.3.4 A formação do Sistema Nacional de Recursos Hídricos Brasileiro

No fim dos anos 80, a partir da nova Constituição, vários estados brasileiros,

naquela ocasião mais avançados nas questões do setor, passaram a discutir e

fundamentar seus arcabouços legais e jurídicos de recursos hídricos. Os princípios

básicos utilizados foram o gerenciamento por bacia hidrográfica, a água como bem

econômico, a descentralização, a integração e a participação dos usuários no processo

de gestão.

A previsão constitucional da existência de um Sistema Nacional de Gerenciamento

de Recursos Hídricos repete-se, posteriormente, em 12 estados e no Distrito Federal,

cujas constituições, promulgadas a partir de 1989, incluem a previsão explícita de

sistemas de gerenciamento de recursos hídricos.

Em nove estados, houve abertura para que esses sistemas fossem implantados por

lei ordinária e, em cinco estados, as respectivas constituições estaduais limitaram-se a

repetir os dispositivos da Constituição Federal.

A partir daí, proliferaram acontecimentos vinculados à gestão de recursos hídricos

no país: (i) em 1988, criaram-se os primeiros comitês de bacias no Rio Grande do Sul;

(ii) a Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), sempre mobilizada,

produziu a Carta de Foz Iguaçu, com os princípios que deveriam ser seguidos no

desenho de uma política nacional para o setor; (iii) formou-se um Consórcio

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Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari; (iv) o Governo do Estado de

São Paulo enviou, em 1990, projeto de lei criando a Política Estadual de Recursos

Hídricos, um fundo, a cobrança, os comitês de bacia, entre outros dispositivos que

foram promulgados no ano seguinte; (v) em 1991, o Governo Federal enviou ao

Congresso o primeiro projeto de lei instituindo a Política Nacional de Recursos

Hídricos;(vi) com a demora da aprovação da lei federal, vários estados começaram a

aprovar leis criando as suas próprias políticas estaduais, como o Ceará, em 1992; Santa

Catarina e Distrito Federal, em 1993; Minas Gerais e Rio Grande do Sul, em 1994;

Sergipe e Bahia, em 1995.

Assim, estados que já tinham alguma tradição em recursos hídricos e na

operacionalização dos instrumentos de gestão passaram a discutir suas políticas e, em

alguns casos, a implementá-las. São Paulo, Paraná e Minas Gerais já possuíam razoável

experiência técnica pois concediam outorgas e contavam com organismos gestores, tais

como o Departamento de Água e Esgotos (DAE), de São Paulo, a Superintendência de

Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDHERSA), do Paraná, e o Instituto de

Gestão das Águas de Minas Gerais (IGAM). Também administravam outros

instrumentos técnicos de gestão, como sistemas de informações, planos estaduais e de

bacias, fiscalização etc. Logo, o Ceará adiantou-se com a criação, em 1993, da

Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), e iniciou um processo de

produção de instrumentos técnicos, econômicos e institucionais de gestão, a partir de

empréstimo do Banco Mundial. A Bahia também tem avançado, razoavelmente, na

questão.

Em 1995, enquanto tramitava no Congresso o projeto de lei da Política Nacional

de Recursos Hídricos, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou o Ministério do

Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. Neste ministério,

instituiu uma Secretaria de Recursos Hídricos. Durante a discussão do projeto de lei no

Congresso, um decreto presidencial estabeleceu o Comitê de Gerenciamento da Bacia

do Rio Paraíba do Sul.

Finalmente, em 8 de janeiro de 1997, foi promulgada a Lei nº 9.433, que instituiu

a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, que representam um marco institucional no país. A lei, de inspiração

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francesa, estabeleceu princípios, diretrizes, instrumentos e o sistema de gestão. Desde

então, o Brasil dispõe de uma ferramenta legal, que, se efetivamente implementada,

garantirá às gerações futuras a disponibilidade de água em condições adequadas.

A partir daí, ocorreram outros avanços: (i) em junho de 1998, por meio de

decreto, foi regulamentado o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH); (ii) em

1999, o Governo Federal anunciou a intenção de criar uma Agência Nacional das Águas

(ANA), sob forma de autarquia especial; (iii) o projeto de lei que criou a ANA foi

aprovado em 2000 e a agência estruturou-se a partir de 2001; (iv) em 1998, o Banco

Mundial deu início à formatação de um projeto com o Governo Federal - o Pró-água do

Semi-árido - para apoiar tanto ações institucionais de gestão dos recursos hídricos em

todo o país, como obras estruturais de demanda nos estados do Nordeste; (v) a ANA

criou o Programa Despoluição de Bacias Hidrográficas (PRODES) em 2001; (vi) o

CNRH regulamentou o sistema de outorga e, após, a criação de comitês de bacias; (vii)

em setembro de 2003, uma portaria do Ministério do Meio Ambiente aprovou o

regimento interno do CNRH; (viii) foram instituídos comitês nas bacias dos rios Paraíba

do Sul, Doce, São Francisco, Piracicaba-Capivari-Jundiaí, Paranaíba e Verde Grande;

(ix) foi implementado o sistema de cobrança dos recursos hídricos na Bacia do Rio

Paraíba do Sul; (x) elaborado o documento básico conceitual que passou a regrar a

redação do Plano Nacional de Recursos Hídricos; (xi) desenvolvidos os mecanismos de

cooperação para a gestão integrada dos recursos hídricos junto aos estados da

Federação.

Na esteira da aprovação da Lei Federal nº 9.433, em 1997, diversos estados

brasileiros tiveram suas leis e políticas estaduais também aprovadas. São os casos de: (i)

Paraíba e Rio Grande do Norte, em 1996; (ii) Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Mato

Grosso e Sergipe, em 1997; (iii) Espírito Santo, em 1998; (iv) Minas Gerais, Goiás, Rio

de Janeiro e Paraná, em 1999. Mais recentemente, o Mato Grosso do Sul, em 2002, e

alguns estados do Norte, como o Acre, em 2003, o Pará, em 2001, e o Tocantins, em

2003.

Os estados brasileiros também evoluíram razoavelmente, nos últimos 15 anos,

nos aspectos de gestão dos recursos hídricos, pois: (a) muitos criaram organismos

gestores estaduais; (b) inúmeros comitês de bacias hidrográficas foram estabelecidos,

com especial ênfase no Rio Grande do Sul; (c) foi possível promover, nos estados,

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maior integração entre o organismo gestor e o ambiental; (d) o Estado do Ceará avançou

muito nas questões de cobrança de água; (e) implementados vários programas de

capacitação de recursos humanos e de comunicação social, educação e gestão

participativa; (f) muitos estados iniciaram a implementação da rede de monitoramento

de qualidade, quantidade e meteorológica, bem como de sistemas de informações em

recursos hídricos; (g) elaborados alguns planos estaduais de recursos hídricos e outros

planos de bacias.

IV.CONCLUSÃO

A água, como demonstramos neste trabalho, é um instrumento fundamental para

o desenvolvimento de qualquer nação, pois sua utilização se aplica praticamente em

toda cadeia produtiva, seja na indústria pesada ou de transformação, e também na

agricultura familiar e no agronegócio. Por isso, a água de reúso vem sendo uma

alternativa cada vez mais utilizada no mundo. O Brasil, apesar de encontrar em seu

território um grande volume de água, tem ainda problemas como sinalizam os estudos

de órgãos oficiais , como o Ministério do Meio Ambiente, IBGE, e institutos privados,

que apontam um déficit de água em algumas regiões, de distribuição, não associadas

somente com a escassez, mas também com uma demanda superior ao volume ofertado,

e, a água reciclada é uma saída ideal para a atenuação ou até mesmo a resolução do

problema.

O Governo Federal e Estados provocados pela sociedade que se organizou cada

vez mais para cobrar seus direitos, em especial a partir da retomada da democracia nos

anos 80, começou a tratar da água como um bem fundamental. Para isso, foram criadas

estruturas como o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, que tem

tido papel fundamental, mesmo que com algumas carências, na formulação de políticas

e fiscalização da água em todo país, mesmo que a reuso tenha sido pouco explorado no

que tange diretrizes e marcos regulatórios para sua utilização.

Com o abordamos no trabalho apresentado, graças ao ciclo hidrológico, a água é

um recurso renovável. Quando reciclada por meio de sistemas naturais, é um recurso

limpo e seguro que é pela atividade antrópica, deteriorada a níveis diferentes de

poluição. Entretanto uma vez poluída, a água pode ser recuperada e reusada para fins

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benéficos diversos. As possibilidades e maneiras de reúso dependem, evidentemente, de

características, condições e fatores locais, tais como decisão política, esquemas

institucionais, disponibilidade técnica e fatores econômicos, sociais e culturais.

Concluímos que a utilização em larga em escala do reúso da água, desde que

utilizado dentro de normas e fiscalizado pelo Estado, é uma forma eficaz e racional de

usar um recurso finito, apesar de abundante em nosso país, que precisa, a cada dia que

passa ser tratado com muita atenção para que em um futuro, não muito distante, não

venha se tornar escasso para a população, como também não comprometa o setor

produtivo na cidade e no campo, em um momento onde o Brasil cresce de forma

pujante, se credenciando a ser uma das cinco maiores economias do mundo.

IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Introdução à Engenharia Ambiental – 2ª Ed. Vários autores. São Paulo: Pearson

Prentice Hall, 2005.

SANCHES, Mancuso, SANTOS, Hilton Felício. Reúso da Água. Ed. Barueri, SP.

Curso de Gestão Ambiental, Coleção Ambiental, vários autores, Ed. Manole- SP.

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www.ambientebrasil.com.br (acesso 3 de agosto de 2010).

PONCIANE, Marzi do Carmo. Elaboração de um programa de reúso da água em

lavagens de veículos nos postos de combustíveis no Distrito Federal. Brasília, 2006

Disponível em http://www.bdtd.ucb.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=420

(acesso 18 de julho de 2010).

HESPANHOL, Ivenildo. Potencial de reúso de água no Brasil: agricultura, indústria,

municípios e recarga de aqüíferos. Bahia Análise & Dados. Volume 13, número

ESPECIAL, p. 411 a 437, Salvador, 2003.

BERNARDI, Cristina Costa. Reúso de água para a irrigação. Brasília, 2003.

Disponível em

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us/press-center/fact-sheets-and-reports/9-09-Dublin-Declaration-FINAL.pdf (acesso 19

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LEITE, Ana Maria Ferreira. Reúso de água na gestão integrada dos recurso hídricos.

Brasília, 2003. Disponível em http://www.bdtd.ucb.br/tede/tde_arquivos/6/TDE-2004-

07-05T130948Z-77/Publico/DissertAnaMaria.pdf (acesso 3 de agosto de 2010).

ANA, Agência Nacional de Águas, disponível em: HTTP:// /www2.ana.gov.br (acesso

03 março de 2011)