os pressupostos da declaraÇao de insolvÊncia

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 Mestrado em Solicitadoria Insolvência e Recuperação de Empresas Docente: Prof. Mestre Maria Paula Gouveia Andrade  Pressupostos da Declaração de Insolvência Ano lectivo 2010/2011 7 De Abril de 2011 Discente: Ana Martinho    20100084

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Mestrado em SolicitadoriaInsolvência e Recuperação de Empresas

Docente: Prof. Mestre Maria Paula Gouveia Andrade Pressupostos da Declaração de Insolvência

Ano lectivo 2010/2011

7 De Abril de 2011

Discente: Ana Martinho – 20100084

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Índice de Abreviaturas

CC CÓDIGO CIVIL 

CPC CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 

CPEREF CÓDIGO DOS PROCESSOS ESPECIAIS DE RECUPERAÇÃO DA EMPRESA E DE

FALÊNCIA 

CIRE CÓDIGO DE INSOLVÊNCIA E DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS 

CSC CÓDIGOS DAS SOCIEDADES COMERCIAIS 

CCOOP CÓDIGO COOPERATIVO 

CCOM CÓDIGO COMERCIAL 

CMVM COMISSÃO DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS 

RJOIC  REGIME JURÍDICO DOS ORGANISMOS DE INVESTIMENTO COLECTIVO 

CIT. CITANDO 

DL DECRETO-LEI 

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Índice

Índice de Abreviaturas ................................................................................................... 1 

1.  Origem e evolução do Direito Falimentar ................................................................. 3 

2.  Considerações Introdutórias ...................................................................................... 4 

3.  Pressupostos Objectivos da Declaração de Insolvência ............................................ 5 

4.  Critério de Avaliação da Situação de Insolvência ..................................................... 8 

5.  O Critério da Lei Portuguesa ................................................................................... 12 

6.  Pressupostos Subjectivos da Declaração de Insolvência ......................................... 14 

7.  Pressuposto da Legitimidade Activa ....................................................................... 18 

8.  Pressuposto Processual de Competência ................................................................. 20 

I.  Regras de Competência Internacional ..................................................................... 21 

9.  Requerimento inicial ............................................................................................... 21 

10.  Apreciação liminar .................................................................................................. 22 

11.  Citação e oposição do devedor ................................................................................ 23 

12.  Sentença de declaração de insolvência.................................................................... 23 

13.  Conclusão ................................................................................................................ 26 

Bibliografia.................................................................................................................... 27 

Webgrafia ...................................................................................................................... 27 

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1.  Origem e evolução do Direito Falimentar

O direito falimentar teve origem no Direito Romano, no início tinha apenas

natureza pessoal o que remetia para consequências pessoais, como a perda da vida.

Como direito intermédio já era visto como tendo também natureza patrimonial,

a origem o conceito da falência, hoje insolvência, teve a sua origem nas cidades

italianas da Idade Média e do Renascimento, a falência poder ser considerada como

uma criação da idade média.

A primeira codificação do fenómeno Falência foi o Code de Commerce francês

de Napoleão, em 1807. Mais recente, fundamentalmente relacionadas com apreocupação em distinguir a insolvência de pessoas singulares e, fruto, em parte, das

crises económicas de 1870, 1914 e 1929, que imbuídos de um sentimento de

benevolência para com os falidos, as sociedades revelaram a importância entre a

decisão de liquidar ou recuperar.

Em Portugal, vigorou o sistema de Falência  –  liquidação até ao Código de

Processo Civil de 1961, depois o sistema de falência  – saneamento, até ao CIRE, em

2004, actualmente, desencadeado pelo CIRE, vigora o sistema de falência  –  liquidação.

Entre 1961 e 2004 o processo de insolvência destinava-se à satisfação dos

credores e a recuperar/viabilizar a empresa. Actualmente, face ao insucesso dessa

filosofia regressa-se ao entendimento de que a insolvência, após ser declarada vai

para a esfera jurídica dos credores, sendo estes quem decide do futuro da empresa.

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2.  Considerações Introdutórias

Com o decreto-lei n.º 53/2004, de 18 de Março, foi aprovado o novo Código da

Insolvência e da Recuperação de Empresas

1

(CIRE), que entrou em vigor em 15 deSetembro de 2004 e revogou o Código dos Processos Especiais de Recuperação da

Empresa e de Falência.

De entre as inúmeras novidades introduzidas destacam-se as seguintes:

  A criação de uma única forma de processo especial  –  O Processo de

Insolvência  – que uniformizar os processos de recuperação de empresa e de falência

num único processo, com a finalidade de tornar mais célere a decisão judicial e,portanto visando uma maior rapidez e flexibilidade na abertura e encerramento do

processo e uma mais justa composição dos interesses em causa.

  A par desta única forma processual, passa também a existir a figura única

do administrador de insolvência abandonando-se, assim, a distinção entre gestor

  judicial (designado para o processo de recuperação) e liquidatário judicial

(responsável pela liquidação do património falido).

  O reforço do dever de apresentação atempada das empresas ao processo

de insolvência, presumindo-se a responsabilidade pela apresentação tardia ao mesmo.

  A atribuição da competência nestes processos aos tribunais de comércio,

quando se trate de um insolvente que seja titular de uma empresa. Nas restantes

situações, em que não exista empresa, a competência pertence aos tribunais comuns.

  A atribuição aos credores do poder de avaliar a viabilidade económica da

empresa e decidir, em assembleia, se a mesma deverá ser recuperada ou liquidada e

em que termos, cabendo-lhes, portanto decidir se o pagamento dos seus créditos

resultará da liquidação integral do património do devedor, ou através da manutenção

em actividade e reestruturação da empresa.

  A eliminação do carácter taxativo que assumiam as medidas de

recuperação de empresas na legislação anterior, uma vez que agora o conteúdo do

1 Alterado pelos Decretos-Lei n.ºs 200/2004, de 18 de Agosto, 76-A/2006, de 29 de Março, 282/2007, de

7 de Agosto e 116/2008, de 4 de Julho.  

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plano de insolência passa a ser livremente definido pelos credores, restringindo-se a

intervenção do juiz ao controlo da legalidade, com vista à respectiva homologação.

  A limitação do direito de recurso a uma única instância, assegurando-sedesta forma, uma maior celeridade e eficácia do processo.

O CIRE regula um processo de execução universal2, o qual visa a liquidação do

património de devedores insolventes e a repartição do produto obtido pelos credores,

ou a satisfação destes pela forma prevista num plano de insolvência, que

nomeadamente se baseie na recuperação da empresa compreendida na massa

insolvente.

Por outro lado, nesta alteração legislativa, optou-se por uma desjudicialização

parcial, em prol da simplificação, flexibilização e celeridade processuais, passando o

  juiz a ter uma intervenção centrada nos actos de conteúdo reconhecidamente

  jurisdicional, atribuindo-se maiores competências ao administrador de insolvência e

à comissão de credores, sem prejuízo das acrescidas exigências de rigor e de

responsabilização.

Este processo único apresenta uma nova estrutura e tramitação judicial, sendoque, o presente trabalho vai incidir sobre a matéria que versa sobre os pressupostos

da declaração de insolvência.

3.  Pressupostos Objectivos da Declaração de Insolvência

De acordo com a perspectiva objectivista, importa aferir da existência de uma

situação de insolvência actual ou eminente, conforme dispõe o art.º 3.º, n.ºs 1 e 4, do

CIRE.

A situação de insolvência pode ser uma de duas: insolvência actual ou

eminente. A insolvência actual é aquela que cumpre os requisitos estabelecidos no

art.º 3.º, n.ºs 1 e 2, do CIRE, ou seja, é aquela que se afere pela impossibilidade de

cumprimento das obrigações. No caso específico das pessoas colectivas e dos

patrimónios autónomos, quando se verifique que o seu passivo é superior ao seu

activo.

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6

Nos termos do Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa , “ A iminência da

insolvência caracteriza-se pela ocorrência de circunstâncias que, não tendo ainda

conduzido ao incumprimento em condições de poder considerar-se a situação de

insolvência já actual, com toda a probabilidade a vão determinar a curto prazo,

exactamente pela insuficiência do activo líquido e disponível para satisfazer o

passivo exigível. Neste caso ainda não existe certeza nem convicção objectiva por

parte do devedor, de que praticamente se encontram esgotadas as possibilidades de

cumprir as suas obrigações.”3 

No caso de a insolvência ser meramente iminente, não existe o dever de

apresentação à insolvência, o devedor pode, ou não apresentar-se à insolvência, uma

vez que ainda não está numa situação consumada de insolvência e não será de excluir

uma alteração da situação.

O CIRE equipara a situação de insolvência actual à situação de insolvência

meramente iminente, conforme estabelecido no art.º 3.º, n.º 4, na situação em que é o

devedor a apresentar-se à insolvência, nos termos do art.º 18.º, do CIRE, permitindo-

se assim, que a apresentação do devedor à insolvência se verifique antes de

preenchidos os pressupostos da declaração de insolvência. Desta forma, o devedorafasta o requisito de vencimento das dívidas previsto n.º 1, do art.º 3.º, do CIRE, sem

que seja de prever a impossibilidade de cumprimento, sendo certo que, tal previsão

não releva para efeitos de declaração de insolvência, dependendo da verificação do

vencimento das obrigações.

A declaração de insolvência deixou de depender da verificação de inviabilidade

da situação do devedor insolvente, isto significa que ao abrigo do CIRE a situação de

insolvência é condição suficiente para que o devedor seja declarado insolvente. Ao

contrário do que sucedia no CPEREF no seu art.º 1.º, o qual estabelecia que a

viabilidade económica ou impossibilidade de recuperação financeira constituía, com

3 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 25/06/2009, Relator Carla Mendes, processo n.º7214/08.3TMSNT.L1-8, in www.dgsi.pt. Relator: 

Relator: 

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7

a situação de insolvência, requisito da declaração de falência4 e sem o qual a empresa

só podia ser sujeita a regime de recuperação. No caso de ser devedor não

comerciante, o CPEREF previa a possibilidade de declaração de insolvência, mas

podia evitar tal declaração mediante a apresentação de concordata5 a ser homologada

pelo juiz, nos termos dos art.ºs 7.º e 240.º do CPEREF. Em ambos os casos, tratando-

se de pessoa colectiva ou singular, a situação de insolvência era definida da mesma

forma, consistindo na “impossibilidade de o devedor cumprir pontualmente as suas

obrigações” 6 .

Por sua vez, no art.º 3.º, n.º 1, do CIRE, estabelece que “ é considerado em

 situação de insolvência o devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as

 suas obrigações vencidas7 ” . Nos termos do n.º 2, da mesma disposição legal, “As

 pessoas colectivas e os patrimónios autónomos por cujas dívidas nenhuma pessoa

  singular responda pessoal e ilimitadamente, por forma directa ou indirecta, são

  também considerados insolventes quando o seu passivo seja manifestamente

 superior ao activo , avaliados segundo as normas contabilísticas aplicáveis”. 

Para melhor compreensão da extensão do disposto na norma supra referida,

recuemos no tempo:

O Código de Processo Civil, no seu art.º 1135.º, considerava em situação de

falência o comerciante impossibilitado de cumprir as suas obrigações e o art.º 1174.º,

n.º 2 do mesmo diploma, restringiram a previsão da norma geral que vigorava no

código de falência de 1899, no seu art.º 1.º, § 1.º, e com o Código de Processo

Comercial de 1895-1896, no seu art.º 185.º, § 1.º, a qual admitia que as sociedades de

responsabilidade limitada pudessem ser declaradas falidas com fundamento na

insuficiência manifesta do activo para satisfação do passivo. No que concerne aos

4 O termo Falência era reservado aos comerciantes e o termo insolvência aos não comerciantes. Adicotomia Falência – Insolvência desapareceu com a entrada em vigor do CPEREF, in  “THEMIS, Novo Direito da Insolvência”, pág. 14, 2005, Almedina. 5 Concordata é o meio de recuperação de empresa em situação de insolvência ou em situação económicadifícil que consiste na simples redução ou modificação da totalidade ou de parte dos seus débitos,podendo a modificação consistir na simples moratória. 6 , “THEMIS,” Novo Direito da Insolvência”, pág. 14, 2005, Almedina, cit. Manuel de Andrade, Teoria

Geral da Relação Jurídica, II , edição de 1983, pág. 110. 7 Obrigações decorrentes de um vinculo jurídico pelo qual uma pessoa/empresa ficou obrigada para comoutra à realização de uma prestação, cujo prazo de cumprimento já se esgotou ou venceu, (art.º 780.º, doC.C.) 

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não comerciantes podiam ser declarados insolventes quanto o seu passivo fosse

superior ao seu activo, nos termos do art.º 1313.º, do CPC.

À semelhança do que sucedia no CPC, o CIRE estabelece uma norma especialpara as sociedade de responsabilidade limitada, estendendo-se igualmente às outras

pessoas colectivas e aos patrimónios autónomos, abrangendo também as pessoas

colectivas e os patrimónios autónomos de responsabilidade ilimitada por cujas

dividas não responda uma pessoa singular, ou seja, todos eles, se pelas dívidas não

responder ilimitadamente nenhuma pessoa singular. Os sujeitos aqui mencionados,

no caso de inexistência de responsabilidade ilimitada perante dívidas, são

considerados insolventes quando o seu passivo é manifestamente superior ao activo.

4.  Critério de Avaliação da Situação de Insolvência

Ser insolvente significa, como já foi referido, ser incapaz de cumprir as suas

obrigações, mas essa incapacidade tem que ser certificada em determinado momento,

através da declaração de insolvência. Acontece que esta incapacidade de

cumprimento pressupõe uma avaliação complexa podendo esta ser realizada através

de dois critérios:

  O critério do fluxo de caixa (cash flow)

  O critério do balanço ou do activo patrimonial (balance sheet ou asset )

Segundo o critério do  fluxo de caixa, o devedor considera-se insolvente assim

que se torna incapaz, por ausência de liquidez suficiente, de pagar as suas dívidas no

momento em que estas se vencem. Neste caso, o facto de o activo ser superior ao

passivo não tem qualquer relevância, já que a insolvência ocorre logo que se

verifique a impossibilidade de pagar as dívidas que surgem regularmente no

exercício da sua actividade.

De acordo com o critério do balanço ou do activo patrimonial, a insolvência

resulta do facto de os bens do devedor serem insuficientes para cumprimento integral

das suas obrigações. De acordo com este critério, a insolvência não é afastada pelo

facto de o devedor incumprir as obrigações que se vencem no decorrer normal da sua

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actividade, importando apenas que o conjunto dos bens apurados não permita

cumprir com as suas obrigações.

Este critério pressupõe uma apreciação mais complexa por parte do juiz, dadoque os bens do devedor nem sempre são de fácil avaliação, podendo o seu preço

variar consoante determinadas circunstâncias, nomeadamente se a venda é realizada

 judicialmente ou extrajudicialmente.

Assim, a determinação da insolvência aferir-se-á por um critério específico

relativo à superioridade do seu passivo sobre o seu activo, quando de acordo com

uma avaliação contabilística, o passivo seja manifestamente superior ao activo.

A avaliação contabilística deverá tomar em consideração o horizonte temporal

mais amplo possível, de forma a contemplar o momento da última dívida existente,

devendo considerar-se vários aspectos, nomeadamente: o tipo de actividade do

devedor, se a sua produção é estabelecida a curto ou a longo prazo, se é sazonal,

entre outros. Esta relação entre o passivo e o activo é apenas aplicável às pessoas

colectivas e aos patrimónios autónomos.

Um dos documentos que vai servir de suporte à avaliação contabilística será oBalanço da empresa, por ser este documento aquele que retrata os activos, as

responsabilidades para com terceiros e a situação líquida ou patrimonial da empresa.

O balanço é um mapa que indica de forma resumida e segundo uma ordem de

liquidez/exigibilidade, a situação do património da empresa num determinado

momento. Encontra-se dividido em três categorias: activo, passivo e capital próprio.

O activo traduz-se naquilo que a empresa possui e que é susceptível de seravaliado em dinheiro, são as disponibilidades, (ex. depósitos bancários, numerário e

títulos negociáveis), créditos sobre clientes, stocks de mercadoria, equipamentos, etc.

O passivo traduz-se no conjunto de fundos obtidos externamente pela empresa

através de empréstimos, (ex. diferimento de pagamentos a fornecedores, ao Estado).

O capital próprio corresponde ao capital pertencente aos sócios, representa o

valor do investimento realizado pelos proprietários adicionado dos lucros, ou

deduzidos de eventuais prejuízos, obtidos ao longo dos exercícios passados.

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No caso das pessoas singulares, nos termos do disposto no n.º 1, do art.º 3.º, do

CIRE, há que atentar somente à impossibilidade de cumprimento das suas

obrigações.

O Conjunto de factos de caracterizam a situação de insolvência e que, portanto,

dão origem à instauração do respectivo processo, são os definidos pelo art.º 20.º, n.º

1, do CIRE, que prevê um conjunto de factos índice8 ou presuntivos de existência da

situação de insolvência, que legitimam um terceiro a requerer a mesma:

a)  Suspensão generalizada do pagamento das obrigações vencidas;

b)  Falta de cumprimento de uma ou mais obrigações que, pelo seu montante

ou pelas circunstâncias do incumprimento, revele a impossibilidade de o devedorsatisfazer pontualmente a generalidade das suas obrigações;

c)  Fuga do titular da empresa ou dos administradores do devedor ou

abandono do local em que a empresa tem a sede ou exerce a sua principal actividade,

relacionados com a falta de solvabilidade do devedor e sem designação de substituto

idóneo;

d)  Dissipação, abandono, liquidação apressada ou ruinosa de bens e

constituição fictícia de créditos;e)  Insuficiência de bens penhoráveis para pagamento do crédito do

exequente verificada em processo executivo movido contra o devedor;

f)  Incumprimento de obrigações previstas em Plano de Insolvência ou em

Plano de pagamentos, nas condições previstas na alínea a) do n.º 1 e no n.º 2 do

artigo 218.º;

g)  Incumprimento generalizado, nos últimos seis meses, de dívidas de

algum dos seguintes tipos:(i)  Tributárias;

(ii)  De contribuições e quotizações para a segurança social;

(iii)  Créditos emergentes de contrato de trabalho, ou da violação

ou cessação deste contrato;

8 Factos índice – factos presuntivos da insolvência, através dos quais esta se manifesta. A sua verificação

permite presumir a insolvência do devedor. São condição necessária para a iniciativa processual doscredores e outros legitimados. Uma vez alegada a sua verificação, cabe ao devedor ilidi-la trazendo aoprocesso factos e circunstâncias que atestem que não está insolvente. 

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(iv)  Rendas de qualquer tipo de locação, incluindo a financeira,

prestações do preço da compra ou de empréstimo garantido pela respectiva hipoteca,

relativamente a local em que o devedor realize a sua actividade ou tenha a sua sede

ou residência.

h)  Sendo o devedor, uma das entidades referidas no n.º 2 do artigo 3.º,

manifesta superioridade do passivo sobre o activo segundo o último balanço

aprovado, ou atraso superior a nove meses na aprovação e depósito das contas, se a

tanto estiver legalmente obrigado.

Os factos referidos nesta disposição são taxativos mas não cumulativos, para a

declaração de insolvência basta o preenchimento de um ou alguns dos factos

contidos nas diversas alíneas do art.º 20.º, do CIRE.

A propósito do estabelecido na alínea b), do n.º 1, do art.º 20.º, refere-se o

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, nos termos do qual se considera que, “

(…)   III- Para a integração da previsão da alínea b), do n.º 1 do art.º 20.º do

C.I.R.E., importa ter presente que a ideia-matriz reside na impossibilidade de

cumprimento generalizado por parte do devedor e não em qualquer falta de

cumprimento sustentada em razões litigiosas sobre a existência ou validade da

obrigação. IV- A situação de insolvência sendo, conceptualmente, um fenómeno de

índole económica manifesta-se sob a forma de uma insuficiência de liquidez para

solver as obrigações financeiras contratuais, a qual é resultante da incapacidade da

empresa gerar excedente económico (...) ”9. 

O devedor, com excepção das pessoas singulares que não sejam titulares de

uma empresa na data em que incorram em situação de insolvência, tem o dever legal

de requerer a declaração de insolvência dentro dos 60 dias seguintes à data doconhecimento da situação de insolvência ou à data em que devesse conhecê-la,

conforme dispõe o art.º 18.º, do CIRE. Ainda nos termos da disposição referida,

sobre o devedor que seja titular de uma empresa, recai uma presunção inilidível de

conhecimento da situação de insolvência decorridos pelo menos 3 meses sobre o

incumprimento generalizado de algum dos tipos de obrigação previstas na línea g),

9 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 09/07/2009, Relator   Ezagüy Martins, processo n.º

1122/07.2TYLSB.L1-2, in www.dgsi.pt. Relator: 

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12

do n.º 1, do art.º 20.º, do CIRE. Os casos de incumprimento previstos na alínea g),

fundamentam por si só, sem necessidade de outros complementos, a instauração do

processo pelo legitimado, deixando para o devedor o ónus de demonstrar a

inexistência da impossibilidade generalizada de cumprir.

5.  O Critério da Lei Portuguesa

No Direito Português a insolvência é genericamente definida como a

impossibilidade de cumprimento das obrigações vencidas, como dispõe o art.º 3.º, n.º

1, do CIRE. É este o critério principal para definição da situação de insolvência, o

qual vai adoptar preferencialmente o critério de   fluxo de caixa em detrimento docritério do balanço.

MENEZES LEITÃO salienta que “… a insolvência corresponde à impossibilidade

de cumprimento pontual das obrigações e não à mera insuficiência patrimonial,

correspondente a uma situação líquida negativa10

. Pode acontecer que a situação

líquida negativa não implique a insolvência do devedor se o recurso ao crédito lhe

permitir cumprir pontualmente as suas obrigações, como também pode acontecer que

a situação líquida positiva não afaste a insolvência, caso se verifique que a falta de

crédito não permite ao devedor superar a falta de liquidez para poder cumprir as suas

obrigações.

Contudo, existem determinadas situações em que a lei admite a aplicação do

critério do balanço. A insuficiência patrimonial é considerada como um critério

acessório de definição de insolvência no que respeita às pessoas colectivas e

patrimónios autónomos11, entidades estas que são consideradas insolventes quando o

seu passivo é superior ao activo, nos termos do art.º 3.º, n.º 2, do CIRE. M ENEZES

LEITÃO, refere, que estas entidades não deixam de estar igualmente sujeitas ao

critério geral previsto no n.º 1, funcionando o critério do balanço previsto no n.º 2,

em alternativa, visando facilitar o pedido de insolvência por parte dos credores destas

entidades, que podem ser afectados pela responsabilidade limitada dos seus sócios.

10 LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO,  “Direito da Insolvência”, pág. 85, 2011, 3.ª edição,Almedina. 11

  Patrimónios Autónomos são patrimónios que possuem um regime especial de responsabilidade pordívidas; trata-se de uma determinada massa de bens exclusivamente afecta ao pagamento de determinadasdívidas, só esses bens e não outros, respondem por essas dívidas e apenas essas.  

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13

Assim, estas entidades podem ser declaradas insolventes caso o balanço demonstre a

manifesta inferioridade do activo face ao passivo, independentemente da natureza do

passivo ou do vencimento das obrigações.12 

Uma vez que os balanços comerciais têm um significado limitado para efeitos

de insolvência, o art.º 3.º, n.º 3, do CIRE, determina a correcção desse critério,

sempre que o activo seja superior ao passivo, segundo as regras nele estabelecidas:

a)  Consideram-se no activo e no passivo os elementos identificáveis,

mesmo que não constantes do balanço, pelo seu justo valor;

b)  Quando o devedor seja titular de uma empresa, a valorização baseia-se

numa perspectiva de continuidade ou de liquidação, consoante o que se afigure maisprovável, mas em qualquer caso com exclusão da rubrica de trespasse;

c)  Não se incluem no passivo dívidas que apenas hajam de ser pagas à custa

de fundos distribuíveis ou do activo restante depois de satisfeitos ou acautelados os

direitos dos demais credores do devedor.

Desta forma permite-se para efeitos de insolvência:

  A consideração de elementos identificáveis, ainda que não constantes no

balanço;

  A valorização da empresa, não só numa perspectiva de liquidação, com a

determinação do valor do seu património em caso de alienação, mas também numa

perspectiva de continuidade, avaliando a possibilidade de prossecução da actividade

da empresa.

MÁRIO JOÃO COUTINHO DOS SANTOS, refere que, “ … em termos económicos,

uma empresa considera-se (economicamente) falida quando o seu valor de mercado

na óptica da continuidade da exploração da sua actividade económica for menor do

que o valor agregado de venda dos seus activos individualmente no mercado. Nestas

circunstâncias, a decisão economicamente eficiente é a liquidação da empresa e a

consequente afectação dos seus activos a outro fim”.13

 

12 LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, ob. citada, pág. 85. 13 LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, ob. citada, pág. 86, cit. MÁRIO JOÃO COUTINHO DOSSANTOS, “Algumas notas sobre os aspectos económicos da insolvência da empresa”, em  DJ 19, 2005, 2,págs. 181-189. 

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14

  O facto de não serem incluídas no passivo as dívidas que apenas tenham

que ser pagas à custa de fundos distribuídos ou com base no activo restante, após a

satisfação dos créditos dos credores, (ex. reembolso do capital social, prestações

complementares e acessórias, créditos por suprimentos  –  art.º 48.º, alínea g), do

CIRE).

Importa ainda referir a alteração da definição do conceito de empresa no CIRE

face à definição que era acolhida pelo CPEREF. Enquanto no CPEREF, o conceito

de empresa abrangia não só a organização dos factores de produção (capital e

trabalho), destinada ao exercício de uma actividade, como estabelecia o seu art.º 2.º,

assim como o titular dessa organização. Pelo contrário, no CIRE, a empresa surge

como objecto compreendida na massa insolvente, nos termos do art.º 5.º, e tem como

titular o devedor, conforme art.ºs 18.º, n.ºs 2 e 3, 20.º, n.º 1, alínea c) e 195.º, n.º 2,

alíneas b) e c), podendo ainda ser transmitida a outra entidade quando inserida num

  plano de insolvência. Desta forma a empresa “perde” o estatuto de sujeito no

esquema dos pressupostos subjectivos da insolvência, como se verá no ponto

seguinte.

6.  Pressupostos Subjectivos da Declaração de Insolvência

O art.º 2.º do CIRE, elenca as entidades que podem ser sujeitos passivos do

processo de insolvência, sendo estas qualificadas como devedoras, ainda que, por

falta de personalidade jurídica, a titularidade das dívidas seja imputada a pessoa

diversa. Neste sentido, refere o preâmbulo do DL n.º 53.º/2004, de 18 de Março, (…)

  Aí se tem como critério mais relevante para este efeito, não o da personalidade

 jurídica, mas o da existência de autonomia patrimonial, o qual permite considerar 

como sujeitos passivos (também desi  gnados por “devedor” ou “insolvente”,

designadamente sociedades comerciais e outras pessoas colectivas ainda em

 processo de constituição, o estabelecimento individual de responsabilidade limitada,

as associações sem personalidade jurídica e “quaisquer outr os patrimónios

autónomos” (…)

Quanto ao elenco dos sujeitos passivos previstos no art.º 2.º, n.º 1, do CIRE,

Menezes Leitão, fala de uma   personalidade insolvencial, que não coincide

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15

necessariamente com a personalidade jurídica (art.º 66.º, CC), nem com a

 personalidade judiciária em geral (art.º 5.º e ss. CPC). O que releva para efeitos do

art.º 2.º, n.º 1, do CIRE é se as entidades nele indicadas são susceptíveis de serem

objecto de insolvência.

a)  Quaisquer pessoas singulares ou colectivas;

Em relação às   pessoas singulares, estas podem ser declaradas insolventes

independentemente de ser ou não economicamente independentes, ou mesmo se têm

capacidade jurídica plena (art.º 67.º, do CC). O regime da insolvência de pessoas

singulares está sujeito a regras especiais, donde se destaca a possibilidade de solicitar

a exoneração do passivo restante, nos termos do art.º 235.º e Segs, do CIRE. Aspessoas singulares sujeitas à insolvência podem ser ou não empresários. A

insolvência dos não empresários ou titulares de pequenas empresas está sujeita ao

regime estabelecido no art.º 249.º e Segs, do CIRE. Caso se trate de pessoa singular

que seja considerado comerciante, nos termos do art.º 13.º CCom, verá todo o seu

património a responder pelas dívidas, mas ainda assim está sujeito ao regime da

insolvência.

No que respeita às   pessoas colectivas, incluem-se nesta disposição, as

associações e fundações, as sociedades comerciais, em nome colectivo, por quotas,

anónimas e em comandita. De referir que a sujeição destas entidades à declaração de

insolvência, acarreta normalmente a sua dissolução, conforme dispõem os art.ºs

182.º, n.º 1, alínea e) e 192.º, n.º 1, alínea c), do CC, art.º 141.º, n.º 1 alínea e), do

CSC, e art.º 77.º g), do CCoop. Como consequência da dissolução e do posterior

encerramento da liquidação, estas entidades perdem a sua personalidade jurídica,

porquanto, a dissolução por si só, não afasta a possibilidade da declaração de

insolvência.

b)  A herança jacente;

A herança jacente é também um sujeito passivo da declaração de insolvência,

podendo ser declarada insolvente. A herança jacente é aquela que já foi aberta mas

ainda não foi aceite ou declarada vaga para o Estado, conforme dispõe o art.º 2046.º,

do CC. A declaração de insolvência da herança jacente não será em princípio, de

interesse para os herdeiros, dado que têm sempre a possibilidade de a repudiar, nos

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16

termos do art.º 2062.º, do CC, mas poderá ser requerida por qualquer credor da

herança, com o objectivo de controlar a sua liquidação.

Pode acontecer que a herança seja aceite pelos herdeiros, deixando de ser

considerada herança jacente. Neste caso, determina o art.º 10.º, alínea a), do CIRE,

que o processo de declaração de insolvência movido contra a herança jacente

continua. A Lei impede assim que a aceitação da herança tenha como efeito a

extinção da sua autonomia patrimonial, prolongando esta até ao encerramento do

processo, ao estabelecer obrigatoriamente a sua indivisão. Ainda assim, mesmo após

a aceitação da herança por qualquer herdeiro, mantém-se a possibilidade de declarar

a sua insolvência, uma vez que esta constitui um património autónomo sujeito a

administração pelo cabeça-de-casal até à sua liquidação e partilha, nos termos do art.º2079.º, do CC, e os patrimónios autónomos estão sujeitos à insolvência, nos termos

da alínea h), do n.º 1, do art.º 2.º, do CIRE.

Relativamente ao herdeiro, não pode ser sujeito à insolvência pelas dívidas da

herança, como se compreende, em virtude da limitação de responsabilidade, prevista

no art.º 2071.º, do CC.

Para MENEZES LEITÃO, não é a herança jacente, sujeito passivo de insolvência

 para efeitos do art.º 2.º, n.º 1, alínea c), mas pura e simplesmente a herança.14

 c)  As associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais;

Neste caso, são as pessoas singulares que compõem este tipo de entidades, que

respondem pelas dívidas contraídas, no entanto, como a sua responsabilidade é

subsidiária, a declaração de insolvência abrange directamente estas entidades, sendo

a insolvência dos seus membros considerada como derivada.

d)  As sociedades civis;

As sociedades civis são consideradas pessoas colectivas, as quais se dissolvemcom a declaração de insolvência nos termos já referidos, nos termos do art.º 1007.º,

alínea e), do CC.

e)  As sociedades comerciais e as sociedades civis sob a forma comercial até

à data do registo definitivo do contrato pelo qual se constituem;

Estas entidades são sujeitos passivos da declaração de insolvência nas mesmas

condições que as pessoal colectivas.

f)  As cooperativas, antes do registo da sua constituição;

14 LUÍS MANUEL TELES DE MENEZES LEITÃO, ob. citada, pág. 91. 

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17

Da mesma forma as cooperativas, antes do registo da sua constituição podem

ser objecto de processo de insolvência.

g)  O estabelecimento individual de responsabilidade limitada;

O estabelecimento individual de responsabilidade limitada pode ser declarado

insolvente. O disposto no art.º 11.º, n.º 2, do DL 248/86, de 25 de Agosto, estabelecia

que essa falência implicaria a falência do comerciante individual, caso se

demonstrasse que não tinha sido respeitado o princípio da separação patrimonial na

gestão do estabelecimento. No entanto, deve esta norma ser considerada tacitamente

revogada, na medida em que, sendo o estabelecimento individual de responsabilidade

limitada sujeito passivo da declaração de insolvência, não parece que a sua situação

de insolvência afecte automaticamente o seu titular, caso não se verifique o requisitoda impossibilidade de cumprimento das suas obrigações vencidas, regra geral

estabelecida no art.º 3.º, n.º 1, do CIRE. Apesar disso, a insolvência do

estabelecimento, não deixará de afectar o seu titular, enquanto administrador, ainda

que tenha respeitado princípio da separação patrimonial.

h)  Quaisquer outros patrimónios autónomos.

Nestes casos, em vez de o devedor ser objecto de um processo de insolvência

geral, que abrange todo o seu património, a insolvência é restrita a uma parte do seupatrimónio, sujeita a um regime especial de responsabilidade por dividas, dai que,

relativamente aos património autónomos se fale em insolvência especial ou

particular.

A aplicação do processo de insolvência a pessoas colectivas, singulares

incapazes e meros patrimónios autónomos exige a identificação das pessoas que os

representem no âmbito do processo, e a quem, porventura possam ser imputadas

responsabilidades pela criação ou agravamento da situação de insolvência dodevedor. As pessoas referidas, serão aquelas que disponham ou tenham disposto, por

força da Lei ou negócio jurídico, de poderes incidentes sobre o património do

devedor, inseridas no conceito de administrador e responsável legal estabelecido no

art.º 6.º, do CIRE.

O n.º 2.º, do art.º 2.º, do CIRE, estabelece a não sujeição ao instituto da

insolvência das empresas de seguros, instituições crédito e outras entidades,

normalmente excluídas do âmbito de aplicação do direito falimentar comum. No

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18

entanto, esta não sujeição apenas se reporta às normas que contrariem os regimes

especiais aplicáveis a tais entidades, evitando assim vazios de regulamentação que se

verificam nos casos em que tais regimes nada prevêem quanto às entidades por eles

abrangidas.

Nesta disposição encontram-se duas situações distintas: uma exclusão total de

aplicabilidade do direito falimentar, no que concerne às pessoas colectivas públicas e

entidades públicas empresariais15 e uma aplicabilidade condicionada à inexistência

de disposição especial incompatível com o seu regime, como sucede no caso das

empresas de seguros16, instituições de crédito, sociedades financeiras17, empresas de

investimento que prestem serviços que impliquem a detenção de fundos ou de

valores mobiliários de terceiros e organismos de investimento colectivo.18 

7.  Pressuposto da Legitimidade Activa

A declaração de insolvência pode ser requerida pelas pessoas e entidades

previstas no art.º 19.º e art.º 20.º, do CIRE, a saber:

a)  Pelo devedor enquanto pessoa singular capaz;

b)  Pelo órgão social incumbido da administração, ou, se não for este o caso,

por qualquer um dos seus administradores, quando o devedor não seja pessoa

singular capaz;

c)  Por quem seja responsável, por lei, pelas dívidas do devedor:

d)  Por qualquer credor, independentemente da natureza do seu crédito;

e)  Pelo ministério público, em representação das entidades cujos interesses

lhe estão legalmente confiados.

15 DL 58/99, de 17 de Dezembro, art.º 23.º e Seg. e art.º 34.º (determina que a sua extinção ocorre pormeio de DL) 16 Regime próprio, DL 94-B/98, de 17 de Abril, art.º 108.º-A e Seg. Liquidação, DL 90/2003, de 30 deAbril. 17 Quanto às instituições de crédito e sociedades financeiras, são reguladas pelo DL 199/2006, de 25 deOutubro, que procedeu à transposição da directiva 2001/24/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de24 de Abril, revogando o DL 30689, de 27 de Agosto de 1940, com excepção das normas relativas àliquidação aplicáveis às caixas de crédito agrícola de mútuo pertencentes ao Sistemas Integrado deCrédito Agrícola Mútuo, nos termos da respectiva legislação especial (art.º 41.º, do DL 199/2006).18 Reguladas pelo RJOIC, aprovado pelo DL 252/2003, de 17 de Outubro e regulamentadas pelos art.ºs97.º a 99.º do Regulamento da CMVM n.º 15/2003, alterado pelos regulamentos da CMVM n.º 9/2005 en.º 7/2007, de 19 de Dezembro de 2007. 

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19

Importa esclarecer, no que concerne ao disposto na alínea b) e c), do art.º 20.º

do CIRE, quando se refere à pessoa do administrador e ao responsável pelas dívidas

do devedor, há que considerar o seu verdadeiro conceito, estabelecido no art.º 6.º do

CIRE. Este artigo apenas se refere ao administrador e ao responsável legal, excluindo

os simples sócios das sociedades por quotas, que são de responsabilidade limitada,

desde que não cumulem outros poderes de administração/gestão nem se tenham

constituído garantes. Estes não respondem pelas dívidas por serem apenas

solidariamente responsáveis pela realização integral do capital social. No mesmo

sentido, o acórdão do Tribunal da Relação do Porto19, quando refere: “ (…) O mero

sócio de uma sociedade por quotas, enquanto tal e por si só, nos termos legais das

suas competências, atribuições e legitimidade de intervenção na vida societária, nãointegra o conceito de administrador em processo de insolvência (…). O sócio só pode

ser considerado administrador da sociedade devedora, caso lhe incumba a

administração ou liquidação da entidade ou património em causa. Daí que, não se

enquadrando o sócio na qualidade de titular de órgão social a quem incumba a

administração ou a liquidação da devedora, não possa ser considerado como seu

administrador. É óbvio que os sócios não são “irresponsáveis” pelos destinos da

sociedade. (…) Mas tal não legitima que sejam considerados administradores da

sociedade/devedora para efeitos do CIRE, uma vez que neste diploma se refere, de

forma clara, quem  –   “não sendo o devedor uma pessoa singular” –  é considerado

como administrador.”

Considera-se administrador/gerente de direito aquele que se encontra

legalmente nomeado como titular de um cargo social ou designado no contrato de

sociedade, constando do registo comercial da sociedade. Os gerentes de facto

praticam actos de gestão da sociedade em que tenham sido legalmente nomeadoscomo titulares do cargo. Os administradores/gerentes de facto podem ser chamados

ao processo pela via do incidente de qualificação de insolvência, nos termos do art.º

185.º e Segs, do CIRE

A situação é diferente nas sociedades em nome colectivo, que são de

responsabilidade ilimitada, nos termos do art.º 175.º, n.º 1, do CSC.

19 Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 16/06/2005, Relator Fernando Batista, processo n.º0533110 , in www.dgsi.pt. 

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20

8.  Pressuposto Processual de Competência

O DL 53/2004, de 18 de Março, que aprovou o CIRE, alterou o art.º 89.º, n.º 1,

alínea a), que estabelecia a competência do tribunal de comércio para o processo defalência.

O regime do CIRE, restringe a competência do Tribunal de Comércio, sendo

este o tribunal competente apenas nos casos em que o devedor seja uma sociedade

comercial ou a massa insolvente integre uma empresa, sendo nos restantes casos

competente o tribunal de competência genérica.

A competência do tribunal para julgar a acção determina-se no momento da sua

propositura, conforme art.ºs 24.º, da Lei n.º 52/2008, de 28 de Agosto e 150.º e 267.º,

do CPC. A acção é conhecida e apreciada liminarmente nos termos do art.º 27.º do

CIRE. Uma vez que, o n.º 2 do art.º 82.º do DL 53/2004, de 18 de Março, revogou o

art.º 82.º, do CPC, aprovado pelo DL n.º 44129, de 28 de Dezembro de 1961 que

regulava a competência territorial dos tribunais relativa aos processos de recuperação

e falência, a qual, nos termos do art.º 110, n.º 1, alínea a), sendo a questão da

incompetência do tribunal de conhecimento oficioso.

Assim, a competência territorial e o seu conhecimento é feita oficiosamente,cabendo ao juiz ordenar a sua remissão oficiosa para o tribunal competente.20 

Em razão do território, é competente o tribunal da sede ou do domicílio do

devedor, ou do domicílio do autor da herança à data da morte, ou do lugar onde o

devedor tenha o centro dos seus principais interesses.

Em razão da matéria, e caso se trate de uma sociedade comercial, ou caso a

massa insolvente integre uma empresa, são competentes os Tribunais de Comércio,

(Lisboa e Gaia  – na área da sua competência territorial) e, fora desta, os juízos decomércio, que são tribunais de 1.ª instância de competência especializada.

Caso não existam tribunais de competência especializada na circunscrição onde

a acção deva ser proposta, têm competência os juízos cíveis, nos termos do art.º

128.º, n.º 2, da Lei 52/2008, de 28 de Agosto. A violação das regras de competências,

importam incompetência relativa, nos termos dos art.ºs 101.º a 110.º, do CPC.

20 A remessa dos autos ocorre após trânsito em julgado do despacho que conhece da incompetência,podendo a requerente, para celeridade do processo  – que é urgente, declarar que prescinde do prazo derecurso do mesmo, informando os autos nesse sentido.  

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21

I.  Regras de Competência Internacional

Fora do âmbito de aplicação do Regulamento Comunitário (CE) n.º 1346/2000,

de 29 de Maio, dado que o direito comunitário prevalece sobre o direito interno (art.º271.º), e pelo princípio da coincidência, art.º 65.º, n.º 1, alínea b), do CPC, a

determinação da competência dos tribunais afere-se pelo art.º 7.º, do CIRE. Todavia,

os tribunais portugueses têm competência exclusiva, quando o devedor tenha

domicílio ou sede em território português, nos termos do art.º 65.º-A, alínea b), do

CPC, sendo a sede estatutária, o critério utilizado para esse caso.

Analisados os pressupostos da declaração de insolvência, consideram-se

cumpridos os objectivos traçados para o presente trabalho. No entanto, como forma

de “enquadramento processual”, considero pertinente fazer uma breve referência ao

caminho que é percorrido desde a entrada do requerimento inicial na secretaria do

tribunal até à sentença da declaração de insolvência.

9.  Requerimento inicialNo requerimento o requerente deve expor os factos que integram os

pressupostos da declaração de insolvência indicando os seguintes elementos

previstos no art.º 23.º, n.º 2, do CIRE.

Se o requerente for o próprio devedor, devem juntar-se os documentos

referidos no art.º 24.º do CIRE.

Não sendo o requerente o devedor, deve justificar-se na petição a origem,

natureza e montante do seu crédito, ou a sua responsabilidade pelos créditos sobre a

insolvência, consoante o caso, e oferecer com ela os elementos que possua

relativamente ao activo e passivo do devedor, bem como todos os meios de prova de

que disponha, incluindo as testemunhas arroladas.

Com a petição devem ser apresentados os duplicados necessários para a

entrega aos cinco maiores credores conhecidos e, quando for caso disso, à comissão

de trabalhadores e ao devedor, além do destinado a arquivo do tribunal.

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22

O devedor, querendo, pode apresentar junto com o requerimento, um plano de

insolvência, nos termos do art.º 24.º, n.º 3, do CIRE.

Tal como sucedia no regime anterior, o processo de insolvência tem carácterurgente e tem prioridade sobre o serviço ordinário do tribunal, incluindo todos os

seus incidentes, apensos e recursos.

10. Apreciação liminar

Depois de verificado o impulso processual inicial, segue-se uma fase de

apreciação liminar, destinada ao apuramento da regularidade da instância e ao

suprimento dos vícios sanáveis da petição, nos termos do art.º 27.º, do CIRE.

Não havendo lugar a indeferimento liminar, e uma vez supridos os eventuais

vícios da petição, é declarada, de imediato a insolvência do devedor, (nos três dias

seguintes à distribuição, no caso de não existirem vícios a corrigir), no caso de a

apresentação ser efectuada nos termos do art.º 28.º, do CIRE.

Tendo o processo sido desencadeado por terceiro e não tendo sido dispensada a

audiência do devedor, nos termos previstos no art.º 12.º, a insolvência só é declarada

depois de o mesmo ter sido citado pessoalmente e de ter sido realizado julgamento,

caso tenha sido deduzida oposição, nos termos dos art.ºs 29.º, 30.º, e 35.º, do CIRE).

De referir que a não comparência das partes, ou de algumas delas no julgamento, tem

consequências gravosas para a oposição que defendam no processo. Com a oposição

o devedor deverá oferecer todos os meios de prova de que disponha, ficando

obrigado a apresentar as testemunhas arroladas, cujo limite não pode exceder os

limites previstos nos art.ºs 789.º, do CPC, ex vi art.º 35.º, do CIRE.

Nesta fase, o juiz, oficiosamente ou a requerimento do requerente da

insolvência, ordenará medidas cautelares destinadas a evitar a degradação ou a

dissipação de património do devedor, sempre que haja justo receio da prática de

actos de má gestão, como refere o art.º 31.º, do CIRE. A adopção das medidas

cautelares pode preceder a própria distribuição, no caso previsto no n.º 4 da

disposição legal referida, quando o requerente o solicite, no requerimento inicial e o

 juiz considere justificada a precedência.

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23

A lei não fixa taxativamente as medidas cautelares possíveis, limitando-se a

referir que podem “consistir na nomeação de um administrador judicial provisório

com poderes exclusivos para administração do património do devedor, ou para

assistir o devedor nessa administração”, nos termos do art.º 31.º, n.º 2, do CIRE. 

11. Citação e oposição do devedor

Nos casos em que o pedido não seja efectuado pelo próprio devedor e não

havendo motivo para indeferimento liminar, aquele que é citado para, no prazo de 10

dias, deduzir oposição, fundamentando-se esta, designadamente, na inexistência da

sua situação de insolvência.

Não sendo dispensada a audiência do devedor e não deduzindo este oposição

nos termos exposto, consideram-se confessados todos os factos alegados na petição

inicial, sendo a insolvência declarada, caso se verifiquem algum dos factos referidos

no n.º 1 do art.º 20.º, do CIRE.

12. Sentença de declaração de insolvência

Na audiência de discussão e julgamento, o juiz, quando os factos alegados na

petição inicial forem subsumíveis no n.º 1 do art.º 20.º, do CIRE, dita logo para a

acta a sentença de declaração da insolvência. Nesta sentença são fixadas uma série de

obrigações subsequentes.

O juiz pode ainda determinar que a administração da massa insolvente seja

assegurada pelo devedor. Neste caso, o art.º 36.º, alínea e), do CIRE, exige a

verificação cumulativa dos pressupostos fixados no n.º 2 do art.º 224.º, do mesmo

diploma legal.

A propósito da sentença de declaração de insolvência, o Ponto 29 do

Preâmbulo do DL n.º 53/2004, de 18 de Agosto refere que, “   A sentença de

declaração de insolvência representa um momento fulcral do processo (…) o

momento da sua emanação é decisivo para a aplicação de inúmeras normas do

código. Boa parte da eficácia e celeridade, quando não da justiça, do processo de

insolvência depende da sua adequada publicitação, a fim de que venha ao processo

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24

o maior número possível de credores e de que o façam no momento mais próximo

 possível,” 

A sentença declaratória da insolvência pode ser impugnada por meio deembargos e/ou por meio de recurso, nos termos do art.ºs 40.º e 42.º, n.º 1, do CIRE,

tendo legitimidade para esse efeito as pessoas referidas no art.º 40.º, n.º 1.

Conforme dispõe o ponto 30 do Preâmbulo do DL 53/2004, de 18 de Março, “

(…) , às pessoas legitimadas para deduzir embargos é lícito, alternativamente a essa

dedução ou cumulativamente com ela, interpor recurso da sentença de declaração

de insolvência, quando entendam que, face aos elementos apurados, ela não devia

ter sido proferida. Tal como sucede no CPEREF, a oposição de embargos à sentença

declaratória de insolvência, bem como o recurso da decisão que mantenha a

declaração, suspende a liquidação e a partilha do activo, sem prejuízo de o

administrador de insolvência poder promover a venda imediata dos bens da massa

insolvente que não possam ou não devam conservar-se por estarem sujeitos a

deterioração ou depreciação.” 

Constituem pressupostos de admissibilidade da impugnação por embargos a

alegação de factos ou o requerimento de meios de prova que não tenham sido tidos

em conta pelo tribunal e que possam afastar os fundamentos de declaração de

insolvência, nos termos do disposto no art.º 42.º, n.º 1, do CIRE.

Quando, em resultado da impugnação da sentença declaratória da insolvência,

ocorre a respectiva revogação, mantêm-se plenamente válidos e eficazes os actos

praticados pelos órgãos da insolvência. A declaração de insolvência tem, desde logo,

como efeito a transferência dos poderes de administração e de disposição dopatrimónio do devedor insolvente para o administrador de insolvência, conforme

dispõe o art.º 81.º do CIRE.

Para além dos efeitos sobre a pessoa do devedor, o CIRE prevê os efeitos da

declaração de insolvência sobre outras pessoas, entre elas, administradores, sócios e

trabalhadores com créditos emergentes de contrato de trabalho, nos termos dos art.ºs

82.º e 84.º, n.º 3, do CIRE.

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Ainda neste âmbito, o CIRE fixa o regime da suspensão das execuções e das

convenções arbitrais, art.ºs 87.º e 88.º, e o próprio regime das acções relativas a

dívidas da massa insolvente.

Nos art.ºs 90.º a 101.º, do CIRE, são ainda definidos os efeitos da declaração

de insolvência relativamente aos créditos sobre a massa insolvente, prevendo-se,

designadamente, o vencimento imediato de dívidas, art.º 91.º, incluindo o

vencimento das abrangidas por planos de regularização, art.º 92.º, as circunstâncias

em que é possível a compensação, art.º 99.º e a suspensão dos prazos de prescrição e

de caducidade oponíveis pelo devedor insolvente, durante o decurso do processo de

insolvência, conforme dispõe o art.º 100.º, do CIRE.

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13. Conclusão

No que concerne aos pressupostos da declaração de insolvência, temos em

primeiro lugar o pressuposto objectivo da situação de insolvência, podendo estaassumir duas modalidades: a insolvência actual ou iminente.

A situação de insolvência actual afere-se pelo art.º 3.º, n.º 1, “quando o

devedor se encontre impossibilitado de cumprir as suas obrigações vencidas” 

Está aqui em causa, uma situação financeira que impede o devedor de fazer

face às suas obrigações e não uma relação quantitativa entre o activo e o passivo do

devedor. O n.º 2.º do art.º 3.º, do CIRE, confirma esta situação ao estabelecer desvios

em relação a certos insolventes. Desta forma, as pessoas colectivas e patrimónios

autónomos por cujas dívidas não respondam qualquer pessoa singular, pessoal e

ilimitadamente, por forma directa ou indirecta, estão em situação de insolvência

quando o seu passivo seja “manifestamente superior ao activo, avaliados segundo as

normas contabilísticas aplicáveis.

A situação de insolvência iminente apenas releva para efeitos de apresentação

por parte do devedor, aferindo-se em função de circunstâncias que levam a admitir,com toda a probabilidade, a verificação da insuficiência do activo para satisfazer o

passivo, segundo um critério de normalidade.

Quanto ao pressuposto subjectivo, o CIRE insere-se numa evolução que

progressivamente alargou o campo de aplicação do instituto, desde os tempos, em

que a falência era privativa dos comerciantes, situação que foi alterada, quando

passou a existir um instituto privativo dos não comerciantes.21 

21 LUÍS A.  CARVALHO FERNANDES E JOÃO LABAREDA, “Colectânea de estudos sobre a Insolvência”

reimpressão, 2011, editora Quid Juris 

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Bibliografia

Labareda, João e Fernandes, Luís A. Carvalho, Colectânea de Estudossobre a Insolvência, reimpressão, 2011, Quid Juris, sociedade editora.

Leitão, Luís Manuel Teles de Menezes, Direito da Insolvência, 3.ª edição,

2011, Almedina.

Lima, Pires e Antunes Varela, Código Civil Anotado, 4.ª Edição Revista e

actualizada, Coimbra Editora, 1987.

Machado, António Montalvão, O Novo Processo Civil, 5.ª Edição, Almedina.

Martins, Luís M., Processo de Insolvência, 2.ª Edição, 2010, Almedina.

Neto, Abílio, Código de Processo Civil Anotado, 22.ª edição actualizada,

Novembro de 2009, Ediforum.

Prata, Ana,. Dicionário Juridico, 4.ª edição, 2005, Almedina.

Revista da Faculdade de Direito da UNL, THEMIS, “ Novo Direito da Insolvência”, Edição Especial, 2005, Almedina.

Webgrafia

www.dgsi.pt/