os povos invisíveis territórios negros e indígenas no ceará ratts

21
OS POVOS INVISÍVEIS: TERRITÓRIOS NEGROS E INDÍGENAS NO CEARÁ 1 Alecsandro J. P. Ratts 2 No Ceará, nos anos 80, inicia-se um processo de “aparecimento” de grupos indígenas desconhecidos ou considerados extintos e “descoberta” de agrupamentos negros, em contraposição a um senso comum bastante difundido, inclusive pela historiografia regional, da “extinção” dos índios e da “quase ausência” dos negros. No mesmo período verifica-se a constituição do movimento negro e do movimento indigenista no Estado. Esta comunicação, que constitui uma síntese de minha dissertação de mestrado 3 , refere-se ao trabalho de campo realizado, em 1994 e 1995, entre os índios Tremembé de Almofala (Itarema-CE) e os Caetano de Conceição (Tururu-CE). Procuro, aqui, discutir um processo que, nos anos 90, está em plena vitalidade, não apenas no Ceará, mas por todo o Nordeste (reaparecimento de grupos indígenas) e pelo país (identificação de comunidades negras). A invisibilidade indígena no Nordeste, colocada em termos de extinção e de assimilação, vem sendo revista desde o projeto de pesquisa de José Augusto de Laranjeira Sampaio - “De Caboclo a Índio” 4 . No caso do Ceará, a perspectiva de Sylvia Porto Alegre se desenvolve a partir de 1992, conjugando projetos desenvolvidos na Universidade Federal do Ceará em consonância com o Núcleo de História Indígena e do Indigenismo da Universidade de São Paulo 5 . Alguns trabalhos têm se detido em outras áreas do país em que a colonização teria se dado sobre um “vazio demográfico”, ou seja, negando a presença indígena como no Estado do Paraná. 6 A caracterização de uma invisibilidade negra no campo foi formulada por Maria de Lourdes Bandeira, nos domínios da ordem jurídica, em plena mobilização para incluir os direitos das “comunidades negras rurais” na Constituição Federal que seria promulgada em 1988 7 . Contudo, a vinculação da invisibilidade negra à formação de identidades regionais, 1 Publicado em: Cadernos CERU (FFLCH/USP), São Paulo, v. 9, p. 109-127, 1997. 2 Mestre em Geografia Humana e Doutorando em Antropologia Social na Universidade de São Paulo. 3 RATTS, Alecsandro J.P.. Fronteiras Invisíveis: territórios negros e indígenas no Ceará. 1995. 4 SAMPAIO, José Augusto L. De Caboclo a Índio: etnicidade e organização social e política entre os povos indígenas no Nordeste do Brasil. 1986. 5 PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Relações Interétnicas e História regional: uma revisão do “desaparecimento” das populações indígenas do Nordeste. 1992. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia et alii (Orgs.) Documentos Para a História Indígena no Nordeste: Ceará, Rio Grande o Norte e Sergipe. 1994. 6 MOTA, Lúcio Tadeu. A Construção do “Vazio Demográfico” e a Reti rada da Presença Indígena da História Social do Paraná. 1994. 7 BANDEIRA, Maria de Lourdes. Terras Negras: Invisibilidade expropriadora. 1991 (texto apresentado originalmente noCongresso Internacional da Escravidão, realizado em São Paulo, em1988).

Upload: eider-cavalcante

Post on 24-Nov-2015

53 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

  • OS POVOS INVISVEIS: TERRITRIOS NEGROS E INDGENAS NO CEAR1 Alecsandro J. P. Ratts 2

    No Cear, nos anos 80, inicia-se um processo de aparecimento de grupos indgenas desconhecidos ou considerados extintos e descoberta de agrupamentos negros, em contraposio a um senso comum bastante difundido, inclusive pela historiografia regional, da extino dos ndios e da quase ausncia dos negros. No mesmo perodo verifica-se a constituio do movimento negro e do movimento indigenista no Estado.

    Esta comunicao, que constitui uma sntese de minha dissertao de mestrado3, refere-se ao trabalho de campo realizado, em 1994 e 1995, entre os ndios Trememb de Almofala (Itarema-CE) e os Caetano de Conceio (Tururu-CE). Procuro, aqui, discutir um processo que, nos anos 90, est em plena vitalidade, no apenas no Cear, mas por todo o Nordeste (reaparecimento de grupos indgenas) e pelo pas (identificao de comunidades negras).

    A invisibilidade indgena no Nordeste, colocada em termos de extino e de assimilao, vem sendo revista desde o projeto de pesquisa de Jos Augusto de Laranjeira Sampaio - De Caboclo a ndio 4. No caso do Cear, a perspectiva de Sylvia Porto Alegre se desenvolve a partir de 1992, conjugando projetos desenvolvidos na Universidade Federal do Cear em consonncia com o Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo da Universidade de So Paulo5. Alguns trabalhos tm se detido em outras reas do pas em que a colonizao teria se dado sobre um vazio demogrfico, ou seja, negando a presena indgena como no Estado do Paran.6

    A caracterizao de uma invisibilidade negra no campo foi formulada por Maria de Lourdes Bandeira, nos domnios da ordem jurdica, em plena mobilizao para incluir os direitos das comunidades negras rurais na Constituio Federal que seria promulgada em 19887. Contudo, a vinculao da invisibilidade negra formao de identidades regionais,

    1 Publicado em: Cadernos CERU (FFLCH/USP), So Paulo, v. 9, p. 109-127, 1997.

    2 Mestre em Geografia Humana e Doutorando em Antropologia Social na Universidade de So Paulo.

    3 RATTS, Alecsandro J.P.. Fronteiras Invisveis: territrios negros e indgenas no Cear. 1995. 4

    SAMPAIO, Jos Augusto L. De Caboclo a ndio: etnicidade e organizao social e poltica entre os povos indgenas no Nordeste do Brasil. 1986. 5

    PORTO ALEGRE, Maria Sylvia. Relaes Intertnicas e Histria regional: uma reviso do desaparecimento das populaes indgenas do Nordeste. 1992. PORTO ALEGRE, Maria Sylvia et alii (Orgs.) Documentos Para a Histria Indgena no Nordeste: Cear, Rio Grande o Norte e Sergipe. 1994. 6

    MOTA, Lcio Tadeu. A Construo do Vazio Demogrfico e a Retirada da Presena Indgena da Histria Social do Paran. 1994. 7

    BANDEIRA, Maria de Lourdes. Terras Negras: Invisibilidade expropriadora. 1991 (texto apresentado originalmente noCongresso Internacional da Escravido, realizado em So Paulo, em1988).

  • 2

    perspectiva da qual me aproximo, vem sendo abordada para a Regio Sul, particularmente para o Estado de Santa Catarina, nos trabalhos de Ilka Boaventura Leite.8

    A constituio de uma identidade regional para o Cear, pensada desde a segunda metade do sculo XIX, tem seu duplo na extino indgena e na ausncia da populao negra na formao tnica dos cearenses, o que me permite discutir a construo dessa invisibilidade. As trajetrias dos Trememb e dos Caetano, dois dos grupos mais visveis, sero justapostas e no comparadas, considerando que, no contexto recente, ndios e negros no Cear, apresentam distines na sua emergncia e na configurao de seus territrios.

    1. O QUE SE ESCREVE E O QUE SE V: NDIOS, NEGROS E INTELECTUAIS

    A emergncia de ndios e negros provoca algumas indagaes acerca da trajetrias destas coletividades tnicas, em que uns - os ndios - se parecem com a populao regional e outros - os negros - so percebidos como distintos do cearense tpico, mistura de branco e ndio: no Cear, de certo modo menos sujeito s influncias negras, que se podem ver as razes indgenas de nossa formao.9

    O senso comum da extino dos ndios e da ausncia dos negros no Cear foi intensamente reiterado como uma tradio regional que parece se perder no tempo. No entanto, a construo dessa invisibilidade pode ser investigada a partir da segunda metade do sculo XIX em processos polticos e na produo de intelectuais que privilegiaram certas verses da histria de ndios e negros nessa poro do territrio nacional que se constituiu como o Estado do Cear. No h inteno todavia de reiterar uma especificidade regional posto que o processo concomitante e se assemelha quele da formao de uma identidade nacional, onde a questo racial foi balizadora dos debates.10

    O termo intelectuais, abrange aqueles que se auto-denominam e so reconhecidos por seus pares como historiadores, gegrafos, folcloristas ou etngrafos, independente de sua formao inicial, de mdicos, engenheiros ou bacharis em direito. Sem ter por objetivo determinar o campo estritamente geogrfico, histrico ou antropolgico de tais idias, limito-me a identificar algumas de suas origens, alteraes e implicaes.

    8 LEITE, Ilka Boaventura. Descendentes de Africanos em Santa Catarina: invisibilidade histrica e segregao.

    1991; republicado em LEITE, Ilka Boaventura. (Org.) Negros no Sul: invisibilidade e territorialidade. 1995. 9

    RODRIGUES, Jos Honrio. A Historiografia Cearense na Revista do Instituto do Cear. 1959. 10

    SCHWARCZ, Lilia. O Espetculo das Raas: Cientistas, Instituies e a Questo Racial no Brasil. (1870-1930). 1993.

  • 3

    Os Intelectuais e os ndios

    Em 1850 os aldeamentos indgenas do Cear so declarados extintos e suas terras so incorporadas aos Proprios Nacionaes, antes de qualquer outra provncia do imprio em consequencia de no existirem ahi hordas de Indios selvagens (...) mas somente descendentes delles confundidos na massa da populao civilizada 11. Tal texto corroborado em um relatrio provincial de 1863 e aparecer praticamente inalterado nas obras que tratam da histria indgena no Cear:

    J no existem aqui ndios aldeados ou bravios. Das antigas tribos de Tabajaras, Cariris e Pitaguaris, que habitavam a provncia, uma parte foi destruda, outra emigrou e o resto constitui os aldeamentos.

    (...) neles que ainda hoje se encontra maior numero de

    descendentes das antigas raas; mas acham-se misturados na massa geral da populao, composta na maxima parte de forasteiros, que excedendo-os em nmero, riqueza e indstria, tem havido por usurpao ou compra as terras pertencentes aos aborgenes. 12

    Os primeiros historiadores, cujas obras surgem aps a decretada extino dos aldeamentos, foram veementes ao tratar da ocupao do litoral e do serto pelos colonizadores. Pedro Thberge, mdico francs radicado no Cear enfatiza o extermnio indgena e compara os sistema de aldeamento com a escravido:

    J temos por vezes tido a ocasio de mostrar com que barbaridade foram os ndios tratados pelos colonos que se vieram estabelecer na capitania do Cear: as tentativas incessantes que se fizeram para os cativar, e a falta de f com que eram agarrados, massacrados ou reduzidos ao cativeiro, mesmo nas suas aldeias onde se acostumaram vida social, ou nas misses onde estudavam a doutrina.

    (...) Duraram estes abusos por muito tempo, at que extinguindo-se

    quase a raa indgena debaixo dos maus tratos dos portugueses, no se acharam mais outros para substituir os que morriam numa escala espantosa. 13

    Seu contemporneo, Tristo de Alencar Araripe, bacharel em direito, jurista e poltico, consciente de estar escrevendo a histria parcial da provncia , retrata o contato

    11 Rio de janeiro, Ministrio dos Negcios do Imprio em 21/10/1850. In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela.

    (Org.) Legislao Indigenista no Sculo XIX. 1992. 12

    Relatrio apresentado Assemblia legislativa provincial por Jos Bento da Cunha Figueiredo Jnior em 09/10/1863. 13

    THBERGE, Pedro. Esboo Histrico Sobre a Provncia do Cear. 1973 [1869]. pp.163-64.

  • 4

    entre ndios e colonizadores com menos nfase para as guerras que para a catequese e a miscigenao:

    Os indgenas entre ns j no so numerosos, e vivem por tal forma mesclados com a outra parte da populao, que no possvel dar-lhes regmen diferente, segregando-os da comunho dos demais cidados.

    (...) Outrora numerosos, brbaros e errantes, depois tirados das

    brenhas, e fixados em aldeias pela catequese, e doutrinados pelos padres, foram os mesmos indgenas posteriormente devastados pela cobia dos colonos e hoje esto reduzidos a nmero insignificante, e confundidos na massa geral da populao sem formar classe distinta na sociedade brasileira. 14

    Tais obras de Thebrge e Araripe foram reeditadas com anotaes de intelectuais deste sculo, que privilegiam uma interpretao do desaparecimento indgena:

    Convm, ainda, no esquecer que se houve massacre dos ndios por parte dos portugueses, isto se deveu no falta de f dos brancos, nem apenas sua ganncia, concorrendo para tanto a constante resistncia que alguns silvcolas opunham penetrao dos colonizadores, reao essa manifesta em certas ocasies, principalmente na chamada Guerra dos Brbaros, mais percucientemente estudada por Carlos Studart Filho. O desejo do europeu era, mesmo, o de que os silvcolas colaborassem no trabalho de colonizao. 15

    A verso do desaparecimento que vai predominando ressalta a miscigenao e no o massacre:

    J foi visto em nota de captulo anterior, que o extermnio dos ndios se deveu mais miscigenao com o branco que ao massacre pelo simples gosto de destruir. 16

    Thberge, Araripe e aqueles que lhes so posteriores, insistem em geral na tese do desaparecimento. Assim, vai se delineando a imagem do caboclo, termo que se estende queles que tm ascendncia indgena. Para a maior parte dos intelectuais consultados, cujo pensamento no possvel expor com detalhes neste texto, no existe mais uma problemtica contempornea relacionada aos grupos indgenas. Contudo, vrios deles encontraram indivduos e grupos que aparentavam traos fsicos e/ou culturais de origem indgena como a Festa dos caboclos, no antigo aldeamento de Parangaba, hoje distrito de Fortaleza, e a dana do Torm dos descendentes dos Trememb de Almofala 17.

    14ARARIPE, Tristo de Alencar. Histria da Provncia do Cear: desde os tempos primitivos at 1850. 1958 [1867]. pp.65-66. 15

    THBERGE, op.cit. p.163, Nota I. 16

    THEBRGE, Pedro. op. cit. p. 164. Nota II. 17

    NOGUEIRA, Joo. A Chegada dos Caboclos. 1936. POMPEU SOBRINHO, Thomaz. ndios Tremembs, 1951. SERAINE, Florival. Sobre o Torm (dana de procedncia indgena). 1955

  • 5

    A continuidade dos grupos anteriormente aldeados praticamente no foi investigada, com exceo do caso dos Paiaku envolvidos em disputas de terra no incio do sculo XX18. A tese do desaparecimento, combinada com a indelvel herana indgena, prevalece por mais de cem anos, mesmo diante da presena de caboclos, descendentes de ndios.19

    A emergncia dos Tapeba, moradores de Caucaia, municpio da Regio Metropolitana de Fortaleza, e dos Trememb, reivindicando sua indianidade e o direito s terras que ocupavam, atraiu advogados, missionrios e, posteriormente, pesquisadores. Alguns pesquisadores ligados ao Programa de Estudos de Terras Indgenas do Museu Nacional do Rio de Janeiro (PETI/MN-UFRJ) e ao projeto Povos Indgenas do Nordeste Brasileiro da Universidade Federal da Bahia tm concludo seus trabalhos acerca destes grupos indgenas20, sem, no entanto, se debruarem sobre a reviso do desaparecimento indgena no Cear.

    Sylvia Porto Alegre sustenta uma hiptese que procura dar conta do desaparecimento e dos grupos que esto sendo identificados:

    Podemos concluir, portanto, que apesar do esvaziamento progressivo das aldeias, uma parte dos ndios do Nordeste conseguiu permanecer no seu local de origem. A perda de visibilidade, o chamado desaparecimento, guarda uma relao direta com a emergncia da categoria denominada caboclo produto da dinmica cultural do contato. Buscando formas variadas de preservar sua unidade, os povos indgenas remanescentes na regio valeram-se da dinmica da cultura de contato para sobreviver. 21

    Se esta hiptese se confirma para o caso dos Trememb atuais, originrios do aldeamento de Nossa Senhora da Conceio de Almofala, e, em parte para os Tapeba (posto que o nome do grupo no se refere a nenhuma das etnias agregadas no aldeamento de Nossa Senhora dos Prazeres de Caucaia), outros grupos esto reaparecendo e persistem lacunas na historiografia a respeito do deslocamento de povos indgenas e do processo de miscigenao.

    Apesar de uma crescente visibilidade alcanada depois da presena da FUNAI no Estado em 92, da campanha pela demarcao encetada em 93 e da constituio de um

    18 BEZERRA, Antnio. Os Caboclos de Montemr.1916

    19 Ver RODRIGUES, Jos Honrio. A Historiografia Cearense na Revista do Instituto do Cear. 1959; GIRO,

    Raimundo, Pequena Histria do Cear. 1971 [1953]; 20

    BARRETO FILHO, Henyo Trindade. Tapebas, Tapebanos e Pernas-de-Pau de Caucaia, Cear: da etnognese como processo social e luta simblica; VALLE, Carlos Guilherme Octaviano do. Terra, Tradio e Etnicidade: os Trememb do Cear, 1993; MESSEDER, Marcos Luciano. Etnicidade e Dilogo Poltico: a emergncia dos Trememb. 1995. 21

    PORTO ALEGRE, Sylvia. Aldeias Indgenas e Povoamento no Nordeste, no Final do Sculo XVIII: aspectos demogrficos da cultura de contato. 1993. p. 214.

  • 6

    movimento indgena, a condio de invisvel repercute em conflitos locais. Os Tapeba e os Trememb obtiveram a identificao e delimitao das suas reas, mas no conquistaram a almejada demarcao. Na rea Trememb a existncia de ndios freqentemente contestada, posio defendida por no-ndios residentes em Almofala.

    Os Intelectuais e os Negros

    Algumas idias so repetidas em relao aos negros no Cear, principalmente quanto sua quase ausncia na formao tnica dos cearenses (expresso de Raimundo Giro, historiador da abolio). Tomando, em geral, a categoria escravo como sinnimo de negro a maioria dos historiadores se detm na propalada parca utilizao de mo-de-obra escravizada no Cear posto que seria encontrada apenas em servios domsticos e nos poucos engenhos de rapadura. A partir da formula-se outra idia bastante reiterada de uma escravido branda advinda do contato prximo entre senhor e escravo:

    " preciso deixar bem acentuado que muito embora a crudelissima disciplina de familia antiga, que penetrava at as escolas, o escravo do Cear no era o mesmo martyr da lavoura do sul. No conhecia o eito e a senzala dos latifndios, fazia to somente de domstico, em contacto com o seu senhor. Os homens ajudavam no campo e as mulheres debaixo do mesmo tecto, faziam o menage e conta dellas estava a cozinha, cargo de confiana, entendendo com o preparo do po, do qual depende a vida ou pode vir a morte." 22

    Alm da quase ausncia do negro e da escravido sem o eito e a senzala dos latifndios e, portanto, sem revoltas ou quilombos, a historiografia cearense ressalta a abolio pioneira da escravido no Cear, em 1884. O vnculo entre a pequena utilizao de mo-de-obra escrava, a mitigante seca de 1877-79 e a ao do movimento abolicionista como explicao do declnio da escravido no Cear demonstrado pela primeira vez em Giro23 que, partindo do texto de Joo Brgido, consolida as idias citadas acima:

    Nessa organizao-scio econmica, que veio caracterizar, no conceito de Capistrano (de Abreu), a civilizao do couro, os ombros afros pouco entraram em cena. Restringiam-se aos msteres da criadagem, quando os 'negros velhos' e as babs, que no sofriam, em regra, o peso e os castigos do eito, como nas zonas dos engenhos de acar e nas de minerao.

    No Cear os canaviais mal alimentavam, ou alimentam, modestos engenhos bangs de fabricao de rapadura, e as catas aurferas mal

    22BRGIDO, Joo. Cear - Homens e Factos. 1919. p.308. 23

    GIRO, Raimundo. A Abolio no Cear. 1969 [1956].

  • 7

    saram dos fracassados ensaios da Itarema, de So Jos dos Cariris e das Fraldas da Serra Grande.

    Da porque a percentagem do sangue africano pequena dentro das veias do cearense. E tambm porque, humilde e pouco, o negro no pode subir na escala social, ficou em baixo, sem nimo de interferir na mesclagem da etnia cearense. 24

    No entanto, outros indcios da presena negra destoam destas idias que se tornaram tradies regionais. No prprio texto de Giro h referncias fragmentadas de fugas, formao de mocambos, atos de tortura contra escravizados, atitudes de rebeldia que o autor considera como excees 25. Roberto do Amaral Vieira ao fazer apologia de seus ancestrais abolicionistas fala em dois mil negros fugitivos vivendo em quilombos nos stios e arrabaldes de Fortaleza26. As apresentaes dos Reis Congos, ligados a irmandades de homens pretos so referidas para todo o sculo XIX 27. Um comentrio sobre a existncia de um agrupamento negro em pleno sculo XX, aparece como uma nota isolada na historiografia:

    BASTIES - Povoado com 5O habitaes e escola municipal, sobre a serra de seu nome, municpio de Iracema. Habitado exclusivamente por pretos, dedicados lavoura, com a particularidade de serem todos alfabetizados. 28

    Nos anos 80, surgem trabalhos que procuram rever a escravido e a abolio no Cear. Pedro Alberto de Oliveira discute o declnio da escravido com menos nfase no movimento abolicionista, mas reitera a tese da pequena presena negra, centrando-se na categoria escravo 29. Eduardo Campos elabora uma reviso do mito da escravido branda analisando anncios de fuga de escravizados e ressaltando a presena negra, inclusive como mo-de-obra escravizada, no serto nordestino, nas atividades pecurias.30

    Uma voz dissonante est na perspectiva de Billy Chandler, historiador norte-americano, que em sua pesquisa sobre a regio dos Inhamuns, na fronteira com o Piau, chegou a pensar na necessidade de reavaliao da participao dos negros na formao tnica do Cear. Trabalhando com os principais censos para o sculo XIX e considerando pretos, mulatos e pardos como pessoas portadoras de reconhecvel origem negride, Chandler abre uma perspectiva que no foi investigada:

    24 GIRO, Raimundo. Pequena Histria do Cear. 1971. pp.77-78.

    25 GIRO, Raimundo. A Abolio no Cear. 1969 [1956].

    26 VIEIRA, Roberto ttila do Amaral.

    27 NOGUEIRA, Joo. Os Congos. 1934; FROTA, D. Jos Tupinamb da Frota. Histria de Sobral. 1974 [1952];

    CAMPOS, Eduardo. As Irmandades Religiosas do Cear Provincial: apontamentos para sua histria. 1980. 28

    BRAGA, Renato. Dicionrio Histrico e Geogrfico do Cear. 1967. p.53. 29

    OLIVEIRA SILVA, Pedro Alberto. O Declnio da Escravido no Cear. 1988.

  • 8

    Ao considerar a formao tnica do Cear, acima de tudo, os negros devem ser observados como um elemento geral no deslocamento de pessoas para a rea e no seu subseqente desenvolvimento e no, ligados somente com a instituio da escravido e da campanha abolicionista. Pelos dados censitrios tomados fica claro que nos primeiros anos do sculo XIX as pessoas livres, de inteira ou parcial ancestralidade negride, superavam em nmero os escravizados. Assim - e este o ponto crucial - a histria dos negros nesta rea no principalmente a de um insignificante grupo escravizado que existia em estado de letargia sexual, mas antes de tudo um elemento geral que desempenhava um papel vital e ativo na formao tnica e na cultura da populao geral. 31

    Atravs de seus dados possvel perceber concentraes de negros nas vilas e cidades maiores e mais antigas, locais onde existiram irmandades de homens pretos e pardos, reas onde hoje so identificados diversos agrupamentos negros. Como disse acima, o artigo de Chandler permaneceu sem repercusso.

    A tese da quase ausncia do negro ainda se prolonga enquanto tradio local. As chamadas comunidades negras rurais so menos conhecidas no cenrio regional e, portanto, so menos visadas pela mdia e por pesquisadores. Sem apresentar as nuances destas tradies regionais relativas a ndios e negros, passo ento para uma apreciao do que seria o territrio dos Trememb e dos Caetano para depois retornar ao quadro atual de reaparecimento indgena e descoberta de agrupamentos negros.

    2. ALMOFALA DOS TREMEMB:

    Situada no municpio de Itarema, no litoral oeste do Cear, a 270 km de Fortaleza, Almofala, tem origem em um aldeamento que agregou ndios Trememb no incio do sculo XVIII. Os Trememb atuais so, em linhas gerais, pessoas nascidas nesta rea (ou casadas com nativos do local) que se mobilizam em torno dessa identidade indgena e de reivindicaes de terra. Parte da populao natural de Almofala no investe nessa denominao. Os dados sobre a populao Trememb so discordantes, a estimativa da FUNAI, fica em torno de 2 247 pessoas distribudas em cerca de 20 ncleos, reivindicando 4 900 ha32, praticamente metade da terra do aldeamento, que seria uma terra de doao.33

    Desde os primeiros contatos me detive por mais tempo na localidade de Varjota, ao sul da rea do antigo aldeamento. Os Trememb desta localidade enfrentam uma disputa

    30 CAMPOS, Eduardo. Revelaes das Condies de Vida dos Cativos no Cear. 1984.

    31 CHANDLER, Billy J.. The Role of Negroes in the Ethnic Formation of Cear: the Need for a Reappraisal. 1973.

    p.35. (Traduo minha). 32

    FUNAI, Relatrio do GT-Trememb. 1992 33

    Registro de Doao de Terra aos ndios de Almofala, do Livro de Registro de Terras da Freguesia da Barra do Acaracu de 1855-1857, transcrito em VALLE, Carlos Guilherme O. do. Op.cit. e FUNAI, op.cit.

  • 9

    por terras com a empresa Ducco Agrcola S/A desde 1984 e se representam como uma comunidade, imagem que fruto da constituio de uma comunidade eclesial de base no local, no incio dos anos 80. A obteno de uma liminar favorvel numa ao de usucapio em 1986, um marco da sua mobilizao.

    Durante o processo jurdico contra a empresa agro-industrial, moradores da Varjota enfatizavam a localidade estava situada na terra dos ndios, o que acabou por atrair missionrios indigenistas e pesquisadores, desencadeando uma rearticulao dos ncleos vizinhos, situados nas terras do antigo aldeamento, como os habitantes da praia referidos na historiografia cearense atravs da dana do Torm. At 1992, ano da presena da FUNAI para identificao e delimitao da rea indgena, prevalecia uma marcada distino entre os Trememb da praia (parte central de Almofala) e da mata (Varjota e adjacncias), oposio corroborada pelos missionrios que os acompanham desde 1986, atualmente sob a denominao de Misso Trememb.

    Nesse intenso convvio com missionrios, advogados, pesquisadores e outros agentes, os Trememb ressaltam a trade ndio, terra e torm atravs da qual aparecem para as pessoas de fora : onde tem o torm tem o ndio, onde tem o ndio tem a terra.

    A teoria antropolgica brasileira que trata de reas de frico intertnica34 e de reivindicaes de indianidade35 insistiu na necessidade de por o foco da pesquisa na fronteira (entre os grupos tnicos), apoiando-se, em geral, em Fredrik Barth 36. No caso dos ndios no Nordeste, desenvolveu-se uma tendncia a priorizar a terra como base para a noo de territrio, este permanecendo enquadrado nos limites visveis dos agrupamentos, das terras ocupadas e reivindicadas. No mesmo sentido, a identidade de grupos tnicos em situao de intenso contato, caso dos povos indgenas no Nordeste, percebida como estando apoiada em relaes eminentemente polticas. Essa tem sido a perspectiva das pesquisas produzidas sobre os Trememb.37

    Joo Pacheco de Oliveira sugere uma abordagem dos ndios no Nordeste que priorize a inveno cultural com um resoluto movimento de afastar o vis etnolgico de buscar no presente culturas autnticas (ou ainda fontes especficas culturais da etnicidade).38

    O peso do termo ndio levava os Trememb a apresentarem o Torm fora de Almofala ou para pessoas de fora, como na presena do GT da FUNAI na rea em 1992,

    34 CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. Identidade, Etnia e Estrutura Social. 1976.

    35 CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Antropologia do Brasil: mito, histria e etnicidade. 1987.

    36 BARTH, Fredrik. (ed.) Ethnic Groups and Boundaries: the social organization of cultural difference. 1969

    37 VALLE, Carlos Guilherme Octaviano do. Terra, Tradio e Etnicidade: os Trememb do Cear, 1993;

    MESSEDER, Marcos Luciano. Etnicidade e Dilogo Poltico: a emergncia dos Trememb. 1995. 38

    OLIVEIRA FILHO, Joo Pacheco de. Povos Indgenas no Nordeste: fronteiras tncicas e identidades emergentes. 1993.

  • 10

    adornados com penas de peru e pintados com urucum (ou mesmo batom), prtica inexistente em performances internas, como depois de reunies que congregam Trememb de vrias localidades, que podem contar com a presena de pesquisadores j conhecidos pelo grupo. Colares de bzios e sementes, produzidos a partir de 1990 com estmulo dos missionrios, so raramente utilizados no dia-a-dia.

    O processo de miscigenao ocorrido em Almofala, flagrante nos traos fsicos daqueles que se afirmam como ndios, provoca contestaes como as que so encontradas no discurso dos no-ndios que habitam a rea. Como se poder ver adiante, diversos traos culturais no so postos como acentos de uma identidade indgena.

    O torm passou de dana que marcava a safra do caju para um referencial de identidade e, desde que foi danado em 92, em frente igreja (ponto central do aldeamento), depois de presses e cerceamentos por parte dos no-ndios, tem, em minha opinio, se colocado como dana de demarcao do territrio: matai, matai, quem faz a ronda os ndio da aldeia (Cantiga de Torm).

    O territrio Trememb pode ser referenciado para alm dos limites da terra do aldeamento como no discurso de uma liderana: naquele tempo de Pedro lvares Cabral, essa terra da praia, setenta lgua pra dentro, quem andava era os ndios Trememb, do Maranho a todo litoral, aqui. Essa praia todinha, essa terra toda indgena, toda Trememb. (Lus, Varjota, janeiro, 1994). Tal extenso, encontrada no Mapa Etno-histrico de Curt Nimuendaju e em textos historiogrficos abre possibilidades para entendimento de outras comunidades do litoral cearense, cujas singularidades no cabe abordar aqui.

    Nessa amplitude do territrio pode-se destacar os percursos dos antepassados e a seleo de marcos espaciais bastante conhecidos: lugares como a igreja dos ndios - o alvo da terra - reivindicada na proposta de demarcao e a localidade de Lagoa Seca - o corao da histria- que est quase totalmente em posse de no-ndios e foi excluda da delimitao da rea Indgena. Tremembs de vrios ncleos afirmam descender dos antigos moradores da Lagoa Seca, que ali habitaram at os anos 70. Alguns a retratam como uma aldeia ideal: A Lagoa Seca era habitada s pelo pessoal da minha famlia. E as casa era tudo arrudiado, assim feito um circo, e a casa do centro do aldeamento era a casa do meu bisav mais da minha bisav: a via Chica da Lagoa Seca e o Z Pedro, que era o nome do meu bisav. (Joo, Almofala, 1994.)

    Essas referncias aparecem em textos anteriores mobilizao tnica atual39. O territrio Trememb vem a ser mais pontuado e mais extenso do que aparece nas pesquisas atuais. Insistindo na abordagem de outros aspectos da vida dos Trememb que no

  • 11

    comparecem na acentuao de sua identidade, passo a discorrer brevemente sobre pintura, desenho e habitao, discursos relativo natureza e o processo de miscigenao.

    Aqum das fronteiras: grafismo, natureza e miscigenao

    Na localidade de Varjota, algumas casas apresentam pinturas base de argila colorida, cal e fuligem, aplicadas nas paredes internas. No arruamento central de Almofala e tambm na Varjota encontrei, em 92, casas cujas fachadas foram pintadas com tintas sintticas. As pinturas, realizadas em sua maioria por mulheres, so apontadas por elas como livre criao - so as coisas da minha cabea, da minha cultura mesmo, no fao por mostra, no - destinadas apreciao pessoal e familiar: porque achava bonito . Desenhos coletados entre mulheres e adolescentes revelam, em comparao com as pinturas murais, um repertrio de grafismos que recriado com grande liberdade individual. Barras de cores e molduras, bastante comuns na arte dita popular, aparecem combinadas a pontos, flores e ondas encontradas nas cermicas produzidas na regio. Constituem uma inovao, reconhecida pelo grupo e no registrada por nenhum pesquisador.

    Construes de palha, como algumas casas e o salo de reunies da praia, j no so muito utilizadas mas, da mesma forma que outras tcnicas atribudas aos antigos Trememb, podem ser retomadas: tem coisa dos antigos que a gente no faz mais, mas se a gente quiser a gente faz (Agostinho, Varjota, 1992). Cabe registrar que a maioria das habitaes dos Trememb de Almofala so edificadas em taipa ou alvenaria.

    possvel captar diversas representaes da natureza que despontam em fragmentos sobre os encantados que podem ser vislumbrados no rio e no mangue (como anteriormente registrara Seraine), nas pinturas, nos desenhos e nas novas canes de Torm: t escutando a mata, sou o paj de toda a aldeia, os ndio reunido brandeia mas no arreia (ou seja, balanam mas no caem). As antigas canes do Torm tambm constituem observaes da natureza e das atividades dirias.40

    Os Trememb, como outros grupos indgenas no Nordeste, se parecem fisicamente com a populao regional. A unidade que o termo ndio adquire entre eles abrange os naturais de Almofala, os descendentes dos troncos velhos, ou seja, as pessoas de dentro em contraposio s pessoas de fora 41. H um discurso menos ressaltado, mas recorrente, que se refere ao processo de miscigenao: tenho um p na raa ndia e um p na raa negra; meu av veio da Costa dfrica, mas a minha v j era daqui, dos ndio ; meu av veio do Macei (localidade do litoral cearense), mas a minha v era daqui.

    39 SERAINE, Florival. Sobre o torm (dana de procedncia indgena). 1955; NOVO, Jos Silva. Almofala dos

    Trememb. 1976. 40

    NOVO, Jos Silva. op.cit.

  • 12

    Reconhecendo a miscigenao os autores destas frases se afirmam como Trememb e do sua interpretao para um processo que a seus olhos no indiferenciado. Por falta de espao no h como explorar as modalidades dessa representao, mas posso aproxim-la daquela que Peter Gow desenvolveu para as Comunidades Nativas do Peru, cujos habitantes se definem como gente de sangre mezclada mantendo-se, todavia, como um grupo tnico distinto.42

    Como demonstram os aspectos tratados acima, h um repertrio de possibilidades de construo da identidade e da prpria mobilizao para alm das interpretaes que os pesquisadores e agentes de mediao costumam fazer. Depois da presena da FUNAI em Almofala, a unidade dos Trememb tem se configurado, principalmente na Campanha pela Demarcao das Terras Indgenas no Cear, lanada em Fortaleza em 1993, e na constituio de um movimento indgena. Trechos da terra do aldeamento como a Lagoa Seca figuram como sonhos de retomada. Os vnculos com os parentes que residem em Fortaleza e nas reas de assentados do municpio de Itarema so contagiados pelo discurso indgena e a rede de parentesco vai sendo politizada. A dinamicidade da fronteira, dos acentos culturais torna-se ento bastante visvel.

    2. CONCEIO DOS CAETANO

    Situa-se no municpio de Tururu, a 119 km de Fortaleza, na zona de interseo entre o litoral e o serto. Conceio, originria de um terreno adquirido no final sculo passado (1884) por Caetano Jos da Costa que ali passou a residir com um pequeno grupo que deu origem comunidade. So aproximadamente 800 hectares para 44 famlias nucleares que somam cerca de 220 Caetanos (dados colhidos em 1994). A escritura da terra fica sob a responsabilidade de um herdeiro do fundador, que atualmente Bibiu, sua bisneta.

    O aumento do nmero de pessoas de fora, tambm chamadas de brancos, que ali vem se instalando, antes dos anos 80, a partir da doao e venda de parcelas do terreno, tem se conformado como um confronto, s vezes aberto, s vezes latente. Alguns brancos "casaram na famlia" e tm acesso terra para plantar. O casamento intratnico que era uma norma, agora permanece como recomendao, porm h quem manifeste o desejo de manter a "origem", a "raa".

    Os Caetano de Conceio se auto-representam como famlia, comunidade ou comunidade negra. Quase todos so catlicos e as principais atividades religiosas locais

    41 VALLE, Carlos Guilherme Octaviano do. Op.cit.

    42 GOW, Peter. Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazonian. l99l.

  • 13

    so dirigidas por eles, como as celebraes dominicais, o grupo de jovens, a Festa da Padroeira e a Festa do Zumbi (Dia Nacional de Unio e Conscincia Negra). Desde 1984, militantes do movimento negro tm frequentado a rea. Conceio alcanou alguma visibilidade na imprensa que se restringe a datas especficas (13 de Maio - Dia da Abolio da Escravatura, e 20 de novembro - Dia Nacional da Conscincia Negra).

    A redefinio do territrio negro

    O passado dos Caetano costuma ser representado como o de uma comunidade exclusivamente negra, apesar da experincia de permitir morada a pessoas de fora nos anos 50. Contudo, no h imagem alguma de isolamento: a participao em festas religiosas em Itapipoca, Uruburetama e Tururu (cidades da regio) e a relao de parentesco com os moradores de gua Preta e Varjota (outros agrupamentos negros prximos, sendo que o ltimo no existe mais), denotam a insero regional dos Caetano, conhecidos como os negros da Conceio.

    A imagem de apropriao comum do terreno original fica turvada pela presena de brancos principalmente na rea central, rea de morada e de comrcio, denominada de rua. Como o acesso terra para plantar se limita aos Caetano e aqueles que casaram na famlia, com exceo de uma famlia branca que detm posse de uma parcela do terra que lhe permite o plantio, posso concluir que h uma tendncia diviso da terra. Nas farinhadas, por exemplo, realizadas por grupos domsticos de Caetano nas casas de farinha que ficam na rea central e arredores no h frequncia de gente de fora. As farinhadas podem ser momentos de entendimento da organizao social em grupos rurais, como foi captado em Campinho da Independncia por Neusa Gusmo.43

    Contedos introduzidos por militantes do movimento negro - trfico negreiro, frica, Zumbi, conscincia negra - foram incorporados ao acervo cultural dos Caetano. Como eles dizem, ficaram na histria , ou seja, foram aproximados aos temas de sua tradio, podendo, por exemplo, comparar o Paizinho Caetano a Zumbi, como grandes lderes portadores de um projeto de libertao.

    A Festa da Padroeira, Nossa Senhora das Graas, realizada em novembro, permite a percepo das diversas identidades dos Caetano. Desde a primeira novena, com o hasteamento da bandeira da padroeira, celebram seu catolicismo em que padres e freiras da parquia de Uruburetama realizam pregaes tradicionais, onde h caminhadas penitenciais pela madrugada. No Dia do Zumbi (20 de novembro), recebem militantes do

    43 GUSMO, Neusa Maria Mendes. Terra de Pretos, Terra de Mulheres: terra, mulher e raa num bairro rural

    negro. 1996. pp.108-110.

  • 14

    movimento negro de Fortaleza e os moradores de gua Preta, com quem so aparentados; deixam aflorar sua expresso de negritude, alteram parte da liturgia da missa para incluir canes em ritmos de afox que uma parte dos Caetano dana com vigor.

    Na ltima novena, para o leilo das prendas arrecadadas, convidam os polticos locais, possveis candidatos a vereador ou prefeito, a equipe da Rdio Uirapuru de Itapipoca que cobre a regio; celebram assim suas relaes regionais, posto que Conceio o distrito principal do municpio, a localidade que mais tem crescido. Essas alianas enunciam os projetos da principal liderana do grupo que funciona como representante poltica, tendo inclusive tentado ingressar na vereana, que sonha em manter na famlia a posse do terreno mas cr na aliana com gente de fora: porque a gente sabe que o lugar s cresce se tiver extrao, tiver gente de fora pra mode movimentar pra aquele lugar crescer, mas eu no sou contra no. Sou de acordo, eu s sou contra a venda (Bibiu, 1994).

    A manipulao de diversas identidades para um mesmo grupo foi apontada por Manuela Carneiro da Cunha para um segmento de africanos que retornou do Brasil para a frica: "um mesmo grupo pode usar identidades diferentes, dependendo do interesse especfico que quer explorar" 44. Entre os Caetano, como para o grupo estudado por Manuela Carneiro da Cunha, h divergncias internas na assuno de identidades: entre aqueles que so a favor de dividir o terreno, muitos participam e investem no Dia do Zumbi. No cabendo aqui nenhuma afirmao de que o grupo v se fragmentar inexoravelmente.

    O territrio dos Caetano, tomado a partir dos limites do terreno original, est sendo redesenhado. Se em Conceio h uma tendncia diviso da terra, os laos de parentesco antigos e atuais estendem o territrio negro para outras localidades: Goiabeiras e Lagoa do Ramo, comunidades negras do municpio de Aquiraz, apontando uma rota migratria, ainda em estudo que percorre mais de 150 km; gua Preta e Varjota (terras compradas entre o final do sculo passado e o incio deste) e Pedregulho, que seria o local de origem dos primeiros Caetano e pode ter sido um agrupamento de negros aquilombados, posto que esperaram at a libertao para sair. O territrio se estende tambm para a capital do Estado onde os parentes moram agregados - h uma outra Conceio em Fortaleza - e para a Amaznia, lugar de antigas migraes.

    A terra apenas um dos substratos da auto-representao dos Caetano, ou seja, do grupo e seu territrio. A famlia, frente s mudanas e comportando diversas trajetrias, parece ser o componente que determina a auto-imagem do grupo e qualifica o espao por sua presena. Assim, eles se consideram uma grande famlia espalhada pelo pas: essa nao de Caetano.

    44 CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Antropologia do Brasil: mito, histria e etnicidade. 1987. pp.94.

  • 15

    3.TERRITRIOS NEGROS E INDGENAS NO CEAR: FRONTEIRAS EM MOVIMENTO

    No aparecimento poltico de grupos diferenciados deve-se considerar, como prope Jos de Souza Martins, "uma concepo de amplitude de espao maior do que aquela envolvida em cada conflito fundirio e em cada enfretamento tribal e uma dimenso de tempo mais dilatada do que aquela que encerra um acontecimento singular." 45

    A constituio de um movimento indgena, no Cear, amplia as redes de relacionamento dos grupos envolvidos. Nessa mobilizao, os Trememb retomam parte dos vnculos com seus parentes revestindo-o com um discurso indgena. Utilizando novos meios e mtodos - a imprensa, a presso sobre polticos, a articulao indgena regional e nacional - estendem seu territrio para alm de Almofala. Diversos espaos so apropriados, inclusive, a cidade : Fortaleza passou a ser um locus privilegiado da mobilizao indgena e Braslia incorporada nesta mesma perspectiva. Os Trememb tm conscincia de que no enfrentam apenas questes locais. No conjunto, os ndios no Cear esto se consolidando como sujeitos polticos 46. Se o binmio ndio-terra permanece como base de um territrio indgena, por outro lado, a extenso dos laos polticos e de parentesco dos Trememb, seu repertrio de espaos, no permite que sejam vistos como isolados ou encapsulados.

    Com os agrupamentos negros a mobilizao tnica no to evidente ao nvel regional, mas alguns ncleos descobertos tm vnculos de parentesco que esto sendo (ou podem ser) ativados e que sugerem uma rede de agrupamentos. Esse o caso dos Caetano e seus parentes que permanecem agregados em gua Preta (Tururu-CE) e Lagoa do Mato/Goiabeiras (Aquiraz-CE), em Fortaleza, no Acre e no Par. Pesquisas esto sendo elaboradas 47. Ao Grupo de Estudos Indgenas coordenado por Sylvia Porto Alegre, na Universidade Federal do Cear, desde 1996, novos pesquisadores interessados em agrupamentos negros vem sendo agregados.

    Se em certos contextos, como no caso dos Trememb de Almofala e dos Caetano de Conceio, a presena de gente de fora (tanto aliados, quanto opositores) deve ser constantemente referida e refletida, o deslocamento do foco para outras interpretaes que os grupos tnicos fazem de sua situao pode restabelecer a viso de uma cultura

    45MARTINS, Jos de Sousa. A Chegada do Estranho. Op.cit. p.71. 46COHEN, Abner. Costums and Politics in Urban Africa: a study of Hausa migrants in Yoruba towns. 1969. BARTH, Fredrik (Org.). Ethnic Groups and Boundaries. The Social Organization of Culture Difference. 1969. CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Antropologia do Brasil: mito, histria e etnicidade. 1987. 47

    BARROS, Rosa Maria. Negros do Trilho e as Perspectivas Educacionais. 1995. MARTINS PEREIRA,Vanda. Opreconceito Mora Aqui. 1995. Respectivamente sobre famlias negras nas comunidades de Trilho (Fortaleza) Concei dos Caetano)

  • 16

    dinmica, no substantivada. Alm disso, acrescenta a percepo de que as fronteiras podem ser postas por cada grupo (ou sub-grupo) em diversos aspectos da vida.

    ndios e negros no Cear, so invisveis at certo ponto, posto que, na vida diria, ao nvel local, as demarcaes tnicas podem ser mais diversas, evidentes e dinmicas do que quando so observadas como traos de identidade ou questes de terra. As fronteiras entre ndio e no-ndio, entre branco e negro, novo e tradicional, inveno e recriao revelam-se mveis, situacionais, mas assim mesmo captveis, indicadoras da ao dos grupos.

    Certamente existem temporalidades bem demarcadas - o tempo dos mais velhos, dos antigos, da luta - mas, as fronteiras do tempo tambm no so rgidas. A memria intervm nos conflitos recentes entre os Caetano e as coisas dos antigos podem ser acessadas e recriadas pelos Trememb. O vnculo com a ancestralidade, s vezes, extremamente prximo: sou filha duma Trememb mesmo, que a mame era velha, era antiga mesmo (Venncia, Almofala, janeiro de 94).

    Os territrios tnicos excedem os limites dos agrupamentos originais - Almofala e Conceio - pois pressupem a imagem de um local de relaes:

    Produzir uma representao do espao j uma apropriao, uma empresa, um controle portanto, mesmo se isso permanece nos limites de um conhecimento. Qualquer projeto no espao que expresso por uma representao revela a imagem desejada de um territrio, de um local de relaes. 48

    A territorialidade, como ressalta Raffestin, antes uma relao entre as pessoas que uma relao com o espao 49 . O territrio dos Trememb e dos Caetano se estende:

    No se trata pois do espao, mas de um espao construdo pelo ator que comunica suas intenes e a realidade material por intermdio de um sistema smico. Portanto, o espao representado no mais o espao, mas a imagem do espao, ou melhor, do territrio visto e/ou vivido. , em suma, o espao que se tornou o territrio de um ator, desde que tomado numa relao social de comunicao. 50

    As fronteiras dos grupos se movem. O desenho da rea que reivindicam e se apropriam est em permanente atualizao. O projeto de ndios e negros revela o desejo de ficar na histria.

    48 RAFFESTIN,Claude. Por Uma Geografia do Poder. 1993 [1980]. p. 144.

    49 RAFFESTIN, Claude. op.cit. p.161.

    50 RAFFESTIN, Claude. op.cit. p.147.

  • 17

    4. BIBLIOGRAFIA

    4.1. Sobre o Cear

    ARARIPE, Tristo de Alencar. 1958 Histria da Provncia do Cear: Desde os Tempos Primitivos at 1850. Recife,

    Tipografia do Jornal de Recife [1867].

    BARRETO FILHO, Henyo Trindade 1993 Tapebas, Tapebanos e Pernas-de-Pau de Caucaia, Cear: da etnognese como processo social e luta simblica. Braslia, UnB. (mimeo).

    BARROS, Rosa Maria 1995 Negros do Trilho e as Perspectivas Educacionais. Dissertao de Mestrado. Fortaleza, UFC.

    BEZERRA, Antnio 1916 Os Caboclos de Montemr. Revista do Instituto do Cear, Tomo XXX.

    BRAGA, Renato 1967 Dicionrio Geogrfico e Histrico do Cear. Vol. 2. Fortaleza, Imprensa Universitria

    do Cear.

    BRGIDO, Joo 1919 Cear - Homens e Fatos. Rio de Janeiro, Tipografia Bernard Frres [1899].

    CAMPOS, Eduardo. 1984 Revelaes das Condies de Vida dos Cativos do Cear. Fortaleza, Secretaria de

    Cultura e Desporto. 1980 As Irmandades Religiosas do Cear Provincial: apontamentos para sua histria. Fortaleza, Secretaria de Cultura e Desporto.

    CHANDLER, Billy Jaines 1973 The Role of Negroes in Ethnic Formation of Cear: the Need of a Reappraisal.

    Fortaleza, Revista de Cincias Sociais. Vol. IV.

    GIRO, Raimundo 1971 Pequena Histria do Cear. Fortaleza, Edies UFC. [1953] 1969 A Abolio no Cear. Fortaleza, Secretaria de Cultura do Cear. [1956] Histria Econmica do Cear.

    MARTINS PEREIRA, Vanda 1995 O Preconceito Mora Aqui. Monografia de Graduao em Cincias Sociais. Fortaleza,

    Universidade Estadual do Cear.

    MESSEDER, Marcos Luciano Lopes 1995 Etnicidade e Dilogo poltico: a emergncia dos Trememb. Dissertao de

    Mestrado em Sociologia. Salvador, UFBa.

    NOGUEIRA, Joo 1936 A Chegada dos Caboclos. Revista do Instituto do Cear. Tomo L. 1934 Os Congos. Revista do Instituto do Cear. Tomo XLVIII.

  • 18

    NOVO, Jos Silva 1976 Almofala dos Trememb. Fortaleza, Grfica Editorial Cearense.

    OLIVEIRA JNIOR, Gerson Augusto de 1995 Torm: um demarcador de fronteiras tnicas. A dinmica da reelaborao cultural no

    processo de afirmao tnica dos Trememb de Almofala. (Verso preliminar dos resultados da pesquisa). Fortaleza, UFC.

    OLIVEIRA SILVA, Pedro Alberto de 1988 Declnio da Escravido no Cear. Recife, UFPE.

    POMPEU SOBRINHO, Thomaz 1951 ndios Tremembs. Revista do Instituto do Cear, Tomo LXV.

    PORTO ALEGRE, Maria Sylvia 1994 Repertrio de Documentos do Cear. In: PORTO ALEGRE, Maria Sylvia et alii

    (Orgs.). Documentos para a Histria Indgena no Nordeste: Cear, Rio Grande do Norte e Sergipe. So Paulo, NHII-USP/FAPESP; Fortaleza, Governo do Estado do Cear.

    1993 Aldeias Indgenas e Povoamento no Nordeste, no Final do Sculo XVIII: aspectos demogrficos da cultura de contato. So Paulo, Cincias Sociais, Hoje. 1992 Relaes Intertnicas e Histria Regional: Uma Reviso do Desaparecimento das

    Populaes Indgenas do Nordeste. Projeto de Pesquisa. Fortaleza, UFC (mimeo.).

    RATTS, Alecsandro J. P. 1996 Fronteiras Invisveis: territrios negros e indgenas no Cear. Dissertao de

    Mestrado em Geografia Humana. So Paulo, FFLCH-USP.

    RIEDEL, Oswaldo 1988 Perspectiva Antropolgica do Escravo no Cear. Fortaleza, Edies UFC.

    RODRIGUES, Jos Honrio 1959 ndice Anotado na Revista do Instituto do Cear. Fortaleza, Imprensa Universitria do Cear.

    SERAINE, Florival 1955 Sobre o Torm (dana de procedncia indgena). Revista do Instituto do Cear,

    Tomo LXIX.

    STUDART FILHO, Carlos 1965 Aborgenes do Cear. Fortaleza, Editora do Instituto do Cear.

    THBERGE, Pedro 1973 Esboo Histrico sobre a Provncia do Cear. Fortaleza, Secretaria de Cultura,

    Desporto e Promoo Social [1869].

    VALLE, Carlos Guilherme O. do 1993 Terra, Tradio e Etnicidade: os Trememb do Cear. Dissertao de Mestrado. Rio

    de Janeiro, PPGAS/Museu Nacional/UFRJ.

    VIEIRA, Roberto ttila do Amaral 1958 Um Heri Sem Pedestal: a abolio e a repblica no Cear. Fortaleza, Imprensa Oficial do Cear.

  • 19

    4.2.Obras Gerais

    ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de 1988 Terras de Preto, Terras de Santo e Terras de ndio - Posse Comunal e Conflito.

    Braslia, Revista Humanidades 15.

    BANDEIRA, Maria de Lourdes 1991 Terras Negras: invisibilidade expropriadora. 1988 Territrio Negro em Espao Branco. So Paulo, Brasiliense/CNPq.

    BARTH, Frederik (Ed.) 1969 Ethnic Groups and Boundaries: the social organization of culture diference.

    Bergen-Oslo, Universitatesforlaget/London, George Allen & Unwin.

    BORGES PEREIRA, Joo Baptista 1981 Estudos Antropolgicos das Populaes Negras na Universidade de So Paulo.

    Revista de Antropologia 24.

    BOURDIEU, Pierre 1989 A Identidade e a Representao: elementos para uma reflexo crtica sobre a idia de regio. In: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simblico. Lisboa, Difel.

    CNDIDO, Antnio 1982 Os Parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformao

    dos seus meios de vida. So Paulo, Livraria Duas Cidades, 6a. Edio. [1964]

    CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto 1976 Identidade, Etnia e Estrutura Social. So Paulo, Livraria Pioneira Editora.

    CARNEIRO DA CUNHA, Manuela 1992 (Org.) Legislao Indigenista no Sculo XIX. Uma Compilao: 1808-1889.

    So Paulo, EDUSP/Comisso Pr-ndio de So Paulo. 1987 Antropologia do Brasil: Mito, Histria e Etnicidade. So Paulo, Brasiliense. 1985 Negros, Estrangeiros: os escravos libertos e sua volta frica. So Paulo,

    Brasiliense.

    CARRIL, Lourdes de Ftima Bezerra 1995 Terras de Negros no Vale do Ribeira: territorialidade e resistncia. Dissertao de

    Mestrado. So Paulo, FFLCH-USP.

    CARVALHO, Maria Rosrio G. 1984 Identidade dos Povos do Nordeste. Anurio Antropolgico 82. Fortaleza, Edies

    UFC/Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro

    CLAVAL, Paul 1992 Champs et Perspectives de la Gographie Culturelle. Paris, Gographie et Cultures,

    No 1.

    COHEN, Abner 1969 Customs and Politics in Urban Africa. A Study of Housa Migrants in Yoruba Towns.

    London, Routledge & Kegan Paul.

  • 20

    DANTAS, Beatriz Gis; SAMPAIO, Jos A. e CARVALHO, Maria Rosrio G. 1992 Os Povos Indgenas no Nordeste Brasileiro: um esboo histrico. In: CARNEIRO

    DA CUNHA, Manuela (Org.). Histria dos ndios no Brasil. So Paulo, FAPESP/Companhia das Letras/ Secretaria Municipal de Cultura.

    Fundao Nacional do ndio - FUNAI 1992 Relatrio do Grupo Tcnico Criado pela Portaria do Presidente, No. 1366 de

    04/09/1992 (GT-Trememb)

    FUNES, Eurpedes Antnio 1995 Nasci nas Matas, Nunca Tive Senhor. Histria e Memria dos Mocambos do Baixo

    Amazonas. Tese de Doutorado. So Paulo, FFLCH-USP.

    GALLOIS, Dominique Tilkin 1994 Mairi Revisitada: a reintegrao da Fortaleza de Macap na tradio oral dos Waipi.

    So Paulo, NHII-USP/FAPESP

    GOW, Peter 1991 Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazonian. Oxford, Clarendon

    Press.

    GUSMO, Neusa Maria Mendes de 1996 Terra de Pretos, Terra de Mulheres: terra, mulher e raa num bairro rural negro.

    Braslia, Fundao Cultural Palmares.

    HALBWACHS, Maurice 1990 A Memria Coletiva. So Paulo, Vrtice. [1950]

    MARCUS, George 1991 Identidades Passadas, Presentes e Emergentes: Requisitos Para Etnografias Sobre

    a Modernidade no Final do Sculo XX, a Nvel Mundial. Revista de Antropologia, 34.

    MARTINS, Jos de Souza 1993 A Chegada do Estranho. So Paulo, HUCITEC.

    MOTA, Lcio Tadeu 1994 A construo do Vazio Demogrfico e a Retirada da Presena Indgena da Histria

    Social do Paran. Assis, Ps-Histria 123.

    NIMUENDAJU, Curt 1987 Mapa Etno-Histrico de Curt Nimuendaju. Rio de Janeiro, Fundao do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica/ Fundao Nacional Pr-Memria

    NOVAES, Sylvia Caiuby 1993 Jogo de Espelhos. So Paulo, EDUSP.

    ODWYER, Eliane Cantarino 1995 Terra de Quilombos. Rio de Janeiro, Associao Brasileira de Antropologia.

    OLIVEIRA FILHO, Joo Pacheco de 1993 Povos Indgenas no Nordeste: Fronteiras tnicas e Identidades Emergentes. So

    Paulo, Revista Tempo e Presena.

    PEREIRA DE QUEIROZ, Maria Isaura

  • 21

    1973 O Campesinato Brasileiro: ensaios sobre civilizao e grupos rsticos no Brasil. Petrpolis, Vozes/So Paulo, editora da Universidade de So Paulo.

    PRICE, Richard 1989 First Time: The Historical Vision of an Afro-American People. Baltimore/London,

    The Johns Hopkins University Press.

    QUEIROZ, Renato 1983 Caipiras Negros do Vale do Ribeira. So Paulo, FFLCH-USP.

    RAFFESTIN, Claude 1993a Por Uma Geografia do Poder. So Paulo tica. [1980] 1993b Autour de la Fonction Sociale de la Frontire. Paris, Espaces et Socits 70-71.

    RIBEIRO, Darcy. 1970 Os ndios e a Civilizao: a integrao das populaes indgenas no Brasil moderno.

    Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira.

    SAMPAIO, Jos Augusto L. 1986 De Caboclo a ndio: Etnicidade e Organizao Social e Poltica entre os Povos

    Indgenas no Nordeste do Brasil. O Caso Kapinaw. Projeto de Pesquisa. Campinas, UNICAMP. (mimeo.)

    SCHWARCZ, Lilia Moritz 1993 O Espetculo das Raas: Cientistas, Instituies e a Questo Racial no Brasil.

    (1870-1930). So Paulo, Companhia das Letras. 1987 Retrato em Branco e Negro: jornais, escravos e cidados em So Paulo no final do

    sculo XIX. So Paulo, Companhia das Letras.

    SEEGER, Anthony e VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo 1979 Terras e Territrios Indgenas no Brasil. Encontros com a Civilizao Brasileira, 12.

    VANSINA, Jan 1985 Oral Tradition as History. Wiscosin, The University of Wiscosin Press.

    VIDAL, Lux 1994 As Terras Indgenas no Brasil. In: GRUPIONI, Luis Donizete Benzi. (Org.) ndios no

    Brasil. Braslia, Ministrio da Educao e Desporto. 1992 (Org.) Grafismo Indgena: estudos de antropologia esttica. So Paulo, Studio

    Nobel/ EDUSP/FAPESP.

    VOGT, Carlos e FRY, Peter 1984 Os Mestres da Lngua Secreta do Cafund e o Paradoxo do Segredo Revelado.

    So Paulo, Ddalo 23. 1983 Ditos e Feitos da Falange Africana do Cafund e da Calunga de Patrocnio (ou de

    Como Fazer Falando). So Paulo, Revista de Antropologia 26. 1982 A Descoberta do Cafund: alianas e conflitos no cenrio da cultura negra no Brasil.

    Rio de Janeiro, Religio e Sociedade 8.