os partidos polÍticos brasileiros e a internet · revista de sociologia e polÍtica v. 17, ......

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183 RESUMO Sérgio Soares Braga OS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS E A INTERNET UMA AVALIAÇÃO DOS WEBSITES DOS PARTIDOS POLÍTICOS DO BRASIL Andressa Silvério Terra França María Alejandra Nicolás O objetivo do artigo é apresentar os resultados de nossa pesquisa sobre os websites dos partidos políticos brasileiros na internet. A partir do mapeamento da literatura internacional sobre o assunto, apresentamos uma proposta de avaliação dos websites dos principais partidos políticos brasileiros e apresentamos uma classificação do grau de uso da internet de todos os partidos nacionais. Aplicando uma planilha de análise de conteúdo aos websites dos 27 partidos políticos brasileiros com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no primeiro semestre de 2008, antes do início do período eleitoral, chegamos à conclusão de que a maior parcela dos partidos brasileiros apresenta índices deficientes de uso da internet, mesmo se avaliados pelos estritos parâmetros normativos de propiciar uma democracia “representativa” mais transparente e com maior grau de accountability. Além do mais, não se verifica estritamente, no caso brasileiro, a hipótese da normalização, segundo a qual os padrões de competição política vigentes no “mundo real” tendem a reproduzir-se na Web. Uma terceira conclusão geral de nosso trabalho é de que há uma associação entre características dos partidos e tipo de organização dos websites partidários, embora essa associação não seja tão estrita como a apontada pela literatura internacional. PALAVRAS-CHAVE: Internet e política; websites dos partidos políticos brasileiros; democracia eletrônica; representação política. I. INTRODUÇÃO 1 O objetivo deste artigo é apresentar os resulta- dos de nossa pesquisa sobre os websites dos par- tidos políticos brasileiros na internet antes do iní- cio do período eleitoral em junho de 2008. A partir do mapeamento da literatura internacional sobre o assunto, apresentamos uma proposta de avalia- ção dos websites dos principais partidos políticos brasileiros e tecemos considerações sobre o grau e a natureza do uso da internet pelos partidos na- cionais. Procuramos demonstrar a proposição de que, apesar de ainda serem utilizados de maneira relativamente precária pelos partidos brasileiros, os recursos da internet estão sendo empregados de maneira crescente pelas agremiações partidári- as e podem converter-se num instrumento eficaz de estreitamento dos vínculos entre elites dirigen- tes e militantes partidários, tornando-se uma fer- ramenta de controle e acompanhamento dos re- presentantes pelos representados e de aumento das possibilidades de interação política entre ambos. Sendo assim, nosso propósito é realizar um estudo de cunho comparativo e abrangente dos websites de todos os partidos políticos brasileiros disponíveis na internet. Por esse motivo, este tex- to tem uma dimensão deliberadamente descritiva na medida em que buscaremos mapear os recur- sos utilizados pelos diferentes partidos políticos brasileiros por meio dos seus websites, menos do que elaborar hipóteses explicativas refinadas so- bre as causas de tais padrões ou sugerir um mo- delo explicativo abrangente dos motivos que leva- ram à adoção de tal ou qual formato de websites partidários (doravante referidos como WP) pelos diferentes atores partidários. Para abordar esses Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 183-208, out. 2009 Recebido em 21 de maio de 2009. Aprovado em 12 de junho de 2009. 1 Este artigo é uma versão modificada do paper que apre- sentamos na Área Temática Eleições e Representação Polí- tica, no 6º Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), realizado entre os dias 29 de julho a 01 de agosto de 2008 na cidade de Campinas/SP, e expõe resulta- dos de uma pesquisa que empreendemos sobre o uso da Web pelos partidos e candidatos a prefeitos e ao cargo de vereador durante o ano de 2008.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 183-208 OUT. 2009

RESUMO

Sérgio Soares Braga

OS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS E AINTERNET

UMA AVALIAÇÃO DOS WEBSITES DOS PARTIDOS POLÍTICOSDO BRASIL

Andressa Silvério Terra França María Alejandra Nicolás

O objetivo do artigo é apresentar os resultados de nossa pesquisa sobre os websites dos partidos políticosbrasileiros na internet. A partir do mapeamento da literatura internacional sobre o assunto, apresentamosuma proposta de avaliação dos websites dos principais partidos políticos brasileiros e apresentamos umaclassificação do grau de uso da internet de todos os partidos nacionais. Aplicando uma planilha de análisede conteúdo aos websites dos 27 partidos políticos brasileiros com registro no Tribunal Superior Eleitoral(TSE) no primeiro semestre de 2008, antes do início do período eleitoral, chegamos à conclusão de que amaior parcela dos partidos brasileiros apresenta índices deficientes de uso da internet, mesmo se avaliadospelos estritos parâmetros normativos de propiciar uma democracia “representativa” mais transparente ecom maior grau de accountability. Além do mais, não se verifica estritamente, no caso brasileiro, a hipóteseda normalização, segundo a qual os padrões de competição política vigentes no “mundo real” tendem areproduzir-se na Web. Uma terceira conclusão geral de nosso trabalho é de que há uma associação entrecaracterísticas dos partidos e tipo de organização dos websites partidários, embora essa associação nãoseja tão estrita como a apontada pela literatura internacional.

PALAVRAS-CHAVE: Internet e política; websites dos partidos políticos brasileiros; democracia eletrônica;representação política.

I. INTRODUÇÃO1

O objetivo deste artigo é apresentar os resulta-dos de nossa pesquisa sobre os websites dos par-tidos políticos brasileiros na internet antes do iní-cio do período eleitoral em junho de 2008. A partirdo mapeamento da literatura internacional sobre oassunto, apresentamos uma proposta de avalia-ção dos websites dos principais partidos políticosbrasileiros e tecemos considerações sobre o graue a natureza do uso da internet pelos partidos na-cionais. Procuramos demonstrar a proposição deque, apesar de ainda serem utilizados de maneirarelativamente precária pelos partidos brasileiros,

os recursos da internet estão sendo empregadosde maneira crescente pelas agremiações partidári-as e podem converter-se num instrumento eficazde estreitamento dos vínculos entre elites dirigen-tes e militantes partidários, tornando-se uma fer-ramenta de controle e acompanhamento dos re-presentantes pelos representados e de aumento daspossibilidades de interação política entre ambos.

Sendo assim, nosso propósito é realizar umestudo de cunho comparativo e abrangente doswebsites de todos os partidos políticos brasileirosdisponíveis na internet. Por esse motivo, este tex-to tem uma dimensão deliberadamente descritivana medida em que buscaremos mapear os recur-sos utilizados pelos diferentes partidos políticosbrasileiros por meio dos seus websites, menos doque elaborar hipóteses explicativas refinadas so-bre as causas de tais padrões ou sugerir um mo-delo explicativo abrangente dos motivos que leva-ram à adoção de tal ou qual formato de websitespartidários (doravante referidos como WP) pelosdiferentes atores partidários. Para abordar esses

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 17, n. 34, p. 183-208, out. 2009Recebido em 21 de maio de 2009.Aprovado em 12 de junho de 2009.

1 Este artigo é uma versão modificada do paper que apre-sentamos na Área Temática Eleições e Representação Polí-tica, no 6º Encontro da Associação Brasileira de CiênciaPolítica (ABCP), realizado entre os dias 29 de julho a 01 deagosto de 2008 na cidade de Campinas/SP, e expõe resulta-dos de uma pesquisa que empreendemos sobre o uso daWeb pelos partidos e candidatos a prefeitos e ao cargo devereador durante o ano de 2008.

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problemas organizaremos este texto da seguinteforma: (1) em primeiro lugar, faremos um examede alguns dos debates travados na literatura espe-cializada sobre o papel dos WP no funcionamentodos sistemas políticos democráticos contempo-râneos, especialmente da literatura estrangeira deorigem anglo-saxã, que foi a que mais avançou emais produziu estudos sistemáticos sobre atemática; (2) em seguida, procuraremos, a partirda exposição de nossa metodologia de análise,apresentar evidências sistemáticas sobre o uso daweb pelos diferentes partidos políticos com vistasa efetuar uma primeira comparação das formaspelas quais os diferentes partidos políticos estãoutilizando-a para divulgar suas atividades2.

II. REVISÃO DA LITERATURA

Embora o estudo dos websites partidários sejaum tema bastante abordado na literatura interna-cional sobre “internet e política” desde o final dosanos 1990 do século passado (cf.LANDTSCHERR, KRASNOBOKA & NEUNER,1999; GIBSON & WARD, 2000; NORRIS, 2001;2003; GIBSON, NIXON & WARD, 2003), des-conhecemos estudos sistemáticos que abordem otema de uma perspectiva mais ampla no Brasil3.Não obstante, qualquer levantamento bibliográfi-

co, mesmo que sumário, encontrará uma amplabibliografia sobre uso dos websites dos partidospolíticos na Europa e nos EUA, tanto em períodoeleitoral como não-eleitoral4. Entretanto, ainda sãovirtualmente inexistentes estudos desse gênero noBrasil. Mais escassos ainda são trabalhos que bus-cam estudar uma grande quantidade de variáveis,buscando comparar os diferentes partidos entresi de forma sistemática.

Como afirma Pippa Norris em seus sugesti-vos textos sobre o papel e os impactos da internetem geral e dos WP em particular nos sistemaspolíticos democráticos contemporâneos, os estu-dos sobre o assunto na literatura internacional se-guiram um padrão pendular, podendo ser agrupa-dos em sucessivas “ondas” conforme as expec-tativas e as formulações mais ou menos “otimis-tas” manifestadas por seus autores sobre os im-pactos das TICs (Tecnologias da Informação eComunicação) no funcionamento das modernaspoliarquias, especialmente do sistema partidário,tema que nos interessa mais de perto neste traba-lho (NORRIS, 2001, p. 149; NORRIS, 2003).Nesse sentido, podemos observar inicialmente umaprimeira “onda” de estudos pioneiros segundo osquais a internet de uma maneira geral, e os WPem particular, teriam o condão não apenas derevitalizar o papel dos partidos políticos nas vári-as arenas em que se dá sua atuação (eleitoral,governativa e parlamentar), mas também de ins-taurar novas formas de democracia radicalmente“participativa” ou mesmo “direta” que alterariamqualitativamente os padrões vigentes de democra-cia parlamentar e representativa. Via de regra, es-ses primeiros estudos sobre os WP e sobre asrelações entre internet e política em geral, surgi-dos em grande parte na primeira metade da déca-

2 Note-se que, no estágio de pesquisa em que estamos,nosso objetivo básico não é o de identificar os mecanismosde “participação”, “interação” ou “deliberação” políticapresentes nos WP – os quais, diga-se de passagem, sãobastante escassos e pouco eficazes no estágio atual de usoda Web pelos partidos brasileiros – mas sim aumentar ograu de percepção dos gestores de tais websites e dos cida-dãos do uso que está sendo e que pode ser feito pelospartidos políticos brasileiros para promover várias dimen-sões de sua ação política.3 Até a conclusão deste artigo, os únicos estudos sobre asrelações entre os partidos políticos brasileiros e a Web queconhecemos são os de Marques (2005), comparando osinformativos digitais do PT (Partido dos Trabalhadores) edo PSDB (Partido da Social-Democracia Brasileira), e osde Costa e Ramirez (2006), efetuando uma análise de al-guns aspectos dos websites de partidos políticos brasilei-ros, especialmente partidos de esquerda tais como o PCO(Partido da Causa Operária), o PSTU (Partido Socialistados Trabalhadores Unificado), o PSOL (Partido Socialis-mo e Liberdade) etc., utilizando-se, para tanto, determina-das categorias ‘deleuzianas’ como “desterritorialização” etais. Nenhum deles, entretanto, busca empreender um es-tudo abrangente ou uma reflexão metodológica mais siste-mática sobre os recursos utilizados pelos partidos brasilei-ros na Web, nos moldes dos estudos existentes na literaturainternacional sobre o assunto, tais como os mencionados a

seguir. Por sua vez, a revista Líbero, da Faculdade CásperLíbero, publicou um dos poucos trabalhos de especialistasestrangeiros sobre o assunto vertidos para o português, ode Gersende Blanchard, expondo os resultados de sua pes-quisa sobre as “falas cidadãs” em dez WP franceses(BLANCHARD, 2006).4 As referências mais acessíveis são os trabalhos seminaisde Pippa Norris (NORRIS, 2001; 2003), a coletânea orga-nizada por Ward e Gibson (2003), contendo estudos devários especialistas sobre o assunto, e o número específicodo periódico Party Politics de 2003, contendo vários tex-tos dedicados de modo precípuo ao estudo do tema. Cf. arespeito a introdução de Andréa Rommele ao volume, ondesão resumidos alguns dos principais achados e resultadosproduzidos pelos diversos analistas (ROMMELE, 2003).

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da de 1990 e fortemente influenciados pela novi-dade do meio, efetuaram formulaçõesexageradamente otimistas, nem sempre acompa-nhadas de evidências que as fundamentassem,sobre as potencialidades das TICs para revitalizaras democracias parlamentares e os partidos polí-ticos, de certa forma contrabalançando as tendên-cias dessas agremiações de transformarem-se em“partidos sem partidários”, detectados em estu-dos mais recentes5. A título de exemplo, pode-mos mencionar uma série de autores que anteviama criação de uma nova modalidade de democracia(a “democracia virtual” ou “digital”) que teria ocondão de criar novas possibilidades de participa-ção democrática, tais como práticas de“empoderamento do mundo virtual”; a criação de“comunidades virtuais” deliberativas onde os ci-dadãos encontrar-se-iam de igual para igual paradebater os assuntos públicos; novas formas demobilização política e de aumento do capital soci-al; a diminuição da distância entre governantes egovernados e, mesmo, a instauração de formascada vez mais radicais de democracia direita naspoliarquias contemporâneas, em decorrência dosimpactos das TICs nos diferentes sistemas políti-cos (NEGROPONTE, 1995; BUDGE, 1996). Paragrande parte desses autores, tais práticas não so-mente articular-se-iam de maneira complexa àsinstituições tradicionais que interagem no “siste-ma político virtual” que estrutura as modernasdemocracias parlamentares (poliarquias), mas es-tabeleceriam uma relação de “soma zero” com taisinstituições, dando lugar a práticas democráticasqualitativamente distintas

Após essa primeira leva de estudos sobre a“democracia digital” e a “ciberdemocracia”, po-demos observar uma “segunda onda” de traba-lhos, produzidos por autores “ciberpessimistas”ou “cibercéticos” segundo os quais os WP nadamais fariam do que reproduzir a “polícia comousual”, expressão, como se sabe, alusiva a umconhecido livro de Margolis e Resnick (2000)6.

À medida que assimilavam as novidades do meioe passavam a elaborar análises mais sistemáticas,tais visões excessivamente otimistas de algunsestudos iniciais foram dando lugar a visões maiscéticas e metodologicamente mais bem fundamen-tadas sobre a temática. Assim, os estudos foramchamando a atenção para aspectos ou dimensõesmais “negativas” dos WP, tais como os filtros es-tabelecidos pelas elites dirigentes partidárias paradivulgar as mensagens dos cidadãos-internautas(GIBSON, NIXON & WARD, 2003), a ausênciade mecanismos mais efetivos de deliberação e deacesso ao processo decisório pelos próprios mili-tantes dos partidos (BLANCHARD, 2006), o quelevou muitos analistas a concluir que “os websitespartidários não estão oferecendo muitas novida-des, mas mais do mesmo em um formato dife-rente” (GIBSON, NIXON & WARD, 2003, p. 235;tradução de nossa autoria).

Ainda para estes autores, fortemente influen-ciados por estudos empíricos sobre o uso da Webpelos partidos nas eleições norte-americanas, osWP e a internet de uma maneira geral apenas re-produziriam de uma nova maneira padrões de ati-vidade política anteriormente vigentes em outrasmídias (jornais, TV, rádio etc.), sendo em boa parteum prolongamento destas. Ou seja: a internet ba-sicamente reproduz o conteúdo de outras mídias,não alterando significativamente os padrões deinteração entre elites ou grupos dirigentes e cida-dãos: “Em muitos estudos baseados em análisesde surveys aplicados nos Estados Unidos, obser-vou-se que a internet foi empregada para mobili-zar e informar aqueles cidadãos que já eram poli-ticamente engajados - em grande parte, portanto,pregando para os convertidos -, fortalecendo ereforçando assim as desigualdades sociais exis-tentes no tocante à participação política dos cida-dãos norte-americanos” (NORRIS, 2003, p. 24;tradução nossa).

Além disso, devemos mencionar uma terceiraonda de estudos sobre os WP, representada porautores “ciberotimistas moderados”, como a pró-pria Pippa Norris, segundo a qual a internet pro-duzirá alterações significativas nos sistemas polí-ticos democráticos contemporâneos, mas dentronos marcos da democracia representativa. Nessesentido, nas duas versões de seus estudos sobreo assunto (NORRIS, 2001; 2003) a autora em-preendeu uma análise de conteúdo de 134 WP daUnião Européia, cotejando seus resultados comos dados de um survey sobre o uso da Web entre

5 Contrabalançando assim a série de tendências ao desgas-te e à perda de representatividades dos partidos políticosem suas várias arenas de atuação detectadas, por exemplo,nos estudos clássicos contidos na coletânea de Dalton eWattenberg (2000).6 Cf. especialmente o capítulo 3, “Parties and interestgroups: organizing, lobbyng and electioneering inCyberspace”, p. 53-74.

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os europeus efetuados pelo Eurobarômetro 2000.Suas principais conclusões são as de que: (1) osWP funcionam como um fórum cívico pluralista,abrindo mais espaços para as manifestações deoposição e aumentando a visibilidade dos peque-nos partidos e aqueles mais periféricos aos cen-tros decisórios do sistema político; (2) os websitespartidários funcionam também e principalmentecomo um canal adicional de participação políti-ca, facilitando a interação entre opinião pública ecidadãos e abrindo novos canais de manifestaçãode suas demandas e vontades nos quadros dasmodernas democracias parlamentares. Ou seja: oswebsites dos partidos políticos não cumprem ape-nas a função de reproduzir a “política como usu-al” como postulam os adeptos das teses clássicasde Margolis e Resnick (2000), mas agregam no-vas dimensões ao funcionamento da democraciarepresentativa aumentando seu grau de pluralismoassim como os canais de comunicação entre oscidadãos e as várias instituições que compõem osistema político, dando origem à formação de umsistema político virtual cujas interações podemlevar as democracias parlamentares a novos pa-drões de funcionamento, mais institucionalizados,transparentes e participativos. Deve-se sublinharque mesmo Pippa Norris (2001; 2003), uma au-tora que não se inclui propriamente entre os“ciberotimistas” mais ortodoxos, no sentido dadopor ela mesma à expressão, manifestava suas es-peranças de que a internet e as TIC de uma ma-neira geral viriam a fazer parte do “círculo virtuo-so” propiciado pelo impacto das novas mídias nosentido de estimular e revitalizar as formas maistradicionais de ação e participação política.

Por fim, agregamos por nossa conta uma quarta“onda” de estudos mais recentes sobre os WP,formada por “ciberpessimistas moderados” que,embora reconhecendo alguns avanços propicia-dos pela internet para propiciar um aumento dofluxo de informação e de comunicação entre osdiferentes atores que interagem nos sistemas po-líticos democráticos contemporâneos, constatamo pouco espaço ocupado nos WP por linguagensmais inovadoras, fora dos limites das mídias tra-dicionais e do controle estrito dos dirigentes ouelites partidárias. Nesse sentido, podemos menci-onar pesquisas mais recentes como as de Blanchard(2006) sobre os WP de 10 partidos políticos fran-ceses, em que a autora chama a atenção para ofato de que, menos do que instaurar qualquer va-riante de “democracia participativa” ou “direta”

os websites dos partidos políticos são utilizadoscomo meio suplementar de divulgação de infor-mações pelas direções partidárias, sob o controleestrito das elites dirigentes de tais agremiaçõesassim como dos gestores de informação que con-trolam tais veículos, mais do que como um espa-ço para “falas cidadãs” e para a participação polí-tica mais efetiva da opinião pública ou dos mili-tantes e filiados nas deliberações dessas organiza-ções. Assim, a grande “novidade” propiciada pelosurgimento dos WP é a de provocar, agora adap-tada aos novos meios virtuais, uma restauraçãoda antiga imprensa partidária que “reinou na Françana primeira metade do século XIX e que declinoucom o surgimento da imprensa independente emmeados do século XX” (idem, p. 16). TambémVaccari (2008), em sua análise do uso dos WPpelos partidos políticos italianos nas eleições de2006, chama a atenção para várias limitações douso da Web por esses atores políticos, dentre asquais a de não alterarem significativamente ospadrões de competição e participação política vi-gentes nos pleitos anteriores nem o amplo predo-mínio das mídias tradicionais (como TV e gran-des redes jornalísticas) na formação da decisãode voto do eleitor. Dentre as principais conclu-sões a que chega a autora estão as de que, embo-ra houvesse um aumento no uso da web pelospartidos italianos, ele não foi suficiente para alte-rar o predomínio da televisão: “As eleições italia-nas de 2006 não fizeram história no que se refereà adoção das NTICs pelos partidos italianos, nemtiveram um impacto simbólico significativo, comovimos anteriormente. Embora os dados revelemmelhorias na qualidade dos websites dos partidositalianos, estes não lograram sequer arranhar asuperfície dos potenciais da internet para mobili-zar e organizar apoiadores. Como nas duas últi-mas décadas, a última campanha eleitoral italianafoi dominada pela televisão generalista” (VACCA-RI, 2008, p. 75; tradução nossa).

De uma maneira geral, como afirmam Gibsone Ward em seus textos (2000; 2003, p. 10), pode-mos agrupar esses estudos sobre os WP e os im-pactos da internet de uma maneira geral sobre osistema político das democracias maisinstitucionalizadas e estáveis em dois grandes blo-cos analíticos divergentes: 1) por um lado, estãoaqueles adeptos da “teoria da normalização” se-gundo as quais as TICs não têm logrado transfor-mar a relação entre partidos e os cidadãos e aspráticas políticas estimuladas e induzidas pela

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internet são intensamente formadas por estrutu-ras e forças em grande parte originárias fora daweb; (2) por outro lado, estão os adeptos das “te-orias da equalização”, segundo as quais os WPalterarão significativamente os padrões anterioresde competição política e de organização do siste-ma partidário, embora não haja consenso quantoà intensidade das alterações provocadas pelasTICs. Essa dicotomia de Gibson e Ward pode ser-vir como um bom fio condutor subjacente da aná-lise empírica que faremos a seguir7.

Se, do ponto de vista da estrutura teórica maisgeral destinada a aprender os efeitos do WP sobreos efeitos dos sistemas políticos contemporâne-os, há vários matizes entre os diversos pesquisa-dores que se debruçaram sobre o assunto, sob oaspecto das metodologias de análise dos websitestambém podemos apontar um amplo campo devariação, tendo sido sugeridas as mais diversasmetodologias para avaliar e mensurar as informa-ções contidas nos websites dos partidos políticos(cf., dentre outras, as contribuições deLandtscherr, Krasnoboka & Neuner, 1999; Gibsone Ward, 2000; Norris, 2003; Dader, 2006 eVaccardi, 2008). Gibson e Ward, por exemplo,dois dos principais especialistas em análise de WP,além de autores de vários artigos sobre o temadas relações entre internet e política, propuseramum esquema de análise de conteúdo de websitesparlamentares identificando cinco formas pelasquais a Web pode ampliar a comunicação do par-tidos políticos vis-à-vis as mídias tradicionais:aumento do volume da comunicação; aumento da

velocidade da comunicação; aumento das possi-bilidades do formato da apresentação; a direçãoda comunicação é ampliada em vários sentidos,lateral, horizontal e verticalmente e, por fim, ocontrole da comunicação é descentralizado, am-pliando as possibilidades de controle dos indiví-duos sobre os fluxos de comunicação e colocan-do-os numa posição mais ativa. Para demonstraressas proposições, desenvolvem uma sofisticadametodologia que será aplicada em versão mais sim-ples por outros autores, como por exemploConway e Dorner (2004) em seu estudo sobre osWP da Nova Zelândia.

Embora as diretrizes elaboradas pelos diver-sos autores sejam sugestivas, a metodologia ado-tada neste artigo aproxima-se mais de algumasidéias e diretrizes de investigação contidas nos tra-balhos de Pippa Norris (2001; 2003), além do tra-balho que elaboramos anteriormente analisando oswebsites parlamentares brasileiros (BRAGA, 2007).Consideramos que, antes de testar hipóteses e te-orias mais sofisticadas, é necessário efetuar ummapeamento descritivo dos recursos existentesnos websites dos diferentes partidos políticos comvistas a observar o grau de intensidade de uso dasferramentas por esses atores políticos. A partirdesse estudo em profundidade do uso da internetpelos partidos políticos e do mapeamento deta-lhado do grau de intensidade do uso de algumasvariáveis presentes em seus websites, pode-seentão partir para estudos comparativos de maiorgrau de sistematicidade e profundidade que for-mulem hipóteses explicativas mais sofisticadas paraos padrões observados. A combinação dametodologia sugerida por Norris com a que de-senvolvemos para o estudo dos websites legislativosapresenta ainda a vantagem de ser simples e pos-sibilitar uma visualização rápida e abrangente dosprincipais recursos utilizados pelos partidos polí-ticos brasileiros na internet bem como de suafuncionalidade.

O suposto básico subjacente ao uso dessametodologia de mais fácil visualização é o de quepossuímos uma visão mais cética do que a maio-ria dos estudiosos sobre o papel e os impactosdos WP em democracias mais institucionalizadas:consideramos que a maioria dos WP brasileirosainda são bastante deficientes mesmo em infor-mações bastante triviais sobre as instâncias parti-dárias, apresentando um grau deficiente de trans-parência. Assim, com esse deficit de informaçõeselementares e básicas que potencialize o grau de

7 A tese segundo a qual a internet apenas reproduz “apolítica como usual”, reiterando formas de ação política jáestabelecidas no “mundo real” é defendida principalmenteno trabalho já clássico de Margolis e Resnik (2000), espe-cialmente o cap. 3, p. 53-75, em que os autores defendem atese de que os partidos políticos, as associações civis egrupos de pressão dominantes tendem a consolidar seudomínio no espaço virtual, não difundindo novas formasde atuação política nem abrindo espaços significativos àexpressão da ação coletiva de novos segmentos sociais: “Oque está havendo é a ‘normalização’ do ciberespaço. Ociberespaço não está tornando-se o locus de uma nova po-lítica que extravasa os limites da tela do computador erevitaliza a democracia e a cidadania. Na verdade, as formastradicionais de atividade política e comercial, em toda suacomplexidade e vitalidade, estão invadindo e capturando ociberespaço. A realidade virtual está cada vez mais asseme-lhando-se ao mundo real” (idem, p. 2; tradução de nossaautoria). Para uma visão alternativa, cf. a obra de PippaNorris (2001).

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transparência é exigir demais que o eleitor sinta-se estimulado a participar e a interagir nos meca-nismos deliberativos de decisão partidária, aomenos no atual estágio de uso das TICs pelospartidos brasileiros.

Procuraremos, portanto, diferenciar-nos de boaparte dos estudos sobre o tema e, em vez de con-centrar-nos na busca de evidências de “espaçosvirtuais deliberativos”, embriões de “democraciaparticipativa” e de “interatividade” entre cidadão esistema político, buscaremos demonstrar que,salvo algumas exceções, mesmo informações tri-viais sobre a vida eleitoral, partidária e governativados partidos políticos não se encontram disponí-veis em seus WP. Assim, consideramos que ainternet é um recurso bastante subutilizado pelosdiferentes partidos políticos brasileiros, mesmo sejulgados pelos estritos parâmetros normativos depropiciar mais accountability e transparência àprópria democracia “representativa”. Entretanto,essa constatação não nos coloca ao lado dos“ciberpessimistas”, para os quais nada mudou comos impactos das TICs sobre os sistemas políticoscontemporâneos: ao tornar mais transparentes eacessíveis aos cidadãos conectados os fluxos deinformação e comunicação, a internet pode darorigem a formas horizontalizadas e descentraliza-das de comunicação, diminuindo os instrumentosde potência nas mãos das elites dirigentes e daburocracia partidária e favorecendo a difusão deuma cultura política mais participativa e demo-crática entre os cidadãos, além de uma pressãodifusa por mais transparência e por formas maisaperfeiçoadas de funcionamento das várias insti-tuições que interagem nas democracias parlamen-tares contemporâneas.

III. METODOLOGIA E PROPOSIÇÕES BÁSI-CAS

Como dissemos anteriormente, nossa propos-ta é analisar os websites dos 27 partidos brasilei-ros com registro no Tribunal Superior Eleitoral(TSE) durante o primeiro semestre de 2008; des-sas 27 agremiações, apenas o pequeno PartidoTrabalhista Cristão (PTC) não disponibilizou umsítio na web durante todo o período pesquisado8 .

Deve-se mencionar que alguns partidos fizeramalterações visuais em seus websites a partir do iní-cio da campanha eleitoral, em julho de 2008, como objetivo de torná-los mais atrativos para o elei-tor. Essas alterações não foram incorporadas nopresente artigo. Portanto, procuraremos cumprirdois objetivos básicos: em primeiro lugar, efetuarum primeiro mapeamento dos recursosdisponibilizados nos websites dos diferentes parti-dos políticos e, em segundo lugar, estabelecer umaclassificação dos diferentes partidos políticos combase no grau de freqüência e intensidade em queeles apresentam tais itens.

Nesse sentido, como nosso objetivo é tambémo de empreender um mapeamento mais minucio-so e desagregado e uma mensuração dos recur-sos políticos disponíveis nos diferentes WP, re-solvemos agregar à abordagem de Norris sete di-mensões básicas de análise, cada qual com umnúmero específico de variáveis expostas nos qua-dros a seguir. Dentre essas dimensões podemosmencionar: 1) recursos de navegabilidade e aces-sibilidade propiciados ao cidadão-internauta, quesão alguns recursos básicos de navegaçãodisponibilizados nas páginas dos partidos políti-cos com vistas a tornar sua navegação mais efici-ente e atrativa; 2) dados estatísticos básicos sobreos partidos e a vida partidária, que são o conjun-to de informações sobre os números básicos dospartidos tais como filiados, simpatizantes, ocu-pantes de cargos eletivos nos diferentes níveis derepresentação e outras informações desse gêne-ro, fundamentais para um conhecimento inicial davida partidária; 3) estrutura decisória e recruta-mento dos partidos políticos, composta por in-formações mais detalhadas sobre os perfis esobre a atuação das diferentes esferas de organi-zação do partido; 4) documentação, deliberaçãoe ações, que procura mapear os principais docu-mentos partidários disponíveis on-line, bem comoa forma como eles divulgam suas informações apartir da Web; 5) comunicação e mídia, que des-creve a presença de recursos tradicionais de mídia,entendida no sentido amplo do termo; 6) eleiçõese processo eleitoral, que contém informações so-bre o pleito eleitoral e anteriores disponíveis nos

8 Como se sabe, o sítio do TSE contém diversas informa-ções da vida partidária, tais como a data de registro, osestatutos, o número de filiados e os endereços dos websitesde todos os partidos. Dos 27 partidos políticos com regis-tro no TSE durante o período pesquisado, apenas o PTC

não disponibilizou um website. A pesquisa foi realizadaentre os meses de maio a julho de 2008, a fim de não abarcaro período eleitoral. No momento, estamos ainda organi-zando os dados sobre o uso da web pelos partidos políti-cos e candidatos no pleito de outubro de 2008.

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WP antes do início da campanha eleitoral até 6 dejulho de 2008 e (7) formação política e cultura,que reúne atividades relacionadas à dimensão maissimbólica e formativa das diferentes agremiações.

O objetivo da introdução dessas várias “dimen-sões” da ação dos partidos políticos é o de verifi-car de forma mais desagregada os pontos fortes efracos de cada uma das agremiações. Além disso,almeja também efetuar um primeiro teste de algu-mas hipóteses e sugestões contidas na literaturasegundo as quais a forma como os partidos polí-ticos utilizam-se das TICs e de seus WP pode dar-nos algumas pistas sobre sua natureza específicae suas bases sociais (ROMMELE, 2003).

Como se trata de uma primeira aproximaçãoao estudo de nosso objeto, procuraremos analisarapenas a presença ou ausência de cada um dositens nos WP, seguindo as sugestões do trabalhode Pippa Norris (2003). Para facilitar a visualizaçãodas variáveis que utilizamos para mapear cada uma

das dimensões da vida partidária analisadas, re-metemos o autor aos vários quadros constantesno corpo do texto. Seguindo também as suges-tões da autora, subdividimos as variáveis em itensde informação e transparência e itens de comuni-cação e interação, que estão assinalados nos qua-dros respectivamente com “inf” e “com”, segun-do cumpram potencialmente com mais intensida-de uma ou outras de tais funções. Cabe ainda su-blinhar que não elaboramos nenhum indicador maisdetalhado ponderando as variáveis segundo suaimportância relativa para a estruturação doswebsites, como o fizemos em um estudo anterior(BRAGA, 2007), mas apenas calculamos ospercentuais de presença de cada um dos itens noWP. Deve-se mencionar, no entanto, que, ao con-trário de outros estudos, não apenas verificamosa presença ou ausência de cada uma das variáveisnos websites, mas também testamos sua funcio-nalidade assinalando sua presença ou ausência deacordo com o seguinte código:

QUADRO 1 – CRITÉRIOS DE PONTUAÇÃO

FONTE: Elaboração dos autores.

Como não atribuímos nenhum fator de pon-deração aos itens pesquisados, mas apenas calcu-lamos seus percentuais de presença, isso implicaque atribuímos valores equivalentes a todos as

variáveis examinadas. Foram pesquisados os WPdos partidos listados abaixo, pesquisa esta efetua-da durante os meses de março e julho de 2008,antes do início da campanha eleitoral.

QUADRO 2 – PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS REGISTRADOS NO TSE

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FONTE: TSE (julho de 2008).

IV. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Podemos agora dar início à análise dos resul-tados de nossa pesquisa nos websites dos parti-dos políticos, cujos dados estão atualizados até odia 6 de julho, data de início da campanha segun-do a legislação eleitoral. A escolha dessa data-limi-te deveu-se a dois motivos básicos: i) muitos par-tidos efetuaram, literalmente, “repaginações” emseus websites no início da campanha eleitoral; ii)consideramos que o uso das home pages dos par-tidos como instrumento de campanha eleitoral é otema de um objeto específico de pesquisa, assimcomo já ocorre numa infinidade de estudos sobrewebsites de partidos políticos em países de demo-cracia mais institucionalizada (CONWAY &DORNER, 2004). Assim, incluímos em nossoestudo uma série de variáveis sobre campanhaseleitorais, mas basicamente sobre o período pré-campanha, não nos concentrando na análise deseu uso durante a campanha eleitoral propriamen-te dita.

IV.1. Navegabilidade e acessibilidade

A primeira dimensão relevante de análise dosWP refere-se à presença de alguns recursos bási-cos de navegabilidade e acessibilidade nas pági-nas iniciais do WP das diferentes agremiações, comvistas a torná-las mais eficientes e estimulantespara os militantes, para o eventual cidadão-internauta ou mesmo para o visitante ocasional desuas WP.

No tocante aos itens de navegabilidade e aces-sibilidade encontrados nas páginas iniciais dospartidos políticos brasileiros, coletamos dadossobre 20 variáveis cujas freqüências encontram-se expostas no quadro abaixo. Desses 20 itens,dez referem-se predominantemente às funções deinformação-transparência e outros dez às funçõesde comunicação-interação, revelando que adisponibilização de ferramentas de interatividadepelos partidos políticos brasileiros já está razoa-velmente presente nos websites de boa parte dospartidos brasileiros, embora sua funcionalidadeainda esteja longe do ideal.

No tocante à presença dos itens denavegabilidade, examinando os dados do quadroabaixo podemos observar também que, emboraestejam presentes nas páginas iniciais dos parti-dos tanto itens de informação e transparênciaquanto itens de comunicação e interatividade, opercentual de presença dos primeiros é ligeiramentesuperior. Deve-se observar ainda que o item maisfreqüente nas home pages dos partidos brasileiros(ou seja: a disponibilização de formulários-padrãopara contato por e-mail por parte do internauta)pode ser considerado um item de baixainteratividade pois não permite o registro e o con-trole, por parte do emissor da mensagem, de seuconteúdo e da data de envio da resposta, o quedificulta o controle e monitoramento do internautasobre o destino da mensagem9.

9 A equipe de pesquisa realizou vários experimentos deenvio de e-mails por meio desses formulários, à guisa de“pré-teste”, solicitando informações sobre as propostaseleitorais do partido e processo de filiação e obteve apenasuma resposta, a do PTB.

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QUADRO 3 – NAVEGABILIDADE/ACESSIBILIDADE NAS PÁGINAS INICIAIS DOS WEBSITES DOS PARTIDOSPOLÍTICOS BRASILEIROS

FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008).

Por outro lado, como pode ser verificado noQuadro 3, poucos partidos brasileirosdisponibilizaram em suas páginas iniciais informa-ções importantes tais como estatísticas de nave-gação, organograma do partido10, mapa do sítio,informações sobre contribuições financeiras edoações (como sabe-se, um item presente naspáginas iniciais da maior parte dos WP norte-ame-ricanos), dentre outros recursos. Sublinhe-se quepode ser observada uma crescente preocupação

dos partidos em utilizar-se de recursos deinteratividade, tais como acesso a fóruns de dis-cussões sobre temas específicos e blogs políti-cos, recurso este utilizado com bastante intensi-dade por partidos mais programáticos de oposi-ção ao governo federal, tais como o PSDB e oDEM. Entretanto, o uso desses recursos ainda émarginal na maior parte das agremiações estuda-das: ainda são informações “top down”,verticalizadas e sob o controle estrito das dire-ções partidárias ou de seus prepostos as que pre-dominam na maior parte das páginas iniciais dosWP brasileiros. Nesse sentido, o cidadão-internauta não estritamente aliado com as diretri-zes programáticas do partido, ou indeciso, aindapossui pouco espaço de interação e, mais impor-

10 O PCdoB, por exemplo, apresentou um estilizadoorganograma com a organização interna da agremiação. En-tretanto, pontuamos o item como incompleto por não es-tar na página inicial do partido.

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FONTE: Elaboração dos autores.

GRÁFICO 1 – NAVEGABILIDADE DOS WEBSITES DOS PARTIDOS BRASILEIROS (1º SEMESTRE DE 2008)

tante, pouco espaço de monitoramento e de con-trole dos resultados efetivos dessas tentativas demanifestar-se e de ampliar a participação política.

Quais os partidos políticos brasileiros que maisinvestem em mecanismos de acessibilidade e de

navegabilidade em suas páginas iniciais com vistasa torná-las mais atraentes a seus “partisans” ou aoscidadãos-internautas de uma maneira geral? Uminício de resposta a essa pergunta pode ser dada apartir da visualização do gráfico abaixo.

Pelo gráfico podemos perceber que algunspartidos diferenciam-se claramente dos demais pelograu de presença de itens de “acessibilidade” emsua página inicial, demonstrando uma maior pre-ocupação em “fisgar”, por assim dizer, o cidadãoque navega pela Web utilizando recursos que faci-litem sua navegação. Podemos ainda observar opercentual de itens de navegabilidade presentes nosdiferentes WP: o PCdoB, com 72,5% dos itens, éo que apresenta a página inicial mais atrativa, se-guido do PSDB (67,5%), DEM (65,0%) e PTB(62,5%). Nenhum partido atingiu um “alto grau”de navegabilidade, por causa da ausência de re-cursos tais como contribuições financeiras/doa-ções on-line, estatísticas de navegabilidade, re-cursos de acessibilidade para deficientes e pági-nas em inglês. Deve-se sublinhar que, como jáobservado, o pouco percentual de presença des-ses itens nas WP deve-se a causas diferentes, taiscomo o alto custo e o deficit de recursos huma-nos para a implantação de determinados tipos deprogramas (tais como acessibilidade para defici-entes), a cultura política vigente nos partidos po-

líticos brasileiros (no caso das contribuições fi-nanceiras), assim como certo provincianismo e abaixa intenção de formar redes internacionais comseus pares ideológicos (para o caso das páginasem inglês).

Outro ponto a ser observado é o de que, em-bora sem efetuar nenhum teste estatístico maissofisticado, podemos observar que não se verifi-ca estritamente a hipótese da “normalização”, poisfoi o PCdoB, um pequeno partido por qualquercritério que se utilize (número de filiados,percentual de cadeiras na Câmara Baixa, percentualde cargos eletivos nos vários níveis de governo),a agremiação que obteve maior pontuação, enquan-to que os dois maiores partidos na Câmara Baixa(PMDB e PT) apresentam percentuais inferiores.

IV.2. Estatísticas e números sobre a vida partidá-ria

A segunda dimensão que incluímos em nossaavaliação dos WP brasileiros foram “dados esta-tísticos básicos” sobre a vida partidária e sobre as

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várias dimensões da atuação das agremiações, in-formações que consideramos ser de fundamentalimportância para fornecer uma maior transparên-cia ao processo político e sobre a ação das dife-rentes agremiações partidárias para a opinião pú-blica. Embora algumas dessas informações este-jam disponíveis no TSE e em outros websites, éde supor-se que o cidadão-internauta que navegapela Web, especialmente o eleitor mais jovem, es-teja capacitado ou sinta-se estimulado a buscá-laspor si sós em outros portais. Sendo assim, é de

fundamental importância que as elites dirigentes eos gestores dos portais do WP façam um esforçopara disponibilizar tais informações na Web, a fimde aumentar o grau de transparência das ativida-des de tais organizações.

Ao todo, incluímos 21 itens de “dados estatís-ticos básicos” sobre a vida partidária em nossapesquisa. Os percentuais encontrados encontram-se listados a seguir. Como é evidente, todas asvariáveis referem-se predominantemente às fun-ções de informação e transparência.

QUADRO 4 – DADOS ESTATÍSTICOS BÁSICOS SOBRE OS PARTIDOS NOS WEBSITES PARTIDÁRIOS(1º SEMESTRE DE 2008)

FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008)

Examinando o percentual de informações dis-poníveis nos WP a respeito dos indicadores nu-méricos sobre a vida partidária das diferentesagremiações, podemos observar que ainda é bas-tante deficiente o grau de transparência dos parti-dos brasileiros em relação a esses pontos. Com

efeito, nenhum dos 21 itens examinados obteveuma freqüência superior a 50%, evidenciando queos partidos políticos brasileiros, a julgar por seusportais na Web, ainda são verdadeiras “caixas pre-tas” aos olhos do eleitor e do eventual “cidadão-internauta”. Apenas a título de curiosidade, ne-

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nhum dos partidos brasileiros disponibilizou na Webinformações tais como o número de cargoscomissionados sob controle do partido em qual-quer instância de governo, sobre as formas e omontante do financiamento do partido, sobre aces-so e receita do fundo partidário e sua aplicação,para não falar nas fontes de financiamento daagremiação. Mesmo partidos fortementeinstitucionalizados e com ampla representação

parlamentar tais como PMDB, PT, PSDB e DEMnão fornecem informações precisas sobre o coti-diano de sua vida partidária, revelando não ser essauma preocupação prioritária na cultura política daselites dirigentes e dos gestores dos portais dosdiferentes partidos políticos.

No tocante à posição relativa dos diferentespartidos políticos, essa informação pode ser maisbem visualizada pelo gráfico abaixo.

GRÁFICO 2 – DADOS ESTATÍSTICOS BÁSICOS SOBRE OS PARTIDOS NOS WEBSITES PARTIDÁRIOS

FONTE: Elaboração dos autores.

O PMDB destaca-se claramente dos demaispartidos brasileiros no tocante à publicação dedados estatísticos sobre a vida partidária por meiode seus websites, sendo o único partido que apre-sentou um alto grau de transparência no tocante àdisponibilização de tais informações. Além doPMDB, apenas o PP e o pequeno PSL apresenta-ram links específicos para informações estatísti-cas ou preocuparam-se em fornecer tais dadosem seus portais. Assim como na dimensão anteri-or, também aqui não se verifica a hipótese da “nor-malização”, pois não há correlação estrita entre aposição e o desempenho dos diferentes partidospolíticos no espaço político “real” e “virtual”. As-sim, embora esteja de acordo com a hipótese da“normalização” que um grande partido (mais pre-cisamente, o maior partido brasileiro em número

de filiados, de acordo com os dados do TSE)disponibilize com mais transparência tais dadosna Web, pequenos partidos e com menos recur-sos (tais como PCdoB e PSDC) revelam uma pre-ocupação maior com a transparência de sua vidainterna, revelando uma vez mais que a internet deuma maneira geral, e os WP em particular, fazemmais do que apenas reproduzir padrões existentes“fora” da internet, agregando pouco em termosde diferenciação das agremiações como postulamos adeptos da tese da “normalização”.

O mesmo parece ocorrer em relação a outrasvariáveis que não o tamanho dos partidos, taiscomo pertencimento a campos ideológicos e/ouinexistência ou existência de representação parla-mentar. Verificamos que tanto partidos de direita

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como de esquerda, com e sem representação par-lamentar, alimentam a Web com dados estatísti-cos sobre sua vida partidária. Sendo assim, pode-mos pelo menos aventar a hipótese de que a pre-sença ou ausência de tais informações relaciona-se menos a variáveis “exógenas” à subjetividadedas lideranças partidárias (tais como recursospolíticos, fatores de ordem institucional e outros),do que a fatores subjetivos e inerentes às repre-sentações que orientam a conduta de tais lideran-ças, tais como sua cultura e valores políticos, asestratégias que orientam a ação de tais elites, oumesmo decisões aleatórias dos gestores de infor-mação de tais WP, sendo que nenhuma lógica“exógena” subjacente parece estar na raiz dadisponibilização de tais informações.

IV.3. Estrutura decisória e recrutamento

Em relação à estrutura decisória e ao perfil derecrutamento dos partidos políticos, coletamosdados sobre 34 itens, definidos no quadro abaixo,dos quais oito comprem a função de comunica-ção e interação (a maior parte deles contatos pore-mail com diferentes segmentos das elites parti-dárias) e 26 a função de informação e transpa-

rência11.

Também aqui podemos observar que, após umaanálise mais atenta e passado o impacto inicial daaparência de um excesso e mesmo sobrecarga deinformações relevantes nos WP, ainda é bastanteinsatisfatória a quantidade de informações subs-tantivas sobre a estrutura decisória e os perfis derecrutamento dos diferentes partidos políticos naWeb. Os itens de maior freqüência são aquelesque procuram atingir segmentos específicos daopinião, e que servem, por assim dizer, de fontepermanente de recrutamento, de renovação dequadros e de mobilização das instâncias dirigen-tes do partido, tais como links específicos paranúcleos da juventude (59,3% dos partidosdisponibilizando esses itens nas WP) e núcleos damulher (51,9%). Por outro lado, ainda é fraca apresença de links para segmentos mais organiza-dos e reivindicativos da sociedade civil, tais comoo movimento estudantil, o sindical, movimentossociais de uma maneira geral, de negros e GLS(gays, lésbicas e travestis). Em relação a esse pon-to, apenas o PSOL apresentou conexão para mo-vimento GLS em seu WP.

QUADRO 5 – ESTRUTURA DECISÓRIA E RECRUTAMENTO DOS PARTIDOS POLÍTICOS (1º SEMESTREDE 2008)

11 Deve-se sublinhar uma vez mais que, nesta etapa dapesquisa, não estamos testando sistematicamente ainteratividade de cada uma das variáveis de pesquisa, masapenas verificando a presença e funcionalidade dos websites.

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FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008)

Também se pode verificar uma relativa preo-cupação dos partidos em oferecer ao menos alistagem nominal de seus núcleos dirigentes, taiscomo a Executiva e os Diretórios nacionais dospartidos. Entretanto, ainda é baixíssimo opercentual de agremiações que disponibiliza emseus WP informações mais detalhadas sobre osperfis de recrutamento e sobre formas de contatocom seus núcleos dirigentes. Assim, o grau emque os WP são utilizados como forma de organi-zação efetiva e de articulação e estruturação detodas as instâncias partidárias ainda é bastante

exíguo, a julgar pelas informações contidas emseus WP.

O gráfico abaixo pode servir como um indica-dor provisório do grau de intensidade da maneirapela qual os diferentes partidos brasileiros estãoutilizando seus WP para informar e tornar públi-cas ao cidadão-internauta informações básicassobre a estrutura decisória e os perfis de recruta-mento de seus núcleos dirigentes, possibilitandouma relação mais transparente e estreita da opi-nião pública com esses atores.

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GRÁFICO 3 – ESTRUTURA DECISÓRIA E RECRUTAMENTO DOS PARTIDOS POLÍTICOS (1º SEMESTREDE 2008)

FONTE: Elaboração dos autores.

Podemos observar que apenas quatro partidosapresentam informações satisfatórias sobre os di-ferentes ramos que integram sua estruturadecisória e os padrões de recrutamento de suasdiferentes instâncias, sendo o PCdoB o partidoque, uma vez mais, apresentou o percentual maiselevado de presença de tais itens. Por outro lado,um partido de massa e bem organizado como oPT, ou agremiações institucionalizadas e com umaconsolidada representação parlamentar tais comoo PSDB e o DEM, apresentaram poucas informa-ções sistemáticas sobre esses ramosorganizacionais. Ao que parece, são os partidosmédios, com menos recursos políticos e que re-velam uma ambição ou alimentam uma expectati-va de crescimento eleitoral de curto prazo, quetendem a disponibilizar maior quantidade de in-formação sobre sua estrutura decisória, com vis-tas a tornar seus dirigentes mais conhecidos aosolhos do potencial eleitor. Por outro lado, grandespartidos mais voltados para a ocupação de cargos

governamentais e que usam seus WP para enviarmensagens para os militantes mais ativos, menosdo que “capturar” um potencial eleitor (tais comoPMDB, PT e DEM), sentem-se menos estimula-dos a dar ampla publicidade a informações sobreseus núcleos dirigentes. Outros indícios permi-tem-nos lançar a hipótese de que os WP dessasagremiações têm esse perfil excessivamente de“partido do ou para o governo” e mais voltadopara os militantes, especialmente do PT. Essa im-pressão é reforçada se contrastamos o desempe-nho do PT nesse item com a dimensão posterior,mais voltada para a divulgação de propostas, pro-gramas e ações dos diferentes partidos políticos.

IV.4. Documentos, deliberações e ações

No tocante a esta dimensão, coletamos infor-mações sobre 21 itens, todos eles desempenhan-do predominantemente a função de informação etransparência, cujas freqüências estão resumidasno quadro abaixo.

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QUADRO 6 – DOCUMENTOS, DELIBERAÇÕES E AÇÕES NOS WEBSITES DOS PARTIDOS BRASILEIROS(1º SEMESTRE DE 2008)

FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008).

Verificamos que o percentual dos itens é ligei-ramente superior ao verificado nos anteriores, evi-denciando que as funções dos WP da maioria dospartidos brasileiros ainda são reproduzir informa-ções de interesse das direções partidárias e de seusnúcleos dirigentes, embora isso não equivalha adizer que eles sejam meros veículos de reprodu-ção da “política como usual”. Deve-se ressaltar,no entanto, que mesmo com todos os recursosdisponibilizados pela internet, um elevadopercentual de 33,4% dos partidos políticos brasi-leiros ainda não disponibiliza a íntegra de seus pro-gramas partidários na Web, apenas 48,1% apre-sentam a íntegra dos estatutos do partido eposicionam-se claramente em relação ao governofederal, e um percentual ainda inferior manifestou

posicionamento claro sobre questões substanti-vas que fazem parte da agenda política, tais comoreforma política e tributária, bem como sobreoutras políticas setoriais. Também são poucos ospartidos que disponibilizam as principais resolu-ções de seu congresso e links para órgãoslegislativos federais e para os principais projetos eproposições legislativas apoiadas pelasagremiações. De uma maneira geral, portanto, sãotambém escassos os recursos disponibilizados naWeb e ainda é baixo o grau de transparência dospartidos brasileiros sobre várias dimensões de suaação política.

O desempenho dos diferentes partidos políti-cos no tocante a essa dimensão é dado pelo gráfi-co abaixo:

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GRÁFICO 4 – DOCUMENTOS, DELIBERAÇÕES E AÇÕES NOS WEBSITES DO PARTIDOS BRASILEIROS(1º SEMESTRE DE 2008)

Significativamente, foi o PT o partido que ob-teve o melhor desempenho, seguido pelo PTB,PSDB, PCdoB e PSOL. A nosso ver, essa altapontuação obtida pelo Partido dos Trabalhadoresdeve-se ao fato dele assumir características pre-dominantemente de partido orientado para amilitância, em vez de voltado para o eleitorado oupara a opinião pública de uma maneira geral, pri-vilegiando na estruturação de seu WP aquelas va-riáveis destinadas a exercer uma função mais efe-tiva de articulação e organização partidária e tor-nar mais estreita a comunicação entre os váriosramos da organização, não utilizando-o como umveículo tradicional de divulgação dos pontos devista da direção partidária e de agitação e propa-ganda pré-eleitorais. A surpresa aqui (ou seja, alocalização fora do padrão inicialmente esperado)fica por conta do PTB que, apesar da reputação

FONTE: Elaboração dos autores.

de típico partido clientelista, fisiológico e catchall, apresenta um sítio bastante dedicado à divul-gação de suas ações para a militância. A partir dosindícios coletados na pesquisa, entretanto, julga-mos que isso pode ser explicado pelo baixo de-sempenho eleitoral do partido no pleito de outu-bro de 2006, o que fez que os dirigentes partidári-os reforçassem a internet como recurso deinteração e de envio das mensagens para o eleitor.

IV.5. Comunicação e mídia

No que se refere à presença de itens de comu-nicação e mídia, sua freqüência nos websites dosdiferentes partidos políticos brasileiros nos é in-formada pelo quadro abaixo. Foram listados 27itens dos quais 19 referem-se às funções de in-formação e transparência e oito às funções decomunicação e interação.

QUADRO 7 – COMUNICAÇÃO E MÍDIA NOS WEBSITES DO PARTIDOS BRASILEIROS (1º SEMESTRE DE2008)

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FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008).

Além da menor freqüência, podemos obser-var que o percentual de presença dos itens quepossibilitam uma maior interatividade dos cida-dãos-internautas com as instâncias dirigentes par-tidárias também é significativamente inferior, in-dicando que parece ser correta a percepção gene-ralizada de que os WP tendem a ser usados emgrande parte como um prolongamento das prefe-rências valorativas e das decisões estratégicas dasinstâncias dirigentes partidárias, menos do quecomo um canal de efetiva participação e interaçãocom o cidadão-internauta (BLANCHARD, 2006;VACCARI, 2008). Apenas a título de exemplo,

podemos observar por meio do quadro que ape-nas 18,5% dos WP dos partidos políticos brasilei-ros apresentou links específicos para blogs dopartido ou das lideranças e instâncias partidárias,e proporção bastante inferior disponibilizou linksespecíficos para recursos da internet tais comovídeos do youtube, comunidades específicas noOrkut ou congêneres etc.

No tocante ao percentual de itens por partidopolítico, seguindo o procedimento de apresenta-ção de dados das dimensões anteriores, ele nos éinformado pelo gráfico abaixo:

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GRÁFICO 5 – COMUNICAÇÃO E MÍDIA NOS WEBSITES DOS PARTIDOS BRASILEIROS (1º SEMESTRE DE2008)

O PT mais uma vez é o partido que apresentamaior pontuação, seguido por agremiações taiscomo o PSDB, o PPS e o PCdoB. Aqui, entretan-to, pode-se verificar um leve predomínio de parti-dos de esquerda e de centro-esquerda no uso dosrecursos de mídia, sendo os casos desviantes umavez mais o PTB e o DEM. Neste último caso,deve-se sublinhar que o partido investiu fortementenos recursos da internet tais como Youtube, blogs,“feeds” e comunidades virtuais para marcar suaposição programática de oposição ao governo Lulano plano federal, refletindo também determinadascaracterísticas de sua base de apoio mais elitizadae com maior acesso a formas mais sofisticadasde acesso à Web.

FONTE: Elaboração dos autores.

IV.6. Eleições e processo eleitoral

Em relação à dimensão “eleições e processoeleitoral” podemos observar que, mesmo antes doperíodo do início da campanha eleitoral propria-mente dia, em 6 de julho de 2008, a grande maio-ria dos partidos políticos brasileiros jádisponibilizava informações sobre o processo elei-toral. Entretanto, devemos observar que dos 23itens mapeados nos portais dos partidos, a quasetotalidade deles referia-se às funções de informa-ção e transparência. O único item de interaçãoque incluímos para testar sua presença foi o de“contribuições on-line”, sendo que nenhum parti-do apresentou esse item em suas páginas web.

QUADRO 8 – ELEIÇÕES E PROCESSO ELEITORAL NOS WEBSITES DO PARTIDOS BRASILEIROS (1ºSEMESTRE DE 2008)

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34 : 183-208 OUT. 2009

FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008).

No tocante à distribuição dos itens de “Elei-ções e processo eleitoral” pelos diferentes parti-

dos brasileiros, ela nos é informada pelo gráfico aseguir.

GRÁFICO 6 – ELEIÇÕES E PROCESSO ELEITORAL NOS WEBSITES DO PARTIDOS BRASILEIROS (1ºSEMESTRE DE 2008)

FONTE: Elaboração dos autores.

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OS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS E A INTERNET

Via de regra, são os grandes partidos de cen-tro e centro-esquerda, com representação parla-mentar mais consolidada, que utilizaram com maisintensidade seus WP para divulgar informaçõessobre eleições e processo eleitoral antes do inícioda campanha. Por outro lado, os pequenos parti-dos e outros partidos de esquerda que obtiveramboa pontuação em outros itens, tais como PCdoBe PSOL, apresentaram uma pontuação bastanteabaixo da média nesse quesito. De todos os itensexaminado até aqui, esse é o que melhor confirmaa hipótese da “normalização”, já que normalmentesão os grandes partidos com maior visibilidade ejá inseridos no jogo parlamentar que apresentammelhor desempenho no tocante ao uso dos WPpara divulgar informações sobre o processo elei-toral, de uma maneira ampla.

IV.7. Formação política e cultura

Por fim, podemos examinar a ultima dimen-são relevante da ação política dos partidos brasi-leiros presentes na Web que são as atividades maisrelacionadas à “formação política e cultura”, ouseja, ações de difusão dos valores e das concep-ções ideológico-programáticas no sentido amplodo termo e que se referem àquela dimensão maissimbólica ou “cultural-educativa” que tanto ocu-pou a atenção de autores como Antônio Gramscie seu discípulos.

A freqüência de itens sobre essa importantedimensão da ação dos vários partidos políticos,aqui e noutras partes do mundo, pode ser sinteti-zada no quadro abaixo. Dos 16 itens quemapeamos, nove referem-se às funções de infor-mação e transparência e apenas 7 referem-se àsfunções de comunicação e interação.

QUADRO 9 – PRINCIPAIS ITENS DE “FORMAÇÃO POLÍTICA E CULTURA” NOS WEBSITES DOS PARTIDOSBRASILEIROS (1º SEMESTRE DE 2008)

FONTE: Websites dos partidos políticos (junho de 2008).

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O desempenho dos diversos partidos brasilei-ros no tocante a esta dimensão é informado pelo

gráfico abaixo.

GRÁFICO 7 – PRINCIPAIS ITENS DE “FORMAÇÃO POLÍTICA E CULTURA” NOS WEBSITES DOS PARTIDOSBRASILEIROS (1º SEM. 2008)

FONTE: Elaboração dos autores.

Surpreendentemente, foi o PMDB que apre-sentou o melhor desempenho em relação a essequesito, tendo sido o único partido a apresentarum alto grau de presença de atividades de forma-ção política e cultura em seus WP. Isso se deveao fato do partido investir fortemente em ativida-des de formação política para seus incontáveisvereadores em cidades do interior do país e tam-bém ao trabalho desenvolvimento pela FundaçãoPedroso Horta, entidade de formação política vin-culada ao partido. Seguem-se partidos de esquer-da vinculados ao antigo PCB, como PPS e PCdoB,que parecem ter herdado dos antigos comunistasa preocupação com o trabalho de formação cultu-ral e ideológica de seus membros, fato que ficaclaramente evidenciado ao examinarmos os por-tais específicos das fundações vinculadas aos par-tidos, especialmente a Fundação Astrogildo Perei-ra, vinculada ao PPS, que contém uma ampla gama

de atividades formativas e culturais em suas pági-nas. Já o PT, embora seja um partido grande ebem estruturado, fica apenas em sexto lugar, atrásdo PSDB, indicando que embora ambos os parti-dos invistam fortemente em ações de formaçãocultural e educativa de seus filiados e militantes,elas não se equiparam aos partidos de esquerdade perfil mais tradicional, influenciados pela dou-trina marxista.

V. CONCLUSÕES

Concluindo este trabalho podemos consolidaros dados anteriormente apresentados e extrair al-gumas conclusões mais gerais da análise empre-endida anteriormente. A informação sobre opercentual de presença das 160 variáveis que uti-lizamos para mapear os websites dos diferentespartidos políticos brasileiros nos é informada pelográfico a seguir:

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OS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS E A INTERNET

GRÁFICO 8 – RANKING DOS WEBSITES DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS (1º SEMESTRE DE2008)

FONTE: Elaboração dos autores.

Vimos assim que, se computarmos a partir deum índice 100% ideal, muito trabalho ainda restaa ser feito pelos diferentes partidos políticos bra-sileiros para aperfeiçoar a divulgação de suas ati-vidades via Web.

Outra informação que podemos obter do gráfico

acima é a de que o PCdoB foi o partido que maisrecursos disponibilizou na internet para divulgar suasatividades, seguido do PSDB, do PT e do PPS. En-tretanto, o PCdoB permanece como uma exceçãose comparado com os demais pequenos partidos,como pode ser evidenciado pelo gráfico abaixo:

GRÁFICO 9 – TAMANHO DOS PARTIDOS X RECURSOS DOS WP (1º SEMESTRE DE 2008)12

FONTE: Elaboração dos autores.

Pelo gráfico podemos observar que, emboraem termos agregados sejam os grandes partidosque apresentam um uso mais eficiente da internet,o alto índice obtido por partidos pequenos (tais

como o PCdoB e o PSOL) e médios (tais comoPPS e PTB) faz com que não se verifique estrita-mente a hipótese da “normalização”, segundo aqual os padrões de competição política observa-

12 Norris (2003, p. 27) define três tipos de partido:major parliamentary parties (aqueles com mais de20% de acentos na Câmara baixa); minorparliamentary parties (entre 3 e 20% dos assen-

tos); fringe parties (menos de 3% na Câmara Bai-xa), mas não aplicamos esse critério ao caso bra-sileiro devido ao alto grau de fragmentação de seusistema partidário.

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dos na Web reproduzem estritamente aqueles ob-servados no mundo real.

Outras conclusões mais gerais que podem deri-var da análise acima, além do mero estabelecimentode um ranking com as variáveis mais e menos fre-qüentes disponíveis on-line são as seguintes: 1) Demaneira geral, os dados coletados nesse estudoconfirmam as intuições e os insights dos primei-ros estudos de Pippa Norris (2001) sobre o as-sunto. O desenvolvimento tecnológico, a compe-tição partidária e o “efeito demonstração” causa-do entre os diferentes partidos políticos geramuma pressão pela criação de um sistema políticovirtual, na medida em que os diferentes atores einstituições que integram um sistema político (in-clusive os partidos) são impelidos e utilizarem-sedas TICs com cada vez mais intensidade parainteragirem com os cidadãos. Vimos que dos 27partidos políticos brasileiros com registro no TSE,26 deles já possuem WP razoavelmente organiza-dos, o que nos permite afirmar a existência de umsubsistema partidário virtual;

2) O impacto das TICS não implica nem numasubversão completa dos padrões anteriormente vi-gentes de democracia representativa, como queremos “ciberotimistas”, nem numa mera reprodução dospadrões anteriormente vigentes de competição polí-tica e de participação cidadã, como querem os“ciberpessimistas”. Verificamos que as posições re-lativas dos diferentes partidos políticos na internetnão são uma mera reiteração dos padrões vigentesfora dela, demonstrando que, ao dar mais visibilida-de a pequenos partidos e/ou a partidos com escassarepresentação parlamentar e eleitoral, a Web podeservir de fato como um instrumento de aumento da

competição pluralista no sistema político;

3) Apesar de, em termos agregados, confir-mar-se a hipótese da “normalização”, observamosa existência de alguns complicadores a uma apli-cação estrita do modelo na medida em que parti-dos “pequenos” e “médio-pequenos” como PCdoBou o PPS, e “fisiológicos” com o PTB utilizam-seda Web com razoável intensidade, indicando a exis-tência de certa alteração nos padrões tradicionaisde competição política no sistema político virtual;

4) Podemos afirmar, portanto, que há evidên-cias de ampliação das oportunidades para parti-dos de oposição e pequenos partidos exporem seuspontos de vista em condições de relativa igualda-de com os partidos hegemônicos, verificando-sea existência de algo assemelhado a um "fórumcívico pluralista" no subsistema partidário virtualbrasileiro. Entretanto, não se confirmam integral-mente as proposições segundo as quais os WPservirão como um canal adicional para amobilização e deliberação políticas, na medida emque coletamos poucas evidências de mecanismosde interatividade e de participação política maisativa dos cidadãos no WP brasileiros. Ao menosno período anterior à campanha eleitoral de 2008e antes da operação do "efeito Obama", quandoos potenciais da Web para alterar as formas usu-ais de se fazer política e mobilizar os cidadãostornaram-se mais ou menos evidentes para a mai-oria dos observadores políticos.

Se tais potenciais serão usados ou não daquipor diante pelos partidos políticos e com que graude intensidade e resultados efetivos, é a grandeincógnita que deve servir de ponto de partida parainvestigações futuras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sérgio Braga ([email protected]) é Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp) e Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Andressa Silvério Terra França ([email protected]) é Mestre em Sociologia pela UniversidadeFederal do Paraná (UFPR).

María Alejandra Nicolás ([email protected]) é Mestranda em Sociologia pela Universidade Fe-deral do Paraná (UFPR).

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 347-354 OUT. 2009ABSTRACTS

BRAZILIAN POLITICAL PARTIES AND THE INTERNET: AN EVALUATION OFPOLITICAL PARTY WEBSITES IN BRAZIL

Sérgio Soares Braga, Andressa Silvério Terra França and Maria Alejandra Nicolas

The purpose of this article is to present results of our research on Brazilian political party websites.Through a mapping of international literature on this topic, we present a proposal for evaluation ofthe websites of major Brazilian political parties and a classification of the degree to which they usethe Internet. Putting together a table that summarizes content analysis of the websites of 27 Brazilianpolitical parties that were registered in the Electoral High Court (Tribunal Superior Eleitoral (TSE))during the first semester of 2008, before the beginning of the electoral period, we came to theconclusion that most Brazilian political parties do not use the internet enough, even when evaluatedonly through the strictly normative parameters of propitiating a more transparent and accountable“representative democracy”. Furthermore, for the Brazilian case, a “normalization hypothesis” inwhich patterns of political competition that hold true in the “real world” would tend to reproducethemselves in the web cannot be proven. A third general conclusion we arrive at is that there is anassociation between political party characteristics and the way party websites are organized, althoughthis association is not as close as that which the international literature has maintained.

Keywords: Internet and politics; Brazilian political party websites; electronic democracy; politicalrepresentation.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 17, Nº 34: 357-365 OUT. 2009RÉSUMÉS

LES PARTIS POLITIQUES BRÉSILIENS ET INTERNET: UNE ÉVALUATION DES SITESWEB DES PARTIS POLITIQUE DU BRÉSIL

Sérgio Soares Braga, Andressa Silvério Terra França et Maria Alejandra Nicolas

L’objectif de l’article est de présenter les résultats de notre recherche sur les sites web des partispolitiques brésiliens sur Internet. À partir d’une incursion dans la littérature internationale sur cesujet, nous présentons une proposition d’évaluation des sites web des principaux partis politiquesbrésiliens et un classement du degré d’usage d’Internet de tous les partis nationaux. En appliquantun chiffrier d’analyse de contenu aux sites web des 27 partis politiques brésiliens ayant été enregistrésau Tribunal Supérieur Electoral (TSE) au premier semestre de 2008, avant le début de la périodeélectorale, nous avons conclu que la plupart des partis brésiliens présentent des taux déficitairesd’usage d’Internet, même s’ils ont été évalués par de stricts paramètres normatifs visant favoriserune démocratie « représentative » mais transparente et ayant un degré plus important d’accountability.En plus, il n’a pas été constaté, dans le cas brésilien, l’hypothèse de normatisation selon laquelle lesstandards de compétition politique en vigueur dans ce « monde réel » tendent à se reproduire sur laweb. Une troisième conclusion générale est l’existence d’une association entre les caractéristiquesdes partis et le type d’organisation des sites web partidaires, bien que cette association ne soit pastellement stricte comme l’indique la littérature internationale.

MOTS-CLÉS : Internet et politique; sites web des partis politiques brésiliens ; démocratie électronique ;représentation politique.