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O Machado e o Pênis “Série sem Ficção” por Nelson Batista Tembra 1ª Edição ___________________ Belém • Pará • Brasil 2008 NEOCOLONIALISMO MINERAL OS MITOS E OS INTERESSES DO PARÁ

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Page 1: OS MITOS E OS INTERESSES DO PARÁ O Machado e o Pênis · Brasileira do Ministério Público de Meio Ambiente, Rede de Informações Agro Ecológicas da Amazônia, Revista Eco21,

O Machadoe o Pênis

“Série sem Ficção”por

Nelson Batista Tembra

1ª Edição___________________Belém • Pará • Brasil

2008

NEOCOLONIALISMO MINERALOS MITOS E OS INTERESSES DO PARÁ

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Editoração e Projeto gráfico: Jorge CalderaroCapa: Adailton Portilho Costa e Jorge Calderaro

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamentoou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios,sem prévia autorização por escrita do autor.

Livro composto na tipologia CG Omega, em corpo 13 e impressoem papel off-set 75g/m2.

Contato:[email protected]

Este livro “O Machado e o Pênis” está registrado no Conselho Regi-onal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/PA, atravésda Anotação de Responsabilidade Técnica – ART - Nº. 312.476,conforme Lei Federal Nº. 6.496 de 01/12/77.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

T278m

Tembra, Nelson Batista, 1958-O Machado e o Pênis: Neocolonialismo Mineral: Os Mitos e os Interessesdo Pará / Nelson Batista Tembra. - 1.ed. - Belém, PA : [S.n.], 2008.(Série Sem Ficção)Inclui bibliografia

ISBN 978-85-908738-0-8

1. Licenças ambientais - Brasil. 2. Minas e recursos minerais - Aspectosambientais - Brasil. 3. Política ambiental - Brasil. 4. Direito ambiental Bra-sil. I. Título. II. Série.

08-4111. CDD: 363.700981CDU: 504(81)

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Eternos agradecimentos a Deus. Ao meu saudoso pai -‘em memória’, especialmente à minha mãe, e irmãos.

Agradecimentos especiais à minha esposa e filho,incansáveis companheiros, a quem me desculpo pelas limitaçõese dificuldades materiais que tivemos, por vezes, no atendimentode necessidades elementares.

Aos meus enteados. Ao meu sogro - em memória e minhasogra, cunhados e sobrinhos.

Aos meus verdadeiros amigos e a todos aqueles que sefelicitam, na medida em que o ideal de liberdade e o despertarda consciência alcançam diferentes segmentos sociais.

Aos meus colegas que me encorajaram, dizendo quemeus ideais e esforços seriam em vão, pois representariam aluta do pequeno Davi contra o gigante poderoso Golias.

Agradecimentos

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Pensamento

A árvore, quando está sendo cortada,observa com tristeza que

o cabo do machado éde madeira.

(Provérbio árabe)

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Prefácio

Com um título meio impróprio para menores e, em algunsmomentos, boa dose de humor e ironia nas entrelinhas, este livrotraz uma coletânea de artigos do autor, publicados em diversos sitesna internet e em revistas e boletins técnicos especializados, na temáticaambiental, sempre buscando a compreensão dessas questões de for-ma transversal e analiticamente.

‘O Machado e o Pênis’ traz citações do Primeiro Livro deMoisés, ‘Gênesis’, o qual, segundo o autor, contém os primeirosregistros históricos conhecidos sobre meio ambiente, política, refor-ma agrária, a criação das leis e sobre a escravidão nas variadas for-mas.

O livro passa pelo processo de colonização do Brasil, expli-cando razões históricas da exaustão da Mata Atlântica e a sua literalpermuta por ‘bugigangas’, pelos próprios índios, alertando para operigo da repetição de erros cometidos no passado sobre o futuro daAmazônia. Também traz sobre a história da imprensa no Estado, mos-trando que os interesses políticos e econômicos sempre caminharamlado a lado com a imprensa no Pará.

Um dos pontos mais importantes levantados nesta obra trazrevelações sobre o cerne de problemas que têm sido publicados naimprensa, com mais freqüência, sobre atos de protestos de popula-ções tradicionais e movimentos sociais, como conseqüência da im-plantação e operação de projetos altamente impactantes.

O livro traz uma análise da legislação ambiental brasileira,aplicada a um exemplo didático real da área de mineração, e mostraque o licenciamento não se destinaria apenas para monitorar diver-sos ambientes - físico, biótico, antrópico, socioeconômico - nas áreasde influência dos projetos. Numa reflexão mais apurada, podemos

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observar que o autor enfatiza que o licenciamento que deveria servircomo instrumento técnico, e não político, de contrato entre o estadoe o empreendedor, no estabelecimento de justas compensações deimpactos ambientais, não se realiza com a máxima eficiência, comodita a lei, em defesa dos legítimos interesses difusos do Estado doPará.

Por último, o livro traz uma abordagem sobre os estoques ouativos ambientais brasileiros, aí incluídos os recursos naturaisrenováveis e não renováveis. A conclusão é que há uma grandedistorção na estrutura de cálculo do Produto Interno Bruto brasileiro,pois o valor monetário da perda ou redução dos estoques ambientaisé contabilizado como ‘ganho’ e acaba embutido na receita dasmineradoras, por exemplo, mas não deveria fazer parte da sua renda.

Para o autor, em contabilidade ambiental isso significaria aoabsurdo de considerar inalterados os estoques das reservas minerais,mesmo após o aceleradíssimo processo de extração que vem sofren-do no Estado do Pará, e ‘isso é algo para acusar inveja aos maioresilusionistas do planeta’.

Ai fica a pergunta. Seremos o próximo deserto do mundo? Otemor é muito grande. A ameaça causa aflição. A realidade está cadavez mais próxima. Até que os governos e as autoridades constituídasreconheçam que no vasto e rico universo amazônico, como em qual-quer outro ponto do planeta, o homem e a natureza são elementosimportantes. Resta preservar a Amazônia. Pois, ela sempre continua-rá sendo necessária. O pulmão do mundo!

Jorge CalderaroJornalista, historiador, escritor, poeta e ambientalista.

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Apresentação

Este livro reúne uma coletânea de artigos do autor,baseados em pesquisa bibliográfica e experiência pessoal,publicados em saites na internet, dentre outros o AcordaPara,OgloboOnline, PortalAmazônia, Koinonia, Centro de Estudosem Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (SP), AssociaçãoBrasileira do Ministério Público de Meio Ambiente, Rede deInformações Agro Ecológicas da Amazônia, Revista Eco21, PortalEcoDebate, Eco e Ação, Jornal ‘O Liberal’, e Revista Cidadania eMeio Ambiente.

A coletânea traz à reflexão circunstâncias sob as quais,diante de ausência de políticas públicas, ou políticas públicasdeficientes e mal conduzidas, restam como ‘ferramentas’ aopobre mais amazônico o machado, para derrubar a floresta evendê-la por ‘preço de banana’, e o pênis para multiplicarproblemas sociais.

É uma contribuição ao conhecimento e à reflexão, atravésde notícias, informações, artigos de opinião e artigos técnicos,trazendo à discussão cidadania e meio ambiente de formatransversal e analítica..

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Transamazônica

Cinturão da verde veste

Na floresta Tropical

Trânsito livre para os sonhos

Dos pioneiros de então

Que deixaram suas terras

Sua gente, seu torrão

E plantaram na Amazônia

Esperança e coração

Nos caminhos dessa estrada

De tantas vidas ceifadas

Mas de trinta anos de abandono

Sobreviveram os mais fortes

O cacau, o gado, e o colono

Este último é um bravo

Traz a história nas mãos

No suor que cai do rosto

E num profundo desgosto.

O que produz não escoa

Se a estrada não é boa

Imaginem o travessão

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É pequeno produtor

Vive entregue à própria sorte

Falam em financiamentos

Mas os juros são de morte

Já passou parte da vida

À margem da rodovia

O asfalto é utopia

É assalto todo dia

Ora é lama, ora é poeira...

É a puta que pariu .....

Um lembrete aos governantes

TRANSAMAZÔNICA É BRASIL.

Edgar Macêdo - Operário das [email protected]

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A história se repete

O Primeiro Livro de Moisés, Gênesis, apresenta os primeirosregistros históricos conhecidos sobre o meio ambiente, sobre a cria-ção dos céus e da terra e de tudo o que nela há. Traz ensinamentos,desde a formação à queda do homem e a sua ação depredadora sobreo meio ambiente, a corrupção do gênero humano ou a perversão dosprincípios éticos e morais, a depravação. Diante de tanta maldade eimoralidade que se estendem aos dias atuais, até Deus haveria searrependido de ter feito o homem na terra, pois já era continuamentemau o desígnio no coração humano.

As desigualdades sociais já existiam desde os tempos anti-gos, agravando-se no período do Império Babilônico onde, como acon-tece na atualidade, classes sociais mais ricas dominam as mais po-bres intelectualmente, militarmente e economicamente.

O Antigo Testamento contém registros históricos sobre polí-tica, ou a ciência que governa os povos e estabelece a maneira hábilde agir e tratar. Segundo a obra, Moisés foi o grande mediador entreDeus e os outros homens.

Desde os tempos bíblicos, estabeleceram-se muitas leis, comoa dos altares, que garante bênçãos em troca de louvor e ofertas oudoações pacíficas e espontâneas; as leis acerca dos servos ou a escra-vidão; as leis acerca da violência e da propriedade; as leis civis ereligiosas; as leis sobre o falso testemunho e a injúria; as leis sobreos deveres dos juízes e, até mesmo, a promessa da posse da terra - aítemos as primeiras citações sobre o que seria a reforma agrária.

De lá para cá, pouca coisa mudou e a história vem se repetin-do em ondas. Desde sempre, o homem insiste em contrariar ou ten-tar driblar as obrigações estabelecidas, até pela entidade supremadetentora de poder e controle sobre os homens e a natureza, quem

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diria as estabelecidas tacitamente entre os homens ou simplesmenteimpostas ao homem pela sociedade. Historicamente, isso vem ocor-rendo em benefício de interesses privados de minorias, em detrimen-to dos interesses da coletividade.

Futuro da Amazônia é preocupante

No princípio tudo era verde, grandes florestas reluziam sob osol. Parece que tudo ocorreu por volta de 10 mil anos atrás, quando aterra era pouco habitada e não havia batalhas mortais, a disputa porterritório. Tudo era calmo, os habitantes eram formosos e robustos enão faltavam rios com alimentos. Pensava-se que não haveria nadaque pudesse interessar ao outro mundo conhecido por ‘civilizado’.

De repente, os que aqui habitavam não seriam mais merece-dores dessas dádivas. Talvez precisassem da ordem de reis paracomandá-los e dos conhecidos jesuítas para convertê-los a Deus.

A Terra de Santa Cruz passou a ser a alegria de novos habitan-tes. Rebeliões começaram a surgir na floresta. Começava a vinda dosdenominados ‘colonos’, com interesses de descobrir ouro ou pratapara os seus reinados. Logo chegaram à conclusão de que poderia seraproveitada a madeira, chamada pelos nativos de ‘ibirapitanga’, de-pois denominada de ‘pau-brasil’.

Foi assim que começou a devastação da Mata Atlântica, umadas mais belas e diversificadas do planeta, com mais de 25 mil espé-cies de plantas.

É interessante notar que aquilo que a natureza criou o homemteve o prazer de destruir, paulatinamente, para atender interesses co-merciais e satisfazer classes mais abastadas. A devastação da MataAtlântica teve início no século XVI, prosseguindo até os dias atuais,

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quando, restam menos de 7% da cobertura florestal original, situadosbasicamente nas vertentes da Serra do Mar.

O pau-brasil foi o primeiro monopólio estatal usado parapagamento dos juros do primeiro empréstimo externo tomado peloBrasil. O pior é que a floresta ‘foi para o brejo’ com a ajuda dospróprios índios, que trocavam madeira por ‘bugigangas’ com trafi-cantes espanhóis, ingleses, franceses e portugueses.

Desde cedo, nosso país esteve nas mãos de traficantes quenão respeitaram mais nada, e quando perceberam que o pau-brasilestava sendo exterminado, compilaram listas de espécies potencial-mente exportáveis, plantas medicinais, aves e minérios.

A ignorância pairava quanto aos dispositivos e recursos le-gais de proteção ao meio ambiente. A falta de critério constituiu-seem lei e ainda hoje pouca atenção se dá ao aspecto humano, ou aimportância de se manter o meio ambiente saudável. Para valorizar oglobo terrestre é preciso primeiro valorizar o homem. Falta consciên-cia naqueles que têm o poder nas mãos, mas não atuam adequada-mente.

Neste contexto, é preocupante o futuro da Amazônia e emparticular do Estado do Pará, para muitos um pulmão que vai sedeteriorando, pois o que ocorria antigamente se repete de formadeslavada, em concomitância com apadrinhamentos políticos. Não émera coincidência que, ainda hoje, soframos conseqüências de malesque vêm de longe.

A Coroa portuguesa, em um momento histórico de dificulda-de financeira, resolveu arrendar a ‘colônia’ a ‘homens de negócios’que arriscariam capital próprio na colonização e exploração. O acor-do era um monopólio de comércio e colonização e compreendia comoprincipais compromissos dos arrendatários o envio de seis navios,anualmente, a exploração, o desbravamento e o cultivo anual de umanova região de 300 léguas, a construção de fortalezas e o compromis-

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so de guarnecê-las durante o prazo do contrato e, finalmente, adestinação à Coroa, no segundo ano do arrendamento, da sexta partedas rendas auferidas com os produtos da terra, e no terceiro e últimoano do contrato, a quarta parte.

Logo após o estrago ambiental ocasionado pela exaustão dopau-brasil vieram na esteira dos interesses a exploração de outrasespécies de madeiras exportáveis, o plantio e exploração da cana-de-açúcar, a exploração indiscriminada e predadora de recursos mine-rais, a cafeicultura, a construção de ferrovias, enfim, um longo elucrativo reinado em terras brasileiras. O Brasil foi colocado no mapado comércio planetário, porém, junto com os dividendos que logoemigravam - e até hoje continuam a emigrar - para o exterior, seguiu-se à devastação das florestas, a escravização indígena em larga esca-la, os desatinos do monopólio e a monocultura, a infâmia inomináveldo tráfico negreiro, a vertigem do lucro fácil, o latifúndio, a pirâmidesocial exclusivista e a ganância desenfreada – vícios que o Brasil, emvez de eliminar, incorporou.

Valorizar o homem

A independência do Brasil foi declarada em 07 de setembrode 1822, por Dom Pedro I, príncipe-regente da Coroa portuguesa,porém, ainda é uma realidade distante para ser alcançada. O adjetivo‘independente’ possui vários significados, dentre eles, o de não sersubordinado, o de não precisar trabalhar para viver, o de não serpassível de influência, o de ser livre de autoridade ou de domínio dosoutros e o de ser soberano e não relacionado com nenhum partido.

Trazemos para reflexão o processo histórico que culminou naformação do atual território brasileiro. Para que se tenha uma com-preensão ampla do significado da palavra ‘território’ e do que está

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implicado nesta compreensão, território não é apenas o conjunto deformas naturais, mas um conjunto de sistemas naturais e artificiaisjunto com as pessoas e as instituições que abriga.

Um fato determinante na configuração histórica do nosso ter-ritório foi a implantação de uma colônia de exploração essencialmen-te mercantil, fundamentada no trabalho escravo e que concedia gran-de autonomia aos senhores de engenho, latifundiários que se relacio-navam diretamente com a metrópole, contribuindo para que a desin-tegração nacional ocorresse desde o início do período colonial.

As terras eram distribuídas a quem as requeresse, desde quedemonstrasse condições para explorá-las, caracterizando uma coloni-zação semiprivada onde os ‘colonos’ possuíam o máximo de autono-mia possível, e disso resultou o estabelecimento dos grandes empre-endimentos agrários e mínero-mercantis no Brasil.

Através da doação de terras, a Coroa transferia o ônus dacolonização a empreendedores particulares e, ao mesmo tempo, pre-servava seus direitos sobre o monopólio do comércio externo, a co-brança de impostos e as questões militares, além de obrigações com-pensatórias, que eram impostas nos contratos de concessão, desdeàquela época, mas nem sempre ou quase nunca eram cumpridas.

Em função das atividades econômicas desse processo, apesarde ainda persistirem alguns vazios de ocupação territorial, o litoralbrasileiro foi paulatinamente sendo povoado até a foz do rio Amazo-nas, quando, em 1616, os portugueses fundaram a cidade de Belém.

Persistindo o mesmo tipo de ocupação - agora pelo interiorda região amazônica - até os dias atuais, mantêm-se os velhos cenári-os com novos atores e figurinos, adjetivados com a sofisticação denovos vícios e recursos tecnológicos.

Se levarmos em conta que em cada quilômetro quadrado dafloresta amazônica ainda existem mais espécies vegetais ebiodiversidade do que em toda a Europa, controlar o espaço amazôni-

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co é uma questão de vital importância. Mas é preciso primeiro valori-zar o homem, ou a razão de se manter o meio ambiente ecologica-mente correto.

Fingir que acredita

De todas as liberdades a mais inviolável é a de pensar, quecompreende também a liberdade de consciência. Lançar reprovaçãoenérgica sobre aqueles que não pensam como nós é simplesmentequerer essa liberdade para si, mas recusá-la aos outros.

A ação ou efeito de corromper, a decomposição, a putrefa-ção, a decadência, a perversão ou a deterioração dos princípios éti-cos e morais e a depravação têm persistido desde o início dos tem-pos, não só pelos maus políticos, mas também por pessoas jurídicase pelo cidadão comum, pessoa física, com ou sem o poder de decisãosobre o destino das outras pessoas.

A corrupção se apresenta de formas distintas, desde a sim-ples influência moral, sem sinais externos perceptíveis, até a pertur-bação completa do organismo e das próprias faculdades mentais.

Infelizmente, os corruptos sobrevivem através da inferiorida-de moral e intelectual do próprio homem, e no caso político, doeleitor.

A ação maléfica que a corrupção exerce faz parte dos flagelos,das grandes calamidades públicas e dos castigos e tormentos contraos quais luta a humanidade.

É possível estabelecer analogia entre obsessão - a ação persis-tente de maus espíritos sobre os indivíduos - e corrupção. Mas, dife-rentemente do espiritismo, onde a obsessão é uma prova ou expia-ção, e como tal deve ser aceita, a corrupção é inaceitável.

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A corrupção é uma espécie de doença, porém, enquanto asenfermidades resultam de imperfeições físicas que tornam o organismoacessível às influências exteriores, a corrupção resulta sempre da im-perfeição moral. Em todos os casos de obsessão a prece é o mais pode-roso agente contra o espírito obsessor, no caso da corrupção é o voto.

Para nos preservarmos contra as doenças, fortificamos o cor-po; para nos prevenirmos da corrupção é necessário o fortalecimen-to, a valorização, a educação e a conscientização do próprio homem.Esse auxílio se torna necessário, pois o flagelo da corrupção se degene-ra em subjugação, especialmente na condição em que vive a maioriada população brasileira nas áreas de saúde, educação e desemprego.

O eleitor com o cérebro já atrofiado pela pobreza extrema,pela miséria e ignorância é mentalmente alienado e sofre verdadeiraslavagens cerebrais, sendo privado, na maioria das vezes, da própriavontade e do livre arbítrio.

Basta assistir e assimilar propagandas enganosas e acabar acre-ditando em promessas absurdas, veiculadas nos horários de propa-ganda gratuita e, principalmente, na mídia milionária paga.

Quem tem dinheiro não compra tudo o quedeseja, muito menos a vergonha e a

consciência dos outros...

Diante do fortíssimo poder da literal ‘descarga’ de convenci-mento, todos os dias, em nosso subconsciente, através da milionáriamídia eletrônica, escrita e televisiva....

Devemos admitir que estejamos equivocados, ao concluir,prematuramente, em muitos de nossos artigos e crônicas já publicadas,que a Vale seria o ‘dragão da maldade’, conforme diria o jornalistaLúcio Flávio Pinto.

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Coitadinha da Vale! Como pudemos acreditar nisso? Creioque estivemos, provisoriamente, sofrendo de ‘estrabismo mental’, ouque um dos dois neurônios que possuímos estivesse dormindo, en-quanto o outro estava de férias.

Ao contrário do que muitos poderiam pensar, ela não visaexclusivamente o lucro e não está preocupada com imagem empresa-rial perante a opinião pública, nacional e internacional, mas com apreservação ambiental em todo o planeta, em todo o Brasil e, princi-palmente, com os problemas sócio-econômicos do Estado do Pará.

Não sei o que seria de todos nós, cidadãos da Terra, brasilei-ros, paraenses ou não, sem a Vale contribuindo e traçando o destinodas presentes e futuras gerações em médio e longo prazo.

‘Afinal de contas, segundo estatísticas do IBGE, o Estado doPará evoluiu bastante em relação ao que já foi no passado, pois agoraé o décimo terceiro maior contribuinte do Produto Interno Bruto (PIB)brasileiro e o décimo sexto em Índice de Desenvolvimento Humano(IDH). Seria ledo engano de quem pensasse que, se as coisas continu-assem do jeito que iam, logo seríamos o primeiro em contribuição aoPIB e o último em IDH.’

No próximo Natal, enviaremos longa carta para Papai-Noel,na Lapônia, pedindo luz, saúde e recompensas para aqueles que sãocorretos, mas que foram injustiçados e mal interpretados.

Para descontrair, mudando de assunto, juramos que é só co-incidência, finaliza esta retratação com um antigo verso de autoriadesconhecida:

Eram dez horas da noite

O sol raiava no horizonte

Enquanto os passarinhos pastavam no campo

Os elefantes voavam de galho em galho

Eis que um jovem ancião

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Grande pequeno pensador

Sentado em uma pedra de madeira redonda de quatro lados

Lendo um jornal sem letras

Ao reflexo de uma lamparina apagada

E lia: melhor morrer do que perder a vida

E continuando prosseguia

Eram quatro os três grandes profetas:

‘Jacob e Jeremias’.

Mitomania paraense:Você sabia que mentir estimula o cérebro e

deixa as pessoas mais criativas?

Quanto mais você mente mais precisa reorganizar a realida-de. Mentindo você esta sendo criativo. Então, não se martirize, men-tir não é um exagero.

Mentir faz bem, que tal vinte e cinco mentiras por dia? Issomesmo, vinte e cinco mentirinhas por dia deixa a pessoa mais solta.Toda mentirinha nos salva de uma situação inusitada. É normal desete a vinte e cinco mentiras por dia, agora, tem gente que mente semperceber. Alguns mentem para se sentir superiores aos outros. Pou-cos assumem não mentir, dizem que é somente uma omissão, ouquem sabe, uma desculpa ‘furada’. Mas saiba que mentir é tão natu-ral quanto o respirar ou sentir algum desejo.

Sem mentiras as pessoas que formam uma sociedade iriam sedesestimular. Todos têm que mentir um pouquinho, para o bem daspessoas e de todos. Qual foi a maior mentira que você já contou equal foi a maior que já contaram pra você, lembra?

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Agora, atire a primeira pedra quem nunca contou uma menti-ra. Mentir demasiadamente é doença e chama-se mitomania, ou seja,a vontade de criar fatos e mitos para mostrar superioridade e se exibiraos outros, embora a verdade machuque.

Cabe o discernimento de cada um, pois, na maioria das ve-zes, a mentira vira ‘caso’. O jornalista não mente, ele apenas ‘adap-ta’ a realidade.

200 Anos de Imprensa no Brasil,“A história da Imprensa no Pará”

Basta-nos observar os anais da história política paraense e,sem sombra de dúvida, iremos comprovar que os interesses políticose econômicos sempre caminharam lado a lado com a história daimprensa no Pará. Tem-se um manancial de exemplos.

De início, retornemos ao final do século XIX e início do sécu-lo XX, período que compreende a consolidação do movimento repu-blicano no Brasil. Retornemos, especificamente, ao ano de 1876, datado início de vida de um dos mais influentes periódicos da imprensaparaense. Trata-se do diário A Província do Pará, de propriedade,inicialmente de Joaquim de Assis, e, posteriormente, do pragmáticopolítico Antônio Lemos.

Este último transformou A Província em um jornal eminente-mente político e panfletário dos interesses de uma elite aristocráticaque comandaria o Pará por um longo período. Era a chamada Oligar-quia de Lemos, dona de terras produtoras de borracha, principal mo-tor da economia paraense até o término da Segunda Grande Guerra.

Nesta mesma época, uma outra oligarquia, a cacaueira, tor-nou-se proprietária de um dos jornais que, ao lado de A Província do

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Pará, compunha o leque de periódicos de grandiosa influência. Fala-mos da Folha do Norte, periódico panfletário do político Lauro Sodré.A partir do esteio da Folha, Sodré realizava contendas com o objetivode derrubar o poderio político de Lemos.

O ringue político da época resumia-se no confronto de pala-vras entre a Folha do Norte versus A Província do Pará. Todavia, parase ter um vislumbre da gravidade da disputa, em 30 de agosto de1912, depois de muitas reviravoltas políticas, os asseclas de Lauroordenaram a incineração do prédio da Província, decretando, destaforma, o fim da Oligarquia de Lemos.

Hoje, os embates entre jornais estão representados por OLiberal, de propriedade da família Maiorana, caciques de grande in-fluência sobre a opinião pública e o Diário do Pará, pertencente aodeputado federal Jader Barbalho.

Embora tenham sido criados como guarida essencialmentepolítica, há muito, ambos travam disputas de cunho comercial-políti-co pela liderança de vendas e prestígio.

Salvemos a Amazônia

“Salvemos a Amazônia”- assim publicou o panfletário perió-dico A Folha do Norte, há 38 anos atrás, em 22 de julho de 1967,referindo-se ao VII Congresso Nacional de Municípios, cuja conclu-são principal dizia respeito à integração (ou ao início da desintegra-ção?) da Amazônia.

Segundo o periódico, o desenvolvimento da imensa regiãoesteve sempre na preocupação de cada delegado da reunião. E o dis-curso central de integração, de que foi relator o próprio fundador daAssociação Brasileira dos Municípios, escritor Osório Nunes, foiaplaudido de pé no Teatro da Paz. Ele concitou os congressistas a que

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não deixassem morrer as palavras otimistas e incentivadoras de quantosbrasileiros viessem dos mais longínquos rincões da Pátria dizer “pre-sente” à batalha pela conquista da selva e de suas riquezas, da qualdependeria o próprio futuro da Nação.

Falava-se então da fauna, do reino das onças pintadas, dascapivaras, dos jacarés, dos guarás, da imensa variedade de aves, asmais belas do mundo. Falava-se então da flora exuberante e variadacom uma paixão otimista e prática de quem sabia serem suapredestinação rasgar a mata virgem para descobrir-lhe o seio e des-frutar-lhe os encantos. Falava-se então das riquezas imensas, do pe-tróleo, do manganês, dos minérios raros que tanto necessitávamos àsvésperas de nos tornarmos “potência nuclear”.

Falava-se da infra-estrutura necessária. Das estradas que pre-cisavam ser construídas, dentre elas a Transamazônica e a Cuiabá-Santarém. Da Belém-Brasília que precisava ser asfaltada. Das frotasfluviais que precisavam navegar pelos milhares de igarapés, de furos,de afluentes gigantescos, levando civilização pelas estradas líquidas,autênticas veias por onde deveria correr o sangue do progresso. Daeducação para o desenvolvimento, onde as escolas seriam em verda-de instrumentos de integração do homem ao meio ambiente. Da saú-de, clamando pela instalação de hospitais ou mesmo de simples pos-tos ambulantes, instalados em pequenos barcos, visitando a gentesofrida do imenso interior, libertando-a das humilhantes e vergonho-sas epidemias originárias do subdesenvolvimento.

Falava-se sem preocupação divisionista sem querer enxergarduas, três, ou mais regiões amazônicas, quando só existia uma, hámuito, esquecida e abandonada, e clamando integração à comunida-de nacional através de um desenvolvimento uniforme e urgente. Rei-vindicava-se, inclusive, tratamento diferenciado na questão das isen-ções fiscais, atentando-se para interesses secundários e deixando delado o que deveria ser a preocupação de todos os amazônidas, detodos os brasileiros: desenvolver partindo da criação de uma infra-

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estrutura; rasgando-se estradas; melhorando-se portos; construindo-se ou adquirindo-se frotas para o transporte fluvial; educando e zelan-do pelo homem. Somente assim poderiam ser atraídos os capitaisnecessários à abertura de clareiras no meio da mata virgem.

Pensando na pátria ameaçada de perder esta imensa região,que corresponde a 60% do território nacional; se não fossem atendi-dos aos anseios de desenvolvimento do mundo moderno, super-povo-ado e faminto; todos foram convocados na autêntica cruzada em bus-ca do “tempo perdido”.

Hoje, a história se repete de forma inversa, pois temos decontinuar gritando “Salvemos a Amazônia” não para integrá-la ao ter-ritório nacional, pois que ela pertence ao mundo globalizado e háquem diga que sofra ameaça de invasão por países do “primeiro mun-do”. Agora, devemos defendê-la da degradação total, principalmente ahumana, que é decorrente de problemas sócio-econômicos históricos.

Licença Ambiental obrigatória:Qual a utilidade do licenciamento

ambiental, na prática?

O cerne dos problemas que ultimamente têm sido publicadosna imprensa, cada vez com mais freqüência, sobre atos de protestosdas populações tradicionais, índios e quilombolas, brancos e mesti-ços contra grandes grupos econômicos, com destaque para a Compa-nhia Vale do Rio Doce, como conseqüência da implantação e opera-ção de grandes projetos de extração mineral altamente impactantesque provocam significativa alteração dos ecossistemas naturais, emgrande parte, está no licenciamento ambiental desses empreendimen-tos. O procedimento é regulamentado, dentre outros dispositivos,

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pela Resolução 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente -CONAMA.

O licenciamento não se destina apenas para monitorar osdiversos ambientes físico, biótico, antrópico e socioeconômico nasáreas de influência dos projetos. Serve, ou pelo menos deveria servirde uma espécie de contrato, entre o estado e o empreendedor, noestabelecimento das justas compensações e medidas mitigatórias ede incremento de impactos ambientais.

Um tópico das notas distribuídas à imprensa, pela Compa-nhia Vale do Rio Doce, tentando justificar-se dos inúmeros atos deprotesto é emblemático para realçar alguns equívocos que no Pará setem cometido na concessão de licenças ambientais.

‘O apoio da Vale às iniciativas de proteção e desenvolvimen-to sócio-econômico das comunidades indígenas, dentre eles a Parkatejê,os Xikrins etc. é uma atitude voluntária’, declara a empresa nos docu-mentos.

’Voluntário’ seria também, pelo mesmo raciocínio, o apoiodado pela Pará Pigmentos S/A, ex-empresa do Grupo Vale que explo-ra uma mina de caulim no município de Ipixuna do Pará, às comuni-dades indígenas em cujas terras passam o mineroduto que transportao minério até o complexo portuário de Vila do Conde. Pois bem,alguns meses atrás, a Fundação Nacional do Índio acusou a empresade não estar cumprindo os compromissos assumidos com os índios,enquanto estes se queixavam do tratamento ‘arrogante e desrespeito-so’ a eles dispensado por alguns executivos.

A relação da empresa com as comunidades indígenas queocupam terras situadas nas áreas de influência de seus projetos, comose vê, é marcada pela ambiguidade, como ambígua tem sido tambéma sua relação com a sociedade paraense. A empresa, que utiliza afigura do índio no seu marketing promocional, ignora a passagem de

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mineroduto e ferrovia nas terras indígenas e considera como simplesfavores - ou ‘atitudes voluntárias’ - todo e qualquer tipo de apoio.

Ao agir assim, a Vale faz, em benefício próprio, uma inter-pretação generosa dos dispositivos da Lei 5.887, a Lei Ambiental doEstado do Pará. Mas a culpa não é só dela, e nem sequer é principal-mente dela. O que acontece é que a própria sociedade paraense nãosabe aproveitar, em toda a sua plenitude, os recursos contidos nalegislação. Se o fizesse, a empresa jamais poderia classificar como‘atitudes voluntárias’ nem considerar simples ‘favores’ o cumprimen-to de compromissos aos quais estaria obrigada por imposição legal.

A Lei 5.887 estabelece, por exemplo, que o Conselho Estadu-al de Meio Ambiente, o Coema, definirá através de resolução as ativi-dades e obras que dependerão da elaboração de Estudo de ImpactoAmbiental e de Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (Eia/Rima).

É através dos instrumentos de controle, ou projetos ambientais,segundo a mesma lei, que devem ser previstas e definidas, com ante-cedência, todas as medidas e ações. E não somente as de compensa-ção, mas as de mitigação de impactos negativos e de incremento dospositivos, definindo-se, principalmente, as de natureza socioeconômicae ambiental.

No Pará, o que tem acontecido - e no caso recente aconteceucom o Projeto Bauxita de Paragominas - é que nem o Conselho Esta-dual de Meio Ambiente – Coema, que tem ampla representação dasociedade civil, e nem a própria população, nas audiências públicasque antecedem à conclusão dos estudos, têm tirado proveito dessasdisposições da lei.

O documento final, com recomendações difusas, acaba sen-do mesmo aquele apresentado pela mineradora e previamente prepa-rado sob a sua orientação direta. Depois, quando procuram - sejambrancos ou índios - buscar compensações, o que buscam na verdade

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são direitos inexistentes, pois, fora dos parâmetros que expressamen-te condicionam o licenciamento ambiental, toda e qualquer ação daempresa é considerada ‘voluntária’ e ‘de livre iniciativa’.

Teoria da conspiração

Apesar do neocolonialismo mineral que vive o Estado do Pará,a democracia participativa deveria garantir seu espaço e estimular ademocracia formal a ampliar a influência da sociedade civil nas deci-sões de governo. Essa dinâmica deveria alterar o próprio significadode ‘governar’.

Surgiria uma nova perspectiva de tomada de decisão em queos atores ‘não-governamentais’ passariam a dividir responsabilidadescom os gestores públicos, tomando parte efetiva no espaço público.Esse novo modo de exercer a democracia deveria ser em verdade, umprocesso para permear todas as relações sociais, assumindo um cará-ter ético e político, objetivo e subjetivo, macro e micro.

Quem empreende esforços na difícil tarefa de consolidar ademocracia participativa depara-se com o desafio de conciliar a efi-cácia das decisões com a ética democrática. Para tanto, deve contar-se com a vontade política dos governantes de ceder parte do poder eseria esperada dos agentes desses espaços de participação a capaci-dade de aperfeiçoar ao máximo.

O desafio é tanto o de conquistar o espaço de participaçãoefetiva, como o de consolidar os modelos de co-gestão participativa esustentável, quando esses espaços públicos são apropriados pela po-pulação. O exercício da democracia participativa exige, porém, es-forços coletivos constantes de todos, sociedade e governo.

Além de mais complexas, as decisões participativas exigem

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muito mais trabalho em reuniões, negociações e organização de pro-cessos do que as decisões centralizadas e sem participação. Logo,seria importante que não se desperdiçasse o tempo e a energia dosparticipantes nessas reuniões. Nelas, um grande número de pessoastem de tomar decisões necessárias para atingir objetivos estabeleci-dos em pouquíssimo tempo, sem se descuidar da ética.

Os problemas se refletem na postura de cada indivíduo nasaudiências públicas. Daí costuma surgir obstáculos para o êxito dareunião em função da atuação dos participantes. Diferentes pontos devista, interesses e objetivos podem entrar em choque e agravar asituação se as questões inerentes ao processo não forem esclarecidasou negociadas.

Diferenças de formação, de experiência prévia e de papelinstitucional de cada participante estabelecem essa desigualdade. Aherança de uma cultura política clientelista, personalista e autoritaristacompromete a qualidade e a ética da participação.

Tudo isso acaba alimentando alguns ‘jogos de poder’ que po-dem ter nenhuma, pouca ou muita relevância para o processo decisório.O problema fica mais sério quando esses jogos se sobrepõem aosobjetivos, não só de cada encontro ou audiência pública, mas doprocesso participativo geral. Com o passar do tempo, o participantede boa fé começa a ficar descrente do processo e logo acaba se reti-rando, frustrado pela sensação de exclusão e por estar em um espaçoem que reina apenas a disputa do poder. A falta de ética e de eficáciatraz o esvaziamento do processo, tanto em quantidade como em qua-lidade.

Ninguém questiona a alta complexidade de se pensar, decidire agir coletivamente. É algo que exige esforço de abertura em relaçãoao outro, capacidade de negociação, tolerância, paciência, agilidadee disciplina, entre outros requisitos.

Os grandes perigos de uma reunião participativa são os me-

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canismos autoritários típicos de uma cultura política antidemocrática,reproduzidos em maior ou menor escala pelos participantes por hábi-to ou intencionalmente.

É importante saber identificar esses mecanismos e agir paraque os participantes os compreendam e para que o grupo possa subs-tituí-los por alternativas democráticas, contrárias da indiferença, dacena oculta, da disputa retórica, da desfocalização, da generalizaçãode discurso, da teoria da conspiração ou síndrome da perseguição.

Os mitos e os interesses do Pará

O jornalista Frank Siqueira publicou reportagem, em 15 defevereiro de 2004, no Caderno PAINEL de O LIBERAL, onde somos oentrevistado, juntamente com o geólogo e ex-diretor da SecretariaEstadual de Meio Ambiente Prof. Dr. Luis Ercílio do Carmo FariaJúnior, sob o tema: Pará ameaçado de perder licença ambiental.

Um dos maiores complexos industriais de produção mineraldo mundo, as minas de ferro e manganês da Companhia Vale do RioDoce, em Carajás, foram implantadas e começaram a produzir emmeados da década de 80, sem prévio licenciamento ambiental. Doconjunto faziam parte ainda as suas plantas de beneficiamento, asestradas de acesso, toda a infra-estrutura de energia elétrica, incluin-do subestação e mais as linhas de transmissão e distribuição e até aferrovia que liga a província mineral, em solo paraense, ao porto deSão Luís do Maranhão, com quase 900 km de extensão.

O licenciamento só começou a ser feito a partir de 1995,quando foi editada a Lei Estadual 5.887, de nove de maio daqueleano, que instituiu no Pará a Política Estadual de Meio Ambiente. Essetipo de licenciamento continuou sendo de atribuição federal e, por-

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tanto, de responsabilidade do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, somente em áreas espe-cíficas, como as terras indígenas, as florestas nacionais e nos casosde rios que cortam mais de um Estado. Nesta situação se enquadrari-am, por exemplo, os licenciamentos ambientais para implantaçãodas hidrovias do Araguaia/Tocantins e do Teles Pires/Tapajós.

Essa questão voltou à mesa de debates restritos apenas à co-munidade tecnológica, desde fevereiro de 2004, quando começarama circular, em Brasília, informações dando conta de que o governofederal pretendia retirar dos Estados o direito de conceder as licençasambientais para grandes projetos nas áreas de energia elétrica, petró-leo e mineração.

A medida, caso viesse – ou venha - a ser adotada, beneficiaria- ou beneficiará duas grandes empresas - a Petrobrás e a CompanhiaVale do Rio Doce - e enfraqueceria política e economicamente doisEstados: Rio de Janeiro e Pará.

No Rio de Janeiro, a mudança estaria sendo estudada sobencomenda para atender a uma reclamação da Petrobrás. A empresapretendia construir um oleoduto de 600 km para escoar o óleo daBacia de Campos até São Paulo. A governadora do Rio, RosinhaMatheus, em rota de colisão com o Palácio do Planalto, bateu o pé efez a exigência: ela só permitiria a execução da obra se a Petrobrás,por decisão do Ministério de Minas e Energia, compensasse o Estadocom a instalação, em seu território, de mais uma refinaria de petróleo.

No caso do Pará, a situação não seria muito diferente. A Com-panhia Vale do Rio Doce aguardava, desde junho de 2003, a conces-são da licença ambiental de instalação de um projeto para lavra debauxita no município de Paragominas. A licença, pelo que se dizia,estava pronta desde àquela época na Secretaria Executiva de Ciência,Tecnologia e Meio Ambiente - SECTAM, mas teria sido engavetadapor ordens expressas do governador Simão Jatene. Sua concessão fi-caria condicionada ao atendimento, pela Vale, da agenda de com-

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promissos que lhe apresentou o governo, mais ou menos na mesmaépoca, exigindo uma série de compensações pela suposta escolha deSão Luís para implantação do seu pólo siderúrgico.

O exemplo do que aconteceu no Rio de Janeiro, onde a faltade um acordo manteve em suspenso a decisão sobre o escoamento doóleo da Bacia de Campos, aqui persistiu também o impasse: a Valenão havia atendido reivindicações que lhe foram apresentadas pelogoverno do Estado e emitia alguns sinais de que não pretendia fazê-lo. Enquanto isso, a licença permaneceu retida na SECTAM e, semela, não haveria como iniciar as obras de implantação da mina debauxita.

No Rio de Janeiro, quando alertada sobre as possíveis conse-qüências de seu gesto e para os riscos de represálias, a governadoraRosinha Matheus contra-atacacou com uma única frase: ‘Eles nãopodem tirar o mar do Rio’. No caso do Pará, a Vale tem ferrovias etrens. Quem sai perdendo é o Estado.

A anunciada federalização do licenciamento ambiental paraobras nas áreas de petróleo, mineração e energia elétrica, se concreti-zada, significaria – ou poderá significar - um retrocesso e, no caso doPará, uma volta à situação anterior a 1995, quando foi promulgada aLei Ambiental do Estado. Mais que isso, seria uma agressão ao princí-pio federativo e a tomada de um caminho contrário ao trilhado pelospaíses mais desenvolvidos, onde a tendência é pela descentralizaçãodas decisões, inclusive aquelas relacionadas com a gestão e o contro-le ambiental.

O Estado do Pará não poderia continuar exposto a casuísmosa ser verdadeira a versão então difundida pela imprensa nacional. OEstado do Pará tinha que reagir naquele momento, afirmou o autordeste livro, juntamente com o Prof. Dr. Luiz Ercílio do Carmo FariaJúnior na entrevista concedida a Frank Siqueira, sugerindo o encami-nhamento político de uma proposta que seguramente iria inflamar osdebates no Congresso Nacional.

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Ex-presidente da Paraminérios e ex-diretor de meio ambienteda SECTAM, Luiz Ercílio defende a retomada de uma tese que chegoua ser levantada durante a Constituinte de 1988, na época sem grandereceptividade. ‘O que deveríamos propor era uma mudança constitu-cional retirando da União e transferindo para os Estados os direitossobre o seu subsolo’, afirmou o professor e pesquisador, acrescentan-do que é este o modelo já adotado por praticamente todos os paísesdesenvolvidos.

Outro aspecto que deveria ser considerado, conformeenfatizou, era o fato de que o IBAMA não possuía estrutura de pesso-al suficiente para realizar essa tarefa. Segundo Luiz Ercílio, nos pro-cessos de licenciamento a cargo do Ibama, 80% dos técnicos perten-cia efetivamente ao Estado. Além disso, ‘a licença é concedida noIbama por uma simples coordenadoria, uma instância do terceiroescalão’.

Lembramos que, tal como já ocorreu em Carajás com os pro-jetos de ferro e manganês, para citar apenas esses, o Pará correria umrisco ainda maior no futuro, caso viesse a perder o controle da gestãoambiental em projetos de mineração. Isso porque dificilmente pode-ria condicionar aos seus interesses outros grandes empreendimentosno setor, como os projetos de cobre e níquel, instalados também pelaVale do Rio Doce na província mineral de Carajás.

Não pretendíamos, com esse ponto de vista, endossar possí-veis ações que implicassem a utilização do licenciamento ambientalcomo simples ‘moeda de troca’ para a obtenção de compensações. Alicença ambiental é um recurso de natureza técnica e como tal deveser empregado, nunca como instrumento de ação política.

Também manifestamos discordância, por exemplo, em rela-ção à veiculação de notícias da não concessão do licenciamento parao projeto de extração de bauxita da Companhia Vale do Rio Doce emParagominas, ao que tudo indicava, como simples represália do Esta-

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do à implantação do pólo siderúrgico, que seria implantado em SãoLuís, mas acabou sendo levado para o Estado do Espírito Santo.

Era extemporâneo falar-se em compensações pela perda dopólo siderúrgico, para o qual não haveria volta. Os órgãos competen-tes tinham de se preocupar com os futuros empreendimentos, procu-rando adotar as medidas necessárias para evitar que outros minérioscontinuassem exportados sem deixar reais benefícios no Estado.

A Vale, como qualquer empresa, tem o livre direito de seinstalar onde bem entender e seus estudos técnicos indicarem, desdeque satisfaça as formalidades e exigências legais pertinentes. O papeldo Estado é fazer valer a Lei 5.887, que dispõe sobre a Política Esta-dual de Meio Ambiente e estabelece que dependam de avaliação dosimpactos ambientais o licenciamento de toda e qualquer atividadeconsiderada efetiva ou potencialmente poluidora ou capaz de causardegradação ao meio ambiente.

Projeto Bauxita de Paragominas:Exemplo didático real

Com o propósito de fundamentar o estudo de impactoambiental do projeto bauxita da Companhia Vale do Rio Doce emParagominas, concluído no ano de 2003, foram realizadas duas audi-ências públicas, uma naquela cidade e a outra em Barcarena. Emambas, além dos moradores locais, estiveram presentes os membrosdo Conselho Estadual de Meio Ambiente, do qual fazem parte secre-tarias estaduais, a Assembléia Legislativa, o Ministério Público, aOrdem dos Advogados do Brasil (OAB) - seção Pará e Federações deEntidades Patronais e de Trabalhadores que atuam no Estado.

Apesar da enorme representatividade pública e privada pre-sente às duas audiências, porém, acabou aprovado o Estudo de Im-

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pacto Ambiental - EIA/RIMA exatamente nos termos propostos pelaCompanhia Vale do Rio Doce.

Estranhamente, foram dispensadas de instrumentos específi-cos, pela SECTAM, duas obras de caráter público: a estrada de liga-ção entre a cidade de Paragominas e a área de operação da lavra, com60 km de extensão, e uma linha de transmissão com potência de138KV de energia para o complexo industrial. Uma quarta obra, omineroduto para o escoamento do minério, deu origem a um instru-mento específico.

Um fato que chama atenção no processo de licenciamentoambiental do projeto bauxita de Paragominas está nas publicações doDIÁRIO DO PARÁ relativas à expedição da Licença Prévia e a solici-tação da Licença de Instalação para o mineroduto.

Pode ser verificado, por exemplo, que a empresa recebeu, em10 de maio de 2004, Licença Prévia nº. 022/2004, para a construçãodo mineroduto, e requereu, apenas 24 horas depois, no dia 11 demaio de 2004, Licença de Instalação para o referido mineroduto atra-vessar os municípios de Paragominas, Ipixuna do Pará, Tomé-Açú,Acará, Mojú e Abaetetuba até chegar a Barcarena, nas instalações daALUNORTE, apenas um dia após tomar conhecimento, oficialmente,das condicionantes que determinariam expedição da licença ambientalde instalação para o referido mineroduto.

A Companhia Vale do Rio Doce – Mineração Bauxita deParagominas obteve do IBAMA Autorização Especial de DesmatamentoNº. 1500.2005.5.000001, sob o Protocolo Nº. 02018.000087/05-74,com validade até 02.06.2006, para supressão de vegetação visandoimplantação de mineroduto para o transporte de polpa de bauxita.

Referido documento permitiram à CVRD suprimir parte dasáreas de pastagens, áreas de reserva legal e de preservação permanen-

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te em muitas propriedades ao longo do traçado -; embora algunsproprietários não tivessem conhecimento de qualquer ato administra-tivo envolvendo a passagem de mineroduto, no interior de suas pro-priedades, naquele órgão.

Alguns proprietários, certamente, tiveram desagradável sur-presa, ao serem surpreendidos por trabalhadores a serviço da Compa-nhia Vale do Rio Doce, os quais adentraram suas fazendas com aabertura de picadas no interior de áreas de reserva legal, áreas de usoeconômico e áreas de preservação permanente, amparados em sim-ples instrumentos particulares de constituição de servidão, transação,quitação e outras avenças, firmado diretamente entre a empresa e osrespectivos cedentes interessados.

A estrada e a linha de transmissão deveriam dar origem ainstrumentos distintos. A primeira, sendo municipal, com estudo re-querido pela Prefeitura de Paragominas; e a segunda, requerida, oupela ELETRONORTE ou pela REDE CELPA. Com muito boa vontade,até se admitiria que elas compusessem um único EIA/RIMA, já queseguem traçados paralelos. Nunca, em se tratando de obras perenes ede caráter público, poderiam ser inseridas em único pacote com obrastemporárias e de caráter privado como lavra, beneficiamento emineroduto, de responsabilidade da Vale.

Esses fatos dão uma idéia da fragilidade que caracterizou oprocesso de licenciamento ambiental do projeto e sinalizam para asua inconsistência em termos de compromissos para cumprimentofuturo pela mineradora.

Para algumas dúvidas e questionamentos simplesmente nãohouve respostas. Quem teria, por exemplo, o controle físico, social eambiental sobre a construção e a operação da estrada e da linha detransmissão? Elas seriam de uso exclusivo da Vale ou poderiam sercompartilhadas pela população, na forma de ‘favor’ prestado pelaempresa aos paraenses?

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Os PCAs do Projeto BauxitaEnquanto o Governo Jatene negociava ‘compensações’ pela

‘perda do Pólo Siderúrgico para o Estado do Maranhão’; em 01 deJunho de 2003, a CASAVERDE, empresa representada pelo autor des-te livro, foi contratada para a elaboração, sob regime de empreitadaglobal, dos Planos e Programas de Controle Ambiental - PCA’s res-pectivos aos Estudos de Impactos Ambientais objetivando a obtençãodas Licenças de Instalação, referentes à lavra, beneficiamento emineroduto do Projeto Bauxita Paragominas, a saber:

Plano de Gestão de Recursos Hídricos, Plano de Gestão daQualidade do Ar, Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, Plano deEmergência, Plano de Fomento ao Desenvolvimento Local, Plano deEducação Ambiental, Programa de Comunicação Social, Programa deCriação e Gestão de Unidades de Conservação, Plano de Recupera-ção de Áreas Degradadas, e Plano de Desativação/Fechamento.

A equipe técnica multidisciplinar montada sob coordenaçãogeral da CASAVERDE, responsável pela elaboração dos planos e pro-gramas, se constituiu de profissionais atuantes nas principais institui-ções de ensino e pesquisa da região, como Museu Paraense EmílioGoeldi – MPEG, Universidade Federal do Pará – UFPA, UniversidadeFederal Rural da Amazônia – UFRA e Universidade da Amazônia –UNAMA.

Aos 25 de Setembro de 2003, a CASAVERDE concluiu e efetuoua entrega a Mineração Vera Cruz S/A, da versão final do PCA referente àlavra e beneficiamento, procedendo ao registro da Anotação de Respon-sabilidade Técnica – ART Principal Nº. 216.122 de 15 de Outubro de2003, e das respectivas ART’s de Co-responsabilidade Nºs. 245.069,223.058, 245.070 e 245.287, junto ao Conselho Regional de Engenha-ria, Arquitetura, e Agronomia - CREA/PA, conforme Lei Federal Nº.6496/77, que instituiu a ‘Anotação de Responsabilidade Técnica’ naprestação de serviços de Engenharia, de Arquitetura e Agronomia.

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Contudo, a MINERAÇÃO VERA CRUZ SA, alegandodescumprimento de prazos na elaboração dos Planos, considerou res-cindido o contrato com a CASAVERDE, cancelando a elaboração doPCA referente ao mineroduto e aplicando multa por atraso na entregado PCA sobre a lavra e beneficiamento.

Ficou estabelecido na cláusula 6ª do referido distrato, entre-tanto, que a CASAVERDE se comprometeria, até a expedição da Li-cença de Instalação, a refazer ou corrigir às suas expensas, os servi-ços/trabalhos ou parcelas destes que tivessem sido executados comerro ou imperfeição técnica, constatada pela contratante ou pelo ór-gão licenciador competente.

Para demonstrar boa fé e boa vontade, embora discordandodo injustificável motivo do ato rescisório, este foi assinado pelaCASAVERDE, datado de 18 de Novembro de 2003.

Fatores estranhos ocultos ou explícitos intempestivamenteserviram de pretexto para o rompimento do contrato, contrariando alógica e o bom senso, uma vez que seria impossível a conclusão ostrabalhos para a obtenção da Licença de Instalação dentro do prazocontratual, já que, até o dia 31 de Agosto de 2003, prazo máximoconcedido pela mineradora, a Licença Prévia Nº. 011/2004, referenteà lavra e beneficiamento, ainda não havia sido liberada pela SECTAM,isto só vindo a ocorrer cerca de oito meses após, em 26 de Março de2004.

Como poderíamos ter concluído o PCA dentro do prazo exigi-do, sem conhecimento das condicionantes, que são estabelecidas naLicença Prévia, cujo cumprimento determinaria a expedição da Licen-ça de Instalação conforme a Resolução do Conselho Nacional doMeio Ambiente - CONAMA Nº. 237 de 19 de Dezembro de 1997.Verbis:

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competênciade controle, expedirá as seguintes licenças:

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I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do pla-nejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localiza-ção e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendoos requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próxi-mas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empre-endimento ou atividade de acordo com as especificações constantesdos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas decontrole ambiental e demais condicionantes, da qual constituem mo-tivo determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da ativi-dade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimentodo que consta das licenças anteriores, com as medidas de controleambiental e condicionantes determinados para a operação.

Em 27 de Abril de 2004, a Companhia Vale do Rio Docetornou público, através de publicação em periódico, que requereu,em 19 de Abril de 2004, da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologiae Meio Ambiente do Estado do Pará – SECTAM/PA, a Licença deInstalação para extração e beneficiamento de minério de bauxita nomunicípio de Paragominas.

Aos 03 de Junho de 2004, tornou público que recebeu, no dia26 de Maio de 2004, a Licença de Instalação Nº. 067/2004, comvalidade de 26 de Maio de 2004 a 25 de Maio de 2005, para instala-ção de infra-estrutura para lavra e beneficiamento de minério de bauxitano município de Paragominas.

Amparados no Art.22 da Lei 5.194/66, que assegura aos auto-res do projeto ou aos seus prepostos o direito de acompanhar a exe-cução da obra de modo a garantir a sua realização de acordo com ascondições, especificações e demais pormenores técnicos nele estabe-lecidos; foi desagradável a surpresa ao constatar que o Plano de Recu-peração de Áreas Degradadas – PRAD, sobre lavra e beneficiamento,

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sofreu significativas alterações e omissões técnicas em relação aoconteúdo original registrado no CREA/PA, sem autorização ou partici-pação efetiva da CASAVERDE, e, ainda, que a Companhia Vale do RioDoce manteve nos trabalhos protocolados junto ao Órgão Ambientala indicação de nossa autoria e responsabilidade técnica na instruçãodo processo que originou expedição da licença de instalação para alavra e beneficiamento.

Assim, a Companhia Vale do Rio Doce violou, de forma fla-grante, disposições emanadas da Lei Federal Nº. 5.194/66 que regulao exercício das profissões de Engenheiro, Arquiteto e Engenheiro-Agrônomo, verbis:

Art. 17 - Os direitos de autoria de um plano ou projeto deEngenharia, Arquitetura ou Agronomia, respeitadas as relaçõescontratuais expressas entre o autor e outros interessados, são do pro-fissional que os elaborar.

Art. 18 - As alterações do projeto ou plano original só pode-rão ser feitas pelo profissional que o tenha elaborado.

Parágrafo único - Estando impedido ou recusando-se o autordo projeto ou plano original a prestar sua colaboração profissional,comprovada a solicitação, as alterações ou modificações deles pode-rão ser feitas por outro profissional habilitado, a quem caberá a res-ponsabilidade pelo projeto ou plano modificado.

Art. 19 - Quando a concepção geral que caracteriza um planoou projeto for elaborada em conjunto por profissionais legalmentehabilitados, todos serão considerados co-autores do projeto, com osdireitos e deveres correspondentes.

As alterações de quaisquer projetos ou planos originais doPCA só poderiam ter sido efetuadas por nossa própria equipe, paraque fosse mantida nossa responsabilidade técnica. Caso estivéssemoslegalmente impedidos, ou se tivéssemos nos recusado a prestar cola-boração profissional, uma vez que a Companhia Vale do Rio Doce -

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Mineração Bauxita de Paragominas - comprovasse solicitações demodificações técnicas detalhadamente, por escrito, tais alterações deconteúdo poderiam ter sido efetuadas por qualquer outra consultoriahabilitada, a quem caberia a responsabilidade pelos projetos ou pla-nos modificados.

Em hipótese alguma, poderiam ter procedido às modificaçõesà nossa revelia, da forma que bem entenderam, protocolando o pedi-do da licença de instalação na SECTAM sem que fosse dado conheci-mento prévio sobre o conteúdo da versão final do PCA referente àlavra e beneficiamento, e, ao mesmo tempo, manterem a ART origi-nal na instrução do processo.

De acordo com o Art. 8º Parágrafo Único da Lei 5.194/66, aspessoas jurídicas e organizações estatais podem exercer as atividadese atribuições profissionais regidas pela Lei 5.194/66, com exceçãodas exclusivas para pessoas físicas, mas somente com a participaçãoefetiva e a autoria declarada de profissionais legalmente habilitados eregistrados.

Aprovados pela SECTAM com as modificações procedidas pelaVale, nenhum dos planos e programas que subsidiaram a expediçãoda Licença de Instalação Nº. 067/2004 para a lavra e beneficiamentopossui valor jurídico, posto que não apresentem as nossas assinatu-ras, contrariando a Lei 5.194/66, verbis:

Art. 14 - Nos trabalhos gráficos, especificações, orçamentos,pareceres, laudos e atos judiciais ou administrativos, é obrigatória,além da assinatura, precedida do nome da empresa, sociedade, insti-tuição ou firma a que interessarem a menção explícita do título doprofissional que os subscrever e do número da carteira referida noArt. 56.

Art. 15 - São nulos de pleno direito os contratos referentes aqualquer ramo da Engenharia, Arquitetura ou da Agronomia, inclusi-ve a elaboração de projeto, direção ou execução de obras, quando

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firmados por entidade pública ou particular com pessoa física oujurídica não legalmente habilitada a praticar a atividade nos termosdesta Lei.

Não haveria necessidade de comprovação, por parte da Vale,de qualquer solicitação por escrito a CASAVERDE sobre modifica-ções de conteúdo nos planos e programas do PCA da lavra ebeneficiamento. Bastaria, nos documentos que subsidiaram a expedi-ção da referida licença pela SECTAM/PA, que comprovassem o cum-primento da Norma ABNT NBR 14.724, que instituiu a Folha de Apro-vação, a ser colocada logo após a folha de rosto dos trabalhos técni-cos depois de corrigidos e aprovados, devendo ser constituída pelonome dos autores do trabalho, título do trabalho e subtítulo, nature-za, objetivo, nome da instituição a que é submetido, área de concen-tração, data de aprovação, nome, titulação, assinatura de todos oscomponentes e instituições a que são filiados, conforme consta naversão original do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas origi-nal registrado no CREA/PA pela CASAVERDE.

Considerando a necessidade de resguardar interesses profis-sionais quanto às sanções previstas:

Na Lei Federal Nº. 5.194/66

Art. 6º - Exerce ilegalmente a profissão de engenheiro, arqui-teto ou engenheiro-agrônomo:

c) o profissional que emprestar seu nome a pessoas, firmas,organizações ou empresas executoras de obras e serviços sem suareal participação nos trabalhos delas.

Na Resolução do CONAMA Nº. 237/97

Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamentodeverão ser realizados por profissionais legalmente habilitados, àsexpensas do empreendedor.

Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subs-

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crevem os estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveispelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administra-tivas, civis e penais.

Na Lei Federal Nº. 9.605/98.

Art. 2º - Quem, de qualquer forma, concorre para a práticados crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas,na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administra-dor, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, opreposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da condutacriminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podiaagir para evitá-la.

Art. 3º - As pessoas jurídicas serão responsabilizadas admi-nistrativa, civil e penalmente conforme disposto nesta Lei, nos casosem que a infração seja cometida por decisão de seu representantelegal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou bene-fício da sua entidade.

Parágrafo único - A responsabilidade das pessoas jurídicasnão exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes domesmo fato.

Diante dos fatos, foi requerida rigorosa apuração dessa irre-gularidade ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agro-nomia do Estado do Pará, através do Processo protocolado sob Nº.5.445, em 18 de Junho de 2004, bem como, à SECTAM/PA, atravésdo requerimento em 21 de Junho de 2004.

Peticionamos ao CREA/PA, impedimento de registro,vinculação ou visto de qualquer outra ART aos Planos e Programas deControle Ambiental – PCA’s da lavra e beneficiamento, até que asdenúncias fossem apuradas e esclarecidas.

Lamentavelmente, tudo indica que o CREA/PA ‘cochilou’ e aVale registrou uma segunda ART Principal, de Nº. 234.557 de 28 deJunho de 2004, em nome da Geóloga ANA BRÍGIDA FIGUEIREDO

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CARDOSO, portadora da carteira de identidade profissional do CREA/SP Nº. 79.278-D, ‘para a coordenação dos trabalhos de revisão doPlano de Controle Ambiental – PCA da lavra e beneficiamento doProjeto Bauxita de Paragominas, durante o mês de Março de 2004.’.

O registro da ART Nº. 234.557, que atualmente se encontraem lentíssimo processo de cancelamento pelas Câmaras Especializadasdo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEAvem a confirmar a intenção deliberada em ‘driblar’ normas legaisvigentes, desta vez, no Manual de ART do CREA/PA.

Quanto ao Tipo, a ART Nº. 234.557, da geóloga, foi registra-da na classe 01 ou Normal, o que só é admitido quando não existemoutros profissionais responsáveis pelas mesmas atividades em outraART.

Para que surtisse efeito legal deveria ter sido enquadrada naclasse 02, ou de Co-Responsabilidade, face pré-existência da nossaART Principal Nº. 216.122 de 15 de Outubro de 2003; mas para tal,seria obrigatório e indispensável o nosso aval, através de nossa con-cordância e autorização expressa por escrito para as modificaçõesprocedidas.

Quanto à Classificação, a ART Nº. 234.557 foi definida naclasse 07, ou seja, como não enquadrável em nenhuma das situaçõesprevistas no Manual de ART do CREA/PA neste item. Deveria ter sidoenquadrada na classe 03, ou seja, no caso das alterações de ativida-des já registradas em outras ART’s.

Em síntese, a Vale não poderia registrar uma segunda ARTprincipal, pois, não houve solicitação da empresa nem a recusa ouconcordância de nossa parte para procedimento de modificações téc-nicas. A Vale também não poderia registrar ART’s de co-responsabili-dade, por não termos sido informados a respeito, logo, não podería-mos ter concordado ou discordado de quaisquer modificações.

A ART Nº. 234.557 foi registrada no CREA/PA em 28 de Ju-

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nho de 2004, ou seja, cerca de três meses após a expedição da Licen-ça Ambiental de Instalação Nº. 067/2004 em 26 de Março de 2004,para a lavra e beneficiamento, contrariando normas do próprio órgãoambiental, que condicionam a liberação das licenças ambientais àprévia apresentação das respectivas Anotações de ResponsabilidadeTécnica – ART’s.

Art. 6º - Exerce ilegalmente a profissão de engenheiro, arqui-teto ou engenheiro-agrônomo:

b) o profissional que se incumbir de atividades estranhas àsatribuições discriminadas em seu registro.

De acordo com a lei, exerce ilegalmente a profissão quem seincumbe de atividades estranhas às atribuições discriminadas em seuregistro. É o caso da Sra. ANA BRÍGIDA FIGUEIREDO CARDOSO,que, na qualidade de Geóloga, tem atribuições profissionais defini-das na Lei Nº. 4.076, de 23 de Junho de 1962, portanto, não poderiaassumir a responsabilidade técnica por todo o conjunto de planosque, necessariamente, deveriam ter sido elaborados por equipemultidisciplinar; muito menos poderia assumir responsabilidade poratribuições profissionais específicas da área de engenharia agronômi-ca e florestal, como no caso do Plano de Recuperação de Áreas De-gradadas.

A Resolução do Conselho Federal de Engenharia, Arquiteturae Agronomia - CONFEA Nº. 229, de 27 de Junho de 1975, dispõesobre a regularização dos trabalhos de engenharia, arquitetura e agro-nomia iniciados ou concluídos sem a participação efetiva de respon-sável técnico.

O Art. 1º determina que, constatada a existência de empreen-dimento de Engenharia, Arquitetura ou Agronomia, iniciado sem aparticipação efetiva de responsável técnico habilitado, o ConselhoRegional da jurisdição deverá requerer, administrativa ou judicial-mente, as medidas que visem a impedir o prosseguimento da obra ou

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serviço ou uso do que foi concluído e averiguar as condições técnicasda obra ou serviços realizados.

A Resolução Nº. 425 do CONFEA, de 18 de Dezembro de1998, no Art. 9º, estabelece que sejam consideradas nulas as ART’s,quando, a qualquer tempo, verificar-se a inexatidão de quaisquer da-dos nela constantes; ou quando o Conselho Regional verificar incom-patibilidade entre as atividades técnicas desenvolvidas e as atribui-ções profissionais dos responsáveis técnicos respectivos; e ainda, quan-do for caracterizado o exercício ilegal da profissão.

A representação protocolada na SECTAM/PA, em 21 de Junhode 2004, foi reiterada através de requerimento de 13 de Agosto de2004. A CASAVERDE encaminhou exposição de motivos protocoladano CREA/PA sob o Nº. 6429, em 22 de Junho de 2004, requerido ocancelamento da ART Nº. 234.557 de 28 de Junho de 2004 registradaem violação de normas vigentes, sob a responsabilidade da GeólogaAna Brígida Figueiredo Cardoso.

O requerimento também foi protocolado junto ao InstitutoBrasileiro do Meio Ambiente – IBAMA/PA sob o Nº. 02018.009469/04-84 em 05 de Agosto de 2004, solicitando, de forma preventiva, asuspensão no andamento de qualquer processo de autorização dedesmatamento de interesse da Mineração Bauxita de Paragominas, daVale, no Platô Miltônia 3, relacionada com a lavra e beneficiamentodo minério.

Em síntese, o processo de licenciamento ambiental de insta-lação da lavra e beneficiamento do Projeto Bauxita de Paragominasfoi instruído por planos e programas modificados sem expressaanuência dos autores, ‘validados’ por Anotação de ResponsabilidadeTécnica sem valor legal, registrada intempestivamente por profissio-nal sem atribuições profissionais específicas.

Mediante decisão motivada, de acordo com o Art. 19 da Re-solução CONAMA Nº. 237 à SECTAM/COEMA caberia já ter suspen-

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dido ou cancelado a Licença de Instalação Nº. 067/2004, posto queocorresse flagrante violação de normas legais e omissão ou falsa des-crição de informações relevantes que subsidiaram a expedição daLicença de Instalação, para a lavra e beneficiamento.

Em síntese, houve a prática de um verdadeiro ‘estelionatoambiental’, ou seja, a Vale obteve a vantagem da expedição da licen-ça de instalação para a extração do minério de bauxita, utilizando onosso registro profissional, induzindo a SECTAM ao erro, de formafraudulenta.

Analisando a evolução dos acontecimentos, podemos con-cluir que a reunião de apresentação do PCA da CASAVERDE, sobrelavra e beneficiamento, para os técnicos da Vale, realizada no HotelRegente, em Belém do Pará, em 17 de Julho de 2003, não passou deuma ‘manobra’ para que os autores entregassem as informações co-lhidas no campo para ex-funcionários de empresas do Grupo Vale doRio Doce, os quais, atuando como profissionais liberais em empresasde consultoria ambiental de outros estados prosseguiram na elabora-ção dos ‘estudos’ com atendimento incondicional dos interesses par-ticulares da contratante.

O verdadeiro ‘festival de irregularidades’ no processo delicenciamento ambiental sinaliza para uma aparente intenção de aempresa mineradora eximir-se legalmente de compensações mais justasao Estado, pela extração dos recursos minerais. Provavelmente, porse constituírem de ações que requereriam maiores investimentos.

O autor não pretende discutir o mérito do distrato, nem ques-tionar se as propostas técnicas aprovadas pela SECTAM seriam asmais adequadas ou justas. Só não poderia ignorar ou ser coniventecom a utilização indevida de sua responsabilidade técnica,suscetibilizando às sanções administrativas, civis, penais e criminaispor problemas ambientais da implantação e operação do projeto.

Dentre as compensações previstas nos estudos ambientais, as

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de natureza sócio-econômicas são as que requerem maiores investi-mentos. Ações que para mentes ingênuas ou desinformadas se reves-tem de um caráter bem intencionado e até ‘romântico’, cedem vez auma verdadeira sabotagem das perspectivas de progresso de uma so-ciedade. Grande parte dos verdadeiros problemas ambientais decorreda falta de desenvolvimento e a pior poluição é a pobreza.

Tudo indica que a CASAVERDE foi preterida porque propôsalternativas tecnológicas que seriam mais vantajosas e benéficas parao Estado do Pará, com a geração de mais emprego e renda e, conse-qüentemente, com a elevação do nível sócio-econômico e melhorescondições de vida.

Ao compararmos o Plano de Recuperação de Áreas Degrada-das - PRAD original com o PRAD modificado pela Vale, que subsi-diou a liberação da licença de instalação para lavra e beneficiamento,é fácil concluir que neste último, a metodologia proposta - e que foiaprovada pela SECTAM/COEMA - significa assumir que, após a remo-ção do minério, a recomposição da vegetação se dará pela próprianatureza, com pouco ou quase nenhum investimento do empreende-dor e sem inserir a área já impactada pela extração mineral ao setorprodutivo local de forma sustentada, com plantios racionais, maiormovimentação de materiais e insumos, mais circulação de impostosatravés da utilização de espécies florestais com valor comercial in-dustrial que poderiam e deveria ter destinação econômica diversificada,inclusive na produção de carvão vegetal, matéria-prima que as side-rúrgicas e a própria Vale tanto necessitam.

Diante da omissão da SECTAM/PA em relação aos fatos con-cretos e provas materiais irrefutáveis, não restou alternativa, senãoingressarmos com uma representação junto ao Tribunal de Justiça doEstado do Pará.

É triste a constatação de que, diferentemente do que ocorreno Estado do Pará, em qualquer lugar ou país civilizado, provavel-

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mente, não haveria necessidade de proposição de qualquer ação judi-cial, posto que os órgãos ambientais competentes já tivessem no cum-primento do dever, se incumbido de adotar as providências legaiscabíveis.

Os fatos encontram-se amplamente documentados e compro-vados nos Autos e já analisados. Não por muito, mas pelo ConselhoRegional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/PA, atravésdo Parecer da Assessoria Técnica, de 15 de Dezembro de 2004, tendosido ratificado através do Parecer Jurídico nº. 156/05, da Lavra doProcurador Dr. Franklin Rabelo da Silva, de 14 de Março de 2005; edo último Parecer do Conselheiro Relator, Engenheiro Civil Luiz Sér-gio Campos Lisboa, de 14 de Abril de 2005, objeto da Decisão de nº.20, sobre o Processo 5445/2004, da Plenária Ordinária nº. 977 doCREA/PA aprovando Parecer do Relator favorável ao indeferimentodo Recurso com efeito suspensivo apresentado pela profissionalGeóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso, referente ao cancelamentode Anotação de Responsabilidade Técnica nº. 234.557 - que até hoje,continua ‘legitimando’ o licenciamento junto a Secretaria de MeioAmbiente.

Através do Despacho da Assessoria Técnica do CREA/PA aoPresidente do Órgão, após conhecimento por parte da Câmara Espe-cializada de Agronomia sobre a Decisão Plenária deste Conselho, edo Parecer do Ministério Público do Estado do Pará, a orientação foino sentido de ser cumprida a determinação e considerar nula a ARTnº. 234.557 mediante encaminhamento ao setor competente para ocumprimento desse procedimento.

Lamentavelmente, já decorrem quatro anos desde o protoco-lo de várias representações junto aos principais órgãos relacionadoscom a questão ambiental, sem respostas plausíveis, e sem serem to-madas providências. As recomendações expressas no Parecer do Mi-nistério Público Estadual requerendo Ofício à SECTAM no sentido danão renovação da Licença de Instalação 067/2004, bem como que

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não fosse concedida Licença de Operação, lamentavelmente, não fo-ram cumpridas.

Contrariando as recomendações legais, a renovação da licen-ça de instalação, para instalação da infra-estrutura para lavra ebeneficiamento de minério de bauxita, no município de Paragominas,Estado do Pará, já se renovou quatro vezes consecutivas.

De outro lado, requerimentos protocolados, denunciando asirregularidades e solicitando providências, muito menos foram aten-didos satisfatoriamente, ou foram simplesmente ignorados, sendo alicença de instalação da lavra e beneficiamento renovada solenemen-te, mesmo após a agência ambiental ter sido informada, em tempohábil, sobre o cancelamento da Anotação de Responsabilidade Técni-ca da Geóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso pelo CREA/PA, bemcomo sobre o Parecer do Ministério Público Estadual.

‘Via crucis’ interinstitucional

21 de Junho de 2004 - CASAVERDE HORTI LTDA encaminhaao Secretário Executivo de Meio Ambiente do Estado do Pará, ManoelGabriel Siqueira Guerreiro, cópia da denúncia formalizada junto aoCREA/PA sob o Nº. 5445, de 18/06/04 requerendo apuração e provi-dências legais cabíveis sobre o licenciamento de instalação da lavra ebeneficiamento. (Anexo).

05 de Agosto de 2004 - CASAVERDE HORTI LTDA comunicaao Gerente do IBAMA/PA, Marcilio de Abreu Monteiro, sobre proce-dimento ilegal na obtenção da Licença de Instalação da SECTAM/PApara lavra e beneficiamento de minério de bauxita. Informa sobre oprocedimento judicial junto ao TJE - suspensão ou cancelamento dalicença de instalação, bem como, sobre o requerimento de cancela-mento da ART da geóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso formuladoao CREA/PA. Requisita, finalmente, de forma preventiva, a suspensão

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de processo de autorização de desmatamento de interesse da Minera-ção Bauxita de Paragominas, para lavra e beneficiamento no PlatôMiltônia 03, até julgamento pelo CREA/PA e Tribunal de Justiça doEstado do Pará.

24 de Agosto de 2004 - Presidente do CREA/PA encaminhaOfício Nº. 105 – SECAM/ASTEC/04 ao Secretário Executivo da SECTAMsolicitando cópia dos planos para obtenção de licenciamento ambientalpara exploração de bauxita no município de Paragominas, em suaúltima versão, de acordo com a ART Nº. 234557 sob responsabilida-de da Geóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso. Informa que a solici-tação prendeu-se ao fato da necessidade de instruir o Processo Nº.5445/2004, originado pela CASAVERDE HORTI LTDA., material im-portante para a formação de justa apreciação dos fatos por parte dasCâmaras Especializadas do Conselho Regional. É válido destacar queESTA SOLICITAÇÃO NUNCA FOI ATENDIDA PELA SECTAM/PA.

13 de Setembro de 2004 - CASAVERDE encaminha a SECTAM/PA os seguintes documentos: Exposição de motivos protocolada noCREA/PA sobre o cancelamento da ART Nº. 234557 de 28.06.2004;Documento protocolado junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambi-ente – IBAMA/PA sob Nº. 02018.009469/04-84, em 05.08.2004, desuspensão no andamento de solicitação de autorização dedesmatamento de interesse da Mineração Bauxita de Paragominas, noPlatô Miltônia 3, relacionada com a lavra e beneficiamento; Cópia doMandado de Citação expedido pelo Poder Judiciário do Estado doPará, recebido pela CVRD em 31.08.2004.

22 de Novembro de 2004 - O Procurador da República, Dr.Felício Pontes Jr., encaminha o Ofício PRDC/PR/PA Nº. 0611/2004ao Secretário Executivo de Meio Ambiente, informando o recebimen-to da representação formulada pela empresa CASAVERDE HORTILTDA, sobre irregularidade no processo de licenciamento ambientalde instalação da lavra e beneficiamento referente à extração e trans-porte de polpa de bauxita, especialmente ao Plano de Recuperação de

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Áreas Degradadas – PRAD. Requisita no prazo de dez dias, a contardo recebimento do ofício, os esclarecimentos pertinentes, bem comoe especialmente o envio de cópia integral do aludido PRAD apresen-tado pela CVRD para obtenção do licenciamento ambiental junto aessa Secretaria de Estado.

22 de Novembro de 2004 - O Procurador da República FelícioPontes Jr., encaminha ao CREA/PA o Ofício PRDC/PR/PA Nº. 0612/2004, informando que recebeu representação formulada pela empre-sa CASAVERDE HORTI LTDA, noticiando irregularidades no proces-so de licenciamento ambiental de instalação da lavra e beneficiamentoreferente à extração e transporte de polpa de bauxita, especialmenteno que se refere ao Plano de Recuperação de Áreas Degradadas –PRAD, de interesse da Companhia Vale do Rio Doce. Diante da ne-cessidade de se colher dados para a devida apuração dos fatos, emtodas as suas circunstâncias, requisitou, no prazo de dez dias a con-tar do recebimento do ofício, os esclarecimentos pertinentes, bemcomo e especialmente o envio do parecer técnico conclusivo sobre oProcesso Nº. 5445, de 18.06.2004.

13 de Dezembro de 2004 - O Diretor de Meio Ambiente daSECTAM, Dr. Paulo Mayo Koury de Figueiredo envia a CASAVERDEHORTI LTDA., Notificação Nº. 2428/2004 – DMA/SECTAM. Informaque o processo de licenciamento referente à questão suscitada ‘trans-correu em plena observância às normas de Direito AdministrativoBrasileiro, e informa que, estando o caso ‘sub judice’, este Órgãoaguardava o devido provimento jurisdicional.

14 de Dezembro de 2004 - O Secretário Executivo de Ciên-cia, Tecnologia e Meio Ambiente envia à Procuradoria da Repúblicano Estado do Pará, Ofício 406/2004 – GAB/SECTAM, em atenção àsolicitação feita através do Ofício PRDC/PR/PA Nº. 611/2004, enca-minhando esclarecimentos pertinentes ao processo de licenciamento,bem como, cópia integral do Plano de Recuperação de Áreas Degra-dadas apresentado pela Companhia Vale do Rio Doce para obtençãodo licenciamento ambiental.

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23 de Dezembro de 2004 - A Presidência do CREA/PA trans-mite à Procuradoria da República no Estado do Pará informações cons-tantes do processo em que é parte a CASAVERDE HORTI LDA., escla-recendo a adoção das seguintes providências: Remessa do processoao Setor de Auto de Infração para as autuações recomendadas; Expe-dição de ofício a CASAVERDE informando das decisões das CâmarasEspecializadas; Expedição de ofício a profissional Ana BrígidaFigueiredo Cardoso, informando das decisões das Câmaras sobre ocancelamento da ART e o Processo por quebra de ética profissional,bem como, encaminhando cópia do processo; Expedição de ofício aoMinistério Público, denunciando a SECTAM de omissão, por não teratendido duas solicitações oficiais do Conselho Regional; Encami-nhamento do processo à Comissão de Ética para instrução, nos ter-mos da Resolução 1004/03 do CONFEA. Para maior clareza, anexoucópia do parecer da Assessoria Técnica e das decisões das CâmarasEspecializadas.

28 de Dezembro de 2004 - A CASAVERDE HORTI LTDA acu-sa a SECTAM/PA recebimento da Notificação Nº. 2428/2004 – DMA/SECTAM, de 13 de Dezembro de 2004, encaminhando, anexo, cópiado Ofício Nº. 150 – SECAM/ASTEC/04, do CREA/PA, informando asdecisões das Câmaras Especializadas de Agronomia, de Geologia ede Engenharia de Minas, juntamente com o Parecer da AssessoriaTécnica que considerou nula a ART Nº. 234.557 da Geóloga AnaBrígida Figueiredo Cardoso, nos termos dos itens I e II do Art. 9º daResolução Nº. 425/98 do CONFEA.

24 de Janeiro de 2005 - O Procurador Chefe da Procuradoriada República no Estado do Pará, Dr. Ubiratan Cazetta, envia ao Mi-nistério Público do Estado do Pará peças versando sobre prática deinfração ambiental realizada pelos responsáveis legais da CompanhiaVale do Rio Doce, decorrente da nulidade do Plano de ControleAmbiental – PCA, elaborado com base em Anotação de Responsabili-dade Técnica – ART, declarada nula, pelo CREA. A Licença de Instala-

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ção para lavra e beneficiamento de minério de bauxita no Platô Miltônia3, no município de Paragominas, foi concedida pela SECTAM/PA, emface do referido PCA. Remeteu ao MPE documentos em anexo para asprovidências julgadas cabíveis.

31 de Março de 2005 - O Promotor de Justiça em MatériaAmbiental do Ministério Público Estadual, Dr. Benedito Wilson Correade Sá, encaminha ao Dr. JUIZ DE DIREITO DA 9ª VARA CÍVEL DACAPITAL Parecer Conclusivo sobre o Processo Nº. 001.2004.1.046185-6, onde, uma vez comprovados fatos, o formulado pela CASAVERDEHORTI LTDA. foi considerado totalmente procedente, tanto do pontode vista ambiental como da indenização por danos morais.

28 de Abril de 2005 - O Procurador Autárquico Federal doIBAMA, Dr. Wilson Monteiro de Figueiredo, profere o Parecer Nº.1238/04/DIJUR/IBAMA/PGF/AGU referente ao Processo02018.001078/2004-10, de interesse da Companhia Vale do Rio Doce,referente à solicitação de supressão de cobertura vegetal visando àimplantação de mineroduto para transporte de poupa de bauxita, comum traçado de aproximadamente 246 km de extensão, com uma faixade servidão de 20m de largura, com início no município deParagominas, passando por Ipixuna do Pará, Tomé-Açú, Acará, Mojúe Abaetetuba até Barcarena, nas instalações da ALUNORTE.

Segundo o Relatório do Setor de Sensoriamento Remoto doIBAMA, constatou-se que existe a ocorrência de interposição do tra-çado do mineroduto com alguns detentores de Planos de ManejosFlorestais Sustentáveis – PMFS, precisamente seis, apontados peloexpediente em questão. Assim, constatou-se também que o minerodutocorta algumas áreas de preservação permanente, através dos Rios Mojú,Acará e Capim.

O Procurador Autárquico conclui: ‘Sabemos que a requerenteestá amparada pelas normas específicas (Decreto Lei Nº. 227/67 Art.6º, parágrafo único, alínea ‘b’ e Licença de Implantação Nº. 159/2004 – SECTAM), que lhe dão direito de implantar seu empreendi-

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mento. No entanto, não podemos olvidar o arrimo constitucional (Art.225 CF) para a proteção do meio ambiente, dentro de condições queassegurem a sua preservação, inclusive no que diz respeito ao usodos recursos naturais. Assim, diante desse impasse técnico - adminis-trativo, entendemos ser imperioso um maior e mais profundo estudotécnico sobre o impacto ambiental (EIA/RIMA) em relação à extensãodo mineroduto, em face dos supramencionados rios, por parte daDiretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental – DILIQ/IBAMA,ou, se assim V. SA entender, recomendar que a empresa interessadapromova seu pedido de supressão de vegetação perante SECTAM,órgão licenciador, através do Processo Nº. 59369/2003, consideran-do os termos de recomendação dos expedientes normativos acimacitados; observados os demais trâmites de estilo administrativo’.

24 de Junho de 2005 - O Procurador Autárquico Federal doIBAMA, Dr. Wilson Monteiro de Figueiredo, profere o Despacho nº.1.412/05/DIJUR/IBAMA/PGF/AGU referente ao Processo02018.000087/05-74, de interesse da Companhia Vale do Rio Doce,referente à solicitação de supressão de cobertura vegetal. O DoutoProcurador entende ser ‘imperioso um maior e mais profundo estudotécnico sobre o impacto ambiental, em relação à extensão domineroduto, em face dos rios atingidos pelo projeto, por parte daDiretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental – DELIQ/IBAMA’.

Entende, ainda, ‘que conforme se observa, além dainobservância do Parecer de fls.328/331, sobre a séria recomendaçãoconclusiva, houve a violação normativa, ao conceder a Autorizaçãode desmatamento irregularmente, violentando procedimento de natu-reza normativa necessário aos pedidos de supressão de vegetação. Ofato é grave, não se trata aqui de trazer a lume o conceito e idoneida-de da requerente; o fato é que, diante da inobservância dos procedi-mentos normativos indispensáveis, em projetos de seu interesse oude outros, há de se terem às devidas e imprescindíveis cautelas, sobpena de danos irreversíveis ao meio ambiente’.

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...”É oportuno lembrar, também, que a Administração podepraticar atos com liberdade, de acordo com sua conveniência e opor-tunidade, sem, contudo, distanciar-se dos limites previstos ou permi-tidos em lei, incluindo instruções e atos normativos, em seu poder depolícia. É o exercício de seu poder tipicamente discricionário. Assim,diante da infringência normativa, requeremos a Vossa Senhoria asindispensáveis providências para a correção regular do procedimentoem relação a este expediente, pela Administração desta UnidadeGestora, sem prejuízo de outras medidas mais enérgicas, no caso denão atendimento perante a quem de direito, inclusive Ministério Pú-blico Federal – MPF e Controladoria Geral da União; e, por fim,ratificando, assim, em todos os seus termos, o Parecer de Nº. 1238/05, datado de 28/04/2005, às fls.328/1231, prolatado por este Procu-rador, observando-se os demais trâmites de estilo.

‘Por último, diante desses fatos acintosos a esta ProcuradoriaJurídica, levamos ao conhecimento dessa Chefia imediata que, a par-tir desta data, somos forçados a nos abster de receber processos emque a Companhia Vale do Rio Doce – CVRD seja parte interessada,em face da ostensiva desconsideração por parte da Administraçãodesta Unidade Gestora, em processos sob nossos pronunciamentosde seu interesse’.

28 de Junho de 2005 - A COMPANHIA VALE DO RIO DOCEtorna público que recebeu, no dia 22 de junho de 2005, da Secretariade Ciência, Tecnologia e meio Ambiente do Estado do Pará – SECTAM,a renovação da licença de Instalação – LI Nº. 102/2005, com validadede 15 de junho de 2005 a 14 de julho de 2006, para instalação dainfra-estrutura para lavra e beneficiamento de minério de bauxita, nomunicípio de Paragominas, Estado do Pará.

18 de julho de 2005 - A CASAVERDE HORTI LTDA com rela-ção ao Documento protocolado no IBAMA sob o Nº. 02018.009469/04-84, em 05 de agosto de 2004; informa sobre procedimento irregu-

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lar do empreendedor na obtenção da LI Nº. 067/2004 e encaminhadocumentos: Representação junto ao MPF PR/PA 023.00.2004.002273,em 24/10/2004; Ofício PRDC/PR/PA Nº. 0611/2004, de 22/11/2004,da Procuradoria da República no Estado do Pará a SECTAM; OfícioPRDC/PR/PA Nº. 0612/2004, de 22/11/2004, da Procuradoria da Re-pública no Estado do Pará ao CREA/PA; Ofício Nº. 529/GP/AJ-04, doCREA/PA à Procuradoria da República, em 02/12/2004; Ofício PRDC/PR/PA Nº. 624/2004, da PRPA ao CREA, em 07/12/2004; Ofício 406/2004-GAB/SECTAM à Procuradoria da República, em 04/12/2004;Ofício PR/PA/GAB 3 Nº. 0180/2004, da PRPA a CASAVERDE, em 30/06/2005; Parecer do Ministério Público Estadual sobre o ProcessoNº. 001.2004.1.046185-6.

08 de Agosto de 2005 – A CASAVERDE HORTI LTDA, consi-derando os Pareceres conclusivos do CREA/PA e do Ministério Públi-co do Estado do Pará, anteriormente encaminhados ao Ministério Pú-blico Federal, sobre o Projeto Bauxita de Paragominas; reiterou aoMPF os pedidos formulados na representação de 04/10/2004 reque-rendo: Que o MPF representasse junto ao Conselho Nacional do MeioAmbiente - CONAMA objetivando a uma auditoria no referido pro-cesso de licenciamento ambiental, através de requisição ao ÓrgãoSeccional do SISNAMA (Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia eMeio Ambiente do Estado do Pará/SECTAM/PA) das informações ne-cessárias para apreciação das irregularidades no licenciamentoambiental da lavra e beneficiamento do Projeto Bauxita de Paragominas;Que o MPF oficiasse junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, Órgão Federal Executordo SISNAMA, para que executasse e fizesse executar as normas legaisestabelecidas na Política e diretrizes governamentais, fixadas para olicenciamento ambiental; Que o MPF oficiasse junto ao ConselhoRegional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/PA, deter-minando que fossem requeridas administrativa ou judicialmente, emcumprimento do Art. 1º da Resolução CONFEA Nº. 229 de 27 de

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Junho de 1975, as medidas que visem a impedir o prosseguimento daobra ou serviço ou o uso do que foi concluído e a averiguação dascondições legais dos serviços realizados no licenciamento ambiental.

Baseado no cauteloso e bem elaborado Parecer do Procura-dor Autárquico do IBAMA, desfavorável à emissão da autorização dedesmatamento para o mineroduto, uma vez que não foram observa-dos as normas e procedimentos legais; ficou evidenciado o empregode dois pesos e duas medidas para concessão de autorizações dedesmatamento pela gerência do IBAMA/PA, pois, o mesmo Órgãoque exige dos pequenos proprietários a averbação das suas áreas dereserva legal e preservação permanente, para que seja permitido ouso alternativo do solo ou a exploração florestal; autoriza uma dasmaiores maiores empresas de mineração do Mundo, a supressão par-cial dessas mesmas áreas protegidas por lei, sem anuência de cadainteressado, exceto pelos Contratos de servidão, e sem a prévia ado-ção das medidas específicas de adequação à legislação ambiental,necessárias a cada uma das parcelas ou propriedades atingidas, querde particulares, com ou sem uso econômico, quer pertencentes aoEstado ou a União.

Resta-nos lamentar a constatação que a Vale pretende ocupar- ou que de fato ocupa - a posição de ‘Estado Paralelo’, sobrepujando-se a tudo e a todos, uma vez que as irregularidades praticadas não serestringem apenas às modificações técnicas havidas ilegalmente noPCA, sem a autorização expressa dos legítimos autores, para obter olicenciamento ambiental livrando-se de compromisso legal de ofere-cer compensações ao Estado do Pará, e poder continuar atuando nabase do ‘só dá se quiser’.

Os procedimentos irregulares se repetiram junto ao CREA/PA, com o registro de ART ilegal, posteriormente anulada pelo Con-selho Regional do Pará, após a interferência do Ministério PúblicoFederal; e, mais recentemente, através da Autorização deDesmatamento para o mineroduto, concedida pelo IBAMA, quere-mos crer que foi ‘induzido ao erro’.

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A Vale divulgou, através de seus representantes, que o IBAMAhavia ‘decidido cancelar a autorização de supressão concedida, ori-entando que a referida autorização deveria ser requerida ao ÓrgãoEstadual de Meio Ambiente – SECTAM’.

E assim, a Vale já o teria feito, passando a ser detentora,apenas dois ou três dias após ter sido cientificada sobre o cancela-mento da autorização de supressão de vegetação pelo IBAMA, deuma nova autorização de desmatamento para o mineroduto expedidapela SECTAM, apesar das sérias recomendações do IBAMA sobre oprocesso.

É evidente que encontraram uma saída político-administrati-va para um impasse. Isto está bastante claro no Parecer do IBAMA aorecomendar, quiçá até ironicamente, ‘que a empresa interessada pro-mova seu pedido de supressão de vegetação perante SECTAM, órgãolicenciador, através do Processo Nº. 59369/2003, considerando ostermos de recomendação dos expedientes normativos acima citados;observados os demais trâmites de estilo administrativo’. Confirma-seno Despacho do IBAMA referente ao Processo 02018.000087/05-74:‘... Diante desses fatos acintosos a esta Procuradoria Jurídica, leva-mos ao conhecimento dessa Chefia imediata que, a partir desta data,somos forçados a nos abster de receber processos em que a Compa-nhia Vale do Rio Doce – CVRD seja parte interessada, em face daostensiva desconsideração por parte da Administração desta UnidadeGestora, em processos sob nossos pronunciamentos de seu interesse’.

Deste modo, fizeram, mais uma vez, interpretação bastantegenerosa e distorcida da legislação específica, a Instrução Normativado Ministério do Meio Ambiente Nº. 3, de 4 de março de 2002,provavelmente, para eximir-se, ao mesmo tempo, das responsabilida-des pelo cumprimento das normas e procedimentos legais vigentes, ede possíveis pressões políticas, exercidas sobre indeterminados servi-dores da Autarquia, para a liberação do documento pretendido.

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Causa estranheza a delegação da atribuição de concessão deautorização de desmatamento do IBAMA, para a SECTAM, principal-mente, diante da constatação da ocorrência de interposição do traça-do do mineroduto com propriedades de pelo menos seis detentoresde Planos de Manejos Florestais Sustentáveis – PMFS, aprovados pelopróprio Órgão, apontados pelo expediente em questão, além das ou-tras áreas de reserva legal e de preservação permanente de terceiros,atingidas pela passagem do mineroduto.

O Ministério do Meio Ambiente, através da instruçãonormativa Nº. 3, de 4 de março de 2002, tendo em vista o dispostona Lei Nº. 9.649, de 27 de maio de 1998, alterada pela Medida Provi-sória Nº. 2.143-32, de 2 de maio de 2001, na Lei Nº. 4.771, de 15 desetembro de 1965 e no Decreto Nº. 1.282, de 19 de outubro de 1994,Art. 1o; define claramente as atribuições do IBAMA, bem como, to-dos os procedimentos legais de conversão de uso do solo através deautorização de desmatamento, nos imóveis e propriedades rurais naAmazônia Legal, conforme especificações detalhadas, por categoria.

A concessão de autorização de desmatamento deve obedecerao disposto na legislação vigente com relação aos limites máximospermitidos de desmatamento, localização da Área de Reserva Legal edas Áreas de Preservação Permanente, verificando se as áreas anteri-ormente convertidas estão abandonadas, subutilizadas ou utilizadasde forma inadequada, e sobre a existência de áreas que abriguemespécies ameaçadas de extinção.

O IBAMA, como Órgão Executivo Federal, é detentor dospoderes estabelecidos por lei, que lhe permite promover desde oordenamento e controle do uso dos recursos naturais até a reparaçãoe a prisão de indivíduos pelo dano ambiental.

Autorizações de desmatamento são concedidas pelo IBAMA,após vistoria prévia efetuada pela autoridade competente - Engenhei-ro Florestal ou Agrônomo do IBAMA, Órgãos Estaduais de Meio

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Ambiente, Órgãos de Assistência Técnica e Extensão Rural, EntidadesRepresentativas ou autônomas conveniados, nos termos do Art. 8º, §3º, do Decreto 1282, de 19/10/94, tanto que são disponibilizadas viaInternet pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis - IBAMA, em Brasília, até trinta dias após a soli-citação.

O processo deve conter, obrigatoriamente: o nome e o CPFdo interessado, estado e município de localização da propriedaderural, matrícula imobiliária e dimensão da área da propriedade, áreade Reserva Legal, tamanho da área objeto da autorização, com asrespectivas coordenadas geográficas, nome e matrícula do agente,devendo ser protocolizado requerimento pelo interessado nas Supe-rintendências Estaduais ou Unidades Descentralizadas, conformemodelo próprio, devendo ser apresentadas todas as exigências cons-tantes do quadro de documentos, de que trata o anexo V da InstruçãoNormativa Nº. 3 de acordo com a dimensão da área solicitada.

O processo no CREA/CONFEAPode ser verificado nos Pareceres Jurídicos e Técnicos emiti-

dos pelos setores competentes do CREA/PA, que as alegações apre-sentadas pela Senhora Ana Brígida Figueiredo Cardoso, no recurso aoCONFEA, constituem-se de divagação, e não merecem acolhidas.

Após análise de toda a documentação apresentada, a ASSES-SORIA TÉCNICA - ASTEC emitiu Parecer conclusivo onde se destacaa recomendação expressa de considerar nula a ART 234.557, e aexpedição de ofício à Geóloga Ana Brígida, informando das decisõese encaminhamento de cópias necessárias.

17 de fevereiro de 2005 - Juntado ao processo expediente daSenhora Ana Brígida Figueiredo Cardoso, datado de 11/02/2005, ondea mesma interpôs ao Plenário Regional, recurso com efeito suspensivoaté a apreciação da solicitação de nulidade das decisões das Câma-

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ras, e que fosse declarado inválido todo o procedimento administrati-vo, dentre outros aspectos, pelo ‘cerceamento do direito de defesapor parte deste CREA/PA’.

14 de março de 2005 - Parecer Nº. 156/05 da ASJUR demons-tra que, diante das provas documentais anexadas ao processo, o argu-mento de cerceamento de defesa é inválido. Também demonstra que,conforme prevê a legislação, a competência para julgamento dos pro-cessos fiscais dos Conselhos é das Câmaras Especializadas, não sus-tentando a argumentação apresentada sobre ausência de imparciali-dade nas apreciações.

15 de março de 2005 - O Presidente do CREA/PA encaminhao procedimento ao Relator Conselheiro Engenheiro Civil Luiz SérgioCampos Lisboa, para análise e parecer, para apresentação na Plenáriade 14/04/2005. Em função das argumentações apresentadas pela as-sessoria Jurídica desse Regional, o relator foi favorável aoindeferimento do recurso com efeito suspensivo apresentado pela pro-fissional Geóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso, sugerindo a manu-tenção das orientações emanadas pela Assessoria Técnica, no Parecerde 15/12/2004.

Dessa forma, o processo foi submetido à Plenária OrdináriaNº. 977 objeto de Decisão Nº. 050/2005, aprovando Parecer do Relatorfavorável ao indeferimento do Recurso com efeito suspensivo apresen-tado pela profissional Geóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso.

03 de maio de 2005 - O Presidente do CREA/PA encaminha oOfício Nº. 028 – Plenário / GP / 05 à Senhora Ana Brígida, informan-do a DELIBERAÇÃO PLENÁRIA do Colegiado deste Regional tomadaem Sessão Plenária Ordinária Nº. 977, de 14/04/2005, referente aoPROCESSO Nº. 5445/2004, indeferindo a solicitação e informandoque caberia ‘Recurso’ ao Conselho Federal de Engenharia, Arquitetu-ra e Agronomia – CONFEA.

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23 de maio de 2005 - Em folha do processo com numeraçãorasurada encontra-se petição de Ana Brígida, onde afirma que ‘Tendoem vista a decisão tomada pela Plenária Ordinária 977 – CREA/PA,referente ao Processo 5445/2004, informada em 12/05/2005, solicitao Parecer do Relator – Engenheiro Civil Luiz César Campos Lisboa,para tomar conhecimento e as providências cabíveis. Solicita que oreferido Parecer seja enviado o mais breve possível para o seguinte E-mail:?!?. Conforme atesta a assinatura da Secretária Tânia Ismael deMattos, no referido documento. A solicitação foi devidamente atendi-da em 24/05/2005 através de transmissão para o fax (65) 3027-1177.

Em documento protocolado sob o Nº. 4606, em 25/05/2005,através da Procuradora Camila Malcher, Ana Brígida afirma que ‘Re-cebi ontem (24/05/2005) o Parecer do Relator - Engenheiro Civil LuizCésar Campos Lisboa, que se reporta ao Parecer 156/05 da ASSEJUR/CREA. Para que eu possa conhecer e tomar as devidas providências,solicito que seja enviado, também, o referido Parecer Jurídico’. Nestedocumento a Secretária Tânia Ismael de Mattos atesta: ‘Senhor Presi-dente: Informamos que a documentação solicitada pela referida pro-fissional, já foi entregue aos seus advogados em 25/05/2005, atravésdo Assessor Técnico Joaquim Lucas, destinatário do processo...’.

17 de junho de 2005 - A assessoria devolve o presente pro-cesso a Presidência do CREA/PA, após tomar conhecimento da Deci-são Plenária, e ainda, do Parecer do Ministério Público Estadual – 2ªPromotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cul-tural de Belém, orientando no sentido de ser cumprida a determina-ção contida no processo e considerar nula a ART 234.557, medianteencaminhamento ao setor competente para o cumprimento desse pro-cedimento.

É lamentável dissimulação e evidente a subjugação que ten-tam impor e o que está explícito na afirmativa às fls. 310, solicitandoCERTIDÃO sobre o andamento do procedimento em epígrafe, sob a

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alegação ‘que não mais foi notificada de nenhum ato, após o protoco-lo dentro do prazo legal (07/07/2004), de Recurso dirigido ao Conse-lho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA, res-saltando que, o procedimento continua sob efeito suspensivo enquan-to não for julgado definitivamente pelo CONFEA’.

O documento às fls. 310 contraria o Art. 11 da Resolução Nº.1.004, de 27 de junho de 2003, pois, além de não possuir qualquercomprovação de Protocolo, não contem a identificação e o númeroda matrícula do funcionário do CREA que o anexou ao procedimento.

O CAPÍTULO VIII - DA APRESENTAÇÃO DO RECURSO AOPLENÁRIO DO CONFEA, Art. 44 da Resolução Nº. 1.004 estabelece:da decisão proferida pelo Plenário do CREA, as partes poderão, den-tro do prazo de sessenta dias, contados da data da juntada ao proces-so do aviso de recebimento, ou do comprovante de entrega daintimação, ou por outro meio legalmente admitido, interpor recursoque terá efeito suspensivo, para o plenário do CONFEA. O teor dorecurso apresentado será dado a conhecer a outra parte, que teráprazo de quinze dias para manifestação.

Não procede a alegação de que a Senhora Ana Brígida ‘nãomais foi notificada de nenhum ato após protocolo dentro do prazolegal (07/07/2004), de Recurso dirigido ao Conselho Federal de Enge-nharia, Arquitetura e Agronomia – CONFEA’.

Os comprovantes de recebimento da Decisão Plenária sobreo processo 5445/2004 por Brígida foram fornecidos por ela própria,aos 23/05/2005, através do protocolo de petição, onde afirma que‘Tendo em vista a decisão tomada pela Plenária Ordinária 977 – CREA/PA, referente ao Processo 5445/2004, a mim informada em 12/05/2005, solicito o Parecer do Relator – Engenheiro Civil Luiz CésarCampos Lisboa, para tomar conhecimento e as providências cabíveis.Solicito que o referido Parecer seja enviado o mais breve possívelpara o seguinte E-mail: ?!?. Conforme atesta a assinatura da Secretária

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Tânia Ismael de Mattos, no mesmo documento, e esta solicitação foidevidamente atendida em 24/05/2005 através de transmissão para ofax (65) 3027-1177.

Em documento protocolado sob o Nº. 4606, em 25/05/2005,através da Procuradora Camila Malcher, Ana Brígida reafirma: ‘Rece-bi ontem (24/05/2005) o Parecer do Relator - Engenheiro Civil LuizCésar Campos Lisboa, que se reporta ao Parecer 156/05 da ASSEJUR/CREA. Para que eu possa conhecer e tomar as devidas providências,solicito que seja enviado, também, o referido Parecer Jurídico’. Nestedocumento a Secretária Tânia Ismael de Mattos reafirma: ‘Senhor Pre-sidente: Informamos que a documentação solicitada pela referida pro-fissional já foi entregue a seus advogados em 25/05/2005, através doAssessor Técnico Joaquim Lucas, destinatário do processo... ’.

O prazo legal hábil para a interposição de recurso pela Se-nhora Ana Brígida junto ao CONFEA não foi cumprido. O mais sur-preendente é que o suposto ‘recurso’ nunca foi localizado nos arqui-vos do CREA/PA, e, ao que tudo o indica nunca existiu até o dia 11/09/2006, conforme atesta a Sra. Michelle Godinho, que ‘conformesolicitado por e-mail o documento foi entregue em 11/09/06’.

Referido recurso foi entregue pela denunciada no ConselhoRegional aos 11 de setembro de 2006, portanto com o prazo já pres-crito por mais de 14 meses. E pasmem, através de uma cópiaxerográfica simples, sem qualquer autenticação em cartório, e tudoleva a crer, sem a apresentação do suposto documento original.

Além disso, não nos foi dado o devido conhecimento, emtempo hábil, sobre qualquer recurso da denunciada impetrado no ano2005, para que nos manifestássemos dentro do prazo legal de quinzedias a contar da notificação, conforme previsto no Parágrafo único doArt. 44 da Resolução 1.004/2003.

Muito pelo contrário, não se encontrava no processo, até 11/09/2006, qualquer recurso dirigido ao CONFEA, dentro de prazo le-galmente estabelecido, conforme o Art. 45 da supracitada Resolução

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e de acordo com o Parecer Jurídico do CREA/PA Nº. 260/06, de 29/05/2006. Lamentavelmente, somente fomos notificados para manifes-tação sobre o recurso intempestivo da Sra. Ana Brígida, cerca dequatorze (14) meses após o seu suposto protocolo aos 14 de setembrode 2006.

Restam muitas dúvidas e decepções e mais de quatro anos deespera, e grandes prejuízos na tramitação do procedimento adminis-trativo.

28/03/2006 - Requerido à Presidência do CREA/PA o encami-nhamento do processo para análise da Assessoria Jurídica, para que,diante dos fatos acima, com base no parecer do setor competente,fosse sumariamente indeferido o pedido de encaminhamento de re-curso, com efeito, suspensivo ao CONFEA, relativo ao processo 5445/2004, por parte da Geóloga Ana Brígida Figueiredo Cardoso, pois talrequerimento não encontrava - e continua não encontrando, amparona legislação vigente.

06 de abril de 2006 – O autor requereu à Presidência doCREA/PA cópia da Guia de Postagem do Ofício Nº. 028 – PlenáriaGP/2005, de 03/05/2005, de encaminhamento da notificação da De-cisão Nº. 020/2005 a Ana Brígida Figueiredo Cardoso, com objetivode reconstituir o respectivo Aviso de Recebimento - ‘AR’ junto aosCORREIOS, O QUAL FOI ESTRANHAMENTE EXTRAVIADO DO PRO-CESSO, impedindo que pudesse comprovar ao CREA/PA, através doAR, que o prazo para o pretenso recurso ao Conselho Federal já haviaprescrito. Felizmente, não foram extraviados outros documentos depróprio punho da Sra. Ana Brígida, de sua advogada e da SecretáriaTânia Matos, acima citados, que servem para comprovar a notifica-ção.

Em resposta à solicitação da Guia de Postagem, no dia 09/05/2006, o Vice-Presidente em Exercício do CREA/PA encaminhou aoautor, o Ofício 1042-GP/AJ-06, anexando cópia do ‘Aviso de Recebi-

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mento’ – ‘AR’ da notificação da Decisão Nº. 020/2005 à Senhora AnaBrígida Figueiredo Cardoso, com data de postagem 11/04/2006,ESTRANHAMENTE, CINCO DIAS APÓS O REQUERIMENTO DOAUTOR DA CÓPIA DA GUIA DE POSTAGEM, DO DIA 06/04/2006,OU SEJA, FOI ENVIADO UM NOVO AVISO DE RECEBIMENTO QUEPOSSIBILITOU ABERTURA DE ESPAÇO DE MANOBRA PARA O PRE-SENTE RECURSO AO CONFEA.

29 de maio de 2006 - O Parecer Jurídico Nº. 260/06 do CREA/PA conclui: ‘Do exame do processo conclui-se que houve, de partedo CREA-PA, com a criteriosa condução do feito, no qual as CâmarasEspecializadas competentes e com o apoio dos pareceres elaboradospelas Assessorias – Técnica e Jurídica deixam bem claro a realidadede um processo volumoso, que implica, fundamentalmente, na que-bra de regras fundamentais para o exercício profissional da Engenha-ria, da Arquitetura, da Agronomia e outras modalidades.

Restou provado que as Câmaras Especializadas negaram apoioa uma conduta que fere as Leis 5.194/66, 6.496/77 e Resoluções doCONFEA. A interessada, Geóloga ANA BRÍGIDA, não teve, em ne-nhum momento, cerceado seus direitos, tanto é que o Plenário deConselheiros deste órgão, reunido, apreciou o fundamentado Parecerdo Conselheiro Relator em torno do recurso impetrado, e concluiupela negativa quanto ao que requereu a referida profissional.

Da decisão do egrégio Plenário, as partes foram comunicadaspara que exercessem o direito de recorrer ao CONFEA da decisão. Nobojo do processo não encontramos nenhum documento que atesteprovidência recursal até a presente data. São estas as conclusões aque chegou esta Assessoria Jurídica, a qual encaminha a Vossa Se-nhoria para o devido conhecimento’.

Qual teria sido então, a base legal para que a presidência doCREA/PA fornecesse certidão de que caberia recurso ao CONFEA,uma vez que referido documento (o recurso) nunca foi localizado no

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próprio CREA/PA até o dia 11/09/2006, e o espelho de protocolofantasiosamente atribuído ao mesmo, existente no sistema eletrônicode protocolo do Órgão, não define tal situação.

Dada à importância do ato, entendemos que, se a afirmativa daSra. Ana Brígida fosse verdadeira, no espelho deveria constar RECUR-SO AO CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA EAGRONOMIA – CONFEA, e não simplesmente “SOLICITA RECURSOADMINISTRATIVO CONFORME AS RAZÕES DE FATO E DE DIREITOADUZIDAS EM ANEXO”, o que pode significar qualquer outro tipo depedido, inclusive não relacionado ao processo em questão.

Às fls. 310 verifica-se petição de CERTIDÃO por ANA BRÍGIDAFIGUEIREDO CARDOSO, sobre o andamento do procedimento emepígrafe, sob alegações que não passavam de “divagação” e preten-dendo tão somente procrastinar, o que podia ser comprovado de ma-neira irrefutável pelos motivos expostos, e em nossa petiçãoprotocolada no CREA/PA no dia 28 de março de 2006.

Às fls. 311 do processo 5445/2004 encontra-se a CERTIDÃONº. 001-GP/2006, expedida aos 17 de fevereiro de 2006, ou seja, ape-nas quatro (04) dias após o requerimento da Sra. Ana Brígida, e cercade sete meses após a suposta data do tal recurso, segundo a Sra. AnaBrígida, mesmo sem que fosse localizado e sem que tivéssemos sidonotificados nos termos do Parágrafo único do Art. 44 da Resolução1.004/2003, e, AINDA, sem que o ÚNICO espelho COMPATÍVELQUANTO À DATA, existente no PROTOCOLO do CREA/PA especifi-casse recurso ao conselho federal, conforme deveria especificar.

Ora, somos convictos que o Presidente do CREA/PA pode tersido induzido ao erro ao assinar tal CERTIDÃO, pois está comprova-do o cumprimento do Artigo 43 da Resolução Nº. 1004 do CONFEA,e que a Sra. Ana Brígida Figueiredo Cardoso perdeu o prazo de recur-so ao CONFEA.

Lamentavelmente, a CERTIDÃO Nº. 001-GP/2006 está servin-

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do, para a ré, de instrumento para ‘driblar a justiça’, ganhando tempojunto a SEMA e ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará, em função dasexigências da Procuradoria Geral do Estado e do Ministério PúblicoEstadual para a mineradora apresentar nova ART; em vez disso a ARTanulada continua ‘emprestando amparo legal’ ao licenciamentoambiental ilegítimo do Projeto Bauxita de Paragominas, ao mesmo tempoem que compromete a credibilidade e a reputação desta Egrégia Entida-de de Classe.

Cremos que a apuração do presente processo, pelo CONFEA,obedecerá, estritamente, dentre outros, aos princípios da legalidade,da finalidade, da motivação e razoabilidade, da proporcionalidade, damoralidade, da ampla defesa, do contraditório, da segurança jurídica,do interesse público e da eficiência, diferentemente do que alega a de-nunciada ter ocorrido neste procedimento junto ao Conselho Regional.

Gestão ambiental descentralizada eintegrada com os municípios, necessidade

urgente do Estado

É inquestionável que o IBAMA e a SEMA/PA estão longe depossuir a estruturação ideal para exercer uma gestão ambiental efici-ente, considerando a imensidão territorial do Estado do Pará. Vemosisso todos os dias nos jornais e emissoras de TV. O exemplo queocorre com a saúde e educação, a gestão ambiental descentralizada eintegrada com os municípios paraenses é uma necessidade urgente,com base na Política Estadual do Meio Ambiente e na Política Nacio-nal Integrada para a Amazônia Legal, nas quais já está expresso odesafio de conciliar o desenvolvimento sustentável através de cresci-mento econômico e preservação ambiental.

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O modelo pressupõe formas racionais de uso dos recursosnaturais disponíveis e requer uma revisão crítica do modo de inter-venção do poder público na consolidação de políticas de desenvolvi-mento, assumindo o fortalecimento dos mecanismos de gestãoambiental de modo a conferir mais eficácia ao licenciamento, fiscali-zação e monitoramento desses recursos. É necessária a estruturaçãodos municípios paraenses, para que possam assumir a gestão ambientalde atividades de impacto local, objetivando preparar os municípiospara o processo de descentralização e ou compartilhamento da ges-tão ambiental com o Estado. Cabe ao município atuar nas questõesambientais exercitando a competência legislativa suplementar à com-petência concorrente da União e dos Estados, inclusive a responsabi-lidade administrativa relativa ao dano cometido ao meio ambiente.

No aspecto legislativo, cabe ao município editar normas su-plementares às emitidas pela União e pelos Estados para atender ques-tões de interesse local, restando-lhe, no campo administrativo, exer-cer o poder de polícia administrativa sobre as normas que legislarem,ou de outro modo, sobre as atividades que provoquem impactoambiental local, ou seja, as que não extrapolarem a área do territóriosob sua jurisdição. No contexto do poder de polícia é que se incluemo licenciamento, o monitoramento e a fiscalização de obras e ativida-des impactantes ao meio ambiente, bem como aplicação de sançãoadministrativa por danos cometidos ao meio ambiente, configuradacomo infração, apurada através de processo administrativo punitivo.

MunicípioPossui competência legislativa e administrativa para atuar no

meio ambiente, mas para consolidá-las carece de infra-estrutura ad-ministrativa, legal e financeira. No que se refere à infra-estrutura ad-ministrativa, é necessário criar, através de lei, na estruturaorganizacional da Prefeitura, uma unidade administrativa com fun-

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ções voltadas ao exercício do poder de polícia administrativaambiental. Tal unidade deverá contar com técnicos legalmente habili-tados para desenvolver as funções inerentes ao poder de polícia ad-ministrativa ambiental, conforme art. 20 da Resolução 237/97 doConselho Nacional do Meio Ambiente.

Infra-estruturaNo campo da infra-estrutura financeira é necessária previsão

de dotação na lei orçamentária para custear as atividades, ou serfacultado a abertura de créditos suplementares e especiais. No que serefere à infra-estrutura legal, o município, obedecendo às normasgerais editadas pela União e Estados, ambas incidentes sobre a prote-ção do meio ambiente e a responsabilidade administrativa ambiental,deverão suplementá-las, a fim de atender peculiaridades locais.

O município poderá fazer a suplementação das normas naci-onais e estaduais, não somente através de lei específica, como pelainclusão de normas voltadas ao controle ambiental nas leis que sãopróprias com exclusividade, como o Código de Obras, o Código Tri-butário, a Lei de Parcelamento do Solo Urbano, Plano Diretor, noqual se inclui o Zoneamento Ecológico-Econômico, o Código de Pos-turas, dentre outras. A competência suplementar do município não serestringe a proceder à reprodução de normas nacionais e estaduais,na legislação municipal, mas abrigar as suas especificidades locais.

O exercício da competência originária do município exige ainstituição de uma política municipal de meio ambiente, com a defi-nição de seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como o siste-ma municipal de meio ambiente, por força da Lei 6.937/81, para oexercício da gestão ambiental dos recursos naturais por parte do Po-der Público.

O município deve ainda instituir, através de lei, taxas e tari-fas para fazer face ao custo da atividade municipal realizada com o

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licenciamento ambiental, com a prestação de serviços ambientais epelo uso das unidades de conservação e outros recursos ambientais.Além da competência constitucional originária do município sobre omeio ambiente, este pode exercer atividades de gestão ambiental ine-rentes à competência do Estado, especialmente o licenciamento e afiscalização, através do instrumento da delegação a qual pode se daratravés de lei ou pode ser procedido por meio de convênio.

Assim sendo, pela delegação, o município exercerá as ativi-dades inerentes a gestão ambiental que lhe forem repassadas peloEstado, aplicando a legislação nacional, estadual e municipal. A le-gislação nacional e estadual deve ser aplicada no que se refere àsnormas que impõe limitações administrativas – obrigação de fazer enão fazer – no uso dos elementos constitutivos do meio ambiente, noque diz respeito às normas sancionadoras e ao processo administrati-vo punitivo aplicável às condutas danosas ao meio ambiente. A legis-lação municipal, no que se referem aos demais assuntos correlatos àmatéria, especialmente as normas de uso e ocupação do solo urbanotambém devem subsidiar a concessão das licenças ambientais.

Convênio de gestão ambientalEm síntese, para que os Municípios possam se habilitar à

assinatura de convênios de descentralização/compartilhamento dagestão ambiental com o Estado: deverão possuir unidade administra-tiva com o fim de desempenhar as funções inerentes ao poder depolícia administrativa ambiental, bem como possuir em seu quadrocorpo técnico próprio, devidamente capacitado, para o exercício dafunção inerente à gestão; deverão prever dotação na lei orçamentáriamunicipal para a execução de programas, projetos e atividades volta-das para a proteção dos recursos naturais; deverão possuir ConselhoMunicipal de Meio Ambiente atuante e com detalhamento de suacomposição, observada a participação da sociedade e criar modelosde licenças ambientais assim como autos de infração e demais instru-

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mentos necessários à execução das ações de licenciamento, fiscaliza-ção e monitoramento ambiental; deverão criar em lei o Fundo Muni-cipal de Meio Ambiente, como forma de assegurar a aplicação oriun-da dos recursos a serem arrecadados com a imposição de taxas, tari-fas e multas ambientais e outras fontes na execução de projetos volta-dos para o desenvolvimento ambientalmente sustentável. O meioambiente e as futuras gerações agradecem penhoradamente.

Na contramão dos países desenvolvidos

Ao longo do último século, principalmente após a RevoluçãoIndustrial, os países começaram uma vertiginosa escalada de cresci-mento econômico o que gerou o aumento da demanda energética,não só em função das necessidades das indústrias em expansão, mastambém por causa do crescimento da população mundial. A conseqü-ência mais direta é o aumento da temperatura média do planeta emfunção da concentração de CO2, numa média de 0,4% anuais. Esteaumento se deve principalmente à utilização crescente de combustí-veis fósseis e à destruição das florestas tropicais.

Encerrou no dia 28 de Setembro de 2007, rodada de audiênci-as públicas convocadas pelo Ministério Público do Pará, para discutiro projeto da Companhia Vale do Rio Doce que pretende instalar umaUsina Termo Elétrica – UTE alimentada por carvão mineral emBarcarena.

As reuniões serviriam de base na análise da Secretaria de MeioAmbiente – SEMA, que definiria se a obra receberia licença prévia ounão. A aprovação desse projeto deveria ter passado por uma rigorosaanálise quanto à eficiência dos sistemas de tratamento propostos dosefluentes sólidos, líquidos e gasosos que serão gerados, bem como, osquantitativos que seriam lançados no meio ambiente.

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A aprovação do projeto poderia representar uma importantecontribuição para aceleração do processo de aquecimento global, namedida em que, através da queima de combustíveis fósseis, no caso ocarvão mineral, devolveria abruptamente à atmosfera aquilo que anatureza levou milhões de anos para retirar e acumular no subsolo,sem mencionar os sérios casos prováveis de perturbação à saúde hu-mana.

A opção pelo carvão mineral, certamente é a alternativa maiseconômica. É mais fácil e barato para a empresa importar o carvãomineral da Austrália do que investir em alternativas ecologicamentecorretas, porém mais onerosas, tendo que enfrentar a legislaçãoambiental brasileira. Qual a razão para não terem planejado um forteprograma de reflorestamento para produção de carvão vegetal nasáreas já degradadas do Pará? Isso seria mais vantajoso, pois gerariamenos poluição e teria um impacto social e econômico infinitamentemaior, através da geração de emprego e renda e da inserção econômi-ca das áreas de degradadas.

Além disso, as áreas de reflorestamento, durante a fase dedesenvolvimento das espécies cultivadas, gerariam importantes quan-tidades de créditos de carbono, contribuindo para a redução do aque-cimento global.

Queimar significa desencadear reações poderosas, muitasdelas irreversíveis; significa basicamente oxidar o carbono e algunsoutros elementos (inorgânicos e metálicos), consumindo o ar, portan-to consumindo o oxigênio e o nitrogênio do ar. Queimar não é so-mente esquentar muito, mas esquentar rapidamente, mudar pressõese densidades dos materiais, modificarem combinações químicas emoleculares, mantendo-se, entretanto, a soma total de massa e ener-gia constante, conforme os princípios da termodinâmica.

Os estudiosos das ciências naturais consideram a queima comouma reintrodução dos elementos, de seus íons e compostos nos ci-

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clos bioquímicos prevalecentes, uma reintrodução de origemantropogênica. A queima lança no ar e deixam no chão, nos locais daqueima e nas instalações onde se deu a queima, três tipos principaisde substâncias e de compostos: 1) os hidrocarbonetos – CxHy -, in-clusive os aromáticos e os policíclicos aromáticos (P.C.A.), os óxidos(CO, CO2) e os fotos oxidantes, como o peroxi-acetil-nitrato (P.A.N.);2) os elementos inorgânicos, (Enxofre – S -, o Nitrogênio -N -, oPotássio – K -, o Flúor – F – dentre outros) mais os seus compostosoxidados (SO2, NO, NO2, p.ex.) ou combinados com hidrogênio(p.ex.HF. HNO3) ou com metais (nitratos, sulfatos); 3) pequenas pro-porções de metais pesados, ou de íons, sais e óxidos destes metais(p.ex. Al, As, Cu, Hg, Pb, Cd, Cr, Sb).

Estas substâncias e compostos provêm da queima dos nume-rosos materiais há muito tempo utilizados pelos homens: lenha, car-vão vegetal, turfa; óleos e tortas obtidos das carnes e vísceras ani-mais, das sementes e dos grãos; bagaços, palhas, cascas e fibras dosgêneros alimentícios beneficiados ou processados. Mas os atuais co-quetéis poluentes provêm principalmente da queima de carvão depedra (mineral), (antracita, hulha, linhita), dos óleos minerais e dosgases do subsolo, e provém da queima de qualquer um dos seusderivados, inclusive das sucatas e resíduos destes produtos (p.ex. quei-ma dos restos de plásticos e borrachas).

O resultado imediato de cada queima é, portanto a produçãode outros compostos, gases, misturas de gases, vapores, líquidos epartículas em suspensão, cinzas e borras. Mas o resultado acumuladode todas as queimas é uma enorme desproporção entre as quantida-des e as concentrações hoje emitidas – e aquelas quantidades e con-centrações estimadas para a nossa era geológica, até um ou poucosséculos atrás. Isto vale para o CO, para o CO2, para os CxHy (desta-cando-se o metano e o benzeno), vale para os SOx e NOx, para agrande maioria dos compostos inorgânicos e para alguns dos com-postos fotos-oxidantes; esta desproporção é um verdadeiro salto qua-

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litativo inédito. São necessárias precauções antes de aprovar tais li-cenças ambientais, pois a concepção do projeto se choca aos proce-dimentos preconizados pelo Rio ECO – 92, Protocolo de Quioto eConvenção Quadro sobre mudanças do Clima (UNFCCC), que sãoadotados por países mais desenvolvidos e até por alguns menos de-senvolvidos que o Brasil, os quais refugam e proíbem o emprego de talalternativa em seus territórios. Enquanto políticos de diversas partes domundo chegaram, em fevereiro de 2007, a um novo acordo para ame-nizar as mudanças no clima do planeta, pois vários países concorda-ram que as nações em desenvolvimento têm de reduzir emissões decarbono, assim como os países ricos, a Vale pede licença ao Estado doPará ‘o pulmão da Amazônia’, para trilhar o caminho inverso.

Instalação de Termelétrica

Pesquisando na internet sobre radioatividade, encontrei umexemplo que abrange muitos setores industriais, em especial a side-rurgia, que é a queima do carvão mineral que contém elementosradioativos como urânio e tório. Uma avaliação do impacto radioló-gico resultante da queima do carvão para gerar energia elétrica vemsendo realizada no Reino Unido, pelo National Radiological ProtectionBoard (NRPB), considerando várias formas de exposição: liberaçãode cinzas e radônio para atmosfera, descarte de cinzas, uso dessematerial como subproduto industrial e outras. Resultados prelimina-res indicam que as exposições mais elevadas resultam do empregodas cinzas na construção civil e que a liberação na atmosfera conta-mina a vegetação local.

Entre as indústrias em que os problemas de exposição à radi-ação podem ser mais significativos destacam-se as do ciclo de lavra ebeneficiamento de minerais. Isso porque alguns minerais, ao se for-

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marem, incorporaram urânio e tório em proporções superiores à mé-dia da crosta terrestre. A extração e o processamento industrial alte-ram as condições físico-químicas que esses materiais apresentam nanatureza, o que pode levar ao lançamento de parcelas significativasdos elementos radioativos no meio ambiente. O aumento da radioati-vidade natural em resíduos sólidos da mineração, efluentes líquidos eemissões gasosas, e também em produtos e subprodutos que venhama ser usados por outros setores industriais, como as cinzas na cons-trução civil, pode resultar em maior exposição de trabalhadores e dapopulação em geral.

Por determinação da Comissão Nacional de Energia Nuclear -CNEN, o Instituto de Radio proteção e Dosimetria - IRD vem coorde-nando um programa de pesquisa bastante amplo para avaliar a exten-são do problema no país, em especial no setor mineral, definir linhasde investigação prioritárias e propor estratégias de atuação em funçãodos resultados obtidos. Também é avaliada a exposição de operáriosnos locais de trabalho, incluindo determinação de elementos radioa-tivos no organismo (em amostras de urina e fezes) e em aerossóis(partículas suspensas no ar), e do radônio acumulado nos locais detrabalho. Estuda-se ainda a viabilidade da alteração das rotas de pro-cesso e da recuperação econômica de resíduos, visando reduzir im-pactos ambientais.

Para estudar as implicações ambientais dessas atividades foidesenvolvida uma metodologia de trabalho que começa na análisedetalhada do processo operacional da indústria. A seguir, a presençade elementos radioativos e não radioativos é identificada em amos-tras colhidas ao longo do circuito operacional.

Em função das exposições estimadas calculam se os riscosradiológicos à saúde humana. Em uma mineração de carvãoinvestigada, o problema principal está no alto teor de urânio medidonas drenagens ácidas. A detecção de valores de radioatividade emtorno de 100 becquerels por litro (Bq/l) nas águas resultantes dessas

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drenagens impede seu lançamento no ambiente sem qualquer trata-mento, pois poderão expor a população a doses acima dos limitesrecomendados pela Comissão Internacional de Radio proteção (ICRP,sigla em inglês).

Cabe destacar ainda dois trabalhos de pesquisadores do IRDsobre o emprego do fosfogesso, como material de construção e comofertilizante agrícola. O primeiro demonstrou que a inalação do isótopo220 do radônio e de seus descendentes de vida curta emanados dasparedes de um cômodo em cuja construção o fosfogesso tenha sidousado como componente da argamassa (e ainda com baixa ventila-ção e sem proteção - tinta - nas paredes) exporia um morador a até80% do valor de dose total. O segundo estudo indicou que os valo-res de dose individual resultantes da ingestão de produtos cultiva-dos com o fosfogesso como fertilizante não representam um aumen-to de risco que impeça esse uso, mesmo no caso de aplicaçõessucessivas durante 100 anos.

O aumento da radioatividade ambiental provocado por ati-vidades humanas é um tema sujeito a intensa investigação. Paraampliar a discussão dessa questão no país, o IRD e a SociedadeBrasileira de Biociências Nucleares (SBBN) realizaram no Rio deJaneiro, no ano passado, o 2º Technological Enhanced NaturalRadiation Symposium (Simpósio sobre Radiação NaturalTecnologicamente Intensificada). Foram abordados, no encontro,aspectos relacionados ao monitoramento desses materiais, às técni-cas de medida, à avaliação das exposições de indivíduos do públicoe trabalhadores, à experiência dos setores industriais, à recuperaçãode áreas contaminadas e à legislação sobre o problema.

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O ectoplasma do seqüestro de carbono

Em declaração à imprensa a diretora de Energia da Compa-nhia Vale do Rio Doce, Vânia Somavilla, justificou, ou tentou justi-ficar, a importância da usina térmica (UTE) a carvão mineral que aempresa programa implantar em Barcarena.

Em relação às emissões de dióxido de carbono, ela citouque somente em áreas protegidas considerando florestas nativas pró-prias e florestas produtivas, “a empresa possui um estoque já fixadode 677,5 milhões de toneladas de CO2, o que corresponde à emis-são de 312 usinas térmicas iguais à de Barcarena” (onde estarãoessas RCE’s?). Seria mais de 2,5 bilhões de árvores protegidas, oque equivale a 14 por cada brasileiro. “E mais 340 milhões serãoplantados até 2010”.

A implantação de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo(MDL), que permite a uma empresa negociar créditos de carbonoconforme as regras estipuladas no Protocolo de Quioto, dependemdo cumprimento de uma série de pré-requisitos até alcançar acertificação da ONU, as chamadas RCE’s (Reduções Certificadas deEmissões).

Para ser aprovado no Brasil, o projeto deve obedecer, entreoutros, a cinco critérios fundamentais: distribuição de renda;sustentabilidade ambiental local; desenvolvimento das condiçõesde trabalho e geração líquida de emprego; capacitação e desenvolvi-mento tecnológico; e integração regional em articulação com outrossetores.

De acordo com Gustavo Mozzer, da Secretaria de Políticase Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciên-cia e Tecnologia (MCT), o processo todo acontece em sete etapas,sendo que as quatro primeiras fazem parte do registro do projeto eas outras três se referem à verificação de sua eficiência.

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Passo 1Elaboração do Documento de Concepção de Projeto (DCP) -

Neste primeiro momento,a empresa identifica onde está o seu poten-cial para contribuir com a redução de emissões e cria o projeto,estabelecendo metas, explicando a metodologia de execução e demonitoramento. Este documento deve incluir ainda a definição doperíodo de obtenção de créditos, a justificativa para adicionalidadeda atividade de projeto e o relatório de impactos ambientais.

Passo 2Validação uma Entidade Operacional Designada (EOD) - ava-

lia o DCP para verificar se ele corresponde aos requisitos internacio-nais que definem o MDL.

Passo 3Aprovação pela Autoridade Nacional Designada (AND) - Após

a validação, AND do país onde será conduzido o MDL atesta que oprojeto contribui para o desenvolvimento sustentável do país. A AND,no caso do Brasil, é a Comissão Interministerial de Mudança Globaldo Clima (CIMGC).

Passo 4Registro - Somente a partir desta etapa o MDL passa a existir

de verdade. O registro é aceitação formal de um projeto validadopelo Conselho Executivo da ONU, que analisa também a metodologiaescolhida e a adicionalidade do projeto, entre outros aspectos.

Passo 5Monitoramento - Faz parte da rotina da empresa responsável

pela execução do projeto. Trata-se do acompanhamento da aplicaçãoda metodologia e alcance de objetivos traçados no DCP, dentro doperíodo de obtenção de créditos. Deve gerar os dados necessáriospara calcular a redução das emissões de gases de “efeito estufa” pre-vistos pelo MDL.

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Passo 6Avaliação - Após o período estabelecido para que a empresa

possa receber as RCE’s, é contratada outra EOD para fazer uma novaauditoria acerca da eficiência do MDL, a fim de encaminhar o relató-rio de verificação para a ONU. A partir daí, o Conselho Executivocertifica que a atividade atingiu um determinado nível de redução deemissões de gases de “efeito estufa” durante um período de tempoespecífico.

Passo 7Emissão dos Créditos - A etapa final é quando o Conselho

Executivo tem certeza de que, cumpridas todas as etapas, as reduçõesde emissões de gases de “efeito estufa” decorrentes das atividades deprojeto são reais, mensuráveis e de longo prazo e, portanto, podemdar origem a Reduções Certificadas de Emissões (RCE’s).

Ao consultar a relação de projetos credenciados pelo Conse-lho Executivo, não encontrei apenas um ligado a Vale do Rio Doce.Quem encontrar outros, por favor, avise.

O aumento da reserva florestal na Amazônia

O aumento da reserva florestal para as áreas localizadas naAmazônia Legal, de 50% para 80%, nos termos da Medida ProvisóriaNº. 2166/67-01, que alterou o Código Florestal Brasileiro, tem provo-cado divergências de entendimento e polemica sobre o assunto. Al-guns entendem que, uma vez averbada a reserva legal de 50%, estariaassegurado ao proprietário o direito adquirido ao percentual, não lheafetando a nova exigência legal. Outros que não deve ser consideradoo direito adquirido e o proprietário adequar-se à nova regra.

O fato é que a Medida provisória trata a questão de forma

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superficial, não discriminando determinadas situações existentes defato e de direito, peculiares para os proprietários rurais na Amazônia,frente às Leis 4771/65 e 7803/89, que sempre estabeleceram a manu-tenção de no mínimo 50% de cada propriedade como reserva flores-tal obrigatória.

Através de parecer normativo da procuradoria em Brasília, oIBAMA tem o entendimento de que as autorizações de desmatamentojá emitidas tornaram-se sem efeito a partir da nova Lei e, desta forma,os proprietários que obtiveram autorizações de desmatamento e nãoas utilizaram, não podem mais fazer. Para os que já as utilizaram,mesmo que parcialmente, foi estabelecida a celebração de um Termode Ajustamento de Conduta - TAC, de forma que não fossem prejudi-cados por eventuais fiscalizações dos Órgãos Ambientais.

Por outro lado, na pratica, a assinatura do TAC significa parao proprietário rural que antes da nova Lei se encontrava em situaçãoregular, a responsabilidade de assumir do próprio bolso, o ônus doreflorestamento. Seria esta a solução? Segundo o parecer normativodo IBAMA, mesmo as reservas florestais legalmente já averbadas em50% devem ser adequadas para 80%, obrigando os proprietários areflorestar as áreas necessárias para completar o referido percentual.

Pergunto de onde virão os recursos para essa adequação? Seráque o Governo Federal vai, finalmente, cumprir à risca a Lei Agrícola,e conceder os incentivos especiais ao proprietário que recuperar comespécies nativas ou ecologicamente adaptadas as áreas já alteradas desuas propriedades? Caso contrario, teriam de ser milhares de produ-tores obrigados a transformar suas áreas já produtivas e regularizadasde acordo com a legislação anterior, em áreas improdutivas? Deixarde produzir bens de consumo para se adequar à nova Lei? Penso queeste assunto deveria ser discutido mais profundamente, para que vi-essem a prevalecer à lógica e o bom senso dentre os que possuem oreal poder de decisão.

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Não há duvidas de que no caso do proprietário que não pro-cedeu qualquer averbação de reserva legal, ou ainda, no caso da aber-tura de novas frentes de exploração em áreas de ecossistemas primá-rios deve ser observada a manutenção de 80%. Por outro lado, oproprietário que sempre agiu dentro da Lei, averbou 50% de suasáreas como reserva florestal obrigatória, e desmatou apenas a outrametade que tinha o direito de utilizar economicamente, não deveriaser penalizado pelo novo formato que, segundo as recomendações doparecer normativo do IBAMA, é obrigado a repor até 30% para com-pletar os 80% de reserva legal.

Considero razoável o entendimento de que não deva ser per-mitido, mesmo para o proprietário que já tenha averbado 50% dereserva, mas que não tenha utilizado a totalidade dos outros 50%permitidos ao uso econômico, a remoção de qualquer diferença deárea a desmatar até completar esse limite, autorizada, mas não utili-zada, através da Lei anterior. Por outro lado, não considero coerentee justa a obrigatoriedade de reposição florestal de qualquer diferençaque tenha excedido os 20% de uso econômico hoje permitido, semque se tenha ultrapassado o limite de utilização econômica de 50%permitido na Lei anterior.

A solução para essa questão vai além da simples celebraçãode Termos de Ajuste de Conduta. Os nossos legisladores devem pro-mover a correção e o aprimoramento textual das normas legais, a fimde evitar que as interpretações distorcidas prevaleçam sobre o bomsenso, e resultem em efeito contrário da lógica, ou seja, em exigênci-as burocráticas absurdas aos já sacrificados proprietários rurais daAmazônia. O Pará saiu na frente, através do Decreto Estadual nº.2141/06 e Instrução Normativa nº. 01 que oferece flexibilidade dautilização quando a proposta considera que o projeto será implanta-do em áreas prioritárias para a atividade dentro do Zoneamento Eco-lógico Econômico do Estado do Pará.

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Papa-chibé! Égua da herança extrativista...

Durante o período de inverno amazônico, lê-se nos jornaissobre o aumento dos preços de hortifrutigranjeiros, quer por fatoresclimáticos nos centros produtores, quer pelo aumento no preço doscombustíveis e, conseqüentemente, do frete. No Estado do Pará, maisde 80% de todo o consumo de hortaliças, particularmente de Belém,vem de produtores das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste doPaís, embutindo no preço original dos produtos o frete, as perdas demanuseio e transporte e ainda os lucros de atacadistas e varejistas.

O preço e a oferta de hortaliças no mercado acabam oscilan-do com as variações climáticas bruscas, como as geadas que destro-em as lavouras do Sul e do Sudeste. A importação de hortigranjeirosde outras regiões brasileiras pelo Pará se deve, principalmente, à faltade uso de tecnologia e às condições climáticas desfavoráveis, ou seja,o excesso, a falta ou a má distribuição de chuvas no Estado. Com osaltos preços praticados e o baixo poder aquisitivo da maioria dosconsumidores, resta ao paraense continuar sendo conhecido nacio-nalmente e internacionalmente como ‘Papa-chibé’.

Na linha não convencional, a agricultura em estufas inclui-secomo modelo alternativo real de produção, com vistas a viabilizar aolericultura em escala comercial e oferecer técnicas de manejo aoprodutor. No Estado do Pará a criação de um cinturão verde da capi-tal, com vários produtores, poderia desenvolver um importante traba-lho nesse sistema de produção, levando-se em conta, também, a vidado solo, o equilíbrio dos agro ecossistemas, a diversificação e o usointensivo de matéria orgânica e principalmente à inclusão social.

É válido citar como exemplo a experiência internacional vivi-da na região de Andaluzia, no Sul da Espanha, que na década de 1940era uma das regiões mais pobres da Europa, possuindo clima semi-árido e solo seco, pedregoso e improdutivo. Onde tudo parecia desfa-

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vorável à agricultura, na década de 60 alguns institutos de pesquisas,com o respaldo de produtores, passaram a desenvolver o cultivo dehortaliças em estufas e, quatro décadas depois, com o aperfeiçoa-mento técnico, a área coberta supera os 25 mil hectares. Somente nofinal da década de 90, portanto há quase vinte anos, o governo espa-nhol e a iniciativa privada investiram 1,5 bilhão de dólares no setor e,na carona do desenvolvimento agrícola, surgiram mais de 160 indús-trias que atuam nas áreas de fabricação de plásticos, agro químicos,sementes, embalagens, que juntas faturam mais de 390 milhões dedólares por ano e geram mais de três mil empregos.

Se isso foi possível realizar em solo pedregoso e em climasemi-árido, por que não o seria na Amazônia? Seria a falta de vontadepolítica aliada ao DNA essencialmente extrativista herdado dos índi-os pelo homem amazônico? Entretanto, o cultivo de hortaliças emambiente protegido é atividade que exige especialização por parte doprodutor em termos de mão-de-obra e de manejo. Este, como se sabe,difere muito do efetuado em campo aberto, principalmente quantoaos tratos culturais, ou o controle de pragas e doenças, irrigações eadubações e a infra-estrutura a ser construída.

Lamentavelmente, apesar do grande volume de investimentosna agricultura familiar, milhares de produtores continuam enfrentan-do sérias dificuldades para desenvolver projetos em suas pequenaspropriedades. Mesmo com o crescimento expressivo dos recursosdestinados a esse segmento da economia, os pequenos produtoresque conseguem financiamento esbarram na falta de acompanhamen-to técnico para desenvolver os projetos e o que antes parecia ser aesperança de obter lucro e melhoria na qualidade de vida acaba setransformando em dívida que dificilmente se consegue pagar, perden-do a área hipotecada e ficando com o nome sujo na praça pelo restoda vida.

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Premonições

Esoterismo é o termo para as doutrinas cujos princípios econhecimentos não podem ou não devem ser vulgarizados. Não souesotérico, mas ao aproximar-se o mês de dezembro de 2007, arris-quei algumas previsões para as declarações que Roger Agnelli fariadurante o balanço de fim de ano da Companhia Vale do Rio Doce, oque provavelmente, a exemplo dos anos anteriores, seria realizado nasede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Agnelli afirmaria que “com os investimentos de bilhões e bi-lhões de reais da Companhia Vale do Rio Doce no Pará nos próximosanos, seria possível que mais de um milhão de pessoas de outrosEstados fosse atraído para terras paraenses. A multidão de migrantescriaria novas demandas de infra-estrutura e serviços ao cidadão quenão vêm sendo supridos pelo Poder Público”. “Isso poderia inviabilizargrandes projetos e, em conseqüência, travar o crescimento econômi-co do País”. “Há grandes projetos que não são viáveis, porque osgastos com o que não é feito pelo Poder Público são imensos”. Ogasto social “acaba tendo que ser incorporado pelas grandes empre-sas e encarecem os projetos. O resultado é o retorno financeiro aquémdo esperado devido ao não cumprimento de obrigações por parte dasprefeituras, governos estadual e federal”.

Mas o executivo não falaria sobre os royalties que geram em-prego, mas não garantem o desenvolvimento. Sob o título “O perfileconômico do município de Parauapebas e os reflexos sociais resul-tantes da compensação financeira pela exploração de recursos mine-rais”, um estudo conduzido por pesquisadores da UFPA traz duasrevelações importantes.

A primeira relativa ao distanciamento entre arrecadação eapuração, concluindo a pesquisa com base na análise da legislação e

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em dados oficiais do DNPM, que valores expressivos deixaram de serefetivamente recolhidos pela Companhia Vale do Rio Doce.

A segunda é referente à estrutura de gastos do município deParauapebas (PA), que revela que a destinação dada aos recursos oriun-dos da CFEM está longe de criar as condições básicas para o desen-volvimento social e econômico que inspiraram a sua criação. A CFEM,segundo a pesquisa, pode servir como instrumento econômico parauma política capaz de canalizar parte da riqueza gerada pela minera-ção, que não é permanente, para outras formas sustentáveis de rique-za, o que faria com que a região continuasse o seu desenvolvimentoapós o término da atividade mineral.

O perfil de gastos, porém, não é nem um pouco animadorquanto à possibilidade de que possa vir a ser alcançado esse objetivo.Pelo contrário. Os números mostram que, ao se exaurirem as reser-vas minerais que hoje se acham em exploração, o município se acha-rá sem perspectivas de crescimento econômico e enfrentando proble-mas sociais muito graves.

Agnelli deveria dizer que, em 2010, o Pará, que é o sétimomaior exportador do Brasil e o quinto em saldo de divisas, deveriaestar gerando bem mais de US$ 8 bilhões líquidos para as contasexternas nacionais, uma contribuição que apenas duas ou três outrasunidades da federação também poderiam dar. Mas não mencionariaque, enquanto representa quase 80% do valor do comércio internaci-onal paraense, a produção mineral tem papel pouco expressivo naformação da riqueza interna.

A mineração entra atualmente com cerca de 4% da receitaestadual de impostos, graças às isenções e vantagens concedidas pelaUnião aos exportadores de semi-elaborados. Mesmo multiplicandopor cinco o valor da produção na década, o peso da mineração seráde 18% da renda tributária em 2010, segundo estimativa do própriogoverno do Estado.

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O executivo também não diria que o Pará não é um dos me-lhores Estados em Índice de Desenvolvimento Humano, mesmo ten-do o segundo maior território e a 9ª população brasileira, e que nãoavançará muito nesse item se depender do ‘boom’ mineral, que pro-voca crescimento e não desenvolvimento. O Pará parece fadado aocupar seu lugar mineral sujeito à circunstância de ficar grande semficar rico.

Agnelli deveria reclamar da insuficiência na oferta de energiaelétrica diante dos planos de expansão da empresa, mas outro aspec-to que não deveria mencionar seria sobre quem desembolsa a energiaelétrica que é subsidiada para a Vale, que são os pobres consumido-res residenciais. O Brasil, particularmente o Pará, estão entre os mai-ores exportadores de energia elétrica subsidiada na forma de minéri-os para os países industrializados.

Outra crítica pontual diria respeito à burocracia em torno dalegislação ambiental do País. Ele deveria considerar que há excessode interlocutores, o que dificulta as decisões sobre questões decisivaspara economia e o desenvolvimento brasileiro. “Para dar início a umgrande projeto é preciso explicar o mesmo argumento mais de 60vezes”. “A discussão passa pelas prefeituras, pelas câmaras munici-pais, pelas secretarias de meio ambiente, pelas assembléias legislativas,Ministério Público, pelo governo federal, movimentos sociais e Funai”.Ele defenderia ainda que as regras ambientais devam ser aplicadas,mas reivindicando clareza nos procedimentos e na discussão comagentes qualificados que pudessem debater os projetos com conheci-mento técnico.

O ano deveria ser classificado como mais “um ano de recor-des”. A Companhia Vale do Rio Doce comemoraria o mais alto valorde mercado da história, dezenas e dezenas de bilhões de dólares. Areceita bruta, o lucro líquido e a geração de caixa seriam de bilhões ebilhões de reais.

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Outro destaque que seria feito são os investimentos em pro-jetos de responsabilidade sócio-ambiental, segundo Agnelli uma “pri-oridade da empresa”. Os números da Vale indicariam que em 2007foram investidas algumas centenas de milhões de reais nessa área. Oexecutivo deveria ressaltar que as ações da Companhia beneficiammais de três milhões de pessoas em 500 municípios no Pará, Maranhão,Espírito Santo e Rio de Janeiro, Estados em que a Vale está instalada.Contudo, não revelaria que tais investimentos correspondem a pou-cos décimos ou mesmo centésimos percentuais do seu valor de mer-cado, idem da receita bruta, da receita líquida, dos seus investimen-tos acumulados e das novas aquisições de empresas.

Savanização da Amazônia é risco iminente

O discurso do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-Moon, norecente lançamento do novo relatório do Painel Intergovernamentalde Mudanças Climáticas - IPCC reafirmou conclusões anteriores daciência: a Amazônia está sufocada. Ele esteve no Pará, no início denovembro de 2007, para conhecer a floresta, onde encerrou um giropela América do Sul sob críticas de ambientalistas e representantescomunitários, por ter se limitado a encontros protocolares sem efeti-vamente observar a depredação do bioma nem visitar trabalhosextrativistas sustentáveis.

As áreas susceptíveis à desertificação, enquadradas no esco-po de aplicação da Convenção das Nações Unidas para o Combate àDesertificação, são aquelas de clima árido, semi-árido e sub-úmidoseco. Segundo o Atlas Mundial da Desertificação, publicado peloPNUMA, e que serve como parâmetro mundial, no Brasil as áreassusceptíveis estão localizadas apenas na região Nordeste e no Nortede Minas Gerais. Há pouco mais de dois anos atrás, nunca imaginei

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que veríamos no vizinho Estado do Amazonas, um dos mais preserva-dos da Amazônia Brasileira, o cenário das famílias da localidadeManaquiri, a 65 quilômetros de Manaus, tomando carona em umcaminhão, lembrando os retirantes nordestinos.

A desertificação é um dos principais problemas ambientaisdo mundo. O principal sintoma é a degradação dos solos, e suascausas são essencialmente duas, as alterações do clima e a atividadehumana. Como fenômeno, é antiga, pois segundo estudos, algumasregiões atualmente áridas já abrigaram uma rica vegetação no passa-do. Infelizmente, à medida que aumentam os fatores que causam aaridez, os desertos continuam avançando. A natureza se vinga!

Aproximadamente um bilhão de pessoas em uma centena depaíses está ameaçado pela desertificação no início do século XXI.Segundo as Nações Unidas, o planeta corre o risco de ver até 41% dasuperfície terrestre transformada em desertos. Na América Latina oproblema é grave e afeta a superfície da maioria dos países. As práti-cas agrícolas inadequadas, o desmatamento, a pressão social, a igno-rância, a omissão e a guerra são consideradas fatores que causam adesertificação, agravada pelas evidências do efeito estufa, que tam-bém é atribuído às atividades humanas, além das causas naturais.

As conseqüências do avanço dos desertos são graves. A fome,as migrações e as fortes perdas econômicas. Inúmeros organismosinternacionais criaram divisões especiais para agir diante deste pro-blema e tudo começa pela informação e esclarecimento ao cidadãosobre este perigo. Isto se verifica, principalmente, no setor agrícola,com o comprometimento da produção de alimentos. Além do enor-me prejuízo causado pela quebra de safras e diminuição da produ-ção, existe o custo quase incalculável de recuperação da capacidadeprodutiva de extensas áreas agrícolas e da extinção de espécies nati-vas, algumas com alto valor econômico e outras que podem vir a seraproveitadas na agropecuária, inclusive no melhoramento genético,ou nas indústrias farmacêutica e química.

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Os problemas sociais estão intimamente relacionados aoscustos econômicos. Segundo estimativas das Nações Unidas, umadieta nutricionalmente adequada para a crescente população mundi-al, implica a triplicação da produção de alimentos ao longo dos pró-ximos 50 anos, meta difícil de alcançar, mesmo sob condições favo-ráveis. Dentro desta perspectiva pode-se esperar um agravamento sig-nificativo no quadro de desnutrição, falência econômica, baixo níveleducacional e concentração de renda e poder que já existem em mui-tas áreas propensas à desertificação nos países pobres e em desenvol-vimento. Sob essas condições vivem milhões de pessoas com poucaou nenhuma chance de se enquadrar em uma economia cada vezmais globalizada.

A falta de perspectivas leva a população a migrar para oscentros urbanos, procurando condições mais favoráveis de sobrevi-vência.

Estes migrantes tendem a agravar os problemas de infra-estru-tura, transporte, saneamento e abastecimento, já existentes nos cen-tros urbanos.

Verifica-se o aumento nos níveis de desemprego e na violên-cia urbana. A desertificação agrava o desequilíbrio regional e nasregiões mais pobres do planeta existe grande lacuna a ser preenchidaquanto ao desenvolvimento econômico e social entre as áreas susceptí-veis ou em processo de desertificação e as áreas mais desenvolvidas.

Lambe-lambe

Agência Estado publicou no último dia 20, que “Lula querinaugurar substituta da Ceará Steel até 2010”. A companhia Siderúrgi-ca de Pecém será construída pela Vale do Rio Doce e a coreanaDongkuk.

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“O LIBERAL” também publicou a notícia mais completa, poisinformou o que nesta mesma ocasião, coube a Agnelli e ao Governa-dor do Ceará, Cid Gomes (PSB), a fervorosa defesa do uso do carvãomineral, que ambientalistas classificam como altamente poluente.

“Tivemos toda a preocupação com a questão ambiental e visi-tei unidades que utilizam carvão”, disse o governador. “Nesses luga-res você é capaz de lamber o chão”, disse, provocando risos na pla-téia onde estavam quatro ministros, empresários do setor, e muitosparlamentares cearenses.

Lamentavelmente, gente graúda literalmente “lambe o chão”por onde passam os projetos da giga-mineradora.

O impacto radiológico resultante da queima do carvão paragerar energia elétrica vem sendo investigado no Reino Unido peloNational Radiological Protection Board (NRPB), considerando váriasformas de exposição: liberação de cinzas e radônio para atmosfera,descarte de cinzas, uso desse material como subproduto industrial eoutras. Resultados preliminares indicam que as exposições mais ele-vadas resultam do emprego das cinzas na construção civil e que aliberação na atmosfera contamina a vegetação local.

Resta saber se o governador do Ceará pretende utilizar o vo-lume gigantesco de cinzas na construção de casas populares para osqueridos irmãos nordestinos, como forma de tratamento e destinaçãodesses resíduos, o que chegou a ser ventilado aqui no Pará.

No Pará, o Ministério Público Estadual condenou a versãooriginal do projeto e mandou a Vale refazer o “dever de casa” relativoao licenciamento ambiental da Usina Termelétrica que a empresadeseja implantar no município de Barcarena. Enquanto há resistênciano Pará, existe toda a receptividade no Ceará, e tudo indica que osneocolonizadores da Amazônia continuarão levando o minério paraensepara beneficiamento e agregação de valor em outras praças, não fi-cando aqui nem o apito do trem. Enquanto os cearenses começam alamber o chão, os paraenses continuam lambendo sabão.

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Nova lei representa grande avanço

O princípio do poluidor-pagador representa um grande avan-ço e já havia sido preliminarmente introduzido em nosso ordenamentojurídico pelo art. 4, VII, sendo complementado pelo art. 14, §1º,ambos da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (6.938, de31.08.1981), logo, há vinte e seis anos antes da Governadora AnaJúlia sancionar a nova lei 6.986/2007.

Acrescenta-se o fato da Constituição de 1988 ter incluído talprincípio entre os seus artigos, como se nota ao ler os §§ 2º e 3º, doart. 225, que obriga o poluidor-explorador a recuperar e reparareventuais danos ao meio ambiente.

O princípio do pagador-poluidor (polluter-pays principle)também é chamado de princípio da responsabilidade ouresponsabilização. Entende que, com base no princípio do poluidor-pagador, “o causador da poluição deve arcar com os custos necessá-rios à diminuição, eliminação ou neutralização deste dano, sendoque o causador poderá repassar tal custo para o preço do produtofinal, de acordo com a concorrência de mercado”.

A adoção deste princípio no território brasileiro, particular-mente no Pará, proporciona a inserção da teoria do risco-proveito,que acarreta enormes mudanças na teoria da responsabilidade civil,proporcionando a responsabilização. Este instituto do Direito Civilobriga o poluidor a indenizar e/ou reparar os danos causados aomeio ambiente e a terceiros prejudicados pela atividade poluidora,existindo ou não culpa do poluidor, de acordo com o inciso VII, doart. 4, da lei 6938/81.

Recentemente, surgiu a idéia do princípio do usuário-paga-dor, sendo que alguns autores do direito ambiental consideram queeste comporta o princípio do poluidor-pagador. Assim, o princípiodo usuário-pagador consiste no fato do usuário dos recursos natu-

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rais poderem sofrer a incidência de um custo - instrumento econô-mico - devido à utilização dos bens naturais A quantia arrecadada édestinada para a proteção e reparação do meio ambiente.

Fenômenos que, durante o processo produtivo, alem de oproduto ser comercializado são produzidos externalidades negati-vas, embora resultantes da produção, que são recebidas pela coleti-vidade, ao contrário do lucro, que é recebido pelo produtor privado.Enfim, não se compra o direito de poluir mediante a internalizaçãodo custo social. Caso este custo seja insuportável para a sociedade,ainda que internalizado, a interpretação jurídica do poluidor paga-dor impede que o produto seja produzido e socializado o custo daprodução. Este é um dos pontos de dessemelhança da interpretaçãoeconômica para a jurídica acerca do poluidor pagador.

A Lei nº. 6.986/2007, recentemente sancionada pela Gover-nadora, não é um equívoco, nem deveria abalar a boa fé das rela-ções do setor mineral com governo. É sim um exemplo claro decomo se deve legislar, com seriedade, trazendo efeitos positivospara toda a cadeia produtiva, beneficiando a todos.

Se os efeitos externos negativos do mercado são suportadospela sociedade, em prol do lucro do responsável pelo produto, queem alguma fase da cadeia de mercado é degradante ao meio ambi-ente ou diminui o exercício do uso comum dos componentesambientais, nada mais justo que todos os custos de prevenção, pre-caução, correção da fonte, repressão penal, civil e administrativa,que são despendidos pelo Estado, a quem incumbe à gestão doscomponentes ambientais, sejam suportados pelos responsáveis pe-las externalidades ambientais. Parabéns ao Ministério Público doEstado do Pará, onde nasceram os ideais do projeto de lei,parabéns aos Deputados Estaduais e a Governadora Ana JúliaCarepa. É assim que se defendem os legítimos interesses do Estadodo Pará. Resta a aplicação.

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Miséria, Prostituição e Meio Ambientemisturam-se no Pará, até quando?

O Estadão de 25 de Novembro de 2007 publicou a brilhantematéria de Bruno Paes Manso, sob o título “Miséria e prostituição natrilha de L., 15 anos”, elucidando as raízes socioeconômicas de umepisódio que ganhou repercussão nacional e internacional. Bruno re-lata que a dois quilômetros da praia da Vila do Conde - onde anco-ram navios estrangeiros vindos das Filipinas, Croácia e Rússia parabuscar minério no complexo industrial Albras-Alunorte, ligado à Com-panhia Vale do Rio Doce - vive Francicléia Félix Alves, de 44 anos,mãe de cinco filhos, entre eles L. de 15, presa em outubro numa celacom 20 homens em Abaetetuba, cidade vizinha a Barcarena, no Esta-do do Pará.

...”Francicléia chegou à Vila do Conde em 1984, um ano an-tes da inauguração da Albras, em busca de bons empregos. Por faltade estudo, não conseguiu e ainda teve de enfrentar os problemas deuma cidade que ainda não parecia pronta para o progresso.” “Quandoo porto abriu ficou difícil para criar as meninas por aqui. Eu trabalha-va na roça e nunca tive preguiça de pegar na enxada. Mas, com a faltade emprego, hoje as meninas preferem o dinheiro fácil e vão para aprostituição”, diz Francicléia, enquanto cuida da neta Vitória, de doismeses, filha de uma de suas filhas, de 14 anos, em um barraco peque-no e abafado, que divide com outras 11 pessoas.

O caso é emblemático e reflete o desequilíbrio estrutural nasregiões do Brasil, aliado à implantação de grandes empreendimentos,especialmente no Pará, como a abertura de estradas, a construção deusinas hidrelétricas, a implantação de grandes projetos de mineraçãoe os próprios projetos de assentamento e reforma agrária do governo,que contribuíram - e continuam contribuindo - para que milhares de

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famílias de agricultores e desempregados migrem para o Pará pornão encontrarem em seus locais de origem as condições básicasnecessárias para se ter uma vida digna, agravando problemas soci-ais locais e onerando o erário.

Não podemos confundir os impactos primários, qualquerque seja o tipo de exploração, com os impactos secundários dacolonização espontânea e o desmatamento total associados à agri-cultura de corte - queima problemas seculares de origemsocioeconômica agravados com a histórica inoperância e/ou omis-são e falta de planejamento do Estado em relação à exigência decompensações, no processo de licenciamento ambiental de empre-endimentos altamente impactantes, principalmente os de explora-ção mineral.

As empresas são obrigadas a satisfazer exigências legais per-tinentes ao processo de licenciamento, enquanto o papel do Estado,dentre outros, é cumprir a Política Estadual de Meio Ambiente. Atravésdos instrumentos de licenciamento e controle ambiental devem serprevistas e definidas medidas de compensação e mitigação de im-pactos, principalmente as medidas de natureza socioeconômica,sendo estabelecido em audiências públicas a quem cabe a atribui-ção de cada uma delas, se ao empreendedor ou ao poder públicomunicipal, estadual ou federal.

As entidades públicas e privadas devem cumprir o processode licenciamento ambiental, definindo antecipadamente as medidase as atribuições compensatórias, mitigatórias e de incremento decada projeto, que promovam o crescimento econômico das empre-sas e o desenvolvimento social e econômico das populações atingi-das, condicionando a concessão e renovação das licenças, sem asquais os projetos não podem se instalar e operar legalmente, aocumprimento dessas medidas, para depois o Estado não ter de cor-rer atrás, parecendo que está pedindo favor ou conseguiu algo extra-ordinário.

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Vale: Projeto fantástico de estatizaçãoé impossível de realizar.Será que Vale a pena?

O Presidente Lula fez duras críticas à decisão do PT de abra-çar “uma causa demagógica”, pois considera “irreal” a organizaçãode plebiscito sobre a possibilidade de anulação da privatização daCompanhia Vale do Rio Doce.

Do mesmo modo, seguindo a mesma linha de raciocínio,deve ser “irreal” a acusação de que, em 1997, a Companhia Vale doRio Doce – patrimônio construído pelo povo brasileiro – foi fraudu-lentamente privatizada e que a Vale, empreiteiras e bancos foram osprincipais doadores de Lula, conforme publicado no Valor Econômi-co de 29 de novembro do ano passado.

O real é que o controle acionário da companhia tem quecontinuar nas mãos de grupos privados, que têm o direito ao lucro dacompanhia, cuja produção está totalmente voltada para exportação. Éirreal que, de tudo aquilo que é produzido pela Vale, pouco ou quasenada fica nas mãos do trabalhador, pois o Estado não sabe, ou nãotem interesse, em tirar proveito, em sua plenitude, das prerrogativasestabelecidas na legislação ambiental.

Deve ser irreal que a Companhia Vale do Rio Doce foi amaior doadora à campanha da reeleição do presidente Luiz InácioLula da Silva. A mineradora não doou R$ 4,05 milhões ao comitêfinanceiro do PT, que não repassou ao caixa da campanha do candi-dato.

Também deve ser irreal que as doações legais foram feitaspor meio de duas empresas controladas pela Vale do Rio Doce. Porlei, a mineradora não poderia fazer doações diretas porque ela é dona

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de concessões públicas no setor de ferrovias. Por conta desta limita-ção, é irreal que o dinheiro tenha sido entregue pela Caemi e Mine-rações Brasileiras Reunidas (MBR).

A Vale do Rio Doce, presidida por Roger Agnelli, tambémnão foi uma das que mais financiou candidaturas vitoriosas a Câma-ra Federal, não elegendo 46 deputados, conforme levantamento rea-lizado por Valor Econômico. No Legislativo, a Vale não gastou R$5,3 milhões.

É irreal que, a energia elétrica continue sendo exploradapelo capital privado, com o povo pagando até dez vezes mais que asgrande empresas. É irreal que o Brasil esteja na quinta colocaçãoentre os países de energia mais cara do mundo, apesar de possuiruma das fontes mais baratas de energia gerada na hidrelétrica. Éirreal que cerca de 500 empresas brasileiras pagam, em média, R$0,06 centavos o kilowatt, ao passo que o trabalhador paga 0,60centavos o kilowatt.

É irreal que, antes do plebiscito popular ocorrido no perío-do de primeiro a sete de setembro de 2007, a Companhia jogousuas fichas na publicidade massiva ‘lavagem cerebral’, mesmo parase contrapor à campanha. É irreal que, em horário nobre na televi-são, com a voz da atriz Fernanda Montenegro, a companhia anun-ciou seu vínculo com o país e com o meio ambiente. Isso apesar deos movimentos sociais denunciarem que os rumos da empresa sãodecididos, hoje, pelo consórcio Valepar, que tem a presença dobanco Bradesco, e pelos acionistas preferenciais, 62% deles estran-geiros.

É irreal que, a Vale ressaltou seu caráter de preservação domeio ambiente, quando o trabalho de formação para o plebiscitoapontou o contrário, a produção da companhia explora a camadavegetal da Amazônia com o objetivo da exportação. Quem sofre é oser mais primordial, ‘o homem’.

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Balanço anual da Vale em 2007

Ao dar a informação no almoço de balanço anual da Valecom jornalistas de todo o país e correspondentes estrangeiros, noúltimo dia 7 de dezembro de 2007, Roger Agnelli avançou substanci-almente no discurso em relação ao do ano anterior, e acabou fazendouma crítica contundente aos governos do PSDB.

Devemos concordar com Agnelli, pelo menos parcialmente.São muitas as reportagens veiculadas na imprensa, notadamente em“O Liberal”, que poderiam servir de base para considerar procedentea afirmação sobre a “politização na relação do governo anterior coma empresa”.

No primeiro semestre de 2003, por exemplo, a Vale anun-ciou que investiria no Projeto Bauxita, no Pará, empreendimento queviria a gerar cerca de 2.500 empregos em Paragominas, na fase inici-al. Segundo o relatório de impacto ambiental produzido, em relaçãoà alteração do cotidiano das populações, iniciado o processo de im-plantação, esta poderia se fazer presente nas localidades e municípi-os da região com um maior número de pessoas, em particular indiví-duos masculinos. A circulação e permanência dos mesmos poderiamafetar o cotidiano da vida das populações locais. Contextos sociaissimilares têm tido como manifestação associadas a este quadro oaumento da violência e da prostituição, com conseqüentes doençasinfecto-contagiosas e sexualmente transmissíveis.

Como observadores nunca endossamos ações que pudessemou possam implicar a utilização do licenciamento ambiental comosimples “moeda de troca” para a obtenção de compensações. Comoexemplo de um passado recente, citamos a demora na liberação dolicenciamento ambiental para o projeto de extração de bauxita daCompanhia Vale do Rio Doce em Paragominas, como simples repre-

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sália do governo anterior à implantação do pólo siderúrgico que aempresa levaria para o Maranhão, conforme foi amplamente divulga-do na imprensa.

Gostaríamos de destacar a postura de defesa que chegamos aassumir em relação ao Projeto Bauxita de Paragominas, em obediên-cia à ética profissional. Dentre as entidades públicas ou privadasatuantes em toda a região, foram dos poucos, se não os únicos, a sairem defesa do projeto publicamente, através do Jornal O Liberal, oqual publicou na página dois do caderno PAINEL de 15 de fevereirode 2004, matéria onde saímos em defesa da Vale, criticando o entãoGoverno do Estado do Pará na medida em que este condicionava aliberação da licença prévia do Projeto Bauxita de Paragominas a cer-tas compensações, em nosso entendimento indevidas, exigidas emtroca pela perda do pólo siderúrgico que iria para o Maranhão.

Tanto que em março de 2004, a Vale decidiu ingressar comdois mandados de segurança na Justiça estadual para forçar o Conse-lho Estadual do Meio Ambiente (Coema) e a então Secretaria de Esta-do de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam), do Pará, a sepronunciarem a respeito da concessão da licença ambiental para im-plantação da mina em Paragominas, incluindo a construção domineroduto para transportar o minério extraído naquele municípioaté um terminal em Barcarena.

Em razão da agenda de compensações apresentada pelo gover-no da época, a qual previa inclusive, a construção de trinta mil casaspopulares, a CVRD optou pela alternativa judicial para dirimir de umavez por todas o impasse que cercava a implantação do projeto, ganhan-do a licença pretendida, até porque, segundo a legislação, a Sectamteria o prazo máximo de um ano para se manifestar sobre olicenciamento, sob pena da migração dessa atribuição para o Ibama, oque seria ainda mais humilhante. O Governo do Estado e a CompanhiaVale do Rio Doce, finalmente, encontraram uma ‘saída’ para o impasse

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em que se transformou a liberação da licença ambiental para o inícioda lavra em uma das minas mais importantes do setor no país.

Na prática, houve grande distorção no enfoque da questão,pois àquela altura já era extemporâneo falar-se em compensaçõespela perda do pólo siderúrgico, para o qual não existia volta. Em vezde interromper projetos tentando obter compensações indevidas, emvirtude de não constarem em processos de licenciamento ambiental,seria mais produtivo que tivessem feito valer na melhor concepção, aLei Ambiental Estadual sem tentar estabelecer “moedas de troca” po-líticas aleatórias, mas analisando tecnicamente “com lupa” os proje-tos e definindo previamente as compensações de cada um deles, comisenção, imparcialidade e em comum acordo com o empreendedor,no caso a Vale, além do Governo Federal e os municípios envolvidos.

Concluindo, o jargão que o Pará deveria ser compensado pelopólo siderúrgico do Maranhão acabou se transformando em um mito.Primeiro, porque a decisão de levar o empreendimento para o estadovizinho não era recente, já teria sido tomada pela Vale há décadas e,com certeza, isso ocorreu devido ao empenho político de represen-tantes que não dormiram tomando rupinol nem brigaram entre sitentando acordos individuais. Pelo contrário, firmaram - ou tentaramfirmar – parcerias coletivas, explícitas com a sociedade, propondo-sea entrar com parte da infra-estrutura e tomando providências de atri-buição do Estado para viabilizar a implantação do projeto. Lamenta-velmente, enquanto se preocupava com compensações pelos possí-veis projetos do Maranhão, o Pará se esquecia de estabelecer legal-mente e formalmente, através do licenciamento ambiental, as justascompensações pelo projeto bauxita, efetivamente instalado em terri-tório paraense, independentemente de todas e quaisquer ações volun-tárias efetivamente já desenvolvidas pela empresa em qualquer seg-mento.

A questão do relacionamento entre a Vale e o Governo do

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Pará foi abordada por Roger Agnelli diante da declaração feita no dia6 de Dezembro de 2007, na cidade de Breves, pelo presidente LuizInácio Lula da Silva. Quando em visita ao Pará e na presença dagovernadora Ana Júlia Carepa, Lula criticou a Vale, por se limitar àexportação de minério bruto, e observou que a empresa ‘deve mudara sua lógica’.

Para Roger Agnelli, a articulação entre a Vale e o governoestadual é importante porque, atuando juntos, poderão mais facil-mente identificar os interesses comuns e priorizar os investimentos,ajudando-se mutuamente. ‘Com a Ana Júlia no governo e o apoioindispensável do presidente Lula, que também tem interesse nisso,nós poderemos trabalhar de mãos dadas’, aduziu. Dada à dimensãodos interesses da Vale no Pará, conforme frisou, a Vale poderá ajudaro Estado a fazer muita coisa - ‘e isso não só em termos de dinheiro’,destacou.

Barcarena: a ‘nova Cubatão’ da Amazônia

Barcarena, cidade berço da Cabanagem, é um importante póloindustrial onde é feita a industrialização, o beneficiamento primárioe a exportação de minérios como caulim, alumina, alumínio e cabospara transmissão de energia elétrica.

Atualmente, o pólo industrial de Barcarena começa a enfren-tar o que a cidade de Cubatão, no Estado de São Paulo, já enfrentouno passado: a ameaça constante de poluição proveniente das indústri-as do seu grande pólo petroquímico. Contudo, com a união entreindústrias, comunidade e governo, Cubatão conseguiu controlar 92%das suas fontes poluidoras, tanto que em 1992, recebeu da ONU otítulo de ‘Cidade Símbolo da Recuperação Ambiental’.

Monitoramento ambiental é um processo de coleta de dados,

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estudo e acompanhamento contínuo e sistemático das variáveisambientais, visando identificar e avaliar qualitativamente equantitativamente as condições dos recursos naturais em um deter-minado momento, assim como as tendências ao longo do tempo ouas variações temporais. As variáveis sociais, econômicas einstitucionais, principalmente, também devem ser incluídas, por exer-cerem influências sobre o meio ambiente.

No caso de Barcarena, é necessário consolidar uma rede demonitoramento, que é o sistema planejado e organizado de coleta deinformações específicas ou inter-relacionadas, que gera informaçõesa partir dos dados coletados e aumenta o conhecimento para a toma-da de decisão e o planejamento ambiental. O monitoramento deve serrealizado em vários locais, formando a chamada rede de monitoramento.Trata-se de um sistema com obtenção de dados em várias áreas, deabrangência local, regional, nacional e até mesmo internacional, capazde fornecer uma base de dados comparativa, tanto em relação ao pró-prio local amostrado, quanto com outras regiões.

É necessário o estudo e o acompanhamento contínuo e siste-mático da liberação de elementos, radiações, vibrações, ruídos e subs-tâncias ou agentes contaminantes pelas indústrias, na região, prejudi-cando os ecossistemas biológicos ou os seres humanos, comporta-mento de fenômenos relacionados à poluição que vêm ocorrendocada vez com mais freqüência em Barcarena, através de eventos esituações específicas, cujas condições são necessárias identificar, ava-liar e comparar.

Os órgãos envolvidos devem colocar em prática ummonitoramento eficiente de longo prazo, estudando as variações nodecorrer do tempo e acompanhando de forma contínua os fatores aavaliar, fornecendo resultados orientados por estudos de tendências.Entretanto, o controle de qualidade dos resultados emitidos passapelo controle da atuação dos técnicos, bem como por procedimentos

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de avaliação dos métodos de coleta e análise, calibração de equipa-mentos, demarcação de áreas, entre outros aspectos.

Independentemente da duração desta atividade, um dos princi-pais produtos desse monitoramento deve ser uma avaliação que permi-ta compreender os resultados qualitativos e quantitativos e a aplicaçãodos mesmos, subsidiando medidas de planejamento, controle, recupe-ração, preservação e conservação do ambiente em estudo, bem comoauxiliar na definição das políticas ambientais e refletir a relação deações antrópicas e fatores naturais sobre o meio ambiente, e o resulta-do da atuação das instituições por meio de planos, programas, proje-tos, instrumentos legais e financeiros capazes de manter as condiçõesideais dos recursos naturais ou recuperar áreas e sistemas específicos.

Dessa forma, as informações geradas devem transmitir clare-za aos técnicos, aos tomadores de decisões, à comunidade científicae toda a sociedade sobre a situação que se pretende analisar, possibi-litando a prevenção e a identificação imediata dos responsáveis porquaisquer acidentes ou contaminações ambientais que venham a ocor-rer. Assim, Barcarena poderá vir a ser uma nova Cubatão, e tambémreceber um prêmio da ONU, não só pela recuperação de áreas polu-ídas, mas, principalmente, pela prevenção. Ou então, será uma novaCubatão do passado, uma das cidades mais poluídas do mundo.

O público e o privado, o oficial e oficioso

O Liberal de 20 de dezembro de 2007 publicou matéria nocaderno Poder, que o governo do Pará e a diretoria da Vale assinaramtrês protocolos de intenção anunciando ações de pesquisa tecnológicae formação de mão-de-obra local na área de mineração. A parceriapretende ‘conter o desmatamento no Estado do Pará a partir de 2008e prevê a instalação do Fórum Paraense de Competitividade’ paraviabilizar ações entre o governo e a iniciativa privada.

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O diretor executivo de Assuntos Corporativos e de Energia daVale, Tito Martins, explicou que ‘a mineradora vai aumentar a ampli-tude do sistema de mapeamento de queimadas, dispondo dos softwarese hardwares da empresa para a Secretaria Estadual de Meio Ambiente(Sema), que vai possibilitar ao governo prevenir focos de queimadasnas áreas monitoradas em todo o Pará’.

Para quem não possui intimidade com o assunto, adisponibilização do sistema de monitoramento por satélite da Valepoderia significar grande feito, caso o site da própria Secretaria deEstado de Meio Ambiente do Pará já não disponibilizasse informa-ções sobre os focos de queimadas e desmatamentos, por região e pormunicípios, bem como mapas e gráficos com quantitativos anuais eaté diários.

A antiga Sectam, hoje Sema foi o primeiro órgão do governodo Estado a entrar na internet hoje, como provedora de informações,ocupa local de destaque na rede mundial. Quem lê a matéria publicadaem ‘O Liberal’ sobre os protocolos onde a Vale se posiciona pode tera interpretação que o Estado é incompetente, acéfalo, e que necessitada tutela da giga-mineradora para cumprir suas obrigações.

É necessária muita cautela nessa relação, até porque, o públi-co e o privado possuem interesses convergentes, mas atribuições efunções distintas e até certo ponto, antagônicas, e essas linhas divisó-rias devem ser mantidas para que as partes cumpram suas atribui-ções, sem subserviência do Estado, nem extrapolar atribuições doempreendedor. Podemos citar como exemplos recentes de promis-cuidades nesse tipo de relação dois episódios envolvendo oslicenciamentos ambientais de projetos de exploração mineral perten-centes a Vale ambos no Pará, para avaliação do leitor sobre a repenti-na postura dos novos paladinos do meio ambiente do Estado, bemcomo, e principalmente, sobre a legitimidade, a legalidade e a éticada influência privada nas decisões envolvendo interesses públicos.

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O primeiro exemplo é o do Projeto Bauxita de Paragominas,que apresenta irregularidades já atestadas no parecer do próprio Mi-nistério Público do Estado do Pará (http://www.acordapara.com.br/casos/cvrd-para/imgs/parecer-ministerial.pdf), da lavra doExcelentíssimo Promotor de Meio Ambiente, Benedito Wilson Corrêade Sá, a começar pela licença prévia, em cujo processo, apesar decumpridos trâmites processuais do licenciamento se confundiu o pú-blico ao privado. Dentre as obras mencionadas, a construção e opera-ção de uma estrada e a implantação e operação de uma linha detransmissão, apesar da possibilidade das concessões, são obras tipi-camente de responsabilidade do poder público. Por outro lado, obrasclaramente de domínio privado da Vale, são a lavra, o beneficiamentoe mineroduto, que deverão estar sob o controle direto da empresa.Este entendimento deriva do fato de que estas duas obras, sujeitas àavaliação específica de impactos ambientais, foram inseridas em umúnico EIA/RIMA, que envolve a abertura da lavra mineral e a constru-ção da usina de beneficiamento.

Um outro EIA foi exigido para a implantação do mineroduto,mas não há elementos que permitam avaliar ou que justifiquem osmotivos da dispensa do EIA/RIMA para as obras públicas, ou a inclu-são das mesmas juntamente com as obras privadas da Vale. Já ficari-am aí questões do passado recente relacionadas à liberação dolicenciamento prévio do empreendimento que necessitariam de es-clarecimentos, quem diria as irregularidades mais recentes pratica-das na licença de instalação das obras, quando houve supressão eomissão de dados técnicos relevantes do Plano de Recuperação de Áre-as Degradadas - PRAD original, e a utilização indevida de chancelaprofissional em planos modificados sem autorização expressa dos au-tores visando à obtenção da licença de instalação do Projeto Bauxita, eao mesmo tempo eximir-se de obrigações legais com o Estado, e podercontinuar agindo de forma ‘voluntária’ como faz até a atualidade.

O segundo episódio do mesmo tipo de promiscuidade a ser-

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vir de alerta foi publicado no saite da Associação Brasileira do Minis-tério Público de Meio Ambiente, em 10/10/2007, sobre a construçãoda usina termelétrica (UTE) da Vale em Barcarena: Além da empresanão ter apresentado alternativas tecnológicas de fontes de energia quese confrontem ao uso do carvão mineral; a análise de todas as opçõesde tratamento e destinação final de rejeitos; as informações sobre aconcessão necessária para o uso de recursos hídricos, havendo tam-bém a necessidade de revisão da lista de impactos sócio-ambientaisincluindo impactos sobre as contas públicas, comunidades direta-mente atingidas e o patrimônio arqueológico; a Vale incluiu no estu-do e relatório de impacto ambiental o nome de pesquisadores ligadosao Museu, apresentando a instituição como co-autora das pesquisasda UTE. O fato foi questionado pelo MP à direção do Emílio Goeldi,cuja resposta afirma que em momento algum a instituição teve essetipo de participação.

Prioridade nacional

Gostaria de comentar matéria relatando que uma Comitivainterministerial liderada pelo ministro extraordinário de Assuntos Es-tratégicos, Roberto Mangabeira Unger, realizou uma viagem de qua-tro dias aos Estados do Pará e Amazonas para discutir ‘estratégias dedesenvolvimento’ para a região com os governadores Ana Júlia Carepa(PT) e Eduardo Braga (PMDB), além de autoridades estaduais e repre-sentantes da comunidade científica. Explorar os recursos naturais semdestruir a Amazônia foi o desafio levantado. O ministro apresentou oesboço da ‘proposta de desenvolvimento’ da Amazônia aos secretári-os de Estado e para representantes de diversos centros de pesquisa, eparticipou de reunião com representantes do setor econômico.

No que tange à integração da Amazônia, registros jornalísticos

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demonstram que foram e continuam sendo muitos e não recentes osbelíssimos discursos. Ao longo da história, o desenvolvimento daimensa região sempre esteve presente como tema central. Desde asegunda metade do século passado, políticos expressam preocupaçãocom os recursos da fauna, do reino das onças pintadas, das capivaras,dos jacarés, dos guarás e da imensa variedade das aves mais belas domundo, da flora exuberante e variada, das riquezas imensas, dos mi-nérios raros que tanto necessita o mundo civilizado.

Antigamente já se falava da infra-estrutura necessária, dasestradas que precisavam ser construídas, da Transamazônica e Cuiabá-Santarém. Da Belém-Brasília que precisava ser asfaltada. Das frotasfluviais que precisavam navegar pelos milhares de igarapés, de furos,de afluentes gigantescos, levando civilização e progresso. Da educa-ção para o desenvolvimento, onde as escolas seriam instrumentos deintegração do homem ao meio ambiente. Da saúde, clamando pelainstalação de hospitais ou mesmo de simples postos ambulantes ins-talados em pequenos barcos, visitando a gente sofrida do imensointerior, libertando-a das humilhantes e vergonhosas epidemias origi-nárias do subdesenvolvimento. Apesar de muitas décadas de belosdiscursos, as necessidades atuais essencialmente são as mesmas dopassado.

Não havia a preocupação divisionista, sem enxergar duas, oumais regiões amazônicas quando só existia uma, há muito tempoabandonada e clamando integração à comunidade nacional atravésde desenvolvimento uniforme.

Reivindicava-se o tratamento diferenciado na questão das isen-ções fiscais, mas atentando para interesses secundários e deixando-sede lado o que deveria ser a preocupação de todos os brasileiros, detodos os amazônidas: desenvolver partindo da criação de infra-estru-tura, rasgando-se estradas, melhorando-se portos, construindo-se ouadquirindo-se frotas para o transporte fluvial, educando e zelandopelo homem. Somente assim poderiam ser atraídos os capitais neces-

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sários à abertura de clareiras no meio da mata. Pensava-se na pátriaameaçada de perder esta imensa região que corresponde a 60% doterritório nacional, se não fossem atendidos anseiosdesenvolvimentistas do mundo moderno, superpovoado e faminto.

Hoje, a história se repete parcialmente de forma inversa: te-mos de continuar gritando ‘Salvemos a Amazônia’ para protegê-la dadegradação, principalmente a humana. A história tem mostrado queo cidadão comum possui o cérebro atrofiado pela ignorância e pobre-za extrema, é mentalmente alienado e sofre verdadeiras lavagens ce-rebrais pelas propagandas subliminares e notícias tendenciosas edistorcidas, sendo privado da vontade própria e do livre arbítrio. Oauxílio é necessário, pois o flagelo histórico da retórica, da incompe-tência, da depravação, do apodrecimento, do suborno e da desmora-lização tem se degenerado em submissão e subjugação. E a culpa nãoé do atual governo! Urge Unger partir para ações concretas, pois osucesso só vem antes do trabalho no dicionário.

Origami e o TAC por desmatamento ilegal

Acabei de assistir nos telejornais que dentre as medidasadotadas pelo governo para conter o desmatamento na Amazônia,será admitido um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) a serassinado com o propósito de perdoar as multas aplicadas pelo IBAMAaos infratores que vierem a reflorestar as áreas degradadas. A mesmanotícia revelou que, das dezenas de milhões de reais nas poucas mul-tas aplicadas, o governo não recebeu sequer o equivalente a sete porcento desses valores.

Será que o governo realmente acredita que isso vai funcionar?Será que realmente acreditam que poderão controlar o meio ambien-te somente no papel? Pelo andar da carruagem, sou forçado a acredi-

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tar que sim. Mas não creio que aqueles que sequer pagaram as multasirão recuperar qualquer área degradada. Não acredito em estórias dacarochinha. O problema é a certeza da impunidade. Os infratoresnão pagam as multas e o governo não faz qualquer esforço para recebê-las. Através do TAC, o governo faz de conta que está controlando odesmatamento, e os infratores farão de conta que irão reflorestar.

Diante do exposto, gostaria de sugerir ao governo do Lula quemande urgentemente todo o pessoal do Ministério do Meio Ambientee do IBAMA ao Japão, para fazer um bom curso de Origami, que é aarte japonesa de dobrar o papel. A origem da palavra advém do japo-nês ori (dobrar) kami (papel), que ao juntar as duas palavras a pro-núncia fica “origami”.

Love Lomas

Com alguns cargos estratégicos e de confiança ocupados por‘companheiros’ importados de outras praças, em detrimento dos com-petentes funcionários de carreira, os empresários sérios que preferemtrabalhar na legalidade e precisam de licença ambiental têm amarga-do dissabores com relação ao tratamento dispensado e à agilidade naliberação de licenças pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente doPará.

São muitas as reclamações, não só dos setores florestal e agroflorestal, como também dos outros setores da economia formal. Sãomuitos os processos em ‘dormitação’ naquele Órgão, havendo casosque superam o prazo de um ano, embora a Resolução 237/97 doConselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA estabeleça osprazos máximos, dependendo de cada caso, para que se obtenha umaresposta ao pedido, seja ela favorável ou não.

A insatisfação dos usuários que mais contribuem ao Produto

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Interno Bruto paraense é generalizada, e para conferir basta qualquercidadão dirigir-se ao prédio situado à Travessa Lomas Valentinas,2717, CEP: 66095-770, Belém-PA, e lá passar alguns momentos decontemplação.

Sem estabelecer qualquer tipo de coloração partidária, na ges-tão anterior os processos eram mais céleres e a arrecadação com astaxas de licenciamento batia ‘Recorde’, embora o pagamento do Do-cumento de Arrecadação Estadual – DAE só fosse realizada no mo-mento da liberação e expedição das respectivas licenças ambientais,diferentemente do que ocorre na atualidade, quando o pagamento dasreferidas taxas é obrigatoriamente feito de maneira antecipada, nomomento da protocolização das solicitações, semelhante ao que ocorrenas salas de cinema, onde o usuário primeiro paga, para só depoissaber se gostou ou não do filme. Em alguns estados o pagamento doDAE também é antecipado, mas os prazos são rigorosamente cum-pridos.

Na gestão anterior o usuário tinha acesso direto aos técnicosanalistas dos diversos setores, enquanto hoje temos o chamado‘agendamento eletrônico de atendimento’. Ironicamente, o serviço deagendamento foi criado para ‘garantir a qualidade, agilidade e trans-parência do atendimento ao público’.

Mas na prática, o que tem ocorrido é que muitas empresasmadeireiras e de outros setores têm sofrido graves prejuízos, perden-do contratos e pagando pesadas multas, enquanto em outros casossão perdidos ou indeferidos os pedidos de financiamento, onde osusuários já investiram significativos valores com estudos e honorári-os dos profissionais envolvidos na elaboração dos projetos e confec-ção de peças técnicas, ou sendo obrigados a refazer seus projetosmuitas vezes, tudo em razão da excessiva demora na expedição dolicenciamento ambiental, e da defasagem de valores por aumento nospreços de certos bens e insumos.

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É triste a constatação de que, enquanto os setores sérios daeconomia formal são ‘engessados’ e penalizados pelo pouco caso eexcesso de burocracia, aqueles que praticam desmatamento ilegal eoutros ilícitos ambientais são premiados com a impunidade e conti-nuam auferindo altos lucros, nos levando a concluir que o errado estácerto e o certo está errado, que devemos ter vergonha de ser honestoe modificar por completo o conceito com relação a nossa própriaconsciência, determinados valores e convenções sociais, certos polí-ticos e autoridades constituídas.

Finalizando, para diminuir o grande desconforto daqueles quese amontoam nas dependências da antiga SECTAM atrás de seus pro-cessos de licenciamento, sugerimos que seja urgentemente celebradoum Convênio de Cooperação com o motel ‘Pousada Love Lomas’,localizado logo em frente. Assim os tipos de tratamento que têm sidodispensados àqueles que mais contribuem ao Produto Interno Brutoparaense poderão ser realizados em instalações adequadas, ou seja,em cama redonda vibratória, com espelho no teto, ar condicionado,serviço de cozinha e frigobar.

Brasil na berlinda do debate sobre aenergia dos alimentos

Relator especial da Organização das Nações Unidas para oDireito à Alimentação, Jean Ziegler, em recente entrevista a uma emis-sora alemã, repetiu o que vêm dizendo outros críticos dosbiocombustíveis, segundo os quais o uso de terras férteis para culti-vos destinados a esta tecnologia “reduz as superfícies destinadas aosalimentos e contribui para o aumento dos preços dos mantimentos”.A declaração de Ziegler não mencionou quaisquer estatísticas sobre aprodução agrícola brasileira, nem análise sobre tecnologia agrícola enúmero de trabalhadores no campo, o que seria coerente.

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Após constantes denúncias de destruição da Amazônia, o Brasile a própria região são alvo de nova campanha difamatória no exteri-or. Agora, o vilão é a produção dos biocombustíveis. Autoridadeseuropéias e o Banco Mundial têm patrocinado uma onda crescenteinjustificável contra os biocombustíveis brasileiros. Com a tecnologiaque possui o Brasil logo se tornará auto-suficiente na produção dessaenergia, o que, de fato, constitui ameaça aos interesses internacio-nais.

Jean Ziegler pecou ao generalizar, pois certas relações às cultu-ras anuais não se aplicam às perenes. A implantação de sistemas agrosflorestais, como forma de aproveitamento das áreas de utilização eco-nômica de propriedades, no Brasil e na Amazônia, bem como, a re-composição das partes suprimidas nas reservas florestais deveria sermais estimulada nas áreas comprovadamente já alteradas dentro doslimites da zona de consolidação e expansão das atividades produtivasdefinidas pela Lei de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado.

Exemplo perene e de grande porte, o dendezeiro, quando adul-to, oferece perfeito recobrimento do solo, podendo ser consideradoum sistema de aceitável estabilidade ecológica e baixos impactosnegativos ao ambiente. É importante destacar: a produção inicia aostrês anos após o plantio e é distribuída ao longo do ano, por mais devinte e cinco anos consecutivos, sendo excelente atividade para ageração de empregos permanentes.

Segundo estatísticas da FAO, a produção mundial de óleo dedendê deverá superar, já no início deste século, a produção do óleoda soja, desde que apresente o mesmo nível de expansão da áreaplantada. Tal expansão será necessária para atender o crescimento dademanda mundial em óleos e corpos graxos, representada tanto pelocrescimento populacional, quanto pelo incremento no consumo dealguns países emergentes na economia mundial com efetivopopulacional importante, como China, Índia e Paquistão. A Malásiaproduz 14.962.000 toneladas, a Indonésia 13.600.000 toneladas e o

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Brasil é o 11º, produzindo apenas 160.000 toneladas (dados de pro-dução em 2005, Oil World Annual & Oil World Weekly; MPOB).

Além de ser o óleo vegetal mais importante do mundo comoinsumo da indústria alimentícia e oleoquímica, o dendê é também amatéria-prima mais competitiva para a fabricação de biodiesel, tra-zendo uma série de vantagens sócio-econômicas e ambientais. Segun-do pesquisa, o custo de produção de biodiesel etil-ester a partir deóleo de soja ao preço de US$ 480,00/t é 17 a 27% maior que o dieselcomum, a depender da região produtora, chegando a atingir o preçofinal entre R$ 1,72 a 1,76/litro em simulações de produção em umafábrica de 400 t/dia. Tomando-se estas mesmas especificações emrelação ao tamanho da unidade agro-industrial, o biodiesel produzidoa partir do óleo de dendê ao preço de US$ 286.00/tonelada, girariaem torno de R$ 1,06/litro de biodiesel, altamente competitivo emrelação ao preço do óleo diesel e do próprio biodiesel produzido apartir do óleo de soja e outros grãos.

O principal vilão do desmatamento daAmazônia é o próprio governo

Grande parte da exploração econômica da Floresta Amazô-nica se dá de forma ilegal – o caso da extração de madeira, já quemenos de 20% do setor age (ou agia) de acordo com as normasestabelecidas pelo governo. Ao ‘tapar o suspiro’ do setor abrupta-mente, o governo nivelou por baixo, não deixando alternativas desobrevivência para milhares de trabalhadores e empurrando a maio-ria para a ilegalidade. Ou seja, fazendo uma analogia: estão rouban-do algodão e água oxigenada do hospital? Então fecha o hospital!

Uma parcela considerável do agro negócio que assegura ossuperávits comerciais brasileiros está na Amazônia. O maior reba-

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nho do país se encontra na região, concentrado nos estados do Pará,Mato Grosso e Rondônia; 33% das cabeças de gado no Brasil estãona Amazônia, que tem também o rebanho que mais cresce no país –6,9% ao ano, muito acima da média nacional, de 0,67%, ou maisde dez vezes esse índice, de acordo com levantamento do Institutodo Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Ambas – agricultura e pecuária – são as responsáveis por80% do desmatamento da região, ocupando uma área equivalente àde dois países do tamanho da Itália. As próprias reservas extrativistasdo Acre, símbolo da propaganda ambientalista do governo e bandei-ra das várias ONGs em atuação na região, acabaram se revelandodanosas para a floresta. Cerca de 40% da mata amazônica está noPará.

A indústria é a principal atividade econômica da Região Nor-te, respondendo por 23% de seu produto interno bruto, contra 13%da agricultura e apenas 3% da pecuária. Quanto à questão do ecoturismo, há dúvida sobre se ele poderia se tornar uma atividaderentável na Amazônia, pelo menos na mesma proporção de paísesda América Central. Estimativas dão conta de que, mesmo com in-vestimento na estrutura dos parques e na rede de transportes daAmazônia, o eco turismo teria potencial para ocupar um modestonicho de no máximo 2% da economia da região.

O sul e o sudeste brasileiro podem ser afetados por umaseca que poderá comprometer os rios da Bacia do Prata, grandefonte de energia hidrelétrica da América do Sul. No Brasil, algunsdos principais trabalhos sobre o fenômeno são da autoria dos pes-quisadores Carlos Nobre, Marcos Oyama e Gilvan Sampaio. Deacordo com os cálculos, a temperatura da Amazônia deverá subir10 graus Celsius nos próximos 100 anos, e com isso – ou por isso -parte considerável da floresta será varrida do mapa.

Outra área em que os cientistas realizaram descobertas im-

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pressionantes é a da influência de uma eventual destruição da Amazô-nia no clima mundial. No fenômeno El Niño, o problema seria oaumento das tempestades no sul da Ásia. No caso da Amazônia, asdiferenças de pressão atmosférica e umidade relativas do arprovocadas pelo desmatamento.

O efeito remoto da destruição da Amazônia é deletério paraa economia brasileira. Há um consenso cada vez maior de que tere-mos uma grande queda de pluviosidade na Região Sudeste, compro-metendo a Bacia do Prata e, conseqüentemente, grande parte dageração de energia do país.

Por questões atmosféricas, a maior parte dos desertos domundo se situa em cinturões próximos aos trópicos de Câncer ouCapricórnio. Apenas na América do Sul, na região da Bacia do Pra-ta, esse fenômeno não se verifica e uma das explicações para o fatoé a existência da Floresta Amazônica. A massa de ar úmido queprovoca chuvas na região meridional da América do Sul se originano Atlântico tropical. A massa de ar segue seu curso, ricocheteia naCordilheira dos Andes e acaba no sul do continente, garantindo queas áreas produtivas da região não sejam áridas como na Austrália ouna África na mesma latitude.

As práticas agrícolas inadequadas, o desmatamento, a pres-são social, a ignorância, a omissão e as políticas públicas deficien-tes são fatores que causam a desertificação, agravada pelas evidên-cias do efeito estufa, também atribuído às atividades humanas. Mas,um dos mais importantes obstáculos a superar é a ação políticatradicional, baseada na exploração eleitoral, no abandono e noassistencialismo barato às populações mais fragilizadas. Infelizmente,milhares de brasileiros, especialmente os amazônidas, não terão aoportunidade de constatar se tudo isso é mesmo verdade, pois, atélá terão morrido de fome.

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Onde estarão as RCEs?

Leitor assíduo de ‘O LIBERAL’ há décadas, sou colecionadordos fascículos da série ‘Amazônia’, encartados semanalmente nestejornal de Belém do Pará, cujo exemplar publicado trouxe a ediçãosobre aquecimento global. Temas como este e sobre a biodiversidadeda Amazônia estão nos fascículos coloridos em papel especial todasas quartas-feiras. A iniciativa é uma parceria do jornal com a Compa-nhia Vale do Rio Doce para demonstrar a preocupação e o compro-misso da mineradora com o meio ambiente.

Os artigos científicos são organizados para publicação pelopesquisador Inocêncio Gorayeb, do Museu Paraense Emílio Goeldi(MPEG), que executa o projeto juntamente com um grupo de pesqui-sadores da instituição. Além dos exemplares exclusivos para assinan-tes, os fascículos são veiculados no jornal que está à venda nas ban-cas de revistas e em outros pontos de venda na capital e interior doEstado.

A forma de abordagem no fascículo demonstra bastante co-nhecimento do autor, e conseqüentemente da empresa, sobre o tema,e isso nos remete ao mês de outubro do ano passado, quando, emdeclaração à imprensa, a diretora de Energia da Companhia Vale doRio Doce Vânia Somavilla, justificou, ou tentou justificar, a impor-tância de uma usina térmica (UTE) a carvão mineral que a empresapretende implantar em Barcarena, a qual enfrentou justa resistênciapor parte do Núcleo de Meio Ambiente do Ministério Público doEstado do Pará.

Em relação às emissões de dióxido de carbono, por exemplo,a diretora citou que somente em áreas protegidas considerando flo-restas nativas próprias e florestas produtivas, ‘a empresa possui umestoque já fixado de 677,5 milhões de toneladas de CO2, o que

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corresponde à emissão de 312 usinas térmicas iguais à de Barcarena’.

A implantação de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo(MDL), que permite a uma empresa negociar créditos de carbonoconforme regra estipulada no Protocolo de Quioto, depende do cum-primento de uma série de pré-requisitos até alcançar a certificaçãoda ONU, as chamadas RCE’s (Reduções Certificadas de Emissões).

Para ser aprovado no Brasil, o projeto deve obedecer a cin-co critérios fundamentais: distribuição de renda, sustentabilidadeambiental local, desenvolvimento das condições de trabalho e gera-ção líquida de emprego, capacitação e desenvolvimento tecnológicoe integração regional em articulação com outros setores. O proces-so acontece em sete etapas, sendo que as quatro primeiras fazemparte do registro do projeto e as outras três se referem à verificaçãode sua eficiência.

Comovido com o ‘estoque já fixado de 677,5 milhões detoneladas de CO2’, resolvi consultar os ‘Projetos Submetidos à Co-missão Interministerial no Âmbito do Mecanismo de Desenvolvi-mento Limpo’, no site do Ministério da Ciência e Tecnologia. Parasurpresa, dentre os ‘Projetos Aprovados com Ressalvas’, encontreiapenas um ligado a Vale do Rio Doce, restando cumprir etapas até aemissão final das RCE’s: o processo Nº. 0206/2007 – Redução deEmissões de PFC na ALBRAS – Alumínio Brasileiro S/A, protocolizadosomente em novembro do ano passado, ou seja, um mês após asdeclarações da diretora de energia da Vale à imprensa, e que, isola-damente, nem de longe, deverá alcançar a cifra de CO2 acima men-cionada.

Poderiam ter mais bem aproveitado o último fascículo pu-blicado em ‘O LIBERAL’, sobre aquecimento global, para explicarsobre o tal ‘estoque já fixado de 677,5 milhões de toneladas deCO2’. Peço que os leitores me ajudem a localizá-lo. O endereço é:http://www.mct.gov.br/.

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Os impactos ambientais.A floresta e o futuro. Combate ao

desmatamento na Amazônia

O aumento do desmatamento na região amazônica resultouinicialmente da exaustão das florestas da Mata Atlântica e do esgota-mento progressivo das florestas tropicais da Ásia. De outro lado, odesequilíbrio estrutural nas outras regiões do Brasil, aliado à implan-tação de grandes empreendimentos, como a abertura de estradas, aconstrução de usinas hidrelétricas, a implantação de grandes projetosde mineração e os próprios projetos de assentamento e reforma agrá-ria do governo contribuíram e continuam contribuindo, direta ou in-diretamente para que milhares de famílias de agricultores e desem-pregados migrem para o Pará e outros estados da Amazônia, por nãoencontrarem em seus locais de origem as condições básicas necessá-rias para se ter uma vida digna.

Não podemos confundir os impactos primários, qualquer queseja o tipo de exploração, com os impactos secundários da coloniza-ção espontânea e o desmatamento total associados à agricultura decorte e queima problemas seculares de origem socioeconômica agra-vada com a inoperância e até mesmo a omissão do Estado com rela-ção à exigência de compensações no processo de licenciamentoambiental de grandes empreendimentos.

As causas do desmatamento são conhecidas há bastante tem-po. Por exemplo, nos idos 1990 a Revista Forest publicou artigoemblemático de Christopher Uhl et alii, sob o título Impacto Sociais,Econômico e Ecológico da Exploração Seletiva de Madeiras, numaRegião de Fronteira na Amazônia Oriental: O caso de Tailândia (PA).O estudo cita o exemplo da construção da Rodovia PA-150, abertana década de 70 e asfaltada em 1986, com objetivo de servir de

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ligação entre a cidade portuária de Belém e a rica província mineraldo sul do Pará.

Para compreender a importância da madeira na vida de quemfugiu da miséria, atraído pela esperança de melhores dias, Uhl afirmaque é necessário entender o contexto em que as pessoas são inseridas.É necessário considerar as despesas correspondentes à cesta básica eàs necessidades sociais, incluindo roupas, calçados, saúde, transpor-te etc. Estimemos que o custo anual mínimo da cesta básica requeridapara uma família de oito pessoas, tamanho médio da região, seja deR$ 3.500. Essa estimativa não inclui o consumo de arroz e a farinhade mandioca que são produzidos na roça para a alimentação da pró-pria família. Considerando gastos sociais correspondentes a 40% dovalor da cesta básica, ou seja, R$ 1.400, logo, a despesa anual deuma família de oito pessoas ficaria em torno de R$ 4.900.

Cada hectare de mata recém desbravado produz, em média,no sistema primitivo convencional, R$ 1.400 de produtos agrícolasde subsistência - milho, arroz, feijão e mandioca - antes de ser aban-donado. Isto significa que uma família, depois de vender as árvoresde tamanho e valor comercial imediato por preço de banana, precisaderrubar aproximadamente quatro hectares de floresta por ano, des-truindo nesse processo um enorme volume de biodiversidade comvalor potencial, presente e futuro, somente para atender as necessida-des básicas de subsistência. Quando esgotados o solo e os recursosflorestais, resta ao colono trilhar o caminho inverso ao da reformaagrária, vendendo a terra de volta ao grande proprietário, ou abando-nando a sua área, seguindo para novas regiões de fronteira a fim derepetir o ciclo vicioso.

Todo o processo também abre espaço para a marginalidade, agrilagem e a invasão de terras, a exploração ilegal de madeira, abiopirataria dentre outras. O Brasil possui uma das legislaçõesambientais mais completas do planeta, entretanto, embora os impac-tos primários da exploração seletiva de madeiras sejam pequenos, a

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presença da economia madeireira nas regiões de fronteira atraída coma abertura das estradas e a implantação dos grandes projetos, de fato,continua a contribuir para o desflorestamento. Mas são os impactossecundários da colonização espontânea, associadas à ausência depolíticas públicas, ou políticas públicas deficientes ou mal aplicadasque compromete a ecologia da região no presente e futuro.

A ação do Exército e da Polícia Federal é necessária enquantomedida curativa ao aumento do desmatamento, mas o combate vaialém da fiscalização, é preciso acima de tudo agir na prevenção, eseparar o joio do trigo. Estudos demonstram que o governo brasileiro,agora sob o comando do PT, deve ser adequadamente estruturadopara enfrentar os sérios problemas históricos que se arrastam desde ainvenção do Brasil, pois não é de hoje que dados estatísticos demons-tram que a taxa de desmatamento anual e a degradação ambientalvêm aumentando, apontando historicamente para uma relação direta-mente proporcional ao desequilíbrio socioeconômico e às desigual-dades sociais.

Minério verde

Venho comentar notícia do G1, em São Paulo, que fiscais doInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis (Ibama) multaram, em junho de 2008, uma companhia demineração da Vale no Pará em mais de R$ 5 milhões pela vendailegal de 9,5 mil metros cúbicos de madeira in natura e pelo depósitoilegal de 612 metros cúbicos de madeira em tora, no município deParagominas, no sudeste do estado. Provavelmente, essa madeira sejaproveniente da abertura de novas áreas de lavra de bauxita.

Segundo o coordenador da ‘Operação Minério Verde’, PauloMaués, além dessas infrações, a empresa não apresentou registro no

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Cadastro Técnico Federal (CTF) do Ibama, o que custou R$ 9 mil emmultas. A companhia também foi autuada por não ter apresentado aoórgão ambiental responsável os relatórios do CTF referentes aos anosde 2006 e 2007.

A Vale nega que esteja envolvida em venda ilegal de madeirano Pará, infração que motivou a multa. A companhia vai tentar cance-lar a cobrança junto ao órgão e provar que tudo não teria passado deum ‘erro técnico’.

Tais infrações não seriam tão graves, comparados certos fato-res estranhos, ocultos e superiores ao direito que precisam de expli-cação. O que diriam sobre fato que chama atenção no licenciamentoambiental do projeto bauxita de Paragominas, que está nos prazosobservados em duas publicações feitas, em um único dia e na mesmadata, no periódico DIÁRIO DO PARÁ, relativas à expedição da Licen-ça Prévia e a solicitação da Licença de Instalação para o minerodutode transporte da polpa do minério.

A empresa recebeu, em 10 de maio de 2004, Licença PréviaNº. 022/2004, para construção do mineroduto, e requereu, apenas 24horas após, no dia 11 de maio de 2004, Licença de Instalação para queo mesmo mineroduto, numa extensão de 246 km, atravessasse nadamenos que sete municípios paraenses: Paragominas, Ipixuna do Pará,Tomé-Açú, Acará, Mojú e Abaetetuba até chegar às instalações daALUNORTE em Barcarena, apenas e tão somente um dia após tomarconhecimento das condicionantes que seriam cumpridas no estudoambiental que subsidiaria a expedição da licença de instalação.

Com a licença ambiental expedida pelo Estado, a CompanhiaVale do Rio Doce – Mineração Bauxita de Paragominas obteve juntoao IBAMA autorização especial de desmatamento ‘para supressão devegetação visando implantação de mineroduto para o transporte depolpa de bauxita’.

Baseado no cauteloso e bem elaborado Parecer do Procura-

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dor Autárquico do IBAMA, Dr. Wilson Figueiredo, desfavorável àemissão da autorização de desmatamento para o mineroduto, vez que‘não foram observados as normas e procedimentos legais’, o Procura-dor Autárquico concluiu: ‘Sabemos que a requerente está amparadapelas normas específicas (Decreto Lei Nº. 227/67 Art. 6º, parágrafoúnico, alínea ‘b’ e Licença de Implantação Nº. 159/2004 – SECTAM),que lhe dão direito de implantar seu empreendimento. No entanto,não podemos olvidar o arrimo constitucional (Art. 225 CF) para aproteção do meio ambiente, dentro de condições que assegurem asua preservação, inclusive no que diz respeito ao uso dos recursosnaturais...’

...‘Assim, diante desse impasse técnico - administrativo, en-tendemos ser imperioso um maior e mais profundo estudo técnicosobre o impacto ambiental (EIA/RIMA) em relação à extensão domineroduto, em face dos supramencionados rios, por parte da Dire-toria de Licenciamento e Qualidade Ambiental – DILIQ/IBAMA, ou,se assim V. SA entender, recomendar que a empresa interessada pro-mova seu pedido de supressão de vegetação perante SECTAM, órgãolicenciador, através do Processo Nº. 59369/2003, considerando ostermos de recomendação dos expedientes normativos acima citados;observados os demais trâmites de estilo administrativo’.

Estranho a atribuição da autorização de desmatamento doIBAMA para a SECTAM, principalmente, considerando interposiçãodo traçado do mineroduto do Projeto Bauxita com propriedades de,pelo menos, seis detentores de Planos de Manejos Florestais Susten-táveis – PMFS aprovados pelo próprio Órgão, apontados pelo expedi-ente em questão, além de áreas de reserva legal e de preservaçãopermanente pertencentes a terceiros atingidas pela passagem domineroduto.

Os procedimentos que a empresa não logrou êxito atender noIbama, em cerca de um ano, foram rapidamente cumpridos junto aSecretaria de Meio Ambiente em apenas uma semana, resultando naexpedição de uma autorização de desmatamento pelo Estado do Pará,

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em substituição daquela fornecida pelo Ibama, que foi anulada, dian-te do parecer jurídico do procurador autárquico.

O Ministério do Meio Ambiente, através da instruçãonormativa Nº. 3, de 4 de março de 2002, definem atribuições doIBAMA, bem como, procedimentos legais de conversão de uso dosolo, através de autorização de desmatamento, nos imóveis e propri-edades rurais na Amazônia Legal, conforme especificações discrimi-nadas por categoria.

A concessão de autorização de desmatamento deve obedecerao disposto na legislação vigente com relação aos limites máximospermitidos de desmatamento, localização da Área de Reserva Legal edas Áreas de Preservação Permanente, verificando se as áreas anteri-ormente convertidas estão abandonadas, subutilizadas ou utilizadasde forma inadequada e sobre a existência de áreas que abriguemespécies ameaçadas de extinção.

Os processos devem conter, obrigatoriamente: o nome e oCPF do interessado, estado e município de localização da proprieda-de rural, matrícula imobiliária e dimensão da área da propriedade,área de Reserva Legal, tamanho da área objeto da autorização, com asrespectivas coordenadas geográficas, nome e matrícula do agente,sendo protocolizado requerimento pelos interessados nas Superinten-dências Estaduais ou Unidades Descentralizadas, conforme modelopróprio, e conter as exigências do quadro de documentos de que tratao anexo V da Instrução Normativa Nº. 3 de acordo com a dimensãoda área solicitada.

Os Órgãos Ambientais deverão também constatar que exten-sas áreas de vegetação primária foram substituídas pelas faixas deservidão dos minerodutos da PPSA e do Projeto Bauxita, no interiorde várias propriedades. Isto inclui a supressão da vegetação em áreasde preservação permanente (vegetação ciliar) de, no mínimo, trintametros para cada lado ao longo da extensão linear dos cursos, para

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passagem dos minerodutos, infringindo normas de proteção confor-me observações que poderão ser realizadas em campo e através deinterpretação de imagem de satélite.

As vistorias se realizadas nas faixas de servidão, não deverãoevidenciar, em grande parte, a utilização das práticas de conservação dosolo, ou manutenção de condições ambientais ideais ao longo das faixasde servidão, contribuindo para aceleração de processos erosivos eassoreamento dos igarapés ou riachos cortados nas faixas de servidão.

A fragilidade dessas áreas e o uso inadequado poderão serconstatados nos dados temáticos especializados, a partir de bancosde dados geo-referenciados e das vistorias “in loco”, explicando aorigem e intensidade dos processos de degradação do meio físico. Aanálise e comparações das informações temáticas fornecerão dadosespecializados expressando o estado em que se encontram atualmen-te as faixas de servidão, bem como a supressão de faixas ciliares,indicando o quanto tais áreas continuam suscetíveis à instalação deprocessos degradantes.

As informações temáticas, juntamente com dados coletadosnas campanhas de campo, por si só, poderão indicar a fragilidade degrande parte das áreas de servidão no interior de centenas proprieda-des particulares e públicas. As áreas de ocupação por solos da classe4 já antropizadas, pela alta pré-disposição à erosão, em função dorelevo movimentado, muito provavelmente,, encontram-se severamentedegradadas pela ausência de minimização de impactos negativos eurgem de recuperação através de técnicas de manejo e conservaçãodo solo, a implantação de sistemas de drenagem, a re-vegetação dasáreas decapeadas e de taludes, a utilização de plantios em curvas denível e a desobstrução e revitalização dos recursos hídricos.

As leis não distinguem se o proprietário ou terceiro foi ocausador do dano ambiental; aquele responde independentemente deculpa ou dolo.

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Lavagem verde

Em uma sociedade cada vez mais consciente do seu próprioimpacto negativo sobre o meio ambiente, não é surpresa que muitasempresas ou corporações disputem aprovação do consumidor pro-movendo-se como ambientalmente corretas ou ‘verdes’. Tais ‘promo-ções’ vão do simples uso embalagens com logos ecológicos, aos maisabrangentes, como a publicidade de investimentos em novastecnologias ou em ‘ações sociais’. As organizações gastam bilhões dedólares, todos os anos, em uma tentativa de convencer os consumi-dores de que suas operações têm um impacto mínimo no ambiente.Mas podemos acreditar nas propagandas? Quanto desse ‘marketingecológico’ não passa de ‘‘lavagem ambiental’?

O termo ‘greenwashing’ é uma versão ambiental de ‘lavagemde dinheiro’ ou ‘branqueamento de capitais’ ou ‘whitewashing’ — atentativa de encobrir erros com indicações falsas ou apresentaçãotendenciosa de informações. Enquanto o termo ‘lavagem verde’ sur-giu por volta dos anos 90 a prática em si data desde meados dadécada de 60, quando as corporações já se esforçavam para melhorara imagem pública à luz do emergente movimento ambientalista mo-derno. Agora, mais do que sempre, é grande o interesse das mega-companhias venderem uma imagem ambientalmente correta.

Mas, como com todas as formas de propaganda e imaginaçãopública, inevitavelmente, surgem questionamentos relativos à validezdas propagandas ambientais de certas companhias. As preocupaçõesdessas empresas com o meio ambiente seriam tão genuínas quanto osanúncios milionários fazem isto parecer?

Rogério Ruschel, editor da revista eletrônica ‘Business do Bem’,sintetizou muito bem ‘Os 6 pecados do greenwashing’, tema sobre oqual existe vasta bibliografia disponível, principalmente em Inglês.

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Greenwashing, em síntese, é a apresentação inexistente ou inadequa-da de benefícios ambientais ou socioambientais apresentados porempresas, serviços ou produtos.

Recente estudo realizado com 1.758 promessas encontradasnas embalagens de 1.018 produtos disponíveis no mercado dos Esta-dos Unidos revela os seis principais pecados do ‘greenwashing’. Sãoeles:

Os Malefícios esquecidos - O principal pecado encontradona pesquisa, presente em 56% dos produtos pesquisados, se caracte-riza pelo fato do produto destacar apenas um benefício ambiental e‘esquecer’ os malefícios. Exemplos: O produto é reciclável, mas con-some muita energia e água para ser produzido; ou o produto é feitosem teste em animais, mas sua decomposição natural pode prejudi-car a cadeia alimentar natural.

A Falta de Provas - Representando 26% das promessas en-contradas é utilizado por produtos que anunciam benefícios ambientaissem comprovação científica ou certificação respeitável. Nesta cate-goria são encontrados xampus não testados em animais, produtos depapel com uso de material reciclado, lâmpadas com maior eficiênciaenergética – todos sem comprovação dos argumentos disponibilizadosao consumidor.

A Promessa Vaga - Entre as promessas vagas encontradas em11% dos produtos pesquisados estão produtos ‘não-tóxicos’, e sabe-mos que qualquer produto em excesso pode intoxicar uma pessoa;produtos ‘livres de produtos químicos’, o que é impossível, porquetodos os insumos de todos os produtos contêm elementos químicosna composição; ‘100% natural’ (urânio, arsênico e outros venenostambém são ‘naturais’); ‘ambientalmente produzido’, ‘verde’, ‘cons-cientemente ecológico’, todas são promessas 100% vagas. E estamosfalando de embalagens – imagine aqui no Brasil as promessas vagas

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que vimos diariamente na propaganda milionária subliminar. Imagi-ne aqui na Amazônia.

A Irrelevância - O pecado encontrado em 4% dos produtospesquisados se caracteriza por destacar um benefício que pode serverdadeiro, mas não é relevante. A mais irrelevante das promessas foia relacionada ao CFC, banido do mercado norte-americano nos anos70: inseticidas, lubrificantes, espumas de barba, limpadores de jane-las e desinfetantes, por exemplo, todos livres de CFC. A promessa éirrelevante porque se não fossem livres de CFC estes produtos nãoteriam licença para estar à venda no mercado.

A Mentira - Encontrado em 1% dos produtos, é simplesmenteuma giga-mentira deslavada.

Os Dois Demônios - Encontrado em 1% dos produtos, sãobenefícios verdadeiros, mas aplicados em produtos cuja categoriainteira tem sua existência questionada, como cigarros, inseticidas ouherbicidas orgânicos.

O Greenwashing brasileiro ou tupiniquim - Este tipo de pes-quisa de análise de promessas de sustentabilidade socioambientalnas embalagens de produtos, infelizmente, ainda não foi feito no Bra-sil. Na verdade, sequer temos condições de avaliar o greenwashingna propaganda comercial ou na cobertura jornalística, segmentosmomentaneamente sem metodologias para fazê-lo. Muitos devemconhecer promessas publicitárias ‘vazias’ feitas por grandes anunci-antes que falam mais do que fazem, digamos assim, grandes clássi-cos do greenwashing publicitário. Vou dar uma dica: a palavra-chaveé minério.. Não é eticamente correta uma empresa investir até 3vezes mais, para comunicar determinado projeto socioambiental, doque com o projeto socioambiental propriamente dito, portanto, oscritérios de conceituação e definição de greenwashing devem ser ur-gentemente, e cada vez mais, iniciativas do Estado, do Setor Produti-vo e da Sociedade.

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Robin Hood tupiniquim à moda parauara

Os consumidores paraenses e capixabas vão pagar mais caropela energia elétrica. A Agência Nacional de Energia Elétrica - Aneelautorizou reajuste nas tarifas de duas distribuidoras, superiores aoIGPM de 15%, acumulado até julho. Os aumentos são diferenciados,por empresa e classe de consumo, residencial ou industrial.

O maior reajuste foi para a Celpa, que fornece energia paraos 143 municípios do Estado do Pará, com 16,9% para indústrias e19,2% para residências. No Espírito Santo, a Escelsa, que atende 67municípios do estado capixaba, teve aumento de 7,4% para alta ten-são e 6,96% para baixa tensão. O reajuste entrou em vigor para asduas distribuidoras no último 07 de agosto.

Segundo a Aneel, ‘o calculo das tarifas considera todas asdespesas de operação das empresas, assim como os gastos com acompra de energia, tarifas de transporte (distribuição e transmissão) erecolhimento de encargos’.

Os percentuais de reajuste refletem o repasse às tarifas doaumento dos custos com o encargo de serviços do sistema, que temcomo atribuição garantir ‘segurança energética’. A despesa é pagapor todos os consumidores na conta de energia e usuários da rede detransmissão. O aumento no valor do encargo resultaria da ‘operaçãode usinas termelétricas acionadas no final do ano passado e iníciodeste ano, em razão da curva de aversão a risco, mecanismo queestabelece o nível mínimo de armazenamento dos reservatórios dashidrelétricas’.

De acordo com a Celpa, a alta foi impactada, ainda, peloÍndice Geral de Preços do Mercado (IGPM) acumulado nos últimos12 meses, que chegou a 15,1%, e esse índice é utilizado para repas-

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sar inflação às tarifas de energia elétrica; e pelo repasse do custoadicional causado pelo ‘aumento da geração de energia das usinastermelétricas por determinação do Ministério de Minas e Energia’.

Por mais estranho que pareça, a Aneel não possui qualquerparticipação na composição das tarifas ao consumidor, o papel daagência limita-se ao de fiscalizar o estrito cumprimento de regrasestabelecidas pelo governo e pelo Congresso Nacional, para os con-tratos firmados com as concessionárias de energia elétrica.

A mineradora Vale é a maior acionista da Albrás, uma in-dústria de alumínio eletro-intensivo, ou seja, consome muita ener-gia. A Albrás recebe energia subsidiada a preço real de custo daEletronorte. De acordo com o contrato firmado com a estatal, a Valepagará R$ 0,033 reais pelo kWh até 2024.

Enquanto isso, os pobres consumidores residenciais do Pará,clientes da Celpa, deverão pagar, após o aumento, R$ 0,4496 pelokWh na tarifa residencial normal, ou quinze vezes mais do que aVale, considerando a distribuição, encargos setoriais, energia elétri-ca propriamente dita a transmissão e tributos.

Veja a disparidade entre os valores pagos pela Vale e a tarifapaga pelo trabalhador, considerando uma mesma quantidade de ener-gia consumida de 100 KW: Vale: R$ 3,30. Famílias de trabalhadoresparaenses: R$ 44,96.

Segundo informações no site da Albrás, a demanda de ener-gia da empresa está acima de 700 MW. A Albrás é responsável pelautilização de mais de 15% da geração da usina de Tucuruí. Não àtoa que dizem que o Pará é um dos poucos a exportar energia elétri-ca subsidiada na forma de minérios, e quem está pagando a conta éo pobre consumidor residencial. Vivemos em uma espécie de ‘Flo-resta de Sherwood’ às avessas...

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A Vale quer ser verde

A maior empresa privada do Brasil lança uma campa-nha com apelo ecológico - seu maior desafio será pro-

var que sua preocupação vai além do marketing

Por Malu Gaspar

Revista Exame - 02/07/2008

Em sua última campanha publicitária, que estreou no iníciode junho na TV, a Vale investiu na imagem de companhia sustentá-vel, capaz de transformar minérios em sonhos e ainda fazer tudo issorespeitando o meio ambiente e as comunidades nos arredores de suasminas e instalações. A campanha faz parte de um colossal projeto delançamento da nova marca da empresa, que, em novembro do anopassado, deixou de ser a Vale do Rio Doce para se chamar apenasVale. Com orçamento de 59 milhões de reais, a estratégia de divulga-ção do novo nome aproveita para colocar a Vale na onda da “compa-nhia verde”, a mais nova tendência entre as grandes empresas globaisque querem agregar uma imagem positiva ao seu nome — seja elauma mineradora, um banco ou uma companhia de celulose.

Essas corporações já perceberam que empresas amigas doplaneta têm maiores chances de ganhar a simpatia dos consumidorese investidores — principalmente na Europa e nos Estados Unidos.“Há uma busca desenfreada por aparecer bonito na foto”, diz AlejandroPinedo, da consultoria Interbrand, especializada em avaliação e cons-trução de marcas. “O apelo à sustentabilidade passou a ser conside-rado um dos requisitos para tornar as empresas mais competitivas.”

Um relatório da consultoria Ernst&-Young divulgado em abrilpassado, aponta pela primeira vez a preocupação ambiental dos con-sumidores e investidores — qualificada como radical greening — comoum dos dez principais riscos para os negócios de uma empresa. Ne-

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nhuma companhia quer ver colado à sua imagem o atributo de des-truidora da natureza — e isso é particularmente dramático no caso decorporações que atuam em setores que já têm uma imagem ruim porseu alto impacto ambiental, como é o caso da mineração.

No caso específico da Vale, a situação é complexa. Dois es-tudos recentes de bancos internacionais sobre sustentabilidade nosetor de mineração colocaram a Vale em uma situação constrangedo-ra. No primeiro, do Citigroup, a brasileira ficou em penúltimo lugarnuma lista de 15 empresas. No segundo, da Goldman Sachs, a Valefoi a 14a entre 15 no ranking ambiental e a nona no ranking de inves-timentos sociais. Os bancos fazem esse tipo de relatório para orientardecisões de investimentos para clientes e instituições que levam emconta critérios de sustentabilidade na hora de aplicar seus recursos.Em maio passado, outro estudo, da Fundação Brasileira do Desenvol-vimento Sustentável, fez uma comparação entre os relatórios desustentabilidade divulgados em 2007 pelas cinco maiores mineradorasdo mundo. O estudo avaliou 13 itens. A Vale ficou em último lugarentre nove.

A nova estratégia de marketing da Vale coincide com a ex-pansão internacional da companhia. No ano passado, a empresa pas-sou por seu primeiro teste de imagem global, meses depois do pro-cesso de aquisição da canadense Inco. O principal projeto da empre-sa era uma gigantesca mina de níquel na Nova Caledônia, uma ilhaparadisíaca do oceano Pacífico, que enfrentava forte resistência dosaborígines que vivem próximo à área de extração. Ambientalistas eu-ropeus tomaram o partido dos aborígines e começaram a protestarcontra a empresa. Preocupado com o impacto, o presidente da Vale,Roger Agnelli, se envolveu pessoalmente na solução da crise. Recen-temente, a empresa anunciou que pararia de fornecer minério para osprodutores de ferro-gusa acusados de usar trabalho escravo ou quei-mar carvão de madeira ilegal da Amazônia.

Não queria correr o risco de passar pelo que passaram osprodutores de soja de Mato Grosso, após uma campanha internacio-

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nal deflagrada pelo Greenpeace em maio de 2006. A ONG organizouprotestos em lanchonetes do McDonald’s na Europa acusando a redede vender produtos contendo carne de frango alimentado com sojaproveniente de áreas de desmatamento irregular na Amazônia. Imedi-atamente, a rede de fast food pressionou seus fornecedores internaci-onais para não comprar mais a soja brasileira proveniente dos arredo-res da floresta. A Vale nega que esteja reforçando suas políticas desustentabilidade em decorrência do processo de internacionalização.“Sempre fomos preocupados com sustentabilidade. Apenas estamosinvestindo mais no processo de informação do que fazemos”, dizOrlando Lima, diretor de sustentabilidade da Vale.

As iniciativas tomadas pela Vale nos últimos meses mostramque a empresa sabe que, pior do que não ter uma imagem de “compa-nhia verde”, é ser acusada de que essa imagem é falsa. “Algumasempresas que nos pedem para construir uma imagem ‘verde’no fundonão são tão verdes assim. Alertamos que o efeito de se forçar umvínculo que não existe pode ser um desastre”, diz Pinedo, daInterbrand. “A empresa precisa realmente ter comprometimentoambiental.” Um dos casos que ainda despertam muita desconfiança,por exemplo, é o da British Petroleum. A BP, que sempre esteveassociada à poluição, investiu 200 milhões de dólares nos últimosanos para se transformar numa companhia preocupada com meioambiente, com grande espaço para energias alternativas.

Isso, no entanto, não foi suficiente para livrá-la das acusaçõesde “greenwashing” (maquiagem verde). Ainda hoje, a BP é patrulhadapelos ambientalistas, como provam as recentes denúncias de que es-taria envolvida em um pesado lobby contra o endurecimento das leisambientais nos Estados Unidos. No caso da Vale, por enquanto, aestratégia de aparecer como uma “companhia verde” não enfrentoureveses. Mas só o tempo - e as ações que vierem com ele - dirão se acampanha é apenas uma estratégia de marketing ou uma preocupaçãoconcreta.

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Auditoria do Sistema de Gestão Ambiental

O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento– BIRD, em suas normas operacionais, define a auditoria ambientalcomo um instrumento para determinar a natureza e a extensão detodas as áreas de impacto ambiental de uma atividade existente. Aauditoria identifica e justifica as medidas apropriadas para reduzir asáreas de impacto, estima o custo dessas medidas e recomenda umcalendário para a sua implementação. Para determinados projetos, oRelatório de Avaliação Ambiental consistirá apenas da auditoriaambiental; em outros casos, a auditoria será um dos componentes doRelatório.” (World Bank, 1999).

Segundo a Organização Internacional das Entidades Superio-res de Fiscalização – INTOSAI, a Auditoria Ambiental requer umcritério totalizador, compreensivo, holístico e, para o caso das Enti-dades Fiscalizadoras Superiores (no Brasil, os Tribunais de Contas),necessariamente um enfoque governamental. São algumas fontes decritérios geralmente aceitos pela INTOSAI: Organização Mundial deSaúde – OMS, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente –PNUMA, a norma inglesa BS7750, dentre outras.

No Brasil, as normas para Auditoria Ambiental forampublicadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT(1997) e define Auditoria do Sistema de Gestão Ambiental – SGAcomo um processo sistemático e documentado de verificação, execu-tado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências que determi-nem se o sistema de gestão ambiental de uma determinada organiza-ção está em conformidade com os critérios de auditoria do sistemade gestão ambiental estabelecido, e para comunicar os resultadosdesse processo à administração.

Segundo a NBR ISO 14001:1996 (ABNT, 1997), uma organi-zação deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os

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aspectos ambientais (produtos ou serviços) de suas atividades, a fimde determinar aqueles que possam ter impacto da elaboração para asnormas série ISO 14000.

Auditoria Ambiental, para os Tribunais de Contas, é o con-junto de procedimentos aplicados ao exame e avaliação dos aspectosambientais envolvidos em políticas, programas, projetos e atividadesdesenvolvidas pelos órgãos e entidades sujeitos ao seu controle.

Os Tribunais de Contas também exercem o controle externodas ações de responsabilidade do Governo Federal e Estadual, assimcomo da aplicação de recursos federais e estaduais em atividadesrelacionadas à proteção do meio ambiente.

A legítima competência para a atuação das Cortes de Contasna proteção ao Meio Ambiente está amparada em diversos dispositi-vos legais. O artigo 225 da Constituição Federal de 1988, que consa-gra uma concepção inteiramente nova para a tutela dos valoresambientais, é extremamente abrangente, não deixando margem paraoutras interpretações quanto a essa questão, ao dispor no Art.225 -Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bemde uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impon-do-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo epreservá-lo para presentes e futuras gerações.

Em um único artigo, o legislador constituinte introduz quatroconcepções da maior relevância para o direito ambiental, determi-nando, primeiramente, que o meio ambiente ecologicamente equili-brado é um direito de todos; a seguir, concede a esse meio ambientea categoria de bem de uso comum do povo, como condição essencialpara uma existência com qualidade e; mais adiante, delimita a res-ponsabilidade pela manutenção deste “bem ambiental” ao Poder Pú-blico e ao próprio povo que a ele têm direito, e finaliza vinculando aobrigatoriedade da defesa e preservação desse direito ao conceito dedesenvolvimento sustentável, ao dispor que o meio ambiente ecologi-

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camente equilibrado será preservado para os presentes e futuras gera-ções. Dessa forma, são co-responsáveis o Poder Público e a socieda-de pela tutela da natureza para o presente e para as gerações futuras.

Na questão ambiental, a Lei Maior não deixa dúvidas: não háescolha entre defender ou não o Meio Ambiente. A Constituição im-põe essa obrigação, estando aí inserida, de forma cristalina, a compe-tência para que as Cortes de Contas atuem na defesa e preservação domeio ambiente.

Além da Constituição Federal, a Lei Nº. 8666/93, artigo 12,inciso VIII determina que, nos projetos básicos e executivos de obrase serviços, deverá ser considerado o impacto ambiental. Este disposi-tivo legal também atribui aos Tribunais de Contas competência paraatuar na defesa ambiental.

As Cortes de Contas, portanto, à sua atividade habitual cabezelar pelo correto uso da coisa pública, bem como, verificar a ade-quação e alinhamento dos contratos da Administração, e devem aliaro exame da conformidade desses mesmos contratos com a legislaçãoambiental. Da mesma forma, as auditorias realizadas em obras públi-cas que possam acarretar intervenções físicas no meio ambiente de-vem considerar os possíveis impactos ambientais.

A partir desse entendimento, os Tribunais de Contas come-çam um trabalho de pesquisa para verificar de que forma devem darinício ao Projeto de Gestão Ambiental, visando à implantação daAuditoria Ambiental em seus procedimentos rotineiros.

Tornam-se necessários a formação de grupos multidisciplinaresde trabalho, compostos por servidores do Corpo Técnico, com vistasa definir diretrizes para a elaboração de planos de metas, objetivandoo controle da gestão ambiental, com a conseqüente implantação gra-dual da Auditoria Ambiental depois da devida capacitação de seusauditores, enfatizando a especialização na matéria.

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É necessário que os Presidentes do Tribunais de Contas dosEstados e dos Municípios assinem e publiquem Resoluções que dis-ponham sobre a criação dos Grupos de Trabalho para que sejampropostas ações visando à implementação das Auditorias Ambientaisno âmbito das suas competências.

Os grupos multidisciplinares de trabalho, formados pelas Di-retorias de Controle Externo, deverão ser compostos por profissionaisde diversas áreas e com algum tipo de experiência prática ou deformação sobre Meio Ambiente. Uma das primeiras ações dos gruposdeverá ser a de buscar um programa de capacitação e treinamento emAuditoria Ambiental feito sob medida para os auditores dos Tribunaisde Contas.

Deverá ser traçado inicialmente, pelos Grupos de Trabalho –GT’s, esboços do que se pretende em termos de um programas decapacitação em Auditoria Ambiental Pública , no âmbito das Cortesde Contas, e, em seguida, um processo de busca pelas instituições ouconsultorias especializadas melhor capacitadas para a tarefa.

A proposta deverá ser baseada no delineamento prévio dosprogramas, elaborados pelos GT’s de Auditoria Ambiental dos Tribu-nais de Contas, e deverá posteriormente resultar em cursos de treina-mento, com a cargas horárias a serem definidas, ministrados nosauditórios dos Tribunais, devendo ser programadas Visitas de Campoguiadas e com aulas práticas.

Além da capacitação do Corpo Técnico, deverá fazer partedas metas o debate interno sobre a educação ambiental, ampliando onível de conscientização para a importância da preservação do meioambiente a todos os servidores das Casas.

Os Grupos de Trabalho deverão organizar Ciclos de Pales-tras, convidando autoridades no assunto a compartilharam suaexpertise, discorrendo sobre temas estratégicos e de importância paracompreensão dos caminhos para a sustentabilidade.

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Outras ações a serem executadas são as realizações de Con-vênios de Cooperação com Universidades e Órgãos da Administra-ção Federal, Estadual e Municipal, além de Instituições Técnicas e dePesquisa.

Deverão ser produzidas publicações seriadas, por tema, con-tendo a legislação e metodologia para a realização de AuditoriaAmbiental. Estas pequenas publicações serão posteriormente reuni-das, formando o “Manual de Auditoria Ambiental dos Tribunais deContas”, que orientará, de forma completa, os seus auditores com umolhar voltado para a questão ambiental.

Em médio a longo prazo as Universidades e as Instituições dePesquisa poderão criar Grupos de Assessoria Técnica, formados porseus professores e pesquisadores, que, em parceria com os Tribunaisde Contas, poderão oferecer suporte às auditorias ambientais ondefor necessário pareceres mais abalizados, além de outras possibilida-des de intercâmbio entre as instituições.

Estoques ambientais e Contas Nacionais

Não faltam justificativas para urgente realização de auditori-as ambientais pelos Tribunais de Contas da União, dos Estados eMunicípios. No Brasil, a preocupação com o tema começou em 1991,quando, antecipando à realização da Conferência das Nações Unidaspara o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92, o Instituto dePesquisa Econômica Aplicada – IPEA iniciou o projeto de ‘Contabili-dade Ambiental’ financiado com recursos do Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento - PNUD.

Embora o IPEA, conforme com a obra ‘ContabilidadeAmbiental: Teoria, Métodos e Estudos de Casos no Brasil’ (1995)tenham gerado bons resultados, a parceria com o Ministério do Meio

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Ambiente, até então, não se concretizou, como também não se con-cretizaram esforços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE em sistematizar a Contabilidade Ambiental no seu Planejamen-to Estatístico.

A falta de recursos, a descontinuidade administrativa, a in-versão de prioridades e fatores ocultos explicariam os motivos danão inserção da contabilidade ambiental no planejamento econômi-co do Brasil, o que requer esforço institucional e técnico e não serealizaria em cenários de descontinuidade de políticas ambientais eeconômicas.

No centro do paradigma do desenvolvimento sustentável apre-sentam-se dois aspectos: Primeiro: a escassez dos recursos naturais ede serviços ambientais está em níveis elevados e ameaçam a conti-nuidade do padrão de ‘crescimento’ até então empregado. Segundo,isto implicaria na necessidade de que um novo padrão fosse incenti-vado com o estabelecimento e o aperfeiçoamento de preços relativosaos recursos naturais e serviços ambientais.

Nos extremos há duas correntes, uma na qual há hipótese deexistir sustentabilidade perfeita entre capital natural e capital materi-al, ou seja, existe a possibilidade tecnológica de crescimento contí-nuo, desde que parte da renda econômica seja reinvestida de forma amanter o nível de capital natural e material de uma economia. Destaforma, garantir-se-ia a capacidade produtiva e de acesso aos recursosnaturais de consumo direto às gerações futuras, equivalente ao dispo-nível à geração presente.

No outro extremo situa-se o padrão de forte sustentabilidade,no qual as duas formas de capital não são substituíveis e, portanto, ocrescimento sustentável só se daria se o nível do estoque de capitalnatural fosse mantido constante. Seriam restritas as possibilidadestecnológicas de compensar perdas de capital natural por capital ma-terial, e o bem-estar das futuras gerações só estaria garantido se oestoque de capital natural fosse mantido intacto.

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O nível de consumo de recursos naturais ou capital natural éum importante índice de sustentabilidade. Na medida em que o usodo meio ambiente não é valorado via mercado, os valores da utiliza-ção, exaustão ou degradação dos recursos naturais não estão presen-tes nos custos de produção e consumo, portanto, não são considera-dos nas Contas Nacionais. As medidas de renda não refletem os gas-tos ambientais associados à produção e consumo. A preocupação écentrada na produção, logo, a degradação e exaustão dos recursosnaturais são consideradas como ‘ganhos’ à economia.

No caso da exploração mineral e madeireira, a utilização dosrecursos ambientais é dada na forma de insumos pelo setor produtivocorrespondente a serviços ambientais que presta o meio ambiente.No caso de não ocorrer a respectiva remuneração, transforma-se emmais subsídios, que, pelo correto, deveriam ser valores acrescidosaos custos de produção. Como se já não bastasse os subsídios deenergia elétrica...

Para os recursos renováveis, as perdas devem ser acrescidascomo custos adicionais para solucionar problemas por elas desenca-deados, ou em perdas de produção em setores que dependem dessesrecursos, ou por sacrificar outros possíveis usos dos recursos natu-rais. Mas isso reduz o bem-estar dos agentes econômicos afetados,pois as perdas ambientais representam custos externos negativos quedevem ser deduzidas do preço de comercialização.

No caso dos recursos não-renováveis, a perda ambiental éintertemporal e se refere ao custo de uso que as gerações presentesdevem pagar, ou deduzir de sua renda, de forma a compensar asgerações futuras pelo esgotamento desses recursos. Considerando quenão é fruto de atividades produtivas, a variação dos estoquesambientais não-renováveis não afeta a renda, conforme comumentecalculada na contabilidade convencional. Por estes motivos, as Con-tas Nacionais ignoram a degradação dos recursos naturais, muito

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embora esses processos sejam de extrema importância econômica. Ocálculo do Produto Interno Bruto - PIB só considera ganhos, ou ati-vos, na exploração desses recursos, gerando falsa sinalização quantoà sua utilização.

De acordo com as convenções vigentes, quanto maior a utili-zação dos recursos naturais, maior será o crescimento do produto.Mas não são levadas em conta as perdas de ativos não-produzidos, ounão-renováveis, decorrentes da exaustão. Ainda, os custos de mitigaçãodecorrentes de problemas ocasionados pela degradação dos recursosnaturais são vistos como acréscimos do nível de atividade, como asdespesas com despoluição ou descontaminação do meio ambiente.

Em suma, o modelo atualmente adotado pelos Sistemas deContas Nacionais dá ênfase à determinação do nível corrente da ativi-dade, mas não apresenta soluções satisfatórias para conter a exaustãoou contínua degradação dos recursos naturais ao longo do tempo.

Um exemplo claro da ‘despreocupação’ com as perdas derecursos naturais é o que ocorre no tratamento dispensado à extraçãode recursos minerais. A estimativa do valor adicionado para essaatividade é obtida pela diferença entre o valor bruto da produção e oconsumo intermediário, que leva em consideração despesas cominsumos e operações industriais e outras despesas correntes comoimpostos, taxas, royalties e outras compensações que não envolvemo pagamento das rendas primárias.

O valor adicionado é distribuído entre remunerações a em-pregados e excedente operacional. Ou seja, o excedente da extraçãomineral equivale à diferença, na ‘boca da mina’, do valor de venda dominério menos os custos correntes de extração; porém, a extração deminério implica na diminuição do estoque de ativos não produzidosou de estoques ambientais.

Por fim, o valor monetário dessas perdas acaba embutido nareceita do minerador, mas não deveria fazer parte da sua renda. La-

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mentavelmente, nenhum esforço é feito para retirar do excedente ovalor econômico das perdas, o que, contabilmente, equivale ao ab-surdo de considerar inalterados os estoques das reservas minerais,mesmo após a extração.

Algo de causar inveja aos maiores ilusionistasdo mundo...

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Responsabilidade Socioambiental:A imprensa não entra no debate

09/09/2008 - 01h09

Por Luciano Martins Costa, para o Observatório da Imprensa

As questões envolvidas nas expressões “responsabilidade so-cial corporativa”, “investimento social privado”, “responsabilidadeambiental” e “sustentabilidade” ainda são tratadas na imprensa brasi-leira em nível muito superficial – e de maneira muito irresponsável,pode-se afirmar. Não bastaria dizer, como justificativa, que as mu-danças de paradigmas sempre demoram a se concretizar e a comportendências, que estaríamos vivendo um momento de transição e que,portanto, é natural esperar que as cabeças pensantes da imprensa sesituem no novo contexto.

O problema da resistência da mídia em pelo menos entrarhonestamente no debate deve ter outras causas. Primariamente, nãoseria respeitoso imaginar que ainda possa persistir entre jornalistas,articulistas, gestores e agregados aos meios de comunicação a ilusãode que a economia pode continuar crescendo em todo o planeta semque se alterem as relações entre os processos produtivos e o patrimônioambiental. Da mesma forma, seria debochar da inteligência empres-tada à mídia considerar que ela aceita como inevitável a sucessãoquase interminável de conflitos de toda espécie que compõem o ce-nário global, desde as brigas de gangues ao terrorismo internacional.Num ambiente social assim deteriorado, não há capital que resistapor muito tempo.

Então, por que a imprensa segue impondo aos seus leitores eà sua audiência uma visão obsoleta do mundo, na qual a defesa domeio ambiente e a defesa da responsabilidade social do capital sãoapresentadas como teses de “naturebas” radicais que se opõem ao

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progresso do capitalismo, de velhos hippies deslocados na “pós-modernidade” ou de marxistas inconformados?

A inteligência da mídia sabe que não se trata disso. Mesmo amais conservadora inteligência da mídia reconhece que o conflitoideológico contemporâneo tem a mesma raiz de todos os tempos – amanifestação de padrões desiguais de entendimento sobre o que sejautopia e o que seja ilusão –, mas a visão bipolar que marcou osséculos 19 e 20 não cabe nos paradigmas atuais, impostos pelaglobalização.

Caridade velha de guerra

A rigor, esse debate se resolve no ambiente científico, se con-siderarmos que a ilusão é a construção de perspectivas com base empremissas falsas e a utopia é a construção de perspectivas com basecientífica. Se alguém afirmar que é possível impor um “grande islã”planetário ou uma “irmandade do coração de Maria” global, a ciênciavai ponderar que a humanidade busca naturalmente a diversidadecomo condição para sua sobrevivência, outros pensadores vão lem-brar que o ser humano evolui no sentido da ampliação de sua consci-ência e sempre haverá alguém para decretar que a estupidez temlimites.

O que fica difícil entender é por que razão a imprensa senega a deixar que o debate sobre a convergência dos desafios social eambiental se estenda para o terreno onde ele realmente pode avançar,que é a questão do papel social do capital. Ou, dito de outra forma,sobre a natureza do capital. Dizer simplesmente que tal ou qual ma-nifestação de preocupação com o destino do mundo, como a defesado meio ambiente e a luta por igualdade social, é apenas arenga develhos comunistas, equivale a chamar o leitor de estúpido. Mais doque isso, representa falta de responsabilidade social, descumprimento

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do papel social da imprensa de estimular a inteligência da sociedade.

Visto pelos próprios olhos da imprensa, o estado do mundoindica que a equação planetária não se resolve plantando mudinhasde ipê no jardim da empresa ou doando parte dos lucros e algunscomputadores usados para a escolinha de capoeira dos negrinhos daVila Nhocuné. Ou, para evitar mal-entendidos, para a população ca-rente da Vila Nhocuné, onde se pode identificar grande número deinfantes afro-descendentes. Sim, porque a imprensa pode ser ao mes-mo tempo, contraditoriamente, socialmente irresponsável e politica-mente correta.

Há muito conhecimento disponível sobre as causas defendi-das por ambientalistas e pelos praticantes da gestão pelasustentabilidade que indicam a premência de incluir entre as variá-veis do balanço das empresas a questão ambiental e a capacidade docapital de produzir resultados sociais tão positivos quanto seus lu-cros financeiros. Mas o padrão na imprensa ainda é afirmar que “olucro é a razão de existir da empresa”, fazendo a concessão segundoa qual, tendo lucros, uma empresa pode distribuir uma parte de seusresultados sob a forma da responsabilidade social. Alguns chegam aacrescentar o bordão de origem cristã pelo qual, ao doar parte deseus ganhos, o capital estaria demonstrando sua gratidão pelas bên-çãos de seus lucros. A velha e boa caridade travestida de responsabi-lidade social.

Responsabilidades recíprocasEssa visão obsoleta da questão social não merece os bits de

uma linha na tela do computador, mas é a idéia que predomina naimprensa. Raramente se observa, em qualquer jornal ou revista, umareportagem ou análise que contemple, por exemplo, os novos pa-drões de risco que desafiam os empreendedores, as novas métricas

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que permitem tangibilizar perdas e ganhos sociais e ambientais, ou,um pouco mais adiante, questões como capital e democracia, capitale igualdade social, capital e garantia de usufruto dos bens naturaispara as futuras gerações.

Um exemplo desse anacronismo da imprensa é a abordagemda questão do aquecimento global. Mesmo que haja cientistas de boareputação criticando pontos do relatório sobre mudanças climáticasque assombrou o mundo em fevereiro de 2007 – e os há, sim, mistu-rados a picaretas financiados pela indústria poluidora – a questãoambiental não tem, nunca teve, como vértice o problemameteorológico. O aquecimento global é apenas uma bandeira adicio-nal, que foi irresponsavelmente empunhada pela imprensa em todo omundo, criando um catastrofismo que, em vez de inspirar mudançasde comportamento, provoca o fatalismo conformista que nada muda.

A verdadeira questão do movimento ambientalista e do movi-mento por responsabilidade social se baseia no princípio segundo oqual os indivíduos são responsáveis pelo todo social e ambiental.Segundo esse princípio, a responsabilidade de usar os meios disponívesnão se limita à imposição de limites horizontais, que definem osdireitos compartilhados com os contemporâneos, mas também aoslimites verticais, que significam o respeito ao direito futuro das gera-ções que ainda estão por vir, e o respeito ao passado, ao modo devida de populações que preferem seguir o caminho da evolução soci-al à sua maneira e em seu próprio ritmo.

São responsabilidades recíprocas e correspondentes, e nadatêm a ver com opções do tipo esquerda-direita, como dá a entender avisão reducionista predominante na mídia.

Fonte: Observatório da Imprensawww.observatoriodaimprensa.com.br.

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As matérias constantes neste livro foram publicadas naimprensa escrita e eletrônica - Internet.

A história se repeteJornal O Liberal – Cartas na mesa, 21.08.04.PortalAmazonia - www.portalamazonia.globo.com, 24.09.07.

Futuro da Amazônia é preocupanteJornal O Liberal – Cartas na mesa, 12.08.04.PortalAmazonia - www.portalamazonia.globo.com, 17.08.07.

Valorizar o homemJornal O Liberal – Cartas na mesa, 07.09.04.

Fingir que acreditaJornal O Liberal – Cartas na mesa, 15.09.04.Portal EcoDebate - www.ecodebate.com.br, 01.09.08.PortalAmazonia – www.portalazonia.globo.com, 03.09.08.

Quem tem dinheiro não compra tudo o que deseja, muitomenos a vergonha e a consciência dos outros...Acorda Pará – www.acordapara.com.br, 16.08.06.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br, 04.10.06.

Mitomania paraense:Você sabia que mentir estimula o cérebro e deixa as pes-soas mais criativas?www.acordapara.com.br

200 Anos de Imprensa no Brasil, “A história da Imprensano Pará”www.acordapara.com.br

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Salvemos a AmazôniaAcorda Pará.– www.acordapara.com.br, 29.05.05.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br, 04.10.06.

Licença Ambiental obrigatória:Qual a utilidade do licenciamento ambiental, na prática?PortalAmazonia.- www.portalazonia.globo.com, 03.08.07.Portal EcoDebate www.ecodebate.com.br,14.11.07.Revista Tempo e Presença Digital, Meio Ambiente e ReligiosidadeProtestante - ano 02 – nº. 06 – jan. 2008. – www.koinonia.org.br.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br, 05.04.07.

Teoria da conspiraçãoRevista Tempo e Presença Digital, ano 02 – nº. 06 – jan. 2008 –www.koinonia.org.br.

Os mitos e os interesses do ParáO Liberal – Caderno Painel, edição de 15.02.04.

Projeto Bauxita de Paragominas: Exemplo didático realAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 16.03.05.

Os PCAs do Projeto BauxitaAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 16.03.05.

‘Via crucis’ interinstitucionalAcorda Pará – www.acordapara.com.br

O processo no CREA/CONFEAAcorda Pará – www.acordapara.com.br

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Gestão ambiental descentralizada e integrada com os mu-nicípios, necessidade urgente do EstadoAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 28.08.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 30.08.07.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 30.08.07.Pará Negócios – www.paranegocios.com.br, 30.08.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 03.09.07.

Na contramão dos países desenvolvidosAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 29.11.07.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 01.10.07.ParaNegócios – www.paranegocios.com.br, 01.10.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 30.09.07.

Instalação de TermelétricaPortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 10.10.07.

O ectoplasma do seqüestro de carbonoPortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com 11.10.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 12.10.07.

O aumento da reserva florestal na AmazôniaAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 13.10.07.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 13.10.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 13.10.07.

Papa-chibé! Égua da herança extrativista...Revista Globo Rural, edição 183, janeiro/2001.Acorda Pará – www.acordapara.com.br, 30.03.05.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 18.10.07.

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PremoniçõesPortal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 06.11.07.Portal Eco e Ação – www.ecoeacao.com.br, 06.06.07.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com , 07.11.07.

Savanização da Amazônia é risco iminentePortalAmazonia - www.portalamazonia.globo.com, 21.11.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 21.11.07.

Lambe-lambePortalAmazonia - www.portalamazonia.globo.com, 24.11.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 24.11.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 25.11.07.

Nova lei representa grande avançoAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 05.07.07.PortalAmazonia - www.portalamazonia.globo.com, 09.08.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 26.11.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 01.08.07.

Miséria, Prostituição e Meio Ambiente misturam-se noPará, até quando?Acorda Pará – www.acordapara.com.br, 26.03.07.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 27.12.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 29.11.07.O globo On-line - www.oglobo.globo.com, 12.12.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 27.11.07.

Vale: Projeto fantástico de privatização é impossível derealizar. Será que Vale a pena ?Eco e Ação – Ecologia e Responsabilidade –www.ecoeacao.com.br,04.12.07.

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Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 04.12.07.O Globo On-line – www.oglobo.globo.com, 17.09.07.

Balanço anual da Vale em 2007PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 13.12.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 11.12.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 13.12.07.

Barcarena: a ‘nova Cubatão’ da AmazôniaPortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 20.12.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 20.12.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 20.12.07.

O público e o privado, o oficial e oficiosoAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 23.12.07.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 27.12.07.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 27.12.07.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 29.12.07.

Prioridade nacionalAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 23.01.08.Eco e Ação Ecologia e Responsabilidade – www.ecoeacao.com.br,23.01.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 23.01.08.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 24.01.08.Pará Negócios – www.paranegocios.com.br, 24.01.08.Fundação Getúlio Vargas, Centro de estudos em Sustentabilidade –FGVces – www.ces.fgvsp.br,, 31.01.08.Revista Eco 21 – www.eco21.com.br, Edição N. º 134/2008.

Origami e o TAC por desmatamento ilegal.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 30.01.08.

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Love LomasPortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 18.02.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 18.02.08.Pará Negócios – www.paranegocios.com.br, 18.02.08.

Brasil na berlinda do debate sobre a energia dos alimentosAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 16.04.08.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 19.04.08.O Globo On-line – www.oglobo.globo.com, 24.04.08.

O principal vilão do desmatamento da Amazônia é o pró-prio governoAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 30.04.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 02.05.08.Pará Negócios – www.paranegocios.com.br, 03.05.08.Associação Brasileira dos Ministérios Públicos de Meio Ambiente –ABRAMPA – www.abrampa.org.br, 05.05.08.Portal Rema Atlântico – www.remaatlantico.org, 05.05.08.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 07.05.08.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 30.04.08.

Onde estarão as RCEs?Acorda Pará – www.acordapara.com.br, 09.05.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 09.05.08.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 08.05.08.

Os impactos ambientais.A floresta e o futuro. Combate ao desmatamento na Ama-zôniaAcordaPará – www.acordapara.com.br, 26.01.08.Para Negócios – www.paranegocios.com.br, 28.01.08.

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Minério verdePortal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 12.07.08.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 14.07.08.

Lavagem verdeAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 01.08.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 02.08.08.Para Negócios – www.paranegocios.com.br, 03.08.08.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 04.08.08.Revista Eco21 – www.eco21.com.br, edição Nº. 141/2008.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br, 31.07.08.

Robin Hood tupiniquim à moda parauaraAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 11.08.08.PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 13.08.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 13.08.08.

A Vale quer ser verdePor Malu GasparRevista Exame – 02.07.08.

Auditoria do Sistema de Gestão AmbientalAcorda Pará – www.acordapara.com.br, 27.08.08.O globo On-line - www.oglobo.globo.com, 27.08.08.

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PortalAmazonia – www.portalamazonia.globo.com, 27.08.08.Pará Negócios – www.paranegocios.com.br, 27.08.08.Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 28.08.08.Centro de Estudos em Sustentabilidade – FGV/GVces –www.ces.fgvsp.br, 28.08.08.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br, 27.08.08.

Estoques Ambientais e Contas NacionaisAcorda Pará – www.acordapara.combr, 02.09.08.Centro de Estudos em Sustentabilidade – FGV/Gvces -www.ces.fgvsp.br, 02.09.08Portal Ecodebate – www.ecodebate.com.br, 02.09.08.JusNavigandi – www.forum.jus.uol.com.br , 31.08.08.

Responsabilidade Socioambiental: A imprensa não entrano debatePor Luciano Martins Costa, para o Observatório da Imprensawww.observatoriodaimprensa.com.br, 09/09/2008 - 01h09

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