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1 Os Mitos e a Realidade Os mitos são crenças populares que foram passando de geração em gera- ção ao longo dos séculos. Podem ter um fundo de verdade ou não. São a interpretação que os povos fazem dos fenómenos naturais. Antigamente, quando os povos viviam em comunhão com a natureza, as estações do ano e os ciclos lunares tinham uma profunda importância. Eles compreendiam, amavam e respei- tavam a Terra, o Sol, a Lua, as flores- tas, as tempestades, os animais, os mares e os rios. Do comportamento de todos estes elementos dependia a sua sobrevivência, e os homens sentiram necessidade de lhes prestar culto. O passar do tempo era uma conquista e não uma perda; por isso, a vida era vivida segundo a segundo, porque nunca estava garantida. Então nasce- ram as seguintes ideias seculares para podermos conquistar cada segundo da nossa vida: DOMINAR a nossa língua, dizendo sempre menos do que aquilo que pen- samos. PENSAR bem antes de fazer uma pro- messa e, se a fizermos, não a quebrar. Não importa quanto nos custe cumpri- la nem o tempo que demoramos, mas devemos concretizá-la. NUNCA deixar passar a oportunidade de incentivar uma pessoa ou de lhe dizer algo agradável. É sempre bom ouvir palavras agradáveis, especial- mente quem se encontra num momento negativo. TER interesse pelas pessoas que nos rodeiam, pelas suas famílias, lares e sonhos. Rir com os que riem saudavel- mente e confortar os que choram. Eles precisam de nós. SER ALEGRE. Rir das boas histórias e aprender a contá-las. Transmitir ale- gria é um dom que todos podemos ter; só temos que dar-lhe a atenção necessária para o ganhar. CONSERVAR a nossa mente aberta para tudo. Lembrar que não há verda- des absolutas. É uma virtude poder- mos desfrutar e conservar a amizade de pessoas que pensam de maneira diferente. DEIXAR que as nossas virtudes falem por si mesmas e evitar falar das fra- quezas e das falhas dos outros. Abs- termo-nos das intrigas e maledicên- cias. TER cuidado com os sentimentos dos outros. É mais fácil ferir do que repa- rar o que foi feito. NÃO fazer caso dos comentários sobre a nossa pessoa. Viver de maneira que nada possa dar-lhes crédito e eles acabarão por ser esquecidos. Sermos nós mesmos. NÃO ser excessivamente zeloso dos nossos direitos e desleixado nos nos- sos deveres. Trabalhar, ter paciência, conservar a calma, crermos em nós próprios, sermos firmes, e recebere- mos a nossa recompensa. Tal como os fenómenos naturais e os problemas da vida, também a saúde e os seus problemas foram sendo alvo, ao longo de séculos, de sabedoria popular e mitos. Este boletim fala-nos essencialmente de crenças populares sobre a saúde com as quais muitos de nós crescemos e convivemos e do que realmente se sabe hoje sobre as mes- mas. Américo Varela Ano II – nº05/09 Setembro 2009 Nesta edição: Editorial- Os mitos e a Reali- dade 1 Assunto temáti- co— Mitos na saúde 2 Três mitos da medicina popular 7 Os mitos na Saú- de Infantil 8 Oito mitos das dietas 10 Verão: Mitos sobre os perigos do sol para a pele 12 Mitos do exercí- cio 13 Mitos sobre Dia- betes 15 Mitos sobre Saú- de da Mulher— Banda desenhada 18

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Os Mitos e a Realidade

Os mitos são crenças populares que foram passando de geração em gera-ção ao longo dos séculos. Podem ter um fundo de verdade ou não. São a interpretação que os povos fazem dos fenómenos naturais.

Antigamente, quando os povos viviam em comunhão com a natureza, as estações do ano e os ciclos lunares tinham uma profunda importância.

Eles compreendiam, amavam e respei-tavam a Terra, o Sol, a Lua, as flores-tas, as tempestades, os animais, os mares e os rios. Do comportamento de todos estes elementos dependia a sua sobrevivência, e os homens sentiram necessidade de lhes prestar culto.

O passar do tempo era uma conquista e não uma perda; por isso, a vida era vivida segundo a segundo, porque nunca estava garantida. Então nasce-ram as seguintes ideias seculares para podermos conquistar cada segundo da nossa vida:

DOMINAR a nossa língua, dizendo sempre menos do que aquilo que pen-samos. PENSAR bem antes de fazer uma pro-messa e, se a fizermos, não a quebrar. Não importa quanto nos custe cumpri-la nem o tempo que demoramos, mas devemos concretizá-la. NUNCA deixar passar a oportunidade de incentivar uma pessoa ou de lhe dizer algo agradável. É sempre bom ouvir palavras agradáveis, especial-mente quem se encontra num momento negativo. TER interesse pelas pessoas que nos rodeiam, pelas suas famílias, lares e

sonhos. Rir com os que riem saudavel-mente e confortar os que choram. Eles precisam de nós. SER ALEGRE. Rir das boas histórias e aprender a contá-las. Transmitir ale-gria é um dom que todos podemos ter; só temos que dar-lhe a atenção necessária para o ganhar. CONSERVAR a nossa mente aberta para tudo. Lembrar que não há verda-des absolutas. É uma virtude poder-mos desfrutar e conservar a amizade de pessoas que pensam de maneira diferente. DEIXAR que as nossas virtudes falem por si mesmas e evitar falar das fra-quezas e das falhas dos outros. Abs-termo-nos das intrigas e maledicên-cias. TER cuidado com os sentimentos dos outros. É mais fácil ferir do que repa-rar o que foi feito. NÃO fazer caso dos comentários sobre a nossa pessoa. Viver de maneira que nada possa dar-lhes crédito e eles acabarão por ser esquecidos. Sermos nós mesmos. NÃO ser excessivamente zeloso dos nossos direitos e desleixado nos nos-sos deveres. Trabalhar, ter paciência, conservar a calma, crermos em nós próprios, sermos firmes, e recebere-mos a nossa recompensa.

Tal como os fenómenos naturais e os problemas da vida, também a saúde e os seus problemas foram sendo alvo, ao longo de séculos, de sabedoria popular e mitos. Este boletim fala-nos essencialmente de crenças populares sobre a saúde com as quais muitos de nós crescemos e convivemos e do que realmente se sabe hoje sobre as mes-mas.

Américo Varela

Ano II – nº05/09 Setembro 2009

Nesta edição:

Editorial- Os mitos e a Reali-dade

1

Assunto temáti-co— Mitos na saúde

2

Três mitos da medicina popular

7

Os mitos na Saú-de Infantil 8

Oito mitos das dietas 10

Verão: Mitos sobre os perigos do sol para a pele

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Mitos do exercí-cio 13

Mitos sobre Dia-betes 15

Mitos sobre Saú-de da Mulher—Banda desenhada

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Ninguém sabe ao certo como nascem algumas ideias feitas, mas a verdade é que se disseminam como uma praga e acabam por se tornar leis inabaláveis.

O problema é que, em alguns casos, esses mitos se generalizaram de tal forma que a própria comuni-dade médica acabou por acreditar neles.

Rachel V. Vreeman e Aaron E. Carroll, pediatras, publicaram, em Dezembro de 2007, um artigo no British Medical Journal, intitulado “Medical Myths”, em que analisam alguns desses mitos.

São sete, os mitos que os autores desmontam. Com a devida vénia, eis um resumo desse curioso artigo:

1. É aconselhável beber cerca de oito copos de água por dia

Não se sabe como se chegou a esta quantidade, mas talvez tenha sido por causa de uma recomenda-ção datada de 1945, que dizia que “uma quantidade apropriada de água ingerida por adulto deverá ser à volta de 2,5 litros por dia. Uma média aceitável será a de 1 mililitro por cada caloria de comida”.

Ora, esta recomendação não tem qualquer base científica. A maioria das pessoas consome a quanti-dade necessária de líquidos na alimentação do dia a dia. Pelo contrário, a ingestão exagerada de água pode levar a intoxicação, hiponatrémia e até á morte. Bom senso, portanto.

2. Só usamos 10% do cérebro

Diz-se que foi Einstein que disse isto, mas ninguém o ouviu dizer e ele também não o escreveu ele lado nenhum.

Hoje está provado que nenhuma área do nosso cérebro é inactiva, a menos que tenha sofrido um enfarto, claro.

3. O cabelo e as unhas continuam a crescer, mesmo depois de mortos

Não passa de um mito, muito generalizado na literatura policial. O que acontece é que, com a morte, o corpo desidrata-se e as áreas em redor dos pêlos e das unhas mirram, o que faz parecer que aque-les crescem.

4. Cortar o cabelo rente faz com que ele cresça com mais força

Outro mito que cai por terra quando nos apercebemos que a parte viva do cabelo é que está por bai-xo da pele, no folículo. O que se corta é a parte morta do cabelo. Portanto, podem rapar a cabeça à vontade, que não é por isso que o cabelo nasce mais forte.

5. Comer peru (ou batatas) faz sono

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A culpa seria do triptofano, que existe no peru e que poderia induzir uma certa sonolência. No entan-to, a quantidade de triptofano que existe no peru é idêntica à que existe no frango, no queijo ou na carne de porco. O que provoca a sonolência post-prandial é a consequente diminuição do fluxo san-guíneo e da oxigenação cerebral. Se se acompanhar uma suculenta refeição com vinho, a sonolência é garantida.

6. Ler com pouca luz faz mal à visão

Não está provado. Existem muitos estudos que provam que ler com pouca luz pode provocar efeitos transitórios na visão (visão turva, secura dos olhos, aumento do pestanejo), mas não afecta a visão de modo permanente.

7. Os telefones móveis criam interferências electromagnéticas nos hospitais

Na Clínica Mayo, em 2005, fizeram-se 510 testes com 16 aparelhos hospitalares e 6

marcas diferentes de telefones móveis e registaram-se, apenas, 1,2% de interferên-cias.

Parece, portanto, que os telemóveis não interferem com os aparelhos médicos, embora seja de bom tom mantê-los afastados das enfermarias.

Estes foram os 7 mitos que os autores ingleses desmontaram – mitos que, na sua opinião, são muitas vezes propalados pela imprensa e pelos próprios médicos e cientistas.

Mas há outros mitos, os que nasceram de alguma lenda, de alguma anedota, de algum facto longín-quo e que se foram perpetuando, de geração em geração.

De facto, parece que é mais fácil acreditar, por exemplo, que a água de lavar tremoços faz baixar a glicemia do que aceitar fazer meia hora diária de exercício físico, para obter um melhor controlo metabólico dessa mesma doença.

Diz o povo que “cuidados e caldos de galinha, nunca fizeram mal a ninguém”, mas nem sempre o povo tem razão.

É o que vamos provar com os seguintes exemplos:

1. Não se pode tomar banho quando se está menstruada

Claro que pode! A menstruação faz parte da vida da mulher, acontece todos os meses durante déca-das e o duche, o banho ou a natação não têm nada a ver com isso.

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e, ao fim de algum tempo, um cheiro incomodativo.

7. Se é natural, pode não fazer bem, mas mal não faz

O mito do "natural" é um dos mais arreigados. Se é natural, é porque não faz mal. Alguns dos mais mortíferos venenos são naturais. A cicuta, por exemplo, é uma planta parecida com o agrião, mas é melhor não a colocar numa salada. O ópio, a heroína, a cocaína, o haxixe - tudo isso é natural... mal não faz?...

8. As correntes de ar provo-cam gripe

Não provocam coisa nenhuma. A gripe é uma doença infeccio-sa, provocada por um vírus. Se estivermos numa corrente de ar, podemos apanhar uma gripe se, ao nosso lado, estiver um amigo nosso, já doente, que tussa para cima de nós. A cor-rente de ar limita-se a empurrar os vírus de um para o outro.

Não senhor, o sangue não sobe à cabeça, como algumas avós diziam, como se existisse um túnel entre o útero e a caixa craniana.

E também não é verdade que uma mulher menstruada não possa fazer bolos, porque a massa não cresce. Basta experi-mentar.

2. A água de lavar tremoços faz descer a glicemia

Mentira que facilmente se comprova. Alguns doentes com diabetes, sobretu-do no início da doença, ainda acreditam que isso é possível e fazem o sacrifício de beber aquela água, na esperança de fazer baixar a glicemia. Para tornar a coisa mais “científica”, alguns usam fórmulas com múl-tiplos de 7: colocam 7 tremoços dentro de água e deixam-nos ficar de um dia para o outro, bebendo depois a água; fazem o “tratamento” durante 21 dias, descansam 7 dias e repetem-no mais 21 dias.

Se a água de lavar tremoços fizesse alguma coisa à diabetes, a indústria farmacêutica já tinha inventado um xarope a partir dessa água ou comprimidos com essência de tremoço.

3. Andar descalço sobre mosaico provoca blenorra-gias

Hoje em dia, a blenorragia não é tão frequente como na primei-ra metade do século passado. Nesse tempo, e durante muitos anos, havia quem acreditasse que a blenorragia era provocada

por andar descalço, sobre mosaico. Parece que o pénis se constipava, coitado…

Claro que quase toda a gente sabe que a blenorragia é uma doença sexualmente transmissí-vel, que se pode evitar usando o preservativo, mas ainda apa-rece, de vez em quando, um ou outro homem, queixando-se dos malefícios do mosaico…

4. As gemadas dão força

Não dão nada... As nossas avós é que estavam convencidas dis-so e impingiam-nos gemadas com açúcar e, por vezes, um pouco de vinho do Porto.

Comer ovos crus pode é aumen-tar o risco de salmonelose e consequente diarreia.

5. Comer muitos doces pro-voca diabetes

É mentira. A diabetes do adulto (tipo 2) é uma doença genética, uma herança dos nossos pais e/ou avós. Claro que, ao comermos muitos doces, aumentamos de peso e os gordos desenvolvem diabetes mais precocemente.

6. Rodelas de batata na testa melhoram a enxaqueca

As pessoas que sofrem, de fac-to, de enxaqueca sabem que isto não é verdade. Mesmo os medicamentos específicos para o alívio da enxaqueca são, mui-tas vezes, ineficazes. As rodelas de batata poderão, se calhar, dar uma sensação de frescura

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o truque de meter um susto à vítima dos soluços que, desse modo, para além do incómodo dos soluços passa a ter, tam-bém, uma taquicardia…

No que respeita aos bebés engasgados, crê-se que a situa-ção se resolve soprando na “moleirinha” das crianças. Será que o ar soprado passa através da membrana e vai desentupir as vias aéreas? Claro que não, mas enquanto a mãe está entretida a soprar na cabeça do filho, o “engasganço” acaba por passar por si próprio.

12. A beringela faz baixar o colesterol

O que faz bai-xar o colesterol é uma dieta correcta e a prática de exercício físico regular.

Agora, querer continuar a comer de tudo e passar horas sentado em frente à televisão, a beber água de beringela, não vai fazer baixar o seu colesterol, claro.

Não há qualquer estudo que comprove que a beringela baixe o colesterol, mas esta ideia generalizou-se recentemente, embora haja várias correntes: para uns, é beringela com sumo de laranja, em jejum; para outros, a beringela associa-se ao sumo de limão.

13. Fumar haxixe faz menos mal que fumar tabaco

É um mito muito generalizado e completamente errado: os

Os mitos na Saúde

cigarros de haxixe têm mais alcatrão e mais substâncias car-cinogéneas que os de tabaco. Além disso, o consumo de haxi-xe pode desencadear, em indiví-duos susceptíveis, alterações da personalidade mais ou menos graves.

14. A pílula engorda

O que engorda são os bolos, os chocolates e a falta de exercício. Se a pílula engordasse, tería-mos ainda mais mulheres obe-sas do que já temos. Milhões de mulheres, em todo o mundo, tomam a pílula e há as que ganham peso, as que o mantêm e as que emagrecem. A pílula não tem nada a ver com isso.

15. A masturbação causa tudo e mais alguma coisa

É um mito que está a desapare-cer, felizmente. No entanto, nas gerações mais antigas cria-se que a masturbação masculina (porque da masturbação femini-na ninguém falava) podia pro-vocar cegueira, fazer crescer pêlos nas mãos, levar à tuber-culose, provocar olheiras, ema-grecer e mais uma série de aldrabices óbvias.

16. Os nervos podem provo-car úlceras de estômago

O stress pode, de facto, aumen-tar a produção de ácido clorídri-co pelo estômago e ser respon-sável por sintomas dispépticos, como azia.

Úlceras nervosas não existem. Quase todas as úlceras são pro-vocadas por uma bactéria, cha-mada helycobacter pylori ou pela acção nefasta de anti-inflamatórios.

9. Tomar banho quando se faz a digestão, pode matar

Em princí-pio, não mata ninguém... a menos que vá mergulhar no Oceano e não saiba nadar. Claro que, ao fazer exercício, o san-gue é desviado para os múscu-los e a digestão pode ser mais lenta, mas um simples mergu-lho, para se refrescar, ou um duche, mesmo em plena diges-tão, não faz mal nenhum.

O mesmo se passa com outras actividades, como cortar o cabelo ou cortar as unhas, durante a digestão.

10. Comer cenoura, faz bem aos olhos

A cenoura é rica em vitamina A e a deficiência grave em vitami-na A causa cegueira, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Se a alimentação é equi-librada, não é mais uma ou duas cenouras que vão fornecer a quantidade de vitamina A sufi-ciente para evitar, por exemplo, que um míope precise de ócu-los.

11. Truques para acabar com os soluços

Há muitos e todos derivam de alguma crença ancestral. Um desses truques consiste em beber pequenos golos de água, sucessivamente, até que os soluços parem. Eventualmente, eles acabarão por parar, com ou sem golos de água, mas a pes-soa sempre está entretida.

Também toda a gente conhece

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formando um quadriculado. E por que não em círculos? Nin-guém sabe.

O sarampo está praticamente erradicado mas, ainda há cerca de 20 anos era habitual, quando uma criança estava com saram-po, pendurar, no seu quarto, panos vermelhos e tapar o can-deeiro com papel vegetal, tam-bém vermelho.

Este tipo de folclore de gestos mágicos, para afastar as doen-ças, tem diminuído com o pas-sar dos anos, mas, em alguns lugares,

Artur Couto e Santos

Os mitos na Saúde

17. Faz bem urinar sobre as feridas

Este é um dos mitos mais des-miolados. Urinar sobre uma feri-da poderá, quanto muito, aliviar a bexiga,

se estiver muito aflito…

18. O café cura as bebedei-ras

Em primeiro lugar, o melhor é não ficar bêbado. Mas se estiver com um copo a mais, o café só vai piorar as coisas: como é diurético, vai fazê-lo urinar mais, o que aumenta a desidratação e piora o seu mal estar.

19. Dar sangue normaliza a tensão dos hipertensos

Dar sangue é um acto nobre, de solidariedade desinteressada, que deve ser aplaudido e esti-mulado. Mas não faz nada do que se diz para aí: que os hiper-tensos ficam com a tensão nor-malizada quando dão sangue, que as dores de cabeça melho-ram, que o peso aumenta, etc.

20. Tintura de iodo melhora as pontadas

Os mais novos não devem conhecer esta prática, mas há alguns anos, quando alguém tinha uma dor, tipo pontada, no tórax, nomeadamente no decor-rer de uma pneumonia, era cos-tume pintarem-lhe as costas com traços de tintura de iodo,

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mais os bebés. Se uma criança vomita com frequência, não aumenta de peso e tem a pele pálida e macilenta, diz-se que tem o bucho virado.

Mais uma vez, não vale a pena levá-la ao médico porque ele não vai resolver nada. A "entendida" será a pessoa indi-cada para colocar o bucho no lugar.

Como ela o faz já é mais discu-tível. Uns dizem que o abdómen da criança tem que ser untado com azeite; outros preconizam colocar um pano à volta da bar-riga da criança e prendê-lo com um alfinete d'ama

3. A cobra ou cobro

É o nome que se dá em algu-mas regiões do país, nomeada-mente no Alentejo, à zona ou herpes zooster.

Como se sabe, caracteriza-se pelo aparecimento de vesículas na pele, semelhantes às da varicela, mas mais confluentes, e acompanhadas de sensação de ardor, prurido e/ou dor. Sem tratamento, as vesículas vão progredindo, seguindo o territó-rio do nervo afectado.

O cobro surge muitas vezes no tronco e vai evoluindo num determinado espaço intercostal. Segundo a tradição, quando as vesículas dessem a volta ao cor-po todo, isto é, quando a cobra juntava a cabeça com o rabo, o doente morria.

Três mitos da medicina popular

O tratamento era feito com trigo queimado numa forja de um ferrador de cavalos (consultar http://www.spmi.pt/revista/vol12/vol12_n2_2005_056-062.pdf).

Artur Couto e Santos

1. A espinhela caída

A espinhela caída seria uma doença caracterizada por dores no estômago, costas e pernas, acompanhadas por extremo cansaço.

A espinhela corresponderia à extremidade inferior do esterno, o apêndice xifóide, e seria defi-nida como um pequeno osso, flexível, situado na boca do estômago.

Um médico que observe um doente com espinhela caída, não encontrará nada. Só um "entendido" poderá diagnosticar o mal.

Para se saber se a espinhela está caída, o "entendido" tira a "medida" do paciente. Com um fio de algodão ou uma toalha, mede o comprimento desde a ponta do dedo mindinho à ponta do cotovelo ou o tamanho do braço em posição vertical e depois, de um ombro ao outro. Se as medidas coincidirem, a espinhela está normal. Caso contrário, diz-se que a espinhe-la está caída.

O tratamento consiste, basica-mente, em rezas, como a que segue: “Espinhela caída,/ portas para o mar;/ Arcas, espinhelas,/ em teu lugar.// Assim como Cristo/ Senhor Nosso andou/ pelo mundo arcas,/ espinhelas levantou.”

2. O bucho virado

Esta doença parece que ataca

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No passado mês de Dezembro, o expresso publicou um texto da autoria de Vera Lúcia Arreigoso, inti-tulado "Os 25 Mitos da Pediatria". Baseado nas opiniões de diversos pediatras nacionais (Luís Pinhei-ro, do Hospital de Cascais, Anselmo da Costa, do Colégio da Especialidade, António Simões de Azeve-do, do Serviço de Neonatalogia do Hospital de Santa Maria, Luís Januário, da Sociedade Portuguesa de Pediatria e Gonçalo Cordeiro Ferreira, do Hospital D. Estefânia), o referido texto desfaz alguns mitos com os quais muitos de nós crescemos.

O que segue, é uma adaptação e um resumo desse texto, com a devida vénia.

Esterilização não é necessária

Os biberões têm que ser bem lavados, a fim de se retirarem os resíduos, mas não é necessário ferver ou esterilizar. Aliás, nem devia ser necessário lavar biberões, uma vez que o aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses é o que está indicado.

Aleitamento e cólicas

Todos estão de acordo que o aleitamento materno é o ideal e, se possível, exclusivo até aos 6 meses de vida do bebé. E não vale a pena retirar da alimentação da mãe laranjas, cebolas, leguminosas ou chocolate, porque não é isso que vai diminuir as cólicas do bebé. A alimentação durante a gravidez e a amamentação deve ser variada e equilibrada.

Vitaminas

Não fazem falta nenhuma. Se a alimentação da criança for variada e equilibrada, as vitaminas podem ficar na prateleira da farmácia. Uma excepção: a vitamina D, durante o primeiro ano de vida.

Chorar é bom

O bebé chora por várias razões: tem fome, tem cólicas, em a fralda molhada ou está, simplesmente, a exprimir as suas emoções. Tem esse direito. Deixe-o chorar um bocadinho, para que ele possa ali-viar as tensões.

Fora com o pó de talco

O pó de talco seca a pele e as pequenas partículas que ficam a pairar no ar, podem ser inaladas pelo bebé. Os toalhetes também devem ser usados com moderação: ao limparem a sujidade, podem arrastar a camada superficial da pele, que é protectora.

O bacio pode esperar

Não há pressa em retirar a fralda. O controlo precoce do esfíncter pode ser mais pernicioso do que benéfico. Por volta dos dois anos e picos, é uma boa altura para tentar passar da fralda para o bacio.

Os mitos na Saúde Infantil

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As botas ortopédicas estão fora de moda

O exercício é que forma o pé - não o calçado ortopédico. O melhor é deixar a criança andar descalça, sempre que possível.

Febre não é doença

A febre é um sintoma. Se surgir isoladamente, não precisa de se ir a correr ao médico. Esperar 3-4 dias. Muitas vezes, a febre vai-se embora sem que se faça nenhum tratamento.

Tosse também não é doença

A tosse é um mecanismo de defesa; ajuda a eliminar as secreções e a respirar melhor. Na maior par-te das situações, o xarope pode ficar ao lado das vitaminas, na prateleira da farmácia.

O flúor já era

Hoje em dia, os especialistas dizem para começar a escovar os dentes o mais precocemente possível e os todo os dentífricos têm flúor. Os suplementos de flúor já não se usam.

As regras são para se cumprir

As crianças precisam de regras e têm que perceber que não podem fazer tudo o que lhes apetece. Deve haver diálogo, pode haver negociação mas, no final, a criança tem que entender que os pais é que têm a última palavra.

Artur Couto e Santos

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2. Deixar de comer para emagrecer

Bom... se se quiser fazer greve de fome por qual-quer razão política ou económica, enfim, vivemos numa democracia e cada um expressa-se como pode. No entanto, se se quiser perder peso, não é fazendo jejuns mais ou menos prolongados, sal-tando refeições que se consegue - é exactamente ao contrário: fazendo diversas refeições ao longo do dia.

3. Eu só como iogurtes magros

E quanto açúcar têm esses iogurtes magros? O facto de se auto-intitularem magros não quer dizer que não tenham açúcar nenhum. Poderá não ter gordura mas, por vezes, têm mais hidratos de carbono do que os iogurtes "normais".

4. Deixei de comer pão e continuo a engor-dar!

É bem feita! O pão é um exce-lente alimento. Juntamente com a batata, o pão tem sido vilipendiado por muitas "dietas de trazer por casa". Enfim, pão com chouriço, talvez não seja uma boa opção, mas ir tomar o pequeno-almoço ao café, comendo um mil-folhas e um galão com dois pacotes de açúcar, é bem pior do que o tradicional pãozinho com manteiga...

Moderação é a palavra de ordem

Chegamos à Primavera e as revistas e os jor-nais enchem-se de dietas milagrosas. Uma cur-ta visita a qualquer livraria ou à zona dos hipermercados onde se vendem livros e o gran-de destaque vai para livros que prometem emagrecimento milagroso, graças a dietas fan-tásticas.

O grande mito de emagrecer sem grande esfor-ço renova-se todas as primaveras e esvai-se em cada verão quando, na praia, se comprova que os portugueses estão cada vez mais gor-dos.

Diz-se que mais de metade da população do país tem excesso de peso... e fala-se de crise, o que parece contraditório...

As chamadas dietas de emagrecimento estão carregadas de mitos.

Vamos tentar desmontar alguns deles:

1. Perder peso com comprimidos

Pode ser que se consiga, durante um curto período de tempo, perder algum peso, apenas tomando certo tipo de comprimidos que diminuem o apetite ou aumentam o volume das fezes. No entanto, ao fim de algum tempo, tudo voltará ao que era dantes. Não é possível perder peso só com comprimidos - uma dieta equilibrada e exercí-cio físico adequado são factores determinantes.

Tudo o resto, ou é fantasia, ou são comprimi-dos que interferem com o funcionamento da tiróide e, nesse caso, podemos não estar a falar de emagrecimento, mas de casos de polí-cia...

Oito mitos das dietas

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8. O queque engorda menos porque é seco

O queque e o bolo de arroz têm cerca de 20 gramas de gordura cada um, isto é, a mesma quantidade que um pastel de nata, que será aquilo a que se deve chamar um "bolo molha-do" - em oposição aos outros, os tais "bolos secos".

Um bolo é um bolo é um bolo e ponto final.

Artur Couto e Santos

5. Não sei como engordo - só como fruta!

E a fruta tem frutose, que é um açúcar, portanto, se comer três peras ao pequeno-almoço, uma laranja a meio da manhã, um melão ao almoço, uvas, cerejas e nêsperas ao longo do resto do dia, é provável que não consiga perder peso. Mais uma vez, bom senso e moderação.

6. A salada engorda?!

Se for afogada em maione-se ou se estiver cheia de nozes e outros ali-mentos hipercalóricos, misturado com paté de atum ou creme de frutos do mar, mais vale comer um pequeno bife do que uma salda des-tas...

7. Estou mais gordo! Deve ser do ar!

Não é, de certeza. Está provado: o ar não engorda! Vários estudos científicos vieram dar razão àqueles que acreditam que o ar apenas serve para respirar e que não há ninguém que consiga viver só do ar.

As pessoas que fazem afirmações destas, esquecem-se que não andam mais de 10 metros por dia, que passam o serão sentados, em frente à televisão e que comem exagerada-mente, durante meses, anos e décadas!

Oito mitos das dietas

Ano II – nº05/09 Página 11

Page 12: Os Mitos e a Realidade - Adm. Regional de Saude de Lisboa ... · sobre os perigos do sol para a pele 12 Mitos do exercí-cio 13 ... De facto, parece que é mais fácil acreditar,

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Além do envelhecimento da pele, o excesso à exposição solar, segundo relatório a OMS (Organização Mundial de Saúde), causa cerca de 60 mil mortes por ano, em todo o mundo. Estima-se que mais de 90% da carga global de doenças como mela-noma e outros cancros de pele seja causada pela exposição à radiação ultravioleta, UV.

Queimaduras solares frequentes durante a vida predispõe ao cancro de pele. Veja-mos alguns dos mitos sobre os perigos do excesso à exposição solar.

Pele bronzeada é sinónimo de pele saudável Ao contrário do mito das décadas de 60/70, a pele bronzeada não é sinónimo de saúde e beleza, mas está de facto a criar uma defesa contra a agressão do sol. Este, em excesso, obriga as células a produzir mais melanina para proteger a pele.

Pessoas negras não precisam usar protector solar Apesar de a pele negra ser mais resistente – por ter uma quantidade maior de melanina – ninguém está livre do cancro de pele. Por isso, o protector deve ser usado SEMPRE e o factor mínimo de protecção é o 15.

O número do factor de protecção solar está relacionado com a cor da pele Independente do tipo de pele, deve-se usar sempre protector solar de, no mínimo, FPS 15 ou maior. FPS é a abreviação de Factor de Protecção Solar e significa que, usando um filtro com FPS 15, a pele levará 15 vezes mais tempo para ficar verme-lha do que sem protecção. Peles claras e pessoas ruivas exigem maiores cuidados, pois são mais propensas ao cancro de pele. É importante lembrar que o protector deve ser aplicado em quantidade generosa por todo o corpo 30 minutos antes da exposição solar.

Protectores físicos como bonés e guarda-sol substituem o protector solar Eles devem sim ser usados, mas como um complemento ao protector solar. É ideal que o guarda-sol seja grosso para bloquear bem a passagem do sol. Não podemos deixar de proteger as orelhas, os olhos e os lábios (há protectores específicos para essa região que não devem ser dispensados).

Américo Varela

Verão: Mitos sobre os perigos do sol para a pele

Ano II – nº05/09 Página 12

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As verdades sobre a prática de exercício físico sofreram tantas transformações nos últimos vinte anos que praticamente apenas uma resistiu ao tempo: para ficar em forma tem que se mexer! Ora vejamos:

Mitos do exercício

Ano II – nº05/09 Página 13

Em que se acreditava O que se sabe hoje:

Quem não sentir uma dorzi-nha no final do seu exercício não o realizou conveniente-mente.

A dor indica que algo está errado. Sentir certo cansaço muscular depois dos exercícios é normal, mas deverá passar em algumas horas. Sentir dor durante ou imediatamente após o treino pode ser sinal de alguma lesão ou de que está a forçar demais.

Exercícios abdominais são os melhores para perder a bar-riga

Os abdominais apenas moldam os músculos e dão tonicidade, mas não queimam gordura. Para perder os quilos localizados, o ideal é associar exercícios abdominais a actividades cardiovasculares, os exer-cícios aeróbicos de longa duração, como caminha-das ou corridas, que queimam gordura, inclusive na barriga.

A natação é o desporto mais completo que existe.

Não existe desporto 100% completo. A modalidade deve ser escolhida de acordo com os objectivos e necessidades de cada um. Para pessoas que sofrem de alguns desvios posturais, a natação pode ser prejudicial, quando existem descompensações mus-culares e uma incorrecta técnica de natação.

Quem começa a fazer ginás-tica precisa saber que o resultado demora a aparecer

Os que se iniciam têm inúmeras vantagens sobre os veteranos na actividade física. Na fase inicial, quando as pessoas abandonam o sedentarismo, os resultados da prática aparecem em pouco tempo. Em cerca de dois meses, já é possível perceber a diferença, pois o ganho de massa muscular ou a perda de peso ocorrem em maior velocidade

Fazer exercícios com agasa-lhos e plásticos enrolados no corpo ajuda a emagrecer.

Essa mentira é bastante arriscada e pode trazer sérios danos para a saúde do praticante. Ela causa perda exagerada de água e pode desidratá-lo. É importante destacar que suor não indica emagreci-mento, mas simplesmente perda de água no orga-nismo.

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Américo Varela

Mitos do exercício

Ano II – nº05/09 Página 14

Não se deve beber água durante os exercícios.

Quando praticamos exercícios, perdemos água e electrólitos (sais minerais, como sódio). Repor a água perdida é fundamental para a manutenção do organismo e qualidade do exercício. Portanto, beba água antes, durante e depois do exercício.

Praticar desporto é a melhor forma de emagrecer.

A prática de exercícios físicos é muito importante nos programas de emagrecimento. Mas a melhor forma de perder peso é associá-la a uma mudança de hábitos alimentares. Dessa forma, actua-se no balanço energético diminuindo a ingestão de calo-rias e aumentando o seu gasto

Quanto mais exercício, melhor

Muitas pessoas acreditam que se algum exercício faz bem, então, mais exercício faz melhor. Mas lembre-se de que o desenvolvimento muscular não se verifica na sala de halteres. «Com a dieta e o repouso adequados, o organismo fortalece os mús-culos e os ossos em resposta ao exercício, de modo a estar preparado para a próxima sessão». Sem o descanso adequado, o corpo não terá a oportunida-de de se reconstruir e regenerar.

Fazer o exercício durante pouco tempo e poucas vezes é o mesmo que não fazer nada.

Esta ideia errada é responsável pelo abandono da actividade física por muitas pessoas e por evitar que outras iniciem a sua prática. Hoje em dia sabe-se que o importante é aumentar a realização de actividade física para além daquilo que se faz habi-tualmente, até se conseguir atingir os objectivos pretendidos. Qualquer acção que se tome para aumentar a actividade física vai ajudar e “conta”. O importante é começar...

Pode-se comer tudo o que apetecer desde que se faça exercício.

Quem me dera que fosse verdade… mas, infeliz-mente, não é. «É bom premiar-se com alguns mimos de vez em quando». «Mas nem toda a gor-dura presente nas nossas “comidas de plástico” preferidas se vê a olho nu», acrescenta. «Alguma gordura fica escondida no organismo como gordura visceral.» Este tipo de acumulação de gordura é particularmente perigoso para a saúde. Claro que pode fazer exercício durante horas sem fim e conti-nuar magro apesar de uma dieta de hambúrgueres e chocolates, mas as suas sessões de exercício terão muito melhores resultados se abastecer o organismo com alimentos saudáveis.

Em que se acreditava O que se sabe hoje:

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gem que apontava para a cura da diabetes com

derivados de mel. A afirmação, não é verdadeira.

Por ser altamente absorvido, o mel pode modificar

rapidamente a glicemia (hiperglicémia) por

aumentar a concentração de glicose no sangue de

um minuto para o outro. O seu consumo não

deverá por isso ser livre e contínuo.

“A aplicação de insulina provoca dependência

química. “

A aplicação de insulina não promove qualquer tipo

de dependência química ou psíquica. A hormona

insulina é importante para permitir a entrada de

glicose na célula, tornando-se fonte de energia.

Se produzimos naturalmente insulina no nosso

organismo e não somos dependentes dela, tam-

bém não o seremos com a insulina injectada.

A pessoa com Diabetes insulino-dependente é

dependente da insulina porque necessita dela para

sobreviver pois o seu corpo (o pâncreas) não a

produz!

“Quem tem diabetes deve fazer somente

exercícios leves.”

A prática de exercícios físicos faz parte do

tratamento da diabetes. Entretanto, existe o mito

de que quem tem diabetes deve fazer exercícios

leves, por ser menos resistente. Toda a pessoa

com diabetes deve ser estimulada a fazer

actividades físicas o maior número de vezes

possível, respeitando contra-indicações, se as

houver.

De uma forma geral, os exercícios melhoram os

níveis glicémicos, diminuem as doses de medica-

mentos orais e da insulina. Deve aconselhar-se

sempre com o seu médico sobre o tipo de exercício

Os mitos estão sempre presentes no imaginário

da população, especialmente quando se fala

em problemas crónicos, como a diabetes. O

mito procura explicar os principais

acontecimentos da vida, os fenómenos

naturais. Pode-se dizer que o mito é uma

primeira tentativa de explicar a realidade nem

sempre correspondendo à mesma.

Aqui vão alguns mitos sobre a diabetes a

desmistificar:

“A ingestão do açúcar em excesso provoca

diabetes.”

A ingestão do açúcar em excesso pode levar ao

aumento de peso, o que poderia, por fim, ser o

factor causador do aparecimento da hiperglice-

mia (aumento de açúcar no sangue). A doença

está relacionada ao aumento de peso e ao

sedentarismo, aliados à carga genética, isto no

caso do Diabetes Mellitus Tipo 2.

A investigação científica ainda não estabeleceu

uma relação directa entre o consumo excessivo

de açúcar e a Diabetes. No entanto, estes hábi-

tos alimentares potenciam um excesso de peso

e obesidade, que é o factor mais determinante

da Diabetes tipo 2.

“ A pessoa com diabetes pode consumir

mel e açúcar mascavado sem problemas”

Estes produtos são naturais, mas têm glicose.

Em Maio de 2002, foi divulgada uma reporta-

Mitos sobre Diabetes

Ano II – nº05/09 Página 15

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lo da glicemia. Estes alimentos

são componentes essenciais de

uma alimentação saudável, vis-

to serem fonte de energia para

o organismo e conterem outros

nutrientes importante, como as

fibras alimentares, vitaminas e

minerais. No entanto devem ser

doseados na alimentação de

maneira equilibrada. Aconselhe-

se sempre com o seu nutricio-

nista.

“Os diabéticos devem esco-

lher produtos específicos

para diabéticos.”

A alimentação recomendada

para os diabéticos é semelhante

à recomendada para a restante

população. Habitualmente, os

produtos para diabéticos não

oferecem benefícios adicionais,

visto que a sua relação custo/

benefício é desfavorável ao con-

sumidor.

“É possível sentir os efeitos

das alterações da glicemia

sem o teste de glicemia.”

Com o tempo, poderá aprender

a reconhecer alguns sintomas

da hipoglicémia (baixa de açú-

Mitos sobre Diabetes

car no sangue) e hiperglicemia

(aumento de açúcar no san-

gue). No entanto, não é possí-

vel ter uma percepção precisa,

por isso é fundamental fazer

testes de glicemia regularmente

de acordo com o estabelecido

com o seu médico ou enfermei-

ro de família.

“Os adoçantes artificiais

provocam cancro.”

Há cerca de um século as pes-

soas com diabetes utilizam ado-

çantes artificiais regularmente.

Depois de tanto tempo, não

existem evidências científicas de

maior incidência de cancro nes-

te grupo. As pesquisas que

levaram à resolução desta dúvi-

da utilizaram doses 500 vezes

maior do que a recomendável

diariamente, sem maiores con-

sequências. De referir ainda que

os adoçantes artificiais

(aspartame por ex.) não alte-

ram o valor de glicemia enquan-

to que os adoçantes naturais

(por ex. xilitol) já aumentam o

valor da glicemia. Preste sem-

pre atenção ao adoçante que

utiliza.

“Diabéticos que fazem uso

de insulina sofrem de impo-

tência sexual.”

Embora a impotência seja uma

complicação da diabetes a sua

ocorrência não está ligada ao

uso da insulina. Pelo contrário,

a falta de tratamento adequado

no controle da glicemia, coleste-

rol e pressão arterial aceleram e

aumentam a probabilidade do

seu aparecimento. Muitas

vezes, introduzindo a insulina e

controlando a glicemia, é possí-

vel melhorar o quadro de impo-

tência sexual. Se o diabético

está com a glicemia bem con-

trolada, não sofre alteração de

libido ou desejo sexual.

“Os diabéticos não devem

comer alimentos ricos em

hidratos de carbono (massa,

arroz, feijão)”

Abster-se do consumo de ali-

mentos ricos em hidratos de

carbono é prejudicial ao contro-

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Mitos sobre Diabetes

Saber a verdade sobre a

diabetes é fundamental para o

bom controle da glicemia e

prevenção de complicações. A

doença pode trazer disfunção e

falência de órgãos como rins,

olhos, nervos, coração e vasos

sanguíneos. Por isso, conhecer

bem o problema, seguir as

orientações médicas; ter uma

alimentação saudável, praticar

actividades físicas e tomar os

medicamentos e a insulina, caso

sejam necessários é essencial.

Outro detalhe importante: os

exames recomendados, seja

para o controle da glicemia ou

para evitar complicações

crônicas, também não devem

ser esquecidos.

Por isso, fuja dos mitos e

procure estar sempre bem

informado. Encare o tratamento

de forma positiva e aproveite a

vida com mais tranquilidade.

Enfermeira Joana Santos

O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo”

Fernando

Pessoa

Ano II – nº05/09 Página 17

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Mitos sobre Saúde da Mulher

Ano II – nº05/09 Página 18

Marque uma con-

sulta pré-natal para

esclarecer todas as

dúvidas.

Não é verdade.

A gravidez é um momento muito

importante, deve pla-

neá-la!

… quero engravidar.

Fazer o pino depois do

acto sexual ajuda na concepção?

Bom dia!

Bom dia, Sr.ª Enfermei-

ra...

Na consulta de Planeamento Familiar...

1 2

3

Na consulta de Saúde Materna...

Bom dia! O que

a traz por cá?

Bom dia Sr.ª Enfer-

meira. Tenho muita

azia

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Mitos sobre Saúde da Mulher

Enfermeira Lúcia e Enfermeira Manuela

Ano II – nº05/09 Página 19

hábi-

tos, ingeri

r líquido às

A azia

tem relação

com maus

2 3

.quer dizer que o

meu filho tem

muito cabelo!

Não! A azia não está relacionada com o cabelo do

bebé! A azia tem relação

com maus hábi-tos, ingerir líquido

às refeições, ficar muito tempo sentada