os madrugadores da floresta

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL RONALD POLANCO RIBEIRO Os Madrugadores da Floresta: A luta para viver, conservar e industrializar na complexidade seringueira Rio Branco Setembro de 2008

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Este trabalho apresenta uma análise sobre a complexidade camponesa do seringueiro que realiza intercâmbios ecológicos com o Meio Ambiente Natural, e econômicos com o Meio Ambiente Social. É considerado um ator social histórico, fundamental na criação de fatores de desenvolvimento endógeno, como a relação natureza- seringueiro-indústria, em construção no município de Xapuri, no estado [...]

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Page 1: Os Madrugadores da Floresta

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

RONALD POLANCO RIBEIRO

Os Madrugadores da Floresta: A luta para viver, conservar e

industrializar na complexidade seringueira

Rio Branco

Setembro de 2008

Page 2: Os Madrugadores da Floresta

RONALD POLANCO RIBEIRO

Os Madrugadores da Floresta: A luta para viver, conservar e

industrializar na complexidade seringueira

Dissertação de Mestrado apresentada como requisito para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional, no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPG-MDR) da Universidade Federal do Acre.

Rio Branco

Setembro de 2008

Page 3: Os Madrugadores da Floresta

. © RIBEIRO, R. P. 2008.

Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da Universidade Federal do Acre

R484m RIBEIRO, Ronald Polanco. Os madrugadeiros da floresta: a luta viver, conservar e industrializar na complexidade seringueira. 2008. 153f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, AC, 2008.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Franco da Costa

1. Complexidade camponesa seringueira, 2. Intercâmbios ecológicos e econômicos, 3. Meio ambiente natural e social, 4. Seringueiro, 5 Unidade econômica familiar e extrativista, 6. Relação natureza-seringueiro-indústria, 7. Ativo florestal, 8. Políticas públicas, I. Título

CDU 504.03:630 (811.2)

Page 4: Os Madrugadores da Floresta

Aos seringueiros do Acre, pela prontidão na defesa da liberdade e do território onde ficaram para morar.

Page 5: Os Madrugadores da Floresta

AGRADECIMENTOS

Aqui, faço justiça, numa breve nota de agradecimento, àqueles que

tornaram possível a realização deste trabalho, bem como todo o período de

disciplina do Mestrado.

Em primeiro lugar, ao Colegiado de Conselheiros do Tribunal de Contas

do Estado Acre, pela oportunidade para organizar parte do aprendizado obtido

junto ao movimento social e ambiental dos seringueiros, no decorrer dos últimos

20 anos da minha vida.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Carlos Alberto Franco da Costa, pelo

profícuo convívio. Ao Dr. Raimundo Cláudio G. Maciel Coordenador do Projeto

“Análise Socioeconômica de Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do

Acre” e toda sua equipe de apoio, pela ajuda na discussão dos dados de campo e

atenção recebida no fornecimento das informações do projeto. Ao Secretario de

Meio Ambiente do Estado do Acre Dr. Eufran Ferreira Amaral pela contribuição

na elaboração e discussão das figuras representativas do processo de produção

florestal.

Aos professores do Curso de Mestrado em Desenvolvimento Regional da

Universidade Federal do Acre, em particular ao Prof. Dr. Lucas Araújo Carvalho

pela obstinação na busca da realização desse Mestrado, e ao Prof. Dr. Silvio

Simione da Silva pelo permanente estímulo e colaboração ao presente trabalho.

A todos os colegas de Mestrado pelos debates acalorados e construtivos

e, pelo convívio amistoso e muito gratificante durante todo o período de estudo.

Em especial, aos companheiros Raimundão, Osmar Facundo, Simplício,

Raimundo Jorge, Francisco Monteiro de Assiz, Dionísio Barbosa, Dona Cecília e

com ela agradeço a todas(os), que no anonimato continuam lutando organizados

em Sindicatos, Associações, cooperativas e partido político, abrindo novas

possibilidades humanas de viver no interior da floresta com dignidade.

Page 6: Os Madrugadores da Floresta

E, por último – aqui valendo a máxima de que os últimos serão os

primeiros – a toda minha família, pela compreensão e estimulo manifestado na

convivência do insubstituível amor cotidiano.

Obrigado

Cuidar bem da floresta dá trabalho no começo, mas torna a vida mais fácil depois. Por outro lado, usar a floresta de qualquer jeito parece fácil no principio, mas causa muitas dificuldades mais tarde.

Page 7: Os Madrugadores da Floresta

Adaptado da Bíblia Sagrada - A Literatura da Sabedoria

RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise sobre a complexidade camponesa do seringueiro que realiza intercâmbios ecológicos com o Meio Ambiente Natural, e econômicos com o Meio Ambiente Social. É considerado um ator social histórico, fundamental na criação de fatores de desenvolvimento endógeno, como a relação natureza- seringueiro-indústria, em construção no município de Xapuri, no estado do Acre. O foco central da dissertação diz respeito à forma como o seringueiro, através da Unidade Econômica Familiar Extrativista, faz a gestão dos meios de produção - natureza e força de trabalho familiar. Analisa a racionalidade ecológica considerando dois níveis: no primeiro, os ativos florestais são obtidos e transformados sem provocar mudanças nos ecossistemas naturais e, no segundo, os ecossistemas são substituídos por culturais homogeinizadoras. Na racionalidade econômica tem-se uma produção do tipo camponesa em que o objetivo final visa a reprodução da unidade familiar e de produção e a auto-suficiência e garantia de acesso a outros bens e serviços básicos. Diferentemente das Unidades Agropecuárias Empresariais, cujo objetivo consiste em maximizar os lucros. Fica nela demonstrado que a sustentabilidade da complexidade camponesa seringueira passa pela introdução, no interior das políticas públicas, das reservas de desenvolvimento existentes em áreas de floresta, como nos Projetos e Reservas Extrativistas, associadas a um processo de industrialização dos ativos florestais existentes. Demonstra ainda as falhas de coordenação no interior das políticas públicas de crédito, infra-estrutura e de licenciamento das áreas de floresta, trazendo conseqüências como a descontinuidade na oferta dos ativos florestais para a indústria. É apresentado um estudo comparativo entre duas experiências de Reforma Agrária: o Projeto de Assentamento Extrativista “Chico Mendes” chamado de Cachoeira e o Projeto de Assentamento Dirigido Humaitá, evidenciando resultados simétricos entre custo físico da natureza, renda familiar e penosidade do trabalho em relação à valorização monetária proveniente do processo produtivo. A elevação do nível de atividade econômica surge com forte influência do processo de industrialização local, que fortalece a diversificação da colheita de ativos florestais e, consequentemente, a conservação da natureza. Essa abordagem é amparada no Projeto ASPF “Análise Socioeconômica de Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do Acre” – Departamento de Economia/UFAC, por entrevistas com diversas categorias de atores, além de visitas e acompanhamento da relação específica entre seringueiros do Projeto de Assentamento Extrativista Cachoeira e as indústrias localizadas em Xapuri. Ressalta, por fim, a metodologia empregada, com análise das informações do Projeto ASPF, das entrevistas, das visitas e

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acompanhamentos das ações estudadas que ajudaram na consolidação das teorias e do processo em construção do desenvolvimento local. Ressalta, também, a necessidade de coordenação entre as atividades econômicas da Unidade Econômica Familiar Extrativista e as indústrias e estas com as políticas públicas de apoio ao setor florestal.

PALAVRAS-CHAVE: Complexidade Camponesa Seringueira; Intercâmbios Ecológicos e Econômicos; Meio Ambiente Natural e Social; Seringueiro; Unidade Econômica Familiar Extrativista; Relação Natureza-Seringueiro-Indústria; Ativos Florestais; Políticas Públicas.

ABSTRACT

This work presents an analysis about the rural complexity of the rubber gatherer, who achieves ecological give-and-takes with the Natural Environment and economics interchanges with the Social Environment, being a historical social actor who is fundamental in the factors creation of endogenous development, like the industry-rubber gatherer-nature relation that is in construction at the municipality of Xapuri, in the Acre State, in Brazil. The central focus of the text is the form like de rubber gatherer makes the management of the means of production-nature and familiar work force by the Extrative Familiar Economic Unit. It analyses the ecological racionality considering two levels: in the first, the forest assets are obtained and transformed without changes in the natural ecossystenss and in the second, the ecossystens are replaced for the homogenizer cultivations; in the economical rationality we have a production of rural model where the purpose intends the reproduction of the familiar and production unit and the self consumption and the warranty to access other property and basic services, on the opposite of the rural Management Units, that intend to increase their profits. It demonstrates that the sustenance of the rubber gatherer rural complexity passes for the introduction of the existents development’s reserves in forest’s areas by the public politics, like in the Extrative Projects and Reservas, associated with an industrialization’s process of existent forest assets. It still presents the faults of the co-ordinations in the credit’s public politics, in the infra-structure and in the license of the forest areas, carrying consequences like the descontirmons offer of the forest assets to the industry. It is shown a comparative study between two experiments of Rural Reform: “Chico Mendes” Extrative Sitting Project that is also named Cachoeira and “Humaitá” Manajed Sitting Project that altest the symmetrical results between the plysical cost of the nature, the familiar revenue and the laborious work in relation to the monetary valorization came of the productive process. The elevation of the economic activity’s level appears with the strong influence of the local industrialization process that fortifies the diversity of the forest assets and the conservation of the nature. That approach is supported on ASPF Project (Social and Economical Analysis of Rural Familiar Production Systems in State of Acre – Brazil). Department of Economics of UFAC (Federal University of Acre), on interviews with different classes of actors and visits and attendances of the studied actions that helped in the consolidation of the theories and the process in construction of the local development, adopted in the methodology of the dissertation At last, it emphasizes in others aspects the necessity of a co-

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ordination between the economic activities of the Extractive Familiar Economic Unit with the industries and from this with the public politics of support to the forest sector.

Key-words: Rubber rural complexity: ecological give-and-takes and economics interchanges; Natural and Social Environment; Rubber gatherer; Extractive Familiar Economic Unit; Industry-rubber gatherer-nature relation; forest assets; public politics.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O duplo intercâmbio feito por uma Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE). (N) representa a natureza e (S) a sociedade. ....................... 34 Figura 2 - Esquema dos intercâmbios de materiais realizados por uma Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) numa paisagem florestal concreta. ........ 36 Figura 3 - Representação teórica dos intercâmbios ecológico-econômicos realizados pela Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) em quatro momentos sociais e históricos diferentes, da complexa economia seringueira no Estado do Acre. ...................................................................................................... 38 Figura 4 - Assimetria entre custo físico da natureza, ganho financeiro do seringueiro e outros segmentos da cadeia produtiva da monocultura da borracha. Até o final do decênio de 1910. .............................................................................. 64 Figura 5 - Construção social da identidade local. Relação: Natureza-Seringueiro-Produção Camponesa (consumo próprio com geração de excedente agrícola e de produção florestal). Entre os decênios de 1920 e início de 1940. ......................... 69 Figura 6 - Formação da territorialidade seringueira e da economia nacional, regionalmente localizada. ....................................................................................... 71 Figura 7 - Fortalecimento do Desenvolvimento Local, depois da constituição da relação: Natureza-Seringueiro-industria, no município de Xapuri, Estado do Acre, Brasil. A partir da década de 1990 ........................................................................ 74 Figura 8 - Localizando o Estado do Acre, o Município de Xapuri, o Projeto de Assentamento Chico Mendes, denominado no presente trabalho de Cachoeira e as indústrias junto com o pólo moveleiro. .............................................................. 84 Figura 9 - Uso da área desmatada no (PAE) Cachoeira, 2005. .......................... 101 Figura 10 - Situação legal dos 191 Planos de Manejo Florestal Madeireiro no Acre – 1995/2007. ......................................................................................................... 104 Figura 11 - Uso da Terra por Município, Estado do Acre, Brasil. Referente ao ano de 2007. ................................................................................................................ 150 Figura 12 - Evolução das áreas sob Manejo Florestal madeireiro licenciado por município no Acre, Brasil – 1995/2007. ................................................................ 151 Figura 13 - Levantamento das propriedades com pedido de Manejo Florestal madeireiro no Estado do Acre, Brasil 1995-2007. ............................................... 152

Page 10: Os Madrugadores da Floresta

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Relação custo físico da natureza X Valoração monetária (NAREDO, 1999) ....................................................................................................................... 31 Gráfico 2 - Relação Penosidade do trabalho X Renda (NAREDO, 1999) ............ 32 Gráfico 3 - Relação: Penosidade do trabalho x Renda .......................................... 66 Gráfico 4 - Evolução do Desmatamento no PAE Cachoeira e PAD Humaitá, 1988/2006, Acre/Brasil ........................................................................................... 93 Gráfico 5 - Relação: Penosidade do trabalho x Renda no PAE Cachoeira ......... 112 Gráfico 6 - Principais Vantagens competitivas relatadas por Unidade de Produção Familiar (UPF) (%), Vale do Acre, Sistemas Extrativista, Agrícola e Agroflorestal, 2005/2006, Acre/Brasil. ........................................................................................ 116 Gráfico 7 - Área Total de Floresta em hectares, no Estado do Acre, Brasil, 2008. .............................................................................................................................. 147 Gráfico 8 - Relação Floresta/ Desmatamento no Estado do Acre, Brasil – 2007 148

Page 11: Os Madrugadores da Floresta

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Base de Ativos Florestais Comunitária em Áreas de Conservação Próxima à Região de Xapuri, Estado do Acre, Brasil - 2007. ................................ 81 Tabela 2 - Histórico de Desmatamento do Projeto de Assentamento Dirigido Humaitá, Acre, Brasil - 1988/2006. ........................................................................ 87 Tabela 3 - Principais Produtos Geradores de Renda Bruta, PAD Humaitá, .......... 88 Tabela 4 - Desempenho Econômico dos Principais Produtos, PAD Humaita, 2005/2006, Acre/Brasil ........................................................................................... 89 Tabela 5 - Evolução do Desmatamento no Projeto de Assentamento Extrativista - Cachoeira, 2007, Acre/Brasil. ................................................................................. 92 Tabela 6 - Principais Produtos Geradores de Renda Bruta, (PAE) Cachoeira, 2006/2007, Acre/Brasil ........................................................................................... 94 Tabela 7 - Desempenho Econômico dos Principais Produtos, no (PAE) Cachoeira. Incluindo simulação na Introdução da Tecnologia (MODEFLORA), na Elaboração do Plano de Manejo Florestal Sustentável, feito pela Unidade Econômica Familiar Extrativista, 2006/2007, Acre/Brasil. ...................................................................... 95 Tabela 8 - Variação no comportamento do uso terra no PAE Cachoeira ............ 100 Tabela 9 - Pedidos de Manejo Florestal por tipificação no Acre/Brasil, 1995-2007. .............................................................................................................................. 103 Tabela 10 - Contratação por Setor do Credito do Fundo Constitucional do Norte, Estado do Acre/Brasil. Período de 1994/2007. .................................................... 105 Tabela 11 - Principais Indicadores Econômicos, (PAE) Cachoeira e (PAD) Humaitá, 2006/2007, Acre/Brasil .......................................................................... 109 Tabela 12 - Indicadores de Ocupação e Remuneração da Força de Trabalho Familiar, PAE Cachoeira e PAD Humaitá, 2006/2007, Acre, Brasil. ................... 113 Tabela 13 - Modelo Digital de Exploração Florestal – MODEFLORA – Coeficientes técnicos ................................................................................................................. 140 Tabela 14 - Análise econômica (custos por fase do processo produtivo, produtividade, nível de adoção, impactos financeiros) ........................................ 141 Tabela 15 - Desempenho Econômico mediano por UPF, Vale do Acre, Sistema Extrativista, Sistema Agrícola, Sistema Agroflorestal, 2005/2006, Acre-Brasil .. 142 Tabela 16 - Evolução da ação antrópica de 1989 a 2007, no Estado do Acre. .. 148 Tabela 17 - Distribuição das áreas Desmatadas e Áreas de Floresta por Município do Estado do Acre Referente ao ano de 2007 ..................................................... 149 Tabela 18 - Produto Interno Bruto, Vale do Acre, 2005, Acre-Brasil, Valores em R$ 1.000,00. População 2007. ................................................................................... 153 Tabela 19 - Principais produtos por valor da produção, Vale do Acre, 1996-2006, Ac-Brasil, Valores em R$1.000,00 ....................................................................... 154

Page 12: Os Madrugadores da Floresta

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASPF/UFAC Analise Socioeconômica de Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do Acre / Universidade Federal do Acre.

BASA BCC CF CNS CONTAG COOPERFLORESTA

CTA CTLE CV CU D EMBRAPA FETACRE FNO FTF FUNTAC IBAMA

IK IMAC INCRA INPE Id IEE LDM M MAN MAT MAS

Banco da Amazônia Bens de Consumo e Serviços Comprados no Mercado Custo Fixo Conselho Nacional dos Seringueiros Confederação dos Trabalhadores na Agricultura Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários Centro dos Trabalhadores da Amazônia Custo Total Custo Variável Custo Unitário Dinheiro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Federação da Agricultura do Estado do Acre Fundo Constitucional do Norte Força de Trabalho Familiar Fundação de Tecnologia do Acre Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Índice de Capitalização Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Instituto Nacional de Pesquisa Espacial Investimento Doméstico Índice de Eficiência Econômica Linha de Dependência do Mercado Mercadoria Meio Ambiente Natural Meio Ambiente Transformado Meio Ambiente Social

MBF MODEFLORA N NV ONG´s Pa PAD

Margem Bruta Familiar Modelo Digital de Exploração Florestal8 Natureza Nível de Vida Organizações Não Governamentais Produção para Autoconsumo Projeto de Assentamento Dirigido

PAE Projeto de Assentamento Extrativista

PAS PE PICT PMACI PMFS POA

Plano Amazônia Sustentável Ponto de Equilíbrio Ponto de Igualação ao Custo Total

Plano de Manejo Florestal Sustentável Plano Operativo Anual

Page 13: Os Madrugadores da Floresta

Qh/d QTDE RB RESEX RL S SEF TI UAC UE UEFC UEFE

Quantidade de homens Dia Quantidade Vendida Renda Bruta Reserva Extrativista Renda Liquida Sociedade Secretaria Estadual de Floresta Termo de Intercâmbio Unidade Agrária Capitalista Unidade Extrativista Unidad Económica Familiar Campesina Unidade Econômica Familiar Extrativista

WWF Fundo Mundial para a Vida Silvestre PRODEX Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo

Page 14: Os Madrugadores da Floresta

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16

1.1 A complexidade da economia camponesa do seringueiro ....................................... 21

1.2 Metodologia ............................................................................................................. 23

1.3 Por quê “Madrugadores da Floresta”? ..................................................................... 26

1.4 “Regla del Notário” de Manuel Naredo ................................................................... 29

1.5 A Racionalidade Ecológica ...................................................................................... 33

1.5.1 É um fenômeno social-histórico .............................................................................. 37

1.5.2 O uso múltiplo da floresta ........................................................................................ 40

1.5.3 O Sistema Cognitivo do Seringueiro ....................................................................... 42

1.5.4 O Saber Sofisticado da Natureza ............................................................................. 44

1.5.5 A Produção Extrativista e o Processo de Industrialização Local ............................. 45

1.6 A Racionalidade Econômica .................................................................................... 48

1.6.1 No Contexto Capitalista ........................................................................................... 49

1.6.2 A unidade agrária capitalista (UAC) ....................................................................... 49

1.6.3 A Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) ............................................. 50

1.6.4 Formação de Preços, Renda e Reprodução Social da (UEFE) ................................ 53

1.6.5 Reprodução Social da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) e a

Política de Desenvolvimento ............................................................................................... 55

1.7 A Construção Social da Industrialização de Xapuri ................................................ 61

1.7.1 Indústria e Penosidade do Trabalho ......................................................................... 63

1.7.2 Formação da Unidade Econômica Familiar Extrativista ......................................... 67

1.7.3 Construção Social dos Projetos e Reservas Extrativistas ........................................ 71

1.7.4 Construção Social e Ambiental da Relação: Natureza-Seringueiro-Industria ......... 74

2. RESULTADOS ALCANÇADOS PELA RESISTÊNCIA DOS

MADRUGADORES DA FLORESTA ................................................................................ 78

2.1 A Conquista do Acre ................................................................................................ 78

2.2 Demarcação da territorialidade seringueira em Xapuri ........................................... 79

2.2.1 Localização geográfica da Relação: natureza-seringueiro-industria ....................... 82

2.3 Análise comparativa entre o projeto de assentamento extrativista Cachoeira e o

projeto de assentamento dirigido Humaitá .......................................................................... 85

2.3.1 Histórico do Projeto de Assentamento Dirigido - PAD Humaitá ............................ 85

Page 15: Os Madrugadores da Floresta

2.3.2 Analise do Desempenho Econômico da Produção Agropecuária do PAD - Humaitá

..................................................................................................................... 87

2.3.3 Histórico do Projeto de Assentamento Extrativista – PAE “Chico Mendes”,

Conhecido como PAE Cachoeira ........................................................................................ 90

2.3.4 Diferença do Custo Físico da Natureza entre o (PAE) Cachoeira e (PAD) Humaitá

......................... ........................................................................................................ 92

2.3.5 Analise do Desempenho Econômico das atividades produtivas no Projeto de

Assentamento Extrativista (PAE) Cachoeira. ...................................................................... 94

2.3.6 Influência da Tecnologia MODEFLORA no Desempenho Econômico da Unidade

Econômica Familiar Extrativista ......................................................................................... 97

2.3.7 O Autoconsumo e a Diminuição da Área de Pastagem ........................................... 99

2.3.8 A Industrialização e o Processo de Recamponização do PAE Cachoeira ............. 101

2.3.9 Falhas de Coordenação e o Futuro da Relação Natureza-seringueiro-Indústria ..........

................................................................................................................... 103

2.3.10 A Industrialização dos Ativos Florestais e a Valorização Fundiária no PAE

Cachoeira ................................................................................................................... 106

2.3.11 Desempenho Econômico e Custo Físico da Natureza ........................................... 107

2.3.12 Desempenho Econômico e a Penosidade do Trabalho no (PAE) Cachoeira e no

(PAD) Humaitá .................................................................................................................. 110

2.3.13 A Importância da Organização Comunitária para a Unidade Econômica Familiar

Extrativista ................................................................................................................... 115

3. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 121

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 129

ANEXO 1 .......................................................................................................................... 135

ANEXO 2 .......................................................................................................................... 140

ANEXO 3 .......................................................................................................................... 142

ANEXO 4 .......................................................................................................................... 143

ANEXO 5 .......................................................................................................................... 145

ANEXO 6 .......................................................................................................................... 147

Page 16: Os Madrugadores da Floresta

16

1. INTRODUÇÃO

É recente a produção científica sobre a organização política de caráter

social-ambiental do seringueiro1 acreano, como um segmento da economia

caracterizado por uma lógica própria e diferente daquela de tipo capitalista

(OLIVEIRA, 1985; ALMEIDA, 1994; COSTA FILHO, 1995; ALLEGRETTI, 2003;

GONÇALVES, 2003; SILVA, 2005). Este trabalho pretende dar uma contribuição

no debate sobre a racionalidade ecológica e econômica feita pelos seringueiros

através da Unidade Econômica Familiar Extrativista, fortalecida depois da

conquista dos Projetos e Reserva Extrativista e pelo processo de construção social

de uma indústria geograficamente localizada em Xapuri.

Os seringueiros, por estarem na linha de frente dos processos sociais e

políticos, que foram acontecendo desde a conquista do território do Acre,

constituem parte da edificação social e ambiental do Acre profundo2, manifestado

pelos adjuntos3, nas farinhadas, nas pescarias, nas caçadas, nas comunidades de

base, pelos movimentos sociais, pelos empates, nas mensagens da rádio, nas

festas religiosas - no caso de Xapuri, 20 de janeiro, dia de São Sebastião. Enfim,

na vida no interior da floresta, nas margens dos igarapés, lagos e rios e da luta por

liberdade, esses fatores são fundamentais na unificação das energias do povo

acreano.

1 Os seringueiros são uma categoria especifica de produtores rurais que realizam na pratica os preceitos da sustentabilidade porque sua própria reprodução depende da existência da floresta (ALLEGRETTI, 2003).

2 É no interior da floresta que se encontra o coração da sociedade acreana, desde lá se recicla o “sangue” da cultura, das relações sociais e da resolução de conflitos que definem essa sociedade. Nesse sentido, o que assegura saúde e vitalidade ao “povo acreano” não se limita somente ao institucional aos “órgãos” municipais, estaduais, nacionais ou na economia mercantilizada, mas também nas “células” locais como a “unidade econômica familiar extrativista” que contém o código genético do Acre. De igual maneira, é no lugar como fala o seringueiro, no meu lugar a “colocação” que se encontram bases importantes para a manutenção da biodiversidade e da sócio-diversidade para a sustentabilidade sócio-econômico do Acre. Esse “Acre profundo” precisa ser desescondido e considerado, também, o jeito de viver do “povo seringueiro” na hora da construção de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento rural. 3 São relações sociais criadas pela população rural, no caso os seringueiros, para a realização de serviços e obras coletivas (varadouros, pontes, a igreja da comunidade, a escola, o posto de saúde, a sede da associação e outros), assim, como aqueles de caráter individual, como a colheita do arroz que acontece no período das chuvas, limpeza de estradas de seringa, na abertura dos talhões para o manejo florestal, transporte de produtos e outros trabalhos que demandam uma quantidade de mão-de-obra superior ao de cada família.

Page 17: Os Madrugadores da Floresta

17

A diversificação produtiva do seringueiro é uma conquista histórica.

Sendo somente possível depois da formação4 com autonomia da Unidade

Econômica Familiar Extrativista (UEFE). Nela se evidencia empiricamente as

alternativas de manejo dos meios de produção com uma certa independência e

sob seu controle, oferecendo melhores condições de sustentação da reprodução

familiar e da floresta no mesmo espaço da atividade produtiva. Integrando-se ao

mercado não como objetivo central e sim por necessidade, para obter renda

monetária suficiente para adquirir bens e serviços não produzidos pela (UEFE),

porém, necessários na reprodução social da unidade.

Por isso, o entendimento da realidade e situação do seringueiro,

ultrapassa a idéia usual do sistema econômico de mercado que trata de

fenômenos como produção, consumo, preços, renda em todo tempo e lugar.

Sendo, no entanto, insuficiente, com essas ferramentas, apreender o intercâmbio

permanente que existe entre a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) e

o Meio Ambiente Natural e Social. Esse complexo intercâmbio feito pela (UEFE)

promove uma relação de comensalidade5 em que todos ganham: comunidades

humanas, atividades econômicas e ciclos naturais.

O “povo seringueiro” fortalece sua autonomia quando conquista os

Projetos e Reservas Extrativistas, passando com maior liberdade a negociar ativos

florestais demandados pelos processos econômicos industriais localizados em

Xapuri e com outros atores econômicos que demandam esses ativos e ofertam

insumos de produção e de consumo familiar. Essa autonomia tem proporcionado

elevação da renda monetária, seguida de menor custo físico da natureza e da

penosidade do trabalho, contrariando o que ocorria sob regime econômico

seringalista e depois pela agropecuária.

Ao mesmo tempo, nessa nova fase, a Unidade Econômica Familiar

Extrativista colhe fruto da floresta em escala humana conservando “bens e

serviços ambientais” necessários para a manutenção dos ecossistemas, sem

4 A questão da formação apresentou-se para certos povos como um desafio histórico de grande envergadura. Em alguns casos, significava, como no caso da Rússia, superar séculos de autocracia, servidão, ausência de quaisquer dos elementos progressivos da modernidade (MOORE, 2002). 5 Para Boff (2006), comensalidade significa comer e beber juntos. “Todos se sentam à mesa, como comensais, para comer, beber, comungar e celebrar o estar junto na mesma ‘Casa Comum’, qual grande família humana se reencontra, todos irmãos e irmãs uns dos ouros juntos com os demais seres da criação”. À mesa se fazem e se refazem continuamente as relações familiares.

Page 18: Os Madrugadores da Floresta

18

comprometer a melhoria da qualidade de vida dos moradores de áreas de

conservação como o Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Cachoeira,

contribuindo, ainda, com a diminuição das emissões de gases de Efeito Estufa,

provocados pelo desmatamento e queimadas das áreas de floresta nativa.

Assim o seringueiro fez da diversidade da floresta, a sustentação do seu

modo de vida. Diante dessa constatação, o seringueiro como um produtor

campesino combina valores de uso e de troca, sendo, portanto, resultado de

processos naturais e de forças de mercado que atuam sobre o camponês como

produtor e consumidor. Nos valores de troca predominam os ativos florestais que

promovem resultados econômicos positivos, quando associado com o processo

industrial local.

Enquanto os valores de uso de origem agropecuário quando voltado

para o autoconsumo diminuem a necessidade de intercambio com o Meio

Ambiente Social, fortalecendo ainda mais a reprodução da unidade familiar. Ao

contrário acontece quando se transforma essa produção agropecuária em

mercadoria, promove resultado econômico negativo para a Unidade Econômica

Extrativista e aumenta o custo físico da natureza.

Procura-se no decorrer do trabalho não confundir desenvolvimento com a

incipiente evolução de um retardado sistema produtivo industrial, nem achar que a

dinâmica econômica de origem florestal, mesmo nascendo do interior do

movimento dos seringueiros, vai deixar de operar sem concentrar renda nas

atividades comerciais, de gestão e industriais. Registra-se, porém, a necessidade

de compreender a relação “natureza-seringueiro-industria” e o conjunto das

políticas públicas adotadas pelo Estado como um sistema produtivo6 que acarreta

menor penosidade da Força de Trabalho Familiar do seringueiro, seguido de

menor custo físico da natureza e maior nível de renda da unidade familiar

6 “O sistema produtivo é composto de unidades numerosas e muito variáveis: grupos, empresas estabelecimentos. As relações complexas, múltiplas e mutantis estabelecidas entre elas, - e com o ambiente porque o ‘sistema é aberto’ – traduzem escolhas estratégicas importantes e participam largamente na definição das performances econômicas desse sistema: é claro que, pelo jogo das relações diversas estabelecidas entre elas de maneira voluntária e involuntária, essas unidades criam permanentemente estruturas que jogam um papel principal na determinação da eficiência global; a capacidade da qual elas participam para fazer evoluir permanentemente essas estruturas constitui cada vez mais na condição do reforço da competitividade do sistema, até mesmo da sua sobrevivência”, (MORVAN apud AMARAL FILHO ).

Page 19: Os Madrugadores da Floresta

19

seringueira e que existe um movimento social organizado para manter acesa a

chama da autonomia seringueira.

O trabalho não pretende ter um olhar otimista sobre a possibilidade de

se ter uma economia estadual sob gestão camponesa muito menos, desconsiderar

a gestão das áreas privadas, pelo contrario o que se encontra é uma reserva de

desenvolvimento na região de Xapuri constituída por mais de (Um) milhão e Cem

mil hectares de floresta em regime de concessão para 2.200 famílias que vivem no

interior dessas áreas. Mesmo, assim, o nível de atividade econômica municipal

continua dependendo da safra do “contra-cheque” mensal de funcionários e

aposentados públicos e do volume de obras publicas. Mesmo havendo um

potencial florestal e excedente de trabalho que se encontram subutilizados no

interior das áreas de conservação.

O processo histórico de evolução da economia acreana, registrado pelos

números da produção de borracha e da agropecuária, muito embora tenham

recebido todo apoio do Estado, não conseguem criar uma dinâmica econômica

própria em território acreano. A razão está em que as determinantes dessas duas

economias sempre foram definidas exógenamente, promovendo um

empobrecimento do mundo rural, trazendo como conseqüências: o esvaziamento

do campo, aumento do desmatamento, crescimento precoce das cidades,

subemprego urbano e mais recentemente a violência urbana.

O que se pretende registrar, sem querer esgotar toda a abrangência de

um estudo mais detalhado, sugerindo um olhar multidisciplinar na compreensão da

economia camponesa do seringueiro. É o reconhecimento de algumas

características dessa economia que se desenvolve, independentemente dos

processos econômicos capitalistas e das políticas de desenvolvimento regional. Ao

contrario, emerge do interior da floresta e dos movimentos sociais como “negação”

das crises e contradições da monocultura da borracha e das tentativas de

superação da economia extrativista acreana pela produção agropecuária.

O trabalho está divido pela parte introdutória que procura destacar a

contribuição do seringueiro como um ator social histórico na formação da

sociedade acreana. Seguido de dois capitulo e uma conclusão.

O primeiro capítulo expressa a complexidade da economia camponesa

do seringueiro, encontra-se seccionado em seis partes: a primeira trata da

Page 20: Os Madrugadores da Floresta

20

definição dada ao titulo do trabalho, a segunda da metodologia e parte seção do

referencial teórico que trata da incorporação na analises dos processos de

desenvolvimento variáveis como: custo físico da natureza e penosidade do

trabalho e seu cruzamento com a valorização monetária que resultam dos

chamados processos produtivos, representados graficamente pela “regla del

notario” de (NAREDO e Valero, 1999).

A quarta seção trata da racionalidade ecológica, espaço em que se

procura compreender os intercâmbios ecológicos e econômicos feitos pela

Unidade Econômica Familiar Extrativista dentro de um processo histórico de

relacionamento com o Meio Ambiente Natural e o Meio Ambiente Social.

Na quinta seção se desenvolve a racionalidade econômica da Unidade

Econômica Familiar Extrativista. Procurando fazer a distinção entre a produção

empresarial que busca a maximização do lucro e a acumulação de capital; e a

organização de tipo camponesa que tem como objetivo principal a reprodução dos

produtores e da unidade de produção.

Na sexta seção discorre sobre a construção social da industrialização de

Xapuri, fazendo um percorrido histórico sobre a subordinação do seringueiro ao

sistema de produção da monocultura da borracha. Na crise desse sistema no final

do decênio de 1910, criam-se as brechas da autonomia do seringueiro em relação

ao barracão e começa a formação da Unidade Econômica Familiar Extrativista,

desde então o processo de diversificação produtiva serve de base para a

sustentabilidade do seringueiro no interior da floresta. Com a forçada

institucionalização dos Projetos e Reservas Extrativistas e a agregação de valor

aos ativos florestais, se fortalece ainda mais a autonomia do seringueiro e seu jeito

de viver no interior da floresta.

No segundo capitulo se coloca os resultados alcançados pela resistência

dos Madrugadores da Floresta, destacando participação da luta pela conquista do

território do Acre, pelos Projetos e Reservas Extrativistas. Finalmente, se analisa

indicador econômico do Projeto de Assentamento Extrativista “Chico Mendes”,

chamado no presente trabalho de PAE Cachoeira, fazendo um paralelo com o

Projeto de Assentamento Dirigido Humaitá, com vistas a mostrar o comportamento

do custo físico da natureza e da penosidade do trabalho em relação à renda

Page 21: Os Madrugadores da Floresta

21

monetária que resulta dos chamados processos produtivos adotados nos dois

projetos de reforma agrária.

Na parte conclusiva se destaca o afloramento de fatores de

desenvolvimento de caráter endógenos, como as áreas de conservação Projeto e

Reservas Extrativistas habitadas pelo “povo seringueiro” que luta, vive e cuida dos

ativos florestais, com características econômicas diferentes daquelas que

predominam nos chamados processos de produção capitalista. Outro elemento

fundamental para o desenvolvimento local de Xapuri, proporcionado pelos

Madrugadores da Floresta, foi a pressão pela industrialização dos ativos florestais.

Ressalta-se a necessidade na contemporaneidade Amazônica, de inserir

racionalidades como a economia camponesa seringueira, no interior dos

programas de desenvolvimento regional.

1.1 A complexidade da economia camponesa do seringueiro

A idéia de uma economia camponesa fechada, produzindo para seu próprio

consumo e com pouco contato com os mercados, foi praticamente superada,

abrindo espaço para uma realidade rural na qual prevalecem famílias camponesas

que tratam de satisfazer necessidades mediante estratégias de valorização de

seus ativos em diferentes mercados e âmbitos. Mesmo, assim, seu objetivo final

permanece a reprodução da unidade familiar e de produção, o autoconsumo e

garantia de acesso a outros bens e serviços básicos. Diferentemente das

Unidades Agropecuárias Empresariais, cujo objetivo consiste em maximizar seus

lucros. Em resumo no (anexo 1) se apresenta as principais características da

economia camponesa e aquelas relacionadas com a produção empresarial.

A situação social da família camponesa seringueira que vive no interior de

Projetos e Reservas Extrativistas e estão associados com a indústria local que

depende de fatores externos situados no Meio Ambiente Social (MAS), espaço em

que, se dá a luta política, pelas formas de produção e reprodução sócio-ambiental,

entre as quais, estão: a política econômica do governo estadual e federal, as

circunstancias de mercado, dos preços nacionais e internacionais, das instituições

de pesquisa e extensão florestal.

Page 22: Os Madrugadores da Floresta

22

Mesmo não aprofundando neste trabalho, sobre a política econômica, é

preciso reconhecer que a produção da economia camponesa seringueira, na

região de Xapuri, depende de condições e situações criadas externamente que

vão influir diretamente em duas relações: custo físico da natureza versus

valoração monetária e penosidade do trabalho com formação da renda familiar,

desenvolvida pela economia ecológica e representada na “regla del notário” de

(NAREDO, 1999). Essas variáveis quando consideradas no cálculo do

desenvolvimento, incorpora-se, condições de produção e distribuição das pessoas

envolvidas. Nem, sempre incluídas, num contexto produtivo de tipo capitalista

vinculado diretamente com os mercados.

Para tanto, somente, através, de uma política especifica o governo pode:

1) acelerar o processo de implantação da logística social (escolas,

atendimento de saúde, lazer) e econômica (ramais, pontes, energia, comunicação)

e de assistência técnica;

2) aperfeiçoar o processo de licenciamento dos planos de manejo florestal

sustentável e permanecer com a política de remuneração dos serviços ambientais,

vinculados diretamente ao processo produtivo florestal de uso múltiplo;

3) ajudar a determinar os preços relativos e a rentabilidade dos ativos

comercializáveis através de incentivos tributários, econômicos e tecnológicos

vinculados ao setor rural e industrial de base florestal;

4) influenciar sobre o nível geral de gastos, emprego e salários urbanos,

dos quais, também depende a Unidade Econômica Familiar Extrativista, nessa

transição de um extrativismo subordinado ao capital mercantil para um

extrativismo articulado com um processo de produção industrial próximo das áreas

de produção.

O bem-estar social da família camponesa seringueira, depende também de

fatores internos relacionados com as formas de uso dos frutos do Meio Ambiente

Natural, organizações sociais e experiência familiar. Assim, se tem que as fontes

de trabalho e renda da família seringueira, são influenciadas pela diversidade de

produtos madeireiros e não madeireiros existentes em cada unidade de produção

“colocação” e menos da agricultura, criação de gado, do trabalho assalariado rural

e de programas compensatórios (bolsa escola, auxílio gás e outros).

Page 23: Os Madrugadores da Floresta

23

A compreensão da organização da relação: natureza-seringueiro-industria,

deve superar a idéia de políticas direcionadas para a preservação7 da natureza, ou

remunerar o seringueiro como um “soldado ecológico” como tem se cogitado, ou

criar um ambiente econômico favorável, somente ao processo industrial. Para isso,

deve-se, considerar uma nova realidade econômica determinada por uma

complexa interdependência da racionalidade ecológica e econômica e o processo

de construção social da industrialização local de Xapuri e das instituições sociais e

publicas, como um processo em construção.

A seguir procura-se desenvolver uma metodologia que não determina

pergunta e nem resposta por considerar que essa complexa interdependência de

produção rural é um processo social em construção. Num segundo momento se

discute do ponto vista da teoria da mobilização política e da historia da conquista

do território acreano a contribuição dos “Madrugadores da Floresta” na formação

de um ponto de partida da economia camponesa seringueira que pode se

apropriar das conquistas trazidas pelo sistema capitalista, sem perder o caráter

coletivo.

No terceiro, se introduz o fundamento teórico da “regla del notário” de

Naredo e Valero (1999). Em quarto lugar e quinto lugar tomando como base a

teoria camponesa, procura-se entender a racionalidade ecológica e econômica de

colheita de fruto da floresta realizada pelo seringueiro; e em sexto lugar a evolução

de um processo de construção social de uma indústria geograficamente localizada

em Xapuri.

1.2 Metodologia

Essa análise expressa a premissa de que, a economia camponesa

seringueira, cria condições para a conservação da natureza abrindo “janelas de

oportunidade políticas” para a industrialização local dos frutos da natureza,

oriundos das áreas dos Projetos de Assentamentos Extrativistas e Reservas

Extrativistas. A partir do momento da transformação de produtos como a madeira

7 Áreas de preservação são áreas como parques e outras de proteção integral. Esse é o modelo americano de parques sem gente, baseado no pressuposto de que qualquer convivência humana é inconciliável com a preservação das florestas.

Page 24: Os Madrugadores da Floresta

24

com certificação de origem, castanha do Brasil e o látex da seringueira comessem

a assumir preços de commodities (BECKER, 2005).

A lógica da racionalidade camponesa seringueira que se pretende

analisar no presente trabalho, esta dentro do que pensa Hobbes, que nega

separar as respostas das perguntas, as soluções dos problemas constantes da

sociedade e das condições que criam esses problemas, como sustenta R. G.

Collinngwood Apud Giarracca (2005), “según Hobbes um cuerpo político es um

objeto dialectico, um mundo heracliteano em el que cualquier momento hay un

elemento negativo”.

O eixo de sistematização do estudo está focado na lógica ecológica e

econômica dos seringueiros do Projeto de Assentamento Extrativista (PAE)

Cachoeira. Tendo como referencial teórico a economia ecológica e a economia

camponesa, dentro de um contexto histórico de formação cultural do “povo

seringueiro” que mantêm formas especificas de organização econômica na

colheita dos frutos da floresta.

A base de informações se constitui pelos resultados de pesquisa recente

de Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural do Vale

Acre, da Universidade Federal do Acre, Departamento de Economia –

(ASPF/UFAC), complementado por entrevista feita com o Secretario de Floresta

do Estado do Acre (SEF), o Presidente da Cooperativa dos Produtores Florestais

Comunitários (COOPERFLORESTA), com o Pesquisador da Embrapa que

desenvolveu a Tecnologia Modelo Digital de Exploração Florestal Sustentável,

prestadores de serviços que elaboram planos de manejo e executam a colheita do

produto.

Também foram realizadas visitas e entrevista em 9 (nove) das 87

“colocações” de seringueiros do Projeto de Assentamento Extrativista “Chico

Mendes”, mais conhecido como (PAE) “Cachoeira” que fizeram parte da

experiência piloto de colheita do fruto madeireiro. Realizado sob critério técnico e

científico que objetivou incorporar o saber sofisticado do seringueiro, sobre a

realidade física da floresta e do sistema cultural vivenciado pela Unidade

Econômica Familiar Seringueira, nos processo de organização da produção e

comercialização.

Page 25: Os Madrugadores da Floresta

25

De posse das informações se procura comparar o impacto das atividades

econômicas agropecuárias e florestais. Tendo como medida o cruzamento entre

custo físico na natureza e valorização monetária e penosidade do trabalho versus

renda familiar dos produtores do Projeto de Assentamento Extrativista “Cachoeira”

em relação ao do Projeto de Assentamento Dirigido “Humaitá” que tem como

finalidade a produção agropecuária.

Tomando-se como referencia esses dois projetos da reforma agrária

executados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) “Cachoeira” e Projeto de

Assentamento Dirigido (PAD) “Humaitá”; procura-se encontrar caminhos diferentes

para o desenvolvimento rural do Acre. Ambos têm cobertura florestal parecida e

começaram como assentados de origem local, porém, com objetivos de uso

econômico do Meio Ambiente Natural diferente.

O objeto de estudo desta dissertação é o processo de desenvolvimento

com liberdade definido territorialmente nos limites do Projeto de Assentamento

Extrativista (PAE) “Cachoeira”, município de Xapuri, com forte participação de

atores sociais (seringueiros) que participam de três momentos importantes da

historia acreana: primeiro com a Revolução Acreana, de 06 de agosto de 1902;

segundo com a defesa da floresta e de seu próprio modo de vida na década de

1970 e; terceiro a luta pela industrialização dos frutos da floresta, a partir do inicio

da década de 1990.

As conquistas em cada um desses momentos são: a) a abertura para o

cultivo de culturas agrícolas; b) a criação das reservas extrativista e projetos de

assentamentos extrativistas e; c) a industrialização dos frutos da floresta.

O ponto central do estudo é a lógica da Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE), considerando o seringueiro como um ator econômico, num

contexto econômico e ecológico que se relaciona com o Meio Ambiente Natural e

o Meio Ambiente Social dentro de uma lógica econômica de tipo camponesa.

No campo econômico se considera que o aumento de preços e maior

diversificação da colheita dos frutos oriundos do Meio Ambiente Natural (castanha,

borracha e madeira), atingem diretamente a penosidade da força de trabalho

familiar e o custo físico da natureza. Considerando que a elevação dos preço

desses produtos têm origem no incipiente processo de industrialização local e na

Page 26: Os Madrugadores da Floresta

26

política publica de incentivo ao fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo

seringueiro no Meio Ambiente Natural (MAN).

O estudo realça a transversalidade da política como espaço de

mediação de interesses antagônicos que predominam na vida social acreana em

dois momentos importantes como foi: em 1902, com a unificação de seringueiros e

seringalistas na luta pela conquista do território acreano; depois na década de

1970, contra os “paulistas” quando novamente os seringueiros buscam aliados

para lutar pelo território onde vivem. Como bem coloca Allegretti (2002), ao

mesclar a luta pela permanência na floresta e a questão ambiental, o seringueiro

organizado politicamente se movimenta e transforma um problema local em

questão de Estado e tema internacional. Alcançado por meio de uma estratégia

política de construção de alianças entre grupos sociais diferentes.

Embora a pesquisa seja centrada na fase da industrialização iniciado na

década de 1990, entende-se que para a compreensão dos fatores que

influenciaram todo o processo de formação social e ambiental é necessário

reconstituir um pouco da contribuição histórica do seringueiro em defesa da

floresta e pela liberdade. Daí a importância da formação da família seringueira e

suas relações de produção camponesa; fazendo sempre um paralelo com os dois

momentos de ocupação econômica da região acreana de tipo capitalista (borracha

e agropecuária) que deixaram suas marcas na organização econômica familiar do

seringueiro. Essa reconstituição histórica da realidade social acreana toma por

base o que, Tello (2005, p. 12) diz:

La historia no es el único campo donde puede desarrollarse un diálogo entre teoría y experiencia, pero cuando adoptamos una perspectiva evolutiva nos vemos sistemáticamente incitados a pensar históricamente la realidad social. Por eso la historia constituye un banco de pruebas donde buscar puntos de apoyo para no repetirla.

1.3 Por quê “Madrugadores da Floresta”?

São três os períodos da história do Acre, iniciados no território de Xapuri

em que o seringueiro participa na acepção da Teoria da Mobilização Política como

Page 27: Os Madrugadores da Floresta

27

“Madrugadores da Floresta8” contribuindo na abertura de janelas de oportunidades

políticas para formação da sociedade que vive e cuida dos ativos florestais com

características diferentes daquelas adotados pelos chamados processos

modernos de produção capitalista.

No primeiro período como soldado do exercito revolucionário da luta

iniciada em 06 de agosto de 1902, resultando na anexação do território do Acre ao

Brasil, impedindo o arrendamento dessas terras, sob domínio da Bolívia para o

consórcio internacional chamado de “Bolivian Syndicate”. Essa crise no sistema

social do “barracão”9, sob comando do capital mercantil, possibilita a abertura da

primeira “janela de oportunidade” no caminho da diversificação, associando o

cultivo de culturas agrícolas com a colheita de borracha e castanha.

O segundo período inicia na década de 1970 e novamente o seringueiro

se comporta como “madrugador”, quando levanta a bandeira em defesa da

floresta, através dos “empate”10 diferenciando-se nesse aspecto de outros

movimentos camponeses que buscam em grande parte a apropriação da terra

com objetivo puramente produtivista.

As conquistas desse período são duas: a) as Reservas Extrativistas

(RESEX)11 e Projetos de Assentamentos Extrativistas (PAE); b) Formação de

alianças de caráter sócio-ambiental com a Confederação dos Trabalhadores na

Agricultura (CONTAG), a igreja católica, com o movimento ambientalista nacional

e internacional, assim como aquelas de caráter local, o movimento estudantil,

intelectuais, jornalistas e os partidos de esquerda, que ao assumir o comando do

governo, incorporam como mais uma alternativa para o desenvolvimento sócio-

econômico do Estado do Acre, a economia camponesa seringueira e seus ativos

florestais.

8 Lo que resulta mas distintivo de estos períodos no es que sociedades enteras “se alcen” en la misma dirección a la vez (rara vez lo hacen) o que determinados grupos de población actuan del mismo modo repetidamente, sino que el efecto expansivo de la acción colectiva de un pequeño grupo de “madrugadores” desencadena una variedad de procesos de difusión, extensión, imitación y reacción entre grupos normalmente aquiescentes (TARROW, 1994).

9 O “barracão” era a unidade de comercialização, constituído por relações sociais comandada por um patrão que fornecia os bens necessários à produção e à subsistência do seringueiro e, exercia o monopólio sobre o acesso aos recursos e ao mercado (ALLEGRETTI, 2003). 10 Empate era uma manifestação pacifica pelo qual os seringueiros tentavam evitar as derrubadas, uma vez que dependiam dos ativos florestais para sua sobrevivência, especialmente da seringa e castanha. 11 As reservas extrativistas são áreas de conservação sob domínio do Instituto de Brasileiro de Meio Ambiente que faz a concessão de uso para seringueiros moradores de colocações situadas nos seus limites. Recentemente foram incluídos nos programas nacionais de reforma agrária.

Page 28: Os Madrugadores da Floresta

28

O terceiro período acontece no final da década de 1990, fruto do

desencadeamento da fase anterior, culmina com a materialização do discurso do

líder “madrugador” do movimento dos seringueiros “Chico Mendes”, e a

importância dada por ele para a idéia de industrializar os ativos florestais e a

necessidade de se ter instituições democrática que contemplassem os interesses

do “povo seringueiro”.

A conquista desse período para o território de Xapuri se materializa nos

investimentos no setor industrial com a implantação de um pequeno pólo

moveleiro, uma escola moveleira chamada “Carlos Castiglionnes”, fábrica de piso

de madeira, de castanha e de preservativo. Esses investimentos contaram na fase

inicial com a participação direta da Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC) e

do Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA) (entidade criada no interior do

movimento dos seringueiros) e Organizações Não Governamentais com destaque

para a Fundação Ford, Missereour da Holanda, Fundação Interamericana, Cultural

Survival, Fundo Mundial para a Vida Silvestre (WWF) e outras. Na segunda

metade da década de 1990, os governos municipal, estadual e federal, dão passos

importantes na materialização de tais investimentos, através de aportes financeiros

e técnicos bastantes significativos.

Porém, o grande avanço acontece no interior da floresta, com a

compreensão de que, a construção do plano de manejo madeireiro comunitário,

não se limita ao levantamento físico das espécies madeireiras extraídas12, através

de processos com características exógenas à forma como o seringueiro lida com a

floresta, por não desenvolver e nem envolver as energias e o saber tradicional

existentes no interior da unidade econômica familiar extrativista e suas instituições

de representação política.

O avanço consistiu em organizar o conhecimento e tradição de unidade

autônoma, que tem na organização social da colheita dos ativos florestais formas

especificas de diminuição do custo físico da natureza (desmatamento), da

12 Pelas fases do manejo tradicional que não considera o ser humano (seringueiro) como um ator social importante na definição de critérios que representem a realidade viva da vida na floresta. Fases do manejo tradicional: inventário florestal, plano de manejo, extração, arraste, comercialização e certificação.

Page 29: Os Madrugadores da Floresta

29

penosidade da força de trabalho familiar e de geração de renda e emprego na

“colocação”13.

Na verdade os seringueiros madrugam na conquista do território

acreano, na defesa da floresta no decênio de 1970 e na conquista das reservas,

projeto extrativista e no processo social de industrialização local dos ativos

florestais. Congregando os meios de produção - força de trabalho familiar e

natureza - numa unidade produtiva que assegura as necessidades vitais da família

seringueira. Esses elementos são constitutivos da permanência do seringueiro

como ator social e econômico que resiste como elemento de contradição do

desenvolvimento capitalista regional (BECKER, 2003).

O caráter “madrugador” do extrativista acreano tem muito do espírito

revolucionário do movimento camponês Latino Americano que Quijano (1988),

destaca em suas analises sociológicas sobre a reação da população rural, quando

excluída, aos processos de modernização da agricultura capitalista. Uma diferença

percebida, na reação sócio-ambiental liderada pelos seringueiros acreanos, tendo

no caráter amplo das alianças políticas formadas, para defender a “floresta”,

transformando uma disputa localizada em pauta de debate internacional e nema

questão de Estado (ALLEGRETTI, 2003).

A novidade mesmo foi resistir ao processo de incorporação da região

acreana ao capital originário do centro-sul do país, no decênio de 1970, de forma

pacífica, primando pelo diálogo, superando o uso da violência, comum nas áreas

de fronteira agropecuária do Brasil. Os empates representaram grande avanço,

como espaço de mediação política, tão necessária para superar as contradições

que afloram nos processos de desenvolvimento regional, que não incorporam

racionalidades situadas fora do componente econômico (BECKER, 2003).

1.4 “Regla del Notário” de Manuel Naredo

Ao tratar a questão do desenvolvimento não apenas fazendo a relação

entre produção, consumo, preços, renda e outros elementos constitutivos da idéia

usual de sistema econômico, sem que exista uma teoria que faça a ligação com o

13 É uma unidade produtiva organizada pela família seringueira com tamanho médio de 300 hectares.

Page 30: Os Madrugadores da Floresta

30

mundo físico e social, parecendo que sempre se deve tratar dos mesmos

fenômenos em todo tempo e lugar. A “Regla del Notário“, procura relacionar

formalmente a realidade física com a valoração monetária no decorrer do processo

econômico chamado de produção, analisando mecanismos que indicam, tanto

processos concretos como o comercio nacional ou internacional, a valorização das

tarefas industriais e comerciais, frente ao abastecimento de produtos primários, e a

extração frente à colheita renovável (NAREDO e VALERO, 1999).

O que se constata nos chamados processos de produção é uma

assimetria entre a revalorização monetária e custo físico e que ela se acentua na

medida em que os processos avançam até a comercialização final do produto. Se

a essa regra do comportamento econômico, se acrescenta a especialização

comercial, possibilitada pelo barateamento do transporte e dos meios de

comunicação a longas distancias, o que resulta logicamente é a dominação

econômica e a exploração ecológica de lugares, regiões, paises e populações

abastecedoras de matérias primas, por aquelas que se ocupam das etapas finais

de elaboração e comercialização dos produtos (NAREDO e VALERO, 1999).

O processo geral de valorização e faturamento de custos começa

quando se inicia com a atividade de colheita dos ativos florestais a preço zero,

para colocar a venda um produto primário. Essa atividade deve começar faturando

um preço que compense folgadamente os custos unitários de colheita,

armazenamento e transporte; o que ocorre quando não acontece essa

contabilidade, se inicia uma crescente assimetria entre valorização monetária e

custo físico da natureza ao longo do processo de venda do produto final.

Esse custo físico (não faturado) é representado num gráfico (que

recolhe no eixo das ordenadas o custo físico e no das abscissas o valor unitário:

(gráfico 1) como ordenada na origem das curvas que descrevem a revalorização

monetária e o custo físico nos processos de produção e comercialização

desenvolvidos a partir dos ativos florestais. A taxa crescente de revalorização por

unidade de custo físico que se observa geralmente nos processos, faz que essas

curvas mostrem concavidade em relação ao eixo das abscissas. Esse tipo de

funções que relacionam o custo físico com a valorização monetária ao longo do

processo econômico chamado de produção é batizado como a “Regla Del Notário”

(NAREDO e VALERO, 1999).

Page 31: Os Madrugadores da Floresta

31

Gráfico 1 - Relação custo físico da natureza X Valoração monetária (NAREDO e VALERO, 1999)

Valorização Monetária

Custo físico

K0

Pobres

Ricos

Page 32: Os Madrugadores da Floresta

32

Gráfico 2 - Relação Penosidade do trabalho X Renda (NAREDO e VALERO, 1999)

Cabe precisar que a assimetria entre valorização monetária e custo

físico que recolhe a “Regla Del Notário” deriva de dois tipos de assimetria: primeiro

advêm dos postulados da termodinâmica e da economia e outro é fruto das

condições ideológicas e institucionais. Na primeira, para que o processo de

produção seja economicamente viável, a revalorização unitária que se opera entre

os preços dos recursos e o do produto, deve superar o custo físico por unidade de

produto, porém, não diz se tal revalorização deve ser crescente ou decrescente ao

longo de tal processo.

A segunda indica a tendência marginalmente crescente dessa

valorização por unidade de custo físico. Como reflexo dessa hierarquia valorativa

dos chamados processos de produção, em relação com seu custo físico, se

observa uma hierarquia na valorização do trabalho humano, em sentido inverso

com a penosidade do mesmo: representando a penosidade no eixo das ordenadas

e a retribuição no eixo das abscissas, obtemos uma curva convexa em relação ao

eixo das coordenadas que denota que há maior penosidade menor retribuição e

vice-versa (Gráfico 2) (NAREDO e VALERO, 1999).

O que a “Regla Del Notário” orienta é a valorização antes mencionada

beneficiando regiões, países, empresas e pessoas que se ocupam das fases finais

de gestão e comercialização, fazendo com que a crescente especialização

Ricos

Renda

W0

Penosidadedo trabalho

Pobres

Page 33: Os Madrugadores da Floresta

33

internacional acentue o desequilíbrio entre “cidade-campo” ou “ricos e pobre” em

todos os níveis.

O anterior evidencia que o “desenvolvimento” é um bem “posicional”, por

conseguir se localizar em países, cidades, nas empresas e segmentos de maior

valorização por unidade de custo físico da “curva del notário”, reforçando a posição

dominante do financeiro. Sem deixar de considerar, as fases em que estão

apoiadas as atividades prévias de colheita e elaboração primária realizadas por

outros. Isso ajuda a explicar o fiasco que tem levado a uma ingênua equiparação

entre a industrialização com o desenvolvimento: Os países e regiões ricas de hoje

em dia, o são porque avançam nos segmentos mais altos da curva mencionada,

exportando a outros territórios as primeiras fases da transformação industrial com

elevados custos físicos e, portanto, exigentes em energia e contaminação,

enquanto se concentram nas “altas tarefas” de comercialização, inovação e gestão

que junto com o manejo das finanças, lhes permitem gozar de uma sólida situação

financeira (NAREDO, 1999).

Tanto (NAREDO, 1999; DALY, 2007) colocam que o problema da

riqueza física e social é a carência de atração “virtudes” dos juros compostos, que

axiomáticamente acompanham a riqueza financeira, constituída pelo crescimento

exponencial característico do mundo financeiro. Disso se diferencia a maximização

do beneficio anual da economia camponesa do seringueiro, pautado em

necessidades humanas, da maximização do valor atual descontado custos e

benefícios futuros, da economia empresarial que tem como objetivo o lucro.

1.5 A Racionalidade Ecológica

Para melhor compreender o processo produtivo das sociedades rurais como

a comunidade dos seringueiros, que vivem da colheita dos frutos da floresta, torna-

se importante descrever os fluxos de matéria, trabalho, mercadorias e informação,

detalhando as formas em que esses fluxos têm lugar, se integram e trabalham

juntos, dentro da realidade concreta onde eles acontecem.

Então, como aproximar a realidade operacional da produção rural do

seringueiro, dentro de um processo ecológico orientado? Para isso, recorre-se a

uma tipologia do processo produtivo sugerido por Godelier apud Toledo, (1993).

Page 34: Os Madrugadores da Floresta

34

Figura 1 - O duplo intercâmbio feito por uma Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE). (N) representa a natureza e (S) a sociedade.

Fonte: Elaboração própria baseada em Toledo (1993).

Num primeiro momento a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE),

realiza intercâmbio de matéria e energia com a natureza para depois fazer com

outros setores internos ao organismo social. Nessa situação, o processo produtivo

rural do seringueiro, organizado pela (UEFE). Passa a ser analisado em termos de

um intercâmbio ecológico e intercâmbios econômicos (TOLEDO, 1993).

Por outro lado, é necessário reconhecer que na natureza a unidade de

gestão apropriada é o ecossistema e não o produto, caracterizando-se que

durante a produção, a (UEFE) deliberadamente canaliza recursos materiais e ou

energéticos para fora do ecossistema em direção ao organismo social, para

atender necessidades da família e da unidade produtiva (ALCÁNTARA, 1994;

TOLEDO, 1993).

Toledo (1993), ainda, faz a distinção de dois níveis de intervenção humana

nos ecossistemas: No primeiro nível, os ativos florestais são obtidos e

Page 35: Os Madrugadores da Floresta

35

transformados sem provocar mudanças substanciais na estrutura, dinâmica e

arquitetura dos ecossistemas naturais. Nesse primeiro nível se incluí muitos

exemplos conhecidos de caça, coleta de castanha, corte de seringa, manejo

florestal comunitário, pesca, retirada de mel de abelha, coleta de sementes, coleta

de outros frutos como o açaí, patoá, plantas medicinais e ecoturismo.

No segundo nível, os ecossistemas naturais são parcialmente substituídos

ou completamente substituídos por culturas homogeinizadoras como as

plantações agrícolas ou florestais e a agropecuária.

Ainda, Toledo (1993), destaca diferenças entre os ecossistemas naturais e

aqueles transformados pelo homem, onde o primeiro tem capacidade de se

regenerar naturalmente, enquanto que o segundo se transforma em ecossistema

instável, em que vai sempre demandar energia externa para manter sua auto-

sustentação (seja energia humana, animal ou fóssil).

Page 36: Os Madrugadores da Floresta

36

Figura 2 - Esquema dos intercâmbios de materiais realizados por uma Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) numa paisagem florestal concreta.

Fonte: Elaboração própria baseada em (TOLEDO, 1993)

Nota: (1) área de plantação. (2) área de pastagem. (3) casa. (4) floresta

secundária. (5) Rio. (6) Floresta primaria. Meio Ambiente Natural (MAN). Meio

Ambiente Transformado (MAT). Energia com origem no trabalho humano (eh).

Sucessão ecológica (s). Intercâmbio ecológico (F1 e F2). Intercâmbio econômico

(F3).

No modelo proposto por Toledo (1993), a Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) realiza o intercâmbio de maneira tridimensional. Sendo esses

intercâmbios, realizado com entidades concretas, que tem lugares particulares

bem definidos no espaço. A (UEFE) atua em três terrenos: 1) O Meio Ambiente

Natural (MAN) incluí o conjunto de ecossistemas naturais e suas etapas

sucessivas que existem no território da (UEFE); 2) O Meio Ambiente Transformado

(MAT), representado pelo conjunto de ecossistemas artificiais ou agros-

Page 37: Os Madrugadores da Floresta

37

ecossistemas; 3) O Meio Ambiente Social (MAS), definido como o espaço social

onde a (UEFE) realiza o intercâmbio econômico (ver figura 2). Enquanto (MAN) e

(MAT) têm localização bem definida no território. (MAS), somente é definido

quando se faz relação entre a (UEFE) e outras unidades locais de produção e os

mercados regionais, nacionais e internacionais.

Depois de definido a (UEFE), (MAS), (MAN) e (MAT) usa-se o conceito de

força de trabalho, definido como os meios materiais e intelectuais usados pelos

membros da (UEFE) para colher os frutos da natureza, que serão transformados

em produtos semi-elaborados ou acabados pela indústria local. É como a (UEFE)

atua sobre os dois ecossistemas (MAN e MAT) e em parte com (MAS).

Os dois fluxos de materiais utilizados pela (UEFE) vindos da natureza são:

O primeiro vem dos ecossistemas naturais (F1) e o segundo dos ecossistemas

transformados (F2). Os materiais desses dois fluxos podem ser utilizados pela

(UEFE) de duas maneiras, para autoconsumo (F1a e F2a) e realizando

intercâmbio com (MAS), (F1b e F2b).

No primeiro caso, a (UEFE) gera valores de troca (mercadorias),

diferentemente do modelo proposto por Toledo onde (F1 é gerador de valor de

uso), os materiais (ativos florestais) são agora coletados pelos seringueiros, depois

beneficiados pela indústria local que tem como base principal de abastecimento o

território (colocações) dos seringueiros.

No segundo caso, a (UEFE) está produzindo valores de uso para

autoconsumo, aproveitando as áreas transformadas para o cultivo e depois os

campos para fazer a pequena criação de gado bovino. Finalmente, a (UEFE)

consome bens produzidos por (MAS) (F3), e paralelamente realiza a oferta dos

ativos demandados pela indústria local e ao mesmo tempo oferece serviço de

hotelaria, pequeno artesanato, produtos fitoterápicos e serviços de assistência

técnica florestal, (F4).

1.5.1 É um fenômeno social-histórico

O esquema conceitual representado abaixo identifica no espaço e no tempo

as variáveis explicativas e os principais processos que devem ser medidos e

analisados para caracterizar adequadamente a produção rural extrativista, e

Page 38: Os Madrugadores da Floresta

38

reconhece o caráter dual (ecológico e econômico). É bom saber, que o modelo é

apenas uma representação abstrata sincrônica e histórica do processo de

produção rural do seringueiro Acreano (TOLEDO, 1993).

Figura 3 - Representação teórica dos intercâmbios ecológico-econômicos realizados pela Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) em quatro momentos sociais e históricos diferentes, da complexa economia seringueira no Estado do Acre.

Fonte: Elaboração própria baseada em Toledo, (1993)

Nota: Unidade Extrativista (UE); Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE);

Meio Ambiente Natural (MAN); Meio Ambiente Transformado (MAT); Meio

Ambiente Social (MAS).

Em termos dinâmicos, o modelo permite observar formas específicas que a

produção extrativista foi adotando e revelando ao mesmo tempo o caráter histórico

do processo. Na figura 3a, a organização social estava exclusivamente voltada

Page 39: Os Madrugadores da Floresta

39

para a produção de valores de troca submetido ao regime empresarial

(monocultura da borracha) e havia um intercâmbio ecológico entre a Unidade

Extrativista (UE) (seringueiro sem família) e o Meio Ambiente Natural (MAN) que

pode ser considerado de baixo impacto ambiental, porém, sua relação com o Meio

Ambiente Social (MAS) limitava qualquer outra ocupação da força de trabalho que

não fosse a produção de borracha.

Na crise da organização social do regime empresarial seringalista voltado

exclusivamente para a produção de valores de troca, começa a se formar a

Unidade Econômica Familiar Extrativista (figura 3b) que combina a produção de

valores de troca com valores de uso intensificando seu intercambio ecológico,

dividindo a força de trabalho familiar entre Meio Ambiente Natural (MAN) e o Meio

Ambiente Transformado (MAT) e tendo que fazer uma relação direta com o Meio

Ambiente Social (MAS).

Nos tipos (a) e (b) da figura 3, o seringueiro participa como uma espécie

dentro do ecossistema natural e o processo produtivo daquele tipo de “economia

natural” pode se considerar ecologicamente sustentado, quando se observa

apenas o aspecto local, do sistema econômico capitalista ao qual estava vinculado

o produto borracha.

Na figura 3c o processo é induzido através política publica em substituição

as duas anteriores, aparecem empresas agropecuárias especializadas em

processos produtivos intensivos em Meio ambiente Transformado (MAT), com

engrenagens totalmente voltadas para o mercado e os intercâmbios ecológicos

são subordinados pela dinâmica econômica da agropecuária comercial.

Finalmente a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) aparece

como uma organização social que pode se especializar em processos produtivos

intensivos em Meio Ambiente Natural (MAN), diminuindo a dependência dos

produtos de Meio ambiente Transformado (MAT) comercializados para atender as

necessidades da família e dos investimentos domésticos adquiridos no mercado.

Essa produção de mercadorias oriundas de (MAN) pela (UEFE), nunca deixou de

acontecer, nem mesmo no cenário da (figura 3b). Na verdade para Toledo (1993),

na economia camponesa:

Page 40: Os Madrugadores da Floresta

40

[...] la producción para el sustento no excluye producir un excedente; el enigma de la producción para el uso no es si se produce un excedente sino por qué el excedente que se produce no se acumula y transforma el sistema.

Resumindo a pesar dos seringueiros realizarem intercâmbios ecológicos e

econômicos, a manutenção e reprodução da unidade produtiva e da família é mais

dependente no caso do (PAE) Cachoeira dos produtos de Meio Ambiente Natural

e das relações mantidas com Meio Ambiente Social, deixando as atividades

desenvolvidas no Meio Ambiente Transformado com pouca importância como

estratégia de produção figura 3d. Em ultima instancia a economia camponesa

extrativista pode ser considerada uma iniciativa de desenvolvimento, que

consegue integrar processos econômicos com os ecológicos e as necessidades

comunitárias (GUIMARÃES, 2001).

Ao reconhecer o caráter dual da combinação ecológica e econômica, e

considerando que a economia camponesa é em ultima analises, uma forma

particular de produção rural. O sucesso recente e futuro dessa articulação

dependem das políticas publicas de fortalecimento de um processo de

industrialização local, que possa articular a lógica de organização camponesa do

seringueiro com os segmentos comerciais, industriais e de serviços.

1.5.2 O uso múltiplo da floresta

A produção extrativista do seringueiro está baseada em intercâmbios

ecológicos como também econômicos e políticos, mesmo tendo uma forte

dependência para sua própria sobrevivência da garantia de fluxos ininterruptos de

bens, matéria e energia vindos do Meio Ambiente Natural (MAN), e menos, nessa

fase de industrialização local do meio Ambiente Natural Transformado (MAT). Os

incentivos de políticas públicas locais, para indústrias que acompanham a

estratégia de uso múltiplo da produção extrativista do seringueiro foram decisivos,

na diminuição da dependência de (MAT), permitindo que o uso múltiplo da floresta

Page 41: Os Madrugadores da Floresta

41

se estenda desde as atividades produtivas do seringueiro até o complexo industrial

que agrega valor em Xapuri.

Portanto, a estratégia de uso múltiplo começa a se estender desde a

unidade Econômica Familiar Extrativista até as unidades industriais e na

construção das políticas públicas locais. Havendo aqui uma diferença na forma de

conduzir as unidades de produção, enquanto o seringueiro adota uma estratégia

para atender as necessidades da família e da unidade de produção; as indústrias

objetivam alcançar uma taxa de lucro, remunerando, todavia, os fatores

econômicos envolvidos. Sem deixar de considerar, que o processo de implantação

das áreas de conservação de uso múltiplo e de industrialização nascem no seio da

luta política dos madrugadores da floresta e no conjunto de alianças políticas de

caráter sócio-ambiental que ultrapassam os limites territoriais locais.

O seringueiro do (PAE) Cachoeira não deixou de depender dos

componentes bióticos14 e não-bioticos15 do ecossistema natural para satisfazer

suas necessidades básicas. Na produção do ecossistema natural voltada para o

autoconsumo, composta pela (pequena produção agrícola, criação de gado bovino

e pequenos animais) somado com a participação da (caça, pesca, mel de abelha e

outros). Com relação ao intercâmbio econômico que acontece com o meio

ambiente social (MAS) se dá em três situações: a primeira acontece na aquisição

de bens manufaturados e aquisição de insumos para uso no processo produtivo; a

segunda no fornecimento de frutos (matéria-prima) para as indústrias, ao mesmo

tempo, há uma oferta de serviços técnicos e de ecoturismo.

A terceira situação de caráter sócio-ambiental acontece na esfera política:

via movimento sindical, partidário e de articulação com o movimento ambientalista

fortalecendo as bases de sustentação da luta por liberdade e de cidadania,

chamada no programa de desenvolvimento do governo estadual depois de 1999,

14 É composta pelos animais, as plantas e os micróbios. 15 É composta pela matéria orgânica e subprodutos das atividades orgânicas e dos processos em decomposição, além dos elementos inorgânicos, como a água, o oxigênio, os carbonatos, os fosfatos e, finalmente, uma serie de fatores físicos e incremento, tais como a radiação solar, a temperatura, a unidade, os ventos, etc, (BIFANI, 1999).

Page 42: Os Madrugadores da Floresta

42

de “florestania”16, que representa a extensão dos bens sociais, econômicos e de

preservação da cultura dos povos da floresta, que lutam por novos olhares na

condução do processo de desenvolvimento regional.

A realidade física e social que nasce dos três intercâmbios colocados

acima, influencia no destino da paisagem natural rural e urbana, de tal forma que

mantêm as características sócio-ambientais: heterogeneidade ambiental,

diversidade biológica e permanência do seringueiro madrugador em sua

“colocação”. Sendo que a estratégia de uso múltiplo ultrapassou os limites

geográficos da floresta, de servir apenas de alternativa para reduzir riscos, dos

seringueiros dependerem apenas da borracha como único produto para se

relacionar com o Meio Ambiente Social (MAS).

Agora o uso múltiplo da floresta faz parte de um conjunto de atividades

econômicas industriais, localizada na cidade, realizadas por unidades industriais,

produzindo individualmente, demandando serviços de logísticas, tanto no interior

da floresta (estradas, ramais, armazéns, centros de coletas de leite, áreas de

secagem) fundamental, também, para a elevação da qualidade de vida do

seringueiro; quanto no espaço urbano através da logística de laboratórios, mão-de-

obra especializada, serviço de comunicação, bancário e outros.

1.5.3 O Sistema Cognitivo do Seringueiro

Depois de um século de vivência direta no interior da floresta, o seringueiro

como produtor extrativista do regime econômico da borracha, acumulou um

conhecimento do lugar onde decidiu viver a “colocação”, gerado através da

interação natureza-seringueiro que, antes de tudo é uma interação recíproca entre

duas entidades, que isoladas da sua dialética carecem de sentido. Essa

construção histórica de adaptação da natureza às suas necessidades, lhe permitiu

fazer uma correta apropriação dos sistemas ecológicos durante o processo de

produção. Como coloca Toledo (1993):

16 É o processo sócio-ambiental de conquista de bens e direitos para populações que vivem, produzem e conservam sua cultura, a natureza e novo estilo de desenvolvimento.

Page 43: Os Madrugadores da Floresta

43

[…] este conocimiento tiene un valor sustancial para clarificar las formas en que los campesinos perciben, conciben y conceptualizan los ecosistemas de los que ellos dependen para vivir.

Este conhecimento da floresta se torna um componente decisivo na

implantação de uma política de desenvolvimento baseado no uso múltiplo e

conhecimento refinado que o seringueiro detém do Meio Ambiente Natural. São

exceções os estudos sobre esse conhecimento camponês da natureza,

geralmente baseados em uma aproximação onde:

[…] el fenómeno cognitivo campesino aparece separado de sus propósito práticos; en otras palavras, el intrincado sistema formado por corpus y práxis está separado artificialmente, y b) el cuerpo es solo parcialmente estudiado, de tal manera que el investigador solo estudia ‘fracciones’ (plantas, animales, suelos, etc.) o ‘dimensiones’ (sistemas clasificatórios, elementos unitários y otros) del sistema completo, (TOLEDO, 1993, p. 211).

E continua, “es difícil alcanzar una comprensión coherente y completa de

estos sistemas cognitivos separándolos de las actividades y comportamientos

diarios, concretos y prácticos, de los productores campesinos”, (BARAHOMA apud

TOLEDO, 1993, p. 212).

A “colocação” tornou-se a unidade de gestão, na área de conservação

(PAE) Cachoeira, é o lugar onde o seringueiro manipula o Meio Ambiente Natural,

de forma individual e coletiva, através do conhecimento da flora, fauna e

topográfia. Para tanto, nesse particular, passou a ser fundamental endogeneizar

fontes de desenvolvimento como o sistema cognitivo camponês, usado

permanentemente pelo seringueiro durante a gestão do ecossistema natural,

jogando um papel importante para a racionalidade ecológica da produção

extrativista.

Page 44: Os Madrugadores da Floresta

44

1.5.4 O Saber Sofisticado da Natureza

A antropóloga Marchese (2005), ao descrever o conhecimento que o

madrugador do (PAE) Cachoeira, colocação Alto Duro, detinha sobre cada árvore,

suas propriedades, como usava suas folhas, qual o período de corte da madeira

para não dar bicho e apodrecer, a mesma coisa fazia com o cipó, as cascas e para

quase todo o resto da vegetação. Esse domínio sobre a realidade física da

natureza do lugar em que vive e a relação que faz com os órgãos do corpo

humano para localizar espacialmente as estradas de seringa (pernas, mangas,

seio, boca, coração), são formas encontradas pelo seringueiro para ter uma

compreensão legível do território onde habita e trabalha.

Assim, também, foi organizado o plano de manejo comunitário, se levou

em consideração à estrutura familiar de cada espécie madeireira (mãe, filhas e

netas), numa relação explicita com a organização social da família humana.

Uma estrada de seringa, um pique de castanha, um talhão de colheita de

madeira, o pique para as arvores de caça (a caxinguba, a baijinha, o mururé e

outras arvores) todos esses elementos estão relacionadas com a casa. A

“referencia é a casa” local que certamente encontrará estabilidade, descanso e

abrigo. Daí a conclusão colocada por Marchese (2005), em que a família

seringueira, tem na casa o centro que dá significado àquele espaço Esse conjunto

de fatores, são partes do sistema produtivo da Unidade Econômica Familiar

Extrativista, no interior da floresta. Na medida que aumenta o número de produtos

demandado pelo mercado, maior se torna à rede de “sendas” e de lugares

visitados pelo seringueiro no interior da “colocação”. Essa diversificação da UEFE

ajuda a aumentar os cuidados e conhecimento do seringueiro sobre seu entorno

natural.

Há uma vasta literatura que tem tratado o camponês caracteristicamente

avesso a riscos e que suas decisões são tomadas objetivando a estabilidade, em

muitos casos até na manutenção da própria penosidade do trabalho. Essa

estabilidade é muito tênue da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE).

Assim como, o equilíbrio da floresta tropical, ambos tem na diversidade, base

fundamental de sustentação (TILMAN apud KIUCHI; SHIREMAN 2002).

Page 45: Os Madrugadores da Floresta

45

Na (UEFE) a estabilidade está associada a um padrão reprodutivo – da

família e da unidade de produção – e que requer em ultima instancia de dois tipos

de diversidade: diversidade de produtos e diversidade de usos, com as mais

amplas opções de mercados desses produtos. A diversidade de produtos

amortece impactos – derivados de irregularidades da natureza, do mercado ou da

política econômica – ocorrida em cada um deles - permitindo dinâmicas

compensatórias inter-produto, que resultam na elevação da estabilidade do

padrão.

A diversidade tem a ver com a capacidade dos produtos de alternar-se,

sem prejuízos significativos, entre o mercado e o autoconsumo, a isso os

antropólogos chamam de “alternatividade”. Outro ponto, importante é a capacidade

que tem cada produto de penetrar em diversos mercados, de circular em diversos

circuitos. Em ambos os casos, é a diversificação que oferece uma amplitude de

possibilidades, ampliando-se ainda mais a base da estabilidade (GARCIA, 1983).

1.5.5 A Produção Extrativista e o Processo de Industrialização Local

A introdução das atividades agropecuárias, na década de 1970, a região

de Xapuri acompanhava os enfoques de desenvolvimento linear, vinculado ao

pensamento econômico liberal que sustentava teoricamente a modernização

agrária, aplicada no restante das regiões brasileiras. Para Toledo (1993), durante o

período de modernização, os recursos naturais e as comunidades camponesas

tendem a ser destruídas e substituídas por formas,

[…] modernas de producción, basadas en costes ecológicos, en especialización espacial, productiva y humana, y una producción exclusivamente orientada al mercado (TOLEDO,1993, p. 15).

A resistência social e ambiental formada em Xapuri, em torno da luta

sindical, vai se contrapor ao discurso hegemônico de introdução da produção

agropecuária; trazendo como alternativa um desenvolvimento rural que fortalece

os elementos de resistência local, conserva a natureza, sem transformar as

unidades de produção familiar em unidades especializadas e assalariadas, ao

mesmo tempo, que cria as condições para estruturar um processo de

Page 46: Os Madrugadores da Floresta

46

industrialização local que aposta mais na heterogeneidade do que na

homogeneização (MOREIRA; CARMO, 2004; TOLEDO, 1993).

Por outro lado, o simples fato de reconhecer a existência de uma

racionalidade ecológica na produção seringueira, não é suficiente para garantir a

manutenção do Meio Ambiente Natural. Torna-se necessário reconhecer a

importância da mobilização política de caráter social e ambiental que resulta na

criação dos projetos de assentamento extrativistas e reservas extrativistas. Áreas

que pela sua dimensão começam cumprindo um papel importante, não apenas

como alternativa para a diminuição dos conflitos fundiários, predominantes na

década de 1970, mas, formando paredões de resistência naturais e sociais que

dificultaram a expansão do Meio Ambiente Transformado.

Assim como a garantia das áreas de conservação (PAE´s e RESEX´s) a

organização política do seringueiro em associações, cooperativas e organizações

não governamentais não foi suficiente para sustentar a crescente demanda por

bens e serviços oriunda da população seringueira, por isso, urge a necessidade de

uma política sócio-econômica de desenvolvimento local. Os primeiros passos são

dados, pelas organizações comunitárias dos seringueiros, através do “Projeto

Seringueiro”17 ocupando a lacuna deixada, pela ausência de políticas publicas de

apoio ao “povo seringueiro”.

Através da organização social e da disputa política no Meio Ambiente

Social, começa o processo de industrialização de ativos florestais locais, trazendo

uma melhora no nível de preços e garantia de mercado, dando inicio a uma lenta

mudança no comportamento do sistema de produção do seringueiro, passando a

ter na diversidade da natureza resultados econômicos melhores aos dos cultivos

das chamadas culturas anuais.

Sem, deixar de considerar, que a criação de pequenos animais como

(galinha, pato e porco) e de animais como o gado em pequena escala feito pela

17 O “projeto seringueiro” era constituído de um conjunto de ações básicas direcionadas para a área de educação, saúde e economia. Para coordenar essas ações foi criado o Centro dos Trabalhadores da Amazônia – CTA, formado por membros do movimento sindical e por técnicos que apoiavam o movimento dos seringueiros. O final do decênio de 1980, existiam 22 escolas e 15 postos de saúde funcionando no interior das áreas de Conservação existentes em Xapuri, a Cooperativa Agro-extrativista de Xapuri gerenciava a fabrica de castanha “Chico Mendes”

Page 47: Os Madrugadores da Floresta

47

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), vai contribuir muito na

diminuição da caça de aves silvestres e pequenos animais como: papagaio,

tucano, juriti, perdizes como as nambus galinha, macucau e azul. Além, das cutias,

pacas, macacos, jabutis e outros, todos denominados pelo seringueiro de

“embiaras”18.

Essa mudança que começa a acontecer na produção econômica de caráter

floresto-industrial no município de Xapuri, fortalece a racionalidade ecológica

predominante no sistema de produção do seringueiro. A existência de uma

racionalidade ecológica mostra o significado e potencialidade da cultura

camponesa do seringueiro, normalmente considerado como arcaíco ou tradicional,

de pouca importância para a modernidade. No entanto, se contrapõe aos

paradigmas centrais da modernização rural, que tem como eixo central a produção

agropecuária de caráter capitalista.

Esse debate atualiza a importância da cultura e das diferentes

racionalidades, no funcionamento e mudanças das sociedades. Trata-se de

aproveitar as características próprias de um modo de apropriação da natureza

considerada tradicional, com sua historia, seus conhecimentos e sua cultura; e a

partir disso construir um modelo original de desenvolvimento, baseado numa

racionalidade ecológica por cima da econômica nem sempre incorporada dessa

forma na intervenção desenvolvimentista (PLAZA, 1991; GONÇALVES, 2006).

Nessa perspectiva, a racionalidade da produção camponesa do seringueiro

que tem uma troca permanente com o Meio Ambiente Natural e Social. Constitui

ponto de partida para um desenvolvimento alternativo ecologicamente relevante.

Neste caso, o desenvolvimento busca a sustentabilidade e atribui sua consecução

às estratégias localmente conduzidas (manejo, conservação da diversidade social

e ambiental, equidade, equilíbrio produtivo, estabilidade da paisagem florestal,

industrialização com justiça econômica, remuneração de serviços ambientais).

Disso se deduz que natureza e sociedade não apenas se deve analisar na

dimensão do espaço, mas também em função dos períodos históricos pelos que

18 Denominação dada aos pequenos animais silvestres, caçados pelos seringueiros com maior intensidade quando não tinham alternativas de consumo de animais domesticados.

Page 48: Os Madrugadores da Floresta

48

se atravessou e pelas formas de organização social adotado em cada um deles,

(ver as figuras 4, 5, 6 e 7), destacadas na seção 1.7.1.

Finalmente, em fase da contribuição dos seringueiros para a conservação e

manutenção dos recursos ecológicos e biológicos, como os econômicos de

produção sustentada e políticos de disputa pelos espaços de poder local e de

projeção externa que foram largamente aproveitados, é urgente elaborar uma nova

concepção ligada com a vocação florestal da região, onde as contribuições

camponesas sejam inseridas. Sem deixar de considerar, que essa nova orientação

de modernização rural deve superar os mecanismos políticos e econômicos,

através dos quais o trabalho do camponês é permanentemente explorado por um

setor não produtivo, como se verifica nos processos econômicos representados

pela “Regla del Notário” de Naredo (1999), através de vários mecanismos de

extração de excedentes e por intermédio desses os camponeses tendem a se

converter num setor social e ambientalmente subordinado aos interesses do

mercado capitalista (TOLEDO, 1993).

1.6 A Racionalidade Econômica

De um modo geral, podemos dizer que somente na década de 1960, é

introduzida no debate latino-americano a superação das formulações de tipo

dualista de várias correntes de pensamento construídas em torno da dicotomia

tradicional-moderna ou daquelas desenvolvidas sobre feudalismo-capitalismo.

Com a descoberta dos escritos dos chamados “populistas russos” da década de

1920, em particular os escritos de Alexandre Chayanov e de sua escola de

organização da produção, surge uma nova forma de analise da economia

camponesa como uma forma de organização da produção com características sui

generis (SCHEJTMAN, 1980; ESCOBAR, 1996).

Nesse trabalho, se entende a economia camponesa como uma forma de

organização social da produção específica. As respostas sobre o que, como e

quando produzir, quem produz e qual o destino que tem a produção, definem uma

lógica e segue uma seqüência por um determinado objetivo, central para a

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE). Enquanto a produção

Page 49: Os Madrugadores da Floresta

49

empresarial busca a maximização do lucro e a acumulação de capital; a

organização econômica de tipo camponesa tem como objetivo principal a

reprodução da família e da unidade produtiva (SCHEJTMAN, 1980; ESCOBAR,

1996).

1.6.1 No Contexto Capitalista

O (anexo 1) procura especificar as principais contradições entre as

racionalidades de reprodução social da economia camponesa e a chamada

produção empresarial. Para aproximar-nos mais do objeto de estudo, se procurará

fazer do trabalho de Luna (1988), base para entender as diferentes dinâmicas da

racionalidade econômica vindas da Unidade Econômica Familiar Extrativista

(UEFE), e da Unidade Agrária Capitalista (UAC).

É importante poder situar o produtor camponês dentro de um marco

teórico, para poder compreender a estratégia sócio-econômica estatal,

diferenciando a estrutura desses dois tipos de unidades econômicas. Para isso,

torna-se fundamental conhecer os parâmetros sociais e econômicos que

determinam o comportamento, da Unidade Econômica Familiar Extrativista como

grupo social articulado, porém, diferente, das unidades produtivas capitalistas.

1.6.2 A unidade agrária capitalista (UAC)

O esquema gráfico da atividade econômica desse tipo de unidade é

apresentado utilizando a relação abaixo:

D M D1 = D + g

Page 50: Os Madrugadores da Floresta

50

Investimento

Monetário em:

máquinas, insumos e

salários

capital produtivo

Cujo valor monetário proporciona um Excedente gerado na

Produção e realizado

na comercialização.

O esquema acima mostra uma atividade eminentemente produtiva e dirigida

exclusivamente ao mercado. Sua racionalidade descansa na medição matemática

que avalia a relação existente entre excedente e capital investido (g/D),

identificado como rentabilidade. Portanto, a rentabilidade obtida deve ser

“aceitável” em termos de capital investido.

Outro ponto importante a destacar, consiste na forma independente em que

acontece a dinâmica interna da reprodução social da Unidade Agrária Capitalista

(UAC), com relação aos processos de socialização dos agentes sociais envolvidos

diretamente na atividade: basicamente a força de trabalho e o capitalista. A força

de trabalho tem sua garantia no esquema com a remuneração de sua atividade e o

segundo capitalista a partir da captação de parte do excedente utilizado em seu

consumo individual. Porém, a vida desses dois agentes acontece em espaços

físicos e sociais distintos e estranhos ao correspondente espaço da atividade

econômica produtiva e dá unidade como um todo. Então, a garantia para a (UAC),

é a valorização do capital investido e de seus elementos produtivos.

1.6.3 A Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE)

O seringueiro como produtor camponês e suas atividades de trabalho

devem ser considerados no mesmo espaço de sua reprodução. Na literatura sobre

o tema específico da natureza da produção camponesa, se fala que a economia

camponesa constitui um sistema econômico especifico onde a terra (caso dos

seringueiros a floresta), e o trabalho fazem parte dos meios de produção

combinados para seguir o processo natural do desenvolvimento familiar, ou seja, o

processo próprio do funcionamento interno da família (LUNA, 1988).

Levando em consideração os conceitos desenvolvidos por Chayanov

(1974) a analise isolada das atividades da família extrativista camponesa é uma

analise, de produção e não uma analise econômica, isso implica integrar os

Page 51: Os Madrugadores da Floresta

51

problemas de toda a organização produtiva extrativista e a atividade total da

família.

n UEFC Ai Conjunto de

I = 1 atividades

A1 = atividades produtivas extrativistas A2 = venda ou intercambio de força de trabalho familiar A3 = Comércio A4 = Eco-turismo A5 = Emprego público A6 = Apropriação de renda em Produto ou dinheiro Proveniente do trabalho “meiro” A7 = participação Políticas

(sindical, partidária e religiosas)

A8 = caça, pesca e outros

. somatória que expressa o conjunto agregado da renda familiar proveniente da atividade econômica.

A Atividade Produtiva (A1) da (UEFE):

Em Luna (1988), o esquema gráfico da atividade produtiva desse tipo de

unidade ficaria:

F T F Pa Id M Id1 D D1

a. Incorporação de força

de trabalho familiar e de insumo domestico ao processo de trabalho b.Investimento monetário

- animais de trabalho

- insumos produtivos - diárias (motosserista)

Obtenção de um conjunto

de produtos Grande parte se realiza no mercado D1 Parte se consome na unidade Pa e parte é usado como insumo

produtivo Id1

O esquema acima indica então, que as praticas camponesas abaixo

relacionadas fazem parte de sua racionalidade, e que historicamente tem

contribuído para sua permanência frente às Unidades Agrárias Capitalistas (UAC):

1. A Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) não quantifica como valor

investido (custo explicito) nem o trabalho realizado pela força de trabalho familiar19,

19 Para (LUNA 1988), “La lógica de esto reside naturalmente en el hecho de que toda la actividad económica de la unidad está en función de la reproducción (supervivencia) de la familia a través del consumo, posibilitado por ingresos proveniente de actividad económica y por producto de la misma actividad

Page 52: Os Madrugadores da Floresta

52

nem o valor incorporado em insumos domésticos produzidos pela unidade

(paneros, sementes, mudas de bananeira, macaxeira, arreios de animais, etc).

Enquanto na (UAC), o trabalho e os insumos fazem parte em sua totalidade do

investimento monetário produtivo, portanto, fazem parte dos custos explícitos.

Isso significa que a (UEFE) não espera de maneira contábil que esse valor

incorporado (custo implícito) seja retribuído e resgatado com a venda do produto.

Mesmo, assim, o camponês considera fundamental o resultado monetário como

parte da formação de sua renda familiar, portanto, o maior ou menor êxito na

venda dos produtos significa maior ou menor possibilidade de consumo familiar e

de recuperação dos valores para investir (D) no próximo ciclo produtivo20.

2. A Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) quantifica apenas como valor

investido (custo explicito) o desembolso efetivo dinheiro (D) realizado. Geralmente

representado por adiantamento de mercadoria no comercio local, venda

antecipada dos ativos florestais, muito pouco de credito institucional. Portanto, sua

expectativa, é resgatar, através da venda dos ativos, o valor (D) investido

inicialmente.

3. Do valor produzido pela (UEFE), uma parte é consumida parcial ou totalmente,

produção para autoconsumo (Pa) ou produtivamente, insumos domésticos (Id),

esse consumo pode constituir-se, por si mesmo, um resgate (parcial ou total) do

valor incorporado inicialmente na forma de força de trabalho familiar (FTF) ou de

insumos domésticos (Id).

4. Apesar da integração real ao mercado, a (UEFE) não parece ter como objetivo

central o mercado, mas atingir um nível de renda que lhe permite adquirir outros

bens de consumo não produzidos por ela, porém, necessários para a reprodução

social da unidade. Em outras palavras, a (UEFE) busca a monetarização

integrando-se ao mercado não como objetivo e sim por necessidade21.

productiva (autoconsumo). Por lo tanto no existe remuneración formal individual que pueda calcularse por participación de la fuerza de trabajo en la actividad productiva agraria (A1) en tierra (bosque) manejada por la unidad. De la misma manera que los ingresos provenientes de otras actividades entran a engrosar la fuente del consumo familiar, el trabajo de la familia incorporado a la actividad (A1) se espera sea retribuido a través del consumo. 20 Geralmente no olhar de (LUNA 1988), “la UEFC há comprometido com anterioridad valores de lo producido, a traves de prestamos o avances recibidos de los intermediários ou de credito institucional. Esta sumas han sido utilizadas por la UEFC em consumo familiar, compra de insumo produtivos, sumas que tienen que devolver com parte o la totalidad del resultado de la venta del producto (D1). 21 Es importante recordar como dentro de la organización primitiva de la sociedad, las unidades familiares fueron relativamente autosuficiente. El intercambio de excedentes, que “inicia la transformación de los

Page 53: Os Madrugadores da Floresta

53

5. Fica, então, muito clara a diferença, em relação com a (UAC), da forma como

acontece a reprodução social da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFC).

La supervivencia de la familia (fuerza de trabajo familiar), es decir su reproducción individual se da en el mismo espacio de la actividad productiva. Es pues la UEFC un complejo conjunto de productores-consumidores cuyo comportamiento como tales se condiciona mutuamente (LUNA, 1988, p. 45).

1.6.4 Formação de Preços, Renda e Reprodução Social da (UEFE)

É interessante explorar um pouco a formação da renda monetária (D1) da

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) originada da venda do produto

rural. Definitivamente a condição na qual acontece a relação social entre a (UEFE)

e o intermediário comercial tem um papel de explicação importante no processo de

formação do preço para o seringueiro, influenciando definitivamente na

determinação da renda monetária obtida como resultado da atividade produtiva

(A1).

A prática mostra que existem fatores sociais e econômicos, inerentes uns

à relação produtor com o intermediário comercial ou produtor e indústria local e

outros na interação de oferta e demanda de ativos florestais em mercados de

produtos finais, que podem determinar uma relativa baixa participação da (UEFE)

no valor do produto rural. Participação expressada geralmente em preços baixos,

quando a relação passa pelo capital mercantil, com predominância de

intermediários como regatões e marreteiros.

Entretanto, quando a relação é direta com a indústria local os preços são

melhores e a produção tem maior incorporação tecnológica (madeira manejada e

fornecimento de leite da seringueira). Refletindo, em renda monetária (D1) superior

nessa fase de integração produtiva da (UEFE) com a indústria. Passando a

productos en mercancías es de fecha posterior”. En este proceso de producción simple de mercancías solo una pequeña parte de los bienes de consumo necesarios para la familia se consigue a través del trueque o el proceso de mercadeo de los excedentes (sobrantes) del producto de la unidad económica familiar. A partir del comercio generalizado (especialmente siglo XV) las posibilidades de acumulación de excedentes en esta área dan paso a la aparición del capitalismo en un marco de economía de mercado. La especificidad histórica capitalista del comportamiento actual de la UEFC, se expresa entonces en la necesidad de integrarse al mercado (como vendedora y consumidora) como parte de su estrategia para sobrevivir, no ya en un inexistente y superado de economía mercantil simple, pero sí como una forma mercantil simple (obtener otros bienes de consumo) de integrarse a ese mercado, diferente a la forma como lo hace la UCA, (LUNA, 1988, p. 45).

Page 54: Os Madrugadores da Floresta

54

resgatar, na maioria das vezes o desembolso (D) (custo explicito) efetivado pela

(UEFE) no processo produtivo.

Quando desorganizado e com pouca informação sobre o mercado o

camponês cede socialmente, via preços, parte do valor incorporado na produção,

cessão essa de acordo com as circunstâncias, pode comprometer não apenas o

valor excedente, mas inclusive o valor correspondente ao custo de reprodução da

força de trabalho familiar (FTF), a dos insumos domésticos utilizados (ID1) e até a

parte do desembolso monetário (D) realizado (custo explicito). Esse cenário tem

sido minimizado na Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), do (PAE)

Cachoeira conforme indica o Termo de Intercâmbio (TI)22 quando apresenta

resultado de 0,68; demonstrado na (tabela 11; página, 108).

Como então entender a reprodução social da (UEFE) como produtora

rural? A resposta deve ser buscada naturalmente recorrendo ao esquema de

atividade econômica integral da unidade. É precisamente da possibilidade de obter

renda, da diversificação das atividades do núcleo familiar o que torna factível sua

reprodução social e, portanto, sua permanência econômica. A ampliação recente

da diversificação produtiva extrativistas, associada a um processo industrial, que

resultam da luta política de caráter sócio-ambiental, vai culminar na criação de

condições sócio-econômicas e naturais, por parte do Estado, favorecendo o

fortalecimento23 da complexa interdependência econômica e ecológica

desenvolvida pela Unidade Econômica Familiar Extrativista.

22 Termos de Intercâmbio (TI): é a relação entre o valor dos bens de consumo comprados e o valor total da produção. Indica qual a proporção da renda bruta, em bens de consumo, precisa ser gasta para gerar o valor total da produção. Essa relação revela, aproximadamente, em que medida o excedente produzido pelo pequeno produtor está sendo apropriado na circulação, isto é, a montante e a jusante do processo de produção, ASPF/2008.

23 Aqui interpretamos o conceito de fortalecimento todas aquelas situações políticas criadas pelo movimento dos seringueiros (criação dos PAE e Resex) e instituições sociais que desenvolvem programas de educação, saúde e cooperativismo. Por outro lado, o conjunto de alianças externas com Organizações Não Governamentais (Ong’s) nacionais e internacionais vai ser importante a contribuição técnica, política e financeiramente para a implantação de programas de apoio à produção extrativista dos seringueiros. Mais recentemente com o apoio de políticas publicas, tanto dos governos Federais, Estaduais e Municipal, voltadas para a implantação de infra-estrutura econômica e social; extensão dos programas da reforma agrária do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o processo de industrialização dos governos locais, e que vão afetar mais diretamente o ritmo e a capacidade da atividade econômica da (UEFE), estendendo-se desde a recamponização familiar do seringueiro na “colocação”, com maior independência da Força de Trabalho Familiar (FTF) e o retorno da figura do “meeiro”. Esse conjunto de fatores veio contribuir muito para o fortalecimento da (UEFE) permitindo-lhe, negociar em melhores condições com comerciante e industrias.

Page 55: Os Madrugadores da Floresta

55

O resultado disso tudo é que, de forma diferenciada24 naturalmente, o

processo de reprodução social da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE)

se desenvolve indiscutivelmente em termos dialéticos25, mostrando condições

geralmente cíclicas, especialmente no que se refere a níveis e possibilidades de

reprodução familiar e produtiva.

1.6.5 Reprodução Social da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) e a Política de Desenvolvimento

Para introduzir políticas econômicas eficazes, junto a unidades produtivas

extrativistas, é preciso entender e interpretar o comportamento e racionalidade da

(UEFE), procurando garantir sua permanência e reprodução social com níveis

positivos de bem-estar sócio-econômico. Considerando-a como uma eficiente

produtora de bens e serviços florestais e absorvedora de força de trabalho rural,

ao contrário do que acontecia no passado recente, quando liberava força de

trabalho, esses elementos devem ser cuidadosamente analisados, pois, fazem

parte do corpo social da (UEFE).

Observando o esquema de atividade econômica da (UEFE) apresentado

na (página 50), pode inferir-se a existência de uma boa quantidade de espaço e

atividades relacionadas diretamente com sua dinâmica, portanto, suscetíveis de

serem considerados na formulação de políticas de desenvolvimento sócio-

econômico, introduzindo com maior precisão a racionalidade desse grupo social.

De maneira geral se poderia mencionar a titulo de exemplo, alguns desses

espaços que aparecem como pontos de conflito dentro da atividade econômica da

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) e que devem ser analisadas para

maior conhecimento:

a) Relações entre Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) o

Intermediário Comercial e a Indústria Local

24 Especialmente de acuerdo a condiciones políticas, sociales y naturales regionales, a tamaño, caracteristicas y ubicación de suelos (bosques). Etc. Es evidente que hay diferentes grados de pauperización dentro de la economia campesina y por lo tanto distintos niveles de bienestar y condiciones de reproducción social de la Unidad Económica Familiar Campesina (UEFC), (LUNA 1988, p. 46). 25 La existência de fuerzas sociales opuestas que llevan por uma parte a la descomposición de la (UEFC) y por otra a su recomposición (LUNA 1988, p. 46).

Page 56: Os Madrugadores da Floresta

56

De maneira geral, a autonomia da Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE), ficou fortalecida depois da conquista do território e do inicio do

processo industrialização local diversificada. Do ponto de vista das relações

mercantis, pode-se observar na área objeto de estudo (PAE) Cachoeira três tipo

de canais de comercialização que viabilizam a oferta dos ativos florestais e a

demanda de mercadorias e insumos domésticos: a primeira é a relação direta

entre (UEFE) e indústrias (mais profissionalizada), e aquelas feitas com

comerciantes da cidade e intermediários nas duas situações predomina uma

economia com maior grau de monetarização; a segunda se dá entre a (UEFE) e

cooperativas extrativistas que são o grande pára-choque da economia que aflora

nas áreas de conservação; a terceira forma de intermediação, mais recente, é feita

entre extrativista. Há extrativistas moradores do (PAE) Cachoeira, mais

capitalizados e articulados externamente, que concorrem com intermediários e as

próprias cooperativas extrativistas.

Essa terceira situação predomina o comércio da castanha, borracha

bruta, gado bovino, produtos agrícolas, oferta de serviços de transportes,

beneficiamento de castanha para venda direta a consumidores da cidade e

adiantamento de dinheiro. Essa situação mostra como num ambiente econômico

favorável o seringueiro (camponês florestal), além, do saber sofisticado26 que

detém da floresta, conhecem e podem organizar o processo produtivo e os

negócios florestais, inclusive podendo participar como sócios das indústrias.

O extrativista, assim, como as cooperativas ou mesmo empresas privadas

que atuam no comercio de ativos florestais, são muito vulneráveis a problemas de

liquidez27 por dependerem de empréstimos ou de adiantamento em dinheiro ou

mercadorias para satisfazer as necessidades de consumo individual ou produtivo.

Intermediários e cooperativas geralmente tem suprido essas necessidades, feitas

através da compra-venda antecipada do produto, na maioria das vezes com

26 “Os seringueiros possuem um rico saber etnoecológico incluindo a identificação de espécies, a diversidade e importância dos polenizadores, dispersores e predadores de sementes, etc”, (VIANA; MENDES; MENDES, 2002). 27 Os problemas de liquidez quando se apresenta na empresa privada ou cooperativa, eles na maioria das vezes conduzem para falência a atividade empresarial e quando os problemas são detectados, ainda, como resultado negativo no balanço patrimonial eles, ainda deixam um fôlego para manter a unidade produtiva no mercado. No caso da UEFE a falta de liquides os torna vulneráveis à dependência do intermediário seja um comerciante da cidade ou de outro extrativista mais capitalizado ou articulado externamente.

Page 57: Os Madrugadores da Floresta

57

preços pré-fixados. Aliás, esse tipo de crédito, quando permanece por mais de um

ano, sem a devida quitação, tem contribuído com o agravamento do fluxo de caixa

e falência de cooperativas extrativistas e intermediários.

Há um novo momento, que demanda aprimoramento nas relações entre a

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) e a indústria local. Ele está

relacionado com a gestão e organização administrativa de cooperativas,

associações, organizações não-governamentais e sindicais para enfrentar, não

apenas os problemas de preços que podem resultar das relações com indústrias,

comerciante da cidade e intermediários, mas, também, a necessidade permanente

de melhoria da qualidade do produto ofertado. Esses fatores podem influenciar no

processo de negociação junto a consumidores dos ativos florestais ofertados pela

(UEFE)28.

Como poderia essa situação relacionar-se com a estratégia de

desenvolvimento econômico? Mencionado o problema que para o seringueiro

representa a comercialização da produção, colocando as dificuldades das relações

de troca feita com indústrias, comerciantes, cooperativas e seringueiros

capitalizados, no tocante ao preço e oferta permanente dos ativos florestais

comercializável. Por outro lado, os consumidores (industrias) reclamam da

insegurança, nessa forma horizontal, de abastecimento da matéria-prima,

principalmente, a madeira.

Para a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), que oferta

madeira de sob um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), boa parte da

falta de continuidade da oferta está relacionada entre outras condicionantes como

a demora da estrutura institucional publica na liberação de licenciamento dos

PMFS, na ausência de infra-estrutura e credito que viabilizem o atendimento dos

pedidos solicitados pela indústria no tempo e condições por ela determinada.

No caso dos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) do (PAE)

Cachoeira, depois de oito anos atuando na colheita da madeira, somente foram

liberados três (PMFS), essa demora esta relacionada com as dificuldades

operacionais para a liberação do plano operativo anual pelo órgão ambiental,

inicialmente foi o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

28 É necessária a criação de uma consciência sobre essa situação que traz desvantagens e, ainda, se vê agravada para o extrativista pelas condições de isolamento geográfico em que pode se encontrar e os problemas de transporte que enfrentam.

Page 58: Os Madrugadores da Floresta

58

(IBAMA), depois o Instituto do Meio Ambiente do Estado do Acre (IMAC), trazendo

um grau de desconfiança muito grande entre seringueiro e industria. O último

referente ao ano de 2006, liberado no mês de outubro de 200729, sem qualquer

possibilidade de colheita, devido ao período de chuva que se intensifica a partir

desse mês na região.

Daí freqüentemente se observa um certo desestímulo e desconfiança no

fornecimento da madeira com certificação de origem feita pela Unidade Econômica

Familiar Extrativista (UEFE) e consumidores (industria), essa descontinuidade

mostra as falha de coordenação encontradas no provimento de bens não

comercializáveis como a logística, conhecimento da realidade, comercialização e

outros fatores que desempenham um papel central nas atividades de colheita da

madeira de forma sustentável e com controle publico.

Esse conjunto de fatores e outros como os de educação, saúde,

simplificação do licenciamento do produto extrativista, política tributaria e creditícia

diferenciada para a produção da indústria florestal, logística de transporte,

comunicação e tecnológica quando bem equacionados no interior da política de

desenvolvimento, são componentes importantes para fazer frente aos riscos dos

negócios relacionados entre a (UEFE), indústria e cooperativas que estão

colocando em andamento uma economia de uso múltiplo dos ativos florestais e da

nascente industrialização desses produtos.

Dessa forma, a integração entre indústria local de Xapuri e a economia

camponesa seringueira, introduz uma realidade nova não muito amadurecida pelo

conjunto de atores envolvidos na execução das ações necessárias, para o bom

funcionamento da cadeia de diversificação de ativos florestais que se pretende

industrializar. Para o enfrentamento dessas falhas de coordenação se faz

necessário maior aproximação entre seringueiros e indústria; bem como a criação

de uma coordenação pública dos investimentos industriais e dos Planos de Manejo

Florestal Sustentável.

a) Relações entre Extrativistas, Vendedores de Insumos e Serviços Técnicos

29 Ver Oficio 034/2007 - COOPERFLORESTA dirigido ao governador do Estado do Acre datada de 30 de agosto de 2007, (anexo, 05).

Page 59: Os Madrugadores da Floresta

59

A colheita do leite da seringueira e da madeireira associada com a

indústria local exige um aprimoramento de gestão e organização. Esse é um

espaço pouco conhecido pela Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) e

que a indústria e a política estatal podem ajudar criando instrumentos de gestão e

de administração dessas unidades na hora de se relacionar com os principais

fornecedores dos insumos, equipamentos e serviços técnicos de apoio para a

realização da colheita dos frutos.

b) Relações entre Extrativista e as Instituições Sociais

Um maior conhecimento dos meios de produção do seringueiro e de sua

relação com a natureza ajudaria muito a desenhar políticas de assistência técnica

e de pesquisa onde sua participação fosse importante e as tecnologias, inovações

ou ajustes tecnológicos (Ex. projeto de manejo comunitário do PAE Cachoeira) se

constituam mais em complemento e enriquecimento da forma camponesa de

produção, do que em suplemento muitas vezes considerado estranho e inviável

para a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE).

Uma experiência importante que deve ser analisada foi o arranjo

institucional constituído de forma espontânea pelas instituições, formadas entre

seringueiros organizados e Organizações Não-Governamentais como: a

Cooperativa Agroextrativista de Xapuri, Conselho Nacional de Seringueiros, Centro

de Trabalhadores da Amazônia, Instituto de Estudos Amazônico; com apoio da

Fundação Ford, Fundação Interamericana, Governo da Austria, Cultural Survival, o

Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA) e a Fundação de Tecnologia do

Acre (FUNTAC). Mesmo sem uma política de desenvolvimento estadual definida e

atuando muitas vezes de forma isolada, constituiu uma base de apoio importante

na sustentação aos sistemas produtivos extrativista, formados por um arcabouço

de instituições formais e informais de sustentação da relação: natureza-

seringueiro-indústria.

Page 60: Os Madrugadores da Floresta

60

c) Relações Sociais de Produção e a Situação Fundiária

Esse ponto tem tradicionalmente uma forte relação com a possibilidade de

acesso ao credito da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), dadas as

relações de propriedade da terra. No caso particular dos seringueiros, mesmo

depois da criação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Extrativismo

(Prodex), havia muita dificuldade de operacionalizar o crédito de custeio anual

para produtos de origem extrativista, como a castanha, a borracha e mais

recentemente a colheita da madeira. Ainda prevalecem na cultura dos membros da

Unidade Econômica Extrativista (UEFE), dificuldade de relacionamento direto com

instituições bancarias, no inicio em razão da deficiência que tinham para

comprovar as garantias exigidas para acessar ao crédito, principalmente para

aquelas unidades em que seus membros não estavam vinculados a nenhuma

associação ou cooperativa extrativista.

A mesma situação enfrentava aquelas unidades econômicas que tinham

posse da “colocação” e que a terra era objeto de disputa jurídica com antigos

seringalistas ou outro reclamante. Havia, também, um limite cultural que permeava

no interior da (UEFE) como resistência para firmar o contrato junto ao banco,

outros estavam relacionados com a falta de documentos pessoais que aos poucos

esta sendo superado através de programas como o “Projeto Cidadão” executado

pelo Poder judiciário Acreano.

Recentemente houve pouco avanço no financiamento das atividades de

manejo florestal comunitário, devido ao demorado processo de licenciamento dos

planos de manejo por parte dos órgãos ambientais, diga-se Instituto Brasileiro de

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) e Instituto de Meio Ambiente do

Acre (IMAC), que justificam na complexidade do marco legal, limitações na

agilização para aprovação dos referidos planos.

Para o Banco da Amazônia, aprovar um financiamento com vista à

colheita de madeira por parte dos seringueiros é preciso ter o plano operacional

aprovado (POA)30 junto ao (IMAC), no caso do (PAE) Cachoeira e no (IBAMA)

para os planos da RESEX. Ressaltamos que o IMAC passou a licenciar somente a

30 É o documento que autoriza o produtor a dar inicio a colheita do produto madeireiro, dentro daquele período estabelecido.

Page 61: Os Madrugadores da Floresta

61

partir de 2005, período em que houve uma descentralização das atividades de

licenciamento da esfera federal para a instância estadual, mesmo assim,

continuaram as mesmas determinações previstas em lei e que dificultam a

agilização dos processos de liberação dos Planos de Manejo Florestal Sustentável

de Baixo Impacto.

Um ponto interessante é o pouco conhecimento que se tem dessas

circunstancias vivenciadas pelas (UEFE) e de outra a prioridade para financiar

produtos agropecuários por parte dos bancos oficiais, ou a não interpretação e

maior aprofundamento para introduzir mudanças que venham contribuir com a

superação dessas situações, que tem levado a muitas (UEFE) a não poderem em

muitos casos acessar ao credito bancário.

É importante insistir cada vez mais na necessidade de pesquisar e se

aprofundar ainda mais no que se refere ao conhecimento das estruturas sócio-

econômicas da (UEFE) e suas diferenças regionais, como inicio para a

formulação, reformulação e complementação de políticas públicas eficazes.

Apoiando atividades econômicas que venham contribuir no aprofundamento de um

desenvolvimento com liberdade desse importante setor social da economia

acreana.

1.7 A Construção Social da Industrialização de Xapuri

A forma como Marshall (1985), entende a organização como um fator de

produção diferente dos tradicionais. Formando sua concepção na biologia,

passando a ver a realidade econômica e social, na interdependência das partes de

um organismo qualquer, fazendo parte constitutiva da sua existência e da sua

evolução. Ao tratar da organização industrial é preciso superar a dimensão

empresarial substituindo-a, pelas interdependências locais propiciadas por forças

naturais, sociais e forças econômicas (natureza, seringueiro, empresas e

instituições publicas e sociais) que dividem o mesmo território (entorno) local onde

estão assentados.

São constantes as metáforas biológicas de Marshall (1985), quando

trata das questões econômicas. E mais, ainda, quando faz referência da

Page 62: Os Madrugadores da Floresta

62

organização industrial, no Cap. VIII, do Volume I, do Livro Princípios de Economia,

onde postula:

Uma unidade fundamental de ação que existe entre as leis da natureza no mundo físico e no moral. Essa unidade central se exprime na regra geral, que não comporta grande número de exceções, que diz que o desenvolvimento de um organismo, seja físico ou social, envolve uma crescente subdivisão de funções das mais diferentes partes, ao mesmo tempo em que aumenta a conexão intima que existe entre elas. Cada uma das partes vê diminuir sua auto-suficiência, e seu bem-estar passa a depender cada vez mais das outras partes [...] ( MARSHALL, 1985)

A organização, neste caso, não deve se limitar na capacidade

empresarial, nem na organização da unidade econômica familiar extrativista ou na

lógica interna da natureza, e sim, na interdependência entre as partes, a mesma

que se aplica na gestão da empresa industrial deve ser estendida para a

organização das outras unidades de produção econômica. Segundo esta

concepção sistêmica da realidade econômica e social, o organismo industrial pode

ser visto isoladamente (empresa), assim, como um elemento que compõe todo um

setor (industria) e territorialmente (o lugar) onde economias externas e internas

podem compor a economia da produção (SFORZI, 2001).

A organização industrial representa o aspecto mais dinâmico do

fenômeno do desenvolvimento. É evidente que paises e regiões consideradas

desenvolvidas hoje, passaram por um processo de industrialização tal, que

modificou a estrutura de todo o ecossistema. A própria relação natureza-

seringueiro que predominou na Amazônia e que existe no (PAE) Cachoeira, é

produto da segunda fase de industrialização, que acontece no século XIX na

Europa e Estados Unidos, ocasionando alterações no sistema social Nordestino da

época, através do deslocamento de contingentes da população sertaneja, para a

região amazônica, formando-se, assim, mais uma ilha de produção regional no

Brasil, com vínculo externo.

A onda da industrialização do século XIX, chega na Amazônia através

da exploração da borracha nativa, determinando uma relação física (saída da

borracha da natureza para a industria) com baixo impacto ecológico, no entanto,

Page 63: Os Madrugadores da Floresta

63

em outros lugares, onde, essa onda demandava a produção de alimentos o

impacto físico na natureza foi diferente. Por outro lado, a ação antrópica que o

processo de industrialização promove historicamente não se limita, apenas na

substituição de florestas nativas para a produção de grãos, mas também, deve ser

acrescido da emissão dos chamados gases efeito estufa emitido nas economias

industrializadas.

O aspecto monetário tem sido a forma de medir se a empresa é rentável

ou não; o lugar, a região, o regime de propriedade, as instituições, o apoio estatal

são elementos que tradicionalmente aparecem para atender o pré-requisito da

rentabilidade que, axiomáticamente acompanham a riqueza financeira com taxa de

juros composta.

Nas figuras a seguir, procura-se compreender o processo histórico de

incorporação da natureza na região de Xapuri, iniciado pela exploração da

monocultura da borracha, pela unidade econômica familiar extrativista, pela

indução das políticas estatais de incentivos à produção agropecuária. Finalmente a

partir do último decênio do século passado, forças do lugar que conseguem “ter

voz” através do vetor “naturo-social” abrem “janelas de oportunidades políticas”

para a manutenção de florestas continuas31, como os Projetos e Reservas

Extrativistas, possibilitando a constituição da relação natureza-seringueiro-

indústria.

1.7.1 Indústria e Penosidade do Trabalho

A (figura 4), representa a contribuição que os seringueiros e outros

agentes da cadeia produtiva da borracha aportam nessa fase da industrialização

das economias centrais, da mesma forma, como os recursos humanos e agrícolas

na Inglaterra tiveram que se dedicar, nesse período, ao desenvolvimento industrial,

na forma de provedores de matéria prima e mão-de-obra barata. Na Amazônia se

produzia a borracha, enquanto, não se encontrava novas fontes de abastecimento

do produto, com melhores condições de abastecimento e preços.

31 Área florestal de formação primitiva (Monitoramento da cobertura florestal do Acre, 1990)

Page 64: Os Madrugadores da Floresta

64

Em outras regiões da periferia, tocou à produção de alimentos que a

economia central foi deixando de produzir, porém essa demanda se dava em

volumes crescente e a baixo custo, dado o crescente processo de urbanização e o

baixo nível de renda da nova massa de trabalhadores que crescia (BIFANI, 1999).

Na produção da monocultura da borracha amazônica, o custo físico da

natureza era de baixa incidência, todavia, as relações sociais, conduzidas pelo

capital mercantil, ofereciam um baixo nível de renda e alta penosidade do trabalho,

para a unidade extrativista. Por outro lado, o sistema era abastecedor de matéria-

prima (borracha), na segunda fase da revolução industrial, para a industria de

pneumáticos, período em que começa o processo de acumulação dos problemas

ambientais, como gases de efeito estufa e as mudanças climáticas que afeta na

contemporaneidade todo o planeta.

Figura 4 - Assimetria entre custo físico da natureza, ganho financeiro do seringueiro e outros segmentos da cadeia produtiva da monocultura da borracha. Até o final do decênio de 1910.

.

Page 65: Os Madrugadores da Floresta

65

Fonte: Elaboração do autor.

A seta que indica a saída do volume físico da natureza tem um

alargamento maior na base, isso representa maior quantidade de borracha in-

natura, para se chegar ao produto final. Outro comportamento, pode ser visto, na

relação monetária, a seta de retorno monetário remunera o processo de

comercialização, gestão e industrialização, tem base alargada, na origem

(industria) indicando maior remuneração dos fatores de produção da industria e

dos segmentos da cadeia produtiva mais próximo.

Para entender esse período da historia acreana, é preciso compreender

a existência de “ilhas regionais” durante todo o período do Brasil primário –

exportador, em que a dinâmica regional era definida a partir dos mercados

externos e da produção predominante de cada região (ARAÚJO, 2005). Durante

pouco mais de quatro decênios, a Amazônia foi uma “ilha regional” de produção de

borracha nativa. Período em que dominou o capital mercantil, sem qualquer

possibilidade de se constituir uma dinâmica econômica regional própria, com

possibilidade de se articular nacionalmente.

Diante disso o que restou, durante esse período, ao antigo morador do

alto sertão nordestino, foi o que Euclides da Cunha batizou de uma “escravidão

por divida”. Por outro lado, na solidão de cada “colocação”, o seringueiro foi

acumulando conhecimento sobre o ecossistema que deve ser considerado, nessa

nova fase de incorporação globalizada da floresta tropical Amazônica, não

somente como produtores de bens e serviços ambientais, mas como ator social e

econômico fundamental na promoção do desenvolvimento local.

No gráfico 3, se faz uma relação entre a penosidade do trabalho e

apropriação de renda monetária na cadeia produtiva da borracha no sistema de

aviamento. O ponto Wo das abscissas representa seu ganho ou a aviação de

gêneros alimentícios e insumos de produção para consumo de subsistência que,

trocava com a produção de borracha. O seringalista se apropriava de uma renda

melhor, porém, com penosidade do trabalho superior aos outros segmentos que

faziam parte da cadeia produtiva da economia da borracha. No final do ciclo se

confirma a dominação econômica de regiões e povos abastecedores de matéria-

Page 66: Os Madrugadores da Floresta

66

prima, realizadas por aquelas regiões que se ocupam das etapas finais de

elaboração e comercialização dos produtos (NAREDO e VALERO, 1999).

Gráfico 3 - Relação: Penosidade do trabalho x Renda Período: até final da década de 1910.

Fonte: Adaptado de Naredo e Valero, (1999).

O seringueiro madrugava na boca da estrada de seringa para aproveitar

a hora que a árvore da seringueira mais jorrava seu leite. Essa era uma forma de

melhorar a produtividade absoluta do trabalho, nem sempre acompanhado de um

ganho real. Apenas registrava perda na qualidade e risco de vida, enquanto os

outros segmentos registravam privilégios sociais, ganhos monetários e

acumulação de capital, como aconteceu nos paises onde a indústria

automobilística estava localizada.

Para Arimatéa (1996), no primeiro elo da cadeia não circulava moeda,

pois, o seringueiro apenas trocava borracha pelos produtos necessários a sua

sobrevivência. Ou como expressa Weinstein (1993), ao citar a fala de um morador

da região, “a Amazônia é a terra do crédito. Não há capital. O seringueiro deve ao

patrão, o patrão deve a casa aviadora, a casa aviadora deve ao estrangeiro, e

assim por diante”.

São duas oportunidades que o povo seringueiro aproveita, nesse

período, na construção de um projeto de vida próprio. A primeira nasce no meio da

Page 67: Os Madrugadores da Floresta

67

guerra (revolução acreana) ocasionada pela necessidade de alimentação dos

soldados que estavam na frente de batalha contra o exercito boliviano, essa

abertura reacende a cultura da produção agrícola suprimida pela produção da

monocultura da borracha. Para Bastos, (1940); Oliveira, (1985) e Gonçalves,

(2003), eis o começo.

No meio da guerra (revolução acreana) e na crise da economia da

borracha, no final da década de 1910, aprecem as condições para produzir uma

agricultura de subsistência, constituir família, organizar adjuntos para a colheita da

produção. Enfim, começa a construção de um projeto de vida próprio (OLIVEIRA,

1985), permitindo ao seringueiro viver da diversidade da floresta e

contemporaneamente compartilhá-lo com outros povos e o próprio ecossistema

natural. Essa idéia mostra a necessidade de um ambiente de liberdade e olhar de

longo prazo para haver sustentabilidade (GUIMARÃES, 2001).

1.7.2 Formação da Unidade Econômica Familiar Extrativista

Pode-se considerar como o inicio da formação social da Unidade

Econômica Familiar Extrativista, entre o final do primeiro decênios e começo da

segunda grande guerra mundial no século XX, e com ela começa a diversificação

da nascente economia camponesa extrativista. Constituindo-se o embrião de

novas relações sociais e de produção que vão cimentar a formação de uma

sociedade local, com sua cultura e formas próprias de se relacionar com o Meio

Ambiente Natural e o Meio Ambiente Social.

As novas relações são compartilhadas pelos interesses da nascente

família seringueira e as do decadente sistema do “barracão”. Com a Unidade

Econômica Familiar Extrativista aparecem aspectos de produção de caráter

comunitário como os adjuntos, intensificando-se, ainda, a produção da castanha

do Pará, de produção de couros, agricultura de subsistência, criação de pequenos

animais, caça, pesca e continua a produção de borracha em menor quantidade;

mas não desaparecem totalmente as relações mercantis do sistema de

“aviamento” (OLIVEIRA, 1985).

Com o declínio do preço da borracha, no triênio 1909-1911, de 512

libras/toneladas para menos 100 libras, no final do decênio de 1910, (FURTADO,

Page 68: Os Madrugadores da Floresta

68

2007). A nascente família seringueira se sustenta na diversificação da base de

subsistência, dentro de um processo produtivo desenvolvido por unidades de tipo

familiar que vão garantir, ciclo a ciclo, a reprodução das condições de vida e de

trabalho, ou a reprodução dos produtores e da própria unidade de produção tal

qual interpreta Chayanov (1974).

Enquanto o seringalista abandona o barracão, por não conseguir a esse

nível de preço da borracha, manter seus privilégios sociais. Não se inclui nessa

análise o processo de acumulação de capital e inovação tecnológica por entender

que a economia da monocultura da borracha os inibia, assim, como não contribuiu

para desenvolver um mercado interno significativo a nível local

(WEINSTEIN,1993).

Para quem havia passado por mais de quatro decênios, vivendo no limite

físico e social, ao se verem livre das relações sociais imprimidas pelo “barracão”,

eis a oportunidade de substituir as regras do barracão, pelas da unidade de

produção familiar, ou como trata Gonçalves (2003) de afirmação do lugar dos

seringueiros autônomos.

No “vácuo” deixado pelos seringalistas, que organizavam a exploração da

monocultura da borracha e aviavam com mercadorias o consumo dos

seringueiros. Aparece a organização familiar ou os “camponeses florestais”, tal

com os nomeia Mauro Almeida, constituindo-se, assim, como os primeiros pilares

de uma nova sociedade, que vai dar sustentabilidade para a produção

extrativista/florestal diversificada, organizada pela Unidade Econômica Familiar

Extrativista, bem observado pela historiadora Cristina Scheibe Wolff apud

Gonçalves (2003): agora a unidade de produção era muito mais a família ou grupo

domestico do que o seringal e o patrão perderam muito do seu poder organizativo

de produção. (figura 5)

Page 69: Os Madrugadores da Floresta

69

Figura 5 - Construção social da identidade local. Relação: Natureza-Seringueiro-Produção Camponesa (consumo próprio com geração de excedente agrícola e de produção florestal). Entre os decênios de 1920 e início de 1940.

Fonte: Elaboração do autor

No período considerado na (figura 5), a relação física com a natureza foi

pouco alterada, em termos de área derrubada, mesmo tendo havia um incremento

das atividades produtivas agrícolas de caráter familiar, predominou o sistema

tradicional de derrubada-cultivo-pousio, sem transformação dos roçados em

pastos. O que houve, sim, foi uma queda brusca da produção de borracha,

somente o município de Xapuri, chegou a “exportar anualmente para o exterior três

milhões de Kilos de borracha”, relatório feito na primeira década do século XX,

tratando da instalação da intendência, em 3 de novembro de 1904 pelo Sr. Gentil

T. Norberto seu primeiro intendente, o mesmo relatório destaca que a lavoura não

foi esquecida (GONÇALVES, 2003).

Page 70: Os Madrugadores da Floresta

70

O que diminui é a circulação monetária com origem na monocultura da

borracha, no caso do Município de Xapuri, por ter sido um entreposto comercial de

abastecimento dos seringais do Alto Acre, havia uma pujança comercial que vai

criar as condições para se construir a primeira fabrica de castanha na região do

alto Rio Acre, no ano de 1928, funcionou até inicio da segunda guerra mundial,

dados colhido em entrevista com um dos filhos, de um dos proprietários.

Depois da queda do primeiro ciclo da borracha até inicio da segunda

guerra mundial são os momentos de maiores dificuldades de abastecimento com

mercadorias de consumo da família seringueira, sem animais para poder

transportar seus produtos, sem crédito junto a comerciante da cidade, com pouco

ou quase nenhum conhecimento do que estava acontecendo, onde os próprios

comerciantes tinham limitações para adquirir mercadorias e vender os produtos

nas cidades de Belém e Manaus, enfim, a rede econômica de aviamento do

“barracão” ficou debilitada.

A alternativa que restava ao morador da floresta era força de vontade e a

criatividade, para viver da diversidade da natureza e do trabalho humano

enfrentando a dura realidade em que ficou no interior da floresta. (GONÇALVES,

2003, p. 205) percebe e realça como essa realidade possibilitou uma nova forma

de organização social da produção extrativista:

Sem dúvida a colocação passa a ter uma importância que antes não tinha como locus de determinação da organização do espaço, local onde se estrutura(m) a(s) acreana(s), que se acabocliza(m), onde se pratica o agroextrativismo, com um extrativismo que diversifica, tendo assim uma pratica de auto-abastecimento subordinando a produção para o mercado que nunca deixo de estar presente, mesmo nos momentos de crise mais aguda nos preços da borracha [...]

Nesse período da vida nacional a ligação das “ilhas regionais” de

produção continuava muito tênue prevalecendo ainda as determinantes

econômicas de cada uma delas sendo dadas no exterior. No Acre, entretanto,

estudioso como Gonçalves (2003), insistem que nesse período se forjou, um

padrão de organização societário com características próprias. E, ressalta que os

Page 71: Os Madrugadores da Floresta

71

seringueiros começam, nessas duas décadas, a formar um complexo sistema de

relações com a floresta que ia muito além do extrativismo exclusivo da borracha.

É começo de uma alternativa de caráter endógeno, fundamentada na

lógica da reprodução familiar e da unidade produtiva e menos pela lógica

econômica estritamente mercantil. Embora mantenha uma lógica econômica

própria de tipo camponesa, se relaciona com o mercado não com objetivo, mas

para atender necessidades da Unidade Econômica Familiar extrativista.

1.7.3 Construção Social dos Projetos e Reservas Extrativistas

Figura 6 - Formação da territorialidade seringueira e da economia nacional, regionalmente localizada.

Fonte: Elaboração do autor.

Na urgente retomada da produção de borracha, para abastecer a

indústria bélica dos aliados na segunda guerra mundial, a organização da

produção da monocultura da borracha, fica novamente com os “coronéis de

barranco” que se articulam politicamente e retomam o comando dos seringais até

Natureza

Page 72: Os Madrugadores da Floresta

72

finais do decênio de 1960, quando novamente entra em decadência a economia

do barração. Por todo esse período os patrões, se beneficiam da organização

familiar em formação no interior dos seringais que, havia praticamente

abandonado desde finais do decênio de 1910, até a segunda grande guerra

mundial.

A permanência de relações sociais cerceadoras de qualquer

fortalecimento da produção familiar, ficando os benefícios econômicos e

institucionais criados pelo governo, exclusivamente para incentivar a produção da

borracha nativa Amazônica, com os “coronéis de barranco”32, tanto no esforço de

guerra, quanto na fase do nacionalismo econômico do governo de Getúlio Vargas.

Essa constatação, expressa a ausência de qualquer critério de inclusão da

organização econômica familiar do seringueiro, até mesmo como produtor

autônomo de borracha.

A territorialidade dos seringueiros iniciada com o aparecimento dos

seringueiros “autônomos”33, tem na família, na produção agrícola e na

diversificação da produção extrativista a base de sustentação. E vai ser essa

“autonomia” que cria as condições preliminares para a formação da sociedade

acreana (GONÇALVES, 2003; BASTOS, 1940).

Há uma contradição que no fundo comandou a sociedade acreana nesse

período, entre seringalistas e seringueiros. Do lado dos seringalistas foi favorecida

pela “ajuda política que explica as condições de sustentabilidade dos Coronéis de

Barranco, posto que o que dava suporte à produção de borracha era uma

economia que transcendia a lógica mercantil e que estava posta pelas famílias de

‘Camponeses Florestais’, como bem caracterizou Mauro Almeida (GONÇALVES,

2003)”.

Com o fim do monopólio da borracha, sobretudo com o fim do Banco de

Credito da Amazônia em 1967, o bloco histórico nacional, tem novos aliados,

agora são os grandes capitais de fora da região, internacionais ou do sul do país,

32 É uma alcunha colocada por políticos da região nos seringalistas arruinados. Depois de uma reunião em Manaus, em que deliberaram apresentar um memorial-apelo ao Presidente Vargas, em 21 de agosto de 1939 (BENCHIMOL apud GONÇALVES, 2003). 33 É aquele seringueiro que, não esta submetido às regras de qualquer patrão e tem como referência espacial a “colocação”, Gonçalves (2003). Por outro lado, Alegretti (2003) aponta que essa autonomia tem como suporte a natureza sociogeográfica da colocação-seringal, com a dispersão espacial e o isolamento; implicam em fazer sozinhos as diversas etapas do processo produtivo.

Page 73: Os Madrugadores da Floresta

73

para quem o Estado abrirá seu caixa através de isenções e outros subsídios com

explicito aval das agências multilaterais de fomento ao desenvolvimento por meio

de aportes político-financeiros (GONÇALVES, 2003).

A partir da década de 1970, seringueiros e seringalista, são diretamente

afetados, pelos novos aliados do Estado Nacional, através da expansão da frente

capitalista que ocupa economicamente a Amazônia. Os seringalistas não

ofereceram, de fato, nenhuma resistência ao novo processo econômico que se

abria na região. Ao contrário, novamente são favorecidos através da criação do

mercado de terras, alternativa criada para garantir o pagamento das dividas junto

ao Banco da Amazônia e facilitação da transferência do latifúndio seringalista aos

novos proprietários.

Nesse período, a concepção de desenvolvimento da ocupação da

Amazônia pelo grande capital é extremamente cruel e pode ser comparada ao que

Sen (2007), parafraseando Winston Churchill chamou de: “sangue, suor e

lagrimas”; como resposta a esse processo resulta o vigoroso movimento de

resistência dos seringueiros do Vale do Alto Acre, liderados pelas figuras de

Wilson Pinheiro e Chico Mendes (ambos assassinados).

A resistência nasce do social e do ambiental e oportuniza aos “de baixo”

falar sobre as potencialidades da região e do povo que nela vive. Criam-se as

primeiras janelas de oportunidade política para se iniciar um desenvolvimento de

caráter endógeno, e vai ser no final da década de 1980 e começo da outra, com a

institucionalização dos Projetos de Assentamento Extrativistas e Reservas

Extrativistas a retomada da produção florestal. Agora sob um regime de produção

camponesa, contrapondo-se ao chamado processo de produção agropecuário,

contido no interior das políticas de desenvolvimento que alcançam a região

acreana. Aqui se apresenta a necessidade de analisar a outra parte da história, ou

seja, o sistema produtivo camponês que germinou no interior da floresta e da luta

do povo seringueiro.

A ausência de um processo de acumulação na fase da monocultura da

borracha, conjugadas com outras limitações econômicas e de representação

política, impossibilitou a região Amazônica de aproveitar o gap da crise que abalou

a economia dos paises capitalistas centrais, no pós-guerra. O mesmo não ocorre

com a região do sudeste brasileiro, em que a ação estatal realiza a defesa dos

Page 74: Os Madrugadores da Floresta

74

interesses do café e direciona a economia para o mercado interno, sob a liderança

do setor industrial (FONSECA, 2007).

Na região do Acre, com a produção agropecuária empresarial, não se

dinamiza a economia regional carregando, ainda, restrições no aspecto político

que limitou qualquer possibilidade de ampliação de investimento, até mesmo na

produção de comoditties agrícolas no vale do Acre, ou em outros setores e regiões

da economia estadual.

Enquanto é no século XX, que se faz a mais profunda mudança na vida do

país. “O Brasil passa da condição de país primário exportador para um país de

base industrial importante. E, sobretudo, o mercado interno passa a comandar a

dinâmica econômica do país”. E, Oliveira apud Araújo (2005, p. 213) acrescenta

que o país deixa de ser organizado com base em “arquipélagos regionais para ter

uma economia nacional regionalmente localizada”.

1.7.4 Construção Social e Ambiental da Relação: Natureza-Seringueiro-Indústria

Figura 7 - Fortalecimento do Desenvolvimento Local, depois da constituição da relação: Natureza-Seringueiro-Indútria, no município de Xapuri, Estado do Acre, Brasil. A partir da década de 1990

NATUREZA

SERINGUEIRO

Vetor Naturo-Social

INDÚSTRIA

Fonte: Elaboração do autor.

Page 75: Os Madrugadores da Floresta

75

A formação da relação (natureza-seringueiro-indústria) constitui o vetor

“econômico” de uma totalidade formada por sujeitos sociais, que historicamente

vão edificando uma resistência social e ambiental de base local. Iniciada na

revolução acreana, que foi a primeira janela de oportunidade política para o

seringueiro recuperar e colocar em pratica seu conhecimento sobre o cultivo de

culturas agrícolas. Depois com a formação da família seringueira, a diversificação

da produção extrativista que resulta na formação dos chamados “camponeses

florestais”.

A resistência local continua com o Trabalho da Confederação de

Trabalhadores da Agricultura (CONTAG), Igreja Católica na constituição dos

sindicatos rurais que se ampliam no caso de Xapuri, com as alianças constituídas

para além dos limites territoriais, incluindo forças políticas locais, nacionais e

internacionais vinculadas a movimentos de caráter ambiental, intelectuais,

estudantis, partidos políticos em formação, segmentos da imprensa local e

internacional.

No final do decênio de 1990, o vetor “naturo-social” de caráter político,

foca suas energias para o processo de industrialização local, resultando em

melhores preços para os ativos oriundos do Meio Ambiente Natural produzido pelo

seringueiro “autônomo”. Processo que vai contribuir para o fortalecimento da

racionalidade ecológica e econômica da produção diversificada da Unidade

Econômica Familiar Extrativista (UEFE).

Num outro cenário, onde predominava o capital mercantil e as indústrias

da castanha estava localizada no Estado do Pará, a borracha era beneficiada

grande parte em outras regiões do país, a colheita da madeira não estava na

pauta da Unidade Econômica Extrativista (UEFE) e a política governamental

incentivava a produção agropecuária, restava como opção de sobrevivência da

(UEFE), a substituição do Meio Ambiente Natural pelo Transformado. Nessas

condições a natureza, era o elemento abundante e ilimitado de abastecimento de

indústrias e processos de beneficiamento de baixo valor agregado ao produto

regional.

Mesmo com lógicas de reprodução diferentes entre natureza,

seringueiro e a indústria, com a natureza fazendo parte de um ecossistema maior

que atende a sociedade humana em geral, portanto, mais amplo do que o

Page 76: Os Madrugadores da Floresta

76

prevalecente nos processos econômicos que determinam a reprodução monetária

do capital industrial distante inclusive da própria sociedade que “escapa cada vez

mais ao seu controlo” Jappe (2006). A indústria geograficamente localizada em

Xapuri vai contribuir significativamente com a manutenção da reprodução da

Unidade Econômica Extrativista e dos processos naturais, ainda, conservados no

interior do (PAE) Cachoeira.

A relação natureza-seringueiro-indústria se fortalece em condições

históricas especifica, como produto do vetor político “naturo-social” que consegue

“ter voz”, na contemporaneidade para integrá-la na articulação, entre conservação

e desenvolvimento que enfrenta os problemas de interesses empresariais e do

reducionismo economicista. Nas próprias ciências biológicas também se observa

um reducionismo em boa parte da ecologia que estuda as relações dos seres

vivos entre si e seu ambiente, excluindo os seres humanos desse ambiente, e com

eles qualquer componente social (GUDYNAS, 2004).

Representada na figura 4, a relação natureza-seringueiro inicialmente

separadamente da indústria e dos segmentos da cadeia mercantil da borracha,

para indicar de forma abstrata como a civilização dominante incorporou através de

relações capitalistas de caráter industrial, a natureza e o seringueiro como meio de

produção, ou seja, um produto meramente econômico, sem sujeitos sociais locais.

Aliás, até esse período mesmo nos paises industriais os sindicatos não haviam

começado a humanizar o processo capitalista. Já no período representado na

figura 7, é quando os madrugadores da floresta tomam consciência comunitária e

conseguem demarcar a territorialidade seringueira.

As Reservas e Projetos de Assentamento Extrativista e a autonomia do

seringueiro são os primeiros andaimes da territorialidade seringueira, que

condensa uma “totalidade” social e ambiental de construção local, confrontando-se

com a racionalidade econômica de mercado que tem se convertido num

mecanismo homogeneizante, hierarquizante e excludente, gerando processo de

desapropriação e marginalização social na exploração da natureza (LEFF, 2000).

Ao analisar historicamente a institucionalização da relação natureza-

seringueiro, dentro de uma área de conservação de uso coletivo, como no PAE

Cachoeira se encontra como produto de uma criação coletiva, possibilidades de

articulação entre o Meio Ambiente Natural e o Social, com menos custos para a

Page 77: Os Madrugadores da Floresta

77

natureza e menor penosidade do trabalho para o morador do lugar. Num momento

em que a solução para o desenvolvimento rural acreano passava pelo

reconhecimento, transferência e criação de um mercado de terra para as áreas

dos antigos seringais, tendo como novos proprietários pecuarista do centro-sul do

país, com tradição e incentivos para a monocultura agropecuária, ou seja, se

descartava no interior da política pública, a natureza e toda a cultura e a existência

do povo seringueiro.

A manutenção da relação natureza-seringueiro, passa pela

perspicácia políticas34 da liderança do movimento do seringueiro na medida em

que consegue manter a área original dos antigos seringais, sob controle público e

tornar o seringueiro concessionário da área “colocação” em que produziam

borracha para a indústria automobilística. No caso do (PAE) Cachoeira a área total

ficou em 24.967,30 e a área média por “colocação” em 277 hectares, para cada

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE).

Agora as condições objetivas em termos coletivo, no âmbito das

áreas de conservação, são colocadas com maior clareza, onde os limites à

espécie humana são dados pelos próprios moradores como mostra o Termo de

Compromisso (anexo 5) que define as regras de colheita do fruto madeireiro, no

PAE Cachoeira. O que se observa na pratica comunitária do movimento dos

seringueiros, é o equacionamento entre as necessidades da família e da unidade

produtiva, com uma gestão apropriada do ecossistema e não somente com o

recurso. Enquanto que nas grandes áreas sob controle privado são poucas as

possibilidades de um planejamento com base em ecossistema, pois, “el ejercicio

total de la propiedad privada es virtualmente imposible en un contexto de

ecosistema” (REGIER apud ALCÁNTARA; KLINT, 1994).

A novidade da relação natureza-seringueiro-indústria consiste, no

deslocamento da indústria para próximo das áreas de produção, que estão com

situação fundiária definida sob controle público e em regime de concessão para os

seringueiros. Na verdade com a conquista das áreas de conservação (RESEX e

PAE) se materializa a autonomia e os seringueiros, manejando meios de produção

e criando relações de produção de caráter horizontal na oferta de matéria-prima

das indústrias. Essa situação, muito embora seja o caminho seguido pela indústria

34 Maciel (2007)

Page 78: Os Madrugadores da Floresta

78

florestal nacional e internacional (KATZ E BERCOVICH, 2003), a adoção de um

modelo de cooperação horizontal direto e de desenvolvimento de sinergias locais

pode ser promissora para a relação mercantil entre seringueiro-indústria.

2. RESULTADOS ALCANÇADOS PELA RESISTÊNCIA DOS MADRUGADORES DA FLORESTA

2.1 A Conquista do Acre

É muito difícil penetrar no âmago da natureza e no coração dos

moradores de um território que Bastos (1940), denominou de dois impressionantes

vales e um triângulo florestal de 164.220 (cento e sessenta e quatro mil, duzentos

e vinte quilômetros quadrados), compreendidos no prolongamento dos vales dos

rios Juruá e Purus.

Esses dois rios, que nascem dos contrafortes andinos, fluem quase

paralelamente, identificados pelos aspectos naturais e vão permitir alcançar terras

distantes. Seguem unidos segundo Tocantins (1960), para o mesmo destino

econômico:

[...] as drogas do sertão e a borracha que definiram o impulso desbravador, a partir das primeiras décadas do século XIX, criando condições existenciais para uma sociedade que ali se estabeleceria.

Em 1866 é superada a fase geográfica de descobrimento do Purus e do

Acre, abrindo esses caminhos até então considerados perigosos e desconhecidos

aos ensaios da colonização. Estiveram João Rodrigues Cametá, Serafim Salgado

e Manoel Urbano da Encarnação, considerados os primeiros a chegarem no Rio

Purus, Leandro Tocantins (1960).

A ocupação econômica e social do rio Acre é sentida desde 1887,

(LABRE Apud TOCANTIS):

[...] Este rio é um dos afluentes mais populosos do Purus, exporta hoje em goma-elástica 500.000 quilos. Em pouco tempo

Page 79: Os Madrugadores da Floresta

79

aumentará sua produção. A sua população é de 10.000 almas, sem incluir os aborígines que ao duplo. O seu comercio é feito por mais de 15 grandes vapores que, durante a cheia, fazem a navegação do rio, levando anualmente novos trabalhadores e mercadorias.

Arthur Cezar Ferreira Reis considera não apenas admirável no Acre, a

operação contra a floresta e destaca como fundamental o trabalho das sociedades

que forjaram o Acre, fizeram sem que o Estado houvesse planejado, de qualquer

modo, a ocupação da terra e a modificação daquelas energias atuantes. Não

esquecendo feitos como a luta contra o estrangeiro a que o Brasil, numa

obediência à letra de tratado que assinara com desconhecimento total do que

ocorria no interior da Amazônia, reconhecia o direito de soberania sobre o espaço

do Purus-Acre e Juruá para o Estado Boliviano.

O que nos faz concluir que realmente o drama do Acre, nessa primeira

fase, não pode se limitar à conquista da floresta, mas na construção social de

decisões que forçaram o poder público a encontrar soluções adequadas e

oportunas. Tanto na delimitação do território do Estado do Acre, no inicio do século

XX. Como depois na década de 1980, reconhecendo a territorialidade seringueira

delimitada fisicamente pelas Reservas e Projetos Extrativistas, inseridas no interior

da política de Reforma Agrária do governo nacional, sob forte pressão política do

movimento social e ambiental, protagonizado pelos madrugadores da floresta.

Para Tocantins (1960), o século XIX baniu da Amazônia a idéia de

fantásticas Manoás,

a riqueza sonhada estava, na realidade, na exploração da floresta e no cultivo da terra. Os novos processos sociais, frutos de idealizações coletivas universais, trariam outras imagens e símbolos para estimular a economia regional.

2.2 Demarcação da territorialidade seringueira em Xapuri

No território do município de Xapuri, começou a se concretizar o que

Tocantins conseguiu prever sobre a conjugação de forças coletivas universais. De

uma experiência particular os “empates”, se desesconde ou como fala Celso

Furtado se desoculta os componentes sociais e econômicos que faltava ao

Page 80: Os Madrugadores da Floresta

80

movimento ambiental, para fazer a defesa das florestas tropicais (ALLEGRETTI,

2003).

Forçando novamente, o Estado Nacional, ainda, no século XX, a

reconhecer a territorialidade seringueira, delimitadas fisicamente pelas Reservas

Extrativistas e Projetos de Assentamentos Extrativistas; politicamente pelos

Sindicatos, Federações de Trabalhadores, Conselho Nacional dos Seringueiros e

suas alianças com Organizações Não Governamentais e governos progressistas e

mais recentemente no âmbito econômico pelo incipiente processo de

industrialização local.

Dessa forma a permanência do seringueiro na floresta, as áreas de

conservação e o processo de industrialização se constituem numa conquista

histórica dos “madrugadores da floresta” demarcando uma racionalidade que pode

contribuir na sustentação do modo de vida no interior da floresta. Como uma

resposta à exclusão nas políticas governamentais de reforma agrária (projetos de

colonização) e de meio ambiente (áreas de preservação).

São dois os momentos em que a região correspondente ao Estado do

Acre é colocada na agenda nacional, com Galvez no inicio do século XX, Costa

(1940) e que resultou na anexação do Acre ao território brasileiro; e com o

movimento dos seringueiros, liderado por Chico Mendes, transformando um

problema local em questão de Estado e em tema internacional, culminando com o

inicio da institucionalização da territorialidade seringueira (Projetos e Reservas

Extrativistas) e a inserção das questões sociais nas políticas ambientais e de

desenvolvimento (ALLEGRETTI, 2003).

Ao mesmo tempo, o movimento dos seringueiros oportuniza a união de

forças políticas do lugar, com a abertura de “janelas de oportunidades políticas”,

que forçam novamente a implosão de contradições, aflorando fendas no seio do

sistema político local, provocando divisões das elites políticas, aparecendo aliados

para os descontentes de fora do sistema (TARROW, 1997). Aliás, no Acre, é o

conjunto de forças vindas das elites e daqueles que faziam parte do confronto, que

conduzem o sistema político estadual, depois do final da segunda metade do

decênio de 1990.

Quando se observa o potencial econômico local, a conquista das áreas

de conservação (Reserva Extrativista Chico Mendes e Projetos de Assentamento

Page 81: Os Madrugadores da Floresta

81

Extrativista) representa um total de 1.100.530 hectares, com 2.200 famílias

assentadas, área media por “colocação” de 528 hectares (tabela 4), todas

distantes num raio inferior a 200 Km, das industrias localizadas em Xapuri.

Tabela 1 - Base de Ativos Florestais Comunitária em Áreas de Conservação Próxima à Região de Xapuri, Estado do Acre, Brasil - 2007.

UNIDADE Área (ha)

MUNICÍPIO SITUAÇÃO Reserva Extrativista Chico Mendes 976.570 Xapuri/Sena/Brasiléia

Inicío Manejo - 2004

Assent. Extrativista São Luis 39.570 Capixaba Operando - Certificado FSC

Assent. Extrativista Chico Mendes (Cachoeira) 24.898 Xapuri

Operando - Certificado FSC

Assent. Extrativista Santa Quitéria 44.205 Brasiléia/Assis Brasil

Inicío Manejo - 2004

Assent. Extrativista Porto Rico

7.530 Epitaciolândia Inicío Manejo - 2005

Assent. Extrativista Equador 7.757 Xapuri Operando - Certificado FSC

TOTAL 1.100.530

Fonte: Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre, Fase II.

Os Projetos de Assentamentos Extrativistas (PAE) e Reservas Extrativistas

RESEX), aportam uma nova compreensão do papel da propriedade coletiva na

floresta tropical Amazônica, fruto do reconhecimento da demanda do movimento

dos seringueiros por uma política de reforma agrária diferenciada em áreas

habitadas por populações tradicionais. Esse cenário supera a concentração de

terra em mãos de um pequeno grupo de proprietários rurais beneficiados

historicamente para Furtado (1983), pelas políticas de governo.

Dessa forma, as áreas de conservação de uso coletivo (PAE E RESEX)

asseguram que a política agrária seja mais igualitária. E ao mesmo tempo,

permitem pensar alternativas de políticas publicas que conservam a integridade

dos ecossistemas35 naturais e das comunidades tradicionais, permitindo ainda, um

processo de industrialização sem descamponização36 e até de recamponização

35 É o conjunto de organismos vivos e seu ambiente não-vivo (abiótico) que estão inseparavelmente inter-relacionados e interagem entre si. Este nível de organização deve ser nossa primeira preocupação se quisermos que a nossa sociedade inicie a implementação de soluções holísticas para os problemas que estão aparecendo agora ao nível do bioma e da biosfera (ODUM, 1988). 36 Proposta do economista egípcio Ismaïl Sabri apud Sachs, (2004) para aqueles países ou regiões que tem fronteira rural a explorar.

Page 82: Os Madrugadores da Floresta

82

como se observou no (PAE) Cachoeira, no decorrer do trabalho de campo da

presente pesquisa.

No caso das indústrias localizadas em Xapuri, toda a iniciativa de

elaboração do projeto e implantação teve motivação originada pelo movimento dos

seringueiros, com todo apoio da política publica estadual e municipal, estendida

desde as fábricas de castanha, preservativo e piso de madeira. A fabrica de

castanha foi cedida para a Cooperativa Agroextrativista de Xapuri; a de

preservativo é coordenada pela Fundação de Tecnologia do Acre( FUNTAC); a de

piso é uma experiência de concessão publica realizada com o setor privado e a

Cooperfloresta que representa o setor comunitário.

Na sede do Pólo de Industria Florestais de Xapuri, também conta com a

fabrica de moveis AVER Amazônia e a Escola Carlos Castiglionne que se encontra

sob coordenação do Instituto de Educação Dom Moacyr Gretti.

2.2.1 Localização geográfica da Relação: natureza-seringueiro-industria

O mapa que segue localiza territorialmente a conquista local dos

“madrugadores da floresta”, desde começo do século XX, as bases dessa nova

realidade social de interesses difusos. Como destaque o mapa do Estado do Acre,

o município de Xapuri, o Projeto de Assentamento Extrativista Cachoeira, os

investimentos industriais e o porto seguro do seringueiro a “colocação”, lugar em

que se desenvolve parte da pesquisa ora apresentada. Outras informações sobre

o município de Xapuri seguem para melhor situar a realidade sócio-econômica do

lugar.

População estimada: 14.314 habitantes (2007)

Urbana: 8.198

Rural: 6.116

Domicílios urbanos: 2.947 (2007)

Domicílios rurais: 1.591 (2007)

Criação do município 23 de outubro de 1912.

Localização: Região do Vale do Acre.

Altitude: 150 metros.

Longitude: 10° 39’ 06” Sul.

Page 83: Os Madrugadores da Floresta

83

Área da unidade territorial: 5.251 Km²

Densidade demográfica: 2,72 h/Km²

Limites: Limita-se ao norte com o município de Rio Branco, ao sul com o município

de Epitaciolândia, a leste com o município de Capixaba, a oeste com o município

de Sena Madureira e a sudoeste com o município de Brasileira.

Clima: Quente com período chuvoso de 5 meses – novembro a marco.

Temperatura média anual: 26,5°C

Fuso horário: -1 hora do horário de Brasília.

Acesso rodoviário: BR-317, totalmente pavimentada.

Distancia da Capital: 183 Km.

Economia: Indústria moveleira, piso, preservativo, beneficiadora de castanha e um

pequeno frigorífico local.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

Page 84: Os Madrugadores da Floresta

84

Figura 8 - Localizando o Estado do Acre, o Município de Xapuri, o Projeto de Assentamento Chico Mendes, denominado no presente trabalho de Cachoeira e as indústrias junto com o pólo moveleiro.

Fonte: Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre – IMAC.

Page 85: Os Madrugadores da Floresta

85

2.3 Análise comparativa entre o projeto de assentamento extrativista Cachoeira e o projeto de assentamento dirigido Humaitá

Essa seção do trabalho explora a experiência de dois Projetos de

Assentamento Rural, com históricos diferentes tanto na criação institucional, como

de intervenção no Meio Ambiente Natural, ambos executados pelo Instituto de

Reforma Agrária (INCRA): um relacionado com a agricultura, Projeto de

Assentamento Dirigido Humaitá, outro com o extrativismo Projeto de

Assentamento Extrativista Cachoeira. Considerando as atividades produtivas nos

dois projetos, se observa o custo físico da natureza e a penosidade do trabalho

que resulta do processo econômico com o manejo dos meios de produção - Força

de Trabalho Familiar e Natureza.

Para a análise econômica, toma-se como base a pesquisa recente de

Análise Econômica dos Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural do Estado

Acre, da Universidade Federal do Acre, Departamento de Economia -

ASPF/UFAC, conjugadas com informações de desmatamento coletadas junto ao

Instituto de Meio Ambiente do Acre (IMAC) e de concentração fundiária e

mobilidade da população, coletadas junto ao (INCRA), trabalhos acadêmicos e

visitas diretas nas áreas pesquisadas.

Utilizando essa base de dados, se apresentam as diferenciações

econômicas, sociais, ecológicas e culturais desses dois modelos de assentamento

humano no Acre rural, onde se identificam os produtos que oferecem melhores

resultados, causas e deficiências diferenciadoras do conjunto de atividades

produtivas praticadas por unidades econômicas de tipo familiar, assentadas nos

dois projetos.

2.3.1 Histórico do Projeto de Assentamento Dirigido - PAD Humaitá37

A política de colonização dirigida pelo governo brasileiro, que

acompanhava a expansão do capitalismo para a Amazônia, no decênio de 1970,

37 Esse projeto chamado inicialmente de Projeto de Assentamento Dirigido, foi desapropriado por interesse social, pelo governo federal, através do Decreto-Lei 85.187 de 22 de setembro de 1980 e confirmado pela resolução n° 117 de 08 junho de 1981.

Page 86: Os Madrugadores da Floresta

86

no Acre, teve como mais um ensaio o Projeto de Assentamento Dirigido Humaitá.

Os projetos de colonização eram os meios encontrados para amenizar conflitos

sociais que emergiam no mundo rural brasileiro.

A área total do projeto foi inicialmente de 63.861 hectares, dividida em

946 lotes de 50 a 150 ha, absorvendo 234 famílias de origem local, o restante dos

lotes foi destinado para moradores provenientes de outras regiões do país.

Localizado a 33 Km da cidade de Rio Branco, ao longo da Rodovia

Estadual AC-10, que liga o município de Rio Branco ao de Porto Acre. Esta

rodovia foi completamente asfaltada. A parte leste do projeto é tangencialmente

cortado pela BR-317 que liga o município de Rio Branco ao de Boca do Acre

trecho também asfaltado. Conta, também, com o Rio Acre que oferece acesso

para algumas famílias ribeirinhas.

Existem no Projeto 21 linhas (ramais) que interligam as 946 parcelas,

perfazendo um total de 226 Km de estradas trafegáveis e 43 Km de asfalto

beneficiando toda a linha-01, a linha-04 e AC-10 que corta a área do projeto no

meio. Esta quantidade de estradas facilita, consideravelmente, o acesso dos

parceleiros às suas áreas, beneficiando-os no momento do escoamento da

produção, como também, na valorização da terra.

A evolução histórica do desmatamento, expressa o custo físico da

natureza que resulta da ocupação das atividades agropecuárias no (PAD)

Humaitá.

Page 87: Os Madrugadores da Floresta

87

Tabela 2 - Histórico de Desmatamento do Projeto de Assentamento Dirigido Humaitá, Acre, Brasil - 1988/2006.

Ano Hectares %Desmatamento

Desmatamento Cumulativo

1988 13.408,0 21,3 21,3 1994 9.568,9 15,2 36,5 1995 5.303,6 8,4 44,9 1996 1.422,5 2,3 47,2 1997 937,9 1,5 48,7 1998 719,1 1,1 49,8 1999 1.192,7 1,9 51,7 2000 2.662,8 4,2 56,0 2001 1.158,9 1,8 57,8 2002 1.843,4 2,9 60,7 2003 1.896,7 3,0 63,7 2004 1.374,6 2,2 65,9 2005 1.690,2 2,7 68,6 2006 567,99 0,9 69,84 Área Total 62.928,211

Fonte: Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre – IMAC.

2.3.2 Analise do Desempenho Econômico da Produção Agropecuária do PAD - Humaitá

Na (tabela 3), a Renda Bruta (RB) das unidades econômicas familiares

agrícolas do (PAD) Humaitá é constituída por 80,86% dos produtos oriundos do

Meio Ambiente Transformado. Os principais produtos que formam esse valor

relativo da (RB) são: 44,37% da criação de gado bovino; 14,47% pela produção de

macaxeira e 7,25% pela produção de macaxeira/farinha. Contudo, somente a

produção de gado bovino tem quantidade media produzida superior ao Ponto de

Equilíbrio (PE), tabela 4.

Mesmo tendo uma Renda Bruta (RB) vinda da criação de gado bovino

superior ao custo de produção e Índice de Equilíbrio Econômico de 1,28, portanto,

favorável para a produção desse produto (tabela 4). Quando se observa o conjunto

da unidade produtiva familiar do PAD Humaitá, o resultado do valor monetário

disponível, representado pela Margem Bruta Familiar (MBF) de R$ 517,69; com

esse resultado econômico a família assentada fica impossibilita de cobrir parte das

necessidades que devem ser atendidas pelo mercado, representada pela Linha de

Page 88: Os Madrugadores da Floresta

88

Dependência do Mercado (LDM) que é de R$ 941,47 (tabela 11).

O déficit de R$ 423,78 apresentado acima mostra a fragilidade econômica

da produção familiar no PAD Humaitá, haja vista a representação da Renda Bruta

(RB) ser constituída em 66% por três produtos (Criação de gado bovino,

macaxeira e macaxeira/farinha) que apresentam baixo desempenho econômico,

quando comparado com produtos como abacaxi e maracujá que têm Índices de

Eficiência Econômica (iee)38 e quantidade produzida superior ao ponto de

equilíbrio, porém, representam somente 4,84% da Renda Bruta da unidade familiar

(tabela 3 e 4).

Tabela 3 - Principais Produtos Geradores de Renda Bruta, PAD Humaitá, 2005/2006, Acre/Brasil.

Linha de Exploração

% Geração de Renda Bruta

CRIAÇÃO DE GADO BOVINO 44,37%MACAXEIRA 14,47%MACAXEIRA/Farinha 7,25%MILHO 3,43%CRIAÇÃO DE AVES

3,37%CARVÃO 3,13%ABACAXI 2,60%MARACUJA

2,24%Fonte: ASPF (2008)

38 Índice de Eficiência Econômica (IEE): é a relação que indica a capacidade de a unidade de produção familiar gerar valor por unidade de custo. É um indicador de benefício/custo do conjunto da unidade de produção. IEE > 1, a situação é de lucro; IEE < 1, a situação é de prejuízo; IEE = 1, a situação é de equilíbrio, ASPF/2008.

Page 89: Os Madrugadores da Floresta

89

Tabela 4 - Desempenho Econômico dos Principais Produtos, PAD Humaita, 2005/2006, Acre/Brasil

Linha de Exploração RB CTLE

MBF

MBF/Qh/d

IEE

Preço

Qtde PE

ABACAXI 510,00 278,06 471,34 77,79

2,00

1,15 5.400,00 2.838,09

CARVÃO 237,50 203,93 174,80 99,42

1,04

1,25 2.400,00 1.756,88

CRIAÇÃO DE AVES

33,33 27,56 28,89 12,14

0,63

10,00 50,00 38,39

CRIAÇÃO DE GADO

196,00 108,63 182,51 69,81

1,28

200,00 15,00 8,48 MACAXEIRA 110,00 132,08 103,18 38,93

0,86

0,40 2.500,00 3.607,79 MACAXEIRA/Farinha

146,67 126,53 127,70 42,71

1,67

0,40 3.700,00 4.504,29 MARACUJA 129,17 35,71 124,57 165,43

3,14

2,50 650,00 190,59 MILHO 25,00 39,71 20,00 0,97

0,42

0,40 750,00 1.191,18 Obs.:* Relativo ao período 2005/2006; MBF/Qh/d - Remuneração diária da força de trabalho familiar; MBF - Margem Bruta Familiar; RB - Renda Bruta; IEE - Índice de Eficiência Econômica; CTLE - Custo Total; CPU - Custo Unitário; QTDE - Quantidade vendida; PICT - Ponto de Igualação ao Custo Total Fonte: ASPF (2008)

Visto por outro ângulo, o somatório do valor monetário dos três principais

produtos comercializados pela unidade produtiva familiar do PAD Humaitá somam

uma Margem Bruta Familiar (MBF) igual a R$ 413,39, enquanto que a somatória

da comercialização dos produtos abacaxi e maracujá alcançam uma (MBF) de R$

595,91 / mês, (tabela 4). Ou seja, operacionalizando a diferença resulta em R$

182,52/mês, esse valor significa a perda do produtor, que pode ser produto da

precariedade de informações, na tomada de decisões para a escolha da melhor

alternativa de produção de mercadorias. Esse resultado compromete a

remuneração dos meios de produção (Força de Trabalho Familiar (FTF), Insumo

Doméstico ID e Dinheiro – D), deixando a unidade produtiva em condições

deficitária, ao iniciar a próxima safra.

Ao permanecer como opção de investimento, nas unidades econômicas

familiares, atividades que não otimizam seus meios de produção, como predomina

no (PAD) Humaitá, a tendência é acompanhar a valorização da terra pela via da

ampliação da pastagem, para posterior valorização do lote e sua conseqüente

negociação. Essa pode ser uma das razões do desmatamento até o ano de 2006,

de 69,84% da área total; trazendo como conseqüência uma rotatividade de

parceleiros, até o ano de 1996, de 2.052 famílias nas 946 parcelas do projeto.

Constatando-se que somente 20% dos lotes estavam ocupados por famílias

assentadas desde a implantação do projeto e que havia uma concentração de 249

Page 90: Os Madrugadores da Floresta

90

parcelas nas mãos de 89 ocupantes, ou seja, temos um tamanho da parcela de

189 hectares (MEIRELES, 1998).

Como se observou acima, no (PAD) Humaitá, acontece uma forte tendência

de concentração da estrutura fundiária, com (reforma agrária às avessas)

comprova ao mesmo tempo, a tese da “Regla del Notário” representada no gráfico

1, em que são os pobres que realizam o desmatamento (custo físico) sem usufruir,

do suposto processo de valorização monetária advinda do aumento da escala da

produção de gado bovino. Ficando como opção para o assentado da reforma

agrária em projetos de colonização a limpa física e social da área com alto custo

físico da natureza e valorização monetária crescente, para que os chamados

“ricos” conduzam o processo produtivo (NAREDO e VALERO,1999).

2.3.3 Histórico do Projeto de Assentamento Extrativista – PAE “Chico Mendes”, Conhecido como PAE Cachoeira

Conhecido como Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Cachoeira,

marca o inicio de uma mudança institucional na concepção de reforma agrária,

necessária para a realidade física e social de parte do território amazônico que tem

na floresta o principal sustentáculo de sua economia. O Estado, ao reconhecer no

interior da política nacional de reforma agrária a posse extrativista e permitir

assentamentos diferenciados, como os “Projetos de Assentamento Extrativistas”,

passa a oferecer na região de Xapuri, condições materiais para o inicio de uma

industrialização intensiva em ativos florestais, onde em grande parte esses

recursos estão sob domínio dos seringueiros.

O Seringal Cachoeira, conhecido originalmente como Seringal Mucuripe, de

acordo com entrevista com os moradores, nos últimos noventa anos, esteve

continuamente ocupado. Transformado em Reserva Extrativista inicialmente por

vontade própria dos seringueiros, em reação aos primeiros Projetos de

Assentamentos Extrativistas criados fora da área de maior conflito fundiário do

Estado do Acre, Xapuri. Macauã, Município de Sena Madureira; Santa Quitéria

Page 91: Os Madrugadores da Floresta

91

(Brasiléia) e São Luis do Remanso (entre Rio Branco e Xapuri) hoje município de

Capixaba. Somente em 31 de julho de 1988 que o seringal cachoeira foi

transformado em Projeto de Assentamento Extrativista (PAE).

Com uma área total de 24.967,3 hectares (tabela 5), distribuídas para 87

famílias. As atividades econômicas do (PAE) Cachoeira, conforme relatório de

exploração, realizado em maio de 2005, pela Coordenação de Extrativismo e

Floresta, do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), a área de capoeira era

de 570 ha., área de pastagens de 745,25 ha., agricultura de 137 ha. (tabela 8).

Contando, ainda, com 307 estradas de seringa, a produção de borracha de 19.920

quilos/ano e de castanha de 18.349 latas39 de castanha do Brasil / ano.

Localizado a 32 km da cidade Xapuri, conectado com a Rodovia BR-317,

trecho Brasiléia / Xapuri, através dos ramais Cachoeira com extensão de 16 km e

ramal Porto Rico 18 km, internamente cortado pelo ramal do chora Menino e do

Manoel Ramalho, toda a extensão dos ramais são de terra e oferecem poucas

condições de trafegabilidade no período invernoso.

Na evolução histórica do desmatamento do PAE Cachoeira, se observa

uma tendência crescente, porém, na medida que se introduz uma política de

ampliação da diversificação industrial dos ativos florestais, esse processo começa

a dar sinais de mudança na forma de uso do Meio Ambiente Natural, no interior do

PAE.

39 Uma lata castanha corresponde aproximadamente a 10 quilos de castanha com casca.

Page 92: Os Madrugadores da Floresta

92

Tabela 5 - Evolução do Desmatamento no Projeto de Assentamento Extrativista - Cachoeira, 2007, Acre/Brasil.

Ano Hectares %Desmatamento

%Desmatamento

Cumulativo 1988 558,39 2,2 2,2 1994 178,47 0,7 3,0 1995 93,19 0,4 3,3 1996 63,48 0,3 3,6 1997 34,33 0,1 3,7 1998 32,31 0,1 3,8 1999 146,29 0,6 4,4 2000 192,69 0,8 5,2

2001 387,11 1,6 6,8 2002 46,11 0,2 6,9 2003 433,06 1,7 8,7 2004 203,34 0,8 9,5 2005 197,49 0,8 10,3 2006 148,41 0,6 11,04

Área Total 24.967,30

Fonte: IMAC (2008)

2.3.4 Diferença do Custo Físico da Natureza entre o (PAE) Cachoeira e (PAD) Humaitá

A evolução do desmatamento (gráfico 4) expressa formas diferentes de

integrar processos econômicos com os ecológicos e as necessidades

comunitárias, realizadas pelas unidades econômicas de tipo familiar. A expansão

do Meio Ambiente Transformado para a criação de gado bovino nos dois projetos

acompanhava a política publica incentivada pelo Estado para a região do Acre,

consequentemente, seguida pelas unidades produtivas de origem familiar no

mundo rural acreano

Page 93: Os Madrugadores da Floresta

93

Gráfico 4 - Evolução do Desmatamento no PAE Cachoeira e PAD Humaitá, 1988/2006, Acre/Brasil

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

1988 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Anos

% D

esm

tam

ento

PA Humaitá

PAE Chico Mendes

Fonte: IMAC.

O crescimento do desmatamento no (PAD) Humaitá mostra que as

necessidades humanas do camponês desconhecem as leis que limitam o

desmatamento. Na ausência de alternativas para suprir suas necessidades as

unidades econômicas de produção familiar, começam o processo de substituição

da floresta, primeiramente cultivando grãos para suprir o autoconsumo. Depois

segue o pasto, feito o pasto começa o povoamento com gado bovino que deveria

cobrir as demandas de bens de consumo e serviços comprados no mercado. Aí

começam os problemas para a sustentabilidade da unidade produtiva familiar,

quando persiste na produção agropecuária como objetivo para alcançar a

reprodução familiar.

Page 94: Os Madrugadores da Floresta

94

2.3.5 Analise do Desempenho Econômico das atividades produtivas no Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Cachoeira.

No intercâmbio ecológico com o Meio Ambiente Natural e o econômico com

o Meio Ambiente Social realizado pelas Unidades Econômicas Familiares

Extrativistas (UEFE) do (PAE) Cachoeira, percebe-se, que 81,30% da Renda Bruta

(RB)40 tem origem na colheita dos frutos do Meio Ambiente Natural (MAN) e

somente 15,39% da (RB) no Meio Ambiente Transformado (MAT), tabela 6.

Ressaltando que o valor relativo de 15,39% é constituído somente com a criação

de gado bovino, que apresenta Índice de Eficiência Econômica41 de 0,30, portanto,

deficitária; confirmado, ainda, pelo Ponto de Equilíbrio42 igual a 3, enquanto que a

quantidade produzida é de apenas 2, (tabela 7).

Tabela 6 - Principais Produtos Geradores de Renda Bruta, (PAE) Cachoeira, 2006/2007, Acre/Brasil

Linha de Exploração % Geração de Renda Bruta

CASTANHA 58,70%MADEIRA 22,61%CRIAÇÃO DE GADO BOVINO 15,39%Fonte: ASPF (2008)

Observando o desempenho econômico por produto, tem-se que a criação

de gado bovino se constitui no produto que a Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) oferta no mercado com menor retorno financeiro, como se

evidencia pela representação da Margem Bruta Familiar (MBF)43 equivalente a R$

66,67/mês; enquanto que os ativos florestais (látex, castanha e madeira

40 Renda Bruta (RB): valor da produção destinada ao mercado, ASPF/2008.

41 Índice de Eficiência Econômica (IEE): é a relação que indica a capacidade de a unidade de produção familiar gerar valor por unidade de custo. É um indicador de benefício/custo do conjunto da unidade de produção. IEE > 1, a situação é de lucro; IEE < 1, a situação é de prejuízo; IEE = 1, a situação é de equilíbrio, ASPF/2008. 42 Representa a quantidade de produção mínima, a um dado nível de preços de mercado, necessária para cobrir os custos totais, ASPF/2008. 43 Margem Bruta Familiar (MBF): é o resultado líquido específico e próprio para indicar o valor monetário disponível para a subsistência da família, inclusive uma eventual elevação do nível de vida, se o montante for suficiente. Em situações favoráveis, poderá ser suficiente para ressarcir custos fixos, especialmente a exigência mínima de reposição do patrimônio. Cumpridas estas funções, a disponibilidade restante pode ser usada como capital de giro, ASPF/2008.

Page 95: Os Madrugadores da Floresta

95

certificada) somados alcançam uma (MBF) equivalente a R$ 970,96/mês, (tabela

7).

Outra informação importante encontrada na comercialização dos ativos

florestais e na criação de gado bovino, consiste na apropriação da renda medida

pela relação MBF/RB44 por parte do seringueiro próximo de 1, mesmo na criação

do gado bovino a medida fica em 0,92; (tabela 7). Esse indicador mostra certa

autonomia da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), em relação ao

mercado.

Tabela 7 - Desempenho Econômico dos Principais Produtos, no (PAE) Cachoeira. Incluindo simulação na Introdução da Tecnologia (MODEFLORA), na Elaboração do Plano de Manejo Florestal Sustentável, feito pela Unidade Econômica Familiar Extrativista, 2006/2007, Acre/Brasil.

Quando se analisa pela ótica da remuneração da Força de Trabalho

Familiar (FTF) na criação de gado bovino o valor monetário da relação MBF/Qh/d45

R$ 21,54 (tabela 7), representa o menor pagamento da mão-de-obra, pela

44 Relação MBF/RB: é a relação mais apropriada para medir a eficiência econômica da produção familiar, pois mostra que proporção de valor a unidade de produção tornará disponível para a família por cada unidade de valor produzido. Uma relação superior a 50% é considerada favorável, ASPF/2008.

45 Relação MBF/Qh/d: é o índice de remuneração da força de trabalho familiar. Mostra a quantia de margem bruta gerada por unidade de trabalho familiar (1 h/d = 1 jornada de trabalho). O valor deve ser comparado com o preço de mercado da força de trabalho. Qh/d = quantidade de força de trabalho utilizada no ciclo produtivo da linha de exploração ou a quantidade total anual de força de trabalho familiar utilizada pela unidade de produção, ASPF/2008.

Linha de Exploração RB CTLE MBF MBF/Qh/d

MBF/RB IEE CPU Preço Qtde PICT

LÁTEX 210,00

82,50

203,40

32,12 0,97

2,55

1,38

4,40

300,00

118,00

CASTANHA 397,08

235,22

388,41

50,25 0,99

1,47

7,29

10,00

476,50

282,27

MADEIRA CERTIFICADA 30 h/d

379,17

95,67

379,15

303,32 1,00

4,94

26,34

130,00

35,00

8,83

MADEIRA CERTIFICADA 12 h/d

379,17

40,67

379,16

1.137,40

1,00 11,79

11,02

130,00

35,00

0,00

CRIAÇÃO DE GADO BOVINO

66,67

50,40

66,67

21,54 0,92

0,30

169,35

400,00

2,00

3,00

Fonte: ASPF (2008)

Page 96: Os Madrugadores da Floresta

96

Unidade Econômica familiar Extrativista (UEFE). Esse valor se aproxima ao da

remuneração da mão-de-obra sem qualificação, oferecida pelo mercado regional.

No entanto, novamente a remuneração na criação de gado bovino é inferior aos

das atividades florestais. Esse índice mostra, ao mesmo tempo, que nas condições

econômicas predominantes no interior do (PAE) Cachoeira, as atividades

econômicas desenvolvidas pela Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE),

concorrem com outras atividades econômicas rurais e urbanas, na atração da

mão-de-obra local. Daí uma importante evidencia do ponto de vista econômico,

que muito contribui com o processo de recamponização encontrado na pesquisa

de campo do trabalho ora apresentado.

Depois de introduzir no sistema extrativista a colheita do fruto madeireiro

feito através de um Plano de Manejo Florestal Sustentável, organizado pela

Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), associada com o processo

industrial local, percebe-se um deslocamento da ocupação da Força de Trabalho

Familiar (FTF), das atividades produtivas agropecuárias para a colheita do produto

madeireiro. Isso acontece em razão dessas duas atividades feitas pela (UEFE)

ocorrerem no Meio Ambiente Natural e concorrem pelo espaço geográfico, pelo

tempo do chamado verão amazônico (maio/outubro) e pela (FTF) disponível na

(UEFE).

Quando comparada a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) com

a unidade de produção familiar do (PAD) Humaitá pela ótica do custo de produção,

existe uma diferença, mesmo ofertando maior quantidade de produtos para o

mercado e tendo um autoconsumo superior, a (UEFE) tem custo de produção

inferior em 5,76%, (tabela 11, página, 108). Esse resultado mostra que o

seringueiro ao fazer a colheita dos frutos da natureza, sem ser necessário fazer o

cultivo, tem vantagem econômica com relação às unidades que substituem a

floresta por culturas temporárias, seja para autoconsumo ou para produção de

mercadoria.

Os indicadores econômicos por produto constantes na tabela 7,

ASPF/2008, mostram que dos quatro produtos que a Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) do PAE Cachoeira colocados no mercado, somente a criação

Page 97: Os Madrugadores da Floresta

97

de gado bovino trazem resultados negativos para a UEFE. No entanto, esse

produto quando visto pela ótica do autoconsumo, pela diminuição da pressão

sobre a caça de animais silvestres e pela criação de uma reserva de valor, se

torna extremamente necessária para a reprodução da família e da unidade

produtiva.

O resultado econômico favorável para a (UEFE) com a comercialização de

ativos florestais, evidencia a importância do processo de industrialização de

Xapuri, realizado com investimentos públicos que passa a dinamizar a economia

local agregando valor aos ativos florestais e remunerando a Força de Trabalho

Familiar em patamar igual ou superior ao mercado regional, fortalecendo ainda

mais a mediação entre o modo de vida do seringueiro que produz valores de uso

para o autoconsumo e valores de troca de origem florestal na relação com o

mercado, sem perder as características originais da cultura camponesa

seringueira. Daí a necessidade de um entendimento histórico sobre as respostas

endógenas, surgidas a partir da própria cultura local (TOLEDO, 1993).

2.3.6 Influência da Tecnologia MODEFLORA46 no Desempenho Econômico da Unidade Econômica Familiar Extrativista

Ao incorporar tecnologia como o Modelo Digital de Exploração Florestal

(MODEFLORA) a Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) oferece

possibilidade, não somente de redução do impacto das atividades de colheita dos

frutos e otimização dos meios de produção, mas, também, de dimensionamento do

potencial de oferta de ativos florestais cuidadosamente planejados, determinando

com maior precisão a oferta efetiva anual de matéria-prima para as indústrias e

monitorar a evolução da área desmatada destinada para autoconsumo e aquela

transformada em pastagens.

Na tabela 7 e 11, mostra-se a diferença que a introdução da tecnologia

MODEFLORA proporciona, tanto em termos de elevação da receita, quanto na

46 Resumo no anexo 2.

Page 98: Os Madrugadores da Floresta

98

diminuição do custo de produção no levantamento físico dos ativos florestais que

fazem parte da elaboração do Plano de Manejo Florestal Sustentável de baixa

intensidade47. Enquanto pelo sistema tradicional (sistema de coordenada X e Y)

havia necessidade de 30 homens / dia para realizar o levantamento de 10 hectares

de floresta com vistas a fazer o (PMFS). Na tecnologia (MODEFLORA), quando

devidamente apropriada pelo seringueiro fica limitada a 12 homens/dia.

Enquanto a remuneração da atividade de colheita do fruto madeireiro,

associado ao incipiente processo industrial florestal de Xapuri tem MBF/Qh/d, de R$

303,32 (tabela 7 e 11), sem incorporação da tecnologia (MODEFLORA). Esse

indicador já mostra uma alta remuneração da mão-de-obra, seguida de uma baixa

penosidade do trabalho, porém, significa para a Unidade Econômica Familiar

Extrativista um nível de ocupação considerado baixo e maior qualificação da mão-

de-obra. Porém, evidencia a influencia da política publica e o apoio das

organizações Não-Governamentais e organização comunitária.

Quando se faz a introdução da Tecnologia do Manejo de Prisão em

Floresta Tropical: Modelo digital de Exploração Floresta (MODEFLORA)

desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A

relação MBF/Qh/d na colheita do fruto madeireiro, passa para R$ 1.137,40 e o custo

de produção fica 58% inferior ao sistema tradicional. Por outro lado, do ponto de

vista, do custo físico da natureza, a tecnologia proporciona, ainda, uma diminuição

da intensidade da intervenção na natureza, de 22,20% para 14,85% (anexo 2).

Esse resultado pode ser potenciado a partir do domínio da tecnologia

MODEFLORA, pelo seringueiro que pode localizar os ativos florestais da

“colocação” onde nasceu e se criou, com maior eficiência que qualquer outro

trabalhador que não conhece o lugar. Podendo, não somente, contribuir com o

aumento da eficiência no trabalho de campo dos planos de manejo, bem como na

contribuição com a otimização no uso de maquinas (tratores de pneu e skidder) e

equipamento na colheita do produto.

47 Conceito desenvolvido no Art 5°, inciso II da Instrução Normativa N° 5, de 11 de dezembro de 2006. Dispõe sobre procedimentos técnicos para elaboração, apresentação, execução e avaliação técnica de Planos de Manejo Florestal Sustentável – PMFS nas florestas primitivas e suas formas de sucessão na Amazônia Legal.

Page 99: Os Madrugadores da Floresta

99

Diminuindo, também o trabalho de escritório e de monitoramento. Os

indicadores físicos e monetários dessa inovação tecnológica seguem no (anexo

02). Antes disso, o pesquisador Figueiredo (2007), faz um resumo das principais

vantagens da nova técnica de planejamento florestal:

O modelo: (a) reduz os custos de elaboração e execução de Planos de Manejo Florestal; (b) aumenta a eficácia do processo de licenciamento e monitoramento; (c) eleva a precisão das informações geoambientais do manejo florestal; (c) promove o manejo florestal de impacto reduzido; e (d) informatiza e rastreia as operações de campo (do inventário a exploração). Além da plotagem das árvores com coordenadas verdadeiras, a elaboração do Modelo Digital do Terreno proporciona a reconstituição em 2D ou 3D da formação topográfica local, com essa técnica é possível realizar um planejamento muito mais adequado das estradas florestais, pátios e trilhas, priorizando a redução de impactos ambientais, otimização de fatores econômicos e da segurança no trabalho.

Acrescenta-se, ainda, que a massa florestal na região do PAE

“Cachoeira”, é considerada de alta produtividade o que contribui com o baixo custo

operacional na colheita do fruto madeireiro. A avaliação do pesquisador da

Evandro Orfanó Figueiredo a quantidade retirada na safra/2001 de frutos

madeireiros do (PAE) Cachoeira, de 3,9m³/hectare para um ciclo de 30 anos, ficou

muito abaixo do nível de mortalidade anual daquela floresta, confirmando o que

(DALY, 2007), destaca sobre os ativos florestais renováveis, em que a taxa de

colheita deve ser equivalente ou inferior com a taxa de recomposição do ativo

florestal.

2.3.7 O Autoconsumo e a Diminuição da Área de Pastagem

Uma característica que permanece na unidade econômica familiar

extrativista do (PAE) Cachoeira é a produção destinada para o autoconsumo com

valor de R$ 207,50, enquanto que para Vale do Acre, o valor ficou em R$ 177,42 e

para sistema agrícola foi de R$ 148,27, já no sistema extrativista de todo o Vale do

Acre foi de R$ 238,31 (anexo 3).

Page 100: Os Madrugadores da Floresta

100

Com o Autoconsumo superior em 39,56% (tabela 11), em relação à

unidade familiar agropecuária do (PAD) Humaitá, a Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) do (PAE) Cachoeira, se mostra menos dependente do

mercado. Consumindo a produção agropecuária que tem menor valor agregado a

preço inferior aos praticados na economia urbana, a (UEFE) aproveita melhor o

esforço produtivo feito pela Força de Trabalho Familiar (FTF) e de insumos

domésticos (Id). Obtendo, consequentemente, maior autonomia, garantia da

reprodução familiar e da unidade produtiva no mesmo espaço da atividade

produtiva.

A colheita de madeira associada a uma indústria local, a fiscalização do

INCRA, do IBAMA, do IMAC e o trabalho de conscientização da Associação da

Comunidade do PAE Cachoeira, têm contribuído na diminuição da área de

pastagem, da agricultura e conseqüentemente no aumento da área de “capoeira”.

Essa constatação é percebida em dois relatórios de exploração do (PAE)

Cachoeira, realizados pela Coordenação de Extrativismo e Floresta do INCRA,

(tabela 8). Esse resultado expressa a importância de conjugar como política de

monitoramento das atividades em áreas de conservação, instrumentos

econômicos e os de comando e controle.

A redução da área de pastagem e daquela destinada à agricultura, que

aparece na tabela 8, evidencia o reflexo da colheita de madeira realizada no ano

de 2001, resultando num desmatamento absoluto de 46,11 hectares, (ver tabela

5), representando 0,2% da área total do PAE Cachoeira, considerado um dos

melhores anos, depois de sua criação em julho/1988, na transformação do Meio

Ambiente Natural, em área de pastagem ou agrícola.

Tabela 8 - Variação no comportamento do uso terra no PAE Cachoeira ÁREA EXPLORADA (HÁ.)

ANO Agrícola Pastagem Capoeira

2003 183 1.347

370

2005 137 745,25

570,25

Diferença (46) (601,75)

200.25

Fonte: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA

Page 101: Os Madrugadores da Floresta

101

Figura 9 - Uso da área desmatada no (PAE) Cachoeira, 2005.

Agrícola; 137; 9%

Pastagem; 745; 52%

Capoeira; 570; 39%

Fonte: INCRA

A alta penosidade em que a Força de Trabalho Familiar (FTF) se

submete nas derrubada da floresta, associados com os preços, baixa

produtividade, logística de escoamento e armazenamento precário dos produtos

agrícolas; são fatores determinantes para que a Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) tenha no sistema extrativista a alternativa econômica de

concorrência interna com as atividades agropecuárias destinadas ao mercado.

Esses fatores têm relação direta com a dinâmica econômica de geração de

emprego e renda promovida pela industrialização local que, vai influenciar na

representatividade do nível de atividade econômica da produção extrativista do

(PAE) Cachoeira.

2.3.8 A Industrialização e o Processo de Recamponização do PAE Cachoeira

O processo de industrialização local diversificado (fabrica de castanha,

de preservativo, moveis e piso de madeira) se constitui no grande empurrão que a

política publica realiza para dinamizar a economia florestal local. Vêm

Page 102: Os Madrugadores da Floresta

102

influenciando sobremaneira no processo de recamponização que acontece no

PAE Cachoeira, que ao colocar os preços dos ativos florestais em outro patamar,

ativa as energias e área de abrangência produtiva da Unidade Econômica Familiar

Extrativista. Nos registros de campo do presente trabalho, em todas as unidades

produtivas visitadas, há membros da família ocupados na colheita de frutos

florestais existentes na “colocação” e nos serviços estendidos pelas fábricas para

o interior da floresta.

O número de ocupações criadas , mesmo com todas as incertezas, fica

entre um e três membros por família. Destacando que somente em uma existem

cinco famílias morando na mesma “colocação”, todos casados e vivem das

atividades econômicas ampliadas pelo processo de diversificação, sustentada pela

agregação de valor dos ativos florestais. Acrescenta-se ainda que em 7 das 9

“colocações” acompanhadas no decorrer da pesquisa, a existência da figura do

“meeiro”. Ou seja, para cada “colocação” foi possível, proporcionar a ocupação de

mais duas famílias48, promovendo ainda a queda no custo físico da natureza, da

penosidade do trabalho e melhoria da renda do concessionário florestal do PAE

Cachoeira.

Outro indicador que reflete a recamponização proporcionada pelo

processo social de industrialização pode ser observado pelo crescimento dos Bens

de Consumo e Serviços Comprados no Mercado (BCC) com valor de R$

463,30/mês (tabela 11, página 108), que refletiu no crescimento da demanda por

bens consumo duráveis, junto ao comercio local. Dados confirmados em

entrevistas com comerciante da cidade de Xapuri que contabilizam como seus

principais clientes, nos últimos cinco anos, os seringueiros “camponeses

florestais”.

48 No entender de Ray (2002, p. 492), “Hay situación en que un aumento del ritmo de desarrollo crea nuevos nichos para el trabajo permanente y eventual. Comprender los tipos de sendas de crecimiento que provocan una disminución (o un aumento) a largo plazo del trabajo permanente es, pues, importante, debido que tiende a afectar el nivel de seguridad implícito en el sector agrario”

Page 103: Os Madrugadores da Floresta

103

2.3.9 Falhas de Coordenação49 e o Futuro da Relação Natureza-seringueiro-Indústria

Na verdade existe um amplo espaço para aperfeiçoar a política de

desenvolvimento florestal, e esse processo se apresenta com falhas de

coordenação. Enquanto se têm as áreas de abastecimento com a situação

fundiária definida (PAE E RESEX) sob domínio dos seringueiros e indústria de

processamento construída na região de Xapuri. A aprovação e liberação dos

Planos de Manejo, no Estado do Acre, caminham a passos de “jabuti” como

mostra a (tabela 9), os Planos de Manejo Florestais Sustentáveis tipificados como

comunitários, em 12 anos somente foram liberados 12. E quantos aos planos de

manejo legalizados, conta-se com 129 em situação de ofertar o produto

madeireiro.

Tabela 9 - Pedidos de Manejo Florestal por tipificação no Acre/Brasil, 1995-2007.

Ano Empresarial

Pequena Escala Comunitário

Sub-total

1995-1999 10 0 2 12 2000 9 3 0 12 2001 15 1 0 16 2002

4

0

1

5

2003 6 2 2 10 2004 16 1 3 20 2005 33 31 3 67 2006 23 12 0 35 2007 12 1 1 14

TOTAL 128 51 12 191 Fonte: Secretaria Estadual de Floresta – SEF.

49 Para (RAY, 2002), “La presencia de muchas complementariedades puede llevar, pues, a una situación en la que una economía caiga en una ‘trampa de equilibrio de bajo nivel’, cuando existe al mismo tiempo otro equilibrio mejor que podría alcanzarse si todos los agentes pudieran coordinar debidamente sus acciones”.

Page 104: Os Madrugadores da Floresta

104

Figura 10 - Situação legal dos 191 Planos de Manejo Florestal Madeireiro no Acre –

1995/2007.

Fonte: Secretaria Estadual de Floresta (SEF).

A mesma situação se repete com a infra-estrutura, o credito e a logística

voltada para o setor floresto-industrial, carece de investimentos e aprimoramento

da política de desenvolvimento florestal. No tocante ao credito industrial somente

no ano de 2007, os investimentos industriais privados realizados pelo Banco da

Amazônia com Fontes do Fundo constitucional do Norte – FNO, supera em valores

monetários aqueles destinados para o setor agropecuário, tabela 10.

Page 105: Os Madrugadores da Floresta

105

Tabela 10 - Contratação por Setor do Credito do Fundo Constitucional do Norte, Estado do Acre/Brasil. Período de 1994/2007.

ANO SETOR RURAL

% SETOR INDUSTRIAL

%

1994 4.586 100,0 - 0,0 1995 3.955 97,4 104 2,6 1996 13.201 98,8 162 1,2 1997 5.329 98,8 66 1,2 1998 7.464 97,4 201 2,6 1999 18.664 97,6 460 2,4 2000 25.870 93,8 1.698 6,2 2001 25.139 97,5 640 2,5 2002 28.600 89,9 3.197 10,1 2003 32.352 81,3 7.446 18,7 2004 31.125 66,4 15.766 33,6 2005 49.509 60,1 32.944 39,9 2006 23.422 54,3 19.725 45,7 2007 33.565 46,1 39.172 53,9

TOTAL 302.781 71,3 121.581 28,7 Fonte: Banco da Amazônia (BASA)

Medidas foram sendo adotadas no decorrer da pesquisa de campo do

presente trabalho, como a criação de uma coordenação local para atuar na relação

com os seringueiros, contando com apoio de uma equipe de engenheiros, técnicos

de nível médio e seringueiros com experiência e conhecimento de organização

comunitária. Quanto às indústrias a coordenação ocorre por unidade fabril. Na

coordenação e formação de mão-de-obra de caráter industrial foi criada uma base

do Instituto Dom Moacyr Gretti, para através da Escola “Carlos Castiglione”,

localizada em Xapuri, em parceria com o Sebrae e o Comitê Amazônia Brianza, da

cidade de Como - Italia, com vista a suprir a deficiência desse importante

componente do desenvolvimento industrial.

Entre os aspectos técnicos que deve ser observado com muita atenção,

passa pela superação da limitação para uso de maquinas de colheita do fruto

madeiro e aspectos burocráticos que imperam a agilização na aprovação dos

Page 106: Os Madrugadores da Floresta

106

Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) de Baixa Intensidade, previstos na

legislação a seguir.

As exigências legais nos procedimentos técnicos para elaboração,

apresentação, execução e avaliação técnica dos PMFS estão contempladas na

Instrução Normativa nº 05, de 11 de dezembro de 2006, na Norma de Execução nº

01, de 24 de abril de 2007 e nº 02 de 26 de abril de 2007.

Outro avanço fundamental para o desenvolvimento da política florestal se

constitui no financiamento da atividade de colheita e cultivo, contemplado

inicialmente no Plano Amazônia Sustentável (PAS). Com previsão de taxas de

juros de 4% ao ano, com 12 anos de carência e 20 anos para quitação, viabilizado

através do Fundo Constitucional do Norte (FNO).

2.3.10 A Industrialização dos Ativos Florestais e a Valorização Fundiária no PAE Cachoeira

Mesmo, assim, com as poucas mudanças percebe-se uma valorização

imobiliária das “colocações” que tem ofertas diversificadas de frutos, excluindo

aqui fatores externos de localização como: energia, ramais, escola, atendimento

de saúde que influenciam na formação do preço de imóvel rural e considerando

que somente ocorreram duas transferências de “posse” no interior do (PAE)

Cachoeira, desde sua criação, portanto, não existe pressão de demanda.

A expectativa de preço de cada “colocação” no PAE Cachoeira estimada

pelo seringueiro toma como referencia a produção anual de castanha, látex de

seringueira, madeira e somente secundariamente o pasto fazem parte do calculo;

chegando a ser estimado o preço de venda de uma “colocação” acima de R$

60.000,00 (sessenta mil reais). Enquanto que no inicio da década de 1990, o valor

não passava de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Dados coletados no mês de

abril/2008, junto aos moradores do PAE Cachoeira.

Page 107: Os Madrugadores da Floresta

107

Essa valorização imobiliária das “colocações” é produto da criação de

expectativas futuras dos investimentos realizados pelo Estado, através de um

processo social de industrialização que garante demanda dos frutos da floresta do

(PAE) Cachoeira, sob gestão autônoma da Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE). Dessa forma a valorização dos ativos florestais para dentro da

floresta promovida pela industrialização, encontra-se apoiada por instrumentos

econômicos50, e sua aplicação, ainda, que de forma descoordenada por parte das

instituições encarregadas pelo desenvolvimento florestal.

2.3.11 Desempenho Econômico e Custo Físico da Natureza

Com uma área desmatada ou custo físico da natureza de 11,04%, até o ano

de 2006 (tabela 5), e considerando que a criação de gado bovino é intensiva no

Meio Ambiente Transformado (MAT) e deficitária do ponto de vista econômico, a

tendência relativa de ampliação da área desmatada tem tido um comportamento

desacelerado, na Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) do (PAE)

Cachoeira. Essa realidade é vivenciada em oito (oito) das 9 (nove) colocações

que primeiro acrescentaram na diversificação produtiva a oferta do fruto

madeireiro. Sendo que somente uma UEFE superou o limite de duas hectare anual

permitido por lei para o cultivo de culturas temporárias, nos últimos seis anos.

Tendo sido inclusive multada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e

Recursos Naturais (IBAMA) em duas oportunidades, (observação de campo).

Na tabela 11, encontra-se uma diferença de Renda Liquida (RL)51 mensal

de R$ 600,14 (978,53 – 378,39 = 600,14), entre a Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) que realiza a oferta de ativos florestais e a unidade de

produção familiar do PAD Humaitá voltada para a produção agropecuária. Essa

diferença confirma que os ativos florestais e a cultura camponesa seringueira se

50 os Instrumentos econômicos estão considerados no Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre Fase II, (p. 211). 51 Renda Liquida (RL): é o valor excedente apropriado pela unidade de produção familiar, ou seja, a parte do valor do produto que fica com a unidade de produção familiar depois de serem repostos os valores dos meios de produção, dos meios de consumo e dos serviços (inclusive salários) prestados à produção.

Page 108: Os Madrugadores da Floresta

108

sobrepõem em termos econômicos à tentativa de modernização agropecuária

procurada pelos programas de reforma agrária.

Tradicionalmente a expansão do Meio Ambiente Transformado vem

acontecendo devido à desigualdade de renda e ao baixo nível de atividades

econômicas que existe nas regiões de floresta tropical, como na Amazônia em

relação a outras regiões do Brasil. Onde as áreas de floresta são substituídas por

atividades que deixaram de ser dinâmicas economicamente em outras regiões do

país, essas atividades sustentam um nível de preços para os ativos florestais e a

produção agropecuária, considerados baixos, diante do custo físico da natureza e

da reprodução da economia de tipo familiar, como fica demonstrado entre o Nível

de Vida (NV) da Unidade Econômica Familiar Extrativista do PAE Cachoeira de R$

1.460,33 e as do (PAD) Humaitá que adotaram o modelo de produção

agropecuário, ficando com (NV) equivalente a R$ 659,65 mensais, tabela 11.

No (PAE) Cachoeira onde o desmatamento feito pelo seringueiro, serve

como alternativa de sobrevivência no curto prazo, por depender da produção daí

resultante, para atender o autoconsumo e quando não existia outra opção de longo

prazo seguia a política governamental de ampliação do setor agropecuário.

Portanto, a criação da demanda para os ativos florestais e a logística necessária

para abastecer o processo industrial, não coloca o seringueiro na dependência da

produção agropecuária na região Amazônica (JACOBS, 1991).

Page 109: Os Madrugadores da Floresta

109

Tabela 11 - Principais Indicadores Econômicos, (PAE) Cachoeira e (PAD) Humaitá, 2006/2007, Acre/Brasil

Indicadores Econômicos Unidade

PAE Cachoeira

PAD Humaitá

PAE Cachoeira - UEFE Madeira

30 h/d

PAE Cachoeira

- UEFE Madeira

12 h/d

PAE Cachoeira - UEFE

Madeira+Borracha

Renda Bruta (RB)

R$/mês

616,67 743,50 1.045,83 1.045,83 1.260,83 Renda Líquida (RL) R$/mês 461,00 378,39 950,88 950,88 978,53 Margem Bruta Familiar (MBF)

R$/mês 609,12 517,69 1.037,87 1.037,87 1.252,83

Custo Fixo (CF)

R$/mês 502,16 467,55 543,38 543,38 502,16 Custo Variável (CV) R$/mês 111,58 181,55 116,93 116,93 111,58 Bens de Consumo e Serviços comprados no mercado (BCC)

R$/mês 463,30

519,97 421,61 421,61 463,30

Linha de Dependência do Mercado (LDM) R$/mês 913,45 941,47 1.201,90 1.201,90 1.119,50 Autoconsumo (AC) R$/mês 207,50 148,68 190,05 190,05 207,50 Nível de Vida (NV) R$/mês 747,46 659,65 1.227,93 1.227,93 1.460,33 Índice de Eficiência Econômica (IEE) und. 1,54 1,02 1,75 1,82 1,45 MBF/RB und. 0,98 0,88

0,98 0,98 0,98 Remuneração diária da força de trabalho (MBF/Qh/d) R$/dia 38,54 78,73 115,32 188,70 53,92 Termos de Intercâmbio (TI)

und. 0,68 0,64 0,42 0,42 0,68 Obs.: Resultados medianos por UEFE. Fonte: ASPF/2008.

Page 110: Os Madrugadores da Floresta

110

2.3.12 Desempenho Econômico e a Penosidade do Trabalho no (PAE) Cachoeira e no (PAD) Humaitá

Nas áreas de Reserva e Projeto Extrativista como o (PAE) Cachoeira,

povoada, organizada politicamente, livre para comercializar e associada com a

industria local que consegue agregar valor aos frutos da floresta. Os ganhos de

escala advindos das grandes áreas de reserva florestal (PAE’s e RESEX), do

transporte e de outras vantagens que podem ser incorporadas como tecnologia e

infra-estrutura econômica e social, foram os elementos essenciais no

fortalecimento dos fatores internos da (UEFE) e que resultou na diminuição da

penosidade do trabalho e aumento da renda.

Os indicadores econômicos que retratam as atividades agropecuárias e

extrativistas indicam que a Força de Trabalho Familiar (FTF), organizada em

sindicatos, associações, cooperativas e que comercializa fruto madeireiro e não-

madeireiro de forma autônoma e direta com a indústria local, passa a ter custo de

oportunidade52, superior que aquela envolvida na produção agropecuária como no

PAD Humaitá, ou até mesmo dos salários do mercado de trabalho urbano. Como

se observa a oferta diversificada de ativos florestais oferece um incremento

monetário Margem Bruta Familiar (MBF) de R$ 1.252,83/mês, tabela 11. Esse

valor supera qualquer alternativa econômica de uso da (FTF) da Unidade

Econômica Familiar Extrativista (UEFE), no estagio atual do desenvolvimento das

atividades produtivas rurais e urbanas na região de Xapuri.

Além disso, o “camponês florestal” envolvido na colheita de ativos florestais

tem penosidade da (FTF), igual a zero, ou seja, para alcançar a (MBF) colocada

52 “Hay dos maneras de plasmar en un modelo el coste de oportunidad. En primer lugar, la familia sabe si puede conseguir trabajo o no. En caso afirmativo, el coste de oportunidad es simplemente el salario de mercado,….. En caso negativo, el coste de oportunidad es, de hecho cero. En promedio, pues, algunas familias tendrán un coste el mismo coste de oportunidad que el que emplea trabajo. En el segundo modelo, la familia no sabe si puede conseguir un empleo en otra parte”, (RAY, 2002).

Page 111: Os Madrugadores da Floresta

111

no parágrafo anterior não há necessidade de aumento das horas de trabalho dos

membros da família. Enquanto que na produção agropecuária dos assentados do

(PAD) Humaitá onde a Margem Bruta Familiar (MBF) é de R$ 517,69/mês, tabela

11; mesmo, assim, se faz necessário aumentar as horas de trabalho da unidade

produtiva familiar em 18,92% (tabela 12) para alcançar esse patamar de

remuneração. Com esse resultado se confirma a assimetria representada

graficamente na “regla del notário” na página 31, entre penosidade do trabalho e

renda monetária na produção agropecuária.

A simetria existente entre penosidade do trabalho e Renda no (PAE)

Cachoeira, se traduz na constituição da Renda Liquida (RL)53 de R$ 978,53 e

Remuneração diária da força de trabalho (MBF/Qd/d)54 de R$ 53,92 (tabela 11).

Correlacionando essas informações, nota-se a persistência do “camponês

florestal” que ao repor seu patrimônio (RL) e com a (MBF/Qd/d) superior ao valor

do mercado de trabalho local que remunera a diária do trabalhador em R$ 20,00.

Garante sua permanência no lugar “colocação”, diversificando a oferta de frutos,

numa lógica em que a penosidade diminui enquanto a renda aumenta, essa

tendência procura-se representar graficamente abaixo (gráfico 5).

53 Renda Liquida (RL): é o valor excedente apropriado pela unidade de produção familiar, ou seja, a parte do valor do produto que fica com a unidade de produção familiar depois de serem repostos os valores dos meios de produção, meios de consumo e de serviços (inclusive salários) prestados à produção, ASPF/2007. 54 Relação MBF/Qh/d: é o índice de remuneração da força de trabalho familiar. Mostra a quantia de margem bruta gerada por unidade de trabalho familiar (1 h/d = 1 jornada de trabalho). O valor deve ser comparado com o preço de mercado da força de trabalho. Qh/d = quantidade de força de trabalho utilizada no ciclo produtivo da linha de exploração ou a quantidade total anual de força de trabalho familiar utilizada pela unidade de produção, ASPF/2007.

Page 112: Os Madrugadores da Floresta

112

Gráfico 5 - Relação: Penosidade do trabalho x Renda no PAE Cachoeira

Elaboração própria

A sustentabilidade econômica da produção florestal da (UEFE) do (PAE)

Cachoeira, pode ser observada no Índice de Eficiência Econômica (IEE) de 1,45

quando estão produzindo os três conjuntamente. Esse indicador sugere que para

cada real gasto no processo produtivo florestal o retorno é superavitário.

Contrastando com o resultado da unidade de produção familiar agrícola do (PAD)

Humaitá que tem (IEE) igual a 1,02; ou seja, o retorno por unidade monetária

investida, apenas garante a manutenção do valor monetário inicial, (ver tabela 11).

Além disso, a relação natureza-seringueiro-industria, proporciona no

interior da Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE), um retorno monetário

representado pela Margem Bruta Familiar (MBF) de R$ 1.252,83; valor superior

aos R$ 1.119,50 que representa a Linha de Dependência do Mercado (LDM).

Nessa situação a (UEFE) tem excedente monetário de 1.252,83 – 1.119,50 = R$

133,33/mês, (ver tabela 11). O excedente monetário vivenciado nessa fase de

articulação da (UEFE) com o processo industrial, repercute no crescimento do

consumo de bens duráveis no comercio urbano de Xapuri, na melhoria das

habitações e aquisição de meios de transporte como motos e automóveis.

Para confirmar melhor a situação deficitária das unidades de produção

familiar agropecuária do (PAD) Humaitá, em que o valor monetário disponível

Page 113: Os Madrugadores da Floresta

113

(MBF) é igual a R$ 517,69; valor significativamente inferior aos R$ 941,47

necessários para atender a linha de dependência do mercado. Com um déficit

mensal de (941,47 – 517,69) igual a R$ 423,78, tabela 11. Mesmo em condições

deficitária a unidade produtiva familiar do (PAD) Humaitá explora a força de

trabalho familiar em 18,92% (ver tabela 12). Este caso confirma a assimetria entre

penosidade do trabalho e renda, em situações que a produção agropecuária

efetivada pela produção familiar tende para a concentração em três produtos,

como se encontra representado na tabela 3.

Tabela 12 - Indicadores de Ocupação e Remuneração da Força de Trabalho Familiar, PAE Cachoeira e PAD Humaitá, 2006/2007, Acre, Brasil.

Indicadores PAE Cachoeira

PAD Humaitá

PAE Cachoeira - UPF Madeira

PAE Cachoeira - UPF Madeira+Borracha

Margem Bruta Familiar (MBF) 609,12 517,69

1.037,83 1.252,83 Força de trabalho familiar ocupada (FTFO)

41,56% 66,12%

27,27% 68,83%

Excedente de trabalho familiar (FTFD)

58,44% 33,88%

72,73% 31,17%

Penosidade do Trabalho (PT) 0,00 18,92%

0,00 0,00 Índice de Assalariamento fora da UPF (IA)

50% 16% 50%

Índice de Capitalização (IK) 1,02 1,45

1,02 1,02

Obs.: Resultados medianos por UPF. Fonte: ASPF (2008)

O Índice de Assalariamento fora da Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE), equivalente a 50% no (PAE) Cachoeira (tabela 12), está

relacionado com os serviços de saúde, educação, trabalhadores das indústrias,

agentes de turismo, motosserista, mateiros, meeiros e outros da área florestal

estendidos para o interior da floresta e que são realizados por membros da própria

comunidade.

Por conseguinte, do excedente de (FTF) 58,44% apenas existe 8,44%

sem ocupação que pode ser absorvido pela intensificação da colheita do potencial

Page 114: Os Madrugadores da Floresta

114

florestal por “colocação” e pela dinâmica econômica que acompanha a ampliação

das atividades produtivas no assentamento como um todo. Introduzindo a colheita

de madeira e o leite da seringueira cai o excedente de (FTF) de 58,44% para

31,17% e ao mesmo tempo aumenta o nível de atividade econômica advindos dos

serviços da esfera industrial deslocados para o interior do assentamento, (tabela

12).

Diante disso, o nível de ocupação na Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) se amplia, reduzindo o excedente de força de trabalho familiar

assalariada, neste caso pode acontecer elevação do custo da força de trabalho no

(PAE) Cachoeira, por haver um nível de desocupação inferior à demanda. Essa

possibilidade existe na medida que há capacidade industrial ociosa, frutos para

colher na floresta, passando a ocorrer momentaneamente falta de Força de

Trabalho Familiar para suprir o produto demandado pela industria, para logo ser

suprido pela organização da Unidade Econômica Familiar Extrativista.

Outra contribuição fundamental que o processo de industrialização local

vem proporcionando, consisti em manter no interior da floresta atividades

econômicas intensivas em trabalho, evidenciadas pelo Índice de Capitalização

(IK)55 de 1,02; mantendo, todavia, uma Margem Bruta Familiar (MBF) de R$

1.252,83. Enquanto no PAE Humaitá, a produção agropecuária com (IK) de 1,45;

proporciona para a produção familiar uma (MBF) de R$ 517,69 (tabela 11), menos

da metade que na produção extrativista. Isso mostra o significado que a indústria

florestal localizada em Xapuri, ao proporcionar condições mercadológicas

favoráveis e de maior incorporação tecnológica no processo industrial, torna-se

fundamental para o sucesso da cadeia produtiva da produção florestal, vinculada

com os moradores de áreas de conservação como os Projetos e Reservas

Extrativistas.

55 Índice de Capitalização (IK): é a relação que indica a intensidade de capital. Assim, um IK > 1 significa que se gasta no processo produtivo mais com capital fixo e circulante do que com força de trabalho, familiar ou contratada, ASPF/2008.

Page 115: Os Madrugadores da Floresta

115

Com os resultados, mostrados acima, o esperado nas áreas

agropecuárias é a intensificação de atividades econômicas intensivas em capital e

menos em trabalho, para poderem continuar sobrevivendo como produtoras de

mercadorias. Fator que praticamente impossibilita a reprodução familiar e da

unidade produtiva de permanecer nas condições mercadológicas colocada pela

agropecuária, restaria a diversificação agrícola como expressa a tabela 3, com a

inclusão de produtos como o abacaxi e maracujá.

2.3.13 A Importância da Organização Comunitária para a Unidade Econômica Familiar Extrativista

Com a análise do comportamento assimétrico da relação entre

penosidade do Trabalho Familiar (FTF) versus renda, no (PAD) Humaitá. E o

comportamento simétrico no (PAE) Cachoeira das mesmas variáveis, é preciso

mostrar, a influência do vetor político para o fortalecimento de fatores como a

organização interna e externa que muito contribuem para aumentar ou reduzir

essa relação.

O gráfico 6, traduz a diferença dada para a organização política pelos

produtores que se dedicam na atividade agropecuária. Estando mais preocupados

com os aspectos econômicos da produção, abdicam da intensa disputa no interior

da sociedade, com vista às mudanças das condições sócio-institucionais

necessárias para a reprodução familiar e da unidade produtiva.

O mesmo gráfico 6, mostra a relevância da organização comunitária para

os produtores extrativistas e aqueles absorvidos pela produção agroflorestal.

Particularmente os extrativistas se fortalecem politicamente ao participar de

processos políticos regionais e nacionais que inclui: movimento como o grito da

terra, encontros de seringueiros promovidos pelo Conselho Nacional dos

Seringueiros (CNS), pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura

(FETACRE), da aliança dos povos da floresta e recentemente o pacto agrário feito

entre o Governo Estadual do Acre e as organizações sindicais rurais, com vista a

Page 116: Os Madrugadores da Floresta

116

aperfeiçoar as políticas publicas do setor rural. As recentes políticas de apoio ao

extrativismo contida no Plano Amazônia Sustentável (PAS), expressa o resultado

da ação política empreendida pelas organizações representativas dessa categoria

de trabalhadores.

Gráfico 6 - Principais Vantagens competitivas relatadas por Unidade de Produção Familiar (UPF) (%). Vale do Acre, Sistemas Extrativista, Agrícola e Agroflorestal, 2005/2006, Acre/Brasil.

Fonte: ASPF (2008)

Ao concluir a analise dessas duas experiências de produção familiar,

inseridas nos programas de reforma agrária do Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA) se evidencia semelhanças na produção agropecuária

destinada para o mercado. Ambas apresentam déficit monetário, seguido de alto

custo físico da natureza e penosidade do trabalho superior ao praticado nas

atividades florestais.

Mesmo no PAD Humaitá, em que 80,86% da Renda Bruta, (tabela 3)

têm origem na produção agropecuária, a disponibilidade monetária (MBF) de R$

517,69, no final do processo produtivo, não corresponde com as despesas

monetárias necessárias para cobrir a Linha de Dependência do Mercado (LDM) de

R$ 941,47, (tabela 11). Nessas condições os assentados abandonam os lotes

porque não conseguem sustentar a família e a unidade produtiva, criando as

condições para a reconcentração fundiária que ocorre no interior do Projeto,

(MEIRELHES, 1998).

Page 117: Os Madrugadores da Floresta

117

Aliás, no (PAD) Humaitá o Nível de Vida (NV)56 medido monetariamente

corresponde a R$ 659,65 fica abaixo do valor da Linha de Dependência do

Mercado (LDM) de R$ 941,47 (tabela 11). Considerando ainda que para conseguir

o valor do (NV) acima é necessário intensificar a Penosidade do Trabalho (PT) em

18,92% da unidade familiar (tabela 12). Para um custo físico da natureza, área

desmatada de 69,84% até o ano de 2006 (tabela 2). Ultrapassando o limite legal

de desmatamento estabelecido em 20% do total da área, (Medida Provisória N°

2.166-67, de 24 de agosto de 2001).

Dessa forma a produção agropecuária colocada no mercado deixa as

unidades produtivas familiares do (PAE) Humaitá, impossibilitada para continuar

se reproduzindo. Porquanto, os meios de produção – natureza e força de trabalho

familiar – estão ultrapassando a sustentabilidade da natureza e exigindo mais

horas de trabalho da unidade familiar; mesmo assim a unidade produtiva

permanece inviável.

No (PAE) Cachoeira, a criação de gado bovino e de pequenos animais,

mesmo resultando deficitária para a Unidade Econômica Familiar Extrativista

(UEFE) representa para o seringueiro uma forma de poupança de liquidez elevada

e garantia de autoconsumo. Por outro lado, a criação de pequenos animais e até

mesmo a criação de gado, contribui com a diminuição da pressão da caça de

pequenos animais silvestres utilizados na dieta de alimentação da família. No

entanto, se apostarem na agropecuária como alternativa de produção voltada para

o mercado, a trajetória da (UEFE) será a mesma do (PAD) Humaitá. Aumento do

custo físico da natureza e da penosidade do trabalho, acompanhado de queda na

renda monetária, seguida de migração.

Quanto ao excedente de mão-de-obra do (PAE) Cachoeira de 31,17%

(tabela 12), ele representa o valor relativo das 87 famílias do (PAE). No entanto,

quando se abstrai a “colocação” que ampliou e diversificou a colheita de frutos da

floresta, o excedente de mão-de-obra desaparece, mostrando que a (UEFE) pode

reter população rural e contribuir com o processo de recamponização dos antigos

seringais. Evidenciando, que existe sim, uma reserva potencial de ativos florestais

56 Nível de Vida (NV): é a totalidade do valor apropriado pelo produtor familiar, inclusive valores imputados, deduzidas as obrigações financeiras com empréstimos. É, portanto, o valor que determina o padrão de vida da família, ASPF/2008.

Page 118: Os Madrugadores da Floresta

118

e tempo de trabalho a ser aproveitado como uma verdadeira reserva de

desenvolvimento. Por isso, a implantação de indústrias e as políticas de incentivos

econômicos ao setor florestal, afiguram-se como alavancas importantes da

estratégia de desenvolvimento rural.

Page 119: Os Madrugadores da Floresta

119

O que importa é aperfeiçoar os instrumentos econômicos e institucionais,

tornando mais célere a execução do processo produtivo de origem florestal

legalizado. Aproveitando, assim, as oportunidades que existem de ocupação da

reserva de tempo de trabalho, mediante aumento da escala de produção existente

na floresta e na indústria. Pois, tanto, na colheita dos frutos da floresta quanto nas

indústrias existe subutilização do potencial produtivo.

Os obstáculos de curto prazo que imperam a intensificação da colheita do

fruto madeireiro, efetivado via Plana de Manejo Florestal Sustentável (PMFS),

dentro da lógica camponesa seringueira. Passa inicialmente pelo aperfeiçoamento

do marco legal, pela criação de uma coordenação local dos investimentos

industriais urbanos, pelo melhoramento da infra-estrutura e logística no interior das

áreas de conservação (Reserva e Projetos Extrativista), pela criação de uma

assistência técnica vinculada diretamente com a organização da (UEFE) e maior

rapidez dos processos de licenciamento.

Por outro lado, ao prevalecer a morosidade institucional na execução da

política florestal, a opção de ocupação dos meios de produção da Unidade

Econômica Familiar Extrativista, tende a ser a produção agropecuária, podendo se

perder a oportunidade para aproveitar a reserva de desenvolvimento existente no

interior das áreas de conservação como no (PAE) Cachoeira, evitando, assim, a

pauperização ou êxodo rural da população extrativista ali residente.

O progresso do setor florestal em áreas como o (PAE) Cachoeira feito

através de um Plano de Manejo Florestal Sustentável requereu soluções

intensivas em conhecimento e em trabalho do seringueiro, com menos uso

intensivo de capital. Essa equação difere do (PAD) Humaitá que para se viabilizar

demanda uma agropecuária mais intensiva em capital e poupadora de Força de

Trabalho Familiar, ASPF/2008.

Existem peculiaridades que podem incidir tanto do lado da oferta quanto

na demanda dos três ativos florestais industrializados em Xapuri. Como não é

objeto de estudo da presente tese, sugerimos que futuros trabalhos possam

contribuir sobre as condições de competitividade de mercado desses produtos.

Além, daquelas barreiras destacadas acima, que podem ser superadas pela

Page 120: Os Madrugadores da Floresta

120

vontade política de viabilizar a produção florestal dos camponeses florestais ou

ecológicos57.

57 Costa, (1995).

Page 121: Os Madrugadores da Floresta

121

3. CONCLUSÃO

O conhecimento da história e a reflexão são imprescindíveis para que

erros não voltem a se repetir, como fez o Estado Nacional em duas oportunidades

ao desconhecer a ocupação humana do território Acreano, no inicio do século XX

e na década de 1970. Agora nessa nova fase de integração da Amazônia ao

desenvolvimento nacional é preciso tomar lições com aqueles que cuidam e

conhecem o lugar onde vivem e ser capaz de aproximar a ciência, e radicalizar na

industrialização dos ativos florestais.

É tempo de começar a analisar a outra parte da história, os alcances do

sistema produtivo camponês que germinou no interior da floresta e da luta do povo

seringueiro que acumulou um sofisticado conhecimento do Meio Ambiente Natural.

Constituindo família e, em entorno dela se organiza para enfrentar as

adversidades da natureza e do sistema social vigente nos seringais58 e cidades

que não passavam de entrepostos comercial do sistema de aviamento adotado

pelo capital mercantil e depois pelo capital agropecuário.

Na peleja da sustentabilidade do binômio: natureza-seringueiro aparece

as características endógenas para o desenvolvimento local de Xapuri. Introduzindo

uma economia diversificada, organizada pela Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE), que reconhece os limites físicos e sociais com novas

possibilidades de inovações no duplo intercâmbio (figura 1), que realiza com o

Meio Ambiente Natural e Meio Ambiente Social.

Para realizar intercambio econômico com o Meio Ambiente Social (MAS) a

Unidade Econômica Familiar Extrativista do (PAE) Cachoeira, associada com a

indústria florestal local que demanda ativos florestais, tem na sucessão ecológica

(figura 2) vantagens na eficiência econômica dos meios de produção disponíveis

na (UEFE) (natureza e força de trabalho familiar) para colher os frutos da natureza.

Os resultados econômicos do (PAE) Cachoeira mostrados na (tabela 7) traduzem

essa vantagens, quando comparados com iniciativas econômicas de origem

familiar focada na produção agropecuária como as do (PAD) Humaitá.

58 Território ocupado na produção da monocultura da borracha, dirigido por um “patrão” chamado seringalista. Era formado territorialmente por mais de 20 unidades produtivas chamadas de “colocação”, ocupadas por um seringueiro, em alguns casos um ou dois “meeiro”. A “colocação” tem em media 300 hectares, constituída de 3 estradas de seringa ou mais, com media 120 arvores de seringueira por unidade.

Page 122: Os Madrugadores da Floresta

122

No intercâmbio ecológico com o Meio Ambiente Natural (MAN) a Unidade

Econômica Familiar Extrativista (UEFE), ao radicalizar na colheita de fruto da

natureza, como resposta ao incremento de demanda e dos preços de mercado dos

produtos: castanha, látex de seringueira e madeira manejada, que sustenta

ocupação da Força de Trabalho Familiar (FTF), com remuneração superior aos de

origem da produção agropecuária destinada ao mercado, com menos pressão sob

a floresta, como se observa na diferença de desmatamento nas duas experiências

aqui relatadas (ver gráfico 4).

A gestão dos ativos florestais feitos pela Unidade Econômica Familiar

Extrativista (UEFE) do (PAE) Cachoeira, têm mostrado resultados positivos na

realização do manejo dos ativos florestais, reduzindo o custo físico da natureza,

seguido de melhoria da renda da (UEFE). Contrariando o que tradicionalmente

acontece na produção de origem familiar como se comprova no (PAD) Humaitá,

onde predomina um alto custo da natureza com baixo nível de renda vindo das

atividades agropecuárias.

O que, se observa, mesmo, é a permanência e até intensificação, no caso

do (PAE) Cachoeira, de uma estratégia camponesa de reprodução social, voltada

para: o autoconsumo e o uso múltiplo da floresta. Evidenciando a importância das

áreas de conservação com controle publico, na mobilização de ativos florestais e

força de trabalho familiar, numa escala que mantêm a reprodução familiar,

viabilizando economicamente a colheita de produtos, incorporada a uma atividade

econômica industrial local, que remunera os fatores de produção envolvidos a

preços superiores quando comparados aos produtos exportados de forma semi-

elaborada, para outras regiões ou paises.

As características endógenas que afloram com a criação das Reservas e

Projetos Extrativistas, estão associadas com o sucesso da produção florestal

camponesa dessas áreas, que depende da evolução de uma economia urbana

desenvolvida. Sem um processo industrial minimamente desenvolvido, as áreas de

conservação serão meros espaços de manutenção de população, com baixo nível

de vida e em constante processo de avanço da ação humana sobre a floresta,

pois, a necessidade como se afirmava na idade media européia não conhece os

imperativos da lei. Daí a necessidade de criar-se, uma economia urbana capaz de

dar sustentação ao sistema extrativista, conduzidos pela economia camponesa

Page 123: Os Madrugadores da Floresta

123

seringueira. Situação observada em toda formação histórica do campesinato,

sempre dependente de uma vigorosa vida urbana (MOORE, 2002).

A política publica para alcançar o fortalecimento da Unidade Econômica

Familiar Extrativista, deve passar inicialmente pela garantia do autoconsumo e a

diversificação produtiva como eixo do desenvolvimento rural, nas áreas habitadas

por seringueiros. Para isso, a concentração do esforço da política publica deve ser

o núcleo familiar e nas relações de troca que deve ser associada com um

processo industrial local.

A recamponização que acontece no (PAE) Cachoeira com mais de uma

família por colocação, tem uma lógica, inicialmente familiar, no entanto, mostra

que qualquer elevação do nível econômico pela via da industrialização de ativos

florestais, há uma resposta no desenvolvimento rural, aumentando o número de

ocupações e um conseqüente aumento da renda rural e urbana.

A mesma situação acontece no tocante ao manejo da força de trabalho

familiar, enquanto na produção agropecuária se configura uma intensificação das

horas de trabalho da unidade familiar acima da quantidade de horas disponíveis.

Seguido ainda de uma disponibilidade monetária resultante da comercialização

dos produtos, inferior ao necessário para alcançar a Linha de Reprodução Familiar

(LRF). Na colheita dos ativos florestais a Unidade Econômica Familiar Extrativista

consegue diminuir a penosidade do trabalho, alcançando ainda um resultado

monetário superior ao necessário para atender a Linha de Reprodução Familiar,

ASPF/2008.

A condição superavitária da Unidade Econômica Familiar Extrativista do

(PAE) Cachoeira é produto da associação que existe com a indústria localizada

em Xapuri. Portanto, se constituem um elemento central as condições de

competitividade dessa indústria, tendo em vista que o tratamento do ponto de vista

tributário, de credito, de infra-estrutura e de logística são consideradas precárias e

iguais ao de outras indústrias, como frigoríficos que atuam no beneficiamento do

gado bovino. Muito embora, no caso de Xapuri os recursos dos investimentos

industriais sejam de origem estatal.

Uma nova realidade esta se configurando na gestão da economia rural

acreana, constituída por grandes áreas de conservação como os Projetos e

Reservas Extrativistas sob domínio público, tendo como concessionário os

Page 124: Os Madrugadores da Floresta

124

seringueiros, organizados em sindicatos, associações e cooperativas. No entanto,

territorialmente grande parte dessas áreas ainda carece de infra-estrutura física,

social e institucional suficientes para torná-las competitivas do ponto de vista

econômico, social e ambiental.

Tradicionalmente a indústria detém a propriedade das áreas de

abastecimento e se especializa na extração de monoculturas, assim foi com a

borracha, depois, com a madeira e criação de gado, sempre procurando alcançar

a remuneração de seus fatores produtivos. Comportamento diferente daquele

predominante na Unidade Econômica Familiar Extrativista (UEFE) que atende aos

objetivos da reprodução familiar e da unidade produtiva. A nova realidade que

aflora do interior da economia florestal camponesa no município de Xapuri, além

de demandar um relacionamento horizontal (muitos produtores independentes com

produção diversificada) em que uma (UEFE) abastece varias indústria com

matéria-prima, sendo grande parte organizada em sindicato, cooperativa e

detentores das áreas de concessão de caráter público.

Uma diferença fundamental entre a produção de gado bovino e a de

origem florestal da Unidade Extrativista Familiar Extrativista (UEFE) se constitui na

característica da demanda. Enquanto, a criação de gado em pequena escala

encontra dificuldades no comércio direto com os frigoríficos, prevalecendo nessas

condições o atravessador tradicional. No comercio dos ativos florestais a relação

acontece diretamente com as indústrias localizadas em Xapuri ou junto a

compradores do Centro-Sul do País. Outro fator importante que fortalece a (UEFE)

do (PAE) Cachoeira e de outras unidades extrativistas, quando comercializa seus

produtos, é a presença das associações e cooperativas de caráter extrativista.

É marcante o quase monopólio da oferta de ativos florestais por parte dos

moradores de áreas de conservação como o PAE Cachoeira, favorecidos, ainda,

pela organização comunitária e mais recentemente as áreas beneficiadas pela

extensão de ramais, energia, escolas e os benefícios dos programas de reforma

agrária como credito instalação, habitação e alimentação e outros, trazem como

conseqüência a elevação do nível de atividade econômica rurais e urbana via

processo de industrialização dos ativos florestais.

Os Projetos e Reservas Extrativistas tiveram um papel fundamental na

pacificação dos conflitos fundiários dos últimos dois decênios do século passado

Page 125: Os Madrugadores da Floresta

125

na região de Xapuri. Ao mesmo tempo permitem fazer alianças políticas com

setores ambientalistas, que vai contribuir com o reconhecimento da cultura

seringueira que faz um intercambio ecológico com o Meio Ambiente Natural,

fundamental para esse novo momento do desenvolvimento regional.

Mas, além, de um trabalho realizado de forma solitária no interior da

floresta os seringueiros vão participar dos processos políticos e sociais

constitutivos da sociedade acreana. Chamados aqui de “madrugadores da floresta”

por protagonizar uma ação coletiva de efeito expansivo, desencadeando uma

variedade de processos, entre eles o de fazer parte dos grupos de pressão que

lutam pela incorporação dos aspectos sociais e ambientais no interior das políticas

de desenvolvimento regional.

A extensão da ação coletiva dos “madrugadores da floresta” alcançou o

movimento ambientalista nacional e internacional. Localmente, possibilitaram a

abrertura de fendas no sistema político, criando-se mais uma causa para união de

forças de resistência política ao poder local, junto com aquelas dissidentes do

sistema. É, o conjunto dessas forças que reagem compartindo do mesmo

sentimento quanto à conservação da floresta tropical da Amazônia e da

sustentação da cultura camponesa do seringueiro, que tem formas especificas de

colheita dos frutos da floresta para sustentar um padrão de consumo de caráter

familiar.

Essa conjuntura ofereceu condições para no espaço local, venha se

constituir o processo em formação da relação: natureza-seringueiro-industria de

caráter endógeno, integrando processos econômicos com os ecológicos e as

necessidades comunitárias (GUIMARÃES, 2001).

Nos processos econômicos a Unidade Econômica Familiar Extrativista

(UEFE) se fortalece pela diversificação industrial, que garante mercado aos frutos

da floresta a preços assegurando uma situação econômica superavitária. Nessas

condições os objetivos da reprodução da unidade familiar e produtiva são

atendidos. Mantendo, todavia, um custo físico da natureza e uma penosidade do

trabalho inferior ao da produção familiar dedicada á agropecuária como aquelas

adotadas no PAD Humaitá.

Page 126: Os Madrugadores da Floresta

126

Dessa forma a concepção do desenvolvimento rural, não deve se limitar

ao meramente agropecuário ou extrativista, deixando de considerar todo um

processo de desenvolvimento institucional de coordenação de uma

industrialização local que agregue o máximo aos produtos regionais. Assim, como,

deve-se observar na articulação e na interação produtiva entre fornecedores e

clientes das indústrias de base florestal, constituindo no futuro esses fatores em

determinantes do desenvolvimento de longo prazo do setor.

Mostrou-se no decorrer do trabalho, com os resultados de uma

experiência piloto realizado no (PAE) Cachoeira as oportunidades de ampliação do

uso-múltiplo da floresta que pode ser realizado pela família seringueira, além dos

serviços não florestais os mais diversos: nas indústrias, no artesanato, nas mini-

usinas de castanha, na prestação de serviços técnicos, de manutenção, social e

pessoal, no transporte, na construção, no desenvolvimento de atividades turísticas,

sem esquecer a administração pública. Como foi considerado no corpo do

trabalho, existe uma reserva de desenvolvimento nas atividades florestais e não

florestais que podem ser ocupadas, enquanto se criam condições econômicas na

cidade, para receber os excedentes populacionais vindo do mundo rural.

Antes, porém, é preciso ressaltar que nas duas experiências de

Assentamento rural analisadas, nota-se que a diversificação é o caminho que deve

ser perseguido pela unidade produtiva familiar, tanto para aquelas dedicadas na

produção agropecuária quanto nas atividades florestais.

Os resultados expressam a importância dos instrumentos econômicos na

criação de um mercado de ativos florestais, através da construção de uma

complexa diversificação de indústrias florestais, formuladas dentro de uma política

de desenvolvimento construída e que representa “a expressão das preocupações

e aspirações de grupos sociais que tomam consciência de seus problemas e se

empenham em resolvê-los” (FURTADO, 1983, p. 149), como vêm se empenhando

o “povo seringueiro” na região do município de Xapuri.

Entendendo que o desenvolvimento não é o alcance, de uma ou mais

questões concretas, que não deixam de ser importantes, mas ainda, possibilita a

criação de um contexto, ambiente, situação, que permite e facilita formas do

seringueiro viver e de se relacionar com o Meio Ambiente Natural e Social, dentro

Page 127: Os Madrugadores da Floresta

127

de um processo social e cultural e só secundariamente econômico (FURTADO,

1983; BOISIER, 2005).

Dessa forma, é de vital importância, que se conheça, de uma parte, a

impossibilidade de se formular uma política única e homogênea, como aconteceu

nas ultimas três décadas do século passado, com os programas de

desenvolvimento regional, que incentivavam atividades produtivas

homogeinizadoras do território, conduzidas sob gestão privada ou por unidades de

produção familiar via programas de reforma agrária, como ocorreu com a

experiência do (PAD) Humaitá.

Dessa forma, a institucionalização das áreas de conservação (RESEX E

PAE), foi para o seringueiro a proclamação da supremacia do direito à existência e

da igualdade social sobre o direito de propriedade, sendo, portanto, a confirmação

desses direitos que exprime a atualidade dos desafios colocados pela

complexidade camponesa seringueira. Começar admitindo a racionalidade

camponesa seringueira, predominante no interior dessas áreas de conservação,

não deve significar atraso, pelo contrário se constitui no reconhecimento da

existência de racionalidades comunitárias que tem relações com a natureza

especificas, não mediadas somente pela racionalidade instrumental, mercantil que

separa sujeito de objeto. Pelo contrario, a sustentabilidade da industrialização

depende da relação natureza-seringueiro e do esforço das políticas de

desenvolvimento regional.

Deixando de considerar o “povo seringueiro” que têm na unidade

produtiva e familiar características específica, que vive e pode ofertar uma

produção diversificada de ativos florestais, reduzindo o custo físico da natureza e a

penosidade da força de trabalho familiar, melhorando a renda da família

seringueira e consequentemente a renda local e regional. Para tanto, a política de

desenvolvimento deve proporcionar uma economia urbana de base industrial que

possa ser competitiva nacional e internacionalmente. E, os seringueiros deixem de

ser considerados somente nas chamadas políticas compensatórias (REGO, 2003).

É ora de manter acessa a chama da dialética do movimento político do

seringueiro, como força viva que luta para viver do seu jeito no interior da floresta.

Conservando relações externas com o movimento ambiental e forças políticas

locais e nacionais. Envolvidas na busca da sustentabilidade de racionalidades

Page 128: Os Madrugadores da Floresta

128

complexas como a seringueira, mas profundamente regional e, por isso mesmo,

universal, tornando presente a tese de Leon Tolstoi, o qual disse que só quem é

capaz de entender a sua aldeia, é capaz de tocar o universal.

Page 129: Os Madrugadores da Floresta

129

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 135: Os Madrugadores da Floresta

135

ANEXO 1

Quadro 1 - Características da Economia camponesa Seringueira e a Diferença com a Economia Empresarial. Características Economia camponesa

seringueira

Agropecuária

empresarial

Objetivos de produção Reprodução da família e

da unidade de produção

Maximização da

taxa lucro

E acumulação de

capital

Estratégias de renda Múltiplas e em diferentes

mercados e atividades,

conforme os ativos

florestais da “colocação”

de cada família

Lucros

agropecuários (e

em outros

mercados) de

acordo com o

capital investido

Manejo do risco Autoconsumo e

diversificação de

atividades extrativistas,

agrícolas e de serviços.

Devido a falhas de

Utilização de

seguro

agropecuário.

Diversificação de

culturas.

Page 136: Os Madrugadores da Floresta

136

mercado faltam

instrumentos para o

manejo do risco, e os que

existem tem custos muito

altos. Redes familiares e

locais reduzem o risco

Origem da força de trabalho Fundamentalmente familiar

e, em algumas ocasiões,

realizações de adjuntos

com outras unidades;

trabalho de “meiro” trocas

de dias de trabalho;

excepcionalmente

assalariada em

quantidades mínimas

Assalariada

Custo da força de trabalho Baixo ou quase nulo. Mão-

de- obra familiar não paga.

Aproveitamento da força

de trabalho familiar sem

custos de oportunidade

(crianças e anciãos)

Custos

equivalentes ao

salário rural em

vigor

Page 137: Os Madrugadores da Floresta

137

Tecnologia Uso de “tecnologia

cabocla”59, e no ano de

2008 esta sendo

incorporada a tecnologia

do MODEFLORA60. Em

2007 houve um maior

adensamento de “capital”

no momento do arreste da

madeira61. A alta

intensidade de mão de

obra, baixa densidade de

“capital” e de insumos

comprados por período de

trabalho acontece na

colheita da castanha e do

leite da seringueira.

Maior densidade de

capital por ativo e

maior proporção de

insumos

comprados no valor

do produto final

Acesso a mercados e instituições

Insuficiência devido a

falhas de mercados,

mercados incompletos e

instituições inadequadas

Maior acesso a

mercados e a

instituições

Destinos dos produtos e origem

dos insumos

Parcialmente mercantil Mercantil

59 Entrelaçamento entre o conhecimento tradicional do seringueiro e o saber técnico, principalmente, na elaboração e execução dos planos de manejo florestal comunitário. 60 É modelo de precisão em florestas tropicais: modelo digital de exploração florestal, que proporciona uma elevação da produtividade do trabalho no levantamento florestal, conforme segue no anexo 02. 61 As maquinarias foram cedidas por um programa de governo, portanto, não foi uma capitalização direta da unidade econômica familiar extrativista.

Page 138: Os Madrugadores da Floresta

138

Custos de transação

1. Supervisão

acompanh

amento da

mão-de-

obra

2. Credito e

mercados

Baixos. Auto-supervisão

Altos, devido a escalas

reduzidas e garantias

insuficientes

Altos

Baixos, devido a

maiores escalas de

produção

Direitos de propriedade Freqüentemente mal

definida e ambíguo

No caso do PAE Cachoeira

o instrumento é de

concessão de uso por

10anos, com renovação

por 30 anos.

Problema de transferência

ou transferível apenas as

bem feitorias, membros da

família ou outro seringueiro

com aprovação da

comunidade do PAE.

Claros e bem

definidos.

Acesso a serviços produtivos,

sociais e infra-estrutura

Deficiente acesso a

serviços produtivos e

sociais, particularmente

nas colocações distantes

e com pouca infra-

estrutura

Bom acesso,

principalmente nas

cidades

intermediarias

Manutenção e conservação dos

ecossistemas naturais

Alto. Baixa entropia

Intensivos no Meio

Ambiente

Baixo. Alta entropia

Intensivo no Meio

Ambiente

Page 139: Os Madrugadores da Floresta

139

Natural - MAN Transformado –

MAT

Fonte: Elaboração própria baseada em Schejtman, A., (1980) “Economia campesina: lógica

interna, articulación y persistência”. Revista de la CEPAL, Nº 11, Santiago de Chile, agosto.

Page 140: Os Madrugadores da Floresta

140

ANEXO 2

Tabela 13 - Modelo Digital de Exploração Florestal – MODEFLORA – Coeficientes técnicos

Descrição dos coeficientes técnicos Coeficientes Modeflora

Coeficientes (FAO, 1997)

Corte de árvores (de acordo com as normas de segurança e técnicas de impacto reduzido)

Em terreno plano (nº máximo de árvores cortadas/dia) 28

Em terreno acidentado (nº máximo de árvores cortadas/dia) 20

Estimativa do percentual da área impactada por clareiras

10,79%

10,80%

Pátios de Estocagem

Percentual de pátios executados conforme planejamento

90%

Inferior a 50%

Pátio (m²)/hectare 48,65

Área média do pátio (m²) 598,4

Extensão média das laterais do pátio (m) 24,2

Percentual da área impactada com pátios 0,49%

Cerca de 1%

Estradas Densidade de Estradas (m/hectare)

20,24

Percentual da área impactada com estradas 0,81%

Cerca de 1%

Trilhas de Arraste Total percorrido pelo Skidder na operação de arraste (m)

159769

S.I.T.

Total percorrido pelo Skidder em manobras de pátio (m) 29296

S.I.T.

Percentual de trilhas executadas conforme planejamento

72,14%

S.I.T.

Distância média do arraste (m) 119,7

Percentual da área impactada com trilhas de arraste 2,76%

4,20%

Percentual total da área impactada pela exploração florestal 14,85%

22,20%

Estudo de Tempo Tempo médio de trabalho da operação de arraste por dia (horas) 08:37:00

Volume arrastado por hora (m³/hora) 35

Tempo médio de engate da tora para arraste 00:03:49

Tempo médio de desengate da tora arrastada 00:02:12

Tempo médio de ciclo de arraste (tempo/tora) 00:10:49

Em que : S.I.T. = Sem informação técnica disponível para o assunto

Page 141: Os Madrugadores da Floresta

141

Tabela 14 - Análise econômica (custos por fase do processo produtivo, produtividade, nível de adoção, impactos financeiros)

Planejamento do Manejo florestal Modeflora Tradicional ou

de baixo impacto

Inventário florestal (R$/hectare) R$19,00

R$25,00

Microzoneamento (R$/hectare) R$6,00

R$10,00

Planejamento em escritório (R$/hectare) R$12,00 a R$18,00

R$25,00 a R$35,00

Abertura de estradas (R$/hectare) R$28,00

R$35,00

Abertura de pátios (R$/hectare) -

-

Planejamento de trilhas (R$/hectare) R$3,00

R$60,00

Arraste (R$/hectare) R$160,00

R$225,00

Produtividade de arraste (m³/hora) 30 a 35

20 a 25

Monitoramento da produção e impacto (R$/hectare)

R$4,00

R$60,00

Quantidade de hectares de manejo planejados pelo MODEFLORA no Estado do Acre (até abril de 2007)

11800

Page 142: Os Madrugadores da Floresta

142

ANEXO 3

Tabela 15 - Desempenho Econômico mediano por UPF, Vale do Acre, Sistema Extrativista, Sistema Agrícola, Sistema Agroflorestal, 2005/2006, Acre-Brasil

Indicadores

Unidade

Vale do

Acre Evolução

(%)* Extrativismo

Evolução

(%)* Agricultura

Evolução

(%)* Agrofloresta

Evolução

(%)*

RB R$/mês 522,20

68%

367,92

41%

574,73

59%

861,63

104%

RL R$/mês 253,11

581%

181,68

695%

253,11

153%

655,02

402%

MBF R$/mês 415,89

64%

331,76

44%

427,18

36%

770,42

101%

CF R$/mês 443,72

116%

321,57

232%

476,57

118%

466,45

59%

CV R$/mês 148,31

-10%

105,47

-47%

190,35

21%

217,43

67%

VBCC R$/mês 543,58

140%

441,12

89%

597,79

167%

509,49

119%

LRF R$/mês 1.002,13

124%

795,80

136%

1.105,21

126%

923,34

72%

AC R$/mês 177,42

-35%

238,31

-25%

148,17

-50%

290,83

-7%

NV R$/mês 651,40

11%

621,04

10%

611,05

-4%

1.119,56

54%

IEE und. 0,73

-20%

0,70

-16%

0,74

-29%

1,12

6%

MBF/RB und. 0,88

1%

0,93

7%

0,85

-2%

0,90

0%

MBF/Qh/d R$/dia 39,14

240%

30,68

380%

49,01

212%

54,66

152%

TI und. 0,76

10%

0,96

-3%

0,74

31%

0,49

-9%

Obs.: Resultados medianos por UPF; * Relativo ao período 1996/1997; RB - Renda Bruta; RL - Renda Líquida; MBF - Margem Bruta Familiar; CF -custo Fixo; CV - Custo Variável; BCC - Bens e Serviços Comprados no Mercado; LRF - Linha de Reprodução Familiar; AC - Aucoconsumo; NV - Nível de Vida em termos monetários; IEE - Índice de Eficiência Econômica; MBF/Qh/d - Remuneração diária da força de trabalho familiar; TI - Termos de Intercâmbio. ASPF/2008

Page 143: Os Madrugadores da Floresta

143

ANEXO 4

Of. 034/2007 - COOPERFLORESTA

Rio Branco, 30 de agosto de 2007.

Excelentíssimo Senhor Governador

A Cooperfloresta congrega hoje 07 comunidades, que juntas apresentam um potencial

de produção de madeira de aproximadamente 8 mil m³. Com base nessa previsão, acabamos

fechando durante o ano, diversos contratos de comercialização com compradores regionais e

nacionais. Desde o início do ano estamos preparando ações para a gestão da safra de madeira

2007 que, por questões burocráticas levantadas pelo Escritório de Manejo e IMAC, e a nosso

ver, irrelevantes ou não impeditivas à liberação e renovação das autorizações de exploração de

novas áreas, está condenada a não ser colhida.

O Manejo Comunitário tem uma série de particularidades e metodologias que foram

construídas em vários anos com a participação ativa dos comunitários e o uso dos seus

conhecimentos, buscando otimizar os processos de licenciamento e colheita para reduzir e

restringir ao máximo os danos ao meio-ambiente. Essas características específicas levaram e

foram preponderantes para todas essas comunidades receberem a Certificação FSC e hoje são

referência para outras comunidades e estados que estão se interessando pelo Manejo

Comunitário.

Por diversas vezes nos reunimos com a equipe técnica do Escritório de Manejo para

discutir pequenas pendências nos Planos de Manejo de todas as comunidades, levantadas pelo

GT MMA/ IBAMA em 2006, e dos Planos Operativos 2007 de algumas comunidades, mas

temos encontrado muita resistência dos mesmos em conceder prazos ou aceitar justificativas.

As referidas pendências dos Planos de Manejo foram comunicadas para as comunidades

somente no mês de junho e julho, quando poderiam ter sido comunicadas no início do ano.

No tocante aos Planos Operativos Anuais 2007 dos PAEs Cachoeira, Equador e Porto Dias

que foram protocolados há várias semanas, a equipe técnica do Escritório de Manejo está

recusando toda metodologia de elaboração que sempre foi utilizada e por conta disso, não

Page 144: Os Madrugadores da Floresta

144

haverá tempo hábil para adequá-la de acordo com as novas exigências do IMAC, pois será

necessário refazer todo o trabalho de inventário de campo, esgotando a época de colheita.

Essa situação está comprometendo seriamente a credibilidade dos produtores

florestais no Manejo Madeireiro Comunitário e pode trazer sérias conseqüências à Cadeia

Produtiva, pois vultosos investimentos tem sido feitos na atividade, tanto pelo governo como

por diversas entidades de apoio e fomento. Se não tivermos safra de madeira nesse ano (já não

houve colheita em 2006), fatalmente haverá uma debandada de produtores da atividade.

Por essas razões é que tomamos a iniciativa de solicitar medidas urgentes à Vossa

Excelência, pois aproxima-se o fim do verão e não temos nenhum m³ de madeira licenciado

para colheita.

Sem mais para o momento e na certeza do atendimento de nosso pleito, antecipamos

agradecimentos.

Cooperativamente,

Raimundo Tavares de Lemos Nilson Teixeira Mendes Presidente COOPERFLORESTA Presidente - PAE Chico Mendes

Armando Daines de Freitas Alfredo Ferreira Rodrigues Presidente – PAE São Luiz do Remanso Presidente – PA Pedro Peixoto

Francisco das Chagas Juscelino da Silva Correia Presidente – PAE Equador Presidente – PAE Porto Dias

Page 145: Os Madrugadores da Floresta

145

ANEXO 5

TERMO DE COMPROMISSO

Toda a venda de madeira tem que fazer parte do Plano de Manejo aprovado pelo IBAMA e/ou IMAC.

Não é permitida a venda de madeira de roçados, que pode ser aproveitada apenas para uso do próprio seringueiro na colocação (casa, paiol, casa de farinha, cercas, etc) ou para benfeitorias na comunidade (escolas, posto de saúde, pontes, etc).

É permitida a venda da madeira de árvores caídas naturalmente em toda a colocação, defendendo de igarapés e refúgios de caça.

As árvores mortas em pé podem ser aproveitadas para venda só dentro dos talhadões. No resto da colocação as árvores mortas em pé devem ficar para proteger os animais.

As margens dos igarapés e rios devem ser protegidas; não é permitida a retirada de madeira nestas áreas. Deve ser evitado o cruzamento de igarapés por trilhas de transporte de madeira e o entupimento dos igarapóes com galhos, aterros etc. Sempre que possível devem ser feitas pontes.

Áreas de importância para caça não devem sofrer retirada de madeira (barreiros, grotões etc). Essas áreas devem ser deixadas de fora dos talhadões e marcadas no mapa.

O corte de árvores só será feito após concluída a jardinagem de área (tratamento pré-colheita) feita nas mães, filhas e netas, preferencialmente 1 ano antes do corte. Não deve ser feito o corte de cipós em todas as árvores do talhadão.

A retirada de madeira do talhadão até o ramal, deve ser feita com o mínimo impacto para a floresta, preferencialmente por tração animal.

A produção de madeira deve ser feita em conjunto com as espécies não madeireiras (castanha, borracha etc), sem causar prejuízo para eles.

O Pólo Moveleiro de Xapuri deve ter a preferência, mas não a exclusividade para a compra de madeira produzida pelo Projeto. Os compradores devem concordar e respeitar o sistema de manejo usado, comprando preferencialmente espécies de muita fartura na mata e não só aquelas que têm mercado garantido.

As vendas devem ser aprovadas pela Associação, através do Presidente da Associação ou seu representante (assinar atestado), do Coordenador de Produção

Page 146: Os Madrugadores da Floresta

146

Florestal, e do (a) técnico (a) florestal responsável. As vendas devem ser feitas através da CAEX ou outra instituição definida pelos produtores.

A venda só poderá ser feita com aprovação da Associação e não por cada seringueiro individualmente. A venda deve ser apoiada pelo Pólo Moveleiro de Xapuri.

A madeira vendida deve ser preferencialmente certificada com o “selo verde”.

Será recolhida uma taxa de 10% do valor de venda das madeiras. Metade (5%) será usada para formar um Fundo Florestal Comunitário (FFC), para investimentos em atividades de apoio à produção florestal, decididos pela Coordenação Executiva do Projeto. Os outros 5% serão usados para formar o Fundo da Associação (FA), para investimentos na comunidade (escolas, saúde, pontes etc), sendo o seu uso definido pela Diretoria da Associação.

A participação em reuniões, oficinas, mutirões e outras atividades relacionadas com o manejo florestal é obrigatória. Na impossibilidade de participação, o seringueiro deve justificar claramente o motivo da ausência e mandar um representante.

Os produtores que não cumprirem com os compromisso desse termo, podem ser excluídos pela maioria do grupo. Os excluídos ficarão em último lugar de prioridade se quiserem voltar a fazer parte do Projeto. Antes de ser excluído, o seringueiro deve ser avisado e ter uma nova oportunidade (“cartão amarelo”).

Podem ser feitas alterações nessas regras, se aprovadas pela maioria do Grupo de Produtores Florestais, desde que estejam de acordo com a legislação.

Page 147: Os Madrugadores da Floresta

147

ANEXO 6

Informações Gerais Sobre população, Economia, área de ação antrópica no

Estado e municípios do Acre.

Gráfico 7 - Área Total de Floresta em hectares, no Estado do Acre, Brasil, 2008.

15.793.358

14.677.389

16.422.000

13.500.000

14.000.000

14.500.000

15.000.000

15.500.000

16.000.000

16.500.000

17.000.000

Floresta Original Floresta 1989 Floresta 2007

Hec

tare

s

Fonte: Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC)

Page 148: Os Madrugadores da Floresta

148

Gráfico 8 - Relação Floresta/ Desmatamento no Estado do Acre, Brasil – 2007

10,6%

89,4%

Floresta

Desmatamento

Fonte: Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC)

Tabela 16 - Evolução da ação antrópica de 1989 a 2007, no Estado do Acre.

Ação Antrópica

19891 2004 20074 Incremento 1989-

2007

Absoluta

(km2)

Relativa

(%) Absoluta

(km2)

Relativa

(%) Absoluta

(km2) Absoluta

(km2)

Relativa

(%) Área urbana 49,53 0,79 115,61 0,70 122,65 73,12 147,62Capoeira 605,65 9,63 2155,80 13,11 2.287,61 1.681,96 277,71

Pastagem2 4370,63 69,5213352,1

6 81,21 14.168,64 9.798,01 224,18Agricultura3

1176,28 18,71 572,99 3,49 608,08 -568,20 -48,30Espelhos de água 84,33 1,34 244,16 1,49 259,14 174,81 207,29Praia 0 0 0 0 0 0 0

Total 6286,42

16440,72

17446,11 11159,69

Fonte: adaptado de Oliveira & Bardales (2006) e Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) (2007). 1. (FUNTAC) (1993) 2. Pastagem para o ano de 1989 corresponde à área de pastagem associada

às áreas de projetos de colonização. 3. Agricultura para o ano de 1989 corresponde à área de agricultura associado

com as áreas de colônias/roçados e colocações.

Page 149: Os Madrugadores da Floresta

149

4. Considerou-se a proporção relativa para ação antrópica do ano de 2004 para a estimativa de 2007 e dados de desflorestamento do Acre dos anos de 2005 a 2007 do (INPE).

Tabela 17 - Distribuição das áreas Desmatadas e Áreas de Floresta por Município do Estado do Acre Referente ao ano de 2007

99,4 98,5 98,3 98,0 97,7 96,3 96,3 95,5 94,3 94,2 93,188,7

79,274,5 73,9

67,8

62,959,0 59,0

53,7

38,0 36,2

0,6 1,5 1,7 2,0 2,3 3,7 3,7 4,5 5,7 5,8 6,911,3

20,825,5 26,1

32,2

37,141,0 41,0

46,3

62,0 63,8

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

San

ta R

osa

do P

ur

Jord

ão

Man

oel U

rban

o

Mar

echa

l Tha

umat

u

Por

to W

alte

r

Fei

Ass

is B

rasi

l

Sen

a M

adur

eira

Tar

auac

á

Mân

cio

Lim

a

Cru

zeiro

do

Sul

Rod

rigue

s A

lves

Xap

uri

Rio

Bra

nco

Bra

silé

ia

Buj

ari

Por

to A

cre

Cap

ixab

a

Epi

taci

olân

dia

Acr

elân

dia

Sen

ador

Gui

omar

d

Plá

cido

de

Cas

tro

%

Floresta Desmatamento_04

Fonte: adaptado de Oliveira & Bardales, 2006 e INPE, 2008.

Page 150: Os Madrugadores da Floresta

150

Figura 11 - Uso da Terra por Município, Estado do Acre, Brasil. Referente ao ano de 2007.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Acrelâ

ndia

Assis

Brasil

Brasil

éiaBuja

ri

Capixa

ba

Cruze

iro d

o Sul

Epitac

iolân

dia Feijó

Jord

ão

Mân

cio L

ima

Man

oel U

rban

o

Mar

echa

l Tha

umat

urgo

Plácido

de

Castro

Porto

Acr

e

Porto

Walt

er

Rio Bra

nco

Rodrig

ues A

lves

Santa

Ros

a do

Pur

us

Sena

Mad

ureir

a

Senad

or G

uiom

ard

Tarau

acá

Xapur

i

Praia

Urbana

Pastagem

Espelho de água

Capoeira

Agricultura

Fonte: Secretaria Estadual de Floresta – SEF

Page 151: Os Madrugadores da Floresta

151

Figura 12 - Evolução das áreas sob Manejo Florestal madeireiro licenciado por município no Acre, Brasil – 1995/2007.

Fonte: Secretaria Estadual de Floresta (SEF)

Page 152: Os Madrugadores da Floresta

152

Figura 13 - Levantamento das propriedades com pedido de Manejo Florestal madeireiro no Estado do Acre, Brasil 1995-2007.

Fonte: Secretaria Estadual de Floresta (SEF)

Page 153: Os Madrugadores da Floresta

153

Tabela 18 - Produto Interno Bruto, Vale do Acre, 2005, Acre-Brasil, Valores em R$ 1.000,00. População 2007.

Unidade Agropecuária Indústria

Serviços Impostos PIB Total População/2007

Acre 822.201,72 473.244,72

2.811.121,88 375.179,18 4.481.747,50 655.385

Manoel Urbano 7.451,63 1.607,58 21.387,89

820,67

31.267,78

7.636,00

Santa Rosa do Purus 3.667,57 732,75 10.588,39

332,36

15.321,07

3.395,00

Sena Madureira 103.831,44 11.494,00 109.795,71

9.260,20

234.381,35

32.989,00

Acrelândia 56.291,90 11.083,95 39.296,49

7.677,20

114.349,53

11.451,00

Bujari 49.723,95 1.761,23 25.699,01

1.466,95

78.651,14

8.423,00

Capixaba 42.649,10 6.667,78 24.546,38

4.525,88

78.389,15

7.067,00

Plácido de Castro 70.520,13 5.811,16 58.688,29

4.794,70

139.814,28

16.691,00

Porto Acre 39.644,57 1.888,04 30.032,27

1.146,48

72.711,36

12.085,00

Senador Guiomard 40.092,73 20.304,22 67.003,57

10.217,17

137.617,69

20.505,00

Rio Branco 90.284,32 336.239,95 1.664.739,06

280.043,41

2.371.306,74

305.731,00

Assis Brasil 9.203,98 1.853,27 17.666,82

1.573,54

30.297,60

5.063,00

Brasiléia 40.714,37 6.665,42 63.997,67

6.147,82

117.525,28

17.721,00

Epitaciolândia 26.463,66 4.732,36 51.460,04

5.507,56

88.163,62

13.782,00

Xapuri 29.866,45 3.900,81 45.372,12

3.237,86

82.377,23

13.693,00

Vale do Juruá 211.795,93 58.502,21

580.848,18 38.427,38 889.573,70 193.504,00

Cruzeiro do Sul 56.499,45 32.784,39 277.804,59

24.854,16

391.942,59

84.335,00

Mâncio Lima 11.724,60 2.563,77 34.219,68

1.196,68

49.704,73

12.747,00

Mal. Thaumaturgo 11.461,48 1.359,00 24.277,10

547,24

37.644,82

8.455,00

Porto Walter 9.474,38 965,11 15.079,22

406,49

25.925,20

4.962,00

Rodrigues Alves 21.946,10 1.913,11 26.706,55

901,86

51.467,62

9.796,00

Feijó 35.154,40 9.185,77 96.379,84

4.256,57

144.976,57

38.241,00

Jordão 8.209,18 858,99 14.328,87

408,23

23.805,28

4.633,00

Tarauacá 57.326,33 8.872,08 92.052,33

5.856,16

164.106,90

30.335,00

Fonte: IBGE, 2007

.

Page 154: Os Madrugadores da Floresta

154

Tabela 19 - Principais produtos por valor da produção, Vale do Acre, 1996-2006, Ac-Brasil, Valores em R$1.000,00

Val

e d

o A

cre

- A

C

Tipo de Produto

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Extrativismo Vegetal

Madeira em tora 5.686 5.969 5.887 6.420 6.440 7.745 10.382 8.823 10.034 12.055 11.076

Castanha-do-Pará 642 621 642 3.546 3.141 1.888 2.888 2.354 4.940 15.376 12.254Borrachas 1.662 1.495 1.141 2.154 2.404 1.785 1.713 2.013 2.886 2.936 2.315

Pecuária Leite - - - - - - 30.689 35.423 49.960 40.183 37.751Ovos de galinha - - - - - - 3.256 3.866 4.840 4.354 4.967

Agricultura (Lavoura Permanente) Banana 3.299 3.676 5.649 7.926 10.722 5.885 10.584 11.371 8.539 5.857 8.442Café (beneficiado) 286 328 338 703 1.735 2.984 1.467 4.296 3.834 4.162 2.670Palmito 600 550 696 755 710 4.866 3.910 779 477 636 739Laranja 869 937 977 1.149 1.037 978 1.228 1.556 1.629 1.152 804Mamão 648 620 1.336 1.392 1.900 494 1.040 1.264 1.148 900 978Borracha (látex coagulado) 201 259 170 220 339 1.288 1.199 1.294 2.658 1.087 1.118Tangerina 432 479 439 447 469 411 527 548 523 469 377

Agricultura (Lavoura Temporária) Mandioca 6.512 5.080 38.512 52.683 61.264 44.118 55.888 69.647 50.356 74.063 52.929Milho (em grão)

2.847 2.963 3.677 4.831 8.317 7.255 12.363 16.253 13.305 14.048 11.270Arroz (em casca) 2.711 2.616 4.080 5.928 8.003 9.513 10.027 13.267 16.520 10.241 9.378

Fonte: SIDRA/IBGE (2007).