os macabeus

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INTRODUÇÃO Para muitos, a era dos macabeus é como uma “caixa- preta” escondida entre o término da escrita dos últimos livros do Antigo Testamento e a vinda de Jesus Cristo. Da mesma forma que certos detalhes são revelados quando a caixa-preta de um avião é analisada após um desastre, podemos obter certo entendimento fazendo uma análise detalhada da era dos macabeus — um período de transição e transformação para a nação judaica. Quem eram os macabeus? Que influência exerceram sobre o judaísmo antes da vinda do predito Messias? — Daniel 9:25, 26. Os macabeus (do hebraico םםםםםou םםםםם, makabim ou maqabim, "martelos"; em grego: Μακκαβαῖοι, AFI: [makav'εï]) foram os integrantes de um exército rebelde judeu que assumiu o controle de partes da Terra de Israel, até então um Estado-cliente do Império Selêucida. Os macabeus fundaram a dinastia dosHasmoneus, que governou de 164 a 63 a.C., reimpuseram a religião judaica, expandiram as fronteiras de Israel e reduziram no país a influência da cultura helenística. Seu membro mais conhecido foi Judas Macabeu, assim apelidado devido à sua força e determinação. Os macabeus durante anos lideraram o movimento que levou à independência da Judéia, e que reconsagrou o Templo de Jerusalém, que havia sido profanado pelos gregos. Após a independência, os hasmoneus deram origem à linhagem real 1

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Page 1: Os Macabeus

INTRODUÇÃO

Para muitos, a era dos macabeus é como uma “caixa-preta” escondida entre o

término da escrita dos últimos livros do Antigo Testamento e a vinda de Jesus Cristo.

Da mesma forma que certos detalhes são revelados quando a caixa-preta de um avião é

analisada após um desastre, podemos obter certo entendimento fazendo uma análise

detalhada da era dos macabeus — um período de transição e transformação para a nação

judaica. Quem eram os macabeus? Que influência exerceram sobre o judaísmo antes da

vinda do predito Messias? — Daniel 9:25, 26.

Os macabeus (do hebraico מכבים ou ,makabim ou maqabim ,מקבים "martelos";

em grego: Μακκαβαῖοι, AFI: [makav'εï]) foram os integrantes de um exército

rebelde judeu que assumiu o controle de partes da Terra de Israel, até então um Estado-

cliente do Império Selêucida. Os macabeus fundaram a dinastia dosHasmoneus, que

governou de 164 a 63 a.C., reimpuseram a religião judaica, expandiram as fronteiras de

Israel e reduziram no país a influência da cultura helenística.

Seu membro mais conhecido foi Judas Macabeu, assim apelidado devido à sua

força e determinação.

Os macabeus durante anos lideraram o movimento que levou à independência

da Judéia, e que reconsagrou o Templo de Jerusalém, que havia sido profanado pelos

gregos. Após a independência, os hasmoneus deram origem à linhagem real que

governou Israel até sua subjugação pelo domínio romano em 63 a.C..

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Page 2: Os Macabeus

I. A ONDA DO HELENISMO

Alexandre, o Grande, conquistou territórios desde a Grécia até a Índia (336-323

AEC). Seu vasto império contribuiu para a expansão do helenismo — o idioma e a

cultura da Grécia. Os oficiais e os soldados de Alexandre casaram-se com mulheres

locais, causando uma fusão da cultura grega com as culturas estrangeiras. Depois da

morte de Alexandre, seu império foi dividido entre seus generais. No início do segundo

século AEC, Antíoco III, da dinastia greco-selêucida, na Síria, arrebatou Israel do

controle dos Ptolomeus gregos do Egito. Que influência o governo helenista teve sobre

os judeus em Israel?

Um historiador escreve: “Visto que os judeus não podiam evitar o contato com

seus vizinhos helenizados e muito menos com seus próprios irmãos no exterior, a

absorção da cultura e do modo de pensar dos gregos foi inevitável. . . . Não dava nem

para respirar, no período helenista, sem absorver a cultura grega!” Os judeus adotaram

nomes gregos e — uns mais outros menos — adotaram também os costumes e a

vestimenta gregos. O poder sutil da assimilação estava em ascensão.

II. CORRUPÇÃO DOS SACERDOTES

Os sacerdotes estavam entre os judeus mais suscetíveis à influência helenista.

Muitos deles achavam que aceitar o helenismo significava permitir que o judaísmo

acompanhasse a evolução dos tempos. Um desses judeus era Jasão (chamado Josué em

hebraico), irmão do sumo sacerdote Onias III. Enquanto Onias estava em Antioquia,

Jasão ofereceu um suborno às autoridades gregas. O que ele queria? Que eles o

nomeassem sumo sacerdote em lugar de Onias. O governante greco-selêucida Antíoco

Epifânio (175-164 AEC) rapidamente aceitou a oferta. Os governantes gregos nunca

haviam interferido no sumo sacerdócio judaico, mas Antíoco precisava de dinheiro para

suas campanhas militares e também gostava da idéia de ter um líder judeu que

promovesse a helenização de maneira mais ativa. A pedido de Jasão, Antíoco concedeu

a Jerusalém o status de cidade grega (polis). E Jasão construiu um ginásio de esportes

onde judeus jovens e até sacerdotes participavam de competições.

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Page 3: Os Macabeus

III. TRAIÇÃO GERA TRAIÇÃO

Três anos depois, Menelau, que pode não ter sido da linhagem sacerdotal,

ofereceu um suborno maior e Jasão fugiu. Para pagar Antíoco, Menelau tirou grandes

somas de dinheiro do tesouro do templo. Visto que Onias III (exilado em Antioquia)

manifestou-se contra isso, Menelau providenciou que fosse assassinado.

Quando se espalhou um boato de que Antíoco havia morrido, Jasão voltou a

Jerusalém com mil homens na tentativa de tirar o sumo sacerdócio de Menelau. Mas

Antíoco não estava morto. Quando soube do que Jasão tinha feito e da agitação entre os

judeus em desafio à sua política de helenização, Antíoco reagiu com muita dureza.

A. A REAÇÃO DE ANTÍOCO

Em seu livro The Maccabees (Os Macabeus), Moshe Pearlman escreve:

“Embora os registros não sejam específicos, parece que Antíoco concluiu que permitir

aos judeus uma certa liberdade religiosa tinha sido um erro político. Em sua opinião, a

recente rebelião em Jerusalém não se tinha originado de razões puramente religiosas,

mas do sentimento pró-Egito existente na Judéia, e esses sentimentos políticos tinham

se manifestado de forma perigosa exatamente porque, de todo o povo sob seu domínio,

somente os judeus tinham procurado e conseguido obter uma ampla medida de

separatismo religioso. . . . Ele decidiu que isso iria acabar.”

O estadista e erudito israelense Abba Eban resume o que aconteceu a seguir:

“Numa rápida sucessão durante os anos 168 e 167 [AEC], os judeus foram massacrados,

o Templo foi saqueado e a prática da religião judaica foi proscrita. A circuncisão e a

observância do sábado eram punidas com a morte. O insulto final veio em dezembro de

167, quando Antíoco ordenou a construção de um altar dedicado a Zeus, dentro do

Templo, e exigiu que os judeus sacrificassem carne suína — obviamente impura, de

acordo com a lei judaica — ao deus dos gregos.” Durante esse período, Menelau e

outros judeus helenizados continuaram em suas posições, oficiando no templo agora

profanado.

Embora muitos judeus aceitassem o helenismo, um novo grupo, autodenominado

hassidins — os pios — incentivava a obediência mais estrita à Lei de Moisés. Revoltado

com os sacerdotes helenizados, o povo cada vez mais tomava o lado dos hassidins.

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Page 4: Os Macabeus

Estabeleceu-se uma era de martírio à medida que os judeus, em todo o país, eram

forçados a escolher entre adotar os costumes e sacrifícios pagãos e a morte. Os livros

apócrifos dos Macabeus relatam numerosos episódios de homens, mulheres e crianças

que preferiram morrer a transigir.

B. A REAÇÃO DOS MACABEUS

O extremismo de Antíoco fez muitos judeus lutarem por sua religião. Em

Modi’in, ao noroeste de Jerusalém, perto da moderna cidade de Lode, um sacerdote

chamado Matatias foi convocado ao centro da cidade. Ele era respeitado pelos

habitantes da região e, por isso, o representante do rei tentou convencê-lo a participar

num sacrifício pagão — a fim de salvar sua própria vida e estabelecer um exemplo para

o restante das pessoas da região. Quando Matatias recusou-se a fazer isso, um outro

judeu se apresentou, pronto para transigir. Indignado, Matatias pegou uma arma e o

matou. Atordoados pela reação violenta desse homem idoso, os soldados gregos

demoraram para reagir. Em poucos segundos ele matou também o oficial grego. Os

cinco filhos de Matatias e os habitantes da cidade dominaram as tropas gregas antes que

se pudessem defender.

Matatias gritou: ‘Quem tiver zelo pela Lei, que me siga!’ Para evitar represálias,

ele e seus filhos fugiram para as montanhas. Assim que isso se tornou conhecido, judeus

(incluindo muitos hassidins) se juntaram a eles. Matatias encarregou Judas, seu filho,

das operações militares. Talvez devido à sua bravura militar, Judas foi chamado

Macabeu, significando “martelo”. Matatias e seus filhos foram chamados de asmoneus,

nome derivado da cidade de Hesmom ou de um ancestral que tinha esse nome. (Josué

15:27) Judas Macabeu tornou-se o personagem central durante a rebelião e, por isso, a

família inteira veio a ser chamada de Macabeus.

C. A RETOMADA DO TEMPLO

Durante o primeiro ano da revolta, Matatias e seus filhos conseguiram organizar

um pequeno exército. Em mais de uma ocasião, tropas gregas atacaram grupos de

guerreiros hassidins no sábado. Embora fossem capazes de se defender, não violariam o

sábado. Isso resultou em massacres. Matatias — agora encarado como autoridade

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Page 5: Os Macabeus

religiosa — instituiu uma norma permitindo que os judeus se defendessem no sábado.

Essa norma não só deu um novo alento à rebelião, mas também estabeleceu no judaísmo

o precedente de permitir aos líderes religiosos adaptar a lei judaica de acordo com as

circunstâncias. O Talmude reflete essa tendência na declaração posterior: “Deixe-os

profanar um Sábado para que possam santificar muitos Sábados.” — Yoma 85b.

Após a morte de seu idoso pai, Judas Macabeu tornou-se o líder incontestado da

revolta. Percebendo que não conseguiria derrotar seus inimigos numa batalha em campo

aberto, ele desenvolveu novos métodos, semelhantes aos que os guerrilheiros usam

atualmente. Ele atacou os exércitos de Antíoco em regiões onde não poderiam recorrer

aos métodos de defesa a que estavam acostumados. Numa batalha após outra, Judas foi

bem-sucedido em derrotar exércitos tremendamente maiores que o seu.

Por causa das rivalidades internas e do crescente poder de Roma, os governantes

do império selêucida não estavam muito preocupados em aplicar os decretos contra os

judeus. Isso abriu caminho para Judas investir contra os próprios portões de Jerusalém.

Em dezembro de 165 AEC (ou talvez 164 AEC), Judas e suas tropas tomaram o templo,

limparam seus utensílios e o rededicaram — exatamente três anos após sua profanação.

Os judeus comemoram esse evento anualmente durante o Hanucá, a festividade da

dedicação.

D. INTERESSES POLÍTICOS SE SOBREPÕEM À DEVOÇÃO

Os objetivos da revolta tinham sido alcançados. As proibições contra a prática

do judaísmo foram removidas. A adoração e os sacrifícios no templo haviam sido

restaurados. Satisfeitos, os hassidins deixaram o exército de Judas Macabeu e voltaram

para casa. Mas Judas tinha outros planos: por que não usar seu exército bem treinado

para estabelecer um Estado judeu independente? As causas religiosas que

desencadearam a revolta foram agora substituídas por incentivos políticos. Por isso a

luta continuou.

Buscando apoio em sua guerra contra a dominação selêucida, Judas Macabeu fez

um acordo com Roma e, embora tenha sido morto numa batalha em 160 AEC, seus

irmãos continuaram a luta. Jonatã, irmão de Judas, manobrou as coisas para que os

governantes selêucidas concordassem com sua nomeação para o cargo de sumo

sacerdote e governante na Judéia, embora ainda sujeito à soberania deles. Quando

Jonatã foi enganado, capturado e assassinado em resultado de uma trama dos sírios, seu

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Page 6: Os Macabeus

irmão Simeão — o último dos irmãos macabeus — assumiu o comando. Sob o governo

de Simeão, os últimos vestígios do domínio selêucida foram removidos (em 141 AEC).

Simeão renovou a aliança com Roma e os líderes judeus o aceitaram como governante e

sumo sacerdote. Dessa maneira, estabeleceu-se nas mãos dos macabeus uma dinastia

asmonéia independente.

Os macabeus restabeleceram a adoração no templo antes da vinda do Messias.

(Note João 1:41, 42; 2:13-17.) Mas a confiança no sacerdócio, já minada por causa do

comportamento dos sacerdotes helenizados, foi ainda mais abalada sob os asmoneus. Na

verdade, o governo exercido por sacerdotes de mentalidade política, em vez de por um

rei da linhagem do fiel Davi, não trouxe verdadeiras bênçãos para o povo judeu. — 2

Samuel 7:16; Salmo 89:3, 4, 35, 36.

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Page 7: Os Macabeus

IV. INICIO DA REVOLTA

Com a proibição em 167 a.C. da prática do judaísmo pelo decreto de Antíoco

IV e com a introdução do culto do Zeus Olímpico no Templo de Jerusalém, muitos

judeus que decidem resistir a esta assimilação acabam sendo perseguidos e mortos.

Conforme diz o 1 Macabeus 1:56-64 :

"Quanto aos livros da Torá, os que lhes caíam nas mãos eram rasgados e

lançados ao fogo. Onde quer que se encontrasse, em casa de alguém, um livro

da Aliança ou se alguém se conformasse à Torá, o decreto real o condenava à

morte. Na sua prepotência assim procediam, contra Israel, com todos aqueles

que fossem descobertos, mês por mês, nas cidades. No dia vinte e cinco de cada

mês ofereciam-se sacrifícios no altar levantado por sobre o altar dos

holocaustos. Quanto às mulheres que haviam feito circuncidar seus filhos, eles,

cumprindo o decreto, as executavam com os mesmo filhinhos pendurados a seus

pescoços, e ainda com seus familiares e com aqueles que haviam operado a

circuncisão. Apesar de tudo, muitos em Israel ficaram firmes e se mostraram

irredutíveis em não comerem nada de impuro. Eles aceitaram antes morrer que

contaminar-se com os alimentos e profanar a Aliança sagrada, como de fato

morreram. Foi sobremaneira grande a ira que se abateu sobre Israel".

Entre os judeus que permanecem fiéis à Torá, está o sacerdote Matatias,

chamado de Hasmoneu devido ao nome do patriarca de sua linhagem (Hasmon).

Recusando-se a servir no templo profanado, Matatias se exila com sua família em sua

propriedade em Modin. Matatias tem cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e

Jônatas. Convocados para os sacrifícios sacrílegos, Matatias acaba matando o emissário

real e um sacerdote que se propõe a oficiar os sacrifícios. Convoca então os judeus fiéis

à Torá e foge com seus filhos para as montanhas, iniciando o movimento de resistência

contra o domínio estrangeiro, destruindo altares, circuncidando meninos à força e

recuperando a Torá das mãos dos gentios.

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Page 8: Os Macabeus

A Revolta dos Macabeus

Um dos períodos menos conhecidos da História Hebraica pelos cristãos é a

Revolta dos Macabeus (aprox. 170-140 AC). Os cristãos não conhecem porque os

protestantes hereticamente acabaram por tirar os dois excelentes livros dos Macabeus de

suas Bíblias. Os católicos não conhecem porque somos terrivelmente relaxados com os

assuntos de Bíblia (aliás, quase em todos os assuntos!). Os judeus conhecem bastante,

celebram anualmente o Chanucá em homenagem a repurificação do Templo por Judas

Macabeu.

Contudo, a Revolta marcou profundamente Israel e a cara do Antigo

Testamento. A sociedade hebraica na época de Jesus está indelevelmente marcada pelos

eventos da época da Revolta. Além de ser o período de transição que prepara a ascensão

romana.

Resumindo, os israelitas haviam voltado do exílio na Babilônia no início do

Império Persa, reconstruindo Jerusalém. Viveram em relativa paz na época persa. Após

as campanhas de Alexandre, o Grande, a Judéia terminou na mão do Império Selêucida

da Ásia. O rei Antíoco IV Epífanes iniciou uma política de helenização forçada da

Judéia não sem uso de força, incluindo a profanação do Templo de Jerusalém e sua

dedicação a Júpiter, o que provocou a Revolta.

A revolta foi bastante sangrenta, com diversas batalhas e trocas de lealdade nas

constantes usurpações e golpes de estado na dinastia dos Selêucidas. Nessa época os

judeus selaram a aliança com os romanos, que vitoriosos na Segunda Guerra Púnica e

na Terceira Guerra Macedônica, começavam a dominar o Mediterrâneo.

Como resultado da revolta, os judeus saíram vencedores, e tiveram sua

independência reconhecida pelo Império Selêucida e o Egito Ptolomaico. Viveram

numa rara independência, governados pela dinastia sacerdotal dos hasmoneus, herdeiros

dos Macabeus... até que Pompeu Magno conquistou a Judéia para o Império Romano.

A luta por manter a identidade nacional contra a helenização forçada explica, na

minha honesta opinião, muita coisa do caráter do judaísmo. Se observarmos Israel pré-

exílio, veremos bastante tolerância com os costumes estrangeiros, especialmente

cananeus e egípcios. Porém depois da revolta é claro o viés nacionalista e religioso que

os judeus tomaram, o que culmina em grupos como os fariseus e zelotes na época

romana.

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Page 9: Os Macabeus

Explica-se também a mágoa mortal que os judeus que os sentiam dos romanos.

Como a Palestina é uma convergência estratégica entre Egito, Mesopotâmia, Arábia e

Ásia Menor, o estado de Israel apenas conheceu a independência em época de desordens

dos grandes Impérios. Sempre que um grande Império se estabelecia, a Palestina era

sujeita. O Êxodo se deu no crepúsculo do Novo Império Egípcio, a ascensão da Assíria

destruiu o reino de Israel; da Babilônia, o reino de Judá. A reconstrução de Jerusalém e

seu Templo foi feita sob patrocínio político e financeiro dos imperadores persas, dos

quais ficaram súditos. A independência pós-Macabeus só foi possível com a desordem

dos impérios helenísticos. Teria vida curta, contudo, com a ascensão do Império

Romano, o maior dos impérios (então República). Ainda que a sujeição tenha sido

facilitada pelas próprias guerras civis dos judeus, que recorreram a eles. Porém a época

romana não foi homogênea, Israel teve uma relativa liberdade durante as guerras civis

dos romanos. E depois dos romanos, os Impérios dos árabes e otomanos dominaram a

Palestina. Mesmo o Israel moderno apenas sobrevive pela fraqueza dos países a sua

volta.

Também temos que pensar que a vitória na Revolta dos Macabeus inspirou

certamente as desastrosas rebeliões judaicas na época romana, que custaram muito caro,

com a definitiva destruição do Templo. Antíoco apenas profanou, os romanos

arrasaram. É verdade que o Novo Testamento oferece uma perspectiva sobrenatural à

destruição do Templo, ele não seria mais necessário. Há quem diga que a própria

dinastia dos hasmoneus, isto é, pós-Macabeus, sucumbiu a helenização de que os

macabeus tanto lutaram contra. Uma coisa interessante de se resistir é que o Herodes

Magno, aquele que mandou matar as crianças de Belém, era um rei judeu herdeiro dos

hasmoneus, mas um total vassalo de Roma e um homem totalmente versado nos

costumes de seus senhores latinos.

Outro ponto importante é a ascensão da literatura apocalíptica no Antigo

Testamento, especialmente a profecia de Daniel. Essa profecia de Daniel já deu muito

pano para manga, inclusive às viagens dos Adventistas e sua falsa profetisa e plagiadora

literária Ellen White. A profecia de Daniel tem duas camadas, tanto pode ser encarada

falando da época dos Macabeus quanto da vinda do Cristo. Há biblistas que afirmam

que o livro de Daniel foi escrito exatamente na época dos Macabeus, pois suas profecias

se encaixam com perfeição nos eventos da época (pondo por terra a afirmação de

que não haveriam livros inspirados após o tempo de Esdras).

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Page 10: Os Macabeus

A Teologia da Libertação adora a época dos Macabeus. Deliciam-se falando do

povo oprimido lutando contra o Império do Mal. Não duvidem, na boca desses teólogos

Antíoco IV tem a cara do Tio Sam dizendo I WANT YOU FOR THE US ARMY. A

Judéia é a América Latrina para eles, e e o Templo de Jerusalém é o Foro São Paulo.

Há ligações entre o Novo Testamento e o tempo dos Macabeus. A carta aos

Hebreus cita uma passagem das torturas que os judeus sofriam naquela época (as mães

carregando os filhos partidos ao meio). Cristo fala da Abominação da Desolação posta

no Templo. O profeta Daniel também fala dela. E no livro dos Macabeus explica o que

é, o ídolo de Júpiter Olímpico, colocado no Santo dos Santos do Templo. Porém no

Evangelho há a segunda camada profética, a figura da Abominação da Desolação é

reeditada como a profanação do templo pelos soldados romanos, assim como foi quando

da instalação do Júpiter. Não duvido que Deus, vendo todo o tempo, falou prevendo

ambas profanações.

Além de que na época dos Macabeus já se antevêem profeticamente os primeiros

conceitos do Cristianismo, como a ressurreição. Schopenhauer dá uma criticada nos

monoteísmos por assumirem a criação de uma alma imortal do nada, ao contrário da

metempsicose dos orientais. Porém é rigorosamente na época dos Macabeus que esse

conceito da imortalidade da alma e do julgamento no Além surge.

É curioso que tanto a profecia do Apocalipse de Daniel, assim como sua gêmea,

o Apocalipse de São João, falam da destruição do Império Final pelo reino de Deus.

Quando Daniel fala que o Império de Ferro torna-se um misto de ferro e barro que não

se mistura tanto se refere a Alexandre e os reinos helenísticos quanto ao Império

Romano e os reinos europeus. É fato que o Império Selêucida foi ferido de morte,

porém o Império Romano permaneceu firme e forte séculos após a destruição do

Templo e exílio dos judeus.

Voltando ao tema do Império Romano que me é tão caro, acho curioso que

realmente o Império Romano não foi destruído, mas convertido. É como aquelas vespas

que colocam larvas na cabeça dos besouros. As larvas crescem comendo o besouro que

abandonam morto quando chega sua vida adulta (tipo Alien, o oitavo passageiro). Em

certo sentido, se não houvesse a Pax Romana, o Cristianismo não teria conseguido se

espalhar. O Império Romano conquistou e unificou implacavelmente o mundo a sua

volta. Bateu na Igreja Católica como uma massa de pão, quanto mais sovou, mais

cresceu. Por fim, não sem eventos miraculosos (Constantino viu algo sim, não se pode

explicar sua conversão meramente por política, porque o ônus que ele pagou foi muito

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Page 11: Os Macabeus

alto), a população do Império quase que completamente converteu-se ao Cristianismo e

tornou-o sua religião oficial com o imperador Teodósio Magno. Quando a larva cristã

da Igreja estava forte, morreu o Império hospedeiro. Morreu? Morreu nada, converteu-

se em nós. Carrego Roma nesta língua que escrevo...

E por ironia do destino, é Roma, a destruidora e profanadora definitiva do

Templo de Deus, a sede da Igreja Católica e a herdeira de todo Antigo Testamento e

contribuição do judaísmo. É Roma que conseguiu finalmente o união com o pensamento

grego que tanto atrito teve na época dos macabeus. Nossa sociedade ocidental se baseia

na matriz Judaico-Grega, um bipolo só unificado pelo Cristianismo bebendo das duas

fontes. Cultural, teológica e filosoficamente a Igreja uniu a divisão de mundos

irremediavelmente conflitada na época dos Macabeus. Em certo sentido, o mundo a

época macabaica não estava preparado para esta união, e nem ela estava sendo conduzia

direito, com a helenização debaixo de porrada de Antíoco. Viva sim os Macabeus!

Essa é minha análise da História dos Macabeus. Realmente vê-se uma dinâmica

da História que me faz ser tentado até por uma abordagem da dialética histórica

hegeliana (Hegel, bah! Viva Schopenhauer!!!). Não é a toa que um dos atributos de

Deus é Senhor da História. Tudo estava nos planos dentro de planos dentro de planos

de Deus...

O Senhor desfaz os planos das nações. E os projetos que os povos se propõe.

Mas os desígnios do Senhor são para sempre.

E os pensamentos que ele traz no coração.

De geração em geração vão perdurar. (Sl 32,10-11)

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Page 12: Os Macabeus

V. JUDAS MACABEU

Matatias morre em 166 a.C., e seu filho Judas assume a liderança da resistência.

Judas desenvolve técnicas de guerrilha, que vence as contínuas tropas selêucidas

enviadas. Apesar de alguns explicarem tal como "intervenção divina", Antíoco também

tinha de se preocupar com outras revoltas em seu império. Em 164 a.C., Judas e seus

homens conseguem tomar Jerusalém e rededicar o Templo, no que ficaria conhecida

como a Festa de Chanucá.

"No dia vinte e cinco do nono mês - chamado Casleu - do ano cento e quarenta

e oito, eles se levantaram de manhã cedo e ofereceram um sacrifício, segundo as

prescrições da Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que haviam construído.

Exatamente no mês e no dia em que os gentios o tinham profanado, foi o altar

novamente consagrado com cânticos e ao som de cítaras, harpas e címbalos (…)

E Judas, com seus irmãos e toda a assembléia de Israel, estabeleceu que os dias

da dedicação do altar seriam celebrados a seu tempo, cada ano, durante oito

dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu, com júbilo e alegria". (1

Macabeus 4:52-54,59)

Com a morte de Antíoco IV em 164 a.C., a luta de resistência prossegue

contra Antíoco V (164-162 a.C.), seu filho, e o regente Lísias e, a seguir, contra

Demétrio I Sóter (161-150 a.C.).

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Page 13: Os Macabeus

VI. DINASTIA HASMONEIA

Com a morte de Judas, a liderança da família e da revolta contra o Império

Selêucida passa para o seu irmão Jônatas. Jônatas faz vários acordos e alianças com

vários países, como Esparta e inclusive com a potência da época, a República Romana,

para que fosse reconhecida a situação de Israel como nação livre perante o

império selêucida. Jônatas prossegue com a revolta, até que no ano de 153 a.C. ganha o

cargo de sumo sacerdote de Israel por decreto de Alexandre, rei selêucida. Jônatas se

aliara a Alexandre, na tentativa deste de usurpar o trono de Demétrio I Sóter. Quando

Alexandre consegue o trono, ele recompensa Jônatas, a qual permite governar quase que

com total independência a Judéia. Entretanto, o rei sucessor de Alexandre, o rei Antíoco

VI, torna-se hostil aos judeus, o que provoca nova guerra, dessa vez liderada por Simão,

irmão de Jônatas e atual sumo sacerdote.

Por fim, a real independência da Judéia vem no governo de João Hircano I, filho

de Simão, que se tornou sumo sacerdote e foi coroado rei da Judéia. João Hircano ainda

enfrentou uma nova tentativa de invasão do Império Selêucida sob o comando do

rei Antíoco VII. De acordo com a lenda, o rei João Hircano I, abriu o sepulcro do

Rei Davi e de lá retirou três mil talentos, que entregou a Sidetes para que esse poupasse

Jerusalém. Antíoco, então, atacou a Pártia, apoiado pelos judeus, e, por um curto tempo,

recuperou a Mesopotâmia, Babilônia e a região dos Medos, antes de cair em uma

emboscada e ser morto por Fraates II de Pártia. O reino Selêucida, então, se restringiu

à Síria. Com isso a independência da Judéia como um reino independente sob a dinastia

Hasmoneia é assegurada.

Durante o reinado de João Hicarno I e de Alexandre Janeu, há uma expansão do

reino judeu, que incorpora regiões importantes da Palestina,

como Mádaba,Samega, Siquém, Adora, Marisa e a Idumeia. Nesse processo, há uma

ajudaização forçada das populações conquistadas. Por essa época é que surgem os três

grandes partidos políticos da Judéia: Fariseus, Saduceus e os Essênios. As crueldades

cometidas por João Hircano I contra as cidades conquistadas e as populações

forçadamente judaizadas provocam a primeira reação dos Fariseus contra os

governantes Macabeus. A partir deste momento João Hircano I alia-se aos saduceus e

rompe com os fariseus. Durante os próximos reinados, de Alexandre Janeu (104-103

a.c) e de Aristóbulo I (103-76 a.c), os governantes Hasmoneus se apóiam nos Saduceus

contra os Fariseus. Entretanto, durante o reinado da rainha Salomé Alexandra (76-66

13

Page 14: Os Macabeus

a.c), há um aproximamento da monarca com o partido Fariseu, em detrimento dos

Saduceus.

VII. DECLÍNIO HASMONEU E A SUBJUGAÇÃO ROMANA

A relativa independência dos judeus termina com a ascensão de Aristóbulo II ao

trono. Seu irmão, João Hircano II, inicia uma guerra civil que termina com a

intervenção do general romano Pompeu no ano de 63 a.C., sob o pretexto de pacificar a

região. Pompeu coloca Hircano II como sumo sacerdote, entretanto lhe retira o título

real e transforma a Judéia em um reino cliente subordinado a um procurador romano.

No ano de 37 a.C., Marco António entrega o trono da Judéia a Herodes, o Grande, um

príncipe idumeu filho do procurador romano, Antipater. Para se legitimar no trono,

Herodes se casa com Mariana, a única filha e herdeira do sumo sacerdote

Hasmoneu Antígono, filho de Hicarno II. Entretanto, com medo de conspirações por

parte da elite judaica e dos seus filhos com Mariana, manda executar a esposa e acusa

seus filhos, Alexandre e Aristóbulo IV de alta traição, que são julgados e executados

em 7 a.C..

VIII. LISTA DE REIS E GOVERNANTES HASMONEUS

Judas Macabeu - 164-160 a.C. - Lidera a sua família e os rebeldes contra

o Império Selêucida.

Jônatas - 160-143 a.C. - Governou como sumo sacerdote.

Simão - 142-134 a.C. - Governou como sumo sacerdote.

João Hircano I - 134-104 a.C.

Aristóbulo I - 104-103 a.C.

Alexandre Janeu - 103-76 a.C. - Primeiro Hasmoneu a tomar o título de rei, além

de sumo sacerdote.

Salomé Alexandra - 76-66 a.C.

Aristóbulo II - 66-63 a.C. - Deposto pelos romanos. Seu irmão, João Hircano II,

foi feito sumo sacerdote em seu lugar.

João Hircano II - 63-40 a.C. - Colocado no governo como sumo sacerdote pelos

romanos.

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Antígono - 40-37 a.C. - Deposto pelos romanos, foi eleito Herodes, o

Grande como rei da Judéia.

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BIBLIOGRAFIA

http://pt.wikipedia.org/wiki/Macabeus

http://bibliotecabiblica.blogspot.com.brna revista Notícias de Israel, março de 2005.

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