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ALBENILDES PEREIRA LUNA
OS IMPACTOS DO ESPORTE PARA A CIDADANIA: O PROGRAMA
SEGUNDO TEMPO COMO POLÍTICA PÚBLICA SOCIAL EM
AGUAZINHA.
Olinda
2007
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ALBENILDES PEREIRA LUNA
OS IMPACTOS DO ESPORTE PARA A CIDADANIA: O PROGRAMA
SEGUNDO TEMPO COMO POLÍTICA PÚBLICA SOCIAL EM
AGUAZINHA.
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profª. Drª. Tereza Luiza de França
Olinda
2007
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LUNA, Albenildes Pereira.
Os Impactos do Esporte para a Cidadania: O Programa Segundo Tempo como Política Pública Social em
Aguazinha. Olinda, 2007.
(Nº de páginas, ex:) 30 p.
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino à Distância, 2007.
1. Esporte 2. Cidadania 3. Políticas Públicas
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ALBENILDES PEREIRA LUNA
OS IMPACTOS DO ESPORTE PARA A CIDADANIA: O PROGRAMA
SEGUNDO TEMPO COMO POLÍTICA SOCIAL PÚBLICA EM
AGUAZINHA
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:
Presidente: Profª. Drª. Tereza Luiza de França Universidade de Pernambuco
Membro: Professor Drº. Juarez Oliveira Sampaio Universidade de Brasília
Olinda (PE), 31 de março de 2007.
v
A Deus, fonte de vida. A todos que de alguma forma me auxiliaram a vencer os desafios da trajetória que causaram fortalecimento e crescimento pessoal.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Profº. Paulo Hermes por ter me convidado a integrar o grupo de
coordenadores de núcleo do Programa Segundo Tempo em Olinda, ao Ministério do
Esporte pela oportunidade de participar de um curso de especialização à distância e em
especial a Profª. Drª. Tereza Luiza de França pela significativa contribuição na elaboração
do TCC.
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“[...] o fim de tudo só alcançaremos quando conseguirmos ensinar um esporte às nossas crianças de tal forma que as mesmas possam crescer, se desenvolver e se tornar adultas através dele, e quando isso acontecer, quando se tornarem adultas, possam praticar esportes, movimentos e jogos como crianças”.
Eleonor Kunz
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RESUMO
O presente estudo monográfico insere-se nas discussões e reflexões acerca do esporte e
cidadania. É um estudo que aborda o processo de elaboração, sistematização e avaliação das
práticas do esporte, realizadas durante o Programa Segundo Tempo na comunidade de
Aguazinha. Desta feita, nossa problemática levou em conta o contexto social da comunidade,
o contexto político-social mais amplo e o campo teórico-crítico. Para tanto, definimos por
objetivo, identificar e analisar, no Programa Segundo Tempo junto à comunidade de
Aguazinha, como o esporte, enquanto uma prática social democrática, contribui com
possibilidades e alternativas de vivências e saberes que permitam o fluir da inclusão social
numa perspectiva do exercício da cidadania? Nesta direção, as categorias esporte e cidadania
foram tomadas como eixos centrais nas buscas dos dados e de suas análises. A pesquisa foi
desenvolvida tomando por base concepções que envolvem princípios metodológicos da
Pesquisa-Ação, na qual a ação-reflexão-ação assegura os eixos do estudo. Com base na
literatura, aprofundamos as referências através de concepções que se revelam pela
materialização das vivências construídas de forma participativa com a implantação de
políticas públicas que integram o Programa Segundo Tempo. Eleger o Programa Segundo
Tempo na comunidade de Aguazinha enquanto universo de pesquisa, tem três níveis
argumentativos: evidenciar e reafirmar a prática do esporte como possibilidade e alternativa
para crianças e jovens das comunidades sociais; aprofundar estudos acerca do esporte
qualificando teórica e cientificamente a profissional envolvida como pesquisadora; contribuir
para a análise, avaliação e sugestões acerca de políticas públicas, em especial, o Programa
Segundo Tempo, realizado com ações formativas, à luz de um processo transformador no
qual, as práticas esportivas ocupam espaço político-social. Por fim, sem esgotar as
possibilidades, apresenta elementos para outros estudos acerca do esporte, inserindo-se assim,
no atual contexto científico nacional.
PALAVRAS CHAVES: Esporte, Cidadania, Políticas Públicas
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 12
3 MÉTODO ................................................................................................................... 19
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 24
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS (OU CONCLUSÃO) .................................................. 27
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29
APÊNDICES E ANEXOS ........................................................................................ 30
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1 INTRODUÇÃO
Esporte e Cidadania: construindo a problemática
Não é de todo equivocada a afirmação de que o esporte é um dos fenômenos mais expressivos deste século. Sem dúvida, o esporte faz hoje parte, de uma ou de outra forma, da vida da maioria das pessoas em todo mundo. {...} Hoje, ele é, em praticamente todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade quanto a sua legitimidade social (BRACHT, 1997, p. 5).
Iniciar as reflexões de nosso estudo monográfico acerca do esporte com as afirmações
acima, significa compreendê-lo como uma prática fundamental para a vida em sociedade.
Significa ressaltar a responsabilidade dos estudiosos acerca de seus princípios e possibilidades
e, principalmente, significa buscar junto às políticas públicas, os programas e propostas para a
democratização desta prática milenar.
Ao longo das minhas práticas acadêmicas tanto como estudante como professora, sempre
busquei qualificar o pensamento na direção da democratização das práticas corporais
vislumbrando contribuir para a formação humana.
Penso que, ensinar se compromete com formar o cidadão que necessita desenvolver sua
criticidade, sua autonomia, sua liberdade de expressão, sua capacidade de reflexão, se
inserindo no mundo e deixando a sua marca na história.
Reformular e transformar o ensino dos esportes é uma preocupação mundial. No Brasil, a
inclusão de mais praticantes de esportes perpassa por um novo olhar numa área altamente
enraizada no modelo de performance baseado em movimentos tecnificados.
No horizonte das mudanças sociais existe uma preocupação central, que é uma
transformação específica da didática do esporte, do conteúdo e do método de ensino do
esporte.
Se o professor de esporte tiver a coragem de encarar as mudanças que já ocorrem em
pequenas comunidades de nosso país, teremos em médio prazo um país com mais praticantes,
que participam ativamente de atividades em suas comunidades e não somente consomem
esportes através da tv.
Nesta visão e perspectiva transformadora, foram surgindo questões que nortearam este
estudo: Que princípios esportivos são priorizados, os quais são apontados pelo Programa
Segundo Tempo, nas práticas da comunidade focada neste estudo? Será que são extrapolados
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os limites da prática esportiva? Que procedimentos são adotados que possam proporcionar
formas de inclusão como a convivência social? De que forma didático-metodológica o esporte
é vivido pelo coletivo social? Neste programa o esporte compõe um conjunto de ações que
provocam o envolvimento das crianças de forma cooperativa junto à comunidade? Será o
respeito, a cooperação, a motivação categorias presentes nas práticas esportivas vividas pela
comunidade?
Estas e outras inquietações, pouco a pouco, foram delineando a problemática que optamos
por responder a partir deste estudo monográfico, a saber: O esporte vivido pela comunidade
de Aguazinha durante as atividades do Programa Segundo Tempo, foi uma prática social
democrática que contribuiu com possibilidades e alternativas de vivências e saberes que
permitiram o fluir da inclusão social numa perspectiva do exercício da cidadania?
Ao tomar por base esse problema de estudo, definimos como objetivo identificar e
analisar, no Programa Segundo Tempo junto comunidade de Aguazinha, como o esporte
enquanto uma prática social democrática contribui com possibilidades e alternativas de
vivências e saberes que permitam o fluir da inclusão social numa perspectiva do exercício da
cidadania.
Este esforço teórico nos permite reconhecer a relevância científico-social deste estudo em
vários níveis, dos quais destacamos três: 1) evidenciar e reafirmar a prática do esporte como
possibilidade e alternativas para crianças e jovens das comunidades sociais; 2) permite
aprofundar estudos acerca do esporte qualificando teórica e cientificamente a profissional envolvida como pesquisadora; 3) contribui para análise, avaliação e sugestões acerca de
políticas públicas, em especial o Programa Segundo Tempo, realizado com ações formativas à
luz de um processo transformador, no qual, as práticas esportivas ocupam espaço político-
social.
Por fim, sem esgotar as possibilidades, destacamos que este estudo, sem dúvida, apresenta
elementos para outros estudos acerca do esporte, inserindo-se, assim, no atual contexto
científico nacional.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Esporte e Cidadania: Discussões entre os teóricos.
[...] o esporte, como um direito de todos, só acontece se tiver sentido para o indivíduo, inclusive, de diversão. [...] Cada um, homem ou mulher, criança ou idoso, pobre ou rico sente, pensa, age, imagina e deseja, interagindo significativamente com o mundo, incluindo o mundo do esporte (FERREIRA, 2002, p. 50)
A prática do esporte é uma manifestação incorporada pela humanidade e que integra
não apenas um calendário das grandes competições estaduais, nacionais e internacionais,
mas, sobretudo, a vida de homens ou mulheres, crianças ou idosos, pobres ou ricos. Esta
compreensão acerca da prática do esporte nos fez optar por iniciar a discussão entre os
teóricos que estudam o esporte citando esta autora e seu pensar, pelo fato de que as
expressividades do corpo brasileiro estão presentes em toda e qualquer manifestação
esportiva.
Sem dúvida é uma prática que, realizada e/ou sistematizada, levando em conta o ser
humano em sua plenitude de emoção, prazer, aprendizado, tanto no sentido individual
quanto no sentido coletivo, possibilita elementos necessários para uma formação humana,
digna com vista na construção do exercício para a cidadania. Aqui cabe uma questão
fundamental: qual o sentido e o significado de educar para cidadania a partir da prática do
esporte?
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Inicialmente, localizamos a concepção sobre cidadania para ser possível analisarmos a
prática esportiva como possibilidade da construção cidadã. Para tanto, começamos as
discussões nos valendo dos estudos de Plasencia (2001, p. 15-16) ao afirmar que:
A educação para cidadania no horizonte de democracia tem sido concebida, implementada e estudada a partir de distintos enfoques de democracia [...] Essa educação se constrói, nos movimentos sociais, a partir de suas lutas cotidianas, vistas essas como um processo eminentemente educativo. Este processo abrange, entre outras dimensões, a da organização e cultura política.
Nesta perspectiva, reconhecemos que historicamente, o professor de Educação Física
atuou como um símbolo de uma cultura regrada e disciplinadora. A aplicação das regras
do esporte e o uso do espaço físico e do tempo como controladores da atividade, são
alguns símbolos que até hoje permanecem.
Porém, o acesso à aquisição do conhecimento pode ser desenvolvido em programas
esportivos que ensinam e desenvolvem esportes através de um contexto gerador de ações
democráticas, utilizando ações pedagógicas que contribuam de forma efetiva para a
construção do processo de cidadania.
Segundo Gonçalves (1994, p.160), o esporte numa perspectiva transformadora
possibilita alternativas pedagógicas tanto no interior da escola como fora desta. Neste
sentido, afirma que:
Dentro da perspectiva transformadora, a prática do esporte no âmbito escolar, fugindo de uma prática de competição exagerada, elitizante e agressiva, oferecem amplas oportunidades ao professor de educação física para proporcionar aos alunos autênticas experiências corporais e, ao mesmo tempo, a possibilidade de vivenciar concretamente princípios democráticos.
É nosso dever desenvolver práticas educativas que possam contribuir para uma
sociedade enquanto um espaço humano, onde a vida possa ser vivida dignamente, atuar
democraticamente nos conflitos sociais, saber votar e exigir direitos sociais. “A educação
é, pois, o fator fundamental na sua concepção de cidadão.” (Ferreira, 1993 p. 1341 ).
Qualquer que seja o enfoque dado à educação sabe que a própria sociedade produz
diversidades, de modo que os fins variam: ela forma o cidadão, o soldado, o artista, o
intelectual.
Mas, uma coisa é desejar que na diversidade humana os indivíduos façam, aprendam e
tenham comportamentos similares uns aos outros. Outra é respeitá-los concretamente
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oportunizando-lhes conhecimentos e aprendizagens compatíveis com suas diferenças e
igualdades. Uma dessas possibilidades está nas práticas de lazer na qual o esporte é vivido
com experiências de cada integrante do coletivo. Estas reflexões são reafirmadas nos
estudos de França (2003, p. 8) quando destaca o valor das experiências dando sentido e
significado à formação. A autora escreve que:
As experiências acumuladas, a partir do mundo vivido na cultura do lugar de cada ator da pesquisa, constituem-se em saberes que se ampliam à luz de estudos sobre corporeidade que, em substância, revelam experiências de fluxo como alicerces para estabelecer o verdadeiro, o belo e o bom acerca do conhecimento no domínio e no campo do lazer. Ou seja, saberes que impõem empreender o sentido e o significado de (re)encantamento do aprendente e do ensinante na produção e na intervenção no domínio e no campo do lazer.
Essa tomada de consciência, que não se reduz a processos puramente intelectuais, mas
também à adesão emocional, coloca o homem diante da possibilidade de identificar em
outros homens os seus próprios propósitos e a partir daí, unificar pessoas, congregar
aspirações e desejos, consolidar projetos, enfim, unir pessoas que se comprometam e
trabalhem em uma mesma direção em torno de objetivos comuns. Objetivos que podem
buscar através da educação promover cidadania. A história tem mostrado que sem ideais
não existe progresso humano.
A escola, assim como os programas sociais inseridos numa política pública social
podem contribuir para que a pessoa perceba-se numa coletividade e, nessa coletividade
possa socializar-se. É percorrendo esse caminho que a escola passa a ser um espaço
político de construção coletiva do conhecimento e de crescimento das pessoas,
possibilitando aos alunos criticidade e intervenção ativa.
Estamos diante de um quadro em que os adolescentes, principalmente os de classes
populares, estão à mercê da criminalidade, do envolvimento com drogas, do afastamento
da instituição escolar e da violência familiar. Não podemos deixar de nos indignar diante
dessas injustiças sociais.
Uma formação para a cidadania deve ser um compromisso constante em nossa prática
pedagógica, instrumentalizando esses adolescentes de classes populares a compreender e
interferir em sua realidade social, encarnando um pensar dinâmico e cidadão.
Nesta linha de pensamento Ferreira(2002) nos alerta acerca de nossa responsabilidade
enquanto educadores que sistematizamos práticas esportivas junto às comunidades. Diz a
autora:
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A educação física e o esporte em geral são fundamentais nesse novo momento, na medida em que se percebe que a sua prática precisa ir além da economia dos gestos, comprometendo-se com a educação dos sentidos. Ensinar a sentir o corpo, ser o corpo e expandi-lo não se esgota na instrução dos conteúdos, é preciso desenvolver a capacidade de conhecer humanamente o mundo.
Há, no momento histórico que estamos vivendo, um grande interesse dos alunos e
professores em participar de projetos sociais. É nesse momento, que a escola, os
programas sociais, as ONGs de forma organizada, podem fazer acontecer o resgate da
cidadania. A escola cidadã promove um saber que estimula os alunos à consciência do seu
papel enquanto cidadão, melhorando com isso a qualidade de vida extra-escolar, na
medida em que se amplia as relações sociais, interações e formas de comunicação.
A educação para a cidadania passa por não ambicionar o poder como forma de
subordinar seus semelhantes, não esquecer nossas utopias nem perder a capacidade de se
indignar diante de toda e qualquer injustiça social.
Esses resultados não são definitivos, compreendo que a educação é um processo
inacabado e, a educação crítica, como diz Freire (1980, p 81) [...] considera os homens
como seres em devir, como seres inacabados, incompletos em uma realidade igualmente
inacabada e justamente com ela.
A condição cidadã exige que a humanidade não deixe de inventar, de se inventar, de
criar, de investir na construção do humano humanitário e, que sem dúvida chegará a
produzir sociedades que inventem novas formas de convivência, outras formas de relação
e de viver sua expressividade corporal.
E, o esporte sempre estará ao lado desta construção cidadã, contribuindo com
elementos para sua concretização. Nestas práticas vividas junto à comunidade de
Aguazinha, como integrante do Programa Segundo Tempo, foi possível reafirmar que está
na hora de repensar a democracia representativa e procurar outras formas de conviver com
ela.
Mas, de que esporte está se falando? Quais os seus pressupostos e como ele se
materializa nas práticas sociais? Que concepções são asseguradas em práticas do esporte
em que a cidadania é uma categoria fundamental?
Estes questionamentos impõem aprofundarmos as reflexões acerca deste fenômeno
mundial. Aqui vale lembrar que estamos vivendo momentos de deslumbramentos e
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consagração do esporte em nosso país, dado a realização do Pan 2007, a ser realizado na
cidade do Rio de Janeiro.
Bem, esta é uma observação que não poderia deixar passar.
Então, os questionamentos acima colocados, norteiam as posições do estudo e da
pesquisadora frente às práticas realizadas no Programa Segundo Tempo na comunidade de
Aguazinha.
Compreendemos que o esporte como prática social, é resultante da ação humana e traz
consigo, na sua origem, a cultura do povo, modificada e transformada em produto de
consumo. Falamos de um esporte que deve ser oportunizado a todos os sujeitos da
aprendizagem, sem distinção de sexo, etnia, condição social ou habilidade motora, uma
vez que, sendo parte da cultura corporal do movimento, contribui na formação integral do
sujeito, através das suas interações com o outro, participação, cooperação e atitude
solidária, elementos fundamentais na formação do cidadão.
Um esporte que se apresenta de forma jogada, que prioriza o coletivo, a criatividade e a
brincadeira, a compreensão pelos alunos das suas próprias limitações. Um esporte
adquirido como bem cultural, cuja prática passa a ser compreendida como direito.
É na escola que se estabelece uma relação especial com o esporte, afinal, é ali que o
conhecimento produzido pelo homem é pedagogizado e tratado metodologicamente.
E, apesar da escola cumprir uma função de reprodução de práticas sociais do mundo
capitalista, existem movimentos antagônicos e de resistência em seu interior. A
possibilidade de vivência lúdica é um desses movimentos. Daí a importância de brincar de
esportes para tornar lúdica a tensão do esporte, transformando o compromisso com a
vitória, em compromisso com a alegria e com o prazer para todos que dele se apropria.
Estas relações são enfatizadas por Bracht (1988, p. 26) ao citar Cagical e afirmar que
“o esporte será tanto mais educativo quanto mais conservar a sua qualidade lúdica, sua
espontaneidade e seu poder de iniciativa”. Porém, é importante encontrar um equilíbrio
entre a ludicidade e o trabalho, gerando aprendizagem específica.
França (1996, p. 3), ao escrever sobre Educação para e pelo lazer, aprofunda reflexões
acerca da ludicidade, as quais são pertinentes nas discussões e reflexões acerca da prática
do esporte a partir da concepção assumida neste estudo. Escreve a autora que:
Na relação Educação e Lazer, a produção do conhecimento deve permitir aos sujeitos novos horizontes, possibilitando a melhoria na qualidade de vida, com condições objetivas e progressivas, na medida em que se propõe forjar sujeitos prático-reflexivos. Ao refletir sobre o Lazer enquanto elemento
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fundamental no processo de educação deve-se considerar os aspectos sóciofilosóficos que se manifestam a partir das mais variadas formas de vivenciar o lúdico, enquanto possibilidades que buscam contribuir para alterar as relações de poder estabelecidas no processo pedagógico de produção do conhecimento. O educador, ao identificar e refletir criticamente o valor histórico-educativo do Lazer na história da humanidade, estará concretizando um dos papéis fundamentais da educação no mundo contemporâneo[...]
Ter acesso ao conhecimento histórico do esporte, sua evolução, sua situação atual e
discutir em que sentido ele é importante, faz com que este, seja tratado como um
conhecimento e não como um treinamento. Além disso, não podemos deixar de fora a
abordagem da técnica, das regras e das táticas. Esses conhecimentos devem ser garantidos
aos alunos.
A técnica, tratada na perspectiva da resolução de problemas colocados para os alunos,
incentivando a descoberta e a pesquisa, será vista como um elemento do jogo, e não, como
algo mecanicamente colocado no jogo de fora para dentro. Enquanto são desafiados a
desenvolverem habilidades técnicas, os alunos descobrirão possibilidades táticas, pois as
problematizações além de motivar diferentes respostas, estimulam a criatividade e a
tomada de decisões.
O aluno, enquanto sujeito do processo de ensino, deve ser capacitado para a sua
participação na vida social, cultural e esportiva, o que significa a capacidade de conhecer,
reconhecer e problematizar sentidos e significados através da reflexão crítica. Nesse
contexto, a relação professor / aluno / saber ocorre a partir de um confronto, onde o
professor assume um papel de condutor mais experiente e o trato com o conhecimento é
encarado sob a perspectiva de um processo de apropriação.
O conhecimento intelectual aparece como suporte para a formação da cidadania, o
instrumento básico para o salto qualitativo entre a consciência ingênua e a consciência
crítica. Se acreditarmos que a escola, através do esporte pode promover cidadania, além
de proporcionar uma prática pedagógica comprometida com finalidades mais amplas, isso
só será possível, se dentro da escola tivermos uma verdadeira representação do grupo
social que está fora da escola: pessoas com diferentes crenças, de raças diferentes, com
saberes diferentes e com deficiências.
A experiência de conviver com a diversidade, tão necessária para a vida, nunca será
exercida num ambiente educacional segregado. Qualquer procedimento pedagógico deve
ter como pressuposto o respeito às diferenças e a valorização das diferentes possibilidades
e diferentes caminhos que cada um traça para a sua aprendizagem.
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É nessa perspectiva que busco visualizar o esporte. Um esporte que fala em
corporeidade, motricidade relações e interações humanas, que se compromete com a
educação dos sentidos, que ensina a sentir o corpo, ser o corpo e expandi-lo para
desenvolver a capacidade de conhecer o mundo de forma mais humana.
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3 MÉTODO
Os Caminhos feitos ao caminhar: delineando a metodologia do estudo.
Não é de todo equivocada a afirmação de que o esporte é um dos fenômenos mais expressivos deste século. Sem dúvida, o esporte faz hoje parte, de uma ou de outra forma, da vida da maioria das pessoas em todo mundo. [...] Hoje, ele é, em praticamente todas as sociedades, uma das práticas sociais de maior unanimidade quanto a sua legitimidade social (BRACHT 1997, p. 5).
Este é um estudo monográfico de caráter qualitativo que adotou da Pesquisa-Ação seus
princípios metodológicos, construindo o caminho que aflorou os dados, indicou as
categorias de análises – cidadania e esporte e orientou as análises dos resultados.
Como o Programa Segundo Tempo havia encerrado as atividades em todos os núcleos
de Olinda desde julho de 2005, os instrumentos selecionados para a coleta de dados
foram: relatórios mensais enviados à coordenação geral do programa, entrevista com a
supervisora do Programa em Olinda, entrevista com o líder comunitário de Aguazinha,
depoimentos dos pais ou responsáveis pelas crianças cadastradas e professoras da Escola
Joana Sena. Esses depoimentos foram colhidos em reuniões de pais e mestres que
aconteciam periodicamente na referida escola, nas quais éramos sempre convidados a
participar, já que a grande maioria das crianças que participavam do Programa, eram
alunos dessa escola.
Essa foi a trajetória do núcleo de Aguazinha no período de janeiro a julho de 2005:
Em janeiro de 2005, fui convidada a integrar um grupo de 19 pessoas que desde julho de
2004 desenvolvia atividades esportivas e de lazer no Programa Segundo Tempo. O
programa, que fazia parte de um convênio firmado entre o Ministério dos Esportes e a
Prefeitura Municipal de Olinda, entende que a prática esportiva é um direito de cada
cidadão, portanto a democratização do acesso a essa prática, já se constitui num processo
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de inclusão social. A intenção do programa era envolver crianças e adolescentes (de 7 a 14
anos), em atividades lúdicas, esportivas e de exercício de cidadania no turno contrário ao
que estudam. E essa era uma exigência: as crianças que participassem do programa
deveriam estar freqüentando regularmente uma escola.
Fui localizada no núcleo de Aguazinha e como primeira estratégia, divulgamos na
comunidade um (re)cadastramento das crianças e jovens para o ano de 2005, apresentando
novas vagas em novos horários. Nesse núcleo não havia estagiário, mas contávamos com
um monitor que era habilitado em Educação Física e felizmente atendia ao perfil das duas
funções solicitadas: conhecia bem a comunidade e tinha uma boa relação com ela
(monitor) e tinha conhecimento específico na área de Educação Física para desenvolver
um bom trabalho com as crianças (estagiário/professor). As turmas da tarde foram mais
solicitadas. Com o objetivo de melhorar a freqüência nas turmas da manhã, abrimos
inscrições para um torneio de futebol (fem. e masc.) que aconteceria logo que as 4 turmas
alcançassem um número significativo de alunos. Com isso, as próprias crianças se
encarregaram de convidar novos participantes. Numa reunião geral com a maioria dos
alunos, decidimos que o torneio aconteceria na última semana de janeiro e se chamaria
“Torneio de final das férias”. Percebemos nesse torneio, que precisávamos incentivar o
lúdico e evitar a hipercompetitividade que o esporte, principalmente, o futebol (para essas
crianças), às vezes promove. Ficou claro para nós que quando jogavam outras
modalidades esportivas, como o voleibol, por exemplo, os meninos jogavam “com” as
meninas, a atividade era mais descontraída, parecia que eles jogavam sem ter a
responsabilidade de ser “o melhor”. Mas quando jogavam o futebol, só pensavam no
“ganhar”. Essa avaliação foi importante para o planejamento que estávamos construindo.
Começamos fevereiro com a organização do nosso bloco de carnaval que intitulamos:
”2º Tempo de Folia”. Além de um belo estandarte, confeccionamos máscaras e com a
ajuda da SOTECAB (ONG que desenvolve trabalhos diversos na comunidade),
conseguimos uma mini-orquestra para tocar e animar a nossa festa. Após o carnaval e com
o reinício das aulas, visitamos uma escola municipal da comunidade para divulgar o
programa (Escola Joana Sena). Como as crianças não tinham aulas de educação física na
escola, oferecer a elas a oportunidade de praticar atividades esportivas e de lazer na sua
própria comunidade, foi motivo de bastante alegria. Esse vínculo com a escola facilitou a
nossa comunicação com as crianças e com os seus pais. A direção da Escola se mostrou
bastante receptiva ao programa. Tanto incentivando a participação das crianças nas
atividades, como nos convidando quando havia reuniões com os pais. E foi na primeira
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reunião de pais que participamos na Escola, que começamos a constatar os benefícios que
o programa já revelava. O depoimento de professores e de pais que tinham alunos e filhos
respectivamente participando do programa, sinalizava principalmente para a alegria e a
satisfação em participar das atividades. Em suas falas, eles revelavam as ameaças que
(infelizmente) faziam: “se não estudar, tiro você do PST”, “se não obedecer, tiro você do
PST”, etc. Percebemos que esses temas precisavam ser refletidos com os professores, pais
e com as crianças.
Precisava ficar claro para eles, que o objetivo do Programa não era apenas aprender os
fundamentos e as regras das modalidades esportivas, mas inseri-los num trabalho de
melhoria da sua auto-estima, de inclusão social, de valores éticos e com isso, eles não
poderiam deixar de freqüentar as atividades do núcleo.
Em meados do mês de abril, foi contratada uma estagiária e foi substituído o monitor
que estava doente. O trabalho teve um impulso muito bom, já que os dois contratados
eram bastante comprometidos com o trabalho proposto pelo programa no núcleo. Foi um
sucesso! Em menos de um mês cadastramos mais 70 crianças. Incentivar essa prática é
muito importante naquela comunidade, principalmente porque existe um lixão que leva as
crianças a trabalharem como catadoras de lixo quando estão ociosas.
Com o Núcleo estruturado com relação à distribuição das turmas e dos horários,
traçamos algumas metas para o próximo trimestre:
• Construção coletiva de um planejamento participativo com os alunos/participantes,
objetivando conhecer o novo grupo, seu entendimento sobre o Programa, suas
expectativas e sugestões, considerando o eixo central do PST.
• Focar nas reuniões de núcleo, problemáticas com relação a disciplina, freqüência e
participação nas aulas (repassadas através de relatórios).
• Estudo sobre “Possibilidades de transformações na prática pedagógica”.
• Trabalhar com as crianças um texto sobre a Erradicação do Trabalho Infantil.
• Dar início ao planejamento do I Festival de Cultura Esportiva do Núcleo de
Aguazinha.
Foi nesse contexto que se inseriu um processo de reflexão, redimensionamento e
reestruturação da proposta de planejamento do Programa, articulado por um lado com as
diretrizes e normas do PST e por outro, com a produção teórica crítico-superadora da
educação física.
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Posso dizer que nesse momento, estavam sendo criadas condições concretas de
avançarmos no sentido de proporcionar àquelas crianças uma prática pedagógica
comprometida com finalidades mais amplas. As mudanças deveriam acontecer tanto nos
conteúdos e métodos, quanto nas práticas pedagógicas.
Durante a observação das aulas, foi possível constatar que a prática pedagógica dos
“professores” (estagiária e monitor) não se apresentava de forma homogênea, no que se
refere à incorporação dessas novas referências. Por outro lado, era possível identificar
experiências que podiam ser consideradas como indícios de mudanças.
Assim, nas nossas reuniões semanais (ou quinzenais), essa vivência teórico-prática
passou a ser refletida/discutida, tentando estabelecer um caminho para uma prática
pedagógica que precisávamos transformar. Estava claro para mim que democratizar a
prática esportiva não era apenas ensinar o jogo, as regras e os fundamentos, mas será que
estava claro para a estagiária, o monitor? E para os alunos? Penso que a partir da sua
autonomia relativa, os professores, têm a condição de dar a direção da prática pedagógica.
Voltando para o relato das atividades, realizamos o I Festival de Cultura Esportiva do
Núcleo Aguazinha no dia 04/06/2005. Recebemos as crianças às 07:30 no campo onde
aconteciam às aulas, servimos biscoitos e leite e já começamos as divisões das equipes por
faixa etária. Realizamos jogos de voleibol, handebol de areia, futebol, queimado e barra-
bandeira. Às 11 horas, quando terminamos todos os jogos, realizamos um festival de pipas
que haviam sido confeccionadas numa oficina ministrada pelo monitor na semana anterior
ao evento.
O encerramento do Festival aconteceu às 12 horas com a apresentação de um Grupo de
Afoxé da comunidade e um delicioso cachorro quente para todos os participantes do
evento.
Um mês e meio após a realização do Festival foram encerradas as atividades em todos
os núcleos de Olinda, com a proposta de que após um período de prestação de contas do
Programa ao Ministério dos Esportes, retomaríamos o trabalho. Infelizmente até agora
isso não aconteceu.
Em nossa avaliação, acreditamos que iniciativas como o PST que se propõe a
incentivar a prática de atividades esportivas e de lazer, utilizando estas como instrumento
educacional, devem permanecer nessas comunidades, já que promove melhorias na
educação, saúde e nos processos de paz entre as pessoas.
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Tratando especificamente dessa comunidade, o PST tira crianças do lixão, ocupando-as
com uma atividade saudável, que ensina valores como respeito, cooperação, disciplina
individual e coletiva, contribuindo na formação de cidadãos mais solidários.
De acordo com depoimentos da comunidade, pais, professores e das próprias crianças,
há uma expectativa para que o Programa retome as suas atividades. Como disse uma mãe
de aluno: “As crianças continuarão na escola no primeiro tempo, então elas precisam estar
aqui no segundo tempo, porque isso as torna felizes”.
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esporte e Cidadania: o olhar dos integrantes do Programa Segundo Tempo
em Aguazinha
É ainda muito cedo para se ter uma idéia exata das repercussões do trabalho realizado
junto à comunidade de Aguazinha, quando das práticas do esporte vivido por aquela
comunidade. Esta constatação não significa dizer que não temos resultados concretos
nesta direção, muito pelo contrário. Apenas, estamos com o cuidado de assegurarmos
nosso entendimento de que somos inacabados e que as práticas vividas por aquela
comunidade ainda serão motivos de resultados a longo prazo e que indica a necessidade
de retomarmos o trabalho junto a Aguazinha.
Portanto, podemos sim afirmar que o esporte nas suas relações crescentes a cada
momento expressa seu poder de provocar aspectos positivos desta forte relação e das
dimensões de uma educação de participação, o que nos leva a afirmar que o esporte tem
conseguido mais significado social.
Segundo Maria Célia1, coordenadora do Programa Segundo Tempo em Olinda, alguns
núcleos se destacaram de forma significativa diante das propostas do programa, entre eles,
o núcleo de Aguazinha.
1 Reconhecemos que, por vezes, existe a necessidade do sigilo em relação aos atores da pesquisa realizada. Entretanto, também, existem literaturas que permitem desvelar os atores desde que seja autorizado pelos mesmos. Consultada, a Professora Maria Célia autorizou revelar seu nome nesta pesquisa.
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Através dos relatórios apresentados mensalmente, das intervenções dos participantes
desse núcleo nas reuniões e depoimentos do líder comunitário, observamos que estava
sendo desenvolvido um trabalho que extrapolava os limites da prática esportiva,
proporcionando outras formas de inclusão como a convivência social, a disseminação
de valores éticos, a saúde, a consciência crítica e outros. Era evidente o envolvimento
das crianças com o programa, assim como a comunidade, que passou a respeitar os
horários das atividades que aconteciam no campo de futebol do bairro. O espaço
onde antes aconteciam encontros de desocupados e viciados em drogas, agora era
destinado a um trabalho sistemático de práticas esportivas e isso fez com que as
famílias interviessem junto a esses jovens, que muitas vezes eram irmãos mais velhos
das crianças cadastradas no programa, para garantir a continuidade das atividades.
Neste depoimento, fica evidente que no caso do esporte-educação praticado nos
espaços públicos de Aguazinha, novos caminhos continuarão sendo abertos e abrangendo
estratégias na direção de uma educação cidadã, dada a participação efetiva de todos os
envolvidos.
Este norte para as práticas esportivas expõe plenamente a relevância social da
utilização dos espaços urbanos e os princípios educativos que assegurados, passaram a
constituir para a humanidade dos integrantes.
Esse Núcleo tinha uma especificidade em relação à localidade e seus moradores, além
dos fatores de risco social que encontramos na maioria das comunidades carentes, em
Aguazinha existe um lixão que leva as crianças a trabalharem como catadoras de lixo,
levando a evasão escolar, prática necessária ao mundo infantil.
Silva (2000, p. 169), ao publicar o livro o sujeito fingidor, denuncia a exploração do
trabalho infantil e anuncia possibilidades da criança viver a criança em si. Assim, escreve:
“Sou um sujeito fingidor disposto a representar os papéis de anjo e demônio, vítima e
algoz que habitam no interior do coração do país bárbaro de cada um de nós...”
Neste contexto, tomando ainda o depoimento de Edson do Carmo, líder comunitário,
destacamos aspectos singulares que segundo o mesmo, confere ao Núcleo de Aguazinha
uma singular peculiaridade educativa-cidadã. Diz Edson:
Após um trabalho de reflexão sobre o comprometimento da saúde e sobre a questão
do trabalho infantil, nos finais de semana, grande parte das crianças que
participavam do programa, criaram o hábito de freqüentar o campo para jogar
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futebol, voleibol, pular corda e jogar queimado. Isso significa que houve mudanças
positivas no comportamento dessas crianças. Elas estão conseguindo organizar
coletivamente o seu tempo livre de forma mais saudável, desenvolvendo autoconfiança
e habilidades motoras, além de respeito mútuo e trabalho em equipe.
As professoras da Escola Joana Sena eram unânimes em afirmar os benefícios do
Programa para os seus alunos. Segundo elas, “os alunos precisavam praticar atividades
físicas regularmente e principalmente com a orientação de profissionais que tinham como
objetivo: ajudar na socialização, canalizar a energia dessas crianças para atividades
saudáveis e mantê-las na escola”.
Com relação aos pais, todos concordavam sobre a satisfação dos seus filhos em
participar das atividades, porém existia uma expectativa com relação aos meninos de que
poderiam tornar-se grandes jogadores de futebol. Esses alunos criavam uma identificação
com grandes jogadores que tinham sido pobres quando crianças, e através do futebol,
tornaram-se milionários. O que eles não sabiam, mas começavam a ver com seus próprios
olhos, era que esse lado da história era privilégio da minoria.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS OU CONCLUSÃO
Temos clareza que as conclusões aqui apresentadas não representam um ponto final
nesta discussão teórica. Representa o que foi possível construir a partir da revisão atual do
estado da arte, das vivências na condição de um significativo trabalho desenvolvido junto
ao Programa Segundo Tempo no Núcleo de Aguazinha.
Representa um horizonte de possibilidades e continuidade de trabalho com bases
sócio-político-pedagógicas, visando uma educação formativa, crítica e socialmente
presente no mundo. Práticas esportivas construtoras de sujeitos históricos.
É por isso, que temos plena convicção que as ações no campo do esporte não param
por aqui. Das inúmeras reuniões, encontros programados com a coordenação dos trabalhos
e com a comunidade, este programa promoveu encontros de organização e capacitação
com diferentes temas sobre o esporte. Estas estratégias dinamizadas a partir de jogos
esportivos cooperativos, em que a meta centrava em sensibilizar quanto à importância do
esporte para os dias atuais facilitando a construção de uma educação cidadã, permitiu
viver o esporte enquanto uma prática vivenciada como inclusão social.
Este estudo monográfico representou mais um passo na vida acadêmica de uma
profissional que pretende continuar na luta por práticas do esporte educativo contribuindo,
através de uma política pública, para mais um grande passo no que se refere ao processo
de inclusão. Este compromisso visa possibilidades e alternativas de práticas esportivas
junto a comunidades que necessitam desse processo para seu crescimento e
desenvolvimento social.
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REFERÊNCIAS
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