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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRA DISSERTAÇÃO Mestrado em Solicitadoria Ramo de Agência de Execução OS HONORÁRIOS DOS AGENTES DE EXECUÇÃO E DOS SOLICITADORES Mestrando: Carlos Válter Furtado dos Santos Orientador: Professor Dr. Armando Ferreira Soares Veiga COIMBRA 30 de Novembro de 2017

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INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO

DE COIMBRA

DISSERTAÇÃO

Mestrado em Solicitadoria

Ramo de Agência de Execução

OS HONORÁRIOS

DOS

AGENTES DE EXECUÇÃO

E DOS

SOLICITADORES

Mestrando: Carlos Válter Furtado dos Santos

Orientador: Professor Dr. Armando Ferreira Soares Veiga

COIMBRA

30 de Novembro de 2017

2

OS HONORÁRIOS

DOS

AGENTES DE EXECUÇÃO

E DOS

SOLICITADORES

Mestrando: Carlos Válter Furtado dos Santos

Orientador: Professor Dr. Armando Ferreira Soares Veiga

COIMBRA

30 de Novembro de 2017

3

«Uma mente necessita de livros da

mesma forma que uma espada necessita

de uma pedra de amolar, se quisermos

que se mantenha afiada.»

Tyrion Lannister (Peter Dinklage)

in «Game of Thrones»

4

RESUMO

Intitulada Os Honorários dos Agentes de Execução e dos Solicitadores, esta

dissertação visa descortinar os demais aspectos tendentes às remunerações do solicitador e

do agente de execução.

Em primeiro lugar distingue-se os conceitos ou ideias inerentes aos honorários, às

tarifas e às despesas, expor e encadear as disposições legais e deontológicas reguladoras

em matéria de aplicação de tarifas e fixação de critérios para os honorários quer do agente

de execução, quer do solicitador, respectivamente, expondo igualmente as modalidades de

honorários de cada um e os diferentes aspectos dos respectivos regimes.

Em segundo lugar, analisar-se-á o aspecto das provisões por conta de honorários e

despesas, em face da obrigatoriedade para o agente de execução e a facultatividade para o

solicitador em requerer tais provisões e quais os impactos dessa facultatividade.

Em terceiro lugar, atende-se-á às modalidades de liquidação dos honorários destes

profissionais, bem como aos meios de garantia das suas remunerações, em caso de não

pagamento pelo cliente. Expõe-se ainda os meios à disposição dos interessados para

reclamarem da nota de honorários e despesas do agente de execução, nomeadamente, para

a Comissão de Acompanhamento dos Auxiliares de Justiça e para os Tribunais, bem como

as garantias dos honorários destes profissionais em caso de ausência de pagamento.

Em quarto lugar, serão abordados os aspectos inerentes aos laudos dos honorários

do solicitador e, agora com o novo Regulamento de Laudos, do agente de execução, isto é,

quando haja desacordo em matéria de honorários dos associados da Ordem e seja requerido

um parecer técnico sobre os critérios utilizados ou os cálculos efectuados através das

tarifas por estes profissionais. Analisar-se-á ainda o processo de laudo, isto é, como tramita

até à emissão do mesmo, tendo em conta que o anterior Regulamento de Laudos sobre

Honorários dos Solicitadores não continha em que termos esse processo decorria.

Por último, relacionar-se-á as custas de parte com a nota de honorários quer do

agente de execução, quer do solicitador, conhecendo em síntese os aspectos legais, bem

como a doutrina e jurisprudência principais que a esta matéria estejam relacionadas, atenta

a algumas lacunas e omissões que se verificam no reembolso das custas de parte.

Palavras-chave: solicitador; agente de execução; critérios; tarifas; honorários.

5

ABSTRACT

Entitled The Fees of Execution Agents and Solicitors, this dissertation aims to

uncover the other aspects related to the remunerations of the solicitor and the execution

agent.

Firstly, the mains point is to distinguish the concepts or ideas inherent in fees, tariffs

and expenses, to expose and link the legal and deontological regulations clue to the

application of tariffs and established criteria for the fees of both executing agent and

solicitor, respectively, also setting out the fees arrangements for each and the different

aspects of the respective schemes.

Secondly, to analyze the provisions I subject on account of fees and expenses, due to

the obligation for the enforcement agent and the optionality for the solicitor to request such

provisions and what the impacts of this optionalism.

Thirdly, it concerns the methods of settling of these professionals, as well as the

means of guaranteeing their remuneration, in case of non-payment by the client. In

addition, the means available to the interested parties to complain about the fees and

expenses of the enforcement officer, in particular for the Commission for the Monitoring

of Assistants of Justice and for the Courts, as well as the guarantees of the fees of these

absence of payment.

Fourthly, the inherent aspects of the appraiser's appraisal reports and, now with the

new Appraiser Regulation, are addressed, that is, when there is disagreement regarding the

honoraria of the members of the Order and a technical opinion is requested on the criteria

used or the calculations made through the tariffs by these professionals. It also analyzes the

process of award. This means, how it is processed up to the issuance of the same, taking

into account that the previous Regulations of Awards on Solicitors' Fees did not contain

the terms in which this process took place.

Finally, the costs of a party are related to the bill of fees of both the executing agent

and the solicitor, knowing in summary the legal aspects, as well as the main doctrine and

jurisprudence related to this matter, attentive to some shortcomings and omissions that

occur in the reimbursement of the party's costs.

Keywords: solicitor; agent of execution; criteria; tariffs; fees.

6

AGRADECIMENTOS

O sonho de conseguir a Licenciatura em Solicitadoria e Administração foi um

objectivo cansativo e difícil de se alcançar. No entanto, ir mais longe e elevar a fasquia

ingressado no Mestrado em Solicitadoria – Ramo de Agência de Execução não seria

possível concretizar sem a presença e o apoio incondicional de várias pessoas neste trajecto

que se revelou ardiloso e extremamente cansativo, mas deveras apoiado por essas mesmas

pessoas, sendo a elas que desejo fazer os meus sinceros e profundos agradecimentos:

A todos os docentes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra

que me acompanharam ao longo deste meu percurso académico, pela disponibilidade,

conhecimentos e ensinamentos transmitidos, bem como pelo trato pessoal e profissional

que tiveram para comigo.

Ao Professor Dr. Armando Veiga, pela excelente competência durante a orientação,

quer em aconselhamento e acompanhamento, quer pela sua disponibilidade, quer ainda

pelas correcções e sugestões feitas na elaboração da presente Dissertação.

Aos meus pais, Carla e Elias, por todo o apoio e motivação que sempre me deram em

qualquer momento e em todas as minhas decisões e, ainda, por todos esforços financeiros

que fizeram para que fosse possível estar hoje a escrever este texto e a concluir o meu

Mestrado, bem como à minha irmã, Carolina, pela força e ternura que sempre teve para

comigo.

À minha namorada, Elisabete, por toda a paciência, dedicação e motivação em todos os

momentos ao longo destes anos, quer nos de alegria, quer nos de ansiedade, quer nos de

tristeza, e pela grande ajuda a ultrapassar todos os obstáculos que foram surgindo ao longo

deste percurso.

À minha tia, Manuela, bem como à minha prima Sara, por me terem sempre apoiado,

quer a mim, quer à minha família, em todos os momentos, inclusive nos mais difíceis e,

por isso, terem permitido que com esse apoio eu concluísse este trajecto.

7

À minha tia Paula e aos meus primos, Raquel, Ricardo, Pedro, Paulo, Mariana,

Alexandra, Luís Pedro e Vasco, por todo o carinho e apoio que me deram antes e durante

esta caminha académica.

A todos os amigos, e especialmente, ÀQUELES AMIGOS, nem todos de sempre, mas

sei que para sempre: Daniela, Diana, Vanessa, Marta, Filipa, Rita, Beatriz, Márcia e

Leandro. Obrigado por tudo a eles e aos que não referi, pelos momentos, pela sincera

amizade e por todo o apoio!

Às minhas colegas de trabalho, Paula, Patrícia e Mónica, bem como à minha patroa,

Maria Helena Reis Pinto, pela motivação que me deram e pelo apoio que me foram dando,

cada uma à sua maneira.

À restante família, por todo o incentivo e preocupação demonstrada.

Por fim, não tão menos importante, agradeço a Coimbra, à cidade do meu coração que

sempre será a minha predilecta e que me tem acolhido neste meu caminho quer académico,

quer profissional.

A todos, um sincero e profundo obrigado por me terem apoiado e por terem

acreditado em mim, possibilitando que concretizasse este meu sonho! OBRIGADO DO

FUNDO DO MEU CORAÇÃO!

8

SIGLAS E ABREVIATURAS

al.ª – alínea

al.as – alíneas

art.º – artigo

art.os – artigos

CAAJ – Comissão para Acompanhamento dos Auxiliares de Justiça

CC – Código Civil

CDOSAE – Código Deontológico da Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução

Cfr. – Conforme

CPC – Código de Processo Civil

CRP – Constituição da República Portuguesa

ECS – Estatuto da Câmara dos Solicitadores

EOA – Estatuto da Ordem dos Advogados

EOSAE – Estatuto da Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução

IGFEJ – Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça

IUP – Identificador Único de Pagamento

IVA – Imposto sob o Valor Acrescentado

LCAAJ – Lei da Comissão para Acompanhamento dos Auxiliares de Justiça

n.º – número

n.os – números

OSAE – Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução

RCP – Regulamento das Custas Processuais

RL – Regulamento de Laudos

ROICAAJ – Regulamento de Organização Interna da Comissão para o Acompanhamento

dos Auxiliares da Justiça

SISAAE – Sistema Informático de Suporte à Actividade dos Agentes de Execução

9

INTRODUÇÃO

O novo panorama em matéria dos honorários do agente de execução e do solicitador

em face do Novo Estatuto da recente Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução (em

comparação com o seu antecedente, o Estatuto da Câmara dos Solicitadores), veio a

alterar-se a diversos níveis com impacto na actividade profissional dos associados da

Ordem.

Antes de tudo, importa deste logo fixar a ideia e a função do Agente de Execução

(anteriormente designado por Solicitador de Execução, atendendo que tais funções eram

por este desempenhadas) e do Solicitador na sociedade. No que tange ao agente de

execução, trata-se de um profissional liberal, inscrito na Ordem dos Solicitadores e dos

Agentes de Execução ou na Ordem dos Advogados, com poderes públicos conferidos no

âmbito dos processos executivos, que não actua como mandatário das partes e, por isso, é

uma figura independente que diligencia no sentido de recuperar o crédito do exequente,

dentro dos limites legais e deontológicos. Para além disso, note-se ainda que o agente de

execução procede às citações em processos declarativos, quando as mesmas se frustrem

pela via postal, bem como tramita o Procedimento Extrajudicial Pré-Executivo, instituído

pela Lei n.º 32/2014, de 30 de Maio e regulamentado pela Portaria n.º 349/2015, de 13 de

Outubro. Este profissional forense, com as diferentes Reformas do Processo Civil nos anos

de 2003, 2009 e, por último, em 2013, veio gradualmente a cimentar-se como uma figura

fundamental no processo executivo ao possuir competências residuais de grande relevo e

decisório, conforme o artigo 719.º, do Código de Processo Civil preceitua: «Cabe ao

agente de execução efetuar todas as diligências do processo executivo que não estejam

atribuídas à secretaria ou sejam da competência do juiz, incluindo, nomeadamente,

citações, notificações, publicações, consultas de bases de dados, penhoras e seus registos,

liquidações e pagamentos.». Já no que toca ao solicitador, trata-se de um profissional

liberal, também inscrito na Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução, que exerce o

mandato judicial nos limites que a lei lhe confere competência e presta consultas jurídicas,

competindo-lhe representar, aconselhar e acompanhar os seus clientes junto dos órgãos da

administração pública, dos tribunais, ou quaisquer outras entidades ou instituições públicas

ou privadas, de modo a exercer os poderes que lhe foram conferidos. Cumpre realçar que

os solicitadores têm vindo a adquirir novas competências e a alargar as que já detinham.

10

Ora, como em qualquer outra profissão, estes dois profissionais encontram-se

fidelizados aos deveres consagrados nos Estatutos da sua já mencionada Ordem

Profissional, possuindo ambos deveres gerais e específicos. Tratando o presente trabalho

da matéria de fixação dos critérios para apuramento dos honorários, cumpre assim

mencionar o art.º 124.º, n.º 1, al.ª m), do Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos

Agentes de Execução ao impor a ambos os profissionais o dever de «cumprir as regras de

fixação de honorários, questionando os órgãos competentes da Ordem quanto à aplicação

dos mesmos, sempre que tenha dúvidas sobre a sua aplicação». Por seu turno, o agente de

execução aplicará o art.º 173.º, do referido Estatuto, uma vez que está obrigado a aplicar as

tarifas para apuramento dos seus honorários, ao passo que o solicitador deverá aplicar o

art.º 149.º desse mesmo Estatuto, possuindo critérios que deverá ter em conta para calcular

a sua remuneração, conforme se verificará.

11

CAPÍTULO I. ASPECTOS GERAIS E ENQUADRAMENTO LEGAL

1. DISTINÇÃO ENTRE HONORÁRIOS, TARIFAS E DESPESAS

Na qualidade quer de Agente de Execução, quer de Solicitador, como em toda e

qualquer outra profissão, devem os mesmos serem remunerados pelos seus serviços

prestados, de forma a garantir a sua sobrevivência pessoal e económica e,

consequentemente, familiar. Honorários, são assim uma forma honrosa de remuneração,

pela prestação de determinado serviço, afastando-se assim qualquer comparação com o

conceito de «salário»1. Deste modo, facilmente se apreenderá que honorários significam o

pagamento ou quantia monetária que se despenderá pelos serviços prestados por

profissionais, regra geral, pelos profissionais liberais, como são os casos do agente de

execução e do solicitador.

Por outro lado, as tarifas que por vezes são confundidas com os honorários, são por

seu turno uma tabela que relaciona os valores cobrados por serviços ou diligências. As

tarifas associam-se, portanto, ao exercício da profissão de agente de execução, sendo que

as mesmas são o meio através do qual se apura as remunerações deste profissional,

conforme obriga o art.º 173.º, n.º 12 do Estatuto da Ordem dos Solicitadores e Agentes de

Execução3. Significa assim que a cada diligência ou serviço corresponde uma percentagem

ou valor que o agente de execução deverá cobrar. Por outras palavras, as tarifas têm a

lógica das taxas, quer isto dizer que haverá uma tarifa em percentagem ou em unidade de

conta4 para cada acto de que o destinatário beneficie. Assim, diferentemente do solicitador,

o agente de execução está obrigado a determinar a sua remuneração através das tarifas

estatuídas legalmente, ao passo que o solicitador não possui tal obrigação, conforme se

analisará adiante.

1 «A designação de “honorários” (e “honra”),significa não só (etimológica e historicamente) que se

trata do pagamento de uma dívida de honra (inicialmente não eram exigíveis e o cliente satisfazia-os

espontaneamente, consoante as suas posses e o resultado da demanda),mas também que a dignidade da

profissão não se compadece com o pagamento do vulgar “salário”.» - António Arnaut, Estatuto da Ordem

dos Advogados Anotado, Coimbra, 2012, pp. 121-122. 2 Redacção do art.º 173.º, n.º1, do EOSAE: «O agente de execução é obrigado a aplicar, na

remuneração dos seus serviços, as tarifas aprovadas por portaria do membro do Governo responsável pela

área da justiça, ouvida a Ordem.» 3 Doravante designado por EOSAE. 4 Veja-se art.º 5.º, do Regulamento das Custas Processuais. A partir de 20 de Abril a Unidade de

Conta passou a ser de 102,00 Euros, com a entrada em vigor do Decreto-lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro

(Regulamento das Custas Processuais).

12

Por fim, no que concerne a despesas, as mesmas correspondem aos gastos

efectivamente feitos na realização das diligências ou no tratamento de certo assunto

jurídico, havendo duas categorias de despesas: as que são determináveis, como é o caso da

emissão de Certidões das Autoridade Tributária, dos registos e cancelamentos de penhoras

nas Conservatórias dos demais Registos, entre outras; do outro lado, as que são

indetermináveis, nomeadamente, as despesas de expediente (que inclui as despesas de

correio, faxes, papel, fotocópias), pagamentos a outros agentes de execução ou a outros

solicitadores, entre outros.

2. DISPOSIÇÕES LEGAIS E DEONTOLÓGICAS REGULADORAS DOS

HONORÁRIOS DO AGENTE DE EXECUÇÃO

2.1. O Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução

No que concerne aos honorários do agente de execução, com o Novo Estatuto (o

EOSAE), veio a consagrar-se o art.º 173.º5, bem como o art.º 24.º, n.º 1, al.ª j), do Código

Deontológico da Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução6 7 referente às tarifas a

que este profissional forense se encontra obrigado, como já foi anteriormente referido. Tais

tarifas, por sua vez, encontram-se actualmente regulamentadas na Portaria n.º 282/2013, de

29 de Agosto e as quais devem ser devidamente e escrupulosamente aplicadas, uma vez

que tal dever se encontra inerente ao agente de execução enquanto associado, nos termos

do art.º 124.º, n.º 1, al.ª m), do EOSAE8 e do art.º 5.º, n.º 2, al.ª i), do CDOSAE9.

Ora, recorrendo novamente a tal normativo deontológico, verifica-se que, conforme

estipula o seu n.º 210, as tarifas poderão compreender uma parte fixa, respeitantes aos actos

5 Corresponde parcialmente ao art.º 111.º, do Estatuto da Câmara dos Solicitadores (ECS). 6 Redacção do art.º 23.º, n.º 1, al.ª j), do CDOSAE: «Sem prejuízo dos demais deveres previstos nas

disposições comuns do presente Código ou que decorram do ECS [diga-se EOSAE], das demais disposições

legais e regulamentares e dos usos e costumes da profissão, aos agentes de execução cumpre: (…) j) Aplicar,

em matéria de remuneração dos seus serviços, as tarifas previstas na legislação e na regulamentação

aplicáveis». 7 Doravante designado de CDOSAE. 8 Redacção do art.º 124.º, n.º 1, al.ª m), do EOSAE: «2 – Em especial, constituem deveres gerais do

associado: (…) m) Cumprir as regras de fixação de honorários, questionando os órgãos competentes da

Ordem quanto à aplicação dos mesmos, sempre que tenha dúvidas sobre a sua aplicação». 9 Redacção do art.º 5.º, n.º 2, al.ª i), do CDOSAE: «Em especial, constituem deveres, do solicitador e

do agente de execução, para com a comunidade: (…) i) Cumprir as regras de fixação de honorários e tarifas».

10 Redacção do art.º 173.º, n.º 2, do EOSAE: «As tarifas previstas no número anterior podem

compreender uma parte fixa, estabelecida para determinados tipos de atividade processual, e uma parte

13

processuais e, outra parte variável, correspondentes à concretização ou não dos efeitos ou

resultados obtidos pelo agente de execução. Consagra ainda o mesmo art.º 173.º, do

EOSAE, no seu n.º 311, o princípio da publicidade em matéria de tarifas, ao obrigar o

agente de execução a afixar a tabela de tarifas aplicáveis, bem como, a fornecer toda a

informação que lhe seja solicitada, através do cálculo de custos efectivos e, se solicitado,

dos custos prováveis com o processo, conforme o art.º 173.º, n.º 4, do EOSAE12.

Por fim, consagrou-se no n.º 5, do art.º 173.º, do EOSAE13 em análise, a

responsabilização do agente de execução pelos custos que surgirem e que a si estejam

inerentes pela sua actuação incompetente e, consequentemente, desastrosa. Tal normativo

impede assim que o agente de execução possa cobrar as despesas que surjam por sua culpa,

obrigando o profissional forense a actuar zelosamente, sem dar azo, de modo manifesto, a

custos dispensáveis.

2.2. As Portarias

Desta forma, descortinados os normativos deontológicos reguladores da fixação de

honorários do agente de execução e, mais uma vez, pela leitura do art.º 173.º, n.º 1, do

EOSAE, cumpre mencionar e analisar os aspectos da Portaria referida em tal normativo

deontológico, não apenas a actual Portaria n.º 282/2013, de 19 de Agosto, mas igualmente

as suas antecedentes: a Portaria n.º 708/2003, de 4 de Agosto e a Portaria n.º 331-B/2009,

de 4 de Março. No entanto, cumpre referir que ambas as Portarias possuem características

comuns, nomeadamente, no que toca à responsabilidade pelo pagamento das despesas e

honorários do agente de execução pelo exequente ou autor, conforme os art.os 5.º, da

Portaria n.º 708/2003, 13.º, da Portaria 331-B/2009 e, 45.º, n.º 1, da Portaria 282/2013, em

consonância com o art.º 721.º do Código de Processo Civil14. Para além disso, tais

Portarias consagram que, havendo produto da venda ou dos bens penhorados, que os

variável, dependente da consumação dos efeitos ou dos resultados pretendidos com a atuação do agente de

execução.» 11 Redacção do art.º 173.º, n.º 3, do EOSAE: «O agente de execução deve afixar no seu escritório ou

na sua sociedade as tarifas aplicáveis nas execuções e nos outros tipos de processos ou atos de que esteja

legalmente incumbido e informar os interessados, desde logo, do montante provável dos seus honorários e

despesas, devendo tal informação ser registada no processo.» 12 Redacção do art.º 173.º, n.º 4, do EOSAE: «O agente de execução deve ainda informar os

interessados, ao longo do processo, dos honorários e despesas efetivamente devidos, bem como de todos os

demais custos associados aos processos ou atos que lhe sejam confiados.» 13 Redacção do art.º 173.º, n.º 5, do EOSAE: «São suportados pelo agente de execução os custos a que

indevidamente der azo, de forma manifesta, no exercício da sua atividade.» 14 Doravante designado de CPC.

14

respectivos valores saem precípuos do depósito, que o agente de execução recebe a sua

remuneração em função dos resultados, que se exige quantias por conta de honorários e

despesas, a título de provisão e, ainda, que os actos praticados pelo agente de execução são

taxados, salvo quando a situação em causa se encontre prevista.

2.2.1. Portaria n.º 708/2003, de 4 de Agosto

Em 2003, atendendo ao crescimento acentuado das acções executivas derivado

igualmente das demais conjunturas socio-económicas (nomeadamente, o aumento do

recurso ao crédito), os tribunais encontravam-se excessivamente sobrecarregados para que

tramitassem os processos executivos de forma célere e correcta. Tal factor foi determinante

para o crescente número de processos pendentes nos tribunais. Derivado do facto da

competência para tramitação do processo executivo se encontrar demasiado centralizada

nos tribunais, surgiu a necessidade alterar o panorama que até então pendia e prejudicava o

sistema da Justiça devido à referida sobrecarga, bem como todos aqueles que necessitavam

do acesso a este sistema. Desta forma, com Reforma da Acção Executiva em 2003,

operada pelo Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março – da qual se destaca desde já a

criação da figura do Agente de Execução15 cujas funções seriam desempenhadas, regra

geral, por Solicitador de Execução – visou-se descentralizar o poder judicial, permitindo

que os tribunais ficassem disponíveis e eficazes para exercerem a sua verdadeira função:

julgar e decidir as questões realmente importantes. Desta forma passava o referido Agente

de Execução a tramitar o processo executivo, contudo, sempre com o controlo judicial

assegurado pelos tribunais.

Ora, sendo a figura do Agente de Execução uma peça fundamental para o

desbloqueio da situação sufocante que o sistema judicial padecia, no que concerne aos

processos executivos, passou a Portaria n.º 708/2003, de 04 de Agosto a regular os demais

aspectos em sede de remuneração e reembolso de despesas do solicitador de execução no

15 De referir que, com a Reforma da Acção Executiva em 2003, procedeu-se ainda à divisão da figura

do Agente de Execução em duas categorias: a do Solicitador de Execução e a do Funcionário Judicial: «a) O

Solicitador de Execução (SE) é uma categoria dentro dos solicitadores actualmente existentes, sujeito a

formação própria, bem como a um estatuto deontológico e disciplinar específico, a quem são atribuídos

poderes públicos no âmbito da acção executiva; b) O funcionário judicial, pertencente à secretaria de

execução, é competente para as execuções por custas e nos círculos onde não haja solicitador de execução.» -

Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ), Reforma da Acção Executiva (2003) – Linhas Orientadoras –

Principais alterações quanto à organização – Agente de Execução, in

http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-accao/rae-caracterizacao/, acedido e

consultado em 10.09.2017.

15

exercício da função de agente de execução, quanto aos processos que se iniciaram a 15 de

Setembro de 2003 e deram entrada nos tribunais até 30 de Março de 2009. No entanto,

como seria de prever, verificou-se que a mesma continha algumas lacunas e omissões com

implicação na vida profissional do agente de execução, nomeadamente a ausência de

tabelação de actos praticados por este profissional forense16 e, por outro lado, a

consideração de actos sem qualquer relevância prática17. Não seria de esperar outro

resultado atendendo o facto de a Portaria n.º 708/2003 ter sido preparada previamente à

entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 38/2003 que operaria a reforma da acção executiva,

conforme já se mencionou. Tal preparação prévia provocou algumas dificuldades na

interpretação da Portaria, uma vez que, como já se referiu, procedeu à tabelação de actos

úteis e inúteis do solicitador de execução, e provocou ainda lacunas e omissões no âmbito

do tema em análise. Assim, devido a essas lacunas e omissões, teve a então Câmara dos

Solicitadores o papel de, no âmbito do seu dever de fiscalização da actividade do

solicitador de execução, proceder à verificação da «razoabilidade dos critérios utilizados

para a cobrança de honorários tarifados»18 e, atenção, não de colmatar as referidas

omissões e lacunas, competência essa pertencente ao juiz de cada processo, mediante

requerimento da parte interessada, de acordo com o art.º 6.º da Portaria n.º 708/2003.

Ainda assim, com a presente Portaria, ficaram estabelecidos os termos referentes à

remuneração do solicitador de execução no exercício da agência de execução, tendo por

base um sistema misto: fixa-se uma remuneração em função dos actos efectivamente

praticados, nos termos do art.º 7.º e da Tabela do Anexo I da Portaria n.º 708/2009, e, por

16 Mediante a Deliberação do Conselho Superior da Câmara dos Solicitadores, de 11.05.2007, in

http://solicitador.net/uploads/cms_page_media/598/conselho_superior_deliberacao_11_5_2007.pdf, acedido

e consultado em 06.09.2017, identificaram-se três das principais lacunas ou omissões: a principal, senão a

mais importante foi a ausência de tipificação das notificações ou comunicações, importantes para prática

processual do agente de execução, sendo que, neste aspecto, considerou o Conselho Superior «pacífico que as

notificações e comunicações sejam tarifadas pelo valor que na tabela está previsto para outras notificações

especificadas (…)»; outra deficiência de tipificação foi a não tabelação dos actos externos ou autos de

diligência, nomeadamente a de afixação de editais, localização de pessoas ou bens, verificações, entre outras

diligências, entendendo-se que, para o efeito, dever-se-ia aplicar o valor idêntico ao da «elaboração de um

auto de penhora, ou pela realização de uma citação», uma vez que se tratam igualmente actos externos; por

fim, verificou-se ainda a ausência de tabelação quanto aos actos (internos ou externos) em caso de frustração,

entendendo-se que tais custos não deveriam ser imputados ao agente de execução quando a frustração do acto

não dependesse dele. 17 Refira-se, por exemplo, os actos inúteis considerados para efeitos de venda. 18 Deliberação do Conselho Superior da Câmara dos Solicitadores, de 11.05.2007, in

http://solicitador.net/uploads/cms_page_media/598/conselho_superior_deliberacao_11_5_2007.pdf, acedido

e consultado em 06.09.2017.

16

outro lado uma remuneração adicional gradual, de acordo com o seu art.º 8.º19 e da Tabela

do Anexo II, isto é, que poderia aumentar, através da multiplicação do correspondente

factor, em função da do valor recuperado ou garantido e da fase processual em que tivesse

lugar a recuperação desse mesmo crédito.

Todavia, em relação às portarias seguintes, a diferença residia em que com a Portaria

n.º 708/2003 previa uma remuneração mínima em função do valor da execução, conforme

os seus art.os 7.º20 e 9.º21. Assim, estabeleceu-se no art.º 9.º, da Portaria n.º 708/2003 esse

limite mínimo de honorários do agente de execução. Portanto, tal limite teria efeito depois

de calculados os honorários do agente de execução nos termos dos art.os 7.º e 8.º, da mesma

Portaria, no caso do valor calculado através destes dois normativos mencionados, fosse

inferior ao limite mínimo estabelecido no referido art.º 9.º, seria considerado este último

valor, pois, o agente de execução teria sempre direito a ganhar aquele valor mínimo22.

Quer isto dizer que, sempre que a soma das remunerações fixa e adicional fosse inferior à

referida remuneração mínima calculada em função do valor da execução, o Agente de

Execução receberia esta última.

19 Redacção do art.º 8.º, da Portaria n.º 708/2003 de 4 de Agosto: «1 - No termo do processo, é devida

ao solicitador de execução uma remuneração adicional, que varia em função: a) Do valor recuperado ou

garantido, nos termos da tabela do anexo II; b) Da fase processual em que o montante foi recuperado ou

garantido, nos termos do n.º 3. 2 - O valor resultante da aplicação da tabela referida na alínea a) do número

anterior é multiplicado pelos seguintes factores, em função da fase processual em que tem lugar a

recuperação ou a garantia do crédito: a) 0,50 se ocorrer antes da realização do auto de penhora; b) 1 se

ocorrer após a realização do auto de penhora; c) 1,30 se ocorrer após a publicidade da venda; d) 1,80 se

ocorrer após a realização da venda e como resultado desta. 3 - Para os efeitos deste artigo, entende-se por: a)

'Valor recuperado' o valor do dinheiro entregue, o do produto da venda, o da adjudicação ou o dos

rendimentos consignados; b) 'Valor garantido' o valor dos bens penhorados ou o da caução prestada pelo

executado, com o limite do montante dos créditos exequendos.» 20 Redacção do art.º 7.º, da Portaria n.º 708/2003 de 4 de Agosto: «O solicitador de execução tem

direito a ser remunerado pelos actos praticados, de acordo com as tarifas constantes da tabela do anexo I.» 21 Redacção do art.º 9.º, da Portaria n.º 708/2003 de 4 de Agosto: «Os honorários do solicitador de

execução, depois de determinados de acordo com os artigos 7.º e 8.º, não podem ser inferiores à soma da

remuneração devida pelos actos praticados, nos termos das tarifas constantes da tabela do anexo I,

multiplicado pelos seguintes factores, em função do valor da execução: a) 1 se o valor da execução for igual

ou inferior a (euro) 1750; b) 1,10 se o valor da execução for igual ou inferior a (euro) 3750; c) 1,20 se o valor

da execução for igual ou inferior a (euro) 15000; d) 1,30 se o valor da execução for igual ou inferior a (euro)

50000; e) 1,40 se o valor da execução for igual ou inferior a (euro) 75000; f) 1,50 se o valor da execução for

superior a (euro) 75000.» 22 Tal sucedia-se, maioritariamente, nos casos em que não havia crédito recuperado mas, no entanto,

houve demasiados actos no processo que devem ser cobrados. Deste modo, na nota discriminativa, tal valor

apurado através do art.º 9.º da Portaria n.º 708/2003, apareceria como «honorários mínimos».

17

Exemplificando com o um valor recuperado de 100.000,00 Euros:

Divisão do valor

recuperado e

multiplicação pelas

respectivas taxas

1.ª parte 2.ª parte

75.000,00 € x 0,790% =

592,00 €

25.000,00 € x 0,250% =

62,50 €

Total da remuneração

adicional

TOTAL = 655,00 €

Se valor recuperado

antes do auto de

penhora

655,00 € x 0,50 = 327,50 €

Se valor recuperado

depois da penhora 655,00 € x 1 = 655,00 €

Se valor recuperado

após a publicidade

da venda

655,00 € x 1,30 = 851,50 €

Se valor recuperado

após a realização da

venda e como

resultado da mesma

655,00 € x 1,80 = 1.179,00 €

Total da remuneração do

agente de execução Remuneração adicional + valor dos actos praticados

Por outro lado, pressupondo que não existia valor recuperado e que apenas existiam

500,00 Euros de remuneração de actos praticados, aplicar-se-ia o art.º 9.º, da Portaria em

análise para apurar o valor de honorários mínimos, ou seja, sendo a execução no valor de

100.000,00 Euros, multiplicar-se-ia o valor da remuneração dos actos praticados pelo

factor 1 (alínea f)), apurando-se a título de honorários mínimos a quantia de 750,00 Euros.

Deste modo seria esse valor a remuneração a pagar ao agente de execução uma vez que era

superior ao valor da remuneração dos actos praticados.

Posto isto, facilmente se apreende que quanto mais tarde se recuperasse o valor, mais

o agente de execução receberia, conceito este que levou ao arrastar das execuções de modo

a que esse mesmo conceito se tornasse numa realidade. Para além disso, o facto de existir

um limite mínimo de honorários trouxe alguma controvérsia, nomeadamente pelo facto de

18

se um agente de execução recebe pelos actos praticados, não se compreende o facto de

estar guarnecido de um limite mínimos de honorários (em princípio superior ao valor da

remuneração pelos actos praticados) e que poderá, de certa forma, afectar a sua prestação

no âmbito de uma execução que se revele escassa em bens penhoráveis.

Já para efeitos de despesas, consagrou o art.º 10.º, n.os 1 e 223, da Portaria em análise,

que o agente de execução teria direito a ser reembolsado das despesas necessárias inerentes

às demais diligências praticadas pelo mesmo, desde que justificadas, exceptuando, desde

logo, as suas deslocações24. Para efeitos e comprovação, com a prática na tramitação dos

processos, verificou-se que certas despesas25 não possuíam um documento autónomo

possível de comprovar tais despesas mas que, no entanto, não deveriam deixar de ser

ressarcidas ao agente de execução. Assim, atendendo ao critério da razoabilidade, com

base no senso comum e nas práticas dos agentes de execução em outros países, definiram-

se três medidas, através da já mencionada Deliberação do Conselho Superior da Câmara

dos Solicitadores, de 11.05.2007, de forma que o agente de execução seja ressarcido das

referidas despesas a cobrar mas sem comprovativo, designadamente: a tipificação da

tipologia e do valor; o cálculo de custo médio por processo, efectuado mediante «o número

de processos tramitados anualmente num escritório e o custo global daquelas despesas sem

documento específico»; e, por fim, o cálculo percentual a aplicar sobre o valor dos actos

tarifados, tendo por base «um valor mínimo e máximo que evitem os valores excessivos e

que a experiência demonstra deverem ter como referência os 35 e os 150 euros». Deste

modo, o agente de execução não deixou de cobrar as despesas realmente efectuadas, tendo

por base os três critérios mencionados e, por outro lado, ficou vigiado no sentido de cobrar

despesas excessivas e de valor superior às diligências efectuadas. Caso diferente será o das

23 Redacção do art.º 10.º, n.os 1 e 2, da Portaria n.º 708/2003 de 4 de Agosto: «1 - O solicitador de

execução tem direito a ser reembolsado das despesas necessárias à realização das diligências efectuadas no

exercício das funções de agente de execução, desde que devidamente comprovadas. 2 - Exceptuam-se do

disposto no número anterior as despesas de deslocação do solicitador de execução.» 24 Salvo a excepção do art.º 10.º, n.º 3, da Portaria n.º 708/2003 ao estipular que poderiam, «todavia,

ser cobradas despesas de deslocação, tendo por base os critérios estabelecidos no artigo 15.º, se o solicitador

de execução, dentro do seu âmbito de competência territorial, praticar actos fora da sua comarca e,

cumulativamente, se se verificarem os seguintes pressupostos: a) Existirem solicitadores de execução, que

não estejam impedidos de praticar o acto em causa, com domicílio profissional na comarca onde os actos vão

ser praticados; b) O exequente seja previamente informado do custo provável da deslocação e de que, sendo o

acto praticado por solicitador de execução da comarca em causa, não há lugar a pagamento de tais despesas e,

ainda, de que estas despesas de deslocação não integram as custas que o exequente tem a haver do

executado.» 25 Tais como cartas registadas, fotocópias, telefonemas, telecópias, papel e outros impressos próprios

da prática da agência de execução.

19

despesas que realmente possuem um documento autónomo, como é o caso das certidões,

dos registos, dos serviços afectos a arrombamentos ou remoções e eventuais

armazenamentos, entre outras despesas idênticas. Portanto, neste último caso, não haverá

dificuldade em comprovar que a despesa foi realmente efectuada por conta do processo e

que, por isso, deve ser ressarcida ao agente de execução.

Por último, cumpre ainda referir que, relativamente à Portaria n.º 708/2003, no que

tange às execuções para entrega de coisa certa e para prestação de facto, o legislador

estabeleceu igualmente uma remuneração mínima para o agente de execução, consoante o

valor da execução, não tendo porém estipulado se a remuneração adicional poderia ser tida

em conta em face dos actos praticados, havendo, por isso, entendimentos divergentes. Na

minha opinião, tal remuneração adicional não deverá ser aplicada no âmbito das execuções

para entrega de coisa certa ou prestação de facto, pelo simples facto de, comparadas com a

execução para pagamento de quantia certa, não possuírem uma tramitação mais complexa

e, por vezes morosa. Pelo contrário, possuem uma tramitação célere e o objectivo da

execução pode ser atingido rapidamente, pelo que, deverá o agente de execução ser

remunerado pelo acto praticado efectivamente da entrega ou da prestação, incluindo a

citação do executado e a respectiva extinção. Será de apreender portanto que o valor

tarifado para ambas as execuções remuneram bem o acto praticado pelo agente de

execução, dada a natureza célere e simples das execuções em causa.

2.2.2. Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março

Volvidos dois anos após a Reforma da Acção Executiva em 2003, permanecia o

estado debilitado da acção executiva que levou à referida Reforma. Sucede que, apesar de

legislada, a Reforma não surtiu os efeitos pretendidos, uma vez que os instrumentos físicos

e logísticos para que a mudança da acção executiva se concretizasse, não foram criados ou

disponibilizados: pereciam os meios electrónicos prometidos e, não haviam sido criados

novos juízos de execução, sendo que, consequentemente, permaneciam cerca de 125.000

execuções para distribuição só em Lisboa e no Porto.

Assim, no que tange ao agente de execução, com base no Relatório de Avaliação

Preliminar sobre a Reforma da Acção Executiva26, elaborado em 2005, foi possível

26 Ministério da Justiça – Gabinete de Política Legislativa e Planeamento, Reforma da Acção

Executiva – Relatório de Avaliação Preliminar, de Junho de 2005, in

http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-accao/sections/politica-

20

perceber onde subsistiam os maiores problemas e quais as soluções a adoptar. Um dos

principais problemas residia no facto de o número de solicitadores de execução em certas

comarcas ser insuficiente ou mesmo inexistente, fazendo com que fosse impossível dar

uma resposta às necessidades processuais em tempo útil, provocando que as diligências

fossem efectuadas tardiamente. Para o efeito, aconselhou o referido Relatório à então

Câmara dos Solicitadores que deveria «assegurar a colocação de profissionais em certas

comarcas, pela revisão da regra que limita a actuação do solicitador à comarca em que está

inscrito e às comarcas limítrofes ou do círculo (…)»27. Para além disso, e não tão menos

importante, o referido Relatório constatou ainda uma necessidade de rever a Portaria n.º

708/2003, de 04 de Agosto devido aos problemas por ela causados e que já foram

enunciados.

Com base no Relatório de Junho de 2005, foi possível tomar as medidas

consideradas ideias para alavancar a acção executiva e garantir o funcionamento da

Reforma da Acção Executiva que deveria ter acontecido realmente em 2003. Nesse

sentido, o Ministério da Justiça, em Julho de 2005, apresentou «17 Medidas para

Desbloquear a Reforma da Acção Executiva»28, de onde cumpre realçar que, em grande

legislativa/anexos/reforma-da-accao/relatorio-de-

avaliacao/downloadFile/file/003%20%20Relat%F3rio%20de%20Avalia%E7%E3o%20Preliminar%20da%2

0RAE%20%28Junho%202005%2922-12.pdf?nocache=1170696483.17%09, acedido e consultado em

13.09.2017. 27 Idem. 28 Ministério da Justiça, 17 Medidas para o Desbloqueamento da Reforma da Acção Executiva, de

Julho de 2005, in http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-

accao/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-

accao/17medidaspara/downloadFile/file/17Medidas.pdf?nocache=1170696483.17%09, acedido e consultado

em 13.09.2017. Medidas em concreto: «1. Ganhar tempo e acelerar a acção executiva com mais

automatismos nas aplicações informáticas. (…) 2. Também o Ministério Público passa a enviar o

requerimento executivo através da aplicação informática H@bilus. (…) 3. Os dados respeitantes aos

intervenientes do processo, constantes do requerimento executivo electrónico, passam a entrar

automaticamente na aplicação informática das custas, com eliminação do trabalho correspondente. (…) 4.

Entra em funcionamento uma rotina informática que impede a designação do solicitador de execução, no

requerimento executivo, quando este se encontre com a actividade suspensa ou interrompida. (…) 5. Acesso

electrónico aos registos da Segurança Social. (…) 6. Acesso electrónico dos solicitadores de execução aos

registos de identificação civil. (…) 7. Acesso electrónico dos solicitadores de execução ao Ficheiro Central

de Pessoas Colectivas. (…) 8. Acesso electrónico aos registos de automóveis, a título definitivo. (…) 9.

Acesso electrónico dos solicitadores de execução aos dados do registo comercial. (…) 10. Acesso electrónico

dos solicitadores de execução aos dados do registo predial. (…) 11. Formação extraordinária para advogados

e solicitadores de execução. (…) 12. Garante-se igualmente, pelo Centro de Estudos Judiciários (CEJ), a

formação de magistrados e outros profissionais que actuem no âmbito da acção executiva. (…) 13. Rigorosa

delimitação das competências dos juízos de execução. (…) 14. Todos os processos por autuar nas secretarias

de execução de Lisboa e Porto serão autuados, o mais tardar até ao final de Novembro. (…) 15. O problema

da falta de solicitadores em certas zonas do país será resolvido, pois todos os solicitadores passarão a praticar

actos de execução em qualquer ponto do território nacional. (…) 16. São instalados novos juízos de

execução. (…) 17. É criado o depósito público de Vila Franca de Xira. (…)».

21

parte das medidas implementadas, o agente de execução foi a peça fundamental para o

desbloqueio da acção executiva. Interessava, portanto, fornecer as ferramentas necessárias

para garantir a concretização, agora na prática, da Reforma legislada em 2003, e não de

proceder a novas alterações, pois, conforme expõe o próprio Ministério da Justiça, «as

inovações e os mecanismos de agilização a da Reforma da Acção Executiva ainda não

tinham sido efectivamente testados»29.

Agilizada que estava a acção executiva, cujo resultado foi que, no ano de 2006,

terminaram mais processos executivos do que em qualquer outro ano, idealizou-se a

simplificação da reforma em 2008, reforçando e atribuindo ainda mais competências ao

agente de execução em detrimento do juiz de execução, promovendo ainda mais a

tramitação do processo executivo pela via electrónica e criando-se a Lista Pública de

Execuções, com vista a evitar a interposição de acções desnecessárias, dado que a

informação sobre os executados passariam a constar desta Lista.

Deste modo, com a Portaria n.º 708/2003, de 4 de Agosto a revelar-se ineficaz para

fazer face aos problemas existentes na acção executiva e dado o aconselhamento do

referido Relatório de Junho de 2005 ao aconselhar a sua revisão, surgiu a Portaria n.º 331-

B/2009, de 30 de Março, com vista a suprir as demais lacunas nela existentes e a agilizar o

processo executivo, passando assim, esta última Portaria a aplicar-se aos processos que

dessem entrada nos Tribunais desde 31 de Março de 2009 até 31 de Agosto de 2013.

Deste modo, atendendo ao congestionamento das secretarias dos Tribunais, ao agente

de execução foram disponibilizadas novas ferramentas de trabalho, passando este,

designadamente, a ter a acesso directo às diversas bases de dados, a poder penhorar quotas

de sociedades pela via electrónica, a ter acesso ao Registo Informático de Execuções e,

ainda, passando a poder ser designado para qualquer processo executivo,

independentemente da sua Comarca. Para além disso, estipulou-se a obrigatoriedade da

tramitação do processo executivo pela via electrónica, desde logo, começando o agente de

execução a recepcionar o processo executivo por esta via, com vista a privilegiar a

celeridade processual encurtando o tempo de espera da troca de comunicações entre os

tribunais e os agentes de execução, bem como, instituindo-se os regimes referentes às

notificações, citações e publicações a realizar pelo mesmo igualmente por esta via. Por

29 Direcção-Geral da Política de Justiça, Medidas para desbloquear a reforma da acção executiva

(2005), in http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-accao/2005-medidas-para/,

acedido e consultado em 13.09.2017.

22

outro lado, sendo o exequente o principal interessado na recuperação do seu crédito, surgiu

a obrigação do agente de execução informar o mesmo de todas as diligências executivas

levadas a cabo por si. Tal obrigação trouxe um acréscimo elevado de responsabilidade para

o exequente no que toca ao controlo do seu processo, isto é, sendo ele o principal

interessado na demanda, atribui-se-lhe a responsabilidade de não só estar a par do

processo, como em garantir que o mesmo é tramitado o mais celeremente possível pelo

agente de execução.

Já no âmbito do processo executivo em si, uma das principais diferenças entre a

presente portaria e a anterior, foi a criação de fases para o processo executivo, conforme

regulamenta o art.º 15.º30, da Portaria n.º 331-B/2009, traduzindo-se a Fase I nas

diligências de pesquisa de bens penhoráveis e de citação prévia, a Fase II na penhora de

bens, na citação após penhora e na citação de credores e, por fim, a Fase III na venda dos

bens penhorados e, consequentemente, a extinção do processo, no caso de ter que se

proceder à mesma naquele momento.

Ora, com a instituição das referidas fases, criou-se, no entanto, uma possibilidade de

conluios entre agentes de execução e mandatários. Tal possibilidade adveio do facto se

instituir um regime de tarifas máximas e sem qualquer limite mínimo, ou seja,

possibilitando ao agente de execução que fixasse qualquer tarifa ou percentagem até ao

limite máximo previsto para efeitos de honorários e despesas, tendo-se como principal

objectivo a criação de vantagens para os exequentes que poderiam optar pelo melhor

30

Redacção art.º 15.º, da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março: «1 - Para efeitos de adiantamento

de honorários e de despesas ao agente de execução o processo executivo divide-se nas seguintes fases: a) A

fase 1, que se inicia com o envio do requerimento executivo ao agente de execução designado e termina

com: i) A notificação do exequente do resultado da consulta ao registo informático das execuções e dos bens

penhoráveis identificados ou do facto de não ter identificado quaisquer bens penhoráveis; ou ii) O pedido de

adiantamento de honorários e de despesas para a realização da penhora dos bens identificados no

requerimento executivo; b) A fase 2, que compreende a penhora de bens e a citação dos credores e que

termina com a primeira decisão do agente de execução de iniciar as diligências necessárias para a realização

do pagamento; c) A fase 3, que termina com a extinção da execução. 2 - O exequente deve entregar uma

provisão ao agente de execução, a título de honorários ou a título de honorários e de despesas: a) Com a

entrega do requerimento executivo em que tenha designado agente de execução e no mesmo prazo do

pagamento da taxa de justiça, o valor definido pelo agente de execução nos termos do n.º 2 do artigo 19.º; b)

No início da fase 2; c) No início da fase 3. 3 - No início das fases 2 e 3, o exequente provisiona o valor,

definido pelo agente de execução, que possa razoavelmente cobrir os honorários e as despesas necessárias à

realização dos actos que aquele previsivelmente irá praticar durante a fase correspondente. 4 - O montante

mínimo da provisão referida no número anterior para as fases 2 e 3 é de 0,25 UC. 5 - Em caso de substituição

do agente de execução pelo exequente, nos termos do n.º 6 do artigo 808.º do Código de Processo Civil: a)

Não é reembolsável o montante provisionado nos termos da alínea a) do n.º 2; b) São reembolsáveis os

montantes que excedam o valor mínimo estabelecido no n.º 4, sem prejuízo do pagamento de honorários ou

despesas devidas. 6 - Quando a execução se extingue, o exequente tem direito ao reembolso da verba

provisionada que exceda o valor dos honorários e despesas efectivamente devido.

23

serviço e ao melhor (diga-se, menor) preço. Assim, ficou estabelecido que o exequente

deveria proceder ao pagamento de uma provisão no início de cada fase, nomeadamente, o

máximo de 1,25 UC’s (127,50 Euros) para a Fase I (cfr. Anexo I, ponto 1 da Portaria em

análise) e, o mínimo de 0,25 UC (25,50 Euros) para as Fases II e III, devendo considerar

para estas duas últimas fases os actos que previsivelmente praticará. Portanto, ao

estabelecer-se um valor máximo (127,50 Euros tendo de se considerar ainda o Imposto

sobre o Valor Acrescentado) para a denominada Fase I, não fixando, porém, um valor

mínimo, permitiu-se a diversos agentes de execução a cobrança diminuta de provisões

nesta primeira fase, angariando mais clientes em relação aos restantes agentes de execução

que cobravam o valor máximo. Tal permissão levou, contudo, os agentes de execução que

cobravam tal valor diminuto a saírem prejudicados financeiramente em cada processo,

pois, não se encontravam provisionados suficientemente. Consequentemente, também os

exequentes saíram prejudicados, devido à fraca tramitação do processo e aos valores

elevados cobrados a final aquando da extinção do processo. Tal prática resultou na

cobrança de honorários finais de valores completamente absurdos e afectou a imagem da

categoria dos agentes de execução, violando naturalmente, o dever de prestigiar a agora

OSAE31, nos termos do art.º 125.º, al.ª a), do EOSAE e art.º 6.º, al.ª a), do CDOSAE32.

Já, no que concerne à remuneração do agente de execução, para além da auferida

pelos actos efectivamente praticados, de acordo com o art.º 11.º da Portaria em análise,

manteve-se similar a forma de cálculo da remuneração adicional, consoante o valor

garantido ou recuperado, beneficiando o agente de execução que cobrasse de forma mais

célere. Neste âmbito, consagrou-se no art.º 20.º e no Anexo II, da Portaria 331-B/2009,

sendo o valor recuperado ou garantido superior a 20 UC (2.040,00 Euros), divide-se o

mesmo em duas partes, sendo que à primeira se aplica a taxa média e corresponde ao limite

dos escalões que nele couber e, à segunda parte, aplica-se a taxa normal do escalão

imediatamente superior, correspondendo ao excedente. Posteriormente, consoante o valor

31 Cfr. Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia e História da Solicitadoria

(contributo para a Fundamentação de um Novo Paradigma de Exercício da Solicitadoria no Umbral do

Século XXI) – Versão Provisória 7.0, Coimbra, Secção de Textos, 2013-2014, pp. 244-245: «O dever de não

desprestigiar implica que o solicitador não tome atitudes ou comportamentos que coloquem a imagem da

Câmara dos Solicitadores [diga-se, Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução] em risco, denegrindo-a

ou melindrando-a.» 32 Ambos os artigos com a mesma ideia, estipulam que são deveres dos associados (solicitadores e

agentes de execução), «não prejudicar os fins e o prestígio da Ordem e de qualquer das atividades

profissionais reguladas pela Ordem».

24

tenha sido recuperado ou garantido antes ou depois da penhora e antes da venda,

multiplica-se 50% ou 25%, respectivamente, e soma-se ao valor da remuneração adicional.

Exemplificando, com um valor recuperado de 100.000,00 Euros:

Divisão do valor

recuperado e

multiplicação pelas

respectivas taxas

1.ª parte 2.ª parte

79.560,00 € x 0,795% = 635,50 € 20.440,00 € x 0,25% = 51,10 €

Total da remuneração

adicional

TOTAL = 683,60 €

Se valor recuperado

ou garantido antes

da penhora

683,60 € x 50% = 341,80 € + 683,60 €

= 1.025,40 €

Se valor recuperado

ou garantido depois

da penhora e antes

da venda

683,60 € x 25% = 170,90 € + 683,60 €

= 854,50 €

Total da remuneração do

agente de execução Remuneração adicional + valor dos actos praticados

Verifica-se, portanto, que o génesis do cálculo dos honorários manteve-se, com

alterações simples no âmbito do cálculo da remuneração adicional, tendo-se por outro lado

desconsiderado os criticados honorários mínimos.

Note-se, por último, que foram tipificados actos de grande utilidade33 para a prática

de agência de execução, nomeadamente as notificações. Por outro lado, foram

33 É o caso da tipificação das notificações ou comunicações que a Portaria n.º 708/2003, de 4 de

Agosto não abarcava. Para além disso, tipificou-se as despesas das citações prévias, a partir da 4.ª citação

(conforme alteração da Portaria n.º 201/2011, de 20 de Maio), bem como as penhoras de bens móveis com ou

sem citação, compreendendo ambas o tempo dispensado. Passaram ainda a ser considerados os autos de

diligência para os casos de penhora de bens móveis frustrada. Passaram ainda ser considerados os autos de

penhora elaborados no escritório, passando estes a conter verbas. Tipificou-se ainda a imposição de selos e os

actos de redução da penhora (actualmente da competência dos Juízes de Execução). Criou-se uma verba

própria para considerar o cancelamento da penhora de um bem e outra verba para cancelamentos de penhora

de vários bens. No que toca à venda, criaram-se quatro verbas distintas: uma para os procedimentos que

englobam uma série de actos (excluindo as notificações), evitando diversos actos que se encontravam

tipificados na Portaria n.º 708/2003; outra para o procedimento de venda por abertura de propostas em carta

fechada; outra para o pagamento que implica-se a adjudicação, a consignação ou a entrega de bens

penhorados; e, por último, outra verba para o procedimento de venda por negociação particular. Passou a

25

desconsideradas algumas verbas em relação à última portaria, dada a inutilidade das

mesmas, como já se referiu, no caso da venda para a qual passou a estar tipificada uma

única verba para o efeito.

2.2.3. Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto

Com a Reforma do Processo Civil em 2013, derivada dos mesmos problemas de

sempre, foi a mesma efectivada pela entrada em vigor da Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho,

tendo surgido em simultâneo a necessidade de reformar igualmente a Portaria 331-B/2009,

de 30 de Março de modo a que a Reforma do Processo Civil tivesse o impacto necessário

em termos de eficácia, legislando-se, assim, a Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto, que

regulamenta actualmente vários aspectos das acções executivas e a qual se aplica aos

processos que iniciaram a partir de 1 de Setembro de 2013.

Deste modo, de entre as diversas alterações efectuadas, destaca-se a cimentação da

obrigatoriedade de tramitação electrónica do processo executivo, garantindo-se desta forma

a máxima transparência do mesmo, dada a comunicação automática existente entre os

Tribunais e os Agentes de Execução, por intermédio das suas respectivas plataformas. Em

virtude dessa tramitação electrónica, uma das grandes novidades é a penhora de saldos

bancários por esta mesma via, através de uma articulação de plataformas dos Agentes de

Execução e do Banco de Portugal e demais instituições bancárias34.

Para além do exposto, passa a estar prevista a venda mediante leilão electrónico, pese

embora a sua real regulamentação prática apenas tenha surgido em 2015, pela publicação

do Despacho n.º 12624/2015, publicado em Diário da República, 2.ª Série – N.º 219, a 9 de

Novembro de 2015 e, a sua concretização prática, isto é, a implementação da plataforma de

leilão electrónica apenas tenha surgido para os agentes de execução em 2016.

Entre as demais alterações efectuadas, entre elas encontram-se as remunerações do

agente de execução, sendo o objectivo da presente Portaria passar por a cobrar os actos

constatar também da Tabela uma verba para liquidação de créditos, no âmbito do concurso de credores. Por

último, considerou-se ainda outra verba para a situação em que a execução se encontre extinta e o exequente

pretenda novas pesquisas quanto ao executado. 34 Em suma, o agente de execução procede ao pedido de informação ao Banco de Portugal de

eventuais contas bancárias de que o executado seja titular. Posteriormente, um vez apuradas as referidas

contas bancárias e as respectivas instituições, o Banco de Portugal informa o agente de execução sobre mas

mesmas, procedendo este ao bloqueio de eventuais saldos junto dessas mesmas instituições e, havendo

saldos, procede-se à sua penhora, dando-se lugar à sua transferência posteriormente para a Conta Cliente

Executados da Agente de Execução. De notar que, todo o procedimento se realiza agora sem necessidade de

despacho prévio, nos termos do art.º 780.º, do CPC.

26

efectivamente praticados, tipificando ainda mais esses mesmos actos para além dos já

contidos nas anteriores Portarias. Para tal, fixaram-se quatro Fases para o processo

executivo para pagamento de quantia certa, nos termos do art.º 47.º, n.º 135, da Portaria n.º

282/2013, havendo assim lugar a uma reformulação ao ser adicionada uma nova Fase ao

Processo Executivo, e, uma única fase para os processos executivos para entrega de coisa

certa e prestação de facto, de acordo com o art.º 47.º, n.º 736, da mesma Portaria. Para

ambos os processos, considera-se, assim, a Tabela constante do Anexo VI, nos termos do

art.º 47.º, n.os 337 e 7, da Portaria n.º 282/2013, havendo lugar a pagamento de provisão no

início de cada fase, sem prejuízo de reforço de provisão de acordo com o Anexo VII.

Para além disso, a principal preocupação passou por cessar o problema inerente à

possibilidade de cobrar um valor variável na primeira fase do processo, determinando-se,

para tal, um valor fixo a cobrar para o agente de execução a título de provisão em qualquer

uma das fases, eliminando assim o modelo seguido pela Portaria n.º 331-B/2009 que

originou diversos problemas neste aspecto. Deste modo, permite-se que os agentes de

execução concorram entre si, não pelos valores que efectivamente cobram pelos seus

serviços, mas sim pela qualidade dos serviços que prestam, extinguindo-se, assim, os

diversos conflitos existentes entre as partes e os agentes de execução.

Em contrapartida, para efeitos de remuneração adicional, procurou-se continuar a

beneficiar os agentes de execução que recuperassem o crédito o mais cedo possível, tendo

35 Redacção do art.º 47.º, n.º 1, da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto: «1 - Para efeitos de

adiantamento de honorários e despesas ao agente de execução, o processo executivo para pagamento de

quantia certa compreende as seguintes fases: a) Fase 1, que se inicia com o pagamento da respetiva provisão

e inclui os atos necessários à verificação da regularidade do título executivo, consulta ao registo informático

das execuções e às bases de dados de consulta direta eletrónica para apuramento de bens penhoráveis,

terminando com a notificação do exequente para proceder ao pagamento da provisão dos honorários da fase 2

ou da fase 3; b) Fase 2, que se inicia com o pagamento da respetiva provisão e inclui a citação prévia do

executado, quando a lei assim o imponha, ou a citação do executado para a indicação de bens à penhora,

quando não sejam identificados bens penhoráveis, terminando com a notificação do exequente para proceder

ao pagamento dos honorários da fase 3 ou com a extinção do processo; c) Fase 3, que se inicia com o

pagamento da respetiva provisão e inclui as diligências de penhora, bem como as citações que tenham lugar

após a realização da penhora, terminando com a notificação do exequente para proceder ao pagamento dos

honorários da fase 4; d) Fase 4, que se inicia com o pagamento da respetiva provisão e inclui as diligências

de venda, liquidação e pagamento, terminando com a extinção do processo.» 36 Redacção do art.º 47.º, n.º 7, da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto: «Para efeitos de

adiantamento de honorários e despesas ao agente de execução, as execuções para entrega de coisa certa ou

para prestação de facto apenas têm uma fase, cujo montante se encontra fixado na tabela do anexo VI da

presente portaria e deve ser pago pelo exequente, por via eletrónica, com a entrega do requerimento

executivo.» 37 Redacção do art.º 47.º, n.º 3, da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto: «Os montantes a que se

refere o n.º 1 são os fixados na tabela do anexo VI da presente portaria, podendo o agente de execução

solicitar reforço de provisão nos casos em que o exequente requeira a realização de atos que ultrapassem os

limites previstos na tabela do anexo VII da presente portaria.»

27

como «pontos-referência» o momento da primeira penhora, o momento após a primeira

penhora e antes da venda e, o momento após da venda, sendo que, quanto mais tarde seja

recuperado, menos o agente de execução receberá. Para além do critério do tempo que o

agente de execução demorou a recuperar o crédito do exequente, mantém-se igualmente o

critério do valor recuperado ou garantido surgindo, no entanto, um novo critério: a

existência ou não de garantia real sobre os bens penhorados ou a penhorar, calculando-se a

mesma nos termos da Tabela do Anexo VII.

No que toca aos honorários do agente de execução, passou a regular o art.º 50.º38, da

Portaria n.º 282/2013 o modo de aplicação das tarifas para efeitos dos referidos honorários,

38 Redacção do art.º 50.º, da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto: «1 - Sem prejuízo do disposto nos

n.os 2 a 4, o agente de execução tem direito a ser remunerado pela tramitação dos processos, atos praticados

ou procedimentos realizados de acordo com os valores fixados na tabela do anexo VII da presente portaria, os

quais incluem a realização dos atos necessários com os limites nela previstos. 2 - Nos processos executivos

para pagamento de quantia certa em que não haja lugar a citação prévia do executado e se verifique após a

consulta às bases de dados que não existem bens penhoráveis ou que o executado foi declarado insolvente,

caso o exequente desista da instância no prazo de 10 dias contados da notificação do resultado das consultas

apenas é devido ao agente de execução o pagamento de 0,75 UC. 3 - Quando o exequente requeira a

realização de atos que ultrapassem os limites previstos nos pontos 1 e 2 da tabela do anexo VII da presente

portaria, são devidos pelo exequente pela realização dos novos atos os seguinte valores: a) 0,25 UC por

citação ou notificação sob forma de citação por via postal, efetivamente concretizada; b) 0,05 UC por

notificação por via postal ou citação eletrónica; c) 0,5 UC por ato externo concretizado (designadamente,

penhora, citação, afixação de edital, apreensão de bem, assistência a abertura de propostas no tribunal); d)

0,25 UC por ato externo frustrado. 4 - Nos processos executivos para pagamento de quantia certa, quando

haja lugar à entrega coerciva de bem ao adquirente, o agente de execução tem direito ao pagamento de 1 UC,

a suportar pelo adquirente, que poderá reclamar o seu reembolso ao executado. 5 - Nos processos executivos

para pagamento de quantia certa, no termo do processo é devida ao agente de execução uma remuneração

adicional, que varia em função: a) Do valor recuperado ou garantido; b) Do momento processual em que o

montante foi recuperado ou garantido; c) Da existência, ou não, de garantia real sobre os bens penhorados ou

a penhorar. 6 - Para os efeitos do presente artigo, entende-se por: a) «Valor recuperado» o valor do dinheiro

restituído, entregue, o do produto da venda, o da adjudicação ou o dos rendimentos consignados, pelo agente

de execução ao exequente ou pelo executado ou terceiro ao exequente; b) «Valor garantido» o valor dos bens

penhorados ou o da caução prestada pelo executado, ou por terceiro ao exequente, com o limite do montante

dos créditos exequendos, bem como o valor a recuperar por via de acordo de pagamento em prestações ou de

acordo global. 7 - O agente de execução tem ainda direito a receber dos credores reclamantes uma

remuneração adicional pelos valores que foram recuperados pelo pagamento ou adjudicação a seu favor. 8 -

Em caso de incumprimento do acordo de pagamento em prestações ou do acordo global, a comunicar pelo

exequente, o agente de execução elabora a nota discriminativa de honorários e despesas atualizada tendo em

consideração o valor efetivamente recuperado, afetando o excesso recebido a título de pagamento de

honorários e despesas ao pagamento das quantias que venham a ser devidas, sem prejuízo de, no termo do

processo, restituir ao exequente o saldo a que este tenha direito. 9 - O cálculo da remuneração adicional

efetua-se nos termos previstos na tabela do anexo VIII da presente portaria, sem prejuízo do disposto nos

números seguintes. 10 - Nos casos em que, na sequência de diligência de penhora de bens móveis do

executado seguida da sua citação seja recuperada ou garantida a totalidade dos créditos em dívida o agente de

execução tem direito a uma remuneração adicional mínima de 1 UC, quando o valor da remuneração

adicional apurada nos termos previstos na tabela do anexo VIII seja inferior a esse montante. 11 - O valor da

remuneração adicional apurado nos termos da tabela do anexo VIII é reduzido a metade na parte que haja

sido recuperada ou garantida sobre bens relativamente aos quais o exequente já dispusesse de garantia real

prévia à execução. 12 - Nos processos executivos para pagamento de quantia certa em que haja lugar a

citação prévia, se o executado efetuar o pagamento integral da quantia em dívida até ao termo do prazo para

se opor à execução não há lugar ao pagamento de remuneração adicional. 13 - Havendo lugar à sustação da

28

quer pela remuneração fixa (considerando a Tabela constante do Anexo VII), quer pela

remuneração adicional (considerando a Tabela constante do Anexo VIII), mantendo-se a

sua forma de cálculo idêntica à das anteriores Portarias. Por outro lado, estipulou-se no

art.º 52.º39, da mesma Portaria, as regras de contabilização das despesas do agente de

execução com o processo, realçando-se a estatuição do seu n.º 2, ao estipular que as

despesas emergentes de todos os actos praticados no âmbito da Fase I, sejam excluídos

para efeitos de cobrança de despesas.

Finalizando, cumpre tecer apenas que, para além de haver um maior controlo em

matéria de honorários e despesas do agente de execução, a diferença, em relação às últimas

portarias, reside na redução de valores pagos a título de provisão40 e na taxação de forma

mais explícita e abrangente dos demais actos e situações passíveis de serem cobrados no

âmbito da tramitação do processo executivo.

execução nos termos do artigo 794.º do Código de Processo Civil e recuperação de montantes que hajam de

ser destinados ao exequente do processo sustado, o agente de execução do processo sustado e o agente de

execução do processo onde a venda ocorre devem repartir entre si o valor da remuneração adicional, na

proporção do trabalho por cada qual efetivamente realizado nos respetivos processos. 14 - Nos casos de

delegação para a prática de ato determinado, e salvo acordo em contrário entre os agentes de execução, o

agente de execução delegado tem direito ao pagamento, a efetuar pelo agente de execução delegante, de 0,75

UC por ato externo realizado. 15 - Havendo substituição do agente de execução, que não resulte de falta que

lhe seja imputável ou de delegação total do processo, o agente de execução substituído e o substituto devem

repartir entre si o valor da remuneração adicional, na proporção do trabalho por cada qual efetivamente

realizado no processo. 16 - Em caso de conflito, entre os agentes de execução, na repartição do valor da

remuneração adicional, a Câmara dos Solicitadores designa um árbitro para a resolução do mesmo.» 39 Redacção do art.º 52.º, da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto: «1 - O agente de execução tem

direito a ser reembolsado das despesas necessárias à realização das diligências efetuadas no exercício das

funções de agente de execução, desde que devidamente comprovadas. 2 - Excetuam-se do disposto no

número anterior as despesas necessárias à realização das diligências efetuadas durante a fase 1 do processo

executivo, bem como as despesas de deslocação que não observem o disposto no n.º 4. 3 - Podem ser

cobradas despesas de deslocação, tendo por base os critérios estabelecidos no artigo 54.º, se o agente de

execução designado pelo exequente praticar atos a mais de 50 km do tribunal da sua comarca e,

cumulativamente: a) O exequente for previamente informado, preferencialmente por via eletrónica: i) Do

custo provável da deslocação; ii) De que, sendo o ato praticado por agente de execução da comarca em causa,

não há lugar a pagamento de tais despesas; e iii) De que as despesas de deslocação são da sua exclusiva

responsabilidade, não podendo ser exigido ao executado o reembolso das mesmas; b) O exequente aceitar

expressamente a cobrança da deslocação. 4 - Para os efeitos do n.º 1, consideram-se despesas comprovadas as

que sejam lançadas, de forma automática, pelo sistema informático de suporte à atividade dos agentes de

execução na conta corrente do processo, nomeadamente as que resultem de registos de penhora eletrónica,

expedição de correio, notificações eletrónicas, transferências e pagamentos eletrónicos.» 40 Criou-se uma bolsa de actos a praticar pelo agente de execução, os quais estão, até certo limite,

incluídos na provisão já paga e que, só após o esgotamento dessa bolsa, poderão ser cobrados mais actos por

via de reforço de provisão. A referida bolsa de actos é diferenciada de duas formas: com ou sem recuperação

ou garantia total ou parcial do crédito, por executado, salvo tratando-se de cônjuges ou pessoas que coabitem

na mesma morada onde seja praticado o acto – vide pontos 1.1 e 1.2 da Tabela constante do Anexo VII.

29

2.3. A remuneração adicional em caso de acordo entre as partes

De acordo com o analisado, constata-se que o agente de execução, possui assim uma

remuneração mista: uma parte fixa, a receber pelos actos efectivamente praticados,

incentivando minimamente a prática dos mesmos; e, uma parte variável, a receber

consoante o valor recuperado ou garantido e dependendo da fase processual em que esse

valor foi recuperado ou garantido, de forma a promover a celeridade e a eficiência na

actuação do agente de execução na prática das demais diligências no processo executivo. É

o que estabelece quer o art.º 8.º, da Portaria n.º 708/2003, de 04 de Agosto, quer o art.º

20.º, da Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março, quer o art.º 50.º, n.os 5 a 7, da Portaria n.º

282/2013, de 29 de Agosto.

Portanto, dúvidas não persistem quanto ao facto de o agente de execução ser sempre

remunerado pelos actos que efectivamente realizou. Todavia, sendo a remuneração

adicional uma forma de premiar o agente de execução pela sua actuação na recuperação ou

na garantia do valor em dívida, consoante a fase processual em que tal se sucedesse, surge

a dúvida se este profissional terá direito a esta mesma remuneração se o valor fosse

recuperado ou garantido, durante a execução, sem a sua intervenção. É, portanto, a situação

em que as partes alcançaram um acordo de pagamento, sem a intervenção do agente de

execução. Surgem, por isso, duas situações distintas aquando da celebração de um acordo

de pagamento entre as partes, repita-se, sem a intervenção do agente de execução:

primeiramente, poderá ser celebrado o referido acordo de pagamento, podendo, todavia,

existir um valor garantido41; e, por outro lado, celebrado que seja esse acordo, poderá o

agente de execução não possuir qualquer valor garantido.

Ora, o problema em causa passa por perceber se o agente de execução tem sempre

direito à remuneração adicional, independentemente da sua actuação para satisfação do

crédito exequendo.

Vária jurisprudência decidiu e o resultado foi unânime, ainda que com justificações

diferentes: o agente de execução apenas terá direito à remuneração adicional quando seja

celebrado acordo de pagamento entre as partes, se tiver garantido algum valor ou se na

celebração desse mesmo acordo tiver intervindo ou provocado42, pelo seu trabalho e

41 Será o caso em que o agente de execução já procedeu à penhora de bens que garantam o pagamento

da dívida, mesmo que parcialmente. 42 Vide Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 03.11.2015, sobre o Processo n.º

1007/13.3TBCBR-C.C1, em que entende o agente de execução que «(…) ocorrendo o pagamento voluntário

em fase posterior [da penhora], tem direito à remuneração adicional sem que a actividade desenvolvida seja

30

desempenho ao longo do processo executivo para que tal acordo fosse em determinado

momento possível, nomeadamente pela penhora de bens43.

Constituiu-se, assim, uma necessidade de interpretação da lei, nomeadamente, pela

leitura e aplicação do art.º 9.º, do CC44, ou seja, destinada a remuneração adicional a

premiar o agente de execução pelo seu desempenho na recuperação ou garantia do crédito

exequendo, se o mesmo não estiver relacionado de qualquer forma com a recuperação ou

garantia do referido crédito, não terá igualmente direito ao recebimento da remuneração

adicional. Portanto, significa que a atribuição de uma remuneração adicional ao agente de

execução passará sempre pela verificação de um «nexo causal entre a recuperação de

valores pelo exequente e as diligências que nesse sentido foram por aquele

desenvolvidas»45. Significa, deste modo, que o agente de execução não poderá fazer

corresponder ao valor recuperado ou garantido, para efeitos de apuramento da remuneração

adicional, o valor do acordo ou o valor da execução quando haja acordo, sem que tenha

intervindo ou provocado o mesmo46.

substancialmente diferente daquela que teve lugar no caso vertente [penhora de saldo bancário], em que as

partes celebraram acordo.» No entanto, entendeu os Meritíssimos Juízes que «(…) ao contrário do

entendimento perfilhado pelo apelante, tal não basta para que tenha direito à referida remuneração adicional,

exigindo a lei, no entendimento que se perfilha, que o acordo de garantia tivesse resultado das diligências por

si promovidas, sendo assim de afastar uma interpretação do preceito que se baste com a verificação da sua

elaboração.» 43 Vide Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 11.01.2007, sobre o Processo n.º 0636732, em

que a agente de execução alegou, no âmbito do seu recurso, entre outros aspectos que «(…) se é certo que a

agravante não interveio nesse acordo, celebrado entre exequente e executados ao abrigo do disposto no art.º

882.º do Código de Processo Civil, não é menos exacto que foi, através do seu labor e da acção desenvolvida

ao longo do processo executivo vertente, que ele foi possível e se materializou. 5ª: Já que garantiu,

previamente, através de penhora (1.ª) de imóvel, pertença dos executados, que o cumprimento desse acordo

ficaria válida e devidamente salvaguardado. (…)». Tal exposição foi de encontro ao laudo emitido pela

Câmara dos Solicitadores, sendo com base nele e na exposição da agente de execução que os Juízes do

Tribunal da Relação do Porto decidiram a favor da agente de execução. 44 Redacção do art.º 9.º, do CC: «1 - A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir

a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as

circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada. 2 - Não

pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha na letra da lei um

mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente expresso. 3 - Na fixação do sentido e alcance

da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu

pensamento em termos adequados.» 45 Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 03.11.2015, sobre o Processo n.º

1007/13.3TBCBR-C.C1. 46 Vide Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 03.11.2015, sobre o Processo n.º

1007/13.3TBCBR-C.C1, em que foi decidido pela Meritíssima Juiz que «O Sr. Agente de execução, ao

colocar no valor recuperado a quantia de €918.235,60, não teve em linha de conta que “o valor recuperado”,

nos termos do n.º 6, al.ª a) do art.º 50.º da citada Portaria [281/2013, de 29/08 [diga-se 282/2013, de 29/08]]

é o valor do dinheiro restituído, entregue (…)», sendo que, «(…) “No caso presente, a quantia do saldo

bancário penhorado de €14.159,95 foi aquela que foi entregue à exequente” (…)».

31

Por outro lado, foi mais longe o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de

02.06.2016, sobre o Processo n.º 5442/13.9TBMAI-B.P1 ao julgar inconstitucional47 o art.º

50.º, n.º 5, da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto, «quando interpretado no sentido de a

remuneração variável do Agente de Execução é sempre devida independentemente do grau

de intervenção deste para o sucesso da satisfação do crédito exequendo»48.

A retórica argumentativa produzida49 concentrou-se no balizamento do conceito do

sistema de remuneração do agente de execução, conceito esse já aqui analisado, realçando

em especial que o empenho e a celeridade do agente de execução em recuperar ou garantir

o crédito exequendo determinam a legitimidade do mesmo em exigir uma remuneração

adicional, consoante o referido valor e, o direito em recebê-la. Quer isto dizer, portanto,

que pela sua actuação e pelas diligências levadas por si a cabo para recuperação ou

garantia do crédito exequendo determinaram essa legitimidade e esse direito, sendo que,

passará sempre por «estabelecer ou determinar quando é que a recuperação da quantia teve

lugar “na sequência de diligências promovidas”, para usar a expressão da exposição de

motivos, sendo certo que “na sequência” não é o mesmo que “em consequência” ou “em

resultado” e pode ser compatível “com a participação”, “após a intervenção”.»50 Significa

assim que o agente de execução, em caso de acordo celebrado entre as partes, mesmo que

tenha efectuado penhoras, não poderá reclamar o direito a receber a remuneração adicional

com base no valor do acordo, tendo em consideração de que tem direito à referida

remuneração porque, em consequência da penhora efectuada, resultou o referido acordo.

Assim não será quando o referido acordo tenha resultado pela participação ou com a

intervenção do agente de execução, pois, neste caso, pelo seu esforço em lograr que as

partes celebrassem um acordo, resultaria o direito a exigir uma remuneração adicional com

base no valor desse mesmo acordo.

47 Trata-se de uma fiscalização concreta, nos termos do art.º 280.º, da CRP, considerando a sua alínea

a): «1- Cabe recurso para o Tribunal Constitucional das decisões dos tribunais: a) Que recusem a aplicação

de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade; (…)». 48 Aquilina Ribeiro, Relação do Porto julga inconstitucional a remuneração variável do Agente de

Execução sem preponderância sobre o seu grau de intervenção na lide, in

https://pt.linkedin.com/pulse/rela%C3%A7%C3%A3o-do-porto-declara-inconstitucional-

remunera%C3%A7%C3%A3o-ribeiro, acedido e consultado em 11.09.2017. 49 Vide Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 10.01.2017, sobre o Processo n.º

15955/15.2T8PRT.P1, que se baseou no Acórdão em destaque, para impedir que o agente de execução fosse

remunerado adicionalmente, quando não teve qualquer intervenção na celebração do acordo entre as partes. 50 Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 02.06.2016, sobre o Processo n.º 5442/13.9TBMAI-

B.P1

32

Em face do exposto, fácil será perceber a inconstitucionalidade do art.º 50.º, n.º 5, da

Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto, quando interpretada no sentido de que é sempre

devida remuneração adicional ao agente de execução, declarada no Acórdão do Tribunal

da Relação do Porto, de 02.06.2016, sobre o Processo n.º 5442/13.9TBMAI-B.P1: «(…) é

inconstitucional por violação dos princípios da proporcionalidade e da proibição do

excesso ínsitos no princípio do Estado de direito democrático consignado no artigo 2.º da

Constituição. É ainda inconstitucional por violação do direito de acesso à justiça e aos

tribunais na medida em que da referida norma resulte responsabilidade para o próprio

exequente, o qual, face ao custo desmesurado que poderá ter de suportar com o pagamento

ao agente de execução nos casos em que o seu direito de crédito tenha um valor

significativo, verá significativa e desproporcionalmente cerceado o seu direito de acesso à

justiça sempre que for incerta a existência de bens cuja penhora e venda possa gerar um

produto suficiente para aquele pagamento.»51

Assim, passará sempre por ponderar a actuação do agente de execução para

recuperação ou garantia do crédito, recebendo uma remuneração adicional proporcional a

essa actuação, isto é, consoante o resultado obtido, sendo certo que nada receberá se esse

resultado for nulo. Passa assim por garantir o cumprimento dos mencionados princípios da

proporcionalidade e da proibição do excesso52, previstos no art.º 18.º, n.º 2, da CRP53.

De outro modo, seria igualmente imprudente permitir que a remuneração adicional

do agente de execução pudesse sempre ser exigida, quando o que se pretende é firmar a

economia nacional, atraindo investimento, desde logo, garantindo um sistema judicial

seguro e capaz de fazer valer os direitos dos credores, e não o contrário, ao criar a incerteza

de que o montante a suportar por quem queira ver o seu crédito satisfeito, possa ser incerto,

quer o mesmo seja recuperado ou não. Neste último caso, se assim fosse, como já se

referiu, para além dos prejuízos económicos nacionais, violaria o já referido direito de

51 Idem. 52 Vide Acórdão n.º 277/2016, do Tribunal Constitucional em que reitera o conceito de que a

«proibição do excesso constitui, tal como o princípio do arbítrio, uma componente elementar da ideia de

justiça, razão por aquele princípio pode reclamar uma validade geral.» Entende-se, portanto, a importância do

princípio da proibição do excesso que, transpondo para a situação em apreço, implica que para a actuação do

agente de execução haja uma remuneração adicional equitativa, não recebendo nem a mais, nem a menos

pelo seu desempenho em função dos resultados obtidos. 53 Redacção do art.º 18.º, n.º 2, da CRP: «A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias

nos casos expressamente previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para

salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos.»

33

acesso à justiça e aos tribunais, consagrado no art.º 20.º, da CRP54, ao serem gerados custos

para os credores que, dada a sua situação económico-social, poderiam não ter a capacidade

de os suportar, acrescido do facto de poder ver o seu crédito ser incobrável,

proporcionando condições de inibição de acesso à justiça.

3. DISPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS REGULADORAS DOS HONORÁRIOS DO

SOLICITADOR

3.1. O Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução

No que toca à remuneração do solicitador, o Novo EOSAE veio a regulamentar o

tema dos seus honorários no art.º 149.º, do EOSAE, fixando desde logo no seu n.º 1 que os

honorários deste profissional «devem corresponder a uma compensação económica

adequada pelos serviços efectivamente prestados, devendo ser paga em dinheiro, podendo

assumir a forma de remuneração fixa», sendo tais serviços prestados discriminados na nota

de honorários, conforme estipula o n.º 255 do mesmo artigo.

Diferentemente do agente de execução, conforme já foi adiantado, o solicitador

possui critérios para a fixação dos seus honorários, e não tarifas, constando os mesmos do

n.º 3, do mencionado art.º 149.º, do EOSAE. Esses mesmos critérios devem ser

escrupulosamente levados em conta no apuramento dos honorários do solicitador,

conforme o art.º 124.º, n.º 2, al.ª m), do EOSAE e o art.º 5.º, n.º 2, al.ª i), do CDOSAE.

Posto isto, é de extrema importância analisar os critérios de fixação dos honorários

do solicitador em simultâneo com o anterior Estatuto da Câmara dos Solicitadores56, com

vista a procurar eventuais discrepâncias entre o «antes» e o «depois».

54 Redacção do art.º 20.º, da CRP: «1 - A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para

defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por

insuficiência de meios económicos. 2 - Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta

jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade. 3 - A

lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça. 4 - Todos têm direito a que uma causa em

que intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo. 5 -Para defesa

dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais

caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efectiva e em tempo útil contra ameaças

ou violações desses direitos.» 55 Redacção do art.º 149.º, n.º 2, do EOSAE: «Na falta de convenção prévia reduzida a escrito, o

solicitador apresenta ao cliente a respetiva conta de honorários com discriminação dos serviços prestados.» 56 Doravante designado de ECS.

34

3.2. Critérios densificadores do critério geral da moderação: o art.º 111.º, n.º 1, do

ECS57 e o art.º 149.º, n.º 3, do EOSAE58

Conforme foi mencionado, o solicitador deverá fixar os seus critérios para

apuramento dos seus honorários, sendo que, esses critérios por sua vez são o

desmembramento de um critério-base: o critério geral da moderação. Este critério geral

assume uma dimensão tremenda, pois afigura-se como sendo o principal critério a ser

aplicado antes de tudo, ao instituir a obrigação do solicitador proceder de forma moderada

ou não exagerada na determinação do valor final a ser cobrado por conta de honorários e

despesas. Trata-se, portanto, do «dever de proceder com moderação e com respeito pela

eminente dignidade da pessoa humana»59. Para além disso, trata-se de um critério que

impedirá que os honorários do solicitador sejam ridiculamente baixos ou que sejam

abusivamente altos.

No entanto, surge uma complicação com o novo art.º 149.º, n.º 3, do EOSAE ao

verificar-se que o termo «moderação» foi retirado, emergindo desde logo a dúvida se o

solicitador deixa de ter em conta, para efeitos de fixação dos critérios dos seus honorários,

aquele que era até então o critério principal nesta matéria. Ora, na minha opinião, tal

critério, não estando expressamente previsto como outrora se encontrava, não deixa de ter

o seu efeito útil, uma vez que, mais que um critério, a moderação é, no meu entender, um

valor deontológico60 e, por isso, não deve deixar de ser considerado para efeitos de fixação

dos critérios de honorários. Entende assim igualmente FERNANDO SOUSA DE

MAGALHÃES, explicando que «A “moderação” era entendida como querendo significar

justeza e adequação, evitando-se a carestia, excesso e exagero insuportável, preocupação

que obviamente não devem os Advogados [diga-se Solicitadores] deixar de ter apesar

57 Redacção do art.º 111.º. n.º 1, do ECS: «Na fixação de honorários deve o solicitador proceder com

moderação, atendendo ao tempo gasto, à dificuldade do assunto, à importância do serviço prestado, às posses

dos interessados, aos resultados obtidos, ao esforço, à urgência do serviço, aos valores em causa, à praxe do

foro e ao estilo da comarca.» 58 Redacção do art.º 149.º, n.º 3, do EOSAE: «Na fixação dos honorários deve o solicitador atender à

importância dos serviços prestados ao cliente, à dificuldade e urgência do assunto, ao grau de criatividade

intelectual da sua prestação, ao resultado obtido, ao tempo despendido, às responsabilidades por ele

assumidas e aos custos em que tenha que incorrer para a prestação do serviço solicitado, bem como aos

demais usos profissionais.» 59 Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia (…), cit., pp. 599. 60 Desde logo pela análise do art.º 26.º, n.º 1, do CDOSAE, ao ser dever do agente de execução (e,

com as necessárias adaptações, do solicitador) «(…) aconselhar à moderação e ao equilíbrio (…)» mesmo

que para efeitos de tentativa de conciliação do exequente e do executado. Ou seja, se o agente de execução

deve aconselhar à moderação, o mesmo deverá acontecer com ele quando pratique actos e, para os presentes

efeitos, quando fixe os seus critérios para cálculo dos seus honorários.

35

daquela eliminação, já que ela deriva do papel dos Advogados [diga-se Solicitadores]

como servidores da Justiça e do Direito»61.

Ainda assim, a limitação contida no n.º 1, do citado art.º 149.º, do EOSAE, poderá

servir de mecanismo para uma aplicação indirecta do critério geral da moderação, ao impor

que o solicitador deve ser remunerado através de uma «compensação económica adequada

pelos serviços efectivamente prestados», conforme aí se estipula.

É de salientar e ressalvar que as complicações deontológicas que surgiram com o

EOSAE, advêm do simples facto de o mesmo ser uma cópia parcial do Estatuto da Ordem

dos Advogados de 2005 e, por isso, dada a natureza das profissões do solicitador e do

advogado, admite-se a recorrência ao Estatuto da Ordem dos Advogados para efeitos de

preenchimento de lacunas e omissões.

Posto isto, sabendo a dimensão que o critério da moderação pode tomar caso não seja

aplicado, apesar de o dever ser, quer pelo valor deontológico que o mesmo possui, quer

pela forma indirecta que o mesmo poderá ser aplicado, importa atender e caracterizar os

restantes critérios que se densificam através deste critério geral da moderação.

3.2.1. Critérios constantes do Estatuto da Câmara dos Solicitadores e do Estatuto da

Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução

3.2.1.1. O critério temporal – tempo efectivamente gasto ou despendido

Conforme o próprio indica, o critério temporal refere-se ao tempo que o solicitador

despendeu com determinado assunto jurídico, procurando com esse tempo descortinar todo

o caso que o seu cliente lhe colocou em mãos, para que possa fundamentar e justificar a

pretensão do seu cliente. Trata-se, no meu entender e não descurando dos restantes

critérios, de um dos dois critérios mais importantes, atendendo que o presente critério em

análise descortina-se em dois factores a considerar para o efeito de cálculo dos honorários

do solicitador: os custos de manutenção de funcionamento do escritório do solicitador,

enquanto suporte de actividade do mesmo e usado para resolução do caso; e, a justa

remuneração do solicitador pelo tempo despendido para a resolução do caso em concreto.

Tal vai de encontro ao entendimento de ANTÓNIO ARNAUT, ao argumentar que «Tem-

se entendido que de entre os parâmetros para a fixação de honorários, há que atender

especialmente ao tempo gasto. E para a sua determinação há que decompô-lo em duas

61 Fernando Sousa Magalhães, Estatuto da Ordem dos Advogados anotado e comentado, Coimbra,

2016, pp. 169.

36

parcelas; uma, enquanto custos fixos de manutenção e funcionamento da empresa que,

apesar de tudo, é o escritório do advogado [diga-se solicitador]; outra, enquanto

remuneração justa do trabalho directamente investido pelo advogado [diga-se solicitador]

no assunto que lhe está confiado (Ac. Cons. Ger. De 28-10-88, R.O.A. 49-279)»62

Assim, contabiliza-se para o efeito deste critério o tempo que o solicitador despendeu

no seu escritório ou noutras entidades que obrigatoriamente necessitam de estar envolvidas

para a resolução daquele assunto jurídico, devendo-se considerar que, uma vez despendido

mais tempo para determinado processo do que para outro, será justo que os honorários do

solicitador sejam mais elevados.

Neste âmbito, dever-se-á atender ao critério do homem médio, isto é, considerar-se-á

como ponto de referência a pessoa mediana que seja o equilíbrio entre todos os indivíduos,

sendo assim possível analisar e comparar as condutas, o saber e as demais características

das pessoas. Deste modo, adaptadamente, atender-se-á para o critério temporal, o critério

do solicitador médio, ou seja, na situação de um solicitador medianamente inteligente,

quanto tempo demorará a resolver certa situação e, caso demore o mesmo tempo, significa

que o solicitador se enquadra no nível mediano, se demorar menos tempo, significa que

excede tal nível e, se demorar mais tempo, significa que não se enquadra nesse nível médio

e, só por isso, também não poderá cobrar mais honorários do seu cliente.

Entende-se, portanto, que o tempo despendido para o estudo do caso não deva ser

considerado para efeitos de tempo efectivamente empregue no assunto jurídico trazido pelo

cliente. Todavia, na minha perspectiva, tal apenas deve ser considerado quando esse tempo

de estudo não seja advindo da incompetência do solicitador, mas sim, como se sucede em

muitos outros casos, quando o tempo de estudo signifique o aperfeiçoamento da resolução

do assunto jurídico, para além das exepectativas, dependentemente do interesse do cliente.

3.2.1.2. O critério da dificuldade ou complexidade do assunto

Outro critério a ter em conta e o qual se configura no outro critério importante a par

com o critério temporal, é o critério da dificuldade do assunto, não da perspectiva de

estudo, uma vez que essa matéria foi alvo de análise no ponto antecedente, mas sim quanto

às diligências que sejam necessárias levar a cabo, como por exemplo, a necessidade de

traduzir documentos. Trata-se, por isso, dos casos em que haja uma acrescida dificuldade

62 António Arnaut, Estatuto (…), pp. 123.

37

em resolver o assunto jurídico e que, por isso, devam ser cobrados os respectivos

honorários.

3.2.1.3. O critério da importância do serviço prestado

Outro critério a ter em linha de conta é o critério da importância do serviço prestado.

Quer o mesmo dizer que se qualificam certos assuntos jurídicos mais importantes que

outros e que, devido a isso, devam ser agravados os honorários do solicitador,

considerando que o mesmo contribuirá para a resolução de um assunto jurídico relevante.

Significará, portanto, que o solicitador terá direito a uma compensação superior

quando se tratem de assuntos controversos em que jurisprudência não é unânime, de

situações em que a sua própria natureza possui diversas conexões. Serão, assim, as

situações em que o solicitador terá em mãos casos de importância extrema, dada a sua

natureza e o impacto que revela na jurisprudência portuguesa.

3.2.1.4. O critério finalístico ou do resultado

Outro critério a referenciar para efeitos de fixação dos honorários é o critério dos

resultados obtidos, não só os resultados finais, mas também os resultados apresentados ao

longo da resolução do assunto jurídico e que ao solicitador estejam inerentes pela sua

actuação. É, no entanto, importante notar que, mesmo que os resultados sejam negativos, o

solicitador tem sempre direito ao recebimento dos seus honorários.

Será importante referenciar que o presente critério em nada se compara com a quota

litis (infra ponto 4.1.3.). Com o presente critério pretende-se que o resultado do caso seja

um dos factores a ter em consideração para a fixação deste critério no âmbito do

apuramento dos honorários do solicitador, não se considerando que haja a celebração de

um pacto de quota litis caso assim se proceda. Assim entende LUÍS MENEZES LEITÃO,

afirmando que «Não é, no entanto vedada a consideração do resultado obtido no âmbito da

fixação dos honorários, sendo este mesmo um dos critérios para essa fixação (…)»63.

3.2.1.5. O critério da urgência do serviço

Por fim, no âmbito dos critérios que permaneceram intactos com o Novo Estatuto,

cumpre mencionar o critério da urgência do serviço, tratando-se dos casos em que o cliente

63 Luís Menezes Leitão, Estatuto da Ordem dos Advogados anotado e legislação e regulamentos

complementares, Coimbra, 2016, pp.87.

38

requeira ao solicitador e, esteja disposto a pagar mais por isso, que o mesmo diligencie no

sentido de resolver determinado caso da forma mais célere possível, em detrimento de

outros processos. Deste modo, o solicitador poderá cobrar uma verba adicional devida pela

referida urgência que obrigou o solicitador a largar os restantes casos que detém.

3.2.2. Critérios reformulados (e abarcados) pelo Estatuto da Ordem dos

Solicitadores e Agentes de Execução

3.2.2.1. O critério dos custos a que o solicitador incorre para a prestação do

serviço

No âmbito dos critérios que foram consumidos por novos critérios mas que, apesar

disso, não deixaram de existir, encontra-se inserido o critério em que o solicitador deverá

atender aos custos a que incorra para a prestação do serviço, incluindo não apenas os

custos financeiros relativos às demais despesas que o solicitador suporte provisoriamente,

mas também, na minha opinião, aos custos humanos, ou seja, o esforço feito pelo

solicitador, na resolução de determinado caso mais complexo, comparado com outros

assuntos jurídicos, abarcando, desta forma, o anterior critério do esforço.

3.2.2.2. O critério dos demais usos profissionais

Outros critérios que, apesar de retirados expressamente do artigo em análise,

permanecem agora inseridos no critério dos demais usos profissionais, são os critérios da

praxe e do foro e o do estilo da comarca, significando que o solicitador poderá considerar,

para efeitos de fixação dos honorários, os valores praticados pelos seus colegas ao nível da

comarca, ou mesmo a nível de outras comarcas, tendo em conta o tipo de acto praticado e a

necessidade de atender aos usos e costumes para apurar o valor dos honorários neste

âmbito.

Importante será de notar que existe uma certa rejeição pela fixação de honorários

através deste critério, condenando-se até o estabelecimento de tabelas de honorários

mínimos e que os solicitadores e advogados se baseiem nas mesmas para aferição dos

valores das suas remunerações.

39

3.2.2.3. O critério das responsabilidades assumidas

Por último, outro critério é o das responsabilidades assumidas relativamente ao

assunto jurídico em causa e os problemas e diligências necessárias que dele submergem.

Ora, tal significará que, nos casos em que o solicitador assuma a responsabilidade de certa

diligência, ou de certo acto, que não estaria obrigado em situações normais, implicará um

aumento de honorários consoante as responsabilidades que o solicitador tenha assumido.

No entanto, certas responsabilidades assumidas pelo solicitador e quando, eventualmente,

o mesmo provoque negligentemente uma falha, será de deduzir nos seus honorários os

respectivos prejuízos, tendo em conta que ao cliente, em princípio, não será imputada

qualquer culpa de tal irresponsabilidade.

Por outro lado, no meu entender, insere-se ainda neste âmbito o antigo critério dos

valores em causa, atendendo a que o mesmo considerava o valor avultado do assunto

jurídico, dada a essência do objecto e, consequentemente, acarta a exigência e a

responsabilidade na resolução do dito assunto jurídico, pelo que, será admissível ao

solicitador cobrar a respectiva compensação por conta de honorários.

3.2.3. O novo critério com o Estatuto da Ordem dos Solicitadores e Agentes de

Execução

3.2.3.1. O critério do grau de criatividade intelectual da sua prestação

Com o EOSAE, surgiu o novo critério a levar em linha de conta, sendo ele o critério

do grau de criatividade intelectual da sua prestação, grau esse referente ao tipo de serviço

que foi requerido ao solicitador, qual a complexidade do caso e, consequentemente, de que

forma obrigou o solicitador a aplicar os seus conhecimentos teórico-práticos e a sua

imaginação jurídica na resolução do assunto jurídico, sendo certo que, quanto maior o grau

de complexidade, maior será a necessidade de elaborar uma estratégia de resolução do caso

e, deste modo, maior será o valor dos honorários.

De referir ainda que o presente critério por vezes poderá ser associado ao critério

temporal, pelo simples facto de o tempo despendido ter um impacto relevante na prestação

do solicitador a nível intelectual. Quererá isto dizer que, apesar de o tempo estar

praticamente plasmado em qualquer um dos critérios, neste possuirá um impacto a nível de

tempo de delineação da forma como será abordado e resolvido o caso da melhor maneira a

servir os interesses do cliente.

40

3.2.4. O critério do não aniquilamento do mínimo económico-financeiro necessário à

subsistência de uma vida condigna com a eminente dignidade da pessoa humana

Por último, outro critério a considerar, na perspectiva de BENJAMIM SILVA

RODRIGUES e com a qual estou de acordo, implica que o solicitador, aquando do

apuramento e cobrança dos seus honorários, tenha em consideração a situação económico-

financeira do seu cliente e, em face dessa situação, facilite o pagamento dos seus

honorários, demonstrando o seu lado humano, ao invés de cobrar coercivamente e sem

piedade os seus honorários, deixando o seu cliente numa situação económico-financeira

agravada. Caso assim fosse, neste último caso, tal seria desumano, não «permitindo [ao seu

cliente] uma vida condigna por ausência do mínimo económico-financeiro compatível e

necessário à manutenção da eminente dignidade da pessoa humana que surge como limite

inultrapassável em matéria de impostos e outras prestações económicas (artigo 1.º, da

Constituição da República Portuguesa64 65 e subjaz a toda a justiça distributiva inerente ao

nosso direito tributário (artigos 67.º, n.º 2, alínea f)66, 103.º67 e 104.º68, da CRP).»

Trata-se, portanto, de uma oportunidade (e dever) do solicitador em extravasar o seu

lado humano, sensível e bondoso para com a situação do seu cliente e dignificar a imagem

da categoria dos solicitadores que, deste modo, efectivam a defesa do princípio da

dignidade da pessoa humana.

64 Redacção do artigo 1.º, da CRP: «Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da

pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.» 65 Doravante designada de CRP. 66 Redacção do artigo 67.º, n.º 2, al.ª f), da CRP: «Incumbe, designadamente, ao Estado para protecção

da família: (…) Regular os impostos e os benefícios sociais, de harmonia com os encargos familiares». 67

Redacção do artigo 103.º, da CRP: «1. O sistema fiscal visa a satisfação das necessidades

financeiras do Estado e outras entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza. 2. Os

impostos são criados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos

contribuintes. 3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da

Constituição, que tenham natureza retroactiva ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos termos da lei.» 68

Redacção do artigo 104.º, da CRP: «1. O imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das

desigualdades e será único e progressivo, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado

familiar. 2. A tributação das empresas incide fundamentalmente sobre o seu rendimento real. 3. A tributação

do património deve contribuir para a igualdade entre os cidadãos. 4. A tributação do consumo visa adaptar a

estrutura do consumo à evolução das necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social,

devendo onerar os consumos de luxo.»

41

3.3. Critério da moderação com o EOSAE: desaparecimento ou permanência do critério

da riqueza ou situação económico-financeira dos interessados?

Por outro lado, uma vez analisados todos os critérios constantes do EOSAE,

constata-se que um dos principais critérios perdeu o seu lugar no novo art.º 149.º, do

EOSAE: o da riqueza ou situação económico-financeira dos interessados, atendendo, para

o efeito, às suas posses. Tal critério previa que o solicitador tivesse em conta as posses dos

interessados, averiguando sempre, independentemente dos resultados obtidos, qual a sua

situação económico-financeira, uma vez que a mesma devia prevalecer sobre esses

mesmos resultados, considerando, deste modo, o «princípio da proporcionalidade no

sentido de realização de uma certa justiça social a que não é alheio o solicitador enquanto

agente da realização da boa administração da justiça»69.

Ora, no meu entender, tal critério vigora mesmo com o EOSAE, pois, o solicitador

para além de se pautar e guiar pelo seu Estatuto e demais regulamentações, deve-se regular

igualmente por aquilo que é o conceito do respeito pela vida humana e, desta forma,

considerar sempre o cliente que se encontra do outro lado, que se ali se encontra é porque

possui um motivo de força maior e, por isso, não lhe deve ser negada a correspectiva ajuda,

tendo em atenção, por tal, o cálculo e a cobrança dos honorários do solicitador.

4. MODALIDADES DE HONORÁRIOS

4.1. Para o Solicitador

No que tange à fixação dos honorários do solicitador, verifica-se que existem e são

permitidas duas modalidades distintas: a do ajuste prévio e a do acerto a final. Por sua vez,

o solicitador, diferentemente do agente de execução, cobra os seus honorários e despesas

num só momento, salvo a excepção de adiantamento dos clientes por conta de honorários

e/ou despesas, conforme se analisará.

4.1.1. O ajuste prévio (regime excepcional)

Antes de mais, recuando não muito no tempo, pela análise do art.º 111.º, n.º 3, 1.ª

parte, do ECS, excepcionava-se explicitamente a possibilidade de, mediante acordo entre o

cliente e o solicitador, fixarem previamente o valor final a pagar, independentemente do

sucesso ou insucesso na resolução da questão jurídica. Trata-se, portanto, de uma

69 Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia (…), cit., pp. 601.

42

projecção de honorários, reduzida a escrito, pela qual o solicitador calcula e entende que

serão os correctos honorários em face do trabalho que o mesmo prevê que irá ter com o

caso. Todavia, com o ajuste prévio dos honorários do solicitador, deverá atender-se à

proibição da quota litis (infra ponto 4.1.3.).

Através desta possibilidade, o cliente teria uma ideia inicial do valor a despender em

honorários e demais custos e despesas, que permitiriam ao mesmo ponderar a resolução de

determinado assunto jurídico em face da sua situação económico-financeira, conservando

assim a «tutela das legítimas expectativas das pessoas»70. Deste modo, o ajuste prévio dos

honorários do solicitador afigurar-se-ia como uma verdadeira vantagem para o cliente, no

sentido de evitar futuros dissabores pela eventual surpresa nos valores que teria de pagar ao

mesmo pelos seus serviços prestados e pela eventual impossibilidade de o fazer, em face

da sua situação financeira. Tal constituiria uma situação em que aquele cliente para o qual

o solicitador prestava os seus serviços, tomaria a posição de devedor, em relação a esse

mesmo solicitador, dispondo este de meios necessários para fazer valer o seu crédito,

nomeadamente através do direito de retenção de valores, objectos e documentos em sua

posse que seriam entregues ao seu devedor, conforme veremos adiante (infra ponto 6.1.).

No entanto, com a recente criação da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de

Execução e respectivo Estatuto, o novo normativo – o art.º 149.º do EOSAE – não contém

explicitamente, pelo menos do modo como se encontrava redigido, a possibilidade de

ajuste prévio dos honorários, constatando-se igualmente que tal possibilidade também não

se encontra proibida, surgindo a dúvida se tal ajuste prévio já não será possível. Ora,

recorrendo ao exposto anteriormente, se o ajuste prévio constitui uma vantagem para o

cliente, uma vez que o mesmo poderá ser informado e cobrado, se assim o entender, a

início dos valores que terá previsivelmente de despender, na minha modesta opinião, seria

de recorrer ao art.º 144.º, n.º 1, al.ª a), in fine, do EOSAE71 de onde se extrai que nas

«relações com o cliente, são ainda deveres do solicitador, prestar (…) informação (…)

sobre os critérios que utiliza na fixação dos seus honorários, indicando, sempre que

possível, o seu montante total aproximado (…)». Deste modo, o cliente mantém a

possibilidade de ser informado dos honorários e despesas previsíveis com a resolução do

caso, ainda que, como disse, de forma meramente informativa e não vinculativa. Todavia,

uma vez informado, poderão ser cobrados os honorários mediante ajuste prévio.

70 Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia (…), pp. 597. 71 Note-se ainda que tal alínea é a cópia integral do art.º 100.º, n.º 1, al.ª a) do EOA.

43

Por tudo isto, verifica-se que, em defesa da tutela da confiança dos cidadãos, o ajuste

prévio é possível e vantajoso para o cliente. No entanto, cumpre referir que tal

possibilidade, apesar de vantajosa para cliente, afigura-se desvantajosa e impraticável para

o solicitador, pois, ao longo da resolução de qualquer questão jurídica poderão surgir novas

situações e, consequentemente, novas despesas e mais tempo a despender para o caso e que

não se poderiam prever, sendo que, uma vez já cobrados os honorários, tais situações

poderão ser imputadas ao solicitador, resultando para o mesmo prejuízo. De todo o modo,

o solicitador poderá sempre sensibilizar o cliente para a situação de prejuízo em que o

profissional incorre, ficando o cliente sujeito ao regime das obrigações naturais. Por outras

palavras, significa que o solicitador poderá requerer o pagamento de mais honorários, mas

o cliente não será obrigado a pagar, mas se pagar, não poderá receber o mesmo pedido de

pagamento – é o regime das obrigações naturais, estatuído nos art.os 402.º e seguintes do

Código Civil72.

Em face do exposto, facilmente se apreende que o regime do ajuste prévio introduz

uma alia: a possibilidade de perder ou ganhar73. Significará assim que, caso o solicitador

calcule correctamente os seus honorários, ganhará, mas se não o fizer, terá prejuízo e

dependerá da vontade e bom senso do seu cliente, conforme já se explicitou.

De referir, por último, que será seguro ao solicitador trabalhar com base no sistema

das provisões e/ou com o acerto a final, pois, dessa forma estará garantido dos seus

honorários e despesas, sendo esta a forma mais usual de actuação dos solicitadores em

Portugal74.

4.1.2. O acerto a final

Por outro lado, contrariamente ao que se pretende com a modalidade explicada

anteriormente, com o acerto a final visa-se que os honorários do solicitador sejam apurados

no fim de qualquer assunto jurídico, pela contabilização de todas as despesas de escritório

implicadas nessa mesma resolução, do valor do trabalho do solicitador tendo em conta o

72 Doravante designado de CC. 73 Semelhante aos contratos de jogo e aposta, consagrados nos art.os 1245.º a 1247.º, do CC e no

Decreto- Lei n.º 66/2015, de 29 de Abril, contratos esses que são de sorte ou de azar, uma vez que, ao

subscrever-se um contrato deste género, nunca se saberá o seu resultado e, por isso, constituindo-se deste

modo, uma alia. 74 Cfr. Orlando Guedes da Costa, Direito Profissional do Advogado, Noções Complementares,

Coimbra, 2008, pp. 250: «O ajuste prévio de honorários predomina na França e no Brasil e afixação de

honorários “a fortait” é permitida também na Bélgica e na Holanda e em certa medida na Alemanha.»

44

número de horas que dispensou para o processo, o valor das taxas de justiça e das custas

processuais que o solicitador tenha liquidado por conta do cliente, o desconto das provisões

que o cliente tenha entregue e, por fim, o apuramento do saldo final da conta de

honorários, acrescido da aplicação das respectivas taxas legais. Uma vez efectuadas as

referidas operações, obter-se-á a final a remuneração do solicitador pelo serviço que

prestou.

No entanto, é facto que, diferentemente da modalidade de ajuste prévio, o cliente

apenas tomará conta do valor certo que terá de pagar ao solicitador no final do processo e,

por vezes, torna-se numa «surpresa desagradável» para o cliente que, por sua vez, poderá

não deter todo o montante necessário para efectuar esse mesmo pagamento. Todavia, o

cliente pode e deve ser informado do montante em que se encontra os honorários do

solicitador no decurso do processo, conforme impõe o já mencionado art.º 144.º, n.º 1, al.ª

a), do EOSAE, mediante solicitação do cliente. Digo, na minha opinião, resulta não só um

dever para o solicitador em prestar a informação acerca do estado dos seus honorários e o

respectivo valor em que se encontra ao longo da resolução do caso, como também resulta

um dever para o cliente em requerer que o solicitador proceda a tal prestação de

informação de tempo em tempo, pois, desta forma, poderá evitar eventuais dissabores no

final do caso quando seja apresentada a nota de honorários e despesas.

4.1.3. A proibição de quota litis

Conforme se verificou, dispunha o art.º 111.º, n.º 3, do ECS que os honorários do

solicitador poderiam ser apurados a início, isto é, através da modalidade de ajuste prévio.

No entanto, ao contrário de outros países como os Estados Unidos da América75, o mesmo

dispositivo legal dispunha que estaria vedada a denominada «quota litis», ou seja, o

solicitador estaria impedido de exigir, quer por conta de honorários, quer em sua

substituição, uma parte (quota) correspondente ao objecto da dívida ou de qualquer outro

assunto jurídico (litis), significando que a remuneração do solicitador ficaria dependente do

resultado do processo ou de qualquer outro assunto jurídico. Ora, se tal fosse possível,

significaria que, no caso de um resultado negativo do processo ou de outro assunto

75 Vide Luís Menezes Leitão, Estatuto (…), pp. 87: «Ao contrário do que sucede nos EUA, onde é

vulgar a celebração de pactos de quota litis, sendo esta mesma a forma mais comum de remuneração dos

advogados, nos sistemas continentais é tradicional a proibição de quota litis, o que tem como consequência

que o advogado [diga-se solicitador] tem direito aos seus honorários, mesmo que não consiga ganhar o

processo respectivo.»

45

jurídico, ou um resultado positivo mas que não tenha emergido pela acção do solicitador76,

a remuneração do profissional forense seria nula ou escassa. Assim entende igualmente

ORLANDO GUEDES DA COSTA, ao referir «(…) que a fixação, a título de honorários,

de uma parte do resultado significa que, não havendo resultado, inexiste direito a

honorários e, por isso, a proibição do acordo no sentido de os honorários consistirem numa

parte do resultado envolve a proibição de se estabelecer que o direito a honorários fique

dependente dos resultados da demanda ou do negócio.»77 Desta forma, pretendeu-se evitar

que tal se sucedesse e, com isso «evitar que o único critério de fixação de honorários

corresponda a um valor que somente existirá se os resultados da demanda ou negócio

jurídico forem positivos»78.

Por outro lado, outro aspecto que se procurou defender foi o princípio da

independência, agora estatuído no art.º 119.º, do EOSAE79e no art.º 9.º do CDOSAE, e que

anteriormente não se encontrava estipulado explicitamente como norma deontológica, mas

sim como uma norma jurídica (não deixando de ser um valor deontológico), através do

art.º 15.º da Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto80 que impunha essa mesma independência.

Ora, o motivo que levou à necessidade de defender este princípio foi extremamente

simples: o solicitador ao submeter-se à quota litis, estaria directamente interessado no

resultado positivo do processo ou do assunto jurídico, uma vez que os seus honorários

emergiriam desse resultado; desse modo, devido a esse interesse em demasia pela

resolução do referido processo ou assunto jurídico, o solicitador poderia descurar-se dos

seus deveres e valores deontológicos, mesmo a nível da fixação de honorários e,

consequentemente, não dignificaria a categoria dos profissionais em que se insere.

Significaria, portanto, que o solicitador estaria a litigar pelo seu cliente e igualmente por si,

numa demanda ou num negócio que é do seu cliente e não dele.

76 Como, por exemplo, um acordo celebrado entre partes, num determinado litígio. 77 Orlando Guedes da Costa, Direito Profissional (…), Coimbra, 2008, pp. 252. 78 Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia (…), cit., pp. 596. 79

Redacção do art.º 119.º, do EOSAE: «Os associados, no exercício das suas funções, mantêm

sempre e em quaisquer circunstâncias a sua independência, devendo agir livres de qualquer pressão,

especialmente a que resulte dos seus próprios interesses ou de influências exteriores, abstendo -se de

negligenciar a deontologia profissional no intuito de agradar ao seu cliente, aos seus colegas, ao tribunal, a

exequentes, a executados, aos seus mandatários ou a terceiros. 80 Redacção do art.º 15.º, n.º 2, da Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto: «No exercício da sua actividade,

os solicitadores devem agir com total independência e autonomia técnica e de forma isenta e responsável,

encontrando-se apenas vinculados a critérios de legalidade e às regras deontológicas próprias da profissão.»

46

Presentemente, com o EOSAE, o citado art.º 111.º, n.º 3, do ECS, desvaneceu-se,

surgindo (de novo) nova dúvida em relação à (estranha) possibilidade de fixação de

honorários na modalidade de quota litis.

Tal desaparecimento deveu-se ao facto de o Novo Estatuto ser uma cópia parcial do

Estatuto da Ordem dos Advogados81 de 2005 e, no que tocava a esta matéria, consagrava

para além do art.º 100.º82 que corresponde agora ao art.º 149.º, do EOSAE, um artigo

complemento que autonomizava a proibição de quota litis, no seu art.º 101.º83, do EOA de

2005. Ora, tal preceito complementar não acompanhou o agora art.º 149.º, do EOSAE e,

em face desse facto, adveio tal erro de desaparecimento da proibição de quota litis.

Ora, analisando e recorrendo a uma retórica argumentativa complexa, tal

possibilidade poderá ser travada com a leitura do art.º 144.º, n.º 1, al.ª d), do EOSAE, ao

estipular como dever do solicitador «não celebrar, em proveito próprio, contratos sobre o

objecto das questões que lhe sejam confiadas». Apesar do referido preceito não conter

puramente a proibição de quota litis e sim apenas a proibição do indivíduo celebrar

negócio sobre o objecto, o que não tem o mesmo significado, consagra-se, assim, uma

protecção à distância. Deste modo, considerando que qualquer remuneração que o

solicitador receba será em proveito próprio (independentemente da modalidade de

honorários), que o contrato celebrado será o pacto de quota litis que o solicitador e cliente

subscrevam e, que o objecto confiado a esse profissional forense será o crédito que o

cliente quer ver cobrado, tal significa que a proibição de quota litis permanece, embora

camuflada. Todavia, face à tradição e ao equívoco do legislador, dever-se-á considerar que

é proibida a fixação de honorários tendo por base apenas um único critério: o da quota litis.

81 Doravante designado de EOA. 82

Redacção do art.º 100.º, do EOA de 2005: «1 - Os honorários do advogado devem corresponder a

uma compensação económica adequada pelos serviços efectivamente prestados, que deve ser saldada em

dinheiro e que pode assumir a forma de retribuição fixa. 2 - Na falta de convenção prévia reduzida a escrito,

o advogado apresenta ao cliente a respectiva conta de honorários com discriminação dos serviços prestados. 3

- Na fixação dos honorários deve o advogado atender à importância dos serviços prestados, à dificuldade e

urgência do assunto, ao grau de criatividade intelectual da sua prestação, ao resultado obtido, ao tempo

despendido, às responsabilidades por ele assumidas e aos demais usos profissionais.» 83 Redacção do art.º 101.º, do EOA de 2005: «1 - É proibido ao advogado celebrar pactos de quota

litis. 2 - Por pacto de quota litis entende-se o acordo celebrado entre o advogado e o seu cliente, antes da

conclusão definitiva da questão em que este é parte, pelo qual o direito a honorários fique exclusivamente

dependente do resultado obtido na questão e em virtude do qual o constituinte se obrigue a pagar ao

advogado parte do resultado que vier a obter, quer este consista numa quantia em dinheiro, quer em qualquer

outro bem ou valor. 3 - Não constitui pacto de quota litis o acordo que consista na fixação prévia do montante

dos honorários, ainda que em percentagem, em função do valor do assunto confiado ao advogado ou pelo

qual, além de honorários calculados em função de outros critérios, se acorde numa majoração em função do

resultado obtido.»

47

Por fim, e indo além da proibição da quota litis, cumpre ressalvar ainda o art.º 579.º,

do CC84, ao declarar nulas todas e quaisquer cessões de créditos ou de outros direitos

litigiosos, a qualquer interveniente judicial (advogado, solicitador, agente de execução,

…), através de interposta pessoa, caso o processo decorra na área em que esse

interveniente exerça a sua actividade forense.

Em suma, será de concluir que qualquer fixação de honorários sobre o objecto da

dívida, ou seja, qualquer celebração de pactos de quota litis, encontrará sérios obstáculos

de difícil transposição, dada a necessidade de impedir que tais situações se sucedam.

4.2. Para o Agente de Execução

Portanto, o solicitador poderá adoptar uma forma das duas possíveis modalidades de

fixar os seus honorários respeitantes a certo serviço por si prestado, tal acontecendo

previamente através do ajuste prévio dos seus honorários, ou apenas no final da resolução

do caso, mediante acerto final de honorários e despesas. Porém, não se deverá excluir nesta

última modalidade, a possibilidade de poder cobrar provisões quer por conta de honorários,

quer por conta de despesas, conforme se verificará adiante (infra CAPÍTULO II.).

Contrariamente ao solicitador, o agente de execução encontra-se limitado,

considerando que apenas pede provisões por conta de despesas e, eventualmente, por conta

de honorários, de forma faseada, de acordo com o estipulado na respectiva Portaria e

consoante as fases do processo executivo, conforme já se verificou, cobrando apenas os

seus honorários a final, isto é, através da aplicação das tarifas que constam da respectiva

Portaria, para apuramento dos seus honorários finais. Em suma, significa que o agente de

execução apenas tem disponível a modalidade do acerto a final, com as devidas

adaptações, considerando que apenas pode cobrar a sua remuneração no final, sem prejuízo

de eventuais levantamentos de honorários através de provisões, a analisar adiante (infra

CAPÍTULO II.).

84 Redacção do art.º 579.º, do CC, na íntegra: «1. A cessão de créditos ou outros direitos litigiosos

feita, directamente ou por interposta pessoa, a juízes ou magistrados do Ministério Público, funcionários de

justiça ou mandatários judiciais é nula, se o processo decorrer na área em que exercem habitualmente a sua

actividade ou profissão; é igualmente nula a cessão desses créditos ou direitos feita a peritos ou outros

auxiliares da justiça que tenham intervenção no respectivo processo. 2. Entende-se que a cessão é efectuada

por interposta pessoa, quando é feita ao cônjuge do inibido ou a pessoa de quem este seja herdeiro

presumido, ou quando é feita a terceiro, de acordo com o inibido, para o cessionário transmitir a este a coisa

ou direito cedido. 3. Diz-se litigioso o direito que tiver sido contestado em juízo contencioso, ainda que

arbitral, por qualquer interessado.»

48

5. DIFERENCIAÇÃO DOS REGIMES DO SOLICITADOR E DO AGENTE DE

EXECUÇÃO QUANTO AOS HONORÁRIOS

Analisados os aspectos relevantes relativamente aos honorários quer do agente de

execução, quer do solicitador, facilmente se constatam as grandes diferenças regimentais

em matéria de fixação dos critérios para apuramento das suas remunerações.

Por um lado, o solicitador possui uma margem de manobra bem mais alargada que a

do agente de execução, ao possuir critérios teóricos já anteriormente descortinados e que,

segundo o seu juízo de equidade e o critério geral da moderação, serão determinados

monetariamente pelo solicitador, a somar às despesas efectivamente feitas que, no final,

consistirão no total da sua remuneração pelo serviço prestado.

Por fim, já o agente de execução, por outro lado, possui uma margem praticamente

nula (se não mesmo nula), considerando que na Portaria n.º 282/2013 elencaram-se todos

os actos que são passíveis de serem cobrados por conta de despesas e honorários do agente

de execução e, desse modo, ao mesmo estará vedado ter em linha de conta os critérios que

são aplicáveis aos honorários do solicitador, considerando que não se poderá desviar das

tarifas tipificadas na referida Portaria, pois, tal obrigação constitui um dever deontológico,

como já se referenciou. No entanto, o agente de execução poderá mostrar o seu lado

humano nas diligências que pratica, nomeadamente nas penhoras de bens móveis, nas

penhoras de casas de morada de família85, bem como em outras tantas diligências que

podem significar a humilhação pública do executado ao ser despojado dos seus bens à

força sem sequer ter-lhe sido permitido entregar tais bens voluntariamente, por exemplo. O

agente de execução desempenha um papel extremamente difícil e importante no âmbito do

processo executivo e a forma como conduz as diligências por si levadas a cabo, poderão

determinar muitas vezes o sucesso ou o insucesso da diligência, bem como o mínimo de

bem-estar do executado (ao ser tratado de forma respeitada, sem a referida humilhação

como tantas vezes se sucede) e a do exequente (com o trajecto percorrido pelo agente de

execução na recuperação do seu crédito).

85 Cfr. art.º 23.º, n.º 3, do CDOSAE: «O agente de execução deve usar de especial cuidado e

humanidade em situações de natureza mais sensível, nomeadamente aquelas que envolvam penhoras e, em

especial, quando esteja em causa a casa de habitação efectiva do penhorado ou da sua família ou se verifique

a presença de menores.»

49

CAPÍTULO II. AS PROVISÕES POR CONTA DE DESPESAS E HONORÁRIOS

Por provisões entende-se que se trata de um adiantamento de honorários e/ou de

despesas, ou seja, são uma forma do agente de execução ou solicitador possuírem um

fundo de maneio para fazer face às constantes despesas usuais que se vão sucedendo no

processo ou em determinado assunto jurídico.

Hoje em dia, ao solicitador é permitido trabalhar sem provisão, apesar de o poder

requerer, de acordo com o art.º 148.º, do EOSAE86, ao contrário do agente de execução que

obrigatoriamente necessita de provisão para poder tramitar no processo, conforme impõe o

art.º 172.º, n.º 1, do EOSAE87, afigurando-se tal situação como motivo para instauração de

processo disciplinar, caso não proceda ao pedido de provisão.

Relativamente ao solicitador, a possibilidade e a não obrigatoriedade de trabalhar

provisionado, resulta da natureza da sua actividade profissional, na medida em que pode ou

deve ser remunerado consoante o trabalho que vai desenvolvendo ou que previsivelmente

desenvolverá. Tal faculdade, resulta, portanto, por essa natureza da actividade profissional

do solicitador se tratar de uma «obrigação de meios e não de resultado»88.

Há que destacar ainda que, ainda quanto ao solicitador, o final do n.º 1, do art.º 148.º,

do EOSAE, ao consagrar que o valor da provisão eventualmente pedida ao cliente

inicialmente, não deverá «(…)exceder uma estimativa razoável dos honorários e despesas

prováveis». Trata-se portanto de atender aos costumes e às práticas usuais, onde

maioritariamente se entende que o valor da provisão inicial deverá corresponder a «(…)

cerca de 1/3 dos previsíveis honorários finais, e outra provisão subsequente, de igual

montante, deixando para o termo da questão a liquidação dos honorários devidos»89.

Portanto, optando o solicitador pelo sistema de provisões, significará que o mesmo deverá

aferir os honorários previsíveis a cobrar no final do caso, e cobrar esse valor em duas ou

86 Redacção do art.º 148.º, do EOSAE: «1 — O solicitador pode requerer ao cliente a entrega de

provisões por conta dos honorários ou para pagamento de despesas, não devendo tais provisões exceder uma

estimativa razoável dos honorários e despesas prováveis. 2 — Não sendo entregue a provisão solicitada, o

solicitador pode renunciar a ocupar -se do assunto ou recusar -se a aceitá -lo. 3 — O solicitador apenas pode

ser responsabilizado pelo pagamento de taxas de justiça, despesas ou quaisquer outros encargos que tenham

sido provisionados para tal efeito pelo cliente e não é obrigado a dispor das provisões que tenha recebido para

honorários, desde que a afetação destas aos honorários tenha sido autorizada nos termos do n.º 2 do artigo

147.º.» 87 Redacção do art.º 172.º, n.º 1, do EOSAE: «Constitui fundamento para a instauração de processo

disciplinar a verificação de falta de provisão nas contas -cliente, de existência de indícios de irregularidade na

respetiva movimentação, bem como a falta de registo dos valores recebidos e pagos nas contas -cliente, nos

termos dos regulamentos aplicáveis.» 88 Fernando Sousa Magalhães, Estatuto (…), pp. 166. 89 António Arnaut, Estatuto (…), pp. 120.

50

três prestações, consoante o valor e a complexidade do caso e, no final do mesmo, proceder

ao acerto de contas, cobrando o valor residual em divida ou, eventualmente, devolvendo o

excedente ao seu cliente, se for o caso.

De ressalvar, por fim, que o pedido de provisão do solicitador, quer para efeitos de

honorários, quer de despesas, deverá ser efectuado por escrito, por motivos de segurança

para o profissional, considerando ainda que nesse pedido se deverá diferenciar a natureza e

o destino dos valores pedidos, tendo em conta igualmente o regime fiscal e contabilístico

que diferenciam os honorários e despesas, de acordo com o n.º 3, do art.º 148.º, do

EOSAE.

Ora, verificando-se que não existem outras questões de grande relevância a nível de

provisão do solicitador, já assim não será quanto à provisão do agente de execução, desde

logo, a nível processual civil. Hoje em dia, de acordo com o art.º 171.º, n.º 2, do EOSAE90,

o Agente de Execução dispõe de duas contas-clientes: a Conta Cliente Exequente, através

da qual se recebe as provisões e demais pagamentos efectuados pelo exequente; e, por

outro lado a Conta Cliente Executados que recepciona todos os valores advindos de

penhoras e produtos da venda (isto é, valores que sejam directamente retirados ao

executado por via da ferramenta que é a acção executiva). Por sua vez, a recepção desses

valores, em qualquer uma dessas contas, é efectuada mediante a utilização de uma

referência multibanco para o efeito, ao passo que, para que o agente de execução possa

movimentar esse dinheiro, neste caso já será utilizado o denominado Identificador Único

de Pagamento (IUP).

Desta forma, todas as provisões que o agente de execução deva receber, serão pagas

através da referida referência multibanco, que permitirá que os valores pagos através da

mesma fiquem associados ao respectivo processo e à conta cliente do exequente, conforme

o art.º 48.º, n.º 2, da Portaria n.º 282/201391, garantindo-se deste modo toda a transparência

na movimentação de valores em todos os processos.

90 Redacção do art.º 171.º, n.º 2, do EOSAE: «O agente de execução deve ter, pelo menos, duas

contas-cliente à sua ordem, uma com a menção da circunstância de se tratar de uma conta-cliente dos

exequentes e a outra com a menção de se tratar de uma conta-cliente dos executados, nas quais

obrigatoriamente deposita: a) Nas contas-cliente dos exequentes, todas as quantias destinadas a taxas de

justiça, despesas e honorários; b) Nas contas-cliente dos executados, todas as quantias recebidas e destinadas

ao pagamento da quantia exequenda e aos demais encargos com o processo.» 91 Redacção do art.º 48.º, n.º 2, da Portaria n.º 282/2013: «Todas as importâncias devidas ao agente de

execução a título de adiantamento de honorários e despesas são pagas com base em identificador único de

pagamento emitido através do sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução, sendo as

51

Ora, conforme já se verificou, a remuneração do agente de execução contempla uma

parte fixa, em função dos actos praticados e, uma parte variável, consoante os resultados

obtidos e o respectivo momento em que o foram. Sendo esta última uma parte que depende

dos factores de actuação do agente de execução e que, portanto, se encontram dependentes

de um acontecimento que será a recuperação ou garantia do crédito exequendo, facilmente

se apreende que será a remuneração fixa que será objecto de aprovisionamento nos termos

do art.º 47.º, da mencionada Portaria n.º 282/2013. Tendo-se já constatado que o processo

executivo para pagamento de quantia certa possui quatro fases, cada uma iniciar-se-á com

o pagamento da respectiva provisão. Já nos processos executivos para entrega de coisa

certa e para prestação de facto, possuindo os mesmos apenas uma única fase processual,

pelo que apenas possuem igualmente duas provisões a serem pagas em duas proporções

iguais, uma aquando do início do processo executivo e a outra no fim do mesmo.

Por outro lado, estipula o art.º 724.º, n.º 6, do CPC92 que, a provisão devida pela Fase

I do processo executivo, só e apenas quando seja paga, permitirá a distribuição do processo

ao agente de execução e, por isso, sem o pagamento dessa quantia monetária, o processo

não seguirá para o mesmo. Quanto às restantes provisões, no âmbito do processo executivo

para pagamento de quantia certa, quando não sejam devidamente pagas, tal facto provocará

o não prosseguimento da execução e, decorridos que sejam 30 dias após o pedido de

provisão e sem que a mesma continue paga, automaticamente se extinguirá execução nos

termos do art.º 849.º, n.º 3, de acordo com o art.º 721.º, n.os 2 e 3, do CPC93.

De todo o modo, os honorários do agente de execução e as despesas por este

suportadas encontram-se sempre garantidos, no caso de falta do seu pagamento, conforme

se verificará em diante (infra ponto 6.1.).

mesmas depositadas na conta-cliente do exequente e a operação de depósito obrigatoriamente registada no

sistema informático de suporte à atividade dos agentes de execução.» 92 Redacção do art.º 724.º, n.º 6, do CPC: «O requerimento executivo só se considera apresentado: a)

Na data do pagamento da quantia inicialmente devida ao agente de execução a título de honorários e

despesas, a realizar nos termos definidos por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça

ou da comprovação da concessão do benefício de apoio judiciário, na modalidade de atribuição de agente de

execução; b) Quando aplicável, na data do pagamento da retribuição prevista no n.º 8 do artigo 749.º, nos

casos em que este ocorra após a data referida na alínea anterior.» 93 Redacção do art.º 721.º, n.os 2 e 3, do CPC: «2 - A execução não prossegue se o exequente não

efetuar o pagamento ao agente de execução de quantias que sejam devidas a título de honorários e

despesas. 3 - A instância extingue-se logo que decorrido o prazo de 30 dias após a notificação do exequente

para pagamento das quantias em dívida, sem que este o tenha efetuado, aplicando-se o disposto no n.º 3 do

artigo 849.º.»

52

CAPÍTULO III. A LIQUIDAÇÃO E A GARANTIA DOS HONORÁRIOS

6. MODALIDADES DE LIQUIDAÇÃO E A GARANTIA DOS HONORÁRIOS

No que tange ao solicitador, após a resolução do caso a si entregue, cumpre

contabilizar o valor dos seus honorários, mediante os critérios já anteriormente fixados e,

uma vez fixados, cumpre proceder à sua liquidação.

Ora, regra geral tratar-se-á de uma obrigação em dinheiro, nos termos do art.º 774.º

do CC94, que deve ser entregue no escritório do solicitador. No entanto, tem vindo a ser

admissível o pagamento dos honorários mediante entrega de coisas móveis ou imóveis,

tendo sempre em linha de conta dois aspectos: as proibições constantes dos art.os 2192.º a

2198.º, do CC; e, evitar receber os honorários por esta via, dando preferência sempre à

entrega de quantias monetárias, dado os riscos inerentes à entrega de coisas.

Por outro lado, o agente de execução não possui outra forma de liquidação senão a da

entrega em dinheiro, pois, conforme se constata no art.º 541.º, do CPC95, os honorários do

agente de execução saem precípuos do produto da venda, sendo que tal produto é sempre

em dinheiro. De todo o modo, qualquer movimento será efectuado pela via bancária, uma

vez que uma quantia que seja entregue em dinheiro ao agente de execução, por sua vez,

este emitirá uma referência multibanco referente ao processo em causa e que lhe permitirá

depositar no Banco a referida quantia na conta à ordem do agente de execução e, deste

modo, passar-se-á a movimentar o dinheiro pela via bancária, como se o tivesse entregue

por transferência bancária. Todavia, hoje em dia, é imperativo que tais pagamentos sejam

efetuados pela referida referência multibanco ou transferência bancária por uma questão de

segurança quer para a o agente de execução, quer para quem procede ao pagamento, bem

como de modo a garantir toda transparência na movimentação dos valores entregues, não

dando azo a que o agente de execução possa ser implicado no desvio desses valores por

algum motivo.

Note-se, no entanto, que a entrega dos montantes não é proibida, sendo feita a

entrega no escritório profissional forense. Tal possibilidade, no entanto, apesar de ser

possível, deve ser rodeada de especiais cuidados, atendendo para tal à Lei n.º 25/2008, de 5

94 Redacção do art.º 774.º, do CC: «Se a obrigação tiver por objecto certa quantia em dinheiro, deve a

prestação ser efectuada no lugar do domicílio que o credor tiver ao tempo do cumprimento.» 95 Redacção do art.º 541.º, do CPC: «As custas da execução, incluindo os honorários e despesas

devidos ao agente de execução, apensos e respetiva ação declarativa saem precípuas do produto dos bens

penhorados.»

53

de Junho, que obriga ao cumprimento de deveres sociais de cuidado, nomeadamente, a

identificação da proveniência do dinheiro, quando a quantia seja avultada. De toda a forma,

diferentemente do solicitador a quem é aplicada a presente legislação taxativamente96, é

discutível se o agente de execução está abrangido por esta obrigação, atendendo a que ao

mesmo apenas interessa a cobrança do crédito exequendo e, uma vez que todas as quantias

são movimentadas hoje em dia através de referência multibanco, qualquer valor que seja

recepcionado na conta cliente, será difícil perceber a proveniência desse dinheiro. Mais que

o exposto, interessa igualmente referir que as quantias movimentadas nos processos

executivos, por si só, são maioritariamente avultadas pelo que o agente de execução estaria

numa posição difícil se tivesse que provar em todas as situações proveniência do dinheiro a

si entregue.

Contudo, várias são as situações em que quer o Solicitador, quer o Agente de

Execução não se veem ressarcidos dos seus honorários ou remunerações, respectivamente.

Por tal, o legislador previu que tais honorários ou remunerações a receber fossem

garantidos de algum modo.

6.1. Do Solicitador: o Direito de Retenção e a Acção de Honorários

Com a conclusão do caso, o solicitador poderá obter do seu cliente certa oposição

aquando do pagamento dos seus honorários e despesas, quer pelo insucesso do caso, quer

pela falta de carácter do cliente, quer por outros quaisquer motivos pelos quais o cliente

entenda que não deve ou não queira proceder ao pagamento de tal remuneração. Desta

forma, à semelhança do antigo art.º 111.º, n.º 4, do ECS97, o legislador consagrou no art.º

145.º, n.º 3, do EOSAE98, em consonância com os art.os 754.º a 761.º, do CC, o direito

96 Vide art.º 4.º, al.ª g), da Lei n.º 25/2008: «Estão sujeitas às disposições da presente lei as seguintes

entidades, que exerçam actividade em território nacional: (…) Notários, conservadores de registos,

advogados, solicitadores e outros profissionais independentes, constituídos em sociedade ou em prática

individual, que intervenham ou assistam, por conta de um cliente ou noutras circunstâncias, em operações: i)

De compra e venda de bens imóveis, estabelecimentos comerciais e participações sociais; ii) De gestão de

fundos, valores mobiliários ou outros activos pertencentes a clientes; iii) De abertura e gestão de contas

bancárias, de poupança ou de valores mobiliários; iv) De criação, exploração, ou gestão de empresas ou

estruturas de natureza análoga, bem como de centros de interesses colectivos sem personalidade jurídica; v)

Financeiras ou imobiliárias, em representação do cliente; vi) De alienação e aquisição de direitos sobre

praticantes de actividades desportivas profissionais; (…)». 97 Redacção do art.º 111.º, n.º 4, do ECS: «O solicitador goza do direito de retenção de valores e

objectos em seu poder até integral pagamento dos honorários e despesas a que tenha direito.» 98 Redacção do art.º 145.º, n.º 3, do EOSAE: «O solicitador, apresentada a nota de honorários e

despesas, goza do direito de retenção sobre os valores, objetos ou documentos referidos no número anterior,

para garantia do pagamento dos honorários e o reembolso das despesas que lhe sejam devidos pelo cliente, a

54

inerente ao solicitador em reter todos os valores, objectos ou documentos que se encontrem

na sua posse mas que são da pertença do seu cliente.

Portanto, em face do exposto, o direito de retenção será assim o direito que cai na

esfera do credor quando o «devedor disponha de um crédito contra o seu credor (…) se,

estando obrigado a entregar certa coisa, o seu crédito resultar de despesas feitas por causa

dela ou de danos por ela causados», de acordo com o art.º 754.º, do CC. Todavia, esse

direito apenas se constituirá quando o solicitador apresente a nota de honorários ao seu

cliente, de acordo com o citado art.º 145.º, n.º 3, do EOSAE, uma vez que será através

dessa nota que o solicitador procederá à fixação da remuneração a que tem direito pelos

seus serviços prestados e, assim, passará a ser do conhecimento do cliente o valor que

estará em causa e a que respeitam.

No entanto, estabeleceu o legislador que assim não será quando se verifica que

estejam em causa coisas necessárias que constituam prova do direito do cliente99, que o

exercício do direito de retenção do solicitador causará prejuízos graves ao seu cliente, de

acordo com o art.º 145.º, n.º 3, in fine, do EOSAE, e, que, por fim, seja prestada caução

arbitrada pelo conselho profissional, nos termos do art.º 145.º, n.º 4, do EOSAE100 e dos

art.os 755.º, n.º 1, al.ª c)101 e 756.º, al.ª d)102, ambos do CC. Denote-se que, havendo

prestação de caução, será o Conselho Profissional a intervir enquanto entidade arbitral, de

acordo com o art.º 45.º, al.ª h), do EOSAE103.

Por outro lado, com o acionamento do direito de retenção, o solicitador adquire

certos deveres, nomeadamente, o de conservar a coisa retida como se fosse o seu

proprietário, o de não usar a coisa se autorização prévia do autor do penhor, a não ser que

menos que os valores, objetos ou documentos em causa sejam necessários para prova do direito do cliente ou

que a sua retenção cause a este prejuízos irreparáveis.» 99 Note-se que, não desvalorizando o direito de crédito do solicitador e considerando que o mesmo se

encontra reconhecido, o cliente que necessite de certo documento para provar determinado direito, não verá

recusado o acesso a esse mesmo documento, uma vez que prevalece o direito do cliente. 100 Redacção do art.º 145.º, n.º 4, do EOSAE: «Deve, porém, o solicitador restituir tais valores e

objetos, independentemente do pagamento a que tenha direito, se o cliente tiver prestado caução arbitrada

pelo conselho profissional.» 101 Redacção do art.º 755.º, n.º 1, al.ª c), do CC: «1 - Gozam ainda do direito de retenção: (…) c) O

mandatário, sobre as coisas que lhe tiverem sido entregues para execução do mandato, pelo crédito resultante

da sua actividade; (…)». 102 Redacção do art.º 756.º, al.ª d), do CC: «Não há direito de retenção: (…) d) Quando a outra parte

preste caução suficiente.» 103 Redacção do art.º 45.º, al.ª h), do EOSAE: «Compete a cada conselho profissional: (…) h)

Constituir tribunais arbitrais e nomear os seus presidentes para resolução de conflitos, nomeadamente

referentes a delegações para a prática de atos, honorários ou cálculo do valor das participações sociais, entre

colegas que exerçam a mesma atividade profissional ou entre sócios da mesma sociedade profissional; (…)».

55

tal acção sem consentimento seja necessária para a referida conservação e, ainda, o de

entregar a coisa assim que se verifique a extinção da obrigação, de acordo com o art.º

671.º, do CC104. Com isto, o mesmo se entenderá que o solicitador não poderá cobrar uma

divida em dinheiro ao seu cliente, elaborar a nota de honorários e remeter ao seu cliente e,

sem o seu consentimento e apenas entregar o valor resultante do valor recuperado deduzido

dos honorários do solicitador, à semelhança do que se sucede com o agente de execução

quando existe produto de penhora ou de venda. É também esse o entendimento de

FERNANDO SOUSA MAGALHÃES, afirmando que «Não pode também o advogado

[diga-se solicitador], que tenha cobrado um crédito em dinheiro do seu constituinte,

remeter-lhe a nota de honorários e, sem o seu acordo, deduzir estes no montante do crédito

cobrado para lhe remeter apenas o saldo apurado»105.

Portanto, importante é notar que o facto de, possuindo o solicitador o direito de

retenção, não significará que poderá dispor das coisas retidas de forma imediata. Será

sustentável que, uma vez exercido o direito de retenção pelo solicitador, deverá o mesmo

intentar de imediato a respectiva acção de honorários, nos termos do art.º 73.º, do CPC106,

ou requerer a intervenção do Conselho Profissional, para efeitos do art.º 145.º, n.os 4 e 5, do

EOSAE107, quando o solicitador se encontre em profundo desacordo com o seu cliente

relativamente à sua nota de, quer a mesma tenha sido ou não aprovada pelo cliente

incumpridor108.

104 Redacção do art.º 671.º, do CC: «O credor pignoratício é obrigado: a) A guardar e administrar

como um proprietário diligente a coisa empenhada, respondendo pela sua existência e conservação; b) A não

usar dela sem consentimento do autor do penhor, excepto se o uso for indispensável à conservação da

coisa; c) A restituir a coisa, extinta a obrigação a que serve de garantia.» 105 Fernando Sousa Magalhães, Estatuto (…), pp. 163. 106 Redacção do art.º 73.º, do CPC: «1 - Para a ação de honorários de mandatários judiciais ou técnicos

e para a cobrança das quantias adiantadas ao cliente, é competente o tribunal da causa na qual foi prestado o

serviço, devendo aquela correr por apenso a esta. 2 - Se a causa tiver sido, porém, instaurada na Relação ou

no Supremo Tribunal de Justiça, a ação de honorários correrá no tribunal da comarca do domicílio do

devedor.» 107 Redacção do art.º 145.º, n.º 5, do EOSAE: «Pode o conselho profissional, antes do pagamento e a

requerimento do solicitador ou do cliente, mandar entregar a este quaisquer objetos e valores quando aqueles

que permaneçam em poder do solicitador sejam manifestamente suficientes para garantir o pagamento do

crédito.» 108 Indo de encontro ao referido em Orlando Guedes da Costa, Direito Profissional (…), Coimbra,

2008, pp. 262: «O Advogado que tenha em seu poder valores sobre os quais pretenda exercer o direito de

retenção e que esteja em desacordo com o seu cliente por causa dos honorários deve instaurar imediatamente

a acção de honorários, não nos parecendo que seja defensável a jurisprudência segundo a qual o Advogado só

goza do direito de retenção quando a conta tenha sido aprovado pelo constituinte.»

56

Note-se, por último, que a referida acção de honorários poderá ser intentada mesmo

que não esteja em causa o direito de retenção a favor do solicitador, mas esteja em causa a

falta de pagamento da sua nota de honorários e despesas.

6.2. Do Agente de Execução

6.2.1. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários

Nos termos do art.º 541.º, do CPC, as «custas da execução, incluindo os honorários e

despesas devidos ao agente de execução, apensos e respetiva ação declarativa saem

precípuas do produto dos bens penhorados». Todavia, poderá suceder-se o facto de não

existir produto da venda, não significando que o agente de execução ficará desprotegido do

recebimento da sua remuneração. Assim, o legislador estipulou no art.º 721.º, n.º 1, do

CPC109 que todas as quantias devidas ao agente de execução sempre que não exista produto

da venda, isto é, os seus honorários e despesas, são da responsabilidade do exequente. É o

que igualmente dispõem os art.os 5.º, da Portaria n.º 708/2003, de 04 de Agosto 110, 13.º da

Portaria 331-B/2009, de 30 de Março111 e, 45.º da Portaria n.º 282/2013, de 29 de

Agosto112. De notar que relativamente às duas primeiras Portaria, as quais mantiveram a

109 Redacção do art.º 721.º, n.º 1, do CPC: «Os honorários devidos ao agente de execução e o

reembolso das despesas por ele efetuadas, bem como os débitos a terceiros a que a venda executiva dê

origem, são suportados pelo exequente, podendo este reclamar o seu reembolso ao executado nos casos em

que não seja possível aplicar o disposto no artigo 541.º.» 110 Redacção do art.º 5.º, da Portaria n.º 708/2003, de 04 de Agosto: «1 - Saem precípuas do produto

dos bens penhorados as custas da execução, nos termos do artigo 455.º do Código de Processo Civil.

2 - A remuneração devida ao solicitador de execução e o reembolso das despesas por ele efectuadas, bem

como os débitos a terceiros a que a venda executiva dê origem, são suportados pelo autor ou exequente, mas

integram as custas que ele tenha direito a receber do réu ou executado.» 111 Redacção do art.º 13.º, da Portarian.º 331-B/2009, de 30 de Março: «1. As custas da execução são

pagas em primeiro lugar pelo produto dos bens penhorados, nos termos do artigo 455.º do Código de

Processo Civil. 2. A remuneração devida ao agente de execução e o reembolso das despesas por ele

efectuadas, bem como os débitos a terceiros a que a venda executiva dê origem, são suportados pelo autor ou

exequente, mas integram as custas que ele tenha direito a receber do réu ou executado.» 112 Redacção do art.º 45.º da Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto: «1. Nos casos em que o

pagamento das quantias devidas a título de honorários e despesas do agente de execução não possa ser

satisfeito através do produto dos bens penhorados ou pelos valores depositados à ordem do agente de

execução decorrentes do pagamento voluntário, integral ou em prestações, realizados através do agente de

execução, os honorários devidos ao agente de execução e o reembolso das despesas por ele efetuadas, bem

como os débitos a terceiros a que a venda executiva dê origem, são suportados pelo autor ou exequente,

podendo este reclamar o seu reembolso ao réu ou executado. 2. O autor ou exequente que, por sua iniciativa,

requeira ao agente de execução a prática de atos não compreendidos na remuneração fixa prevista na tabela

do anexo II da presente portaria é exclusivamente responsável pelo pagamento dos honorários e despesas

incorridas com a prática dos mesmos, não podendo reclamar o seu pagamento ao executado exceto quando os

atos praticados atinjam efetivamente o seu fim. 3. No caso previsto na parte final do número anterior, o

executado apenas é responsável pelo pagamento dos atos que efetivamente atingiram o seu fim. 4. O agente

de execução que, por sua iniciativa, pratique atos desnecessários, inúteis ou dilatórios, é responsável pelos

57

sua estrutura textual quase intacta, a Portaria n.º 282/2013, para além de abarcar o conceito

já instituído em 2003 e 2009 quanto à responsabilidade do exequente no pagamento dos

honorários e despesas do agente de execução, estipulou ainda que quaisquer actos

requeridos pela parte (exequente ou credor reclamante) e que atinjam o seu fim, poderão

ser reclamados ao executado. Todavia, estipulou-se ainda que qualquer acto praticado pelo

agente de execução e por sua iniciativa própria, ou requeridos por qualquer parte, serão da

sua responsabilidade sempre que tais actos se revelem inúteis, desnecessários ou dilatórios.

Posto isto, verifica-se que o legislador procurou não deixar qualquer lacuna que

pudesse suscitar alguma dúvida quanto à responsabilidade pelo pagamento dos honorários

do agente de execução, diga-se, sempre do exequente ou credor reclamante graduado

acima do crédito exequendo. Todavia, a necessidade de realçar cada vez mais esse facto

deveu-se somente à situação em que o exequente, após o recebimento directo da quantia

em dívida pelo executado, imputava a este a responsabilidade pelo pagamento da

remuneração do agente de execução. Ora, por mais situações113 em que o executado até

pudesse proceder ao pagamento dessa remuneração, haveriam outras situações em que a

remuneração do agente de execução continuaria por liquidar, atenta a ausência de

pagamento do executado. Assim, evitando o prejuízo que pudesse advir para o agente de

execução em consequência desta obrigação criada pelo exequente ou credor114 no

pagamento da remuneração do agente de execução, tais estipulações legais já mencionadas.

No entanto, e é ponto assente na minha opinião, conforme advém das demais estipulações

legais já mencionadas, em qualquer caso será sempre responsável pelo pagamento dos

honorários e despesas do agente de execução, o exequente ou credor reclamante,

independentemente se a obrigação foi liquidada junto dos mesmos pelo executado e que

mesmos, não podendo reclamar a qualquer das partes o pagamento de honorários ou despesas incorridas em

virtude da sua prática.» 113 De notar igualmente a situação em que, quanto aos processos que estejam suspensos por acordo,

nos termos do art.º 806, do CPC, e devam ser declarados extintos em que, caso os honorários do agente de

execução ainda não se encontrem pagos, ou até mesmo assegurados, o mesmo deverá notificar o exequente

para proceder ao seu pagamento, de acordo com o art.º 51.º, n.º 1, da Portaria n.º 282/2013. 114 Será sempre imputada ao credor reclamante a responsabilidade pelo pagamento dos honorários e

despesas do agente de execução sempre que o mesmo passe a figurar como exequente em determinada

execução, após o requerimento de prosseguimento da mesma – cfr. art.º 850.º, n.os 2 e 3, do CPC: «2.

Também o credor reclamante, cujo crédito esteja vencido e haja reclamado para ser pago pelo produto de

bens penhorados que não chegaram entretanto a ser vendidos nem adjudicados, pode requerer, no prazo de 10

dias contados da notificação da extinção da execução, a renovação desta para efetiva verificação, graduação e

pagamento do seu crédito. 3. O requerimento faz prosseguir a execução, mas somente quanto aos bens sobre

que incida a garantia real invocada pelo requerente, que assume a posição de exequente.»

58

entre ambos se tenha acordado que este último deverá proceder ao pagamento da

remuneração do agente de execução.

6.2.1.1. O caso especial de dispensa de depósito do preço na adjudicação ou

venda

Quando o exequente adquire bens através da execução, o mesmo fica dispensado de

depositar o preço até ao limite da parte que não seja necessária para pagar a credores

graduados em primeiro lugar e/ou até ao limite do valor que tem direito a receber, sendo o

excedente da pertença do executado. O mesmo se aplica aos credores que possuam garantia

sobre os bens que pretendam adquirir. É o que estipula o art.º 815.º, n.º 1 do CPC que

determina as demais regras quanto à adjudicação de bens a exequentes e credores.

Ora, havendo dispensa do depósito do preço, significa assim que nenhum valor será

pago e, portanto, não existirá um produto da venda físico do qual o agente de execução

poderá extrair a quantia relativa à sua remuneração. Assim, recorrendo ao já mencionado

art.º 721.º, n.º 1 do CPC, a quantia devida ao agente de execução a título de honorários e

despesas, será suportada pelo exequente, podendo este reclamar o seu reembolso ao

executado, quando não seja possível aplicar o art.º 541.º, do CPC, isto é, quando não haja

produto da venda. Normalmente, é assim que decorre o respectivo procedimento para

liquidação e pagamento dos honorários e despesas do agente de execução. Todavia,

estaríamos perante uma interpretação desta norma bastante literal, pois, no caso em que o é

credor reclamante a adquirisse os referidos bens, seria o exequente a suportar os honorários

e despesas do agente de execução, de acordo com o art.º 721.º, n.º 1, do CPC, uma vez que

não haveria um produto da venda físico que garantisse o pagamento dessa quantia.

No entanto, assim não se veio a considerar, entendendo-se que, havendo dispensa de

depósito do preço para o exequente ou credor, aquele que requerer a adjudicação dos bens,

será o responsável pelo pagamento da remuneração do agente de execução. Ou seja, «no

caso em que o adquirente é dispensado do pagamento do preço (exequente ou credor

reclamante), o seu crédito só se considera satisfeito na medida em que o seu património se

enriqueceu, ou seja, o valor da venda deduzida da quantia que teve de despender a título de

custas prováveis a garantir a precipuidade das custas»115.

115 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 17.06.2010, sobre o Processo n.º 2788/03.8TBBR-

A.L16.

59

Deste modo, dúvidas não restam que as custas da execução, nomeadamente os

honorários e despesas do agente de execução, saem precípuos do produto dos bens

penhorados e adjudicados ao exequente ou credor reclamante, pelo que, «o requerente da

adjudicação deverá depositar a importância correspondente às custas da execução, de

acordo com o prévio cálculo»116. Significa que será plausível e aceitável que, quer seja o

exequente ou o credor a adquirir determinado bem, deverá aquele que adquiriu garantir o

pagamento das custas de execução, pois, tal quantia não conta para efeitos de graduação de

créditos e respectivos valores117. Por outro lado, da mesma forma se entenderá que, não se

contabilizando as custas da execução para efeitos de diminuição da quantia em dívida, quer

seja do exequente, quer seja do credor, saindo os honorários do produto da venda e

havendo dispensa do depósito do produto da venda, significa que parte do preço é

correspondente ao valor que se deveria extrair para pagamento das referidas custas e,

portanto, tal valor deverá ser depositado por quem adquiriu o bem118.

6.2.1.2. Breve esclarecimento quanto ao pagamento voluntário havendo apoio

judiciário para o executado

Como é sabido, o Estado deve assegurar que todos os cidadãos devam ter acesso ao

direito e aos tribunais, de modo a que estes possam fazer valer os seus direitos,

independentemente das suas condições socioeconómicas, da sua cultura e do conhecimento

dos demais trâmites para que tais direitos possam ser reconhecidos, de acordo com os art.os

1.º, n.º 1119 e 2.º, n.º 1120, ambos da Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais121 (Lei n.º

116 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 06.05.2010, sobre o Processo n.º 30011-D/1994.L1-

2. 117 Vide Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 19.06.2007, sobre o Processo

224/04.1TBCNT-E.C1, em que entende que «se as custas da execução saem precípuas do procuto dos bens

penhorados, isto é, se as custas da acção executiva nem sequer entram para a graduação, por o produto dos

bens penhorados, antes de qualquer outro destino (á frente mesmo de qualquer credor privilegiado), ter de ser

aplicado no pagamento delas e se, de acordo com a mesma norma primeiramente citada, o exequente

adquirente não está dispensado de depositar a parte do preço necessária ao pagamento dos credores colocados

antes dele, por maioria de razão o não poderá estar relativamente à parte do preço necessária a garantir o

pagamento das custas da própria execução.» 118 Indo de encontro ao entendimento do Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 19.06.2007,

sobre o Processo 224/04.1TBCNT-E.C1: «(…) não se lhes [aos exequentes dispensados do depósito do

preço] está a exigir o pagamento de quaisquer custas de sua responsabilidade ou que se substituam ao

pagamento das custas da responsabilidade de outrem, mas apenas que depositem parte do preço, de que são

devedores pela aquisição dos bens do executado, suficiente para garantir o pagamento de créditos que devem

ser pagos antes do seu». 119 Redacção do art.º 1.º, n.º 1, da LADT: «O sistema de acesso ao direito e aos tribunais destina-se a

assegurar que a ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua condição social ou cultural, ou por

insuficiência de meios económicos, o conhecimento, o exercício ou a defesa dos seus direitos.»

60

34/2004, de 29 de Julho). Significa, portanto, que o Estado será responsável pelo

pagamento aos demais profissionais que participem na tramitação de determinado

processo, nomeadamente, do agente de execução no âmbito do processo executivo, de

acordo com o art.º 3.º, n.º 2, da LADT122.

Deste modo, a determinado cidadão será assegurado o respectivo apoio judiciário,

consoante os seus rendimentos e demais condições socioeconómicas, sendo-lhe atribuída

uma ou várias modalidades previstas no art.º 16.º, da LADT123, incluindo na sua alínea a),

a o pagamento da remuneração do agente de execução.

Ora, qualquer executado pode a todo o tempo proceder ao pagamento voluntário da

dívida exequenda, de acordo com os art.os 846.º e 847.º, ambos do CPC, pelo que, caso

beneficie de apoio judiciário na modalidade de dispensa total, apenas pagará a quantia em

dívida e ficando a cargo do Instituto de Gestão Financeira e das Infra-Estruturas da

Justiça124, IP, o pagamento dos honorários e despesas do agente de execução, conforme

estipula o art.º 26, n.º 3, al.ª d)125 e, n.º 6126, do Regulamento das Custas Processuais127.

120 Redacção do art.º 2.º, n.º 1, da LADT: «O acesso ao direito e aos tribunais constitui uma

responsabilidade do Estado, a promover, designadamente, através de dispositivos de cooperação com as

instituições representativas das profissões forenses.» 121 Doravante designada de LADT. 122 Redacção do art.º 3.º, n.º 2, da LADT: «O Estado garante uma adequada compensação aos

profissionais forenses que participem no sistema de acesso ao direito e aos tribunais.» 123 Redacção do art.º 16.º, da LADT: «1 - O apoio judiciário compreende as seguintes modalidades: a)

Dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o processo; b) Nomeação e pagamento da compensação

de patrono; c) Pagamento da compensação de defensor oficioso; d) Pagamento faseado de taxa de justiça e

demais encargos com o processo; e) Nomeação e pagamento faseado da compensação de patrono; f)

Pagamento faseado da compensação de defensor oficioso; g) Atribuição de agente de execução. 2 - Sem

prejuízo de, em termos a definir por lei, a periodicidade do pagamento poder ser alterada em função do valor

das prestações, nas modalidades referidas nas alíneas d) a f) do número anterior, o valor da prestação mensal

dos beneficiários de apoio judiciário é o seguinte: a) 1/72 do valor anual do rendimento relevante para efeitos

de protecção jurídica, se este for igual ou inferior a uma vez e meia o valor do indexante de apoios sociais; b)

1/36 do valor anual do rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica, se este for superior a uma vez

e meia o valor do indexante de apoios sociais. 3 - Nas modalidades referidas nas alíneas d) a f) do n.º 1 não

são exigíveis as prestações que se vençam após o decurso de quatro anos desde o trânsito em julgado da

decisão final da causa. 4 - Havendo pluralidade de causas relativas ao mesmo requerente ou a elementos do

seu agregado familiar, o prazo mencionado no número anterior conta-se desde o trânsito em julgado da

última decisão final. 5 - O pagamento das prestações relativas às modalidades mencionadas nas alíneas d) a f)

do n.º 1 é efectuado em termos a definir por lei. 6 - Se o requerente de apoio judiciário for uma pessoa

colectiva, o apoio judiciário não compreende a modalidade referida nas alíneas d) a f) do n.º 1. 7 - No caso de

pedido de apoio judiciário por residente noutro Estado membro da União Europeia para acção em que

tribunais portugueses sejam competentes, o apoio judiciário abrange os encargos específicos decorrentes do

carácter transfronteiriço do litígio em termos a definir por lei.» 124 Doravante designado de IGFEJ. 125 Redacção do art.º 26.º, n.º 3, al.ª d), do RCP: «A parte vencida é condenada, nos termos previstos

no Código de Processo Civil, ao pagamento dos seguintes valores, a título de custas de parte: (…) d) Os

valores pagos a título de honorários de agente de execução.» 126 Redacção do art.º 26.º, n.º 6, do RCP: «Se a parte vencida for o Ministério Público ou gozar do

benefício de apoio judiciário na modalidade de dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o processo,

61

Assim, a remuneração do agente de execução será suportada pelo exequente, de

acordo com o já mencionado art.º 721.º, n.º 1, do CPC, sendo que, possuindo o executado

apoio judiciário na modalidade dispensa total, o reembolso da mesma não será requerida ao

executado, mas sim ao IGFEJ que terá a seu cargo a obrigação de reembolsar o exequente

em nome do executado.

6.2.2. A elaboração da nota discriminativa e justificativa do Agente de Execução, o

apuramento da responsabilidade do executado e a respectiva liquidação

Em qualquer momento do processo, qualquer parte poderá requerer a elaboração da

Nota Discriminativa e Justificativa, constando dela não só a nota do agente de execução, da

qual consta todos os actos praticados e a praticar pelo mesmo, mas também o apuramento

e/ou liquidação da responsabilidade do executado, designadamente todos os movimentos

que se traduzam para a determinação do valor em dívida pelo executado.

Importante será de salientar que as contas são elaboradas pelas secretarias dos

Tribunais, ao passo que o agente de execução elabora nota discriminativa e justificiativa.

Ora, regra geral, a nota do agente de execução é habitualmente requerida a pedido do

exequente, quando as partes se encontram em vias de celebrar acordo e pretende aferir qual

o valor que terá de ser assegurado pelo mesmo, uma vez que, como já foi referido, a

responsabilidade pelo pagamento da remuneração do agente de execução é do exequente.

A nota do agente de execução inclui assim os actos praticados e os a praticar para

conclusão do processo128, as despesas suportadas e a suportar129 pelo agente de execução e,

por fim, a remuneração adicional, caso haja direito a receber a mesma.

Por outro lado, o apuramento e/ou liquidação da responsabilidade, nos termos do art.º

847.º, do CPC130, englobará todos os actos praticados no processo, a contagem de juros, as

o reembolso das taxas de justiça pagas pelo vencedor é suportado pelo Instituto de Gestão Financeira e das

Infra-Estruturas da Justiça, I. P..» 127 Doravante designado de RCP. 128 Inclui por exemplo o cancelamento de penhoras, as notificações da nota discriminativa e

justificativa e de extinção, entre outros eventuais actos a praticar, consoante os casos. 129 Os emolumentos par cancelamentos dos registos de penhora deverão constar dessa mesma nota,

uma vez que é obrigação do agente de execução praticar esses actos para a conclusão do processo, de acordo

com o que se extrai do art.º 807.º, n.º4, do CPC. No entanto, para quem possui contabilidade organizada,

fiscalmente não é possível manter por facturar o valor dos cancelamentos até ao final do acordo, pelo que o

agente de execução poderá acautelar essa situação na própria extinção, ficando o Exequente com a

obrigatoriedade de cobrar o referido cancelamento. 130 Redacção do art.º 847.º, do CPC: «1 - Se o requerimento for feito antes da venda ou adjudicação de

bens, liquidam-se unicamente as custas e o que faltar do crédito do exequente. 2 - Se já tiverem sido vendidos

ou adjudicados bens, a liquidação tem de abranger também os créditos reclamados para serem pagos pelo

62

custas, a eventual liquidação de créditos reclamados e demais encargos, bem como

abarcará a nota do agente de execução, constituindo-se assim a Nota Discriminativa e

Justificativa na sua totalidade. Deste modo, a liquidação da responsabilidade do executado

poderá ocorrer em diferentes momentos, nomeadamente: a requerimento do exequente,

quando existam valores recuperados; quando haja possibilidade de as partes chegarem a

um acordo, nos termos do art.º 806.º ou 810.º, ambos do CPC; mediante requerimento do

executado ou de terceiro que pretenda proceder ao pagamento da dívida e subrogar-se na

dívida, conforme o art.º 846.º, do CPC131; quando seja liquidada o valor em dívida quer por

pagamento voluntário quer pelo produto da penhora; no seguimento do requerimento de

adjudicação; e, sempre que ocorra algum fundamento para extinção do processo, nos

termos do art.º 849.º, do CPC.

Note-se que, na nota discriminativa e justificativa dever-se-á ter em conta os juros

compulsórios sempre que os mesmos sejam devidos. Por sua vez, estes são devido

automaticamente sempre que a execução tenha por base uma sentença como título

executivo, nos termos do art.º 829.º-A, do CC e, quando esse título seja uma injunção, de

acordo com o Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de Setembro.

Em face do exposto, de notar que haverá diferentes momentos em que será útil

requerer a elaboração da Nota Discriminativa e Justificativa. Assim, de modo a que o

produto desses bens, conforme a graduação e até onde o produto obtido chegar, salvo se o requerente exibir

título extintivo de algum deles, que então não é compreendido; se ainda não estiver feita a graduação dos

créditos reclamados que tenham de ser liquidados, a execução prossegue somente para verificação e

graduação desses créditos e só depois se faz a liquidação. 3 - A liquidação compreende sempre as custas dos

levantamentos a fazer pelos titulares dos créditos liquidados e é notificada ao exequente, aos credores

interessados, ao executado e ao requerente, se for pessoa diversa. 4 - O requerente deposita o saldo que for

liquidado, sob pena de ser condenado nas custas a que deu causa e de a execução prosseguir, não podendo

tornar a suspender-se sem prévio depósito da quantia já liquidada, depois de deduzido o produto das vendas

ou adjudicações feitas posteriormente e depois de deduzidos os créditos cuja extinção se prove por

documento. 5 - Feito o depósito referido no número anterior, ordena-se nova liquidação do acrescido,

observando-se o preceituado nas disposições anteriores. 6 - Se o pagamento for efetuado por terceiro, este só

fica sub-rogado nos direitos do exequente, mostrando que os adquiriu nos termos da lei substantiva.» 131 Redacção do art.º 846.º, do CPC: «1 - Em qualquer estado do processo pode o executado ou

qualquer outra pessoa fazer cessar a execução, pagando as custas e a dívida. 2 - O pagamento é feito

mediante entrega direta ou depósito em instituição de crédito à ordem do agente de execução. 3 - Nos casos

em que as diligências de execução são realizadas por oficial de justiça, quem pretenda usar da faculdade

prevista no n.º 1 solicita na secretaria, ainda que verbalmente, guias para depósito da parte líquida ou já

liquidada do crédito do exequente que não esteja solvida pelo produto da venda ou adjudicação de bens. 4 -

Efetuado o depósito referido no número anterior, susta-se a execução, a menos que ele seja manifestamente

insuficiente, e tem lugar a liquidação de toda a responsabilidade do executado. 5 - Quando o requerente junte

documento comprovativo de quitação, perdão ou renúncia por parte do exequente ou qualquer outro título

extintivo, suspende-se logo a execução e liquida-se a responsabilidade do executado.»

63

exequente possa reclamar os valores devidos nos termos do art.º 451.º, do CPC132 ou

conceder ao executado a oportunidade de proceder ao pagamento do valor em falta, será

coerente a elaboração da Nota Discriminativa e Justificativa ocorra antes da extinção da

execução quando: o executado ou terceiro em nome dele tenha procedido ao pagamento

voluntário, nos termos do art.º 846.º, n.º 4, do CPC; seja comprovado a quitação, o perdão

ou a renúncia por parte do exequente ou qualquer outro título executivo, de acordo com o

art.º 846.º, n.º 5, do CPC; quando se verifique a insuficiência ou inexistência de bens

penhoráveis; e, por fim, quando se dê a sustação integral da execução, nos termos do art.º

794.º, n.º 4, do CPC. O mesmo fará sentido que assim seja quando: não sejam pagas as

demais quantias ao agente de execução a título de provisão, extinguindo-se

automaticamente a execução, de acordo com o art.º 721.º, n.º 2, do CPC133; haja lugar a

desistência da execução; o processo fique deserto; e, por fim, ocorra a inutilidade

superveniente da lide. Mesmo que o processo se encontre numa destas situações, haverá

sempre que elaborar a nota, aguardando-se o prazo de reclamação a que as partes têm

direito (infra ponto 6.2.3.1.) e só após o decurso do mesmo é que fará sentido a extinção do

mesmo. Já o pagamento da nota discriminativa e justificativa não prejudica a extinção da

execução até porque esta, ao não ser liquidada, passa a constituir título executivo,

conforme se analisará de seguida (infra ponto 6.2.3.2.).

6.2.3. As garantias processuais

No que concerne à liquidação e pagamento dos honorários e despesas do agente de

execução, conforme já foi mencionado, o mesmo vê a sua remuneração sair precípua do

produto da venda do bem ou dos bens penhorados em determinado processo, de acordo

com o art.º 541.º, do CPC e, assim, quando o agente de execução transferir o referido

produto da venda, já terá deduzido o valor dos seus honorários e despesas e,

consequentemente terá garantido a sua remuneração. Ora, trata-se de uma garantia

preventiva do legislador, uma vez que o agente de execução ao retirar o valor da sua

132 Redacção do art.º 451.º, do CPC: «1 - Quando a causa termine por desistência ou confissão, as

custas são pagas pela parte que desistir ou confessar; e, se a desistência ou confissão for parcial, a

responsabilidade pelas custas é proporcional à parte de que se desistiu ou que se confessou. 2 - No caso de

transacção, as custas são pagas a meio, salvo acordo em contrário, mas quando a transacção se faça entre uma

parte isenta ou dispensada do pagamento de custas e outra não isenta nem dispensada, o juiz, ouvido o

Ministério Público, determinará a proporção em que as custas devem ser pagas.» 133 Redacção do art.º 721.º, n.º 2, do CPC: «A execução não prossegue se o exequente não efetuar o

pagamento ao agente de execução de quantias que sejam devidas a título de honorários e despesas.»

64

remuneração do produto da venda, não correrá o risco de o cliente entrar em

incumprimento consigo.

Todavia, caso não haja produto da venda e o cliente não proceda a pagamento dos

honorários e despesas do agente de execução, este dispõe de dois meios de garantia da sua

remuneração: primeiramente, nos termos do art.º 721.º, n.º 5, do CPC134, a nota de

honorários e despesas do agente de execução que não tenha sido reclamada e desde que

remetida para o seu cliente, comprovando que tal notificação foi remetida para o respectivo

interveniente processual, estará na posse de um título executivo e, por isso, passível de

execução imediata (conforme se verá de seguida); caso assim não o seja, isto é, quando a

nota de honorários seja contestada, ou não, poderá o agente de execução intentar a

correspondente acção de honorários, disposta no art.º 73.º, do CPC, à semelhança do que se

sucede com o solicitador, no mesmo caso.

6.2.3.1. A reclamação da Nota de Discriminativa e Justificativa

No que concerne ao agente de execução e às eventuais divergências que surjam com

a apresentação da sua nota de honorários e despesas, regulamenta em tal matéria, por um

lado, a Lei n.º 77/2013, de 21 de Novembro (Lei da Comissão para Acompanhamento dos

Auxiliares de Justiça – LCAAJ) e o Regulamento n.º 527/2014 (Regulamento de

Organização Interna da Comissão para o Acompanhamento dos Auxiliares da Justiça -

ROICAAJ), uma vez que este profissional forense é considerado um auxiliar da justiça,

nos termos do art.º 1.º, n.º 2, da LCAAJ135. Consequentemente, o agente de execução

estará assim sujeito ao poder disciplinar da OSAE, nos termos dos art.os 180.º e seguintes,

do EOSAE136 e, em simultâneo, ao poder de acompanhamento, fiscalização e disciplina da

Comissão para Acompanhamento dos Auxiliares de Justiça (CAAJ). Desta forma,

competirá à CAAJ, através do seu departamento de supervisão, «elaborar pareceres sobre

134 Redacção do art.º 721.º, n.º 5, do CPC: «A nota discriminativa de honorários e despesas do agente

de execução da qual não se tenha reclamado, acompanhada da sua notificação pelo agente de execução ao

interveniente processual perante o qual se pretende reclamar o pagamento, constitui título executivo.» 135

Redacção do art.º 1.º, n.º 2, da LCAAJ: «Estão sujeitos ao acompanhamento, fiscalização e

disciplina da CAAJ os auxiliares da justiça cujos estatutos prevejam a sua intervenção, nomeadamente os

agentes de execução e os administradores judiciais, bem como outros auxiliares da justiça nos termos que a

lei determine.» 136 Tendo em conta desde logo o art.º 180.º, n.º 1, do EOSAE ao estipular que «constitui infração

disciplinar do agente de execução a violação, por ação ou omissão, dos seus deveres específicos, dos deveres

previstos na parte geral, relativos aos associados, bem como das demais disposições legais e regulamentares

aplicáveis.»,

65

honorários e despesas dos auxiliares da justiça», conforme impõe o art.º 12.º, al.ª g), do

ROICAAJ. Assim, recebida uma reclamação relativa aos honorários do agente de

execução, a mesma é apreciada no prazo de 60 dias, com possibilidade de prorrogação do

prazo por mais 30 dias, em casos excepcionais, de acordo com o art.º 25.º, do

ROICAAJ137.

Por outro lado, conforme permite o art.º 46.º, da já referida Portaria n.º 282/2013138 e

em consonância com o art.º 723.º, n.º 1, al.ª c), do CPC139, poderá ser apresentada, no prazo

de 10 dias a contar da notificação da nota de honorários e despesas, reclamação para o juiz,

que deverá decidir da reclamação em igual prazo. A referida reclamação poderá recair

sobre a «admissibilidade formal»140, ou seja, quando não haja fundamento para a

apresentação da nota de honorários e despesas numa fase da execução em que ainda se

encontrem actos por praticar e que influenciarão a mesma e o respectivo resultado e, sobre

o seu «conteúdo substantivo»141, designadamente quanto a determinada rubrica e a

respectiva certeza, liquidez e/ou exigibilidade. De notar ainda que, a decisão sobre a

reclamação da nota discriminativa e justificativa «tem natureza jurisdicional e será passível

de recurso de acordo com as regras da alçada e da sucumbência»142.

6.2.3.2. A Nota Discriminativa e Justificativa como título executivo

Elaborada e enviada a Nota Discriminativa e Justificativa a todos os intervenientes

processuais, poderá suceder-se o caso de não haver reclamação da mesma e, igualmente,

poderá não ser efectuado o respectivo pagamento ao agente de execução.

137

Redaccção do art.º 25.º, do ROICAAJ: «1 — As reclamações, queixas ou participações relativas à

atividade dos auxiliares da justiça sujeitos ao acompanhamento, fiscalização e disciplina da CAAJ são

apresentadas, preferencialmente, através de plataforma informática criada para o efeito. 2 — A reclamação,

queixa ou participação é apreciada pela CAAJ, no prazo de 60 dias, sendo este prazo suspenso sempre que

for dirigido pedido de pronúncia a outra entidade competente. 3 — Em situações de excecional

complexidade, com autorização do órgão de gestão, o período de análise e posterior resposta pode prorrogar-

se por mais 30 dias.» 138 Redacção do art.º 46.º, da Portaria n.º 282/2013: «Qualquer interessado [colegas, mandatários,

clientes e tribunais] pode, no prazo de 10 dias contados da notificação da nota discriminativa de honorários e

despesas, apresentar reclamação ao juiz, com fundamento na desconformidade com o disposto na presente

portaria.» 139 Redacção do art.º 723.º, n.º 1, al.ª c), do CPC: «Sem prejuízo de outras intervenções que a lei

especificamente lhe atribui, compete ao juiz: (…) c) Julgar, sem possibilidade de recurso, as reclamações de

atos e impugnações de decisões do agente de execução, no prazo de 10 dias». 140 Joel Timóteo Ramos Pereira (Juiz de Direito de Círculo Juiz Secretário do Conselho Superior da

Magistratura), A conta no processo executivo - Breves Nótulas da comunicação - SEMINÁRIO: O Novo

Paradigma do Processo Civil, Espinho, 2013, pp. 20. 141 Idem. 142 Ibidem.

66

Ora, de acordo com o conhecido e conforme se extrapola do art.º 713.º, do CPC, a

nota discriminativa e justificativa deverá ser certa, liquida e exigível, sendo que o agente

de execução, agora na posição de exequente, deverá diligenciar por tornar o título

executivo válido para que possa diligenciar na cobrança da sua remuneração. Deste modo,

a nota deverá ser certa no sentido de todas as suas rubricas se encontrarem devidamente

identificadas quanto aos actos praticados, despesas realizadas e os respectivos valores143.

Por seu turno, a nota deverá ainda ser líquida no sentido de que não poderão existir

rubricas cuja respectiva valor ainda esteja por apurar dada a necessidade de verificação de

determinada condição ou termo. Caso exista essa dependência, a nota não configurará

como título executivo e, por isso, não será passível de ser devidamente cobrada. Por

último, a nota torna-se exigível quando se verifiquem que existem actos praticados que,

todavia, não foram pagos144 e, simultaneamente, são do conhecimento quer do exequente

ou credor reclamante e do executado. Importante será de notar que, quaisquer actos que

sejam praticados com a oposição das partes que se fundamente na sua inutilidade ou

exceda as competências do agente de execução, tornar-se-ão actos impassíveis de ser

cobrados.

Assim, de acordo com o exposto no art.º 721.º, n.º 5, do CPC, constituir-se-á título

executivo a nota discriminativa e justificativa que não seja reclamada, acompanhada da

respectiva notificação para pagamento ao interveniente processual perante quem se

pretende reclamar. Ora, a Lei não poderia ser mais explícita atendendo a que o agente de

execução enquanto profissional do foro devera dirigir-se ao mandatário do exequente

nunca directamente ao próprio exequente. Coloca-se assim a questão se a notificação ao

mandatário do exequente enquanto seu representante com procuração para tal é válida, ou

se terá de existir nova notificação directamente ao exequente. Na minha opinião,salvo os

devidos casos excepcionais, havendo já notificação no processo executivo ao mandatário,

não deverá existir nova notificação directamente ao exequente.

Desta forma, assumirá o agente de execução a posição de exequente e ocupará a

posição de executado o seu exequente do processo executivo em que não ocorreu o

143 Por exemplo: «Cancelamento do registo de penhora – 100,00 €; Despesa para arrombamento de

imóvel – 241,55 €; etc». 144 Note-se que poderão constar da nota discriminativa e justificativa os actos praticados que já foram

efectivamente pagos, com a devida menção de que os mesmos já foram pagos e apenas se encontram na

referida nota a título de mera discriminação e não para (nova) cobrança.

67

pagamento dos seus honorários e despesas. Note-se que, «o título executivo é formado

contra o exequente, pelo que só pode ser dado à execução pelo agente de execução»145.

A última questão prende-se com o procedimento para a instauração da acção pelo

agente de execução, no caso do título executivo previsto no art.º 721.º, n.º 5, do CPC, uma

vez que lei processual civil nada refere quanto ao respectivo processo executivo. Entende-

se portanto que deverão ser aplicadas as regras gerais do processo executivo, ou seja, o

título é executado em execução autónoma, sendo competente o tribunal previsto no art.º

89.º, do CPC146. Relativamente à forma do processo, poderia existir o entendimento de que

seria a forma ordinária, uma vez que a nota discriminativa e justificativa vencida enquanto

título executivo não configura em qualquer um dos casos previstos no art.º 550.º, n.º 2, do

CPC. Todavia, tendo sido o exequente notificado para proceder ao pagamento da referida

nota no âmbito de um processo executivo e que, portanto, com a mesma tomou

conhecimento do agora título executivo, não se justificará que se proceda à citação prévia

do executado, uma vez que a mesma apenas serve para garantir a defesa do mesmo nos

casos do citado art.º 550.º, n.º 2, do CPC. Portanto, estando este direito do executado já

acautelado no âmbito do processo executivo em que foi reclamado o pagamento da nota de

honorários e despesas do agente de execução e sem que o exequente tenha reclamado, não

se justifica que forma de processo seja a ordinária, sendo portanto de aplicar a forma

sumária.

145 José Henrique Delgado de Carvalho, Juiz de Direito, Acção Executiva para Pagamento de Quantia

Certa, Aveiro, 2014, pp. 290. 146 Redacção do art.º 89.º, do CPC: «1 - Salvos os casos especiais previstos noutras disposições, é

competente para a execução o tribunal do domicílio do executado, podendo o exequente optar pelo tribunal

do lugar em que a obrigação deva ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou quando,

situando-se o domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha

domicílio na mesma área metropolitana. 2 - Porém, se a execução for para entrega de coisa certa ou por

dívida com garantia real, são, respetivamente, competentes o tribunal do lugar onde a coisa se encontre ou o

da situação dos bens onerados. 3 - Quando a execução haja de ser instaurada no tribunal do domicílio do

executado e este não tenha domicílio em Portugal, mas aqui tenha bens, é competente para a execução o

tribunal da situação desses bens. 4 - É igualmente competente o tribunal da situação dos bens a executar

quando a execução haja de ser instaurada em tribunal português, por via da alínea b) do artigo 63.º, e não

ocorra nenhuma das situações previstas nos artigos anteriores e nos números anteriores deste artigo. 5 - Nos

casos de cumulação de execuções para cuja apreciação sejam territorialmente competentes diversos tribunais,

é competente o tribunal do domicílio do executado.»

68

CAPÍTULO IV. OS LAUDOS DOS HONORÁRIOS

Antes da entrada em vigor do EOSAE, no que toca aos laudos de honorários, tal

matéria encontrava-se regulamentada até bem recentemente, pelo Regulamento n.º 7/2006

– Regulamento dos Laudos sobre Honorários dos Solicitadores que apenas se referia

especificamente aos Solicitadores, excluindo a figura dos Agentes de Execução. Essa

exclusão, apesar de inqualificável, devia-se ao facto de, por norma, os laudos de honorários

serem requeridos em grande parte, quanto aos solicitadores, uma vez que, quanto aos

agentes de execução, será é Tribunal que decide sobre a reclamação da sua nota de

honorários e despesas, conforme já se analisou (supra ponto 6.2.3.1.). A única dúvida que

surge recorrentemente relativamente ao agente de execução e à sua nota de honorários e

despesas é a forma de aplicação dos cálculos originados pela aplicação das tarifas e as

respectivas normas legais a aplicar, assim como os critérios que poderão ser aplicados por

analogia no âmbito de actos extrajudiciais para os quais o agente de execução tenha

competência, mas não se encontre tarifada a sua remuneração, nos termos do art.º 162.º, n.º

1, parte final, do EOSAE147.

Todavia, com a entrada em vigor do EOSAE, o referido Regulamento veio a ser

revogado148 pelo Regulamento n.º 330/2017: o novo Regulamento de Laudos149. Para além

de agora também abranger a figura dos Agentes de Execução, procedeu-se à

complementação de certas normas que se encontravam, de certo modo, pouco explícitas,

desde logo quanto aos requisitos formais e processuais para a que tais laudos possam

efectivamente ser emitidos, isto é, quanto à tramitação do processo de laudos.

7. NOÇÃO DE LAUDOS

Antes de mais, determine-se que o «laudo sobre honorários constitui um parecer

técnico e juízo sobre a qualificação e valorização dos serviços prestados»150.

Portanto, uma vez apresentada a nota de honorários e despesas, como já se referiu,

poderá o cliente não concordar com a mesma e, desta forma, estar-se-á perante um conflito

147 Redacção do art.º 162.º, n.º 1, do EOSAE: «O agente de execução é o auxiliar da justiça que, na

prossecução do interesse público, exerce poderes de autoridade pública no cumprimento das diligências que

realiza nos processos de execução, nas notificações, nas citações, nas apreensões, nas vendas e nas

publicações no âmbito de processos judiciais, ou em atos de natureza similar que, ainda que não tenham

natureza judicial, a estes podem ser equiparados ou ser dos mesmos instrutórios.» 148 Redacção do art.º 21.º, do Regulamento de Laudos: «É revogado o Regulamento dos laudos sobre

honorários dos solicitadores, Regulamento n.º 7/2006, de 11 de Janeiro.» 149 Doravante RL. 150 Preâmbulo do RL.

69

em matéria de fixação de honorários. Assim, será possível, de acordo com o art.º 45.º, al.ª

g), do EOSAE151, a pedido dos demais interessados, ser emitido o referido parecer técnico

ou um juízo de valor, não vinculativo, relativamente à nota de honorários quer do

solicitador, quer do agente de execução, tendo em conta as regras de fixação de honorários

de cada profissional e os serviços prestados, de acordo com o art.º 2.º, n.º 1, do RL152.

Assim, relativamente ao solicitador, entender-se-á por honorários a remuneração a

que o mesmo tem direito pelos serviços prestados no âmbito da solicitadoria, calculados

com base nos critérios já analisados do art.º 149.º, do EOSAE, de acordo com o art.º 2.º, n.º

2, do RL153. Já quanto ao agente de execução, entende-se por honorários aqueles a que tem

direito e que se encontram tarifados nas Portarias também já analisadas, ou ainda aqueles a

que tem direito no exercício da agência de execução não tarifada, de acordo com o art.º 2.º,

n.º 3, do RL154.

No entanto, há que referir que o que está em causa não é a verificação se os serviços

do profissional foram efectivamente prestados, pois, tal poder cabe aos Tribunais enquanto

órgãos de soberania. É o que igualmente entende ORLANDO GUEDES DA COSTA,

afirmando que «na emissão de laudo, haverá que partir do pressuposto de que os serviços

profissionais referenciados pelo Advogado [diga-se Solicitador e Agente de Execução]

como tendo sido por si prestados o foram efectivamente, uma vez que não é da

competência da Ordem (…) decidir se, na verdade, tais servições foram efectivamente

prestados. Tal competência, sob pena de usurpação de poderes, cabe aos Tribunais

enquanto órgãos de soberania a quem cabe a função jurisdicional e não à Ordem (…)»155.

151 Redacção do art.º 45.º, al.ª g), do EOSAE: «Compete a cada conselho profissional: (…) g) Emitir

laudos sobre honorários, quando tal for solicitado pelos associados, pelos tribunais ou por outros

interessados». 152 Redacção do art.º 2.º, n.º 1, do RL: «O laudo sobre honorários constitui parecer técnico e juízo não

vinculativo sobre a qualificação e valorização dos serviços prestados pelos associados da Ordem dos

Solicitadores e dos Agentes de Execução (OSAE), tendo em atenção as normas do Estatuto da Ordem dos

Solicitadores e dos Agentes de Execução (EOSAE), demais legislação aplicável e o presente regulamento.» 153 Redacção do art.º 2.º, n.º 2, do RL: «No que se refere aos solicitadores entende-se por honorários a

retribuição dos serviços profissionais por estes prestados no exercício da sua profissão e que devem ser

fixados nos termos dos critérios definidos no artigo 149.º do EOSAE.» 154 Redacção do art.º 2.º, n.º 3, do RL: «Os honorários dos agentes de execução são calculados com

base num sistema tarifário legalmente definido, podendo cobrar-se de honorários por serviços prestados fora

do âmbito de processos para que tenham sido nomeados ou que não tenham previsão tarifária específica.» 155 Orlando Guedes da Costa, Direito (…), pp. 263.

70

Por fim, resta enunciar que, de acordo com o art.º 3.º, do RL156, as despesas

efectuadas e incluídas na nota de honorários devem possuir o respectivo documento que

suportem essas despesas. Todavia, segundo o mesmo artigo, na emissão de laudos do

solicitador, não há pronúncia quanto às despesas justificadas (uma vez que, logicamente, se

encontram justificadas), excepto se as mesmas constituírem deslocações ou não estejam

justificadas, caso em que poderão ser consideradas como honorários. Por sua vez, o agente

de execução poderá cobrar as despesas a que têm direito nos termos da legislação já

analisada.

8. REQUISITOS DA NOTA DE HONORÁRIOS

No que respeita aos requisitos da nota de honorários quer do solicitador, quer do

agente de execução, verifica-se pelo art.º 4.º, do RL157 que mesma deve ser apresentada por

escrito, de forma detalhada e fundamentada, ou seja, a mesma deverá discriminar todos os

serviços, valores e datas das respectivas diligências, bem como deverá conter a taxa de

IVA ou de isenção e, por fim, ser aposta a assinatura do profissional, caso a nota não seja

elaborada electrónicamente, caso em que essa assinatura é dispensada.

Na senda ainda do anterior normativo do Regulamento dos Laudos sobre Honorários

de Solicitadores, verificavam-se cinco princípios158 a que a nota de honorários devia

atender: o princípio da separação entre honorários e despesas, o princípio da

documentação, o princípio da expressão da moeda nacional, o princípio da

imodificabilidade da nota de honorários após a apresentação ao cliente e, o princípio da

certificação. Ora, conforme o próprio princípio sugeria, impunha o princípio da separação

156 Redacção do art.º 3.º, do RL: «1 - Quando a conta inclua despesas, estas devem ter como referência

os documentos que as suportam. 2 - Na emissão do laudo dos solicitadores não deve existir pronúncia sobre

as despesas e os encargos inerentes à prestação de serviços do associado, sem prejuízo de poderem ser

qualificados como honorários as verbas indicada como despesas, nomeadamente associadas a deslocações ou

que não tenham suporte documental. 3 - Os agentes de execução podem cobrar as despesas previstas nas

normas legais.» 157 Redacção do art.º 4.º, do RL: «1 - A conta de honorários ou de tarifas aplicadas deve ser

apresentada, por escrito, de forma detalhada quanto aos serviços, aos valores e às datas, em termos facilmente

entendíveis e mencionar o IVA que for devido ou a sua isenção. 2 - Os honorários e as tarifas são fixados em

euros, sem prejuízo da indicação da sua correspondência com qualquer outra moeda, com referência ao

câmbio na data da apresentação dos mesmos. 3 - A conta deve ser assinada pelo associado ou por

administrador da sociedade profissional, podendo esta assinatura ser dispensada ou substituída caso seja

elaborada por meios eletrónicos ou se houver delegação de poderes em funcionário forense ou equiparado.» 158 Cfr. diferenciação de Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia (…), cit.,

pp. 618-619.

71

entre honorários e despesas159 que a nota de honorários separasse nitidamente os valores

que respeitam a honorários e os que respeitam a despesas. Por outro lado, requeria o

princípio da documentação160 que a nota de honorários e as respectivas diligências fossem

apresentadas por ordem cronológica, com a menção das datas e valores gastos e entregues

por conta de provisões, permitindo o melhor controlo possível sobre todos os gastos. No

que toca ao princípio da expressão em moeda nacional161, tal princípio não revelava

dúvidas de compreensão, uma vez que se impunha que os valores da nota de honorários

fossem expressos em euros, no caso dos países aderentes ao Euro, por exemplo. Todavia,

surge ainda o princípio da imodificabilidade da nota de honorários após a apresentação da

mesma ao cliente162, significando que, sem eliminar a possibilidade de serem cobrados

juros moratórios ou outras sanções163, ao solicitador estaria vedada a alteração dos valores

da nota de honorários, de forma a garantir a transparência da mesma. Por fim, surgia o

princípio da certificação164 que impõe ao solicitador que certificando a nota de honorários

com a aposição da sua assinatura, concordando com o conteúdo da mesma.

Ora, analisando o novo Regulamento de Laudos, comparado com o Regulamento dos

Laudos sobre Honorários de Solicitadores, verifica-se qua apenas alguns destes princípios

sobreviveram à revogação do anterior Regulamento, nomeadamente, o princípio da

documentação, de acordo com o já aqui exposto em que todas as despesas devem ser

suportadas pelo documento respectivo, o princípio da expressão da moeda nacional e, o

princípio da certificação. De resto, verifica-se o desaparecimento dos princípios da

separação entre honorários e despesas e da imodificabilidade da nota de honorários após a

apresentação ao cliente.

Por outro lado, quanto ao agente de execução, verifica-se pelo art.º 5.º, do RL165,

outras regras específicas dada a natureza da sua actividade, referindo expressamente, no

seu n.º 1 que o laudo apenas incidirá «na verificação do cumprimento das regras tarifárias e

das suas fórmulas de cálculo». Ainda no seu n.º 2, impõe que salvo devida justificação, a

159 Previsto no art.º 4.º, n.º 2 do Regulamento dos Laudos sobre Honorários de Solicitadores. 160 Estipulado no art.º 4.º, n.º 3, do Regulamento dos Laudos sobre Honorários de Solicitadores. 161 Regulamentado no art.º 4.º, n.º 4, do Regulamento dos Laudos sobre Honorários de Solicitadores. 162 Consagrado no art.º 4.º, n.º 5, do Regulamento dos Laudos sobre Honorários de Solicitadores. 163 Vide art.os 804.º a 808.º, do CC. 164 Previsto no art.º 4.º, n.º 6, do Regulamento dos Laudos sobre Honorários de Solicitadores. 165 Redacção do art.º 5.º, do RL: «1 - Tratando-se de notas de honorários do agente de execução, o

laudo consiste na verificação do cumprimento das regras tarifárias e das suas fórmulas de cálculo. 2 - A conta

dos agentes de execução, salvo motivo devidamente justificado, é elaborada no Sistema Informático de

Suporte à Atividade do Agente de Execução (SISAAE).»

72

nota discriminativa e justificativa do processo executivo é elaborada no Sistema

Informático de Suporte à Atividade do Agente de Execução166. Todavia, verifica-se que,

actualmente, esta elaboração via SISAAE ainda não produz efeitos práticos, dada a forma

como a essa mesma nota foi concebida e a complexidade da mesma, sem que os

profissionais estejam preparados para trabalhar com tal ferramenta. Desta forma, verifica-

se que a nota continua a ser elaborada sem o SISAAE.

9. COMPETÊNCIA PARA EMISSÃO DE LAUDOS E LEGITIMIDADE PARA OS

REQUERER

De acordo com o art.º 45.º, al.ª g), do EOSAE e com o art.º 1.º, do RL167, a

competência para a emissão de laudos dos honorários do solicitador encontra-se agora na

esfera do Conselho Profissional, inserido nos Colégios de Especialidade, quer dos

Solicitadores, quer dos Agentes de Execução, conforme o art.º 43.º, do EOSAE168.

Por seu turno, de acordo com o art.º 6.º, n.º 1, do RL169, os laudos sobre quaisquer

serviços prestados por solicitadores ou agentes de execução podem ser requeridos pelos

tribunais, pelo próprio associado (ou seu representante ou sucessor), pelas sociedades

profissionais, pelo constituinte ou consulente (seus representantes ou sucessores) ou, ainda,

por quem seja responsável pelo pagamento de honorários, como é caso do exequente no

âmbito do processo executivo, por exemplo. De notar que, quanto ao agente de execução,

sendo o laudo requerido ou autorizado previamente pelo tribunal, haverá suspensão do

processo ou execução da nota, de acordo com o art.º 6.º, n.º 2, do RL170.

166 Doravante SISAAE. 167 Redacção do art.º 1.º, do RL: «Compete aos conselho profissionais emitir laudos sobre honorários

em relação aos serviços profissionais dos associados quando tal for solicitado por estes, pelos tribunais ou

por outros interessados nos termos do presente regulamento.» 168 Desta forma, eliminou-se o antigo sistema para a emissão de laudos, que estipulava que em sede de

primeira instância eram competentes as Secções Regionais Deontológicas, nos termos do art.º 63.º, al.ª e), do

ECS. Por outro lado, em certos casos excepcionais (quando se tratassem de antigos ou actuais dirigentes da

Câmara) e em sede de segunda instância, seria competente o Conselho Superior para a emissão de laudos de

honorários do solicitador. 169 Redacção do art.º 6.º, n.º 1, do RL: «O laudo sobre honorários relativo a serviços prestados por

associado pode ser requerido pelos tribunais, pelo associado, seu representante ou sucessor, pelas sociedades

profissionais, pelo constituinte ou consulente, seus representantes ou sucessores ou por quem seja

responsável pelo pagamento dos honorários.» 170 Redacção do art.º 6.º, n.º 2, do RL: «Quando o laudo relativo a serviços prestados por agente de

execução não seja requerido pelo tribunal ou com a aquiescência prévia deste, os requerentes devem ser

previamente alertados de que o pedido de laudo não tem, por si, efeitos suspensivos na evolução processual

ou na execução da conta.»

73

10. CONDICIONALISMOS NO PEDIDO DE LAUDOS

Para a emissão de laudos, existem as respectivas circunstâncias em que pode o pedido

pode e de que forma deve ser efectuado.

Recorrendo ao art.º 7.º, do RL171, verificam-se várias situações em que o pedido de

laudos poderá ser efectuado. A primeira situação submerge da divergência entre o

associado da OSAE e o responsável pelo pagamento dos seus honorários, quer de forma

expressa, quer de forma tácita, relativamente à nota de honorários, de acordo com o já

citado art.º 7.º, n.º 1, do RL. Por sua vez, a segunda situação refere-se aos casos em que

seja colocada em causa a repartição dos honorários entre dois ou mais associados que

tenham colaborado na mesma causa, excluindo os casos das sociedades profissionais,

conforme estipula o art.º 7.º, n.º 2, do RL.

Ora, presumir-se-á que existe divergência quando, no caso dos solicitadores, seja

apresentada a nota de honorários ao cliente e este não proceda ao seu pagamento em 30

dias ou manifeste intenção de a contestar e, no caso dos agentes de execução, quando o

responsável pelo pagamento dos seus honorários não proceda ao respectivo pagamento no

prazo de 10 dias, ou reclame da referida nota dentro mesmo prazo, ao profissional ou ao

Tribunal, de acordo com o art.º 7.º, n.º 3, do RL.

De referir ainda que, para que o associado possa requerer a emissão de laudo, uma vez

que possui legitimidade para tal, não poderá o mesmo possuir dividas junto da OSAE

superiores a 5 UC (ou seja, 510,00 Euros), salvo se encontra a cumprir um plano de

pagamento, nos termos do art.º 7.º, n.º 4, do RL.

171 Redacção do art.º 7.º, do RL: «1 - É pressuposto do pedido da emissão de laudo a existência de

conflito ou divergência, de forma expressa ou tácita, entre o associado e o responsável pelo pagamento acerca

do valor dos honorários ou tarifas fixados em conta já apresentada. 2 - Pode ainda constituir objeto de laudo

prévio a repartição de honorários entre associados da OSAE, que tenham colaborado na mesma causa, desde

que fora do âmbito do exercício em sociedade profissional. 3 - Presume-se a divergência: a) No caso dos

solicitadores, quando tendo a conta sido apresentada ou remetida ao cliente, este não proceda ao seu

pagamento no prazo de 30 dias ou se for manifesta a intenção de a contestar, no todo ou em parte; b) No caso

dos agentes de execução, quando o responsável direto ou indireto pelo seu pagamento não proceda ao seu

pagamento no prazo estipulado e dentro deste seja apresentada reclamação ao agente de execução ou junto do

tribunal. 4 - Para efeitos do disposto no número anterior, não é considerado pagamento da conta a

compensação efetuada com as quantias recebidas, a título de provisão, antes da apresentação da conta final,

presumindo-se que todas as quantias recebidas antes da apresentação da conta final o são a título de provisão.

5 - É condição para a obtenção de laudo requerido por associado da OSAE ou sociedade profissional destes a

ausência de dívidas superiores a 5 UC à Ordem, salvo se estiver a cumprir acordo de pagamento.»

74

11. O PROCESSO DE LAUDO

O processo de laudo inicia-se com a apresentação de um requerimento, por escrito172,

ao presidente do conselho profissional, anexando para o efeito a nota e os documentos a ela

adjacentes173, de acordo com o art.º 8.º, n.º 1, do RL174.

Ora, uma vez recebido o pedido de laudo, o processo segue para registo, sendo

previamente verificados os demais pressupostos regulamentares e requeridas as respectivas

correcções se necessário e, ainda, garantindo o pagamento das taxas devidas, nos termos do

art.º 9.º, n.os 1 a 3, do RL175. Com vista à distribuição do processo, estando cumpridas todas

as formalidades, o presidente do conselho profissional nomeia um instrutor176, que poderá

ser associado da OSAE ou um jurista por esta contratado, conforme o art.º 9.º, n.º 4, do

RL177.

Distribuído que se encontre o processo de laudo, o instrutor analisa o mesmo e

procede à verificação se o mesmo se encontra dentro dos requisitos estipulados no art.º 8.º,

do RL, sendo que, em caso negativo, notificará o requerente para, em 15 dias, sanar as

demais irregularidades, ou ainda propor ao presidente do conselho profissional o

arquivamento do processo mediante despacho liminar, de acordo com o art.º 11.º, n.os 1 e

172 O pedido contém, nos termos do art.º 8.º, n.º 5, do RL, as seguintes informações: « O pedido inicial

contém: a) A identificação do solicitador, do agente de execução ou da sociedade, pelo seu nome e cédula

profissional, firma e domicílio profissional, do constituinte, consulente, ou reclamante, também com

indicação do nome e do respetivo domicílio, e, se possível, o número de telefone e o endereço eletrónico de

todas as partes envolvidas; b) A indicação e exposição dos factos em que se baseia o pedido, em termos

claros e precisos com referência aos processos judiciais eventualmente em causa; c) A data e a assinatura do

requerente ou de outrem a seu rogo se o mesmo não souber ou não puder assinar.» 173 Por exemplo, a notificação ao responsável pelo pagamento dos honorários, as peças processuais

relevantes, ou até mesmo os processos a que respeita a nota de honorários, uma vez que podem ser esses

documentos requeridos pelo instrutor, nos termos do art.º 8.º, n.os 2 a 4, do RL. 174 Redacção do art.º 8.º, n.º 1, do RL: «O pedido de laudo sobre honorários deve ser formulado por

escrito, dirigido ao respetivo presidente do conselho profissional e instruído com a conta e os documentos

considerados relevantes.» 175 Redacção do art.º 9.º, n.os 1 a 3, do RL: «1 - Recebido o pedido de laudo, após registo, compete aos

serviços administrativos da OSAE, instruir o processo, verificar os pressupostos regulamentares e garantir a

cobrança prévia das taxas devidas, notificando o requerente para proceder às correções necessárias. 2 - Sendo

o laudo requerido por associado ou sociedade profissional, devem os serviços administrativos averiguar se

estes são devedores de quotas ou de taxas à OSAE, caso em que são notificados para os regularizar no prazo,

não inferior a 15 dias, com a informação de que o incumprimento dá causa ao arquivamento do processo. 3 -

Se o pedido de laudo for ordenado por tribunal, deve a secretaria do tribunal assegurar o pagamento das taxas

previstas.» 176 De acordo com o art.º 10.º, do RL: «1 - Ao instrutor compete a organização do processo e a

elaboração de uma proposta de laudo a submeter a deliberação do conselho profissional. 2 - Salvo

deliberação do conselho profissional, com fundamento na complexidade da matéria, o instrutor deve

apresentar a sua proposta de laudo no prazo de 60 dias.» 177 Redacção do art.º 9.º, n.º 4, do RL: «Verificados os pressupostos dos números anteriores incumbe

ao presidente do conselho profissional nomear instrutor do processo que pode ser associado inscrito na

mesma especialidade ou jurista contratado pela OSAE.»

75

2, do RL178. Todavia, conforme dispõe o art.º 11.º, n.º 3, do RL179, o processo pode ser

recusado pelo presidente do conselho profissional sempre que este considere que é

necessária uma peritagem mais formal ao mesmo, dada a complexidade do processo.

Seguindo o processo de laudo os seus termos, seguir-se-á a fase da instrução, onde o

instrutor deverá notificar quer o requerido para se pronunciar no prazo de 15 dias, quer o

requerente para prestar declarações adicionais, quer ao Tribunal que informe qual a origem

da divergência relativa à nota de honorários, nos termos do art.º 12.º, n.os 1 a 3, do RL180.

Note-se que, estando o solicitador – e diga-se, igualmente, o agente de execução - a ser

alvo de processo disciplinar, o instrutor coloca em causa o prosseguimento do respectivo

processo de laudo, submetendo a questão para o presidente do conselho profissional, de

acordo com o art.º 12.º, n.os 4 e 5, do RL181. O mesmo se sucederá caso o instrutor

verifique que o profissional, no âmbito da sua actividade profissional cometeu uma prática

indevida e que por isso deve ser alvo de participação disciplinar, nos termos do art.º 15.º,

do RL182.

178 Redacção do art.º 11.º, n.os 1 e 2, do RL: «1 - Após a distribuição, o instrutor verifica liminarmente

se o requerimento está conforme com o artigo 8.º, em caso negativo, notifica o requerente para suprir as faltas

no prazo de 15 dias, informando que o não suprimento implica o arquivamento do processo. 2 - Compete ao

presidente do conselho profissional, sob proposta do instrutor, determinar o arquivamento liminar do

processo, quando conclua pela sua manifesta improcedência, podendo esta decisão ser objeto de recurso para

o respetivo conselho.» 179 Redacção do art.º 11.º, n.º 3, do RL: «O presidente do conselho profissional pode recusar o pedido

de laudo sempre que considere que a complexidade do processo em causa exige uma peritagem formal do

processo.» 180 Redacção do art.º 12.º, n.os 1 a 3, do RL: 1 - Salvo nos casos em que o contraditório já foi efetuado

em processo judicial, o instrutor deve sempre notificar o requerido ou os requeridos para responderem,

querendo, no prazo de 15 dias, remetendo-se com a notificação cópia do pedido e dos documentos que o

acompanharam. 2 - Caso o instrutor entenda necessário esclarecer ainda alguns factos, pode promover a

notificação do requerente para se pronunciar sobre a resposta do requerido. 3 - O instrutor pode solicitar aos

tribunais, a título devolutivo, nos termos do artigo 7.º do EOSAE, os autos cujo mérito da causa é constituído

pelo diferendo quanto aos honorários, bem como aqueles em que foram prestados serviços que àqueles

honorários deram origem.» 181 Redacção do art.º 12.º, n.os 4 e 5, do RL: «4 - O instrutor, sempre que tenha conhecimento de que

existe processo disciplinar pendente contra o solicitador, parte no pedido de laudo, cujo objeto seja a

apreciação de condutas profissionais relacionadas com a conta de honorários que suporta o pedido, propõe ao

conselho profissional que se solicitem ao conselho superior os esclarecimentos necessários para poder

analisar se a matéria do processo disciplinar tem correlação com a retribuição dos serviços objeto de laudo. 5

- Caso exista ou seja instaurado processo disciplinar nos termos do número anterior, o instrutor deve solicitar

ao conselho profissional deliberação sobre a conveniência da prossecução do processo até decisão

disciplinar.» 182 Redacção do art.º 15.º, do RL: «Se o instrutor constatar a existência de indícios de que o associado,

requerido ou requerente, cometeu, pelas suas condutas profissionais relacionadas com os serviços prestados,

qualquer ato capaz de integrar ilícito disciplinar, deve participar o facto ao conselho profissional para que

este delibere sobre eventual participação disciplinar.»

76

Finda a fase da instrução, o instrutor deve em 60 dias apresentar uma proposta de

laudo ao presidente do conselho profissional, conforme os art.os 10.º, n.º 2 e, 13.º, n.º 1183,

ambos do RL. No caso do solicitador, caso se verifique uma diferença de 10% entre o valor

dos honorários apresentados por ele e os do instrutor, deve ser concedido um laudo

favorável ou solicitador, ao passo que para o agente de execução não existirá qualquer

margem, sendo que valor da sua nota deve ser igual à do instrutor para que possua um

laudo favorável, conforme dispõe o art.º 13.º, n.os 2 e 3, do RL184. Em qualquer caso, o

instrutor em caso de laudo não favorável ao associado, deve informar quais os honorários

que entende por aceitáveis, nos termos do art.º 13.º, n.º 4, do RL185. Note-se que o conselho

profissional pode não aceitar a proposta de laudo do instrutor e, nesse caso, é o cargo

ocupado por um dos seus membros ou nomeado novo instrutor, de acordo com o art.º 13.º,

n.º 5, do RL186. Por sua vez, existindo uma deliberação no processo de laudo, apenas se

poderá requerer o esclarecimento da mesma, não sendo admitido qualquer recurso, nos

termos do art.º 17.º, do RL187.

Por seu turno, poderá existir a desistência do pedido de laudo até à emissão da

respectiva proposta pelo instrutor, sendo certo que não se poderá repetir o pedido, nos

termos do art.º 16.º, n.º 1, do RL188. Todavia, após esse momento, só os requerentes

poderão desistir do pedido de laudo, havendo concordância com os demais interessados na

emissão do laudo, sendo igualmente certo que não se poderá repetir o pedido se a

desistência for aceite, de acordo com o art.º 16.º, n.º 2, do RL189.

183 Redacção do art.º 13.º, n.º 1, do RL: «Finda a instrução, o instrutor formula a sua proposta

fundamentada de laudo, discriminando os serviços prestados e os critérios adotados na fixação dos

honorários, e concluir por proposta de concessão ou não concessão do laudo requerido.» 184 Redacção do art.º 13.º, n.os 2 e 3, do RL: «2 - No que se refere a solicitador, deve-se concluir pela

concessão de laudo favorável a este se a diferença de valores entre os honorários fixados e os que o instrutor

consideraria moderados for inferior a 10 % dos primeiros. 3 - No que se refere a agente de execução, o laudo

só pode ser favorável se o valor em causa for considerado correto pela aplicação dos normativos legais.» 185 Redacção do art.º 13.º, n.º 4, do RL: «Caso entenda que não deve ser concedido laudo favorável, o

instrutor deve propor o valor dos honorários que reputa de aceitáveis.» 186 Redacção do art.º 13.º, n.º 5, do RL: «Sempre que o conselho profissional delibere não subscrever a

proposta de laudo deve optar entre nomear outro instrutor ou designar um dos seus membros como relator do

processo, encarregando-se este de eventuais diligências complementares e de elaborar uma outra proposta de

laudo a ser submetida a votação do conselho.» 187 Redacção do art.º 17.º, do RL: «As deliberações proferidas nos processos de laudo não admitem

recurso, podendo, contudo, qualquer interessado solicitar a aclaração das mesmas.» 188 Redacção do art.º 16.º, n.º 1, do RL: «Os requerentes podem desistir do pedido de laudo até ao

momento em que o instrutor apresente a sua proposta de laudo para deliberação do conselho profissional,

mas não podem repetir o pedido.» 189 Redacção do art.º 16.º, n.º 2, do RL: «Após a apresentação da proposta de laudo para deliberação

do conselho profissional, só é admitida desistência dos requerentes se a mesma obtiver a expressa aceitação

77

Por último, resta referir que o processo de laudo é confidencial, sendo que as

decisões finais poderão ser enviadas às partes envolventes ou, retiradas todas as referências

pessoais, ser tornadas públicas, de acordo com o art.º 18.º, n.os 1 e 3, do RL190.

CAPÍTULO V. AS CUSTAS DE PARTE: BREVES REFERÊNCIAS QUANTO AO

REGIME E A RELAÇÃO COM OS HONORÁRIOS DO AGENTE DE

EXECUÇÃO E DO SOLICITADOR

12. AS CUSTAS PROCESSUAIS: DEFINIÇÃO DE CUSTAS PROCESSUAIS E

DIFERENCIAÇÃO ENTRE TAXA DE JUSTIÇA, ENCARGOS E CUSTAS DE PARTE

De acordo com o panorama nacional, o conceito de custas processuais é ainda incerto

dada a dimensão que as mesmas possuem. De todo o modo, a ideia mais sólida que hoje

existe é a de que as custas processuais afiguram-se como sendo um conjunto de despesas

exigíveis por lei, causadas pela mobilização do sistema judiciário para a resolução de um

litígio entre duas ou mais partes. Significa, portanto, que as custas processuais, estarão

interligadas com a movimentação dos demais recursos judiciários inerentes à condução do

processo.

Ora, as custas processuais encontram-se reguladas pelo Regulamento das Custas

Processuais191 (Decreto-lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro), independentemente da sua

natureza jurídica taxada no art.º 2.º, do citado Regulamento, ou seja, quer se tratem de

processos judiciais, quer administrativos, quer fiscais, quer de injunções no respectivo

balcão, regulando-se assim de modo unificado as disposições aplicáveis aos referidos

processos, que anteriormente se encontravam previstas no Código das Custas Judiciais e

com a respectiva remissão para as legislações correspondetes consoante a natureza do

processo em causa.

Desta forma, sendo as custas processuais uma figura multidimensional, significa

assim que as mesmas englobam diversos custos com o processo, de acordo com o art.º

dos demais interessados no laudo, os quais, caso a aceitem, não podem requerer novo laudo sobre a mesma

conta de honorários.» 190 Redacção do art.º 18.º, n.os 1 e 3, do RL: «1 - Os processos de laudo são confidenciais, antes e

depois de julgados, sem prejuízo do envio das decisões finais aos requerentes e demais interessados. (…) 3 -

As decisões finais podem ser tornadas públicas desde que expurgadas de todas as referências pessoais e

regionais que permitam a identificação dos intervenientes.» 191 Doravante designado de RCP.

78

529.º, do CPC192 e com o art.º 3.º, n.º 1, do RCP193, nomeadamente, a taxa de justiça, os

encargos e as custas de parte.

De acordo com o art.º 529.º, n.º 2, do CPC e com o art.os 6.º, n.os 1 e 2194, e 7.º, n.os 1

e 2195, ambos do RCP, a taxa de justiça afigura-se como sendo o montante que é devido

pelo impulso processual do interessado, fixando-se em função do valor ou da

complexidade de causa, segundo as disposições e tabelas legais, previstas no RCP.

Portanto, a taxa de justiça é o montante pecuniário aplicável como contrapartida pela

prestação dos serviços da justiça. De referir que apenas serão responsáveis pelo pagamento

das custas as partes que intervenham no processo na qualidade de autor ou réu, exequente

ou executado, requerente ou requerido e recorrente ou recorrido, determinada nos termos

do art.º 13.º, do RCP.

Por outro lado, os encargos correspondem às despesas concretas a que haja lugar no

processo, requeridas pelas partes ou oficiosamente, conforme resulta do art.º 529.º, n.º 3,

do CPC e, do art.º 20.º, n.º 1, do RCP196, estando previstos nos art.os 532.º197 e 438.º198 do

192 Redacção do art.º 529.º, do CPC: «1 - As custas processuais abrangem a taxa de justiça, os

encargos e as custas de parte. 2 - A taxa de justiça corresponde ao montante devido pelo impulso processual

de cada interveniente e é fixado em função do valor e complexidade da causa, nos termos do Regulamento

das Custas Processuais. 3 - São encargos do processo todas as despesas resultantes da condução do mesmo,

requeridas pelas partes ou ordenadas pelo juiz da causa. 4 - As custas de parte compreendem o que cada parte

haja despendido com o processo e tenha direito a ser compensada em virtude da condenação da parte

contrária, nos termos do Regulamento das Custas Processuais.» 193 Redacção do art.º 3.º, n.º 1, do RCP: «1 - As custas processuais abrangem a taxa de justiça, os

encargos e as custas de parte.» 194 Redacção do art.º 6.º, n.os 1 e 2, do RCP: «1 - A taxa de justiça corresponde ao montante devido

pelo impulso processual do interessado e é fixada em função do valor e complexidade da causa de acordo

com o presente Regulamento, aplicando-se, na falta de disposição especial, os valores constantes da tabela I-

A, que faz parte integrante do presente Regulamento. 2 - Nos recursos, a taxa de justiça é sempre fixada nos

termos da tabela I-B, que faz parte integrante do presente Regulamento.» 195 Redacção do art.º 7.º, n.os 1 e 2, do RCP: «1 - A taxa de justiça nos processos especiais fixa-se nos

termos da tabela I, salvo os casos expressamente referidos na tabela II, que fazem parte integrante do

presente Regulamento. 2 - Nos recursos, a taxa de justiça é fixada nos termos da tabela I-B e é paga pelo

recorrente com as alegações e pelo recorrido que contra-alegue, com a apresentação das contra-alegações.» 196 Redacção do art.º 20.º, n.º 1, do RCP: «Os encargos são pagos pela parte requerente ou interessada,

imediatamente ou no prazo de 10 dias a contar da notificação do despacho que ordene a diligência, determine

a expedição ou cumprimento de carta rogatória ou marque a data da audiência de julgamento.» 197 Redacção do art.º 532.º, do CPC: «1 - Salvo o disposto na lei que regula o acesso ao direito, cada

parte paga os encargos a que tenha dado origem e que se forem produzindo no processo. 2 - Os encargos são

da responsabilidade da parte que requereu a diligência ou, quando tenha sido realizada oficiosamente, da

parte que aproveita da mesma. 3 - Quando todas as partes tenham o mesmo interesse na diligência ou

realização da despesa, tirem igual proveito da diligência ou despesa ou não se consiga determinar quem é a

parte interessada, são os encargos repartidos de modo igual entre as partes. 4 - São exclusivamente

suportados pela parte requerente, independentemente do vencimento ou da condenação em custas, os

encargos com a realização de diligências manifestamente desnecessárias e de caráter dilatório. 5 - A

aplicação da norma referida no número anterior depende sempre de determinação do juiz.» 198 Redacção do art.º 438.º, do CPC: «1 - As despesas a que der lugar a requisição entram em regra de

custas, a título de encargos, sendo logo abonadas aos organismos oficiais e a terceiros pela parte que tiver

79

CPC e nos art.os 16.º a 24.º, do RCP. De notar que, em certas circunstâncias, estes encargos

deverão ser pagos antecipadamente pela parte requerente ou interessada nos actos que

impliquem despesa199.

Por seu turno, as custas de parte, previstas no art.º 533.º, do CPC200 e nos art.os 25.º e

26.º, ambos do RCP, configuram-se como sendo as despesas que a parte foi efectuando ao

longo do processo, incluindo o pagamento da taxa de justiça e os demais encargos que

parte suporte e que, por isso, tenha direito a ser reembolsada pela parte vencida, não se

incluindo, no entanto, as mesmas no conta de custas judiciais201. Assim, as custas de parte

são por isso, «(…) integradas pelas despesas que as partes se vêm compelidas a suportar

com vista a haverem o benefício do impulso processual necessário ao natural

desenvolvimento da lide e ao proferimento, no respectivo âmbito, da ou das decisões que à

mesma caibam»202. Desta forma, as custas de parte deverão ser pagas directa e

extrajudicialmente a essa parte vencedora, conforme resulta do art.º 529.º, n.º 4, do CPC,

excepto nos casos de pagamento dos honorários pelas custas, de acordo com o art.º 540.º,

do CPC. Note-se que, o art.º 26.º, do RCP203, afigura-se como sendo o modo de determinar

sugerido a diligência ou por aquela a quem a diligência aproveitar. 2 - Quando o juiz verifique que os

documentos requisitados se revelam manifestamente impertinentes ou desnecessários e caso a parte

requerente não tenha atuado com a prudência devida, é a mesma condenada ao pagamento de multa nos

termos do Regulamento das Custas Processuais.» 199 São tidos como exemplos os custos com correio e comunicações telefónicas, as compensações a

testemunhas ou a retribuição a peritos e as deslocações. 200 Redacção do art.º 533.º, do CPC: «1 - Sem prejuízo do disposto no n.º 4, as custas da parte

vencedora são suportadas pela parte vencida, na proporção do seu decaimento e nos termos previstos no

Regulamento das Custas Processuais. 2 - Compreendem-se nas custas de parte, designadamente, as seguintes

despesas: a) As taxas de justiça pagas; b) Os encargos efetivamente suportados pela parte; c) As

remunerações pagas ao agente de execução e as despesas por este efetuadas; d) Os honorários do mandatário

e as despesas por este efetuadas. 3 - As quantias referidas no número anterior são objeto de nota

discriminativa e justificativa, na qual devem constar também todos os elementos essenciais relativos ao

processo e às partes. 4 - O autor que, podendo recorrer a estruturas de resolução alternativa de litígios, opte

pelo recurso ao processo judicial, suporta as suas custas de parte independentemente do resultado da ação,

salvo quando a parte contrária tenha inviabilizado a utilização desse meio de resolução alternativa do

litígio. 5 - As estruturas de resolução alternativa de litígios referidos no número anterior constam de portaria

do membro do Governo responsável pela área da justiça.» 201 É o que estipula o art.º 30.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril. 202 Miguel de Lucena e Leme Côrte-Real, Custas de Parte, Porto, 2011, pp.3. 203 Redacção do art.º 26.º, do RCP: «1 - As custas de parte integram-se no âmbito da condenação

judicial por custas, salvo quando se trate dos casos previstos no artigo 536.º e no n.º 2 do artigo 542.º do

Código de Processo Civil. 2 - As custas de parte são pagas diretamente pela parte vencida à parte que delas

seja credora, salvo o disposto no artigo 540.º do Código de Processo Civil, sendo disso notificado o agente de

execução, quando aplicável. 3 - A parte vencida é condenada, nos termos previstos no Código de Processo

Civil, ao pagamento dos seguintes valores, a título de custas de parte: a) Os valores de taxa de justiça pagos

pela parte vencedora, na proporção do vencimento; b) Os valores pagos pela parte vencedora a título de

encargos, incluindo as despesas do agente de execução; c) 50 % do somatório das taxas de justiça pagas pela

parte vencida e pela parte vencedora, para compensação da parte vencedora face às despesas com honorários

do mandatário judicial, sempre que seja apresentada a nota referida na alínea d) do n.º 2 do artigo anterior; d)

80

as custas de parte, ao passo que o art.º 25.º, do RCP204 se constitui como o modo de exigir

as mesmas, havendo aqui, na minha opinião, uma certa infelicidade do legislador no modo

em que esteticamente ordenou as normas citadas.

Por fim, restará apenas explicitar que relativamente ao critério de imputação das

custas processuais, rege o art.º 527.º, do CPC205, que as mesmas são imputáveis ao sujeito

que seja autor ou réu, exequente ou executado, requerente ou requerido e recorrente ou

recorrido, mediante verificação de dois critérios: como critério principal, critério da causa,

ou seja, o de quem dá causa à acção, isto é, a parte vencida, será a quem deve ser

imputadas as custas; subsidiariamente, o critério do proveito, imputando as custas a quem

tirou proveito da acção, no caso de inexistência de partes vencedoras ou vencidas.

13. O DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA E OS PRINCÍPIOS DA

PROPORCIONALIDADE E DA IGUALDADE

Ainda que a Constituição da República Portuguesa garanta a todos os cidadãos o

acesso aos tribunais, nada refere, no entanto, qualquer aspecto relativamente à gratuidade

dos serviços judiciais, mas sim que o preço a pagar não seja demasiado elevado ao ponto

de condicionar tal acesso aos cidadãos, de acordo com o art.º 20.º, da Constituição da

Os valores pagos a título de honorários de agente de execução. 4 - No somatório das taxas de justiça referidas

no número anterior contabilizam-se também as taxas dos procedimentos e outros incidentes, com exceção do

valor de multas, de penalidades ou de taxa sancionatória e do valor do agravamento pago pela sociedade

comercial nos termos do n.º 6 do artigo 530.º do Código de Processo Civil e do n.º 3 do artigo 13.º 5 - O

valor referido na alínea c) do n.º 3 é reduzido ao valor indicado na alínea d) do n.º 2 do artigo anterior quando

este último seja inferior àquele, não havendo lugar ao pagamento do mesmo quando não tenha sido

constituído mandatário ou agente de execução. 6 - Se a parte vencida for o Ministério Público ou gozar do

benefício de apoio judiciário na modalidade de dispensa de taxa de justiça e demais encargos com o processo,

o reembolso das taxas de justiça pagas pelo vencedor é suportado pelo Instituto de Gestão Financeira e das

Infra-Estruturas da Justiça, I. P.» 204 Redacção do art.º 25.º, do RCP: «1 - Até cinco dias após o trânsito em julgado ou após a

notificação de que foi obtida a totalidade do pagamento ou do produto da penhora, consoante os casos, as

partes que tenham direito a custas de parte remetem para o tribunal, para a parte vencida e para o agente de

execução, quando aplicável, a respectiva nota discriminativa e justificativa. 2 - Devem constar da nota

justificativa os seguintes elementos: a) Indicação da parte, do processo e do mandatário ou agente de

execução; b) Indicação, em rubrica autónoma, das quantias efectivamente pagas pela parte a título de taxa de

justiça; c) Indicação, em rubrica autónoma, das quantias efectivamente pagas pela parte a título de encargos

ou despesas previamente suportadas pelo agente de execução; d) Indicação, em rubrica autónoma, das

quantias pagas a título de honorários de mandatário ou de agente de execução, salvo, quanto às referentes aos

honorários de mandatário, quando as quantias em causa sejam superiores ao valor indicado na alínea c) do n.º

3 do artigo 26.º; e) Indicação do valor a receber, nos termos do presente Regulamento. 3 - Na acção

executiva, a liquidação da responsabilidade do executado compreende as quantias indicadas na nota

discriminativa, nos termos do número anterior.» 205 Redacção do art.º 527.º, do CPC: «1 - A decisão que julgue a ação ou algum dos seus incidentes ou

recursos condena em custas a parte que a elas houver dado causa ou, não havendo vencimento da ação, quem

do processo tirou proveito. 2 - Entende-se que dá causa às custas do processo a parte vencida, na proporção

em que o for. 3 - No caso de condenação por obrigação solidária, a solidariedade estende-se às custas.»

81

República Portuguesa206. Nesse sentido, o n.º 1, do citado art.º 20.º, da CRP207, afigura-se

como sendo a norma de salvaguarda para quem não possui os referidos meios necessários

de acesso aos tribunais, pois, apesar de possuir tal direito, tem de pagar pelo mesmo, Não

podendo ser de outra forma, consagrou-se nesse normativo que a todos deve ser assegurado

o acesso à justiça, nomeadamente através da concessão de apoio judiciário, nos termos da

já mencionada Lei de Acesso ao Direito e aos Tribunais (Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho).

Deste modo, atendendo ao princípio da igualdade, previsto no art.º 13.º, da CRP208, o

referido apoio deverá ser facultado ao necessitado mediante uma análise de caso a caso,

exigindo-se que se tratem de igual forma as situações iguais, e de forma diferente as

demais situações diferentes.

Assim, atendendo ao exposto, significa que as custas processuais deverão ser

proporcionais ao processo e aos meios económicos das partes, de acordo também com o

princípio da proporcionalidade consagrado no art.º 18.º, n.º 2, da CRP209, de modo a que

todos os cidadãos vejam o seu direito de acesso à justiça garantido de igual forma em

comparação com os todos os cidadãos.

14. BREVES NOTAS QUANTO AO REGIME JURÍDICO DAS CUSTAS DE PATE: A

PORTARIA 419-A/2009, DE 17 DE ABRIL

Consagrado que está o direito de a parte vencedora ser reembolsada de todas as

despesas que obteve com o decorrer de determinado processo, nos termos do citado art.º

529.º, n.º 4, do CPC e determinados os termos gerais em que essa exigência à parte vencida

se concretiza, de acordo com os mencionados art.os 25.º e 26.º, do RCP, haverá que

concluir, assim, que as custas de parte configuram-se numa total condenação por custas,

quando assim suceda. É o que se conclui pela leitura do art.º 25.º, n.º 2, do RCP, atendendo

«que apenas as taxas de justiça pagas, os encargos efetivamente suportados pela parte, as

206 Doravante designada de CRP. 207 Redacção do art.º 20.º, n.º 1, da CRP: «A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais

para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por

insuficiência de meios económicos.» 208 Redacção do art.º 13.º, da CRP: «1 - Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais

perante a lei. 2 - Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou

isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião,

convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.» 209 Redacção do art.º 18.º, n.º 2, da CRP: «A lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias

nos casos expressamente previstos na Constituição, devendo as restrições limitar-se ao necessário para

salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos.»

82

remunerações pagas ao agente de execução, as despesas por este efetuadas, os honorários

do mandatário e as despesas por este efetuadas constituem custas de parte»210.

Ora, para além da taxa de justiça e dos demais encargos, haverá ainda que ter em

linha de nota os honorários e despesas do mandatário judicial – advogado ou solicitador –

e, ainda, os honorários e despesas do agente de execução, tratando-se de um processo

executivo ou de outro processo em que intervenha no âmbito das suas competências, de

acordo com o art.º 25.º, n.º 2, al.ª d), do RCP, o art.º 533.º, n.º 2, al.as c) e d), do CPC e, por

fim, o art.º 32.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril211 (Portaria esta

reguladora do sistema de pagamento das custas processuais).

Em face do exposto, será de assegurar em síntese a análise dos aspectos quanto ao

sistema de pagamento das custas de parte, articulando os já mencionados art.os 25.º e 26.º,

do RCP, a Portaria n.º 419-A/2009 e as demais normas do CPC que têm vindo a ser

citadas.

14.1. O direito do exequente ou autor ao reembolso

No âmbito de determinado processo, em que de um lado se encontra o exequente ou

autor do referido processo, que por sua vez o intenta contra o executado ou réu, é

necessário o pagamento do serviço que o Estado (na figura do Tribunal) irá dar

seguimento. Desde logo, o referido pagamento refere-se à taxa de justiça, que deverá ser

paga aquando da interposição do processo, nomeadamente, quando seja entregue o

requerimento executivo ou a petição inicial, correspondendo o referido pagamento ao

necessário para o devido impulso processual do qual se espera determinado acto por parte

do Tribunal. É o que designa os art.os 6.º, n.º 1 e, 13.º, n.º 1, ambos do RCP e, o art.º 529.º,

n.º 2, do CPC.

Por seu turno, caso seja do interesse da parte contrária – executado ou réu – opor-se à

execução e/ou penhora ou contestar a acção, respectivamente, entendendo-se que se trata

de um novo impulso processual, haverá igualmente pagamento à taxa de justiça.

Ora, concluso que esteja determinado processo, é certo que a parte vencedora terá

direito ao reembolso das custas de parte, a pagar pela parte vencida, por todas as despesas

210 Centro de Estudos Judiciários, Custas Processuais – Guia Prático, 2016, pp. 193. 211 Redacção do art.º 32.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009: «Na indicação em rubrica autónoma das

quantias pagas a título de honorários e despesas do mandatário judicial ou de agente de execução só são

consideradas as quantias até ao limite previsto na alínea c) do n.º 3 do artigo 26.º do RCP.»

83

que o litigante vencedor teve em ver cobrado o seu crédito ou reconhecido o seu direito, de

acordo com a condenação nos termos do já citado art.º 527.º, do CPC e do art.º 26.º, n.º 1,

do RCP.

Deste modo, sempre se dirá que o direito ao reembolso das custas de parte é

verdadeiramente reconhecido quando o Tribunal condene a parte em custas, na totalidade

ou parcialmente, consoante o ganho da acção, de acordo com o art.º 533.º, n.º 1, do CPC. O

mesmo se entenderá no âmbito da acção executiva que, as custas de parte deverão ser

pagas quando haja lugar ao pagamento da totalidade da dívida, quer voluntariamente, quer

pela via do produto da penhora.

14.2. A interpelação e prazo para pagamento

Para que haja um efectivo direito da parte vencedora em reclamar o reembolso das

custas de parte à parte vencida, será necessário que aquela primeira assegura a interpelação

para tal àquela última.

Deste modo, de acordo com o art.º 31.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009212, a parte

vencedora procederá à elaboração de uma nota discriminativa e justificativa de onde

constem todas as rubricas a serem reembolsadas, que por sua vez será remetida à parte

vencida, junta ao Tribunal e, se for o caso, ao agente de execução, de forma a assegurar

que todo o procedimento para reembolso das custas de parte tramita de forma correcta.

Assim assegura MIGUEL CÔRTE-LEAL, entendendo que uma vez assegurada «(…) a

interpelação pela parte vencedora à parte vencida para que esta pague as custas de parte

que fiquem a seu cargo, parece crucial que se assegure a junção aos autos de cópia dessa

mesma notificação e do demonstrativo de que a mesma se tenha verificado»213. Tal

procedimento será útil no sentido de que, caso se dê o incumprimento da obrigação pela

parte vencida, haverá a constituição de um título executivo, assegurado pelos elementos

remetidos para o Tribunal.

De salientar que, nos termos do art.º 25.º, n.º 2, do RCP, para uma correcta

interpelação à parte vencida, o credor deverá fazer constar da nota discriminativa e

justificativa os elementos de identificação das partes (incluindo os mandatários), do

212 Redacção do art.º 31.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009: «As partes que tenham direito a custas de

parte devem enviar para o tribunal e para a parte vencida a respetiva nota discriminativa e justificativa, nos

termos e prazos previstos no artigo 25.º do RCP.» 213 Miguel de Lucena e Leme Côrte-Real, Custas (…), pp. 14.

84

respectivo processo e, ainda, se for o caso, a identificação do agente de execução. Para

além disso, em sede de rubricas autónomas, deverão constar todos os valores pagos a título

de taxas de justiça, de encargos suportados pelas partes, dos honorários e despesas, quer do

mandatário, quer do agente de execução e, por último, o valor total que a parte vencedora

reclama a título de reembolso de custas de parte. De notar será importante que, a título de

honorários e despesas do mandatário e/ou do agente de execução, dever-se-á respeitar o

limite estabelecido no art.º 26.º, n.º 3, al.ª c), do RCP, impondo como limite de reembolso

nesta matéria, 50% da soma das taxas de justiça pagas por ambas as partes.

Por seu turno, a parte vencedora possui um prazo de 5 dias214 a contar do momento

em que se verifique o trânsito em julgado da decisão condenatória por custas, ou da

extinção da execução por causa diferente do pagamento, ou da verificação através de

notificação de que foi paga na totalidade a divida exequenda através de pagamento

voluntário ou do produto da penhora, conforme o art.º 25.º, n.º 1, do RCP. É importante

que a referida interpelação ocorra dentro do prazo estipulado, atendendo que caso assim

não aconteça, determinar-se-á a caducidade do direito do exequente ou autor ao reembolso

das custas de parte, ou seja, provocar-se-á a extinção inerente a esse direito de reembolso,

nos termos dos art.os 298.º, n.º 2 e, 328.º e seguintes, ambos do CC.

14.3. O prazo e o modo para pagamento

Com a interpelação para pagamento das custas de parte, a parte vencida fica assim

constituída de uma obrigação de pagamento, apenas de eximindo dela com o pagamento

das referidas custas.

Todavia, existindo prazo para que a parte vencedora proceda à interpelação para

reembolso das custas de parte, não existe expressamente um prazo estipulado no RCP para

que a parte vencida proceda ao referido pagamento. Desta forma, havendo uma lacuna na

lei, por omissão da estipulação de prazo para pagamento das custas de parte, é importante

preencher a referida lacuna.

Ora, recorrendo ao art.º 31.º, n.º 1, do RCP215, estabelece-se como prazo de 10 dias

para que a parte vencida proceda ao pagamento das custas judiciais e, por outro lado,

214 Considerado um prazo manifestamente curto, comparado com o anterior Código das Custas

Judiciais, em que previa um prazo de sessenta dias para a interpelação do credor ao devedor das custas de

parte, nos termos do seu art.º 33.º-A, n.º 1. 215 Redacção do art.º 31.º, n.º 1, do RCP: «A conta é sempre notificada ao Ministério Público, aos

mandatários, ao agente de execução e ao administrador de insolvência, quando os haja, ou às próprias partes

85

igualmente o prazo de 10 dias é concedido à parte para que proceda ao pagamento da nota

de forma voluntária, nos termos do art.º 28.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009216. Desta

forma, será de concluir favoravelmente pela aplicação destes normativos, com o intuito de

preencher a lacuna criada pelo legislador português e estabelecendo-se assim um prazo de

10 dias para pagamento das custas de parte, sob pena de a parte vencida entrar em situação

de mora. Caso ainda assim se questionasse a aplicabilidade destes normativos, sempre se

aplicaria o art.º 149.º, do CPC, o qual estabelece a regra geral de que «é de dez dias o prazo

para as partes requererem qualquer acto ou diligência, deduzirem incidentes ou exercerem

qualquer outro poder processual». Isto porque, tratando-se de uma obrigação de

pagamento, pela parte vencida, a mesma possui o prazo de 10 dias para exercer um

verdadeiro poder processual que será o do eximir-se da obrigação de pagamento das custas

de parte.

Por sua vez, não sendo do interesse ou não podendo de todo a parte vencida proceder

ao pagamento das custas de parte na sua totalidade, não se prevê qualquer tipo de

facilidade no referido pagamento das custas de parte, o que configura novamente uma

situação de lacuna na lei que necessita de ser corrigida. Deste modo, recorrendo de novo às

regras das custas processuais, através do preceituado art.º 33.º, n.º 1, do RCP217, prevê-se

que se possa recorrer ao pagamento das mesmas em prestações, mediante requerimento

devidamente fundamentado ao Tribunal. Entendendo o mesmo que o referido pagamento

pode ser efectuado em prestações, atender-se-á ao agravamento de 5% das custas e ao

seguinte: tratando-se de uma pessoa singular, a mesma procede ao pagamento de seis

prestações mensais sucessivas, não inferiores a 0,5 UC, ou seja, 62,50 Euros, caso o valor

total não seja superior à quantia correspondente a 12 UC, ou seja, 1.224,00 Euros, ou a

quantia de 20 UC, ou seja, de 2.040,00 Euros, caso se trate de uma pessoa colectiva; caso o

quando não haja mandatário, e à parte responsável pelo pagamento, para que, no prazo de 10 dias, peçam a

reforma, reclamem da conta ou efectuem o pagamento.» 216 Redacção do art.º 28.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009: «Sem prejuízo do disposto nos números

seguintes, o prazo de pagamento voluntário da conta é de 10 dias, a que acresce a seguinte dilação: a) Cinco

dias, se o responsável residir no continente ou numa das ilhas das Regiões Autónomas e naquele ou nestas

correr o processo; b) 15 dias, se residir no continente e o processo correr numa das ilhas das Regiões

Autónomas, ou se residir numa destas e o processo correr noutra ilha ou no continente; c) 30 dias se residir

no estrangeiro.» 217 Redacção do art.º 33.º, n.º 1, do RCP: «Quando o valor a pagar seja igual ou superior a 3 UC, o

responsável pode requerer, fundamentadamente, o pagamento das custas em prestações, agravadas de 5 %, de

acordo com as seguintes regras: a) O pagamento é feito em até seis prestações mensais sucessivas, não

inferiores a 0,5 UC, se o valor total não ultrapassar a quantia de 12 UC, quando se trate de pessoa singular,

ou a quantia de 20 UC, tratando-se de pessoa colectiva; b) O pagamento é feito em até 12 prestações mensais

sucessivas, não inferiores a 1 UC, quando sejam ultrapassados os valores referidos na alínea anterior.»

86

valor total seja superior aos anteriormente mencionados, haverá lugar ao pagamento em 12

prestações mensais sucessivas, não podendo as mesmas ser inferiores a 1 UC, ou seja,

102,00 Euros. Entende-se, portanto, que a mesma regra se aplica às custas de parte,

permitindo-se ao devedor que efectue o pagamento das mesmas de forma prestacional e

não gerando para o mesmo uma situação de limitação económica na sua vida pessoal.

14.4. A reclamação da nota de custas de parte

Não sendo diferente do que se tem vindo a constatar, novamente o legislador não

previu qualquer norma no RCP relativa à reclamação das custas de parte. Todavia, incluiu

essa matéria na Portaria n.º 419-A/2009, no seu art.º 33.º218, proporcionando ao devedor

das custas de parte a reclamação da nota discriminativa e justificativa.

Desta forma, estatui o referido art.º 33.º, n.º 1, da mencionada Portaria que o devedor

das custas de parte deverá proceder à reclamação da nota de custas de parte, devidamente

fundamentada, no prazo de 10 dias a contar da notificação do credor para pagamento das

mesmas. Por sua vez, segundo o mesmo artigo, sendo a referida reclamação dirigida aos

autos, deverá o Juiz decidir sobre a mesma igualmente num prazo de 10 dias.

De notar por fim que, será importante, de acordo com o art.º 33.º, n.º 4, da Portaria

n.º 419-A/2009, impor-se que sejam aplicáveis subsidiariamente as normas relativas à

reclamação da conta das custas judiciais, recorrendo-se para o efeito ao art.º 31.º, do RCP.

14.4.1. A inconstitucionalidade da obrigação de depósito prévio da totalidade

das custas de parte

De acordo com o art.º 33.º, n.º 2, da Portaria n.º 419-A/2009219, consagra-se a

obrigação de a parte vencida que pretenda reclamar da nota discriminativa e justificativa

das custas de parte proceder previamente ao depósito da totalidade dessas mesmas custas,

para que possa efectivar então o seu direito de reclamação.

218 Redacção do art.º 33.º, da Portaria n.º419-A/2009: «1 - A reclamação da nota justificativa é

apresentada no prazo de 10 dias, após notificação à contraparte, devendo ser decidida pelo juiz em igual

prazo e notificada às partes. 2 - A reclamação da nota justificativa está sujeita ao depósito da totalidade do

valor da nota. 3 - Da decisão proferida cabe recurso em um grau se o valor da nota exceder 50 UC. 4 - Para

efeitos de reclamação da nota justificativa são aplicáveis subsidiariamente, com as devidas adaptações, as

disposições relativas à reclamação da conta constantes do artigo 31.º do RCP.» 219 Redacção do art.º 33.º, n.º 2, da Portaria n.º 419-A/2009: «A reclamação da nota justificativa está

sujeita ao depósito da totalidade do valor da nota.»

87

Na versão originária da Portaria n.º 419-A/2009, no seu art.º 33.º, n.º 2, referia-se

expressamente que para o devedor poder deduzir reclamação da nota de custas de parte,

que a mesma estava sujeita ao depósito de 50% do valor da nota. No entanto, com a

entrada em vigor da Portaria n.º 82/2012, de 29 de Março, tal preceito veio a ser alterado,

impondo que para existir tal reclamação, seria então necessário o depósito da totalidade do

valor da referida nota, isto é, o dobro do valor com que se deparavam anteriormente.

Ora, nesta matéria veio suscitar-se a inconstitucionalidade do art.º 33.º, n.º 2, da

Portaria n.º 419-A/2009, reivindicando-se a violação da reserva da competência da

Assembleia da República em matéria de direitos, liberdades e garantias, resultante do art.º

165.º, n.º 1, al.ª b), em conjugação com o art.º 20.º, n.º 1, ambos da CRP. Isto porque, no

âmbito do Regulamento das Custas Processuais, não se refere qualquer aspecto quanto à

reclamação da nota de custas de parte e muito menos se efectua qualquer remissão desta

matéria para Portaria. Atenda-se que não é proibido ao legislador que o faça. Todavia,

sempre que remeta certa matéria para Portaria, não deverá a mesma restringir direitos,

liberdades e garantias dos cidadãos. Ora, sendo que na presente situação tal

obrigatoriedade restringe um direito fundamental que é o de direito e acesso à justiça,

mediante a alteração de uma Portaria e não de uma Lei ou de um Decreto-Lei que para

aquela remeta esta matéria, originou-se assim a inconstitucionalidade da obrigatoriedade

de depósito do valor total da nota de custas de parte como condicionante à reclamação do

devedor da mesma.

Desta forma, por via do Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 189/2016, de 30 de

Março, declarou-se a inconstitucionalidade do referido art.º 33.º, n.º 2, da Portaria n.º 419-

A/2009, impondo que a referida norma retornasse à sua versão originária, ou seja, que a

reclamação da nota de custas de parte estivesse condicionada ao depósito de 50% do valor

da referida nota. São os efeitos da declaração de inconstitucionalidade das normas que

tenham sido revogadas, nos termos do art.º 282.º, n.º 1, da CRP.

14.5. A obrigação e respectivo incumprimento de pagamento

Caso não se verifique o pagamento das custas de parte e havendo uma decisão

judicial condenatória em que a parte vencida esteja obrigada a reembolsar a parte

vencedora das custas de parte, bem como se verifique a correcta interpelação pelo credor

para o efeito, dever-se-á constatar que o credor possui um título executivo, de acordo com

88

o art.º 703.º, n.º 1, al.ª a), do CPC, que lhe permite instaurar um processo executivo para

cobrança do seu crédito.

No âmbito do processo executivo em que o credor tenha procedido à interpelação

para pagamento das custas de parte e cumpridas as demais formalidades, sem que o

devedor tenha procedido ao pagamento das referidas custas, o mesmo encontrar-se-á em

mora a partir do momento em que finde o prazo para o referido pagamento, de acordo com

o art.º 805.º, n.º 1, do CC220. Deste modo, inexistindo o pagamento das custas de parte pelo

devedor, haverá igualmente constituição de título executivo, nos termos dos art.os 26.º, n.º

3 e, 36.º, n.º 3221, ambos do RCP e, do art.º 607.º, n.º 6, do CPC, e à semelhança do que se

sucede com a nota discriminativa e justificativa do agente de execução, conforme já

analisado (supra ponto 6.2.3.2.). É o que também confirma o Acórdão do Tribunal da

Relação de Lisboa, de 27.04.2017, sobre o Processo n.º 20430/12.4YYLSB-A.L1-6,

referindo que conforme «o disposto no art.º 31.º, n.º 1, da Portaria n.º 419-A/2009, de 17

de Abril, as partes que tenham direito a custas de parte devem enviar para o tribunal e para

a parte vencida a respetiva nota discriminativa e justificativa»222, sendo certo que,

verificando-se «a falta de junção aos autos de nota discriminativa e justificativa das custas

de parte, dever-se-á considerar que inexiste título executivo»223.

Todavia, restará ainda referenciar que o processo executivo para recuperação do

valor a receber a título de custas de parte deverá correr por apenso ao respectivo processo,

caso o mesmo não esteja extinto, sendo certo que, havendo já sido efectuada a extinção do

mesmo, deverá haver lugar a novo processo, nos termos dos art.os 35.º224 e 36.º, n.º 3, do

220 Redacção do art.º 805.º, n.º 1, do CC: «O devedor só fica constituído em mora depois de ter sido

judicial ou extrajudicialmente interpelado para cumprir.» 221 Redacção do art.º 36.º, n.º 3,do RCP: «Quando a parte vencedora intentar execução por custas de

parte contra o responsável por custas, aquela é apensada à execução por custas intentada pelo Ministério

Público, em qualquer estado do processo, desde que nenhuma das execuções esteja já extinta, ainda que não

estejam verificados os requisitos previstos nos artigos 709.º e 711.º do Código de Processo Civil.» 222 Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 27.04.2017, sobre o Processo n.º

20430/12.4YYLSB-A.L1-6. 223 Idem. 224 Redacção do art.º 35.º, do RCP: «1 - Não tendo sido possível obter-se o pagamento das custas,

multas e outras quantias cobradas de acordo com os artigos anteriores, é entregue certidão da liquidação da

conta de custas ao Ministério público, para efeitos executivos, quando se conclua pela existência de bens

penhoráveis. 2 - A certidão de liquidação, juntamente com a sentença transitada em julgado, constitui título

executivo quanto à totalidade das quantias aí discriminadas. 3 - Quando se trate de custas relativas a actos

avulsos que não se venham, previsivelmente, a integrar em qualquer processo, é emitida pela secretaria

certidão de liquidação autónoma, com força executiva própria, a qual serve de suporte à execução a instaurar

pelo Ministério Público. 4 - O Ministério Público apenas instaura a execução quando sejam conhecidos bens

penhoráveis do devedor que se afigurem suficientes face ao valor da execução, abstendo-se de a instaurar

quando a dívida seja de montante inferior aos custos da actividade e às despesas prováveis da execução. 5 - A

89

ambos RCP. Por sua vez, a forma de processo será a sumária, de acordo com o art.º

550.º,n.º 2, al.ª a), do CPC, atendendo que a execução por custas de parte se funda em

decisão judicial.

De ressalvar, conclusivamente, que o único aspecto a referir será o de que pertence

ao credor a legitimidade para instaurar a referida execução pelas custas de parte, uma vez

que o Ministério Público não terá competência para tal, salvo se encontre em representação

do Estado. Desta forma, «o Regulamento das Custas Processuais não atribui ao Ministério

Público legitimidade para propor execução para cobrança coerciva de custas de parte, com

exceção das devidas às entidades representadas pelo Ministério Público»225.

15. A RELAÇÃO DA NOTA DE HONORÁRIOS DO AGENTE DE EXECUÇÃO E DO

SOLICITADOR COM AS CUSTAS DE PARTE

Conforme se analisou ao longo da presente dissertação, quer o agente de execução,

quer o solicitador devem ser devidamente remunerados, nos termos e nas condições já

descritas anteriormente. Por sua vez, essa remuneração deve ser paga pelo cliente, sendo

certo que, no caso do agente de execução será o exequente ou o credor reclamante ou o

excutado, consoante a situação.

Relativamente ao agente de execução, este vê a sua remuneração ser incluída nas

custas de parte a liquidar no final do processo, conforme explicita o art.º 533.º, n.º 2, al.ª c),

do CPC e o art.º 26.º, n.º 3, al.ª c), do RCP. Por outro lado, o solicitador, enquanto

mandatário de certo cliente, vê também a sua remuneração ser incluída nas custas de parte,

nos termos do art.º 533.º, n.º 2, al.ª d), do CPC e o já citado art.º 26.º, n.º 3, al.ª c), do RCP.

Ora, é certo que ambos os profissionais dependem do pagamento da nota de custas de

parte que sejam ressarcidos pelos serviços prestados. Tudo isto porque será por este meio

que o exequente ou o autor poderá receber as quantias que despendeu ao longo do

processo, incluindo essas remunerações, para ver o seu direito garantido ou ressarcido. E

execução instaurada pelo Ministério Público é uma execução especial que se rege pelo disposto no presente

artigo e, subsidiariamente, pelas disposições previstas no Código de Processo Civil para a forma sumária do

processo comum para pagamento de quantia certa. 6 - Quando, estando em curso a execução, se verifique que

o executado não possui mais bens penhoráveis e que os já penhorados não são suficientes para o pagamento

das custas, o juiz, a requerimento do Ministério Público, dispensa o concurso de credores e manda proceder à

imediata liquidação dos bens para serem pagas as custas. 7 - Verificando-se que o executado não possui bens,

é a execução imediatamente arquivada, sem prejuízo de ser retomada logo que sejam conhecidos bens seus. 8

- Compete ao Ministério Público promover a execução por custas face a devedores sediados no estrangeiro,

nos termos das disposições de direito comunitário aplicáveis, mediante a obtenção de título executivo

europeu.» 225 Centro de Estudos Judiciários, Custas (…), 2016, pp. 192.

90

será aqui que reside a relação das notas de honorários e despesas do agente de execução e

do solicitador com a nota de custas de parte: as suas remunerações encontram-se nela

incluídas.

Todavia, será de ressalvar que o agente de execução encontra-se sempre

salvaguardado pelo facto da sua remuneração sair precípua do produto da venda ou da

penhora e, por isso, não depender directamente da cobrança da nota de custas de parte,

diferentemente do solicitador.

91

CONCLUSÕES

Em primeiro lugar, cumpre enunciar desde logo a diferenciação dos dois regimes (o

do solicitador e o do agente de execução), através dos quais se percebe que estes dois

profissionais são distintos e possuem diferentes regras para apuramento dos seus

honorários, tendo o solicitador uma margem de manobra muito mais alargada do que o

agente de execução, uma vez que aquele primeiro possui os critérios já mencionados e que

deve descortinar em valores e, por seu turno, o agente de execução, é obrigado a aplicar as

tarifas constantes das mencionadas Portarias, consoante a data em que o processo

executivo tenha dado entrada no tribunal, correspondendo cada tarifa a um acto

efectivamente praticado.

No entanto, um aspecto a criticar é o desaparecimento do critério geral da moderação

e o critério das posses dos interessados, em matéria de apuramento dos honorários do

solicitador, entendendo-se desde logo que com tal desaparecimento deixa a possibilidade

destes profissionais calcularem os seus honorários sem terem em conta estes dois critérios.

No entanto, como já referi, não se deve descurar de tais critérios, uma vez que, quanto à

moderação, tal critério é o pilar de todos os outros, ou seja, impede o exagero no

apuramento dos honorários e, por outro lado, quanto ao critério das posses dos

interessados, não se deverá deixar de ter em consideração a situação económico-financeira

de determinado cliente, pois, tal desconsideração poderá levar à ruína desse indivíduo, em

face da cobrança dos honorários de montantes inesperados.

Outro aspecto a referenciar e criticar é o facto do desvanecimento da proibição de

quota litis em matéria dos honorários do solicitador. O referido preceito do EOA de 2005

(o art.º 101.º) seria essencial no EOSAE, uma vez que explicitamente proíbe que o único

critério de fixação de honorários seja o objecto da causa. Apesar dos valores deontológicos

que este tema acarreta e sem descurar da idoneidade do solicitador e do agente de

execução, existem sempre os indivíduos que não cumprem as regras e tal desaparecimento,

pode dar azo à prática de quota litis, dada a desregulamentação desta matéria.

No que tange aos Agentes de Execução, considero que não surgem grandes aspectos

a criticar, uma vez que com a Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto, foram barradas

quaisquer possibilidades de conluios entre estes profissionais e os mandatários,

condicionando de certa forma e consequentemente, a violação de deveres deontológicos e

obrigando agente de execução a cobrar apenas os actos que efectivamente praticou e não

92

mais que isso. A evolução verificada com as sucessivas reformas da acção executiva

vieram possibilitar também que as condições que hoje se verificam na profissão do agente

de execução sejam possíveis, bem como a importância deste não só no processo executivo,

mas também em outros actos da sua competência e que de si dependem para a

continuidade de outros processos.

Todavia, ainda relativamente aos agentes de execução, considero que a ferramenta de

elaboração da nota discriminativa e justificativa no SISAAE seria fundamental e que, por

isso, deveria a OSAE intervir no sentido disponibilizar e formar os seus associados para a

utilização correcta desta ferramenta que seria útil em termos de transparência, de tempo

(uma vez que todos os dados poderão ser registados ao longo do tempo e automaticamente

apareceriam na referida nota) e, acima de tudo, uma questão de modernização da profissão

e dos meios ao seu dispor.

De todo o modo, no que toca às garantias das remunerações do agente de execução e

do solicitador, é minha opinião que aquele primeiro se encontra bem mais garantido do que

o solicitador, desde logo porque poderá ter em mãos título executivo se a sua nota não for

reclamada (o que se justifica dado que a mesma foi originada pela tramitação de um

processo judicial) ao passo que, o solicitador, apesar de ter direito de retenção, terá sempre

que intentar uma acção de honorários. E, para além disso, refira-se que o solicitador, apesar

de possuir esse direito de retenção, tal poderá ser inútil se o mesmo não possuir valores,

documentos ou objectos do seu cliente que lhe façam efectivar tal direito, ficando apenas

dependente do sucesso da acção de honorários.

De louvar será também o novo Regulamento de Laudos ao incluir o agente de

execução apesar de grande parte desses laudos se reportarem aos solicitadores, também

devido à liberdade que possuem para fixar os seus honorários, ao contrário do agente de

execução, sendo que a este apenas se emitirão laudos no sentido de verificar a correcta

aplicação do cálculo da remuneração do agente de execução com base nas respectivas

tarifas. De ressalvar ainda que, com o novo Regulamento de Laudos, passa a estar

regulamentado especificamente o respectivo processo, isto é, a tramitação do processo para

a emissão de laudo, processo esse que com o anterior Regulamento de Laudos sobre

Honorários dos Solicitadores não se encontrava previsto e, em outros aspectos, encontrava-

se desactualizado.

93

Já no que se refere às custas de parte, apesar de algumas lacunas e omissões,

considero que o sistema de cobrança das mesmas se afigura garantido. Sendo uma matéria

que condiciona directamente o pagamento dos honorários do solicitador, embora não afecte

directamente o agente de execução, é forma que existe para que o cliente possa ser

reembolsado as despesas que obteve com ambos, se for o caso, e proceder ao pagamento

dos honorários e despesas daquele primeiro.

Em suma, será de ter em conta o avanço na transformação da Câmara dos

Solicitadores para a Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução, considerando no

entanto que muitas lacunas se encontram por desmistificar, nomeadamente, as referidas na

presente conclusão em matéria de critérios dos honorários do solicitador principalmente.

94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Obras:

António Arnaut, Estatuto da Ordem do Avogados Anotado, Coimbra, 2012

Benjamim Silva Rodrigues, Esboço de um Curso de Deontologia e História da

Solicitadoria (contributo para a Fundamentação de um Novo Paradigma de Exercício da

Solicitadoria no Umbral do Século XXI) – Versão Provisória 7.0, Coimbra, Secção de

Textos, 2013-2014

Fernando Sousa Magalhães, Estatuto da Ordem dos Advogados anotado e

comentado, Coimbra, 2016

Luís Menezes Leitão, Estatuto da Ordem dos Advogados anotado e legislação e

regulamentos complementares, Coimbra, 2016

Orlando Guedes da Costa, Direito Profissional do Advogado, Noções

Complementares, Coimbra, 2008

Artigos:

Centro de Estudos Judiciários, Custas Processuais – Guia Prático, 2016

Colégio de Especialidade de Agentes de Execução da Câmara dos Solicitadores,

Reforma do Processo Civil – Análise de impactos na atividade do AE, Versão 1, Setembro

de 2013

Direcção-Geral da Política de Justiça, Comissão para a Eficácia das Execuções,

Manual de Perguntas e Respostas sobre a Acção Executiva, 2009

Joel Timóteo Ramos Pereira (Juiz de Direito de Círculo Juiz Secretário do Conselho

Superior da Magistratura), A conta no processo executivo - Breves Nótulas da

comunicação - SEMINÁRIO: O Novo Paradigma do Processo Civil, Espinho, 2013

José Henrique Delgado de Carvalho, Juiz de Direito, Acção Executiva para

Pagamento de Quantia Certa, Aveiro, 2014

Miguel de Lucena e Leme Côrte-Real, Custas de Parte, Porto, 2011

Acórdãos:

Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra de 19.06.2007, sobre o Processo

224/04.1TBCNT-E.C1

95

Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, de 03.11.2015, sobre o Processo n.º

1007/13.3TBCBR-C.C1

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 06.05.2010, sobre o Processo n.º

30011-D/1994.L1-2

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 17.06.2010, sobre o Processo n.º

2788/03.8TBBR-A.L16

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 27.04.2017, sobre o Processo n.º

20430/12.4YYLSB-A.L1-6

Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 02.06.216, sobre o Processo n.º

5442/13.9TBMAI-B.P1

Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 10.01.2017, sobre o Processo n.º

15955/15.2T8PRT.P1

Acórdão n.º 189/2016, do Tribunal Constitucional

Acórdão n.º 277/2016, do Tribunal Constitucional

Fontes electrónicas:

Aquilina Ribeiro, Relação do Porto julga inconstitucional a remuneração variável

do Agente de Execução sem preponderância sobre o seu grau de intervenção na lide, in

https://pt.linkedin.com/pulse/rela%C3%A7%C3%A3o-do-porto-declara-inconstitucional-

remunera%C3%A7%C3%A3o-ribeiro, acedido e consultado em 11.09.2017

Deliberação do Conselho Superior da Câmara dos Solicitadores, de 11.05.200, in

http://solicitador.net/uploads/cms_page_media/598/conselho_superior_deliberacao_11_5_

2007.pdf, acedido e consultado em 06.09.2017

Direcção-Geral da Política de Justiça, Medidas para desbloquear a reforma da acção

executiva (2005), in http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-

accao/2005-medidas-para/, acedido e consultado em 13.09.2017

Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ), Reforma da Acção Executiva (2003) –

Linhas Orientadoras – Principais alterações quanto à organização – Agente de Execução,

in http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-accao/rae-

caracterizacao/, acedido e consultado em 10.09.2017

Ministério da Justiça – Gabinete de Política Legislativa e Planeamento, Reforma da

Acção Executiva – Relatório de Avaliação Preliminar, de Junho de 2005, in

96

http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-

daaccao/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-accao/relatorio-

deavaliacao/downloadFile/file/003%20%20Relat%F3rio%20de%20Avalia%E7%E3o%2Pr

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09, acedido e consultado em 13.09.2017

Ministério da Justiça, 17 Medidas para o Desbloqueamento da Reforma da Acção

Executiva, de Julho de 2005, in http://www.dgpj.mj.pt/sections/politica-

legislativa/anexos/reforma-da-accao/sections/politica-legislativa/anexos/reforma-da-

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acedido e consultado em 13.09.2017

Legislação:

Código Civil

Código Deontológico dos Solicitadores e dos Agentes de Execução

Código de Processo Civil

Constituição da República Portuguesa

Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março

Decreto-Lei n.º 66/2015, de 29 de Abril

Despacho n.º 12624/2015, de 09 de Novembro (Entidade Gestora da Plataforma de

Leilão Eletrónico - Câmara dos Solicitadores)

Estatuto da Câmara dos Solicitadores (Decreto-Lei n.º 88/2003, de 26 de Abril) (*)

Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução (Lei n.º 154/2015,

de 14 de Setembro)

Estatuto da Ordem dos Advogados de 2005 (Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro)

Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho (Lei do Acesso ao Direito e aos Tribunais) (*)

Lei n.º 25/2008, de 5 de Junho (Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do

Financiamento ao Terrorismo) (*)

Lei n.º 77/2013, de 21 de Novembro (Lei da Comissão para o Acompanhamento Dos

Auxiliares da Justiça (CAAJ))

Lei n.º 62/2013, de 26 de Agosto (Lei da Organização do Sistema Judiciário) (*)

Portaria n.º 708/2003, de 4 de Agosto (Remuneração do Solicitador de Execução)

97

Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março (Regulamenta vários aspectos das Acções

Executivas Cíveis)

Portaria n.º 419-A/2009, de 17 de Abril (Custas Processuais, Multas e Outras

Penalidades) (*)

Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto (Regulamenta vários aspectos das Acções

Executivas Cíveis) (*)

Regulamento das Custas Processuais (Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro)

(*)

Regulamento n.º 7/2006, de 11 de Janeiro (Regulamento dos Laudos sobre

Honorários de Solicitadores)

Regulamento n.º 527/2014, 27 de Novembro (Regulamento de Organização Interna

da CAAJ)

Regulamento n.º 330/2017, 21 de Junho (Regulamento de Laudos)

Legenda: (*) – Versão consolidada

98

ÍNDICE

RESUMO .............................................................................................................................. 4

ABSTRACT ......................................................................................................................... 5

AGRADECIMENTOS ........................................................................................................ 6

SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 9

CAPÍTULO I. ASPECTOS GERAIS E ENQUADRAMENTO LEGAL .................... 11

1. DISTINÇÃO ENTRE HONORÁRIOS, TARIFAS E DESPESAS ............................... 11

2. DISPOSIÇÕES LEGAIS E DEONTOLÓGICAS REGULADORAS DOS

HONORÁRIOS DO AGENTE DE EXECUÇÃO .............................................................. 12

2.1. O Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução ............... 12

2.2. As Portarias ....................................................................................................... 13

2.2.1. Portaria n.º 708/2003, de 4 de Agosto ...................................................... 14

2.2.2. Portaria n.º 331-B/2009, de 30 de Março ................................................. 19

2.2.3. Portaria n.º 282/2013, de 29 de Agosto .................................................... 25

2.3. A remuneração adicional em caso de acordo entre as partes ............................ 29

3. DISPOSIÇÕES DEONTOLÓGICAS REGULADORAS DOS HONORÁRIOS DO

SOLICITADOR .................................................................................................................. 33

3.1. O Estatuto da Ordem dos Solicitadores e dos Agentes de Execução ............... 33

3.2. Critérios densificadores do critério geral da moderação: o art.º 111.º, n.º 1, do

ECS e o art.º 149.º, n.º 3, do EOSAE ......................................................................... 34

3.2.1. Critérios constantes do Estatuto da Câmara dos Solicitadores e do

Estatuto da Ordem dos Solicitadores e Agentes de Execução ............................ 35

3.2.1.1. O critério temporal – tempo efectivamente gasto ou despendido .... 35

3.2.1.2. O critério da dificuldade ou complexidade do assunto .................... 36

3.2.1.3. O critério da importância do serviço prestado ................................. 37

3.2.1.4. O critério finalístico ou do resultado ................................................ 37

99

3.2.1.5. O critério da urgência do serviço ..................................................... 37

3.2.2. Critérios reformulados (e abarcados) pelo Estatuto da Ordem dos

Solicitadores e Agentes de Execução .................................................................. 38

3.2.2.1. O critério dos custos a que o solicitador incorre para a prestação do

serviço ......................................................................................................... 38

3.2.2.2. O critério dos demais usos profissionais .......................................... 38

3.2.2.3. O critério das responsabilidades assumidas ..................................... 39

3.2.3. O novo critério com o Estatuto da Ordem dos Solicitadores e Agentes de

Execução ............................................................................................................. 39

3.2.3.1. O critério do grau de criatividade intelectual da sua prestação ........ 39

3.2.4. O critério do não aniquilamento do mínimo económico-financeiro

necessário à subsistência de uma vida condigna com a eminente dignidade da

pessoa humana …….. ......................................................................................... 40

3.3. Critério da moderação com o EOSAE: desaparecimento ou permanência do

critério da riqueza ou situação económico-financeira dos interessados? ................... 41

4. MODALIDADES DE HONORÁRIOS .......................................................................... 41

4.1. Para o Solicitador .............................................................................................. 41

4.1.1. O ajuste prévio (regime excepcional) ........................................................ 41

4.1.2. O acerto a final .......................................................................................... 43

4.1.3. A proibição de quota litis .......................................................................... 44

4.2. Para o Agente de Execução .............................................................................. 47

5. DIFERENCIAÇÃO DOS REGIMES DO SOLICITADOR E DO AGENTE DE

EXECUÇÃO QUANTO AOS HONORÁRIOS ................................................................. 48

CAPÍTULO II. AS PROVISÕES POR CONTA DE DESPESAS E HONORÁRIOS 49

CAPÍTULO III. A LIQUIDAÇÃO E A GARANTIA DOS HONORÁRIOS .............. 52

6. MODALIDADES DE LIQUIDAÇÃO E A GARANTIA DOS HONORÁRIOS ......... 52

6.1. Do Solicitador: o Direito de Retenção e a Acção de Honorários ..................... 53

100

6.2. Do Agente de Execução.................................................................................... 56

6.2.1. A responsabilidade pelo pagamento dos honorários ................................ 56

6.2.1.1. O caso especial de dispensa de depósito do preço na adjudicação ou

venda ......................................................................................................... 58

6.2.1.2. Breve esclarecimento quanto ao pagamento voluntário havendo

apoio judiciário para o executado ................................................................... 59

6.2.2. A elaboração da nota discriminativa e justificativa do Agente de

Execução, o apuramento da responsabilidade do executado e a respectiva

liquidação ........................................................................................................... 61

6.2.3. As garantias processuais .................................................................................. 63

6.2.3.1. A reclamação da Nota de Discriminativa e Justificativa ................. 64

6.2.3.2. A Nota Discriminativa e Justificativa como título executivo .......... 65

CAPÍTULO IV. OS LAUDOS DOS HONORÁRIOS .................................................... 68

7. NOÇÃO DE LAUDOS ................................................................................................... 68

8. REQUISITOS DA NOTA DE HONORÁRIOS ............................................................. 70

9. COMPETÊNCIA PARA EMISSÃO DE LAUDOS E LEGITIMIDADE PARA OS

REQUERER ........................................................................................................................ 72

10. CONDICIONALISMOS NO PEDIDO DE LAUDOS ................................................ 73

11. O PROCESSO DE LAUDO ......................................................................................... 74

CAPÍTULO V. AS CUSTAS DE PARTE: BREVES REFERÊNCIAS QUANTO AO

REGIME E A RELAÇÃO COM OS HONORÁRIOS DO AGENTE DE

EXECUÇÃO E DO SOLICITADOR .............................................................................. 77

12. AS CUSTAS PROCESSUAIS: DEFINIÇÃO DE CUSTAS PROCESSUAIS E

DIFERENCIAÇÃO ENTRE TAXA DE JUSTIÇA, ENCARGOS E CUSTAS DE PARTE.

…… ..................................................................................................................................... 77

13. O DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA E OS PRINCÍPIOS DA

PROPORCIONALIDADE E DA IGUALDADE ............................................................... 80

101

14. BREVES NOTAS QUANTO AO REGIME JURÍDICO DAS CUSTAS DE PATE: A

PORTARIA 419-A/2009, DE 17 DE ABRIL ..................................................................... 81

14.1. O direito do exequente ou autor ao reembolso ................................................. 82

14.2. A interpelação e prazo para pagamento ............................................................ 83

14.3. O prazo e o modo para pagamento ................................................................... 84

14.4. A reclamação da nota de custas de parte .......................................................... 86

14.4.1.A inconstitucionalidade da obrigação de depósito prévio da totalidade

das custas de parte .............................................................................................. 86

14.5. A obrigação e respectivo incumprimento de pagamento .................................. 87

15. A RELAÇÃO DA NOTA DE HONORÁRIOS DO AGENTE DE EXECUÇÃO E DO

SOLICITADOR COM AS CUSTAS DE PARTE .............................................................. 89

CONCLUSÕES .................................................................................................................. 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 94

ÍNDICE ............................................................................................................................... 98