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4 OBSERVAÇÃO

MEDIUNIDADE E DISCIPLINA

Aprenda como ser um bom médium

6 MEDIUNIDADE

PSICOFONIA CONSCIENTE

O socorro espiritual

10 REFLEXÃO

O MERECIMENTO

Compreendendo as aflições da vida

12 CHICO

CONTROLE DOUTRINÁRIO DAS PUBLICAÇÕES

O cuidado de Chico com as obras mediúnicas

14 CAPASÓCRATES, PLATÃO E O ESPIRITISMO

Filosofia e Religião compartilhando o mesmo

pensamento

22 ESTUDO

ESPIRITISMO NA REVISTA ÉPOCA

O Espiritismo cada vez mais presente

25 ESCLARECIMENTO

SUPER-MÉDIUNS

Mediunidade não é misticismo

27 COM TODAS AS LETRAS

NÃO ERRE NA CONCORDÂNCIA DE “A GENTE”Importantes dicas da nossa língua portuguesa

SUMÁRIO

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Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”Rua Luís Silvério, 120 – Vila Marieta 13042-010 Campinas/SPCNPJ: 01.990.042/0001-80 Inscr. Estadual: 244.933.991.112

Assinaturas

Assinatura anual: R$45,00(Exterior: US$50,00)

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EDITORIAL

Edição

Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” – Depto. Editorial

Equipe Editorial

Adriana Levantesi

Leandro Camargo

Rodrigo Lobo

Sandro Cosso

Thais Cândida

Zilda Nascimento

Jornalista Responsável

Renata Levantesi (Mtb 28.765)

Projeto Gráfico

Fernanda Berquó Spina

Revisão

Equipe FidelidadEspírita

Administração e Comércio

Elizabeth Cristina S. Silva

Apoio Cultural

Braga Produtos Adesivos

Impressão

Citygráfica

O Centro de Estudos Espíritas

“Nosso Lar” responsabiliza-se

doutrinariamente pelos artigos

publicados nesta revista.

[email protected] (19) 3233-5596

Os essênios, Sócrates e Platão

Do fato de haver Jesus conhecido a seita dos essênios, fora errôneo con-cluir-se que a sua doutrina hauriu-a ele na dessa seita e que, se houvera

vivido noutro meio, teria professado outros princípios. As grandes idéias jamaisirrompem de súbito. As que assentam sobre a verdade sempre têm precursores quelhes preparam parcialmente os caminhos. Depois, em chegando o tempo, enviaDeus um homem com a missão de resumir, coordenar e completar os elementosesparsos, de reuni-los em corpo de doutrina.

Desse modo, não surgindo bruscamente, a idéia, ao aparecer, encontra espíri-tos dispostos a aceitá-la. Tal o que se deu com a idéia cristã, que foi pressentidamuitos séculos antes de Jesus e dos essênios, tendo por principais precursoresSócrates e Platão.

Sócrates, como o Cristo, nada escreveu, ou, pelo menos, nenhum escrito dei-xou. Como o Cristo, teve a morte dos criminosos, vítima do fanatismo, por haveratacado as crenças que encontrara e colocado a virtude real acima da hipocrisia edo simulacro das formas; por haver, numa palavra, combatido os preconceitosreligiosos. Do mesmo modo que Jesus, a quem os fariseus acusavam de estar cor-rompendo o povo com os ensinamentos que lhe ministrava, também ele foi acusa-do, pelos fariseus do seu tempo, visto que sempre os houve em todas as épocas, porproclamar o dogma da unidade de Deus, da imortalidade da alma e da vidafutura. Assim como a doutrina de Jesus só a conhecemos pelo que escreveram seusdiscípulos, da de Sócrates só temos conhecimento pelos escritos de seu discípuloPlatão. Julgamos conveniente resumir aqui os pontos de maior relevo, para mos-trar a concordância deles com os princípios do Cristianismo. (ver matéria de capa)

Aos que considerarem esse paralelo uma profanação e pretendam que nãopode haver paridade entre a doutrina de um pagão e a do Cristo, diremos que nãoera pagã a de Sócrates, pois que objetivava combater o paganismo; que a de Jesus,mais completa e mais depurada do que aquela, nada tem que perder com a com-paração; que a grandeza da missão divina do Cristo não pode ser diminuída; que,ao demais, trata-se de um fato da História, que a ninguém será possível apagar. Ohomem há chegado a um ponto em que a luz emerge por si mesma de sob oalqueire. Ele se acha maduro bastante para encará-la de frente; tanto pior para osque não ousem abrir os olhos. Chegou o tempo de se considerarem as coisas demodo amplo e elevado, não mais do ponto de vista mesquinho e acanhado dosinteresses de seitas e de castas.

Além disso, estas citações provarão que, se Sócrates e Platão pressentiram aidéia cristã, em seus escritos também se nos deparam os princípios fundamentaisdo Espiritismo.

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Introdução item IV

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

OBSERVAÇÃO

Mediunidade e Disciplinada Redação

Ser médium não significa ser fantochenas mãos dos desencarnados

Inúmeros são os desafios daqueles que assumiram a sea-ra mediúnica.

Contrariando o senso comumque, freqüentemente, imagina privi-légio e facilidades para o seu porta-

dor, a mediunidade é mecanismo deprogresso que necessita de cuidadosespeciais.

As obras codificadas por AllanKardec figuram como valoroso ma-nual de instruções a todos os que

almejam conhecer a faculdade deintercambiar os espíritosdesencarnados.

Entretanto, o exercíciomediúnico, por vezes, apresenta pro-blemas, impropriedades e exagerospor parte de adeptos pouco esclare-cidos.

A pretexto de nossa instrução,recordemos alguns conceitos espíri-tas:

a) Mediunidade não é dom (nosentido de privilégio) é faculdadehumana;

b) Não é mística ou supranormalé capacidade natural do homem;

c) Do ponto de vista espírita nãoé a mediunidade que se desenvolve,mas, o médium que se educa.

d) A comunicação espiritual sedá de pensamento a pensamento. Oespírito não entra no corpo do mé-

dium como um líquido entra numagarrafa.

e) O espírito comunicante estásempre sujeito ao controle mentaldo médium, mesmo na faculdadeinconsciente.

f) A reunião mediúnica é umambiente sagrado em que os inte-grantes desejam ligar-se mental emoralmente às esferas superioresnum clima de paz e equilíbrio.

g) Os bons espíritos necessitamde médiuns equilibrados para alcan-çarem êxito no seu mister.

h) Médiuns que, comumente,gritam, agridem, lançam-se ao solo,batem na mesa, carecem de ajudapara aprenderem a se controlar.

i) É dever dos médiuns, no aten-dimento às entidades necessitadas,oferecer aos amigos espirituais umbom controle dos espíritoscomunicantes para que os necessi-tados alcancem o equilíbrio.

j) Ser médium não significa serfantoche nas mãos dosdesencarnados.

h) O medianeiro deve exercer se-vero controle sobre as entidadescomunicantes. Esse controle virápela seriedade do porta-voz, conhe-cimento doutrinário, exercício com-prometido com a verdade e prote-ção espiritual angariada pelo esfor-ço no campo do bem.

Encontram-se, muita vez, mé-

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Julho 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 5ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

OBSERVAÇÃO

diuns escandalosos, exagerando ascomunicações recebidas. Na maio-ria das vezes, porém, não fazem pormal. Vejamos algumas alternativasque, em princípio, explicam essapostura:

a) Querem demonstrar que, defato, estão envolvidos por espíritose, para isso, exageram na transmis-são do pensamento dodesencarnado;

b) Entregam-se, demasiadamen-te, às vibrações e ou pensamentosdo comunicante esquecendo-se davigilância e do auto-controle;

c) Não estão suficientementealertados sobre a naturalidade dotranse mediúnico e desejam impri-mir um sentido místico às comuni-cações;

d) Aprenderam, erroneamente,que bom médium é o que oferececomunicações difíceis, violentas, es-quecidos de que a disciplina carac-teriza os melhores intérpretes.

É verdade que, em determinadoscasos, algumas comunicações sãoagitadas e sofredoras, exigindo dosmédiuns esforço incomum no con-trole dos desencarnados. Nada demais, a tarefa do médium é auxiliaro comunicante e não se apavorar ouentregar-se ao desequilíbrio do espí-rito.

Compreensível, portanto, quan-do, por vezes, alguns atendimentostornam-se mais ou menos agitados,que o médium ofereça maior expan-são ao pensamento do espírito, mas,mesmo assim, deve estar vigilantepara evitar os abusos.

O problema se apresenta quan-do esse desequilíbrio se torna habi-tual no médium. Quando comuni-

cações “difíceis” caracterizam-nocomo médium especial. Especial emque? Em desequilíbrio?

Toda Casa Espírita presa pormedianeiros que saibam se concen-trar e desconcentrar, que aprende-ram, por estudo e dedicação, a acal-mar os comunicantes com seus pró-prios pensamentos de paz e harmo-nia interessando-se pelo bem estardo comunicante e pela seriedade esimplicidade de nossas reuniões deintercâmbio.

Fazemos votos de que os mé-diuns que trabalham em nome doEspiritismo se aprimorem cada vezmais, a fim de facilitarmos a atua-ção dos bons espíritos. Que tenhamboa vontade, ânimo e, principal-mente, coragem para atuarem, sem-pre, em nome da verdade!

Nas páginas seguintes apre-sentaremos, referente ao nosso as-sunto, excelente texto do espíritode André Luiz; pela beleza e pro-fundidade dos ensinos, convida-mos o leitor à recordação de pre-ciosa lição registrada na obra: Nos

Domínios da Mediunidade. Cap. VIMediunidade Consciente. �

Fonte:

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Se-

gunda parte cap. XVII - XIX e XX.

Toda Casa Espírita presa pormedianeiros que aprenderam a

acalmar os comunicantes

Julho 2006 | FidelidadESPÍRITA

5ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

MEDIUNIDADE

Psicofonia Consciente

... sintonizou com ele, a ponto de retê-lo junto de si com aflições e lágrimas

por André Luiz /Chico Xavier

Desdobravam-se os servi-ços da casa, harmonio-samente.

Três guardas espirituais entraramna sala, conduzindo infeliz irmão aosocorro do grupo.

Era infortunado solteirãodesencarnado que não guardavaconsciência da própria situação.

Incapaz de enxergar os vigilantesque o traziam, caminhava à maneirade um surdo-cego, impelido por

forças que não conseguia identificar.- É um desventurado obsessor,

que acabam de remover do ambien-te a que, desde muito tempo, se ajus-ta – informou Áulus, compadecido.– Desencarnou em plena vitalidadeorgânica, depois de extenuar-se emfestiva loucura. Letal intoxicaçãocadaverizou-lhe o corpo, quandonão possuía o menor sinal de habi-litação para conchegar-se às verdadesdo espírito.

E como quem já conhecia as par-ticularidades da prestação de socor-ro que, decerto, fora antecipada-mente preparada, continuou expli-cando:

- Reparem. É alguém a movimen-tar-se nas trevas de si mesmo, trazi-do ao recinto sem saber o rumo to-mado pelos próprios pés, comoqualquer alienado mental em esta-do grave. Desenfaixando-se da vestede carne, com pensamento enovela-do à paixão por irmã nossa, hojetorturada enferma que sintonizoucom ele, a ponto de retê-lo juntode si com aflições e lágrimas, pas-sou a vampirizar-lhe o corpo. A per-da do veículo físico, na deficiênciaespiritual em que se achava, deixou-o integralmente desarvorado, comonáufrago dentro da noite. Entretan-to, adaptando-se ao organismo damulher amada que passou aobsidiar, nela encontrou novo ins-trumento de sensação, vendo porseus olhos, ouvindo por seus ouvi-

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 7ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

MEDIUNIDADE

Efetivamente, apossa-se eletemporariamente do órgão vocal de

nossa amiga

dos, muitas vezes falando por sua bocae vitalizando-se com os alimentos co-muns por ela utilizados. Nessasimbiose vivem ambos, há quase cin-co anos sucessivos, contudo, agora, amoça subnutrida e perturbada acusadesequilíbrios orgânicos de vulto. Porhaver a doente solicitado nosso con-curso assistencial, somos constrangi-dos a duplo socorro. Para que se curedas fobias que presentemente a assal-tam como reflexos da mente dele, quese vê apavorado diante das realidadesdo Espírito, é necessário o afastamen-to dos fluidos que a envolvem, assimcomo a coluna, abalada pelo abraçoconstringente da hera, reclama limpe-za em favor do reajuste.

Nesse ínterim, os condutores, obe-decendo às determinações deClementino, localizaram o sofredorao lado de Dona Eugênia.

O mentor da casa aproximou-sedela e aplicou-lhe forças magnéticassobre o córtex cerebral, depois dearrojar vários feixes de raios lumi-nosos sobre extensa região da glote.

Notamos que Eugênia-alma afas-tou-se do corpo, mantendo-se jun-to dele, à distância de alguns centí-metros, enquanto que, amparadopelos amigos que o assistiam, o visi-tante sentava-se rente, inclinando-sesobre o equipamento mediúnico aoqual se justapunha, à maneira dealguém a debruçar-se numa janela.

Ante o quadro, recordei as ope-rações do mundo vegetal, em queuma planta se desenvolve à custa deoutra, e compreendi que aquela as-sociação poderia ser comparada asutil processo de enxertianeuropsíquica.

Suspiros de alívio desprenderam-se do tórax mediúnico que, por ins-tantes, se mostrara algo agitado.

Observei que leves fios brilhan-tes ligavam a fronte de Eugênia, des-ligada do veículo físico, ao cérebroda entidade comunicante.

Porque eu lhe dirigisse um olharde interrogação e estranheza, Áulusexplicou, prestimoso:

- É o fenômeno da psicofoniaconsciente ou trabalho dos médiunsfalantes. Embora senhoreando asforças de Eugênia, o hóspede enfer-mo do nosso plano permanece con-solado por ela, a quem se imana pelacorrente nervosa, através da qualestará nossa irmã informada de to-das as palavras que ele mentalize epretenda dizer. Efetivamente apos-sa-se ele temporariamente do órgãovocal de nossa amiga, apropriando-se de seu mundo sensório, conse-guindo enxergar, ouvir e raciocinar

com algum equilíbrio, por intermé-dio das energias dela, mas Eugêniacomanda, firme, as rédeas da pró-pria vontade, agindo qual se fosseenfermeira concordando com oscaprichos de um doente, no objeti-vo de auxiliá-lo. Esse capricho, po-rém, deve ser limitado, porque, cons-ciente de todas as intenções do com-panheiro infortunado a quem em-presta o seu carro físico, nossa ami-ga reserva-se o direito de corrigi-loem qualquer inconveniência. Pelacorrente nervosa, conhecer-lhe-á aspalavras na formação, apreciando-aspreviamente, de vez que os impul-sos mentais dele lhe percutem so-bre o pensamento como verdadei-ras marteladas. Pode, assim, frustrar-lhe qualquer abuso, fiscalizando-lheos propósitos e expressões, porque�

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

ESCLARECIMENTO

O sofredor, ao contato das forçasnervosas da médium, revive ospróprios sentidos

se trata de uma entidade que lhe éinferior, pela perturbação e pelo so-frimento em que se encontra, e acujo nível não deve arremessar-se, sequiser ser-lhe útil. O Espírito emturvação é um alienado mental, re-quisitando auxílio. Nas sessões decaridade, qual a que presenciamos,o primeiro socorrista é o médiumque o percebe, mas, se esse socorristacai no padrão vibratório do necessi-tado que lhe roga serviço, há poucaesperança no amparo eficiente. Omédium, pois, quando integradonas responsabilidades que esposa, temo dever de colaborar na preservação

da ordem e da responsabilidade naobra de assistência aos desencarnados,permitindo-lhes a livre manifestaçãonão colida com a harmonia necessá-ria ao conjunto e com a dignidadeimprescindível ao recinto.

Então – alegou Hilário -, nessestrabalhos o médium nunca se man-tém a longa distância do corpo...

- Sim, sempre que o esforço serefira a entidades em desajuste, omedianeiro não deve ausentar-se de-masiado... com um demente emcasa, o afastamento é perigoso, masse nosso lar está custodiado poramigos cônscios de si, podemosexcursionar até muito longe, por-quanto o nosso domicílio demorar-se-á guardado com segurança. Noconcurso aos irmãos desequilibra-dos, nossa presença é imperativo dosmais lógicos.

Fitou Eugênia preocupada e vi-gilante, ao pé do enfermo que co-meçava a falar, e sentenciou:

- Se preciso, nossa amiga poderáretomar o próprio corpo numátimo. Acham-se ambos num con-sórcio momentâneo, em que ocomunicante é a ação, mas no quala médium personifica a vontade. Emtodos os campos de trabalho, é na-tural que o superior seja responsá-vel pela direção do inferior.

O visitante passou a destra pelaface num gesto de alívio e bradou,transformado:

- Vejo! Vejo!... Mas por que en-

cantamento me prendem aqui? Quealgemas me afivelam a este móvelpesado?

E acentuando a expressão de as-sombro, prosseguia:

- Qual o objetivo desta assembléiade silêncio de funeral? quem metrouxe? quem me trouxe?!...

Vimos que Eugênia, fora do vei-culo denso, escutava todas as pala-vras que lhe fluíam da boca, transi-toriamente ocupada pelo peregrinodas sombras, arquivando-as, de ma-neira automática, no centro da me-mória.

- O sofredor – disse o Assistente,convicto -, ao contato das forçasnervosas da médium, revive os pró-prios sentidos e deslumbra-se. Quei-xa-se das cadeias que o prendem,cadeias essas que em cinqüenta porcem decorrem da concentração cau-

telosa de Eugênia. Porta-se, dessaforma, como um doente controla-do, qual se faz imprescindível.

- E se nossa irmã relaxasse a auto-ridade? – inquiriu Hilário, curioso.

- Não estaria em condições deprestar-lhe benefícios concretos,porque então teria descido ao des-vairamento do mendigo de luz quenos propomos auxiliar – esclareceuo nosso instrutor, com calma.

E numa linguagem feliz para ilus-trar o assunto ajuntou:

- Um médium passivo, em taiscircunstâncias, pode ser comparadoà mesa de serviço cirúrgico, retendoo enfermo necessitado de concursomédico. Se o móvel especializadonão possuísse firmeza e humildade,qualquer intervenção seria de todoimpossível.

- Mas nossa amiga está enxergan-do, conscientemente, a entidade quese lhe associa ao vaso carnal, comtanta clareza junto a nós? – pergun-tei por minha vez, atento aos meusobjetivos de aprendizado.

- No caso de Eugênia, isso nãoacontece – elucidou Áulus, condes-cendente -, porque o esforço dela napreservação das próprias energias eo interesse na prestação de auxíliocom todo o coeficiente de suas pos-sibilidades não lhe permitem a ne-cessária concentração mental, parasurpreender-lhe a forma exterior.Entretanto, reproduzem-se nela asaflições e os achaques do socorrido.Sentem-lhe a dor e a excitação, re-gistrando-lhe o sofrimento e o mal-estar.

Ao passo que se dilatava a nossaconversação, o comunicante gritava,contundente.

- Estaremos, porventura, numtribunal? por que uma recepção es-

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Julho 2006 | FidelidadESPÍRITA

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ESCLARECIMENTO

tranha quanto esta, quando sou oinfortunado que comparece? a mim,Libório dos Santos, ninguém ofen-de sem revide...

Como se a consciência o tortu-rasse, através de criações interioresque não nos era dado perceber, vo-ciferava, frenético:

- Quem me acusa de haver espo-liado minha mãe, lançando-a ao de-samparo? não sou culpado pelas pro-vações dos outros... Não estarei, aca-so, mais doente que ela?...

Nessa altura, Hilário fixou oobssessor, compadecidamente, e in-dagou, respeitoso:

- Não serão os seus padecimen-tos simples angústia moral?

- Não tanto assim – aclarouÁulus -; as crises morais de qualquerteor se nos refletem até no veiculode manifestação. O beneficiário des-ta hora tem o cérebro perispiríticodilacerado e a flagelação que lhe in-vade o corpo fluídico é tão autênti-ca quanto a de um homem comum,suplicando por um tumorintracraniano.

Demonstrando-se sumamenteinteressado no assunto, Hilário acen-tuou:

- Se fôssemos nós os companhei-ros encarnados, com sede de maio-res conhecimentos da vida espiritu-al, poderíamos submete-lo a inter-rogatório minucioso? Estaria emposição de identificar-se perfeita-mente?

Áulus abanou levemente a cabe-ça e considerou:

- Nas condições em que se encon-tra, o cometimento não seria viável.Estamos abordando apenas um pro-blema de caridade, que se reveste,porém, da mais elevada importân-cia para a vida em si. Na hipótese de

efetivarmos o tentame, conseguiría-mos tão-somente infrutuosa inqui-rição, endereçada a um alienadomental, que, por algum tempo, ain-da se mostrará lesado em expressi-vos centros de raciocínio. Trazendoconsigo a herança de uma existên-cia desequilibrada e fortemente atra-ído para a mulher que o ama e dequem se faz desabrido perseguidor,a nada aspira, por agora, senão à vidaparasitária, junto à irmã, de cujas

energias se alimenta. Envolve-a emfluidos enfermiços e nela se apóia,assim como a trepadeira que se alas-tra e prolifera sobre um muro...Somando tudo isso ao choqueoriundo da morte, não temos o di-reito de esperar dele uma experiên-cia completa de identificação pesso-al.

Enquanto isso, Libório prosse-guia, alucinado:

- Quem poderá suportar essa si-tuação? alguém me hipnotiza? quemme fiscaliza o pensamento? Valerárestituir-me a visão, manietando-meos braços?

Fixando-o com simpatia fraterna,o Assistente informou-nos:

- Queixa-se ele do controle a queé submetido pela vontade cuidado-sa de Eugênia.

Ruminando as indagações quenos esfervilhavam a alma, Hilárioobjetou:

- Consciente a médium, qual seencontra, e ouvindo as frases do

Fonte:

XAVIER, Francisco C. Nos Domínios da

Mediunidade. Pág. 59 - 67. Feb.

comunicante, que lhe utiliza a bocaassim vigiado por ela, é possível queDona Eugênia seja assaltada porgrandes dúvidas... Não poderá serinduzida a admitir que as palavrasproferidas pertençam a ela mesma?Não sofrerá vacilações?

- Isso é possível – concordou oAssistente -; no entanto, nossa irmãestá habilitada a perceber que ascomoções e as palavras desta horanão lhe dizem respeito.

- Mas... e se a dúvida a inva-disse? – insistiu meu colega.

- Então – disse Áulus, cortês -emitiria da própria mente positivarecusa, expulsando o comunicantee anulando preciosa oportunidadede serviço. A dúvida, nesse caso, se-ria congelante faixa de forças negati-vas...

Todavia, porque Raul Silvainiciara a conversação com o hóspe-de revoltado, o orientador amigoconvidou-nos a melhor observar. �

... nossa irmã está habilitada a perceberque as comoções e as palavras desta

hora não lhe dizem respeito

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

REFLEXÃO

O Merecimento

por Hilério Silva / Chico Xavier

O Pai não deseja o sofrimento dosfilhos

Saturnino Pereira era franca-mente dos melhores ho-mens. Amoroso mordomo

familiar. Companheiro dos humil-des. A caridade em pessoa. Ondehouvesse dor a consolar, aí estava deplantão. Não só isso. No trabalho,era o amigo fiel do horário e do oti-mismo. Nas maiores dificuldades,era um sorriso generoso, parecendoraio de sol dissipando as sombras.

Por isso mesmo, quando foi vis-to de mão a sangrar, junto à máqui-na de que era condutor, todas asatenções se voltaram para ele, entreo pasmo e a amargura.

Saturnino ferido! LogoSaturnino, o amigo de todos...

Suas colegas da fábrica rasgarampeças de roupa, a fim de estancar osangue a correr em bica.

O chefe da tecelagem, solícito,conduziu-o ao automóvel, internan-do-o de pronto em magnífico hos-pital.

Operação feliz. O cirurgião infor-mou, sorrindo:

- Felizmente, nosso amigo perde-rá simplesmente o polegar. Todo obraço direito está ferido,traumatizado, mas seráreconstituído em tempo breve.

Longe desse quadro, porém, o casomerecia apontamentos diversos:

- Por que um desastre desses comum homem tão bom? – murmura-va uma companheira.

- Tenho visto tantas mãos crimi-nosas saírem ilesas, até mesmo deaviões projetados ao solo, e justa-mente Saturnino, que nos ajuda atodos, vem de ser a vítima! – comen-tava o amigo.

- Devemos ajudar Saturnino.

- Cotizemo-nos todos para ajudá-lo.Mas também não faltou quem

dissesse:- Que adianta a religião, tão bem

observada? Saturnino é espírita con-victo e leva a sério o seu ideal. Vivepara os outros. Na caridade é umherói anônimo. Por que o infaustoacontecimento – expressava-se umcolega materialista.

E à tarde, quando o acidentadoapareceu muito pálido, com o bra-ço direito em tipóia, carinho e res-peito por todos os lados.

Saturnino agradeceu a generosi-dade de que fora objeto. Sorriu, re-signado. Proferiu palavras de agrade-cimento a Deus. Contudo, estavatriste.

À noite, em companhia da espo-sa, compareceu à reunião habitualdo templo espírita que freqüentava.

Sessão íntima.Apenas dez pessoas habituadas ao

trato com os sofredores. Consagra-do ao serviço da prece, o operário,em sua cadeira humilde, esperava oencerramento, quando Macário, oorientador espiritual das tarefas,

após traçar diretrizes, dirigiu-se a ele,bondoso:

- Saturnino, meu filho, não secreia desamparado, nem se entregueà tristeza inútil. O Pai não deseja osofrimento dos filhos. Todas as do-res decretadas pela Justiça Divina sãoaliviadas pela Divina misericórdia,toda vez que nos apresentamos emcondições para o desagravo. Vocêhoje demonstra indiscutível abati-mento. Entretanto, não tem moti-vo. Quando você se preparava aomergulho no berço terrestre, progra-mou a excursão presente. Excursãode trabalho, de reajuste. Acontece,porém, que formulou uma senten-ça contra você mesmo...

Fez uma pausa e prosseguiu:- Há oitenta anos, era você pode-

roso sitiante no litoral brasileiro e,certo dia, porque pobre empregado

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Julho 2006 | FidelidadESPÍRITA

Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 11ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

REFLEXÃO

Todas as dores decretadas pela JustiçaDivina são aliviadas pela Divina

misericórdia

enfermo não lhe pudesse obedeceràs determinações, você, com as pró-prias mãos, obrigou-o a triturar obraço direito no engenho rústico.Por muito tempo, no Plano Espiri-tual, você andou perturbado, con-templando mentalmente o caldo decana enrubescido pelo sangue da ví-tima, cujos gritos lhe ecoavam nocoração. Por muito tempo, pormuito tempo...

E continuou- E você implorou existência hu-

milde em que viesse a perder no tra-balho o braço mais útil. Mas, você,Saturnino, desde a primeira moci-dade, ao conhecer a Doutrina Espí-rita, tem os pés no caminho do bemaos outros. Você tem trabalhado,esmerando-se no dever... Nãoestamos aqui para elogiar, porquevocê continua lutando, lutando... eo plantio disso ou daquilo só podeser avaliado em definitivo por oca-

sião da colheita. Sei, porém, quehoje, por débito legítimo, alijaria

você todo o braço, mas perdeu sóum dedo... Regozije-se, meu amigo!Você está pagando, em amor, seuempenho à Justiça...

De cabeça baixa, Saturninoderramava grossas lágrimas.

Lágrimas de conforto, de apa-ziguamento e alegria...

Na manhã seguinte, mostran-do no rosto amorável sorriso, com-pareceu, pontual, ao serviço.

E porque o fiscal do relógiolhe estranhasse o procedimento,quando o médico o licenciara por

Fonte:

XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. A

vida escreve. Pág. 187. Rio de Janeiro/RJ.

trinta dias, respondeu simplesmen-te:

- O senhor está enganado. Nãoestou doente. Fui apenas acidenta-do e posso servir para alguma coisa.

E caminhando, fábrica a dentro,falou alto, como se todos devessemouvi-lo:

- Graças a Deus! �

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

A Federação é uma casa de auxíliosconcretos

CHICO

Controle Doutrinário das Publicações

por Suely Caldas Schubert

9 – 12 – 1943“(...) tendo consultado a

Emmanuel sobre o assunto da tradu-ção dos livros dele e de Humberto deCampos para o espanhol, conformesua notícia, disse-me o nosso genero-so amigo espiritual que o caso é da

alçada da Diretoria da Federação(...)”.

Falamos, portanto, aqui, não comoespíritas regionais, mas como compa-nheiros da Federação e concluímosque não seria razoável ir entregandoassim, sem condições, esse trabalho,pelo qual a Casa de Ismael tanto setem esmerado. Não seria dar tudo pornada? Cremos que a Federação temo direito de exigir alguma coisa, mor-mente no que se refere ao controledoutrinário das publicações e a deter-minada parte do problema de vendade livros. (Os últimos destaques sãoda compilação.) Estamos diante deum negócio material. Porque, se a Fe-deração não agir com espírito de vigi-lância, também não poderá reclamarquanto a qualquer desvio de nature-za espiritual nessas traduções, não

acha Você? E, além disto, a Federa-ção é uma Casa de auxílios concre-tos. Não está aí a multidão de proble-mas pedindo recursos materiais?Qualquer percentagem exigida pelaCasa de Ismael nesse assunto viria

atender a muitas questões de benefi-cência, inclusive o próprio alívio naaquisição de papel com que a nossaLivraria pudesse facilitar cada vezmais o acesso do povo ao livro de nos-sa doutrina consoladora.

Este é o nosso humilde ponto devista – o do modesto Grupo Espíritade Pedro Leopoldo. Espero que nos-sas palavras sejam recebidas na con-ta do nosso grande amor à realizaçãoevangélica da Federação, com quemnos sentimos profundamente irmana-dos.

Gostaríamos que Você levasse nos-so ponto de vista ao Quintão, poismuito temos ganho na experiência econselhos dele. Quanto ao mais, o queresolverem há de ser sob o amparo daProteção de Jesus e nisto confiamos.(...)”

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CHICO

Chico Xavier cedeu à FEB todos osdireitos sobre a sua produçãomediúnica

Fonte:

SCHUBERT, Sueli. Testemunhos de Chico

Xavier. Pág. 23-26. Feb. 1998

O texto ao lado é bastante in-teressante. Quando Chico Xaviercedeu à FEB todos os direitos so-bre a sua produção mediúnica, fê-lo conscientemente, por ter reco-nhecido na Casa de Ismael as con-dições imprescindíveis para a exe-cução de todo o programa elabo-rado pelo Mais Alto. Portanto, noinstante em que dá a sua opiniãosobre as traduções, faz questão deressaltar que, ele, de conformida-de com Emmanuel, apóia a orien-tação a ser seguida pela Diretoriada FEB.

Por isso analisa o assunto sob aperspectiva muito mais ampla,não fosse ele um dos esteios bási-cos de toda essa planificação doMundo Maior. Compreendendo aimportância do momento, pois

dali para a frente cada vez mais seapresentariam ensejos de expansãodos livros dos quais se fazia medi-aneiro, opina com vistas ao futu-ro. Que a FEB mantenha o contro-

le doutrinário das publicações. E que,muito justamente, tenha tambémparte na venda dos livros a fim deatender a todos os seus encargosno plano material. Prevê, ainda,que seria imprescindível que a Fe-deração agisse com “espírito devigilância”, pois, caso contrário,poderia haver algum desvio de na-

tureza espiritual nas traduções.Chico Xavier ao emitir essa opi-

nião evidenciou firmeza e seguran-ça, não admitindo que se fizessemconcessões a quem quer que fosseem prejuízo da Casa de Ismael, le-gítima depositária dos seus livrosmediúnicos. E não admitindo,principalmente, qualquer altera-ção que viesse a desfigurar a obraorientada por Emmanuel.

Observamos, entretanto, o cui-dado com que escolhe as palavraspara formular um enunciado tãoseguro e positivo, cuidado este quelhe é inerente, já que tendo auto-ridade moral não é, por isto mes-mo, autoritário. Fala e escreve combrandura e amor. E destaca no pe-núltimo tópico que este é o “hu-milde ponto de vista” do GrupoEspírita de Pedro Leopoldo, res-saltando o grande amor que tempelo trabalho da Federação, “comquem nos sentimos profundamen-te irmanados”. �

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Sócrates, Platãoe o Espiritismo

por Allan Kardec

Resumo da doutrina de Sócrates e Platão

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I.O homem é uma alma encarna-

da. Antes da sua encarnação, existiaunida aos tipos primordiais das idéi-as do verdadeiro, do bem e do belo;separa-se deles, encarnando, e, recor-dando o seu passado, é mais oumenos atormentada pelo desejo devoltar a ele.

Não se pode enunciar mais clara-mente a distinção e independênciaentre o princípio inteligente e oprincípio material.

É, além disso, a doutrina dapreexistência da alma; da vaga intui-ção que ela guarda de um outromundo, a que aspira; da sua sobre-vivência ao corpo; da sua saída domundo espiritual, para encarnar, eda sua volta a esse mesmo mundo,após a morte. É, finalmente, ogérmen da doutrina dos Anjos de-caídos.

II.A alma se transvia e perturba,

quando se serve do corpo para con-siderar qualquer objeto; tem verti-gem, como se estivesse ébria, por-que se prende a coisas que estão, porsua natureza, sujeitas a mudanças;ao passo que, quando contempla asua própria essência, dirige-se parao que é puro, eterno, imortal, e,sendo ela dessa natureza, permane-ce aí ligada, por tanto tempo quan-to possa. Cessam então os seustransviamentos, pois que está uni-da ao que é imutável e a esse estadoda alma é que se chama sabedoria.

Assim, ilude a si mesmo o ho-mem que considera as coisas demodo terra-a-terra, do ponto de vis-ta material.

Para as apreciar com justeza, temde as ver do alto, isto é, do pontode vista espiritual. Aquele, pois, queestá de posse da verdadeira sabedo-ria, tem de isolar do corpo a alma,para ver com os olhos do Espírito.É o que ensina o Espiritismo. (Cap.II, nº 5.)

III.Enquanto tivermos o nosso cor-

po e a alma se achar mergulhadanessa corrupção, nunca possuiremoso objeto dos nossos desejos: a ver-dade. Com efeito, o corpo nos sus-cita mil obstáculos pela necessida-de em que nos achamos de cuidardele. Ao demais, ele nos enche dedesejos, de apetites, de temores, demil quimeras e de mil tolices, demaneira que, com ele, impossível senos torna ser ajuizados, sequer porum instante. Mas, se não nos é pos-sível conhecer puramente coisa al-guma, enquanto a alma nos está li-gada ao corpo, de duas uma: ou ja-mais conheceremos a verdade, ou sóa conheceremos após a morte. Li-bertos da loucura do corpo, conver-

saremos então, lícito é esperá-lo,com homens igualmente libertos econheceremos, por nós mesmos, aessência das coisas. Essa a razão porque os verdadeiros filósofos se exer-citam em morrer e a morte não selhes afigura, de modo nenhum, te-mível.

Está aí o princípio das faculda-des da alma obscurecidas por moti-vo dos órgãos corporais e o da ex-pansão dessas faculdades depois damorte. Mas, trata-se apenas de almasjá depuradas; o mesmo não se dácom as almas impuras. (O Céu e oInferno, 1ª Parte, cap. II; 2ª Parte,cap. I.)

IV.A alma impura, nesse estado, se

encontra oprimida e se vê de novoarrastada para o mundo visível, pelohorror do que é invisível e imaterial.Erra, então, diz-se, em torno dosmonumentos e dos túmulos, juntoaos quais já se têm visto tenebrososfantasmas, quais devem ser as ima-gens das almas que deixaram o cor-po sem estarem ainda inteiramentepuras, que ainda conservam algumacoisa da forma material, o que fazque a vista humana possa percebê-las. Não são as almas dos bons; são,porém, as dos maus, que se vêemforçadas a vagar por esses lugares,onde arrastam consigo a pena daprimeira vida que tiveram e onde

continuam a vagar até que os apeti-tes inerentes à forma material de quese revestiram as reconduzam a umcorpo. Então, sem dúvida, retomamos mesmos costumes que durante aprimeira vida constituíam objeto desuas predileções.

Não somente o princípio da re-

Aquele que está de posse da sabedoriatem de isolar do corpo a alma, para ver

com os olhos do Espírito

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... a reencarnação num corpo materialé conseqüência da impureza da alma

encarnação se acha aí claramenteexpresso, mas também o estado dasalmas que se mantêm sob o jugo damatéria é descrito qual o mostra oEspiritismo nas evocações. Mais ain-da: no tópico acima se diz que a re-encarnação num corpo material éconseqüência da impureza da alma,enquanto as almas purificadas seencontram isentas de reencarnar.Outra coisa não diz o Espiritismo,acrescentando apenas que a alma,que boas resoluções tomou naerraticidade e que possui conheci-mentos adquiridos, traz, ao renas-cer, menos defeitos, mais virtudes eidéias intuitivas do que tinha na suaexistência precedente.

Assim, cada existência lhe marcaum progresso intelectual e moral. (OCéu e o Inferno, 2ª Parte: Exemplos.)

V.Após a nossa morte, o gênio

(daimon, demônio), que nos foradesignado durante a vida, leva-nos aum lugar onde se reúnem todos osque têm de ser conduzidos aoHades, para serem julgados. As al-

mas, depois de haverem estado noHades o tempo necessário, sãoreconduzidas a esta vida em múlti-plos e longos períodos. É a doutri-na dos Anjos guardiães, ou Espíri-tos protetores, e das reencarnaçõessucessivas, em seguida a intervalosmais ou menos longos deerraticidade.

VI.Os demônios ocupam o espaço

que separa o Céu da Terra; consti-tuem o laço que une o Grande Todoa si mesmo. Não entrando nunca adivindade em comunicação diretacom o homem, é por intermédiodos demônios que os deuses entramem comércio e se entretêm com ele,quer durante a vigília, quer duranteo sono.

A palavra daimon, da qual fize-ram o termo demônio, não era, naantigüidade, tomada à má parte,como nos tempos modernos. Nãodesignava exclusivamente seresmalfazejos, mas todos os Espíritos,em geral, dentre os quais se desta-cavam os Espíritos superiores, cha-mados deuses, e os menos eleva-

dos, ou demônios propriamenteditos, que comunicavam direta-mente com os homens. Tambémo Espiritismo diz que os Espíritospovoam o espaço; que Deus só secomunica com os homens por in-termédio dos Espíritos puros, quesão os incumbidos de lhe transmi-tir as vontades; que os Espíritosse comunicam com eles durante avigília e durante o sono. Ponde,em lugar da palavra demônio, apalavra Espírito e tereis a doutri-

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Julho 2006 | FidelidadESPÍRITA

na espírita; ponde a palavra anjo etereis a doutrina cristã.

VII.A preocupação constante do fi-

lósofo (tal como o compreendiamSócrates e Platão) é a de tomar omaior cuidado com a alma, menospelo que respeita a esta vida, que nãodura mais que um instante, do quetendo em vista a eternidade. Desdeque a alma é imortal, não será pru-dente viver visando à eternidade? OCristianismo e o Espiritismo ensi-nam a mesma coisa.

VIII.Se a alma é imaterial, tem de pas-

sar, após essa vida, a um mundoigualmente invisível e imaterial, domesmo modo que o corpo, decom-pondo-se, volta à matéria. Muitoimporta, no entanto, distinguir bema alma pura, verdadeiramenteimaterial, que se alimente, comoDeus, de ciência e pensamentos, daalma mais ou menos maculada deimpurezas materiais, que a impedem

de elevar-se para o divino e a retêmnos lugares da sua estada na Terra.Sócrates e Platão, como se vê, com-preendiam perfeitamente os diferen-tes graus de desmaterialização daalma. Insistem na diversidade de si-tuação que resulta para elas da suamaior ou menor pureza. O que eles

diziam, por intuição, o Espiritismoo prova com os inúmeros exemplosque nos põe sob as vistas. (O Céu eo Inferno, 2ª Parte.)

IX.Se a morte fosse a dissolução

completa do homem, muito ganha-riam com a morte os maus, pois severiam livres, ao mesmo tempo, docorpo, da alma e dos vícios. Aqueleque guarnecer a alma, não de orna-

tos estranhos, mas com os que lhesão próprios, só esse poderá aguar-dar tranqüilamente a hora da suapartida para o outro mundo. Equi-vale isso a dizer que o materialismo,com o proclamar para depois damorte o nada, anula toda respon-sabilidade moral ulterior, sendo,conseguintemente, um incentivo

para o mal; que o mau tem tudo aganhar do nada.

Somente o homem que se des-pojou dos vícios e se enriqueceu devirtudes, pode esperar com tranqüi-lidade o despertar na outra vida. Pormeio de exemplos, que todos osdias nos apresentam, o Espiritismomostra quão penoso é, para o mau,o passar desta à outra vida, a entra-da na vida futura. (O Céu e o Infer-no, 2ª Parte, cap. I.)

De duas uma: ou a morte é umadestruição absoluta, ou é passagem da

alma para outro lugar

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Segundo Sócrates, os que viveram naTerra se encontram após a morte e sereconhecem

X.O corpo conserva bem impres-

sos os vestígios dos cuidados de quefoi objeto e dos acidentes que so-freu. Dá-se o mesmo com a alma.Quando despida do corpo, ela guar-da, evidentes, os traços do seu cará-ter, de suas afeições e as marcas quelhe deixaram todos os atos de suavida. Assim, a maior desgraça quepode acontecer ao homem é ir parao outro mundo com a alma carrega-da de crimes. Vês, Cálicles, que nemtu, nem Pólux, nem Górgiaspodereis provar que devamos levaroutra vida que nos seja útil quandoestejamos do outro lado. De tantasopiniões diversas, a única que per-manece inabalável é a de que maisvale receber do que cometer umainjustiça e que, acima de tudo, de-vemos cuidar, não de parecer, mas

de ser homem de bem. (Colóquiosde Sócrates com seus discípulos, naprisão.)

Depara-se-nos aqui outro pontocapital, confirmado hoje pela expe-riência: o de que a alma não depu-rada conserva as idéias, as tendênci-as, o caráter e as paixões que teve naTerra. Não é inteiramente cristã estamáxima: mais vale receber do quecometer uma injustiça? O mesmopensamento exprimiu Jesus, usandodesta figura: “Se alguém vos baternuma face, apresentai-lhe a outra.”(Cap. XII, nrs. 7 e 8.)

XI.De duas uma: ou a morte é uma

destruição absoluta, ou é passagemda alma para outro lugar. Se tudo

tem de extinguir-se, a morte serácomo uma dessas raras noites quepassamos sem sonho e sem nenhu-ma consciência de nós mesmos.Todavia, se a morte é apenas umamudança de morada, a passagempara o lugar onde os mortos se têmde reunir, que felicidade a de encon-trarmos lá aqueles a quem conhece-mos!

O meu maior prazer seria exami-nar de perto os habitantes dessaoutra morada e distinguir lá, comoaqui, os que são dignos dos que sejulgam tais e não o são. Mas, é tem-po de nos separarmos, eu para mor-rer, vós para viverdes. (Sócrates aosseus juízes.)

Segundo Sócrates, os que vive-ram na Terra se encontram após amorte e se reconhecem. Mostra oEspiritismo que continuam as rela-ções que entre eles se estabeleceram,de tal maneira que a morte não énem uma interrupção, nem a cessa-ção da vida, mas uma transforma-ção, sem solução de continuidade.

Houvessem Sócrates e Platão co-nhecido os ensinos que o Cristodifundiu quinhentos anos mais tar-de e os que agora o Espiritismo es-palha, e não teriam falado de outromodo. Não há nisso, entretanto, oque surpreenda, se considerarmosque as grandes verdades são eternase que os Espíritos adiantados hãode tê-las conhecido antes de virem àTerra, para onde as trouxeram; queSócrates, Platão e os grandes filóso-fos daqueles tempos bem podem,depois, terem sido dos que secun-daram o Cristo na sua missão divi-na, escolhidos para esse fim precisa-mente por se acharem, mais do que

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Todo homem que ama a riqueza nãoama a si mesmo, nem ao que é seu

outros, em condições de lhe com-preenderem as sublimes lições; que,finalmente, pode dar-se, façam elesagora parte da plêiade dos Espíritosencarregados de ensinar aos homensas mesmas verdades.

XII.Nunca se deve retribuir com ou-

tra uma injustiça, nem fazer mal aninguém, seja qual for o dano quenos hajam causado. Poucos, no en-tanto, serão os que admitam esse

princípio, e os que se desentende-rem a tal respeito nada mais farão,sem dúvida, do que se votarem unsaos outros mútuo desprezo. Nãoestá aí o princípio de caridade, queprescreve não se retribua o mal como mal e se perdoe aos inimigos?

XIII.É pelos frutos que se conhece a

árvore. Toda ação deve ser qualifica-da pelo que produz: qualificá-la demá, quando dela provenha mal; deboa, quando dê origem ao bem. Estamáxima: “Pelos frutos é que se co-nhece a árvore”, se encontra muitasvezes repetida textualmente noEvangelho.

XIV.A riqueza é um grande perigo.

Todo homem que ama a riqueza nãoama a si mesmo, nem ao que é seu;ama a uma coisa que lhe é ainda maisestranha do que o que lhe pertence.(Cap. XVI.)

XV.As mais belas preces e os mais

belos sacrifícios prazem menos àDivindade do que uma alma virtuo-sa que faz esforços por se lhe asse-melhar. Grave coisa fora que os deu-ses dispensassem mais atenção àsnossas oferendas, do que à nossaalma; se tal se desse, poderiam osmais culpados conseguir que eles selhes tornassem propícios. Mas, não:verdadeiramente justos e retos só osão os que, por suas palavras e atos,cumprem seus deveres para com osdeuses e para com os homens. (Cap.X, nrs. 7 e 8.)

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

O amor está por toda a parte em aNatureza, que nos convida aoexercício da nossa inteligência

XVI.Chamo homem vicioso a esse

amante vulgar, que mais ama o cor-po do que a alma. O amor está portoda parte em a Natureza, que nosconvida ao exercício da nossa inteli-gência; até no movimento dos astroso encontramos. É o amor que ornaa Natureza de seus ricos tapetes; elese enfeita e fixa morada onde se lhedeparem flores e perfumes. É aindao amor que dá paz aos homens, cal-ma ao mar, silêncio aos ventos esono à dor.

O amor, que há de unir os ho-mens por um laço fraternal, é umaconseqüência dessa teoria de Platãosobre o amor universal, como lei daNatureza. Tendo dito Sócrates que“o amor não é nem um deus, nemum mortal, mas um grande demô-nio”, isto é, um grande Espírito que

preside ao amor universal, essa pro-posição lhe foi imputada como cri-me.

XVII.A virtude não pode ser ensina-

da; vem por dom de Deus aos que apossuem.

É quase a doutrina cristã sobre agraça; mas, se a virtude é um domde Deus, é um favor e, então, podeperguntar- se por que não é conce-dida a todos. Por outro lado, se éum dom, carece de mérito paraaquele que a possui. O Espiritismoé mais explícito, dizendo que aque-le que possui a virtude a adquiriupor seus esforços, em existênciassucessivas, despojando-se pouco apouco de suas imperfeições. A gra-ça é a força que Deus faculta ao ho-mem de boa vontade para seexpungir do mal e praticar o bem.

XVIII.É disposição natural em todos

nós a de nos apercebermos muitomenos dos nossos defeitos, do quedos de outrem. Diz o Evangelho:“Vedes a palha que está no olho dovosso próximo e não vedes a traveque está no vosso.” (Cap. X, nos 9 e10.) �

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Julho 2006 | FidelidadESPÍRITA

A Morte de Sócrates - Jacques Louis David, 1787 - Museu de Artes - Nova Iorque

XIX.Se os médicos são mal sucedidos,

tratando da maior parte das molésti-as, é que tratam do corpo, sem trata-rem da alma. Ora, não se achando otodo em bom estado, impossível éque uma parte dele passe bem.

O Espiritismo fornece a chave dasrelações existentes entre a alma e ocorpo e prova que um reage inces-santemente sobre o outro. Abre,assim, nova senda para a Ciência.Como a lhe mostrar a verdadeiracausa de certas afecções, faculta-lheos meios de as combater. Quando aCiência levar em conta a ação doelemento espiritual na economia,menos freqüentes serão os seusmaus êxitos.

XX.Todos os homens, a partir da

infância, muito mais fazem de mal,do que de bem.

Essa sentença de Sócrates fere

a grave questão da predominânciado mal na Terra, questão insolú-vel sem o conhecimento dapluralidade dos mundos e dadestinação do planeta terreno,habitado apenas por uma fração

mínima da Humanidade. Somen-te o Espiritismo resolve essa ques-tão, que se encontra explanada aquiadiante, nos capítulos II, III e V.

XXI.Ajuizado serás, não supondo que

sabes o que ignoras. Isso vai comvistas aos que criticam aquilo que

... Sócrates toparia criaturas quezombariam da sua crença nos Espíritose o qualificariam de louco...

desconhecem, até mesmo os primei-ros termos. Platão completa essepensamento de Sócrates, dizendo:“Tentemos, primeiro, torná-los, sefor possível, mais honestos nas pa-lavras; se não os forem, não nos pre-

ocupemos com eles e não procure-mos senão a verdade. Cuidemos deinstruir-nos, mas não nos injurie-mos.” É assim que devem procederos espíritas com relação aos seuscontraditores de boa ou má-fé.

Revivesse hoje Platão e acharia ascoisas quase como no seu tempo epoderia usar da mesma linguagem.Também Sócrates toparia criaturasque zombariam da sua crença nosEspíritos e que o qualificariam delouco, assim como ao seu discípuloPlatão. Foi por haver professado es-ses princípios que Sócrates se viuridiculizado, depois acusado de im-piedade e condenado a beber cicuta.Tão certo é que, levantando contrasi os interesses e os preconceitos queelas ferem, as grandes verdades no-vas não se podem firmar sem luta esem fazer mártires. �

Fonte:

Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdu-

ção, item IV.

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FidelidadESPÍRITA | Julho 2006

ESTUDO

por equipe FidelidadESPÍRITA

Espiritismo na Revista ÉPOCA

Na edição nr. 424 de 03de julho de 2006, aRevista ÉPOCA publi-

cou interessante reportagem sobrea Doutrina Espírita. Apresentou al-guns erros ou impropriedades, mas,de forma geral, o assunto foi trata-do de maneira satisfatória.

O título da matéria: O Novo Es-

piritismo. É natural que a imprensaleiga assim se refira a uma fase mui-to positiva do movimento espírita.De fato, para quem não está acostu-mado à lógica dos princípios doEspiritismo e estuda a questão, semadentrar pelo ambiente teológico deseus fundamentos, dá, mesmo, aimpressão de que o “Espiritismo”mudou. Sim, pois, no passado ha-via muita preocupação com os fe-nômenos e estes ficavam em evidên-cia em detrimento, muitas vezes, dosprincípios filosóficos, dos funda-mentos científicos e das conseqüên-cias religiosas.

Todavia, essa mudança paraum “Novo Espiritismo” só aconte-ceu para um olhar desatento; a dou-trina permanece a mesma, com todasua pureza e racionalidade, o movi-mento espírita, porém, de fato, de-monstra estar mais maduro.

Necessário não confundirmosDoutrina Espírita (codificada porAllan Kardec e apresentada nas cin-co obras da codificação a saber: OLivro dos Espíritos; O Livro dos Mé-

diuns; O Evangelho Segundo o Espiri-

tismo; O Céu e o Inferno e A Gênese),

do Movimento Espírita (isto é, oque os espíritas, nem sempre escla-recidos, fazem em nome do Espiri-tismo). Por isso, para os leigos, o Es-piritismo parece estar diferente. Narealidade, os adeptos estão mais es-clarecidos e praticando a doutrinacodificada por Allan Kardec com apropriedade racional que a caracte-riza.

A reportagem começa notician-do a top model Raica Oliveira comoadepta, desde a infância, da Doutri-na Espírita. Por conta de atividadesprofissionais, a modelo freqüenta,quando nos EUA, um Centro Es-pírita na Cidade vizinha de NewJersey que, segundo a revista, é “fre-

qüentado por brasileiros como Divaldo

Franco e Raul Teixeira”.

Destaca ainda que DivaldoPereira Franco e Raica Oliveira são,segundo reportagem do The NewYork Times, “as faces visíveis de um

novo fenômeno: a abertura de centros

espíritas nos Estados Unidos dirigidos por

brasileiros, freqüentados pela comunida-

de latina e também por americanos”.

Vejamos algumas informaçõescuriosas levantadas pela revista:

1) O IBGE aponta 20 milhõesde Espíritas e apresenta o Brasilcomo a maior nação profitente daDoutrina;

2) O Espiritismo cresce no Brasil,sobretudo, entre jovens de classe média;

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Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SPASSINE : 0800 770-5990 23ASSINE : (19) 3233-5596 Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

ESTUDO

3) Apresenta 366 comunidadesdo site Orkut sobre Espiritismo eoutras 808 quando se busca a pala-vra chave “espírita”;

4) A doutrina cresceu cerca de40% entre os últimos dois censos.Esse crescimento, segundo o IBGE,se deu, principalmente, nos estratosmais ricos e escolarizados da popu-lação;

5) A renda dos espíritas é 150%superior à média nacional e 52%ganham acima de cinco salários mí-nimos;

6) Entre os espíritas 77% têmentre oito e quinze anos de escolari-dade, dez anos, em média, a maisque os católicos;

7) Programas de televisão que tra-tam do tema “Espiritismo” sempretêm larga audiência;

8) Um filme sobre a biografia deChico Xavier, baseado na obra deMarcel Souto Maior e dirigido porDaniel Filho, está previsto para oano que vem;

9) As novelas: A Viagem e Alma

Gêmea (com abordagens espíritassuperficiais) estão entre as que mai-or IBOP deram no horário das18h00 na Rede Globo de Televisão;

10) Uma outra novela de nomeO Profeta (de Ivani Ribeiro), exibidana década de 1970, seráreapresentada, em nova versão, apósa novela Sinhá Moça;

11) O programa Linha Direta al-cançou altos índices de audiência ao

apresentar temas relacionados aoEspiritismo, sobretudo, quandoveiculou cartas psicografadas de 13mortos no incêndio do EdifícioJoelma;

12) Filmes e séries americanas,abordando a fenomenologiamediúnica, fazem muito sucessonos Estados Unidos. Destaquepara a série atual da TV norteamericana de nome Medium, base-ada na vida real da sensitiva AllisonDubois;

13) Não há fundamentalismo naDoutrina Espírita, sacerdócio orga-nizado e remuneração financeira;

14) O reconhecimento das obrasde Chico Xavier, Divaldo PereiraFranco e Raul Teixeira;

15) A caridade como marca do“Espiritismo brasileiro”;

16) Estima-se que meio milhãode pessoas, no país, receba ajuda dealguma entidade espírita;

17) O reconhecimento de obrasbenemerentes como as executadaspela Federação Espírita Brasileira,Casas “André Luiz” e Mansão doCaminho.

Alguns pontos incorretos abor-dados pela revista:

1) Para apresentar a“modernidade do Espiritismo”, arepórter assim se expressou: “Esque-

ça os copos que se movimentam sozinhos

sobre a mesa branca, as operações com

canivete e sem anestesia do médium Arigó

e as sessões de exorcismo coletivo trans-

mitidas pelo rádio. Isso tudo ainda exis-

te, mas, o crescimento e a exportação da

doutrina se devem principalmente a seu

lado menos místico e mais racional”.

a) Os espíritas não nos ocupamoscom copos ambulantes, nem reves-timos nossas mesas com toalhasbrancas durante nossas práticas reli-giosas. Esses procedimentos foramadotados, inicialmente, por pesso-as que mesclaram o pouco conheci-mento espírita que possuíam comas práticas das religiões das quaiseram egressos. Daí, os nomes inade-

quados de “Espiritismo de mesabranca”, “Alto Espiritismo”, “BaixoEspiritismo”, etc., que, em verdade,não existem!

b) O médium Arigó não era pro-priamente espírita, ele trabalhavacom a mediunidade beneficiando opovo.

c) Não usamos a palavra exorcis-mo, muito menos essa prática. Pormeio da mediunidade é possível so-correr os espíritos desencarnadosque estejam em sofrimento, mas,nunca expulsá-los; da mesma forma

Estima-se que meio milhão depessoas, no país, receba ajuda de

alguma entidade espírita

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ESTUDO

Nem sempre o assistido, está preparadopara presenciar manifestaçõesmediúnicas

desconhecemos reuniões de “exor-cismo” espírita (inexistentes) veicu-ladas pelo rádio.

2) Allan Kardec como o criadordo Espiritismo.

Kardec não criou a Doutrina Es-pírita, ela é resultado da revelaçãofeita pelos espíritos. Kardec fez aparte humana da verificação, com-paração, análise e organização dosensinos dos espíritos.

3) Confundiu Cristianismocom Catolicismo: A Igreja Cató-lica não é o Cristianismo; é, maisuma, interpretação dos ensinos deJesus. O Espiritismo é tambémcristão.

4) Ao abordar a série americanaMedium, Martha Mendonça, a repór-ter, equivocou-se dizendo que a per-sonagem Allison Dubois ajuda adesvendar crimes com mensagenspsicografadas. Não! A personagem

ajuda a desvendar crimes por meiode vidências, sonhos e sensações.

5) Citou incorretamente o nomedo Presidente da Federação Espíri-ta Brasileira (Nelson Masotti). Ocorreto é: Nestor João Masotti

6) Por vezes, pareceu confundiros fenômenos mediúnicos com Es-piritismo.

Consideraçõesfinais:

É natural que em matériasdesse tipo, feitas, geralmen-te, por pessoas leigas, para umpúblico leigo, ocorram pro-blemas ou distorções. Mas, demodo geral, a reportagemapresentou pontos muito po-sitivos, diferente do que ocor-ria em anos anteriores. Ob-serva-se um respeito pelaDoutrina Espírita, angariadopelo esforço de todos os quetrabalhamos nessa seara comdignidade, seriedade e com-promisso cristão.

Quanto mais estudarmos evivermos os princípios espí-

ritas, mais e melhor atuare-mos em sociedade. O exem-plo sincero e discreto ao lon-go dos anos será sempre anossa melhor pregação.

Certamente, foi essa pos-tura cristã que permitiu à jor-

nalista Martha Mendonça con-cluir a reportagem desta ma-neira: “Vivemos num mundo

cada vez mais competitivo,

em que muitas vezes a cari-

dade é deixada em segundo

plano. A época atual é tam-

bém de recrudescimento de

fundamentalismos que sufo-

cam a liberdade religiosa.

Num tempo assim, a acolhi-

da cada vez maior da mensa-

gem espírita, fundamentada na

tolerância e solidariedade, é

um fato a comemorar”.

—————————

Na edição 424 (03/07/2006), de todas as matériasapresentadas pela revista, areportagem: O Novo Espiri-

tismo foi a que mais comen-tários recebeu dos leitores. Aseção Caixa Postal apresentou67,5% de participação. (Ed.nº 425 de 10/07/2006).

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Mediunidade não é misticismo, nemmagia, é faculdade humana

ESCLARECIMENTO

por Haroldo Gomes Horta - Salvador/BA

Super-médiuns

Não é raro encontrarmosmédiuns que se dizemcapazes dos mais diver-

sos prodígios. Esses resvalam maispara o charlatanismo do que para ofenômeno verdadeiro.

Um dos grandes escolhos noavanço do Espiritismo é exatamen-te a falta de compreensão da doutri-na. Assim, os que desejam verdadei-ramente entender os fundamentosdo Espiritismo, obrigatoriamente,terão de se dedicar à leitura das obrascodificadas por Allan Kardec.

Quando assim não agimos pode-remos correr o risco da ilusão e dafascinação seguindo pseudo-mé-diuns que se dizem capazes de resol-ver todos os tipos de problemas.

Acautelemo-nos com os “sensiti-vos” modernos.

Mediunidade não é misticismonem magia, é faculdade humana,natural e depende de certa afinida-de fluídica e sintonia mental comos espíritos desencarnados, paraque os mais diversos fenômenosaconteçam.

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ESCLARECIMENTO

Por isso, os medianeiros sériostêm sempre o compromisso coma verdade consorciando-se com aética cristã.

Dessa feita, todo e qualquerGrupo Espírita sério deverá pro-mover reuniões de estudos doutri-nários e de educação mediúnicaoferecendo aos estudantes umambiente digno e sério para que

os verdadeiros amigos espirituaispossam agir.

Os verdadeiros médiuns sãosinceros e, em sua grande maioria,discretos nada recebendo, financei-ra ou materialmente, pelo traba-lho que empreendem.

Com isso fujamos do medianei-ro que afirma:

1) Ver tudo o que se passa nomundo espiritual: Por mais capa-cidades que tenha nem sempre omédium vidente sabe interpretaro que capta do mundo dos espíri-tos.

2) Curar todas as doenças: Afaculdade mediúnica de cura poração fluídica é um fato, mas, ocor-re pela imposição das mãos, porum simples olhar ou desejo decura e não por meio de cortes eou cirurgias.

3) Remédios “espirituais”: Defato os bons espíritos podem mag-netizar água ou prescrever algumtipo de medicamento. Mas, é ne-cessário averiguar a natureza do es-pírito e a seriedade do trabalho domedianeiro. Médiuns verdadeira-mente receitistas e sérios são mui-to raros.

4) “Receber” espíritos famosos:Nada impede que os que se desta-caram na Terra retornem para am-parar os que aqui ficaram. Entre-tanto, por serem minoria, não é

O Espiritismo é doutrina de fé-raciocinada,não adota a exploração popular comomecanismo de propagação doutrinária

muito comum. Além disso, nãoimporta o nome que tenha o espí-rito, mas as suas qualidades mo-rais.

5) Fazer “trabalhos” para arru-mar emprego: Nenhum espírito sé-rio se dedica a esse labor. Os bonsespíritos sabem que essa parte nospertence, isto é, a qualificação oestudo e o esforço pessoal pelo de-senvolvimento humano. As verda-deiras entidades comprometidascom o bem e o progresso semprenos estimulam à oração e ao tra-balho.

O Espiritismo é doutrina de féraciocinada e da fraternidade uni-versal, não adota a exploração po-pular como mecanismo de propa-gação doutrinária. Por isso, fique-mos com a verdade simples doEvangelho que nos ensina “Amara Deus sobre todas as coisas e aopróximo como a nós mesmos”.

Os verdadeiros servidores de Je-sus não usam das faculdades espi-rituais para dominar, enganar ouse promoverem às custas damediunidade.

Se não existem “super-mé-diuns” existem médiuns sincerosesforçando-se por fazer um traba-lho digno e sincero em benefícioda humanidade. �

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Fonte:

MARTINS, Eduardo. Com Todas as Letras.

Pág. 138. Editora Moderna. São Paulo/SP,

1999.

COM TODAS AS LETRAS

Não erre na concordânciade “a gente”

por Eduardo Martins

Do ponto de vista formalda língua portuguesa, ocerto é usar a gente

com o verbo na terceira pessoa: agente vai, a gente pede, a gente quer, a

gente gostaria, etc. A argumentaçãode que a gente sempre subentendemais de uma pessoa autorizaria a fa-zer, no plural, a concordância dequalquer coletivo. Repara, no entan-to, que ninguém diz (pelo menossegundo a norma culta do idioma)o grupo “saíram”, o bando “assalta-ram”, o enxame “atacaram”, o cardu-

me “desceram”, a assembléia “aprova-ram”, etc. Todos esses substantivosrepresentam conjuntos, ou seja, têmmais de um elemento. Apesar dis-so, usa-se o verbo no singular: o gru-

po saiu, o bando assaltou, o enxame

atacou, etc.Escritores clássicos portugue-

ses chegaram a adotar o verbo noplural com palavras coletivas, comoneste exemplo de Fernão Lopes: Opovo lhe pediram que se chamasse

Regedor. Hoje, porém, esse tipo de

construção de frase não é mais acei-to. Portanto: O povo lhe pediu...

E quanto ao uso da expressão?Veja se você concorda com frasescomo: A gente gostaria de sair mais

cedo hoje. /A gente viu muitos aciden-

tes na estrada. Na sua opinião, elaspodem ser empregadas ou expressamum empobrecimento da língua?

É certo, sim, dizer que a gente

gostaria de sair mais cedo hoje ou que a

gente viu muitos acidentes na estrada.Há um preconceito infundado con-tra a locução. Embora apareça maisna linguagem coloquial, a gente

constitui um pronome de tratamen-to e figura em livros de importantesescritores da língua portuguesa emsubstituição a nós.

Veja uma série de exemplos. DeAluísio Azevedo: Fala direito com a

gente, rapaz! De Monteiro Lobato:Não diz nada, engrola, vai pra lá, vem

pra cá e a gente fica na mesma. DeMário de Andrade: Com as frutinhas

piladas dessa planta é que a gente cura

muita doença e refresca durante os

Está certo dizer a gente vamos ou a gente pedimos, como se faz po-

pularmente no Brasil e em alguma regiões de Portugal? Muitas das pesso-

as que falam dessa maneira apresentam a justificativa de que não há erro

na frase, pois a idéia expressa pela locução a gente sempre pressupõe a

existência de mais de uma pessoa.

calorões. De Afonso Schimidt: E

quando a gente volta à casa um dia e

vê trancada a janela que sorria. DeAntônio Feliciano de Castilho: Sem-

pre esta gente que estuda sabe muito mais

que a gente. De Alberto Pimentel:Sempre que a gente vai a Lisboa regres-

sa com a algibeira recorrida.

Evite o abusoA razão do uso de a gente é que

o pronome nós às vezes torna a falamuito formal. Além disso, a tendên-cia da língua hoje é pelas constru-ções em que o verbo esteja na ter-ceira pessoa. Por isso, o recurso a agente. Evite, porém, abusar da cons-trução e procure limitá-la à lingua-gem coloquial.

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Não Entedem“Querendo ser doutores da lei, e não entendendo

nem o que dizem nem o que afirmam.”

Paulo (I Timóteo, 1:7.)

Chico Xavier - Emmanuel

Vinha de Luz

Em todos os lugares surgem multidões, na esfera da ciência, da

política, da filosofia, da religião. Todavia, não somente nesses setores da

atividade intelectual se manifestam semelhantes desequilíbrios.

A sociedade comum, em quase todo o mundo,é campo de batalha,

nesse particular, em vista da condenável influência dos que se impõe por

doutores em informações descabidas. Pretensiosas autoridades nos

pareceres gratuitos, espalham a perturbação geral, adiam realizações

edificantes, destroem grande parte dos germens do bem, envenenam

fontes de generosidade e de fé e, sobretudo, alterando as correntes do

progresso, convertem os santuários domésticos em trincheiras da

hostilidade cordial.

São esses envenenadores inconscientes que difundem a desarmonia,

não entendendo o que afirma.

Quem diz, porém, alguma coisa está semeando algo no solo da

vida, e quem determina isto ou aquilo está consolidando a semeadura.

Muitos espíritos nobres são cultivadores das árvores da verdade,

do bem e da luz; entretanto, em toda parte movimentam-se também os

semeadores do escalracho da ignorância, dos cardos da calúnia, dos

espinhos da maledicência. Através deles opera-se a perturbação e o

estacionamento. Abusam do verbo, mas pagam a leviandade a dobrado

preço, porquanto, embora desejem ser doutores da lei e por mais

intentem confundir-lhe os parágrafos e ainda que dilatem a própria

insensatez por muito tempo, mais se aproximam dos resultados de suas

ações da vida eterna, através da desilusão, do sofrimento e da forma.