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1 Os espaços abandonados na cidade: alternativas aos modelos convencionais de recuperação da paisagem urbana Eduardo Brito-Henriques*, Ana Luísa Soares** & Sónia Talhé Azambuja*** * CEG / IGOT, Universidade de Lisboa ** CEABN-InBIO / ISA e LEAF / ISA, Universidade de Lisboa *** CEABN-InBIO / ISA e ARTIS-IHA / FL, Universidade de Lisboa e FCT, Universidade do Algarve Resumo: Espaços esquecidos e abandonados onde os seres biológicos impõem a sua presença com escasso controlo humano são presenças bastante comuns nas cidades contemporâneas. No entanto são vistos normalmente com criticismo. Reverter as ruínas e ocupar os espaços vacantes gerados pelo abandono e a negligência através de investimentos vultuosos de capital em operações de regeneração urbana têm sido as propostas mais frequentes de técnicos e políticos. Nesta comunicação pretendemos suscitar um olhar diferente sobre as paisagens urbanas abandonadas. Chamamos a atenção para o valor ecológico e paisagístico desses espaços, realçando o potencial que tais interstícios selvagens no tecido da cidade podem ter na construção de um futuro urbano mais sustentável. Usando a abordagem estética do paisagismo naturalista, são equacionadas hipóteses de intervenção alternativas aos modelos convencionais de regeneração urbana a partir de uma revisão de experiências internacionais. Terminamos com uma reflexão sobre as suas possíveis aplicações a terrains vagues da Lisboa oriental. Palavras-chave: Terrain vague, Tiers paysage, naturalismo, selvagem urbano, ecologia urbana Abstract: Forgotten and abandoned spaces where biological beings impose their presence under scarce human control are very common in contemporary cities. However, they are usually viewed in a critical manner. The most common responses of urban planners and politicians for reversing ruins and occupying vacant land have been through massive capital investments in urban regeneration operations. This paper aims to develop a different perspective on abandoned urban space. Special attention is paid to the ecological and landscape value of these areas, highlighting the great potential of such wild urban interstices in the construction of a more sustainable urban future. Using the aesthetic approach of naturalistic landscape design, alternative hypotheses of intervention in vacant lands are

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Os espaços abandonados na cidade: alternativas aos modelos convencionais de recuperação

da paisagem urbana

EduardoBrito-Henriques*,AnaLuísaSoares**&SóniaTalhéAzambuja***

*CEG/IGOT,UniversidadedeLisboa

**CEABN-InBIO/ISAeLEAF/ISA,UniversidadedeLisboa

***CEABN-InBIO/ISAeARTIS-IHA/FL,UniversidadedeLisboaeFCT,UniversidadedoAlgarve

Resumo:

Espaçosesquecidose abandonadosondeos seresbiológicos impõema suapresença comescasso

controlo humano são presenças bastante comuns nas cidades contemporâneas. No entanto são

vistosnormalmente comcriticismo.Reverter as ruínaseocuparosespaços vacantesgeradospelo

abandono e a negligência através de investimentos vultuosos de capital em operações de

regeneraçãourbanatêmsidoaspropostasmaisfrequentesdetécnicosepolíticos.

Nesta comunicação pretendemos suscitar um olhar diferente sobre as paisagens urbanas

abandonadas.Chamamosaatençãoparaovalorecológicoepaisagísticodessesespaços,realçandoo

potencialquetaisinterstíciosselvagensnotecidodacidadepodemternaconstruçãodeumfuturo

urbanomaissustentável.Usandoaabordagemestéticadopaisagismonaturalista,sãoequacionadas

hipótesesdeintervençãoalternativasaosmodelosconvencionaisderegeneraçãourbanaapartirde

umarevisãodeexperiências internacionais.Terminamoscomumareflexãosobreassuaspossíveis

aplicaçõesaterrainsvaguesdaLisboaoriental.

Palavras-chave:

Terrainvague,Tierspaysage,naturalismo,selvagemurbano,ecologiaurbana

Abstract:

Forgottenandabandonedspaceswherebiologicalbeingsimposetheirpresenceunderscarcehuman

control are very common in contemporary cities. However, they are usually viewed in a critical

manner. The most common responses of urban planners and politicians for reversing ruins and

occupying vacant land have been through massive capital investments in urban regeneration

operations.

Thispaperaimstodevelopadifferentperspectiveonabandonedurbanspace.Specialattention is

paid to the ecological and landscape valueof these areas, highlighting the great potential of such

wild urban interstices in the construction of amore sustainable urban future. Using the aesthetic

approachofnaturalisticlandscapedesign,alternativehypothesesofinterventioninvacantlandsare

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equatedbasedona reviewof internationalexperiences.Weendwitha reflectionon thepossible

applicationsofsuchinterventionstoterrainsvaguesinLisbon’sEastZone.

Keywords:terrainvague,Tierspaysage,naturalism,urbanwildscape,urbanecology

1. Introdução

Espaços esquecidos e abandonados abundam nas cidades contemporâneas, fazem parte da

paisagemurbanaepovoamoshorizontesemnosso redor.Construçõesemdiferentesestádiosde

arruinamento,restosdedemolições, locaisdeixadosvagosporempresasquefaliramoumigraram,

empreendimentosinconclusoselotesàesperadeprojetosadiados,assimcomoespaçossobrantes

ouinterditosnasmargensdeloteamentos,entreviasrápidasesobviadutos,emterrenosdeclivosos

e locaisalagáveis, integramumavastacategoriadeespaçosdesprezadosdascidades,que formam

paisagens de abandono e desolação (Martin 2014). Na terminologia de G. Clément (2003), fazem

parte da Tiers paysage, i.e. espaços expelidos da civilização que se tornam territórios onde a

sociedadepermitequeapaisagemevoluaentregueàvontadedosseresbiológicos.M.Gandy(2013)

chamou-lhesevocativamentedemarginalia.

Apreendidas vulgarmente como meros “intervalos de espaço” ou “espaçamentos ilegítimos”

(Cavaco2007),asváriasordensdemarginaliaurbanasquereferimos,eoutrasafins,nãocostumam

colher simpatias.Comomanifestaçõesdeausênciasqueemparte são, conotam-se comovazio, a

morte,adesolaçãoeocaos.Fábricaseprédiosdevolutoseemruínassãolidoscomoexpressõesna

paisagem de fracassos – individuais, económicos,mas também políticos – e da inelutável derrota

humanasobreamarchadotempo.Porqueourbanoéconotadocomoartificializado,oconstruídoe

o habitado, interrupções nessa previsibilidade são tomadas pela sensibilidade dominante como

imperfeiçõeseincompletudes.Poressemotivo,arespostadominantedaspolíticastemsidotentar

contrariaressasváriasexpressõesaparentesdedesordemedesmazelo investindomilionariamente

em operações de regeneração urbana destinadas a reverter o arruinamento, a atrair novos

residenteseatividadeseconómicas,eareurbanizaracidadeatravésdereedificações,reocupaçõese

preenchimentos desses ‘espaçamentos’ vistos como intromissões inoportunas de vazio no urbano

(Tallon2010,TrindadeJr.2010).

Nesteartigo,onossoobjetivoésuscitarumolhardiferentesobreasmarginalianãoedificadas

da cidade e equacionar hipóteses de intervenção nesses espaços que possam ser alternativas aos

modelos convencionais de regeneração urbana. O conceito de terrain vague de I. Solà-Morales

(1995) serve demote à abordagem que vamos desenvolver. Na verdade, ele sintetiza o primeiro

tentamedeuma leituramenossevera,e tambémemcertamedidamais límpidasobreosespaços

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abandonadosdacidade,porquemaisconcordantecomasuaontologia.Otermoterrainvague,que

I.Solà-Moralesinsistiuemusaremfrancêsnumtextoqueveioalumeoriginariamenteeminglêspor

ojulgarmaiscapazdecaptarereterosváriosmatizesdacomplexafenomenologiadaspaisagensdo

abandono, não pretende apenas descrever uma situação de vacância ou desocupação em certa

porção de solo urbano. Alude também a um estado de disponibilidade, expectação e

indeterminação,eaumaestranhacondiçãodeinterioridadeeexterioridade,depresençasimultânea

dentroe fora,que liquefazas fronteirasentreourbanoeonão-urbano,ouoartificialeonatural,

dadoqueestesespaçossão“internosàcidademasexternosaoseuusoquotidiano”e“existemfora

doscircuitosefetivosdacidadeedassuasestruturasprodutivas”(Solà-Morales1995,120).Através

dalentedesteconceitoépossívelperceberquetalveznãosejaafinaldesolaçãomassimliberdadeo

sentimentoquemelhorexprimearealidadedestes locais.Oconceitodeterrainvagueconvida-nos

alémdissoaolhardeformamaistranquilaparaapresençadessesespaçosemnossoredor,vendo-os

nãocomoanomaliasmascomoelementostriviaisdapaisagemurbana,emboracomapeculiaridade

deconfiguraremumestádiointermédioouhíbridoentreoartificialeonatural.Essacondição,que

empartetambémfoicaptadapeloconceitodeTierspaysageaorealçarodomíniodobiológicoeao

sublinharigualmenteasituaçãoliminardessesespaços,semumapertençaóbvia“nemaoterritório

da sombra nem ao da luz” (Clément 2003, 4), abre caminho a que outras formas de abordar as

paisagens do abandono e de pensar a sua missão e lugar na cidade futura sejam possíveis,

nomeadamentenumaperspetivadeecologiaurbanaedesustentabilidadeambiental.

Aspáginasseguintesservirãoparadesenvolverestestópicos.Começaremoscomumareflexão

brevesobreabanalidadedaspaisagensdoabandononacidadecontemporânea,tentandomostrar

que não se tratam de aberrações mas de inerências do desenvolvimento urbano no capitalismo

avançado.Emseguida,procuraremoschamaraatençãoparaovalorecológicoepaisagísticodesses

espaços,realçandoopotencialquetaisinterstíciosnotecidodacidadepodemternaconstruçãode

um futuro urbano mais sustentável. Terminaremos com uma reflexão sobre as suas possíveis

aplicaçõesaespaçosvacantesdacidadedeLisboa.

2. Abanalidadedoabandononaurbanidadecontemporânea

No urbanismo, tradicionalmente, nunca foi o abandonomas sempre o crescimento a grande

preocupaçãoeo temade todas as reflexões.Aurbanísticamoderna surgiu no século XIX ligada à

necessidadedeencontrarsoluçõesdehabitatadequadasparaumapopulaçãourbanaemexplosão,

eessapermaneceuasuamissãofundamentalaolongodamaiorpartedoséculoXX.Éumfactoque,

nessedecurso,houvesurtosdearruinamentocomqueosurbanistastiveramdeseconfrontar,mas

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tais devastações ocorreram circunscritamente no tempo e no espaço, em ligação com eventos

cataclísmicos e portanto extraordinários – incêndios como o de Chicago em 1871, terramotos, as

duasguerrasmundiais–,oqueajudouafixarumaimagemdaquelesfenómenoscomodisrupções,

anomalias,ousejaerrosnatrajetórianormaldascidades.

No último quartel do século XX, inesperadamente, os urbanistas viram-se confrontados com

dinâmicas até então desconhecidas na evolução das cidades.De repente constataramque não só

áreas centraisdeaglomerações comoaté regiõesurbanas inteiras, emvezde crescerem,perdiam

população e atividades económicas. O abandono irrompia como uma nova força modeladora da

paisagemurbana,oquepareceuaurbanistasecientistasurbanoscontranatural.Conceitoscomoo

de“contraurbanização”(Berry1980)e“desurbanização”(vandenBergetal.1982),surgidosentão

paradescreveranovarealidade,exprimembemaestranhezasentida.

Numaprimeirafaseencontrou-senametáforadociclodevidaumaexplicaçãoplausívelparaa

inversãonatrajetóriaseculardominantedecrescimento.Ateoriadociclodevidaurbanopostulou

que as cidades transitavam no seu processo histórico por etapas sucessivas de crescimento

(urbanização), apogeu (suburbanização) e declínio (desurbanização), posto o que poderiam entrar

numafasederenascimentoereurbanização,reiniciandoociclo,ouentão involuíremnumdeclínio

progressivo até à extinção final (van den Berg et al. 1982). Foi por influência desta teoria que se

generalizou a ideia de investir em políticas de regeneração urbana para reverter o declínio e

recuperarocrescimento.

Estudossubsequentesvieramdesacreditarateoriadociclodevidaurbano,comprovandoque

ascidadespodemseguirtrajetóriasvariáveisecomcaminhosnãonecessariamenteacomodáveisna

sucessãode fases que aquelemodelo previa (Cheshire 1995, Turok eMykhnenko2007, Kabisch e

Haase 2011). Os dados entretanto reunidos sugerem que crescimentos e declínios urbanos não

devemserpensadosemtermosdefases,antesdevendoservistoscomotendênciasdivergentesque

podemdecorreraparemdiferenteslocais.Aabordagemvaihojemuitomaisnosentidodeassumir

que o retraimento demográfico das cidades é um processo estrutural e duradouro (Martinez-

Fernandez et al. 2012, Hospers 2014). Pesquisas baseadas em grandes volumes de informação,

envolvendocomparações internacionaisextensivasesériesestatísticas longas,demonstramqueas

dinâmicasurbanasregressivasestãopesadamente instaladasemlargaspartesdoglobo,sobretudo

noNorteGlobal.NaEuropa,segundoconcluíramTurokeMykhnenko(2007),havianoprincípiodo

século XXI três vezesmenos cidades a crescer do que nos anos 60, e as taxas de crescimento da

populaçãourbanaerammaisbaixasdoqueasregistadasháquinzeouvinteanos,eaindamaisdo

que há trinta ou quarenta; os números apresentados apontavampara 62%das cidades europeias

terem passado por algum período de retração demográfica desde os anos 70, e 42% estarem no

momentodoestudoemdeclínio.

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Atualmenteusa-seoconceitode‘encolhimentourbano’(urbanshrinkage)–porvezestraduzido

por ‘contraçãourbana’–paradesignarestefenómeno.Emboraaformamaisfácildeocaptarseja

através das estatísticas demográficas, é um fenómeno multidimensional que não se cinge à

diminuição da população residente, envolvendo também, em maior ou menor grau, retração de

emprego, diminuiçãodaofertade funções centrais, e sobredimensionamentode infraestruturas e

equipamentos, espaço construído e solo urbano (Martinez-Fernandez et al. 2012, Hospers 2014).

Umacidadeemencolhimento(shrinkingcity)define-seporapresentarumatendênciaduradourae

consistente de diminuição demográfica associada a sintomas de crise estrutural (Wiechmann e

Bontje2015).

Há territórios que parecem ser particularmente vulneráveis ao encolhimento urbano. Nas

grandesmetrópoles o encolhimento émenos percetível do que nas pequenas cidades (Kabisch e

Haase2011).NaEuropadeLesteenosBalcãshámaiorespercentagensdecidadesaencolheremdo

quenaEuropaOcidentaledoNorte:seempaísescomooReinoUnido,aSuéciaouaHolandanão

chegama10%,naAlemanhaeemFrançaandamemtornodos20%,naHungria,naRepúblicaCheca,

naCroáciaenaGréciasobemparamaisde40%,eempaísescomoaLituânia,aLetónia,aBulgária

ou a Roménia atingem-se valores extraordinários de mais de 80% das cidades em encolhimento

(Martinez-Fernandez et al. 2016). Em todo o caso, mesmo em aglomerações urbanas que

estatisticamentenãosãoclassificadascomocidadesemencolhimentopor,globalmente,manterem

taxasdevariaçãopositivasdapopulação,éfrequenteencontrarem-senoseuinteriorcircunscrições

ou bairros em encolhimento (Audirac et al. 2012), o que confirma e reforça a ideia de que as

paisagensabandonadassetornarambanaisnascidadescontemporâneas.

Oencolhimentourbanoéumfenómenomulticausal.A literaturaéprolixana identificaçãode

fatores diversos que podem ser responsáveis pelo abandono urbano, desde razões ambientais a

motivos sociais, políticos e económicos. Como recordam Reckien e Martinez-Fernandez (2011),

razõesepidemiológicasefomesãocausasdeencolhimentourbanonaÁfricaSubsariana,naChinahá

cidades abandonadas por ordem política, e desastres ambientais (Nova Orleães, Prypiat, etc.) e

esgotamento dematérias-primas e recursos (o que é comum, por exemplo, em cidadesmineiras)

desencadeiam por vezes abandonos massivos pontuais; a isso, porém, juntam-se outras causas

estruturais e difusas, que são hoje as preponderantes no Norte Global, relacionadas umas com

mudanças de estilo de vida, como a suburbanização e a segunda transição demográfica (baixa

fecundidadeeenvelhecimentodemográfico),outrasdeíndolepolíticaeeconómica,nomeadamente

o colapso do socialismo nas sociedades da Europa de Leste e a desindustrialização associada à

reestruturaçãoglobal do capitalismo.Bontje eMusterd (2012) sistematizaramessadiversidadede

motivos em três categorias essenciais de causas, a saber: (i) destruições (i.e., guerras, epidemias,

desastresambientais,poluição);(ii)perdas(i.e.,escassezderecursoseperdasmassivasdeemprego,

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normalmenteassociadasaregiõesmonofuncionaisoudependentesdeumagrandeempresa);(iii)e

transiçõesemudanças, títuloonde incluemascausas relacionaiscomalteraçõessocietais (comoa

suburbanizaçãoouonovo regimedemográfico)e comaglobalizaçãoe reestruturaçãoeconómica,

este último um aspeto que tem sido especialmente sublinhado em vários estudos onde se liga o

encolhimento urbano à periferização dos territórios perdedores da globalização (Lang 2012,

Martinez-Fernandezetal.2012).

As vacâncias em larga escala de edifícios e até por vezes de bairros inteiros, que de repente

ficamexcedentários,sãoconsequênciasdiretasdoencolhimentonapaisagemaquealiteraturatem

aludido (Couch e Cocks 2013). Novos espaços vazios resultantes de demolições e terrenos

urbanizáveis expectantes que perduram no tempo sem serem edificados por falta de procura

formam, emmuitas áreas urbanas, reservas abundantes de solo. Nos EUA, esse valor cifra-se em

16,7%da área total das cidades, segundoumestudo recenteque inventariou os espaçosurbanos

vacantes,númeroquenasregiõesdoMidwestedoSulsobempara21,2%e23,5%respetivamente

(Newman et al. 2016). Perceber que vocação e utilidade estes espaços podem ter numa ótica de

desenvolvimentourbanosustentáveladaptadoaumcontextodeencolhimentourbanoé,por isso,

essencial.Issosignifica,comotêmdefendidoalgunsautores,sabersubstituirasvelhaspreocupações

focadasemcontrariaroencolhimentoporabordagensnovasque saibamaceitareste fenómenoe

utilizá-loemproldamelhoriadoambienteurbano,tantomaisque,comodiziaG.-J.Hospers(2014,

1514),“aqualidadedevidanumacidadenãodependenecessariamentedadensidadepopulacional”.

Dentrodestaperspetiva,oargumentoquevamosdefendernaspartesseguintesdesteartigoé

queosespaçosvacantesurbanostêmvalorecológicoepaisagísticoepodemservirpositivamentena

construçãodeumacidademaisresiliente,ambientalmentesustentávelebiofílica.

3. Ovalorecológicoepaisagísticodosespaçosabandonadosnãoedificadosnacidade

Osespaçosabandonadosnãoedificadospodemtrazerumamais-valiaecológicaparaacidade.

São espaços com potencial para desempenharem um importante papel funcional, paisagístico e

estético, e para contribuírem para a promoção e conservação da biodiversidade, da resiliência

urbanaedamitigaçãoderiscos.Amaioriadestesespaçosabrigaformaçõesecológicas,algunssendo

vestígios de jardins ou estruturas verdes abandonadas que vão sobrevivendo no tempo, emuitas

vezes desempenham também um papel social, nomeadamente como espaços de recreação ao ar

livreedeproduçãoalimentar, apesardemal aproveitado (Foster 2014).Osespaços abandonados

nãoedificadospodemconstituir,nesse sentido,umreforçoparaaestruturaecológicaurbana,em

complementoaosespaçosverdes.

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Nacidadeasestruturasverdesminimizamosimpactesambientaisdecorrentesdocrescimento

urbano:melhoramoambientequímicoefísico,emparticularaqualidadedoar;regulamahidrologia

urbana e moderam a ilha de calor; atenuam o ruído; controlam a erosão; aumentam a

biodiversidade;ereduzemasnecessidadesenergéticasdacidade.Paraalémdestesefeitos,podem

proporcionarnumerososoutrosbenefícios,comoosestéticos,psicológicosesocioeconómicos,com

reflexospositivosnobem-estardoscidadãos(SchoedereCannon1983;Ulrich1985;KaplaneKaplan

1989; Huang et al. 1992; Kaplan 1992; McPherson et al. 1994; Sullivan e Kuo 1996; Wolf 1999).

Contudo, também existem potenciais custos e, tal como com todos os ecossistemas, numerosas

interações devem ser entendidas (Soares et al. 2011). Criar e manter os espaços verdes de uma

cidade é oneroso; a produção de um novo jardim tem custos nunca inferiores a 10€/m2e anda

geralmente pela ordemdos 50€/m2, e amanutenção varia entre os 2 a 3€/m2/ano em jardins de

regadio(Mata2017).NumacidadecomoLisboa,asdespesasanuaiscomespaçosverdesascendema

5,5milhões de euros(Mata 2017), valor que não é despiciendo e que, sobretudo em contexto de

encolhimentourbano,podecriardificuldadesdeenquadramentoorçamental.

Tem havido em diversas cidades um movimento no sentido da conversão de alguns desses

espaços abandonados em parques. Essa tendência não, é de resto, uma novidade. Experiências

pioneiras deste tipo remontam à reforma urbana de Paris de 1852-1870, conduzida pelo Barão

Haussmann(1809-1891).OengenheiroJean-CharlesAlphand(1817-1891)foioprincipalresponsável

pelacriaçãonessaalturadoParcdesButtesChaumont,tendolideradoumaequipaconstituídapelo

horticultor Jean-Pierre Barillet-Deschamps (1824-1873), pelo arquiteto paisagista Edouard François

André (1840-1911) e pelo arquiteto Gabriel Davioud (1824–1881) (Tate 2015). Parc des Buttes

Chaumontéumparqueparisiensedequase25hectareselaboradoaoestilopaisagista inglês,com

traçadoorgânico.Olugarescolhidoparaasuaimplantaçãofoiumaantigapedreiradeextraçãode

calcáriousadonaconstruçãoereformaurbanadacidade,edepoisutilizadacomolixeira.Éumdos

primeirosexemplosbemsucedidosdarecuperaçãodeumapaisagemurbanadegradadanumparque

paisagista,ou,comotambémjáfoireferido,umdos“maisdramáticosexemplosprecocesdaarteda

paisagemutilizadanarecriaçãodaformaedamatériadosespaçosabandonados”(JellicoeeJellicoe

1995,257).

Apesardeexemploshistóricoscomoeste,amaioriadasexperiênciasderecuperaçãodeespaços

abandonadosparaparquesurbanosérelativamenterecenteeapareceassociadaaopós-industriale

à arquitetura high-tech. Esta corrente da arquitetura surge nos anos 70 do século XX, entre o

Modernismo tardio e o início do Pós-Modernismo, e caracteriza-se pelo elogio das tecnologias, a

exibiçãodasredeseautilizaçãoàvistadasinfraestruturas,eporvalorizaraestéticaindustrial,numa

épocaemqueprecisamentesecomeçaaolharparaasantigasfábricasdesativadascomopatrimónio

industrial.AcriaçãodoGasWorksPark,emSeattle,peloarquitetopaisagistaRichardHaag(n.1923),

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aberto ao público em 1975, inscreve-se nesta estética, ao tirar partido da preexistência da antiga

fábrica de gás abandonada na composição paisagística, mantendo as estruturas fabris como

celebraçãodamemóriahistóricadolugar,doseuvalorestéticoedoseupotencialparanovosusos.

Os solos contaminadosda áreade intervençãodoGasWorksPark foram removidos, criandouma

colinaartificialdenominadaGreatMound,umdospontoscomvistapanorâmicasobreolago(Lake

Union)eacidadedeSeatle1.OprojetoGasWorksParkserviude inspiraçãoparaosurgimentona

Alemanha, nos anos 90 do século XX, do Landschaftspark Duisburg-Nord (Parque Paisagista de

Duisburg Norte), um parque pós-industrial de 230 hectares projetado pela equipa do arquiteto

paisagistaPeterLatz,e reconhecidocomoumsucessoquerpeloseumilhãodevisitantesporano,

querpelocustodemanutençãoconsideradobaixo,orçadoem4milhõesdeeurosporano2

Outra referencia inevitável éo TheHigh Line, construídoentre2009e2014emNova Iorque.

Trata-sedeumparquelinearcomaextensãode2,4Km,eumaáreade2,7hectares,plantadonuma

antigalinhaferroviáriadesativadaqueatravessatrêsbairrosdacidade(Meatpacking,WestChelseae

Hell'sKitchen/Clinton)sobreumviadutoelevadoa8mdealtura.OprojetoTheHighLinealcançou

famainternacionaldevidoaofactoderesultardeummovimentoderesistênciacívicoqueseopôsao

desmantelamento da antiga linha ferroviária pretendido pelas autoridades locais, reclamando a

criação de um jardim suspenso inspirado na vegetação espontânea que ao longo dos anos fora

colonizandooviadutoabandonado.Oprojeto foidesenvolvidosobumplanodeplantaçãodePiet

Oudolf (n.1944), sobcoordenaçãodoarquitetopaisagista JamesCorner (n.1961).Esteparquede

pequenas dimensões recebe cerca de 4,5 milhões de visitantes, mas tem um custo anual de

manutençãomuitoelevado,quechegaaos4,6milhõesdeeuros,suportadosem90%pelosFriends

oftheHighLineeem10%peloNewYorkCityDepartmentofParks3.

Embora as soluções anteriormente referidas sejam ambientalmente mais adequadas do que

seriaaconversãodosespaçosabandonados iniciaisemnovosprodutos imobiliáriosouespaçosde

consumo, qualquer delas não deixa de envolver custos vultuosos. Estratégias como as descritas

consistememsubstituirosterrenosvacantesporespaçosverdesdelazerqueconfiguramsoluções

permanentes. Németh e Laghorst (2014) questionam essa opção; na verdade, iniciativas para

promover soluções de longo termo devem ser ponderadas, desde logo porque não são as mais

adequadas ao contexto de incerteza em que cada vezmais se faz a gestão urbana,mas também

porque implicam inevitavelmente investimentosmaisvultuososdoquesoluções temporárias.Com

um adequado planeamento, desenho e gestão, é possível que os espaços abandonados não

1“GasWorksParks”,RichardHaagAssociates,acedidoemjaneirode2017,http://richhaagassoc.com/studio/projects/gas-works-park/

2“Duisburg Nord Landscape Park, DE”, Latz + Partner, acedido em janeiro de 2017, http://www.latzundpartner.de/en/projekte/postindustrielle-landschaften/landschaftspark-duisburg-nord-de/

3“TheHighLine”,FriendsoftheHighLine,acedidoemjaneirode2017,http://www.thehighline.org

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edificados cumpram missões semelhantes e proporcionem serviços assimiláveis aos dos espaços

verdes, nomeadamente nas vertentes ecológica, estética e social, sem serem transformados em

parques e objeto de planos integrais de replantação. Assim, em alternativa, aqueles autores

propõemummodelodeutilizaçãoflexívelqueenvolvausostemporáriosdosespaçosvacantescomo

infraestruturas verdes, assumindo a sua natureza liminar e vocação indefinida. Os espaços

abandonadosnãoedificadosdascidadespodemservalorizadoscomoespaçosparausufrutocoletivo

de lazer e infraestruturas verdes espontâneas, suscetíveis de diversas utilizações apenas com

intervençõesmínimasnosentidodeabriroseuacessoequalificarasuafruição,oucorrigireventuais

situações de risco que possam estar neles presentes. Um caso que pode vir a ser um modelo

paradigmático nesta lógica de reutilização de espaços urbanos abandonados por novos usos

temporáriosouintermédioséoantigoaeroportodeBerlim,desativadoem2008,equedeuorigem

ao Tempelhofer Feld, um parque público de 387 hectares onde pistas de ciclismo, de skate e de

patinsemlinhausamagoraasantigaspistasdeaterragem(Colomb2012).Emtodoocaso,convém

terpresentequeamaioriadosespaçosurbanosabandonadosnãoedificadossãoparcelaspequenas,

comformasirregularesedelocalizaçãodispersa,oquerelevaodesafiodeosintegrarnaestrutura

ecológicaurbana.

Da perspetiva da arquitetura paisagista, para a qual as intervenções podem ser de caráter

temporáriooupermanenteconsoanteolocaleofuturoplaneamentourbano,estaformaalternativa

deabordagemaosespaçosurbanosabandonadoséaceitável,viávelepodeatéconstituirumdesafio

particularmenteinteressante.Defacto,estáemsintoniacomumatendêncianaturalistanodesignde

espaçosverdesque,nãosendodeagora,temvindoaganharpesonosúltimostempos,privilegiando

oespontâneo,oorgânicoeoautêntico,noquetambémpodeservistocomoumelogioaoecológico

e ao selvagem. No que diz respeito à vegetação, muitas vezes os planos de plantação têm sido

inspiradospelaestéticadasassociaçõesespontâneasdasplantasnapaisagem.Estavisãonaturalista

tantoenglobaplanosdeplantaçãoexclusivamentecompostoscomplantasautóctones,comocoma

incorporação de plantas introduzidas (exóticas). Numa perspetiva histórica, a edição em 1870 do

livro TheWild Garden por William Robinson (1838-1935), conjugado com o trabalho prolífico de

Gertrude Jekyll (1843-1932), marcam o início dessa abordagem naturalista dos jardins.

Contemporaneamente,PietOudolf(n.1944)éumdosprojetistasquemaistemcontribuídoparaa

difusão desta estética naturalista através de obras como Planting the Natural Garden (Oudolf e

Gerritsen 2003) e de projetos como o The High Line, mencionado antes, mas onde, todavia, o

‘selvagem’nãoéespontâneoesimprodutodeumminucioso(edispendioso)planodeplantação.

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5. OsterrainsvaguesdaZonaOrientaldeLisboa

Muitas das reflexões acima feitas a propósito da banalidade dos espaços abandonados na

cidadecontemporâneaedoseupotencialpaisagísticoeecológicotêmplenocabimentoquandose

pensanumarealidadecomoLisboa.Nãoobstanteestacidadecorresponderaocentrodaprincipal

aglomeraçãourbanadopaís,eportantoaonúcleomaisdensoeconsolidadodeumaextensaárea

urbanizadademaisde3milkm2ondeseconcentravam2,8milhõesdehabitantesàdatadoúltimo

censo,Lisboaéumcasopatentedecidadeemretrocessodemográfico.Desde1981,perdeucercade

260.000habitantes,ousejaquaseumterçodasuapopulação,valorqueacolocaentreascidades

capitaisdaUEquesofreramumacontraçãomaisdrástica.

Embora a suburbanização deva ser tida como uma explicação maior para esta evolução, é

reconhecido que o encolhimento de Lisboa tem também razões estruturais que se prendem com

mudançasglobaisnaorganizaçãodocapitalismo,dequeadesindustrializaçãoéumadasexpressões

maispatentes(Guimarãesetal.2015).NãoéporissosurpreendentequeaZonaOrientaldeLisboa4

(fig.1),comasuahistóricaligaçãoàindústria,sejaumapartedacidadeondeasruínaseosterrenos

vacantes estão especialmente presentes. No trabalho de inventariação de espaços urbanos

abandonadosrealizadonoâmbitodoProjetoNoVOIDconstatámosque31,3%daáreadeterrenos

vacanteseespaçosarruinadosdeLisboaseencontravamnaZonaOriental,estendendo-sepor151

hectares,i.e.7,9%dasuperfíciedesteterritório5(fig.2).

ApresençaderuínaseterrenosvacantesnaLisboaOrientaldeve-seemgrandeparteàhistória

deocupaçãodestapartedacidade.XabregasfoiumdosfocosiniciaisdaindustrializaçãodeLisboa

noséculoXIX.Todaaocupaçãourbanada faixaribeirinhaatéaoBraçodePrata foipropulsionada

por esse surto industrial. É dessa fase uma geraçãomais antiga de fábricas, sobretudo ligadas ao

setor alimentar e do tabaco, ao têxtil, tanoarias e grossistas de vinhos e azeites, de que resistem

aindavestígiosváriosdearqueologia industrialnapaisagememassociaçãocomrestosdediversas

tipologias de habitação operária. Na sequência do plano de urbanização de Lisboa de 1938, essa

vocaçãofabrilconsolidou-secomacriaçãodeumavastazonaindustrialplanificadamaisamontante,

4 AZonaOrientaldeLisboaabarcaasfreguesiasdeBeato,Marvila,OlivaiseParquedasNações.DesdeareestruturaçãoorgânicadaCâmaraMunicipaldeLisboade2011,correspondeàáreadejurisdiçãodeumadascincoUIT(UnidadesdeIntervençãoTerritorial)criadasnessaocasiãoparafuncionaremcomoumníveldegestãoautárquicointermédioentreasfreguesiaseomunicípio.

5 OinventáriofeitopeloProjetoNoVOID(PTDC/ATP-EUR/1180/2014)abarcaruínasequintaisarruinados(construçõesqueatingiramumavançadoestadodedegradaçãoqueas torna incapazesdedesempenharema funçãoparaqueestavamoriginariamentedestinadase respetivosespaçosenvolventes),projetosabortados/suspensos (edificações inacabadaseterrenos correspondentes a processos de loteamento e/ou urbanização suspensos) e terrenos vacantes (espaços nãoagricultados e não ajardinados, com coberto arbustivo e/ouherbáceo a dar sinais de abandono, localizadosno tecidourbanoconsolidadoounassuasáreasdeexpansão,assimcomoespaçosdeantigasconstruçõesdemolidasondeaindapodemsubsistirfragmentosdeedificações,entulho,ouimpermeabilizaçãodosolo,equeporissoformam‘buracos’notecidoconstruído).Maisinformaçãosobreoprojetopodeserobtidaemhttp://www.ceg.ulisboa.pt/novoid/.

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deBraçodePrataaCaboRuivo,queacolheuaindústriapetroquímica,algumasgrandesempresasde

maquinaria e farmacêutica, e ainda unidades ligada ao setor militar, da produção de fardas, a

telecomunicações e a material de guerra. Esta especialização na indústria pesada explica que no

princípio dos anos 90 cerca de 60% do solo da cidade ocupado por fábricas se situasse na Lisboa

oriental(BarataSalgueiro2001).

Fig.1–AZonaOrientaldeLisboa

Fig.2–EspaçosurbanosabandonadosnaZonaOrientalde

Lisboa

(identificaçãoapartirdetécnicasdedeteçãoremotacom

baseemfotografiaaéreadealtaresoluçãode2014)

Emclarocontrastecoma industrializaçãodafaixaribeirinha,osterrenossituadosmaisparao

interior,sobreascolinas,mantiveramatétardefortefeiçãorústica.Muitodessesolo,ocupadoentão

porquintas,foiabrangidopeloprogramadeexpropriaçõesqueacâmaradeLisboalevouacabonos

anos40,tornando-senumaenormereservadesolopúblicoqueviriaaserusadapaulatinamenteno

desenvolvimentodesucessivosprogramasdehabitaçãosocialdeiniciativapública–MadredeDeus,

Olivais,Chelas,Alfinetes,etc.–aolongodomeioséculoseguinte.

Acombinaçãodestesdois factos–apresençada indústriaea reservadesolopúblicoquesó

lentamentefoisendourbanizado,esempredeformadescontínuaedesconexa–contribuírampara

queaZonaOrientalsubsistissecomoumterritóriodeocupaçãourbanamenosdensaqueamédiada

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cidade.Em1981,adensidadepopulacionalerainferiorem1.970hab./km2àgeneralidadedacidade

de Lisboa. A desindustrialização, que se iniciou nos anos 80 e se acentuou fortemente na década

seguinte, não contribuiu para inverter essa situação. T. Barata Salgueiro (2001, 141) refere que a

indústria em Lisboa perdeu “19.538 empregos na década de 80 emais do dobro na seguinte”, e

muitas das fábricas que desapareceram ao longo destes anos situavam-se precisamente aqui. Em

associaçãocomareduçãodasoportunidadesdeemprego,diminuiutambémapopulaçãoresidente:

entre1981e2001,oconjuntodaZonaOrientaldeLisboaperdeu23.930habitantes(-19,4%).

AdesindustrializaçãoabriucaminhoaumaprofundareconversãourbanísticadaLisboaoriental.

Odesmantelamentoda indústriapetroquímicaemCaboRuivo(quase60hectares),dodepósitode

materialdeguerradeBeirolasedomatadouromunicipal,foiabaseparaarealizaçãodaExpo’98e,

atreladoàorganizaçãodessemegaevento,paraograndeplanourbanísticodoParquedasNações,

envolvendo um total de 340 hectares. A renovação desta área e a sua refuncionalização como

modernobairroresidencialecentroterciáriopermitiuqueoconjuntodaZonaOrientalrecuperasse

populaçãoentre2001e2011(+2,2%),emborainsuficienteparacontrariarasperdasregistadasnos

decéniosanterioresereporosvaloresde1981.

Arenovaçãourbana,porém,nãosecingiuaoperímetrodoParquedasNações.Desdeosanos

80,esobretudoao longodosanos90,bairrosdebarracasquehaviamcrescidonas imediaçõesda

cinturaportuáriaedosantigosnúcleos industriaispararesponderàsnecessidadesdehabitaçãode

grupos insolventes foram demolidos e os seus habitantes realojados em novos conjuntos de

habitaçãosocial(bairrosdoArmador,dosAlfinetes,Flamenga,etc.).Esserealojamentomassivoem

novosedifíciosplurifamiliaressignificouumrecuodapopulaçãodafrenteribeirinhaparaointerior,

comsubidadasconstruçõessobreascolinas,eaomesmotempoumaconcentraçãoeverticalização

do edificado residencial: de 8.203 edifícios habitacionais existentes em 1991 na Zona Oriental

passou-separa6.820em2011,enquantoonúmeromédiode fogosporedifício aumentoude4,7

para7,4.

Não obstante esta renovação, continuam a subsistir grandes manchas de arruinamentos e

vacânciasnaZonaOriental.Otipodereconversãourbanística iniciadonoParquedasNações,com

substituição de antigo solo industrial por novos condomínios residenciais, era expectável que se

tivesseexpandidoparasul,masacrisefinanceiraglobaldadécadapassada,edepoisacrisedadívida

soberana da zona Euro, introduziram um compasso de espera nessas pretensões. Ao longo da

Avenida Infante D. Henrique e a sul da Avenida Marechal Gomes da Costa, na frente ribeirinha,

encontram-semassasvolumosasdeedifíciosarruinadosegrandes lotescomrestosdedemolições

ou projetos iniciados que foram interrompidos. Alguns desses espaços encontram-se nessas

condiçõeshávinteanos,vedados,eportantosuprimidosàvidadacidade.Acabaramporseimporna

paisagem como presenças fantasmagóricas e um pouco misteriosas. Uma vegetação espontânea

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secundáriafoitomandocontadoslocais.Pensandonotempojátranscorridoemqueseencontram

nessa situação, é de nos interrogarmos se não teria sido possível pensar em usos públicos

transitórios para esses espaços, com intervenções de baixo custo, semelhantes, por exemplo, às

experiênciasdeBerlim,ondeoterrenodoantigoaeroportodeBerlim–Tempelhof–foidesativado

em2008edeulugaraomaiorparquepúblicodestacidade,ouseessanãopodeserumahipótesea

equacionarparaofuturopróximo.

Outra situaçãobastantepresentenaZonaOriental correspondeaespaçosvacantesmarginais

ao longodas linhasde caminhode ferro, configurando faixasdeTiers paysages que se interpõem

comobuffersentreasáreashabitadasetransitadas.Restriçõeslegaisseverasaoseuuso,incluindo

como espaços verdes de lazer, devido a questões de segurança e às regras impostas pelo regime

jurídicodoruído,têmlevadoaqueestesespaçospersistamcomomeros‘espaçamentos’sobrantes,

esquecidos pelo sistema de planeamento e pelos órgãos responsáveis pela gestão ambiental e

paisagística. Associações espontâneas de plantas aparecem nestes espaços em conjunto com

espéciesdecaráterinvasor,formandoumacomposiçãoconstituídaporespéciesvegetaisquecarece

de tratamento estético e paisagístico, entre as quais abundam:Ailanthus altissima (Mill.) Swingle

(ailanto), Cortaderia selloana (Schult.) Asch. & Graebn. (erva-das-pampas), Eriobotrya japonica

(Thunb.) Lindl, (nespereira), Ipomoea purpurea (L.) Roth. (glória da manhã, campainha, ipoméia),

Pittosporum undulatum Vent. (árvore-de-incenso), Robinia pseudoacacia L. (acácia-bastarda), e a

Ricinus communis L. (rícino).Merece pensar se não traria vantagens entender estes territórios de

penetração do selvagem na cidade como peças da estrutura verde urbana. Talvez especialmente

positivo fosse equacionar como estes espaços se podem integrar nas várias tipologias de espaços

verdes – cívicos, públicos de recreio, privados, de produção, de equipamentos, de proteção –

desempenhandoumpapelcrucialparaabiodiversidade,aresiliênciaurbana,avalorizaçãoestética

dacidadeeoconfortourbano.

Finalmente, em localizaçõesmais para o interior, encontra-se ainda uma outra realidade que

consisteemgrandesmanchasdeterrenosvacantescorrespondentesaespaçosnãourbanizados.São

restos de solo rural abandonado, heranças de antigas quintas desaparecidas sobre as quais

impendempretensõesurbanísticasouqueconstituemreservasdesoloparaaimplementaçãofutura

degrandesprojetospúblicosdecaráterestruturantecomhorizontedeconcretizaçãoindeterminado,

comosejamosterrenosreservadosparaointerfacedetransportesdeChelas-Olaias,paraoParque

HospitalarOriental (Hospital de Todos os Santos), ou para o acesso à terceira travessia do Tejo e

amarraçãodafuturaponteChelas-Barreiro.Essesolodestinadoaumafinalidadefuturaquenãose

sabe quando ocorrerá está hoje ocupado por várias formas de associações vegetais selvagens de

charnecasematagais,normalmentenãopensadosemrelaçãocomosistemadeespaçosverdese

corredores ecológicos, mas que na prática lhes são complementares. É importante assegurar e

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melhoraraqualidadedevidanascidadesondeosfundamentosecológicosurbanosdesempenham

um papel crucial como diretrizes para um planeamento e uma gestão sustentável urbana com o

intuitodeprogredirmosparacidadessustentáveisecomcapacidadederesiliência.

6. Conclusão

A teoriamais recente sobreoencolhimentourbano recomendaqueosespaçosabandonados

dascidadesnãosejamvistoscomosituaçõesexcecionaiseanómalas,mascomopresençasbanaise

partesintegrantesdacidadeparaasquaisénecessárioencontrarsoluçõesurbanísticaseformasde

integração paisagística inovadoras. A desdensificação que inevitavelmente se associa à retração

demográficaeaoabandonopelasatividadeseconómicasabrehipótesesaoavançodobiológicona

cidade, com a renaturalização de alguns espaços e a formação de ambientes assimiláveis ao que

talvezsepossachamardeselvagemurbano.

AaproximaçãoquefizemosaocasodaLisboaorientaldeixoupatenteoenormepotencialque

osespaçosarruinadosevacantesapresentam.Espaçosocupadosporruínasouprojetossuspensos

estendem-sepor40,2hectares.Quintaisarruinadoseterrenosvacantes,ondeasespéciesvegetais

sãodominantes,totalizammais110,7hectares,normalmentenãoassumidoscomoparteintegrante

dainfraestruturaverdedacidade,masquenaprática,emparte,sepodemedevemsomaraos687,7

hectares de espaços verdes existentes. Este número é bem expressivo da presençamarcante dos

terrenos vacantes na paisagem e recomenda que novas formas de entendimento destes espaços

peloplaneamentourbanoedoseutratamentopelopaisagismosejamensaiadas.

Agradecimentos/apoio

EstetrabalhofoifinanciadoporfundosnacionaisatravésdaFCT–FundaçãoparaaCiênciaea

Tecnologia,I.P.,noâmbitodoProjetoPTDC/ATP-EUR/1180/2014(NoVOID–RuínaseTerrenosVagos

nasCidadesPortuguesas:ExplorandoaVidaObscuradosEspaçosUrbanosAbandonadosePropostas

dePlaneamentoAlternativoparaaCidadePerfurada),doqualéumproduto.

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