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OS EFEITOS DOS MEIOS ALTERNATIVOS NA SOLUÇÃO DOS
CONFLITOS PENAIS
Adriano José Moreira de Melo1
Vagner Bertoli2
Resumo
Com o fito de tornar mais célere os procedimentos judiciais, mormente nas causas de menor complexidade no campo penal, o Estado tem adotado meios alternativos que auxiliam o judiciário com o escopo de evitar o ingresso de processos judiciais lentos e onerosos. Sabe-se que um dos fatores negativos responsáveis pela lentidão no julgamento dos processos é o grande número de demandas que ingressam diariamente no pretório, fazendo com que a prestação jurisdicional não atenda às expectativas das partes no quesito tempo, assim como em grande parte dos casos a própria prestação jurisdicional não é satisfatória. O presente estudo visa demonstrar a influência das medidas alternativas para a resolução dos conflitos penais, através de conceitos, formalidades, bem como as finalidades pertinentes ao tema.
Palavras-chave: Caracterização e evolução dos conflitos, Influência dos meios alternativos, Celeridade processual.
Abstract
With the aim of making quicker judicial procedures, especially in cases of lower complexity, both in the criminal field, the state has adopted alternative means to assist the judiciary with the aim of preventing the ingress of slow and costly lawsuits. We know that one of the negative factors responsible for delays in trial procedures is the large number of demands that daily enter the praetorian, so that the jurisdictional provision does not meet the expectations of the parties in the question time, as in most cases the very adjudication is not satisfactory. This essay aims to demonstrate the influence of these alternative measures for the resolution of criminal disputes, through concepts, procedures, and relevant to the topic purposes.
1 Bacharel em Direito pela Faculdade Eduvale de Avaré; Advogado na cidade de Taguaí-SP; Pós-
Graduando em Direito Material e Processual do Trabalho pela Universidade Anhanguera-Uniderp. 2Professor de Direito Constitucional da Faculdade Eduvale de Avaré, Delegado de Polícia, Professor da
Academia de Polícia de São Paulo, Mestre em Direito Constitucional, Pós Graduado em Formação do Professor, Pós Graduando em Direito Administrativo.
Keywords: Characterization and evolution of conflicts; Influence of alternative means; Promptn
1 INTRODUÇÃO
O direito é um instrumento de controle social e sua principal função é
garantir a pacificação civil, de modo que conflitos sejam solucionados com
amparo à lei, evitando a chamada justiça com as próprias mãos.
De sorte que a Carta Política de 1988 traz em seu texto como garantia
fundamental a seguinte redação: “a lei não excluirá da apreciação do poder
judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV, CF/88). Significa que o
Estado não pode se abster à apreciar determinado conflito de interesse uma
vez levado ao seu conhecimento.
Portanto, o Estado toma para si o chamado de jus punitionis, evitando
assim regimes de vingança privada como a autotutela, onde aquele que
pretende algo deve buscá-lo com sua força própria.
Assim, inúmeros conflitos de interesses caracterizados por pretensões
resistidas, são levados aos pretórios para prestação jurisdicional. No entanto,
determinada maneira nem sempre traz às partes envolvidas um ar de
satisfação pelo que ao final se estabelece, seja pela demora na prestação
jurisdicional, seja pelo resultado diverso do pretendido, seja pela complexidade
que se trata uma simples questão.
Não é demais salientar que a justiça no Brasil, assim como em muitos
países da América Latina, está abarrotada de processos que aguardam
julgamento, muitos inclusive prescrevem sem solução, tudo em virtude da
lentidão na prestação jurisdicional.
Nesta toada, interessante demonstrar alguns meios alternativos para
solução de conflitos, que embora pouco utilizados, têm se mostrado muito
eficazes em sua finalidade.
Portanto a presente pesquisa busca traçar em linhas gerais os meios
que possibilitem a solução de conflitos penais de maneira alternativa, sem a
criação de lides extensas e exaustivas, na busca de uma cultura de paz.
2 DO CONFLITO E SUA CARACTERIZAÇÃO
Na orbita jurídica tem-se o conflito como dissenso, ou seja, é
consequência de interesses e valores contrariados. Grosso modo, pode-se
dizer que o conflito caracteriza-se, basicamente, diante de interesses
antagônicos, que uma vez contrariados gera toda problemática consistente no
dissenso.
Os conflitos são inerentes à sociedade, sempre existiram e vão existir.
A sociedade vive um constante conflito, seja pela classe social, seja pela
opinião política, seja pela opção sexual, em fim, o conflito está extremamente
ligado ao convívio social.
Neste passo, frise-se os ensinamentos de Vasconcelos (2012, p. 22),
Para lidar apropriadamente com o conflito interpessoal, devemos ser capazes de desenvolver uma comunicação despolemizada, de caráter construtivo. A capacidade de transformar relações e resolver disputas pontuais depende de nossa comunicação construtiva, baseada em princípios.
Nota-se que, segundo o autor, os dissensos não devem ser tratados
como um dogma social, um problema a ser banido da humanidade, pois na
verdade é inerente à sociedade e sempre irá existir, sendo mais simples sua
compreensão para solucioná-lo.
2.1 DOS CONFLITOS CONTEMPORÂNEOS
Com o processo de evolução dos povos, sobretudo após a revolução
industrial (século XVIII), o caráter de soberania baseado na hierarquia
econômica e também cultural foi perdendo espaço, pois o que antes era
monopólio dos grandes senhores e da burguesia, passou a ser de acesso
também dos flagelados.
Com efeito, hodiernamente, o amplo acesso aos conhecimentos,
possíveis através da tecnologia, fez com que, não somente as classes
detentoras do poder tivessem acesso às informações, mas também as
periferias, mitigando os códigos do poder hierárquico.
Assim, considerável mudança deu início era dos conhecimentos,
atenuando-se, portanto, as hierarquias tradicionais, pois com vasta gama de
conhecimentos que, agora os possibilita uma evolução cultural, torna-se quase
que inviável a soberania unilateral.
É o que se depreende das palavras de Vasconcelos (2012, p. 27):
Especialmente a partir das últimas décadas do século XX, uma “Revolução dos conhecimentos” vem contribuindo para mudanças substanciais. As pessoas sociologicamente urbanizadas vão-se tornando avessas às hierarquias tradicionais, pois o amplo acesso de conhecimentos não é compatível com posturas de imposição unilateral. Ao atenuar as hierarquias patrimonialistas, a “Revolução dos Conhecimentos” dá início a ondas emancipatórias. Paralelamente à emancipação feminina, avança, na consciência moral e política do povo, um sentimento-ideia de igualdade, que se expressa na forma de um movimento emancipatório, insurrecional.
Portanto, houve um processo de globalização e inevitavelmente aquele
comportamento piramidal, lastreado na hierarquia do poder, foi tomando forma
horizontal e, com a evolução cultural, cresceu também o número de conflitos
em sociedade, acarretando o ingresso de inúmeras demandas na justiça.
3 DA JURISDIÇÃO NO BRASIL E OS PRINCÍPIOS DA RAZOÁVEL
DURAÇÃO DOS PROCESSOS E DA CELERIDADE PROCESSUAL
É cultural no Brasil a solução dos conflitos por meio da jurisdição
comum. Trata-se, em tese, do meio mais procurado nos dias atuais, dividindo-
se em duas espécies, sendo jurisdição civil e jurisdição penal.
Esta última compreende pretensões de caráter punitivo, aquela
compreende todas as demais pretensões de caráter não penal, seja cível,
trabalhista, entre outras.
A jurisdição penal no Brasil destaca-se pelo extremismo formal, ou
seja, para o efetivo deslinde de um processo penal no Brasil, há inúmeras
formalidades a serem seguidas, o que inviabiliza a celeridade dos processos.
Há também, uma gama de princípios que dão sustento ao
ordenamento jurídico pátrio, mormente atrelados ao sistema processual
vigente. Todavia, importante destacar os principais para o presente estudo:
a) princípio da razoável duração do processo: (CF 5º LXXVIII) determinado
princípio inseriu-se no ordenamento jurídico brasileiro por meio da
Emenda Constitucional 45 de 2004, que trouxe consigo a reforma do
judiciário. Assim, acrescentou ao artigo 5º da Constituição federal (com
status de garantia fundamental) o inciso LXXVIII, garantindo-se à
sociedade que os processos judiciais ou administrativos não se
eternizem sem solução;
b) princípio da celeridade processual: desta sorte, o mesmo inciso
supracitado previu em sua segunda parte, o princípio da celeridade dos
processos, que consiste na garantia fundamental de que os processos
se utilizem de mecanismos que os tornem céleres, para que, desta
forma, possa alcançar o objetivo traçado no princípio anterior.
4 DA LEI 9099 DE 26 DE SETEMBRO DE 1995 E O NOVO MODELO DE
JUSTIÇA CRIMINAL NO BRASIL
Por tempos o legislador pátrio cogitou a possibilidade de uma nova
estrutura ao sistema processual penal brasileiro, em busca de um novo modelo
de justiça criminal, que superasse a exclusiva característica da
indisponibilidade que carreia o Código de Processo Penal de 1941.
Seria inclusive uma homenagem ao princípio da fragmentariedade que
sustenta o sistema penal no Brasil, o qual limita a legislação penal à tutela dos
bens jurídicos mais importantes, deixando aos demais ramos do direito àquelas
situações de menor complexidade. Assim, buscaria uma legislação que desse
um tratamento diferenciado aos conflitos de pequena monta, onde prescindisse
de um processo longo e oneroso.
A nova visão era superar o óbice por traz da necessidade de produzir
demandas extensas pela indisponibilidade da ação penal, buscando vantagens
em procedimentos orais, que pudessem concentrar o maior número de atos
processuais possíveis, podendo as partes se fazer presentes e, inclusive,
protagonizarem o resultado final.
O que se esperava era uma maior aproximação ao que se chama
pacificação social. Assim, tornando o processo mais acessível, mais célere,
mais eficaz e menos oneroso, seria torná-lo também mais democrático, dando
aos dissensos, sempre que possível, tratamento diverso por meios alternativos.
O legislador constituinte, com a promulgação da Carta da República de
1988, trouxe revolucionária inovação, possibilitando a criação de juizados
especiais criminais em seu art. 98.
Com efeito, em 1995, surgiu a Lei nº 9099 de 26 de setembro de 1995,
que instituiu em âmbito estadual os juizados especiais cíveis e criminais, dando
a estes, autonomia para processar e julgar as causas de menor complexidade
na esfera cível, e os crimes de menor potencial ofensivo na esfera penal.
Foi, portanto, um marco inovador, pois instituiu um novo modelo de
justiça criminal com a criação de institutos despenalizantes e menos ortodoxos.
4.1 PRINCIPAIS AVANÇOS DA NOVA LEGISLAÇÃO
Observa-se deste novo modelo de justiça criminal a guinada que se
deu à solução consensuada dos conflitos penais, com ênfase aos sentimentos
da vítima que, passou a ter mais interesse neste tipo de demanda.
Além disso, também observou-se maior número de casos solucionados
e maior satisfação quanto aos interesses processados. Nota-se que, ao invés
de processos penais extensos e exaustivos, passou-se a dar uma resposta
penal mais rápida aos casos em voga, o que faz com que a vítima se sinta
satisfeita, possibilitando, na maioria dos casos, que a punição não gere
qualquer presunção em prejuízo do réu.
Para tanto, a lei trouxe para o ordenamento jurídico Pátrio algumas
medidas despenalizadoras, conforme relacionadas adiante:
a) extinção da punibilidade, quando nos casos de infração de menor
potencial ofensivo de iniciativa privada ou pública condicionada houver a
composição civil dos danos (art. 74, parágrafo único);
b) imediata aplicação de pena alternativa caso não haja a composição
civil dos danos ou tratando-se de ação penal pública incondicionada (art. 76);
c) exigência da representação da vítima nos casos de lesões corporais
culposas ou leves (art. 88);
d) possibilidade de suspensão condicional do processo nos casos de
crimes em que lei não comine pena mínima superior a um ano (art. 89).
Cumpre consignar que não se trata de descriminalização, pois com
isso, a lei não retirou o caráter ilícito de tais infrações, mas, deu-lhes
tratamento diferenciado, a fim de tornar os procedimentos mais céleres e
eficazes, disciplinando, contudo, tais institutos despenalizantes.
4.2 PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM ESTE NOVO SISTEMA
A Lei nº 9099 de 1995, em seu próprio texto, consignou critérios que
orientam o seu sistema processual. Desta forma, verifica-se em seu art. 2º,
inserido no Capítulo das Disposições gerais, que o processo orientar-se-á
pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou transação.
Tudo isso com o intuito de simplificar o processo penal, cuja
deflagração dependia de procedimentos minuciosos, burocráticos e extensos.
Importante, demonstrar no que consiste cada princípio, conforme elencados
abaixo:
a) princípio da oralidade: segundo Capez (2012, p. 119), quanto a este
princípio, significa dizer que os atos processuais serão praticados
oralmente. Os atos essenciais serão reduzidos a termo ou transcritos
por quaisquer meios e os demais atos praticados serão gravados, se
necessário;
b) princípio da informalidade: por este princípio, entende-se que os atos
processuais, que se sujeitem aos ditames da Lei nº 9099/95 prescindem
de formalidade, bastando apenas que atinjam sua finalidade;
c) princípio da economia processual: entende-se que, deve-se realizar o
maior número de atos possíveis num curto espaço de tempo;
d) princípio da celeridade processual: visa procedimentos mais céleres,
diverso, do sistema previsto pelo Código de Processo Penal. Somado
com os demais princípios abordados, possibilita a quebra da rígida
formalidade e permite rapidez ao processo;
e) princípio da finalidade e do prejuízo: implica dizer que para se anular um
ato processual, este deve causar manifesto prejuízo comprovado pela
parte, não podendo, portanto, presumi-lo. É o que diz Capez (2012, p.
120):
Para que os atos processuais sejam invalidados, necessária se faz a prova do prejuízo (art. 65, §1º), o que significa dizer que não vigora no âmbito dos Juizados Criminais o sistema de nulidades absolutas do Código de Processo Penal, segundo o qual nessas circunstâncias o prejuízo é presumido. Atingida a finalidade a que se destinava o ato, e não demonstrada nenhuma espécie de prejuízo, não há que se falar e nulidade.
Evidente, portanto, a importância dos princípios elencados para o novo
sistema processual frente aos problemas enfrentados pelo Poder Judiciário.
5 DA RESOLUÇÃO Nº 125 DE 29 DE NOVEMBRO DE 2010 DO CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA - CNJ
Diante da necessidade de dar um tratamento diferenciado aos conflitos
em geral, e percebendo o difícil papel da justiça, o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), por seu Presidente à época e também Presidente do Supremo
Tribunal Federal – STF – Ministro Cesar Peluso, criou a resolução 125 de 29
de Novembro de 2010.
Ao assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal, em seu
discurso de posse, referido Ministro declarou a necessidade de políticas
públicas tendentes a auxiliar o judiciário em suas funções.
Um dos principais objetivos da resolução era atribuir tratamentos
menos ortodoxos aos dissensos, pois era viável o grande número de
demandas que abarrotavam os cartórios judiciais, sobrecarregando as
autoridades e os demais serventuários da justiça, e muitas das vezes
acabando sem a efetiva e esperada justiça, vez que a demora na prestação
jurisdicional acarretava a prescrição.
Saliente-se que desta forma o que se conseguia era apenas manchar
a elogiosa figura do poder judiciário, pois o número de demandas que
ingressavam no pretório era consideravelmente maior do que as que obtinham
solução, e a insatisfação social, maior ainda, pois não se via uma resposta do
Estado aos conflitos, restando uma sensação de mera impunidade.
Por meio da Resolução 125/2010, o CNJ buscou formas de tratamento
adequado aos conflitos, com o intuito de evitar, justamente, a demora na
prestação jurisdicional que foge, por sua vez, das funções do Poder Judiciário.
Assim, percebeu-se que o aprimoramento de práticas pré-processuais
como mediação, conciliação, entre outros, bem como de práticas já utilizadas
pelos Tribunais, evitam o ingresso de demandas e devem ser mais bem
trabalhadas.
6 MEIOS ALTERNATIVOS PARA SOLUÇÃO DOS CONFLITOS
Conforme já visto acima, a infinidade de processos que ingressam no
poder judiciário em busca de solução tem aumentado consideravelmente e,
com a evolução dos conflitos é possível perceber que a existência dele em
nosso meio é cada vez mais crescente, e que por tal razão, seria de suma
importância aprender a lidar com o conflito ao invés de tratá-lo como um
problema social.
A verdade é que, até a Constituição Federal de 1988, cerca de 350 mil processos ingressavam por ano nos Tribunais, hoje, esse acervo chega a 86 milhões, conforme dados do Relatório Justiça em Números do CNJ. Já o número de juízes e a estrutura funcional, nem de longe sofreram alterações na proporção necessária para atender o tão espantoso aumento dos litígios (PACHÁ, 2011, p. 87).
Assim, sabe-se que o poder judiciário tem desempenhado o seu
trabalho, mas que, apesar dos esforços, tem se mostrado ineficiente, pois é
gritante o nível de insatisfação social com os resultados.
Contudo, lamentável cenário tende a mudar. Com este intuito é que o
Estado tem buscado mecanismos diferenciados de tratamento aos conflitos,
visando eficiência e celeridade. É o caso da Lei nº 9099/95, conforme já visto
anteriormente, do NECRIM, da Resolução nº 125/10 do CNJ entre outros.
6.1 DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO
Entende-se por mediação o meio alternativo de resolução de conflitos
onde, um mediador apenas facilita o diálogo entre as partes conduzindo-as,
todavia, não interfere na construção do acordo (emitindo opiniões, por
exemplo) que será protagonizado pelas partes envolvidas. Vale lembrar que a
escolha do mediador deverá obter a concordância de ambas as partes
envolvidas, não ficando estas obrigadas à submissão de suas controvérsias à
mediação, nem tampouco a submeterem seus conflitos a mediadores que não
tem a sua confiança.
A conciliação, por sua vez, é o meio alternativo focado no acordo.
Neste caso, o conciliador exerce ligeira hierarquia em relação às partes,
emitindo opiniões, fazendo recomendações, advertindo-as, entre outras. Neste
passo, frise-se os seguintes ensinamentos:
A conciliação é uma atividade mediadora focada no acordo, qual seja, tem por objetivo central a obtenção de um acordo, com a particularidade de que o conciliador exerce leve ascendência hierárquica, pois toma iniciativas, faz recomendações, advertências e apresenta sugestões com vistas à conciliação (VASCONCELOS, 2012, p. 46).
Cumpre ressaltar que diante da burocracia da jurisdição penal
brasileira, houve uma considerável demora na instituição deste procedimento
em sede de processo criminal. Entretanto, com a Lei nº 9.099 de 1995,
superou-se a questão.
Aí, em dezembro de 2006, no Dia Nacional da Conciliação, 84 mil
audiências foram realizadas e, 55% dos processos colocados em pauta foram
solucionados consensualmente como observa Pacha (2011 p.87).
Já em 2007, ampliando-se de Dia Nacional da Conciliação para Semana Nacional da Conciliação, foram realizadas mais de 200 mil audiências, sendo que 43% destas demandas obtiveram solução por meio de consenso (PACHÁ. 2011 p.88).
Daí os efeitos destes meios na solução dos conflitos, visto que seus
resultados são viáveis e satisfatórios tanto para as partes quanto para o Poder
Judiciário.
7 DOS NÚCLEOS ESPECIAIS CRIMINAIS (NECRIM)
A mediação de conflitos está disseminada em nossa coletividade,
como nas empresas, escolas, etc, e ganha novos contornos com os
incentivos propostos pelo Ministério da Justiça através da Justiça
Comunitária, e a partir de 2010, com a ação do Conselho Nacional de Justiça,
que propôs a instalação dos núcleos de soluções consensuais de conflitos.
A Resolução nº 125/2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
reconheceu a relevância e a necessidade de uniformizar os trabalhos de
conciliação e outros métodos consensuais de solução de conflitos.
De outra parte, o Programa Nacional de Direitos Humanos,
aprovado pelo Decreto nº 7.037/2009, em sua diretriz 17, no objetivo
estratégico III, deixa clara a necessidade de formas para a solução de
conflitos.
Nesse cenário é de suma importância e urgência a instalação do
Núcleo Especial Criminal (Necrim), que como ensina Luiz Maurício de Souza
Blazeck:
“O NECRIM é órgão especializado da Polícia Civil do Estado de São Paulo que, primando pela pacificação social, promove a adequada solução de conflitos de interesses, decorrentes de crimes de menor potencial ofensivo, que dependam de representação ou de oferecimento de queixa, através de autocomposição pré-processual, consubstanciada em Termos de Composição Preliminar (TCP), presidida pelo Delegado de Polícia, com a participação da OAB, apreciação do Ministério Público e homologação do Poder Judiciário.” (Blazeck, 2013, p. 157).
É sabido que a Policial Civil, como integrante do Sistema de Justiça
Criminal, exerce um papel relevante na resolução de conflitos que ocorrem
diuturnamente em nossas cidades, onde vivem milhares de pessoas, muitas
vezes, desassistidas dos aparelhos de proteção do Estado.
Nesse diapasão, surge como protagonista a figura do delegado de
polícia, que por meio de interpretação extensiva do artigo 60 da Lei nº
9.099/95, pode atuar como mediador de conflito.
A Polícia Civil, ao agir como polícia pacificadora, tem evitado
grandes problemas sociais. Ao tomar conhecimento do fato, o delegado de
polícia registra a ocorrência e inicia o processo de mediação ainda no “calor do
acontecimento” ou em momento posterior, com a intimação das partes.
No Estado de São Paulo, atualmente, existem mais de 35 Necrins
instalados em diversas cidades, o que têm demonstrado a perfeita sintonia
com os anseios do CNJ, pois o número de conciliações do Necrim atinge o
ótimo índice de 92%.
Na cidade de Avaré, o Necrim foi instalado em parceria com a
Faculdade Eduvale, onde, de certa forma, atua como prestador de serviço
social, e, também, como núcleo de prática jurídica para alunos de graduação
do curso de Direito.
De todas as ocorrências encaminhadas ao Necrim de Avaré no 4º
trimestre de 2014, 46% referem-se ao crime de lesão corporal culposa, 25% à
ameaça, 20% à lesão corporal dolosa e 9% a crimes contra a honra (injúria,
calúnia e difamação), conforme demonstra o quadro abaixo:
Tabela 1
LCD LCC CC HONRA AMEÇA TOTAL
SET 8 37 6 19 70
OUT 19 29 7 22 77
NOV 14 36 7 18 75
DEZ 16 28 5 12 61
TOTAL 57 130 25 71 283
20% 46% 9% 25%
Todas as ocorrências criminais do município de Avaré são registradas
no Plantão Permanente da Polícia Civil, sendo que aproximadamente 30%
são encaminhados ao Necrim.
Tabela 2
BOS CRIMINAIS DE
AUTORIA CONHECIDA
DA CIDADE DE AVARÉ
BOS CRIMINAIS
ENVIADOS AO
NECRIM DE AVARÉ
4º TRIMESTRE DE
2014
945 283
No mesmo período, 93% dos casos criminais encaminhados ao
Necrim foram solucionados por meio de renúncia ao direito de representação
ou queixa.
Tabela 3
Pela análise dos dados acima descritos, pode-se constatar que o
Necrim é uma realidade que deu certo. Concretamente, traz a pacificação
social a todos os cidadãos que buscam o amparo do Estado e contribui com a
diminuição dos feitos nas delegacias de polícia. Como desdobramento,
colabora também para a desobstrução do Poder Judiciário, cada vez mais
sobrecarregado de processos.
A resolução de conflitos na esfera pré-processual é uma
realidade em diversos países, e também passou a ser no Brasil com a
instalação dos Necrins.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a grande evolução dos conflitos e sua caracterização na
órbita jurídica, e o considerável aumento cada dia mais crescente de demandas
para solucioná-los que decorrem dos novos fatores criadores de dissensos.
Considerando ainda as funções jurisdicionais frente aos princípios da
razoável duração do processo e da celeridade processual, observada à
aplicação no processo penal brasileiro, é cediço que, um dos principais
problemas que o Estado tem enfrentado é, como garantir aos cidadãos uma
política judiciária eficaz.
Sabe-se, no entanto, que isso não ocorre, pois o sistema processual
penal vigente no país é de extrema burocracia, exigindo-se para o seu
COM ACORDO SEM ACORDO TOTAL
SET 39 3 42
OUT 45 4 49
NOV 72 6 78
DEZ 72 5 77
TOTAL 228 18 246 93% DE ACORDOS
desempenho procedimentos minuciosos, morosos e onerosos, que na maioria
das vezes não contribuem para uma resposta penal coerente.
Com a entrada em vigor da Lei nº 9.099 de 1995, em conjunto com a
Resolução 125/2010 do CNJ, bem como com outras medidas tomadas para
enfrentar o problema, este lamentável cenário tem começado a mudar. É certo
que o problema ainda não está solucionado. Todavia, consideráveis avanços já
têm sido colocados em prática, como é o caso, por exemplo, dos institutos
despenalizantes, como a Composição Civil dos Danos, a Transação Penal, a
Suspensão Condicional do Processo, entre outros.
Também, não se pode descuidar da participação dos Núcleos
Especiais Criminais neste cenário, que tem se destacado brilhantemente na
criação de uma cultura de paz, por meio de alternativas consensuais na
solução dos conflitos, evitando-se grande parte dos ingressos ao judiciário.
Destarte, o uso dos meios alternativos como a mediação e a
conciliação tem sido de extrema importância neste cenário, sendo que, além de
evitarem o ingresso de ações judiciais desnecessárias, também possibilita uma
maior flexibilização nos resultados buscados.
Cumpre ressaltar que embora as partes sejam as construtoras do
acordo, é garantida a elas, assim como na sentença decorrente do poder
judiciário, a segurança jurídica, posto que após tal procedimento de mediação
ou conciliação, o acordo é submetido ao Juízo para homologação, passando a
ter força de título executivo judicial.
Por derradeiro, cumpre consignar que é um grande avanço no Estado
Democrático de Direito, ainda que em construção, sendo visíveis os resultados
positivos trazidos por essa prática. Tornar os procedimentos mais céleres é
uma necessidade, e as políticas públicas devem desenrola-se no sentido de
incentivar tais práticas, para então chegar-se a aplicação eficiente do Direito.
REFERÊNCIAS
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