os diversos olhares na construÇÃo das medidas … · 2017-02-22 · 1.2 o sinase – sistema ......
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC/SP
CLAUDIA ROBERTA ZANCHIN
OS DIVERSOS OLHARES NA CONSTRUO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO
MUNICPIO DE SO CARLOS/SP
MESTRADO EM SERVIO SOCIAL
SO PAULO
2010
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC/SP
CLAUDIA ROBERTA ZANCHIN
OS DIVERSOS OLHARES NA CONSTRUO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO
MUNICPIO DE SO CARLOS/SP
Dissertao apresentada Banca Examinadora da
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo,
como exigncia parcial para obteno do ttulo de
MESTRE em Servio Social, sob a orientao da
Prof Dr Myrian Veras Baptista.
SO PAULO
2010
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BANCA EXAMINADORA
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DEDICATRIA
Aos meus pais Mauro e Clia ,
pelo amor, pelo carinho e olhar cuidadoso.
Ao meu irmo Jnior ,
pela presena e alegria.
Ao meu marido Wamberto ,
pelo amor, pela vida compartilhada, voc, todo o meu amor.
Aos adolescentes do Programa de Medidas,
a todos o meu carinho e agradecimento.
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AGRADECIMENTOS
Deus e seus interlocutores: Dom Bosco e Nossa Senhora Auxiliadora, pela
companhia.
Prof Dr Myrian Veras Baptista por ter me orientado e pelas horas de aprendizado
ao seu lado.
Ao meu amigo Padre Agnaldo Soares Lima pela presena, aprendizado e apoio, durante todos os anos de trabalho juntos. Aos meus amigos-educadores do Programa de Medidas, Arthur, Aline, Dani, Gl, Mrcia e Cris, parceiros fiis nas alegrias e nas tristezas. Aos amigos-educadores do Programa de Medidas, Fer, Re, Alininha, Sirlenoca, Terissy, Robert e Dri pelo companheirismo e incentivo. A todos os profissionais e estagirios que passaram pelo Programa de Medidas, pelas experincias e aprendizados. Aos professores da banca de defesa, Prof Dr. Maria Lcia Carvalho e Prof Dr Silvia Losacco que contriburam com seus respectivos olhares, fundamentais ao enriquecimento desta dissertao para esta verso final. Equipe do Ncleo de Estudos e Pesquisa sobre a Criana e o Adolescente PUC-SP pelo aprendizado compartilhado e acolhida. Vania M. M. Lima e Katia (ex-secretria do Programa de Servio Social), pela ajuda, esclarecimentos e agilidade com os documentos. Aos Professores da PUC/SP, Prof Dr Carmelita Yasbek, Prof Dr Maria Lcia Martinelli, Prof Dr Maria Lucia Barroco, Prof Dr Maria Lucia Carvalho, Prof Dr Marta Campos e Prof. Dr. Sergio Ozella. Prof Dr Vera Telles USP e Prof Dr Jacqueline Sinhoretto UFSCar. Prof Dr Sueli Itman, Regina Granja, Patrcia Borba, Karine Itman e demais interlocutores que contriburam com minhas reflexes. Maria Denise Pessoa, pela disponibilidade e sensibilidade na traduo deste trabalho. Aos meus amigos, Andr Simes, Douglas Verdi e Mariana Paggiaro, pelo carinho e alegria.
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minha amiga Silvia Losacco, que, ao insistir em orientar meu olhar, na direo da experincia que tive com o Programa de Medidas, deu-me o impulso e a motivao para continuar. Helena Vanzo e Wamberto Vanzo, pelos cuidados e afetos. rica Vanzo, Dani Vanzo e Vivian Ferreira, pela amizade e carinho. Ao Wamberto, revisor, pelo olhar atento e cuidadoso forma e ao contedo deste trabalho. Aos adolescentes do Programa de Medidas, de modo especial aos que atendi, todo meu carinho.
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O sonho
Sonhe com aquilo que voc quer ser, porque voc possui apenas uma vida
e nela s se tem uma chance de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para faz-la doce.
Dificuldades para faz-la forte. Tristeza para faz-la humana.
E esperana suficiente para faz-la feliz.
As pessoas mais felizes no tm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem
a importncia das pessoas que passaram por suas vidas.
Clarice Lispector
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RESUMO
CLAUDIA ROBERTA ZANCHIN
OS DIVERSOS OLHARES NA CONSTRUO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NO MUNICPIO DE SO CARLOS/SP
O presente trabalho, procura compreender as particularidades presentes no
processo histrico da implementao e implantao das Medidas Socioeducativas
do municpio de So Carlos-SP, tomando-se por base a contextualizao de trs
diferentes espaos o Ncleo de Atendimento Integrado, o Programa de Medidas
Socioeducativas em Meio Aberto e a Semi-liberdade.
Buscou-se atravs dos instrumentos pesquisa documental e bibliogrfica,
observaco de campo e entrevista semi-estruturada responder como incidiu o
processo de implementao e implantao das medidas socioeducativas no
municpio e qual a proposta pedaggica para o atendimento do adolescente em
conflito com a lei?
O trabalho traz uma reflexo crtica, contributiva para a socializao de aes
exitosas na operacionalizao das medidas socioeducativas em meio aberto e semi-
aberto, atravs das teorias que aportam as aes, as atividades desencadeadas, os
resultados e os impactos atingidos.
PALAVRAS CHAVE: adolescentes, medidas socioeducativas, programa de medidas,
proposta pedaggica.
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ABSTRACT
CLAUDIA ROBERTA ZANCHIN
THE MULTIPLE LOOKS IN SETTING UP SOCIAL-EDUCATIVE TREATMENT IN SO CARLOS/SP
The present study aims at comprehending the specificities in the historical
process of implementation of the Social-Educative Treatment in So Carlos-SP,
based on the context of three different sites: Ncleo de Atendimento Integrado,
Programa de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto and Semi-Liberdade - which
are all institutions that provide treatment, at different freedom levels, to young
offenders.
This study intended to comprehend by means of the following instruments:
documental and bibliography research, field observation and semi-structured
interview - the possible effects which resulted from the process of implementation of
the social-educative procedures in this city and what the pedagogical proposal for the
young offenders treatment is.
The study provides critical thinking which contribute to the socialization of
successful actions of operacionalizing the outdoor and semi-outdoor social-educative
procedures, based on theories which focus on the actions, activities developed, its
results and impacts.
Keywords: adolescents, social-educative procedures, social-educative procedures
programme, pedagogical proposal.
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SUMRIO
Introduo 12
1. Garantindo Direitos 15
1.1 O Estatuto da Criana e do Adolescente perspectiva das medidas socioeducativas 16
1.2 O SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo 20
1.3 A Fundao Casa 22
2. Organizando caminhos 25
2.1 A cidade de So Carlos 26
2.1.1 O municpio e as perspectivas da Assistncia Social 27
2.1.2 A rede de atendimentos 28
2.2 Adolescncia, adolescentes e as medidas socioeducativas 29
3. Multiplicando Aes 35
3.1 O Salesianos So Carlos 35
3.2 O Sistema preventivo de Dom Bosco 39
3.2.1 O sistema preventivo como um espao de construo de significados 41
4. Construindo a histria 43
4.1 As medidas socioeducativas e o Salesianos So Carlos 44
4.2 O NAI Ncleo de Atendimento Integrado 46
4.2.1 Organograma de funcionamento do NAI 48
4.3 A Semi-liberdade 51
4.3.1 A Casa de Convivncia Lucas Perroni Jnior 52
5. Compartilhando Caminhos 55
5.1 O Programa de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto 56
5.1.1 A Proposta Pedaggica 57
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5.2 O Itinerrio Pedaggico 60
5.2.1 Os mdulos do itinerrio Pedaggico 61
5.2.2 Atividades desenvolvidas 65
5.3 A especificidade de cada medida 66
5.3.1 Prestao de Servios Comunidade 66
5.3.2 Liberdade Assistida 69
5.3.3 O que comum entre as medidas em meio aberto 70
6. Assumindo Desafios 71
7. Continuando a caminhada 72
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 74
ANEXO 79
GLOSSRIO 80
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Introduo
Se podes olhar, v. E se podes ver, repara.
Jos Saramago
Na atuao como orientador de medidas, no Programa de Medidas
Socioeducativas em meio aberto, vivencia-se diversas histrias... histrias de
atendimentos, de famlias inteiras, da equipe, de quem chega para conhecer e de
quem chega para estudar.
Aps a instalao do NAI em maro de 2001, visitas de diferentes
cidades, Estados e pases chegavam para conhecer os programas de atendimento
do municpio. Os momentos de ateno s visitas caracterizavam-se num importante
espao de troca, permeado por diversas perguntas e afirmaes da importncia e
destaque que os Programas tinham no cenrio nacional.
A busca pela frmula mgica era constante... A resposta diante desta
pergunta era unnime no existe frmula mgica, preciso apenas efetivar as leis
do ECA, adequando-as a necessidade de cada municpio.
A partir das inquietaes vivenciadas ao longo dos anos, como orientador
de medidas, propem-se aqui, desvelar as particularidades do processo histrico
das medidas, buscando-se responder questo - como incidiu o processo de
implementao e implantao das medidas socioeducativas no municpio e qual a
proposta pedaggica para o atendimento do adolescente em conflito com a lei?
Uma cena reflete a importncia das medidas em meio aberto e traz dentro
dela o incio da construo do NAI e Semi-liberdade. Em 2003, aps trs anos da
implantao do NAI e da semi-liberdade, a equipe do Programa de Medidas
Socioeducativas em Meio Aberto, inscreveu-se para relatar suas experincias -
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medidas socioeducativas em meio aberto, semi-liberdade e o NAI - no Frum Social
Mundial em Porto Alegre.
Em uma sala da PUC/RS estavam educadores de diferentes Estados do
Brasil que aguardavam a apresentao dos relatos de experincia da equipe de So
Carlos e da pesquisa do NCA/PUC-SP. Iniciou-se com o relato da experincia da
coordenadora do Programa de Medidas Socioeducativas Glaziela C. S. Marques,
falando da atuao no atendimento das medidas em meio aberto; seguida pela
apresentao da Profa. Silvia Losacco, membro do NCA.
Na plateia, alm dos educadores havia um jovem1 que, ao saber que os
educadores do Programa de Medidas participariam do Frum, prontificou-se a
acompanh-los pelas ruas gachas e, naquela ocasio, aceitou assistir a
apresentao.
Logo nos primeiros minutos da apresentao do NCA, que mostrou cenas
da rebelio da Febem - Unidade Imigrantes, percebeu-se que os sentimentos da
plateia estavam flor da pele... o jovem, logo na apario das primeiras cenas,
mostrou-se assustado, e os educadores com olhos atentos, aguardavam a primeira
oportunidade para comentar sobre a exposio.
Finalizado o filme, iniciou-se a apresentao da professora, para
posteriormente abrir a fala aos educadores que ali estavam. As falas eram
recheadas de experincias diversas; de educadores contra o sistema de internao
postulado e de outros mostrando-se satisfeitos com o modelo correcional-repressivo.
Em uma das falas, o coordenador de uma unidade de internao do
Estado do Paran, relatou sua satisfao com o modelo. Sua crena de que
estavam no caminho correto e que as falas, tanto da coordenadora, quanto da
professora, eram equivocadas, somente para explorar a comoo das pessoas que
ali estavam.
1 O jovem que mencionado esteve internado na Unidade Imigrantes/FEBEM em 1999. Aps progresso de medida, foi atendido pelo Programa de Medidas Socioeducativas para o cumprimento de Liberdade Assistida. Na ocasio do Frum Social, o jovem, j maior de idade, residia na cidade de Porto Alegre/RS com a av paterna.
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O jovem que at ento estava quieto e assustado, levantou-se e pediu
para falar. Aps o consentimento, iniciou suas palavras: Me desculpe, mas acredito
que o senhor esteja equivocado com suas palavras. As falas da Gla e da professora
so verdadeiras. To verdadeiras que eu estou aqui hoje assistindo a esse debate,
porque no dia em que aconteceu a rebelio em So Paulo, eu estava l. Sim, eu era
um dos internos, nesse mesmo dia o Padre e o Dr. Joo apareceram l. Quando
voltei para So Carlos, fui cumprir LA, quem me atendeu foi o Alex, foi a LA que me
ajudou.
O coordenador da Unidade levanta-se e diz: Mas voc no tem nenhuma
marca, no d para crer que passou por tudo isso. O jovem responde: Sim, no
tenho nenhuma marca fsica, as minhas marcas esto na alma, essas o senhor no
pode ver.
Com a recordao desse momento, apresenta-se aqui um caminho para
compreenso da construo da histria das medidas socioeducativas de prestao
de servios comunidade PSC, liberdade assistida LA e de semi-liberdade,
executada pelo Programa de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto e Semi-
Aberto do Salesianos So Carlos, do municpio de So Carlos, alm da implantao
do NAI.
Como apoio referencial para o conhecimento e anlise da implantao
das medidas socioeducativas de prestao de servios comunidade, liberdade
assistida e semi-liberdade no municpio, ser feito um levantamento de seu sentido,
expresso na legislao (ECA), em documentos que sistematizam sua execuo em
nvel nacional (SINASE), estadual (Fundao CASA) e local-institucional (Itinerrio
pedaggico dos salesianos de So Carlos).
Propondo-se desvelar e compreender a diversidade e multiplicidade de
olhares e de significaes que caracterizam a subjetividade interpretativa da
implantao, implementao e operao das medidas socioeducativas atravs dos
atores sociais que compem este cenrio.
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1. Garantindo Direitos
A partir da promulgao da Constituio de 1988, a doutrina da proteo
integral foi introduzida no Brasil. Assim, ao adot-la, em seu artigo 227, a Carta
Magna rompeu definitivamente com a doutrina da situao irregular, que havia sido
adotada pelo Cdigo de Menores de 1979.
A doutrina da proteo integral defendida em diferentes documentos
organizados pela ONU: o documento adotado em Assemblia Geral na Conveno
das Naes Unidas sobre os Direitos da Criana, de novembro de 1989; as Regras
Mnimas das Naes Unidas para Administrao da Justia da Infncia e da
Juventude Regras de Beijing, de novembro de 1985; as Regras Mnimas das
Naes Unidas para Proteo dos Jovens Privados de Liberdade, de dezembro de
1988; e as Diretrizes das Naes Unidas para a Preveno da Delinqncia Juvenil -
Diretrizes de Riad, de maro de 1990.
A proteo integral de que tratam esses documentos baseada nos
direitos prprios e especiais de crianas e adolescentes que, na condio peculiar
de pessoas em desenvolvimento, necessitam de proteo especial. Ela constituda
a partir do entendimento de que crianas e adolescentes so sujeitos de direitos e
no simples objeto de interveno do mundo adulto.
A grande revoluo trazida pelas novas normas legais brasileira foi a
substituio da doutrina da situao irregular (Lei 6697/79) por um novo paradigma:
a doutrina da proteo integral. Foi em 13 de julho de 1990, por meio da Lei n
8.069, que nasceu o Estatuto da Criana e do Adolescente. Essa lei mudou a
perspectiva sob a qual eram vistas as crianas e adolescentes, definindo-os como
cidados de direitos, sujeitos proteo diferenciada, especializada e integral.
Em outras palavras, o ECA, descentraliza e municipaliza as aes
administrativas, desburocratizando as polticas pblicas voltadas para a criana e
para o adolescente no Brasil. Promove o controle social, fiscaliza suas prprias
implementaes nos municpios atravs de representantes locais e envolve a
sociedade na gesto dos recursos pblicos.
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O ECA resultado de um movimento social que ganhou fora contra o
sistema punitivo do Cdigo de Menores, substituindo o castigo pela educao e
pelos direitos humanos.
1.1 O Estatuto da Criana e do Adolescente perspe ctiva das medidas socioeducativas
...Eu acho que tenho certeza daquilo que eu quero agora
daquilo que mando embora daquilo que me demora
eu acho que tenho certeza daquilo que me conforma daquilo que quero entender
e no acomodar com o que incomoda...
O Teatro Mgico
O Estatuto da Criana e do Adolescente prev medidas socioeducativas a
serem atribudas a adolescentes que tenham cometido atos considerados
infracionais. Estas medidas esto dispostas no artigo 112, incisos I a VI: advertncia;
obrigao de reparar o dano; prestao de servios comunidade; liberdade
assistida; insero em regime de semi-liberdade; e internao em estabelecimento
educacional. Alm destas medidas, em funo do art.112, inciso VII, do ECA
podero ser aplicadas a esses adolescentes as medidas protetivas previstas no
artigo 101, nos incisos de I a VI.
As medidas previstas sero atribudas aos adolescentes, pela autoridade
competente, aps verificada a prtica de ato infracional. Assim, o ECA aponta e
descreve as seis medidas socioeducativas a serem aplicadas aos adolescentes
autores de ato infracional, a saber:
Advertncia artigo 115 A advertncia consistir em admoestao verbal, que ser reduzida a termo e assinada.
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Reparao do dano artigo 116 Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poder determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma compense o prejuzo da vtima. Pargrafo nico: Havendo manifesta impossibilidade, a medida poder ser substituda por outra adequada. Prestao de Servios Comunidade artigo 117 A prestao de servios comunitrios consiste na realizao de tarefas gratuitas de interesse geral, por perodo no excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congneres, bem como em programas comunitrios ou governamentais. Pargrafo nico: As tarefas sero atribudas conforme as aptides do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada mxima de oito horas semanais, aos sbados, domingos e feriados ou em dias teis, de modo a no prejudicar a freqncia escola ou jornada normal de trabalho. Liberdade Assistida artigo 118 A liberdade assistida ser adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. 1 A autoridade designar pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poder ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. 2 A liberdade assistida ser fixada pelo prazo mnimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituda por outra medida, ouvido o orientador, o Ministrio Pblico e o defensor. Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a superviso da autoridade competente, a realizao dos seguintes encargos, entre outros: I - promover socialmente o adolescente e sua famlia, fornecendo-lhes orientao e inserindo-os, se necessrio, em programa oficial ou comunitrio de auxlio e assistncia social; II - supervisionar a freqncia e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrcula; III - diligenciar no sentido da profissionalizao do adolescente e de sua insero no mercado de trabalho; IV - apresentar relatrio do caso. Semi-liberdade artigo 120 O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o incio ou como forma de transio para o meio aberto, possibilitada a realizao de atividades externas, independentemente de autorizao judicial. 1 So obrigatrias a escolarizao e a profissionalizao, devendo, sempre que possvel, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. 2 A medida
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no comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposies relativas internao. Internao artigo 121 - A internao constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princpios de brevidade, excepcionalidade e respeito condio peculiar de pessoa em desenvolvimento. 1 Ser permitida a realizao de atividades externas, a critrio da equipe tcnica da entidade, salvo expressa determinao judicial em contrrio. 2 A medida no comporta prazo determinado, devendo sua manuteno ser reavaliada, mediante deciso fundamentada, no mximo a cada seis meses. 3 Em nenhuma hiptese o perodo mximo de internao exceder a trs anos. 4 Atingido o limite estabelecido no pargrafo anterior, o adolescente dever ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida. 5 A liberao ser compulsria aos vinte e um anos de idade. 6 Em qualquer hiptese a desinternao ser precedida de autorizao judicial, ouvido o Ministrio Pblico.
As medidas socioeducativas so aplicveis a adolescentes, menores de
dezoito anos. Nessa faixa etria eles so penalmente inimputveis, ou seja, no
podem ser responsabilizados penalmente, ainda que, depois do devido processo,
tenha sido considerado responsvel pelo cometimento de um ato infracional1.
Tais medidas so aplicadas de acordo com as caractersticas da infrao
cometida e a capacidade do adolescente em cumpri-las, as circunstncias scio-
familiares e a disponibilidade de servios existentes. O Poder Judicirio aplica a
medida socioeducativa a partir de sua viso. Algumas vezes o julgamento baseado
pela tica da infrao cometida, desconsiderando nesse caso o contexto do
adolescente, seus valores, seus desejos.
Ao prever medidas socioeducativas aos adolescentes a quem se atribui
autoria de ato infracional, o ECA os responsabiliza pelos seus atos por meio da
execuo de aes sociopedaggicas. A razo que justifica tais aes o
1 Ato infracional toda conduta praticada por criana ou adolescente, definida como crime ou contraveno pelo Cdigo Penal
Brasileiro. Para a configurao do ato infracional necessria a presena de indcios suficientes da autoria e materialidade do fato. Esta a nica relao existente entre o Direito da Criana e do Adolescente e o Direito Penal. O Direito Penal apenas nos d os tipos penais que so considerados crimes ou contravenes, pois a forma de responsabilizao pela prtica do ato
infracional exclusiva das normativas previstas no Estatuto da Criana e do Adolescente (Veronse, 1(1): 29-46, 2009).
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entendimento, pelo conjunto da sociedade, de que esses jovens so pessoas que
esto em um momento especial de suas vidas: esto em processo de
desenvolvimento (Passamani & Rosa, 2009).
Essas medidas socioeducativas se dividem em dois grupos diferenciados.
No primeiro grupo, incluem-se aquelas no-privativas de liberdade (advertncia,
reparao de dano, prestao de servios comunidade e liberdade assistida). Num
segundo grupo, esto aquelas cuja execuo se faz com a submisso do
adolescente autor de ato infracional, privao de liberdade (semi-liberdade e
internao)2.
Losacco (2004) ao analisar medida como categoria histrica, assim se
expressa:
Como processo scio-histrico da humanidade, a medida o
eixo principal contido nas regras, nas normas, e nas leis.
Manifestadas por meio de discursos e teorias, so
concretizadas nas mltiplas e diversificadas atitudes relacionais
vividas no processo de socializao. Conseqentemente, as
formas de comportamento esto diretamente relacionadas
inter-ao social, e esta, por sua vez, qualidade de
absoro dos valores sociais que iro compor estas regras,
normas e leis.
Volpi (1997) analisa que as medidas socioeducativas comportam
aspectos de natureza punitiva, j que so coercitivas, no cabendo aos infratores
aceit-las ou no. Comportam tambm aspectos socioeducativos, na perspectiva da
proteo integral, devendo oportunizar o acesso formao e informao. Alm
disso, os regimes socioeducativos devem criar condies que garantam o acesso do
adolescente s oportunidades de superao de sua condio de excluso. Devem
tambm garantir-lhe o acesso formao de valores positivos de participao na
vida social.
2 Joo Batista Costa Saraiva Juiz da Infncia e Juventude/RS e Professor de Direito da Criana e Adolescente na Escola Superior da Magistratura/RS.
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A operacionalizao das medidas socioeducativas deve prever
obrigatoriamente o envolvimento familiar e comunitrio, mesmo no caso da privao
de liberdade. Deve ainda avaliar a possibilidade de aproveitamento de condies
favorveis que possibilitem ao adolescente infrator a realizao de atividades
externas instituio3.
Em face dos princpios norteadores do Estatuto da Criana e do
Adolescente (ECA) e da Constituio Federal (CF), dever dos rgos
competentes, zelar para que seja assegurado ao adolescente em conflito com a lei o
direito convivncia familiar e comunitria.
A Constituio Federal estabelece que a famlia base da sociedade
(Art. 226) e que, portanto, compete a ela, juntamente com o Estado, a sociedade em
geral e as comunidades, assegurar criana e ao adolescente o exerccio de seus
direitos fundamentais.
Nesse destaque, como primeira aproximao, analisa-se a nfase dada
pelas Leis, por considerar que importante compreend-las, procurando apreender
o sentido, o modo como esto organizadas para investigar a operao em termos
objetivos de socioeducao.
1.2 O SINASE Sistema Nacional de Atendimento Soci oeducativo
Quando nada parece dar certo, vou ver o cortador de pedras
martelando sua rocha talvez 100 vezes, sem que uma nica
rachadura aparea. Mas na centsima primeira martelada a pedra se
abre em duas, e eu sei que no foi aquela que conseguiu isso, mas
todas as que vieram antes.
Jacob Riis
No ano de 2004, a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), o
Conselho Nacional de Direitos da Criana e do Adolescente (CONANDA), com o
apoio do Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF) sistematizaram e
apresentaram a proposta de um Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
3 Trecho referente ao artigo: Para no ser bandido: adolescentes em conflito com a lei e trabalho de Olga Maria Pimentel Jacobina e Liana Fortunato Costa.
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SINASE. Um documento que visa promover uma ao educativa no atendimento ao
adolescente que cumpre medida socioeducativa, sejam aquelas em meio aberto ou
as restritivas de liberdade4.
O fortalecimento do ECA deu-se a partir do SINASE - ao determinar
diretrizes claras e especficas para a execuo das medidas socioeducativas por
parte das instituies e dos profissionais que atuam nessa rea. Tais determinaes
evitam interpretaes equivocadas de artigos do Estatuto que trazem informaes,
s vezes, pouco aprofundadas sobre a operacionalizao dessas medidas.
Fruto de uma construo coletiva, o SINASE envolveu diversos
seguimentos do governo, representantes de entidades de atendimento, especialistas
na rea e membros da sociedade civil. Estas pessoas e instituies promoveram
intensos debates com a finalidade de construrem parmetros mais objetivos para o
atendimento do adolescente autor de ato infracional. Trata-se de uma poltica
pblica que verdadeiramente procura atender aos preceitos pedaggicos das
medidas socioeducativas conforme dispe o Estatuto da Criana e do Adolescente.
O Sinase visa a tornar mais explcitas algumas lacunas do
ECA, especialmente na rea de medidas socioeducativas. A
opinio pblica, mobilizada pela cultura do medo, nem sempre
favorece que os gestores pblicos adotem as medidas mais
adequadas5.
O sistema que organiza as competncias e responsabilidades da Unio,
dos Estados e dos municpios, prioriza as medidas em meio aberto - de prestao
de servios comunidade e de liberdade assistida e afirma a necessidade de
maior investimento nelas. Essas medidas, que devem ser aplicadas pelas
4 Estas instituies, em novembro de 2004 promoveram um amplo dilogo nacional com aproximadamente 160 atores do
Sistema de Garantia de Direitos, que durante trs dias discutiram, aprofundaram e contriburam de forma imperativa na
construo deste documento (SINASE), que se constituir em um guia na implementao das medidas scio-educativas
(Veronse, 1(1): 29-46, 2009 )
5 Avalia a sub-secretria de Promoo dos Direitos da Criana e do Adolescente da SEDH, Carmen de Oliveira - www.cedecainter.org.br/portal/news
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prefeituras, apresentam melhores resultados, como a diminuio da reincidncia,
permitindo que o jovem continue convivendo com a famlia e a comunidade, alm de
apresentarem custos bem menores que os de internao.
Os estudos apontam que os melhores resultados da aplicao das
medidas socioeducativas esto nas medidas em meio aberto. Alm do menor custo
e da diminuio da reincidncia, o adolescente pode continuar convivendo com a
famlia e a comunidade, o que contribui para redirecionar sua sociabilidade.
As medidas socioeducativas devem ser consideradas, na perspectiva de
uma ao pedaggica, privilgios na descoberta de novas potencialidades,
direcionando construtivamente o futuro do adolescente, dando importncia e
fortalecendo as medidas operadas em meio aberto, em detrimento das medidas
privativas de liberdade.
1.3 A Fundao Casa
O sonho dos que hoje negam prtica educativa qualquer relao com sonhos e utopias, como o sonho da autonomia do ser, que implica a assuno de sua responsabilidade social e poltica, o sonho da reinveno constante do mundo, o sonho da libertao, portanto o sonho de uma sociedade menos feia, menos malvada, o sonho da adaptao silenciosa dos seres humanos a uma realidade considerada intocvel.
(Paulo Freire)
A Fundao CASA6 responsvel pela operao das medidas
socioeducativas de privao de liberdade (internao) e semi-liberdade a
adolescentes em todo o Estado de So Paulo. Estas medidas so aplicadas pelo
Poder Judicirio, de acordo com o ato infracional cometido. Tendo assumido como
6 A Fundao Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA) uma instituio ligada Secretaria de Estado da Justia e da Defesa da Cidadania. Tem como misso primordial aplicar em todo o Estado as diretrizes e as normas dispostas no Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), promovendo estudos e planejando solues direcionadas ao atendimento de adolescentes autores de atos infracionais, na faixa de 12 a 21 anos. www.casa.sp.org.br
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diretriz operacional a descentralizao, a Fundao CASA quer no apenas
melhorar o atendimento aos adolescentes, como desativar gradualmente os grandes
complexos de internao que marcaram a poltica da antiga FEBEM.
A descentralizao, feita pelo Estado nas unidades da Fundao Casa,
vem organizando unidades menores e mais prximas das famlias, porm, a cultura
correcional, que persiste no tratamento do adolescente em conflito com a lei, ainda
no conseguiu ser superada.
Toda a situao de violncia se perpetua em razo da prpria interpretao do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA). Os prprios operadores do sistema fazem uma leitura equivocada de que o estatuto no adequado para tratar dos adolescentes infratores. A lei no bem recebida pelos operadores7
A regionalizao do atendimento ao adolescente em conflito com a lei, a
priorizao das medidas em meio aberto com implementao do SINASE, a
capacitao continuada dos operadores do Sistema de Garantia de Direitos e a
criao de Varas Especializadas na Infncia e Juventude em cada Comarca e
respectivas Defensorias Pblicas e Promotorias de Justia, no so mais
recomendaes. So deliberaes, conforme afirma Carmen de Oliveira,
subsecretria de Promoo dos Direitos da Criana e do Adolescente da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos.
Os especialistas so unnimes em dizer que os adolescentes tendem a
apresentar menos problemas de violncia quando em unidades menores, devido
infraestrutura bem cuidada e individualidade respeitada. Na avaliao da advogada
Marcela Vieira, da Conectas Direitos Humanos, houve mudanas - o nmero de
agresses e de mortes diminuiu. H quatro anos era cerca de uma morte por ms na
7 Karyna Sposato advogada e consultora da Unicef, o trecho citado parte integrante da matria de Justia da infncia e da juventude - Fonte: O Estado de So Paulo, 21/01/2010.
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ento FEBEM-SP. No ano passado, segundo levantamento com base em notcias
de jornais, foram cinco mortes nas unidades8.
O que se constata que a Fundao Casa, (ex-FEBEM), executora da
medida socioeducativa de internao no Estado de So Paulo, tem-se mostrado, no
decorrer dos anos, incapaz de promover o desenvolvimento educacional dos
adolescentes nela confinados. Esta incapacidade no se d de forma gratuita, mas
permeada por dois fatores significativos: 1) deficincia na estrutura funcional que,
mesmo descentralizada, ainda tem um quadro de pessoal-gerencial tecnicamente
desqualificado para executar as polticas e os planos de ao pedaggica e 2)
prticas institucionais caracterizadas pela conteno, opresso e punio.
8 Matria do jornal O Estado de So Paulo (SP), Julia Duailibi 21/01/2010, texto extrado do site www.promenino.org.br
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2. Organizando caminhos
...Disse a flor para o pequeno prncipe: preciso que eu suporte
duas ou trs larvas se quiser conhecer as borboletas....
Antoine de Saint-Exupry.
Adolescente no Projeto Expressarte
Como as boas experincias so pouco relatadas, h a necessidade de
debates diversificados e de socializao de aes exitosas. Esta Dissertao de
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Mestrado est voltada para esse debate e essa socializao no que diz respeito
operacionalizao das medidas socioeducativas em meio aberto e semi-liberdade.
Algumas instituies tm conseguido operar as medidas socioeducativas
em meio aberto na gide da garantia de direitos. Este o caso da experincia de
trabalho desenvolvida pelos Salesianos So Carlos, junto ao programa de Medidas
Socioeducativas e de sua interferncia e apoio na elaborao e na implantao do
NAI Ncleo de Atendimento Integrado. Estas aes foram, no perodo de 1999 a
2009, referncia nacional.
2.1 A cidade de So Carlos
Em 2000, o municpio de So Carlos contava com uma populao de
192.923 habitantes sendo que, na rea urbana, haviam 183.469 habitantes e 9.453
na rea rural. Entretanto, essa populao, que teve seus dados atualizados pela
Prefeitura Municipal com base nas instalaes de luz e projees da composio
mdia familiar, passou a ser considerada de, aproximadamente, 220.425 habitantes.
Por sustentar um amplo desenvolvimento, a cidade apresenta um elevado ndice de
migrao de trabalhadores e estudantes. Vinte mil destes so moradores
temporrios advindos de outras cidades, estados e pases.
A taxa de crescimento demogrfico de 2,4% ao ano, com base no
SEADE, IDH 0,841 Pnud 2000. A populao infanto-juvenil tem um crescimento
em torno de 33%9.
A cidade de So Carlos um importante centro regional com a economia
fundamentada em atividades industriais e agropecurias. marcada pela presena
de dois campi, um da Universidade de So Paulo (USP) e outro da Universidade
Federal de So Carlos (UFSCar), alm de outras duas instituies de ensino
superior particulares, o Centro Universitrio Central Paulista (UNICEP) e as
Faculdades Integradas de So Carlos (FADISC) que tornam intensas as atividades 9 Dados obtidos no site da Prefeitura Municipal de So Carlos www.saocarlos.sp.gov.br.
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27
universitrias no municpio. No campo de pesquisas, alm das universidades, esto
presentes dois centros de desenvolvimento tcnico da Embrapa.
Servida pelos sistemas, rodovirio e ferrovirio, So Carlos conta com
unidades de produo de algumas empresas multinacionais e outras de empresas
nacionais, fazendo da cidade um importante plo tecnolgico, educacional e
cientfico.
2.1.1 O municpio e as perspectivas da Assistncia Social
A Secretaria Municipal de Cidadania e Assistncia Social implementou a
poltica de cidadania e assistncia social do municpio voltada ao atendimento dos
interesses sociais e aspiraes da populao em situao de risco social, visando o
combate pobreza, a garantia dos mnimos sociais, o provimento de condies para
atender contingncias e a universalizao dos direitos sociais.
Em 2005, a partir de orientaes fornecidas pelo Sistema nico de
Assistncia Social (SUAS), deu-se o incio implantao de quatro CRAS (Centro
de Referncia de Assistncia Social) no municpio de So Carlos, processo esse
facilitado pelas aes que a Secretaria Municipal de Cidadania e Assistncia Social
h tempo desenvolvia.
Hoje, a Poltica Municipal de Assistncia Social est descentralizada em
cinco regies, acompanhando a delimitao territorial da Secretaria Municipal de
Sade. Os Centros Comunitrios existentes em cada regio passaram a ser
unidades de apoio de cada unidade do CRAS.
Atualmente, as diversas aes desenvolvidas nos CRAS e nos Centros
Comunitrios atendem por ms cerca de cinco mil pessoas em diversas aes:
culturais, capacitao profissional e insero produtiva, atendimento integral
famlia, programas de transferncia de renda, de esporte, de lazer e de sade.
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O Programa de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto
supervisionado10 pelo CREAS conforme a proposta de municipalizao das medidas
socioeducativas norteada pelo Sinase. O processo de trabalho integrado e
articulao buscam, com esses servios, a manuteno dos adolescentes em seu
territrio e o cuidado nos servios de ateno bsica.
2.1.2 A rede de atendimentos
No municpio de So Carlos a rede de atendimentos da criana e do
adolescente formada por todos os rgos pblicos e privados que se dedicam a
essa rea.
Esta rede composta pelas secretarias de cidadania e assistncia social,
educao e cultura, esporte e lazer, sade e pela secretaria especial de infncia e
juventude, alm das creches municipais e conveniadas, entidades de
complementao escolar e profissionalizante, conselhos municipais (Tutelar e
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente), Vara da
Infncia e Juventude, Ministrio Pblico - com a Promotoria da Infncia e Juventude
- e a Segurana Pblica (Polcias Militar e Civil).
Aps a implantao da Recriad11 Rede de Atendimento da Criana e do
Adolescente, a rede tornou-se fortalecida. Organizou canais de comunicao,
10
Trecho do documento: Informativo Tcnico Medidas Socioeducativas em Meio Aberto Secretaria de Assistncia e
Desenvolvimento Social. No ano de 2006 norteada pelo SINASE, a Fundao CASA desencadeou um processo de
aprofundamento, entendimento e apropriao dos ditames desse sistema, para implantar e implementar no Estado de So
Paulo, a municipalizao das Medidas em Meio Aberto. Dando continuidade ao processo de municipalizao nos anos de
2007/2008, outras Prefeituras foram assumindo a gesto das medidas socioeducativas em meio aberto, culminando com as
discusses do SUAS, que se desenvolviam nos municpios, ficando pactuado de acordo com cada realidade, execues de
forma direta ou indireta. Em cumprimento ao estabelecido na Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), que preceitua as
Medidas Socioeducativas em Meio Aberto PSC/LA, como servios de Proteo Social Especial de Mdia Complexidade, a
serem desenvolvidos no mbito dos municpios, preferencialmente pelos CREAS. www.mp.sp.gov.br/boletim
11 um sistema de interligao de todos os Programas e Projetos de Ateno e de Proteo criana e ao adolescente e seus rgos gestores, visando a garantia dos direitos da infncia e juventude no Municpio de So Carlos.
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participao e aproximou parceiros para o conhecimento mtuo atravs de
formaes, seminrios e palestras.
2.2 Adolescncia, adolescentes e as medidas socioed ucativas
...Hoje no quero estudar, vou fugir para algum lugar, vou andar sem saber pra onde, vou deixar o vento me levar, esquecer um pouco dos meu pais, me sinto to sozinho, ningum me compreende...
B5 - Retratos da Adolescncia
A palavra adolescncia tem sua origem etimolgica no Latim ad para +
olescere - crescer. Portanto, crescer o que espera para algo que vem adolescer,
passando por um processo de desenvolvimento onde o adolescente enfrenta uma
etapa marcada pelas diversas mudanas, esperando o que est por vir12.
Para falar de adolescncia, nos baseamos nas determinaes legais
estabelecidas pelo ECA. Define como adolescente o sujeito entre 12 e 18 anos; e a
Organizao Mundial da Sade (OMS)13 que compreende a adolescncia do ponto
de vista cronolgico, como:
Faixa etria entre 10 e 19 anos, definida como sendo o perodo da vida em que: o indivduo passa do aparecimento das caractersticas sexuais secundrias maturidade sexual; os padres psicolgicos e a identificao do indivduo evoluem da fase infantil para a fase adulta; ocorre a transio do estado de total dependncia socioeconmica para o de relativa independncia.
A adolescncia, na perspectiva do critrio fsico, abrange as modificaes
anatmicas e fisiolgicas que transformam a infncia - perodo de crescimento e
12 PEREIRA, E. D. - Adolescncia: um jeito de fazer - Revista da UFG, Vol. 6, No. 1, jun 2004 13 O Segundo sua constituio, a OMS tem por objetivo desenvolver ao mximo possvel o nvel de sade de todos os povos. A sade sendo definida nesse mesmo documento como um estado de completo bem-estar fsico, mental e social e no consistindo somente da ausncia de uma doena ou enfermidade. O Brasil tem participao fundamental na histria da Organizao Mundial da Sade, criada pela ONU para elevar os padres mundiais de sade. A proposta de criao da OMS foi de autoria dos delegados do Brasil, que propuseram o estabelecimento de um "organismo internacional de sade pblica de alcance mundial. Desde ento, Brasil e a OMS desenvolvem intensa cooperao. Fonte: http://pt.wikipedia.org
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30
desenvolvimento do ser humano, que vai do nascimento at a adolescncia.
Portanto, a adolescncia uma conseqncia natural do desenvolvimento humano,
um evento fsico com limites de incio e trmino definidos.
Essa transio de criana para adolescente se d a partir do hipotlamo,
uma pequena regio do crebro, que comea a produzir substncias que ativam a
glndula pituitria que, por sua vez, envia hormnios estimulantes aos ovrios da
mulher e aos testculos do homem, iniciando a produo e liberao dos vulos e
espermatozides.
tambm poca da vida onde as mudanas hormonais podem contribuir
para comportamentos mais agressivos, contestadores, tanto fsicos quanto
emocionais, uma busca de si mesmo e de sua identidade.
Segundo o ponto de vista psicolgico, a adolescncia tem relao com o
tempo vivido em sua dimenso social - descobertas, ensaios, expectativas e anseios
prprios deste momento, levam a inquietaes, buscas e atitudes bastante
interessantes e, inmeras vezes, surpreendentes. Neste processo, o adolescente
depara-se com muitas definies e escolhas a serem feitas e que dependem de
princpios e valores familiares enraizados e compreendidos por ele para que possa
optar de forma consciente e segura. O adolescente passa por um processo de
construo de sua auto-imagem, que vai se fortalecer e modificar ao longo da vida
adulta.
Maria Lcia Miranda Afonso14, em sua tese de doutoramento A
polmica sobre adolescncia e sexualidade, aponta que o adolescente recorre
busca de uniformidade, seguindo regras e comportamentos de grupo construo
da identidade. O grupo constitui um meio para que efetue a transio do mundo
infantil para o mundo adulto, facilitando assim, a vivncia de diferentes cenas e
personagens, que o jovem experimenta ao ter de elaborar a perda do corpo e dos
papis infantis e construir nova imagem de si na vivncia de papis adultos.
14 Maria Lcia Miranda Afonso psicloga e doutora em Educao pela Universidade Federal de Minas Gerais.
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Padre Agnaldo Soares Lima, afirma que o adolescente que no teve uma
base familiar que lhe oferea uma presena afetiva forte, com estabelecimento de
limites e regras de boa convivncia;
Muitas vezes encontra-se abandonado pela famlia ou descuidado pelos pais (independente de classe social) que se mostram despreparados para cuidar da formao dos filhos e que, por ignorncia ou por razes de acmulo de trabalho, no conseguem oferecer afeto (abrao, beijo, dilogo, motivao, acompanhamento escolar, tempo para lazer e diverso juntos...) e nem estabelecer regras e limites (no vai, no tem, no pode, no precisa...). Neste contexto a transmisso de valores morais e religiosos tambm termina por acontecer de forma tmida, muito tnue.
Hrran (1997) nos faz uma pergunta bastante instigadora: A quem nos
referimos quando falamos de adolescncia, falamos todos da mesma coisa?.
Segundo o autor, h uma coincidncia na maioria dos outros autores quando
determinam que vrios elementos explicam o comportamento adolescente.
Para Losacco (2004a), o adolescente um viajante que deixou um lugar e
ainda no chegou ao lugar seguinte. Vive um intervalo entre liberdades anteriores e
novas liberdades e responsabilidades/compromissos anteriores e subseqentes,
vive uma ltima hesitao antes dos srios compromissos da fase adulta. Perodo
de contradio, confuso, ambivalente e muitas vezes doloroso. s vezes, refugiam-
se em seu mundo interno e, atravs do jogo da vivncia das situaes fantasiosas,
preparam-se para a realidade.15
Procura-se compreender a adolescncia como uma fase de
transformao em que o ser criana vai lentamente dando espao para o ser
adolescente. Uma fase do desenvolvimento, que deve refletir as expectativas da
sociedade sobre as caractersticas deste grupo. A adolescncia, portanto, um
papel social. E esse papel social de adolescente, acompanha o processo da
adolescncia. Segundo Ozella:
15 Silvia Losacco: Tese de doutoramento: Mtrons e Medidas - caminhos para o enfrentamento das questes da infrao do adolescente
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entender a adolescncia como constituda socialmente a partir
de necessidades sociais e econmicas dos grupos sociais e
olhar e compreender suas caractersticas que vo se
constituindo no processo (2003: 20).
Hrran (1997a) traz ainda uma contribuio importante para a
compreenso da adolescncia quando diz que a imagem do adolescente definida
por suas relaes sociais16.
Portanto, o adolescente, definido por suas relaes sociais, aquele que
vincula pessoas a outras, O equilbrio dessas interaes vai determinar a qualidade
das relaes sociais e afetivas do adolescente com os pontos de sua rede (famlia,
escola, amigos, trabalho, dentre outros).
A experincia na direo das medidas socioeducativas em meio aberto e
semi-aberto possibilitou, ao Padre Agnaldo, estudar os fenmenos e relacionar o
adolescente em conflito com a lei ao consumismo, escola, sociedade e ao
mundo do crime.
As perspectivas de uma melhora econmica ou de acmulo de coisas materiais, to cobiadas e to exaltadas pela sociedade de consumo, parece algo inatingvel. A condio de aluno numa escola sem nenhum atrativo faz com que a desmotivao se associe com brincadeiras e outras formas de perturbao da ordem. Isto o torna indesejvel para a escola, que ao invs de envolv-lo e tir-lo da ignorncia passa a buscar formas de afast-lo e exclu-lo.
H ainda o preconceito presente de um modo geral na sociedade, que fecha inmeras portas ao jovem, sobremaneira a do trabalho: a cor, o modo de vestir-se, o bairro onde mora, a tatuagem. Se esta a condio do jovem na nossa dita sociedade do bem, muito diferente a forma como se d a sua aproximao com a sociedade do crime. Se a famlia no oferece o cuidado e a ateno necessrios, a escola exclui, a sociedade discrimina e no oferece oportunidades, a referncia de valores no construda e ao jovem resta um sentimento de
16 Trecho extrado do texto: Aportaciones VII Congreso INFAD: Adolescencia Tercera ponencia Adolescencia: Dimension Afectivo-emocional Cunado hablamos de adolescncia, hablamos todos de lo mismo? de Jos Ignacio Moraza Hrran.
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infelicidade, baixa auto-estima, fracasso, humilhao e derrota. A est assentado o campo ideal para o seu envolvimento com as drogas e, consequentemente, para o envolvimento com o mundo da criminalidade. No mundo do crime o jovem encontra: reconhecimento (aps entregar a droga ele o cara); valorizao (ele bem acolhido e bem tratado); sucesso (se ele fracassou na escola ele pode ter xito na prtica do delito); espao de poder (com uma arma na mo ele se sente poderoso e temido); respeito (quanto mais delitos praticados, mais ser respeitado), status (mesmo dentro de um Instituto de Internao ou de uma penitenciria o jovem ter o status e o tratamento diferenciado pela sua trajetria criminal).
Nessa perspectiva, Zaluar aponta, ao integrarem-se ao mundo do crime
atravs do trfico de drogas e armas, os jovens tornam-se;
...As principais vtimas dos crimes violentos, principalmente os
pobres, por causa da cadeia de vinganas pessoais de que so
prisioneiros, especialmente cruel entre os traficantes de
drogas... (Zaluar, 2004, p. 34).
Afinal, quem so os adolescentes em conflito com a lei? So diferentes
dos outros adolescentes?
So os adolescentes da cidade, so os meninos que esto por a... no tem nada que os diferencie, mesmo se o olharmos em um grupo com outros adolescentes, no h marcas, no h diferenas. Temos apenas que tomar cuidado para no colocarmos a marca. So adolescentes que tm histrias, que tm vnculos na escola e na famlia, tm participaes na comunidade, mas que teve um rompimento com esses vnculos, ocasionando a infrao17.
Padre Agnaldo traz uma contribuio importante que fundamenta a
importncia do trabalho socioeducativo em meio aberto e o semi-aberto:
O adolescente autor de ato infracional tratado nas condies oferecidas aos criminosos adultos - num ambiente policial e de cadeia - tende naturalmente a assumir o comportamento de "bandido". Tratado ao invs por educadores e num ambiente
17 Trecho da entrevista com a coordenadora do Programa de Medidas Glaziela C. S. Marques.
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educativo (limpo, espaoso, digno) mostra com muito mais facilidade o seu lado adolescente: bom, de medo, de insegurana. Por isso, permite maior facilidade para um trabalho de orientao e acompanhamento.
A experincia na relao orientador-adolescente permite afirmar que os
adolescentes em conflito com a lei so adolescentes como os outros, que tm
medos, inseguranas, problemas na escola, que namoram, que brigam, que s
vezes so chatos e pegajosos... mas que, por um motivo muito particular,
transgrediram18, gerando o conflito com a lei. uma concepo simples, porm, o
reflexo da vivncia com esse adolescente, da relao constituda entre educador e
educando... da relao da presena em sua vida durante o cumprimento da medida.
interessante trazer aqui a relao educador-educando, pois, mesmo
sendo estabelecida durante o cumprimento da medida, torna-se referncia para
muitos por anos e anos. H casos em que ex-orientandos trazem lbum de fotos de
seus filhos, informam sobre o seu primeiro emprego e, at mesmo, sobre o
recebimento do primeiro salrio. Essa relao uma referncia que ficar para a
sua vida inteira!
Independente de uma posio formal a respeito da adolescncia, a
vivncia do cotidiano ensina o tempo todo. Isso at clich! Mas o aprendizado no
igual a todos. Mesmo quando dois adolescentes vivem uma mesma situao, o
aprendizado para cada um diferente, pois suas vivncias so diferentes. Tais
vivncias so diferentes porque so pessoas com personalidades e estruturas
psquicas particulares e experincias de vida diversas. O contexto em que cada um
se encontra tambm deve ser considerado, pois sua rede de relaes pode estar
mais, ou menos aberta, mais, ou menos fragilizada, mais, ou menos ativa.
18 Silvia Losacco, em sua tese de doutoramento: Mtrons e Medidas - caminhos para o enfrentamento das questes da
infrao do adolescente, refere: A transgresso a maneira mais utilizada de fazer valer e experimentar novas formas de
pensar e estabelecer um novo modo de agir. Prprias desta faixa etria, requerem daqueles que so responsveis por eles
(famlia, instituies, organizaes e Estado), por um lado, um olhar que conjugue o todo e o particular e, por outro, aes que
sejam continentes para os contedos advindos das inquietaes e das necessidades deste sujeito no contexto contemporneo
(Losacco: 2004:18).
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3. Multiplicando Aes
Dana de roda
3.1 O Salesianos So Carlos
Basta que sejais jovens para que eu vos ame.
Dom Bosco
Em 15 de agosto de 1946, reuniu-se um grupo de pessoas de So Carlos
com a finalidade de tratar sobre a fundao de um orfanato, sob orientao catlica
da Diocese de So Carlos, que na poca tinha sua frente o bispo diocesano D.
Ruy Serra.
Chamada inicialmente de "Associao de Amigos de Vila Nery", a obra
tinha como finalidade prestar assistncia ao menor carente, do sexo masculino,
desde recm-nascido at os 18 anos. A nova obra foi inaugurada solenemente, no
dia 16 de outubro de 1949, recebendo os 20 primeiros meninos. Posteriormente, j
denominada Salesianos So Carlos, a instituio foi oferecida para a Congregao
Salesiana. No dia 2 de agosto de 1977, chegava o padre Manoel Leonardo, o
primeiro salesiano a assumir sua gesto19.
A instituio Salesianos So Carlos tem por finalidade a educao e a
assistncia social por meio da promoo da infncia, da adolescncia, da juventude
19 Informaes obtidas atravs do site dos Salesianos So Carlos www.salesianossc.org.br
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e de adultos, em consonncia com a Lei Orgnica da Assistncia Social (LOAS) e
do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA).
A obra salesiana, baseada nos ensinamentos de Dom Bosco e do ECA,
implantou programas socioeducativos para atender crianas, adolescentes e jovens.
A seguir os programas de atendimento:
Programa de complementao escolar: PROVIM e
PROVIM Dom Luciano Mendes, que atende anualmente
cerca de 500 crianas e adolescentes entre 06 a 14 anos,
no perodo alternativo escola.
Atuao do Provim:
- Aes complementares escola;
- Atendimento a crianas e adolescentes em situao de
vulnerabilidade social;
- Oferta de atividades culturais, esportivas, ldicas, recreativas
e formativas;
- Complementao a educao alimentar;
- Orientao e formao para os cuidados da sade;
- Preveno violncia domstica;
- Preveno ao uso de substncias qumicas, lcitas e ilcitas.
Lar Juvenil So Domingo Svio Araraquara:
extenso da Obra de So Carlos na vizinha cidade de
Araraquara, o Lar Juvenil atende 100 crianas e
adolescentes.
Projeto Nosso Amigo: atende cerca de 200
crianas e adolescentes em situao de vulnerabilidade
social - acolhendo, orientando e incentivando o resgate de
suas histrias de vida, identidade e cidadania.
Pr Jovem: atende jovens de 15 a 17 anos, das
famlias beneficirias do Programa Bolsa Famlia e jovens
vinculados ou egressos de Programas e de Servios de
Proteo Social Especial.
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Centro Profissional Dom Bosco CPDB: atende
adolescentes de 12 a 18 anos que freqentam a escola,
recebem cursos de iniciao profissional, de marcenaria,
de instalaes eltricas, de panificao, de confeitaria e
de informtica. Adultos (a partir dos 18 anos), frequentam,
alm do curso de panificao e confeitaria, os cursos de
costura e cabeleireiro. Uma oficina de Costura Industrial
funciona em esquema de cooperativa, tendo a
participao de 20 senhoras.
Escolinha de Futebol Chuteira de Ouro: um
programa de esporte que oferece horrios para
treinamentos variados durante a semana, divididos por
faixas etrias.
Programa de Medidas Socioeducativas de
Prestao de Servios Comunidade e Liberdade
Assistida que o programa de atendimento ao
adolescente em conflito com a lei. Complementam esse
programa, os projetos: Digitrampo, Informtica, Ateli de
Artes e Academia Forma Jovem, Preveno na Medida e
Projeto Brincar.
Programa de Liberdade Assistida Araraquara/SP20
que o programa de atendimento ao adolescente em
conflito com a lei realizado pelo Salesianos So Carlos na
cidade de Araraquara.
Programa de Semi-liberdade21 Casa de
Convivncia Lucas Perroni Jnior que o programa de
20 O Programa de LA de Araraquara iniciou suas atividades em 2002 e encerrou seus atendimentos aps no renovao do convnio com a Prefeitura Municipal.
21 O Programa de Semi-liberdade foi executado pelo Salesianos So Carlos de 2000 2009, encerrando suas atividades em
novembro 2009. O convnio entre Salesianos e Fundao Casa terminou aps um longo debate entre as instituies.
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atendimento ao adolescente em conflito com a lei na
medida de semi-liberdade.
Outros trabalhos complementam as aes do Salesianos So Carlos
como o Amor Exigente - que trabalha com usurios de drogas e seus familiares e o
EJA Educao de Jovens e Adultos que trabalha com a suplncia escolar e
alfabetizao.
O Salesianos So Carlos a maior obra social do municpio. Atende
cerca de 800 crianas e adolescentes diariamente em seus diferentes programas de
atendimento.
Alm dos atendimentos, o Salesianos articula-se com a rede de
atendimentos da criana e o adolescente do municpio de So Carlos (RECRIAD). A
rede composta por diversos seguimentos como: Secretarias municipais, Conselho
tutelar, CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente,
Poder Judicirio Vara da Infncia e Juventude, Ministrio Pblico, NAI,
organizaes no governamentais e outros programas na rea de esportes, lazer,
iniciao profissional.
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3.2 O Sistema preventivo de Dom Bosco
"A msica dos jovens se escuta com o corao, no com os ouvidos"
Dom Bosco22.
Diante da situao dos jovens do seu tempo, Dom Bosco faz a opo da
educao: um tipo de educao que previne o mal por meio da confiana no bem
que existe no corao de todo jovem, desenvolve suas potencialidades com
perseverana e pacincia, constri a identidade pessoal de cada um23.
Trata-se de uma educao que forma pessoas solidrias, cidados ativos
e responsveis, pessoas abertas aos valores da vida e da f, homens e mulheres
capazes de viver com sentido, alegria, responsabilidade e competncia. Este modo
de educar torna-se verdadeira experincia de presena na vida para o adolescente
que o vivencia.
Petitclerc, padre salesiano, afirma: sem confiana no h educao.
Este o princpio que est na base do sistema educativo de Dom Bosco. S se
pode fundamentar o conceito de autoridade atravs de uma relao de confiana
entre o educando e o educador.
Padre Agnaldo Soares Lima diz que:
Quando falamos de pedagogia estamos falando de educao. Educar transmitir conhecimento, levar ao aprendizado. O que se quer ao trabalhar com o adolescente envolvido na prtica de ato infracional, no lev-lo a conhecer a violncia e as regras do crime, que ele domina muito melhor que seus educadores. Ao contrrio, busca-se faz-lo descobrir e experimentar tudo o que faltou antes e que fez com que o
22 Dom Bosco nasceu em 16 de agosto de 1815 numa pequena cidade chamada Castelnuovo DAsti, no Piemonte (Itlia).
Ainda criana, a morte do pai fez com que experimentasse a dor de tantos pobres rfos. Em mame margarida, porm, teve
um exemplo de vida crist que marcou profundamente o seu esprito. 23 Trecho retirado do texto: Os valores mais significativos do sistema preventivo J. M. Petitclerc
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40
jovem passasse a trilhar o mundo da criminalidade. Isto somente ser possvel num ambiente educativo, acolhedor, capaz de faz-lo sentir-se melhor consigo mesmo e com os outros.
Dom Bosco v a realidade social, percebe o seu significado e tira suas
concluses. Dessa experincia nasce nele uma imensa compaixo pelos jovens
marginalizados; cresce em seu corao uma opo pessoal de vida: consagra-se
ao bem da juventude. Sua opo est fundamentada numa profunda f na
paternidade misericordiosa de Deus e em sua Providncia; ela se fundamenta
tambm na convico de que o jovem, mesmo o mais rebelde, possui um ponto
acessvel ao bem e que, quando estimulado e apoiado, ele capaz de no se deixar
levar pelo mal e escolher o caminho da vida e do bem24.
O Padre Agnaldo, lembra o filme Diamante de Sangue, que teve como
ator Leonardo de Caprio, no qual encontrou uma cena magistral que ajuda a
compreender o sentido do resgate da prpria identidade. No filme, um pai de Serra
Leoa, frica, tem seu filho, de aproximadamente 12 anos, levado pelos guerrilheiros.
Tendo passado pela lavagem cerebral prpria das guerrilhas, em determinado
momento do filme o pequeno adolescente vai manter uma arma apontada para seu
pai, ignorando por completo sua relao filial e demonstrando estar pronto para
disparar, se necessrio. Neste instante, segue-se uma cena que parece ser a forma
como algumas tribos africanas lidam com aqueles que erram ou cometem um crime.
O pai, ao invs de invocar sua autoridade paterna para se fazer respeitar e chamar a
ateno do filho ou amea-lo, comea a recordar ao filho quem ele era e vai
dizendo pausadamente: Dia, o que est fazendo? Dia... da orgulhosa tribo Mende,
voc um bom menino, que ama o futebol e a escola; a sua me ama muito voc;
ela est esperando voc perto do fogo, fazendo as bananas cozidas com sua irm
Nianda e o novo bebe; a vaca espera voc... e Babu, o co selvagem que voc sabe
que s obedece a voc; (o filho comea a chorar) eu sei que foraram voc a fazer
coisas ruins, mas voc no um menino ruim; eu sou o seu pai e amo voc, e voc
vai voltar para casa comigo e vai ser meu filho de novo.
24 Trecho extrado da revista: Sistema Preventivo e Direitos Humanos, Coleo Protagonista, p.14. ano 2009.
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41
Com esta histria, na qual reflete Padre Agnaldo, pode-se fazer uma
analogia com a de adolescentes que praticaram atos infracionais, que se deixaram
envolver pelo crime, perdendo suas referncias, muitas vezes distanciando-se da
famlia, dos bons amigos, e afastando-se (ou sendo forado a se afastar) dos meios
sociais que frequentava em momentos anteriores: escola, igreja, parentes, vizinhos,
trabalho. Esses adolescentes, por vezes calam seus sentimentos, para poder dar
espao a uma atitude mais fria, mais compatvel com as aes propostas pelo crime.
Nesta perspectiva, buscar distanciar o adolescente do caminho
transgressor que ele vinha percorrendo pressupe ajud-lo a resgatar, de dentro de
si o humanismo, a criana ou o pr-adolescente que ficou para trs, no momento em
que se deixou encantar pelas sedues do crime.
3.2.1 O sistema preventivo como um espao de constr uo de significados
Smolka (2004, p. 35) ao falar sobre sentido25 e significado26, diz ser
impossvel ao homem no significar, j que a significao faz parte da atividade
humana. As crianas nascem em um mundo cheio de significados e significaes e,
no desenrolar de suas vidas, cada coisa a cada dia, faz sentido.
O adolescente busca sentido, atribui sentidos, sempre. Ao crescer,
vivencia diversos contatos empricos e subjetivos - ao receber e perceber cuidados,
carinhos, afetos, distanciamentos, ausncias, negligncias, contradies - que vo
constituindo sua identidade. E, ao apreenderem esses contatos passam a signific-
los.
Quando o jovem consegue encontrar-se novamente consigo mesmo, do
modo como era antes de comear a seguir a vida do crime, ele termina por ver
25 Sentido, de acordo com o pensamento de Vigotski, o confronto entre o significado social e a vivncia pessoal (Conceito estudado em aula de Srgio Ozella no NCA/PUCSP em 2008). 26 Os significados, de acordo com o pensamento de Vigotski, so produes histricas e culturais que permitem a comunicao, a socializao das experincias. Se referem tanto aos contedos institudos, compartilhados e apropriados pelos sujeitos, como configurados pela sua subjetividade. (Conceito estudado em aula de Srgio Ozella no NCA/PUCSP em 2008).
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ressignificar dentro de si aqueles sentimentos e emoes que foram abandonados
num espao de tempo atrs.
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4. Construindo a histria
Adolescente participando da Oficina de Grafitti
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4.1 As medidas socioeducativas e o Salesianos So C arlos
Quem vivenciou a rebelio da FEBEM em outubro de 1999, no
esquecer to facilmente aquela experincia27.
As medidas socioeducativas de liberdade assistida e de prestao de
servios comunidade no municpio de So Carlos foram iniciadas na dcada de
1990, por um grupo formado por educadores da sociedade civil e entidades
preocupadas com a questo, dentre as quais se inclua o Salesianos.
Posteriormente estas aes passaram a ser realizadas pelos tcnicos da FEBEM,
em condies bastante limitadas.
A partir de 1999 esse tipo de atendimento foi municipalizado e assumido
pelo Salesianos So Carlos. Para tanto, foi firmando um convnio com o Estado, o
que lhes possibilitou a contratao direta de orientadores que passaram a operar as
medidas socioeducativas, bem como a organizar a proposta pedaggica que iria
nortear a ao. No incio eram atendidos 35 adolescentes. Com a organizao de
uma infraestrutura bsica de salas e telefones para atendimentos, alm de
computador, TV, Vdeo e uma pequena cozinha, foi possvel ampliar a mdia de
atendimento de 35 para 85 adolescentes. Tudo isto com qualidade na interveno e
alcance de resultados (Lima e Galhardo, 2007).
O ano de 1999 tambm foi marcado pelas sucessivas rebelies nas
unidades de internao da FEBEM28. Dentre as inmeras crises da instituio,
juntamente com um quadro de prticas autoritrias e de denncias de maus-tratos
aos adolescentes internados, o que mais chamava a ateno era a constante
27 Padre Agnaldo relatando sobre o momento em que se deparou com a rebelio no Complexo Imigrantes FEBEM em outubro de 1999. 28 Segundo o Jornal Folha de So Paulo, no ano de 1999, ocorreram mais de 20 motins, nos quais houve a fuga de 2.252 internos. Quatro unidades foram foco de problemas: Imigrantes, Tatuap, Raposo Tavares e Franco da Rocha.Vrias medidas foram tomadas pelo governo para estancar o processo de fugas e revoltas, mas boa parte destas mostraram-se infrutferas, entre elas, a troca de diretor, o afastamento de chefes de unidades, a demisso de funcionrios e a colocao da PM para ocupar as unidades e impedir novas fugas. Mas os internos continuaram fugindo e se rebelando. Outra deciso do governo foi a transferncia de 80 internos considerados de alta periculosidade para o Centro de Orientao Criminolgica, no Carandiru. Uma semana mais tarde, a medida foi considerada ilegal e os internos foram levados de volta Febem. Com a unidade Tatuap destruda, centenas de internos foram levados para a Febem Imigrantes. Com a superlotao a unidade criou condies para mais revoltas e fugas. www.folha.uol.com.br.
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transferncia de responsabilidades entre as vrias instncias envolvidas na crise,
seja no plano poltico, seja no educacional, no judicirio ou no administrativo. O que
se percebia era que as instncias no assumiam o problema como constitutivo de
suas responsabilidades e o que acabava transparecendo era uma verdadeira
ciranda em que cada parte ficava culpando a outra. O fato que a crise, que
estava instalada h muito tempo, explodiu mais de uma vez, chegando a nveis
intolerveis, com conseqncias desastrosas para os internos, para os familiares e,
tambm, para os funcionrios.
A implementao do NAI e da medida socioeducativa de semi-liberdade,
em maro de 2000, no municpio de So Carlos, deu-se em meio e em razo da
crise do Complexo Imigrantes em So Paulo, conforme Padre Agnaldo apresenta:
Para apresentarmos uma proposta de semi-liberdade para So Carlos foi marcada uma reunio com o Presidente da FEBEM para o perodo da tarde. Fiz um convite para o Juiz da Infncia para que, no perodo da manh, fosse comigo at a UAP29 porque eu gostaria de faz-lo conhecer a FEBEM da Imigrantes. Antes mesmo de chegarmos entrada do complexo pudemos perceber a situao que os jornais j noticiavam, mas que no tivemos tempo de tomar conhecimento. Felizmente! T-lo sabido antes nos teria desestimulado de realizarmos tal empreitada, o que quase j ia ocorrendo diante do campo de batalha e clima de guerra que se apresentou aos nossos olhos. Recuar teria sido talvez a atitude mais sensata, no fosse a conscincia nos advertir que dentro daquele inferno estavam alguns dos adolescentes da nossa cidade. Ao menos aqueles eram responsabilidade nossa. De fato, ali permanecemos at que, j ao anoitecer, conseguimos retirar todos os nossos30.
A partir da iniciativa do Padre Agnaldo Soares Lima, da entidade religiosa
Salesianos, e do Juiz da Infncia e Juventude de So Carlos poca, o Dr. Joo
Baptista Galhardo Jr, o projeto de municipalizao da semi-liberdade e da criao de
um Ncleo de Atendimento Integrado nos moldes do artigo 88, inciso V do ECA -
agregaram valores s medidas de liberdade assistida e prestao de servios
comunidade j existentes no municpio.
29 Unidade de Atendimento Provisrio, que era unidade de recepo na FEBEM Imigrantes. 30 Texto extrado da Cartilha: Implementando o Ncleo de Atendimento Integrado: Apontamentos e orientaes de um caminho percorrido, p. ano 2007.
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importante lembrar que, durante o processo de desenvolvimento dos
Programas o governo municipal esteve sempre presente, principalmente na figura do
ex- prefeito Prof. Newton Lima31, apoiando as aes voltadas aos adolescentes do
municpio. Esse apoio considerado como processo em continuidade, j
demonstrado pelo interesse e responsabilidade da atual gesto na execuo das
polticas pblicas de juventude. Compreende-se que a execuo das medidas
socioeducativas, compe um panorama de ateno aos adolescentes e juventude,
articulado s polticas pblicas de ateno primria e secundria.
4.2 O NAI Ncleo de Atendimento Integrado
H momentos na vida em que dizemos que estamos no lugar errado, na hora errada. Pode ser tambm que, em determinadas ocasies, tenhamos que dizer que estamos no lugar errado, na hora certa32.
O NAI a porta de entrada de um processo de atendimento, como ser
visto adiante. fundamental, para que possa atingir seus objetivos, que tenha
tambm as necessrias portas de sada. A maioria dos adolescentes que passam
pelo NAI dever ser inserida em medidas socioeducativas. Para tanto, necessrio
que estas estejam funcionando no municpio e atuem de modo eficaz.
A partir da instalao do NAI verificou-se uma agilidade nos
procedimentos de acompanhamento dos adolescentes e de suas famlias. Esses
procedimentos tiveram como resultado a reduo do ndice de reincidncia33 e da
31 Prof. Newton Lima Neto foi prefeito de So Carlos /SP por dois mandatos consecutivos (2001-2004) e (20052008). Lima Neto tambm foi reitor da Universidade Federal de So Carlos (1992/1996). 32 Padre Agnaldo Soares Lima e Dr. Joo Baptista Galhardo Jnior, referindo-se ao momento em que se depararam com a rebelio na Febem em outubro de 1999. 33 Desde a inaugurao do NAI em 2001 e a implementao das medidas de liberdade assistida, prestao de servios comunidade e semi-liberdade em nvel municipal, os ndices de reincidncia baixaram vertiginosamente, sendo atualmente de apenas 4% a mdia de reincidncia do Estado de So Paulo gira em torno dos 30% - www.promenino.org.br
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gravidade das infraes cometidas, resultando tambm na diminuio do ndice de
vulnerabilidade violncia juvenil34.
Segundo o Padre Agnaldo Lima, a ideia central de todo o trabalho do NAI
a de que a vida de um adolescente algo muito mais amplo do que um ato
infracional olhado isoladamente, fora do contexto maior da sua existncia. Em outras
palavras, o furto, o roubo, ou qualquer outro delito cometido pelo adolescente tem
um "antes", um "durante" e um "depois". No se trata simplesmente de julgar a
transgresso cometida, mas, principalmente, de conhecer o adolescente e o
significado do delito na sua histria de vida.
Partindo desse pressuposto, a proposta inicial procurar conhecer o
adolescente, to logo chegue ao NAI35, encaminhado pela polcia. Nesse momento,
uma assistente social o entrevista assim como aos seus responsveis. Com as
informaes obtidas e as observaes realizadas, elabora um relatrio bio-psico-
social, que encaminhado juntamente com o Boletim de Ocorrncia, ao Ministrio
Pblico e ao Juiz da Infncia e Juventude, tornando-se parte integrante do processo.
Este relatrio traz elementos que subsidiam a avaliao do judicirio sobre qual a
medida mais adequada para ser aplicada ao adolescente.
O NAI no somente contribuiu para a agilizao dos processos. Os casos so resolvidos em, no mximo, 15 dias. Outra vantagem que o adolescente no visto somente pelo lado do ato infracional cometido, mas existe uma preocupao em saber quem esse adolescente, de onde ele vem. Todo esse contexto avaliado previamente por uma profissional do servio social que far uma avaliao psicossocial antes do Juiz avaliar o caso36.
34 Segundo a pesquisa realizada pelo Ministrio da Justia em parceria com o Frum Brasileiro de Segurana Pblica, So Carlos o municpio com o menor ndice de Vulnerabilidade Juvenil Violncia do pas. O ndice foi medido para subsidiar o Projeto Juventude e Preveno da Violncia, desenvolvido pelo governo federal, com dados de diversos rgos federais, como o IBGE, e estaduais, como a Fundao Seade. (Ministrio da Justia)
35 www.linkway.com.br/nai 36 Relato do Juiz da Vara da Infncia e Juventude de So Carlos Dr. Joo Baptista Galhardo jnior.www.linkway.com.br/nai/
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Se o adolescente for inserido em liberdade assistida, prestao de
servios comunidade ou semi-liberdade, o seu acompanhamento ser feito pelos
orientadores responsveis por aquelas medidas.
4.2.1 Organograma de funcionamento do NAI
Padre Agnaldo ao destacar que a processualidade estabelecida pelo NAI,
deu maior agilidade37 ao do Estado em casos de infrao de adolescentes,
comenta que, em outros espaos, esta ao chega a demorar de seis meses a dois
anos, dentro do NAI, nos casos mais simples, acontece no perodo mximo de uma
semana e, em casos mais graves, bem antes dos 45 dias propostos pelo ECA. Ele
ainda explica como est organizada a rotina de trabalho do NAI. O organograma,
exposto abaixo permite que se compreenda melhor a tramitao do adolescente,
desde a sua apreenso at o momento de receber uma das medidas
socioeducativas contidas no art. 112 do ECA.
37 O sistema desenvolvido pelo NAI de So Carlos ganhou as pginas de vrias publicaes importantes do pas. A revista poca Negcios mostrou o Plano Municipal de Segurana Pblica de So Carlos do qual o NAI faz parte. A Revista Frum mostrou que existem alternativas e abordou o modelo que So Carlos vem adotando no cuidado com adolescentes em conflito com a lei, que alm de mais barato, contribui para a reduo no nmero de infraes. A Revista Radis, da Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz), trouxe como matria de capa o xito do NAI, sob o ttulo Projeto em So Carlos trata jovem infrator como cidado e tem alto ndice de recuperao. A Rede Globo apresentou no Jornal Nacional, e a Rede TV mostrou no Rede TV News duas matrias que trazem a experincia inovadora e exitosa de So Carlos.
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a) o adolescente pego em flagrante mas que no fica custodiado por no
ser ato infracional grave:
Encaminha o auto de apreensop/ Cartrio da Inf. e Juventude
Nos horrios de PlantoAgentes do NAI acionam o Tcnico pelo Bip
Encaminhar p/ a UAI*- Ofcio de Encaminhamento / - Cpia do auto
de apreenso.
Entregue o adolescente e aps arevista os policiais sero liberados
Pede-se que entrem com a viatura no NAI.Em caso de necessidade aciona-se IML
Encaminha o RBPS + cpia do BOp/ o Cartrio da Inf. e Juv(em no mximo 24 horas)
PRESTAAO DE SERVIO COMUNIDADEAdolescente liberado no Forum
LIBERDADE ASSISTIDAAdolescente liberado no Forum
SEMILIBERDADESer encaminhado pelos agentes da UAI
INTERNAO NA FEBEMEncaminhamento pela Vara da Inf.
e Polcia Militar
JUIZProcesso normal pelo Forum
Aplicao da Medida Scio-Educativa
PROMOTOROuve o adolescente / Requer peas
Oferece representaoPode solicitar Internao Provisria
CARTRIOAutua
abre vista ao Promotor
TCNICO DO NAIAtendimento inicial - elabora o RBPSLibera o responsvel pelo adolescente
AGENTES DA UAIAcionam tcnico do NAI
Fazem identificao e preenchem relatrios
POLCIAEncaminha o Adolesc. p/ a UAI
(Unidade de Atend. Inicial no NAI)
DELEGADOLavra auto de apreensoem flagrante (art. 173)
POLCIA(Militar ou Civil)
Apres. Adol.+resp.p/o Delegado (art.172 ECA)
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b) o adolescente pego em flagrante, que fica custodiado por se tratar de
ato infracional grave:
Encaminha o B. Op/ Cartrio da Inf. e Juventude
Nos horrios de PlantoAgentes do NAI
acionam o Tcnico pelo Bip
Encaminhar p/ o Nai*- Ofcio de Encaminhamento / - Cpia do BOPolcia liberada c/comprov. de recebim.
Adolescente liberado p/ famla- assinam termo de compromiss
recebem agendamento c/ o MP (art.174)
Encaminha o RBPS + cpia do BOp/ o Cartrio da Inf. e Juv(em no mximo 24 horas)
Em caso de representaoProcesso segue na Vara da Inf.
Rito normal
CARTRIO DA INF. E JUVENTUDEretorna o processo p/execuo de medida
NAIauxilia na execuo da medida
JUIZaplica med.scio-educ.
encaminha p.Entid. de Atend.
PROMOTOROuve o adolescente
Aplica a medida abertaEncaminha p/ o Juiz
CARTRIOAutua
abre vista ao Promotor
TCNICO DO NAIAtendimento inicialelabora o RBPS**
POLCIAapresenta Adol. + Fam.
p/ Tcnico do NAI
DELEGADOLavra B.O.
circunstanciado
POLCIA(Militar ou Civil)
Apres. Adol.+resp.p/o Delegado (art.172 ECA)
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4.3 A Semi-liberdade
Enquanto eu tiver perguntas e no houver respostas... continuarei a escrever.
Clarice Lispector
A semi-liberdade, art. 120 do ECA o regime que antecede privao da
liberdade em termos de cerceamento do direito de ir e vir do educando. Ele pode ser
aplicado como uma medida inicial - como forma de evitar o confinamento total do
educando em uma instituio - ou como progresso de regime - para aqueles que j se
encontravam privados de liberdade.
A medida de semi-liberdade possibilita (e acompanha) ao adolescente
sua participao na vida comunitria e em programas que respeitem as diferenas
individuais, preservando os vnculos familiares e comunitrios. Como prev o ECA,
no cumprimento dessa medida, so obrigatrias a escolarizao e a
profissionalizao. A partir de uma agenda personalizada, previamente organizada,
o adolescente poder realizar cursos, atividades culturais, esportivas e de lazer,
utilizando os recursos da sua comunidade durante o dia, devendo pernoitar na
unidade de origem.
A ideia e o empenho da sociedade de So Carlos em evitar, ao mximo, o
envio de adolescentes para a Fundao Casa (ex-FEBEM) desencadeou a
necessidade de implementar formas mais efetivas de atendimento aos adolescentes
autores de ato infracional. A assim chamada Comisso de L. A. comeou, ento, a
debater o Projeto da Semi-liberdade.
O sonho de ter um projeto do gnero, funcionando em um local
adequado, acalentado desde 1993, quando, alguns dos que agora faziam parte da
comisso, j, ento, participando de um grupo de reflexo, tinham esboado a
proposta.
Com relao medida de semi-liberdade pode-se dizer que So Carlos
tambm teve atuao pioneira. Nessa ocasio, tal medida, mesmo contemplada no
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ECA, funcionava em rarssimas unidades no Estado de So Paulo. At a
implantao38 do Projeto de So Carlos, apenas cinco ou seis programas eram
executados na Capital e interior. Foi o primeiro convnio39 firmado com uma
entidade particular no ligada ao Governo do Estado ou Prefeitura Municipal local.
O local encontrado para seu funcionamento foi uma chcara, cedida por
um empresrio da cidade. A partir disso, o Salesianos assumiu a administrao de
um programa novo e desafiante.
4.3.1 A Casa de Convivncia Lucas Perroni Jnior 40
Uma chcara com muitas rvores e uma casa, foi o local escolhido para a
realizao do projeto de semi-liberdade. Localizada num espao amplo, com o nome
de Casa de Convivncia Lucas Perroni Jnior, a chcara, como era conhecida,
ganhou reconhecimento pela sua proposta de atuao com adolescentes em conflito
com a lei.
Conforme constam nos documentos referentes semi-liberdade os
princpios norteadores da ao pedaggica so:
38 So Carlos inovou nesta proposta. Buscou-se implantar no Municpio a primeira semi-liberdade conveniada pela FEBEM com uma Entidade particular. As unidades que a operacionalizavam eram sempre administradas pela FEBEM. 39 Mais uma vez a entidade Salesianos ficou encarregada de administrar todo o projeto de implementao e execuo da medida, que tinha a capacidade de atendimento de 20 adolescentes. O local de funcionamento uma chcara cedida gratuitamente por um empresrio so-carlense, reafirmando-se a importncia da parceria com a sociedade civil, denominada "Casa de Convivncia Lucas Perroni Jr.". A entidade recebia um valor mensal da FEBEM por adolescente atendido para o pagamento das despesas e tambm inovou ao instituir um sistema aberto, sem a conteno dos jovens l inseridos. Neste espao era desenvolvido o trabalho pedaggico formativo, como atendimentos individuais, em grupo, dinmicas e outras atividades como cultivo de horta, viveiro de mudas, artesanato. O restante das atividades eram realizadas fora deste espao. Texto extrado do site: www.promenino.org.br 40 A Casa de Convivncia funcionava em uma chcara localizada no Bairro Recreio So Judas Tadeu, localizada prxima ao centro da cidade. A propriedade com uma rea de 5000 m,possui uma construo de aproximados 170 m, como sala, copa, cozinha, 03 escritrios, 02 banheiros, rea externa coberta que servia para o trabalho da Equipe Tcnica e, tendo em anexo, uma segunda casa de aproximados 180 m, com mais trs quartos, sala de TV, sala de atividades e mini biblioteca, cozinha e conjunto de banheiros e chuveiros, que serve para os adolescentes em medida. H ainda uma rea construda com 64 m, destinada para atividades culturais, artsticas e fsicas, tais como jud e capoeira. A rea externa da casa possui uma parte de pomar bastante variada e uma rea livre para plantio. Alm do cuidado com o pomar os adolescentes se ocupavam tambm da rea de plantio, e de um viveiro para o cultivo de mudas de plantas nativas. O projeto de instalao dos viveiros funcionou em parceria com pelo menos duas grandes empresas da regio, que tinham interesse em adquirir as referidas mudas. (fonte: www.linkway.com.br/nai)
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Tem o objetivo de como medida inicial ou como
forma de transio para o meio aberto, conscientizar o
adolescente dos limites impostos sua liberdade,
oferecendo-lhe subsdios para a compreenso da medida
determinada.
Estabelecer com o adolescente um relacionamento
fundamentado na confiana e auto-responsabilidade.
Buscar na famlia elementos que sirvam de apoio
organizao e orientao do trabalho.
Manter, sempre que possvel, o ambiente familiar
como referencia primeira da vida do adolescente, fazendo
do espao da semi-liberdade seu referencial para o
cumprimento da medida socioeducativa no que se refere
restrio de liberdade (pernoite, permanncia em finais
de semana) e local de orientao, encaminhamentos,
desenvolvimento de atividades educativas, etc. No que
tange a este ltimo aspecto, poder haver tambm um
servio integrado com as medidas socioeducativas de
L.A. e P.S.C.
Destacam-se algumas atividades que fazem parte do projeto
pedaggico da semi-liberdade:
- acolhida; estudos de caso; elaborao e acompanhamento de Plano Personalizado de atendimento; reunies sistemticas; dirio do adolescente (agenda onde o adolescente registra situaes e impresses do cotidiano); atividades educativas; auto cuidado e promoo de sade; reforo escolar; preparao para o mundo do trabalho; reunies institucionais; trabalho com a famlia; preparao para o desliga