OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE DOCENTES E AS POSSIBILIDADES DE INTERAÇÃO NA SEMIPRESENCIALIDADE

Sarah Mendonça de Araújo1, Maria Teresa Menezes Freitas2 1Universidade Federal de Uberlândia/Centro de Educação a Distância - UFU/sarah.araujo@ufu.br 1Universidade

Federal de Uberlândia/Centro de Educação a Distância - UFU/mtmf@ufu.br

Resumo – A Docência Universitária tem se configurado por um ensino cdeonteudista, onde a preocupação com a formação técnica do docente tem se destacado frente à sua formação pedagógica. A demanda por cursos de capacitação, voltados para o conhecimento das tecnologias computacionais na educação e especificidades da EaD, tem aumentado, especialmente por cursos destinados a professores que atuam não somente na modalidade a distância, mas também com as disciplinas semipresenciais. Este texto relata os desafios e resultados alcançados pelo CEaD/UFU no intuito de atender a esta demanda de tamanha importância para que os cursos oferecidos a distância e/ou semipresenciais sejam ofertados por professores com conhecimento sobre as possibilidades de interatividade em diferentes formas, na busca da qualidade almejada. A contribuição dos Cursos de Formação de Professores para EaD destinados à formação dos professores que atuam ou atuaram em cursos a distância financiados pela CAPES/UAB até o ano de 2015 na UFU, é inegável. Os professores agregam saberes que contribuem na atuação tanto na modalidade presencial quanto a distância. Entretanto, os dados demonstram que uma grande parcela dos professores da instituição ainda não foi atendida. O caminho encontrado para ampliar o alcance a professores por meio da parceria entre CEaD e DICAP/UFU parece promissor para tornar a modalidade a distância mais conhecida e vivenciada na instituição.

Palavras-chave: Docência Universitária; capacitação docente; disciplinas semipresenciais;

Abstract – The University Teaching has been configured by a content education, where the concern with the technical education of the teacher has stood out in front of its pedagogical formation. The demand for training courses aimed at the knowledge of computational technologies in the education and specificities of EaD, have increased, especially those courses for teachers who work not only in the distance modality, but also with the semipresencial disciplines. This text reports the challenges and results achieved by the CEaD / UFU in order to attend this demand of such importance that the distance and / or semipresencial offereing courses for teachers reflecting about the possibilities of interactivity in different ways in the search for quality. The contribution of the Teacher Training Courses for EaD offered for teachers who work or worked in distance courses sponsored by CAPES / UAB until 2015 at UFU, is undeniable. Teachers aggregate knowledge that contributes to the performance both in face and distance. However, the data show that a large proportion of the institution's teachers did not have the opportunity yet. The idea to extend and reach teachers, through the partnership between CEaD and DICAP / UFU, seems promising in order to make the distance modality better known and experienced in the institution.

Keywords: University Teaching; teacher training; semipresencial disciplines;

INTRODUÇÃO

A perceptível expansão do ensino superior nos últimos anos tem ampliado as discussões acerca da atuação e formação do docente. O avanço científico e tecnológico, bem como a velocidade da veiculação de informações, evidencia a complexidade do trabalho do professor, onde a utilização das tecnologias computacionais, entre outros recursos midiáticos, exigem um olhar criterioso em relação aos seus desafios e possibilidades para desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem.

A prática docente no ensino superior ainda tem se caracterizado por um ensino conteudista, onde a preocupação com a formação técnica do docente se sobrepõe à formação pedagógica. Masetto (2003) salienta a necessidade de uma mudança de paradigma no contexto educacional, propondo um enfoque maior na aprendizagem do que no ensino. Para isso, torna-se necessária a disponibilização de espaços que aproximem os alunos da realidade profissional, que possibilite a percepção e reflexão sobre situações que possam ocorrer efetivamente quando estiverem desenvolvendo suas práticas. Percebe-se que o cenário social apresenta novas demandas para a realidade do contexto universitário, levando em conta as mudanças nas áreas de comunicação, informação e cultura. Para Freitas (2013),

as evidências dessas mudanças vivenciadas na contemporaneidade podem ser analisadas à luz dos desafios delas provenientes e que incluem as alterações de padrões de competição, as inovações tecnológicas, o crescimento exponencial da produção de conhecimento, a preocupação mundial da sociedade com a qualidade de vida, a crescente demanda pela educação em seus diferentes níveis, dentre outras (FREITAS, 2013, p.198).

As Mídias eletrônicas se apresentam como uma contribuição importante para este novo paradigma que nos tem sido apresentado, pois podem instigar e motivar os alunos, facilitar a pesquisa, as interações entre alunos, professores e pessoas que não estão próximas no espaço físico, contribuindo assim, para o processo de construção do conhecimento. Vários recursos como videoconferências, webconferências, chats, e-mail e ainda o ambiente virtual de aprendizagem, são “espaços de interação virtual” que têm sido muito utilizados em instituições de ensino superior, tanto em cursos presenciais como em cursos a distância. Masetto (2013) citando Teodoro (2003), afirma ser necessário

ter coragem de usar esses espaços para dinamizar nossos cursos, motivar os alunos a se dedicarem a seus estudos na busca de uma profissão competente e co-responsável pela sociedade, atualizar os currículos e integrar universidade e sociedade é a ousadia que ainda nos falta para efetivamente repensarmos nossas aulas dentro de um novo paradigma. (MASETTO p. 105).

Em 10 de outubro de 2016 foi publicada pelo MEC a Portaria Nº 1.134, que revoga a primeira portaria publicada sobre a oferta de disciplinas a distância em cursos presenciais (Portaria MEC nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004). Este documento esclarece a compreensão da semipresencialidade

Art. 1o As instituições de ensino superior que possuam pelo menos um curso de graduação reconhecido poderão introduzir, na organização pedagógica e curricular de seus cursos de graduação presenciais regularmente autorizados, a oferta de disciplinas na modalidade a distância. 1o As disciplinas referidas no caput poderão ser ofertadas, integral ou parcialmente, desde que esta oferta não ultrapasse 20% (vinte por cento) da carga horária total do curso(...) Art. 2o A oferta das disciplinas previstas no art. 1o deverá incluir métodos e práticas de ensino-aprendizagem que incorporem o uso integrado de tecnologias de informação e comunicação para a realização dos objetivos pedagógicos, bem como prever encontros presenciais e atividades de tutoria.

No âmbito da Universidade Federal de Uberlândia, a Resolução 35/2011 do Conselho de Graduação, regulamenta a oferta de disciplinas no formato semipresencial nos cursos de graduação presenciais. Em seu Artigo 1º Inciso 1º o formato semipresencial é entendido como “a incorporação de meios e tecnologias de informação e comunicação como mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem, em lugares e tempos diversos, organizados nos cursos de graduação presenciais oferecidos pela UFU”.

Considerando as possibilidades apresentadas às Instituições de Educação Superior e os desafios da utilização de tecnologias computacionais na educação, o Centro de Educação a Distância da UFU – CEaD/UFU tem articulado ações voltadas para propiciar cursos de formação de professores que atuam não somente na modalidade a distância, mas também com as disciplinas semipresenciais. Observa-se que a demanda para esta formação de docentes apresenta uma ampliação considerável nos últimos anos. Este texto relata os desafios e resultados alcançados pelo CEaD no intuito de atender a esta demanda de tamanha importância para que os cursos a distância e disciplinas semipresenciais sejam ofertados por professores com conhecimento sobre as possibilidades da interatividade em diferentes formas. Considerando ser a formação docente uma das principais condições para que um curso/disciplina semipresencial alcance o objetivo proposto, priorizando principalmente o aspecto qualitativo.

Desde o ano 2010, o CEaD vem envidando esforços para atender a esta demanda por meio da oferta do Curso de Formação de Professores para EaD voltado para professores que atuam na modalidade a distância. No primeiro momento, por meio de parceria e financiamento externo viabilizado pelo Programa Universidade Aberta do Brasil e, recentemente, firmando parceria com a Divisão de Capacitação da Universidade Federal de Uberlândia. Tais articulações, tanto externas quanto internas, se apresentam como um desafio para a continuidade da oferta dos cursos a distância e disciplinas semipresenciais da UFU. Vale lembrar que já se passaram quase sete anos da publicação desta resolução na Universidade Federal de Uberlândia e, apesar da significativa ampliação da modalidade a distância no país, percebe-se ainda uma forte resistência no âmbito das instituições de ensino superior frente à utilização de tecnologias computacionais que muitas vezes se deve à falta de conhecimento das possibilidades destes recursos por parte do docente.

[...] as transformações paradigmáticas não são de fácil operacionalização e nada acontece por legislação ou imposição. Entretanto, já se percebe entre os docentes a existência de uma sensibilidade para a percepção sobre o paradigma que surge e isso os leva a buscar o novo e a ansiar por rupturas e por desmistificação de utopias no intuito de encontrar caminhos que possibilitem fazer melhor o que antes já se acreditava fazer tão bem... (p. 2013)

Este estudo objetiva refletir sobre as interfaces que permeiam a formação de professores frente aos desafios e perspectivas da utilização das tecnologias computacionais na prática pedagógica se apresenta como uma oportunidade de discutir um problema atual vivenciado por muitas instituições que, sem recurso destinado a este fim, se deparam com professores que precisam atuar na modalidade a distância sem uma formação que possibilite o mesmo a conhecer as especificidades desta modalidade. Esta necessidade vai ao encontro da importância dos processos formativos dos docentes partirem de necessidades reais e dos desafios cotidianos (NÓVOA, 2008). Para isso as universidades têm se organizado no intuito de prover aos professores condições efetivas para que os mesmos desenvolvam a sua prática com a competência necessária, visando o êxito no processo de ensino e aprendizagem dos alunos.

Para uma visão ampla da problemática, o estudo apresentado neste relato foi realizado com base em: pesquisa bibliográfica sobre o processo de formação docente, saberes docentes e as tecnologias computacionais neste contexto; pesquisa documental acerca dos registros dos cursos já ofertados pelo CEaD-UFU destinados à formação de professores para EaD; análise do projeto proposto para a oferta do referido curso em parceria com a Divisão de Capacitação da instituição. Vale ressaltar que este projeto foi aprovado pelo setor responsável e o curso está previsto para ser ofertado para servidores em geral, no segundo semestre de 2018.

UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL

No contexto histórico dos cursos de formação de professores no Brasil, apesar de necessidades ainda iminentes, já houve uma significativa evolução em políticas voltadas à formação de professores com propostas de criação de novos cursos, exigências em relação à formação de professores e também oferta de cursos em diferentes modalidades, buscando atender às necessidades de pessoas que precisam de flexibilidade de tempo e espaço para se capacitar. A flexibilidade almejada e, por vezes necessária, pode ser proporcionada por meio de tecnologias computacionais. O Decreto nº 8.752 recentemente publicado em 9 de maio de 2016 esclarece

VIII – a compreensão dos profissionais da educação como agentes fundamentais do processo educativo e, como tal, da necessidade de seu acesso permanente a processos formativos, informações, vivência e atualização profissional, visando a melhoria da qualidade da educação básica e à qualificação do ambiente escolar.

Freitas (2013) argumenta que

Conforme aponta o decreto, a compreensão de que os professores são fundamentais para o processo educativo e a preocupação em oferecer condições para que estes profissionais se qualifiquem constantemente se apresenta como essencial. Importante considerar que a utilização de tecnologias computacionais, sobretudo em virtude da ampliação dos cursos a distância e da inserção de disciplinas semipresenciais em cursos presenciais, apresenta um papel significativo no contexto atual de formação de professores. No entanto, cabe salientar que, apesar deste fato, os professores no ensino superior, muitas vezes, não estão se capacitando para a utilização consciente e profícua das tecnologias computacionais.

O processo educativo dos professores se dá durante toda a vida e durante todos os espaços, sejam eles formais ou informais. Uma concepção ampla desta formação e dessa concepção abre espaço para o reconhecimento das possibilidades de formação docente em diferentes momentos. Fonseca (2010, p.393) considera a formação de professores

como processo educativo que se desenvolve ao longo da vida dos sujeitos e transcende os limites da escolaridade formal – logo, não se inicia nem termina na educação superior (nos cursos de graduação, pós-graduação e aprimoramento). Processual, permanente, como o processo de aprender e ensinar, desenvolve-se na experiência cotidiana, em diferentes tempos e espaços educativos, como nos espaços de lazer, teatros, cinemas e meios de comunicação, em diferentes lugares de memória, museus e bibliotecas, em igrejas e sindicatos e nos espaços e atividades formais e informais.

As deficiências na formação tanto inicial quanto continuada dos docentes universitários, no que tange ao uso de tecnologia no processo de ensino, ainda parece ser uma realidade.

Analisar a prática docente perpassa pelo estudo dos saberes necessários a esta prática. O professor mobiliza os saberes profissionais, construindo e reconstruindo conhecimentos de acordo com suas experiências, necessidades e percursos formativos e profissionais. A discussão sobre os saberes docentes iniciou com o movimento de profissionalização do ensino e legitimidade da profissão docente. Baseadas nas ideias dos autores canadenses: Tardif, Lessard e Lahaye, as autoras Zibetti e Souza (2007) apresentam os diferentes tipos de saberes e a relação que professores estabelecem com estes. Segundo estas autoras há quatro tipos de saberes docentes: os saberes pedagógicos (ideologia, formas do saber-fazer e técnicas); saberes das disciplinas (conhecimentos integrados sob forma de disciplinas); saberes curriculares (programas curriculares, objetivos, conteúdos e métodos), e os saberes da experiência (produzido pelo meio onde vive e no trabalho coletivo).

Embora existam vários tipos e formas de abordar os saberes docentes, Nunes (2001) atenta para a necessidade de considerar não só o desenvolvimento profissional, mas também o desenvolvimento pessoal do professor, pois os saberes são produzidos com base nos contextos sociais e históricos dos docentes. Romper com a lógica disciplinar na universidade e com a fragmentação de saberes parece imprescindível, abrindo o espaço à reflexão da prática na tentativa de diminuir as diferenças entre a teoria e a prática. Corroborando com esta abordagem, Teixeira (2009) salienta que

a complexidade do processo de formação, particularmente da formação de professores, deverá envolver diferentes aspectos: sociais, políticos, filosóficos e culturais. É preciso ousadia para que possamos nos desvencilhar de velhas práticas formativas que pouco contribuíram para a formação de professores autônomos e conscientes da relevância social de sua profissão, pois existem outras dimensões a serem consideradas (p.31)

De acordo com Zibetti e Souza (2007), o processo de criação de saberes docentes se apresenta marcado pelas condições históricas, políticas e econômicas da realidade vivenciada pelo professor e esta construção acontece de forma dialógica, com base no contexto institucional, com suas expectativas, demandas e atribuições. Sendo assim, torna-se evidente a complexidade do ensino e a defesa da prática docente como espaço de produção de saberes. E quando abordamos o cenário atual parece inconcebível não considerar a significativa interferência das tecnologias de informação e comunicação nos diferentes setores da sociedade e de maneira intensa nos processos educativos.

As tecnologias computacionais são cruciais para a expressiva expansão de diferentes modalidades de educação, sobretudo em relação à utilização de ambientes virtuais de aprendizagem. Neste contexto evidencia-se a importância de o professor refletir sobre o papel tecnologias computacionais para o processo de ensino e aprendizagem, considerando, sobretudo a importância da interatividade para que de fato os objetivos sejam alcançados. A simples inserção de textos em ambientes virtuais de aprendizagem, uma das principais ferramentas computacionais utilizadas na EaD e disciplinas semipresenciais, não se configura como o desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem na modalidade a distância, para isso, é fundamental a participação do aluno como agente ativo e participativo neste processo. De acordo com Barros e Carvalho (2011)

...as novas tecnologias que permitem a interatividade também promovem uma nova relação do aluno com o conhecimento, com outros alunos e com o professor, a partir do momento, em que se propõe um ensino que considera como prioridade as formas de aprendizagens e, conseqüentemente, os aprendentes. A possibilidade de interagir, através das ferramentas tecnológicas, implica rever todos os papéis dos envolvidos no processo ensino e aprendizagem e como também a metodologia utilizada para a promoção dessa aprendizagem (p.218).

Assim, evidencia-se que a simples inserção de conteúdos em ambientes virtuais não garante a interação necessária para a dinâmica esperada em cursos oferecidos a distância ou semipresenciais. Torna-se importante, desta forma, conhecer maneiras de enriquecer as interações durante o curso/disciplina por meio de recursos que estimulem a participação e o comprometimento dos alunos.

A EXPERIÊNCIA DA UFU

Desde 2009, com a oferta dos primeiros cursos a distância pela UFU no âmbito do Programa Universidade Aberta do Brasil - UAB, surgiu a necessidade de capacitação dos profissionais envolvidos, sejam professores, tutores e/ou técnicos. Os docentes que atuam nos cursos a distância ofertados pela UFU, em sua grande maioria, são servidores UFU vinculados aos cursos presenciais, especialmente nos cursos de graduação a distância, pois

esta é uma obrigatoriedade. Para atuar nos cursos a distância, vários professores da instituição já participaram do Curso de Formação de Professores para EaD oferecido pelo CEaD na modalidade a distância, com uma carga-horária inicialmente de 80 e ampliada para 100 horas em suas últimas edições. Estes professores geralmente atuam no ensino presencial e podem eventualmente assumirem também disciplinas na modalidade semipresencial. Os cursos acima mencionados, desta forma, atendem em parte, a crescente demanda para conhecer detalhes e possibilidades para lidar com a semipresencialidade. No entanto, o número de professores que concluíram este curso é considerado baixo, levando em consideração o número de docentes da instituição. De acordo com os Dados Gerais UFU 2017 (Ano base - 2016) há 1.779 docentes efetivos do ensino superior na instituição, deste contingente temos até o momento 284 docentes concluintes do Curso de Formação Continuada de Professores para EaD. Esta quantidade representa 15,96% do total de professores da instituição. Importante considerar que dentre os participantes que concluíram o curso há também técnicos e professores que atuaram em cursos de extensão, aperfeiçoamento e especialização que participaram do curso de capacitação e que não necessariamente são docentes efetivos da instituição. Assim, podemos inferir que a grande maioria dos docentes da instituição desconhecem as especificidades da modalidade a distância que vai muito além da simples utilização das tecnologias computacionais, mas inclui o conhecimento sobre o uso pedagógico dos recursos disponíveis para potencializar a interação e a aquisição de conhecimento. Conforme afirmam Santos e Marques (2011, p. 338)

[...] os responsáveis pelo ensino têm o compromisso de colocar em prática todo o conjunto de conhecimentos adquiridos em sua formação de educador. O professor necessita em primeiro lugar, estar inserido no contexto do ensino a distância, sentindo-se um colaborador no processo de aprendizagem, e não um detentor do conhecimento. Precisa perceber que, se ele não se fizer valer da melhor forma possível da utilização dos recursos educacionais que estão a sua disposição, o resultado final não será satisfatório.

De acordo com documentos do CEaD/UFU foram ofertadas, até o momento, 12 edições do curso de Formação de Professores para EaD. Para esta pesquisa foram computados os dados até a 11ª edição, tendo em vista que a última edição encerrou recentemente e os dados ainda serão apreciados. Na tabela abaixo, pode-se verificar o número de matriculados, concluintes e a porcentagem referente ao número de concluintes. Ressalta-se, no entanto, que a quantidade de não concluintes é computado com a somatória entre evasão e reprovados, além dos dados considerarem aqueles professores que nem mesmo chegaram a acessar o ambiente virtual.

CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA EAD - UFU

EDIÇÃO MATRICULADOS CONCLUINTES PORCENTAGEM DE CONCLUINTES

1ª 106 63 59%

2ª 27 17 62%

3ª 28 18 64%

4ª 34 25 73%

5ª 40 26 65%

6ª 24 18 75%

7ª 40 33 82%

8ª 22 19 86%

9ª 30 18 60%

10ª 54 38 70%

11ª 11 9 81%

Total 416 284 Média - 70%

Fonte: Centro de Educação a Distância da UFU

Estas 11 edições do Curso de Formação Continuada para EaD foram ofertadas entre os anos de 2010 e 2015. Percebe-se que a porcentagem de concluintes aumenta ao longo das edições. Nas cinco primeiras edições, a média de concluintes foi de 65%, enquanto nas demais edições a média foi de 75%. O interesse em concluir o curso vai ao encontro do crescimento e conhecimento da modalidade a distância na UFU, que apesar dos avanços alcançados, ainda apresenta-se como um desafio na instituição, principalmente quando se planeja a capacitação da equipe e se avalia os recursos financeiros. Merece observar ainda que o número de matriculados é consideravelmente menor em relação à primeira oferta. Inferimos que seja pela inserção de novos professores não formados como docentes nos cursos a distância e pela exigência de formação para atuação.

O curso de Formação de Professores, até 2014, contava com financiamento do Programa UAB por meio do Plano Anual de Capacitação Continuada em EaD – PAAC que teve o seu último convênio firmado com a UFU em 2013, sendo prorrogado até o início do ano de2016. Além do financiamento de custeio eram financiadas bolsas para equipe envolvida. Noentanto, no ano de 2015 finalizou-se a 11ª turma do curso, não havendo possibilidade de novaoferta por falta de recurso. Com o início da oferta das turmas de graduação e especializaçãodo Edital 75/2014 da DED/CAPES, houve a necessidade da oferta da 12ª turma do curso queocorreu em caráter de urgência com a participação das coordenadoras de tutoria comotutoras mediadoras no ambiente virtual. Esta oferta aconteceu pela dedicação destasprofissionais que acreditam na importância da formação dos professores que atuam em cursosoferecidos a distância. As duas coordenadoras de tutoria que se dedicaram a esta formação,atendem às necessidades no âmbito da tutoria de

Curso de Formação de professores autores, formadores e coordenadores de polo para atuar na EaD: matriculados e concluintes

todos os cursos ofertados a distância pela UFU, no contexto em que cada curso não conta mais com uma coordenação de tutoria exclusiva. Desta forma, salienta-se que esta oferta se deu em carácter excepcional, dado o excesso de trabalho que as coordenadoras já assumem, não sendo prevista nova oferta do curso neste formato.

Na tentativa de buscar uma alternativa a esta realidade, até que a situação seja articulada no âmbito da CAPES e também na busca por atender à demanda de professores que atuarão em disciplinas semipresenciais, utilizando as tecnologias computacionais como suporte, o CEaD/UFU estabeleceu uma parceria com a Divisão de Capacitação - DICAP/UFU para tornar possível a oferta do Curso de Capacitação de Professores para EaD voltado para servidores UFU que têm interesse em ofertar ou participar de cursos de capacitação a distância e atender a demanda de professores que atuarão, seja na modalidade semipresencial ou a distância.

O oferecimento de cursos a distância no processo de capacitação de servidores da UFU vem sendo ampliada nos últimos anos, sobretudo levando em conta o Plano de Carreira dos Servidores Técnicos Administrativos em Educação. O Plano Institucional de Desenvolvimento e Expansão da UFU - PIDE – 2016-2021 aborda a capacitação dos servidores como uma meta permanente e para isso o Plano prevê uma programação intensa de eventos e cursos para a capacitação objetivando não só a progressão da carreira, mas também o desenvolvimento de competências para atuar da melhor forma no ambiente de trabalho. O oferta de cursos de capacitação na modalidade EaD corresponde aos objetivos da Divisão de Capacitação da instituição - DICAP que apresenta como desafio a falta de possibilidade de atender demandas de outros campi, além de estar condizente com o Plano Anual de Capacitação da UFU de 2017. De acordo com este documento

os Cursos de Capacitação acontecerão prioritariamente na modalidade à distância, minimizando custos e alcançando maior número de servidores. Para viabilizar este objetivo a DICAP firmou parceria com o Centro de Educação à Distância - CEAD/UFU que dispõe da ferramenta Moodle e entendeu a importância e necessidade do incremento dos Cursos de Capacitação que atendem à demanda dos servidores da UFU (p.6).

A demanda emergente da preparação de professores para a oferta de disciplinas semipresenciais por si só justifica a oferta desse curso pela necessidade de conhecimento das especificidades da EaD que exige um formação sólida e continuada de seus atores, principalmente os professores que irão utilizar pedagogicamente as tecnologias computacionais para conquistar os objetivos do processo de ensino e aprendizagem. A grande maioria dos docentes possui experiência na educação presencial, mas desconhecem muitas vezes os detalhes para a utilização pedagógica das tecnologias computacionais, comunicação e interação em ambientes virtuais de aprendizagem, as formas de avaliação, especificidades da produção do material didático, a linguagem utilizada na EaD, enfim, as principais especificidades da modalidade.

No projeto de 2018, apresentado à DICAP/UFU, foram registrados resultados importantes em relação às edições já ofertadas do referido curso:

Na avaliação final expressa pelos cursistas em relação ao curso de formação de professores e coordenadores para atuar na EaD, 93,75% dos docentes consideraram o curso de bom a excelente (notas de 6 a 10), enquanto que 6,25% julgaram o curso regular (...) É importante ressaltar ainda o fato de que 70% dos docentes que realizaram o curso deram nota 10 para onível de importância desse curso para sua atuação, ou seja, considerarammuito importante a formação no contexto do curso em que atuam ouatuarão. Quanto à contribuição para o desenvolvimento profissional,cerca de 50% dos docentes deram nota 10 quanto ao nível de relevância dacontribuição do curso para o seu desenvolvimento profissional para atuar em EaD.Além disso, no que se refere à relevância do conteúdo para o auxílio no preparodas disciplinas para EaD, 58% dos docentes consideraram o conteúdo docurso fundamental. E, ainda, 56,25% deles afirmaram que o curso despertou ointeresse em continuar estudando sobre assunto. Para 93,75% dos estudantes ocurso teve importância para a atuação docente como um todo, porque despertouneles a motivação necessária para o envolvimento com a educação a distância naUFU (Projeto, 2018).

A avaliação positiva de cursos anteriores descrita no projeto e a apresentação da demanda recebida também pela DICAP/UFU deram início à articulação de uma oferta especial de um curso voltado para Formação de Professores para atuar na EAD e revela a importância deste curso para consolidar um suporte contínuo aos professores que venham a atuar na modalidade a distância ou em disciplinas semipresenciais. A intenção é que estes cursos tenham ofertas continuas e possam atender à grande quantidade de professores que não tiveram a oportunidade de participar de versões anteriores e muitas vezes desconhecem a EaD. Visando manter esta qualidade, os membros da equipe que atuarão como instrutores/mediadores no referido curso são técnicos do CEaD – UFU com participação efetiva nos processos relacionados à EaD na instituição e que concluíram com um ótimo desempenho os Cursos de Formação de Tutores e Professores ofertados pelo CEaD, com coordenação de professores da área.

Outro ponto perceptível no projeto do curso é o papel da interatividade que perpassa questões importantes, como a proposta metodológica e avaliativa do curso. Conforme o documento, o curso, que será desenvolvido ao longo de cinco módulos com duração quinzenal, terá uma metodologia baseada na utilização de diferentes mídias, priorizando e emprego de uma linguagem dialógica em todo o processo, por meio do acompanhamento e interação entre professores autores, instrutores e alunos. No que tange ao processo avaliativo, o projeto prevê o acompanhamento contínuo dos estudantes “considerando as formas de interação entre estudantes e professores, o suporte técnico e pedagógico fornecido pelos instrutores/mediadores aos estudantes e a participação dos estudantes/participantes no curso” (excerto do projeto). Desta forma, verifica-se a previsão da participação de todos os envolvidos no desenvolvimento do curso permitindo conexões necessária para a troca de informações e construção do conhecimento, por meio da interatividade.

O uso da interatividade nos recursos educacionais se concretiza na EaD, quando a tecnologia se torna um meio para que a construção doconhecimento aconteça por meio da participação ativa de todos os envolvidos, e não o ponto essencial deste processo. As estratégias interacionistas se efetivam quando a comunicação, por meio da tecnologia, traz um sentido de colaboração, de múltiplas conexões e trocas entre os participantes (SANTOS; MARQUES, 2015, p. 337)

Assim, o curso a ser oferecido preza pela garantia de interatividade entre todos os envolvidos por meio da tecnologia.

CONCLUSÃO

A discussão acerca das interfaces que permeiam a formação de professores frente aos desafios e perspectivas da utilização das tecnologias computacionais na prática pedagógica, apresentando a realidade vivenciada pela Universidade Federal de Uberlândia permitiu-nos perceber que avanços significativos já foram alcançados na busca por garantir a devida capacitação dos professores que atuam na modalidade a distância. No entanto, ainda se mostra como um desafio o atendimento à demanda emergente de professores que atuarão nas disciplinas semipresenciais, pois estes docentes em sua maioria não atuaram em cursos oferecidos a distância e, por conseguinte, não participaram da formação específica.

Dados demonstram a contribuição dos Cursos de Formação de Professores para EaD destinados à formação dos professores que atuam ou atuaram em cursos a distância financiados pela CAPES até o ano de 2015 na UFU. No entanto, percebe-se que uma grande parcela dos professores da instituição ainda demanda formação para atuação em disciplinas oferecidas com recursos próprios para a semipresencialidade. O caminho encontrado, por meio da parceria entre CEaD e DICAP/UFU parece promissor na busca por tornar a modalidade a distância cada dia mais conhecida e vivenciada na instituição. Dados relativos à efetivação desta proposta serão analisados futuramente, após a oferta do referido curso que se pauta fortemente na interatividade entre os participantes e nos diferentes recursos disponíveis. Importante reconhecer que iniciativas como esta podem proporcionar o conhecimento das especificidades da EaD pelos servidores que muitas vezes continuam arraigados numa perspectiva tradicional da educação e, por conseguinte, não refletem sobre o potencial da utilização das tecnologias computacionais no processo de ensino e aprendizagem.

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