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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

COZINHANDO E CALCULANDO: uma estratégia para ensinar

matemática com o uso de receitas culinárias

Adilene Pereira Lopes Duffeck1

Silvana Heidemann Rocha2

Resumo

Este artigo refere-se ao projeto de intervenção pedagógica desenvolvido em 2014 e 2015, no Colégio Estadual Antonio Lacerda Braga, Colombo, Paraná. O público-alvo foi uma turma de 34 estudantes do 6º ano, do Ensino Fundamental. O objetivo do referido projeto foi desenvolver estratégias para qualificar o processo de ensino e aprendizagem da matemática, estabelecendo-se relações entre a matemática e situações cotidianas daqueles estudantes. A estratégia utilizada focalizou o preparo de receitas culinárias e medidas matemáticas pertinentes. Foram realizadas atividades envolvendo a compreensão e a interpretação de receitas culinárias, bem como os seus preparos. Foi estabelecida uma parceria com a disciplina de Língua Portuguesa, a qual abordou o gênero textual “receita”. Essa parceria se manteve ao longo de toda a implementação do projeto, e visou estimular a leitura, por meio de histórias em quadrinhos, sobre os seguintes conteúdos: história da matemática; conceitos e exemplos inerentes aos conteúdos matemáticos abordados, tais como: frações, números decimais e medidas de massa. Durante o processo de implementação desse projeto, foi possível observar um maior interesse e envolvimento dos estudantes nas aulas de matemática, refletindo positivamente no aprendizado dos mesmos. Palavras-chave: Matemática. Receitas Culinárias. Aprendizagem. Frações. Números decimais.

1 INTRODUÇÃO

Os números estão presentes no nosso dia-a-dia em inúmeras situações; por

exemplo, quando se verificam as horas, a temperatura, os preços, dentre outras. “O

uso dos algarismos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 0 nos parece em geral tão evidente que

chegamos quase a considerá-lo como uma aptidão inata do ser humano” (IFRAH,

2005, p. 9). No entanto, o mesmo não acontece com as frações e números decimais

que, segundo Boyer (1996, p.4) “foram essencialmente um produto da idade

moderna da matemática”.

Diante disso, no projeto de intervenção pedagógica referente a este artigo,

buscou-se abordar os conteúdos curriculares sobre frações e números decimais, de

forma que os estudantes pudessem perceber a utilização desses números em

situações cotidianas.

1Professora de Matemática da Rede Pública Estadual de Ensino, Colégio Estadual Antonio Lacerda Braga, Colombo, Paraná.

2Professora Orientadora, Doutora, Departamento Acadêmico de Matemática, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,

Curitiba, Paraná.

Para fomentar essa percepção, foram utilizadas receitas culinárias, que, além

de fazer parte do cotidiano dos estudantes, possibilitaram estabelecer relações entre

a teoria e a prática, de forma a contribuir para um aprendizado mais significativo.

Conforme as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, “a aprendizagem

Matemática consiste em criar estratégias que possibilitem ao aluno atribuir sentido e

construir significado às ideias matemáticas”. (PARANÁ, 2008, p.45)

A proposta pedagógica da Etnomatemática é fazer da matemática algo vivo,

lidando com situações reais no tempo e no espaço. Para D´ambrosio (2005, p.9), “ a

Etnomatemática é a matemática praticada por grupos culturais”. Trabalhar a teoria é

indispensável, mas é na prática que os conhecimentos se consolidam e ganham

sentido, gerando novos conhecimentos. (D`AMBROSIO, 2005, 2011)

Ao observar a história, percebe-se que tudo o que se conhece e se utiliza,

surgiu em algum momento, devido à necessidade de resolver situações cotidianas

de um grupo ou de uma civilização, pois a partir das relações que o homem

estabelece, ele cria, recria e dinamiza o mundo. (D´AMBROSIO, 2005; FREIRE,

1980). Nesse sentido, os estudantes ao ingressarem na escola, trazem consigo suas

histórias de vida e muitos conhecimentos matemáticos, que devem ser aproveitados

pelos professores de forma a dar sentido aos conteúdos a serem ensinados.

As escolas devem ser um lugar de organização e sistematização desses

conhecimentos já existentes, gerando novos conhecimentos. O processo de

conhecimento é dinâmico e inacabado, pois o ser humano está sempre em

constante processo de aprendizagem, o que possibilita tomar consciência da sua

realidade, tornando-os sujeitos capazes de interagir, compreender e, através do

conhecimento, transformar sua realidade. (PARANÁ, 2008)

Nessa perspectiva, “o papel do professor será de gerenciar, e facilitar o

processo de aprendizagem e, naturalmente, de interagir com o aluno na produção e

crítica de novos conhecimentos” (D´AMBROSIO, 2011, p.80). Buscar alternativas

metodológicas que facilitem o aprendizado dos estudantes, quando o assunto é

matemática, é uma prática necessária para os professores dessa disciplina.

Utilizar receitas culinárias para trabalhar conteúdos matemáticos, tem sido

uma prática já utilizada por alguns pesquisadores através do desenvolvimento de

projetos. A seguir, são abordados alguns desses projetos. “A Matemática na

Culinária Regional” é uma proposta de trabalho que buscou unir o aprendizado da

matemática com práticas culinárias e a cultura regional, tendo como ponto de partida

a receita de um biscoito conhecido como chimango (PAIVA, 2012). O projeto

intitulado “Matemática com Sabor de Bolachas” resultou de uma parceria entre

professores de Matemática e Arte, desenvolvido a partir de uma receita de biscoito,

até a embalagem do produto pronto, em embalagens recicladas. (MARTINS, 2010)

Ao pensar em frações, é comum associar o tema ao ato de repartir algum

alimento. No livro “Frações sem Mistério”, a história começa com um personagem

tendo como tarefa a missão de dividir uma pizza em partes iguais e, na sequência,

em uma sala de aula, os estudantes devem dividir um bolo em pedaços do mesmo

tamanho. (RAMOS, 1998)

Além do manuseio de um alimento, o ato de prepará-lo é um fator que deixa

os estudantes muito motivados e, consequentemente, aumenta o interesse desses

pela disciplina de Matemática. Na implementação do projeto de intervenção

pedagógica, cujos resultados estão descritos mais adiante, esse ato possibilitou a

abordagem de diversos conteúdos curriculares.

Ao contextualizar os conteúdos matemáticos, por meio do preparo de receitas

culinárias, foi possível estimular a curiosidade dos estudantes, possibilitando aos

mesmos, estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar novas situações de

aprendizagem, conforme solicitado nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica

do Estado do Paraná.

2 MATERIAL E MÉTODO

A implementação do projeto de intervenção pedagógica iniciou-se com uma

conversa com os 34 estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio

Estadual Antonio Lacerda Braga, Colombo, Paraná, para apresentar o projeto a ser

desenvolvido. Foram apresentadas, também, as apostilas confeccionadas para esse

fim, utilizadas como material pedagógico durante a implementação. Essas apostilas

foram baseadas nas atividades propostas em Duffeck (2014).

O projeto consistiu em abordar conteúdos matemáticos como: fração,

números decimais, unidades de massa, entre outros, por meio da resolução de

exercícios e do preparo de receitas culinárias, de modo que os estudantes fossem

capazes de estabelecer relação entre esses conteúdos e situações cotidianas partir

do preparo de um alimento.

A implementação desse projeto de intervenção pedagógica foi composta de

oito módulos e cada um desses módulos dividiu-se em duas partes. No primeiro

momento, foram realizadas atividades de leitura, com resolução de tarefas em sala

de aula e, no segundo momento, a abordagem dos conhecimentos matemáticos de

forma prática partindo sempre de uma receita culinária

As atividades propostas eram sempre iniciadas com uma conversa, que tinha

por finalidade identificar e aproveitar os conhecimentos que os estudantes já traziam

sobre o conteúdo a ser abordado, incentivando a participação de todos. Após esse

período de conversa, os educandos eram orientados a se organizarem em duplas ou

grupos para prosseguirem com as atividades, que eram sempre compostas por

leitura com ênfase nos conceitos e exemplos referentes a cada tema. As dúvidas

que surgiam eram esclarecidas com anotações no quadro-negro, seguidas das

explicações pertinentes ou citações de outros exemplos sugeridos pelos próprios

educandos.

Nos módulos 1 e 2, foram trabalhados os conceitos e exemplos relacionados

aos conteúdos de fração e números decimais, a partir da leitura das histórias em

quadrinhos, seguida da resolução de exercícios propostos em sala de aula. A partir

do módulo 3, iniciaram-se as atividades práticas, cujo objetivo foi verificar se os

conhecimentos teóricos, adquiridos nos módulos 1 e 2, eram realmente associados

às situações práticas.

Para realizar as atividades práticas que envolvia manuseio de materiais,

foram utilizados o laboratório de ciências e a cozinha da escola.

2.1 TRABALHANDO COM O GÊNERO TEXTUAL “RECEITAS”, NÚMEROS E

ÁLGEBRA

No módulo 1, iniciou-se as atividades perguntando-se para os estudantes se

as receitas culinárias podiam ser classificadas como textos. Houve um período de

discussão e, para continuar a atividade, foi solicitado a um estudante que buscasse

alguns dicionários na biblioteca da escola. Os estudantes, em sala de aula, foram

orientados a se organizarem em grupos de cinco ou seis alunos e a pesquisarem no

dicionário o significado da palavra “texto”, realizando em seguida a leitura do

conceito. Foi explicado que, na disciplina de Língua Portuguesa, estudariam alguns

gêneros discursivos, e que “receita” é um tipo de texto que tem a função de instruir

(BARBOSA, 2003). Utilizando as atividades propostas em Duffeck (2014), os

estudantes fizeram a leitura dos seguintes textos: “Cabecinha do Cachorrinho de

Papel”, que se tratava de uma instrução para fazer uma dobradura; “Sanduíche

Natural da Deli”, que tratava de uma receita culinária; e, ainda, “Lenço Atrás”, que

trazia instruções de como realizar uma brincadeira infantil.

Na sequência, os estudantes assistiram ao vídeo “O Bolo”, para trabalhar os

conceitos matemáticos de “dobro” e “metade”. Alguns estudantes associaram o

dobro a somar duas vezes a mesma quantidade e, outros, a multiplicar pelo número

dois. Quanto à metade, disseram que era separar em duas partes iguais.

O texto “Cabeça do Cachorrinho de Papel” trazia uma sequência de imagens

para se fazer a dobradura. Então, os estudantes deveriam escrever um texto que

indicasse o modo de fazer a dobradura para ser utilizado no lugar das imagens.

Figura 1 – Instruções de dobradura para confeccionar uma cabeça de cachorro Fonte: A autora .

Houve muitas reclamações, nesse momento, e alguns estudantes disseram

que não queriam mais participar do projeto, mostrando forte resistência quanto a

produzir o texto para a atividade. Muitos alunos questionaram: “_ Se a aula é de

matemática, porque temos que ficar escrevendo textos?”

Foi explicado que, nesse módulo do projeto, assim como nos módulos 2, 3, 4

e 5, havia uma parceria com a disciplina de Língua Portuguesa, que justificava a

atividade, e que, trabalhar atividades que visam desenvolver a escrita e a leitura, são

importantes em todas as disciplinas.

A última atividade proposta, no módulo 1, era que cada estudante escrevesse

sua receita preferida e foi encaminhada como tarefa de casa.

Na sequência, cada estudante recebeu algumas folhas A4 para realizarem a

dobradura apresentada na figura 1, anterior.

Posteriormente, houve um momento de descontração ao realizar a

brincadeira do “Lenço Atrás” seguindo as instruções do modo de fazer, conforme

proposto em Duffeck (2014).

Na aula seguinte, cada estudante trouxe sua receita preferida. Das 34

receitas recebidas, todas apresentaram erros ortográficos e foram entregues para a

professora de Língua Portuguesa, que procedeu às devidas correções, e o trabalho

de reescrita das mesmas com os estudantes.

Ao finalizar esse módulo 1, foi possível avaliar as atividades propostas em

Duffeck (2014) e realizadas pelos estudantes, por meio da correção dessas

atividades. Considerou-se um grau de entendimento satisfatório por parte dos

estudantes, com relação aos conceitos curriculares trabalhados: dobro e metade.

2.2 CONTANDO HISTÓRIA E CONSTRUINDO CONCEITOS

As atividades desse módulo 2 foram iniciadas a partir de uma conversa com

os estudantes, tentando identificar os conhecimentos que eles já tinham sobre a

história dos números, bem como sobre a importância dos números em seu dia-a-dia.

Foram anotadas, no quadro-negro, várias formas de números (naturais,

fracionários e decimais), e pedido para que mencionassem algumas situações

cotidianas, nas quais se deparavam com tais números. O estudante “A”, mencionou

horas e datas. O estudante “B” mencionou preços e receitas. Além disso, foram

citados vários outros exemplos pela turma. Depois da participação da grande

maioria, iniciaram a leitura da história em quadrinhos “História dos Números”,

proposta em Duffeck (2014).

Após a leitura, foi utilizado o quadro-negro para anotar os conceitos e alguns

exemplos de fração e de número decimal, de forma sistematizada. Os estudantes

fizeram essas anotações em seus cadernos, aproveitando o momento para citar

outros exemplos que pudessem contribuir para as atividades seguintes.

Foi retomado o conceito de “dobro”, estudado no módulo anterior, para dobrar

os ingredientes da receita através da soma ou da multiplicação. Foi explicado o

processo de somar frações com denominadores iguais e o processo de multiplicação

de um número natural por uma fração, e vice-versa.

Na sequência, os estudantes iniciaram as atividades propostas em Duffeck

(2014), referentes à receita culinária “Muffins de Chocolate Branco”, que consistia

em identificar as frações, suas respectivas leitura e escrita por extenso, bem como

os instrumentos utilizados para medir cada um dos ingredientes.

2.3 CONCEITUANDO EQUIVALÊNCIA, SIMPLIFICANDO FRAÇÕES,

COMPARANDO NÚMEROS FRACIONÁRIOS E DECIMAIS

Nesse módulo 3, os estudantes foram orientados a se organizarem em grupos

de no máximo seis, e cada equipe recebeu um dicionário para pesquisarem as

seguintes palavras: fração, equivalente, simplificar e comparar.

Após a leitura e comentário de cada significado, iniciou-se a leitura da história

em quadrinhos “Frações e Números Decimais”, proposta em Duffeck (2014). Foram

anotados, no quadro-negro, alguns exemplos de frações equivalentes, simplificação

de frações, comparação de números decimais, com o objetivo de esclarecer as

dúvidas que surgiram durante a leitura.

Na sequência, os estudantes iniciaram as atividades propostas em Duffeck

(2014), que envolvia os conceitos e exemplos abordados. Porém, os estudantes

apresentaram maior dificuldade para realizar a “simplificação de frações”. Por isso

houve a necessidade de retomar o conteúdo. Essa retomada ocorreu por meio de

uma nova conversa seguida de outros exemplos anotados no quadro-negro.

Algumas xícaras de tamanhos variados foram colocadas à disposição das

equipes, que retomaram a receita de muffins para verificar as medidas dos

ingredientes, de forma prática. Os estudantes foram orientados a medir os

ingredientes, utilizando uma xícara como unidade de medida e água no lugar dos

ingredientes da receita. Foi retomado o conceito da fração como parte de um todo.

Iniciando as atividades, a primeira pergunta que surgiu foi: “- Como vamos dividir

uma xícara?”

Foram orientados a imaginarem a xícara dividida em partes iguais, já que não

era possível cortá-la. No entanto, se fosse uma fruta, uma barra de chocolate, uma

pizza, por exemplo, seria possível cortá-las e fazer a divisão concretamente.

Houve um período de discussão em cada equipe, e algumas começaram a

atividade utilizando os dedos, outras empilhando canetas, e uma das equipes optou

por utilizar a régua.

A atividade se desenvolveu de forma muito positiva, no sentido em que os

estudantes estavam muito entusiasmados, trocaram ideias e, depois de verificadas

as frações encontradas na receita, passaram a criar outros exemplos de frações

para serem medidas nas xícaras.

2.4 TRANSFORMANDO FRAÇÕES EM NÚMEROS DECIMAIS E VICE-VERSA, E

REVENDO O SISTEMA MONETÁRIO BRASILEIRO

No módulo 4, os estudantes foram organizados em duplas e receberam as

atividades propostas em Duffeck (2014). Na sequência, utilizou-se a TV pen-drive

para exibir uma tabela de preços, onde os valores dos produtos estavam

representados na forma de fração. Os estudantes comentaram que nunca tinham

visto nenhum preço daquela forma e começaram a dar exemplos dos valores, em

reais.

Após as falas, retomou-se o conceito de fração, relacionado à operação de

divisão e reforçando as frações com denominadores 10, 100 e 1000, através de

anotações no quadro-negro.

Foi feita a leitura da história em quadrinhos “Números Decimais”, que trazia

vários exemplos de transformação de fração para números e decimais, e vice-versa.

Conforme surgiam as dúvidas, elas eram anotadas no quadro-negro para

esclarecimento posterior. A referida história em quadrinhos também tratava de questões

sobre o sistema monetário brasileiro, abordando a relação real e centavos de reais.

Depois da leitura das dúvidas anotadas no quadro-negro, elas foram discutidas e

sanadas. Então, passou-se para as atividades propostas em Duffeck (2014).

Também foi desenvolvida uma atividade prática, utilizando encartes de preços de

mercados, onde as duplas escolheram vários produtos para simular a comercialização

dos mesmos. Cada dupla recebeu uma quantidade de notas impressas de dinheiro

fictício, que representavam valores em reais e centavos de reais para as negociações.

Ao final da atividade, cada dupla fez a soma do que havia vendido e foi verificado qual

dupla havia vendido mais e qual havia vendido menos, com objetivo de reforçar as

operações de adição e subtração com números decimais.

2.5 UNIDADES DE MEDIDAS DE MASSA

O objetivo desse módulo 5 foi apresentar as unidades de medidas de massa,

de acordo com o Sistema Internacional (SI), com enfoque nas relações entre

quilograma (kg) e grama (g) e, ainda, entre grama (g) e miligrama (mg).

Foram organizados grupos de no máximo seis estudantes, os quais

receberam as atividades propostas em Duffeck (2014) para iniciarem a leitura da

história em quadrinhos “Medidas de Massa”. Além disso, receberam algumas

embalagens vazias para observação das medidas presentes em cada embalagem.

Após as observações e comentários sobre o tema, foram apresentados dois

modelos de balanças, utilizadas para medir massa. Uma delas tinha intervalo de 25

em 25 gramas e a outra de 50 em 50 gramas. Os estudantes comentaram, ainda,

sobre as balanças utilizadas nas panificadoras, em mercados e nas farmácias.

Outros instrumentos apresentados foram os copos medidores, geralmente,

utilizados nas residências, nos quais os estudantes puderam perceber várias

unidades de medidas já pré-estabelecidas.

Na sequência, as equipes foram encaminhadas ao laboratório de ciências,

com a tarefa de transformar para gramas as medidas cujas unidades estavam em

xícaras, na receita de muffins. Para isso, os estudantes utilizaram copos medidores

e balanças, reescrevendo em seguida a receita com as novas medidas, em gramas.

Figura 2 - Estudantes realizando atividades sobre medidas de massa Fonte: A autora

Depois de estabelecidas as novas medidas, em gramas, para a receita de

muffins, os estudantes foram orientados a fazer uma lista de compras, pois era

preciso adquirir os ingredientes necessários ao preparo da receita.

No pátio do colégio, foram fixados três cartazes, cada um representando um

mercado, para que os estudantes realizassem a atividade referente à pesquisa de

preços, escolhendo a melhor opção de compra.

Figura 3 – Estudantes realizando atividade de pesquisa de preços Fonte: A autora.

2.6 COLOCANDO A MÃO NA MASSA E CONFECCIONANDO O CADERNO DE

RECEITAS CULINÁRIAS

Dos módulos 6 ao 8, foram retomadas as receitas culinárias trazidas pelos

estudantes, no início da implementação do projeto de intervenção pedagógica, bem

como as receitas culinárias presentes em Duffeck (2014).

Nas aulas que envolviam o preparo das receitas culinárias, foram retomados

os conteúdos abordados nas aulas expositivas, como: dobro, metade, frações e

unidades de medidas de massa.

Para que os estudantes pudessem trabalhar com as duas receitas de “bolo de

cenoura” selecionadas entre as demais receitas trazidas por eles, no início da

implementação, foi explicado o conceito de média aritmética, que era pré-requisito

para a realização da atividade, que consistiu em criar uma nova receita a partir das

duas já existentes.

A cozinha do colégio foi preparada previamente, com todos os ingredientes e

objetos necessários para o preparo da receita culinária “muffins de chocolate

branco”.

A professora de Ciências, que também participou dessa atividade, alertou

sobre os cuidados com a alimentação e a importância da higiene na hora do preparo

dos alimentos.

Nas oito aulas práticas que envolveu o preparo das receitas culinárias, os

estudantes receberam avental e touca para usar durante o preparo das receitas e

fizeram a higiene das mãos para iniciar o preparo das mesmas.

Para trabalhar na cozinha, os estudantes eram sempre divididos em

pequenos grupos, de forma que todos eles pudessem participar ativamente do

preparo das receitas. Nessa fase, contou-se com a colaboração de algumas

professoras colegas de trabalho e com a ajuda das funcionárias responsáveis pela

merenda escolar.

Para o preparo de cada receita culinária, sempre estavam disponíveis

instrumentos para medir, tais como: xícaras, copos medidores, balança, colheres de

sopa e de chá, bem como todos os ingredientes necessários.

Figura 4 – Estudantes preparando muffins de chocolate branco Fonte: A autora

No preparo da receita do “bolo de cenoura”, criada a partir da média

aritmética dos ingredientes de duas receitas, anteriormente mencionado, os

estudantes puderam acrescentar algumas informações que não constavam nas duas

receitas analisadas, como: o tamanho de forma a ser utilizada, o tempo de

assamento, a temperatura do forno e o rendimento da receita.

Ao final desse projeto, os estudantes receberam as receitas culinárias trazidas

por eles e já digitadas, para iniciarem a confecção do seu caderno de receita.

Para essa atividade, os estudantes foram orientados a fazer uma capa,

numerar as páginas de seu caderno e criar um índice que facilitasse o encontro das

receitas culinárias.

Figura 5 - Cadernos de receitas culinárias confeccionados pelos estudantes Fonte: A autora

3 RESULTADO E DISCUSSÃO

Ao iniciar as atividades práticas que envolveram o manuseio de materiais e o

preparo das receitas, foi possível perceber que a maioria dos educandos que, em

sala, não encontraram dificuldades para realizar as atividades propostas, não

conseguiam associar os exercícios tradicionais realizados, às atividades práticas

solicitadas.

No início de cada atividade prática, eram retomados os conceitos de forma

que os estudantes fizessem a associação do conteúdo em situações reais.

Foi possível constatar que mesmo aqueles estudantes que haviam acertado

100% das atividades em sala de aula, na hora da prática não conseguiam utilizar o

conhecimento que já pareciam dominar.

Durante o processo, percebeu-se também uma grande resistência por parte

dos estudantes, ao realizarem atividades que envolviam a necessidade de relatar

situações através de textos.

De todas as atividades realizadas em sala, a que os estudantes apresentaram

um maior grau de dificuldade, foram às relacionadas às simplificações de frações,

sendo necessário retomar o conteúdo através de novos exemplos e de atividades

extras, retiradas do próprio livro didático.

A atividade de representar as frações, utilizando xícaras de tamanhos

diversos e água, causou surpresa, pois foi possível perceber que os conceitos

trabalhados em sala de aula pareciam ter se perdido. Foi necessário fazer um

resgate dos conceitos de fração como parte do todo.

Nas atividades que envolveram manuseio de ingrediente para a verificação de

medidas de massa, nas quais a turma de estudantes foi dividida em duas equipes,

devido ao fato de haver somente duas balanças para serem utilizadas, pôde-se

constatar a necessidade de mais tempo para que todos eles pudessem participar

ativamente da atividade. No entanto, esse fato não prejudicou a compreensão do

conteúdo.

Na atividade de pesquisa de preços, foram retomados os conteúdos

relacionados à adição e subtração de números decimais, que possibilitou aos

estudantes trabalhar situações relacionadas à questão de organização, tomada de

decisão e a necessidade de comprar conscientemente, evitando o desperdício.

O fator “motivação” fez com que ocorresse um maior interesse por parte dos

educandos em relação à disciplina de matemática.

Durante o desenvolvimento do projeto houve uma maior interação entre os

educandos e uma maior disposição em aprender. Esse fato favoreceu o

desenvolvimento das atividades em grupos, desenvolvendo um espírito de

cooperação e socialização na turma, refletindo positivamente na aprendizagem.

O preparo da receita culinária de Muffins de chocolate branco foi à atividade

que mais os estudantes gostaram, havendo um momento de degustação ao final da

atividade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho desenvolvido possibilitou avaliar continuamente o aprendizado dos

educandos através de atividades tradicionais e práticas, tornando o processo

ensino-aprendizagem dinâmico.

Também, através desse projeto, foi possível perceber a necessidade de um

equilíbrio entre atividades tradicionais e práticas, sendo que uma não deve excluir a

outra, mas sim, se complementarem.

Esse fato ficou evidenciado, quando vários estudantes que seriam “nota 10”

ao realizarem uma sequência de exercícios relacionados aos conteúdos frações e

números decimais, em sala de aula, não foram capazes de identificar aplicação

prática dos mesmos conteúdos.

Outro fator a ser observado na aplicação desse tipo de proposta de trabalho,

é a quantidade de alunos em sala de aula; tendo sido possível perceber que um

melhor resultado era alcançado nas atividades em que havia uma quantidade menor

de estudantes envolvidos.

As parcerias estabelecidas com outras disciplinas, colegas professores e com

as funcionárias da cozinha, foram fundamentais para o sucesso desse trabalho.

O processo de trabalhar atividades diferenciadas é trabalhoso, desafiador e

estressante, mas o resultado final é compensador quando percebemos nossos

educandos estabelecendo as relações entre teoria e prática.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. P. Trabalhando com gêneros do discurso: receita. São Paulo. Editora FTD, 2003. BOYER, C. B. História da matemática. 2. ed., São Paulo: Edgard Blücher, 1996. D´AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. ______________. Educação matemática: da teoria a prática, 22. ed. Campinas , Papirus, 2011. DUFFECK, A. P. L. Cozinhando e calculando: uma estratégia para ensinar matemática com o uso de receitas culinárias, voltado aos alunos de 6º ano do Colégio Estadual Antonio Lacerda Braga do Município de Colombo- PR. Projeto de Pesquisa – Unidade Didática. Secretaria de Estado da Educação. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Desenvolvimento Educacional. 2014 Disponível em: < http://arq.e-escola.pr.gov.br/pde2012/12606-91.pdf>. Acesso em: 03/12/2015. FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma Introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed., São Paulo: Moraes, 1980. IFRAH, G. Os números: história de uma grande invenção, 11. ed. São Paulo. 2005. PAIVA, T. V. S. et al. A matemática na culinária regional. In: III EIEMAT - Escola de Inverno da Educação Matemática. 1º Encontro Nacional PIBID-Matemática, Agosto de 2012. Santa Maria – RS. Anais... Disponível em:

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