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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2013

Título: ESTRATÉGIAS PARA A INTEGRAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, JUNTO À SOCIEDADE CIVIL E/OU EMPRESARIAL.

Autor DULCINEIA CRISTINA ZANARDO

Disciplina/Área Gestão democrática da Educação: Fundamentos, princípios e processos.

Escola de Implementação do Projeto

Colégio Estadual Prof. Mailon Medeiros – Ensino Fundamental, Médio e Profissional.

Município da escola Bandeirantes

Núcleo Regional de Educação Cornélio Procópio

Professora Orientadora Profª. Drª. Mara Peixoto Pessoa

Instituição de Ensino Superior Universidade do Norte do Paraná (UENP)

Relação Interdisciplinar Gestão educacional, Administração, Educação Profissional.

Resumo

Nos últimos anos tem-se discutindo sobre a gestão

democrática e participativa no ambiente escolar,

ressaltando o papel da gestão escolar como

instrumento para a inserção de movimentos de

transformação na atuação dos alunos, professores, pais

e comunidade. Neste sentido, permite-se que as forças

movimentadoras de nossa sociedade participem de

forma incisiva no cotidiano escolar. Essa participação

de todos os segmentos da sociedade na gestão escolar

nutre as escolas de novas ideias garantindo ao ensino

profissional a capacidade de atingir a real necessidade

de seus alunos e da instituição de ensino em ofertar

mão-de-obra qualificada, colaborando com o

desenvolvimento socioeconômico da cidade e região.

Sob esta perspectiva, estratégias são desenvolvidas

para a interação e valorização da educação profissional,

junto a sociedade civil e/ou empresarial e mais

diretamente por meio do Curso Técnico em

Administração.

Palavras-chave Gestão Escolar; Educação profissional; Sociedade; Integração; Valorização.

Formato do Material Didático Unidade didática

Público Alvo Técnico em Administração subsequente

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ – UENP

CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO - PARANÁ

_______________________________________________________________

DULCINEIA CRISTINA ZANARDO

ESTRATÉGIAS PARA A INTEGRAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL, JUNTO À SOCIEDADE CIVIL E/OU EMPRESARIAL.

CORNÉLIO PROCÓPIO - PARANÁ 2013

3

DULCINEIA CRISTINA ZANARDO

ESTRATÉGIAS PARA A INTEGRAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL, JUNTO À SOCIEDADE CIVIL E/OU EMPRESARIAL.

Produção didático-pedagógica apresentada à

Universidade Estadual do Norte do Paraná

(UENP) como requisito para aprovação no

Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), turma 2013, da Secretaria de Estado da

Educação (SEED) – Paraná, na área de

Gestão Escolar, sob a orientação da

Professora mestre Mara Peixoto Pessoa.

CORNÉLIO PROCÓPIO – PR 2013

4

INTRODUÇÃO

Este trabalho propõe o esclarecimento sobre o Curso de Educação

Profissional para o público empresarial, de forma que estes entendam e façam uso

de mão de obra qualificada, ofertada pela instituição de ensino.

Procura-se ressaltar sobre a responsabilidade social que as empresas

devem apresentar em torno da educação e, não somente o financiamento de alguns

poucos projetos sociais; mas, sobretudo, a atitude ética em todas as suas relações,

sejam com fornecedores, clientes, governo, meio ambiente, etc.

Presentemente, vê-se muito empresários preocupados em melhorar as

condições de vida das camadas de baixa renda, buscando o consenso de que a

educação e a escola pública devem ser valorizadas. E, para contribuir com isto, a

relação entre empresas/escola como parceiros é essencial - uma relação de

colaboração entre instituições que compartilham objetivos e/ou interesses comuns.

Ao pensarmos a relação entre ambos, deve-se respeitar o que cada uma delas tem

a oferecer, subordinando-as a um objetivo maior que as unem. Parceria esta

construída gradualmente, com estudo e contribuições, através do diálogo,

negociações e uma disposição de vencer os obstáculos que surgirem.

As empresas, assim como as escolas, conhecem, individualmente, seus

ambientes, que são bastante diferentes entre si. Entretanto, através da parceria, há

uma abertura e os alunos terão maiores oportunidades, não apenas visitando as

empresas; mas, sentindo-se acolhidos por estas, com reconhecimento e valorização

da educação profissional.

Neste sentido, busca-se demonstrar às empresas, a escola como um “todo”,

fazendo com que ela conheça e apoie os problemas e anseios que a escola pública

enfrenta no seu dia a dia, buscando possibilidades de torná-las parceiras e aliadas

da escola. Esta parceria, valorização e integração empresa/escola, além de

beneficiar o aluno, pode transformar-se em lição de cidadania e participação direta

no que diz respeito à políticas sociais.

As questões acima postas perpassam pela gestão e, considerando que a

gestão escolar está diretamente ligada ao conhecimento, existe a necessidade da

interação com a comunidade na qual “sua” escola está inserida buscando, portanto

apoio a essa modalidade educacional.

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A Constituição Federal mostra que a Educação é responsabilidade do

Estado e de toda a sociedade civil. A ação dos indivíduos/empresas não exime os

governos municipais, estaduais e federais de suas obrigações, mas pode contribuir

significativamente para sua efetivação e também suprir as necessidades

emergenciais, com participação das organizações no cotidiano das escolas, este

envolvimento e responsabilidade encontrar-se publicado no artigo 205 como citado

A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, p.34)

Desta forma, este trabalho visa exatamente o esclarecimento e a busca de

parcerias, por meio de estratégias que possam ser desenvolvidas para que ocorram

a integração e a valorização da Educação Profissional junto à sociedade civil e

empresarial, harmonizando a função da escola com as necessidades da economia

local; ou seja, conforme afirma Alonso, “Preparar o aluno para ingressar no mundo

do trabalho propiciando o desenvolvimento de habilidades gerais, de competências

amplas, de ajustar-se a novas situações de trabalho”. (ALONSO, 2003, p.33).

E, assim, abrir espaço para o desenvolvimento de habilidades e de

competências, de forma que estas coloquem o aluno diante de situações concretas,

para a consolidação do aprendizado teórico transformando, assim, a teoria em

prática.

Diante deste contexto, quais estratégias utilizar para promover a Integração

e a valorização do ensino Técnico em Administração junto à sociedade civil e/ou

empresarial?

1. GESTÃO ESCOLAR

A gestão democrática e participativa no âmbito escolar constitui-se numa

prática que deve priorizar o desenvolvimento integrado de todos os agentes

envolvidos no processo pedagógico. Nos últimos anos, tem-se discutido muito o

novo papel da gestão escolar como instrumento para inserção de movimentos de

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transformação na atuação dos professores, alunos, pais e comunidade. Para isso, a

gestão tem buscado subsídios nos espirais da democracia e da participação.

Uma gestão educacional democrática e participativa passa pela

democratização da escola sob dois aspectos:

a) interno - que contempla os processos administrativos, a participação da

comunidade escolar nos projetos pedagógicos.

b) externo - ligado à função social da escola, na forma como produz, divulga

e socializa o conhecimento. (SOUSA, 2007)

A gestão, com esse foco, permite que as forças movimentadoras da nova

sociedade: empresarial, comunitária, sindical e outras que venham a se tornar

emergentes, participem de forma incisiva no cotidiano da escola, bem como na vida

dos seus alunos. Tal participação é decorrente não apenas de um sentido financeiro,

mas, sobretudo ideológico, pois ao permitir que a gestão escolar seja compartilhada

com outros seguimentos da sociedade, os fatores sociais, profissionais, humanos,

econômicos e políticos passam a atingir a dimensão prática e não puramente

teórica.

Por conta dos fatores acima mencionados, no Brasil, a educação profissional

e, por consequência, a gestão das instituições de ensino, tomaram nas últimas

décadas um novo rumo, por sinal um rumo semelhante ao tomado por Juscelino

Kubitschek ao abrir as fronteiras nacionais para o "capital estrangeiro". A decisão de

Juscelino, apesar de questionável, fez com que o país recebesse um novo vigor, que

progredisse em vários aspectos e que tivesse, principalmente, uma nítida ideia do

poder do investimento estrangeiro. Respeitando as devidas proporções, pode-se

perceber que esse fenômeno acontece na educação profissional brasileira.

As empresas assumiram o poder e destinaram capital estrangeiro para ser

investido no governo de Juscelino e, desta forma, participavam de forma enfática na

gestão da educação profissional, tornando-se colaboradoras fidedignas no que

tange a criação de um projeto político pedagógico de acordo com as exigências do

mercado. Igualmente a comunidade, por sentir as dificuldades que tem para

corresponder às constantes atualizações do cada vez mais minucioso perfil

profissional, torna-se uma aliada importante para os gestores, provendo uma imensa

amplitude administrativa, principalmente no que se refere à implementação de

projeto e compartilhamento de responsabilidades.

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A participação dos supracitados seguimentos na gestão escolar nutre as

escolas de novas ideias, garantindo ao ensino profissional a capacidade de atingir a

real necessidade dos seus alunos e colaborar com o crescimento socioeconômico.

Segundo Santos (1997, p. 45), no âmbito da educação escolar, o ensino

público ou privado de qualidade para todos é uma necessidade e um desafio

fundamental. Há, atualmente, claro reconhecimento mundial e social de sua

importância para o mundo do trabalho, para o desempenho da economia e para o

desenvolvimento técnico-científico. Esse reconhecimento tem sido transformado em

reformas, em políticas educacionais e, essencialmente, na quebra de paradigmas

quanto o papel da gestão escolar e dos professores como autoridades intelectuais

na sala de aula.

Na realidade, a educação busca a formação de um novo paradigma, que

estabelece o problema da qualidade, uma pedagogia da qualidade. Mas, acredita-se

que esta não pode ser tratada nos parâmetros da qualidade economista. Isto

porque, de acordo com Silva (1995, p. 44), apesar de receber recursos das esferas

federal, estadual e municipal e lidar com resultados, a escola não pode ser vista

como uma empresa. O aluno não é cliente da escola, mas parte dela. É sujeito que

aprende que constrói seu saber, que direciona seu projeto de vida.

Silva, a esse respeito, diz ainda que:

A escola implica formação voltada para a cidadania, para a formação de valores-valorização da vida humana em todas as dimensões. Isso significa que a instituição escolar não produz mercadorias, não pode pautar-se pelo zero defeito, ou seja, pela perfeição. (SILVA, 1995, p.44).

Nesse sentido, e segundo os estudos realizados por Antunes (2000, p. 72),

acredita-se que a educação de qualidade é aquela mediante a qual a escola, gestão,

professores, pais promovem, para todo o domínio dos conhecimentos e do

desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao

atendimento de necessidades individuais e sociais dos alunos, bem como a inserção

no mundo e a constituição da cidadania também como poder de participação, tendo

em vista a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Qualidade é, pois

conceito implícito à educação e ao ensino. Portanto, a educação deve ser entendida

como um fator de realização da cidadania, com padrões de qualidade da oferta e do

produto, na luta contra a superação das desigualdades sociais e da exclusão social.

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Nesse sentido, a articulação da escola, gestão democrática e participativa e os

professores com o mundo dentro da escola e fora dela tornam-se a possibilidade de

realização da cidadania.

Reconhecendo o papel do professor e da escola na conjuntura social, onde

o primeiro assume a responsabilidade com os alunos na promoção de um ensino de

qualidade priorizando a cognitividade e a aquisição dos conhecimentos universais e

a segunda assumindo-se como uma extensão da sociedade, onde os valores

sociais, culturais são dinamizados e lapidados, acredita-se que nos dias atuais,

ambos devem ter no seu bojo de objetivos a ideia de uma escola democrática a

serviço da formação de cidadãos críticos e participativos e da transformação das

relações sociais presentes.

Para Libâneo (2002, p. 87), a participação é o principal meio de assegurar a

gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola

no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. A

participação proporciona melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola,

de sua estrutura organizacional e de sua dinâmica, de suas relações com a

comunidade e propicia um clima de trabalho favorável a maior aproximação entre

professores, alunos e pais. Nas empresas buscam-se resultados por meio da

participação. Nas escolas, buscam-se bons resultados, mas há nelas um sentido

mais forte de prática da democracia, de experimentação de formas não autoritárias

de exercício do poder de oportunidade ao grupo de profissionais para intervir nas

decisões da organização e definir coletivamente o rumo dos trabalhos.

Nesse sentido, Luck diz que

A participação significa, portanto, a intervenção dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si: a) a de caráter mais interno, como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo prática formativa, isto é, elemento pedagógico, curricular, organizacional; b) a de caráter mais externo, em que os profissionais da escola, alunos e pais compartilham, institucionalmente, certos processos de tomada de decisão. (LUCK, 2002, p. 66)

A participação da comunidade possibilita à população o conhecimento de

avaliação dos serviços oferecidos e a intervenção organizada na vida escolar.

De acordo com Gadotti, a participação influi na democratização da gestão e

na melhoria da qualidade do ensino. O autor, sobre o assunto diz ainda que

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Todos os segmentos da comunidade podem compreender melhor o funcionamento da escola, conhecer com mais profundidade os que nela estudam e trabalha, intensificar seu envolvimento com ela e, assim, acompanhar melhor a educação ali oferecida. (GADOTTI, 1997, p. 16)

Nesse sentido, entre as modalidades mais conhecidas de participação, estão

os conselhos de classe – bastante difundidos no Brasil – e os conselhos de escola,

colegiados ou comissões que surgiram no início da década de 1980.

O principio participativo no sentido de gerar a democracia na escola não

esgota as ações necessárias para assegurar a qualidade de ensino. Tanto quanto o

processo organizacional, e como um de seus elementos, a participação é apenas

um meio de alcançar melhor e mais democraticamente os objetivos da escola, os

quais se localizam na qualidade dos processos de ensino e aprendizagem. Assim, a

participação necessita do contraponto da direção, outro conceito importante da

gestão democrática, que visa promover a gestão da participação.

2. LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL DO BRASIL A PARTIR DE 1990

Vale ressaltar um breve histórico de percurso do ensino secundário no

Brasil, marcado pelo estigma da escravidão, tanto o trabalho quanto a educação

eram considerados como atividades de menor importância para a sociedade

escravista da época. O trabalho manual, considerado então uma atividade

desprezível, desprovida de qualquer valorização social, era atribuído aos escravos e

aos membros das camadas mais baixas da sociedade colonial. No mesmo sentido, a

educação era considerada uma atividade secundária de interesse apenas de poucos

integrantes da elite. A educação para o trabalho praticamente inexistente sofria da

mesma descriminação atribuída às atividades manuais.

O ensino médio em meados de 1960 e início de 1970, sofreu uma reviravolta

por estar desprestigiado pelos modelos franceses, isso devido ao público que

adentrava no ensino secundário, tratava-se da busca pelo profissionalismo industrial,

ou seja, mão de obra qualificada.

A partir de 1990, a política educacional brasileira adentra um contexto

amplo, que envolve as relações sociais estabelecidas entre Estado e sociedade,

face às mudanças de ordem conjuntural, implementadas no atual estágio de

reestruturação produtiva do capital.

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Neste sentido, a política educacional assumida nesse período, considera as

necessidades vividas no momento histórico que compreende determinado projeto

político de Estado e sociedade. Assim, políticas de ajustes estruturais foram

implantadas nos países “semidesenvolvidos”, especialmente, na década de 1980.

Com a explosão da crise da dívida externa, muitos países, para amenizar os efeitos

da crise, recorreram a empréstimos das agências financeiras, como: Banco Mundial

e Fundo Monetário Internacional – FMI e, em contrapartida, aderiram às reformas

estruturais de vertentes neoliberal.

Segundo Toussaint (2002, p. 200) “[...] estes empréstimos, de caráter

político, são concedidos pelas instituições com a condição de que o governo

nacional adote um programa de estabilização econômica e de reformas de

estruturas econômicas, de acordo com as exigências dos emprestadores”.

No Brasil, as estratégias de políticas para implantação das medidas de

ajustes estruturais, implicaram na revisão e diminuição de investimentos públicos,

mudanças nas políticas sociais e ainda a subordinação à política econômica. O

estado reorganiza sua atuação na preservação da ordem burguesa e em suas

funções (políticas, econômicas e ideológicas) conforme mudanças conjunturais iam

sendo alcançadas a cada estágio do desenvolvimento.

A educação, com essas reformas, retrocedeu na garantia dos direitos

educacionais, com as medidas que enfatizavam a diminuição dos investimentos

ensino publico, como na educação básica, reduzida a conteúdos mínimos e com

efeitos compensatórios para atender a qualificação e habilidades para o trabalho, e

assim desconsideram o exercício do pensamento crítico.

Em virtude disto, logo após novas relações entre Estado e sociedade são

definidas de forma a assegurar a equidade, visando a acomodação social, tendo, na

educação, o meio para a hegemonia para a legitimação das relações sociais atuais.

3. EDUCAÇÃO PROFISSIONAL/CURSOS TÉCNICOS

Os cursos de formação profissional (normal, agrotécnico, comercial técnico e

industrial) não davam acesso ao nível superior. Para Kuenzer (1997), ao validar

somente os cursos propedêuticos para acesso ao nível superior e negar este direito

aos cursos profissionalizantes, afirma-se um princípio que correspondia ao estágio

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de desenvolvimento das forças produtivas: o acesso ao nível superior ocorre pelo

domínio dos conteúdos gerais, das ciências, das letras e das humanidades,

considerados como únicos saberes socialmente válidos para as funções de

dirigentes.

Com orientação a Lei 5692/71, instituiu a profissionalização compulsória no

ensino de 2º grau, sendo que, de um lado, estava as camadas médias que

profissionalizavam seus filhos na escola secundária e, pelo outro lado, estavam os

setores populares que resistiam à falta de condições materiais e técnicas básicas

para a profissionalização universal disponibilizada.

Entretanto, a Lei 7.044/82, fez com que os artigos instituídos pela legislação

de 1971, a chamada “cassação branca”, instituiu a profissionalização obrigatória no

ensino de 2º grau, garantindo assim o percurso escolar mais longo.

Na década de 1990, foi elaborada da nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB), que se fundamenta na Constituição de 1987, o ensino

médio se intensificou sendo que esta deveria substituir a LDB de 1961, no entanto, o

suposto modelo chileno de financiamento público de escolas privadas tornou-se, em

meados de 1990, o leitmotiv dos defensores da reforma. O projeto visava

transformar as relações entre os sujeitos de forma que pais e alunos fossem clientes

e os professores e gestores tornassem prestadores de serviços, desta forma, a

escola tornar-se-ia o mercado.

Para esclarecimento, nota-se que os cursos técnicos extintos no Estado do

Paraná no governo de Jaime Lerner (1995-2002) foram retomados no governo de

Roberto Requião (1991 a 1994). Esta nova versão trouxe mudança nas propostas

curriculares, as quais foram questionadas pelos professores que mantinham suas

dúvidas com relação à articulação destas propostas com as necessidades de

qualificação voltadas ao mercado profissional.

Assim, constata-se que a Secretaria de Educação do Paraná enfrentou o

desafio de construir o ensino médio integrado e subsequente em escolas do Estado.

Para isto, utilizou um processo sistemático de elaboração coletiva de princípios e

diretrizes ético-políticas e pedagógicas, para garantir as condições objetivas

necessárias à implementação. Cita-se, aqui, como exemplo, a realização de

concursos públicos visando a ampliação do quadro docente permanente e a

melhoria da infraestrutura física e didática. Apesar do convênio assinado com o

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Ministério da Educação - MEC, essas medidas formam oriundas de recursos do

orçamento estadual.

A implementação da educação profissional no Estado do Paraná veio suprir a

necessidade desta modalidade de ensino, em sua forma integrada ao ensino médio

ou na forma subsequente (pós-médio) destinado a alunos egressos do Ensino Médio

que desejam dar continuidade aos estudos, tendo como objetivo qualificar-se para a

disputa de uma vaga de emprego.

Assim, considerando que o profissional que deseja ocupar um posto de

trabalho deve observar o que acontece a sua volta, estar atento às mudanças e

atualizando-se constantemente, cabe à escola, através de sua proposta curricular,

estabelecer o desenvolvimento das aptidões necessárias ao acompanhamento de

tais transformações, já que é por perceber a necessidade de maior nível de

escolaridade e atualização, que buscam o ensino profissionalizante.

Baseado nas necessidades reais observadas, a equipe pedagógica

juntamente com os coordenadores ligados ao curso técnico, considerou a

necessidade de articulação dos sujeitos envolvidos: alunos/professores/escola/

empresa – e para que esta articulação acontecesse de forma satisfatória, apreciou-

se a realização de análise da proposta curricular junto a estes segmentos.

Com o Decreto nº. 5.154/2004 de 23 de julho de 2004, o Governo Federal

revogou o Decreto nº 2.208/97, e definiu que “a Educação Profissional Técnica de

nível médio (...) será desenvolvida de forma articulada com o Ensino Médio” (Cf.

Artigo 4º), e que esta articulação entre a Educação Profissional Técnica de nível

médio e o Ensino Médio “dar-se-á de forma integrada, concomitante e subsequente

ao Ensino Médio” (Cf. incisos I, II e III do § 1º do Artigo 4º). Este decreto, longe de

eliminar o histórico dualismo educacional presente no ensino médio, de certa forma,

restabelece a regulamentação da Lei 7.044, de 1982, que flexibilizou o ensino médio

compulsório determinado na lei 5.692/71.

Para uma adequada compreensão destas reformas realizadas sob as

demandas da reestruturação produtiva, é necessária a análise do desenvolvimento

histórico do Ensino Médio ao longo do último século, para observarmos que as

políticas educacionais para este nível de ensino têm expressado as determinações

presentes na relação capital/trabalho, nas várias fases do desenvolvimento histórico

do Brasil.

Neste sentido, Kuenzer observa que:

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[...] a história do Ensino Médio no Brasil revela as dificuldades típicas de um nível de ensino que, por ser intermediário precisa dar respostas à ambiguidade gerada pela necessidade de ser ao mesmo tempo, terminal e propedêutico. Embora tendo na dualidade estrutural a sua categoria fundante, as diversas concepções que vão se sucedendo ao longo do tempo, refletem a correlação de funções dominantes em cada época, a partir da etapa de desenvolvimento das forças produtivas. (KUENZER, 2000, p.13)

Desta forma, caracteriza-se a dualidade decorrente da estratificação social e

da divisão social do trabalho. Ainda neste período, foi criado o MEC, que

estabeleceu parâmetros, entre eles o currículo seriado e a frequência obrigatória.

Sendo assim, era um ensino propedêutico para as elites e profissionalizantes para a

massa.

4. CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO

O Curso Técnico surgiu como um ensino que nada mais era que preparar o

indivíduo para o trabalho - “mão de obra qualificada” -, com o propósito do

desenvolvimento pessoal e profissional do educando, procurando formá-lo com uma

visão crítica, capaz de analisar as atividades econômicas, financeiras,

mercadológicas, patrimoniais e outras afins, bem como ser um agente capaz de

interferir positivamente na sociedade.

À medida que a administração se defronta com novos desafios e novas

situações que se desenvolvem com o decorrer do tempo, as doutrinas e teorias

administrativas precisam adaptar suas abordagens para continuarem úteis e

aplicáveis e as teorias nos ajudam a entender processos essenciais e foram criadas

devido à necessidade de planejar, organizar, direcionar e controlar o processo

administrativo, bem como devido às mudanças que continuam ocorrendo.

As novas técnicas de administração, tidas como técnicas geradoras de um

poder agregador, poder conscientemente democrático, ou mesmo, como poder não

baseado na autoridade concedida a alguém, mas um poder capaz de conduzir à

participação, deixou de ser algo desejável apenas em algumas empresas e passa, a

partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, fazer parte do âmbito

escolar, proporcionando uma porta para a comunidade.

Assim sendo, vale ressaltar a importância no que diz respeito à construção de

parcerias, ou outras formas de intercâmbio, considerando as reais necessidades de

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ambos, pois estas oportunizam o acesso ao mundo do trabalho para o aluno,

atendem às demandas da produção e de serviços locais e regionais, e contribuem

com as empresas ofertando seu saber científico. Segundo o professor do Instituto

Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Fluminense,

O técnico hoje sai com uma noção de mundo mais abrangente. Sabe das limitações, mas sabe também dos seus direitos e das oportunidades que podem ser alcançadas de forma paulatina onde a formação corre junto da experiência em diferentes atividades, empresas e territórios dentro e fora do país, garante. (MORAES, s/d)

Neste sentido, busca-se a integração/valorização do Curso Técnico em

Administração com a sociedade civil e/ou empresarial, tendo como proposta a

realização de atividades com ambos os seguimentos e, por fim, a elaboração de

sugestões à comunidade escolar, oriundas de reflexões oportunizadas pelas

atividades, refletindo sua aplicabilidade dentro das organizações, bem como o futuro

profissional dos alunos.

O trabalho, como princípio educativo, rompe com o estreito sentido da

formação profissional, pois objetiva oferecer uma sólida formação humanística que

alie à compreensão dos fundamentos da ciência, uma visão global da sociedade

moderna em seu contexto atual e suas perspectivas futuras.

Segundo Frigotto (2000, p. 31), o trabalho “é, por excelência, a forma

mediante a qual o homem produz suas condições de existências, a história, o mundo

propriamente humano, ou seja, o próprio ser humano”.

O sentido da formação para o trabalho deve ser a criação de formas de

humanização do homem da qual faz parte a ética e a política com a superação da

ambiguidade do conceito de democracia e da naturalização da exclusão sócio

econômico e cultural.

Para articular teoria/prática e formação cultural/profissional, busca-se a

interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade como meios de proporcionar diálogo

entre as disciplinas, e das disciplinas com o conhecimento mais amplo, situando o

homem como sujeito e cidadão. Como afirma Frigotto (2000, p. 180), a realidade é

interdisciplinar; portanto, é necessário oferecer uma formação ao Técnico em

Administração que resulte a compreensão das ciências que estão ligadas à

transformação, preservação e manutenção da boa qualidade dos elementos, de

modo integrado, sistêmico e estratégico, bem como da relação da forma de gestão

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com a política, com a cultura e com a capacidade crítica dos sujeitos sociais de

avaliar e criar sua existência.

A experiência tem demonstrado que os alunos aprendem com seus colegas.

Sendo assim, o estímulo à cooperação, ao debate, à crítica e ao trabalho coletivo,

possibilita um clima de companheirismo entre os mesmos e contribui para a

consolidação da democracia no interior da escola. Cabe ressaltar que a participação

do homem como sujeito na sociedade, na cultura e na história, faz-se na medida do

seu esclarecimento, o que implica a desmistificação dos preconceitos e

compreensão da condição inacabada do ser humano e, por isso, da necessidade da

educação para toda a vida.

O desafio é incorporar a dimensão intelectual ao trabalho produtivo e formar

um cidadão capaz de atuar também como dirigente, ou seja, proporcionar uma

formação integral que contribua para a integração social do educando.

O Curso Técnico em Administração tem por objetivo específico formar um

profissional que alie à compreensão dos fundamentos da ciência administrativa, uma

visão global atualizada da sociedade moderna em seu contexto atual e perspectivas

futuras, sendo a administração uma disciplina essencialmente prática, e seus temas

de análise são, em sua maioria, relacionados à variáveis encontradas dentro de

organizações e que influenciam seus objetivos e resultados.

Para Megginson (1998, p.13), a administração pode ser definida como

trabalho com recursos humanos, financeiros e materiais, para atingir objetivos

organizacionais através do desempenho das funções de planejar, organizar, liderar e

controlar. A finalidade da administração é estabelecer e alcançar os objetivos da

organização. Assim, proporcionar ao Técnico em Administração um conhecimento

amplo sobre sua profissão, o trabalho, a cultura, a sociedade, os valores, os direitos

sociais, a democracia e a liberdade é condição para sua formação integral.

Nesse sentido, pretende-se oferecer ao Técnico em Administração um

conhecimento amplo sobre a sua formação profissional, entendo-a como uma

modalidade do trabalho, sendo este assumido como princípio educativo que

mediatiza a formação técnico-profissional.

Conforme nos afirma Ciavatta (2001, p. 143), “trabalho como relação

criadora do homem com a natureza, como atividade de autodesenvolvimento físico,

material e espiritual, como realização de vida e como realização do reino da

liberdade”.

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Não se trata, portanto, de um conhecimento restrito, uma tarefa ou função,

mas à capacidade de analisar, interpretar, resolver e propor problemas e situações

novas.

O trabalho e a cultura são os campos estruturantes dos valores, da criação e

da transformação da realidade, ou seja, da ampliação das capacidades humanas e

das possibilidades sócias. Assim, a articulação entre trabalho, cultura e

administração proporciona uma abertura ao conhecimento do Técnico em

Administração sobre sua profissão, por meio do domínio, ao mesmo tempo, da

técnica e do significado ético-político de todo trabalho humano, reunindo o saber e o

saber fazer, a teoria e a prática.

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REFERÊNCIAS

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