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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

1 Professora do Centro Estadual de Educação Profissional do Sudoeste do Paraná. Professora PDE – Programa

de Desenvolvimento Educacional. Graduada em Ciências – Biologia, pós-graduada em Biologia. 2 Professora Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional, pela Universidade Estadual do Oeste

do Paraná, campus de Francisco Beltrão-PR. Graduada em Ciências Biológicas, mestrado em Ciências Bioquímica.

IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DAS ATIVIDADES EXPERIMENTAIS VINCULADAS AO CONTEÚDO TEÓRICO DE BIOLOGIA

Autora: Carla Aparecida Rodrigues 1 Orientadora: Gisele Arruda 2

RESUMO Este artigo tem por finalidade resgatar a aplicabilidade das atividades experimentais nas aulas de Biologia, por meio da construção de um Manual de Práticas Experimentais para o 1°ano do ensino médio, com ênfase no conteúdo de Citologia. Através de atividades simples e significativas que contribuam para um melhor entendimento dos conceitos biológicos numa perspectiva problematizadora, que leve o aluno a pensar e refletir sobre célula, já que este constitui um conhecimento chave na organização do conhecimento biológico. As metodologias utilizadas nas práticas foram bem planejadas e em cada experimento os alunos tinham a oportunidade de pesquisar mais e aprofundar os conhecimentos que estavam relacionados ao conteúdo. As atividades experimentais suscitaram nos alunos mais vontade de aprender biologia, e constituiu-se em uma ferramenta de interação professor-aluno, de trabalho em grupo onde os mesmos precisaram ouvir e respeitar a opinião dos colegas, dividir as tarefas e ter responsabilidades individuais e no grupo.

Palavras chaves: Biologia. Citologia. Experimentação. Teoria e prática.

INTRODUÇÃO

A apropriação e o aperfeiçoamento dos saberes científicos ocorrem por meio

da ação educativa e pelas técnicas pelas quais ele é produzido. Assim, Delizoicov,

Angotti e Pernambuco (2002) destacam que a sala de aula é um espaço de inter-

relações entre os sujeitos e o conhecimento. Promover a reflexão e a ação,

despertar a curiosidade e resolver problemas, são atitudes que se espera do

professor de Biologia.

O uso de atividades experimentais nas aulas de Biologia, por parte dos

professores, ocorre esporadicamente e na maioria das vezes vem acompanhada de

justificativas como: pouco tempo para montar e preparar as aulas, falta de espaço

físico, ausência de um Manual de Orientação de Práticas, falta de laboratorista,

deficiência da graduação dos professores. A falta de um Manual de Práticas com

abordagens que venham de encontro aos conteúdos trabalhados em sala de aula

constituem uma das queixas mais frequentes dos professores, pois uma boa aula

experimental, de acordo com Haching (1992), exige uma criteriosa preparação

pedagógica e técnica, ultrapassando a ideia de experimento apenas para testar ou

comprovar hipóteses. Nesta concepção, Carvalho (2007), destaca a experimentação

problematizadora, ultrapassando a manipulação de materiais e comprovação de

teorias, mas utilizando o trinômio: escrita, fala e leitura como recursos para

discussão dos experimentos.

Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi estimular a inserção das aulas

experimentais na disciplina de Biologia, possibilitando seu uso a partir da construção

de um Manual de Experimentos com abordagem no conteúdo de citologia para o 1°

ano do Ensino Médio por meio de instrumentos que assegurem a relação das teorias

com as situações reais em que os alunos estejam envolvidos e ainda, propor

metodologias diversificadas que auxiliem o professor desde a escolha do

experimento, seu desenvolvimento, roteiros, e encaminhamentos de avaliação.

2 ATIVIDADES PRÁTICAS NO LABORATÓRIO

A relação ciência-tecnologia-sociedade requer um novo olhar sobre o ensino

da Biologia como ciência transformadora da sociedade, fazendo com que o aluno

compreenda seu papel na vida moderna, bem como aplicar os conhecimentos

aprendidos. A experimentação é, portanto, um recurso que fundamenta a ciência,

pois por meio de experimentos é possível proporcionar aos alunos o procedimento

da investigação e da observação, e por mais simples que seja o experimento, torna-

se rico ao revelar contradições entre o pensamento do aluno, as hipóteses

levantadas e o conhecimento científico (GALIAZZI, 2004).

Segundo Fumagalli (1993) a formação de uma atitude científica esta

intimamente vinculada ao modo como se constrói o conhecimento. Nas aulas

práticas, os alunos desenvolvem habilidades processuais ligadas ao processo

científico, tais como: capacidade de observação (os sentidos atuando para a coleta

de informações), inferência (campo das suposições e hipóteses), medição

(manipulação física ou mental do objeto de estudo), comunicação (uso de símbolos

ou palavras para descrever os fenômenos), classificação (agrupar fatos baseado em

critérios), predição (previsão de resultados diante de evidências). Assim, a

experimentação deve ter caráter pedagógico e investigatório, superando a condição

de um método de ensino de memorização e comprovação de hipóteses propostas.

Deve revestir-se de desafios, reflexões, manipulações, comprovações, enfim,

assegurar as muitas possibilidades de entendimento para que o aluno tenha a

percepção de que o saber científico volta-se para a busca da melhoria de vida no

planeta, ou seja, seu saber deve reverter em ações e atitudes que possam

transformar sua vida e a de outras pessoas.

De acordo com Vasconcellos (1992), a abordagem experimental poderia ser

consideradada não só como ferramenta de ensino na problematização dos

conteúdos, como também ser utilizada como um fim em sí só, enfatizando a

necessidade de mudança de atitude para com a natureza e seus recursos, ou seja,

além de sua importância disciplinar, possui ainda uma profunda significância social.

Este deveria ser o verdadeiro sentido do estudo da Biologia.

Giordan (1999), destaca que as atividades experimentais apresentam caráter

motivador, tanto para o professor, quanto para o aluno. Mas há que se ter cuidado

com as abordagens apenas demonstrativas que apenas comprovam teorias. Quanto

a isso, Krasilchik (2004),chama a atenção dos professores que o aprendizado de

Biologia não requer somente habilidade de observação e manipulação, mas sim o

questionamento e a formação de ideias próprias. Reforçando esta concepção,

Galliazi e Gonçalves (2004), observa que

de maneira geral, há uma visão muito simplista sobre a experimentação. Normalmente focada na demonstração e comprovação de teorias escritas. Esta visão é cunhada pelo impirismo do observar para teorizar, isso nos aponta para uma questão importante que é o planejamento de atividades experimentais (GALLIAZI; GONÇALVES, 2004, p. 327).

De acordo com Souza e Spinelli (1997), a Ciência hoje se revestiu de respeito

e credibilidade, na mídia, no mundo acadêmico e no mundo do trabalho e merece

atenção especial dos professores no que diz respeito à formação de atitudes e

conhecimento científico remetendo-a a uma aplicação teórico-prática. Mesmo assim,

muitos fatores aparecem como impedimento para a realização de experimentação

nas aulas de Biologia, dentre eles destacam-se: estrutura física inadequada, falta de

laboratorista para organização do espaço, falta de materiais, pouco tempo para o

preparo das aulas experimentais, falta de um Manual de Experimentos que atenda

de fato as necessidades do professor ao preparar as aulas, entre outros.

O modelo tradicional em forma de um conjunto de informações repassadas,

ainda é amplamente utilizado. Há uma resistência em relação a preparar, utilizar,

coletar, adaptar e avaliar materiais biológicos nas aulas experimentais. É importante

superar velhas concepções de ensino voltadas apenas para as teorias e superar

obstáculos o que, para Marandino, Selles e Ferreira (2009)

Tais obstáculos dizem respeito à decisões curriculares mais amplas que implicam reestruturar os conteúdos de ensino e os processos avaliatórios, a fim de incluir a atividade experimental não como um episódio lúdico ou esporádico no interior de uma densa programação de estudos dos conteúdos. Trata-se de incorporar a atividade experimental como tradição de ensino das Ciências Biológicas (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009, p 113).

Através das atividades experimentais é possível perceber a relação com a

tecnologia presente no dia a dia, as relações sociais, as implicações ambientais

decorrentes da atividade científica. Porém, as atividades práticas não devem estar

desvinculadas das aulas teóricas, das discussões em grupos e outras formas de

aprendizagem. Conforme salienta Krasilchik (1987), a falta de vínculo com a

realidade constitui um dos maiores problemas no ensino de biologia, pois não se

baseia no conhecimento que os alunos trazem, e não esta atrelada ao seu universo

de interesses.

Não trata-se portanto, somente de práticas que demonstrem passos

metódicos e pré determinados a serem seguidos, mas sim, uma abordagem mais

reflexiva, participativa e com significado pois

[…] As atividades experimentais devem partir de um problema, de uma questão a ser respondida. Cabe ao professor orientar os alunos na busca de respostas. As questões propostas devem propiciar oportunidade para que os alunos elaborem respostas, testem-nas, organizem os resultados obtidos, reflitam sobre o significado de resultados esperados, e sobretudo, dos inesperados, e usem as conclusões para a construção do conceito aprendido (BRASIL, 2002, p. 55).

Assim é possível introduzir uma questão problematizadora, antes, durante e

depois do experimento.

Em relação às práticas aliadas às teorias, é interessante desenvolver a

curiosidade e desejo de investigação, por parte dos alunos, o que demanda na

busca, por parte do professor, da realidade de atividades, muitas vezes, simples,

mas que resultam em real aprendizagem.

2.1 O papel do professor nas aulas experimentais

O ensino da Biologia fundamenta-se no estudo da vida em suas diversas

formas, e deve ser acompanhado de atividades experimentais sempre que possível.

Na busca em atender esta necessidade, muitos docentes ainda desconhecem seu

papel no decorrer de uma aula experimental.

Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002) destaca que a sala de aula é um

espaço de inter-relações entre os sujeitos e o conhecimento. Promover a reflexão e

a ação, despertar a curiosidade e resolver problemas, são atitudes que se espera do

professor de Biologia

Muitas literaturas apontam as mais variadas contribuições das atividades

experimentais para o ensino aprendizagem nas aulas de Biologia, contudo, sabe-se

que o principal vinculador dessa relação teórico prática é o professor. Assim, as

Diretrizes Curriculares do Paraná, reforçam

Recomenda-se que se adote o método experimental como recurso de ensino para uma visão crítica dos conhecimentos da Biologia, sem a preocupação exclusiva de busca de resultados únicos. Recomenda-se ainda que a observação seja considerada procedimento de investigação, dada sua importância pelos avanços das pesquisas no campo da Biologia. […] organismos geneticamente modificados, células tronco, farmacogenéticos, preservação ambiental (PARANÁ, 2008, p. 52).

Ao introduzir as atividades experimentais no Plano de Trabalho Docente

(PTD) é importante que o professor tenha clareza de suas ações no

desenvolvimento das mesmas, levando em conta as muitas possibilidades em

termos tecnológicos e científicos disponíveis no mundo hoje.

Os encaminhamentos metodológicos presentes nas Diretrizes Curriculares

do Paraná (2008), destacam que a experimentação deve ter como finalidade o uso

de um método que privilegie a construção do conhecimento superando a

memorização. Neste contexto,

Ao professor compete direcionar o processo pedagogico, interferir e criar condições necessárias a apropriação do conhecimento pelo aluno como especialidade de seu papel social na relação pedagógica. […] os conhecimentos biológicos proporcionam ao aluno a aproximação com a experiência concreta dele (SNYDERS, 1974 apud PARANÁ 2008, p. 54).

Desta forma, as atividades experimentais devem permear os conceitos

teóricos sempre que possível, não como verdade absoluta, mas como um processo

de busca e construção do conhecimento científico, por meio de uma linguagem

própria. A contextualização, a investigação, a problematização, o levantamento de

hipóteses e questionamentos são pressupostos que merecem atenção durante a

prática pedagógica. Tendo em vista as finalidades do ensino dos conteúdos de

Biologia, Lima e Marcondes (2005) ressaltam

O foco de reflexão deve ter como marco três eixos principais: a reconceituação do trabalho prático, a aprendizagem da ciência e a relação entre prática e reflexão. É importante salientar que a explicação do conhecimento não se restringe somente ao início da atividade experimental, ocorrem nos diferentes momentos em sala de aula, o que exige atenção permanente do professor (LIMA; MARCONDES, 2005, p 01).

Assim, conforme explicitado nas Diretrizes Curriculares do Paraná (PARANÁ,

2008), as aulas práticas passam a fazer parte de um processo pensado e

estruturado pelo professor, não se restringindo ao laboratório, assegurando a

interação professor-aluno com espaço para a explicação e reflexão a respeito das

implicações que envolvem as evidências científicas. É preciso que o professor pense

mais profundamente sobre sua prática pedagógica, com mais autonomia e

criticidade, dominando os conteúdos que serão abordados, mediando o processo de

construção do conhecimento entre o aluno e o objeto de estudo.

Cabe, então, ao professor instigar o aluno e despertar nele o prazer pelo

saber científico, pois a aprendizagem significativa se dá por meio de metodologias

que promovam a ação do aluno (GUIMARÃES, 2009). O ato de provocar, de induzir

um raciocínio, não é conclusivo, mas é o primeiro passo na aquisição do

conhecimento biológico. É fundamental utilizar estratégias que mantenham a

atenção dos alunos na atividade proposta. Para tanto, o professor deverá estimulá-

los por meio de questionamentos no decorrer do experimento. Questionar e lançar

dúvidas ao invés de responder e fornecer explicações prontas, pois as

potencialidades dos alunos são muitas e podem ser desenvolvidas por meio de

variadas metodologias experimentais.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Inicialmente, realizou-se um levantamento bibliográfico da utilização de aulas

experimentais para a melhoria da qualidade do ensino, pois vincular os conteúdos

teóricos aos práticos é o grande desafio das aulas de Biologia e de acordo com

autores como Giordan (1999), Lima e Marcondes ( 2005), Krasilchick (2004) e

outros, muitos professores defendem a utilização das atividades experimentais, mas

poucos de fato, as realizam em suas aulas.

Buscando mudanças neste cenário, o trabalho foi desenvolvido no Centro

Estadual de Educação Profissional, Colégio Agrícola localizado em Francisco

Beltrão – PR, com um cronograma de ações para o primeiro semestre de 2014.

Durante a Implementação do Projeto foram desenvolvidas diversas atividades, como

descrito a seguir.

Inicialmente foi feito a divulgação do Projeto de Intervenção, para a Equipe

Pedagógica, Professores e Funcionários na Semana Pedagógica no Colégio

Agrícola, para que todos conhecessem como se daria o desenvolvimento da

Implementação.

No início das aulas, realizou-se a apresentação do Projeto de Intervenção

aos alunos do 1° Ano do ensino médio, e então definido a turma do 10 Ano B para

desenvolver a Implementação.

O trabalho foi dividido em duas partes: Parte 1 – Encaminhamentos Técnicos

e Parte 2 – Encaminhamentos Experimentais. Desta forma, inicialmente, enfatizou-

se as questões técnicas que envolvem as aulas práticas/experimentais, cuidados no

laboratório, conhecimento de vidrarias e equipamentos, conduta adequada entre

outros.

Os conteúdos sobre citologia foram desmembrados em conteúdos específicos

e trabalhados paralelamente com as atividades experimentais, de acordo com as

Diretrizes Curriculares do Paraná e do Plano de Trabalho Docente (PTD).

Para uma melhor organização, foi proposta a elaboração de um Caderno de

Experimentos com os alunos, para que eles tenham todas as suas atividades

organizadas durante as aulas. Este será uma das avaliações. Juntamente com as

atividades práticas, procurou-se utilizar vídeos, imagens de organelas (já que nem

todas são possíveis de observar ao microscópio), leituras de textos informativos

sobre a importância e aplicabilidade da Citologia, entre outros.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Constatou-se que a experimentação passou a ocupar um lugar de destaque

na consolidação das ciências, e em especial na Biologia, pois favoreceu a

apropriação dos conceitos, levando o aluno a refletir e a pensar sobre os

conhecimentos que estão sendo aprendidos. A contextualização e a

problematização das situações discutidas em sala de aula merecem especial

atenção do professor, para tanto, a Implementação iniciou com a demonstração aos

alunos do 1o ano, da importância das atividades experimentais. Em seguida, os

encaminhamentos técnicos (organização do laboratório, nomeação das vidrarias,

normas de segurança). O planejamento das atividades práticas deve ser

acompanhado de uma profunda reflexão não apenas sobre sua importância

pedagógica, mas também sobre os riscos e possibilidades quanto a integridade

física dos alunos. Foi constatado nesta etapa que os alunos conheciam muito pouco

sobre o laboratório, e muitos nunca haviam entrado em um, desta forma os alunos

passaram a conhecer melhor o laboratório e entender a sua importância dentro da

área de biologia, inclusive durante as discussões com os professores do GTR –

Grupo de Trabalho em Rede, os mesmos citam que há uma enorme dificuldade com

este primeiro contato com o laboratório.

Krasilchik (1986), alerta que é de especial importância oferecer aos alunos um

ambiente adequado, onde possam desenvolver as atividades experimentais com

segurança e organização, bem como materiais disponíveis e aulas bem planejadas.

Na sequência, foi trabalhada a atividade de identificação das partes do

microscópio, onde foram observadas muitas dúvidas e certa dificuldade para o

manuseio. No momento em que se iniciaram as experimentações propriamente

ditas, os alunos demonstraram grande interesse, perguntavam bastante e se

ajudavam na preparação dos materiais, inclusive relembrando das orientações

repassadas anteriormente. Foi utilizado o data show em sala de aula, trazendo

imagens diversas sobre as células, sua evolução, suas formas e funções, diferenças

e composição. Desta forma, muitos questionamentos e dúvidas surgiram e puderam

ser discutidos e então, muitos conceitos elucidados.

Com o objetivo de conhecer a morfologia dos eucariotos, o próximo passo foi

a atividade 2, observando as bactérias do iogurte e identificando nas amostras as

principais características. Como forma de avaliação, foi proposto uma pesquisa

complementar sobre as técnicas antigas e as modernas de conservação dos

alimentos, a qual foi amplamente debatida em sala de aula posteriormente. Os

alunos ficaram fascinados com o que estavam observando, pois foi possível uma

abordagem que complementou a parte teórica já vista em sala de aula.

Na sequência, foi proposto a observação de células eucariota, animal e

vegetal nas atividades 3 e 4. A raspagem da sua própria mucosa para observação,

foi a maior surpresa para os alunos, pois muitos não faziam esta associação de que

temos células na nossa boca. A compreensão dessas relações foi importante para

que compreendessem a ciência como algo mais próximo de sua realidade. De

acordo com Krasilchik (1987), um dos grandes problemas no ensino de biologia é a

falta de vínculo com a realidade, que torna a disciplina pouco atraente, irrelevante e

sem significados. Problema este, amplamente debatido durante o desenvolvimento

do GTR, onde os professores apontam a utilização de metodologias que não

aproximam os conteúdos do real.

Outro recurso desta atividade foi a utilização dos corantes nas observações

de célula vegetal, onde os próprios alunos prepararam as lâminas, alguns com um

pouco de insegurança e medo de errar, mas conseguiram perceber e até questionar

quando o experimento não dava certo. O trabalho em pequenos grupos, estimulou a

busca por respostas, conclusões e hipóteses.

Para a realização das atividades 5 e 6, primeiramente foi necessário a

compreensão sobre a membrana plasmática, sua constituição química, e sua

complexidade no processo de transporte celular. O enfoque foi feito por meio de

imagens, destacando suas propriedades de transporte de substâncias, e neste

momento, estabelece-se relações com exemplos do cotidiano dos alunos o que

fortaleceu ainda mais o interesse dos mesmos. Com base neste trabalho em sala, foi

aplicada a atividade prática no laboratório. Cabe salientar que as formas de

abordagem em sala, favoreceram muito as práticas e seu desenvolvimento, pois os

discentes puderam compreender a osmose de maneira concreta, inclusive podendo

acompanhar os processos in loco. Fizeram muitos questionamentos em relação a

situações do cotidiano, como por exemplo: “Quando temperamos a salada, é isso

então que acontece, por isso que ela fica murchinha então né?” “E quando ficamos

com os dedos muito na água e ele fica enrugado?”

Durante a realização da prática, foi possível observar muitas contribuições

entre os alunos: trocas de informações, discussões e levantamento de hipóteses e

conclusões durante o desenvolvimento do experimento. A contextualização e a

problematização dos acontecimentos que foram desenvolvidos, foi essencial para

que o trabalho não tivesse apenas caráter ilustrativo.

Portanto, a implementação deste projeto possibilitou aos alunos, vivenciar o

método científico despertando seus interesses, tornando-os mais participativos,

aguçando sua curiosidade, estimulando sua criticidade e estabelecendo relações

entre as explicações e as situações reais, argumentar e construir suas ideias, enfim,

significados e conhecimentos.

Tomando como referência a aprendizagem dos alunos, foi observado que

durante a aplicação das avaliações, a grande maioria quando questionado, soube

explicar com significados os termos e os fenômenos biológicos, e fazer associações

com muitos acontecimentos de seu cotidiano por meio de argumentação, de análise

de dados e de discussões.

Um dos pontos positivos citado pelos colegas no GTR, referente aos

encaminhamentos das atividades, foi os questionamentos ao final de cada

experimento, de acordo com as considerações, este modelo de proposta somatiza

todas as ações realizadas e favorece ainda mais a aprendizagem significativa.

Contudo, ainda há muitos aspectos a serem melhorados, principalmente no

que diz respeito a preparação destas atividades experimentais e aos laboratórios

das escolas que de acordo com Galiazzi (2004), devem funcionar como instrumento

motivador e facilitador das mudanças de concepções pedagógicas e ainda como

ressalta Capeletto (1992), o laboratório além de ser um local de aprendizagem é

ainda o local de desenvolvimento do aluno como um todo, dando-lhe, a oportunidade

de, por um lado, exercitar habilidades como cooperação, concentração, organização,

manipulação de equipamentos e, por outro, vivenciar o método científico,

entendendo como tal, a abservação de fenômenos, o registro sistematizado de

dados, a formulação e o teste de hipóteses com conclusões A metodologia de

ensino nesta concepção, envolve a construção do conhecimento em caráter de

superação de problemas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe uma necessidade em resgatar o uso das atividades experimentais nas

aulas de Biologia, buscando alternativas que favoreçam a realização das mesmas

com maior frequência e estabeleçam relações do aprendizado escolar com as

situações de seu cotidiano. Para tanto, é preciso que os professores se mobilizem e

reestabeleçam os laboratórios das escolas e que as atividades experimentais,

passem a ser uma rotina nas aulas de Biologia.

Por meio das atividades experimentais, muitos conceitos tornam-se mais

significativos e passam a fazer parte das concepções biológicas dos alunos.

As diversas abordagens das atividades experimentais propostas no trabalho

puderam mostrar que os alunos ficaram mais estimulados a pensar, a discutir, a

buscar respostas e a aprimorar suas habilidades de manipulação de materiais e de

estudo individual e em grupo.

O emprego das atividades experimentais, portanto, apesar de exigir mais

tempo e preparação, deve servir de recurso pedagógico constante nas aulas de

Biologia tornando-a mais viva e dinâmica, mais atrativa e interessante.

REFERENCIAS

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