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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

USO DE JOGOS DE FRAÇÃO NA SALA DE APOIO À APRENDIZA GEM

Elaine da Silva Fedatto 1

Ana Márcia Fernandes Tucci de Carvalho 2

Resumo

O presente estudo tem por objetivo mostrar os resultados obtidos com o uso de jogos com fração na busca pela superação das dificuldades de aprendizagem dos alunos que frequentam a Sala de Apoio à Aprendizagem Matemática (SAA). O jogo com frações apresenta-se como uma estratégia de ensino diferenciada que contribui para a aprendizagem do conteúdo matemático de fração em diferentes contextos de significação de forma prazerosa, estimulando o aluno a refletir e (re)elaborar conceitos correlatos ao tópico de fração. Além disso, esta estratégia metodológica oportuniza ao aluno explicitar suas defasagens sobre este conteúdo e buscar superá-las no trabalho em grupo, com a interferência pontual do professor. Para participar do jogo, o aluno se faz receptivo às explicações da professora e dos colegas, facilitando a relação aluno/professor/conhecimento. O jogar incentiva os alunos a aprender e desenvolver o prazer em aprender matemática.

Palavras-Chaves: Jogo Matemático. Fração. Sala de Apoio à Aprendizagem.

Introdução

Este artigo apresenta os resultados sobre as aprendizagens do conteúdo

matemático ‘fração’ em diferentes contextos de significação para uma turma de

alunos que frequentam a Sala de Apoio à Aprendizagem Matemática (SAA), tendo

os jogos matemáticos sobre fração como estratégia de ensino aprendizagem. A

utilização de jogos sobre fração proporciona uma maneira diferenciada do ensino,

conduzindo a aprendizagem das frações de forma prazerosa. O jogo atua como um

mediador e facilitador da compreensão dos conceitos envolvidos no conteúdo

estudado.

As Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionadas pela Lei Nº 9.394

de 20 de dezembro de 1996 (LDB 9394/96), determinam que os sistemas de ensino

devam “prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento” cabendo

aos docentes “estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor

rendimento” (BRASIL, 1996).

1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE (2013). Contato: [email protected]. 2 Professora Adjunta do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Londrina, UEL. Contato: [email protected]

Neste sentido, para atender o aluno de menor rendimento escolar, o professor

deve buscar estratégias de ensino que busquem adequar o aluno ao conteúdo/ano

superando suas defasagens de aprendizagem e proporcionando condições de

aproveitamento escolar satisfatório.

A Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná (SEED/PR)

desenvolve o Programa de Sala de Apoio à Aprendizagem (SAA), nas disciplinas de

Língua Portuguesa e Matemática, em todas as escolas estaduais do Paraná, por

meio de atendimento pedagógico em contraturno e orienta para a utilização de

estratégias de ensino diferenciadas que atendam as necessidades de aprendizagem

dos alunos, no seu aspecto individual “e contribuam decisivamente para a superação

das dificuldades de aprendizagem” (PARANÁ, 2004). O professor da SAA, mediante

as lacunas de conhecimento que os alunos demonstram, amparadas pela avaliação

da professora regente, deve elaborar de um Plano de Trabalho Docente (PTD)

buscando a superação das dificuldades pertinentes a cada conteúdo/ano. Entre os

conteúdos elencados para a disciplina de Matemática na SAA consta “identificar e

reconhecer números nas suas diversas representações” e acerca das estratégias de

ensino, o professor deve “elaborar materiais didático-pedagógicos de acordo com as

necessidades de aprendizagem dos alunos da Sala de Apoio à Aprendizagem”

(PARANÁ, 2011).

Neste recorte do conteúdo, a fração representa um valor numérico na forma

a/b, que tem seu significado relacionado ao contexto, ou seja, pode representar

parte-todo, todo-parte ou até parte-parte e apresentadas na forma fracionária

própria, imprópria ou mista, decimal ou uma fração centesimal (porcentagem).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL,1997), o

ensino da Matemática deve utilizar metodologias que estimulem a criatividade na

formulação de estratégias para a resolução de problemas matemáticos. O ensino

deve promover o trabalho coletivo, a iniciativa e autonomia pessoal do aluno,

desenvolvendo sua capacidade de superar desafios (BRASIL,1997, p.26). Ainda

segundo os PCN (1997), a prática pedagógica do professor em sala de aula, muitas

vezes, é insatisfatória e a implantação de propostas inovadoras é dificultada pela

falta de formação profissional do professor e pela precariedade das condições de

trabalho (BRASIL, 1997).

Neste contexto, o jogo é uma estratégia de ensino que, mesmo não sendo

inovadora em sua concepção, pode ser inovadora no ambiente escolar, pois leva o

professor a buscar os fundamentos teóricos para sua utilização, além de despertar o

interesse do aluno em aprender matemática por ser uma atividade prazerosa.

Para Cawahisa e Pavanello (2010), o professor deve ensinar propondo

atividades que levem o aluno a refletir sobre suas ações ao realizar as tarefas

matemáticas (CAWAHISA e PAVANELLO, 2010, p. 111-112). Neste sentido, o

ensino de matemática não pode ser uma transmissão e recepção de informações

previamente elaboradas. No ensino por meio da exposição oral e resolução de

exercícios de aplicação imediatos pode não ocorrer a aquisição de conhecimentos,

causando no aluno apatia em relação ao ensino de matemática (SMOLE; DINIZ;

MILANI, 2007).

Ao jogar, o aluno precisa refletir sobre o conteúdo proposto para atuar, tomar

decisões, e ainda, interagir com seus pares frente a seu conhecimento, para atingir o

objetivo de ser o vencedor.

No resgate das contribuições de Edouard Claparède 3, Beltrami (1996) aponta

que o jogo tem como principal estratégia o despertar do desejo de aprender os

temas diferenciados apresentados no trabalho escolar que não têm sentido imediato

para o aluno, sendo o jogo um mediador para “despertar sua inteligência”. Segundo

a autora, para Clarapède,

o jogo é parte essencial das necessidades da natureza da criança” e a imaginação, a memória e a razão são instrumentos da ação para satisfazer a necessidade do momento e neste sentido, o papel do professor é criar uma necessidade que desperte no aluno o desejo de satisfazê-la, respeitando seus interesses naturais (BELTRAMI, 1996, p. 21-22)

Neste entendimento, esse estudo foi desenvolvido utilizando-se de jogos

matemáticos, com a ênfase do conteúdo ‘fração’, como uma estratégia de ensino

diferenciado, sendo um mediador e facilitador no direcionamento do processo de

ensino aprendizagem, na intenção de que o aluno refletisse sobre o conceito de

fração, em diferentes contextos, na busca da superação de sua defasagem em

relação a este conteúdo, além de almejar a compreensão de forma prazerosa.

3 Edouard Claparède nasceu em 1983 e morreu em 1940. Era biólogo e médico, foi o protagonista da Psicologia Funcional, e como ele mesmo dizia empiricista e pragmatista. Foi professor da Universidade de Genebra. Em 1912, abriu uma Escola das ciências da educação que ele deu o nome de Institut J. J. Rousseau. Em 1918, neste instituto foi criado um centro de orientação profissional. Foi aos educadores que dirigiu praticamente todas as suas obras a partir de meados de sua carreira. Publicou “Psicologia da criança e pedagogia experimental”, reeditada nove vezes até 1920.

Diniz (1990), citado por Borin (2007), afirma que o ensino da matemática

utilizando jogos é

uma mudança de postura em relação ao que é ensinar matemática, ou seja, ao adotá-la, o professor será um espectador do processo de construção do saber pelo seu aluno, e só irá interferir ao final do mesmo, quando isso se fizer necessário, através de questionamentos, por exemplo, que levem os alunos a mudanças de hipóteses, apresentando situações que forcem a reflexão ou para a socialização das descobertas dos grupos, mas nunca para dar a resposta certa. Ao aluno, de acordo com essa visão, caberá o papel daquele que busca e constrói o seu saber através da análise das situações que se apresentam no decorrer do processo (DINIZ, 1990, apud BORIN, 2007, p.10-11).

Desta forma, ao propor jogo com fração como estratégia de ensino desse

conteúdo, o professor deve conhecer o jogo e elaborar questionamentos que levem

o aluno a pensar, (re)elaborar conceitos, refletir e atuar de forma coerente à esses

conceitos, fazendo conjecturas e construindo seu conhecimento.

Para Smole, Diniz e Milani (2007), a utilização de jogos no contexto escolar é

uma possibilidade de ensino aprendizagem por meio da qual se aprecia a ideia de

aprender de forma prazerosa e que contribui para o desenvolvimento cognitivo do

aluno. Ao refletir, analisar e criar estratégias para jogar, acontece o desenvolvimento

do pensamento abstrato. Para as autoras, os jogos dão conta da necessidade de

“diversificar as forma e estratégias didáticas para que, junto com os alunos, seja

possível criar um ambiente de produção ou de reprodução do saber [...]” (SMOLE;

DINIZ; MILANI, 2007, p. 13).

O jogo faz parte do cotidiano do aluno e, quando apropriadamente conduzido,

produz um ambiente amistoso entre os participantes, propiciando a apropriação do

conhecimento e alterando a formalidade da sala de aula.

Para Grando (2000), é importante garantir o prazer na realização de atividade

com jogos, pois é este prazer que vai despertar o interesse do aluno para realizar a

ação do jogar. O jogo deve também representar desafios e provocações que

mobilizem o cognitivo do aluno e o leve à ação (GRANDO, 2000).

Na dinâmica do jogo, o aluno se percebe um ser aprendente, confronta-se

com suas dificuldades e se mobiliza cognitivamente para superá-las.

As frações são consideradas um “megaconceito”, pois este é constituído por

diferentes subconceitos (GARCIA E LINHARES, 1983, apud LOPES, 2008).

Segundo Lopes (2008), existem obstáculos à aprendizagem do conceito da fração “a

começar pelo fato de que a palavra fração está relacionada a muitas ideias e

constructos” (BEHR,1983, VERGNAUD, 1983 apud LOPES, 2008, p. 7).

O jogo fornece ao aluno um contexto que facilita a compreensão da aplicação

do conceito de fração envolvido.

As ideias relacionadas e sobrepostas acerca dos números racionais

constituem um obstáculo para o desenvolvimento matemático dos alunos, pois os

números racionais podem assumir diferentes significados frente a tais ideias

(ONUCHIC, ALLEVATO, 2008). Segundo Romanatto (1999), os números racionais

estão presentes em uma grande diversidade de contextos e expressam diferentes

ideias, relações, princípios, operações e procedimentos matemáticos condicionando

o trabalho docente a uma variedade de princípios ou estratégias metodológicas,

proporcionando atividades em diferentes contextos que impliquem as ideias

matemáticas nessa área de conhecimento. Para o autor, as primeiras dificuldades

em ensinar e aprender números racionais é o fato de que os contextos,

concretizados nas atividades, são diversos e independentes para a construção ou

aquisição de relações matemáticas representadas pela notação a/b. Tal tipo de

número pode representar um contexto em que a ideia de fração (relação parte-todo)

esteja presente, em outras situações onde a ideia é de razão (relação parte-parte) e

situações onde a relação construída envolve, por exemplo, grandezas diferentes

como a densidade (massa/volume) (ROMANATTO, 1999).

Neste contexto, utilizar jogos matemáticos de fração como mediadores entre

professor/aluno/conhecimento traz benefícios para o aluno, ao facilitar a

compreensão do contexto onde a fração está sendo aplicada; e para o professor

que, no processo, pode questionar o aluno avaliando sua compreensão e fazendo as

interferências necessárias para conduzi-lo à superação de suas dificuldades de

aprendizagem.

Desenvolvimento

Este estudo foi desenvolvido com alunos do Ensino Fundamental que

frequentam a SAA Matemática da Escola Estadual Professor Lauro Gomes da Veiga

Pessoa, pertencente ao Núcleo Regional de Londrina-Paraná, município de

Londrina. Inicialmente foi elaborado um Projeto de Intervenção Pedagógica que

sustentou teoricamente a Produção Didática Pedagógica, na forma de uma Unidade

Didática, que foi implementada no primeiro semestre do ano 2014.

O projeto foi apresentado à Direção, Equipe Pedagógica e corpo docente da

escola, funcionários e representantes da Associação de Pais, Mestres e

Funcionários (APMF) para ciência e sugestões de melhoria do projeto para que

melhor atendesse as necessidades dos alunos na superação das

defasagens/dificuldades de conhecimento do estudo das frações. Salienta-se a

grande receptividade dos sujeitos da escola para a proposta apresentada.

Com o apoio da Direção e Equipe Pedagógica da escola, foi organizada uma

reunião com os pais dos alunos indicados pela professora regente para participarem

do projeto, vista que um grande desafio das aulas em contraturno é a frequência

regular dos alunos.

Na ocasião, o projeto foi apresentado aos pais para ciência e esclarecimento

das possíveis dúvidas da metodologia que seria utilizada, jogos matemáticos de

fração, e solicitada sua autorização e colaboração em organizar a rotina do filho para

sua frequência regular no projeto.

O projeto contou com a colaboração dos pais e o interesse e participação dos

alunos e ainda com o empenho dos mesmos na realização das atividades

avaliativas.

Apresentação das atividades

As atividades aqui apresentadas foram desenvolvidas por meio de jogos

matemáticos, como mediadores do ensino aprendizagem e facilitadores da relação

professor/aluno/conhecimento.

Para o estudo das frações em diferentes contextos de significação, foram

elaborados/adaptados dez jogos matemáticos para a exploração do conteúdo

fração, dos quais foram elencando seis para a reflexão sobre os resultados. Na

seleção do jogo foi priorizado aquele que favorecesse ao aluno a elaboração dos

conceitos da fração e que facilitasse a compreensão dos elementos da fração, sua

representação na forma gráfica, fracionária, decimal e porcentagem enquanto parte-

todo, todo-parte e parte-parte e, ainda, a leitura e escrita da fração em suas

diferentes formas de representação.

No planejamento das atividades, foi valorizada a possibilidade do diagnóstico

das habilidades de leitura, interpretação/ação e escrita dos códigos próprios da

matemática, necessárias para as aprendizagens e, ainda, a elaboração de um

instrumento de avaliação que possibilitasse a análise das apropriações dos

conceitos, explicitadas pelos alunos numa perspectiva qualitativa dos avanços

individuais.

No primeiro encontro, foram feitas as apresentação por meio de uma

dinâmica onde cada um deveria dizer seu nome e o que mais gostava de fazer nas

horas vagas. Nesta dinâmica, foi possível perceber que a maioria dos alunos

gostava de jogar vídeo game, de futebol e de assistir filmes na TV.

Foi apresentada a proposta do uso de jogos matemáticos aos alunos e, por

consenso, foram estabelecidas as regras de convivência necessárias para um bom

resultado. Os alunos apontaram várias regras que julgavam importantes. Destaco

aqui as seguintes: Evitar faltar nas aulas; Se empenhar para realizar as atividades;

Perguntar as dúvidas; Respeitar as dúvidas dos colegas; Cuidar do material do jogo,

conferindo-o antes de devolver para a professora e avisando a professora quando

este for danificado pelo uso; Colaborar com a disciplina. Feito o acordo, foi

apresentado aos alunos um exemplar de cada jogo previsto para ser utilizado no

projeto, para que os explorassem. Os alunos ficaram curiosos quanto à forma de

jogar. Então, para conter a ansiedade dos alunos, foi dado início às atividades do

projeto.

A primeira atividade foi desenvolvida por meio do jogo Corridas das Frações.

O objetivo na aplicação desta atividade foi (re)elaborar o conceito da fração no

contexto parte-todo. O jogo consiste, em um primeiro momento, em formar frações

com o lançamento de dois dados, sob a regra de o número maior ser o denominador

e o número menor, o numerador. Esta regra garante a formação de frações próprias.

Com o auxílio de uma régua de frações, o aluno jogador deve selecionar aquela que

representa a fração formada e avançar com seu carrinho em uma pista de corrida o

espaço correspondente. Outra regra foi formar a fração por ordem de lançamento. O

primeiro dado lançado seria o denominador e o segundo dado o numerador. Esta

regra abre para a possibilidade de formação de frações próprias e impróprias.

Figura 1: Jogo Corrida das Frações4

Fonte: Acervo pessoal.

O jogo foi apresentado aos alunos para jogarem livremente sob a primeira

regra, como motivação e compreensão das regras. Foi possível perceber que alguns

alunos se intimidaram e não quiseram jogar. Então, foram orientados a observar

quem estivesse jogando e jogar se desejassem. Já nas primeiras rodadas do jogo,

todos haviam se envolvido. Após, foi solicitado que jogassem registrando suas

jogadas, identificando o numerador e o denominador.

Nesta atividade, foi possível constatar que os alunos não compreendiam a

quantidade representada na forma fracionária e relacionavam o valor absoluto do

número à quantidade, ou seja, números grandes, fração maior, espaço maior. À

medida que o jogo ia se desenvolvendo, as comparações entre as frações e a

visualização das quantidades por meio das réguas de fração, os alunos foram

internalizando o processo de construção da fração e aplicando-o com compreensão

das quantidades. Tal compreensão foi observada durante o jogo na explicitação da

satisfação ou insatisfação ao formar a fração, pois antecipavam a quantidade que

estas representavam e o quanto avançariam na pista de corrida. Ao final do jogo, foi

proposta uma atividade avaliativa onde os alunos deveriam escrever suas

aprendizagens em relação à quantidade representada pelas frações próprias e

impróprias. Em razão da dificuldade que apresentaram para organizar e registrar

suas ideias, o registro foi direcionado pela professora.

Esta atividade foi importante para que a professora conhecesse o perfil de

cada aluno, vista que não convivia com eles em sala de aula. E também para os

alunos, que vivenciassem uma experiência diferente de ensino aprendizagem onde

podiam falar, discutir ideias, refletir sobre suas ações e a dos colegas, pois todas as

4 Jogo adaptado de Corrida das Frações. Disponível em: <http://jogomatica.blogspot.com.br/>. Acesso em: 19 Ago. 2013.

informações estavam à vista de todos. Desta forma, corrigiam os colegas, motivados

pela competitividade própria do jogo e aceitavam ser corrigidos, para se manterem

coerentes com as regras do jogo.

Na análise das atividades avaliativas, foi possível constatar grande avanço

dos alunos, que explicitaram a compreensão da quantidade representada pelas

frações próprias e impróprias no contexto parte-todo.

A segunda atividade foi mediada pelo jogo Memória das Frações, cujo

objetivo era compreender e associar uma fração representada numericamente, à

parte-todo apresentada e representada na forma gráfica.

Figura 2: Jogo da Memória5

Fonte: Acervo pessoal

O jogo consistia em formar pares correspondentes, desenho da parte-todo e a

forma fracionária numérica.

Os alunos já estavam familiarizados com as regras do jogo da memória e não

tiveram dificuldade ao jogar. Em relação à fração, foi possível perceber que ainda

existia certa fragilidade na aprendizagem do significado das quantidades

representadas pelo denominador e pelo numerador. Outra questão, que houve a

necessidade de retomar, foi a multiplicação retangular para que chegassem a

quantidade de desenhos das cartas com mais facilidade. Os alunos foram receptivos

às atividades de avaliação quando explicitaram a compreensão na representação

fracionária e a quantidade que ela representa demonstrando autonomia e confiança

na realização das atividades.

5 Jogo adaptado de Jogo da Memória. Disponível em:<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_uem_matematica_md_cely_aparecida_navarro.pdf. Acesso em: 19 Ago. 2013.

Figura 3: Jogo da Memória - Atividades realizadas pelos alunos

Fonte: Acervo pessoal

A terceira atividade foi mediada pelo jogo Dominó das Frações com o objetivo

de aperfeiçoar a aprendizagem da leitura da fração, da fração decimal e dos

números decimais e da transformação da escrita fracionária imprópria para a escrita

fracionária mista e vice e versa. Os alunos já estavam familiarizados com as regras

do jogo e, em seu desenvolvimento, foram confrontando-se com as dificuldades que

tinham sobre o tema. Com a intervenção da professora com questionamentos e

condução por exemplos explicativos, os alunos foram se apropriando dos

conhecimentos relacionados aos conteúdos sobre a quantidade representada na

forma decimal e associando-as com a fração decimal e, ainda a transformação de

uma forma em outra.

Figura 4: Dominó das Frações6

Fonte: Acervo pessoal

No jogo de Dominó com Frações, o qual explorou a transformação da fração

imprópria em fração mista, os alunos tiveram muita dificuldade havendo a

necessidade da interferência pedagógica e a apresentação sistematizada do

conteúdo na lousa que foi utilizado para consulta dos alunos. As jogadas foram

importantes para que eles repetissem o procedimento matemático de transformação

6 Jogo adaptado de Jogo da Memória. Disponível em:<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_uem_matematica_md_cely_aparecida_navarro.pdf. Acesso em: 19 Ago. 2013.

de uma forma em outra. Após jogarem a primeira vez com o apoio de rascunho, por

iniciativa própria, jogaram outras vezes realizando a transformação de uma forma

em outra mentalmente, jogando com autonomia e confiança. Destaca-se que alguns

alunos ainda precisaram do apoio dos colegas ou da professora para entender a

indicação do valor apontado pelos colegas.

Figura 5: Jogo Dominó das Frações – Atividades realizadas pelos alunos

Fonte: Acervo pessoal

Os alunos realizaram as atividades avaliativas com desenvoltura mostrando

grande avanço na compreensão da representação das quantidades representadas

no numerador e no denominador.

Essa atividade não contou com tanto entusiasmo por parte dos alunos, e

demandou mais tempo que o planejado, provavelmente por causa da falta de

conhecimento prévio do conteúdo. Ao final, por meio das atividades avaliativas, foi

possível observar que os alunos se apropriaram do processo de transformação da

fração própria em imprópria e vice e versa.

A quarta atividade foi mediada pelo jogo Junta Quatro com o objetivo de levar

o aluno a reconhecer as diferentes formas de representação dos Números Racionais

e estabelecer relação de igualdade entre elas e ainda, relacioná-las com a

porcentagem.

Figura 6: Jogo Junta Quatro7

Fonte: Acervo pessoal

7 Jogo adaptado de jogo de cartas Mexe-Mexe. Disponível em:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Mexe-mexe>. Acesso em: 19 Ago. 2013.

Trata-se de um jogo de cartas que contém quatro cartas que representam a

mesma quantidade e expressas de forma diferente cabendo ao aluno, dentro das

regras, juntar corretamente as quatro cartas.

Nesta atividade, o desafio para os alunos foi relacionar a fração à

porcentagem e o fato de algumas frações estarem em sua forma reduzida. Com

alguns questionamentos, os alunos foram induzidos a fazerem a relação da fração

centesimal e a porcentagem e a equivalência das frações e, posteriormente, foi

apresentado alguns exemplos na lousa para a transformação de uma forma em

outra e o processo de redução e equivalência de frações coletivamente, e o jogo era

retomado. Uma vez superada as dificuldades, os alunos jogaram várias partidas e

alguns deles levaram o jogo para casa. Apesar das dificuldades, o interesse pelo

jogo contribuiu para a participação e motivou a aprendizagem para poder jogar.

A quinta atividade foi mediada pelo jogo Corrida dos Sabidões cujo objetivo

era resolver situações problemas, interpretando, reconhecendo e realizando

operações envolvendo números racionais.

Figura 7: Corrida dos Sabichões8

Fonte: Acervo pessoal

O jogo consistia em que cada jogador, na sua vez, sorteasse uma ficha

contendo situação problema, resolvesse-a e, em caso de acerto, avançasse no

tabuleiro o número de casas indicada na ficha.

Para melhor compreensão, combinamos que sortearíamos e resolveríamos

coletivamente dois problemas e os registros ficariam na lousa para consulta. Apesar

do apoio no quadro, da possibilidade da resolução coletiva e do apoio da professora,

ainda assim, a atividade exigiu mais dos alunos por apresentar uma diversidade de

problemas que requeriam a aplicação dos conceitos explorados até aquele momento

para realizar os cálculos com frações em diferentes contextos. O jogo elucidou a

8 Criação da professora PDE

dificuldade de compreensão da fração no contexto e ainda, as defasagens da

aprendizagem no algoritmo da divisão e a fragilidade do conhecimento que tinham

da tabuada.

Frente à diversidade de contexto da significação da fração e à dificuldade que

apresentaram para transpor os conceitos anteriormente apropriados para a

resolução das situações problemas, o jogo foi fundamental para a abordagem dos

conteúdos e a manutenção da atenção e interesse dos alunos.

Para o desenvolvimento da sexta atividade foi utilizada a mediação do jogo

Trilha das Frações com o objetivo de trabalhar com os alunos cálculos de

equivalência entre frações.

Figura 8: Trilha das Frações9

Fonte: Acervo pessoal, 2014.

O jogo consistia na formação de uma fração pelo lançamento de dois dados

onde o número maior seria o denominador e o menor, o numerador. O aluno jogador

deveria identificar e marcar em um tabuleiro a fração equivalente à que formou com

o objetivo de marcar três frações na horizontal, vertical ou diagonal para ser o

vencedor.

Já no início do jogo, os alunos demonstraram muita fragilidade na

compreensão da equivalência entre frações, havendo a necessidade de

demonstração gráfica como apoio. Frente a essa dificuldade, o jogo foi adaptado

pela professora para que os alunos primeiro se apropriassem dos procedimentos

para a construção das equivalências e, após retomassem o jogo em condições de

elaborar estratégias para vencer. A adaptação consistiu em ser o vencedor o aluno

jogador que marcasse o maior número de fração no tabuleiro.

9 Jogo adaptado de SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; CÂNDIDO, Patrícia. Cadernos Mathema. Jogos Matemáticos de 1ª a 5º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007. p.113-115.

Nesta fase, alguns alunos não conseguiam transpor a ação de uma situação

de construção de frações equivalentes para outra, pois não entendiam que

numerador e denominador deveriam ser divididos pelo mesmo valor, ou seja, eles

deveriam buscar um divisor comum entre numerador e denominador. Apesar das

dificuldades, os alunos se esforçaram para aprender e se manter no jogo. Uma vez

dominado o processo de verificação de equivalência de frações, o jogo foi realizado

sob as regras iniciais possibilitando a competitividade.

Foi observado que os alunos utilizaram dois processos para encontrar

equivalência de fração: a construção de várias equivalências da fração até identificar

uma correspondente à do tabuleiro e, fazer a redução das frações do tabuleiro até

encontrar a correspondente à sua. Destaca-se que esse jogo favorecia a construção

de estratégia para vencer.

Os alunos foram receptivos às atividades avaliativas que explicitaram sua

compreensão acerca da equivalência de frações, mesmo que alguns deles ainda

tenha precisado de apoio dos colegas e/ou da professora.

Considerações finais

Os resultados obtidos neste estudo corroboram os estudos realizados por

Cawahisa e Pavanello (2010), Smole; Diniz; Milani, (2007), Borin (2007), Grando

(2000), no sentido que o jogo é uma estratégia de ensino que leva a uma

aprendizagem prazerosa, a qual tira o aluno da apatia, leva-o a refletir sobre suas

ações, mudar hipóteses, socializar seus resultados, cabendo ao professor, durante a

condução das atividades, problematizar e oferecer reflexões para que o estudante

encontre uma resposta validada pelo conhecimento matemático em construção,

contribuindo assim, para o desenvolvimento do pensamento abstrato e cognitivo do

aluno.

Na apresentação e socialização dos resultados do projeto com professores da

Rede Estadual de ensino que aconteceu por meio de Grupo de Estudo em Rede-

GRT, na modalidade à distância e-escola, ambiente Moodle, os professores

cursistas pontuaram a dificuldade do trabalho com jogos em turmas regulares em

razão da quantidade de alunos atendidos na sala aula, demonstraram a

preocupação da aplicação do jogo pelo jogo e destacaram a importância do

planejamento para o sucesso desta estratégia de ensino. Tais apontamentos foram

confrontados com os referenciais teóricos no sentido de levar os professores a se

sentirem seguros em relação aos cuidados necessários para a utilização do jogo

como uma estratégia de ensino. Apontaram ainda, para a maior participação do

aluno na criação e/ou confecção dos jogos e suas regras e ainda, sugeriram jogos

com uso de recursos tecnológicos como software e jogos na internet. Tais

apontamentos enriqueceram a discussão e possibilitaram a troca de experiência

entre os participantes. No decorrer das discussões, foi possível perceber que, à

medida que os professores dialogavam entre si, subsidiados pelo referencial teórico

apresentado no projeto e na troca de experiências, o grupo foi demonstrando maior

confiança na utilização dos jogos no ensino da Matemática. Os jogos de Corrida das

Frações, Dominó das Frações, Jogo da Memória das Frações e Bingo das Frações

foram citados pelos professores como aquele que mais despertou seu interesse em

aplicar com seus alunos. Analisando esses jogos é possível perceber que são jogos

cujas regras já fazem parte do cotidiano do aluno o que facilita sua aplicação. Nesta

percepção, podemos inferir que há a necessidade de incentivar o professor a criar

jogos novos e que se disponha a se desafiar, a utilizar o jogo como estratégia de

ensino da matemática. Foi possível concluir, junto aos professores, que os jogos de

fração propostos na Produção Didática podem contribuir para o aprendizado do

aluno da SAA Matemática e também, que podem ser adaptados para uso em turmas

regulares desde que bem planejado para atingir os objetivos desejados e sem deixar

de privilegiar o desafio prazeroso característico do jogar, que mobiliza o desejo de

participação do aluno. Foi possível concluir ainda, que os professores acreditam no

potencial do jogo matemático para o desenvolvimento das habilidades cognitivas,

sociais e emocionais dos alunos podendo ser utilizado, não só nas SAA Matemática,

como também em turmas regulares.

As atividades desenvolvidas no projeto tinham o propósito de levar o aluno à

apropriação dos conceitos matemáticos envolvidos e confrontá-lo com suas

defasagens para provocá-lo a se mobilizar cognitivamente para sua superação.

Foi possível concluir que é importante que o professor conheça o jogo e suas

possibilidades de ensino para fazer as adaptações necessárias para atingir os

objetivos de ensino aprendizagem.

O jogo oportuniza a manifestação das defasagens de conhecimento do aluno

e favorece a intervenção da professora em um momento onde o aluno está receptivo

para sua superação. Com as intervenções pontuais para a solução de um problema,

o aluno vai relacionando cognitivamente um conhecimento ao outro.

Na análise das atividades de avaliação, foi possível observar que os alunos

precisam vivenciar mais situações cotidianas nas quais os conhecimentos correlatos

ao conceito de números racionais surjam naturalmente, para que consigam

vislumbrar a importância deste conteúdo e, de forma mais espontânea, desenvolvam

um interesse pela aprendizagem do tema.

Referências

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