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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
AS FESTAS NO BRASIL COLONIAL: DUALIDADE ENTRE O SAGRADO E O PROFANO
Linda Salete Mondo Pacheco1
Vanderlei Amboni2
Resumo: O presente trabalho apresenta o resultado da pesquisa, que teve como objetivo estudar de que modo ocorriam as festas da época do Brasil Colonial e o fenômeno entre o sagrado e o profano presente nas manifestações culturais, promovidas pela elite colonial. Com a multiculturalidade étnica existente no Brasil colônia, observando a atuação dos povos indígenas, dos negros escravizados, e dos europeus conquistadores, na contribuição de cada grupo étnico na formação cultural do país. A cultura tem um caráter conservador, tendo na ordem religiosa sua maior representante do Brasil Colônia, neste período no Brasil. As festas também exerciam o papel de socialização da colonização. As festas do Brasil Colonial eram relacionadas ao calendário religioso católico, mas também eram motivos para realização de festas públicas para celebrar o nascimento de um príncipe, casamentos reais ou aclamações de um soberano. Palavras-chave: Brasil Colônia. Festas Culturais. Sagrado. Profano.
1. Introdução
A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado (André MALRAUX).
Neste artigo, discorremos sobre a maneira que processou a construção da
cultura, no âmbito da religiosidade e do popular no contexto da histórica do Brasil
Colonial. Com intuito de aproximar os conhecimentos sistematizados dos
conhecimentos do cotidiano popular, de forma articulada com o passado e o
presente da vida social na sociedade brasileira. Para tanto, analisamos a atuação e
contribuição dos povos indígenas, habitantes da terra antes da colonização. Depois
da chegada dos povos europeus, foi acrescentada a força de trabalho do africano
escravizado na formação da nação brasileira, caracterizando-se, dessa forma, um
país de diversidades étnico-racial.
1 Professora PDE 2014, disciplina de História, atua no Colégio Estadual Marechal Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio, Cidade Gaúcha – PR, Núcleo Regional de Educação de Cianorte. 2 Professor do Colegiado de História da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Paranavaí – UNESPAR, Doutor em Educação, pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Endereço virtual: [email protected]
É preciso ressaltar, portanto, que desenvolver o trabalho pedagógico em sala
de aula sobre este assunto, na disciplina de História, é proporcionar aos alunos um
estudo voltado ao conhecimento histórico e cultural, tanto de festas religiosas,
quanto laicas durante o período colonial. A cultura no período colonial tem um
caráter totalmente conservador, por se contextualizar no âmbito da religiosidade
onde predominava a fé católica.
O alunado de hoje desconhece as características das festas de então e quais
os papéis que desempenhavam dentro da sociedade. Nas festas expressam as
emoções marcadas pelas especificidades e diferenças as quais eram submetidos,
principalmente os povos dominados (negros e indígenas). Portanto, eram nas festas
que os pobres tinham a oportunidade de se incluírem como cidadãos comuns, ou
seja, invertendo a classe social, com uso de coroas e vestimentas mais elegantes.
Partindo do pressuposto de que é necessário maior aprofundamento sobre os
estudos da história sobre tradições, culturas e festas religiosas do Brasil colonial,
bem como as festas profanas. No Programa de Desenvolvimento Educacional
estudamos e realizamos a implementação do tema, junto aos alunos dos sétimos
anos, do Colégio Estadual Marechal Costa e Silva, no município de Cidade Gaúcha,
destacando a compreensão do valor que as pessoas mais simples davam para suas
vidas e que a religiosidade era mostrada de forma respeitável e, ao mesmo tempo,
lúdica, principalmente aos escravos.
2. O Legado Histórico Cultural das Festas no Brasil Colônia
A cultura está acima da diferença da condição
social (CONFÚCIO).
As festas estão presentes e também são celebradas em diferentes momentos
da vida humana, mas alguns autores afirmam que pouco se estuda sobre elas. Para
Del Priore, (1994, p.9) o “tempo de festa tem sido celebrado ao longo da história dos
homens” e Itani enfatiza que “a festa é um fato social, histórico e político. Ela
constitui o momento e o espaço da celebração, da brincadeira, dos jogos, da música
e da dança. Celebra a vida e a criação do mundo” (ITANI, 2003, p. 07).
Tanto Del Priori, tanto quanto Itani, ressaltam as festas no devir do homem.
Dessa forma, o produto dessas ações se transforma em conhecimento e tem, na
escola, seu meio de ação. Por isso, a escola constitui no espaço onde se dá o
diálogo dos “conhecimentos sistematizados e dos conhecimentos do cotidiano
popular” (PARANÁ, 2008, p. 21). É no âmbito da escola, que o conhecimento do
aluno pode criar perspectivas para as teorias críticas da educação. Neste caso,
Lopes traz que “o processo de ensino deve transmitir aos alunos a lógica do
conhecimento da referência. [...] é do saber especializado e acumulado pela
humanidade, que devem ser extraídos os conceitos e os princípios a serem
ensinados aos alunos” (LOPES, 2002, p. 151-152). Partindo desse pressuposto e,
diante da necessidade de um estudo voltado à história da cultura religiosa e histórica
do Brasil Colonial, entendeu-se a necessidade dessa pesquisa, pois este
conhecimento se aproxima com os conhecimentos sistematizados e os
conhecimentos do cotidiano popular de forma articulada com o passado no presente
da vida social no Brasil.
Partindo da premissa que o Brasil se tornou uma nação multicultural, com os
mais diversos legados dos povos indígenas, dos povos europeus e do povo negro,
que contribuíram para a formação da nação brasileira, que é caracterizado como
país de diversidade étnico-racial. Dessa forma, torna-se necessário evidenciar o
estudo da história do Brasil Colonial sobre tradições, culturas e festas religiosas,
bem como as festas profanas, pois passaram a ser relevantes para o estudo das
culturas locais. Na perspectiva do estudo, os alunos têm condições de realizar
interpretações historiográficas e fazer leituras de documentos históricos sobre a
formação do país. Ao propor os estudos das relações culturais no ensino de História,
as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p. 66), entende a cultura como
aquela que permite conhecer os conjuntos de significados que os homens
conferiram à sua realidade para explicar o mundo. E, nesse propósito, buscamos
estudar o período do Brasil Colonial, pois os acontecimentos do passado ainda se
fazem presentes na vida de muitos brasileiros, como a cultura, as festas religiosas,
as tradições, os costumes, trabalho escravo e a discriminação entre classes sociais.
Não obstante, Williams (2003), afirma que a cultura é comum a todos os seres
humanos pelo fato de haver uma estrutura comum de modos de pensar, de agir e
perceber o mundo, que leva à constituição de organizações sociais diferentes. Para
ele, a cultura tradicional é um patrimônio comum, uma herança comum, que a
educação tem a tarefa de difundir e tornar acessível a todas as classes sociais, da
mesma forma que a cultura popular.
Visto como uma necessidade para se compreender a história da colonização
e dos povos conquistados e colonizados, implica em voltar aos princípios históricos
para se entender o presente. Neste sentido, uma volta à história torna-se
necessária, pois as pessoas já sofriam diante das injustiças e que, por meio das
festas populares, das músicas, dos cantos, das poesias e procissões religiosas,
viam-se como livres, pois é um momento único para se unirem aos povos de
costumes tradicionais e considerados “humanos”. Momento este que se revestiam
de vestimentas e colares e sentiam o gosto da liberdade, da humanidade liberta do
homem.
Os negros chegaram ao Brasil trazendo seus costumes, contribuindo dessa
forma para a construção da cultura brasileira. Viviam num mundo de escravidão
onde serviam aos seus senhores, sendo muitas vezes discriminados e humilhados.
Com suas tradições africanas, tentavam levar uma vida humanizada, apesar das
diferenças de culturas já existentes à época.
Dessa forma, em meio aos seus senhores, tinham a oportunidade de
festejarem e alegrarem-se junto aos demais, independente da classe social. Itani
sustenta que “quando se festeja, no conteúdo histórico das festas pode-se ver o ser
humano em sua criação, em seus costumes, símbolos e suas crenças, pelos seus
ritos, seus cantos, suas músicas e danças” (ITANI, 2003, p. 15). No entanto, ao
resgatar os costumes, a religião, as festas e culturas da época do Brasil Colônia,
depara-se com a questão da religiosidade popular daquele tempo, bem como com
as preocupações da Igreja Católica, pois esta se voltava aos interesses dos
senhores de engenho, onde índios e negros estavam subsumidos e obrigados a
participarem dos costumes religiosos de seus senhores.
As condições de participantes nas celebrações festivas no Brasil Colônia,
tanto dos europeus integrantes da frota de Cabral e dos indígenas, consta na carta
de Pero Vaz de Caminha, segundo Tinhorão,
[...] a carta do escrivão da frota de Cabral deixa bem claro, quando mostra não apenas a posição de mero espectador curioso dos indígenas nas cerimônias de júbilo oficial dos visitantes nesse primeiro contato com a sua terra, mas da maioria dos próprios tripulantes portugueses, levados pela distância social a participar também apenas como testemunhas na comemoração de um feito particular das suas elites (TINHORÃO, 2000, p. 16).
Nas festas celebradas no Brasil Colonial, houve a criação da diversidade
cultural com a integração, tanto dos negros, quanto dos indígenas, onde a
religiosidade se formara com práticas religiosas não condizentes aos dos seus
senhores. Em suas festas, as danças, as poesias e as músicas predominavam na
expressão de sentimentos, tanto alegre, quanto triste. Assim, no Brasil, começou a
se formar a diversidade cultural-étnica. A religiosidade popular colonial devido à
multiplicidade de povos — negros, indígenas e portugueses — criou-se a
multiplicidade de crenças e religiões.
O Brasil é fundamentalmente um país católico e suas origens remontam à
construção da identidade do brasileiro em suas múltiplas dimensões étnico-racial,
tendo no colonizador seus fundamentos ideológicos religiosos.
Neste processo, Tinhorão (2000) assevera que, desde a chegada de Cabral,
as festas no Brasil se caracterizavam pela forma autoritária, com que se deu a
transposição dos valores ibero-europeus, oficiais e religiosos, à cultura indígena e
crioula, e, ao mesmo tempo, pela incapacidade do poder colonial de controlar a
participação popular nos eventos públicos, constituindo aquilo que o pesquisador
chama de “oportunismo lúdico” do povo miúdo constituído por governados,
fregueses e, por vezes, escravos.
Conforme Maestri (1994, p. 97) “a escravidão era uma forma de produção
rentável e uma instituição difundida e aceita por amos e trabalhadores escravizados.
Os cativos se rebelavam contra a sua escravização, e não contra a instituição”.
Diante da imposição cultural, os negros procuravam nas irmandades um pouco de
vida digna, louvando seus santos de devoção. Este era um meio que os negros
encontravam para se fortalecerem. Assim, nas reuniões de grupos, dançavam e
cantavam, fazendo dos seus rituais uma forma de pacificação da alma. Outro
elemento importante eram as brincadeiras, que fazia parte do processo de
socialização e trazia alegria e risos.
Nas palavras de Tinhorão, as festas tinham um
[...] caráter coletivo – tal como hoje o carnaval, por exemplo – eram inconcebíveis ao tempo da chegada ao Brasil de portugueses oriundo de uma Europa mal saída do controle teocrático da sociedade, através do conceito da responsabilidade pessoal ante o pecado, que impunha aos cristãos, vigilância permanente contra os impulsos pagão-dionisíacos herdados do mundo antigo.
Assim, o que durante mais de duzentos anos se registra como aproveitamento coletivo do lazer na colônia americana de Portugal não seriam propriamente festas dedicadas à fruição do impulso individual para o lúdico, mas momentos de sociabilidade festiva, propiciados ora por efemérides ligadas ao poder do Estado, ora pelo calendário religioso estabelecido pelo poder espiritual da Igreja (TINHORÃO, 2000, p. 7).
Não obstante, Fausto (2009) afirma que, a sociedade colonial se forma a
partir das três matrizes étnicas, na qual, independentemente da condição social, é
incontestável a contribuição cultural de cada uma delas. A significativa presença
destas etnias, as atividades comerciais e produtivas, a catequese imposta aos
indígenas e a influência europeia foram elementos essenciais para a formação
cultural no período colonial. Por isso, ele pontua que “A cultura religiosa foi o mais
importante instrumento de colonização. Toda ela “importada” pelos jesuítas, que
exerceram por três séculos o monopólio da educação, do pensamento culto e da
produção artística” (FAUSTO, 2009, p. 55). Dessa forma, os povos colonizados
deviam obediência à igreja católica, onde a mesma dizia ser contra a escravidão,
mas nada fizeram para que isso não acontecesse.
Em seus estudos, Fausto (2009) assinala que essa sociedade não era só de
mineradores negociantes, advogados, padres, fazendeiros, artesãos, burocratas,
militares, e que a vida social concentrou-se nas cidades como centro de residências,
dos negócios e das festas comemorativas. Nelas, ocorriam as manifestações
culturais no campo das artes, das letras, da música e da religião.
Neste sentido, ao refletir sobre essa questão, Souza observa que:
O cristianismo vivido pelo povo caracterizava-se por um profundo desconhecimento dos dogmas, pela participação na liturgia sem a compreensão do sentido dos sacramentos e da própria missa. Afeito ao universo mágico, o homem distinguia mal o natural do sobrenatural, o visível do invisível, a parte do todo, a imagem da coisa figurada. Na maior parte das vezes, a organização catequética tridentina não conseguiria senão a aprendizagem por memorização de poucos rudimentos religiosos, dos quais nem sempre se entendia o significado pleno e que, passados alguns anos, eram esquecidos. Neste sentido, não discrepava do contexto europeu a religiosidade impregnada de paganismo do século XV português, a ‘complexa fusão de crenças e de práticas, teoricamente batizada de cristianismo, mas praticamente desviada. Um ‘cristianismo de fachada (SOUZA, 1986, p. 81).
Contudo, acentua Souza (1986) ,que mesmo com a tarefa de catequizar e
propagar a fé, conforme foi instituída pelo Concílio de Trento, essas obrigações, por
parte da Igreja, na prática, eram falhas. Embora o catolicismo fosse ensinado aos
indígenas e aos negros, posteriormente os missionários não conseguiam fazer com
que a religião fosse praticada da maneira como se queria devido às adversidades
dos povos escravizados, o tamanho da colônia e a resistência indígena à
catequização. Dessa forma, a insuficiência herdada pela Igreja católica, de uma
maneira geral, deixou brechas para que outras crenças se misturassem ao
catolicismo.
Com a insuficiência de pessoas para ordenar a religião católica na época do
Brasil Colônia, as adversidades foram acontecendo aos poucos, pois
[…] davam-se pela presença de apenas um bispado na colônia, o bispado da Bahia. A preocupação com as famílias dos senhores de engenho, por parte dos clérigos, e a diversidade de costumes, tanto dos indígenas - os quais compreendiam diversas etnias - quanto dos negros que compreendiam além de diversas etnias, diversas localidades da África, fizeram com que a fragilidade do Cristianismo acabasse por se fundir a outras crenças, tanto pagãs europeias, quanto indígenas e negras africanas. (SOUZA, 1986, p. 91).
Dessa forma, a criação do calendário, uma das experiências mais importantes
da civilização, foi aprimorada pela igreja como forma de domínio temporal pelo
sagrado. Conforme Itani, “a história do calendário moderno é também a história da
dominação da civilização europeia, a partir da Idade Média, impulsionada,
sobretudo, pela Igreja Católica, que passou a organizar os ritos festivos” (ITANI,
2003, p. 26). O calendário passou a ser um instrumento de poder diante do domínio
do tempo.
Segundo Itani,
Foi inicialmente abordado somente nos países de tradições católica. Com as revoluções da sociedade moderna, especialmente a partir do Século XVIII, surge a necessidade de um calendário único. A Grã-Bretanha adotou-o somente a partir de 1752, sobretudo com a Revolução Industrial, enquanto o Japão o fez em 1873, mas também mantendo o anterior. A Rússia adotou o calendário único somente em 1923 e a China, em 1949, com a Revolução Chinesa (ITANI, 2003, p. 32).
Hoje, nota-se que muitos calendários já não são publicados com a indicação
das luas. Apesar das festas atuais serem uma necessidade do ser humano, nota-se
que se trata de um fato político. É importante ressaltar que alguns costumes ainda
se conservam até hoje, trazendo expressões de sentimentos e emoções em todo o
mundo, especialmente no Brasil. O Dia das Crianças, Dia de Ação de Graças, O Ano
Novo (com vestes brancas), o Dia de Natal, as Festas de São João (Santo Antônio,
São João e São Pedro), Sábado de Aleluia, a festa da Páscoa da Ressurreição, o
respeito pela Sexta-Feira Santa e os enfeites extraordinários de Corpus Christi, Dia
da Padroeira do Brasil (feriado nacional), a Festa do Divino em diferentes regiões,
fazem do Brasil uma cultura vasta de conhecimento e que se reproduzem ao longo
das gerações dos costumes da humanidade, um país rico de festividades.
3. Conhecer para agir pedagogicamente: o conhecimento aplicado à sala de
aula
A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento (PLATÃO).
As atividades desenvolvidas ao longo da implementação no Colégio Estadual
Marechal Costa e Silva foram realizadas em três ações principais. Sendo a primeira
ação de apresentação do trabalho, construção do conhecimento e sondagem do que
os alunos já conheciam sobre festas do seu cotidiano; a segunda ação foi o
desenvolvimento prático pedagógico em sala de aula, com auxilio da Unidade
Didática, produzida com atividades para serem trabalhadas diretamente com os
alunos e, por fim, a ação que se desenvolveu por meio de uma oficina de pintura de
casquinhas de ovos e ensaio de uma encenação da Festa do Divino. Ou seja, se faz
cultura na vivência, pois ela se manifesta na liberdade do sujeito e se materializa na
comunidade ou como representação da mesma.
Mann, na obra As Confissões de Félix Krull, sustenta que
A cultura não se obtém com um labor obtuso e intensivo e é antes o produto da liberdade e da ociosidade exterior. Não se adquire, respira-se. O que trabalha para ela são os elementos ocultos. Uma secreta aplicação dos sentidos e do espírito, conciliável com um devaneio quase total em aparência, solicita diariamente as riquezas dessa cultura, podendo dizer-se que o eleito a adquire a dormir. Isto porque é necessário ser dúctil para se poder ser instruído. Ninguém pode adquirir o que não possui ao nascer, nem ambicionar o que lhe é estranho. Quem é feito de madeira ordinária nunca se afinará, porque quem se afina nunca foi grosseiro. Nesta matéria, é também muito difícil traçar uma linha de separação nítida entre o mérito pessoal e aquilo que se chama o favor das circunstâncias. (MANN, 2015, s/p).
Dessa forma, o trabalho cultural realizado foi uma representação dos
elementos da cultura do sagrado e do profano no espaço da escola. Este trabalho de
implementação contou diretamente com a participação dos alunos do sétimos anos
matutino, que tiveram a permissão de seus responsáveis para estarem no colégio no
período vespertino. Durante o período da implementação foram todos muito
assíduos, tendo acompanhamento constante da equipe pedagógica. Periodicamente
os pais e ou responsáveis dos alunos recebiam bilhetes informando sobre a atuação
dos mesmos nas atividades, além disso, eram informados a respeito do andamento
do trabalho e desempenho dos alunos na reunião periódica de pais e mestres
promovida pelo colégio.
3.1 O debate intencional com os alunos
Todo o conhecimento que não leva a novas perguntas rapidamente morre: não consegue manter a temperatura necessária para a manutenção da vida (Wislawa SZYMBORSKA).
A primeira ação desenvolvida junto aos alunos foi a apresentação do Projeto
de Intervenção Pedagógica na Escola – As Festas no Brasil Colonial: Dualidade
entre o Sagrado e o Profano e a distribuição de uma cópia da Unidade Didática para
cada aluno participante. Nesta etapa foi realizada uma sondagem onde o aluno teve
que definir o que é uma festa, relatar de quais festas o mesmo participa e sobre os
elementos presentes na festas que participam.
Após o registro de todos os participantes da implementação, houve a leitura
para compartilhamento dos registros individuais com o coletivo, na intenção de
averiguação do que são semelhantes e diferentes no envolvimento de cada aluno,
nas comunidades que frequentam fora da escola e de como vivem os festejos que
ocorrem no município ao longo do ano, observando suas crenças e tradições
familiares. Somente depois da investigação do que os alunos pensam sobre festa,
ocorreu a leitura dos primeiros textos, tiveram acesso a imagens e vídeos propostos
na Unidade Didática, proporcionando um aprofundamento teórico sobre o conteúdo
proposto pelo Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola.
Na Figura 1, educadora e educandos no processo de interação na construção do
objeto de manifestação folclórica da festa do divino. Desse registro fotográfico
abaixo ao trabalho pedagógico, a manifestação cultural se materializou com a
apresentação feita pelos alunos à comunidade escolar.
Figura 1 Alunos presentes na organização da festa do divino.
Fonte: Arquivo pessoal da autora.
3.2 As atividades desenvolvidas
O conhecimento dirige a prática; no entanto, a prática aumenta o conhecimento (Thomas FULLER).
As atividades desenvolvidas ao longo da implementação foram além das
previstas no Projeto de Intervenção e das propostas na Unidade Didática, pois no
decorrer do trabalho alguns ajustes foram necessários. Por exemplo, a encenação
da Festa do Divino, foi feita somente com os alunos da implementação e não para o
grande público (toda escola e comunidade local) como estava previsto. No entanto,
quando da etapa de sondagem, algumas curiosidades surgiram, principalmente
sobre a Festa Junina. Dessa forma, foram propostas pesquisas bibliográficas e
entrevistas com membros de algumas famílias, para saber como se dá o festejo
entre suas comunidades familiares.
Com a pesquisa e as entrevistas com as pessoas da comunidade, os alunos
tomaram conhecimento que para as festas acontecerem é preciso que haja
mobilização dos membros da família, que alguma família residente do município já
não realiza mais a festa, por falta de quem lidere a organização. Com a morte de
incentivadores do festejo junino, já em outros casos, a festa deixou de ser somente
para os membros da família e tornou aberta ao público que se interessa em
participar. É o caso do Arraiá da Família Furlan e Amigos que há sete anos
ininterruptos o festejo junino ocorre no sitio de um dos membros da família, sendo a
festa para manter a tradição, não havendo interesse lucrativo.
Durante os dois dias de festa fazem brincadeiras pertinentes ao festejo, o
casamento caipira e apresentação da quadrilha da família e do grupo da terceira
idade do município de Cidade Gaúcha. A alimentação típica da festa fica a cargo da
feira comunitária do município, a família fica responsável somente pela bebida, o
dinheiro arrecadado fica para cumprir as despensas da organização da festa, como
decoração, som e segurança.
Na Figura 2, o convite elaborado pela comissão organizadora da festa junina
da Família Furlan e amigos para divulgação da festa que já faz parte do calendário
das festividades do aniversário da cidade. A festa ocorre no sítio Braúna de
propriedade da família Furlan, localizado no município de Cidade Gaúcha.
Figura 2 Convite para a festa junina de 2015 da família Furlan e amigos.
Fonte: Edilaine Furlan.
Nesta etapa compreendida como a segunda ação, que constituiu no
desenvolvimento prático pedagógico em sala de aula, tendo como base a Unidade
Didática produzida para o trabalho diretamente voltado para com os alunos do
sétimos anos. Foram realizadas rodas de leituras onde se tratou com afinco sobre o
cunho social, histórico e político das festas. Com os textos, imagens e vídeos
trabalharam-se os conceitos, as características e as origens de algumas festas
celebradas no território brasileiro.
Para o aluno Eduardo Ribeiro Ikeda(2005), a festa junina e o momento de
viver um pouco da roça, onde a família se reúne e constitui em diversão com os
primos. “é o maior barato a festa junina na chácara do vô João. A comida gostosa e
dança à noite toda. Melhor do que a festa que há aqui na escola.Porque lá posso
brincar com meus primos de fora.”( CIDADE GAÚCHA , 2015)
A cada leitura, análise de imagem e vídeo assistindo ocorreram debates do
que foi visto onde cada aluno expôs suas conclusões tendo a intervenção da
professora PDE ou de membro da equipe pedagógica presente e até mesmo da
direção auxiliar, quando preciso. Por parte dos alunos tiveram o cuidado de manter
as atividades propostas na Unidade Didática em dia, com anotações e
apontamentos requeridos em cada conteúdo visto nos encontros da implementação.
Entre as atividades de ensaio para encenação da festa do Divino, montagem
do painel com as principais festas realizadas no Brasil, confecção de máscaras
carnavalescas o que mais os alunos demonstraram interesse de participar foi da
oficina da pintura de casquinhas de ovos, quando trabalhado a Festa da Páscoa,
cuja essencialidade reside na pêssankas (pysanka), que são ovos coloridos
inteiramente de forma artesanal. Na Ucrânia, os mesmos são entregues na Páscoa
com os cumprimentos de cumprimentos "Hréstos Voskrés" (Cristo ressuscitou) e
"Voístenu Voskrés" (Em verdade ressuscitou).
Frente ao desafio de “pintar” os ovos de páscoa houve comprometimento e
envolvimento total de todos, desde a coleta das casquinhas, procedimentos de
mantê-las armazenadas corretamente para posterior trabalho na oficina e também
no compartilhamento dos pincéis e das tintas. Na oficina os alunos deixaram
registrada a criatividade de cada um, mesmo sendo a oficina um trabalho no
coletivo.
Para exemplificar, a Figura 3 traz a imagem de ovos pintados por nossos
alunos, onde cada qual pintou de acordo com sua vontade. Percebe-se pela imagem
sinais da aprendizagem.
Figura 3: Ovos pintados pelos alunos na Oficina de Pintura.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
Na Figura 4, traz a imagem dos alunos em atividades de pintura, que é um
trabalho também de reflexão, cujo caráter central está na escolha das cores, no trato
com o pincel e na busca da harmonia das cores.
Figura 4 Alunos na Oficina de pintura.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
Ao longo das atividades propostas na Unidade Didática os alunos obtiveram
uma nova percepção das razões das festas, que são comemoradas nos dias atuais,
sendo que algumas se distanciaram dos motivos do contexto de suas origens, que
dentro do país há festejos que recebem mais atenção em uma determinada região
do que em outra. A festa do Divino, muitos não sabiam de sua realização e os que
tinham conhecimento da festa por ter visto reportagem na televisão. O que tornou
enriquecedor foi o fato de conhecerem os símbolos e adereços usados na
celebração da festa, reconhecendo o festejo em algumas regiões do país, como é o
caso do estado de Goiás o qual é visto como um atrativo turístico religioso. Esta
festa passa a ter nos dias de hoje um sentido maior de manifestação cultural do que
uma celebração de cunho religioso.
Para o aluno Douglas Lira Castro, de todas as festas celebradas em território
brasileiro a festa do Divino foi quem chamou sua atenção e segundo ele deveria
ocorrer em todas as cidades do país. Com o intuito de arrecadar donativos para
entregar aos menos favorecidos. “Há por todos os lugares pessoas precisando de
auxilio, havendo festas com doações, alem de brincar e nos divertir fazemos boas
ações ao próximo. E tanto hoje quanto no Brasil Colônia, têm muitos que precisam
de ajuda, devido à falta de emprego ou doença”( CIDADE GAÚCHA , 2015)
Em relação à festa da Páscoa no entendimento dos alunos, no contexto atual
há uma comemoração mecanizada prevalecendo o sentido comercial, havendo a
troca de ovos de chocolate, pois o sentido religioso é pouco vivenciado na
comunidade familiar e até mesmo nas comunidades religiosas. A chamada “Semana
Santa” e os demais rituais vêm se modificando ao longo das gerações, conforme
dados que os alunos pesquisaram junto aos familiares. Alguns alegaram que
mudanças de denominações religiosas por parte de membros da família têm feito
com que os hábitos e a maneira de celebrar algumas festas religiosas e até mesmo
laicas têm sofrido transformações ou estão sendo esquecidas.
Ao pintarem os ovos o sentimento manifestado nos alunos foi de descoberta,
pois a grande maioria não conhecia o ato de presentear alguém com casquinhas de
ovos recheadas com amendoim torrado, na comemoração da Páscoa. Em conversa
em casa passaram a ter conhecimento sobre essa prática que já fez parte do
cotidiano da família em tempo não muito distante.
A aluna Jessica Vitória Tabaquim quando perguntado o que é Páscoa, ela
assim definiu: “A Páscoa é a maior festa do mundo cristão, onde revivemos a
história da ressurreição de Cristo e devemos demonstrar alegria do viver” (CIDADE
GAÚCHA, 2015). E a respeito da prática da pintura dos ovos para comemorar a
Páscoa a aluna Mayra Gouvea fez as seguintes observações: “Ao pintar as
casquinhas de ovos com cores alegres para presentear amigos e parentes, estou
demonstrando a alegria de celebrar a vida de Cristo, a união entre as pessoas”
(CIDADE GAÚCHA, 2015).
Ao final da implementação, a festa da Páscoa para grande parte dos alunos
dos sétimos ano do colégio, é ainda a que mais conserva rituais religiosos das festas
comemoradas no território brasileiro. Reconhecem que há diferentes modos em sua
comemoração no que diz respeito às diferentes princípios religiosos presentes no
país, que cada grupo religioso faz a comemoração respeitando os seus dogmas.
Entre os apontamentos da Equipe Pedagógica e dos colegiados do Colégio
sobre a atividade da implementação, a pedagoga Solange Passamani declarou que
trabalhar o tema das festas no Brasil Colonial como foi desenvolvido junto aos
alunos, está dentro do que se pede nas diretrizes curriculares da educação. Para
ela, “O tema da implementação da professora daria para ser trabalhado também
junto aos alunos do Ensino Médio, visto que questões disponibilizadas pela Folha de
Londrina para preparação dos alunos para prova do ENEM, abordaram várias
questões da disciplina de História sobre as festas celebradas no país” (CIDADE
GAÚCHA, 2015). E ainda comentou, que os alunos que participaram da
implementação tiveram maior empenho em participar da confraternização do
segundo semestre na escola, quando se faz uma pequena comemoração da festa
junina nos três períodos. Segunda ela, “Os alunos caracterizaram com roupas para
festas juninas, realizaram pesquisas bibliográficas para o conhecimento das
diferentes culturas, com o objetivo primordial o acolhimento das famílias, as danças,
comidas típicas, vestimentas, músicas, versos, ritmos” (CIDADE GAÚCHA, 2015).
Desse modo os alunos demonstraram uma valorização maior para a
confraternização envolveu todos os alunos da escola e seus profissionais,
compartilhando um lanche coletivo com apresentações Juninas.
3.3 A oficina de pintura como método pedagógico
Os símbolos são sempre os mesmos porque têm significados milenares, mas cada artista pode colocar as próprias características e criatividade na pintura (Tetianna BACHTZEN).
As atividades propostas para o trabalho junto dos alunos foram muito bem
estudadas e previamente planejadas após leitura e adequação à série dos alunos e
faixa etária. E a oficina como metodologia pedagógica na implementação foi
inspirada na ideia da confecção de ovos decorados exposta por Itani ,que afirma o
seguinte: “a atividade de decoração dos ovos para serem ofertados é sempre muito
rica de possibilidades, apresentando inúmeras vantagens ao processo educativo”
(ITANI, 2003, p.87).
Na figura 5, o processo pedagógico da arte de pintar se manifesta na atitude
de participar do projeto PDE pelos alunos. Portanto, a materialidade é uma ação de
ensino e de aprendizagem que se faz presente no espaço escolar, pois carrega a
intenção da ação e reação, cuja presença da simbologia da Pêssanka simboliza
vida, saúde e prosperidade entre os ucranianos. Além disso, as pêssankas são
símbolos de respeito, mas expressam os sentimentos e os desejos conforme os
desenhos pintados em cada ovo. Guardadas por um ano na casa, servem de
decoração e proteção contra o mal.
Figura 5: alunos na Oficina de pintura de casquinhas de ovos.
Fonte: Arquivo pessoal da autora
E assim vêm reafirmar o que Candau (1995), fala sobre a oficina como
espaço de construção coletiva do conhecimento análise do cotidiano, promovendo
troca de experiências. Onde se dá a socialização, vivenciam situações concretas de
cada aluno, manifestações de diferentes expressões da cultura popular, trazendo
elementos fundamentais para razão de existir de uma oficina pedagógica.
Com o trabalho da oficina pode se perceber a pedagogia proposta por Paulo
Freire que trata do diálogo, organização e ação coletiva e que na formação dos
alunos na verdade “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelos mundos” (FREIRE, 1987, p. 68).
4. Considerações finais
As festas de cunho religioso ou laica ocorrem no território brasileiro
anualmente, o calendário registra festejos de norte a sul, leste e oeste do país.
Atraindo seus públicos de acordo com as atrações oferecidas. Mas este mesmo
público em sua maioria desconhece o sentido da festa em que está participando, a
origem histórica da mesma e o valor cultural nela contido. No entanto, na prática as
festas religiosas ou profanas, segundo Del Priore (1994), constitui na oportunidade
das pessoas de diferentes faixas etárias “exprimir suas emoções em múltiplas
ocasiões”.
Os organizadores das festas introduzem nelas os valores e normas da vida
coletiva, aos participantes a extravasar suas frustrações com trabalho e convivência
social. Em tudo isso há uma riqueza que não fica alheia a construção cultural de um
povo. No caso brasileiro a festa trazida pelos portugueses buscou-se “separar as
festas religiosas das profanas”, no entanto, elas “caminham juntas” (DEL PRIORE,
1994, p. 18,19), e as contribuições dos indígenas e do negro com suas culturas ai
que não se consegue desassociar uma da outra.
Sendo as festas indiscutivelmente um espaço que se propõe inúmeras
interpretações, convivendo lado a lado o mundo profano e o mundo sagrado, desde
período colonial ao cotidiano atual dos alunos. O conteúdo abordado é rico no
contexto sócio cultural e necessário sua contextualização sócia histórica nas aulas
dos alunos na educação básica, no sentido de terem o conhecimento da história do
Brasil em sua totalidade.
Nesse sentido, ao longo da implementação, os alunos tomaram conhecimento
das diferentes origens das festas, as mudanças ocorridas no modo em que elas são
realizadas e os propósitos das mesmas ao longo do tempo. Passaram a ter um olhar
diferenciado para o calendário festivo do município, sabendo distinguir os que são
de cunho religioso dos que não são. Também sabendo reconhecer quando o laico e
o sagrado se fazem presentes nas festas em que eles participam.
5 REFERÊNCIAS
CANDAU, Fera Maria et al. Oficinas pedagógicas de direitos humanos. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e Utopias no Brasil Colonial. São Paulo, Brasiliense,2000.
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FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 18ª ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1997 (Coleção polêmicas do nosso tempo).
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