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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA · PDF fileNeste processo, Tinhorão (2000) assevera que, desde a chegada de Cabral, as festas no Brasil se caracterizavam pela forma autoritária,

AS FESTAS NO BRASIL COLONIAL: DUALIDADE ENTRE O SAGRADO E O PROFANO

Linda Salete Mondo Pacheco1

Vanderlei Amboni2

Resumo: O presente trabalho apresenta o resultado da pesquisa, que teve como objetivo estudar de que modo ocorriam as festas da época do Brasil Colonial e o fenômeno entre o sagrado e o profano presente nas manifestações culturais, promovidas pela elite colonial. Com a multiculturalidade étnica existente no Brasil colônia, observando a atuação dos povos indígenas, dos negros escravizados, e dos europeus conquistadores, na contribuição de cada grupo étnico na formação cultural do país. A cultura tem um caráter conservador, tendo na ordem religiosa sua maior representante do Brasil Colônia, neste período no Brasil. As festas também exerciam o papel de socialização da colonização. As festas do Brasil Colonial eram relacionadas ao calendário religioso católico, mas também eram motivos para realização de festas públicas para celebrar o nascimento de um príncipe, casamentos reais ou aclamações de um soberano. Palavras-chave: Brasil Colônia. Festas Culturais. Sagrado. Profano.

1. Introdução

A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado (André MALRAUX).

Neste artigo, discorremos sobre a maneira que processou a construção da

cultura, no âmbito da religiosidade e do popular no contexto da histórica do Brasil

Colonial. Com intuito de aproximar os conhecimentos sistematizados dos

conhecimentos do cotidiano popular, de forma articulada com o passado e o

presente da vida social na sociedade brasileira. Para tanto, analisamos a atuação e

contribuição dos povos indígenas, habitantes da terra antes da colonização. Depois

da chegada dos povos europeus, foi acrescentada a força de trabalho do africano

escravizado na formação da nação brasileira, caracterizando-se, dessa forma, um

país de diversidades étnico-racial.

1 Professora PDE 2014, disciplina de História, atua no Colégio Estadual Marechal Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio, Cidade Gaúcha – PR, Núcleo Regional de Educação de Cianorte. 2 Professor do Colegiado de História da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Paranavaí – UNESPAR, Doutor em Educação, pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Endereço virtual: [email protected]

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É preciso ressaltar, portanto, que desenvolver o trabalho pedagógico em sala

de aula sobre este assunto, na disciplina de História, é proporcionar aos alunos um

estudo voltado ao conhecimento histórico e cultural, tanto de festas religiosas,

quanto laicas durante o período colonial. A cultura no período colonial tem um

caráter totalmente conservador, por se contextualizar no âmbito da religiosidade

onde predominava a fé católica.

O alunado de hoje desconhece as características das festas de então e quais

os papéis que desempenhavam dentro da sociedade. Nas festas expressam as

emoções marcadas pelas especificidades e diferenças as quais eram submetidos,

principalmente os povos dominados (negros e indígenas). Portanto, eram nas festas

que os pobres tinham a oportunidade de se incluírem como cidadãos comuns, ou

seja, invertendo a classe social, com uso de coroas e vestimentas mais elegantes.

Partindo do pressuposto de que é necessário maior aprofundamento sobre os

estudos da história sobre tradições, culturas e festas religiosas do Brasil colonial,

bem como as festas profanas. No Programa de Desenvolvimento Educacional

estudamos e realizamos a implementação do tema, junto aos alunos dos sétimos

anos, do Colégio Estadual Marechal Costa e Silva, no município de Cidade Gaúcha,

destacando a compreensão do valor que as pessoas mais simples davam para suas

vidas e que a religiosidade era mostrada de forma respeitável e, ao mesmo tempo,

lúdica, principalmente aos escravos.

2. O Legado Histórico Cultural das Festas no Brasil Colônia

A cultura está acima da diferença da condição

social (CONFÚCIO).

As festas estão presentes e também são celebradas em diferentes momentos

da vida humana, mas alguns autores afirmam que pouco se estuda sobre elas. Para

Del Priore, (1994, p.9) o “tempo de festa tem sido celebrado ao longo da história dos

homens” e Itani enfatiza que “a festa é um fato social, histórico e político. Ela

constitui o momento e o espaço da celebração, da brincadeira, dos jogos, da música

e da dança. Celebra a vida e a criação do mundo” (ITANI, 2003, p. 07).

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Tanto Del Priori, tanto quanto Itani, ressaltam as festas no devir do homem.

Dessa forma, o produto dessas ações se transforma em conhecimento e tem, na

escola, seu meio de ação. Por isso, a escola constitui no espaço onde se dá o

diálogo dos “conhecimentos sistematizados e dos conhecimentos do cotidiano

popular” (PARANÁ, 2008, p. 21). É no âmbito da escola, que o conhecimento do

aluno pode criar perspectivas para as teorias críticas da educação. Neste caso,

Lopes traz que “o processo de ensino deve transmitir aos alunos a lógica do

conhecimento da referência. [...] é do saber especializado e acumulado pela

humanidade, que devem ser extraídos os conceitos e os princípios a serem

ensinados aos alunos” (LOPES, 2002, p. 151-152). Partindo desse pressuposto e,

diante da necessidade de um estudo voltado à história da cultura religiosa e histórica

do Brasil Colonial, entendeu-se a necessidade dessa pesquisa, pois este

conhecimento se aproxima com os conhecimentos sistematizados e os

conhecimentos do cotidiano popular de forma articulada com o passado no presente

da vida social no Brasil.

Partindo da premissa que o Brasil se tornou uma nação multicultural, com os

mais diversos legados dos povos indígenas, dos povos europeus e do povo negro,

que contribuíram para a formação da nação brasileira, que é caracterizado como

país de diversidade étnico-racial. Dessa forma, torna-se necessário evidenciar o

estudo da história do Brasil Colonial sobre tradições, culturas e festas religiosas,

bem como as festas profanas, pois passaram a ser relevantes para o estudo das

culturas locais. Na perspectiva do estudo, os alunos têm condições de realizar

interpretações historiográficas e fazer leituras de documentos históricos sobre a

formação do país. Ao propor os estudos das relações culturais no ensino de História,

as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p. 66), entende a cultura como

aquela que permite conhecer os conjuntos de significados que os homens

conferiram à sua realidade para explicar o mundo. E, nesse propósito, buscamos

estudar o período do Brasil Colonial, pois os acontecimentos do passado ainda se

fazem presentes na vida de muitos brasileiros, como a cultura, as festas religiosas,

as tradições, os costumes, trabalho escravo e a discriminação entre classes sociais.

Não obstante, Williams (2003), afirma que a cultura é comum a todos os seres

humanos pelo fato de haver uma estrutura comum de modos de pensar, de agir e

perceber o mundo, que leva à constituição de organizações sociais diferentes. Para

ele, a cultura tradicional é um patrimônio comum, uma herança comum, que a

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educação tem a tarefa de difundir e tornar acessível a todas as classes sociais, da

mesma forma que a cultura popular.

Visto como uma necessidade para se compreender a história da colonização

e dos povos conquistados e colonizados, implica em voltar aos princípios históricos

para se entender o presente. Neste sentido, uma volta à história torna-se

necessária, pois as pessoas já sofriam diante das injustiças e que, por meio das

festas populares, das músicas, dos cantos, das poesias e procissões religiosas,

viam-se como livres, pois é um momento único para se unirem aos povos de

costumes tradicionais e considerados “humanos”. Momento este que se revestiam

de vestimentas e colares e sentiam o gosto da liberdade, da humanidade liberta do

homem.

Os negros chegaram ao Brasil trazendo seus costumes, contribuindo dessa

forma para a construção da cultura brasileira. Viviam num mundo de escravidão

onde serviam aos seus senhores, sendo muitas vezes discriminados e humilhados.

Com suas tradições africanas, tentavam levar uma vida humanizada, apesar das

diferenças de culturas já existentes à época.

Dessa forma, em meio aos seus senhores, tinham a oportunidade de

festejarem e alegrarem-se junto aos demais, independente da classe social. Itani

sustenta que “quando se festeja, no conteúdo histórico das festas pode-se ver o ser

humano em sua criação, em seus costumes, símbolos e suas crenças, pelos seus

ritos, seus cantos, suas músicas e danças” (ITANI, 2003, p. 15). No entanto, ao

resgatar os costumes, a religião, as festas e culturas da época do Brasil Colônia,

depara-se com a questão da religiosidade popular daquele tempo, bem como com

as preocupações da Igreja Católica, pois esta se voltava aos interesses dos

senhores de engenho, onde índios e negros estavam subsumidos e obrigados a

participarem dos costumes religiosos de seus senhores.

As condições de participantes nas celebrações festivas no Brasil Colônia,

tanto dos europeus integrantes da frota de Cabral e dos indígenas, consta na carta

de Pero Vaz de Caminha, segundo Tinhorão,

[...] a carta do escrivão da frota de Cabral deixa bem claro, quando mostra não apenas a posição de mero espectador curioso dos indígenas nas cerimônias de júbilo oficial dos visitantes nesse primeiro contato com a sua terra, mas da maioria dos próprios tripulantes portugueses, levados pela distância social a participar também apenas como testemunhas na comemoração de um feito particular das suas elites (TINHORÃO, 2000, p. 16).

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Nas festas celebradas no Brasil Colonial, houve a criação da diversidade

cultural com a integração, tanto dos negros, quanto dos indígenas, onde a

religiosidade se formara com práticas religiosas não condizentes aos dos seus

senhores. Em suas festas, as danças, as poesias e as músicas predominavam na

expressão de sentimentos, tanto alegre, quanto triste. Assim, no Brasil, começou a

se formar a diversidade cultural-étnica. A religiosidade popular colonial devido à

multiplicidade de povos — negros, indígenas e portugueses — criou-se a

multiplicidade de crenças e religiões.

O Brasil é fundamentalmente um país católico e suas origens remontam à

construção da identidade do brasileiro em suas múltiplas dimensões étnico-racial,

tendo no colonizador seus fundamentos ideológicos religiosos.

Neste processo, Tinhorão (2000) assevera que, desde a chegada de Cabral,

as festas no Brasil se caracterizavam pela forma autoritária, com que se deu a

transposição dos valores ibero-europeus, oficiais e religiosos, à cultura indígena e

crioula, e, ao mesmo tempo, pela incapacidade do poder colonial de controlar a

participação popular nos eventos públicos, constituindo aquilo que o pesquisador

chama de “oportunismo lúdico” do povo miúdo constituído por governados,

fregueses e, por vezes, escravos.

Conforme Maestri (1994, p. 97) “a escravidão era uma forma de produção

rentável e uma instituição difundida e aceita por amos e trabalhadores escravizados.

Os cativos se rebelavam contra a sua escravização, e não contra a instituição”.

Diante da imposição cultural, os negros procuravam nas irmandades um pouco de

vida digna, louvando seus santos de devoção. Este era um meio que os negros

encontravam para se fortalecerem. Assim, nas reuniões de grupos, dançavam e

cantavam, fazendo dos seus rituais uma forma de pacificação da alma. Outro

elemento importante eram as brincadeiras, que fazia parte do processo de

socialização e trazia alegria e risos.

Nas palavras de Tinhorão, as festas tinham um

[...] caráter coletivo – tal como hoje o carnaval, por exemplo – eram inconcebíveis ao tempo da chegada ao Brasil de portugueses oriundo de uma Europa mal saída do controle teocrático da sociedade, através do conceito da responsabilidade pessoal ante o pecado, que impunha aos cristãos, vigilância permanente contra os impulsos pagão-dionisíacos herdados do mundo antigo.

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Assim, o que durante mais de duzentos anos se registra como aproveitamento coletivo do lazer na colônia americana de Portugal não seriam propriamente festas dedicadas à fruição do impulso individual para o lúdico, mas momentos de sociabilidade festiva, propiciados ora por efemérides ligadas ao poder do Estado, ora pelo calendário religioso estabelecido pelo poder espiritual da Igreja (TINHORÃO, 2000, p. 7).

Não obstante, Fausto (2009) afirma que, a sociedade colonial se forma a

partir das três matrizes étnicas, na qual, independentemente da condição social, é

incontestável a contribuição cultural de cada uma delas. A significativa presença

destas etnias, as atividades comerciais e produtivas, a catequese imposta aos

indígenas e a influência europeia foram elementos essenciais para a formação

cultural no período colonial. Por isso, ele pontua que “A cultura religiosa foi o mais

importante instrumento de colonização. Toda ela “importada” pelos jesuítas, que

exerceram por três séculos o monopólio da educação, do pensamento culto e da

produção artística” (FAUSTO, 2009, p. 55). Dessa forma, os povos colonizados

deviam obediência à igreja católica, onde a mesma dizia ser contra a escravidão,

mas nada fizeram para que isso não acontecesse.

Em seus estudos, Fausto (2009) assinala que essa sociedade não era só de

mineradores negociantes, advogados, padres, fazendeiros, artesãos, burocratas,

militares, e que a vida social concentrou-se nas cidades como centro de residências,

dos negócios e das festas comemorativas. Nelas, ocorriam as manifestações

culturais no campo das artes, das letras, da música e da religião.

Neste sentido, ao refletir sobre essa questão, Souza observa que:

O cristianismo vivido pelo povo caracterizava-se por um profundo desconhecimento dos dogmas, pela participação na liturgia sem a compreensão do sentido dos sacramentos e da própria missa. Afeito ao universo mágico, o homem distinguia mal o natural do sobrenatural, o visível do invisível, a parte do todo, a imagem da coisa figurada. Na maior parte das vezes, a organização catequética tridentina não conseguiria senão a aprendizagem por memorização de poucos rudimentos religiosos, dos quais nem sempre se entendia o significado pleno e que, passados alguns anos, eram esquecidos. Neste sentido, não discrepava do contexto europeu a religiosidade impregnada de paganismo do século XV português, a ‘complexa fusão de crenças e de práticas, teoricamente batizada de cristianismo, mas praticamente desviada. Um ‘cristianismo de fachada (SOUZA, 1986, p. 81).

Contudo, acentua Souza (1986) ,que mesmo com a tarefa de catequizar e

propagar a fé, conforme foi instituída pelo Concílio de Trento, essas obrigações, por

parte da Igreja, na prática, eram falhas. Embora o catolicismo fosse ensinado aos

indígenas e aos negros, posteriormente os missionários não conseguiam fazer com

que a religião fosse praticada da maneira como se queria devido às adversidades

dos povos escravizados, o tamanho da colônia e a resistência indígena à

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catequização. Dessa forma, a insuficiência herdada pela Igreja católica, de uma

maneira geral, deixou brechas para que outras crenças se misturassem ao

catolicismo.

Com a insuficiência de pessoas para ordenar a religião católica na época do

Brasil Colônia, as adversidades foram acontecendo aos poucos, pois

[…] davam-se pela presença de apenas um bispado na colônia, o bispado da Bahia. A preocupação com as famílias dos senhores de engenho, por parte dos clérigos, e a diversidade de costumes, tanto dos indígenas - os quais compreendiam diversas etnias - quanto dos negros que compreendiam além de diversas etnias, diversas localidades da África, fizeram com que a fragilidade do Cristianismo acabasse por se fundir a outras crenças, tanto pagãs europeias, quanto indígenas e negras africanas. (SOUZA, 1986, p. 91).

Dessa forma, a criação do calendário, uma das experiências mais importantes

da civilização, foi aprimorada pela igreja como forma de domínio temporal pelo

sagrado. Conforme Itani, “a história do calendário moderno é também a história da

dominação da civilização europeia, a partir da Idade Média, impulsionada,

sobretudo, pela Igreja Católica, que passou a organizar os ritos festivos” (ITANI,

2003, p. 26). O calendário passou a ser um instrumento de poder diante do domínio

do tempo.

Segundo Itani,

Foi inicialmente abordado somente nos países de tradições católica. Com as revoluções da sociedade moderna, especialmente a partir do Século XVIII, surge a necessidade de um calendário único. A Grã-Bretanha adotou-o somente a partir de 1752, sobretudo com a Revolução Industrial, enquanto o Japão o fez em 1873, mas também mantendo o anterior. A Rússia adotou o calendário único somente em 1923 e a China, em 1949, com a Revolução Chinesa (ITANI, 2003, p. 32).

Hoje, nota-se que muitos calendários já não são publicados com a indicação

das luas. Apesar das festas atuais serem uma necessidade do ser humano, nota-se

que se trata de um fato político. É importante ressaltar que alguns costumes ainda

se conservam até hoje, trazendo expressões de sentimentos e emoções em todo o

mundo, especialmente no Brasil. O Dia das Crianças, Dia de Ação de Graças, O Ano

Novo (com vestes brancas), o Dia de Natal, as Festas de São João (Santo Antônio,

São João e São Pedro), Sábado de Aleluia, a festa da Páscoa da Ressurreição, o

respeito pela Sexta-Feira Santa e os enfeites extraordinários de Corpus Christi, Dia

da Padroeira do Brasil (feriado nacional), a Festa do Divino em diferentes regiões,

fazem do Brasil uma cultura vasta de conhecimento e que se reproduzem ao longo

das gerações dos costumes da humanidade, um país rico de festividades.

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3. Conhecer para agir pedagogicamente: o conhecimento aplicado à sala de

aula

A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento (PLATÃO).

As atividades desenvolvidas ao longo da implementação no Colégio Estadual

Marechal Costa e Silva foram realizadas em três ações principais. Sendo a primeira

ação de apresentação do trabalho, construção do conhecimento e sondagem do que

os alunos já conheciam sobre festas do seu cotidiano; a segunda ação foi o

desenvolvimento prático pedagógico em sala de aula, com auxilio da Unidade

Didática, produzida com atividades para serem trabalhadas diretamente com os

alunos e, por fim, a ação que se desenvolveu por meio de uma oficina de pintura de

casquinhas de ovos e ensaio de uma encenação da Festa do Divino. Ou seja, se faz

cultura na vivência, pois ela se manifesta na liberdade do sujeito e se materializa na

comunidade ou como representação da mesma.

Mann, na obra As Confissões de Félix Krull, sustenta que

A cultura não se obtém com um labor obtuso e intensivo e é antes o produto da liberdade e da ociosidade exterior. Não se adquire, respira-se. O que trabalha para ela são os elementos ocultos. Uma secreta aplicação dos sentidos e do espírito, conciliável com um devaneio quase total em aparência, solicita diariamente as riquezas dessa cultura, podendo dizer-se que o eleito a adquire a dormir. Isto porque é necessário ser dúctil para se poder ser instruído. Ninguém pode adquirir o que não possui ao nascer, nem ambicionar o que lhe é estranho. Quem é feito de madeira ordinária nunca se afinará, porque quem se afina nunca foi grosseiro. Nesta matéria, é também muito difícil traçar uma linha de separação nítida entre o mérito pessoal e aquilo que se chama o favor das circunstâncias. (MANN, 2015, s/p).

Dessa forma, o trabalho cultural realizado foi uma representação dos

elementos da cultura do sagrado e do profano no espaço da escola. Este trabalho de

implementação contou diretamente com a participação dos alunos do sétimos anos

matutino, que tiveram a permissão de seus responsáveis para estarem no colégio no

período vespertino. Durante o período da implementação foram todos muito

assíduos, tendo acompanhamento constante da equipe pedagógica. Periodicamente

os pais e ou responsáveis dos alunos recebiam bilhetes informando sobre a atuação

dos mesmos nas atividades, além disso, eram informados a respeito do andamento

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do trabalho e desempenho dos alunos na reunião periódica de pais e mestres

promovida pelo colégio.

3.1 O debate intencional com os alunos

Todo o conhecimento que não leva a novas perguntas rapidamente morre: não consegue manter a temperatura necessária para a manutenção da vida (Wislawa SZYMBORSKA).

A primeira ação desenvolvida junto aos alunos foi a apresentação do Projeto

de Intervenção Pedagógica na Escola – As Festas no Brasil Colonial: Dualidade

entre o Sagrado e o Profano e a distribuição de uma cópia da Unidade Didática para

cada aluno participante. Nesta etapa foi realizada uma sondagem onde o aluno teve

que definir o que é uma festa, relatar de quais festas o mesmo participa e sobre os

elementos presentes na festas que participam.

Após o registro de todos os participantes da implementação, houve a leitura

para compartilhamento dos registros individuais com o coletivo, na intenção de

averiguação do que são semelhantes e diferentes no envolvimento de cada aluno,

nas comunidades que frequentam fora da escola e de como vivem os festejos que

ocorrem no município ao longo do ano, observando suas crenças e tradições

familiares. Somente depois da investigação do que os alunos pensam sobre festa,

ocorreu a leitura dos primeiros textos, tiveram acesso a imagens e vídeos propostos

na Unidade Didática, proporcionando um aprofundamento teórico sobre o conteúdo

proposto pelo Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola.

Na Figura 1, educadora e educandos no processo de interação na construção do

objeto de manifestação folclórica da festa do divino. Desse registro fotográfico

abaixo ao trabalho pedagógico, a manifestação cultural se materializou com a

apresentação feita pelos alunos à comunidade escolar.

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Figura 1 Alunos presentes na organização da festa do divino.

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

3.2 As atividades desenvolvidas

O conhecimento dirige a prática; no entanto, a prática aumenta o conhecimento (Thomas FULLER).

As atividades desenvolvidas ao longo da implementação foram além das

previstas no Projeto de Intervenção e das propostas na Unidade Didática, pois no

decorrer do trabalho alguns ajustes foram necessários. Por exemplo, a encenação

da Festa do Divino, foi feita somente com os alunos da implementação e não para o

grande público (toda escola e comunidade local) como estava previsto. No entanto,

quando da etapa de sondagem, algumas curiosidades surgiram, principalmente

sobre a Festa Junina. Dessa forma, foram propostas pesquisas bibliográficas e

entrevistas com membros de algumas famílias, para saber como se dá o festejo

entre suas comunidades familiares.

Com a pesquisa e as entrevistas com as pessoas da comunidade, os alunos

tomaram conhecimento que para as festas acontecerem é preciso que haja

mobilização dos membros da família, que alguma família residente do município já

não realiza mais a festa, por falta de quem lidere a organização. Com a morte de

incentivadores do festejo junino, já em outros casos, a festa deixou de ser somente

para os membros da família e tornou aberta ao público que se interessa em

participar. É o caso do Arraiá da Família Furlan e Amigos que há sete anos

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ininterruptos o festejo junino ocorre no sitio de um dos membros da família, sendo a

festa para manter a tradição, não havendo interesse lucrativo.

Durante os dois dias de festa fazem brincadeiras pertinentes ao festejo, o

casamento caipira e apresentação da quadrilha da família e do grupo da terceira

idade do município de Cidade Gaúcha. A alimentação típica da festa fica a cargo da

feira comunitária do município, a família fica responsável somente pela bebida, o

dinheiro arrecadado fica para cumprir as despensas da organização da festa, como

decoração, som e segurança.

Na Figura 2, o convite elaborado pela comissão organizadora da festa junina

da Família Furlan e amigos para divulgação da festa que já faz parte do calendário

das festividades do aniversário da cidade. A festa ocorre no sítio Braúna de

propriedade da família Furlan, localizado no município de Cidade Gaúcha.

Figura 2 Convite para a festa junina de 2015 da família Furlan e amigos.

Fonte: Edilaine Furlan.

Nesta etapa compreendida como a segunda ação, que constituiu no

desenvolvimento prático pedagógico em sala de aula, tendo como base a Unidade

Didática produzida para o trabalho diretamente voltado para com os alunos do

sétimos anos. Foram realizadas rodas de leituras onde se tratou com afinco sobre o

cunho social, histórico e político das festas. Com os textos, imagens e vídeos

trabalharam-se os conceitos, as características e as origens de algumas festas

celebradas no território brasileiro.

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Para o aluno Eduardo Ribeiro Ikeda(2005), a festa junina e o momento de

viver um pouco da roça, onde a família se reúne e constitui em diversão com os

primos. “é o maior barato a festa junina na chácara do vô João. A comida gostosa e

dança à noite toda. Melhor do que a festa que há aqui na escola.Porque lá posso

brincar com meus primos de fora.”( CIDADE GAÚCHA , 2015)

A cada leitura, análise de imagem e vídeo assistindo ocorreram debates do

que foi visto onde cada aluno expôs suas conclusões tendo a intervenção da

professora PDE ou de membro da equipe pedagógica presente e até mesmo da

direção auxiliar, quando preciso. Por parte dos alunos tiveram o cuidado de manter

as atividades propostas na Unidade Didática em dia, com anotações e

apontamentos requeridos em cada conteúdo visto nos encontros da implementação.

Entre as atividades de ensaio para encenação da festa do Divino, montagem

do painel com as principais festas realizadas no Brasil, confecção de máscaras

carnavalescas o que mais os alunos demonstraram interesse de participar foi da

oficina da pintura de casquinhas de ovos, quando trabalhado a Festa da Páscoa,

cuja essencialidade reside na pêssankas (pysanka), que são ovos coloridos

inteiramente de forma artesanal. Na Ucrânia, os mesmos são entregues na Páscoa

com os cumprimentos de cumprimentos "Hréstos Voskrés" (Cristo ressuscitou) e

"Voístenu Voskrés" (Em verdade ressuscitou).

Frente ao desafio de “pintar” os ovos de páscoa houve comprometimento e

envolvimento total de todos, desde a coleta das casquinhas, procedimentos de

mantê-las armazenadas corretamente para posterior trabalho na oficina e também

no compartilhamento dos pincéis e das tintas. Na oficina os alunos deixaram

registrada a criatividade de cada um, mesmo sendo a oficina um trabalho no

coletivo.

Para exemplificar, a Figura 3 traz a imagem de ovos pintados por nossos

alunos, onde cada qual pintou de acordo com sua vontade. Percebe-se pela imagem

sinais da aprendizagem.

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Figura 3: Ovos pintados pelos alunos na Oficina de Pintura.

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Na Figura 4, traz a imagem dos alunos em atividades de pintura, que é um

trabalho também de reflexão, cujo caráter central está na escolha das cores, no trato

com o pincel e na busca da harmonia das cores.

Figura 4 Alunos na Oficina de pintura.

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Ao longo das atividades propostas na Unidade Didática os alunos obtiveram

uma nova percepção das razões das festas, que são comemoradas nos dias atuais,

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sendo que algumas se distanciaram dos motivos do contexto de suas origens, que

dentro do país há festejos que recebem mais atenção em uma determinada região

do que em outra. A festa do Divino, muitos não sabiam de sua realização e os que

tinham conhecimento da festa por ter visto reportagem na televisão. O que tornou

enriquecedor foi o fato de conhecerem os símbolos e adereços usados na

celebração da festa, reconhecendo o festejo em algumas regiões do país, como é o

caso do estado de Goiás o qual é visto como um atrativo turístico religioso. Esta

festa passa a ter nos dias de hoje um sentido maior de manifestação cultural do que

uma celebração de cunho religioso.

Para o aluno Douglas Lira Castro, de todas as festas celebradas em território

brasileiro a festa do Divino foi quem chamou sua atenção e segundo ele deveria

ocorrer em todas as cidades do país. Com o intuito de arrecadar donativos para

entregar aos menos favorecidos. “Há por todos os lugares pessoas precisando de

auxilio, havendo festas com doações, alem de brincar e nos divertir fazemos boas

ações ao próximo. E tanto hoje quanto no Brasil Colônia, têm muitos que precisam

de ajuda, devido à falta de emprego ou doença”( CIDADE GAÚCHA , 2015)

Em relação à festa da Páscoa no entendimento dos alunos, no contexto atual

há uma comemoração mecanizada prevalecendo o sentido comercial, havendo a

troca de ovos de chocolate, pois o sentido religioso é pouco vivenciado na

comunidade familiar e até mesmo nas comunidades religiosas. A chamada “Semana

Santa” e os demais rituais vêm se modificando ao longo das gerações, conforme

dados que os alunos pesquisaram junto aos familiares. Alguns alegaram que

mudanças de denominações religiosas por parte de membros da família têm feito

com que os hábitos e a maneira de celebrar algumas festas religiosas e até mesmo

laicas têm sofrido transformações ou estão sendo esquecidas.

Ao pintarem os ovos o sentimento manifestado nos alunos foi de descoberta,

pois a grande maioria não conhecia o ato de presentear alguém com casquinhas de

ovos recheadas com amendoim torrado, na comemoração da Páscoa. Em conversa

em casa passaram a ter conhecimento sobre essa prática que já fez parte do

cotidiano da família em tempo não muito distante.

A aluna Jessica Vitória Tabaquim quando perguntado o que é Páscoa, ela

assim definiu: “A Páscoa é a maior festa do mundo cristão, onde revivemos a

história da ressurreição de Cristo e devemos demonstrar alegria do viver” (CIDADE

GAÚCHA, 2015). E a respeito da prática da pintura dos ovos para comemorar a

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA · PDF fileNeste processo, Tinhorão (2000) assevera que, desde a chegada de Cabral, as festas no Brasil se caracterizavam pela forma autoritária,

Páscoa a aluna Mayra Gouvea fez as seguintes observações: “Ao pintar as

casquinhas de ovos com cores alegres para presentear amigos e parentes, estou

demonstrando a alegria de celebrar a vida de Cristo, a união entre as pessoas”

(CIDADE GAÚCHA, 2015).

Ao final da implementação, a festa da Páscoa para grande parte dos alunos

dos sétimos ano do colégio, é ainda a que mais conserva rituais religiosos das festas

comemoradas no território brasileiro. Reconhecem que há diferentes modos em sua

comemoração no que diz respeito às diferentes princípios religiosos presentes no

país, que cada grupo religioso faz a comemoração respeitando os seus dogmas.

Entre os apontamentos da Equipe Pedagógica e dos colegiados do Colégio

sobre a atividade da implementação, a pedagoga Solange Passamani declarou que

trabalhar o tema das festas no Brasil Colonial como foi desenvolvido junto aos

alunos, está dentro do que se pede nas diretrizes curriculares da educação. Para

ela, “O tema da implementação da professora daria para ser trabalhado também

junto aos alunos do Ensino Médio, visto que questões disponibilizadas pela Folha de

Londrina para preparação dos alunos para prova do ENEM, abordaram várias

questões da disciplina de História sobre as festas celebradas no país” (CIDADE

GAÚCHA, 2015). E ainda comentou, que os alunos que participaram da

implementação tiveram maior empenho em participar da confraternização do

segundo semestre na escola, quando se faz uma pequena comemoração da festa

junina nos três períodos. Segunda ela, “Os alunos caracterizaram com roupas para

festas juninas, realizaram pesquisas bibliográficas para o conhecimento das

diferentes culturas, com o objetivo primordial o acolhimento das famílias, as danças,

comidas típicas, vestimentas, músicas, versos, ritmos” (CIDADE GAÚCHA, 2015).

Desse modo os alunos demonstraram uma valorização maior para a

confraternização envolveu todos os alunos da escola e seus profissionais,

compartilhando um lanche coletivo com apresentações Juninas.

3.3 A oficina de pintura como método pedagógico

Os símbolos são sempre os mesmos porque têm significados milenares, mas cada artista pode colocar as próprias características e criatividade na pintura (Tetianna BACHTZEN).

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA · PDF fileNeste processo, Tinhorão (2000) assevera que, desde a chegada de Cabral, as festas no Brasil se caracterizavam pela forma autoritária,

As atividades propostas para o trabalho junto dos alunos foram muito bem

estudadas e previamente planejadas após leitura e adequação à série dos alunos e

faixa etária. E a oficina como metodologia pedagógica na implementação foi

inspirada na ideia da confecção de ovos decorados exposta por Itani ,que afirma o

seguinte: “a atividade de decoração dos ovos para serem ofertados é sempre muito

rica de possibilidades, apresentando inúmeras vantagens ao processo educativo”

(ITANI, 2003, p.87).

Na figura 5, o processo pedagógico da arte de pintar se manifesta na atitude

de participar do projeto PDE pelos alunos. Portanto, a materialidade é uma ação de

ensino e de aprendizagem que se faz presente no espaço escolar, pois carrega a

intenção da ação e reação, cuja presença da simbologia da Pêssanka simboliza

vida, saúde e prosperidade entre os ucranianos. Além disso, as pêssankas são

símbolos de respeito, mas expressam os sentimentos e os desejos conforme os

desenhos pintados em cada ovo. Guardadas por um ano na casa, servem de

decoração e proteção contra o mal.

Figura 5: alunos na Oficina de pintura de casquinhas de ovos.

Fonte: Arquivo pessoal da autora

E assim vêm reafirmar o que Candau (1995), fala sobre a oficina como

espaço de construção coletiva do conhecimento análise do cotidiano, promovendo

troca de experiências. Onde se dá a socialização, vivenciam situações concretas de

cada aluno, manifestações de diferentes expressões da cultura popular, trazendo

elementos fundamentais para razão de existir de uma oficina pedagógica.

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Com o trabalho da oficina pode se perceber a pedagogia proposta por Paulo

Freire que trata do diálogo, organização e ação coletiva e que na formação dos

alunos na verdade “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os

homens se educam entre si, mediatizados pelos mundos” (FREIRE, 1987, p. 68).

4. Considerações finais

As festas de cunho religioso ou laica ocorrem no território brasileiro

anualmente, o calendário registra festejos de norte a sul, leste e oeste do país.

Atraindo seus públicos de acordo com as atrações oferecidas. Mas este mesmo

público em sua maioria desconhece o sentido da festa em que está participando, a

origem histórica da mesma e o valor cultural nela contido. No entanto, na prática as

festas religiosas ou profanas, segundo Del Priore (1994), constitui na oportunidade

das pessoas de diferentes faixas etárias “exprimir suas emoções em múltiplas

ocasiões”.

Os organizadores das festas introduzem nelas os valores e normas da vida

coletiva, aos participantes a extravasar suas frustrações com trabalho e convivência

social. Em tudo isso há uma riqueza que não fica alheia a construção cultural de um

povo. No caso brasileiro a festa trazida pelos portugueses buscou-se “separar as

festas religiosas das profanas”, no entanto, elas “caminham juntas” (DEL PRIORE,

1994, p. 18,19), e as contribuições dos indígenas e do negro com suas culturas ai

que não se consegue desassociar uma da outra.

Sendo as festas indiscutivelmente um espaço que se propõe inúmeras

interpretações, convivendo lado a lado o mundo profano e o mundo sagrado, desde

período colonial ao cotidiano atual dos alunos. O conteúdo abordado é rico no

contexto sócio cultural e necessário sua contextualização sócia histórica nas aulas

dos alunos na educação básica, no sentido de terem o conhecimento da história do

Brasil em sua totalidade.

Nesse sentido, ao longo da implementação, os alunos tomaram conhecimento

das diferentes origens das festas, as mudanças ocorridas no modo em que elas são

realizadas e os propósitos das mesmas ao longo do tempo. Passaram a ter um olhar

diferenciado para o calendário festivo do município, sabendo distinguir os que são

de cunho religioso dos que não são. Também sabendo reconhecer quando o laico e

o sagrado se fazem presentes nas festas em que eles participam.

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5 REFERÊNCIAS

CANDAU, Fera Maria et al. Oficinas pedagógicas de direitos humanos. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e Utopias no Brasil Colonial. São Paulo, Brasiliense,2000.

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil, 2009 p.55.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 18ª ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1997 (Coleção polêmicas do nosso tempo).

ITANI, Alice. Festas e Calendários. São Paulo, Editora UNESP, 2003.

LOPES & MACEDO (orgs). A estabilidade do currículo disciplinar: o caso das ciências. IN: Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de Janeiro: DP& A Editora, 2002.

MANN Thomas, In http://www.citador.pt/textos/a-cultura-nao-se-adquire-respirase-thomas-mann. 2015, s/p.

MAESTRI, Mário. O escravismo no Brasil. São Paulo: Atual, 1994.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino de Primeiro Grau. Currículo básico para o escola pública do estado do Paraná. Curitiba: SEED, 1990.

________, Secretaria do Estado da Educação do Paraná. Governo do Estado do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: História. Curitiba: SEED- Pr, 2008.

SOUZA,Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.1, nº 2 jan-jun, 2012. p. 108 -120 - 111. Santos e de festas católicas a forças da natureza e a consagrações pagãs’, 1986, p. 91.

TINHORÃO, José Ramos. As festas no Brasil Colonial.São Paulo. Editora 34 – 2000.

WILLIAMS, R. La larga revolución. Buenos Aires: Nueva Vision, 2003.