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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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CARTÃO POSTAL: UMA METODOLOGIA DIFERENCIADA PARA AS

PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA NAS AULAS DE LÍNGUA

INGLESA

Claudiane Sávio – Professora PDE

Anelise Copetti Dalla Corte – Orientadora

RESUMO: O uso do gênero cartão postal nas aulas de Línguas tem como objetivo utilizar o referido gênero como recurso midiático para a prática da leitura e da escrita nas aulas de Língua Inglesa. Conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais ( DCEs) que priorizam a análise dos gêneros textuais, o trabalho com textos diversos contribuiu significativamente para que o educando conhecesse e ampliasse seu vocabulário. Sabe-se que a leitura deve ter além da finalidade educativa, um caráter cultural e, as atividades com cartões postais, explorando os pontos turísticos da cidade de Prudentópolis, tornaram-se bastante relevantes para a aprendizagem da Língua Inglesa. O conhecimento de mundo, bem como as experiências de cada educando, sua cultura e a cultura da própria cidade foram valorizadas a ponto de refletirem positivamente na elaboração dos textos escritos nos cartões postais. O projeto foi aplicado no 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Prefeito Antonio Witchemichen, Ensino Fundamental e Médio no município de Prudentópolis. As atividades iniciaram-se com pesquisas em revistas, livros e na internet sobre o gênero textual cartão postal. Posteriormente, foram desenvolvidas atividades diversas sobre cartões postais com leituras e interpretações escritas, finalizando o trabalho de pesquisa com a elaboração de cartões postais, utilizando-se de fotos ou desenhos/imagens de pontos turísticos da cidade de Prudentópolis, com a exposição desses cartões no Colégio para apreciação do público. Após a exposição, os alunos trocaram os cartões com colegas. Autores como Bakhtin (1992), Chagas (1979) Daltozo (2006), Barzotto e Ghilard (1999) as DCEs (1998) entre outros embasaram esta pesquisa que positivamente contribuiu para que a leitura e a escrita se tornassem atividades mais prazerosas.

PALAVRAS-CHAVE: Língua Inglesa. Cartões postais. Ensino/aprendizagem.

Leitura/ Escrita.

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INTRODUÇÃO

A necessidade de se apresentar cada vez mais atividades diferenciadas aos

alunos, utilizando-se também das Tecnologias de Comunicação e Informação

(doravante, TICs) nas aulas de língua inglesa, constitui-se um instrumento de

trabalho extremamente relevante se o professor souber utilizá-las de forma correta.

A tecnologia está presente no dia-a-dia do aluno e, a escola, aos poucos, vem

trazendo-a para a sala de aula. No entanto, não se pode esquecer que o professor

ainda é aquele que desempenha o papel de maior relevância no processo de

ensino/aprendizagem.

O artigo desenvolvido é fruto de um projeto proposto e realizado com alunos

do 9º ano do Colégio Estadual Prefeito Antonio Witchemichen em Prudentópolis, o

qual teve como objetivo a utilização de cartões postais como recurso midiático para

o desenvolvimento das práticas da leitura e da escrita em Língua Inglesa. A ideia

surgiu diante de certas indagações à respeito dessas práticas nas aulas de Línguas,

visto que, essas práticas nem sempre aconteciam ou acontecem de modo que os

alunos passem a ver e entender a aprendizagem da Língua Inglesa como algo

prazeroso. A realização primeira do projeto culminou na produção do artigo em

questão, o qual serviu para que os alunos conferissem à Língua Estrangeira a

importância merecida como disciplina e como suporte para a aquisição de

conhecimentos diversos. Inúmeras atividades foram realizadas, por meio das quais

foi possível destacar os pontos turísticos de Prudentópolis. A realização de

pesquisas sobre fatos e dados culturais da própria cidade também foi profícua, pois

corroborou para que o conhecimento sobre o que se propunha estudar fosse mais

completo e concreto. As belezas locais, o clima e outras peculiaridades da cidade

foram muito bem representados durante a elaboração dos cartões postais.

No intuito de destacar a relevância do trabalho realizado, faz-se necessário, à

priori, discorrer à respeito da leitura, bem como do uso de gêneros textuais como

princípios norteadores que motivaram a escolha e a realização do artigo em

questão.

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Conforme Bronckart e Dolz (apud BEATO-CANATO, 2006, p.5), “a finalidade

geral do ensino de línguas visa o domínio dos gêneros, como instrumentos de

adaptação e participação na vida social comunicativa”. O trabalho com gêneros

textuais possibilita a prática de leitura de forma mais contextualizada, porque pode

abordar situações específicas de uso da fala e da escrita. Contudo, isso não implica

necessariamente que o aluno passe a dominar todas as formas de uso da língua,

afinal, a construção do conhecimento acontece gradativamente.

Assim sendo, a leitura entendida como um processo de atribuição de sentido

ao texto estabelece relações entre o sujeito e o próprio texto. Portanto, o estímulo à

leitura e, consequentemente, à escrita durante as aulas torna o ensino de línguas

uma atividade mais prazerosa. Conforme as DCEs, que priorizam a análise dos

gêneros textuais, o uso de textos diversos contribuiu para que o aluno conhecesse

e, como consequência, ampliasse seu vocabulário. Aulas tradicionais (quadro negro

e giz) desmotivam o aluno. Sendo assim, há sempre a necessidade de se buscar

assuntos diferenciados, fazer das aulas de língua inglesa, momentos de

descontração, de práticas orais e escritas.

Sabe-se que os princípios teóricos que pautam o trabalho com o gênero

textual cartão postal baseiam-se na teoria sociointeracionista da linguagem. E,

segundo Moran, (2007, p. 45), “não basta dar aula expositiva para conhecer. O

conhecimento se dá cada vez mais pela relação prática e teoria, pesquisa e análise,

pelo equilíbrio entre individual e o grupal”.

O projeto desenvolvido, o qual culminou neste artigo foi bastante atrativo e

relevante, funcionou como suporte de aprendizagem e também como forma de

conhecer melhor os pontos turísticos da própria cidade, nesse caso,

Prudentópolis/PR, cidade turística que possui dezenas de belas cachoeiras naturais.

O gênero textual tido como objeto de estudo, proporcionou também a troca de

informações, entre os estudantes e o uso das Tecnologias de Informação e

Comunicação ( doravante TICs), teve influência significativa para a efetivação do

projeto e posteriormente neste artigo. As pesquisas realizadas e as atividades

desenvolvidas, o novo, a troca, o diferente, o envio de um cartão postal, a espera de

outro, estes foram, sem dúvida, princípios básicos para uma prática educativa

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motivadora. Ao apresentar outras leituras, explorando diferentes gêneros textuais, o

educando sentiu-se agente no processo de ensino/aprendizagem. Afinal, não raro, a

prática da língua inglesa acaba se tornando um repasse automático de conteúdos e

o interesse em aprender a língua acaba não existindo. É preciso, pois, resgatar a

importância da disciplina de Língua Inglesa. E, é isso que se buscou fazer durante a

implementação do projeto, bem como a realização do artigo.

LEITURA E ESCRITA A PARTIR DO TRABALHO COM CARTÕES

POSTAIS.

A escrita, sendo um sistema simbólico de representação, suscita que a

aprendizagem ocorre quando ela passa a fazer sentido ao leitor. E, a língua, sendo

um produto cultural, arraigada de significados, é constituída em momentos de

interação social. Sendo assim, a leitura e a escrita, principalmente nas aulas de

Língua Inglesa, são processos significativos e devem acontecer gradativamente. A

utilização de diferentes gêneros textuais contribui para que a leitura e a escrita

aconteçam de forma mais dinâmica, uma vez que a leitura constitui-se como

instância mediadora entre texto e receptor. Tomados pela necessidade de tornar

mais expressiva uma informação e para que o destinatário a retenha com mais

facilidade, a imagem dos cartões postais busca vários recursos como: fotografias,

cores, ícones, pinturas, etc., constituindo, assim, a significação do texto. A

linguagem verbal traz informações, mas são as fotografias, os desenhos (linguagem

não verbal), que tornarão a mensagem mais clara. A escrita então é vista como um

complemento da leitura.

Fiorin (2003, p.73) diz que “não existem representações ideológicas senão

materializadas na linguagem”. Assim sendo, a linguagem não deve acontecer

somente de forma verbal e os cartões postais corroboram para que a leitura das

paisagens fotografadas, dos desenhos/figuras aconteça processualmente sem que o

aluno sinta-se obrigado a praticar a leitura didática e organizada, pois ao inferir

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sobre a paisagem apresentada, o aluno já estará participando ou criando pequenas

frases.

Numa sociedade letrada, a escrita caracteriza-se claramente como uma tarefa

complexa, porque envolve processos e, como se não bastasse essa complexidade

na própria língua materna, as aulas de língua inglesa acabam por denotar uma

complexidade maior ainda. Portanto, o professor de Língua Inglesa tem um objetivo

muito maior que o de ensinar a ler e escrever, porque tem que apresentar tais

competências de modo menos formal e mais dinâmico. Conforme relata Bustamante:

o aluno ao ter acesso a determinados gêneros em inglês em sala de aula, pode motivar-se com o estudo deste idioma na medida em que ele adquire a percepção de que está aprendendo formas da língua que realmente existem na vida real e que poderão lhes ser úteis no futuro. (BUSTAMANTE, 2007, p. 45).

O trabalho com cartões postais apresenta a relação do emissor com a

linguagem, com a cultura de um povo, com sua história e seus conhecimentos e

leituras do mundo. Ao enviar um cartão postal, o remetente tido aqui como nosso

aluno, abordará a leitura e a escrita, uma em consonância com a outra. Os cartões

postais turísticos, por exemplo, são formados a partir de elementos linguísticos

semióticos, sociais e simbólicos que, indiscutivelmente recebem influências de

fatores diversos, não ficando restritos apenas à expressão linguística da

comunicação. Conforme Bakhtin, citado nas DCEs:

o ensino de Língua Estrangeira deve contemplar os discursos sociais que a compõem, ou seja, aqueles manifestados em forma de textos diversos efetivados nas práticas discursivas. (Bakhtin apud DCEs, 1998, p.57).

Dessa forma, a proposta de ensino de línguas, fundamenta-se na diversidade

textual, entendendo que texto e leitura são indissociáveis, um não acontece sem o

outro. E o uso dos cartões postais, tidos aqui como objeto de estudo, não só

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apresentam a leitura e a escrita como elementos de aprendizagem, mas também

com outros enfoques. De acordo com Daltozo:

Nos cartões postais não há só belas fotos industrializadas, mas também, história, geografia, turismo, modo de vida, meios de transportes, usos e costumes, arquitetura e urbanismo, curiosidade sobre povos e países. (DALTOZO, 2006, p. 25).

Sendo assim, a concepções de leitura e escrita nas aulas de língua tornam-se

bastante abrangentes, porque se caracterizam, muitas vezes, como algo

extremamente complexo, proposto como um mero conteúdo formal sem objetivos e

interesses por parte do aluno. Convém ressaltar que ler e escrever são

competências que devem ser desenvolvidas em todas as áreas de conhecimento

não se restringindo apenas às aulas de língua portuguesa. Assim sendo, a

circulação de diferentes gêneros textuais nas aulas de LI, acabam facilitando a

prática da leitura e da escrita. O gênero cartão postal (doravante, CP) possibilita que

o aluno realize uma comunicação por menor que seja com outra pessoa. Nele, as

impressões, sensações são descritas de forma não tão retórica, o que acaba por

estimular o aluno a aprender uma nova língua. E, afinal todo gênero textual é

interdisciplinar.

E, como salienta Chagas:

a conveniente assimilação da escrita não pode nem deve, nos cursos de línguas, ser realizada pelos meios tradicionais das regras de ortografia ou de certa categoria de exercícios, como a soletração e a cópia servil, que não atendem a exigência fundamental de uma participação ativa do escolar no processo dinâmico de cada nova aprendizagem. (CHAGAS, 1979, p. 221).

Partindo do pressuposto de que é lendo que se aprende a ler, nas aulas de

língua inglesa, por exemplo, fazer interpretações, obter informações, fazer

julgamentos e conhecer novas culturas, estando em contato com diferentes tipos de

leituras, colaborará para que o aluno pratique a leitura de modo mais dinâmico e

motivante.

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O gênero CP tem o papel de instigar o aluno, aprimorando o seu

conhecimento cultural ou local, permitindo assim a construção por menor que seja

da escrita e, consequentemente, da leitura como atividades mais prazerosas e

descontraídas. Porém, o que ocorre, muitas vezes, é que a leitura adquire um

caráter meramente formal nas aulas de línguas. Segundo Chagas:

a lição da leitura tem além destas, uma finalidade educativa em si mesmo: a de infundir o hábito de ler e, portanto o gosto pelo contato direto com os textos escritos na língua que se estuda. (CHAGAS, 1979, p.254).

A leitura deve ter também um caráter cultural e não apenas uma finalidade

educativa. Não se pode afirmar, por exemplo, que exista um método realmente

eficaz para o ensino de línguas. Ao longo dos anos, verificou-se que métodos e

abordagens ganharam novas formas e, todos indiscutivelmente apresentaram

pontos positivos e negativos. Cabe ao professor, levar em consideração os detalhes

inerentes ao seu público alvo para que o método escolhido possa atingir o maior

número de pessoas.

Entende-se, assim, que ensinar uma língua não se resume apenas em

ensinar palavras ou frases descontextualizadas ou usadas em um determinado

contexto. A língua estrangeira deve ser concebida como um idioma da globalização,

utilizada também para adquirir cultura e conhecimentos diversos, porque ela é

heterogênea e ideológica.

De acordo com Bakhtin (apud DCEs, 1988, p.53), “toda enunciação envolve a

presença de pelo menos duas vozes, a voz do eu e do outro”. Assim, não existe um

discurso que seja individual, é necessário haver uma interação entre os leitores de

um discurso para que a comunicação se processe.

O trabalho com a Língua Estrangeira, como já citado, pauta-se na diversidade

de gêneros discursivos e, portanto a prática da leitura e da escrita conferem à língua

inglesa um caráter comunicativo, uma vez que texto e leitura estão intrinsecamente

ligados, então a importância de recursos visuais nas aulas de línguas. Estes

materiais norteiam o processo de leitura, inferindo novos sentidos ao texto. Além

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disso, o professor deve valorizar o conhecimento de mundo, bem como as

experiências de cada educando, neste caso, o conhecimento da própria cultura, da

própria cidade, presentes em textos escritos nos cartões postais.

A elaboração do próprio material didático, norteado pelo interesse de cada

educando acerca do assunto de sua preferência fará com que ele conceba a leitura

e a escrita como uma atividade de reflexão e conhecimento.

As DCEs propõem que:

a língua estrangeira constitua um espaço para que o aluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural, de modo que se engaje discursivamente e perceba possibilidade de construção de significados em relação ao mundo em que vive. (DCEs, 2008, p.53

Para tanto, o trabalho voltado para leitura e cartões postais é bastante

profícuo, porque por meio desse gênero textual o educando pode pesquisar,

escrever sobre aspectos culturais locais, bem como trocar informações com outras

pessoas de outras culturas.

E, como infere Chagas (1979, p.147), “uma língua não vale por si mesma;

vale pela cultura que encerra.” Assim, estudar e escrever a geografia do lugar onde

vive, a sua história, suas belezas e tradições, constituem-se como princípios

norteadores para que as práticas de leitura e escrita se processem.

Assim, como cita Widdowson:

o ensino de línguas é uma atividade tanto teórica quanto prática, que materiais de ensino e procedimentos de sala de aula eficazes dependem de princípios derivados de uma compreensão do que é linguagem e como ela é usada. (WIDDOWSON, 2005, p.107).

Por conseguinte, a aprendizagem de uma língua estrangeira não deve ser

concebida apenas como um método de aquisição de saberes e expressões mas

também como uma maneira de se adquirir conhecimentos culturais de um povo

tanto em relação à fala quanto à escrita. E, o gênero textual cartão postal elenca

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todas essa possibilidades de aprendizagem, visto que, a imagem por ele veiculada

transmite por si só toda uma gama de informações bastante relevantes.

Como discorre Barzotto e Ghilardi (1999, p.107): “Palavra e imagem

misturam-se, completam-se e justificam-se”. Dessa maneira, a leitura e a escrita não

se configuram, portanto, como algo pronto e acabado. Ler e escrever são também

atividades de liberdade de expressão e de ideias. O texto não deve ser apresentado

com um pretexto ou mera aquisição de vocabulário. Ele deve estar inserido em um

contexto social, no qual as imagens, alavancadas pela publicidade, ganham espaço,

suscitando assim que a linguagem escrita, antes tradicional e linear, ceda espaço

para uma linguagem de imagens.

Conforme Marcuschi (2008, p.150), “cada gênero textual tem um propósito

bastante claro que o determina e lhe dá uma esfera de circulação”. Assim sendo,

cada gênero textual tem sua forma e sua função. Porém, o conteúdo que ele propõe

é que vai objetivar a prática da leitura e da escrita. A linguagem publicitária em um

CP se caracteriza como uma composição híbrida na qual há duas ou mais

linguagens e o uso das TICs, por exemplo, confere a essa língua um caráter mais

moderno/atual, afinal, todo educador dever estar atento às novas formas de

aprendizagens utilizando todos os materiais disponíveis para que a prática da língua

inglesa seja revista, e que os alunos possam entendê-la como uma possibilidade

nova de aprendizagem não apenas de uma língua, mas de cultura, de experiência

de vida.

CARTÃO POSTAL COMO POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM EM

LÍNGUA INGLESA.

O cartão postal é um gênero textual que se caracteriza por possuir uma

estrutura bastante simples, com uma linguagem coloquial que permite ao

destinatário dar informações sobre seu estado emocional como também descrever

sucintamente sobre o lugar apresentado no postal. É um meio de comunicação

simples, porém um recurso bastante interessante a ser utilizado durante as aulas de

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línguas. É justamente pela facilidade e simplicidade em sua elaboração/utilização

que o gênero em questão destaca-se como uma possibilidade de aprendizagem

contextualizada da leitura e da escrita nas aulas de língua inglesa.

Motta-Roth define que um gênero textual é:

uma combinação entre elementos lingüísticos de diferentes naturezas que se articulam na linguagem usada em contextos recorrentes da experiência humana e que são socialmente compartilhados. (Motta- Roth, 2006, p.496).

Assim, tomar o gênero cartão postal como instrumento de

ensino/aprendizagem de uma língua é pressupor, de certa forma que tal gênero

servirá como instrumento mediador da aprendizagem coincidindo o conhecimento

que todo aluno possui, por menor que seja com o conhecimento sistematizado que a

escola apresentará a ele.

Os gêneros textuais apresentam formas mediadoras de aprendizagem por

sua ação comunicativa. Assim sendo, a escola deve oportunizar aos alunos além da

aprendizagem de uma língua, a construção de novos saberes, não se restringindo

apenas àquele ensino sistemático e formal.

É fato que é pela linguagem que o ser humano interage e comunica-se com

os outros, portanto saber utilizá-la como instrumento de troca de saberes é uma

tarefa complexa, porém possível. Afinal, grande parte das atividades sociais são

mediadas pela linguagem, daí a importância de se desenvolver habilidades para a

comunicação e de oportunizar aos educando momentos de efetivas práticas

comunicativas. O professor ainda encontra muitas dificuldades para que o

ensino/aprendizagem de língua inglesa se torne mais valorizado e melhor aceito.

Conforme Cristovão:

[...] gêneros não podem ser considerados como sendo estáticos devido dados que vão sendo adaptados às situações sócio-comunicativas, pois ao se realizar uma ação de linguagem o agente confronta suas próprias representações da situação vivida com as

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representações já cristalizadas por formações sociais. (Cristovão, 2006, p.1).

Desse modo, os gêneros textuais devem estabelecer uma relação de troca

entre o aprendiz e a aprendizagem de uma língua, pois os gêneros por si só não se

constituem como objeto de aprendizagem eficaz.

O uso de diferentes gêneros textuais como metodologia diferenciada de

construção de conhecimentos, possibilita a liberdade da criação, instiga a

curiosidade e liberta a criatividade do educando, afinal é importante propiciar aos

alunos momentos de construção de sentidos e de significados como também instigá-

los a desenvolver o senso crítico sobre o próprio conteúdo que estão aprendendo,

aproximando-os o máximo de situações reais e coerentes. Por isso, a ênfase dada

ao uso do gênero cartão postal nas aulas de língua inglesa. Alguns gêneros

interessam mais aos alunos, outros nem tanto. É importante, pois, que ao escolher

um gênero textual específico, o professor apresente aos alunos as possibilidades

mais instigantes de aprendizagem de forma a seduzi-los a utilizar tal gênero como

elemento importante para a aquisição de novos saberes, por que eles são fontes

inesgotáveis de conhecimento.

Schneuwsly e Dolz (2004, p.172) citam que “na ótica de ensino, os gêneros

constituem um ponto de referência concreto para os alunos.” No entanto, para que

isso ocorra é importante que o aluno participe de várias situações envolvendo a fala

e a escrita, estabelecendo uma finalidade específica para cada situação. Trabalhar

exercícios enfadonhos, descontextualizados, visando apenas um ensino ortográfico

não tem um propósito nas aulas de língua inglesa. É importante, sim, conhecer

estruturas gramaticais, vocábulos, porém o objetivo maior nas aulas de línguas é

desenvolver as habilidades de leitura e escrita, mesmo que de forma tímida e lenta

e, os gêneros textuais surgem afinal como uma possibilidade inovadora de

ensino/aprendizagem para que as aulas de línguas se tornem mais dinâmicas e

atrativas.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais,

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[...] lugar de capacitar o aluno a falar, ler e escrever em um novo idioma, as aulas de Línguas estrangeiras Modernas nas escolas de nível médio acabaram por assumir uma feição monótona e repetitiva que muitas vezes, chega a desmotivar professores e alunos, ao mesmo tempo em que de deixa de valorizar conteúdos relevantes à formação dos estudantes. Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000, p.24)

Entende-se que grande parte das aulas de Línguas são direcionadas a

atividades gramaticais, memorização e exercícios praticamente prontos não

havendo uma necessidade maior de desenvolver a prática oral. Por isso, o ensino de

Línguas passou a ser organizado a partir da utilização de gêneros textuais. Assim, a

possibilidade de ensino utilizando-se de um gênero textual específico torna-se

efetiva a partir do momento em que os textos selecionados sejam condizentes com a

proposta de ensino de Línguas. Não bastam atividades diferenciadas, é preciso

inseri-las num contexto de forma que tais contextos e os gêneros textuais

apresentem uma correlação entre leitura e escrita, compreendendo que ambas se

constituem como elementos por meio dos quais os indivíduos se comunicam e

interagem na sociedade da qual fazem parte. Um ambiente propício e cognitivo

também é importante para que as novas possibilidades de práticas da aprendizagem

se tornem certezas.

Marcuschi (2005, p.20) discorre que os gêneros textuais “surgem, situam-se,

integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem”. Portanto, não se

caracterizam apenas formalmente, mas são rodeados por vários outros aspectos,

sejam eles culturais históricos ou sociais. Contudo, convém salientar que cada

língua possui organizações textuais distintas, o que por sinal configura-se na

dificuldade maior do professor em escolher um gênero textual que seja realmente

bom. Não existem receitas prontas para se ensinar ou aprender algo existem, sim,

possibilidades de aprendizagem, atividades alternativas, sugestivas e os cartões

postais (enquanto gêneros textuais), corroboram de modo simples, por se

constituírem como um material básico, porém significativo para a prática da leitura e

da escrita nas aulas de LI.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o estudo bem como a organização do artigo em questão, cito a

importância primeira de resgatar o objetivo desse trabalho, que foi o de utilizar o

gênero textual cartão postal como um recurso alternativo para o desenvolvimento da

leitura e da escrita na Língua Inglesa. Esse desenvolvimento das habilidades citadas

durante as aulas de Língua Inglesa aconteceram gradativamente. Algumas

atividades apresentaram um grau maior de interesse em relação a outras. No

entanto, nenhuma delas deixou de ser realizada.

Ao expor inicialmente o novo gênero textual aos alunos, foram apresentados

também conceitos e finalidades do que se propunha estudar. Os alunos não

demonstraram dificuldades, ao contrário, mostraram-se bastante receptivos e

interessados durante a realização das atividades porque constataram que as aulas

de Língua Inglesa podem ser diferenciadas, que eles podem aprender uma nova

língua de um modo mais próximo de sua realidade.

Procedimentos metodológicos diferenciados como visita a alguns pontos

turísticos, momento este, em que os alunos puderam fotografá-los para

posteriormente confeccionarem seus cartões postais, pesquisas em livros, internet,

apresentação de músicas com o tema trabalhado, vídeos, apresentação de cartões

postais curiosos, foram alguns dos recursos que fizeram com os alunos, até mesmo

os mais retraídos, participassem e opinassem, refiro-me aqui também a importância

social desse trabalho. Acredita-se que os resultados foram realmente significativos e

que, certamente houveram modificações na prática pedagógica do professor quanto

no aprendizado do aluno. Tanto se acredita nisso que, após o término do trabalho os

alunos sugeriram a continuidade dele, porém abordando outros aspectos.

Certamente, há ainda muitos mitos e concepções errôneas a respeito do

ensino de línguas nas escolas públicas, especialmente quando o professor se

depara com alunos desmotivados. Assim sendo, o professor, como mediador de

conhecimentos, deve atuar como um analista da linguagem sendo sensível o

bastante para constatar a melhor maneira de preparar e ensinar seus alunos,

fazendo-os interagirem durante as aulas.

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Verificou-se que a proposição do projeto foi alcançada e que, seguramente,

os alunos do 9º ano do Colégio Estadual Prefeito Antonio Witchemichen

compreenderam que aprender a ler e escrever não são habilidades específicas da

Língua Portuguesa e que eles também podem se expressar em outra língua, talvez

não com tanta fluidez como em sua língua materna, porém, agora de forma menos

complexa e sistematizada. Assim sendo, creio que o trabalho com gêneros textuais

deveria ser objeto de estudo e prática de outros educadores, porque contribui de

modo especial para o ensino/aprendizagem nas aulas de Língua Inglesa.

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