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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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¹ Professora PDE, Graduada em Matemática pela Universidade de Ijuí – UNIJUÍ, Especialista em Educação Matemática pela Faculdade de Palmas PR. Docente da Rede Pública no Colégio Estadual Paulo VI, Boa Vista da Aparecida, NRE Cascavel – PR. ² Professora do Colegiado de Matemática UNIOESTE – Cascavel e do Mestrado em Ensino – UNIOESTE – Foz do Iguaçu – PR. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR.

JOGOS MATEMÁTICOS: UMA PRÁTICA POSSÍVEL

Maria Teresinha Horn¹

Tânia Stella Bassoi²

Resumo

Este trabalho é resultado de estudos sobre jogos no ensino de matemática. Teve o objetivo de contribuir com a prática pedagógica de professores que atuam de 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Os jogos permitem que o aluno construa seus conhecimentos e podem auxiliar o professor na ampliação do seu Plano de Trabalho Docente. Ao utilizar jogos como recurso didático o professor estará possibilitando aulas agradáveis e atraentes contribuindo para que os alunos possam melhorar o desempenho nos conteúdos que encontram mais dificuldade para aprender, pois o professor pode aproveitar os momentos do jogo para explorar conceitos e estimular a resolução de problemas.

Palavras - chave: Jogos. Álgebra. Números inteiros.

Na sociedade atual, a matemática está cada vez mais presente para

descrever, modelar, resolver problemas. Ao olharmos a hora no despertador, ao

abrir o jornal observar gráficos, tabelas, porcentagens ou mesmo o médico ao fazer

um eletrocardiograma precisa interpretar um modelo matemático para dar o

diagnóstico. Apesar de estar presente em quase todas as áreas do conhecimento,

não é fácil mostrar aos alunos aplicações interessantes e reais dos conteúdos a

serem estudados.

A aplicação imediata de um conhecimento matemático escolar nem sempre

pode ser apresentada aos alunos. O ensino da matemática só terá sentido quando

professores forem capazes de ensinar a pensar matematicamente.

Nesse sentido pondera-se que [...] é necessário fazer uma matemática viva. Se a gente olhar para a história da matemática, ela sempre foi isso: uma representação do ambiente que o sujeito está vivendo, dos problemas que encontra das coisas que de algum modo provocam uma necessidade de reflexão maior (D’ AMBRÓSIO, 2001, p.3).

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O contexto social, a cultura, o conhecimento trazido pelos alunos no ambiente

escolar são diferentes, variados e riquíssimos, pois cada um traz sua história, seus

interesses, suas dúvidas e suas expectativas de aprendizagem. É provável que a

maioria não consiga relacionar o ensino da matemática escolar com a matemática

usada fora da escola.

Para tanto deve-se concluir que, [...] a matemática e a educação matemática não podem ser insensíveis aos problemas maiores afetando o mundo moderno, principalmente, a exclusão de indivíduos, comunidades, e até, nações do benefício da modernidade. A matemática é o maior fator de exclusão nos sistemas escolares (D’AMBRÓSIO, 2001, p. 67).

Nos dias de hoje, diante de uma educação tecnológica e a constante

variação no surgimento de novos conhecimentos em alta velocidade, o aluno precisa

aprender mais do que o conteúdo presente nos livros. É necessário que reflita e

compreenda para adequar seus conhecimentos às situações do cotidiano e não

apenas nos problemas e exercícios passados pelo professor em sala de aula.

Nos últimos anos, educadores envolvidos no processo de democratização da

escola pública na elaboração de propostas curriculares, buscam novas alternativas

para a educação e sugestões para que se concretizem as metas estabelecidas para

a formação de cidadãos capazes de ler, interpretar e transformar a sociedade,

transformação esta em uma sociedade mais justa, com direitos iguais para todos. É

possível discutir também que nem toda a matemática ensinada aos alunos vai estar

presente nas situações do cotidiano que o aluno vivencia.

Ao ensinar matemática, os jogos devem ser para os professores um recurso

fundamental na apropriação dos diferentes conteúdos, superando a utilização de

numerosas listas de exercícios para fixação existentes nos livros didáticos, que tem

como objetivo a memorização de fórmulas. É importante que o aluno aprenda por

meio de diversos recursos e o professor possa tornar as aulas mais dinâmicas

contando uma maior participação do aluno.

[...] os jogos constituem uma forma de propor problemas, pois permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a criatividade na elaboração de estratégias de resolução e busca de situações. Propiciam a simulação de situações problema que exigem soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das ações; possibilitam a construção de uma atitude positiva perante os erros uma vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no decorrer da ação, sem deixar marcas negativas (BRASIL, 2001, p. 6).

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Jogos bem planejados ajudam a estimular o pensamento, a criatividade e a

capacidade de resolver problemas e nós, professores, devemos propor alternativas

para aumentar a motivação, desenvolver a autoconfiança, o respeito, a organização,

a atenção, o raciocínio lógico, o senso cooperativo estimulando a socialização e a

interação do indivíduo com outras pessoas.

Do ponto de vista pedagógico,

[...] Quando se analisa o papel dos jogos nas atividades didáticas, muito frequentemente, duas dimensões sobressaem a todas as outras; a lúdica em sentido estrito, com ênfase no divertimento na brincadeira, na arquitetura de estratégias vencedoras, e a que diz respeito aos aspectos práticos utilitários envolvidos (jogos para introduzir certos temas, como frações, ou para exercício e fixação técnicas operatórias). Em ambos o caso, permanece-se o universo semântico do jogo em si, com a predominância das interpretações literais, tanto das regras quanto das ações envolvida (MACHADO, 2001, p. 40).

Outros autores consideram o jogo como,

[...] uma atividade lúdica e educativa; intencionalmente planejada, com objetivos claros, sujeito a regras construídas coletivamente, que oportuniza a interação com o conhecimento e os conceitos matemáticos, social e culturalmente produzidos, o estabelecimento de relações lógicas e numéricas e a habilidade de construir estratégias para a resolução de problemas (AGRANIONIH; SMANIOTTO, 2002, p. 16).

A sala de aula não é mais um espaço de total silêncio, alunos em filas,

amedrontados, onde só o professor fala e os alunos ouvem. É necessário

transformar a sala de aula num espaço de agitação intelectual, troca de ideias,

trabalhos em grupo, despertar curiosidades onde o conhecimento possa emergir e

ser concretizado. Dessa forma surge a necessidade de rever práticas docentes e

metodologias de ensino, propondo mudanças e buscando alternativas para contribuir

no desenvolvimento dos conteúdos.

Uma das grandes dificuldades encontradas pelos professores de matemática

no Ensino Fundamental é torná-la algo interessante e significativo aproximando a

matemática à realidade do aluno. O conhecimento prévio do aluno

independentemente de sua origem social deve ser respeitado. Respeitar esse

conhecimento faz com que o professor crie vínculos, faça um pacto com o aluno e

erga uma ponte entre a realidade cultural e o saber formal.

Apesar de servir como ferramenta a várias áreas do conhecimento é difícil

mostrar aos estudantes aplicações da matemática que sejam interessantes e reais

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para motivá-los. O professor, nem sempre encontra ajuda e apoio para realizar essa

tarefa de relacionar os conteúdos desenvolvidos em sala de aula.

O ensino aprendizagem com o auxilio dos jogos devem desencadear a

exploração e aplicação de conceitos matemáticos, elaboração de estratégias de

resolução de problemas sempre com a mediação do professor. É necessário que o

professor questione o aluno sobre suas estratégias para que o jogar se torne um

ambiente de aprendizagem e não apenas reprodução mecânica de regras como

ocorre na resolução de exercícios.

É importante que o professor planeje o jogo visando explorar uma forma de

pensar matematicamente que provoque uma resolução de problemas. Nesse

processo, o aluno é conduzido a observar regularidades e diferenças importantes

para desenvolver a capacidade de generalização em matemática.

Diariamente, sabemos pelas nossas práticas ou através de relatos de

colegas, que a cada ano que passa se torna mais difícil ensinar matemática. Manter

nosso aluno interessado pelo conteúdo, motivado a desenvolver as atividades e

atento ao que ocorre dentro da sala de aula faz parte do nosso trabalho. Diante de

tantas opções tecnológicas, bem mais atrativas que são oferecidas fora da escola,

os alunos questionam os conteúdos matemáticos ensinados, perdendo o interesse,

pois não veem aplicabilidade nas situações relacionadas ao seu cotidiano.

Ao considerarmos que ensinar matemática seja desenvolver o raciocínio, a

criatividade, a capacidade de resolver situações problema, nem sempre do

cotidiano, temos que buscar estratégias que só é possível usando os recursos do

aprendizado escolar que favoreçam a construção do conhecimento.

Os jogos, como um destes recursos, vem ganhando espaço dentro da escola,

com a intenção de tornar as aulas mais agradáveis, levar o aluno a pensar com

clareza, desenvolver sua criatividade e raciocínio lógico.

Devemos, como professores, refletir sobre quais conteúdos queremos

alcançar com o jogo, que o jogo passe a ser visto como um agente cognitivo,

fazendo com que o aluno desenvolva o conhecimento matemático e a linguagem,

pois em determinados momentos será instigado a posicionar-se frente a diferentes

situações. É tarefa do professor, ao trabalhar com jogos, escolher uma metodologia

adequada para que seus objetivos sejam alcançados ao utilizar esse recurso.

Quando o professor escolhe um jogo, deve ter em mente que esse jogo deve ser um

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fator motivador para que os alunos entendam como pensar matematicamente

buscando aprendizagem de conceitos matemáticos.

A interação, a comunicação com os colegas, o diálogo entre os alunos, o

diálogo dos alunos com o professor, a identificação, a relação do jogo com o

conteúdo matemático irá favorecer a compreensão de pontos importantes na

comunicação matemática como:

● Compreender enunciados orais e escritos;

● Exprimir oral e escrito enunciados de problemas;

● Utilizar nomenclatura adequada;

● Interpretar e utilizar representações matemáticas;

A intervenção do professor é de extrema importância, pois sendo conhecedor

do jogo, deve mediar para o trabalho em equipe, levantar questões de modo a

conduzir os alunos, a avaliarem suas jogadas, analisarem procedimentos criados na

resolução de um problema, verificarem o raciocínio utilizado nos processos de

resolução, discussões e registros dos passos realizados.

Mesmo sendo a matemática uma disciplina considerada importante, o baixo

rendimento dos alunos vem aumentando assustadoramente e, apesar de contemplar

o maior número de aulas na grade curricular no Ensino Fundamental, é uma

disciplina com altas taxas de reprovação, evasão escolar, gerando exclusão.

[...] isso pode ser atribuído ao exagero no treino de algoritmos e regras desvinculadas de situações reais, além do pouco envolvimento do aluno com aplicações da Matemática que exijam o raciocínio e o modo de pensar matemático para resolvê-las (DANTE, 1998, p. 13).

O professor ao utilizar jogo pode se deparar com questões do tipo: Poderia ter

jogado de maneira diferente? Existe outra forma de jogar? Cabe ao professor

planejar com antecedência as atividades, procurando conhecer o jogo a ser

utilizado, bem como, quais conteúdos deseja explorar. Como o jogo pode induzir ao

conhecimento matemático?

[...] Essa metodologia representa, em sua essência, uma mudança de postura em relação ao que é ensinar matemática, ou seja, ao adotá-la, o professor será um espectador do processo de construção do saber pelo seu aluno, e só irá interferir ao final do mesmo, quando isso se fizer necessário através de questionamentos, por exemplo, que levem os alunos a mudança de hipóteses, apresentando situações que forcem a reflexão ou para a socialização das descobertas dos grupos, mas nunca para dar a resposta certa. Ao aluno, de acordo com essa visão, caberá o papel daquele que

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busca e constrói o seu saber através da análise das situações que se apresentam no decorrer do processo (BORIN, 1998, p. 10-11).

O jogo de regras em especial, tem sido considerado por autores, como

Brenelli (1996), como um instrumento que auxilia na aprendizagem. Em suas

pesquisas, salienta a importância a respeito do jogo atribuída por Dewey, Decroly,

Claperede, Montessori no desenvolvimento intelectual e social da criança,

divulgando a importância dos jogos em sala de aula.

[...] os jogos de regras são caracterizados (ibid) por uma atividade que propõe o sujeito uma situação problema (objetivo do jogo), um resultado em função desse objetivo e um conjunto de regras. Sua execução, individualmente ou em grupo impede o jogador a encontrar ou produzir meios em direção a um resultado favorável, inserindo-o num contexto de luta contra o adversário com as suas táticas e estratégias, encantando-o ou atemorizando-o (BRENELLI, 1996, p.25).

Para Piaget (1970) por meio da atividade lúdica, o aluno assimila a realidade,

incorporando novos conhecimentos à sua estrutura cognitiva, conferindo ao jogo um

instrumento importante na aprendizagem e Brenelli (1996) enfatiza a importância de

utilizar o jogo como instrumento de apoio complementar no aprendizado facilitando a

intervenção do professor nas possíveis dificuldades apresentadas pelos alunos.

Para tanto, “os jogos revestem-se de importância na medida em que permitem

investigar, diagnosticar e remediar as dificuldades, sejam elas de ordem afetiva,

cognitiva ou psicomotora” (BRENELLI, 1996, p. 24).

Dessa forma, os jogos devem ser convenientemente planejados, ocupar um

horário dentro do planejamento para que permita ao professor explorar a

potencialidade dos jogos, processos de solução, registro e discussões e que os

alunos tenham oportunidade de pensar, apresentar ideias e experimentar.

O jogo para ser utilizado como recurso pedagógico precisa de certa forma ser

elaborado pelo professor. Cabe a ele fazer a aplicação de modo eficaz, buscando a

melhor forma de explorar os conteúdos matemáticos presente nos jogos.

[...] Os jogos, ultimamente, vêm ganhando espaço dentro das nossas escolas, numa tentativa de trazer o lúdico para dentro da sala de aula. A pretensão da maioria dos/as professores/as com a sua utilização é a de tornar as aulas mais agradáveis com o intuito de fazer com que a aprendizagem torne-se algo fascinante. Além disso, as atividades lúdicas podem ser consideradas como uma estratégia que estimula o raciocínio, levando o/a aluno/a a enfrentar situações conflituantes relacionadas com o seu cotidiano (LARA, 2001, p. 21).

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Segundo Smole (2007, p.9) “ao jogar os alunos têm a oportunidade de

resolver problemas, investigar e descobrir a melhor jogada, refletir e analisar regras,

estabelecendo relações entre os elementos do jogo e os conceitos matemáticos.”

Dessa forma quando o professor propõe jogos nas aulas de matemática deve

compreender o sentido do jogo como proposta de aprendizagem, pois a utilização

desse recurso propicia ao aluno a compreensão de regras empregadas para a

aquisição do conhecimento e assimilação de conteúdos que parecem abstratos.

[...] o jogo nas aulas de matemática é uma atividade séria, que exige planejamento cuidadoso, avaliação constante das ações didáticas e das aprendizagens dos alunos. Se bem aproveitadas as situações de jogo, o professor tem uma possibilidade de propor formas diferenciadas de os alunos aprenderem (SMOLE, 2007, p. 22).

Ao aplicar jogos, o professor precisa comprometer-se através de uma ação

concreta e significativa, abrindo espaço para enfrentar as diferentes situações de

aprendizagem matemática. Nesse trabalho a intenção é sugerir jogos para auxiliar

no desenvolvimento da aprendizagem, proporcionando acesso a conhecimentos

matemáticos que estimulem o pensamento e desenvolvam a capacidade de pensar

matematicamente.

Esse trabalho teve a intenção de colaborar com o “tomar gosto“ pela

aprendizagem de matemática através dos jogos que serviram de motivação para os

professores como um momento de reflexão sobre recursos didáticos disponíveis

para ensinar.

Antes de abordar o uso de jogos, como recurso no ensino de matemática,

perguntei aos professores sobre quais conteúdos gostariam de receber apoio

pedagógico. Citaram os conteúdos que os alunos têm maior dificuldade para

aprender: equações do 1º grau, polinômios, produtos notáveis, equações do 2º grau

e números inteiros.

Após verificação de literatura, escolhi oito jogos e ministrei oficinas com os

professores. Todos os jogos foram confeccionados e realizamos estudos dos

objetivos, regras, exemplos de como fazer a exploração dos jogos em grupos.

Ao final do trabalho com jogos, realizamos um momento para avaliação e

socialização. Em seus relatos, os professores acreditavam que utilizar jogos em sala

de aula como metodologia de ensino, despertava o interesse do aluno pelo

conteúdo, ajudava a desenvolver a concentração, possibilitando explorar conceitos

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matemáticos para que o aluno aprendesse com mais significado. Destacaram

também que os jogos facilitavam a aprendizagem, podendo reforçar o conteúdo e, o

trabalho em grupo, proporcionava a liberdade de interagir com os colegas,

socializando os conhecimentos.

Durante a aplicação do jogo Construindo Equação do 1º grau, os professores

manifestaram que permitia construir a equação e encontrar o valor da incógnita sem

registrar matematicamente. Consideraram ser bom para iniciar o conteúdo, pois os

alunos tinham a oportunidade de representar em linguagem matemática, o

equivalente algébrico representado no material.

Ao construírem o jogo Construindo Polinômios e efetuarem algumas jogadas,

os professores relataram a possibilidade de explorar a adição e subtração de

polinômios e os três casos de produtos notáveis partindo de uma construção

geométrica. Segundo eles, com a manipulação dos quadrados e retângulos os

alunos poderiam compreender melhor a formação e as transformações dos lados e

áreas das figuras geométricas em equivalentes expressões algébricas, reforçadas

no jogo Compondo e Decompondo áreas. Para este último jogo os professores

aprovaram por se um jogo que permite visualizar e manipular o material

compreendendo os resultados encontrados nas atividades propostas.

O jogo Triângulos Notáveis serviu para fixar conteúdos e os professores

destacaram ser possível aplicar para os alunos desde que tivessem aprendido o

conteúdo sobre produtos notáveis. Para os professores era um bom jogo para

trabalharem em grupos ajudando os alunos a reforçar o aprendizado, trocando

ideias.

Disseram que o jogo Conhecendo a Equação servia para fixar conteúdos,

possibilitando ao aluno identificar coeficientes da equação do 2º grau, encontrar

raízes, aplicação do algoritmo soma e produto e escrever a equação de forma

fatorada. Consideraram o jogo interessante para encontro de raízes, mas sugeriram

que inicialmente deveria ser usadas menos fichas, como por exemplo, usar apenas

fichas para calcular o coeficiente, discriminante e raízes.

O Termômetro Maluco possibilitava introduzir a soma algébrica de números

inteiros. Uma das professoras participantes da implementação relatou: “Depois que

aprendemos na oficina construí o jogo com meus alunos. Foi muito interessante.

Eles se envolveram muito, tanto na construção do jogo como na hora de jogar, mas

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para que dê maiores resultados é preciso aumentar o número de fichas com

números positivos e tirar uma ficha escrito “oposto””.

Soma Zero foi, segundo os professores, um jogo mais difícil, pois o aluno já

deveria dominar a adição e subtração de números inteiros. Sugeriram algumas

mudanças como diminuir a quantidade de peças de +10 até -10 para facilitar o jogo.

Para os professores, os jogos Termômetro Maluco e Soma Zero se completavam.

Ao jogarem, justificaram o envolvimento no jogo por favorecer os cálculos com

números inteiros e esses jogos facilitariam as explicações sobre esses conteúdos.

Durante a oficina construímos o Tangram usando dobradura. Com esse jogo,

os professores disseram ser um ótimo recurso para identificar formas planas,

diferenciar e classificar formas geométricas. Permitia também resolver problemas

que envolvessem o cálculo de área, perímetro e igualmente explorar frações e

equivalência.

Os professores que participaram das oficinas não usavam jogos para

introduzir conteúdos em suas práticas, mas constataram que os jogos ajudaram na

compreensão do conteúdo e usariam em suas aulas os que auxiliavam o ensino de

álgebra como também os jogos que contribuíssem para a aprendizagem de números

negativos.

Por meio do GTR foi possível socializar os jogos propostos e os participantes

escreveram sobre a relevância para a realidade da escola pública. Destacaram o

jogo Construindo Equações do 1° Grau como auxiliar na formação da escrita e

resolução de equações do 1º grau permitindo identificar e criar operações inversas,

escrever em linguagem matemática uma equação, fixar conteúdos matemáticos e

criar estratégias de resolução.

Construindo Polinômios foi escolhido por ser um recurso que permite

visualizar a formação de polinômios a partir de figuras geométricas e, tem objetivo

de interpretar algebricamente as áreas de figuras geométricas, construir polinômios

a partir destas figuras, identificar o número de termos de um polinômio e juntar

termos semelhantes, sendo necessário os alunos terem conhecimentos prévios de

expressões numéricas, área do quadrado e área do retângulo.

Consideraram os dois jogos bem proveitosos para desenvolver a álgebra com

os alunos. Em suas contribuições deixaram claro que o jogo auxilia na prática

pedagógica, desde que o professor planeje e escolha momentos do jogo que levem

os alunos a refletirem sobre as ações, registrarem suas jogadas apropriando-se dos

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conteúdos presente em cada situação. Para a obtenção desses resultados o

professor precisa fazer as intervenções necessárias de modo que a atividade não

fique apenas no jogar por jogar, mas que sirva de auxilio no desenvolvimento de

conteúdos de matemática. Consideraram necessário observar como os alunos

pensam, fazem suas jogadas e como usam as estratégias para vencer o jogo.

Observaram que resolução de problemas é uma possibilidade de explorar o

conteúdo presente no jogo, que pode surgir após os alunos terem efetuado algumas

jogadas.

Muitos professores que participaram do GTR disseram utilizar jogos como

recurso em suas aulas e consideraram como uma ferramenta valiosa que resgata o

interesse, levando a aprendizagem a acontecer de forma mais rápida. Para eles, os

jogos trazem a matemática para mais perto do conhecimento dos alunos e

socializaram que essa troca de conhecimentos entre professores contribui para a

melhoria na aprendizagem e, consequentemente no desempenho dos alunos apesar

de apontarem como dificuldade na aplicação dos jogos o grande número de alunos

em sala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo permitiu o conhecimento de alguns autores, teorias e pesquisas

realizadas sobre os jogos no ensino de matemática. Tive a oportunidade de

apresentar, jogar e discutir os jogos propostos com os professores na escola onde

atuo.

Ao socializar este trabalho surgiu a oportunidade de mostrar como os jogos

podem contribuir como um recurso didático, que permite que a matemática não seja

apresentada aos alunos apenas na forma expositiva. Por meio de jogos os

educadores podem iniciar o conteúdo, estimulando os alunos a fazerem descobertas

e a gostarem mais da disciplina.

No GTR a socialização dos jogos realizados nas oficinas e os momentos de

reflexão e socialização ocorreram com pessoas de diferentes lugares e foi possível

conhecer como este grupo de professores pensava e aplicava jogos em sala de

aula. Além dos jogos que apresentei como proposta houve um momento em que os

professores puderam socializar um jogo que haviam trabalhado com seus alunos,

explicando as regras e os resultados obtidos. Foram muitas opiniões sobre este

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recurso e relataram que o jogo estimula a capacidade de resolver problemas e o

trabalho em grupo, desperta o interesse, proporciona a liberdade de interagir

melhorando a relação com os colegas e o professor onde é possível construir um

aprendizado com mais significado.

Este estudo teve uma grande importância para mim. Ler e conhecer alguns

autores que falam sobre jogos permitiu o aprofundamento teórico necessário para

desenvolver meu projeto e escrever este artigo. Compreendi a importância que os

jogos têm para o desenvolvimento dos conteúdos e para a aprendizagem dos

alunos. Com este instrumento foi possível aproximar os conteúdos da realidade dos

educandos que muitas vezes aprendem somente com exercícios de fixação. O

material construído e manipulado permitiu a exploração de atividades que facilitaram

a aprendizagem, pois desenvolveram a concentração, raciocínio e a criatividade e, o

registro de jogadas, pôde ser aproveitado para escrever uma fórmula ou o resultado

de uma atividade.

Para construir um jogo não são necessários, muitas vezes, investimentos

dispendiosos, podemos utilizar caixas de sapatos ou caixas de papelão, os dados

com números podem ser encapados com fita crepe para substituir os dados

construídos e fica bem melhor para efetuar as jogadas.

Inserir jogos nas aulas é um desafio. Precisa ser planejado com

antecedência, conhecer as regras, efetuar jogadas e planejar o que se pretende

explorar com ele. Acredito nesta possibilidade e tenho como meta que os

professores percebam a matemática como uma disciplina em que ele pode organizar

e construir os conhecimentos por meio de jogos, auxiliando no aprendizado dos

alunos.

REFERÊNCIAS

AGRANIONIH, Neila Tonin; SMANIOTTO,Magáli. Jogos e aprendizagem

matemática: uma interação possível. Erechim: EdiFAPES, 2002.

BORIN, Júlia. Jogos e resolução de problemas: uma estratégia para as aulas de matemática. 3. ed. São Paulo: IME/USP, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Ensino de 5ª a 8ª Séries. Brasília-DF: MEC/SEF, 2001.

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BRENELLI, Rosely Palermo. O jogo como espaço para pensar: a construção de noções lógicas e aritméticas. Campinas - SP: Papirus, 1996. D'AMBROSIO, Ubiratan. Desafios da Educação Matemática no novo milênio. Educação Matemática em revista. Ano 8, nº11. São Paulo: Ática, dezembro 2001. DANTE, Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de matemática. São Paulo: Ática, 1998. LARA, Isabel Cristina M. Jogando com a matemática de 6° ao 9° ano. São Paulo: Rêspel, 2011. MACHADO, Nilson José. Matemática e educação: alegorias, tecnologias e temas afins. 3. Ed. São Paulo, Cortez, 2001. PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Rio de Janeiro/São Paulo, Florence, 1970. SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ingnês; Milani, Estela. Cadernos do Mathema. Jogos de Matemática de 6º a 9º ano. Porto Alegre, RS: Artmed Editora, 2007.

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