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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA NO ENSINO DE CIÊNCIAS
COM ÊNFASE NA BOTÂNICA
Autora: Sônia Aparecida Opalinski Kobner¹
Orientadora: Rosângela Capuano Tardivo²
Resumo
Este artigo apresenta os resultados do Projeto intitulado Aprendizagem Significativa no Ensino de Ciências, inserido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria Estadual de Educação do Paraná. Nota-se que a maior parte dos alunos do Ensino Fundamental (7º ano), apresenta falta de interesse por determinados conteúdos de Botânica, da disciplina de Ciências. Este projeto possui como primeira etapa uma investigação bibliográfica sobre os fundamentos da teoria da aprendizagem significativa e sua relação com o ensino de Ciências e, na sequência, a compreensão dessa falta de interesse dos alunos. Para tanto, foi organizada uma proposta de intervenção partindo da educação não formal, com atividades diversificadas como: exercícios em sala, aulas práticas, saída de campo e outros, buscando aguçar o interesse e o gosto pelo conteúdo. A terceira etapa foi a implementação do Projeto na Escola, que teve como público alvo alunos do 7º ano, do Colégio Estadual "Prof. Leandro Manoel da Costa”, Ensino Fundamental e Médio, que desenvolveu o conteúdo do Reino Plantae: Gimnospermas e Angiospermas, já existentes no município. Esse trabalho resultou na melhoria efetiva da compreensão do conteúdo de Botânica e verificou-se mais interesse dos estudantes pelo objeto ensinado e notoriamente houve uma aprendizagem significativa.
Palavras-chave: Intervenção Pedagógica. Aprendizagem Significativa. Botânica.
__________________________
¹ Professora de Ciências e Biologia da Rede Pública Estadual do Paraná, pós-graduada em
Espaço,Sociedade e Meio Ambiente com Ênfase em Educação Ambiental,em exercício no Colégio
Estadual “Professor Leandro Manoel da Costa”.
²Professora Dra Rosângela Capuano Tardivo, professora adjunta do Departamento de Biologia,
Área de Botânica, Setor de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Ponta Grossa,PR.
1. INTRODUÇÃO
O ensino e a aprendizagem, na disciplina de Ciências, mostram que as
metodologias empregadas muitas vezes pelo professor geram reflexos negativos na
compreensão do conhecimento. Assim, se reconhece a importância da teoria da
aprendizagem de Ausubel (2003) que fundamenta a aprendizagem significativa,
tema deste trabalho. Segundo Santos (2009, p. 11), “aprender é nosso principal
instrumento de sobrevivência. Os processos por meio dos quais aprendemos ainda
são foco de estudos e pesquisas, as que visam a nos dar pistas de como aperfeiçoar
nosso “aparelho aprendente”. Esse aperfeiçoamento inclui aprender, mais rápido e
mais significativamente.”
Segundo Ausubel apud Santos (2009, p.53), “a aprendizagem é muito mais
significativa à medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de
conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu
conhecimento prévio”. É essencial selecionar conteúdos logicamente significativos e
também sondar os interesses e experiências dos alunos, para que os conteúdos
sejam psicologicamente significativos. É imperioso ao professor se autoconhecer
para tornar-se um agente de mudanças.
A motivação, o interesse, a habilidade de compartilhar experiências e a
habilidade de interagir com os diferentes contextos são condições, que ao serem
atendidas, tornam possível o ato de aprender de forma significativa. Sendo assim, a
aprendizagem significativa processa-se quando um novo conteúdo relaciona-se com
conceitos relevantes, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, assimilados por ela.
É cada vez mais notório, a falta de interesse na área de Botânica, pelos alunos do
7º ano do ensino fundamental. Este desinteresse pode estar relacionado com a não
compreensão do conteúdo, que tende a afastá-los de pensamentos críticos. O
interesse é importante, pois desperta a concentração, garantindo a aprendizagem
sobre o tema. Para favorecer o interesse, o professor deve ter um conhecimento
aprofundado de sua área, só assim ele vai saber o que é mais importante ensinar
para o aluno. Há a necessidade também que o professor tenha conhecimento em
Educação para transformar o conhecimento científico em escolar. O professor na
sala de aula cria e descria contexto e é nesse momento que ele precisa conhecer
seu aluno. O que o aluno vai aprender deve ser para ele um objetivo, as atividades
devem satisfazê-lo, a motivação é, dessa forma, o resultado da aprendizagem e não
pré-requisito. O professor, ao ver que seus alunos estão motivados, também se
sentirá motivado. Segundo Gagné apud Moreira (1983 p.24):
Obviamente, para que a aprendizagem possa ocorrer o estudante deve estar motivado. Esta motivação pode ser estabelecida através do desenvolvimento do aluno, de um processo denominado expectativas que é uma antecipação da “recompensa” quando atingir algum objetivo. O estabelecimento da motivação é uma fase preparatória para um ato de aprendizagem.
O papel do professor diante da aprendizagem significativa é de desconstruir
algumas atitudes ditas reprodutivistas e estar aberto para a construção de novos
paradigmas, refletir seus métodos, transformar sua didática compondo uma situação
de ensino de forma motivadora e desafiadora, mantendo uma relação pessoal com
o aprendiz, ou seja, conhecê-lo, fazê-lo sentir-se capaz, intervir na troca de
percepções entre eles, pois é por meio da aprendizagem nas relações com os outros
que se constrói o conhecimento.
2 RELATANDO A EXPERIÊNCIA
Este trabalho foi aplicado aos estudantes de 7º ano do Ensino Fundamental,
do Colégio Estadual “Professor Leandro Manoel da Costa”, na cidade de Piraí do
Sul, sobre aprendizagem significativa e sua relação da falta de interesse da maior
parte dos estudantes que ingressam no Ensino Fundamental (7º ano) por certos
conteúdos de Botânica no período de 03/02/2014 a 05/2014. Com o tema
centralizador Reino Plantae: Angiospermas e Gimnospermas, uma revisão
bibliográfica foi realizada durante toda a execução do projeto, para obter
informações relevantes sobre o tema.
A implementação teve início com a apresentação do Projeto para a Direção da
Escola e Equipe Pedagógica e aos Professores, durante a Semana Pedagógica
(ANEXO 1 ).O projeto também foi apresentado aos estudantes da turma na qual foi
aplicado.
Para uma investigação sobre o conhecimento prévio dos estudantes em
Botânica, foi aplicado um questionário com questões que abordaram a relação deles
com as plantas no dia a dia. Foi observado que os estudantes tinham um
conhecimento sobre plantas de uso terapêutico, bem como o consumo de vegetais e
frutas, na maioria vinda da cultura familiar.
Como estratégia, exercícios práticos referentes ao conteúdo também foram
organizados e elaborados, como: atividades complementares das aulas práticas em
laboratório. Em sala foram realizadas aulas expositivas com apresentação de slides,
contendo imagens e com apresentação de vídeo introdutório à botânica, e vídeo-
aula sobre o conteúdo de Plantas Fanerogâmicas, as gimnospermas e as
angiospermas. Posteriormente, houve a realização de atividades como: cruzadinha,
questões para pesquisar e responder, complementado com perguntas e debates
sobre o assunto, despertando a criticidade dos estudantes, que levou-os a
argumentarem, discutirem o tema, transpondo para a vida a construção do
conhecimento.
Foram realizadas leitura e interpretação de textos, como um trecho do poema
de Joaquim José Lisboa, de seu livro “Descrição curiosa das principais produções,
rios, e animais do Brasil, principalmente da capitania de Minas Gerais”. A partir do
texto, foi elaborada uma atividade com a evolução e classificação das plantas
representadas em um cladograma; em outro momento visualizaram os grupos
vegetais com as características, estrutura e reprodução de cada um deles, com
atividades correspondentes ao conteúdo.
Houve a aplicação de um subprojeto com o tema “Conhecendo o Mundo das
Plantas”, que teve como finalidade despertar o estudante à curiosidade sobre as
plantas e a importância delas em seu cotidiano e na natureza. De forma lúdica e
prazerosa, as aulas de campo e laboratório levaram o estudante a refletir e relatar
seu conhecimento prévio, e, a partir daí, construíram hipóteses, levantaram dúvidas
e questionamentos. Em outro momento, os estudantes foram dispostos em círculo
para um debate sobre o conhecimento prévio das aulas de campo e laboratório.
As atividades de campo foram aplicadas no Bosque Nossa Senhora das
Brotas, onde há uma quantidade significativa de Araucárias, as quais foram
observadas pelos estudantes. Realizaram anotações sobre sua importância e
fizeram um levantamento de exemplares dos espécimes existentes no bosque,
mediram o diâmetro do pinheiro (ANEXO 2 ),para analisarem a idade aproximada
(jovens e adultos),observaram a origem do pinhão e quais seus agentes dispersores.
Em sala de aula foram realizadas atividades a partir das anotações das aulas de
campo para avaliar o aprendizado, que certamente pelo resultado, foram
significativas.
Aulas práticas foram realizadas em laboratório, com a utilização de uma lupa
a partir de material coletado pelos alunos. Foram observadas as estruturas
vegetativas e reprodutivas de uma Briófita, Pteridófita e da semente de Araucária
(pinhão), (ANEXO 3 ).Para conhecer e identificar os órgãos reprodutivos das
angiospermas, uma flor de Azaléia , sementes de feijão, milho, abacate, abóbora e
outros foram observados. Todo o material foi posteriormente ilustrado num quadro.
As aulas práticas de laboratório foram necessárias, pois complementaram o
aprendizado, despertando o estudante para a iniciação científica e pesquisa ao
conhecimento científico. A cada experimento realizado, uma atividade paralela foi
desenvolvida como: responder a questões, reproduzir o que foi observado, entre
outros, para que o objeto de estudo tivesse significado. Tais aulas foram muito
atrativas e os estudantes sempre esperavam ansiosos pela próxima aula.
Para o conteúdo de Gimnospermas, foi realizada a leitura de textos e utilizado
o mapa do Brasil para localizar, nos Estados do Sul, os locais onde a araucária já foi
abundante.
O poema de Machado de Assis “As flores e os pinheiros” deu início ao
conteúdo de Angiospermas, que retrata a planta com flores, frutos em um ciclo
interminável; e com o texto “Mandioca, raiz brasileira” foi desenvolvido o conteúdo
“Órgãos vegetativos da planta”. Para o estudo do órgão Folha, foram coletadas no
pátio da Escola, folhas de diferentes tipos; após selecionado o material foi
confeccionado um cartaz representativo com a classificação(ANEXO 4 ). Um
enfoque foi dado sobre a importância das frutas na alimentação, e, com a leitura e
interpretação do texto “A importância das frutas na alimentação humana”, foi
desenvolvido atividades, que na sequência, por meio de pesquisa, foi realizada a
classificação das mesmas e coladas as figuras em seus cadernos, como também a
confecção de cartazes. Como propósito de aprofundar o conhecimento sobre a
polinização foi realizada a leitura do texto com o título “Um mamífero polinizador”,
que finalizou o conteúdo: estrutura da flor e polinização.
O estudo das plantas de uso terapêutico foi realizado, inicialmente, através de
uma pesquisa com as famílias. Após, foi elaborado um livreto, pelas equipes de
estudantes que anteriormente selecionaram e classificaram as plantas (ANEXO 5 ).
Houve a elaboração de um mural com a classificação das sementes e sua
importância na alimentação e suas diversas aplicações pelo homem. O texto “Você
sabia que a banana não nasce de uma semente?”, um texto informativo, foi
realizado a leitura e exercícios de interpretação com questões para refletir,
concluindo o conteúdo.
Ao final de todas as atividades houve a construção de mapa conceitual
(ANEXO 6 ), o qual foi preenchido pelos estudantes com o intuito de verificar a
aprendizagem, e, finalmente, houve uma exposição dos trabalhos realizados durante
o projeto.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto de Intervenção Pedagógica possibilitou ao professor conhecer os
fatores intervenientes na aprendizagem do estudante. A vivência educacional nos
mostra que as teorias da aprendizagem não são conhecidas pela maioria das
escolas brasileiras e poucas as utilizam no processo ensino aprendizagem.
Os recursos didáticos utilizados no Projeto propiciou a ampliação do
desenvolvimento cognitivo, sendo recurso de motivação, levando o estudante a
refletir, à construir significados, levantar hipóteses, explorar seu conhecimento prévio
aliando a construção e formulação de novos conceitos.
Foi de relevância para a aprendizagem levar em conta o conhecimento prévio,
pois a aprendizagem é um processo de construção mental interno, passando de um
conhecimento mais simples a outro mais complexo. A motivação é uma
consequência do aprendizado e não um pré-requisito, o que o estudante vai
aprender deve ser para ele um objeto de satisfação, as atividades devem satisfazer
o estudante, pois o interesse assegura uma sintonia de pensamentos relevantes. A
não compreensão de algo tende a afastar os estudantes de pensamentos críticos,
diminuindo o interesse.
A aprendizagem ocorre toda vez que ocorrem pensamentos significativos.
Pode-se observar, nas frases de alguns estudantes, a importância que deram para
sua aprendizagem, no relato sobre o que vivenciaram durante o desenvolvimento do
Projeto: “O que temos para hoje professora”?; “Foi legal a aula no laboratório.”;
“Professora, estão tão legais as aulas que não vou mais faltar na escola”; “É muito
bom fazer aula fora da escola.”(se referiu as aulas de campo). Diante desses relatos,
nota-se que despertou o interesse desses estudantes que, ansiosos, esperavam
pelo próximo encontro.
No curso GTR, os professores participantes salientaram a importância da
aprendizagem significativa e que o professor como mediador no processo ensino
aprendizagem é que desenvolve a atenção e vontade do estudante pelo aprender.
No entanto, apontaram o Projeto de Intervenção Pedagógica como sendo pertinente
aplicá-lo nas escolas da rede pública de ensino, até mesmo com estudantes
especiais, desde que algumas adaptações sejam feitas. As ações descritas na
implementação envolveram teoria e prática de forma a despertar o interesse, a
sensibilidade e motivando os estudantes para a alegria de aprender, facilitar o
entendimento, valorizando, assim, o seu conhecimento prévio.
Os resultados obtidos são animadores e recompensadores, pois os métodos
utilizados deram certo. Diante disso, faz-se necessário repensar a prática
pedagógica, refletir sobre os métodos utilizados e os fatores que prejudicam a
aprendizagem e, também, motivar a implementação de ações para a melhoria
educacional. Cabe ao professor pensar no contexto desse estudante, conhecendo-o
para desenvolver a motivação, que é o resultado da aprendizagem, que será seu
objeto de satisfação, absorvendo conceitos científicos de forma significativa.
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, David P.: Aquisição de Conhecimentos: Uma Perspectiva Cognitiva. Lisboa, Plátamo, 2003.
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MAYER, Richard E.: Cognição e Aprendizagem Humana. Editora Cultrix , 1977. MOREIRA, Marco A., Ensino e Aprendizagem: Enfoques Teóricos. 3ª edição. Editora Moraes. São Paulo,1985. MOREIRA, Marco A.: Subsídios Teóricos para o Professor Pesquisador em Ensino de Ciências: A Teoria da Aprendizagem Significativa. Porto Alegre 2009. MOREIRA, Marco A.; Massini , Alice F. Salzano : Aprendizagem Significativa: A Teoria de David Ausubel. Editora Moraes Ltda, São Paulo, 1982. PÉREZ, Daniel Gil; Carvalho, Anna M. Pessoa de: Formação de Professores de Ciências. Editora Cortez. 5ª edição, 2001. SANTOS, Júlio Furtado dos: Aprendizagem Significativa: Modalidades de aprendizagem e o papel do professor.2ª edição. Editora Mediação. Porto Alegre, 2009. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ: DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Ciências ,Paraná,2008. WITTER, Geraldina Porto: Ciência, Ensino Aprendizagem. Editora Alfa- Omega, São Paulo, 1975.
ANEXO 3 – Observação das estruturas vegetativas e reprodutivas de briófita,
pteridófita e semente de Araucária ( pinhão)
Fonte: autoria própria