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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

NOTÍCIAS DE JORNAL E AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA:

POR UM ENSINO MAIS EFETIVO

Mônica Emília Buzatto1

Orientadora: Profa. Me. Letícia Jovelina Storto2

RESUMO: O presente trabalho, resultado da participação no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), tem como objetivo analisar a aplicação de uma

sequência didática do gênero notícia em uma turma de 6° ano. A sequência foi

elaborada no segundo semestre de 2013 e aplicada no primeiro semestre de 2014.

Seu objetivo era desenvolver atividades de leitura, interpretação, análise linguística e

produção de textos pertencentes ao gênero notícia. Para tanto, foram tomados como

base a Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008), os Parâmetros

Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) e trabalhos de Dolz, Noverraz e Schnewly

(2004), Bakhtin (1997), Faria e Zancheta (2005), entre outros. Os resultados

alcançados foram ótimos, pois depois de muitas leituras, reescritas e reescritas, os

alunos ficaram aptos a reconhecer o gênero em questão e a utilizar tempos e modos

verbais de forma correta.

PALAVRAS-CHAVE: Gênero textual. Notícia. Sequência didática.

INTRODUÇÃO

Este trabalho, resultado de pesquisas realizadas entre 2013 e 2014 em

decorrência de participação no Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), promovido pelo estado do Paraná, tem como objetivo geral apresentar

uma análise da aplicação do Projeto de Intervenção Notícias de jornal e aulas

de Língua Portuguesa: por um ensino mais efetivo. Os objetivos do projeto

eram: estudar o conteúdo temático, a construção composicional, o contexto de

produção e recepção e o estilo do gênero notícia (BAKHTIN, 1997); propiciar a

leitura de várias notícias veiculadas em jornais locais; desenvolver um trabalho

voltado para a leitura, a interpretação e a produção de notícias; e, por fim,

fomentar o interesse discente pela leitura de textos da esfera jornalística.

1 Professora de Língua Portuguesa na rede pública e estadual de ensino do Paraná.

2 Professora da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), campus de Cornélio Procópio. Mestre

em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Para tanto, o trabalho está fundamentado nas teorias de Bakhtin (1997),

Dolz, Noverraz e Shneuwly (2004), Bronckart (1999), Faria e Zancheta (2005),

entre outros. Além disso, parte do pressuposto de que, em escolas públicas, o

ensino de Língua Portuguesa precisa de um redirecionamento, pois, segundo

as Diretrizes Curriculares da Educação Básica - DCE (PARANÁ, 2008, p. 49),

“a língua é vista como fenômeno social, pois nasce da necessidade de

interação (política, social, econômica) entre os homens”. Assim, o objeto de

estudo das aulas de Língua Portuguesa (LP) não deve ser frases soltas,

isoladas e/ou descontextualizadas, mas os gêneros textuais3, entendidos como

“tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 1997, p. 277 – grifos

do autor). Isso porque “a utilização da língua efetua-se em forma de

enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes

duma ou doutra esfera da atividade humana” (BAKHTIN, 1997, p. 277).

Bronckart (1999) corrobora isso afirmando que a língua deve ser aprendida por

meio de enunciados concretos, ou seja, por meio dos gêneros de texto.

Tal perspectiva está apoiada em documentos de educação, tais como os

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998) e as DCE (PARANÁ,

2008). Ambos sugerem um trabalho em LP voltado para os gêneros textuais

como eixo de progressão e articulação curricular, trabalhando-se leitura,

escrita, oralidade e análise linguística (BRASIL, 1998; PARANÁ, 2008).

Segundo os PCN (BRASIL, 1998, p.30),

Cabe a escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los. Isso inclui os textos das diferentes disciplinas, com os quais o aluno se defronta sistematicamente no cotidiano escolar e, mesmo assim, não consegue manejar, pois não há um trabalho planejado com essa finalidade.

De acordo com as DCE (PARANÁ, 2008, p. 61), o conteúdo estruturante

das aulas de LP deve ser o discurso como prática social. “Sendo assim, a

língua deve ser trabalhada de forma dinâmica, por meio de leitura, de oralidade

e de escrita que são práticas que efetivam o discurso”.

3 Neste trabalhamos, tomamos os conceitos de gênero textual e gênero discursivo como sinônimos.

Pensando nisso, foram construídos o projeto de intervenção e um

material didático-pedagógico com o gênero textual notícia, que foram

destinados aos alunos do 6º A, do Colégio Estadual Rubens Lucas Figueiras,

localizado na cidade de Uraí, no distrito de Cruzeiro do Norte, no Paraná.

Escolheu-se esse gênero devido ao fato de que ele trata de fatos cotidianos,

próximos da realidade dos alunos. Ademais, a linguagem nele presente é de

fácil entendimento e compreensão.

A pergunta que guiou a pesquisa é: Como trabalhar com o texto em sala

de aula, atendendo às propostas dos documentos oficiais de educação (DCE,

PCN) e tornando as aulas de Língua Portuguesa mais interessantes para os

alunos?

1 GÊNEROS TEXTUAIS

Segundo Bakhtin (1997), gêneros textuais são tipos relativamente

estáveis de enunciados. Para explicar essa relativa estabilidade, o autor afirma

que “o gênero é e não é ao mesmo tempo, sempre é novo e é velho ao mesmo

tempo” (BAKHTIN, 1997, p.106).

Também vale ressaltar que os gêneros são classificados em primários e

secundários. Gêneros primários são aqueles que não são formalizados, ou

seja, formam-se no cotidiano, na comunicação imediata, como, por exemplo, o

bilhete, a conversa, a lista de compras. Por outro lado, os gêneros secundários

são formalizados e mais complexos. Temos como exemplo deles a tese, a

palestra, a reportagem, entre outros. O gênero trabalhado durante todo o esse

período foi o gênero notícia.

Falar sobre gêneros primários e secundários é importante, pois assim é

possível perceber que a língua é formada por textos e não por frases soltas e

isoladas.

Deste modo, objetivo do ensino da LP não é fazer com que os alunos

memorizem regras e nomenclaturas, mas, como afirma Travaglia (1997),

desenvolver a competência comunicativa, ou seja, permitir que os alunos

saibam utilizar a linguagem em diferentes situações de comunicação. Trabalhar

a linguagem em situações diversificadas é possível a partir de um ensino

voltado para textos e não para frases descontextualizadas. De acordo com

Bakhtin (1997, p. 277), os gêneros textuais são “tipos relativamente estáveis de

enunciados” (grifos do autor). Essa estabilidade refere-se ao fato de que “o

gênero é e não é ao mesmo tempo, sempre é novo e é velho ao mesmo tempo”

(BAKHTIN, 1997, p.106).

Os gêneros são definidos por aspectos relacionados ao conteúdo, à

composição estrutural e a traços linguístico-discursivos, elementos

extremamente ligados aos contextos (condições e finalidades) nos quais estão

inseridos (BAKHTIN, 1997).

Todos esses três elementos — o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional — estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 1997, p. 261-262).

Além disso, Bakhtin (1997) classifica os gêneros em primários e

secundários. Gêneros primários são aqueles que se formam no cotidiano, na

comunicação imediata e não são formalizados. Como exemplo deles há:

bilhete, carta, diário, conversas, lista de compras, entre outros. Por outro lado,

os gêneros secundários são mais complexos e são institucionalizados.

Palestra, tese, anúncio, carta e reportagem são alguns exemplos. É É

importante ressaltar que os gêneros jornalísticos enquadram-se no segundo

grupo.

1.1 O gênero notícia

O gênero escolhido para a elaboração deste projeto foi a notícia.

Primeiramente, essa escolha se deu pelo fato de que notícias tratam de fatos

cotidianos, próximos da realidade dos alunos e, depois, porque a linguagem

nele presente é de fácil entendimento e compreensão. Além disso, a proposta

presente nas DCE (PARANÁ, 2008) “dá ênfase à língua viva, dialógica, em

constante movimentação, permanentemente reflexiva e produtiva.” (p.48)

Em segundo lugar, o gênero foi escolhido a fim de aumentar o interesse

dos alunos pela leitura, pois de acordo com as DCE (PARANÁ, 2008), o ensino

de Língua Portuguesa deve abranger leitura, escrita, oralidade e análise

lingüística. Segundo Faria e Zanchetta (2005, p. 26), notícia apresenta

Informações sobre um acontecimento, considerado, por quem publica, importante ou interessante para ser mostrado a determinado público. Sobre esse fato são observadas, entre outras, as seguintes características, para se definir se ele é ou não é notícia: ineditismo, atualidade, veracidade e o potencia importância ou interesse que ele pode ter para uma dada parcela da sociedade.

A partir de textos pequenos, a vontade de ler aumenta. Segundo Bordini

e Aguiar (1993), o professor deve tomar como partida a recepção dos alunos,

ouvi-los, ampliar as leituras e os horizontes de expectativas.

Partindo desse pressuposto, o gosto pela leitura de notícias pode levar

os alunos a buscarem a leitura de textos de outras esferas, como por exemplo,

a literária.

2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA

As atividades elaboradas para o material didático foram organizadas

segundo o procedimento da sequência didática (DOLZ; NOVERRAZ;

SCHNEUWLY, 2004), a qual pode ser entendida como “um conjunto de

atividades escolares, organizadas de maneira sistemática em torno de um

gênero oral ou escrito” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 97).

Trata-se de uma metodologia de ensino que visa a auxiliar o aluno a

aprofundar seus conhecimentos a respeito de determinado gênero textual,

colaborando para a leitura, a interpretação e a produção de textos falados e

escritos por parte dos estudantes, de modo que eles se sintam preparados

para falar ou escrever em situações de comunicação variadas. Por isso, esse

procedimento é composto por várias etapas: apresentação da situação,

produção inicial, módulos e produção final.

Figura 1: Etapas da sequência didática Fonte: Adaptado de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004).

A apresentação da situação é a etapa na qual o professor faz uma

apresentação sobre o gênero que será trabalhado. Na produção inicial, o

professor avalia as habilidades de seus alunos. Esse é um período de ajuste

das atividades previstas na sequência para as possíveis dificuldades da turma.

Nessa fase, acontece o primeiro encontro dos estudantes com o gênero. Nos

módulos, que têm número variado de acordo com as necessidades discentes, o

professor trabalha os problemas colocados pelo gênero por meio de atividades

direcionadas e organizadas. Para Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 103),

“trata-se de trabalhar os problemas que aparecem na primeira produção e de

dar aos alunos os instrumentos necessários para superá-los”. É necessário que

o professor utilize atividades e exercícios diversificados, fazendo, assim, com

que os alunos compreendam o gênero abordado. Na última etapa, a produção

final, o aluno “põe em prática as noções e os instrumentos elaborados

separadamente nos módulos” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004,

p.106). O papel do professor, nesse processo, é avaliar o desenvolvimento do

aluno durante todas as etapas da sequência didática, mediando a produção do

conhecimento.

O objetivo desse procedimento (da sequência didática) é desenvolver

algumas capacidades de linguagem: capacidades de ação, capacidades

discursivas e capacidades linguístico-discursivas.

3 ANÁLISE DA APLICAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO GÊNERO

NOTÍCIA

A Produção Didático-Pedagógica Notícias de Jornal e aulas de Língua

Portuguesa: por um ensino mais efetivo foi elaborada com base em pesquisas

Apresentação da situação

PRODUÇÃO INICIAL

Módulo 1

Módulo 2

Módulo N

PRODUÇÃO FINAL

bibliográficas. Sua aplicação aconteceu durante o primeiro semestre de 2014

em uma turma de 6º ano do ensino fundamental II. O projeto foi trabalhado

durante quatro meses, e duas aulas semanais foram destinadas à sua

aplicação. Os dados observados foram devidamente registrados por meio de

anotações para serem apresentados neste artigo. A partir de agora, serão

apresentados os pontos positivos e negativos de cada uma das seções da

sequência didática.

Na primeira etapa da sequência aplicada, foram elaboradas cinco

perguntas com o intuito de realizar uma investigação a respeito do

conhecimento prévio dos alunos. Procurou-se saber se eles eram capazes de

definir o gênero notícia e se eles já tinham o conheciam e se fazia parte dos

seus hábitos de leitura.

Tabela 1: Perguntas de sondagem

a) Com que frequência você lê notícias de jornal? Qual a função desse gênero de texto? b) Você acha importante se manter informado? Por quê? c) Qual era o assunto da última notícia que você leu? d) Com que frequência você lê notícias? e) Em geral, você lê as notícias por meio do jornal impresso ou pela internet? f) Fale um pouco sobre a estrutura desse tipo e texto.

O resultado obtido foi um pouco assustador. Poucos conseguiram definir

o gênero e mais da metade dos alunos disse que não tinha acesso a jornais ou

à internet. Assim, para despertar o interesse das crianças, ainda na primeira

seção, foi apresentado um texto sobre os benefícios da leitura e,

posteriormente, foi feita uma pequena discussão sobre o mesmo assunto.

Como tarefa de casa, cada aluno ficou encarregado de levar uma notícia

(de jornal ou da internet) para a escola. Grande parte deles se esforçou e fez o

que foi pedido. Na aula seguinte, houve um momento de leitura e discussão.

Sentados em círculo, cada aluno teve que falar, de forma resumida, sobre a

notícia encontrada. Essa aula foi tranquila, os alunos participaram de forma

ativa e mostraram interesse em saber sobre fatos cotidianos que acontecem

diariamente em âmbito nacional e internacional.

A produção inicial foi um momento de sondagem. Os alunos ficaram

livres para escolher um tema e produzir uma notícia sobre ele. O objetivo da

etapa foi verificar o conhecimento prévio dos alunos, suas aptidões e suas

dificuldades.

Todos os exercícios do material didático elaborado tinham a finalidade

de colaborar para que os estudantes construam conhecimento a respeito do

gênero notícia. Além disso, o conteúdo linguístico escolhido foi tempos e

modos verbais, pois a forma como esses conteúdos são abordados pelos livros

didáticos presentes nas escolas não desperta o interesse dos alunos.

Ao aplicar essas atividades, foi possível perceber que a grande maioria

dos alunos não tinha conhecimento a respeito do gênero em estudo e sobre

verbos. Portanto, algumas adaptações foram feitas e os módulos foram

trabalhados logo em seguida.

No primeiro módulo, foi apresentada a definição do gênero notícia aos

alunos, porém essa apresentação foi um pouco diferente: foram sugeridos

alguns sites seguros para busca e, em seguida, os alunos foram levados ao

laboratório de informática para pesquisarem acerca do gênero notícia. O uso

do computador em sala de aula é defendido pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educação LDB (BRASIL, 1996), que preconiza a necessidade de compreensão

da tecnologia no ensino fundamental. Além disso, segundo Moran (2000, p.

47), “os grandes temas da matéria são coordenados pelo professor, iniciados

pelo professor, motivados pelo professor, mas pesquisados pelos alunos, às

vezes todos simultaneamente”.

Os alunos afirmaram ter gostado muito dessa parte da aula, pois as

atividades trabalhadas eram diferentes daquelas com as quais eles estavam

acostumados. Eles anotaram e depois discutiram, em círculo, a respeito do

assunto. Alguns até pesquisaram a respeito da estrutura do gênero notícia.

Em seguida, foram apresentados aos alunos o texto Poema tirado de

uma notícia de jornal, de Manuel Bandeira, e uma definição da palavra notícia,

retirada do Dicionário Aulete (2014). Os alunos tiveram que associar a

definição dada pelo dicionário ao poema e realizar algumas atividades sobre o

assunto.

Tabela 2: Poema usado para realização de atividade

Poema tirado de uma notícia de jornal (Manuel Bandeira)

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Tabela 3: Definição de notícia

NOTÍCIA (no.tí.ci:a) sf. 1. Jorn. Relato jornalístico de fatos atuais, de interesse público: Saiu no jornal uma notícia sobre a enchente. 2. Quem ou o que desperta vivo interesse do público: As celebridades são sempre notícia. 3. Informação nova; NOVIDADE: O médico trazia boas notícias. 4. Conhecimento, informação: Não tenho notícias de como ele está. 5. Lembrança, conhecimento: Que eu tenha notícia, foi o melhor carnaval. [F.: Do lat. notitia, ae.]

Ser notícia 1 Ser objeto de notícia, de matéria jornalística. 2 Fig. Estar em projeção, ser foco de interesse.

Fonte: Dicionário Aulete (2014).

Com as correções feitas pela professora, percebeu-se que somente um

pouco mais da metade da turma alcançou um resultado satisfatório nessas

atividades. Os demais alunos precisaram de mais explicações para alcançar os

objetivos das atividades propostas.

No segundo módulo, foi feita uma explicação sobre as características e a

estrutura do gênero notícia por meio de slides. É importante lembrar que essa

explicação foi fundamentada nos estudos de Faria e Zanchetta (2005).

Depois de fazer uma explicação sobre o gênero notícia e de aplicar

algumas atividades de compreensão, no terceiro módulo, foi feita uma

explicação sobre tempos e modos verbais.

Essa etapa levou um pouco mais de tempo, pois a maioria dos alunos

precisou de várias e diferentes explicações para assimilar o conteúdo, pois a

turma passou para o sexto ano com uma defasagem muito grande de

conteúdos.

Tudo já falado foi trabalhado por meio de slides, pesquisas na internet

ou em livros e muitos exercícios contextualizados sobre o assunto. Grande

parte do material didático encontrado na escola apresenta esse assunto de

forma mecânica e descontextualizada e os alunos, muitas vezes, não

compreendem o conteúdo.

O trabalho e as pesquisas realizadas durante todo o PDE (2013-2014)

possibilitaram a produção de um material contextualizado e voltado para o

trabalho com gêneros de texto. Após a correção de todas as atividades

realizadas, foi possível diagnosticar que os alunos puderam perceber a

importância da leitura, as características e a definição do gênero notícia e,

também, utilizar adequadamente os tempos e modos verbais.

No quarto e último módulo, os alunos entraram em contato com diversos

modelos de textos do gênero e realizaram atividades de leitura e interpretação

textual.

Na fase de produção final, os alunos elaboraram uma notícia a respeito

da visita de uma autoridade local à escola. Primeiramente, os estudantes

pesquisaram acerca da autoridade e, em seguida, elaboraram um texto de

apresentação do colégio, apontando algumas melhorias que eram necessárias.

Por fim, eles produção uma notícia em que relatavam o acontecimento. O texto

final dos alunos passou por um processo de refacção textual, ou seja, teve de

ser reescrito algumas vezes, pois, de acordo com Galdino (2011, p.10),

A escrita precisa ser encarada como uma atividade artesanal. Através dessa ótica, deixam-se para trás exigências como: cobrar do aluno um talento sobrenatural para produzir um texto perfeito na primeira tentativa. Nessa nova concepção, os desvios dos alunos devem ser vistos como indicadores que sinalizam qual aspecto da produção textual merece mais atenção.

Como os alunos não tinham o hábito de reescrever textos, alguns

reclamaram, mas, depois de muita conversa, eles entenderam a importância

desse ato. Vale ressaltar que eles têm uma grande dificuldade com a ortografia

(na produção inicial, o problema foi diagnosticado). Por essa razão, atividades

extras foram levadas para a sala de aula e, durante o período de aplicação da

produção didático-pedagógica, foi necessário realizar um trabalho voltado para

regras de ortografia.

Os alunos escreveram e reescreveram e mostraram que

compreenderam bem o conteúdo. Além disso, eles foram motivados a trocar as

notícias produzidas entre os colegas, a lerem e a discutirem sobre o que

escreveram, para, no fim, colaborarem com a produção de um jornal que

circulou pela escola durante alguns meses. A turma do 6ºA ficou responsável

pela escrita das notícias que compuseram o jornal.

Como afirmado anteriormente, o objetivo da SD é desenvolver algumas

capacidades de linguagem - capacidades de ação, capacidades discursivas e

capacidades linguístico-discursivas. Ao longo de todo o período de

desenvolvimento e aplicação da SD sobre notícia, percebeu-se que o objetivo

foi alcançado, pois as atividades realizadas foram corrigidas e, ao final do

processo, percebeu-se que os alunos, de fato, construíram conhecimento a

respeito do gênero estudado e também sobre verbos.

As capacidades de ação foram desenvolvidas, pois os alunos, hoje, são

capazes de diferenciar uma notícia de uma reportagem ou de uma carta ao

leitor. Isso foi percebido com a aplicação da avaliação e durante a colaboração

no jornal. Além de escrever uma notícia, os alunos tiveram que responder a

algumas perguntas sobre os conteúdos trabalhados durante esse ano. Mais de

70% da sala atingiu um bom resultado nessa atividade.

Em relação às capacidades discursivas, foi possível perceber que os

alunos estão aptos para reconhecer cada uma das partes de uma notícia, que

podem ser resumidas em: quem, quando, onde, como e por que algo

aconteceu.

Se for entregue uma notícia recortada e fora de ordem aos alunos,

grande parte deles será capaz de colocá-la em ordem e nomear cada uma de

suas partes. Isso só foi possível graças às explicações feitas em sala de aula

que foram baseadas na teoria de Faria e Zanchetta (2005).

Por fim, as capacidades linguístico-discursivas foram desenvolvidas,

pois para a realização da produção final, os alunos demonstraram

conhecimento a respeito das marcas lingüístico-discursivas do gênero notícia,

como utilização de nomes próprios e de pronomes pessoais para a

referenciação, de tempos e modos verbais para a progressão textual, de

adjuntos adverbais, especialmente aqueles referentes a tempo, espaço e modo

etc. Tudo isso é necessário para que, nas notícias, os alunos informassem ao

leitor de seus textos “quem”, “o quê”, “quando”, “como”, “onde” e “por quê” algo

aconteceu. A seguir, apresenta-se uma tabela que resume as principais

capacidades de linguagem trabalhadas em cada uma das etapas da sequência

didática produzida.

Tabela 4: Capacidades de linguagem desenvolvidas

Etapa Atividades realizadas Capacidades de Linguagem

Apresentação da Situação

Verificação dos conhecimentos de mundo dos alunos sobre o gênero trabalhado: Notícia de Jornal. Além disso, este foi um momento de motivação, pois foi apresentado um pequeno texto que mostrou a importância de se manter informado nos dias atuais

CAPACIDADES DE AÇÃO

Módulo 1

Neste momento, os alunos foram levados ao laboratório de informática e foi realizada uma pesquisa em sites seguros sobre a definição do gênero notícia. Em seguida, foi feita a leitura de um poema que gerou uma discussão: cada aluno teve que dizer qual o significado da palavra notícia e fazer um breve comentário.

CAPACIDADES DE AÇÃO

Módulo 2

Nesta etapa, foram apresentadas de forma resumida as características e a estrutura do gênero em estudo. Para enriquecer as explicações, foi feita uma apresentação de slides com essa estrutura. Além disso, os alunos foram levados laboratório de informática e foram sugeridos sites seguros

CAPACIDADES DISCURSIVAS

para a realização de uma pesquisa sobre o assunto.

Módulo 3

Explicação sobre verbos

CAPACIDADES LINGUÍSTICO-DISCURSIVAS

Módulo 4 Neste momento, os alunos se familiarizaram com o gênero notícia. As notícias apresentadas neste módulo não estavam na íntegra. Novamente os alunos tiveram que realizar uma atividade com o auxílio da Internet.

CAPACIDADES DISCURSIVAS

Módulo 5 Atividades de interpretação textual e sobre estrutura do gênero notícia

CAPACIDADES DE AÇÃO, LINGUÍSTICO–DISCURSIVAS E DISCURSIVAS.

Produção Final

Avaliação de tudo que foi trabalhado durante o período.

CAPACIDADES DE AÇÃO, LÍNGUÍSTICO–DISCURSIVAS E DISCURSIVAS.

Fonte: Da autora.

Considerações Finais

Durante a implementação da produção didático-pedagógica, foi possível

perceber que o trabalho realizado por meio de sequências didáticas é mais

eficaz e motivador, pois os resultados alcançados durante esse período foram

satisfatórios, se comparados com aqueles atingidos com os trabalhos voltados

para as metodologias tradicionais.

As metodologias tradicionais de ensino não devem ser esquecidas,

porém, foi comprovado durante a realização deste trabalho, que é necessário

conhecer as novas teorias e os novos métodos de ensino para que o trabalho

em sala de aula seja mais eficaz.

No início do ano letivo, era possível perceber facilmente a falta de

interesse da maioria dos alunos pela disciplina. Com o início da implementação

da produção didático-pedagógica, essa atitude começou a mudar. No decorrer

das aulas destinadas a essa implementação, as aulas ficaram mais calmas e

mais dinâmicas.

Tudo isso comprova que conhecer as novas tendências e metodologias

de ensino faz uma grande diferença nos resultados de aprendizagem

alcançados. De acordo com as orientações presentes nas DCE, o professor de

Língua Portuguesa deve fazer explicações e propor “atividades planejadas que

possibilitem ao aluno a leitura e a produção oral e escrita, bem como a reflexão

e o uso da linguagem em diferentes situações” (PARANÁ, 2008, p.55).

Sendo assim, é necessário que os professores pesquisem e busquem

novas formas de ensinar. Somente assim, os alunos se sentirão motivados e se

interessarão mais pela Língua Portuguesa.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. de Maria E. Galvão G. Pereira. 2.ed.São Paulo: Martins Fontes, 1997. BRASIL, Câmara dos Deputados. Lei Darcy Ribeiro (1996). LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 6. ed. Atualizada. Brasília: Edições Câmara, 2011. BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa: terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998. BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor (alternativas metodológicas). 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993

BRONCKART, J.-P. Atividade de linguagem, textos e discursos. Por um interacionismo sócio-discursivo. São Paulo: Educ, 1999. DOLZ, J; NOVERRAZ, M; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. Em: DOLZ, J; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização de Rojo e Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004. FARIA, M. A.; ZANCHETTA, J. J. Para ler e fazer o jornal na sala de aula. 2.ed. SãoPaulo: Contexto, 2005. GALDINO, Monique Cezar Merêncio. Reescrevendo práticas: o lugar da reescrita em sala de aula. / Monique Cezar Merêncio Galdino. - João Pessoa, 2011.

MORAN, José M: MASETTO, Marcos T: BEHRENS, Marilda A. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 5. ed. São Paulo: Papiros, 2002. NOTÍCIA. In: Dicionário Aulete Digital. Disponível em: <www.auletedigital.com.br/noticia>. Acesso em fev. 2014. PARANÁ, Secretaria de Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º grau. 3.ed. São Paulo: Cortez, 1997.