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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

FOTOGRAFIA E HISTÓRIA:

O USO DA FOTOGRAFIA COMO FONTE PARA PESQUISA EM HISTÓRIA

DE TOLEDO NO PERÍODO DA SUA COLONIZAÇÃO (1946-1955)

Autor: Gilson de Amorin1

Orientador: Claudinei Aparecido de Freitas da Silva2

Resumo:

O presente artigo parte de uma pesquisa metodologicamente fotográfica como

técnica investigativa de fonte histórica. Trata-se de apresentar e discutir várias

possibilidades de sua utilização. Nessa perspectiva, como fonte, procuramos

expor alguns procedimentos para a análise das imagens fotográficas. A fim de

materializar a discussão, propomos elaborar o estudo da história do município

de Toledo no momento de sua colonização tendo como base, é claro, o registro

fotográfico. Pretendemos, ainda, refletir acerca da dimensão histórica da

imagem fotográfica, além das possibilidades efetivas de empregá-la na

elaboração do conhecimento em torno do passado de Toledo que remonta o

período de 1946-1955. Espera-se, com isso, contribuir para a valorização da

fotografia como fonte de pesquisa, além de ampliar conhecimentos sobre a

história do município de Toledo e da Região Oeste do Paraná.

Palavras-chave: Toledo. História. Colonização. Fotografia.

INTRODUÇÃO

O professor como profissional da educação deve estar em constante

formação, em busca de novos conhecimentos para desenvolver uma prática

pedagógica cada vez melhor, capaz de atender os anseios dos alunos com

1 Pós-Graduado em Ética e Política, graduado em Filosofia (1995). Atua no Colégio Estadual Presidente

Castelo Branco Ensino Médio e Profissionalizante - Toledo - PR.

2 Professor dos Cursos de Graduação e de Pós-Graduação (Stricto Sensu) em Filosofia da UNIOESTE –

Campus Toledo com Estágio Pós-Doutoral na Université Paris 1 – Panthéon-Sorbonne, entre

2011/2012. Escreveu “A carnalidade da reflexão:ipseidade e alteridade em Merleau-Ponty” (São

Leopoldo, RS, Nova Harmonia, 2009) e “A natureza primordial:Merleau-Ponty e o ‘logos do mundo

estético’” (Cascavel, PR, Edunioeste, 2010). Organizou “Encarnação e transcendência:GabrielMarcel,

40 anos depois” (Cascavel, PR, Edunioeste, 2013) e “Kurt Goldstein: psiquiatria e fenomenologia”

(Cascavel, PR, Edunioeste, 2015). Endereço para contato: Rua da Faculdade, 645 – CEP: 85903.000 –

Toledo (PR). Fone: (45) 3379 7127. E-mail: [email protected].

quem trabalha. Desta forma, o presente artigo busca fazer um balanço crítico

do projeto “Fotografia e História: O uso da fotografia como fonte para pesquisa

em História de Toledo no período da sua colonização (1946-1955)”; projeto

este implementado, via o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) no

Estado do Paraná.

A pesquisa ora em pauta vinculou-se à temática “Fundamentos teórico

metodológicos para o ensino de História” na disciplina de História. Nessa

direção, ela abre um espaço significativo no sentido de criar uma oportuna

ocasião aos alunos de ensino médio sobre o estudo da memória e do

patrimônio cultural de Toledo por meio de diversos recursos como o trabalho

com análise de textos, fotos, visitas a museus, incursões fotográficas etc.

Desse modo, a pesquisa foi desenvolvida na 2ª Ano do curso de Formação

Docente, do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco – Ensino profissional

e Médio Toledo Paraná. O que motivou tal iniciativa foi o fato de se reconhecer

que o aluno secundário possui certa dificuldade em interpretar fontes históricas

imagéticas tão presentes em seu próprio processo de aprendizagem. Com isso,

a partir da experiência fotográfica, tornou-se possível, enfim, despertar o

interesse do estudante pelo estudo da História, situando-o como intérprete e

sujeito participante da vida cultural como patrimônio histórico da cidade.

A primeira parte do trabalho aqui realizado consistiu num breve resgate

histórico da fotografia, da sua origem na França no século XIX até a sua

chegada no Brasil no mesmo século. No contexto ainda desse primeiro

momento, foram desenvolvidas várias atividades acerca do conhecimento

básico referentes ao aspecto técnico da fotografia. Para isso, foram também

realizadas aulas teóricas sobre fotografia, além de uma visita ao laboratório

fotográfico da Faculdade Sul Brasil – FASUL, em Toledo, objetivando um

contato direto entre alunos e a parte tecnológica da fotografia. É importante

ressaltar que se organizaram visitas a estúdios fotográficos de empresas na

cidade.

No segundo estágio do trabalho, a fotografia foi apresentada como

documento histórico e os seus vários usos possíveis como fonte de pesquisa. o

estudo técnico- iconográfico e a iconologia também foi desenvolvida nesse

momento. Desse modo, trabalhei alguns recursos metodológicos a fim de

aprimorar a interpretação de imagens fotográficas. O estudo de Boris Kossoy,

por exemplo, acerca da temática serviu de base para o seu pleno

desenvolvimento. Para o historiador realizar uma análise da imagem

fotográfica, conforme afirma Kossoy, ele necessita estabelecer uma

[...] metodologia para a análise dessas fontes. Esta

metodologia põe em questão considerações sobre fatores de

manipulação que atuam na construção da fotografia, tais como:

tecnologia empregada, atuação do fotógrafo, considerado um

filtro cultural, as casas editoriais, os receptores das imagens,

entre outros (KOSSOY, 1980: 38).

Na parte final, discutimos acerca do objeto principal da pesquisa, qual

seja, a História do Município de Toledo no contexto de sua colonização. O

acervo fotográfico, a pesquisa bibliográfica e eventuais documentos escritos

produzido ao longo desse período converteram-se num material valioso de

apoio. Nesse momento, as produções dos primeiros fotógrafos de Toledo estão

apresentadas, analisadas e interpretadas seguindo as regras do estudo

técnico-iconográfico e iconologia.

AS RAZÕES DA PESQUISA

Antes de tudo, cabe mencionar que o resultado da presente pesquisa se

radica sob, ao menos, três razões mútuas. A primeira, em função do fato da

experiência pessoal do autor como profissional da fotografia, com atuação em

Toledo durante 22 anos. Em segundo lugar, em virtude da experiência do autor

como educador do ensino fundamental e médio. Não deixa de ser notório o fato

agravante de que tanto alunos quanto professores lidam com enormes

dificuldades sobre a interpretação de imagens fotográficas. Disso advém a

premente necessidade de encontrar novos métodos e recursos didáticos para

construção do processo de ensino aprendizagem na área de História. Vê-se,

então, a fotografia como uma ótima possibilidade de abordar o conhecimento

histórico de forma diferente. Além da máquina fotográfica, outras tecnologias

estão presentes na vida de toda a comunidade escolar. Acredita-se que o uso

de tecnologias inovadoras em sala de aula pode contribuir para melhores

condições da aprendizagem. Abolir o uso de tecnologias em sala de aula, nada

mais implica, em nossa opinião, do que um retrocesso irremediável tendo em

vista as novas demandas da sociedade contemporânea. A terceira razão recai

sobre novas posturas dos historiadores com relação ao uso de fontes históricas

para pesquisa. A partir da Revolução Industrial, a humanidade viria conhecer

uma série de inventos que, de certa forma, deixará a sociedade mais “laica,

veloz, tecnológica e globalizada” (BORGES, 2008). Entre essas invenções

surge a fotografia que, a partir do século XIX com o advento da câmera

fotográfica, se populariza. Alguns historiadores passaram a ver a fotografia com

outras perspectivas de pesquisa ao ponto de promover a produção fotográfica

como documento histórico de primeira categoria, tal como os documentos

escritos. Acreditamos, com isso, ser possível fazer uma melhor e mais

aprimorada interpretação da História, ou seja, de ver o mundo a partir de outras

linguagens superando a própria história metódica no sentido dado por Ranke3.

Ora, Le Goff citando na Revista de Annales, dizia:

A História faz-se com documentos escritos, sem dúvida,

quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem

documentos escritos, quando não existem. Com tudo, o que a

habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu

mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos.

Paisagens e telhas. Com as formas do campo e das ervas

daninha. Com os eclipses da lua e a atrelagem dos cavalos de

tiro. Com os exames de pedra feitos pelos geólogos e com as

análises de metais feitas pelos químicos. Numa palavra, com

tudo o que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve

o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a

atividade, os gostos e as maneiras de ser Homem. (LE GOFF,

2003: 530).

Ora, a fotografia como uma técnica passa a ser conhecida em 1826, com

a sua invenção, mas como documento histórico só a partir de 1900 com a

revolução documental. A partir da invenção da fotografia, como relata Kossoy,

3 Escola Metódica tem como principal expoente, Leopold Von Ranke, historiador alemão que tenta

transformar a História em ciência, tal como era a matemática, a física, a química e a biologia. Nessa

escola, o historiador deveria apenas extrair as “verdades” dos documentos sem fazer qualquer

questionamento dos fatos ou se posicionar, nem fazer juízo de valor de fatos já passados. Portanto, a

Escola Metódica era assim chamada porque desenvolveu um método, que legitimara a História como

ciência.

“a expressão cultural dos povos exteriorizada através de seus costumes,

habitações, monumentos, mitos e religião, fatos sociais e políticos, passou a

ser gradativamente documentada pela câmera” (KOSSOY, 2001: 26) e “as

múltiplas informações de seus conteúdos enquanto meio de conhecimento têm

sido timidamente empregadas no trabalho histórico” (KOSSOY, 2001: 28).

Kossoy entende a fotografia como “um caminho a mais para a elucidação do

passado humano nos seus últimos cento e sessenta anos” (KOSSOY, 2001:

32).

A fotografia como uma técnica imagética mostra em seu conteúdo cenas

do passado que foram registradas pelos homens ao longo da História. Ela

guarda congelada, para sempre, um momento do tempo. Quem irá conferir à

fotografia um teor historicamente documental é, de fato, o historiador que tem

acesso a ela no desenvolvimento da sua pesquisa. Uma foto pode ser apenas

uma representação artística, mas conforme a abordagem do historiador, pode

se tornar um poderoso documento histórico. Por isso, Kossoy diz que “toda

fotografia tem a sua origem a partir do desejo de um indivíduo que se viu

motivado a congelar em imagem um aspecto dado do real, em determinado

lugar e época” (KOSSOY, 2001: 28). Então, podemos dizer que a fotografia

representa a vontade do seu autor, no caso, aqui, o fotógrafo, que expressa em

imagem, a sua visão de mundo, como muitas vezes vemos nos documentos

escritos.

Pois bem: o professor ao realizar seu trabalho em sala de aula deve

mostrar para seus alunos que a História não é uma ciência que tem como

objeto de estudo só o passado da humanidade. O estudante precisa ver a

História como ciência também do presente. A relação presente e passado deve

ser bem esclarecida para o aluno, a fim de despertar nele o interesse aos

estudos históricos. Uma questão presente pode ser a motivação que ele

precisa para apreciar ainda mais, de forma crítica, inclusive, a abordagem

histórica sobre o passado. O ponto de partida das reflexões históricas é o

presente, quer dizer, o próprio momento histórico que o aluno vive. Como diz

Jean Chesneaux “não é mais o passado que comanda, que dá lições, que julga

do alto de seu tribunal. É o presente que questiona e faz as intimações”

(CHESNEAUX, 1995: 24). A História como ciência, segundo Chesneaux, “tem

uma relação ativa com o passado” (CHESNEAUX, 1995: 23). As experiências

realizadas pelos homens no passado devem ser conhecidas, exploradas,

discutidas, e o que foi bom para humanidade deve ser preservada e as coisas

ruins, eliminadas. Dessa forma, conhecendo as experiências realizadas no

passado compreendemos melhor a sociedade que vivemos.

No seu livro História e fotografia, Kossoy cita Marc Bloch, que aborda o

progresso sobre a produção do conhecimento histórico do passado: “O

passado é, por definição, um dado que coisa alguma pode modificar. Mas o

conhecimento do passado é coisa em progresso, que ininterruptamente se

transforma e se aperfeiçoa” (BLOCH, 1974: 55, apud, KOSSOY, 2001: 32). Da

mesma maneira, é que as diretrizes curriculares de Educação também

discutem a questão da relação passado/presente: “os sujeitos fazem relação

passado/presente o tempo todo em sua vida cotidiana” (DCE, 2008: 46). Então,

o aluno enquanto sujeito histórico precisa conhecer os mecanismos que

possibilitam a construção do passado que chega até ele, que através da sua

reflexão tem como resultado o seu saber histórico. As informações do passado

que chegam até nós, muitas vezes constituem falsas verdades, resultado do

controle que o poder instituído faz com o passado e com a história. O poder

constituído censura, oculta, deforma a história do passado. “O estado e o poder

organizam o tempo passado e moldam sua imagem em função de seus

interesses políticos e ideológicos” (CHESNEAUX, 1995: 29). É, pois, com esta

preocupação de partir do presente para pensar o passado e considerando os

alunos envolvidos como sujeitos históricos, que este trabalho chega ao seu

termo final propondo, substancialmente, abordar um tema ainda profundamente

inexplorado: a fotografia.

Isto posto, devemos situar o principal objeto de estudo: Toledo como

município do Estado do Paraná. A partir da sua história, podem-se levantar

várias questões a serem analisadas a partir da análise imagética. O trabalho

aqui em curso visa refletir sobre a fotografia como instrumento de propaganda

no processo colonizatório da cidade. Para tanto, levou-se em conta como

subsídio o pioneiro trabalho fotográfico de Ondy H. Niederauer, responsável

pela contabilidade da empresa MARIPÁ e pelas produções das primeiras

imagens fotográficas retratadas do Município de Toledo. As imagens originais

produzidas por Niederauer, que compõem o plano de colonização da Empresa

MARIPÁ, encontram-se no acervo fotográfico do Museu Histórico Willy Barth,

em Toledo, e podem também ser encontradas no trabalho de Solange da Silva

Portz (2002). Além de Niederauer, conforme relato de Reginaldo Aparecido dos

Santos, pessoas como Bolivar Ruaro, Julio Bastian, Egon W. Berzht, Henrique

Iserhagem, Lucio Lichl, João Zanolla, (SANTOS, 2010: 62), também

produziram imagens fotográficas no período inicial da História de Toledo. O

trabalho desses fotógrafos e eventuais documentos escritos, disponíveis no

Museu Histórico Willy Barth, têm sido instrumentos preciosos.

A História de Toledo narrada a partir de uma visão iconográfica tem sido

objeto atual de estudos. Solange da Silva Portz e Reginaldo Aparecido dos

Santos produziram dissertações de Mestrado abordando a temática. Portz, no

trabalho intitulado“Paisagens da Memória: um estudo sobre as fotografias do

plano de colonização da Empresa MARIPÁ entre os anos de 1946- 1955”, ao

entrevistar o contabilista da Empresa MARIPÁ e fotógrafo amador Niederauer,

conheceu aspectos relevantes do processo de colonização do Município de

Toledo e o importante papel da fotografia no processo de divulgação das ações

da colonizadora MARIPÁ. Niederauer, ao ser entrevistado por Reginaldo

Aparecido dos Santos, comenta “que fotografava tudo que achava de

interessante. Eu na época fotografava porque eu tava pensando no futuro”

(SANTOS, 2010: 64). Suas fotos eram usadas para divulgar o sucesso do

Município de Toledo no âmbito urbano como também rural. Solange da Silva

Portz diz que

O olhar do fotógrafo, que enquadrou cenas voltadas às atividades da empresa, compôs assim, parte da História da região Oeste do Paraná [...] ele se propôs a registrar as atividades que o grupo empresarial realizava com o propósito de construir uma História sobre a colonização do Extremo Oeste do Paraná (PORTZ, 2002: 29).

O trabalho realizado por Portz tem constituído, como se vê, em material

para a presente pesquisa. Além dele, foi utilizado o importante trabalho de

Reginaldo Aparecido dos Santos, a dissertação de mestrado, Narrativas

Urbanas: cidade, fotografias e memórias, Toledo Pr 1950-1980. Em seu

estudo, Santos realiza entrevistas com Augusto Clivati, o primeiro fotógrafo

profissional a estabelecer uma empresa do ramo em Toledo. Segundo o autor,

Clivati retratava vários aspectos da cultura toledana com fins comerciais. O seu

trabalho fotográfico constituiu, portanto, em assunto central da entrevista

realizada por Santos. Segundo o relato cedido,

[Eu] fotografava as ruas. A igrejinha que tinha aqui. Para vender fotos pros compradores de terras que vinham pra cá. Quando chegava os compradores por aí. Tinha três hotel aqui. Ou vinha. O escritório da Prata, da MARIPÁ era fácil. Era aqui no centro. esse pessoa. Já me comprava algumas fotos e o Sr. Willy Barth que era o gerente da MARIPÁ sempre me convidava pra fotografar inauguração de vilas. A primeira foto. A primeira foto que fiz com eles é, hoje é município. MARIPÁ, Vila MARIPÁ. Vila Margarida fiz com eles. Fiz é, Dez de Maio, Novo Sarandi e assim foi. Tudo que era de fotografia. Revelava filme né. Tudo preto e branco. Só no escuro, lógico. Naquela época a revelação era tudo no escuro. Fui trabalhando, fui trabalhando. (SANTOS, 2010: 67).

Santos comenta que, muitas vezes, a empresa MARIPÁ contratava o

serviço de Clivati para realizar algumas reportagens fotográficas no Município,

na perspectiva de mostrar a partir de fotografias aspectos das ações da

colonizadora MARIPÁ no Oeste do Paraná.

Como o leitor a essa altura deve perceber, há um pano de fundo a partir

do qual a presente pesquisa entra em cena, qual seja, uma tentativa de

desmistificação quanto à ideia de que a disposição das pessoas na fotografia

representa uma relação de poder entre as pessoas retratadas. Em seu artigo,

Educando o trabalhador da grande ‘família’da fábrica – a fotografia como fonte

histórica, Maria Ciavatta apresenta uma fotografia e realiza uma análise

iconográfica da mesma. Ela diz, como resultado da sua análise:

O que permanece é a identificação de grupo pela fábrica, a grande “família da fábrica” a que pertenciam. Sua identidade aparente se manifesta pelos sinais de status, ternos, chapéus, bengalas para as chefia, ou pelas ferramentas e produtos de seu trabalho para os demais trabalhadores. No caso dos primeiros diretores, chefias, a posição dos fotografados, as cadeiras, os ambientes revelam sua identidade na escala do poder (CIAVATTA, 2004: 53).

Para Ciavatta, a posição ocupada por algumas pessoas e a forma que

foram retratadas, evidencia uma escala de poder. Tal ideia é defendida por

Ciavatta e também por outros autores como, por exemplo, Nilda Alves, que no

estudo Nossa lembrança da escola tecida em imagens discute esta questão a

partir da análise de fotografia em ambientes escolares. A autora realiza uma

análise de uma fotografia da sua turma do primeiro ano primário, e, como um

dos resultados da sua análise iconográfica, ela diz que “por ser a primeira

aluna da turma, está do lado da professora” (ALVES, 2004: 130). Portanto, o

destaque dela na aprendizagem, teria lhe dado o privilégio de estar ao lado da

professora na foto de sua turma.

Fica, então, evidente o quanto essa abordagem de fundo figura na

pesquisa. Quer dizer: trata-se de compreender que, por mais que em algumas

fotografias esta análise esteja correta, em alguma delas a posição que cada

pessoa ocupa na foto é obra do acaso, não havendo, pois, manifesta

intencionalidade de demonstrar uma relação de poder entre as pessoas

retratadas. A formação dos participantes na imagem é absolutamente natural.

A fotografia pode assumir diversas finalidades ao longo da História.

Quando, por exemplo, Niederauer fotografava as ações político-econômicas

implementadas em Toledo nos anos 40 e 50 pela Empresa colonizadora

MARIPÁ, havia uma finalidade implícita em cada foto produzida. Ele dizia,

conforme relata Solange da Silva Portz que “eu já tinha tudo esquematizado,

registrar para o futuro” (PORTZ, 2002: 30). Na condição de funcionário da

referida colonizadora, as fotos fotografadas por ele representavam os anseios

imobiliários daquela. A principal intenção da MARIPÁ era divulgar a área

colonizada, isto é, atrair pessoas para Toledo. Fica também patente que a

colonizadora não estava preocupada em preservar a História de Toledo.

Olhando as fotografias produzidas por Niederauer a partir dos dias atuais, com

os olhos no presente olhando o passado, podemos analisá-la a partir de outras

perspectivas. Podemos analisar, por exemplo: as permanências e as

mudanças, as maneiras como as pessoas se vestiam, as características da

arquitetura, as características das ruas, a religiosidade no município, a

diversidade cultural, etc. Assim, podemos encontrar outros contextos para cada

trabalho fotográfico de Niederauer.

A fotografia, no momento histórico em que é criada, pode estar a serviço

de um interesse ideológico, como acontecia, por exemplo, no governo de

Getúlio Vargas. Em outros momentos pode estar completamente desvinculada

de tal interesse, é claro. Kossoy, em seu livro Realidades e ficções na trama

fotográfica, fala da primeira e segunda realidade para demonstrar as diferentes

funções e significados que a fotografia pode revelar ao longo da história.

Charles Monteiro, parafraseando Kossoy, diz que:

Uma fotografia tem uma primeira realidade ligada ao momento de produção de imagem pelo fotógrafo, e uma segunda realidade ligada à circulação e aos usos posteriores da imagem em contextos e períodos posteriores, sob as formas que não foram previstas pelo fotógrafo no momento de produção de imagem (MONTEIRO, 2008:175).

No Município de Toledo, durante o processo de sua colonização, a

fotografia estava presente. Niederauer coletou as primeiras imagens do Oeste

do Paraná. Ele procurava mostrar através de seu trabalho fotográfico como

realmente Toledo se encontrava. Toda a novidade que aparecia na cidade, ele

tratava de registrar e divulgar. Era preciso levar as imagens de Toledo aos

lugares em que poderiam estar os futuros compradores de terras da MARIPÁ.

Toledo passou a ser conhecido através das fotografias de Niederauer. A

fotografia, nesse momento histórico, assume, ideologicamente, um estratégico

papel, qual seja, o de divulgar ou, em linguagem moderna, fazer o marketing de

Toledo como uma espécie de “admirável mundo novo”. Muitas vezes, quando

ocorre o uso de fotografia para registrar aspectos estruturais de uma cidade, é

comum retratar só o que é, esteticamente, belo e, economicamente, próspero.

Retomando essa curiosa perspectiva histórica, há uma delimitação a ser

feita: trata-se do processo de colonização de Toledo que se inicia em 1946.

Considerando que o instrumento principal da pesquisa são as fotografias, o

recorte que se faz sela, pois, o início da produção imagética em Toledo, que

ocorre por volta de 1950, com a chegada de Niederauer e Clivati na cidade.

CADERNO PEDAGÓGICO

O material pedagógico do projeto Fotografia e História: O uso da

fotografia como fonte para a pesquisa em história de Toledo no período da sua

colonização (1946-1955), tem como proposta, desenvolver um estudo

demonstrando a história da fotografia, a sua técnica e as possibilidades do seu

uso na pesquisa histórica, sobre tudo a história de Toledo. A fim de contemplar

a proposta objetivada, por nossa pesquisa, organizamos textos didáticos,

vídeos, palestras, visitas técnicas a universidades e empresa do ramo

fotográfico, exposições de câmeras fotográficas e trabalhos realizados pelos

alunos participantes do projeto.

A experiência realizada ocorreu junto aos alunos do 2° Ano do curso

Formação Docente do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, Ensino

Médio e Profissionalizante de Toledo PR, por meio de um projeto de

intervenção. A pesquisa foi desenvolvida com um total de 30 alunos.

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO E RECURSOS DIDÁTICOS

Para promover a implementação do projeto Fotografia e História na

escola, como ponto de partida apresentamos a pesquisa para professores,

diretores e equipe pedagógica. A repercussão do projeto foi muito boa,

inclusive alguns professores assinalaram até o interesse de participar de

alguns momentos da implementação. Na sequência, aula inaugural,

apresentamos o projeto aos alunos do Ensino Profissionalizante Formação

Docente do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco de Toledo Paraná.

Com a finalidade de instigar, motivar os discentes projetamos no telão

fotografias antigas e atuais sobre Toledo. A recepção ao projeto foi muito boa.

No encontro seguinte definimos a metodologia para a implementação dos

trabalhos, qual seja, aulas expositivas, trabalhos em grupos, palestras técnicas,

visitas grupais e do coletivo da sala. Como recursos didáticos, utilizamos

câmeras fotográficas, celulares, tablet, multimídia, computadores, scanner.

A PRÁTICA DIDÁTICA

Módulo 1: História e a técnica da fotografia

Para aproximar os alunos do 2º ano do curso Formação Docente da

parte histórica da fotografia, realizamos na escola discussão sobre a história da

fotografia, da sua invenção na França a sua chegada no Brasil, sobretudo em

Toledo. Nesse momento propiciamos aos alunos informações sobre a invenção

da câmera escura e seu uso na antiguidade e na Idade Média, deixei claro para

os alunos, que o ponto de partida para invenção da Câmera fotográfica são os

aparatos tecnológicos presentes na câmera escura. Primeiro inventa-se a

câmera escura, na sequência a câmera fotográfica, em seguida a fotografia. O

ponto relevante da história da fotografia tratada nessa pesquisa é a sua

chegada em Toledo e o importante trabalho fotográfico de Ondy H.

Niederauer e Augusto Clivati, pioneiros da fotografia em Toledo. Para

complementar a ação organizamos a atividade 1 e 2. Na primeira atividade,

foram selecionados 8 duplas de fotografias 4 , cada dupla de fotografia

representava retratos de Toledo de épocas passadas e da atualidade.

Organizamos os trabalhos em grupo. Os alunos foram orientados a realizarem

uma descrição das duplas de fotografias, mostrando as mudanças e

permanências dos espaços retratados. Os resultados alcançados na atividade

foram bastante proveitosos. Os alunos perceberam muito bem as mudanças e

permanência dos objetos retratados nas fotografias. O que chamou bastante

atenção dos grupos de trabalhos foi a ausência de pavimentação nas ruas da

cidade, as casas de madeiras, os automóveis da época e a forma das pessoas

vestirem-se. Na atividade 2, continuamos trabalhando em grupo e sob

inspiração da frase de Ondy H. Niederauer, fotógrafo amador de Toledo de que

“na época fotografava porque estava pensando no futuro”, orientei os alunos

para que produzissem fotos de Toledo da atualidade que no futuro poderia

servir de fontes histórias imagéticas para serem utilizadas na pesquisa da

história da cidade. Os resultados foram consideravelmente positivos, pois cada

grupo de trabalho desenvolveu uma atividade fotográfica retratando aspectos

de Toledo da atualidade. Além disso, se fez o histórico dos objetos retratados,

como por exemplo: Igreja em construção, lote urbanos desprovidos de

construção, o anfiteatro da escola em construção, vistas parciais da cidade de

Toledo, os monumentos da cidade, famílias, pessoas, entre outras.

A fim de contemplar a parte técnica da fotografia organizamos visitas

técnicas à Universidade e empresa do ramo fotográfico5. Nestas instituições, os

alunos conheceram na prática o processo de revelação de fotografias preto e

branco e a cores. Além das visitas técnicas, realizamos palestras, discutindo

técnicas básicas de fotografar digitalmente bem como a manipulação de

imagem fotográfica com uso da informática6. A realização de uma exposição de

4 As fotografias usadas na atividade 1, O antes e o depois, estão no anexo 1 da pesquisa.

5 O registro fotográfico da visita a Universidade FASUL e a empresa Foto Clivati, esta nos anexos 2 e 3.

6 A palestra realizada na escola pelo fotógrafo Maicon Sturm, pode ser visualizada no anexo 4.

câmera fotográficas, acompanhada de informações sobre a funcionalidade de

cada câmera, também foi organizadas. Os resultados foram exitosos, uma vez

que os alunos do curso Formação Docente, conheceram o processo

constitutivo da imagem fotográfica na prática.

Módulo 2: A fotografia como documento histórico

Nesta etapa da implementação do projeto Fotografia e História na escola

apresentamos a fotografia como fonte histórica e as possibilidades do seu uso

na pesquisa histórica. Organizamos um conjunto de ações, objetivando o

contato direto entre alunos e fontes históricas sobre Toledo. A Revolução

Documental do início do século XX e a inserção da fotografia como documento

histórico de primeira categoria foi debatida neste momento, bem como também,

o estabelecimento de uma metodologia para análise iconográfica com sugestão

de um roteiro7 em que o historiador pode seguir para a realização do exame

técnico iconográfico e iconológico8. Para aproximar ainda mais os discentes

das fontes históricas, organizamos uma visita de estudos ao museu histórico da

cidade9. A fim de materializar a discussão, organizamos uma oficina, na qual os

alunos conheceram técnicas de higienização e digitalização de imagem

fotográfica. Finalizando o módulo, realizamos na prática análises iconográfica

de 27 fotografias sobre Toledo10. Uma das dificuldades que encontramos foi a

falta de informação quanto aos autores das fotografias, ao instrumento

fotográfico utilizado e ao ano da sua realização. Os trabalhos foram bastante

produtivos.

Módulo 3: A história de Toledo a partir da fotografia

Neste módulo desenvolvemos um conjunto de ações importantes da

pesquisa. Oportunizamos para o debate, textos didáticos sobre o processo

inicial da colonização do município de Toledo. Temas como por exemplos: a

7 O roteiro está inseridos no anexo 9, adaptado da obra Fotografia e História de Boris Kossoy.

8Etapas do processo de análises de uma fotografia. Primeiro faz-se, o exame técnico-iconográfico (fase

descritiva do documento fotográfico) depois se realiza a face iconológica (fase da interpretação do

documento fotográfico). 9 O registro fotográfico da visita ao Museu Histórico Willy Barth esta no anexo 5 da pesquisa.

10 As fotografias utilizadas para análise iconográfica estão inseridas no anexo 6 da pesquisa.

compra da Fazenda Britânia 11 , a chegada dos primeiros colonizadores, a

aberturas das primeiras estradas, as construções das primeiras casas, o

regimento da empresa MARIPÁ, atividades econômicas pensadas para Toledo,

enfim, ações implementadas pela empresa colonizadora MARIPÁ, no processo

colonizatório do extremo Oeste do Paraná. Com a finalidade, de aproximar,

ainda mais os alunos do curso Formação Docente da História de Toledo,

trabalhamos o processo de abertura e nomeação das ruas e avenidas da

cidade, conferindo atenção especial à Avenida Maripá, a primeira estrada de

Toledo. A história dos primeiros bairros da cidade também foi tratada neste

módulo, (Jardim Porto Alegre, Vila Industrial, Boa Esperança e Vila Pioneira).

Dando continuidade aos nossos trabalhos do módulo, analisamos o documento

histórico Plano de Colonização12. Com esse documento, constatamos, em que

sentido as fotos produzidas por Ondy H. Niederauer serviram como instrumento

de propaganda a fim de atrair moradores para Toledo. Com o intuito de finalizar

os trabalhos, organizamos uma atividade fotográfica denominada “A

diversidade étnica e cultural presente em Toledo no período da sua

colonização”. Com isso, orientamos os alunos a produzirem fotografias,

retratando aspectos de Toledo, evidenciando, pois, as características culturais

dos povos que promoveram a colonização do município. Finalizamos a

implementação do Projeto Fotografia e História com uma Exposição de

fotografias antigas e atuais sobre Toledo13. Os resultados dos trabalhos do

módulo 3, foram significativamente gratificantes.

Módulo 4: Grupo de trabalho em Rede (GTR)

Entre as atividades realizadas pelos professores que participam do

Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, está o Grupo de Trabalho em

rede – GRT, curso de modalidade EAD que tem como característica a

11

Extensa área de terra no Oeste do Paraná com 274.846 hectares, Adquirida junto ao governo brasileiro

pela companhia inglesa Alto Paraná, com sede em Buenos Aires. De formato retangular, a fazenda media

cerca de 40Km de Norte ao Sul ao longo do Rio Paraná (largura) e 68Km de Leste a Oeste

(comprimento). 12

O plano de colonização realizado por Ondy H. Niederauer é um relatório detalhado contendo

informações escritas e visuais sobre as ações realizadas pela Empresa MARIPÁ no processo de

colonização do Oeste do Paraná. Este documento foi organizado em 1955. Está arquivado no Museu

Histórico Willy Barth. Contém 67 fotografias em preto e branco, produzidas por Niederauer. No anexo7

da pesquisa é possível visualizar tal documento. 13

O registro fotográfico da exposição de fotografias realizada na conclusão da implementação, está no

anexo 8 da pesquisa.

interação virtual entre os Professores PDE e os demais professores da Rede

Pública Estadual. Tem como objetivos:

[...] possibilitar novas alternativas de formação continuada para os professores da Rede Pública Estadual; viabilizar mais um espaço de estudo e discussão sobre as especificidades da realidade escolar; incentivar o aprofundamento teórico-metodológico nas áreas de conhecimento, através da troca de ideias e experiências sobre as áreas curriculares; socializar o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola elaborado pelo Professor PDE com os demais professores da Rede. (http://www.educação.pr.gov.br)

A participação deste autor no Grupo de Trabalho em rede (GTR)

constituiu em uma oportunidade valiosa para discutir o projeto Fotografia e

História: o uso da fotografia como fonte para pesquisa em história de Toledo no

período da sua colonização (1946-1955). Um seleto grupo de professores de

diferentes áreas do conhecimento da rede pública do Estado do Paraná ligado

a Secretaria Estadual de Educação, participou do GTR 2014 sob a minha

tutoria. Neste curso, propomos debater a pesquisa realizada por mim no ano de

2013.

Aproveitando a oportunidade disponibilizada para se conhecer e discutir

a minha pesquisa, foram postas, então, inúmeras questões junto aos

professores cursistas, como por exemplos: a) desmistificar a ideia de que a

posição ocupada pelas pessoas na imagem fotográfica segue uma certa

hierarquia de poder; b) Qual a visão dos cursistas com relação ao uso de

tecnologia no processo de ensino aprendizagem?; c) Que concepção os

presentes elaboram em torno da proposta metodológica e o conjunto de

atividades estabelecida no Caderno Pedagógico?; d) Há como produzir fontes

históricas imagéticas de forma intencional? e) Quais as experiências dos

cursistas no uso de recursos imagéticos na pesquisa e no processo de ensino

aprendizagem?

Com relação ao primeiro ponto (a), realizamos no GTR uma proveitosa

discussão. O olhar de Nilda Alves e Maria Chiavatta sobre o tema, a opinião

dos professores cursistas na discussão, contribuiu muito para conclusão do

meu estudo sobre a questão levantada. A tarefa estabelecida aos professores

consistia em, postar uma fotografia grupal e dizer a estratégia empregada pelo

fotógrafo para posicionar as pessoas no momento da produção fotográfica. A

participação dos professores cursistas, com postagem de fotografias e relatos

levou-me, a uma primeira conclusão, ainda provisória sobre o problema em

pauta:

-Na atualidade, as pessoas são posicionadas na imagem fotográfica de forma

natural, aleatória. Elas querem fotografar, serem fotografadas, aparecer na

foto, sem a preocupação de seguir uma certa hierarquia de poder, pelo menos

em fotos não oficiais.

-Se tratando de fotos de épocas passadas, geralmente havia, todo um aparato

montado para realização de produções fotográficas. Nesse caso, por uma

questão cultural, a dispersão das pessoas na imagem fotográfica obedecia a

uma certa hierarquia de poder.

-Nas fotos oficiais, é possível notar obediência a uma certa hierarquia de poder.

A discussão seguinte girou em torno da questão do uso da tecnologia no

processo de ensino aprendizagem. A fotografia foi posta como uma tecnologia

inovadora. Presente na vida de nossos alunos, com potencial de cativar,

instigar, atrair, os nossos alunos para busca do conhecimento de forma

diferente. O texto de Fabiane Gama Olhares do Morro e a nossa pesquisa

subsidiaram a discussão. Os professores cursistas, de forma unânime, vêem a

importância das tecnologias em sala de aula e a fotografia como um recurso

indispensável para promover o conhecimento de História e outras áreas do

conhecimento.

A proposta metodológica, a escolha do público alvo para implementação

e o conjunto de atividades estabelecidas pela pesquisa, foi muito bem aceita

pelos professores cursistas. A maioria dos cursistas avaliou positivamente as

várias atividades encaminhadas. No olhar dos professores participantes do

GTR 2014, fui feliz, na escolha do público alvo para implementação do projeto

na escola. A proposta no sentido de produzir fontes históricas imagéticas nos

tempos atuais, pensando no futuro, foi bem aceita pelos professores cursistas.

As sugestões dos eventuais aspectos a serem retratados com a intenção de

gerar imagens para posteridade foram interessantes. Dessa forma, vale

destacar alguns relatos de professores. A professora Magda Lucia Somensi diz

que “fotografar grandes construções, terrenos baldios ou pavimentação, bem

como crianças brincando, pessoas trabalhando, praças, festas”. A professora

Marciene Aparecida Pires sugere que:

Podemos produzir com a fotografia aquilo o que queremos ver. Este instrumento nos possibilita dar asas à imaginação, criando imagens inusitadas, inesperadas e únicas. Primeiramente penso ser necessário que o professor tenha o interesse de discutir junto aos seus alunos a função histórica que a fotografia possui na compreensão da realidade. A partir daí cada aluno julgará que cenas merecem ser eternizadas para que futuramente contem sua história.

A professora Roseli Moreira Tosi fez a seguinte sugestão:

Em minha cidade (Cianorte-Pr) é visível o desenvolvimento urbano em geral. Vários loteamentos residenciais e industriais são abertos anualmente, contribuindo para o desenvolvimento sócio econômico da cidade. Sendo assim, acredito que esse possa ser um objeto a ser fotografado e documentando, como forma de mostrar o crescimento demográfico da cidade e os benefícios ou malefícios disso tudo.

No GTR, proporcionamos também um momento para os professores

cursistas relatarem suas experiências pedagógicas com recursos imagéticos. A

proposta de trabalho estabelecida aos cursistas consistia em selecionar pelo

menos uma ação presente no material pedagógico do autor do projeto e aplicar

em suas escolas ou locais de trabalhos (adaptando-a quando necessário) e

relatar. As contribuições dos professores cursistas, foram muito valiosas, para

meu estudo no PDE, e excelentes sugestões de trabalhos pedagógicos, com

recursos imagéticos, para serem desenvolvidas em salas de aula. Vejamos

mais outros relatos de algumas experiências pedagógicas com recursos

imagéticos realizadas pelos professores cursistas. Professora Aldanei

Terezinha da Rocha Lindner:

Uma sugestão de atividade para o final da aplicação do projeto, envolvendo as atividades [...], que estão sendo aplicadas por você. Trata-se de uma Exposição Virtual, que poderia ser montada através da criação de um Blog pelos alunos, contendo as imagens produzidas por eles, por você, as fotos antigas e ainda incluindo textos com análises, opiniões e argumentações acerca da experiência realizada. Tendo como objetivo: utilizar os recursos tecnológicos como instrumento de comunicação e

interação social para sociabilizar as imagens fotográficas realizadas no passado e no presente. Como temos o laboratório de informática da escola ao nosso alcance, montar essa exposição virtual é totalmente viável e sem custo.

Merece destaque, também, a experiência desenvolvida pelo professor

Gilberto Neske, com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, confira o seu

relato:

Com os alunos do ensino fundamental, 6ª série. Trabalhei o conteúdo da evolução da espécie humana [...]. Neste trabalho fiz adaptação. Após explicar a finalidade da pintura rupestre para os primeiros hominídeos, como estratégia de planejamento antes de uma caça e também para contar uma estória. Com base ao conceito do Antes e o Depois, solicitei aos alunos que descrevessem suas ações do dia anterior e o planejamento do que fariam no dia seguinte. Todas as ações deveriam ser descritas somente com recursos iconográficos, não poderiam escrever nenhuma linha. Uso ilustrações, fotografias, recortes de imagens, desenhos. Tipos de ações, o momento de dormir, acordar, ir ao banheiro, tomar café, estudar, brincar, ajudar em casa, vir pra escola, chegada ao colégio, entrar na sala etc. Nessa atividade os alunos foram orientados para colarem em forma de um circulo todas as atividades desenvolvidas seguindo uma sequência lógica. Confesso, que até então, nunca tinha despertado pra fazer uma atividade nesse formato. Os alunos adoraram, eu me surpreendi pela riqueza de detalhes expostos nos trabalhos. Após cada aluno apresentar a turma o resultado do seu trabalho, colamos no mural da sala.

A preocupação em organizar a História da escola, também foi

demostrada pelo professor Carlito Giacobbo, que apresentou sua experiência

pedagógica com recursos imagéticos, confiram

Na minha escola relacionando com o projeto do professor

Gilson, montamos um informativo escolar. Neste informativo

colocamos fotos da escola da sua fundação até os dias de hoje

[...]. O trabalho foi muito legal, pois pudemos relembrar fatos e

imagens que já estavam perdidos no tempo. Os alunos

gostaram muito de ver como eram alguns de seus professores

de tempos atrás. Neste caso, o antes e depois, serviu para

mostrar a imagem de pessoas que estão perto de nós que

viveram a tempos atrás. Foi muito legal, os alunos também

colocaram suas fotos, de pais, do bairro entre outras. Ao final

serviram de recordação do evento o informativo e uma

exposição de fotos que ficou por alguns dias na nossa

Biblioteca. O resultado foi muito produtivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo é resultado do estudo realizado junto ao Programa de

Desenvolvimento Educacional, o PDE. Pensamos fomentar, junto à escola,

uma abordagem que contextualize a fotografia e as possibilidades do seu uso

na pesquisa histórica. Para materializar a pesquisa, discutimos a história de

Toledo dando ênfase a uma leitura visual da sua história. Pretendemos

trabalhar a história de maneira diferente, inovadora, visando aproximar os

alunos das tecnologias contemporâneas além de abordar a história local, qual

seja, a colonização de Toledo. A participação dos alunos nas várias ações

desenvolvidas no processo de implementação na escola foi altamente positiva,

uma vez que conseguimos aprofundar o debate acerca da memória histórica de

Toledo e colocar o aluno na posição de historiador. Isso só se tornou possível

graças ao processo de análise iconográfica, à procura das fontes históricas, os

cuidados para promoção da sua preservação, da visita ao museu da cidade e

na oficina onde os alunos aprenderam as técnicas de higienização e

digitalização de fotos antigas. Acreditamos ter contribuído para a valorização

da fotografia como fonte de pesquisa, além de ampliar os conhecimentos sobre

a história do município de Toledo e da Região Oeste do Paraná.

REFERÊNCIAS

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FISCHMAN, Gustavo E. Reflexões sobre imagens, cultura visual e pesquisa educacional. In CIAVATTA, Maria, ALVES, Nilda (Orgs). A leitura de imagens na pesquisa social, São Paulo: Cortez Editora, 2004. GAMA, Fabiane. Olhares do morro: uma agência de fotógrafos das favelas. In Cadernos de Antropologia e imagem. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2007, p.113-131.

GREGORY, Valdir. Os eurobrasileiros e o espaço colonial: migrações no Oeste Paraná (1940-1970). Cascavel: Edunioeste, 2002. GRONDIN, Marcelo. O alvorecer de Toledo: na colonização do Oeste do Paraná /1946-1949. Marechal Cândido Rondon: Germânica, 2007.

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LE GOFF, Jacques. História e memória. 5. ed. Campinas, SP: Unicamp, 2003.

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pública de educação básica do estado do Paraná – História. Curitiba:

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PORTZ, Solange da Silva. As paisagens da memória: um estudo sobre as fotografias do plano de colonização da empresa Maripá - 1946 - 1955. Niterói, RJ:UFF-UNIOESTE, 2002 (Dissertação de Mestrado).

VALENTIN, Andreas. O índio na fotografia de George Huebner. In Cadernos de Antropologia e imagem. vol. 24. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2007, p. 65-78.

ANEXO1

Fotografias utilizadas na atividade 1 - O antes e o depois.

Fontes: As fotos da esquerda pertencem ao acervo do Museu Histórico Willy Barth de Toledo;

as fotos da direita foram produzidas pelo autor do projeto Gilson de Amorin

Foto 1: Vista parcial Av. Tiradentes (2013) Foto 2: Vista parcial Av. Tiradentes (1969)

Foto 3: Igreja primitiva (1949) Foto 4: Colégio Incomar (2013)

Foto 5: Antiga delegacia de polícia (1956-1960) Foto 6: Prédio da ACIT (2013)

Foto 7: Antiga rodoviária de Toledo (1980) Foto 8:Complexo comercial (2013)

Foto 9: Vista parcial Rua Barão (1956) Foto 10: Vista parcial Rua Barão (2013)

Foto 11: Vista parcial Av Maripá (1964) Foto 12: Vista parcial Av Maripá (2013)

Foto 13: Vista parcial Rua 7 de Setembro (1960) Foto 14: Vista parcial Rua 7 de Setembro (2013)

Foto 15: Vista parcial Rua 7 de Setembro (1949) Foto 16: Vista parcial Rua 7 de Setembro (2013)

ANEXOS 2

VISITA DE ESTUDO A FASUL

Foto 17: Fonte Gilson de Amorin Foto 18: Fonte Gilson de Amorin

ANEXOS 3

VISITA DE ESTUDO AO FOTO CLIVATI

Foto 19: Fonte Gilson de Amorin

ANEXOS 4

PALESTRA – A MANIPULAÇÃO DE IMAGEM COM USO DA INFORMÁTICA

Foto 20: Fonte: Gilson de Amorin

ANEXOS 5

VISITA DE ESTUDO AO MUSEU HISTÓRICO WILLY BARTH DE TOLEDO PARANÁ

Foto 21: Fonte Gilson de Amorin

ANEXOS 6

FOTOGRAFIAS UTILISADAS PARA EXAME TÉCNICO ICONOGRÁFICO

Foto 22: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 23: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 24: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 25: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 26: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 27: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 28: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 29: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 30: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 31: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 32: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 33: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 34: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 35: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 36: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 37: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 38: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 39: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 40: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 41: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 42: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 43: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 44: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 45: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 46: Acervo Museu Histórico Willy Barth Foto 47: Acervo Museu Histórico Willy Barth

Foto 48: Acervo Museu Histórico Willy Barth

ANEXOS 7

PLANO DE COLONIZAÇÃO E AS FOTOS CONTIDAS NELE

Acervo do Museu Histórico Willy Barth de Toledo Paraná

Foto 49: Fonte Gilson de Amorin Foto 50: Fonte Gilson de Amorin

ANEXOS 8

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS SOBRE TOLEDO

Foto 51:Fonte: Gilson de Amorin

ANEXOS 9

ROTEIRO PARA EXAME TÉCNICO ICNOGRÁFICO E ICONOLOGIA

Procedência do Documento

a) Local onde se encontra. b) Origem da aquisição. c) Tipo de aquisição, data e demais detalhes. d) Informações adicionais sobre a procedência do documento.

Conservação do Documento

a) Estado atual de conservação. b) Condições de armazenamento. c) Condições ambientais em que se acha armazenado.

Informações referentes ao Tema representado na imagem

a) Aspectos referentes ao local onde se deu o registro. b) Aspectos referentes à data e época em que se deu o registro. c) Levantamento preciso de todas as informações contidas na foto, inclusive legendas impressa ou manuscrita referente à identificação do assunto, e as notas marginais, comentários, dedicatória, data e local, e outras informações anotadas.

Informações referentes ao Fotógrafo

a) autor do registro; b) Endereço do fotógrafo ou do estabelecimento. c) Identificar a autoria da foto por atribuição.

Informações referentes à Tecnologia usada

a) Equipamento utilizado. b) Natureza do material fotográfico. c) Processo fotográfico empregado. d) Textura da superfície do papel. e) Tonalidade. f) Formato da imagem.

Aspectos temáticos

a) Principais elementos representados. b) Identificação da temática da obra.

Sentido da imagem

a) Como está representada a cena e seus personagens?

Impressões sobre a imagem a) Podemos relacionar a imagem com algo da atualidade? b) O que lhe chamou atenção na imagem?

Adaptado da obra de KOSSOY, Boris. Fotografia e história. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.