os desafios da escola pÚblica paranaense na … · contemporâneo globalizado. ... na explicação...
TRANSCRIPT
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O ENSINO DE GEOGRAFIA NO ESPAÇO DE VIVÊNCIA E AS TECNOLOGIAS NO 6º ANO DO COLÉGIO ESTADUAL SERAFIM FRANÇA, ASTORGA PR
Simone do Carmo Peixoto1
Hélio Silveira2
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo geral desenvolver estudos junto aos alunos do 6º ano do
Colégio Estadual Serafim França de Astorga PR, para entendimento da geografia, partindo dos
conhecimentos prévios, do espaço de vivência e, através do uso das tecnologias, interagir com o
saber, a compreender e atuar, como cidadão, no mundo ao qual está inserido, articulando
conhecimentos e práticas, da consciência geográfica, dada sua importância, no mundo
contemporâneo globalizado.O método adotado nessa pesquisa visou tornar os conteúdos
trabalhados em sala de aula mais atraentes foi incorporarado o uso das tecnologias como câmeras
digitais, celulares e tablets na formação de materiais oriundos do cotidiano do aluno em seu espaço
de vivência, relacionando com os conteúdos sistematizados da sala de aula e, principalmente, o uso
de computadores, internet e programas como o Google Earth. Pode se concluir que a diversificação
das aulas, levou os alunos a esperarem anciosos pelas aulas de geografia e saber qual seria a
surpresa da mesma. Isto desenvolveu no aluno o estímulo, a motivação que despertou o interesse
para a aprendizagem e assim diminuir a indisciplina, grande problema atual enfrentado pelos
docentes. As atividades realizadas conforme foram propostas, propiciou aos alunos construir seus
conhecimentos geográficos e formar uma visão crítica e postura participativa no espaço em que vive,
relacionando-o as esferas maiores a que pertence, levando-o a cidadania.
Palavras-chave: Paraná. Astorga. Ensino.Geografia.
__________________________ 1 Professora PDE. Graduada em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá (1992). Especialista em Geografia e Meio Ambiente pela FAFIJAN (1997), professora da rede estadual de ensino do Paraná desde 1996.
2 Orientador - Professor Dr. Docente do departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá.
INTRODUÇÃO
A geografia nos leva a conhecer o nosso ambiente e logo o mundo em toda
sua beleza, riqueza e complexidade, nos estimula a entender a relação
interdependente do homem com a natureza, toda a complexidade das relações
naturais e sociais. Essa ciência aborda temas diversos, na explicação do espaço
geográfico, desde sua formação na constituição do mundo atual e sua constante e
contínua transformação pela ação humana e natural (PONTUSCHKA 2009).
Para que o ensino de geografia cumpra seu efetivo papel, de entendimento do
espaço, como a relação homem/natureza, ela tem que formar um cidadão atuante e
isso deve se começar já nas séries iniciais do ensino fundamental. Trabalhando com
o saberes do espaço de vivência do aluno na construção dos conceitos geográficos
da série, sendo os principais: paisagem, lugar, localização e sociedade (SEFERIAN
2008).
O desenvolvimento da consciência geográfica na criança, ou seja,
aprendendo a ter um olhar crítico sob seu espaço, a levará a desenvolver a
afetividade, uma postura cidadã, ao meio que a cerca, logo a responsabilidade e
mudança de hábitos, voltados a real educação ambiental e social (DIAS 1999).
Com a experiência de vários anos de docência com os 6ºs anos, percebe-se a
imaturidade que os alunos chegam das séries anteriores, quanto ao conhecimento
geográfico, eles relatam não gostarem da disciplina. Porém, esses alunos são muito
curiosos e isto se torna ponto positivo para o processo de ensino e aprendizagem,
especialmente na Geografia. Aproveitando essa fase de curiosidade dos alunos,
trabalhar o ensino de Geografia com o uso das tecnologias, no seu espaço de
vivência, explorando vários aspectos que os rodeia, pode se tornar muito mais
estimulante e proveitoso.
Tendo em vista a necessidade de iniciar os alunos aos estudos ligados a
geografia partindo de conhecimentos prévios, tem-se no espaço de vivência da
criança a oportunidade de levantar aspectos fundamentais para estudos dos
conceitos geográficos, já que é nesse espaço que começa a perceber o mundo e as
relações sociais e naturais que nele se estabelecem. Dessa forma, a importância de
trabalhar o espaço vivido para o ensino de conceitos geográficos, tornou-se bastante
intenso (SEFERIAN 2008).
Trabalhar a percepção, sensibilização, o envolvimento do indivíduo em seu
espaço de vivência, levando-o no entendimento do todo (mundo), se tem uma maior
garantia de responsabilidade ecológica e social (ZEPPONI 1997). Proveitoso é,
ainda, recomendar o uso das tecnologias, permeando tal trabalho, o que virá a
enriquecer os estudos e estimular a aprendizagem dos alunos. Nos dias atuais, não
há mais como separar educação de tecnologias e mídias, visto que envolvem o
mundo de modo geral e faz parte do cotidiano dos alunos, os quais apresentam uma
facilidade incrível de habilidade com as mesmas (CAROLINO 2007).
Portanto esse trabalho tem como objetivo geral desenvolver estudos junto aos
alunos do 6º ano do Colégio Estadual Serafim França de Astorga PR, para
entendimento da geografia, partindo dos conhecimentos prévios, do espaço de
vivência e, através do uso das tecnologias, interagir com o saber, a compreender e
atuar, como cidadão, no mundo ao qual está inserido, articulando conhecimentos e
práticas, da consciência geográfica, dada sua importância, no mundo
contemporâneo globalizado.
MATERIAL E MÉTODO
A presente pesquisa foi desenvolvida junto aos alunos do 6º ano do
Colégio Estadual Serafim França (EFM) de Astorga-PR, no primeiro semestre de
2014. O município de Astorga está licalizado na região norte central do estado do
Paraná.
Inicialmente foi realizado um reconhecimento do espaço de vivência a partir
de um passeio por seu bairro, usando primeiro os sentidos, como a visão, audição e
o tato, percebendo tudo o que puder ao seu redor com o olhar, desenvolvendo o
senso da observação.
Assim, como se encontra nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do
Paraná (2008), a paisagem é percebida sensorial e empiricamente, mas fruto da
materialização de um momento histórico. Aproveita-se os conteúdos que os alunos
trazem para sala, os conhecimentos que já possuem de suas observações diárias do
espaço à sua volta, procurando ampliar de forma crítica o repertório de
conhecimentos e valores, conscientizando-os quanto à problemática ambiental e
social na qual estão inseridos, como diz ZEPPONI (1999).
Visando tornar os conteúdos trabalhados em sala de aula mais atraentes foi
incorporarado o uso das tecnologias como câmeras digitais, celulares e tablets na
formação de materiais oriundos do cotidiano do aluno em seu espaço de vivência,
relacionando com os conteúdos sistematizados da sala de aula e, principalmente, o
uso de computadores, internet e programas como o Google Earth.
Esse método visa estimular a atividade e iniciativa dos alunos, sem abrir mão,
porém, da iniciativa do professor de favorecer o diálogo dos alunos entre si e com o
professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada
historicamente.
De acordo com Santana Filho (2010), a presença da geografia na escola é
fundamental no reconhecimento do aspecto da realidade contemporânea desse
mundo globalizado, complexo e instantâneo e carecem de uma leitura espacial.
Dessa forma busca-se formar um cidadão realmente conhecedor de seu espaço,
logo, crítico e atuante, na transformação da sociedade.
Esta pesquisa foi aplicada em quatro etapas: na primeira etapa foi a
apresentando a unidade didática, na segunda percebendo o espaço, a terceira
conhecendo seu espaço e a quarta entendendo a dinâmica.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Na primeira etapa, os alunos estavam tímidos, depois foram se interando e
falando mais. Praticamente todos têm a consciência dos valores e importância
natural e social, porém com pouca aplicação desta consciência.
Quanto à importância da natureza, disseram: “tudo o que temos vem da
natureza, sem ela não vivemos, a água para beber e o ar para respirar, os móveis
que vem das árvores, o papel também, as plantas como tomate, laranja, alface,
arroz, feijão, os animais como boi, porco, galinha que nos dão alimentos”. Nesse
momento surgiram várias perguntas, de onde vem a roupa, o vidro, o plástico, os
calçados, o giz, o grafite, e tudo foi lhes sendo revelado pela professora e eles até
se assustavam com certas origens.
Também concordam que a exploração da natureza não pode parar, pois sem
isso a sobrevivência da humanidade estaria comprometida. E, relatam ainda, que
devemos usar a natureza mas sem destruí-la, porque se ela acabar nós vamos
morrer.
Na segunda etapa quando questionados sobre o texto aplicado, tiveram
respostas parecidas como a que segue através da Figura 1.
Figura 1- Folha resposta (Aluna 6º B, 2014).
Em outra aula expositiva, foi falado sobre a natureza, os sentidos e nossa
percepção sobre eles.
Nesta perspectiva, foi trabalhado com os alunos do 6º ano a percepção,
através das observações e sensações dos elementos naturais.
Eles utilizaram os sentidos como visão, tato, olfato, audição. Para isso foram
levados ao campo de futebol da escola, para o contato com a natureza e sentir que
fazemos partes dela, o que lhes causou uma grande alegria. O fato de tirá-los da
sala de aula os estimula bastante e diferencia a aprendizagem.
Os alunos tocaram a grama, as árvores, troncos, folhas, a terra, sentiram o ar
livre, o vento, ouviram os sons naturais como dos pássaros, cães, insetos, o farfalhar
das folhas e galhos.
Os alunos ficaram admirados com o orvalho que ainda estava na grama,
dizendo que esta estava molhada, encontraram muitos insetos e falavam sobre a
diversidade deles, falavam também sobre o trabalho da formigas que era bonito e
interessante.
Este contato foi excelente, as crianças perguntaram várias coisas, quantos
anos tem essas árvores? Porque no barranco não tem grama? De volta à sala de
aula, eles foram questionados: Faz diferença aula junto a natureza? Reconhece sua
importância? Identifica que sua relevância não é apenas um modismo midiático? E
relataram que perceberam e sentiram as sensações provocadas pela natureza e
todos gostaram muito da aula, dizendo valer a pena.
Em outra aula foram instigados a relembrar a aula anterior e suas sensações,
detectar a presença humana e suas produções e alterações, identificando os
elementos culturais e questionados: O que são elementos culturais? Por que são
considerados culturais? E quais são os exemplos em nossa escola de elementos
culturais?
Novamente a professora levou os alunos a uma aula de campo desta vez
primeiro pelo pátio da escola, observando e tocando os elementos considerados
culturais, como o prédio da escola, o piso, as mesas, os bancos do refeitório, as
carteiras e cadeiras, torneiras e pias, portas e janelas, etc. Sentindo a temperatura,
ouvindo os ruídos. Mais uma vez muito prazeroso.
E nesse caminhar pelo pátio, os alunos foram falando seus sentimentos, em
relação aos elementos culturais (artificiais) como: “ ...se constrói tudo certinho, que
trabalho tiveram!” Observaram tudo. O que estava bem feito, mal feito, conservado
ou estragado. E foi percebido que a aula de campo é realmente muito proveitosa,
eles demonstram ter aprendido, deixando claro que a construção deste mundo é
feita em conjunto pela natureza e os seres humanos nela trabalhando. Os alunos em
todas as aulas queriam ir para fora, pois ver o que falávamos ao vivo era bem mais
fácil, mesmo que nem tudo, tinha-se exemplos na escola, mas dava para ter idéia. E
diziam: “... sair um pouco da sala, parece que refresca a cabeça e as informações
entram melhor nela.”
As atividades com aulas de campo ou extra-classe, foi muito bem aceita por
parte dos professores de Geografia, pela motivação dos alunos e o resultado da
aprendizagem, isso relatado pelos professores do curso GTR, primeiro semestre de
2014.
Olá Professora Simone, achei bem interessante o roteiro do seu trabalho e analisando as etapas percorridas percebo que através das atividades práticas você conseguiu atingir o objetivo, e para nos de Geografia a quantidade de opções é significativa para trabalharmos de forma diferenciada, onde podemos ir a campo para ver, sentir e analisar de perto o nosso meio de estudo enriquecendo o conhecimento dos alunos e despertando o interesse pelas aulas, tornando a aprendizagem mais atrativa e prazerosa. Costumo trabalhar desta forma (imagens, recortes de vídeos, laboratório de informática e aulas ao ar livre) que despertam a curiosidade e tornam a relação aluno-professor mais amigável e respeitosa, isto se deve aos alunos gostarem das aulas mais dinâmicas que os envolva, aproveitando o conhecimento que eles trazem consigo.
Foram orientados para fazerem esta experiência também na casa, rua e
bairro onde moram e anotarem suas observações.
Na terceira etapa alguns alunos leram o que anotaram em casa, nem todos
quiseram ler, mas a maioria o fez. Foi muito interessante, pois muitos ficaram
sabendo coisas da cidade que desconheciam, como, por exemplo, uma árvore no
meio da rua, o qual trouxe a fotografia (Figura 2).
Figura 2- Rua do Jardim Londrina – Astorga PR (PEIXOTO, 2013).
Orientados a colocarem no papel os detalhes de sua casa e seu entorno,
como quintal com grama, horta, flores, calçadas, muros, cercas, vasos, árvores, terra
(nua), piscina, a rua, os vizinhos (casas, comércios) pasto, lixo, lixeiras, placas,
praças etc. Os elementos naturais e culturais que compõem seu espaço.
Considerando que se faz numa construção de um mapa mental. E assim o fizeram,
alguns com muita riqueza de detalhes. E foi exposto para toda a turma, onde se
interessaram para ver o desenho do colega.
Com uma folha em branco desenharam alguns elementos principais de seu
espaço, como: casas, comércio, serviços (escola, cabeleireira, oficina...), igrejas.
Para cada elemento um símbolo, escolhido juntamente com eles. Eles fizeram a rua,
os elementos componentes citados acima, e também uma legenda (Figura 3).
Aprendendo a fazer, aprenderá a ler mapas futuros, usando o caminho inverso,
como sugere (PASSINI, 2012).
Figura 3- Desenho do Espaço de Vivência (Aluna 6º B, 2014).
Utilizando o primeiro desenho do espaço de vivência e um mapa mental do
entorno de suas casas, os alunos elaboraram um mapa, utilizando agora, símbolos e
cores para representar o mesmo, introduzindo o entendimento de algumas variáveis
que compõem os mapas, dando início ao entendimento da cartografia.
Representaram casas, comércio e serviços, sua distribuição e localização.
Com os desenhos em mãos, aproveitou-se então para dar início aos
conceitos geográficos como: lugar, espaço, paisagem, região, território, natureza e
sociedade. Com o apoio do livro didático, foi feita as explicações e sempre com
questões orais e depois os conceitos no quadro para serem copiados no caderno.
Para melhor interpretação do Espaço Geográfico, se trabalhou o conceito de
Lugar, também partindo das primeiras atividades de reconhecimento do espaço de
vivência. Visto que, como está nas Diretrizes Curriculares (2008), para a Geografia
Humanística, o lugar é onde a vida se realiza, é familiar, carregado de afetividade,
que o torna subjetivo em extensão e conteúdo, bem como em forma e significado.
Os alunos expressaram os sentimentos quanto ao lugar onde vivem de forma
oral e foi feito alguns questionamentos, para que depois no papel, avaliassem o seu
lugar, dizendo o que sentem, o que gostam, o que sonham para ele. Na aula
seguinte as imagens feitas, foram selecionadas e algumas expostas na TV pen drive
sob os comentários de seus autores, como: “... esta é minha rua (dizendo o nome da
rua e bairro). Ela é asfaltada, tem calçadas, nem sempre conservadas, tem árvores,
é limpa, etc.” Seguidos do comentário da turma...” é perto de onde, ...já passei aí,
...o bairro é novo? ...é mesmo dentro da cidade?.” Os alunos gostaram muito desta
atividade, ficaram muito empolgados a mostrar e falar sobre o lugar onde vivem.
Eles fotografaram e enviaram por email para a professora. Pena que poucos
conseguiram fazê-lo, pois descobri que ao contrário do que pensava, ainda, nem
todos os alunos tem acesso a essas tecnologias e principalmente a internet: (Figura
4).
Figura 4- Chácara e ruas da cidade de Astorga (ALUNOS 6º B, 2014).
No decorrer da aula, também foram mostradas na TV pen drive várias
fotografias, feitas pela professora de alguns pontos de bairros da cidade, instigando
os alunos a comentarem. Comentários como: “...minha rua tem bueiros que alguns
moradores jogam lixo e aí quando chove, o lixo se espalha pela rua, um nojo!”. O
resultado foi muito positivo, a participação foi de cem por cento. Eles se identificaram
com o assunto, que era algo de conhecimento deles e muito próximo.
Com o estudo das imagens da cidade onde moram, a visualização da
paisagem do lugar onde mora, seu espaço de vivência, todos os comentários e a
orientação da professora, as crianças conseguiram perceber a dinâmica da natureza
que se manifesta em água, solo, vegetação, relevo, sociedade(cidade/campo). Essa
atividade feita com aulas expositivas, muita conversa com os alunos, troca de
saberes, curiosidades deles, logo, essa metodologia enriqueceu o ensino e a
aprendizagem.
Na quarta etapa iniciou-se pela aula expositiva sobre o solo e o seu uso,
falando sobre sua importância, funções, degradação e escrevendo no caderno a
definição geográfica, além de um pequeno texto. Logo, os alunos foram levados ao
campo de futebol para verem as condições de uso do solo na escola, onde puderam
ver a compactação, lixiviação e as erosões.
Em sala foi distribuído um caça-palavras, no qual eles sem dificuldades
encontraram algumas das funções do solo, que estavam no texto do caderno. E
também responderam algumas questões. O resultado desta atividade foi muito
positivo a maioria dos alunos participaram bastante, e demonstraram reconhecer a
importância do solo, dizendo que dele vem boa parte de nossos alimentos e é a
base para a criação de animais, das árvores, flores, ervas medicinais e se
preocupam com sua conservação, por esses motivos. Relatando casos de seu bairro
onde observam algumas erosões e partes da zona rural que conhecem, onde dizem
”...meu avó faz curva de nível no sítio, e ele disse que é para a terra não ir embora
com a chuva e nem perder as sementes ou plantas que estão lá”.
Diante desses relatos, considerou-se um ótimo resultado, os alunos
demonstraram reconhecer a importância do solo e se preocupam com seu uso e
conservação.
Para trabalhar a água, iniciou-se o assunto sobre a água, sua importância,
utilidades e seu desperdício e degradação. No quadro de giz foi fixada uma cartolina
azul com a palavra água, e em equipe os alunos receberam uma folha sulfite, onde
anotaram, em letras grandes, uma utilização de recurso natural, orientado-os para
que a palavra de cada equipe seja diferente da outra (Figura 5). Então fixaram no
quadro em volta da cartolina com a palavra água, seguido de um comentário da
equipe.
Figura 5- Painel dos alunos do 6º B (PEIXOTO, 2014).
Foi falado também onde a água é encontrada na natureza e sobre a água do
município, já mencionando sobre os rios do mesmo e questionando-os: Todos
disseram conhecer um rio, a maioria fora da cidade, e alguns tem próximo de sua
casa. Quanto a conservação disseram que os que conhecem são limpos e tem mata
ciliar.
Com a pesquisa feita junto a Sanepar, eles se surpreenderam com as
descobertas como: a água que bem vem de cinco poços artesianos e a coleta do rio
Noitimbó, que fica nas proximidades da saída da cidade para Arapongas. Que a
estação de tratamento da água fica na estrada de terra que vai para Pitangueiras,
onde alguns moram próximo e não sabiam (Figura 6). E que a água de esgoto é
tratada e retorna para dois rios do município, o rio Taquari e o rio Jaboticabal, os
quais as nascentes são dentro da cidade, próximo das casas de alguns deles, outra
informação que não tinham, estas últimas passadas pela professora.
Figura 6 – Pesquisa junto a Sanepar ( Aluno do 6º B, 2014).
Com fotografias da professora na TV, foi analisado as imagens antigas da
cidade, tentando reconhecer a vegetação natural que cobria a área, derrubada na
construção das primeiras casas e plantações. E comparar as fotografias recentes do
pouco que restou daquela vegetação, encontrada na zona rural (Figura 7).
Figura 7- Astorga déc.40 (PMA, 2013) Reserva florestal Astorga (PEIXOTO, 2013).
Foi mostrado para os alunos que a vegetação natural foi substituída pela
construção da cidade, estradas e pelas atividades agrícolas e pecuárias. Pedindo
aos alunos que verifiquem as plantas (vegetação) que os cercam. Os alunos
disseram que seus bairros são bem arborizados, exceto aqueles que moram em
bairro novos, onde as árvores plantadas ainda estão muito pequenas, mas
reconhecem que isto também é arborização, lembraram do Horto Florestal perto da
escola que estudam e ou outro perto da ASEMA.
Os alunos foram levados ao laboratório de informática também para analisar
imagens do Google Earth do município quanto à vegetação. Eles entenderam bem a
questão da vegetação e sua importância.
O relevo foi iniciado com questionamentos, com respostas em seu caderno e
depois foram comentadas: a maioria relatou que seu bairro tem subidas e descidas.
E eles acham que este tipo de relevo é ondulado, nas palavras deles. E que morar
em lugar assim é ruim para andar a pé e de bicicleta porque cansa muito (Figura 8 e
9). E que mora nos lugares mais baixos, quando chove, o lixo da rua desce tudo na
frente de suas casas.
Neste momento o encantamento foi da professora ao receber os desenhos e
expô-los a turma. Eles retrataram muito bem o relevo da cidade em seu traçado,
desenhando as subidas e descidas por onde passam, até chegar à escola. Saindo
de lugares baixos do outro lado da cidade, onde a linha do desenho subia mostrando
o centro da cidade que é mais alto, e descendo a mesma linha em direção á escola
que fica em outro lugar baixo da cidade. Não esperava um resultado tão perfeito, foi
até emocionante.
Figura 8- Desenho relevo casa/escola (Aluna 6º B). Figura 9- Desenho relevo casa/escola (Aluna 6º
B).
Na apresentação das fotografias antigas e recentes da cidade os alunos
comentaram: “...Nossa! Como mudou nossa cidade, antes tinha uma floresta, sítios,
que trabalho tiveram aquelas pessoas, para construir tudo isso, e hoje é tão
diferente, a cidade cresceu, melhorou muito, está tão bonita (Figura 10). É legal
saber que nosso avós participaram dessa mudança. Até que nossa cidade é
conservada, bem cuidada, acho que de tanto se falar na escola e na televisão, as
pessoas estão aprendendo mais a cuidar das coisas.
As imagens o município apresentadas contaram com a participação dos
alunos, embora com pouca participação, pois como já foi relatado, nem todos tem a
condição tecnológica para fazê-lo. O que dificultou foi a falta da participação de
todos com registros de seu espaço de vivência e a socialização destes utilizando-se
das tecnologias na aprendizagem escolar. Eles viram e analisaram fotografias
antigas e recentes como estas:
Figura 10 - Av. Pres. Vargas, Astorga Pr (PMA, 2013) e Av. Pres. Vargas, Astorga Pr (PEIXOTO,
2013).
O texto relatado sobre a situação atual de seu bairro e município, mostraram
que eles tiveram a compreensão da atual situação do espaço geográfico onde
vivem, como era, as transformações ocorridas, as principais causas dessas
transformações e seus autores (Figura 11, 12 e 13).
Figura 11- Recorte texto (Aluna 6º B, 2014).
Figura 12- Recorte texto (Aluna 6ºB, 2014).
Figura 13- Recorte texto (Aluno 6º B, 2014).
Para finalizar, os alunos juntamente com a professora, selecionaram uma
fotografia de cada bairro, e montaram um painel, em tamanho bem visível, tendo ao
centro um mapa da cidade com a divisão de ruas e bairros, identificando e revelando
uma particularidade geográfica de cada parte da cidade. E este foi fixada na parede
do pátio da escola para apresentação a comunidade escolar (Figura 14).
Figura 14 - Painel montado em sala de aula com planta da cidade e fotos dos bairros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de metodologias diferenciadas, bem como as aulas de campo, no dia a
dia do ensino de geografia nos 6ºs anos, com o auxílio do uso das tecnologias,
aumentou a motivação e a aprendizagem.
A diversificação das aulas levou os alunos a esperarem anciosos pelas aulas
de geografia e saber qual seria a surpresa da mesma. Isto desenvolveu no aluno o
estímulo, a motivação que despertou o interesse para a aprendizagem e assim
diminuir a indisciplina, grande problema atual enfrentado pelos docentes.
O uso das tecnologias, apesar de não ter sido completo como se esperava,
motivou muito os alunos e, principalmente, aqueles que não têm acesso a esses
meios. O ponto negativo foi a falta de acesso as tecnologias por parte de muitos
alunos, o que causou surpresa à professora. E ainda grande entrave foi as
dificuldades pela quais passam as escolas públicas, quanto as tecnologias,
impossibilitando muitas vezes o acesso ao uso do laboratório de informática onde,
por muitas vezes, boa parte dos computadores não funcionarem ou estar sem
acesso a internet. E ainda não ter um computador para cada aluno.
As atividades realizadas conforme foram propostas, propiciou aos alunos
construir seus conhecimentos geográficos e formar uma visão crítica e postura
participativa no espaço em que vive, relacionando-o as esferas maiores a que
pertence, levando-o a cidadania.
É relevante considerar, a realidade escolar tanto técnica, quanto social, para
adaptar metodologias e recursos, e culminar num ensino aprendizagem significativo.
REFERÊNCIAS
CAROLINO, Jussara de Abreu. Contribuição da pedagogia de projetos e do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para o ensino de Geografia – um estudo de caso. 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo: 2007. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22022008-142053/>. Acesso em: 2013-06-24.
DIAS, Genebaldo Freire. Elementos para capacitação em educação ambiental. Ilhéus: Editus, 1999.
PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação . Diretrizes Curriculares da
Rede Pública da Educação Básica. Curitiba: 2008.
PASSINI, Elza Yasuko. Alfabetização cartográfica e a aprendizagem de geografia. São Paulo: Cortez. 2012.
PONTUSCHKA, Nídia Nacib PAGANELLI,Tomoko Iyda CACETE,Núria Hanglei. Para ensinar e aprender Geografia. 3 ed. São Paulo: Cortez. 2009.
SANTANA FILH0, Manoel Martins de. A educação geográfica escolar: conteúdos e referências docentes. 2010. Tese (doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/81/36/tde-29112010-092800/>. Acesso em: 2013-06-24.
SEFERIAN, Ana Paula Gomes. Metodologia e aprendizagem: um caminho para educação geográfica. 2008. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-13012009-114843/>. Acesso em: 2013-06-24.
www.upf.br/download/a-menina-do-vestido-azul.PDF. Acesso em 18.11.13. A
Menina do Vestido Azul.
ZEPPONI, Rosimeire M. Orlando. Educação ambiental: teoria e práticas escolares. 1 Ed. – Araraquara: JM Editora, l999.