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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA COMO MEDIADOR NA FORMAÇÃO

DE LEITORES

Maria do Socorro Ferreira do Nascimento

Prof. Dr. Rogério Caetano de Almeida

Resumo:

O Artigo apresenta uma análise e reflexões decorrentes da aplicação do Projeto Implementação

Pedagógica na Escola, denominado “O Gênero Literário Crônica como Mediador Formação de

Leitores”. desenvolvido com os alunos do 1º Ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Jardim

Paraíso, Almirante Tamandaré/PR. A Unidade Didática organizada e desenvolvida na implementação,

orientou- se pelas etapas do Método Recepcional, defendido e aprimorado pelas autoras Vera

Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini, (1993), este método valoriza a participação ativa do

leitor e propõe uma leitura processual através do contato com diversos textos literários. Objetivou- se

com a proposta implementada, conquistar o leitor iniciante, através de estratégias metodológicas de

leituras com o gênero textual crônica, visando- lhe a formação leitora e crítica. Assim, o

desenvolvimento deste processo de aprendizagem proporcionou uma concepção de linguagem

voltada para interação com gêneros textuais, conforme o dialogismo de Bakhtin. Para isso, optou- se

pelas crônicas selecionadas, de Luis Fernando Veríssimo. Nesse sentido, o projeto desenvolvido

ampliou a compreensão crítica, as habilidades de leituras e oralidade dos discentes. Conforme,

analisado, a aprendizagem processual de leituras literárias desenvolvidas contribuiriam para a

ampliação dos horizontes de expectativas dos alunos; para aproximá-los de outras leituras literárias e

para a formação de leitores autônomos.

Palavras-chave: Leitura; crônica; texto literário;formação de leitores.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta uma reflexão teórica, destacando as estratégias

metodológicas de leitura utilizadas para desenvolver as atividades de incentivo à

leitura com o gênero textual crônica.

Entende- se que no processo de ensino aprendizagem de língua portuguesa

e literatura, é preciso voltar- se para uma concepção de linguagem como interação

entre os sujeitos envolvidos através de uma perspectiva que permita ampliar as

práticas discursivas da leitura, da oralidade e da escrita.

Estas práticas discursivas se complementam, por isso a importância de

analisar e elaborar estratégias que possam envolver os alunos em atividades que

irão aprimorá-las no contexto social que estão inseridos.

Trata- se, portanto, de apresentar algumas reflexões, estudos teóricos e

metodológicos para que possam auxiliar os professores no trabalho desenvolvido no

ambiente escolar.

Concorda-se com o que aponta Geraldi quando afirma:

"[...] que a língua (no sentido sociolinguístico do termo) não está de antemão

pronta, dada como um sistema de que o sujeito se apropria para usá-la

segundo suas necessidades específicas do momento de interação, mas que

o próprio processo jnterlocutivo, na atividade de linguagem, a cada vez a

(re)constrói.[...]

[...] que os sujeitos se constituem como tais à medida que interagem com

outros, sua consciência e seu conhecimento de mundo resultam como

"produto" deste mesmo processo. Neste sentido, o sujeito é social já a

linguagem não é o trabalho de um artesão, mas trabalho social e histórico

seu e dos outros e é para os outros e com os outros que ela se constituem.

Também não há um sujeito dado, pronto, que entra na interação, mas um

sujeito se completando e se construindo nas suas falas;"( Geraldi,2002, p.6

).

Analisando, portanto: qual seria o melhor caminho para as aulas de Língua

Portuguesa e Literatura? O que nos traria resultados eficientes em relação ao

desenvolvimento da competência leitora e escrita dos estudantes? Como formar

leitores, principalmente o leitor de obras literárias? Como chegar naqueles alunos,

menos interessados? Foi com base nestas inquietações, que iniciamos este projeto

de incentivo à leitura. Acredita-se, que é preciso motivar primeiro a prática de leitura,

pois esta é o alicerce fundamental para ampliar as outras práticas discursivas.

Diante destas pressuposições colocadas, elaboramos o projeto de

intervenção pedagógica, que foi desenvolvido no Colégio Estadual Jardim Paraíso,

Almirante Tamandaré/PR, envolvendo os alunos do 1º Ano do Ensino Médio.

Desse modo, a pesquisa desenvolvida, apresenta uma proposta com as

crônicas literárias, mostrando que este gênero textual seria mais produtivo e

interessante para iniciar um trabalho com uma comunidade escolar, que apresenta

desinteresse pela leitura literária.

Para a formação desses leitores iniciantes, foram elaboradas estratégias que

apontassem as reais necessidades deles, o nível de leitura, o conhecimento de

leitura, gostos e quais temas mais interessavam à turma. E para desenvolver um

trabalho visando a construção do conhecimento e a aprendizagem que valorize a

leitura dialógica, optou-se pela escolha do método recepcional, que se baseia na

atitude participativa do aluno em contato com os diferentes textos. As Diretrizes

Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa enfatizam uma língua viva, dialógica,

em constante movimentação, permanente reflexiva e produtiva.

Para implementação deste projeto elaboramos uma Unidade Didática,

utilizando as cinco etapas do Método Recepcional , conforme sugerem as autoras

Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini, (1993). A proposta destas

autoras, apresentam orientações teóricas através das cinco etapas, mostrando os

momentos específicos em que o professor deverá planejar um trabalho voltado para

o aprofundamento da leitura e ampliação do horizonte de expectativa dos alunos.

Para isso, é necessário termos presente as cinco etapas que compõem este

método: determinação dos horizontes de expectativas, que acontece através de um

levantamento junto aos alunos em relação aos seus interesses específicos na área

da leitura; atendimento aos horizontes de expectativas, proporcionando aos alunos

experiências com textos literários que atendam as necessidades destes alunos;

ruptura dos horizontes de expectativas, acontece com apresentação de textos e

atividades de leitura que abalem as certezas e convicções dos alunos;

questionamento dos horizontes de expectativas, é momento de comparar, analisar

os textos trabalhados com aprofundamento mais crítico; ampliação dos horizontes

de expectativas, quando se percebe que o processo de aprendizagem preparou os

alunos para novas leituras literárias.

O trabalho desenvolvido abriu espaço para a reflexão e o aperfeiçoamento

das atividades articuladas nos momentos da implementação da produção didática na

escola e na socialização do GTR, junto aos professores participantes. Então, com

base nas discussões transcorridas que objetiva-se mostrar alternativas visando a

formação de leitores críticos e preferencialmente os literários.

2 FORMAÇÃO DO LEITOR

Para a formação do leitor de textos literários apresentamos estratégias

metodológicas de leitura que se adequassem a realidade sociocultural dos leitores;

que aprofundassem a capacidade de pensamento crítico, a sensibilidade estética e

ampliassem a oralidade, a leitura e a escrita.

A concepção de linguagem defendida pelas Diretrizes vê a leitura como um

ato dialógico, interlocutivo. E considerando, a leitura como uma prática social de uso

da linguagem.

Salienta-se, portanto, que entre as três concepções de língua, apresentada

por Travaglia, (2002, p.21 ) que analisa " a primeira concepção vê a linguagem

como expressão de pensamento", a segunda "concepção vê a linguagem como

instrumento de comunicação, como meio objetivo para a comunicação." Já a terceira

concepção "vê a linguagem como forma ou processo de interação."

Assim, esse processo de aprendizagem estará ancorado nesta terceira

concepção de linguagem, que busca a interação entre o leitor e o texto; é possível

desenvolver a partir da leitura uma reflexão crítica sobre o conhecimento de mundo

do indivíduo, estimulá-los a colocar em prática o seu senso critico e a prepará-los

para defender suas ideias. Por isso, ressalta-se a concepção que:

"[...] vê a linguagem como forma ou processo de interação. Nessa concepção

o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão somente traduzir e

exteriorizar um pensamento, ou transmitir informações a outrem, mas sim

realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor(ouvinte ou leitor.[...] ."(

Travaglia,2002,p.21)

Essa concepção de linguagem voltada para a participação ativa do leitor,

ajudou nessa proposta de formação de leitores. Através das práticas de leitura que

contemplam a participação ativa dos alunos em vários momentos.

Não importa apenas dar condições para capacitar o aluno somente para ler e

produzir textos, mas também precisamos levá-los a reflexão sobre os diferentes

aspectos que a língua propõe através de textos literários.

Os desafios para a formação dos jovens leitores literários são evidentes, pois

trata-se de envolvê-los no processo de ensino aprendizagem que ampliará o

conhecimento e os saberes adequados para interagir e expressar-se com mais

autonomia.

Numa perspectiva de ensino aprendizagem voltada para os textos literários,

destaca-se a definição de literatura do crítico Antonio Candido quando afirma que:

" A função da literatura está ligada à complexidade de sua natureza, que

explica inclusive o papel contraditório mas humanizador( talvez humanizador

porque contraditório). Analisando-a, podemos distinguir pelo menos três

faces:(1) ela é uma construção de objetos autônomos como estrutura e

significado; (2) ela é uma forma de expressão, isto é, manifesta emoções e a

visão de mundo dos indivíduos e dos grupos; (3) ela é uma forma de

conhecimento, inclusive como incorporação difusa e inconsciente."

(Candido,1995.p.242).

Assim, mostra a relevância destes três aspectos no estudo do texto literário, e

seu efeito sobre o indivíduo, portanto, ainda de acordo com Antonio Candido(1995)

" [...] O efeito das produções literárias e devido à atuação simultânea dos três

aspectos[...]". Então, abordaremos estratégias metodológicas que além de explorar

os textos literários, valorizam os procedimentos de leitura. Assim, propomos

atividade de construção de sentido, ajudando o educando a usufruir as crônicas

literárias, da compreensão textual e incentivando a participação ativa e crítica

destes.

Dessa forma, as estratégias abordadas estão embasadas no método

recepcional e estética da recepção e do efeito, que mostra a importância ativa do

leitor em relação ao texto literário.

2.1 MÉTODO RECEPCIONAL

A leitura literária será fundamental para iniciar a formação do leitor. Assim, a

utilização das alternativas metodológicas apresentadas pelo método recepcional,

defendido e aprimorado pelas autoras: Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória

Bordini, apresenta-se como uma das alternativas que mostra as várias

possibilidades de trabalhar a leitura, a oralidade e a escrita através do contato com

diferentes textos literários.

Considerando a leitura literária como ato de caráter dialógico instaurado entre

autor-texto-leitor e na relação de sentido que os textos literários sugerem. Como

lembra as autoras citadas: " A leitura é parte da interação verbal escrita, enquanto

implica a participação cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do

sentido e das intenções pretendidos pelo autor." Ainda segundo estas autoras: "O

leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente, buscando

recuperar, buscando interpretar e compreender o conteúdo e as intenções

pretendidod pelo autor.

Para isso, é necessário a mediação do professor através de metodologias

e estratégias alicerçados em referencial teórico que apresente um caminho que

favoreçam a compreensão e a utilização da leitura como processo inovador e

criativo para o ensino-aprendizagem dos alunos.

É fundamental conhecer o referencial teórico sobre a Estética da Recepção, e

aprofundar o conhecimento sobre esta teoria que se preocupa com o leitor, como

este recebe o texto literário e os sentidos inseridos que leva a interpretação.

Conforme, as autoras, Aguiar e Bordini (1993) também destacam que:

"A teoria da estética da recepção desenvolve seus estudos em torno da

reflexão sobre as relações entre narrador-texto-leitor. Vê a obra como objeto

verbal esquemático a ser preenchido pela atividade de leitura, que se realiza

sempre a partir de um horizonte de expectativa."

Essa teoria focaliza a dimensão dialógica do ato da leitura, visando a

formação do leitor crítico, através da participação ativa deste em contato com os

textos literários.

Assim, as atividades desenvolvidas na Unidade Didática foram

fundamentadas nas cinco etapas do método recepcional. Foram planejadas e

organizadas em seções que subdividem em vários momentos em que

apresentamos atividades direcionadas aos alunos. E com orientações ao professor,

mostrando como poderão ser utilizadas em sala de aula. São atividades que

seguem uma ordem e estão voltadas para o aprofundamento e ampliação das

práticas discursivas da leitura, da oralidade e da escrita, com a finalidade de ampliar

o horizonte de expectativa dos alunos.

O método recepcional apresenta os seguintes objetivos em relação ao aluno:

Efetuar leituras compreensivas e críticas;

Ser receptivo a novos textos e a leitura de outrem;

Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural;

Transformar os próprios horizontes de expectativa bem como os do professor, da

escola, da comunidade familiar e social

Destaca-se, portanto que o Método Recepcional apresenta pressupostos

teóricos embasados na Estética da Recepção e na teoria do Efeito que ajudaram na

elaboração deste método, organizado pelas professoras Maria da Glória Bordini e

Vera Teixeira Aguiar, (1993). Assim, elas sugerem que esse método seja

desenvolvido por meio das cinco etapas seguintes: (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.

87- 91).

1. Determinação do horizonte de expectativas

Nesta primeira etapa, as autoras afirmam a importância de o professor detectar as

aspirações, valores e familiaridades dos alunos com respeito à experiência leitora, a

fim de prever estratégias de ruptura e transformação destes. O professor poderá

escolher a melhor maneira para efetivar essa sondagem, através da observação

direta do comportamento, pelas reações espontâneas de leitura ou de debates

realizados, analisando discussões, respostas de questionários, e ainda jogos e

dramatizações, entre outras possibilidades de manifestações referentes à

experiência da leitura de obras literárias.

2. Atendimento do horizonte de expectativas

A proposta desta etapa é proporcionar à classe experiências com textos

literários que possam satisfazer as necessidades detectadas anteriormente, é

importante o professor escolha textos literários que atenda ao objeto escolhido e às

estratégias de ensino. Ainda, proponha atividades, usando técnicas que possam ser

aproveitas para variar os procedimentos e estratégias desenvolvidas.

3. Ruptura do horizonte de expectativas

Acontecerá nesta fase a continuidade da anterior, mas com um grau maior de

exigência do aluno, neste momento cabe ao professor propor textos e atividades de

leitura que abalem as certezas e costumes dos alunos, seja em termos de literatura

ou de vivência cultural. O desafio desta proposta é mostrar para classe outras

técnicas, mas permanecendo o tema, o tratamento, a estrutura ou a linguagem.

Evidenciando, recursos diferentes, de maneira que os alunos possam participar

destes planejamentos através de estratégias ainda não utilizadas.

4. Questionamento do horizonte de expectativas

É a fase da comparação, quando os dois momentos anteriores serão

questionados e analisados. É momento de o professor verificar como o trabalho

literário foi compreendido pela turma, através da análise comparativa desta

experiência de leitura. Assim, as atividades propostas devem abordar debates, e

exercício de extrapolação por meio de relações entre a literatura e a vivência

pessoal, proporcionando a eles facilidade de entendimento do texto ou mostrando

outros caminhos para ver os problemas encontrados.

5. Ampliação do horizonte de expectativa

É nesta última etapa, que os alunos estarão mais conscientes diante as

transformações que esse processo de aquisições de conhecimentos vai

acontecendo através da experiência com a literatura. Portanto, esse é o momento de

ampliação dos interesses dos educandos, a motivação para aprofundar a leitura de

obras literárias que desafiem os seus conceitos.

2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O GÊNERO LITERÁRIO CRÔNICA

Segundo Jorge de Sá, a história da Literatura Brasileira iniciou-se com a

crônica, quando Pero Vaz Caminha registra o Descobrimento em sua carta de

achamento. Assim, no Brasil, desde aquela época aos tempos atuais, a crônica

percorreu um longo caminho histórico entre o jornalismo e a literatura. Antônio

Cândido afirma que no Brasil, a crônica apresenta uma história positiva, “[...] e até

se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro pela naturalidade

com que se aclimatou aqui e a originalidade com que aqui se desenvolveu”.

Considerou-se primeiro a transitoriedade da crônica entre texto literário e

jornalístico, também por esta apresentar uma variedade de textos e por abordar

uma diversidade de assuntos. E ainda por apresentar características flexíveis,

própria deste gênero, desse modo entende-se que a escolha deste gênero foi

considerada ideal para trabalho realizado. Como afirma Antonio Candido que a

crônica consegue quase sem querer transformar a literatura em algo íntimo (...) e

quando passa do jornal ao livro, verificamos meio espantados que sua durabilidade

pode ser maior do que ela própria pensava(...) (CANDIDO, 1992, pp.14-15).

Assim, mostramos através vários momentos de leitura das crônicas

selecionadas que educando pode ampliar e diversificar o universo textual,

descobrindo além das características de cada cronista, a maneira como abordam a

realidade de maneira subjetiva. Portanto, nas palavras de Jorge de Sá (2005, p. 85),

quando diz que "Isso faz com que os leitores saboreiem as crônicas num tom mais

reflexivo e intenso, permitindo novas possibilidades interpretativas a partir de cada

releitura. (SÁ, 2005, p. 86).

Embora, possa discordar quando alguns críticos afirmam que a crônica é um

gênero menor da literatura, apesar da relevância dessa reflexão em relação outros

gêneros textuais, destacamos que a crônica literária pode ser a ponte viável que

levará aos outros gêneros considerados mais complexos. Conforme destaca

Antonio Candido:

Parece mesmo que a crônica é um gênero menor. ―Graças a Deus‖ – seria

o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. E para muitos

pode servir de caminho não apenas para vida, que ela serve de perto, mas

para a literatura (...) Por meio dos assuntos, da composição aparentemente

solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, ela se ajusta à

sensibilidade de todo o dia. Principalmente porque ela elabora uma

linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Na sua

despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permite, como

compensação sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade

(CANDIDO, 1992)

Então, a escolha específica em abordar o gênero textual crônica, dar-se-á em

virtude da especificidade deste gênero e também porque se pretende de forma

gradativa desenvolver o “sabor ao saber”, desafiando a participação do aluno

através da interação do assunto com a realidade, mesmo que indiretamente, pois a

preocupação inicial é conquistar usando aproximação de linguagem, o nível de

compreensão e dessa forma atingir sensibilidade crítica. Pois, acredita-se que,

ampliado o nível de compreensão do aluno, a leitura flui melhor, e a tendência é

aumentar o interesse pela leitura.

Diante disso, destacamos especificidade as crônicas literárias, de Luis

Fernando Veríssimo, que circula em coletâneas literárias, como aquelas que

apresentam potencial linguístico e pedagógico; com temas relacionados às relações

humanas, muito próximo a realidade dos alunos e também não podemos esquecer o

tom humorístico, irônico e despretensioso deste autor.

2.3 A CRÔNICA DE LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O escritor brasileiro Luis Fernando Veríssimo ficou conhecido por suas

crônicas e seus textos humorísticos. Iniciou sua carreira como jornalista no jornal

Zero Hora, em Porto Alegre, em 1966. Atualmente, é considerado um dos mais

populares escritores brasileiros contemporâneos com mais de 60 títulos publicados.

As crônicas de Luis Fernando Veríssimo apresentam personagens que

representam a realidade brasileira, buscando com essas criações uma forma de

ironizar questões sociais e políticas. Dessa maneira, faz uma crítica carregada de

humor. Podemos destacar seus grandes sucessos como: “Comédias da Vida

Privada”, “Ed Mort e outras histórias” e “As Mentiras que os Homens Contam”, entre

as seleções de crônicas que foram organizadas em livros como, "Comédias para se

Ler na Escola" pela escritora Ana Maria Machado.

Neste livro podemos destacar a afirmação desta escritora, quando mostra sua

análise sobre o escritor:

"A praia do Verissimo é o quotidiano principalmente na intimidade. As

conversas entre quatro paredes, as lembranças solitárias de infâncias e

adolescências constantemente passadas a limpo, os desígnios de Deus (em

geral, mascarados sob a forma clássica das velhas anedotas sobre um grupo

de pessoas que morre e se apresenta diante de São Pedro). Mas o tema não

é o mais importante. Sobre qualquer assunto e a qualquer pretexto, o autor

revela suas obsessões, fala das mesmas coisas, preocupa-se com o social e

o ético, despreza solenemente o econômico... e encontra sempre uma

maneira nova de fazer isso, como se nunca o tivesse feito antes. As

situações podem ser quotidianas, mas os ângulos geralmente são insólitos e

inesperados. Ou então, reforçam o já esperado, mas com tão exatas pitadas

de exagero que a caricatura até parece um retrato realista pelo avesso, em

que o lado cômico é revelado em sua verdadeira grandeza e sentido

profundo aparece com nitidez.(...)" (Machado,p.14)

Considerando o texto como objeto central nas aulas de literatura, destaca-se

que as crônicas de Veríssimo é material importantíssimo para iniciar reflexões e

discussões em torno de temáticas que envolve o cotidiano próximo a realidade dos

alunos. A mediação do professor é fundamental aproveitando os recursos literários

presentes na linguagem subjetiva, na ironia, no humor e outras características

presentes.

Segundo Júlio França(1985):

A crônica tem permitido ao escritor, ao longo dos anos, penetrar como

indivíduo privado na esfera pública, e desenvolver formas de ação não

institucionais: juízos pedagógicos ou de cunho moral, formação de opinião,

divulgação de comentários e pareceres críticos sobre as questões que

mobilizam o interesse social. A tenuidade dos limites do ficcional e do factual

dilui as fronteiras entre o autor e o narrador e produz, no leitor, a sensação

de cumplicidade que dá à crônica um alcance existencial ímpar na prosa

brasileira.

O professor aproveitando os recursos literários presentes na linguagem

subjetiva, na ironia, no humor e outras características presentes.

3. IMPLEMENTAÇÃO

Para realizarmos a implementação pedagógica elaboramos uma Unidade

Didática com a finalidade de apresentar o incentivo à leitura aos alunos, por meio

das diversas estratégias de leitura que estimulam à reflexão e a criticidade. Assim,

utilizamos a metodologia baseada na Estética da Recepção, através do método

recepcional proposto por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar.

Então, foi selecionada as duas turmas da primeira série do Ensino Médio do

noturno do Colégio Estadual Jardim Paraíso, iniciando a aplicação da Unidade

Didática, que foi elaborada dentro das orientações da IES e das etapas de estudo do

PDE.

Diante disso, a implementação pedagógica realizada propõe-se o estudo com

gênero textual crônica, conforme as orientações das DCEs, que apresenta o método

recepcional como alternativas metodológicas para o ensino de literatura.

Cada etapa foi desenvolvida, afim de aperfeiçoar cada vez mais os

caminhos significativos na formação de leitores críticos e conscientes.

A Unidade Didática foi organizada em cinco seções seguindo a divisão das

cinco etapas do Método Recepcional. Cada seção foi organizada com atividades

divididas em vários momentos, seguindo uma ordem, de acordo com

aprofundamento e objetivos elencados para aquelas atividades sugeridas.

Apresentamos atividades dirigidas aos alunos, acrescentamos também orientações

ao professor, sugerindo como poderiam utilizá-las em sala de aula. Estas atividades

estão voltadas para o aprofundamento e ampliação das práticas discursivas da

leitura, da oralidade e da escrita, com a finalidade de ampliar o horizonte de leitura

dos alunos.

Na Seção 1, “Determinação do horizonte de expectativas”, realizamos

as atividades que socializaram as experiências leitoras dos alunos determinando

assim os horizontes de expectativas destes. Para isso, foram realizadas em dois

momentos: a sondagem inicial e aprofundamento desta sondagem.

Para a sondagem inicial, optamos em iniciar o primeiro momento com um

debate afim de saber primeiro o que pensam sobre leitura de livros e também para

começarmos um trabalho mais descontraído. Para a realização deste primeiro

momento, os alunos sentaram em círculo e iniciamos a apresentação do projeto

através de um diálogo informal, deixando os alunos à vontade. Assim, as alunas

iniciaram contando sobre os livros que leram, outras acrescentaram que não

gostam de ler, a maioria dos meninos não leram nenhum livro e demonstraram

também que não gostavam de ler. Na sequência das atividades, motivados sobre a

experiência leitora de outros alunos, assistiram o vídeo:Jovens leitores: uma paixão

se inicia disponível em

http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=8669.

Fonte do programa TV Paulo Freire. Mostra de maneira dinâmica a experiência

sobre leitura de alguns alunos do C.E. Paulo Leminski, aluno do C.E.Unidade Polo,

de São José dos Pinhais -PR e também participaram alunos da E. E. Isolda Schmidt

e do C.E. Euzébio da Mota, ambos de Curitiba. Após, essa exibição do vídeo,

organizamos a turma em pequenos grupos, neste momento, com algumas questões

previamente selecionadas para direcionar o debate; os alunos discutiram e

socializaram as experiências de leitura literária que realizaram durante a vida

escolar. Notou-se que os principais momentos de leitura foram realizados na escola,

com pouco incentivo por parte de seus familiares. Comentaram que os momentos de

leitura deveriam ser realizados na escola, em sala de aula, na biblioteca, com

assuntos interessantes e que houvessem mais momentos de leitura. Observamos

também que alguns leem só por obrigação e quando fazem, é muito superficial.

No aprofundamento da sondagem foi apresentado duas crônicas: "Brasileiro

não gosta de ler", de Lya Luft e "Um Leitor", de Luis Giffoni. Realizamos a leitura em

dois momentos diferentes. No primeiro momento, foi colocado no quadro o título da

crônica "Brasileiro não gosta de ler". Conversamos sobre este tema e em seguida,

foram distribuídas cópias deste texto e disse que iriamos compartilhar também a

opinião da autora Lya Luft. Após, os alunos realizarem a leitura do texto "Brasileiro

não gosta de ler", a reflexão continuou com a conversa sobre a compreensão do

texto, através de questões orais. Os alunos comentaram a experiência de leitura da

autora em relação a fase infantil, que nem todas as crianças têm a oportunidade ter

livros em casa. Realmente é necessário incentivá-los para leituras. Foi na escola

que iniciaram a leitura de livros, apesar de não concordar com leitura obrigatória,

pois realmente têm livros que eles consideram a compreensão difícil e não

conseguem prosseguir com a leitura Outra questão que desvia a atenção destes

jovens, é a televisão e a Internet. Foi possível concluir que a maioria considerou a

leitura importante para ampliação do conhecimento deles.

Segundo momento, para ampliarmos estas questões debatidas realizamos

as atividades com a crônica "Um Leitor", de Luis Giffoni, primeiro conversamos

sobre a expectativa em relação ao texto. Foram incentivados a comentarem a

leitura deste texto, sobre as questões que mais lhes chamaram a atenção ou as

dificuldades de interpretação.

Finalizamos essa primeira etapa com a construção coletiva do painel

contendo o repertório de leitura da turma. Estas atividades foram realizadas com a

discussão em pequenos grupos. Para depois socializar as experiências relatadas no

grande grupo e assim construíram o painel. A mediação da professora foi

importante na organização, pois era preciso que os grupos relatassem suas

experiências e fossem colocadas no painel. Desse modo, os alunos refletiram sobre

a importância de ler e compartilharam seus conhecimentos com a turma.

Na Seção 2, “Atendimento do horizonte de expectativas” , as atividades desta

etapa foram organizadas em quatro momentos, com a finalidade de ampliar as

reflexões anteriores e saber o nível de conhecimento dos alunos, em relação ao

gênero textual crônica. Para isso, no primeiro momento, a aula foi expositiva e

dialogada, iniciando com algumas perguntas sobre o que eles conhecem sobre o

gênero crônica. Então, quando questionados se saberiam explicar o que é uma

crônica, não sabiam explicar, mas já ouviram falar neste gênero. Foram lembrando

dos escritores `a medida que falamos sobre alguns, por exemplo de Fernando

Sabino, "Homem nu". E assim, analisamos as características gerais deste gênero.

Na sequência foi apresentado aos alunos cópias da crônica “A foto” de Luis

Fernando Veríssimo, realizaram a leitura silenciosa e depois realizaram a leitura

compartilhada da crônica Em seguida, os alunos foram reunidos em grupos, o

desafio proposto era elaborar o conceito deste gênero. E, discutiram coletivamente

as hipóteses da turma. Novamente com algumas intervenções da professora, eles

conseguiram construir o conceito proposto.

Para complementar esta atividade retomamos a leitura desta crônica. Cada

um dos alunos leu em voz alta para a turma e assim realizamos oralmente

compreensão do assunto abordado, as hipóteses sobre a intenção do autor em

escrever a crônica e como foi conduzindo a sequência narrativa para um desfecho

irônico. Apesar de considerar esse texto simples, foi observado que alguns alunos

demoraram mais na compreensão do texto. No entanto, perceberam que a partir de

assunto comum do cotidiano, o autor faz uma crítica aos relacionamentos familiares,

muito comum no cotidiano, mostrando que na relação humana existem falhas, como

incompreensão, falta de companheirismo e amor entre os familiares.

E para concluir esta etapa complementamos as atividades com a

apresentação do vídeo “Aula sobre Crônica”, que explica sobre o gênero textual

crônica e alguns escritores que se destacaram no contexto literário. “Aula sobre

Crônica”, Disponível em: http://www.you HYPERLINK

"http://www.youtube.com/watch?

E assim, a discussão finalizou com a reflexão, se as hipóteses sobre a

crônica foram confirmadas. Neste momento, eles participaram fazendo

observações relevantes, como a importância do trabalho em grupo para

conseguirem formular e analisar realmente a aprendizagem deste conteúdo.

Portanto, houve o empenho da maioria dos alunos, afirmaram que as atividades

realizadas contribuíram para a compreensão dos textos estudados.

Seção 3 - Ruptura do horizonte de expectativas. As atividades desenvolvidas

nesta seção visam aprofundamento da aprendizagem de leitura através da análise e

comparação de algumas crônicas, direcionando atividades de interação entre aluno

e professor.

Na primeira atividade, organizou-se uma apresentação em slides das

questões para analisarmos a crônica "Homem trocado”, de Luis Fernando

Veríssimo. Iniciamos a aula explorando primeiro o título da crônica, autor e a capa

do livro, “Comédias para se Ler na Escola”. Na sequência combinamos que outras

atividades seriam realizadas em pequenos grupos. Distribuídas as cópias do texto,

“Homem trocado”. Para que lessem e descubrissem sobre as hipóteses

mencionadas. A leitura desta crônica também foi direcionada para que em grupos

elaborarassem perguntas com possíveis respostas, relacionados ao texto, como:

assunto, intenção, estrutura composicional da crônica. Com algumas intervenções e

orientações da professora nos grupos os alunos conseguiram elaborar as questões

e resolvê-las para apresentar no seminário.

Na atividade seguinte os alunos foram orientados como organizar um

seminário para apresentação das questões elaboradas. Como se tratava de uma

atividade diferente, no inicio estavam receosos, mas depois que os mediadores dos

grupos iniciaram a apresentação das questões que foram selecionadas e sorteadas,

conforme combinamos anteriormente. Foi necessário realizar algumas intervenções

porque muitos queriam participar ao mesmo tempo. Nestas atividades, as questões

apresentadas e mais debatidas foram as seguintes: as hipóteses sobre o título da

crônica, "O homem trocado": foi trocado na maternidade; trocaram seu nome; sua

mulher o trocou por outro; trocou de sexo"; a série de enganos na vida do

personagem; era vítima da sociedade; a temática do erro médico e desfecho

inesperado que levou a comicidade do texto.

Para complementar análise desta crônica, foi proposto as atividades em

dupla, visando reconhecer as características e a estrutura do gênero crônicas: a

linguagem próxima do leitor; a brevidade; narração e observar os recursos utilizados

pelo autor para criar o efeito de humor. Então, elaboramos um quadro com a

estrutura desta crônica: título, narrador, personagem, espaço, tempo, enredo,

linguagem, discurso e fato do cotidiano. Ainda analisamos os elementos que o

cronista utilizou para gerar humor no texto. Eles tiveram dificuldade de entender a

crítica, representado pelo personagem passivo, ingênuo.

A segunda leitura realizada nesta etapa foi a crônica “Experiência” também do

escritor Luís Fernando Veríssimo. Aqui, também fizemos o levantamento do

conhecimento prévio, escrevendo o título no quadro e explorando o que já é de

conhecimento do aluno acerca do assunto e o levantando de hipóteses sobre o

possível assunto.

Depois que os alunos realizaram a leitura desta crônica, organizamos

novamente um debate com as seguintes questões: "O texto correspondeu às

expectativas esperadas?" Eles consideraram que o texto surpreendeu, pois não

esperavam esse tipo de experiência. "O texto trouxe novidades e conhecimento

para a aula?" Acrescentaram que conheciam algumas experiências e acharam

diferente a que foi relatada. "O autor sugere uma nova experiência, mas com

crianças. Qual sua opinião em relação à possibilidade desta experiência ser

realizada em crianças e com uso de um livro e uma televisão?" Alguns tiveram

dificuldade em relacionar a essa experiência descrita no texto , mas outros

conseguiram analisar que provavelmente as crianças atuais dificilmente procurariam

o livro, porque a televisão é mais atrativa. Nesta outra questão: Como você

responderia a pergunta do autor: “O que equivaleria à mãe que alimenta mas não dá

calor, o livro ou a televisão?” Levaram mais tempo para concluir, mas conseguiram

analisar que a televisão "alimenta mas não dá calor", como o prazer de ler um bom

livro. Juntos com os alunos, preenchemos o quadro-resumo das características do

gênero:

Gênero textual: Crônica.

Tipo de texto: Narrativo ,expositivo, e opinativo.

Título: “Experiência”

Autor: Luís Fernando Veríssimo

Intencionalidade: Apresentar através da comparação

como as crianças veem uso da tv e a

leitura de livros.

Características Linguísticas Predomínio do tempo pretérito; apelo

à oralidade para criar o ambiente de

proximidade com o leitor.

Em outro momento desta etapa realizamos outro debate. Organizamos a

turma em dois grupos sobre o seguinte tema. "O uso da televisão e do computador

vem interferindo no hábito de leitura dos jovens?" Antes do debate levamos os

grupos para sala de informática, eles pesquisaram sobre o assunto em questão para

aprofundar os argumentos. Então, na aula seguinte os grupos posicionaram-se: um

grupo a favor e o outro grupo contra a questão que seria debatida.

Foi um debate mais articulado e participaram ativamente. Colocaram que

atualmente não é só a televisão e o computador, mas outras tecnologias interferem

muito na leitura, porque são bem mais atrativos. Um dos grupos apresentou a

sugestão de pesquisarmos como estava a leitura das outras turmas da nossa

escola.

Concluímos esta etapa com as atividades de produção de crônicas. Usamos

o data-show para apresentar as imagens selecionadas. Conversamos com a turma

sobre cada imagem, questionando se elas representam cenas comuns do cotidiano;

o que elas representavam; que assuntos elas sugeriam ? Nem todos consideraram

as imagens interessantes, porém uma das mais comentadas foi a imagem do dia da

chuva, pois relataram vários fatos acontecidos.

Assim, foram orientados a escolher uma das imagens, analisá-la melhor com

objetivo de escrever uma crônica. Muitos demoraram e tiveram muita dificuldade. Os

mais rápidos entregaram e outros ficaram para entregar no próximo encontro.

Tivemos dificuldade também com a falta de responsabilidade de alguns, porque

sempre esqueciam de trazer os textos para realizarmos a leitura.

Seção 4, Questionamento do horizonte de expectativas, nesta etapa os

alunos foram motivados a comparar as leituras realizadas, através de

questionamento e comparação.

Para a realização destas atividades, os alunos optaram em permanecer nos

grupos já organizados nos momentos anteriores. Fomos para um espaço maior, o

laboratório de informática da escola. Entregamos aos grupos todas as crônicas

trabalhadas anteriormente para releitura e aprofundamento destas. Receberam as

questões e um quadro mural com o título de todas as crônicas. No primeiro

momento debateram as seguintes questões: "O grupo encontrou alguma

dificuldade nas leituras realizadas?"; "Qual foi a crônica que estimulou mais a

leitura?"; "Os temas abordados nas crônicas foram interessantes?"; "Todas as

crônicas lidas apresentam críticas?"; "Podemos considerá-las humorísticas?"; "Qual

intenção do humor nos textos?" Observando os grupos no transcorrer desta

atividade, notou-se que os alunos encontraram muita dificuldade, pois além de

retomar as leituras, precisavam refletir e analisar o sentido de cada crônica.

Na continuidade destas atividades, os alunos sentaram em círculo e

prosseguimos o debate realizado em pequenos grupos. Assim, juntos socializamos

as ideias defendidas e analisadas. Notou-se neste debate que as divergências de

opiniões enriqueceram as aulas, quando compartilharam as dificuldades

encontradas e outros não encontraram nenhuma; quando discutiram se os temas

abordados foram realmente interessantes ou por que não eram considerados tão

interessantes. Conclui-se, que aprenderam muito na discussão, mesmo que só

ouvindo, ou participando ou questionando os próprios colegas. Comparando as

crônicas, as respostas dos colegas e os argumentos, conseguiram juntos construir

as ideias e analisar que nem todas as crônicas eram humorísticas, mas que as

humorísticas eram mais interessantes. Os recursos humorísticos, intencionalidade e

a crítica utilizados não eram tão fáceis de analisar, somente com uma leitura mais

aprofundada e a mediação aluno/leitor/texto/professora chegou-se a compreensão

textual.

Em outro momento, a turma resumiu o conteúdo estudado construindo um

mural comparativo, elegendo palavras ou frases curtas para sintetizar as questões

que avaliavam e comparavam cada crônica lida, quanto a compreensão, a leitura, o

tema e a relação com a realidade.

Para ampliar esse questionamento, os alunos realizaram uma pesquisa sobre

os temas escolhidos e considerados mais relevantes, como: os jovens realmente

estão lendo menos; acontece muito erro médico e notícias sobre mudança de

sexo.

A Seção 5, Ampliação do horizonte de expectativa, para desenvolver as

atividades desta etapa foi provindenciado dez cópias do livro Comédias para se Ler

na Escola, de Luis Fernando Veríssimo. Mostramos que esta coletânea de crônicas

está dividida em seis partes pelos seguintes temas:

1ª parte: Equívocos

2ª parte: Outros Tempos

3ª parte: De olho na Linguagem

4ª parte: Fábulas

5ª parte: Falando Sério

6ª parte: Exercícios de Estilo

Sugerimos que a turma também fossem organizada em seis pequenos

grupos. E que cada grupo realizassem a leitura de uma das partes escolhidas.

Aceitaram essa sugestão e combinamos que as partes fossem sorteadas para cada

grupo. Neste primeiro momento eles leram sem cobranças, procuraram os espaços

na escola para ficarem mais à vontade.

No segundo momento conversamos sobre as leituras realizadas e

combinamos que eles escolheriam uma das crônicas para apresentar as

considerações para a turma. Foi estipulado um tempo e cada grupo leu em voz alta

e comentou sobre o que tratava cada crônica. Assim, será relatado brevemente as

discussões realizadas e as crônicas escolhidas:

Crônica Um – A espada , "..a espada que o menino recebeu de presente, está

mostrando o comportamento irreal e estranho... demonstra o distanciamento da

família em relaçãoao interesse da criança";

Crônica dois – A bola, "O filho recebe uma bola de presente do pai, mas não se

interessou, a frustração do pai. Conflito de gerações";

Crônica três – Sexa, " Diálogo entre pai e filho em relação a palavra sexo. Mostra

que o pai não percebe o crescimento do filho e o adolescente que arranja uma forma

de discutir o assunto.";

Crônica quatro – Hábito Nacional, " ...a narrativa mostra a chegada de alguns

brasileiros no céu... ; a crítica em relação a falta de organização, de disciplina e de

aplicação de leis justas no país.

Crônica cinco – Timidez "o autor coloca sua reflexão como se sente o tímido..."

Crônica seis – Amor "difícil de comentar, mas entendemos que o autor está

falando dos desejos e sonhos."

O terceiro momento desta etapa, apresentou-se uma proposta de produção

de HQ com as crônicas lidas e discutidas nos grupos. Ainda nos mesmos grupos,

foram orientados a reescrever as crônicas de forma resumida na versão em HQs.

Analisamos e relembramos como escrever as HQs. Foi um dos momentos mais

conflituosos, porque nem todos gostam de desenhar, pensar e resumir. Notou-se

que gostam mais da oralidade à escrita, mas realizaram as atividades. Embora

tenham demorado mais que o previsto, conseguimos realizar estas atividades que

foram concluídas com o mural e apresentação destes trabalhos.

Entre estas atividades fomos trabalhando paralelamente a reestruturação das

crônicas para elaboração do livro com a seleção das crônicas produzidas pelos

alunos. Encontramos dificuldade na ora de digitarmos os textos, porque às vezes os

computadores estavam com problemas. A maioria não dispõem de computadores e

internet para trazer digitadas ou enviar por e-mail. Uma sugestão acatada que foi

apresentada por um cursista no GTR, foi a criação de um blog para a postagem das

crônicas. Assim, conseguimos postar as crônicas no seguinte blog:

www.desenvolvendoaleiturapeloscaminhosdaliteratura.

4.ANÁLISE DAS ATIVIDADES DO GTR

O Grupo de Trabalho em Rede – GTR é um "Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, que se caracteriza pela interação virtual entre os Professores

PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual'.

É importante ressaltar que o GTR, foi uma das atividades desenvolvidas

durante a implementação do projeto na escola, com o objetivo de socializar a

pesquisa desenvolvida pelo professordo PDE. Portanto, trata-se de um espaço de

estudo e discussão, em torno do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, da

Proposta Didática Pedagógica e das Ações da Implementação do Projeto, através

de aprofundamento teórico, da troca de ideias e experiências, entre os professores

da Rede Pública e o professor PDE.

A participação efetiva dos cursistas nos fóruns debates e suas colocações à

respeito da proposta de incentivo à leitura literária, foram consideradas positivas.

Porque ao compartilharmos as experiências e a viabilidade de implementação em

escolas diferentes estamos avaliando também o que está acontecendo e como está

acontecendo. Pois, quando estamos avaliando, também estamos pensando em

planejar melhor ou rever nossas práticas pedagógicas.

Dessa forma, as atividades analisadas e compartilhadas nas três temáticas

contribuíram na construção e ampliação do projeto.

Quando os professores participantes analisaram Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola, apontaram que o projeto apresenta ações importantes para

realização de um excelente trabalho com a leitura literária, através das estratégias

elaboradas com base no Método Recepcional. A escolha do gênero literário crônica,

do escritor Luis Fernando Veríssimo foi considerada adequada por apresentar uma

abordagem humorística e crítica; destacando a possibilidade um trabalho

interdisciplinar. Ainda, aqueceram o debate acrescentando alguns questionementos

em relação a leitura, como: "...o que faltaria aos alunos não-leitores? Incentivo diário

à leitura, ferramentas de acesso ou uma formação cultural com menos lacunas?"

Falaram sobre importância do professor também cultivar o hábito da leitura de livros,

jornais e revistas."... o professor precisa mostrar para o aluno que gosta de ler,

mesmo que seu tempo seja restrito." Também, comentaram que precisariam de mais

aulas para desenvolver bem o cronograma proposto.

Assim, de acordo com os relatos, o gênero textual crônica é boa alternativa

para iniciar os alunos no processo de aprendizagem de leitura. Primeiro, porque este

gênero apresenta textos curtos, engraçados e fácil de realizar as atividades em

sala. E também, porque as estratégias de leitura organizadas de forma progressiva

contribuiram na formação de leitores críticos.

Na análise da Produção Didático- pedagógica, os cursistas opinaram sobre

a coerência do material produzido com a proposta do projeto. Destacaram que a

maneira como as atividades foram organizadas, valorizavam atitude participativa do

leitor, sua a interação com gênero textual crônica. Portanto, uma proposta

acessível, dinâmica e de possível aplicabilidade. Pontuaram também que atividades

processuais centralizam a participação ativa do aluno, como leitor crítico e produtor

de conhecimento; que as crônicas apresentam uma linguagem e temas que

apróximam os alunos da realidade; a leitura das crônicas e compreensão dos

sentidos prepara o aluno para avançar e conquistar seus espaços, sendo capazes

de compreender outras formas de pensar o texto e a si mesmo no mundo que estão

inseridos.

A construção do mural sobre o repertório de leitura foi considerado uma novidade

muito interessante. Pois ajuda a turma a refletir sobre as leituras realizadas. Enfim,

acreditam que estas estratégias desenvolvidas sejam facilitadoras para

aprendizagem de leitura literária, contribuindo para a formação crítica dos leitores.

Assim, as discussões foram ampliando-se em cada temática. Discutimos

sobre possibilidade de usar o gênero conto, para a continuação deste projeto no

decorrer do segundo semestre. Sugerindo alguns autores consagrados como

Machado de Assis, Mário de Andrade e Guimarães Rosa, entre outros. Apontaram

que os contos da Clarice Lispector embora sejam muito interessantes, trata-se

apenas de uma vertente. Tal exclusividade, se de um lado traz um aprofundamento

nesta autora, por outro pode dar a falsa impressão de que o conto possui apenas a

feição dada pela autora.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta análise e reflexão sobre trabalho desenvolvido com o gênero textual

crônica, ressalta-se que os objetivos propostos foram atingidos. Os alunos se

envolveram no projeto, participando através de atividades propostas, assim aos

poucos foi possível perceber o avanço que cada aluno conseguiu em cada etapa

desenvolvida.

Podemos afirma que diante as dicussões analisadas no GTR e no

desenvolvimento desta implementação, o método recepcional utilizado, colaborou

com o trabalho do professor e a participação dos alunos.

Notamos também que o gênero textual crônica possibilitou o desenvolvimento

da aprendizagem de leitura através das atividades de análise e comparação.

Portanto, é considerado muito importante para as mudanças significativa na

formação de leitores críticos.

Vale lembrar que este trabalho baseado no método recepcional não terminar

aqui, como uma espiral será continuo e progressivo através de novas propostas de

leitura.

REFERÊNCIAS

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