os desafios da escola pÚblica paranaense na … · alunos ao longo dos trabalhos realizados...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ATIVIDADE FÍSICA: CONTROLE E PREVENÇÃO À OBESIDADE
Autor: Heliéri Dobis1
Orientador: Bruno Pedroso2
RESUMO
A obesidade nos tempos atuais não é apenas uma fonte de desconforto, mas uma das doenças mais prejudiciais da contemporaneidade. Certamente pode-se atribuí-la ao alto consumo de calorias, às ocupações sedentárias e à falta de exercícios físicos. O objetivo desse trabalho foi avaliar a importância prática da atividade física para os alunos do ensino fundamental no contexto do gasto energético, diminuindo os malefícios da obesidade para o organismo nas crianças do oitavo ano do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Professor Colares do município de Ponta Grossa-PR. O referencial teórico apresentou leituras sobre atividade física, obesidade, benefícios da atividade física, Índice de Massa Corporal e Razão Circunferência Cintura Quadril. Foi feito um diagnóstico quantitativo com os alunos sobre as possíveis causas do aumento do número do IMC, posteriormente analisados e discutidos sobre os dados levantados. Através do Caderno Didático elaborado previamente, foram organizadas várias atividades diversificadas como vídeos, atividades de recreação, confecções de cartazes, atividades de caminhada, atividades e atividades em locais públicos próximos à escola. A pesquisa mostrou que os alunos ao longo dos trabalhos realizados compreenderam a necessidade da prática da atividade física como também a importância de uma alimentação saudável. Conclui-se que a falta de atividade física, juntamente com hábitos não saudáveis acarretam problemas na saúde das pessoas relacionados à obesidade. É fundamental o papel do professor de Educação Física na divulgação, esclarecimento e identificação da doença nos alunos para que futuramente os mesmos possam ter uma melhor qualidade de vida de forma a prevenir a obesidade.
Palavras-Chave: Obesidade, Atividade Física, Saúde
1 Professora da Rede Pública de Ensino. Formada em Educação Física. Especialização em Educação Física
Adaptada e Metodologia do Ensino da Arte. 2 Professor Doutor da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
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INTRODUÇÃO
A obesidade é uma das doenças mais prejudiciais ao ser humano. As
crianças atualmente não possuem o hábito de praticar atividade física, com
isso não há gasto de energia para o equilíbrio calórico.
As pessoas que vivenciam o magistério podem perceber o aumento do
número de alunos com índice de massa corpórea (IMC) acima do normal para
crianças. Notando esse problema, surgiu a preocupação em elaborar um
projeto para orientar os alunos sobre a obesidade e a necessidade da atividade
física no seu dia-a-dia.
A obesidade traz muitas complicações para o desenvolvimento motor
das crianças, além de prejudicar o relacionamento social e a autoestima,
acarreta também problemas físicos. As crianças obesas têm redução da
ludicidade e aumento dos problemas psicológicos.
Tendo em vista que através da atividade física pode-se controlar a
obesidade, evitando todos os seus problemas, surgiu a proposta de criação de
uma unidade didática que divulgasse, esclarecesse, conscientizasse sobre
esse mal que está presente em demasia no contexto das crianças e
adolescentes da atualidade.
REVISÃO DE LITERATURA
A obesidade na atualidade não é apenas uma fonte de desconforto, mas
uma das doenças mais prejudiciais da sociedade. Pode-se atribuí-la,
principalmente, ao alto consumo de calorias, às ocupações sedentárias e à
falta de exercícios físicos.
Segundo estudos realizados por Coelho e Eisenstein (2008), o risco de
ser obeso existe para todos, mas em proporções diferentes, sendo 7% de
chances para filhos de pais magros, se a mãe ou pai é obeso a probabilidade
aumenta para 65% e se ambos os pais são obesos este risco aumenta para
80% de chances da criança ser obesa.
Apesar da popularidade, muitas vezes o conceito da obesidade
permanece não esclarecido. Para Guedes e Guedes (2003, p.54), obesidade é
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o excesso de gorduras, ou tecido adiposo em relação aos outros constituintes
do organismo. Este será o conceito adotado no presente trabalho.
Coelho e Eisenstein (2008, p.131), apresenta a definição de saúde
segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), como “um estado completo
de bem estar físico, mental e social e não simples ausência de doença ou
enfermidade”.
Matsudo et al. (2003), relacionam alguns malefícios que a obesidade
pode causar nos indivíduos como a hiperlipidemia, hipertensão arterial,
moléstias cardiovasculares e diabetes. O problema maior de uma pessoa
obesa quando ela for praticar uma atividade física não é o seu volume que
dificultará seus movimentos, mas sim o seu pulmão, pois há um espaço restrito
ocasionado pelo excesso de gordura.
Estudos mostram que o bebê com maior percentual de gordura
provavelmente virá a ser será uma criança obesa posteriormente e por
conseguinte um adolescente com problemas que repercutirão por muito tempo
na sua vida. Isto demonstra a importância de uma intervenção precoce, de um
acompanhamento e um esclarecimento oportuno dessa problemática, já que
quanto mais cedo isso for realizado, melhores tendem a ser os resultados.
Pitanga (2008), explica a fórmula de IMC, a qual revela se a pessoa está
acima do seu peso máximo de acordo com a sua altura:
IMC= PESO
ALTURA 2
Após utilizar a fórmula do IMC, o resultado do cálculo deve ser
comparado nas tabelas específicas para meninos e meninas referentes a suas
idades:
Quadro 1: Referência de IMC para crianças do sexo masculino
IDADE NORMAL SOBREPESO OBESIDADE
6 14,5 MAIS DE 16,6 MAIS DE 18,8
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7 15 MAIS DE 17,3 MAIS DE 19,1
8 15,6 MAIS DE 16,7 MAIS DE 20,3
9 16,1 MAIS DE 18,8 MAIS DE 21,4
10 16,7 MAIS DE 19,6 MAIS DE 22,5
11 17,2 MAIS DE 20,3 MAIS DE 23,7
12 17,8 MAIS DE 21,1 MAIS DE 24,8
13 18,5 MAIS DE 21,9 MAIS DE 25,9
14 19,2 MAIS DE 22,7 MAIS DE 26,9
Fonte: Pitanga (2008)
Quadro 2: Referência de IMC para crianças do sexo feminino
IDADE NORMAL SOPREPESO OBESIDADE
6 14,3 MAIS DE 16,1 MAIS DE 17,4
7 14,9 MAIS DE 17,1 MAIS DE 18,9
8 15,6 MAIS DE 18,1 MAIS DE 20,3
9 16,3 MAIS DE 19,1 MAIS DE 21,7
10 17 MAIS DE 20,1 MAIS DE 23,2
11 17,6 MAIS DE 21,1 MAIS DE 24,5
12 18,3 MAIS DE 22,1 MAIS DE 25,9
13 18,9 MAIS DE 23 MAIS DE 27,7
14 19,3 MAIS DE 23,8 MAIS DE 27,9
15 19,6 MAIS DE 24,2 MAIS DE 28,8
Fonte: Pitanga (2008)
Matsudo et al. (2003), mostra que há várias razões para a prática da
atividade física como a melhoria da capacidade cardiovascular, alívio do
estresse, sensação de bem-estar, evita dores nas costas, melhora o estado de
depressão, gera maior fortalecimento muscular dos ossos, melhora a
circulação do organismo, controla os níveis de colesterol, aumenta a
autoconfiança e por fim, diminui a obesidade, pois exercícios queimam calorias
e mesmo após o final dos exercícios continua-se queimando gorduras para
repor a energia que foi gasta durante a atividade.
Pitanga (2008, p.34), define atividade física como “qualquer movimento
corporal produzido pela musculatura esquelética que resulte em gasto
energético”. Pode-se citar como exemplo, um piscar de olhos.
Segundo Barbanti (1990, p.41), aptidão física “é a capacidade de realizar
as atividades cotidianas com tranquilidade e menor esforço”.
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O exercício físico para Pitanga (2008, p.36), “é a atividade planejada,
estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e manutenção de um
ou mais componentes da aptidão física”.
E o esporte é uma “atividade física ou mental sujeita a determinados
regulamentos e que geralmente visa a competição entre praticantes”
(BARBANTI, 1990, p.54). É importante saber diferenciar estes conceitos para
se ter um melhor entendimento sobre as atividades que se deve e deseja
praticar.
Zamai et al. (2012) mostra que o Ministério da Saúde preconiza que os
benefícios para promoção da saúde podem ser atingidos através de uma dieta
equilibrada e prática de atividade física regular e moderada por 30 minutos
diários na maioria dos dias da semana.
METODOLOGIA
As ações metodológicas deste estudo foram orientadas por Quivy e
Campenhoudt (1992), adotando o modelo para procedimentos científicos foram
consideradas três etapas para o estudo: a ruptura, a construção e a verificação,
que por sua vez, foram subdivididas conforme descrição da figura 1:
Figura 1 - Etapas do procedimento metodológico
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Fonte: Quivy e Campenhoudt (1992)
Houve a necessidade em investigar como a atividade física escolar
contribuiu para o controle da obesidade na visão dos alunos do 8° ano do
Ensino Fundamental e destacou a importância da prática de atividades físicas
como fator influenciador na qualidade de vida. As questões de pesquisa, nessa
direção, foram:
Quais foram os conceitos relacionados à atividade física?
Qual a necessidade do controle alimentar?
Quais foram os benefícios da atividade física?
Como são realizados os testes de IMC e razão circunferência
cintura/quadril (RCCQ)?
O referencial teórico apresentou leituras sobre atividade física, obesidade,
benefícios da atividade física, IMC e RCCQ. Na etapa da ruptura, o processo
investigativo foi centrado na ampliação do referencial teórico na direção da
prática de atividades físicas e da obesidade.
Na etapa de construção realizou-se um diagnóstico quantitativo com os
alunos sobre as possíveis causas do aumento do número do IMC. Tais dados
foram posteriormente analisados e discutidos com os educandos.
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A verificação foi realizada por meio da aplicação da unidade didática
construída previamente na população supramencionada, no intento de se
verificar a usabilidade desta.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para trabalhar o tema proposto foi confeccionado o Material Didático –
Unidade Didática, aplicado aos alunos do 8° ano do Ensino Fundamental do
Colégio Estadual Professor Colares do município de Ponta Grossa-PR.
Na Unidade Didática I foi realizado um questionário para diagnosticar
sobre a saúde e a realização de atividades físicas dos alunos. Aconteceu em
dois momentos: um no início do ano no mês de fevereiro e outro no mês de
junho para observar o entendimento dos alunos com relação à saúde e
atividade física. Constatou-se por meio do primeiro questionário que os alunos
não tinham o conhecimento adequado sobre a obesidade, os problemas que
esta causa e a necessidade da prática das atividades físicas.
Quando se aplicou o mesmo questionário após serem trabalhados os
conteúdos descritos no material didático, foi constatado um melhor
entendimento e conhecimento sobre o assunto. Foi interessante comparar as
respostas, pois houve debates e discussões mostrando que os alunos haviam
compreendido a necessidade da prática da atividade física como grande aliada
ao combate da obesidade.
Ao realizar o IMC, foi detectado que alguns alunos ficaram inibidos ao
utilizar a balança, pois estavam acima do peso. Portanto, houve a necessidade
de realizar a atividade reservadamente para evitar o constrangimento destes.
Foram necessárias duas aulas para completar essa atividade. Esta também foi
realizado em dois momentos distintos: no mês de fevereiro e outro no mês de
junho. Entretanto, como o intervalo entre ambas foi pequeno, cabe-se ressaltar
que não houve tempo suficiente para se obter mudanças substanciais.
Foi possível fazer com que os alunos entendesem a importância da
fórmula do IMC e comparar o resultado nos quadros de referências de meninos
e meninas dentro de cada idade, de forma que esse possa ser utilizado ao
longo de suas vidas através de outro quadro de referências.
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Além desse recurso, houve o conhecimento da avaliação por medidas
de RCCQ, mas este método os alunos não utilizaram porque é usado somente
na fase adulta. Os alunos reagiram positivamente a esta atividade, porém, com
alguma dificuldade com relação ao cálculo. Foi requerido um tempo
considerável para se concluir os cálculos de todos os IMCs.
As aulas teóricas foram fundamentais para se atingir os objetivos
propostos. Mesmo os alunos não tendo preferência por aulas teóricas de
Educação Física foi reconhecido a necessidade do conhecimento teórico para
se discutir e entender melhor as causas, os problemas, o conceito de
obesidade e também as definições de atividade física, a importância da sua
prática, os benefícios desta e que ela constitui um fator importante para
combater a obesidade.
O documentário “Muito Além do Peso” foi exibido e mostrou a realidade
e o drama que as crianças estão encontrando, já isso atinge cerca de 33% das
crianças brasileiras de acordo com o Instituto Brasileiro de Estatística e
Geografia (IBGE).
Os alunos ficaram impressionados com o filme “Super Size Me”, que
aborda um experimento envolvendo alimentação exclusiva em uma rede de
fast food nos Estados Unidos.
Houve participação efetiva dos alunos quando foram trabalhados os
benefícios da atividade física e o cálculo da frequência cardíaca máxima, pois
estes puderam colocar em prática a teoria aprendida durante as aulas teóricas.
A caminhada foi um ponto positivo, sendo que cada aluno a fez conforme seu
ritmo e seu condicionamento físico e entenderam que ao concluírem os
estudos, esta é uma atividade que eles podem e preferencialmente devem
praticar na fase adulta, ao passo que pode trazer muitos benefícios.
Com relação à parte nutricional, os alunos puderam compreender que
quando do consumo de um cardápio saudável e a pirâmide alimentar
relacionados aos dos vídeos trabalhados, é de grande importância uma dieta
balanceada e saudável.
Durante as realizações das aulas práticas a participação dos alunos foi
intensa, visto que elas são muito mais atrativas no contexto construído pela
cultura brasileira. Conseguiu-se atingir todos objetivos dentro das atividades
propostas.
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Por fim, foi realizada a semana da boa alimentação para a finalização
do projeto. Este foi um ponto fundamental da participação, da compreensão e
conhecimento da necessidade da prática da atividade física como prevenção e
controle da obesidade. Foram aplicadas atividades envolvendo os professores
de outras disciplinas, cujo conteúdo abrangeu o tema proposto. Os professores
confeccionaram cartazes, organizaram teatros e utilizaram músicas para as
apresentações. Além disso, os alunos participaram de uma gincana que
abarcou várias provas que envolveram a atividade física e o conhecimento
teórico sobre os temas abordados na unidade didática objeto de estudo do
presente trabalho.
CONCLUSÃO
Há algum tempo as popularidades das temáticas obesidade e atividade
física vêm ganhando espaço em meio às mídias, estudos acadêmicos e
ambiente escolar. A indissociabilidade de ambas as variáveis perfaz com que
estas venham a ser abordadas conjuntamente.
A proposta do presente trabalho foi ofertar a possibilidade de uma
maior familiarização do público estudado com as temáticas em exame. E, face
aos resultados obtidos, pode-se afirmar que tal objetivo foi alcançado por
completo.
Ainda que a aplicação preliminar da unidade pedagógica construída
para tal propósito tenha sido experimentalmente aplicada em uma turma de 8º
ano do ensino fundamental, estima-se que esta pode vir a ser aplicada em
outras séries.
Por fim, cabe-se ressaltar que, ainda que os objetivos propostos
tenham sido atingidos, resultados mais significativos poderão ser obtidos
apenas se houver continuidade à proposta aqui iniciada, sendo requerido
intervenções posteriores e multidisciplinares nos anos escolares subsequentes,
de forma a se buscar a criação de hábitos salutares, e não apenas uma rotina
temporária.
REFERÊNCIAS BARBANTI, Valdir J. Aptidão física: um convite à saúde. São Paulo: Manole, 1990.
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BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 6803/10, de 2010. Proposta Cria Política de Combate à Obesidade. 2010. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SAUDE/151007-PROPOSTA-CRIA-POLITICA-DE-COMBATE-A-OBESIDADE.html>. Acesso em: 06 maio 2013. BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 6522/09, de 2009. Conheça Alguns Projetos de Lei Que Visam Combater A Obesidade. 2009. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SAUDE/150524-CONHECA-ALGUNS-PROJETOS-DE-LEI-QUE-VISAM-COMBATER-A-OBESIDADE.html>. Acesso em: 06 maio 2013. COELHO, K.; EISENSTEIN, E. Nutrição na Adolescência. In: RUZANY, M. H.; GROISSMAN, E. (Org.). Saúde do adolescente: competências e habilidades. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. p. 81-86. GEWANDSZNAJDER, Fernando. Ciências: nosso corpo. 4. ed. São Paulo: Ática, 2010. GUEDES, Dartagnan Pinto; GUEDES Joana Elizabete Ribeiro Pinto. Controle do peso corporal. Rio de Janeiro: Shape, 2003. SILVA JUNIOR, César da; SASSON, Sezar. Biologia. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. LOPES, Sônia; ROSSO, Sergio. Biologia. São Paulo: Saraiva, 2005. MATSUDO, Victor K. R. et al. "Construindo" saúde por meio da atividade física em escolares. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 11, n. 4, p.111-118, out. 2003. PITANGA, Francisco J. G. Testes, medidas e avaliação em educação física e esportes. 5. ed. São Paulo: Phorte, 2008. ZAMAI, Carlos Aparecido et al. Atividade Física na Promoção da Saúde da Qualidade de Vida: Contribuição do Programa Mexa-se Unicamp. Políticas Públicas Qualidade de Vida e Atividade Física. IEPS, Campinas, cap.19 p.179 a 193, 2012.