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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

TECNOLOGIAS UTILIZADAS NA AGRICULTURA DO MUNICÍPIO DE MATELÂNDIA

Jane Maria Silvestri Gasparin1

Professora Orientadora Karin Hornes2

RESUMO: Este artigo apresenta os resultados de pesquisa realizada durante o desenvolvimento do projeto de intervenção pedagógica do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná, levado à prática no Colégio Estadual Euclides da Cunha, localizado no município de Matelândia – PR, no período de fevereiro a julho de 2014. O projeto abordou a utilização de tecnologias na produção agrícola do município. O estudo reuniu informações recolhidas por meio de entrevistas direcionadas a estudantes, seus pais, agricultores e técnicos agrícolas, buscando conhecer diferentes opiniões sobre a contribuição das tecnologias no aumento da produtividade agrícola, bem como os desdobramentos positivos e negativos na vida das pessoas que vivem no campo. Os resultados apontam que a noção de tecnologia se restringiu a adoção de recursos tecnológicos e não necessariamente aos conhecimentos utilizados na produção agrícola. Neste contexto diferenciado há tecnologias também distintas que devem ser escolhidas de acordo com o ramo de atividade, espaço e objetivos de produção. PALAVRAS CHAVE: Agricultura, tecnologias, Matelândia

1 INTRODUÇÃO

Por estar situado em uma região agrícola o município de Matelândia vivencia

transformações econômicas e sociais advindas a partir da influência das tecnologias

e na diversificação da produção rural. Esta realidade é acompanhada pelos

estudantes do ensino fundamental e médio que, em boa parte, tem vínculo familiar

direto ou indireto com agricultores. As transformações do espaço rural e urbano são

temas de interesse no ambiente escolar (DCEs, 2008, p. 68) e devem ser

amplamente discutidas permitindo que os estudantes tenham um olhar mais crítico

sobre os problemas enfrentados pelos agricultores e por toda a população de

municípios com base econômica na agricultura.

O presente estudo analisa o uso de tecnologias na agricultura, suas

consequências e interferências, possibilitando refletir sobre a ocupação do espaço

geográfico local, o que contribui para constituição atividades para a formação de

alunos conscientes das relações socioespaciais de seu tempo, conforme orienta as

DCEs (2008 p. 53). O documento propõe que o ensino de Geografia deva assumir “a

análise dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas,

constitutivas de um determinado espaço”. Dessa forma após verificar como o

1 Professora da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná/ Matelândia, Paraná

2 Professora da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

espaço rural de Matelândia vivencia a questão tecnológica é possível apontar as

diferentes posturas e contradições que existem com ou sem a sua utilização.

Entendemos que estas discussões podem conduzir os estudantes para uma

reflexão sobre seus hábitos, costumes e práticas culturais, pois como afirma Köche

(1999, p. 29) o “conhecimento científico surge da necessidade de o homem não

assumir uma posição meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem

poder de ação ou controle dos mesmos”.

Para realização do trabalho inicialmente houve a elaboração de um projeto de

intervenção pedagógica, colocado em prática no Colégio Estadual Euclides da

Cunha, no período de março a julho do ano de 2014. O projeto buscava

compreender através do olhar dos discentes e familiares, as tecnologias adotadas

pelos agricultores considerando as transformações no espaço agrário do município

de Matelândia – PR. Para compreender o conceito de tecnologia foram realizadas

leituras de autores como Oliveira (2007); Santos (1998); Silva (2003) e análises das

atividades agropecuárias do município, afim de se conhecer em quais condições os

agricultores utilizam a agricultura tradicional e agricultura moderna e/ou de precisão.

A pesquisa envolveu os estudantes, seus pais, agricultores e técnicos agrícolas do

município de Matelândia para discutir as vantagens e desvantagens da utilização

das tecnologias na produção agropecuária, assim como os impactos dos novos

métodos de produção no modo de vida do agricultor e de sua família. Para

completar as atividades os estudantes realizaram atividades de campo para a

verificação de diferentes tecnologias na agropecuária, tanto na propriedade familiar

(agricultura tradicional) como em uma propriedade que utilizava-se da agricultura

moderna (agricultura de precisão). O presente trabalho buscou verificar qual é o

olhar do discente a respeito destas inserções tecnológicas no cotidiano da

população local de Matelândia e o quanto estes elementos podem interferir no modo

de vida das pessoas que estão diretamente ligadas à produção agrícola.

2 METODOLOGIA

A implementação do projeto aconteceu no Colégio Estadual Euclides da

Cunha, do município de Matelândia – PR. Foi colocado em prática no primeiro

semestre de 2014, quando houve a proposta de sensibilização da comunidade

escolar com apresentação do projeto para professores, funcionários e direção do

colégio. O momento de exposição do projeto ocorreu durante a Semana Pedagógica

realizada no início do ano letivo. Em seguida a proposta foi apresentada a todos os

estudantes do Ensino Médio do período Vespertino, que compõem um público, em

sua maioria, formado por estudantes oriundos do interior do município, filhos de

agricultores ou de pessoas que prestam serviço diretamente para o setor agrícola.

Para um melhor direcionamento das atividades apenas alunos do 3º Ano do Ensino

Médio formaram o grupo participante. Em paralelo houve a realização das atividades

direcionadas aos estudantes ocorreram ações em ambiente virtual colaborativo, no

qual professores da disciplina de Geografia de diferentes regiões do Estado do

Paraná também apresentaram contribuições sobre a temática do projeto de

implementação.

O projeto de implementação desenvolveu-se em 2013 após a construção de

material didático dedicado ao tema utilização de tecnologias na Agricultura dividido

em 5 módulos. A primeira parte apresentou textos impressos para que os estudantes

lessem e se inteirassem a respeito do tema. Os textos selecionados versaram sobre:

1) Uso das tecnologias nos diferentes segmentos da sociedade, de autoria de

Claudia Aparecida Cara e Marli Terezinha Szumilo Schlosser (2010); 2)

Modernização da agricultura no Brasil, de Jodenir Calixto Teixeira (2005); 3) Êxodo

Rural, de Caroline Faria (2014); 4) As tecnologias na Agricultura, de José Graziano

da Silva e 5) Ocupação do espaço geográfico do Oeste do Paraná, de José Augusto

Colodel (1992). Após a leitura formaram-se grupos de alunos que ficaram

responsáveis por realizar pesquisa sobre quais recursos tecnológicos são utilizados

pelos agricultores de Matelândia – PR e em quais condições os agricultores utilizam

técnicas consideradas tradicionais e em quais utilizam recursos considerados como

modernos e/ou de precisão. Inicialmente foram organizados questionários para

alunos e seus pais, um outro destinado a agricultores do município de Matelândia e

um terceiro para técnicos que atuam na agricultura. Assim a aplicação do

questionário foi realizada com 10 pequenos agricultores e 10 médios ou grandes

produtores e 4 técnicos agrícolas de órgãos governamentais como Emater e

Secretaria Municipal de Agricultura e entidades agropecuárias que desenvolvem

trabalhos na área. Esta parte do trabalho permitiu aos discentes a verificação de

pontos de vista diferenciados sobre as principais tecnologias utilizadas pela

agricultura, permitindo que os mesmos tivessem condições de analisar a presença

ou não destas no setor agrícola de Matelândia.

Na terceira parte os estudantes apresentaram os resultados da pesquisa

através da construção de gráficos para uma melhor visualização das informações.

Esta atividade aconteceu no laboratório de informática e contou com a colaboração

de professores de diferentes áreas (Matemática e História), compreendendo um

trabalho multidisciplinar.

A partir das informações coletadas houve debate sobre as vantagens e

desvantagens da utilização da tecnologia na produção agrícola, de maneira que os

mesmos refletiram criticamente sobre o conceito de tecnologia e qual o impacto da

utilização da tecnologia no modo de vida do agricultor e sua família. Em seguida os

estudantes assistiram a vídeos como o Documentário “Terra e Sustentabilidade” e

reportagens disponíveis no endereço eletrônico do Conselho Científico para

Agricultura Sustentável. A partir das análises houve reflexão sobre o princípio básico

da agricultura que é sua vinculação com a natureza, pois o sucesso da iniciativa não

depende apenas da aplicação de inseticidas, herbicidas, e adubação, e sim do

clima, que precisa ser ideal, não ocorrendo, por exemplo, geadas, chuvas

excessivas ou mesmo a falta delas. Portanto, atribuir à tecnologia todo o sucesso da

agricultura é um falso diagnóstico ou no mínimo uma análise superficial que

geralmente apresenta uma tendência favorável à mercantilização da produção,

colocando em segundo plano o seu caráter de vínculo com a natureza. Nesta

análise considera-se que a tecnologia não é neutra, pois apresenta limites

econômicos, técnicos e naturais.

Na quarta etapa os estudantes conheceram o desenvolvimento de diferentes

técnicas de produção em pequenas e grandes propriedades. A ideia pretendeu

apresentar, por meio de vídeos, o uso de tecnologias bem sucedidas em pequenas e

grandes propriedades. Após assistir aos vídeos os estudantes foram encaminhados

a uma propriedade que utiliza mão de obra familiar e a outra propriedade agrícola

empresarial que pratica agricultura de precisão. O sentido desta atividade

possibilitou que os estudantes percebessem que há diferentes tecnologias utilizadas

para o desenvolvimento de atividades agropecuárias e que, por questões

econômicas, geográficas e culturais, procedimentos distintos são utilizados pelos

agricultores. Para isso houve dois momentos de visitas, de forma que os estudantes

percebessem que também há metodologias tecnológicas nas pequenas

propriedades.

Na quinta e última parte os estudantes apresentaram suas percepções sobre

a influência da tecnologia na vida dos agricultores, nas suas próprias vidas e nos

modos de produção existentes. O momento serviu para avaliação das atividades

desenvolvidas e os discentes utilizaram um questionário para avaliar o projeto.

Em paralelo a todas as atividades apresentadas acima desenvolveu-se o

Grupo de Trabalho em Rede – GTR, no qual professores de Geografia de várias

regiões do Estado discutiram e acompanharam em ambiente virtual a

implementação do Projeto.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Ao pesquisar como novas técnicas são incorporados à paisagem e ao

espaço, demonstrando a dinâmica social, buscamos contribuir para uma melhor

formação escolar, pois, de acordo com as DCEs (2008), os objetos construídos

sobre o espaço são datados e vão incorporando novas tecnologias e novas formas

de produzir. A história é uma totalidade em movimento e o movimento da sociedade

produz mudanças em diferentes níveis e diferentes tempos: a economia, a política,

as relações sociais, a paisagem e a cultura em relação umas com as outras (DCEs,

2008, p. 46 apud SANTOS, 1985). Debater sobre estas transformações e como elas

repercutem na sociedade é fundamental, sobretudo a partir do olhar do estudante.

Da mesma forma que as discussões em torno da ocupação do espaço

geográfico permitem pensar como ocorreu a expansão e a modernização da

agricultura no Oeste do Paraná, as discussões sobre a utilização de diferentes

tecnologias pelos agricultores de Matelândia permitem analisar como a sociedade se

movimenta e como estas mudanças são determinadas pela economia, política,

relações sociais e culturais, afetando diretamente o espaço geográfico.

Segundo as Diretrizes Curriculares (2008), o conceito adotado para o objeto

de estudo da Geografia é o espaço geográfico. Para Santos (1996),

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos técnicos,

mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. (SANTOS, 1996, p. 51 apud DCEs, 2008, p. 53)

A partir desta perspectiva deve haver busca de estratégias para que a escola

envolva de fato a vida de seus alunos e as pessoas da comunidade auxiliando na

construção do entendimento de seu lugar, paisagem, região, enfim das categorias

espaço, tempo, sociedade e natureza, que são temas de análise da Geografia (DCE,

2008, p. 54).

Milton Santos (1999), com suas reflexões sobre os usos do espaço

geográfico, contribui para aprofundar a análise sobre como a relação com a técnica

transforma nosso pensamento. O conceito de meio técnico-científico estaria ligado a

estes dois conceitos anteriores e compreende o desenvolvimento da ciência das

técnicas, isto é, da tecnologia, e, desse modo, com a possibilidade de aplicar a

ciência ao processo produtivo. Seria, portanto, a união e a inter-relação entre

desenvolvimento técnico e ciência abrindo caminho para a construção de um novo

espaço, o meio técnico-científico.

Mas, a tecnologia cria contradições e não avança de maneira uniforme em

todos os lugares e espaços por diferentes razões, entre as quais a própria posição

ideológica baseada na maneira de ocupação do espaço de produção no campo,

pois, de acordo com Oliveira (2007), “a força de trabalho familiar tem um papel muito

significativo e vem aumentando numericamente de modo expressivo”. Ele lembra

que no Brasil, mais de 80% da força de trabalho empregada na agricultura é a força

de trabalho familiar.

Estas questões estão presentes, de forma direta ou indireta, na vida da

maioria dos estudantes que convivem em regiões consideradas agrícolas, como é a

região Oeste do Paraná. Assim, se de fato queremos uma escola onde haja uma

leitura crítica da realidade, este trabalho pode contribuir para que haja reflexões

sobre a relação da sociedade com o espaço geográfico, abrindo possibilidade de

fazer com a que a escola seja capaz de, conforme contempla Gasparin (2011, p.

06), “possibilitar aos educandos a compreensão da essência dos conteúdos a serem

estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas

desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da pratica social e

histórica”.

2.1 AS TECNOLOGIAS NA AGRICULTURA

Segundo Silva (2003, p. 15) “há sempre uma ou mais maneiras de se fazer

uma determinada tarefa com mais eficiência, aplicando-se os conhecimentos

disponíveis a respeito”. Para o autor esta forma de utilizarmos os “conhecimentos

disponíveis” para determinada atividade produtiva é o que se denomina tecnologia.

Ainda segundo Silva (2003) “aumentar a capacidade produtiva das pessoas

significa introduzir progressos tecnológicos nas atividades produtivas, especialmente

nos setores de bens necessários à reprodução da classe trabalhadora e no de bens

de produção (SILVA, 2003, p. 16).

Ele define tecnologia como um conjunto de conhecimentos e não apenas

como coisas. Para Silva (2003), tecnologia na agricultura é:

Uma relação social e não um conjunto de “coisas”, como poderíamos pensar ao olhar as máquinas, os adubos químicos, as sementes, etc. A tecnologia é o conjunto dos conhecimentos aplicados a um determinado processo produtivo. Ora, sabemos que, no sistema capitalista, o objetivo da produção é o lucro; portanto, a tecnologia que lhe é adequada é aquela que permite gerar mais lucros”

O autor chama nossa atenção para o fato de que a sociedade não pode

viver sem a tecnologia. O aprimoramento das tecnologias é benéfico, entretanto,

deve-se estar atento a seu uso como fator político-ideológico, no qual a imposição

de regras ou poder de um sistema que favorece determinados grupos (SILVA, 2003,

p. 17).

A tecnologia na agricultura tem suas particularidades em relação ao que

acontece na indústria, pois, de acordo com Silva (2003), há especificidades de

processos biológicos, existe o condicionamento da produção aos fatores naturais e o

papel da terra como meio de produção. A tecnologia na agricultura, portanto, não

está relacionada diretamente a quem utiliza maiores recursos técnicos para

promover ganho de produtividade, mas sim ao conjunto de conhecimentos que deve

levar em conta qual o melhor procedimento para ter sucesso em determinado ramo

de atividade, ou seja, para Silva (2003) recurso técnico é apenas um dos elementos

constituintes do processo tecnológico.

Apesar de parte das pesquisas científicas darem ênfase ao uso da

tecnologia de ponta, com a aquisição de maquinários modernos, investimentos em

matrizes (gado de leite, suínos, etc.) e confinamento de frangos, este tipo de

investimento pode ser inviável, uma vez que em pequenas propriedades algumas

destas tecnologias por ser substituídas por outras de menor custo. É neste

momento que o setor público pode, por meio de incentivo a parcerias entre

pequenos proprietários, incluir programas de acesso aos processos tecnológicos das

mais diversas áreas do processo produtivo. Nossa hipótese considera que o acesso

da maior parte dos agricultores de Matelândia a equipamentos e conhecimento

técnico se deu por meio do apoio governamental, bem como por meio de entidades

associativistas (como as cooperativas), contudo buscaremos destacar em que grau

isso realmente ocorre. Portanto é muito perigoso afirmações como a de Balsan

(2006), que lembra que mesmo com todas as experiências do processo de

modernização, ainda hoje parece que temos dois “Brasis” na agricultura, ou seja,

aquele que utiliza tecnologia de ponta e aquele que utiliza tecnologia “inadequada”.

Esta inadequação é muito subjetiva, já que nem todas as técnicas podem ser

utilizadas em todos os setores e cada propriedade pode apresentar graus distintos

de usos da tecnologia. Isso significa que nem sempre as tecnologias utilizadas

devem ser as mesmas para todo tipo de espaço, sejam pequenas, médias ou

grandes propriedades. É neste ponto que a pesquisa ganha maior significância, visto

que, a exemplo de outras partes do país, não há como incentivar apenas um tipo de

tecnologia para agricultura, pois enquanto a agricultura de precisão pretende

manejar solos e culturas buscando maior produtividade, outras atividades, como a

agroecologia, por exemplo, centra esforços no uso de tecnologias que proporcionem

produção adequada ao tipo de solo e depreciem o mínimo possível o meio ambiente.

2.2 COLONIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MATELÂNDIA

A história do processo de desenvolvimento econômico de Matelândia está

estreitamente ligada ao modelo de colonização do Oeste paranaense, que

compreende a formação de uma comunidade constituída por migrantes, sobretudo

do Sul do Brasil. Segundo Colodel (1994) esses grupos, incentivados pelas

companhias colonizadoras, pela exuberância das matas e ricas fatias de solo da

região Oeste, chegaram para iniciar o processo de colonização das terras

consideradas devolutas e de antigas concessões retomadas pelo Estado. Portanto,

falar da economia do município de Matelândia a partir da década de 1950 é se

reportar de maneira genérica à região Oeste do Paraná. Contudo algumas

diferenças substanciais devem ser demarcadas a partir da chegada dos colonos do

Sul do Brasil em Matelândia. O município criou caminhos alternativos para além da

maioria dos municípios da região Oeste paranaense. Segundo Colodel (1992),

enquanto grande parte das comunidades desenvolvia a economia a base do plantio

de grãos, especialmente soja e milho, Matelândia, em decorrência de parte de seu

território ser relativamente “acidentado”, acabou criando alternativas de plantio

agrícola diversificadas: destacando-se o rami, o café, além da formação de uma

bacia leiteira fonte.

Estas atividades responsáveis pela origem do perfil econômico do município

foram sendo constituídas a partir da utilização das tecnologias que se apresentavam

no contexto da produção agrícola, pois as técnicas eram testadas, adaptadas e

colocadas em prática não de forma tranquila, mas a partir do debate entre o que

melhor atendia a visão dos agricultores e ao mesmo tempo oferecia caminhos para o

aumento da produtividade e do lucro.

2.3 OS PRIMEIROS PASSOS DA AGRICULTURA EM MATELÂNDIA

As décadas de 1940, 1950 e 1960 caracterizaram-se pela ocupação do

Sudoeste e Oeste paranaense. Diante disso, Matelândia, na época contou com o

modelo fundiário voltado para a pequena propriedade e o sistema policultor familiar.

A divisão dos lotes pela Colonizadora Matelândia teve por base o modelo do sistema

colonial riograndense, que teve, segundo Orlando (1994), as seguintes

características: o tamanho dos lotes concedidos e a localização dos mesmos. De

forma geral não só na região de Matelândia, mas em todo o território destinado a

instalação de colonizadores, as terras eram subdivididas em lotes rurais (Colônias).

Podemos perceber que a estrutura e o funcionamento da agricultura de

Matelândia, que teve sua formação a partir de imigrantes oriundos do Rio Grande do

Sul e mais tarde, a partir da década de 1970, também por caboclos oriundos do

Norte do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, que se estabeleceram para o plantio de

café, apresentou início marcado pela produção em pequenas e médias

propriedades. Esta combinação populacional expôs divergências de produção

agrícola. Contudo sabe-se que ambos (sulistas e caboclos) buscaram a partir de

suas atividades centrar esforços para constituir um empreendimento econômico

sólido, entretanto nem todos tiveram êxito, seja pela falta de habilidade técnica, seja

por fatores climáticos, políticos e econômicos que interferiram diretamente pela

opção de um ou de outro modelo de produção.

No primeiro momento (década de 1950) a economia girava em torno da

produção de cereais, hortaliças e frutas que, para Seyferth (1990), essa

diversificação da produção agrícola constituiu-se como o fator econômico mais

importante que acompanhou a colonização. Segundo a autora, a grande variedade

de plantas cultivadas em cada lote na colônia produzia quase tudo que a família

camponesa consumia, desde o milho e o aipim até os legumes, verduras e

derivados do leite, além de carne de porco e de galinha. Ainda na década de 1950

Matelândia inicia sua incursão na cultura do café. Segundo Colodel (1992), a cultura

cafeeira mesmo tendo passado por contra-tempos, marcada por geadas nos anos de 55 e

58, no ano de 1959 houve a maior colheita de café na região de Matelândia. Depois deste

período houve queda na produção, mas entre 1970 e 1975 a cafeicultura em Matelândia

atinge seu auge de plantação, vindo decair nos anos posteriores. Até na década de 1970

houve diferentes movimentações econômicas na base produtiva que fizeram crescer

a população e consequentemente a prestação de serviços e o comércio. Esta

movimentação também afetou a utilização de diferentes técnicas por parte dos

agricultores.

Em depoimento ao acervo histórico do município, José R. Z. Lorenzão (1994),

fala do ciclo da madeira que prosseguiu até 1970 sendo uma grande fonte

econômica. Segundo ele:

Em 70 nós tínhamos como atividade principal e que era o verdadeiro

sustentáculo da economia de Matelândia a indústria madeireira que estava

em alto desenvolvimento e já iniciando o ciclo do café e da hortelã. Eu

acredito que nos anos 70 o fator gerador de riquezas do município foi essas

atividades, a indústria madeireira que ao longo da década de 70 teve uma

importância extraordinária no desenvolvimento do município, juntamente

com o café até no ano de 75 porque a partir de 75 teve aquela famosa

geada negra que houve no Paraná, ela praticamente exterminou esta

cultura. Nós tivemos também como responsável pelo desenvolvimento

econômico do município, a cultura de hortelã. (...) Essa atividade requer

povo, gente e trabalho manual e técnico.3

A produção de café, portanto, possibilitou investimentos em técnicas para a

melhoria da produtividade e proteção da plantação, como por exemplo, o plantio de

árvores ao redor da plantação de café que deveriam servir como quebra-vento.

Outras técnicas utilizadas foram o aquecimento por fogo para evitar a perda por

3 LORENZÃO, José R. Z. Entrevista. Acervo do Município de Matelândia.

geadas, investimentos em benfeitorias, maquinários, fertilizantes e defensivos,

contudo a maior parte dos custos estava relacionado ao pagamento da mão-de-

obra. Algo parecido pode ser relacionado à produção de rami e hortelã, cujas

produções também tiveram proeminência na economia de Matelândia, destacando a

setor agrícola como grande gerador empregos e divisas para o município, como

podemos observar na Tabela 1.

Tabela 1: POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA E NÃO ECONOMICAMENTE ATIVA

DOS SETORES DE ATIVIDADE E DEPENDÊNCIA – 1970

Setores de Atividades

Economicamente ativos Não Economicamente

Ativos Total

Homens Mulheres Total %

Primário 6.628 1.469 8.097 87,1 12,760 20.857

Secundário 381 14 395 4,2 970 1.365

Comércio 89 21 110 1,2 112 22

Pres. Serviços 142 121 263 2,8 297 560

Transp.Comunic. e Armazenagem

163 4 167 1,8 345 512

Ativid. Sociais 16 104 120 1,3 75 195

Adm. Pública 26 7 33 0,4 150 183

Outros 56 58 114 1,2 95 209

Total Terciário 492 315 807 8,7 1.074 1.881

Inativos 458 458

Total 7.501 1.798 9.209 100 15.262 24.561

Fonte: IPARDES, 2013 (Com informações do Senso Demográfico IBGE 1970)

Os dados do Censo Demográfico de 1970 (Tabela 1) permitem interpretar

uma dimensão da movimentação populacional do município de Matelândia naquele

período. O setor primário ocupava 87,1% dos economicamente ativos, ou seja, a

economia rural do município era significativa naquele momento e continua a exercer

papel fundamental.

2.4 A AGRICULTURA DE MATELÂNDIA HOJE

Com o final do ciclo do café, que até metade da década de 1970 era o

principal agente da economia de Matelândia, o município passou a ter o seu esteio

na produção de soja, trigo e milho, na pecuária com a criação do gado de corte e de

leite e na avicultura, fomentando a criação e ampliação de agroindústrias a partir da

década de 1980. Os valores acumulados no setor primário e no setor industrial

chegam, respectivamente a R$ 106.106.955 e R$ 108.403.503 em 2010, segundo

informações do IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e

Social (2010) . Em seguida aparece o setor de comércio e serviços, com um valor de

R$ 42.868.883, ou seja, bem inferior a setor primário e a indústria.

O que fica evidente é que nas primeiras décadas de fundação do município,

fato confirmado pelos relatos e documentos históricos que fazem referência aquele

período, a economia de Matelândia não perdeu sua característica básica de

utilização de seu potencial do setor primário para a transformação de produtos

industrializados. Se naquele momento as agroindústrias ou empresas de comércio

utilizavam a produção de café, rami, hortelã e madeira para movimentar a economia

do município, atualmente a produção de grãos, leite e carnes mantem este perfil.

Com este novo perfil as tecnologias utilizadas estão relacionadas ao uso de

maquinários, sementes, irrigação, inseminação artificial e utilização de

equipamentos de proteção para aplicação de fertilizantes e defensivos. Constata-se

nesta nova realidade que ao contrário das décadas de 1950, 1960 e 1970 houve um

aparente aumento da utilização das técnicas, o que forçou a redução drástica do

número de empregos no setor agrícola. O que se destaca deste levantamento é que

atualmente este processo está aprimorado e extremamente profissionalizado pela

utilização de recursos tecnológicos com o uso de máquinas sofisticadas que

executam desde o plantio, até o tratamento aves confinadas em aviários

climatizados. Este processo faz com que o setor primário recorra a um pequeno

número de pessoas para mão-de-obra se comparado com a década de 1970,

quando o setor primário utilizou mais de 87% dos economicamente ativos. Hoje,

segundo dados do IPARDES, mais de 72% das pessoas de Matelândia estão no

setor urbano, o que significa dizer que os economicamente ativos também estão, em

sua maioria, no perímetro urbano.

Ao analisar as informações verifica-se que as tecnologias desde o lançamento

da semente à terra, passando pela adubação e colheita ou desde a inseminação,

criação e corte ou produção de leite, houveram interferências e acabaram

influenciadas pelos modos de produção. De acordo com os dados do IPARDES

(2010), a riqueza econômica do setor primário e do setor industrial, que somados

ultrapassaram em 2010 os valores de 215 milhões de reais, ficam bem a frente da

riqueza gerada pelo setor de comércio e serviços, que atingiu em 2010 a faixa de

aproximadamente 43 milhões de reais.

Estes dados implicam afirmar que as tecnologias influenciam diretamente no

êxodo rural e também na mudança de praticas agrícolas de quem permanece no

campo, pois com um menor número de pessoas vivendo no interior e trabalhando

diretamente na agricultura a produção atual é infinitamente maior. Entretanto não

significa dizer que uma maior incursão das tecnologias facilitaria o modo de vida das

pessoas, pois o objetivo da inovação técnica não é tornar o trabalho o mais

confortável, mas sim proporcionar aumento da produtividade do trabalho com vistas

a uma maior geração de valor.

É o caso da agricultura de precisão, cuja prática, segundo Balsan (2006) está

relacionada ao uso de tecnologias atuais para o manejo de solo, insumos e culturas,

de modo adequado às variações espaciais e temporais em fatores que afetam a

produtividade das mesmas. Para a autora a agricultura de precisão é a tecnologia

em uso para aumentar a eficiência, com base no manejo diferenciado de áreas na

agricultura. Este conceito, entretanto, segue padrões claramente capitalistas e serve

apenas para fomentar ainda mais um mercado que gira em torno do consumo de

equipamentos, sementes, insumos e fertilizantes.

De acordo com Oliveira (2003) “no Brasil, o desenvolvimento contraditório e

desigual do capitalismo gestou também, contraditoriamente, latifundiários

capitalistas e capitalistas latifundiários”. Para ele o Brasil do campo moderno vai

transformando a agricultura em um negócio rentável regulado pelo lucro e pelo

mercado mundial. Em seus estudos, ao contrário do que se possa imaginar, ele

demonstra que são as pequenas propriedades brasileiras que mantém a maioria dos

produtos do campo. Neste raciocínio, portanto, técnicas como agricultura de

precisão orientam para a manutenção de um mercado que nas palavras de Oliveira

(2003) “mundializa a economia nacional”.

Neste paradoxo entre pequenas e grandes propriedades evidentemente não

há de se aceitar que as mesmas tecnologias sejam utilizadas, pois as

especificidades de manejo e ocupação do espaço, bem como o tipo de produção

podem exigir tecnologias distintas e que sejam facilmente adaptadas a cada

propriedade, levando-se em conta questões geográficas, econômicas e culturais.

Enquanto em grandes propriedades pode haver acesso à sementes produzidas com

alto padrão tecnológico, implementos, equipamentos, maquinários de última geração

para atender sua demanda produtiva, uma pequena propriedade podo contar com

sementes preparadas pelo próprio agricultor a partir da experiência de selecionar os

melhores grãos e armazená-los de uma safra anterior, utilizar animais de tração para

preparo do solo e equipamentos que podem não ser tão sofisticados como

plantadeiras manuais, mas que atendem necessidades imediatas.

Enfim, as tecnologias são acessíveis e estão disponíveis de uma forma díspar

que não atende todos de uma forma equilibrada, pois o acesso às mesmas

independem do conhecimento e da necessidade do agricultor, pois são imposições

culturais e econômicas.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa permitiu aprofundar conhecimentos sobre os recursos

tecnológicos utilizados pelos agricultores de Matelândia, em quais condições os

agricultores empregam técnicas consideradas tradicionais e em quais condições

usam técnicas conhecidas como modernas e/ou de precisão. O levantamento

colocado em prática por meio de entrevistas reuniu pontos de vista dos alunos

participantes do projeto de implementação, além de seus pais, agricultores e

técnicos que atuam na agricultura do município.

O primeiro dado levantado na pesquisa é que 100% dos estudantes tem

alguma ligação familiar com agricultores. Este dado é relevante em se tratando de

uma escola localizada no perímetro urbano. Em suas respostas todos afirmaram ter

grau de parentesco com agricultores.

Em suas respostas 20% dos estudantes apontaram que há muito trabalho

neste setor produtivo e para 80% deles a agricultura é pouco valorizada porque as

pessoas desconhecem o verdadeiro trabalho da agricultura. Nenhum dos estudantes

apontou a desvalorização pela falta de tecnologia no setor. Este último dado chama

atenção porque demonstra que a tecnologia é perceptível em todos os segmentos

agrícolas.

Gráfico 1 – PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE A ATIVIDADE AGRÍCOLA

20% Atividade de muito trabalho

80% Atividade pouco valorizada

Fonte: Questionário aplicado aos estudantes

Questionados se os agricultores de Matelândia utilizam recursos tecnológicos

para realização de atividades em sua propriedade, 90% dos entrevistados disseram

sim. Interrogados quais seriam estes recursos todos se referiam a tecnologia apenas

como equipamentos e insumos não fazendo referência ao conhecimento acumulado.

Sobre esta constatação Silva (2003), afirma que tecnologia na agricultura é uma

relação social e não um conjunto de “coisas”, como poderíamos pensar ao olhar as

máquinas, os adubos químicos, as sementes, etc. Para este autor a tecnologia é o

conjunto dos conhecimentos aplicados a um determinado processo produtivo.

Gráfico 2–PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES SOBRE O USO DE TECNOLOGIA NA AGRICULTURA

55% Aumento da produtividade

45% Para a melhoria das condições de trabalho

Fonte: Questionário aplicado aos estudantes

No item que buscava saber dos estudantes o porquê os agricultores

utilizavam recursos tecnológicos, tivemos os seguintes dados: 55% afirmando que

seria para o aumento da produtividade e 45% para a melhoria das condições de

trabalho. Nenhum deles mencionou o item redução de custos como resposta para a

procura de recursos tecnológicos. O resultado aponta que há maior reflexão sobre

os motivos do investimento em tecnologia, fugindo da tendência de considerá-la

apenas como fator de aumento da lucratividade, já que por estarmos inseridos em

um sistema capitalista normalmente o objetivo da produção é o lucro e, portanto,

como afirma Silva (2003), o método adequado seria aquele que permite gerar mais

lucros.

Outro dado importante apontado pela pesquisa se refere a indicação por parte

dos estudantes entrevistados de que os equipamentos tecnológicos ajudam a

agricultura. Para 92% dos entrevistados a tecnologia quando bem utilizada só traz

benefícios. Estes benefícios refletem positivamente no desenvolvimento de

atividades no campo, uma vez que 92% dos estudantes e 80% dos agricultores

pesquisados disseram que preferem atividades agrícolas e não trocariam o trabalho

no interior por uma atividade urbana.

As questões direcionadas aos pais e aos agricultores apontaram resultados

semelhantes ao dos estudantes. Questionados sobre o uso de recursos tecnológicos

nas propriedades, 100% dos pais e agricultores afirmaram que utilizam o recursos.

Entretanto, assim como os alunos limitam-se a conceber tecnologia como

maquinários, equipamentos, herbicidas ou insumos. Esta visão se manifestou

quando os mesmos foram questionados sobre quais os recursos tecnológicos

consideram mais importantes. Eles citaram tratores, maquinários, ordenhadeiras,

computadores, GPS e outros recursos, sem fazer referência à tecnologia como

conhecimento. De todos os agricultores entrevistados 100% disseram que a

tecnologia pode contribuir para que o agricultor permaneça na atividade, mesmo

considerando que a profissão não é fácil.

As entrevistas com 4 técnicos agrícolas confirmaram que os agricultores de

Matelândia utilizam recursos tecnológicos para realização de atividades, contudo um

deles especificou que muito além dos recursos técnicos há outros que podem ser

considerados tecnologia, como por exemplo a habilidade de cultivar determinado

tipo de cultura, conhecimento técnico e de mercado e escolha do momento certo

para o plantio. Os profissionais afirmaram que os equipamentos e maquinários são

apenas um dos aspectos que o processo tecnológico apresentou à agricultura. Esta

percepção pode ser constatada quando os técnicos afirmam que os recursos

tecnológicos contribuem para a melhoria das condições de trabalho e de vida dos

agricultores. Os entrevistados divergiram em relação ao que consideram como fator

mais importante no uso de recursos tecnológicos. Respostas como uso de

equipamentos e maquinários, seleção de sementes e uso de agricultura de precisão

contrastam com outras como aumento de produtividade, conhecimento técnico,

manejo adequado do solo e rotação de cultura. Para praticamente todos eles o

importante é que a tecnologia coopera para a melhoria das condições de trabalho do

agricultor o que, consequentemente, fortalece seu vínculo com a terra e contribui

para que o mesmo se fixe na atividade e colabore para a produção de alimentos.

Para complementar as reflexões originadas a partir da aplicação dos

questionários foi realizada visita in loco a duas propriedades do município

objetivando que as informações discutidas em sala de aula sobre o desenvolvimento

de diferentes técnicas em pequenas e grandes propriedades fossem conhecidas de

perto pelos estudantes. Durante esta parte do trabalho os estudantes tiveram a

oportunidade de ampliar os debates iniciados no ambiente escolar e por fim avaliar

as atividades desenvolvidas. As percepções sobre a influência da tecnologia na vida

dos agricultores, nas suas próprias vidas e nos “modos” de produção existentes

foram apresentadas em forma de textos argumentativos e discutidas por meio de

debates e seminários.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Além de refletir sobre como os espaços sofrem interferência direta das ações

do homem o estudo discutiu o uso de tecnologias na agricultura do município de

Matelândia – PR, permitindo analisar como os métodos de trabalho utilizados por

agricultores contribuem para a melhoria da produtividade bem como pode alterar o

modo de vida das pessoas. A partir das informações levantadas apontamos que

existem diferentes artifícios utilizados na agricultura e os motivos da adoção de uma

ou outra técnica de cultivo nem sempre está relacionado a desenvolvimento, mas

sim a dimensão da propriedade, as tradições e o acesso a investimentos e

programas de incentivo agropecuário.

Acreditamos que este tipo de atividade reforça o entendimento da escola

como espaço de debate e ampliação de horizontes sobre temas importantes que nos

afetam cotidianamente. O processo de hominização é uma necessidade presente

diante do constante avanço da técnica sobre as ações humanas. É neste contexto

que os jovens se vêm influenciados pela tecnologia e é papel da escola criar

mecanismos para redirecioná-los para a valorização do homem sobre a máquina e

não contrário. A intenção do projeto foi permitir que os discentes realizassem uma

construção crítica da realidade tecnológica de seu município, e este objetivo foi

alcançado na medida em que os alunos conheceram o seu meio tecnológico

agrícola e refletiram a respeito do mesmo.

Neste sentido a realização do projeto de intervenção foi significativamente

importante para o aprofundamento das experiências pedagógicas em sala de aula.

Elas oportunizaram uma aproximação entre pesquisa acadêmica e a realidade vivida

pelos alunos, permitindo aos mesmos conhecerem melhor o espaço geográfico de

seu município, fortalecendo o relacionamento educador-aluno e ampliando o foco

centralizador do currículo para além da escola.

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