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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CONSTRUINDO A COMPETÊNCIA LEITORA NA EJA
Dilcéia Custódio da Fonseca Dalmutt1 Sonia Merith-Claras2
Resumo: Este artigo apresenta o trabalho realizado na Eja – Fase II, sobre leitura compreensiva de textos literários, priorizando o gênero conto, com o objetivo de formar leitores competentes e com o intuito de integrar os alunos ao mundo da leitura, a fim de que realizem uma leitura compreensiva e percebam o que está escrito nas entrelinhas, ou seja, o que não está escrito explicitamente. O não contato com gêneros literários, a falta de incentivo à leitura, como forma de lazer e diversão, distanciou o educando da EJA do ato de ler, tornando-o inseguro quanto à leitura e interpretação de textos de qualquer gênero literário. Em busca dessa leitura prazerosa, com compreensão, realizou-se este trabalho. Algumas estratégias foram utilizadas, entre elas as sugeridas por Isabel Solé. A proposta se desenvolveu a partir da leitura e análise de contos, por ser narrativa curta e de fácil compreensão. Considerando o tempo de cada educando, trabalharam-se todos os contos sugeridos. O trabalho ocorreu como o esperado, uma vez que houve a entrega total dos alunos nas atividades de leitura e depois na reelaboração do que foi lido, demonstrando a compreensão do tema. Os alunos estavam muito motivados e realizaram todas as atividades com muito empenho. O que os capacita para participarem com maior intensidade e criticidade das decisões na sociedade em que estão inseridos.
Palavras- chave: Eja; Leitura; Conto.
1 - Introdução
A leitura deve ser um lugar de interação, do conhecimento adquirido por meio
das leituras realizadas no âmbito escolar para que o aluno possa se posicionar
enquanto sujeito atuante na sociedade.
O ensino e a aprendizagem de Língua Portuguesa, no CEEBJA de
Chopinzinho, esbarram na problemática da compreensão do texto lido, uma vez que
os alunos são oriundos de realidades diferenciadas, pois não concluíram a
escolarização em tempo hábil. Portanto, não têm uma leitura eficiente e,
consequentemente, não dispõem de competência leitora.
A EJA é composta por alunos que têm pouco tempo de leitura. Muitos alunos
abandonaram a escola por precisarem trabalhar para ajudar a família e outros, por
terem se casado e tido filhos ainda jovens, e também há aqueles que foram de
alguma maneira, excluídos do sistema regular de ensino. Contudo, estes alunos
trazem uma bagagem de conhecimentos muito vasta que deve ser aproveitada e
transformada no âmbito escolar.
1 Professora PDE com habilitação em Língua Portuguesa pelas Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de
Palmas e Pós-graduada pela mesma Instituição. Atuando no CEEBJA – Chopinzinho. 2 Possui mestrado (2003) e doutorado (2011) em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de
Londrina. Atualmente é professora adjunta da UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná.
Quando o leitor consegue realizar uma leitura apurada do que se encontra
nas entrelinhas, tem-se o leitor eficiente, uma vez que a eficiência leitora se faz
quando o que não está dito é compreendido.
O presente artigo tem a finalidade de expor o trabalho realizado com os
alunos do CEEBJA de Chopinzinho que consistiu em oportunizar um maior contato
com livros. Com o objetivo de integrá-los ao mundo da leitura desenvolvendo a
capacidade leitora através do contato com gêneros literários, particularmente com o
conto, tornando-os alunos competentes, e que, por iniciativa própria, fossem
capazes de selecionar textos que melhor atendessem suas necessidades e que
participassem ativamente das decisões na sociedade na qual estão inseridos,
realizou-se este trabalho. Objetivamos, ainda, esclarecer a possibilidade de, através
de uma prática pedagógica melhor elaborada e mais significativa, construir a
compreensão leitora e, consequentemente, a inserção social mais eficiente nos
alunos do CEEBJA de Chopinzinho, a partir de leituras de diversos textos da esfera
literária.
Trabalhou-se, no Módulo I, com o conto Venha ver o Pôr-do-sol da escritora
Lygia Fagundes Teles. Em seguida, no Módulo II, foi apresentado o texto “Tragédia
Brasileira” de Manuel Bandeira, o poema “O Bicho” também de Manuel Bandeira,
bem como o texto da Lei Maria da Penha. Depois, no Módulo III, analisou-se o conto
“Apelo” de Dalton Trevisan, seguido de uma produção textual. No Módulo IV
trabalhou-se o conto “O Bisavô e a Dentadura” de Sylvia Orthof, além de um
fragmento do Estatuto do Idoso.
2 - Revisão de Literatura:
Quando lê, o leitor tem uma bagagem de leituras já efetuadas, que juntas
completam o sentido do texto, portanto, a compreensão do texto lido passa por
saberes acumulados no decorrer de sua vida. A leitura deve ser lugar de interação,
de conhecimento adquirido por meio das leituras realizadas no âmbito escolar para
que o aluno possa se posicionar enquanto sujeito atuante na sociedade.
Na concepção de linguagem apresentada pelas DCEs, a leitura tem uma
função dialógica, onde o leitor desempenha o papel de coautor do texto, fazendo uso
de estratégias com base em experiências vividas para compreender o que está
lendo.
Para Solé (1988), a leitura é um processo interno que precisa ser ensinado.
Para que esse aprendizado aconteça, o aluno precisa ver e entender como o
professor faz para elaborar uma interpretação. Ele precisa assistir a um processo de
leitura que lhe permita depreender estratégias de compreensão do texto. Para a
autora, a leitura em sala de aula obedece três etapas: o antes, o durante e o depois
da leitura. Elencamos, a seguir, quais são estas estratégias propostas por ela.
Estratégias de compreensão leitora para antes da leitura:
- Antecipação do tema ou ideia principal a partir do título, subtítulo, exame de
imagens, entre outros.
- Levantamento do conhecimento prévio sobre o assunto;
- Expectativas em função do suporte;
- Expectativas em função da formatação do gênero;
- Expectativas em função do autor ou instituição responsável pela publicação;
Estratégias para durante a leitura:
- Confirmação, rejeição ou retificação das antecipações ou expectativas criadas
antes da leitura;
- Localização ou construção do tema ou da ideia principal;
- Esclarecimento de palavras desconhecidas a partir da inferência ou consulta
no dicionário;
- Formulação de conclusões implícitas no texto, com base em outras leituras,
experiências de vida, crenças e valores;
- Formulação de hipóteses a respeito da sequência do enredo;
- Identificação de palavras-chave;
- Busca de informações complementares;
- Construção do sentido global do texto;
- Identificação das pistas que mostram a posição do autor;
- Relação de novas informações ao conhecimento prévio;
- Identificação de referências a outros textos;
Estratégias para depois da leitura:
- Construção da síntese semântica do texto;
- Utilização do registro escrito para melhor compreensão;
- Troca de impressões a respeito do texto lido;
- Relação de informações para tirar conclusões;
- Avaliação das informações ou opiniões emitidas no texto;
- Avaliação crítica do texto.
Em sala de aula, a melhor estratégia de leitura é aquela na qual o aluno pode
fazer a análise do texto, a partir de suas experiências, o seu conhecimento de
mundo, ampliando-o, tornando-se mais atuante e participativo na sociedade na qual
está inserido com competência e consciência crítica.
As DCE´s de Língua Portuguesa dizem que, “[...] a leitura é um ato dialógico,
interlocutor, onde o leitor tem um papel ativo, como coprodutor, baseando-se no seu
conhecimento, nas suas experiências e na sua vivência, sociocultural.” (DCE, 2008,
p.71).
Quando lê, o leitor tem uma bagagem de leituras já efetuadas, que juntas
completam o sentido do texto, portanto, a compreensão do texto lido passa por
saberes acumulados no decorrer de sua vida.
Ao ler, o leitor procura compreender o que o autor quer dizer, gerando assim um
processo de interação entre leitor e autor. Para que aconteça efetivamente essa
compreensão, o leitor precisa entender o que está escrito nas entrelinhas, ou seja, o que
não está escrito explicitamente, levando em conta seu conhecimento prévio.
Quando o leitor consegue realizar essa leitura apurada do que se encontra
nas entrelinhas, tem-se o leitor eficiente, uma vez que eficiência leitora se faz
quando o que não está dito é compreendido.
A leitura tem uma função dialógica, onde o leitor desempenha o papel de
coautor do texto, fazendo uso de estratégias com base em experiências vividas para
compreender o que está lendo.
Para Solé (1988), a leitura é um processo interno que precisa ser ensinado.
Para que esse aprendizado aconteça, o aluno precisa ver e entender como o
professor faz para elaborar uma interpretação. Ele precisa assistir a um processo de
leitura que lhe permita depreender estratégias de compreensão do texto. Para a
autora, a leitura em sala de aula obedece três etapas: o antes, o durante e o depois
da leitura.
3 - Metodologia, resultados obtidos e discussão do trabalho
O trabalho de leitura na EJA deve ser flexível, com temas relevantes ao
mundo dos educandos, considerando os três eixos que são: trabalho, tempo e
cultura, levando o aluno a uma autonomia intelectual com participação ativa na
sociedade e, consequentemente, formando leitores competentes e perspicazes.
A proposta aconteceu no CEEBJA de Chopinzinho com os alunos
matriculados no Ensino Médio, organização coletiva. Com o objetivo de discutir as
concepções de leitura e linguagem, bem como discorrer sobre as especificidades da
EJA, modalidade na qual aconteceu a intervenção pedagógica.
O trabalho teve início com a apresentação da Unidade Didático Pedagógica
para a Direção, Equipe Pedagógica e Professores do CEEBJA, na Semana
Pedagógica. Num segundo momento aconteceu a apresentação da Unidade
Didático- Pedagógica para todos os alunos do CEEBJA.
Iniciou-se a implementação com os alunos com a apresentação do Módulo I,
que consiste no conto “Venha ver o Pôr-do-sol” de Lygia Fagundes Teles e algumas
atividades de compreensão leitora, envolvendo levantamento do vocabulário e uso
do dicionário. Fez-se a análise, leitura e interpretação oral e escrita, elencando-se
as características do gênero conto. Trabalharam-se algumas questões de gramática
e ortografia. Finalizou-se o módulo com uma produção textual com a reescrita do
conto do ponto de vista romântico. Em seguida, fez-se o estudo e análise de um
fragmento da Lei Maria da Penha.
A reescrita foi o ponto alto do trabalho, pois todos ficaram muito eufóricos
para mostrar como poderia ter sido mais “bonito” o texto se tivesse sido escrito do
ponto de vista romântico. Muitas ideias surgiram, como por exemplo, da aluna que
disse que o Ricardo deveria ser no final uma pessoa boa e ter perdoado a Raquel
pelo fato dela ter ficado com outro.
Todos ficaram surpreendidos com as atitudes de Ricardo, tão cruéis.
Relataram que até no final do conto ainda tinham esperança que Ricardo tirasse
Raquel do jazigo e que os dois vivessem felizes para sempre.
Os textos reescritos foram lindos, com direito a pôr do Sol e viagens ao
campo para apreciar a natureza juntos. Houve aquele que tirou do conto uma lição
de vida, dizendo que não se pode confiar em ninguém, nem mesmo num grande
amor. Que Raquel foi imprudente indo conversar com um ex-namorado naquele
lugar tão sinistro.
Houve uma participação muito grande. Todos contribuíram fazendo
colocações bem pertinentes. Os textos produzidos foram expostos no saguão da
escola para que os demais colegas pudessem lê-los.
Ainda, no Módulo I, trabalhou-se um fragmento da Lei Maria da Penha, por
ser um texto com o tema tragédia, o qual permeia todos os textos da unidade
didática trabalhada. Ao trabalhar com o assunto violência doméstica, levantaram-se
várias questões, como por exemplo, alunos que conheciam histórias de violência
contra a mulher.
No GTR, Grupo de Trabalho em Rede, alguns cursistas que trabalhavam com
alunos em privação da Liberdade ficaram receosos em trabalhar com tal tema, pois
alguns detentos poderiam estar em privação da liberdade devido ao fato de ter
violado a Lei Maria da Penha. Quando solicitado que os cursistas trabalhassem com
alguma atividade da Unidade Didática e, depois, relatassem como tinham percebido
tal atividade, a maioria relatou que todas são perfeitamente possíveis de aplicá-las.
Até mesmo um cursista que trabalha num presídio trabalhou com o fragmento da Lei
Maria da Penha e, mais alguns textos que falam da violência contra a mulher.
Segundo seu relato, quando do momento da produção de texto, percebeu-se a
internalização da importância de respeitar a mulher e seus direitos.
O Módulo II iniciou com análise do texto “Tragédia Brasileira” de Manuel
Bandeira. O conto narra à história de um funcionário da Fazenda que se muda toda
vez que sua mulher o trai. Ele havia tirando-a de um prostíbulo, dando-lhe vida nova.
(Arrumara-lhe os dentes, curou as alergias dos dedos, deixando-a outra mulher). E,
por isso, ele esperava pelo menos o sentimento de gratidão, mas o que recebeu foi
traição. Depois de mudar-se para quase todos os bairros do Rio de Janeiro ele
resolveu lavar sua honra com sangue, matando-a. Os alunos acharam que Misael foi
fraco ao deixar que Maria Elvira o desrespeitasse. Que ele deveria ter separado dela
na primeira traição. Poucos entenderam que Misael precisava zelar pelo nome dele,
pois trabalhava no Ministério da Fazenda e precisava ser um homem respeitado.
Não era de bom tom separar-se. Disseram que Misael bem que mereceu ser traído,
pois se preocupava muito com as aparências. Das discussões sobre o que levou
Misael a matar Maria Elvira, confeccionou-se uma lista de possíveis motivos para o
assassinato. O Porquê de Misael ter matado a esposa.
Pelo fato do texto trazer muitos nomes de bairros, todos escritos com letra
maiúscula, trabalhou-se a diferenças entre os substantivos próprios e comuns com
uso do dicionário. Levantamento do vocabulário e, finalmente, a produção textual
sobre o que é realmente, para cada um, uma tragédia brasileira.
Houve sugestão de atividades, também no GTR. Uma bastante pertinente foi
de pesquisar os bairros citados e confeccionar um mapa da cidade do Rio de
Janeiro, trabalhando em conjunto com a professora de geografia, fazendo um
trabalho interdisciplinar.
Para muitos a real tragédia brasileira é a fome, a falta de comida, no Brasil.
Um país com tanta desigualdade social. O que fez com que nos animássemos em
trabalhar o próximo texto da Unidade, o poema “O Bicho” de Manuel Bandeira.
Depois de lidos os textos produzidos e feitos às devidas correções foram reescritos
e expostos no mural da escola. Somente então se fez a leitura do Poema “O Bicho”
de Manuel Bandeira. Nesse momento falou-se dos problemas sociais, da falta de
comida e do não cumprimento do que a Constituição Federal apregoa, que é direito
de todos à moradia, saúde, alimentação, entre outros direitos que não são
respeitados. Houve algumas sugestões de como resolver ou pelo menos amenizar
tal problema, como por exemplo, que moradores de rua plantassem em terrenos
baldios e que depois fossem divididos entre si. Outra sugestão, também muito
pertinente, foi de arrecadar frutas e verduras em final de feira para preparar sopa ou
alguma outra comida e fossem distribuídos às pessoas carentes. Depois de bem
analisado e discutido, os alunos produziram um texto reunindo as soluções
sugeridas para expor na sala de aula. Outra questão que veio à tona foi o problema
ambiental, ou seja, o lixo. Da urgência em reciclar e reutilizá-lo. Falou-se das
possíveis utilizações de alguns produtos recicláveis, como por exemplo, das garrafas
Pets, latas de alumínio e papel seco, que são recolhidos e vendidos por muitas
pessoas, transformando-se em, muitas vezes, única fonte de renda da família. A
partir desse texto confeccionaram-se cartazes com desenhos de brinquedos que
poderiam ser feitos com material reciclado. Vários desenhos se destacaram, como
por exemplo, o de um robô a partir de latinhas de alumínio. Surgiram também
aviões, carrinhos, casas, entre outros. Todos os cartazes foram expostos no saguão
da escola para apreciação dos colegas.
No GTR houve algumas sugestões para trabalhar com a questão do lixo.
Teve uma aluna que sugeriu o filme “Ilha das Flores” como contribuição para a
produção textual a partir de questões orientadoras. Foram todas sugestões muito
pertinentes.
Nesse módulo, especialmente, os alunos demonstraram muito interesse, pois
a questão da desigualdade social é muito presente na realidade de nossa clientela.
Muitos contaram que conhecem pessoas, vizinhos que sobrevivem de catar papel e
latinha e que apesar de todas as dificuldades têm uma vida digna.
Iniciou-se o Módulo III, trabalhando com o conto “Apelo”. Conto este que
chamou muito a atenção das alunas, pois, em sua maioria, são donas de casa.
Muitas se identificaram com a personagem, a esposa. Depois de feita a leitura e
atividades de interpretação e compreensão do texto, realizou-se a produção textual
com a reescrita do conto sob a ótica feminina. Respondendo ao marido. Agora no
gênero Carta, pois apesar do texto ser um conto, está redigido em forma de carta.
Como a maioria dos alunos são mulheres, todas ficaram muito indignadas pelo fato
da personagem do conto, o marido ver na mulher apenas alguém para fazer os
serviços domésticos. Disseram que o problema se resolveria se ele contratasse uma
empregada doméstica. Por outro lado, sempre tem a conciliadora, algumas alunas
opinaram dizendo que o marido amava a esposa e por isso pediu o seu retorno. Ao
modo dele, sentiu a falta dela e implorou para que ela voltasse. Aquelas que
acreditavam no amor do marido, responderam a carta dizendo que voltariam e que
queriam que o marido nunca mais fosse desatencioso e se comprometesse em ser
mais companheiro, ajudando nos serviços domésticos. Outras que achavam que o
marido só queria alguém para lavar suas meias e cuecas, responderam a carta
dizendo que estavam muito bem e que não pretendiam voltar, pois já tinham
começado uma nova vida. Disseram que já tinham voltado a estudar e estavam
trabalhando. O que surpreendeu é que quase todas disseram que os maridos não
gostam que as mulheres estudem, principalmente à noite. O que ocasiona um
isolamento das mesmas, não participando da vida em sociedade e nem fazendo
amigos. Portanto, para algumas a separação é um fato positivo. Percebeu-se que
elas se identificaram muito com a esposa do conto e deram um final que gostariam
de dar em suas vidas.
O GTR também contribuiu, pois alguns cursistas sugeriram possibilidades de
trabalho com o conto apelo, como dramatizar o conto. Num primeiro momento
reescrevendo o texto para o gênero dramático para ser dramatizado pelos alunos.
Em seguida, feito os ensaios e depois apresentado para toda a escola. Realmente,
muito positiva a sugestão.
No Módulo IV estudou-se o conto “O Bisavô e a Dentadura”. O Brasil, num
futuro bem próximo será um país de idosos e por isso temos que nos acostumarmos
a conviver com pessoas mais velhas. Iniciou-se o trabalho com pesquisa no
laboratório de informática sobre o Estatuto do Idoso. Levantamento de quem tem
idosos na família e convive com ele no dia a dia. Houve muitos comentários e
contribuições, a maioria tem uma pessoa mais velha na sua família.
Fez-se a leitura do conto e vários comentários surgiram. Uns dizendo que foi
apenas uma brincadeira, o fato de os netos ficarem sempre caçoando do bisavô, por
ele usar dentadura. Outros disseram ser uma falta de respeito com pessoas mais
velhas que merecem toda a consideração. Mas num ponto todos concordaram foi
uma ótima ideia o bisavô ter colocado a dentadura no filtro. Assim, todos que riram
dele, tomaram água com sabor dentadura. Na produção textual confeccionaram-se
cartazes para colocar no saguão da escola sobre os direitos do idoso, bem como
desenhos, representando os avôs dos alunos.
O GTR também contribuiu, pois houve muitas manifestações de apreço pelo
conto, dizendo que o tema é bastante pertinente por se tratar de um assunto bem
atual, que em nossa sociedade o idoso tem pouco espaço e é muito desrespeitado.
Por exemplo, quando alguém ocupa a vaga do idoso no estacionamento, ou quando
os ônibus não param no ponto para o idoso entrar, por não precisar pagar
passagem. Uma sugestão de atividade foi trabalhar com os alunos as histórias
contadas pelos mais velhos, fazendo uma pesquisa com os idosos de suas histórias
preferidas. Então convidá-los para virem à escola e os alunos realizassem uma
contação de histórias para os idosos.
Finalizando o trabalho, fez-se uma avaliação, solicitando aos alunos que
elencassem os pontos positivos e negativos do trabalho. Todos se manifestaram
positivamente, dizendo quão interessante fora terem trabalhado com temas tão
próximos da realidade. Que foi muito prazeroso ter participado do trabalho de leitura
e que dessa forma não têm motivos para não gostarem de ler e ouvir histórias.
Quando o assunto é da realidade fica muito fácil e a compreensão acontece.
4 - Considerações Finais
A leitura deve ser lugar de interação, do conhecimento adquirido por meio
das leituras realizadas no âmbito escolar para que o aluno possa posicionar-se
enquanto sujeito atuante na sociedade. É desta forma que a leitura precisa ser
desenvolvida na educação de jovens e adultos.
Partindo do que lê, o sujeito será capaz de elaborar sua própria opinião sobre
os mais variados assuntos. Essa compreensão do que, para quê e onde utilizar o
que leu deve ser buscado nas aulas de leitura escolar sempre com a mediação do
professor.
Segundo as DCEs, “Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em
diversas esferas sociais: jornalísticas, artísticas, judiciária, científica, didático-
pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária”. (DCE, 2008. p. 71). Cabe,
portanto à escola oportunizar esse contato com tais produções, caso o aluno não o
tenha no seu dia a dia.
De uma maneira mais significativa, a falta de contato com gêneros literários faz
com que o aluno de EJA não tenha aprendido a se deter diante de livros dessa
natureza. A falta de incentivo à leitura, como forma de lazer e diversão, distanciou o
educando do ato de ler. O fato de não ter o gosto literário respeitado ou apenas
como imposição de roteiro de questões a responder, depois de uma leitura, tornou
os educandos da EJA inseguros quanto à leitura e interpretação de textos de
qualquer gênero literário.
Considerando todos estes fatores, surgiu o questionamento que o trabalho
ora apresentado visou esclarecer: é possível, através de uma prática pedagógica
melhor elaborada e mais significativa, construir a compreensão leitora e
consequentemente a inserção social mais eficientemente nos alunos do CEEBJA de
Chopinzinho, a partir de leituras de diversos textos da esfera literária? Tal trabalho
teve o objetivo de desenvolver a capacidade leitora, nos alunos da EJA, por meio do
trabalho com gêneros literários.
Ao ensinar a língua portuguesa, deve-se levar em consideração que o homem
não recebeu a língua pronta para ser usada. Ela foi sendo construída em um
processo de interação verbal. Devem-se ainda serem considerados os aspectos
sociais e históricos em que o aluno está inserido, bem como o contexto em que
ocorre a produção, pois é pelas atividades de linguagem que o homem se constitui
sujeito, adquire condições de refletir sobre si mesmo, e por meio das relações
sociais que desenvolve, surgem-lhe as capacidades para interagir com o meio no
qual está inserido.
O ensino de Língua Portuguesa só terá sentido se acontecer dentro de
diferentes práticas sociais que utilizem a linguagem para inserir o aluno nas diversas
esferas de interação, pois dessa forma estará formando sujeitos capazes de interagir
em uma sociedade letrada.
Para Soares (1998), letramento é a capacidade do indivíduo de usar a leitura
e a escrita, de praticá-las e assim posicionar-se e interagir em sociedade,
demarcando a sua voz no contexto social. Isto só acontecerá se a escola propiciar
ao aluno o contato com uma variedade de textos de diferentes gêneros que circulam
em diferentes esferas sociais.
Cabe à escola, portanto, propiciar ao aluno o convívio com a norma culta da
língua, com os registros socialmente valorizados, além de propagar a
instrumentalização para a inserção social e exercício da cidadania, através do
acesso ao conhecimento social e historicamente construído.
A clientela da EJA é formada por sujeitos com conhecimentos e experiências
sócio-histórico-culturais acumuladas, com um tempo próprio de formação, com uma
cultura particular, necessitando por isso, que aconteça um diálogo entre as diversas
culturas e saberes, levando-se em conta suas especificidades. O trabalho de leitura
na EJA deve ser flexível, com temas relevantes ao mundo dos educandos,
considerando os três eixos que são: trabalho, tempo e cultura, levando o aluno a
uma autonomia intelectual com participação ativa na sociedade e
consequentemente, formando leitores competentes e perspicazes.
Buscando essa competência leitora é que realizamos nossa Implementação
da Unidade Didática que teve como objetivo formar leitores competentes na Eja,
desenvolvendo a capacidade leitora, por meio do trabalho com gêneros literários.
Muito se tem feito nas escolas para que o aluno melhore suas habilidades,
quanto à competência na leitura e interpretação de textos, mas sabe-se que há
muito ainda por se fazer para que haja melhorias nesse sentido a fim de se formar
leitores efetivamente competentes e críticos.
O nosso trabalho foi apenas mais uma tentativa de melhorar os índices de
compreensão leitora. Conseguiram-se grandes avanços, pois os alunos
demonstraram interesse e o desempenho foi bom, mas ainda há uma longa
caminhada para que a leitura seja um hábito e uma rotina na vida de nossos
educandos. Cabe a nós, professores o grande desafio de levar nossos alunos ao
mundo da leitura compreensiva e prazerosa, através de práticas não didatizadas,
sem cobranças e roteiros de perguntas para serem respondidas. Somente assim
teremos leitores competentes e felizes.
Referências
PARANÁ, Governo de Estado do. Secretaria de Estado da Educação-SEED.
Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba, 2006.
PARANÁ, Governo de Estado do. Secretaria de Estado da Educação-SEED.
Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa. Curitiba,
2008.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo horizonte: Autêntica,
1998.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.