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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
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DESPERTANDO O INTERESSE PELA LEITURA ATRAVÉS DA LITERATURA DE CORDEL
Autora: Matilde Aparecida de Cristo Teixeira 1
Orientador: Marcio Matiassi Cantarin 2
Resumo:
O presente artigo explana as atividades desenvolvidas na área de Língua Portuguesa, oportunizado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, ao longo do Programa de Desenvolvimento Educacional turma 2014 juntamente com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, cujo objeto de estudo foi a leitura, no qual o objetivo geral do projeto implementado foi despertar o interesse e manter o hábito da leitura dos alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Professora Ângela Sandri Teixeira, contribuindo para a formação prazerosa da leitura por meio da literatura de cordel. Especificamente, as intenções da implementação das atividades pedagógicas foram levar os alunos a conhecer a manifestação da literatura de cordel e sua caracterização (leitura, escrita e metrificação dos versos); possibilitar o conhecimento da linguagem cordelista, enfocando a cultura nordestina em favor da valorização das nossas raízes; promover uma aproximação do aluno com a cultura popular nordestina; estimular a produção e a edição de cordel além de promover hábito do contar história para outros alunos. Buscou-se no percurso do artigo explicitar a necessidade de valorizar e respeitar a pluralidade própria do nosso país e os significados e coletividades, experiências comunitárias e o imaginário do folclore, presente na produção do cordel, propiciando ao aluno o contato com a experiência cultural que emana desta literatura e toda sua riqueza expressiva, quanto à articulação de várias linguagens - verbal oral, verbal escrita, musical e visual e quanto aos diversificados temas que o aborda.
Palavras-chave: Literatura de Cordel. Leitura. Conhecimento. Valorização.
1. INTRODUÇÃO
A justificativa para este trabalho parte da frequente e constante repulsa, por
parte dos alunos, pela leitura, que afirmam em tom desafiador em frases como “Eu
não gosto de ler. Tem que ler professora?”, aliada à reclamação unânime dos
professores de que alunos não interpretam por não lerem. Essas atitudes foram
observadas ao longo da minha prática docente no Colégio Estadual Professora
Ângela Sandri Teixeira, no qual atuo como professora de Língua Portuguesa.
E partindo destas afirmações o ler implica, dizer que não foram desenvolvidas
as habilidades necessárias que lhe permitam diminuir o prazer que a leitura
proporciona. Partindo destas primícias, propomos atividades com a literatura de
1 Graduada em Letras.... E-mail: [email protected]
2 Doutor em Letras/Literatura e Vida Social (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho/Assis). Mestre em Letras/Estudos Literários (Universidade Estadual de Londrina). Professor Adjunto na graduação em Letras da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. E-mail:
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cordel, que é riquíssima e diversificada, a fim de oferecer um leque de recursos que
os ajudarão a desenvolver e formar o hábito da leitura.
A literatura de cordel também se justifica por estar mais distante do nosso
cotidiano e por não possuir o reconhecimento nem a valorização dentro da nossa
literatura brasileira. Pois, Freire (1988) salienta que: “é necessário que o indivíduo
leia seu próprio mundo para depois decifrar as palavras, pois, as mensagens que lê
só tem significado quando se relacionam com o mundo a sua volta.” A cultura
popular valoriza os fatos, relatando nos versos os acontecimentos políticos, a
religião, os costumes. Dessa forma, pensamos que ela pode auxiliar a despertar o
gosto e a valorização da leitura, permitindo assim um desenvolvimento maior no seu
contexto.
Diante de tais aspectos, acredita-se que a falta de hábito de leitura é uma
questão socioeconômica e de formação familiar, pois a classe de menor poder
aquisitivo vive num ambiente inóspito à leitura e seus familiares tão pouco usam
livros como um dos hábitos do lazer e ainda há a questão social, ambiental somada
a deficiência econômica a escolar, fazendo-se responsáveis pelo agravamento do
problema que leva o aluno a ter deficiência e o pouco interesse em relação à leitura.
E para que esse desejo do prazer que a leitura traz seja despertado se faz
necessário: motivar a leitura como fonte de prazer e não simplesmente uma
obrigação curricular; despertar e aguçar a curiosidade pela literatura de cordel;
proporcionar e promover a qualidade para a formação hábito e o prazer que a leitura
oferece através da literatura de cordel.
A partir das questões aqui elencadas, o intuito da construção desse artigo foi:
explicitar as contribuições que as atividades ocorridas entre os anos de 2013 e 2014
no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE3 acarretaram na vida
profissional da professora participante, relatar as trocas de experiências e diálogos
feitos no Grupo de Trabalho em Rede – GTR4; expor o projeto de implementação da
unidade didática elaborada e como se deu o seu desenvolvimento.
3 GTR é um ambiente virtual que possibilita a formação continuada do professor/gestor PDE.
4 O PDE é uma política pública de Estado que estabelece o diálogo entre os professores do ensino
superior e os da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas.
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2. METODOLOGIA E AVALIAÇÃO
A metodologia utilizada para a implementação do projeto abrangeu 5
módulos, cuja quantidade de aulas para cada um foi distribuída considerando a
necessidade de desenvolvimento das atividades planejadas.
As atividades do Projeto foram avaliadas a partir de vários seguimentos da
Secretaria da Educação - SEED, tais como fichas de acompanhamento próprias do
PDE, analisadas por um membro da SEED e pela equipe pedagógica da escola,
além da complementação avaliativa do Professor orientador Marcio Matiassi
Cantarin da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Para a construção deste artigo também pautou-se em alguns autores de
modo a subsidiar teoricamente o trabalho, tais como: Freire (1988), Molina (1992),
Demo (1993), Cagliari (1993) Silva (1993), Bamberger (1994) e Lajolo (1988).
3. OBJETIVOS DO PROJETO
O objetivo geral do projeto foi despertar o interesse e manter o hábito da
leitura, contribuindo para a formação prazerosa da leitura.
Especificamente, as intenções da implementação do Projeto foram: conhecer
a manifestação da nossa literatura de cordel e sua caracterização (leitura, escrita e
metrificação dos versos); possibilitar ao aluno o conhecimento da linguagem
cordelista, enfocando a cultura nordestina em favor da valorização das nossas
raízes; promover uma aproximação do aluno com a cultura popular nordestina e
estimular a produção e a edição de cordel além de promover hábito do contar
história para outros alunos.
4. IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES DO PROJETO
Anterior à implementação das atividades planejadas no projeto em sala de
aula no 1º ano do Ensino Médio, foi realizada a apresentação do material aos
professores e equipe pedagógica da escola, a fim de que todos tivessem
conhecimento do trabalho, bem como da importância e valorização da leitura na
formação dos educandos.
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Por isso, defende-se que o professor é o instrumento que pode despertar a
curiosidade, o interesse, o amor pela leitura, desde que seja consciente dessa
responsabilidade. O docente em vez de ser explicador, deverá provocar a pesquisa,
a descoberta e a reflexão. Todo o professor, não importa a disciplina que ministre,
deve ser um professor de leitura. As escolhas dos textos muitas vezes não são
atraentes, próprios para a idade e nível intelectual e mental do aluno contribuindo
assim com o fracasso da leitura: “Os textos lidos por obrigação não são
incorporados ao seu mundo, não fazendo parte da sua vida” (MOLINA, 1992).
4.1 MÓDULO I - A importância da literatura de cordel
Este primeiro módulo teve por objetivo mostrar a importância da literatura de
cordel em âmbito nacional, estimulando nos educandos a busca por este tipo de
leitura.
Para tanto, um vídeo do Globo Rural5 foi exibido. Posteriormente, os alunos
fizeram um relatório sobre o conteúdo da reportagem de modo que a sua temática
fosse mais bem compreendida.
Além disso, propôs-se que os alunos escolhessem uma reportagem que
abordasse o seu contexto social para também fazer um relatório, com o intuito de
compreenderem que cada comunidade carrega consigo suas crenças, valores e
vivências, isto é, sua cultura.
Esse relatório possibilitou a análise de como os alunos estão caminhando
referente ao modo de escrita e interpretação. Pode-se verificar que há a
necessidade de assistirem o vídeo mais de uma vez para que pudessem
compreender seu conteúdo de fato. No que condiz à escrita, a maioria dos alunos
apresentou dificuldades em evidenciar no texto o que viram no vídeo. Além disso,
apareceram muitos erros gramaticais e de concordância. Por isso, optou-se por
utilizar o dicionário para que os alunos pudessem sozinhos encontrar as respostas
para as dúvidas que tinham. No que se refere aos erros de concordância, fez-se
uma explicação para lembrar seus usos e àqueles que ainda tinham dúvidas, foram
auxiliados individualmente.
5 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7DosjK6GSUQ
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Após, houve a leitura oral dos relatórios redigidos pelos alunos e fez-se uma
discussão sobre as escritas. Esse momento foi muito enriquecedor para todos, pois
embora uma boa parcela da turma more em regiões próximas uns dos outros,
diferentes olhares apareceram sobre um mesmo tema, tendo em vista que alguns
alunos selecionaram a mesma reportagem para realizar a atividade. Contudo, a
essência cultural não mudava, permanecia a mesma para todos.
Um painel foi confeccionado com os escritores do cordel e suas respectivas
obras para que os alunos pudessem estabelecer uma relação com o gênero literário
e desta forma conhecer e entender suas particularidades. Essa atividade de fato foi
muito importante para os alunos devido a diversos aspectos: primeiro porque os
próprios estudantes construíram o painel e, quando há a intervenção nesse
processo sentem muita satisfação, porque o trabalho é resultado do esforço deles.
Figura 1 - Alunos confeccionando o painel
Além disso, a turma foi dividida em grupos e por meio da análise dos cordéis
apresentados na reportagem anteriormente apresentada, foram trabalhados o tema,
o autor, as estrofes, versos e métrica do texto, escolhido livremente por cada equipe.
Esse momento foi essencial tanto para os alunos, que puderam observar
atentamente as características poéticas de um cordel, quanto para o professor que
pôde analisar o nível de compreensão dos alunos referente ao texto lido que, diga-
se de passagem, foi excelente, pois não ocorreram grandes dificuldades.
Fonte: Arquivo da autora
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4.2 MÓDULO II – Histórico da Literatura de Cordel
Nesse momento um breve histórico da literatura de cordel foi apresentada em
Power Point aos alunos, pois defende-se a necessidade de contextualizar
teoricamente o que está sendo trabalhado em sala de aula, uma vez que pode gerar
um maior interesse dos alunos pela temática trabalhada, como é o caso da turma
em que a atividade ocorreu.
Os alunos se envolveram profundamente com a literatura de cordel e
passaram a tomar gosto por apreciá-la no momento em que conheceram sua
história e, mesmo havendo momentos em que pareciam estar cansados de ler,
prosseguiram porque estavam ansiosos por conhecimento.
Nesse sentido, compreende-se que o exercício da leitura é algo que cansa e
causa tensão aos músculos e ossos, mas que são entorpecidos pelo prazer quando
se chega à conclusão daquilo que está lendo. A leitura permite viajar a outros países
ambientes, culturas, ir ao passado e futuro, conhecer a tecnologia, a natureza, o
espaço interno e externo, permite tocar o coração e a razão e conhecer-se e
conhecer melhor as pessoas.
Uma das coisas que mais chamou a atenção dos alunos foi o fato de que a
literatura de cordel faz parte do meio popular, principalmente da região nordestina e,
por serem bastante criativos, há cordelistas conhecidos como repentistas que criam
as letras na hora, de acordo com o pedido da plateia que lhes dão o assunto, e os
cantadores obedecem geralmente cantam em dupla, e esses tem revelado os
escândalos sociais e políticos e econômicos que nos últimos anos têm nos
castigados. Os alunos ficaram se imaginando durante uma apresentação de rua e
alguns comentaram sobre temas variáveis que iriam solicitar se tivessem a
possibilidade.
Outro ponto que fez com que os alunos refletissem bastante foi o fato de que
os cantores e escritores de cordel têm sobrevivido à custa de muita luta, uma vez
que há diversos outros estilos literários que tomam espaço na literatura brasileira. E
graças à vontade de fazer algo diferente o cordel tem rompido barreiras que
pareciam intransponíveis, para poder ocupar o lugar que está sendo habitado por
coisas que não são do nosso País, no qual muitas pessoas dão maior relevância a
estas outras culturas, sem ao menos, na maioria das vezes, buscar conhecer a
literatura brasileira.
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Também o que os estudantes ficaram admirados foi em relação a forma como
os livros de cordéis que narram os mais diversos assuntos, desde histórias de amor,
as aventuras de cangaceiros e acontecimentos importantes, são vendidos, no qual
os escritores na tentativa de melhor vender sua mercadoria, costuma ler em voz alta
o conteúdo do livro para depois oferecê-lo aos prováveis compradores. Isso chamou
a atenção dos alunos principalmente pela forma irreverente que os vendedores
carregam consigo para elevar o seu produto. E se os vendedores persistem na
propagação desse tipo de texto é porque acarreta benefícios, no qual em meio há
tantas dificuldades sociais, há quem reconheça a devida importância da literatura de
cordel para difundir a cultura nordestina.
Sobre isso, é possível compreender que a escrita e a leitura são importantes
instrumentos para a libertação do povo e para a reconstrução da nossa sociedade.
Sendo um mecanismo de conscientização a leitura se constitui em uma forma de
encontro entre o homem e a realidade sociocultural cujo resultado é um situar-se
constantemente aos dados dessa realidade, expresso e interpretada através da
linguagem. Na perspectiva de Demo (1993, p. 254): “uma sociedade que não
questiona e, sobretudo, não se questiona, jamais muda de elite. Sem mudança de
elite, não há desenvolvimento”.
4.3 MÓDULO III – Música “Pavão misterioso”
Este módulo iniciou com a exibição da música Pavão Misterioso6,
relacionando a mesma com a biografia de Bartolomeu Gusmão e o mito de Ícaro
que, posteriormente foi discutida com a turma.
As atividades desse módulo objetivaram praticar a leitura poética, se atendo à
análise do conteúdo e às formas de organização e distribuição do cordel trabalhado,
ou seja, buscando conhecer e compreender a métrica do texto.
Iniciou-se a leitura em sala de aula do cordel “Romance do Pavão Misterioso”
escrito por José Camelo. Em seguida, propôs-se que os alunos prosseguissem com
a leitura em casa, cujo intuito era de que houvesse a prática de leitura externamente
à escola, bem como a apreciação poética da obra.
6 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=vEqmwTrCNvg
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Nesse sentido, há de se considerar que o ato de ler é elemento de referência
primordial para o ingresso e a participação na sociedade, tornando-se assim uma
ferramenta básica de comunicação do homem. É a chave para formar um saber já
adquirido, fazendo com que esse homem se torne um cidadão inserido na civilização
moderna com perfeito domínio dos símbolos da comunicação. Daí surge à
complexidade do ato de ler.
A aquisição da leitura é necessária a todos os indivíduos numa sociedade
letrada, tornando-os cidadãos sociais. Portanto, é um instrumento de acesso à
cultura e à realidade social de grande desenvolvimento do ser humano. O acesso à
informação possibilita a percepção da realidade do individuo, de seus problemas e
conflitos, fazendo com que as pessoas tenham noção dos seus direitos e deveres
podendo exercer a sua cidadania com maior flexibilidade.
A leitura é compreendida como um ato de decifração e decodificação,
conforme Cagliari (1993, p.150)
O leitor deverá primeiro decifrar a escrita depois entender a linguagem encontrada e em seguida decodificar todas as implicações que um texto tem, e finalmente refletir sobre isso formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do que leu. A leitura sem decifrar não funciona adequadamente assim como a decodificação e demais componentes referentes à interpretação se torna estéril e sem grande interesse.
A práxis da leitura, por sua vez, deve envolver constatação, reflexão e
transformação de significados atribuídos, pois esse ato não pode ser desvinculado
do compreender criticamente as ideias evocadas por um documento escrito.
O professor é o grande agente que deve incentivar o hábito e a formação do
hábito pela leitura. Mas, dado a sua condição de oprimido, também é um carente da
leitura, com salários insuficientes que não permitem a compra de livros e o número
excessivo de aulas bloqueia os momentos para a leitura, além dos cursos de
licenciatura que não fornecem na sua maioria uma pedagogia para a leitura (SILVA,
1993).
E ainda como diz Bamberger (1994): “Obedecendo à lei do menor esforço,
ninguém gosta de fazer o que lhe é particularmente difícil. É mais fácil procurar outra
forma de preencher o tempo através de informações, ou de se contentar com a
ociosidade intelectual”.
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Devido à literatura de cordel ser composta por muitas rimas, além de um
conteúdo bastante importante, os alunos se interessaram por realizar a leitura em
casa, pois muitos estudantes vinham na outras aula ou até mesmo me encontravam
nos corredores da escola e comentavam sobre o que já haviam lido ou em qual
estrofe estavam. Há alunos que se interessaram também por buscar novos textos da
literatura de cordel para apreciar.
Talvez, o fato de alguns alunos não se mostrarem inicialmente tão
interessados por realizar a leitura fora do ambiente escolar se dê pelo motivo de não
haver o incentivo à leitura em casa como defende Solè (1999, p.51)
Muitos alunos não têm muitas oportunidades, fora da escola, de familiarizar-se com a leitura; talvez não vejam mais adultos lendo; talvez ninguém lhes leia livros com frequência. A escola não pode compensar as desigualdades sociais que nos assolam, mas pode fazer muito para evitar que sejam acirradas em seu interior. Ajudar os alunos a ler. A fazer com que se interessem pela leitura, é dotá-los de um instrumento de aculturação e de tomada de consciência, cuja funcionalidade escapa dos limites da instituição.
Daí a importância da família também no processo de formação do leitor,
pois defende-se que a responsabilidade por formar o aluno leitor não condiz
somente à escola, mas deve haver um despertar à leitura fora do chão da sala de
aula, com um trabalho em conjunto entre família e escola.
4.4 MÓDULO IV – Filme “A Quenga e o delegado”
Nesse módulo foi exibido o filme "A Quenga e o Delegado"7 inspirado no
cordel de Antonio Kelvisson Vianna de Lima, para reforçar o gênero Cordel no
aprendizado de literatura, mostrando a importância da literatura regional através do
filme – estimulando nos educandos a valorização da literatura nacional.
Desta maneira, o aluno teve a possibilidade de ampliar seu conhecimento,
identificando a linguagem de cordel, narrativa, estrutura em versos e rimas e assim
desenvolveu seu interesse sobre a linguagem cordelista. Houve a necessidade da
compreensão crítica do ato de ler que “(...) não se esgota com a decodificação da
palavra escrita ou da linguagem escrita, ela se antecipa e se alonga na inteligência
do mundo”. (FREIRE, 1988, p.11).
7 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=LtX8sy4MKg
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Para contextualizar melhor esse conhecimento, foi produzido um painel
enfocando questões de seca, de trabalho, diferenças sociais, crenças, religiosidade,
mito, lendário, críticas sociais e políticas que influenciam a literatura de cordel.
Essa atividade possibilitou a reflexão dos alunos sobre aspectos sociais que
fazem parte da vivência dos nordestinos e nos quais, na maioria das vezes, são
motivos para a escrita de cordéis. Os alunos se mostraram bastante sensibilizados
com as condições que os brasileiros do nordeste vivem e ressaltaram a importância
de colocar esses sentimentos na escrita de um cordel.
4.5 MÓDULO V – Valorização dos aspectos culturais e sociais nordestinos
O intuito do conjunto de atividades trabalhadas nesse módulo foi conhecer e
divulgar o grande cordelista Patativa do Assaré, valorizando os aspectos culturais e
sociais nordestinos.
Para tanto, apresentou-se primeiramente a biografia do autor em Power Point
para que os alunos conhecessem quem ele foi e o quão importante é a sua obra
para a literatura de cordel.
Para conhecer essa riquíssima obra, os alunos foram levados até o
laboratório de informática para pesquisar versos de Patativa do Assaré que,
posteriormente foram ensaiados levando em consideração a entonação de voz,
fluência, ritmo e dos sentimentos que o texto quer transmitir.
Também em Power Point foram apresentadas as mandalas e xilogravuras dos
versos do autor. Nesse momento, os alunos tiveram a liberdade de escolher o verso
que mais gostaram e ilustrá-lo utilizando mandalas.
Figura 2 – Cordel ilustrado com mandala
Fonte: Arquivo da autora
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Figura 3 – Cordel ilustrado com mandala
Além disso, os alunos também escolheram as xilogravuras para imprimi-las e
acrescentar ao trabalho que em seguida seria exposto no sarau de cordel para a
comunidade escolar.
Fonte: Arquivo da autora
Fonte: Arquivo da autora
Figura 4 – Cordel ilustrado com mandala
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Figura 5 – Xilogravura dos cordéis escolhidos
Figura 6 - Xilogravura dos cordéis escolhidos
Nessa exposição também foram apresentadas algumas literaturas de cordel
utilizando a música, uma vez que alguns alunos que possuíam aptidão com
instrumentos musicais se interessaram pela possibilidade de apresentar dessa forma
o cordel e de fato o realizaram de maneira brilhante.
Além de todas essas atividades, foi proposta a produção de um cordel em
equipe, utilizando os conceitos trabalhados em aula. Essa atividade final foi
importante para que os alunos se sentissem produtores de escrita, na qual a
Fonte: Arquivo da autora
Fonte: Arquivo da autora
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professora pôde perceber as dificuldades e aptidões existentes no trabalho com a
literatura de cordel.
A exposição dos materiais produzidos durante a implementação foi realizada
no sarau de cordel, em sala ambiente que retratou o sertão nordestino, baseado nos
versos de Patativa de Assaré e a contação da poesia de cordel “A vaca estrela e o
boi fubá”, incluindo a culinária nordestina.
Figura 7 - Exposição dos materiais produzidos
Fonte: Arquivo da autora
Figura 8 – Exposição dos materiais produzidos
Fonte: Arquivo da autora
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Sobre isso, é preciso ressaltar que não se pode esquecer a importância do
“contar”/ouvir. Toda a literatura vem da maravilhosa mania do ser humano de contar,
e recontar histórias. Contar uma história é representar e, de certa forma, produzir um
novo sentido ao texto. É um trabalho de co-autoria entre contador e autor. Leitores
são pessoas que absorvem mais conhecimento, tornam-se capazes de transformar
sua realidade. Por isso, a necessidade de fazer do aluno um contador da literatura
de cordel nessa atividade.
Figura 9 – Produção dos alunos
Figura 10 - Produção dos alunos
Fonte: Arquivo da autora
Fonte: Arquivo da autora
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Figura 11 - Produção dos alunos
As atividades aplicadas ao longo desse módulo foram bastante significativas
para a concretização do conhecimento da cultura nordestina, bem como a leitura e
escrita da literatura de cordel. Os alunos sentiram prazer em confeccionar os painéis
com as atividades e principalmente por terem a possibilidade de produzirem um
cordel e assim como o povo nordestino, expressarem seus sentimentos advindos de
diversos aspectos, entre eles, sociais, econômicos, culturais e políticos.
5. AS VIVÊNCIAS E DISCUSSÕES ADQUIRIDAS NO GRUPO DE TRABALHO EM
REDE – GTR
O Grupo de Trabalho em Rede é um ambiente virtual que possibilita a
formação continuada do professor/gestor PDE, por meio do desenvolvimento do
projeto de implementação com um embasamento teórico, ligado a uma Instituição de
Ensino Superior que, neste caso, foi a Universidade Tecnológica Federal do Paraná
– UTFPR.
Nessa ferramenta virtual, o professor PDE atua como um tutor na modalidade
de Educação a Distância, cuja função se restringe a conduzir e coordenar um grupo
de professores da Rede Estadual de Educação Básica de Ensino do Paraná de
diversas regionais nos encaminhamentos das discussões, troca de experiências,
Fonte: Arquivo da autora
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debates, enfim nas atividades propostas no curso sobre o Projeto de implementação
produzido.
O diálogo ocorreu inicialmente a respeito da pertinência do tema para a
realidade das Escolas Públicas do Paraná, por meio da reflexão da relevância da
proposta pedagógica para o contexto escolar, como se depreende da opinião
selecionada:
Sujeito 1: “(...) utilizaria a presente proposta em virtude da sua viabilidade nas
nossas escolas públicas . O Cordel trabalha com a linguagem popular, porém
com uma riqueza cultural muito grande. Os textos são de fácil acesso permitindo
o manuseio por todos os alunos. Ler é „brincar‟. O cordel permite isso. Diante da
diversidade que lidamos na escola esse trabalho será pertinente para uma troca
de culturas e incentivo para inserir os alunos no universo da leitura.”
Uma das atividades que mais chamou a atenção do grupo de professores e
que gerou discussões produtivas foi o uso de reportagem para trabalhar os
conteúdos da Literatura de Cordel, como mostra o relato a seguir:
Sujeito 2: “(...) penso que o uso do vídeo documentário do Globo Rural, como é
um programa voltado para telespectadores em diversos níveis de linguagem,
torna-se atrativo também para o aluno. Inclusive, penso que a atividade de
montar um painel sobre os autores citados na reportagem seria de grande ajuda
para levar o aluno a sistematizar o que assistiu no vídeo, principalmente com
turmas de 6º ano (...)”.
Também, durante algumas atividades do GTR os professores poderiam
apresentar propostas de trabalho para com a Literatura de Cordel que não
continham na Unidade Didática ou adaptar/modificar alguma que acreditasse ser
interessante para a prática pedagógica. Uma das atividades que mais chamou a
atenção do grupo foi a seguinte:
Sujeito 3: “(...) a criação de Literatura de Cordel, buscando as histórias de nossa
comunidade, a realidade do nosso aluno muitas vezes ficam esquecidas na
memória dos mais velhos. Estou lendo Descanse em paz meu amor de Pedro
Bandeira, um grupo de jovens que senta para contar fatos que seus pais ou avós
contavam, imaginei que seria tão interessante se conseguíssemos alguma coisa
parecida, e depois apresentar para a escola, talvez não seja fácil, mas seria bem
produtivo, especialmente para nossa juventude que está acostumada apenas
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com que lhe é proposto, e pouco se faz pesquisa para buscar nova histórias em
baús de nossos avós.”
Em alguns relatos do GTR se evidenciaram as dificuldades possíveis que
podem surgir durante a implementação das atividades na escola pelos professores
participantes do curso, levando em consideração o contexto de cada realidade
escolar, mas que pode ser planejado e colocado em prática adaptando as atividades
para que a literatura de cordel não deixe de ser trabalhada em sala de aula, como se
pode constatar na fala abaixo:
Sujeito 4: “(...) além de tantos motivos apresentados aqui que faz com que
nossos alunos não sejam leitores, no contexto do projeto Literatura de Cordel,
talvez encontramos dificuldades, pois não é uma leitura cotidiana, inclusive de
nós professores. As bibliotecas dispõem de muito pouco material desse gênero e
as que tem não utilizam e quanto a aquisição de livros de cordel pelo nossos
alunos torna-se ainda mais difícil. Cabe a nós professores, juntos, descobrirmos
meios prazerosos de trabalhar tal literatura.”
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho elencado ao longo desse artigo possibilitou ao aluno o
conhecimento da literatura de cordel que talvez jamais pudesse ter contato em ao
longo da sua trajetória escolar ou até na vida pessoal. Além disso, por meio das
atividades propostas os estudantes sentiram se mais motivados para o criar ou
prosseguir com o hábito de leitura, uma vez que demonstraram o gosto pela forma
poética que compõe a literatura de cordel, bem como os conteúdos que esta
explicita.
Como observado ao longo do trabalho, constata-se que os alunos
perceberam o grau de importância da literatura de cordel não somente para o povo
nordestino, mas para o povo brasileiro em geral, pois em seus versos a linguagem e
a realidade se relacionam. E por meio da leitura crítica do cordel é que se chega à
compreensão da leitura, isto é, do aspecto que aquele determinado texto quer
exprimir no leitor.
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Por isso, acredita-se que cabe aos educadores comprometidos com o ensino-
aprendizagem e com a realidade social, política e econômica proporcionar e facilitar
este saber crítico e a melhor maneira é através da leitura.
Sabe-se que a escola é a entidade que recebe a incumbência de ensinar a
ler, para tanto deve estar preparada, a fim de dar oportunidade e assim promover à
assiduidade a literatura, cumprir seu papel de modo global, transformando indivíduo
habituado à leitura em um leitor e não um mero decodificador de símbolos.
(LAJOLO, 1988). Cabe ao professor monitorar e orientar essas vivências,
despertando assim o interesse para a leitura que o professor deseja.
Oferecendo ao aluno um elenco de alternativas válidas para que ele escolha
aquele livro que mais lhe interessa assim o professor estará atingindo os objetivos
educacionais relacionados à leitura e a literatura.
Em suma, acredita-se que os alunos participantes das atividades, bem como
a comunidade escolar, prestigiaram o trabalho realizado e se anteriormente não
reconheciam o valor da cultura popular nordestina, agora o reconhecem por terem a
oportunidade de conhecer e se relacionarem com a mesma, por meio da leitura e
interpretação dos conteúdos que os cordéis carregam em seus versos.
Para concluir, gostaria de explicitar a relevância do PDE para minha formação
e ação docente, suscitando extrema relevância ao meu trabalho como professora de
Língua Portuguesa na Rede Estadual de Educação Pública do Paraná. Isso se deve
principalmente pela relação estabelecida com docentes do Ensino Superior, troca de
experiências e diálogo com professores de diversos núcleos da educação
paranaense, através do GTR e pelo estudo teórico realizado para a construção do
trabalho.
7. REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Luiza M. PONTARA, Marcela. Leitura Brasileira, Tempos Leitores e Leituras. Volume único. São Paulo, editora Moderna, 2005.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o Hábito da Leitura. 3ª ed. Ática. São Paulo,1994).
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 14ª ed. editora Vozes, 1993.
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FREIRE, Paulo. Dificuldade na aprendizagem da leitura. São Paulo, ed. Cortez, 1990.
LAJOLO, Marisa. FIRBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil, São Paulo, Ática 1996.
SILVA, Ezequiel Teodoro da, Leitura & Realidade Brasileira 3ª ed. Porto Alegre, Mercado Aberto,1993.
ZILBERMAN, R; Silva. E. T. (orgs.) Leituras Perspectivas interdisciplinares. São Paulo. Ática, 2002.