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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ARGUMENTAR É PRECISO
Rosangela Pereira 1
Fábio Lucas Pierini2
RESUMO
Em meio a nossa vivência do dia a dia, estamos a todo momento nos posicionando a respeito de um determinado assunto. Portanto, escrever artigos de opinião pode ser um importante exercício para a formação do cidadão e o presente trabalho teve por objetivo desenvolver nos alunos a opinião crítica, para que os mesmos saibam se posicionar frente a um determinado assunto ou problema que tange em nossa sociedade e apresentar argumentos convincentes que sustentem sua opinião. Este trabalho foi desenvolvido envolvendo alunos do 3ºC do período da manhã utilizando textos em diferentes formatos como: jornalísticos, revistas e artigos pesquisados pelos alunos na internet. Debates oportunizando o conhecimento de diversas opiniões, palestra com psicóloga para que os alunos conhecessem melhor o universo masculino e feminino. A partir das ações desenvolvidas nesse trabalho, percebe-se que ainda há muito o que fazer enquanto educadora para que haja mais leitura, não só de livros, mas de mundo, pois a dificuldade encontrada para colocarem no papel suas opiniões foram muitas, não sabiam nem como começar, apesar de terem aula sobre o mesmo.Como professora, lancei uma semente, que com certeza colherei alguns frutos posteriormente e não desistirei em incentivar a leitura, que é um agente transformador da sociedade.
Palavras-chave: leitura, opinião, argumentação, criticidade
1. INTRODUÇÃO
1 Licenciatura em Letras, Especialização em Metodologia de Ensino. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Docente, Colégio Estadual Vercindes Gerotto dos Reis – Ensino Médio, Paiçandu, PR, Brasil. [email protected]
2 Orientador, Doutor em Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em francês, pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Estudos Literários pela Unesp FCL Araraquara, é tradutor público e leciona Língua e Lieratura Francesa na Universidade Estadual de Maringá (UEM). <[email protected]>
Em meio à nossa vivência do dia a dia, estamos a todo instante nos
posicionando a respeito de um determinado assunto. Essa liberdade que nos é
concedida faz com que nos tornemos seres únicos, dotados de pensamentos e
opiniões acerca da realidade que nos cercam e partindo desse princípio é que se
pretende formar a opinião critica dos alunos.
Trata-se de um gênero textual comumente requisitado em exames de
vestibulares e concursos públicos de uma forma geral.
Sendo assim, torna-se imprescindível incorporá-lo aos nossos conhecimentos
e, sempre que necessário, colocá-lo em prática, para a formação pessoal e
intelectual dos alunos.
O artigo de opinião também é um gênero textual pertencente ao âmbito
jornalístico e tem por finalidade a exposição do ponto de vista acerca de um
determinado assunto.
Portanto, escrever artigos de opinião pode ser um importante exercício para a
formação do cidadão.
Na sociedade em que vivemos é de suma importância que os nossos alunos
saibam se posicionar frente a um determinado assunto ou problema, apresentando
argumentos convincentes que possam sustentar sua opinião. Daí a importância de
se trabalhar o artigo de opinião, pois para se ter opinião é necessário ter informação,
e para estar bem informado requer ir além das conversas informais com os amigos,
é preciso buscar fontes seguras de informações para aquisição de conhecimentos.
Por isso devemos criar o hábito de leitura diária (fato raro entre os alunos), jornais,
revistas, telejornais e também aproveitar o uso da internet como um dos caminhos a
ser explorado, uma vez que nosso aluno vive conectado.
Este estudo tem como objetivos desenvolver no aluno a opinião crítica, para
que ele possa se tornar um cidadão atuante na sociedade em que vive,
oportunizando leituras significativas em jornais e revistas para que o aluno tenha
uma atitude crítica diante dessas leituras, tendo em vista formar um aluno crítico e
atuante nas práticas de letramento da sociedade, propiciando assim a oralidade em
debates sobre temas diversos e polêmicos para análise de opiniões.
Os procedimentos metodológicos que nortearam esta pesquisa teve um
caráter exploratório-descritivo e qualitativo. O projeto implementado teve como título
“Argumentar é preciso”. Participaram desse estudo alunos do 3º ano do Ensino
Médio do Colégio Estadual Vercindes Gerotto dos Reis-Ensino Médio na cidade de
Paiçandu no estado do Paraná.
O presente estudo se fundamentou nos pressupostos teóricos e
metodológicos de Cagliari (2001) e Bakhtin (1997). A partir desses referenciais,
buscou-se aprofundar as reflexões sobre leitura e escrita e espera-se com este
estudo aumentar a capacidade argumentativa dos alunos, além de contribuir com o
desenvolvimento do senso crítico.
2. LER E ESCREVER COM MOTIVAÇÃO
Na concepção de linguagem assumida pelas Diretrizes Curriculares, a leitura
é vista como um ato dialógico. O leitor, nesse contexto, tem um papel ativo no
processo da leitura, e para se efetivar como coprodutor, procura pistas formais,
formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias
baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência
sociocultural.
De acordo com as Diretrizes Curriculares o trabalho com os gêneros orais
visa ao aprimoramento linguístico, bem como a argumentação. Nas propostas de
atividades orais, o aluno refletirá tanto a partir da sua fala quanto da fala do outro.
O exercício da escrita, nestas Diretrizes, leva em conta a relação entre o uso
e o aprendizado da língua, sob a premissa de que o texto é um elo de interação
social e os gêneros discursivos são construções coletivas. Assim, entende-se o texto
como uma forma de atuar, de agir no mundo. Escreve-se e fala-se para convencer,
vender, negar, instruir, etc. Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude
crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma
atitude responsiva diante deles. Sob esse ponto de vista, o professor precisa atuar
como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas que
possam contribuir com o seu crescimento intelectual.
Segundo Cagliari (2001, p.102), “Ninguém escreve ou lê sem motivo ou sem
motivação, muitas pessoas podem até ler jornais todos os dias, mas escrevem muito
raramente”. É o caso de nossos alunos em que alguns momentos leem jornais ou
revistas, mas quando vão escrever ou dizer sua opinião, têm dificuldades,
justamente por não serem motivados pela leitura fora da escola.
Ainda de acordo com Cagliari,
A escrita deve ter como objetivo essencial o fato de alguém ler o que está escrito e esta se diferencia de outras formas de representação do mundo, não só porque induz à leitura, mas também porque essa leitura é motivada, isto é, quem escreve, pede ao leitor que interprete o que está escrito, não pelo puro prazer de fazê-lo, mas para realizar algo que a escrita indica. Por exemplo, separar o banheiro dos homens e mulheres, no caso de um texto tradicional, informar o leitor a respeito de seu conteúdo (CAGLIARI, 2001, p. 102)
Assim como o artigo de opinião que irá informar ao leitor sua opinião sobre
diversos temas polêmicos que abrange nossa sociedade.
Bakhtin, em Estética da Criação Verbal, diz que
Uma compreensão responsiva de ação retardada: cedo ou tarde, o que foi ouvido e compreendido de modo ativo encontrará um eco no discurso ou no comportamento subsequente do ouvinte. Os gêneros secundários da comunicação verbal, em sua maior parte, contam precisamente com esse tipo de compreensão responsiva de ação retardada. O que acabamos de expor vale também, mutatis mutandis, para o discurso lido ou escrito. A compreensão responsiva nada mais é senão a fase inicial e preparatória para uma resposta (seja qual for a forma de sua realização). O locutor postula esta compreensão responsiva ativa: o que ele espera, não é uma compreensão passiva que, por assim dizer, apenas duplicaria seu pensamento no espírito do outro, o que espera é uma resposta, uma concordância, uma adesão, uma objeção, uma execução, etc. A variedade dos gêneros do discurso pressupõe a variedade dos escopos intencionais daquele que fala ou escreve. O desejo de tornar seu discurso inteligível é apenas um elemento abstrato da intenção discursiva em seu todo (BAKHTIN, 1997, p. 291).
Ainda segundo Bakhtin,
Ao lado dos gêneros padronizados, existiram, e continuam a existir, claro, gêneros mais livres e mais criativos da comunicação verbal oral: os gêneros das reuniões sociais, da intimidade amigável, da intimidade familiar, etc. (Até agora nenhuma nomenclatura dos gêneros do discurso oral foi criada e mesmo o princípio dessa nomenclatura não é claro.) A maior parte desses gêneros se presta a uma reestruturação criativa (de um modo semelhante aos gêneros literários e, alguns deles, num grau ainda mais acentuado), mas um uso criativo livre não significa ainda a recriação de um gênero: para usá-los livremente, é preciso um bom domínio dos gêneros. São muitas as pessoas que, dominando magnificamente a língua, sentem-se logo desamparadas em certas esferas da comunicação verbal, precisamente pelo fato de não dominarem, na prática, as formas do gênero de uma dada esfera. Não é raro o homem que domina perfeitamente a fala numa esfera da comunicação cultural, sabe fazer uma explanação, travar uma discussão científica, intervir
a respeito de problemas sociais, calar-se ou então intervir de uma maneira muito desajeitada numa conversa social. Não é por causa de uma pobreza de vocabulário ou de estilo (numa acepção abstrata), mas de uma inexperiência de dominar o repertório dos gêneros da conversa social, de uma falta de conhecimento a respeito do que é o todo do enunciado, que o indivíduo fica inapto para moldar com facilidade e prontidão sua fala e determinadas formas estilísticas e composicionais; é por causa de uma inexperiência de tomar a palavra no momento certo, de começar e terminar no tempo correto (BAKHTIN, 1997, p.303-304).
Com o artigo de opinião, seu autor espera que o leitor conheça sua opinião e
passe a aceitá-la ou não, gerando assim novas discussões e novas ideologias.
3. ANÁLISE SÍNTESE DAS AÇÕES IMPLEMENTADAS
As ações implementadas no projeto “Argumentar é preciso” teve início em
fevereiro de 2014 com a apresentação do material didático pedagógico à diretora,
equipe pedagógica e professores do Colégio Estadual Vercindes G. dos Reis-
Ensino Médio, onde foi debatida a falta de leitura que há em nossos alunos e as
dificuldades em escrever decorrentes dessa falta de leitura, foram-me dadas
algumas sugestões de atividades, como por exemplo, trabalhar alguns tipos de
traição e debater sobre os problemas da comunidade escolar e fora dela, uma vez
que artigo de opinião, é necessário ter opinião formada sobre um assunto, para que
o aluno seja um cidadão crítico da sociedade em que vive.
Ainda em fevereiro, houve a apresentação do material didático pedagógico
para os alunos do 3º ano C do Ensino Médio do Colégio Estadual Vercindes G. dos
Reis do período da manhã com o título “Argumentar é preciso” e com o tema
“Traição” e os ânimos ficaram exaltados e curiosos para saberem como seria a
implementação, conversamos sobre a importância da argumentação em nosso dia a
dia. Queriam que começássemos naquela hora então expliquei que teríamos dias e
horários para isso. Quando se falou em traição, os alunos logo imaginaram em
relacionamentos, então os convidei para irmos à sala de informática para que eles
visualizassem outros tipos de traição existente em nosso meio social e conversamos
sobre os mesmos e assim deu-se início a um debate sobre o tema, ampliando a
visão de que traição não é só de relação homem e mulher e que a mesma está
inserida em diversos tipos, no trabalho ou pessoal (entre “amigos” ).
Dando continuidade, ainda neste mês de fevereiro, foi levado à sala de aula
jornais completos para que os alunos soubessem suas divisões por seções e para
que serve cada uma delas, após o conhecimento das mesmas, os alunos ficaram
motivados a conhecer a sede do Jornal “O Diário do Norte do Paraná” e fizemos
esta visita em uma outra ação. Manuseando o jornal eles perceberam que cada
matéria tem seu lugar (esporte, social...) e o tipo de letra também muda de acordo
com o assunto (mais importante ou menos importante).
Num outro momento, ainda neste mês de fevereiro, foi preparado recortes de
artigo de opinião do Jornal “O Diário do Norte do Paraná” e nessa preparação de
matérias, foram recortados dos jornais a seção de artigo de opinião para cada aluno
do 3º C, Nesse dia 20/02/2014, os alunos tiveram a oportunidade de ter em mãos os
artigos de opinião que foram recortados na ação anterior, e fizeram a leitura dos
mesmos e observaram que o espaço para a escrita é restrito e também que alguns
artigos são escritos de maneira clara, usando um vocabulário fácil de se entender e
em outros um vocabulário mais rebuscado. Essa atividade foi realizada para que os
mesmos se interessassem por esse tipo de leitura e pudessem diferenciar opinião
de argumentação.
Nesse momento de reflexão da implementação os alunos puderam observar e
aprender os tipos de argumentos que existem e os que poderá ajudá-los na
elaboração do artigo de opinião posteriormente, assim como algumas dicas para
essa elaboração do artigo de opinião e a seguir os principais tipos de argumentos
Segundo Professor Gustavo Atallah Haun em publicação feita no Blog de
Redação (2012), foi apresentado aos alunos os seguintes tipos de argumentos:
Argumentos de autoridade – citação de uma fonte confiável. Um especialista, dados
de um instituto ou de uma pesquisa. Argumento de principio – legitimação por
princípios, conceitos éticos e morais. Argumento por causa – estabelecer relações
de causa e consequência na sua argumentação. Argumento por exemplificação ou
ilustração– mostrar exemplos comparáveis com pequenos fatos (real ou fictício).
Argumento de Provas Concretas ou Princípio: busca-se evidenciar os argumentos
por meio de informações concretas,extraídas da realidade, pode ser usado dados
estatísticos (de domínio público). Argumento por analogia (ou a simili): deve-se tratar
de algo de maneira igual, as citações de um juiz são exemplos desse tipo de
argumento no qual ele tem que decidir de acordo com situações anteriores,da
mesma forma. Argumento de Senso Comum: quando o argumento é incontestável, é
conhecido universalmente. Argumento de fuga: A retórica será usada para escapar
de uma discussão na qual os argumentos não prevalecerão e apela-se para a
subjetividade.
No início do mês de março, realizou-se a visita ao O Diário como foi sugerido
pelos alunos para conhecerem a sede do Jornal “O Diário do Norte do Paraná”,
agendei uma visita e fomos recepcionados pela funcionária do Recursos Humanos
que nos mostrou todo o processo desde que surge a matéria até sua confecção em
jornal (como por exemplo, as máquinas enormes) e a chegada até às nossas casas,
em seguida, nos dirigimos a uma sala onde um editor nos esperava e nos contou
qual é a sua função ali dentro e tirou as dúvidas dos alunos quanto ao artigo de
opinião e descobriram que um artigo para ser publicado tem que ter pelo menos
1.200 caracteres (e eles acharam muito), nessa conversa, aprenderam a diferença
de boato e fato que um bom jornalista deve diferenciar e os cuidados que tem que
ter ao publicar uma matéria para não publicar algo que não seja a verdade dos fatos.
Foi uma experiência incrível e que com certeza marcará a vida dos alunos. Também
foi perguntado ao editor, se ainda há campo para quem se forma em jornalismo e ele
respondeu que no jornal O Diário não há vagas por exemplo, como editor, mas se
chegar uma pessoa com um ótimo currículo e ter interesse em crescer
profissionalmente, eles arrumam um lugar nem que for apertado, mas não vão
deixar de empregá-la.
Na segunda quinzena de março, foi realizado o debate sobre “Traição”, onde
(com uma pesquisa prévia), conversamos sobre os vários tipos de traição, não só o
de relacionamentos amorosos e puderam observar o quanto já foram traídos e nos
contaram os fatos sem citar nomes. Nesse debate também foi-lhes questionado se
traição tem perdão e disseram que para eles não tem, pois se perde a confiança,
algo difícil de se reconstruir.
Sobre essa atividade, Bakhtin nos ajuda a refletir que o locutor espera que
haja não apenas uma compreensão passiva, pois isso apenas duplicaria o
pensamento no espírito do outro, o que se espera deste é “uma resposta, uma
concordância, uma adesão, uma objeção, uma execução” (BAKHTIN, 1997, p. 291).
No que se refere ao ouvinte, o autor percebe e compreende o significado
(linguístico) do discurso, concorda ou discorda dele. Essa responsabilidade do
ouvinte em compreender o processo de audição se dá desde o seu inicio e às vezes
a partir da primeira palavra do falante (BAKHTIN, 2003, p.271)
Após o debate em sala e conhecendo melhor os tipos de traição,foi realizado
uma palestra com uma Psicóloga sobre ‘Traição”, proferida pela Psicóloga Dra. Ana
Sueli L. V. Oliveira sobre “Traição” pelo viés do comportamento masculino e feminino
diante da traição e os diversos tipos de traição. Os alunos puderam, após a fala da
Psicóloga, tirar suas dúvidas sobre qual atitude tomar diante de uma traição, e os
mesmos relataram experiências reais do seu cotidiano familiar ( sem citar nomes).
Com esse tipo de atividade Bakhtin, em Estética da Criação Verbal, nos diz que:
“Uma compreensão responsiva de ação retardada: cedo ou tarde, o que foi ouvido e
compreendido de modo ativo encontrará um eco no discurso ou no comportamento
subsequente do ouvinte”(p.291).
Ainda no mês de março foi aprofundado o diálogo sobre questões polêmicas
do artigo de opinião. E nessa ação, os alunos se aprofundaram em questões
polêmicas como por exemplo: Situação de Argumentação: 'Na natureza nada se
perde nada se cria tudo se transforma” (Lavoisier); Fungo é um ser vivo; O filme “O
Palhaço”, foi inscrito para concorrer ao Oscar 2013, mas não foi selecionado; O
Governo Federal sanciona lei que destina royalties do petróleo para saúde e
educação.
De acordo com Barbosa, (2000 p.16),
Essas afirmativas geram contestações, opiniões distintas e não dizem respeito a fatos que perante a sociedade são inquestionáveis, mas a opiniões. Quando se fala em opinião cada pessoa pode ter posição diferente em algumas questões, basta apenas argumentar, e isso não é apenas dar sua opinião, é sustentá-la com argumentos, com provas, evidências que comprovem a ideia defendida. Portanto, para convencer alguém de suas opiniões é preciso argumentar com ideias adequadas.
E é nessa questão que os alunos puderam perceber que há afirmações que
são inquestionáveis e outras em que eles podem discutir e dar opinião, mas com
sustentação da mesma através de argumentos que sustentem sua opinião.
Depois de muito se falar em artigo de opinião, finalmente os alunos puderam
conhecer sua estrutura, de acordo com Barbosa (s/d): “São várias as formas de
estruturar um artigo de opinião. Mas, em geral, todos os artigos de opinião contêm
os seguintes elementos: Contextualização e/ou apresentação da questão em
discussão; Explicitação da posição assumida; Utilização de argumentos que
sustentam a posição assumida; Consideração de posição contrária e antecipação de
possíveis argumentos contrários à posição assumida; Utilização de argumentos que
refutam a posição contrária; Retomada da posição assumida e/ou retomada do
argumento mais enfático; Proposta ou possibilidades de negociação; Conclusão
(que pode ser a retomada da tese ou posição defendida”.
Para Köche et al. (2010, p.33-34) e Bräkling (2002, p. 226-227),
o artigo utiliza da argumentação para analisar, avaliar e responder a uma questão controversa, buscando influenciar o outro e mudando seus valores por meio da argumentação a favor de uma posição e de refutação de possíveis opiniões divergentes. Segundo Rodrigues (2005, p. 172) a valorização social e profissional do articulista confere credibilidade a sua fala, elevando-o à posição de “articulista” de um ponto de vista autorizado, de formador de opinião. A sua opinião é de relevância social tanto para o jornal como para o público leitor. “Ele é um autor da elite, pois é um leitor selecionado”.
Após conhecer a estrutura de um artigo, chegou a hora de reconhecê-lo.
Nessa ação, levamos os alunos à sala de informática para pesquisarem em grupos,
textos diversos sobre traição e em seguida apresentação dos mesmos para a sala,
com discussões a respeito dos diferentes textos apresentado e eles puderam
observar o quanto as opiniões se diferem em um mesmo assunto.
Segundo Barbosa, (2000, p. 52 e 53), “o artigo de opinião tem por objetivo
defender uma ideia com argumentos que sustentem sua opinião, tentando
convencer o leitor disso”.
Com base em tudo que foi visto e analisado sobre traição, os alunos
produziram um artigo de opinião seguindo o roteiro auxiliar da produção textual do
artigo de opinião que está logo abaixo.
Segundo Cagliari, (2001, p. 102) “a escrita tem como objetivo principal o fato
de alguém ler o que está escrito motiva o leitor a interpretar o que está escrito”.
Assim como o artigo de opinião irá informar ao leitor sua opinião sobre
diversos temas polêmicos (tema escolhido neste trabalho: traição) que abrange
nossa sociedade.
Foi lhes apresentado um roteiro auxiliar para produção textual do artigo de
opinião, a fim de ajudá-los na elaboração do mesmo: Apresentar tema relevante e
polêmico; Apresentar, claramente, a posição do autor; Apresentar argumentos que
consolidam esta posição; Apresentar vozes de outros de posição contrária e seus
argumentos; Apresentar conclusão convincente. Criar um título interessante e
adequado ao tema; Obedecer às características principais do gênero artigo de
opinião.
É importante ter em mente para quem vai escrever o seu artigo de opinião e
cada ideia deve ser repetida duas ou mais vezes, quando terminar reescreva seu
artigo ao menos uma vez.
Após a escrita dos alunos, que tiveram muita dificuldade para colocarem no
papel sua opinião, os alunos verificaram se sua produção textual seguiu os critérios
do roteiro auxiliar para produção do Artigo de Opinião. Foi realizada a correção
ortográfica e gramatical do texto deles e em seguida eles trocaram com os colegas
de sala para socialização entre eles, mas o conteúdo ficou a desejar por falta de
leitura dos mesmos, penso que com esse tipo de atividade seja uma semente
lançada e espero que futuramente dê algum fruto, pois a leitura está pedindo espaço
para os alunos que cada vez mais querem ficar distantes dela e cabe a nós
educadores, incentivarem a terem o gosto pela leitura.
Como forma de divulgar o trabalho realizado pelos alunos com a criação de
um artigo de Opinião sobre traição, foi exposto à comunidade escolar, durante uma
semana, os textos produzidos pelos alunos via mural, onde puderam conferir o
trabalho realizado pelos alunos do 3º C, todos com nomes fictícios.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com as Diretrizes Curriculares (2008) o trabalho com os gêneros
orais visa ao aprimoramento linguístico, bem como a argumentação, a dificuldade
para formar leitores críticos e competentes e que possam expressar-se com
conveniência é uma realidade nas escolas públicas do Paraná e é um constante
desafio para os educadores. Pensando nisso, este trabalho realizado no PDE,
possibilitou tratar desse assunto mais de perto, visando um aluno crítico e
conhecedor da sociedade em que vive.
Nas propostas de atividades orais, o aluno refletirá tanto a partir da sua fala
quanto da fala do outro e entende-se o texto como uma forma de atuar, de agir no
mundo. Escreve-se e fala-se para convencer, vender, negar, instruir, etc.
Segundo Cagliari (2001, p.102), “Ninguém escreve ou lê sem motivo ou sem
motivação...” e pensando nisso é que foi escolhido o tema Traição para aguçar e
apimentar nosso trabalho.
Nossos alunos, em alguns momentos, leem jornais ou revistas, mas quando
vão escrever ou dizer sua opinião, têm dificuldades justamente por não serem
motivados pela leitura fora da escola. Diante dessa dificuldade em ler, os alunos
tiveram muita dificuldade para escrever, pois não sabiam como colocar as ideias no
papel. Falta-lhes todo tipo de leitura, inclusive leitura de mundo.
A tecnologia está tão presente no nosso dia a dia e nossos alunos não sabem
usá-la ao seu favor, ficam só nas redes sociais e esquecem de ler sobre as notícias
que circulam na internet sobre o Brasil e o mundo. Essa alienação traz prejuízo para
a aprendizagem e o crescimento pessoal e profissional. Os alunos até têm ideias,
mas não conseguem organizá-las e colocá-las no papel.
É importante não se esquecer de que se o aluno for levado a saber a
importância social do artigo de opinião, e que, como cidadão, poder usá-lo em seu
dia a dia, uma vez que a mídia disponibiliza espaço para isso, saberá usá-lo em
diferentes situações sociodiscursivas e aplicá-lo em seu uso diário.
O que nossos alunos precisam aprender que em uma interação verbal
mediada pela escrita, é que os interlocutores não estão presentes e que nenhum
leitor poderá lhes perguntar algo sobre o texto escrito, o que não acontece quando
se está frente a frente com quem fala. Eles precisam aprender, ainda que se
aprende escrever escrevendo sem medo de errar, pois é errando que se aprende.
O projeto Argumentar é Preciso, vem reforçar a urgência de intervimos o mais
rápido possível no Ensino Médio das escolas públicas com propostas de trabalhos
direcionadas para auxiliar os alunos a vencer obstáculos e dificuldades nas práticas
discursivas que envolvem capacidades de argumentação, orais e escritas, pois
precisamos de alunos leitores e críticos, para que eles se tornem cidadãos
capacitados para sua convivência social como transformador e colaborador da
sociedade em que vive.
Como educadora, lancei uma semente, cujos frutos não foram tantos quanto o
esperado, mas os que renderam, valeram a pena, pois consegui fazer com que
refletissem sobre um assunto do seu cotidiano familiar e social.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Jaqueline P. Com a colaboração de: Marisa V. Ferreira. Material do aluno Sequência didático Artigo de opinião. São Paulo, 2000, p.16. Disponível em:<http://efpava.cursos.educacao.sp.gov.br/Resource/331586,745,D95/Assets/estrutura/arqu ivos/modulo4/IOC-modulo4-artigo-de-opiniao.pdf> acesso em 18 nov. 2013. (afirmações adaptadas).
BAKTHIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2ª ed. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Linguística. 10ª ed. Ed. Scipione. São Paulo, 2001.
KÖCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti; MARINELLO, Adiane Fogali. Leitura e produção textual: Gêneros textuais do argumentar e expor. Petrópolis: Vozes, 2010.
SEED, Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa. Curitiba: Imprensa oficial, 2008.
HAUN, Prof. Gustavo Atallah. O Blog de Redação:Tipos de argumentos. Itabuna, BA,outubro de 2012.Disponível em: <oblogderedacao.blogspot.com/2012/10/tipos-de -argumentos.html>acesso em 21 de maio de 2013.