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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
NADA A MAIS NADA A MENOS: O MINICONTO COMO ESTRATÉGIA
DE LEITURA E PROCEDIMENTO DE PRODUÇÃO TEXTUAL
Alcione Aparecida Azeredo da Cruz1
Josoel Kovalski2
Resumo: Com as tecnologias invadindo e seduzindo os jovens com ferramentas não apenas no processo de comunicação, mas no rico e variado material de leitura interativa, cabe a escola aproveitar e oferecer leituras de qualidade e diversidade de textos interessantes e breves para que absorvam a atenção do aluno/leitor. Para tanto, faz-se necessário introduzir os alunos no universo mágico da literatura, de forma criativa e prazerosa, para que, no futuro, eles possam alçar voos maiores. Este artigo busca relacionar o trabalho em sala de aula com o gênero miniconto. Para isso, procurou-se um aprofundamento teórico acerca das formas breves como estratégia para estimular a leitura significativa e produção textual usando, como corpus, os alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Casimiro de Abreu de Porto Vitória. Acredita-se que o gênero miniconto, por ser extremamente contemporâneo e fiel ao culto da velocidade, venha a ser um instrumento nas aulas de leitura em que o professor possa desenvolver a imaginação e ampliar o horizonte dos jovens leitores, trabalhando com poucas palavras e produzindo muito, num tempo marcado pelo efêmero, no qual a flexibilidade e a fluidez aparecem como tentativas de acompanhar essa velocidade. Levando em conta que a fala, a leitura e a escrita deverão sempre ser trabalhadas juntas, já que uma atividade possibilita a outra e vice-versa, os alunos terão oportunidade de ouvir, ler, apreciar, comentar, pesquisar, produzir e divulgar minicontos com o intuito de despertar o interesse e participação, relacionando e construindo sentidos segundo suas vivências.
Palavras-chave: Tecnologias; literatura; velocidade; miniconto.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, as práticas que entornam a formação leitora dependem, também,
de categorias exteriores à escola. Não basta somente um envolvimento maior dos
profissionais da educação no que tange a valoração de procedimentos de leitura,
pois estamos, muitas vezes, dependendo de ações de um âmbito que, via de regra,
foge da alçada dos professores de língua portuguesa. O acesso material à leitura é
um deles.
Seja pela impossibilidade de os alunos terem efetivo acesso à leitura por
conta da distância de suas residências domiciliares aos educandários, seja pela
1 Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail: [email protected]
2 Orientador PDE e professor da Universidade Estadual do Paraná: Campus União da Vitória. E-mail:
pouca infraestrutura disponibilizada às bibliotecas escolares ou, até mesmo, a falha
dinamização dos ambientes onde a leitura se produz dentro da escola, a verdade é
que em uma comunidade na qual a maioria dos estudantes pertencem à parcela
rural a leitura encontra um obstáculo ainda maior.
Assim, temos como barreiras principais a serem vencidas para a efetivação
de uma real prática de leitura, de caráter extensivo, – pois temos em vista a
consolidação dessas mesmas práticas por parte dos estudantes – o acervo
insuficiente e desatualizado e o contexto social no qual os alunos estão inseridos,
pois o espaço da escola acaba se tornando o único local para o acesso à leitura e o
professor o único referencial de leitura. Somados a isso, a atual disposição da grade
curricular de Língua Portuguesa nas escolas públicas3, a falta de material didático
adequado e de tempo para desenvolver atividades mais complexas, os problemas
enfrentados pelo professor de Língua Portuguesa no dia a dia se mostram
demasiado amplos.
Ademais, vivendo em uma sociedade onde cada vez mais o acesso aos
meios tecnológicos de ponta se tornaram uma realidade, e onde os alunos – mesmo
os de uma área não urbana – têm à mão recursos os mais vários como celulares,
notebooks e aparelhos aparentados, à tarefa do professor ainda se assoma o
ombrear com esses meios mais “chamativos” ou sedutores, tendo a prática da
leitura, em sua versão tradicional, ficado a um plano bem inferior na opção dos
jovens. Poderíamos, ainda, versar sobre a tendência, colocada pela globalização,
em se viver em um mundo cada vez mais imagético, ou seja, no qual tanto as
imagens sugerem tomadas de posições, como a velocidade da informação se
mostra uma realidade que ultrapassa os prognósticos colocados por especialistas
nas últimas décadas do século XX. Assim, a leitura e seu caráter quase sempre visto
como circunspecto e atrelado a monásticos estados de concentração, perdeu
espaço para a tecnologia e a velocidade sempre em constante desenvolvimento.
Diante de tais obstáculos, pensamos um trabalho que reunisse os
procedimentos de leitura a uma prática conciliadora com a tecnologia atual. Agindo
dessa maneira, procuramos, a partir do projeto PDE, dar conta das respostas
provenientes de uma demanda inicial que norteou/nortearam o desenvolvimento
desse projeto, qual sejam: Como trabalhar a literatura para a escola de hoje? A
3 Importante salientar que no Ensino Médio divide-se o número de aulas com muitas outras disciplinas
(3 aulas no 1º ano, 4 aulas no 2º ano e 3 aulas no 3º ano).
literatura por gostar de ler, de contar histórias e por acreditar que o texto literário
extrapola a mera fruição de prazer ou emoção e provoca o aluno a adentrar no
mundo da leitura, que pode se dar pela via do gênero, mais ligado às
transformações culturais e sociais nas quais esses alunos estão inseridos. Assim, o
miniconto pode ser estratégia para que a literatura possa ser vista como
multiplicidade? Sabemos que o ensino de Língua Portuguesa e Literatura deve ser
capaz de formar um cidadão autônomo, que interaja com a realidade
contemporânea. Essa disciplina é fundamental, pois a linguagem permeia todas as
atividades humanas numa sociedade onde as informações surgem e se propagam
numa velocidade espantosa. Além do mais, entendemos que por meio da linguagem
"que nos constituímos enquanto sujeitos no mundo, é a linguagem que, com o
trabalho, caracteriza a nossa humanidade, que nos diferencia dos animais"
(PARANÁ, 1990, p. 50).
Este artigo se apresenta como requisito para a conclusão do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE 2013 - 2014, abordando o tema Miniconto na
sala de aula, gênero este que é uma das formas em que se apresenta um sintoma
da contemporaneidade, a saber, se expressar de uma maneira mais concisa. Com
sua aplicação a partir de oficinas e sua instrumentalização pelos aparatos teóricos
que regeram esses quase dois anos de trabalho procuramos aliar tanto as formas
convencionais da literatura canônica, quanto nos permitir adentrar um universo onde
as ações se estabelecem de par com a velocidade da informação e as formas mais
breves de exposição, todas voltadas para uma reflexão crítica por parte do aluno
leitor.
A aplicação envolveu alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Casimiro
de Abreu, localizado em Porto Vitória. A implementação foi planejada para iniciar em
fevereiro e terminar em junho de 2014, ocorrendo em contraturno como um projeto
da disciplina de Língua Portuguesa. O resultado das oficinas com os alunos
envolvidos e os procedimentos práticos que procuraram exemplificar nossas opções
teóricas seguem abaixo discutidos. Nossas estratégias de inserção da leitura como
prática contínua vai de consonância com as teorias as quais respaldam esse
trabalho, sempre com vistas a sedimentar a escola como espaço onde os alunos
facilmente se identifiquem por diversos fatores tais como linguagem, características
(textos curtos) ou ambiente que podem despertar o gosto e o hábito da leitura. O
trabalho com textos curtos e diversificados é uma estratégia para que a leitura tenha
uma significação mais abrangente e duradoura, e que dialogue com as
transformações abruptas que a sociedade vem passando ao longo das últimas
décadas.
2. POR UMA BREVIDADE NO ENSINO DA LITERATURA
Em uma interessante página de seu percurso teórico-crítico, o escritor italiano
Umberto Eco (1993, p. 44) propôs que o texto seria “a estratégia que constitui o
universo das suas interpretações legitimáveis”. Esse lugar de encontro postularia um
leitor com suas capacidades interpretativas, mas também um autor que emitisse
mensagens amplamente propícias à decodificação. Teríamos, assim, as estratégias
textuais de validação das leituras, as quais se mascararam com nomes ou conceitos
tão debatidos ao longo do último século como eu lírico, narrador, escritor, autor, etc.
De fato, estas instâncias propugnadas exclusivamente para o ato da criação, ou
escrita como ethos artístico, resvalaram em um tremendo impasse quando as formas
pelas quais a escrita se veiculava engendrava, a cada vez, mais possibilidades de
exteriorização. Dessa forma, as costumeiras rotulações provenientes de um
tradicionalismo do gênero literário se encontraram em um friável solo da
contemporaneidade, onde a distinção taxonômica se encontra cada vez mais em
vias de desagregação. O hibridismo das formas de exposição e veiculação
questiona a transmissão tradicionalista da literatura como forma única ou
privilegiada. O miniconto, nesse caso, pode ser menos uma resposta plausível à
época em que se privilegiam as imagens associadas à velocidade das tecnologias
em ascensão.
As novas tecnologias e mídias são os meios de comunicação mais presentes
na vida dos adolescentes e dos jovens, que acessam voluntária e prazerosamente
músicas e aplicativos diversos nos meios eletrônicos, assistem a filmes e programas
sobre variados temas e estilos, leem e mandam mensagens pelo celular, contudo,
em sala de aula não demonstram o mesmo interesse para a realização da tradicional
tarefa da leitura. Eis o grande desafio: despertar o prazer em nossos alunos para
que leiam, que leiam por vontade própria, assim como quando utilizam as diversas
tecnologias.
Regina Zilberman em A leitura e o ensino da literatura, mostra os esforços
realizados com o objetivo de difundir o gosto pela leitura e literatura:
O exercício dessa função [...] é delegado à escola, cuja competência precisa tornar-se mais abrangente, ultrapassando a tarefa usual de transmissão de um saber socialmente reconhecido e herdado do passado. Eis porque se amalgamam os problemas relativos à educação, introdução à leitura, com sua consequente valorização, e ensino da literatura, concentrando-se todos na escola, local de formação do público leitor (ZILBERMAN, 1991, p.16).
Quanto maior o contato do aluno com a linguagem em diferentes esferas
sociais, maiores as possibilidades de compreensão dos textos. Com base nisso,
entende-se que somente o aluno que apresenta bom desenvolvimento de leitura
estará cumprindo o maior objetivo da Língua Portuguesa: a comunicação,
entendendo e fazendo-se entender, pois, de acordo com as Diretrizes Curriculares
Estaduais "O trabalho com a Literatura potencializa uma prática diferenciada [...] e
constitui forte influxo capaz de fazer aprimorar o pensamento trazendo sabor ao
saber" (PARANÁ, 2008, p. 77).
A prática corriqueira da literatura em sala de aula tem sido afetada pelas
transformações e revoluções midiáticas, muitas vezes não acompanhando as
atualizações que os meios de comunicação vêm passando. Tanto a leitura quanto a
literatura sofrem um processo de escolarização, resumindo-se em atividades
repetitivas ou exercícios escolares isolados, não abrindo espaços para que o aluno
perceba a leitura como uma ação cultural historicamente constituída, e não
simplesmente para cumprir tarefas escolares visando uma nota final. Nas leituras
impostas, ler é apenas uma obrigação, em que as escolhas pessoais deixam de ser
privilegiadas. Esse tipo de atividade desmotiva o aluno enquanto leitor e produtor de
textos.
Outro ponto a ser citado é que o ensino de leitura e literatura constitui-se
através do livro didático que enfatiza autores e obras, períodos literários com suas
características e o contexto histórico, como se estudar literatura fosse simplesmente
estudar história da literatura. Somente isso não contribui para a formação literária do
aluno, a qual só será possível pelo contato efetivo e crítico com o texto, pois "Aquele
que lê amplia seu universo, mas amplia também o universo da obra a partir da sua
experiência cultural" (PARANÁ, 2008, p. 58).
A ação pedagógica deve priorizar situações reais de ensino em que os textos
se façam presentes de maneira planejada e intencional. Para isso é importante que
o aluno tenha liberdade para selecionar textos, partindo de suas experiências
prévias de leitura, no sentido de descobrir o prazer de ler.
Para que os alunos realmente se envolvam deve-se proporcionar condições
para que ocorra a leitura e a compreensão do texto de modo interativo, pois como
salientam as DCE: "O primeiro olhar para o texto literário, tanto para os alunos de
Ensino Fundamental como de Ensino Médio, deve ser de sensibilidade, de
identificação" (PARANÁ, 2008, p. 75).
Tendo como referência as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa para
a Educação Básica da Rede Pública do Estado do Paraná, que propõem como
conteúdo estruturante o Discurso enquanto prática social, e diante da
heterogeneidade dos gêneros do discurso acreditamos que os gêneros narrativos
ficcionais são o caminho para desenvolver o gosto pela leitura e alunos capazes de,
com o tempo, por iniciativa própria, selecionar, de acordo com suas necessidades e
interesses, o que ler entre os vários tipos de textos que circulam socialmente. O
conto, seja pela sua reduzida extensão, seja pela atualidade de alguns temas que
ultimamente tem trabalhado, seria um exemplo tanto de possibilidade discursiva
quanto de inserção social pela via literária. O trabalho com esse gênero pode
implicar uma leitura de qualidade, que realmente possa vir a ter seu efeito no
encantamento do aluno leitor.
Por ser um gênero que tem uma importância e uma vitalidade que crescem
dia a dia, o conto pode ser uma excelente porta de entrada para o universo literário.
Nádia Gotlib (2006, p. 43) afirma que o texto:
Deve ser forte – e ter a capacidade de marcar o leitor, prendendo-lhe a atenção, não deixando que entre uma ação e outra se afrouxe este laço de ligação. O excesso de detalhes desorienta o leitor, lançando-o em múltiplas direções.
Acerca disso é possível destacar o conto dentro desse caminho uma vez que:
"[...] o conto é a forma natural, normal, insubstituível de contar; é o relato de uma
história suficientemente interessante e breve para que absorva a atenção do leitor"
(SCHLEE apud FARACO E MOREIRA, 2009, p. 59).
Pela sua brevidade, característica que vem de acordo com a época em que
estamos vivendo - quando as informações ocorrem de forma dinâmica e precisam
ser absorvidas com rapidez, - o conto pode ser lido em sala de aula com o
acompanhamento do professor, que por meio de comentários e sugestões
importantes pode criar oportunidades para debates e atividades de expressão oral e
escrita, pois para formar leitores competentes é preciso primeiro conquistá-los e,
com enredos envolventes e curtos a tarefa se torna mais fácil. Agindo dessa forma,
muito mais que colocar questões de caráter contemporâneo e crítico estaremos
trabalhando com o desenvolvimento do hábito da leitura. A conquista de um leitor
vem da sedução que o tipo textual pode nele provocar, e sedução tem a ver também
com as possibilidades apresentadas ao futuro leitor, pois:
A sedução é um jogo em cadeia, e o bom seduzido é sempre um bom sedutor. O seduzido consente em ser enganado, e também engana o sedutor: porque este lhe oferece algo, e o que o seduzido quer e pega está ao lado; ele é presa não da mentira do sedutor, mas da fantasia que lhe indica seu próprio desejo (PERRONE-MOISÉS, 1990, p.19-20).
Garantir um espaço onde se proliferem possibilidades de gosto pela leitura é
mais uma tarefa da escola frente aos desafios, às vezes, mais sedutores que a
leitura encarada em seu viés tradicional. O conto, tanto pela organicidade, quanto
pelo diálogo com os conhecimentos vivenciais expressados em sua forma, deve ser
visto como um meio privilegiado de se atingir o leitor que tenta completar suas
lacunas ou reafirmar suas indagações em um processo dialógico de leitura e crítica.
Por isso:
Verdade: no conto nada se perde, tudo se completa e se transforma. [...] O conto, ainda que acabado, está sempre a pulsar, a germinar e fermentar nos mistérios meandros das entrelinhas (PÓLVORA apud FARACO E MOREIRA, 2009, p. 35).
Importante não confundir minicontos ou formas breves com formas fáceis,
mas como sintomas de uma pós-modernidade que exige de seus leitores o adentrar
cada vez maior em exposições de caráter reduzido. Do aluno é exigido muito mais,
pois tem de extrair o máximo do mínimo, em consonância com o tempo em que a
velocidade e a capacidade de concisão se mostram como características principais.
O miniconto mostra-se, assim, como uma resposta da contemporaneidade literária.
Usando-o, garantimos aos estudantes uma via de acesso para as práticas leitoras
que pretendemos que o sigam para além da sala de aula. Da pós-modernidade
deve-se extrair os reflexos que elas nos jogam, e não se fechar em um
tradicionalismo anacrônico em que as práticas de outrora são imputadas sem
discernimento e sem o compromisso com a realidade do aluno.
3. O MINICONTO E A PÓS-MODERNIDADE
Neste mundo globalizado em que o desejo do acesso a bens materiais sufoca
valores essenciais, em que tudo é passageiro e em que as inovações tecnológicas
atraem o olhar, "nasce aqui uma pergunta como pensar a leitura diante de uma
oferta textual que a técnica eletrônica multiplica mais ainda do que a invenção da
imprensa?" (CHARTIER, 2002, p. 21). Quando o contexto é a sala de aula e o atual
sistema educacional o questionamento de Chartier se torna ainda mais explícito.
Contudo, precisamos lembrar de que as técnicas eletrônicas de que fala o teórico
podem e devem ser exploradas em favor do ensino.O professor precisa introduzir
seus alunos no universo mágico da literatura, de forma criativa e prazerosa, para
que, no futuro, eles possam alçar voos maiores.
Foi-se o tempo da passividade, os alunos de hoje são muito mais exigentes, o
que demanda um professor bem preparado e disposto a competir com o atrativo
mundo das tecnologias. É possível?
Tendo em vista que os tempos na contemporaneidade assinalam um
andamento cada vez mais rápido, ágil e fragmentado, é natural que a literatura os
reflita, pois como salienta Bauman (2001, p. 8), "são fluídos que se moldam
conforme o recipiente nos quais estão contidos". Surge então o miniconto atingindo
grande público e agradando pela sua forma compacta de ser. E com as tecnologias
digitais ganhou espaço, sendo amplamente publicado em blogs. Esse espaço se
destaca devido à fluidez e à rapidez com que as informações são
veiculadas/divulgadas pelos meios tecnológicos que exigem novas formas de
leituras e novos gêneros textuais.
Essa nova forma apresenta característica não tão recente que é a concisão,
assim como destaca Perrone-Moisés: "Ser capaz de dizer muito em poucas palavras
é algo louvado desde a Antiguidade, porque o excesso de palavras era visto como
puro ornamento [...] Na modernidade esse valor está ligado à rapidez, à objetividade
e à eficácia requeridas pela vida em nosso século" (PERRONE-MOISÉS, 1998, p.
156).
Com a utilização de novas tecnologias, característica da pós-modernidade,
faz-se necessária a observação de manifestações culturais uma vez que:
[...] pode-se considerar que o miniconto seria uma modalidade do conto, porém tendo em sua identidade um pertencimento marginal ao conto, já que ele habita a margem do gênero e inaugura um diálogo com as linguagens multimídia e hipertextual. [...] Podemos pensar, portanto, que o miniconto, ao mesmo tempo em que se encontra à margem das formas convencionais do conto, está no centro das novas manifestações literárias da escritura contemporânea quando a nova ordem é minificar todas as formas de comunicação, congregando, através da condensação, o visual e o textual, o instantâneo e o narrativo, abordando o tempo e o espaço sob dois diferentes aspectos em um mesmo objeto da arte (CAPAVERDE, 2004, p. 33-34).
Daí a importância de o professor captar/perceber/aproveitar a demanda da
contemporaneidade para a construção de novas práticas de intervenção para o
trabalho com a leitura e a escrita, reafirmando com Perrone-Moisés "[...] abriram
caminho para novas formas de escrita, para as literaturas emergentes [...]" (1998,
214).
É preciso fazer com que o aluno perceba o que está nas entrelinhas, que
aprenda a partir dos textos, que reflita e estabeleça relação entre o que lê e o que
conhece, tendo em vista ampliar e transformar suas experiências e conhecimentos.
Destaca-se/relaciona-se a isso a teoria do iceberg, comparando o conto, o miniconto
com o iceberg; este que tem apenas uma parte visível, grande parte está submersa,
invisível e o conto tem o não dito, o não escrito. Hemingway (apud MOSCOVICH,
2005) enfatiza que "O leitor, se o escritor está escrevendo com verdade suficiente,
terá uma sensação mais forte do que se o escritor declarasse tais coisas. A
dignidade do movimento do iceberg é devida ao fato de apenas um oitavo de seu
volume estar acima da água". Isso é o que chama a atenção no miniconto, quando o
escritor pode omitir partes, pois o mais importante nunca se conta, é o leitor que
deve estar prevenido e se aperceber, se dar conta do todo que está nas entrelinhas.
É no leitor que se completa a narrativa, que quando bem realizada,
transforma o miniconto em uma narração plenamente satisfatória em si mesma e
não em mero fragmento, anedota, apontamento ou alusão, por muitos assim
classificado.
Mesmo que um miniconto fosse transformado num texto de muitas páginas -
e poderia ser -, teria mantida a essência narrativa proposta, pois a narrativa não
mudará, apenas seu discurso ou seu efeito, pois o que o autor fez foi apenas reduzir
sua narrativa para obter um efeito singular em narrativa tão breve. O miniconto tem
apenas os elementos suficientes para deduzir/mostrar os elementos que não se
mostram.
O trabalho com o miniconto é uma estratégia para que o aluno passe a gostar
da leitura já que o mesmo, uma forma brevíssima de narrar histórias, recentemente
utilizada em larga escala na Internet através de blogs, redes de relacionamentos e
sites pessoais entram no gosto dos jovens que utilizam esses meios com grande
facilidade e prazer.
A escola precisa ocupar os espaços nos quais os alunos têm se locomovido
com familiaridade e motivação. Assim a literatura passa a ter um novo significado
para o aluno. Numa época em que tudo acontece numa velocidade espantosa, tempos
congestionados, muito se fala em sociedade contemporânea, concisão, textos
curtos, minicontos, destaca-se:
Nos tempos cada vez mais congestionados que nos esperam, a necessidade da literatura deverá focalizar-se na máxima concentração da poesia e do pensamento. [...] De minha parte, gostaria de organizar uma coleção de histórias de uma só frase, ou de uma linha apenas, se possível (CALVINO, 1990, 64).
A esse respeito, Marcelo Spalding muito bem coloca: "É preciso [...] olhar um
pouco para a contemporaneidade e alguns de seus pensadores, ainda que para
tanto tenhamos de lidar com os polêmicos termos pós-modernismo e pós-
modernidade” (SPALDING, 2008, p. 47). O mesmo autor diz que:
A ideia de provocar efeitos artísticos mediante a utilização de um número limitado de elementos é talvez uma das mais frutíferas em trânsito na modernidade, numa clara reação à prolixidade e à redundância identificáveis em períodos anteriores (2008, p 17).
De acordo com Bauman (2001), com o tempo escasso e instantâneo, o
progresso precisa ser consumido e usufruído com rapidez, já que o momento exige,
antes mesmo que outro progresso surja e se faça perceber. "Numa vida guiada pelo
preceito de flexibilidade, as estratégias e planos de vida só podem ser de curto
prazo" (BAUMAN, 2001, p. 158). Assim, o miniconto como possibilidade de
veiculação, tanto do mundo literário quanto do cultural, questionando e refletindo
saberes estabelecidos é uma verdade que conjuga tempo e espaço captados em
seus padrões mínimos, mas que podem ser amplificados pelo trabalho artístico, pois
"Nada deveria ser deixado em seu curso caprichoso e imprevisível, [...] nada deveria
ser mantido em sua forma presente, se essa forma pudesse ser aperfeiçoada e
tornada mais útil e eficaz (BAUMAN, 2001, 165).
O miniconto é, então, o resultado literário da concisão de expressão que os
tempos modernos nos colocam.
4. O MINICONTO NA SALA DE AULA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA - As
oficinas
4.1 DESCOBRINDO O MINICONTO
"Você saberia dizer como os contos foram inseridos na nossa vida
cotidiana?" Questionamentos desse tipo foram endereçados aos alunos
participantes de nossas oficinas e, a partir da pergunta e apresentação dos textos,
percebeu-se o encantamento dos estudantes durante as leituras e atividades
realizadas, principalmente porque ao iniciar cada aula um novo conto era lido ou
contado, seguido de questões orais a respeito do mesmo. Esse momento era
bastante esperado, todos tinham curiosidade para saber qual seria o texto do dia.
Diferentes textos de diversos autores e épocas fizeram parte dessa dinâmica.
A hora e a vez do miniconto foi a etapa seguinte, mostrando a necessidade de
se trazer novidades:
Os leitores modernos não têm, como os dos séculos passados, paciência para enfrentar o tedioso, o solene, que se justificavam pelo ensinamento ou pela elevação da moral. A "rapidez" prezada por Calvino tem muito a ver com a intensidade da vida moderna. A falta de paciência de Borges para com os romances longos, e sua própria prática da escrita sintética e surpreendente, também (PERRONE-MOISÉS, 1998, 159-160).
Em pequenas narrativas cabem grandes histórias, pois, com quantas palavras
se faz um texto de qualidade? Novamente os alunos foram questionados sobre se
costumavam mandar mensagens por celular, se sabiam qual seria o número máximo
de caracteres para mandar uma mensagem e qual a relação que isso tem com os
minicontos, dada a praticidade desse gênero.
Através dessa prática certificaram-se de que o ritmo da vida moderna interfere
na produção das narrativas contemporâneas, pois isso vem refletir o que já teorizou
Perrone-Moisés: "O papel do poeta - do artista - é captar essa intensidade e torná-la
visível a seus concidadãos" (PERRONE-MOISÉS, 1998, p.160). E o resultado
agradou, e muito.
4.2. ANALISANDO MINICONTOS
Ao analisar que é possível produzir uma narrativa com começo, meio e fim,
preservando as características do conto em espaço tão exíguo, os alunos foram
também percebendo marcas de intertextualidade e compreendendo o seu papel nos
minicontos.
Perceberam que com economia de linguagem o autor consegue narrar uma
história que nos desafia como leitores a completar o que não está escrito, buscando
construir os elementos da narrativa. Essa busca nos abre os olhos para detalhes
importantes da construção das narrativas, e isso nos dá condições de apreciar ainda
mais as histórias que nossa imaginação cria.
Gustavo Martins diz que não é uma tarefa fácil para o autor, mas com tantas
informações e tecnologias é necessária uma vez que:
Os olhos não foram feitos para ler textos longos na tela do computador. Isso é notório. E nessa vida acelerada e saturada de informação poucos têm tempo ou cabeça para grandes divagações. Nada mais natural do que a literatura se adaptar, e os contos de leitura rápida ganharam valor. Mas escrever textos curtos sem perder em conteúdo ou contundência não é uma tarefa fácil como parece. É preciso técnica perfeita para ler no computador, no meio de todo aquele bombardeio de informações. Ou seja, tem que ser do tamanho de uma tela de micro ou um pouco mais. Era assim que eles existiam antes dos blogs virarem moda (MARTINS, 2010, p. 5).
Além disso, a partir de um miniconto sugeriram possibilidades de
desdobramento do enredo, imaginando histórias que poderiam se desenrolar a partir
das breves indicações feitas nessas formas concisas de narração. Certificaram-se,
dessa maneira, que o miniconto é um texto completo, pois revela a mesma estrutura
verificada nas narrativas mais complexas. Prova disso é que os alunos
desenvolveram contos a partir das formas breves a eles propostas.
Em um momento imediatamente seguinte, os alunos foram motivados a
pesquisar e ler diversos textos, comprovando que:
Os que leem textos mais longos e difíceis são uma minoria como sempre
foram. Mas o restante das pessoas, que há uma década não lia nada, hoje
trabalha com o texto escrito boa parte do tempo, e isso cria um certo hábito
de leitura, mesmo que diluído (LAUB apud MURANO, 2011, p. 29).
No laboratório de informática acessaram links sugeridos para conhecer outros
exemplos de minicontos e proceder a análise dos mesmos. Pois:
A internet não deve ser vista como algo negativo, pois amplia nossas
possibilidades de leitura. É claro que é preciso um olhar crítico, e este é o
papel do educador, o de orientar a busca, seleção e gerenciamento das
informações que estão na rede (CARATTI apud MURANO, 2011, p. 29).
Utilizando-se das tecnologias, realizaram inúmeras leituras com grande
prazer.
4.3. CONTANDO E RECONTANDO: A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS
A ideia que se tem de que contar histórias é privilégio dos pequenos é errada.
Contar e ouvir histórias é uma arte sem idade, o que confirma a frase popular que
diz que “de uma boa história ninguém escapa”.
Somos também contadores de histórias. Temos todos um bom estoque de
histórias vividas e ouvidas, além daquelas que inventamos ou lemos. O contador cria
e constrói cada nova história a ser contada e cada nova história é um desafio.
Cada aula se iniciou com atividades de relaxamento, para proporcionar o
bem-estar e a concentração dos participantes nas dinâmicas, seguidas de
apresentações de uma história por participante, as quais serviram para ilustrar e
exemplificar o conteúdo da oficina.
Através de dinâmicas em grupo foram introduzidas e treinadas técnicas
orais e gestuais. As dinâmicas foram seguidas de discussões, nas quais
participaram todos os envolvidos na oficina, para se ter possibilidades de reflexão
sobre a contação de histórias e temas ligados à literatura, em geral. Destaca-se a
participação e contribuição do professor de Arte, promovendo a interdisciplinaridade.
Também como atividade foi organizada uma coletânea com os textos
escolhidos pelos alunos para essa oficina. Os textos selecionados abordaram
autores, épocas e temas variados.
A coletânea foi organizada no formato Eloísa Cartonera (os livros são
confeccionados manualmente, utilizando papelão para a capa, ilustrada pelos
próprios alunos).
4.4. CRIANDO E RECRIANDO: HISTÓRIAS QUE A NOSSA IMAGINAÇÃO CRIA
UTILIZANDO O RECURSO DA INTERTEXTUALIDADE
Por ser fruto do meio é imprescindível que o indivíduo participe deste e
interaja com ele, onde o acesso a informações e o processamento de diversos
dados estão em destaque, na ordem do dia, exigindo rapidez e mais velocidade, o
escritor se acha obrigado a colocar velocidade em suas narrativas, porque o tempo
não lhe permite rodeios. O professor precisa explorar a brevidade do discurso com
estratégias de leitura que sejam envolventes, significativas para o leitor, em
diferentes situações de leitura. Pois, para que o leitor o possa entender “o texto em
si deve se deixar compreender e o leitor deve possuir conhecimentos adequados
para elaborar uma interpretação sobre ele" (SOLÉ, 1998, p. 71). A brevidade como
uma instância própria e essencial desses textos da atualidade pode e deve também
ser vista como um meio pelo qual o aluno infere os conhecimentos que retira das
narrativas.
Os estudantes, inseridos em um mundo plurissignificativo onde as demandas
mais exigem respostas e posicionamentos automáticos, ou onde a pragmática visão
muitas vezes toma lugar da reflexão um pouco mais atenta, demonstraram, a partir
do trabalho com minicontos, como o trabalho pedagógico munido das interfaces da
atualidade e dos diálogos com questões culturais várias pode ser proveitoso,
reflexivo e rico.
Com atividades diversas os alunos foram desafiados a escrever, dando
enfoque a outras áreas do conhecimento, como a fotografia, a mídia eletrônica, a
notícia de jornal, a propaganda cotidiana, e aliando isso tudo a temas que
continuamente emergem nas discussões dos educadores, professores e sociedade
em geral como o abandono, a violência, o preconceito, o consumismo.
Distribuídos em grupos, com diversos objetos (brinquedos - bonecas,
carrinhos, bichinhos, etc.) criaram uma sequência narrativa, que foi fotografada para
produção de um miniconto por meio da ferramenta movie maker. Com essa mesma
ferramenta fotografaram a sequência narrativa do conto “Uma Galinha”, de Clarice
Lispector, não sem antes criar as personagens que animam essa história com
massa de modelar.
O passo seguinte foi produzir minicontos a partir de diferentes imagens,
possibilitando a expressão, desenvolvendo a criatividade de cada um, relacionando
linguagem verbal e não verbal.
Em seguida, a produção foi a partir do uso de temas identificados nos textos
lidos. As atividades de produção também envolveram poesias, modelos e
sequências de ideias.
Como atividade final dessa oficina foi produzido um minilivro intitulado "Em
poucas palavras" contendo as produções dos alunos.
Também foram pintadas camisetas e feitos/confeccionados chaveiros com os
minicontos (pois um miniconto cabe até num chaveiro). Todo esse material foi usado
nas diversas atividades da Intervenção Literária.
Todas essas estratégias foram usadas para que além dos alunos outras
pessoas passem a gostar de ler.
4.5. BLOG
Depois das discussões nas oficinas, das leituras e produções de minicontos,
dos debates a partir de temas contemporâneos e do diálogo com diversas mídias
afins, pensamos na criação de um blog. Quiséramos, assim, um blog para chamar
de nosso e divulgar tudo o que aprendemos e produzimos e que também servirá
como uma ferramenta de leitura, uma possibilidade de desenvolver essa prática
pelos sujeitos contemporâneos.
A criação do Blog4, vem de encontro ao "paladar da nossa geração virtual",
além de trazer grandes benefícios às habilidades de leitura e escrita.
Se antes o leitor era um sujeito solitário com as formas impressas de leitura,
hoje o mundo impõe uma variedade infindável de práticas, gêneros e textos que
devem ser abordados e aproveitados pela escola. Uma vez que:
A internet deixou o leitor mais receptivo e participativo, pois recebe informações em diferentes linguagens e por meio de leituras não lineares. O texto até então "sagrado" se torna mais acessível. Se antes o ato de ler era algo distante, a internet acabou com isso, o que é positivo (CREMASCHI apud MURANO, 2011, p. 29).
4 eppminicontando.blogspot.com
Conhecer diversas tecnologias da informática e da comunicação para vencer
os desafios impostos pelas mudanças, pela velocidade, é uma exigência da
contemporaneidade. É o que se pode confirmar em "... o mundo da comunicação
eletrônica é um mundo da superabundância textual cuja oferta ultrapassa a
capacidade de apropriação dos leitores" (CHARTIER, 2002, p. 20).
Com o blog é aberto um novo espaço para as práticas de leitura e escrita,
proporcionando outras formas de acesso às informações, como também às novas
formas de ler e escrever, já que a presença das tecnologias digitais cada vez mais
faz parte do nosso cotidiano.
4.6. INTERVENÇÃO LITERÁRIA
Através de ações simples procuramos trazer a literatura para todos,
mostrando que ela vai muito além do livro.
Se a literatura não pode mudar o mundo, pode pelo menos ser veículo para
que muito do pensamento de seus cultivadores se expresse, pode revelar os
anseios e as reflexões dos povos que dela se valem a todo o tempo, há tantos
séculos.
A Intervenção Literária aconteceu em dois momentos: Intervenção Literária na
escola e Intervenção Literária Urbana.
Na escola foram realizadas as atividades "O leitor vai até o conto"
proporcionando uma integração maior entre o colégio/comunidade escolar e a
literatura, convidando os alunos/professores/funcionários a ler trechos de um conto
percorrendo todos os pontos onde os cartazes foram afixados. Cada cartaz continha
um trecho do texto e também apontava o endereço onde estava cada trecho
imediatamente anterior e imediatamente posterior. Foram selecionados os textos "A
luz é como água" de Gabriel García Márquez e "Pausa" de Moacyr Scliar para essa
atividade.
Outra atividade foi o "Varal de minicontos". Constituiu-se na exposição, no
varal das camisetas com minicontos. Cada aluno recebeu duas camisetas nas quais
pintou minicontos, um de sua autoria e outro de (de sua preferência) de um dos
autores estudados. Essa ação agradou muito, porque os alunos nunca tinham
pensado na possibilidade de colocar um texto numa camiseta.
Outra possibilidade do contato com a literatura foi a exposição dos vídeos
elaborados pelos alunos durante as aulas, além da apresentação de vídeos de
vários contos.
Na Intervenção Urbana foram repetidas as atividades realizadas na escola,
além da atividade "Chuva de minicontos”, uma intervenção itinerante na qual os
alunos caminhavam com guarda-chuvas lendo e contando minicontos. Cada guarda-
chuva tinha chaveiros com minicontos de diferentes temas e diversos autores. Ao
abordar uma pessoa, os alunos propunham a escolha de um dos guarda-chuvas e
depois a escolha de um chaveiro que se encontrava pendurado no guarda-chuva.
Estes chaveiros eram como "gotas" e formavam uma espécie de instalação. A
pessoa optava por uma "gota" sem conhecer o seu conteúdo. O aluno pegava o
chaveiro escolhido e presenteava com a leitura do miniconto sorteado por ela. Para
esta atividade foram utilizados minicontos de autores diversos e minicontos
produzidos pelos alunos.
5. GTR
O GTR é o Grupo de Trabalho em Rede: momento/espaço em que os
professores PDE compartilham Projeto de Intervenção Pedagógica e Produção
Didático-Pedagógica, além dos avanços durante a Implementação, com os
professores da rede estadual de ensino para troca de experiências.
O trabalho com o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) oportunizou contato
com os outros professores da rede que a partir dos estudos realizaram grandes
contribuições, interagindo, ampliando seus conhecimentos sobre a disciplina e, ao
mesmo tempo, os de informática. Foram trocas enriquecedoras, que trouxeram
diversos ganhos, sugestões para o desenvolvimento das aulas, através de relatos de
experiências, comprovando que apesar de não ser fácil o trabalho com a leitura é
imprescindível que o professor viabilize da melhor forma para que o aluno produza e
aprenda a partir do suporte dado pelo professor.
Destacou-se que usar a tecnologia torna as aulas mais dinâmicas e,
consequentemente, muito mais interessantes. Quando o aluno percebe que pode
auxiliar, uma vez que domina as tecnologias, sente-se valorizado e útil, contribuindo
para o bom andamento das aulas propostas. Aliar o projeto proposto com blogs e
outras tecnologias foi uma ótima experiência, pois os jovens interessam por tudo
aquilo que, de alguma forma, dialoga com o presente e contribui para compreendê-
lo.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Formar leitores de textos literários é o maior objetivo ao se trabalhar a
literatura na escola. Para isso é imprescindível que na leitura do texto literário, o
aluno encontre um espaço lúdico de re/construção de sentidos, em que sua
imaginação de leitor seja guiada pelos indícios textuais no ato dinâmico da leitura,
pois enquanto não houver articulação entre leitura/literatura/teoria literária, a
literatura no Ensino Médio continuará dando ênfase à história da literatura.
Durante a realização do projeto PDE constatou-se que para formar leitores
eficientes é preciso ir de encontro aos gostos dos alunos, sem atividades
obrigatórias, apenas atreladas a exercícios escolares. A literatura, como produto
social e cultural, depende do modo como é ensinada principalmente como vem
colocada pelos livros didáticos utilizados em sala de aula.
Assim, por entender que ler exclusivamente para desenvolver habilidades de
leitura não leva a lugar algum, abordou-se a leitura literária como uma atividade que
precisa, sim, ser trabalhada, mas que, acima de tudo, deve estar aliada à prática
social em situações relevantes para o aluno/leitor. "Sabor ao Saber'' eis a chave da
questão, compromisso dos educadores, que devem proporcionar um contato
prazeroso com a leitura para que o aluno se sinta bem lendo, tenha sede e fome de
ler. Considere a leitura como uma necessidade, daquelas indispensáveis à sua
felicidade e seja capaz de criar e recriar a partir dela.
O miniconto certamente estimula a leitura, pois a escolha dos textos a partir
de bons escritores é convite a buscar mais e mais. O público de ensino médio além
de curioso é extremamente sensível as questões e dilemas da vida adulta, tanto que
dramatiza sempre além do necessário, portanto, os textos permeados de reflexões
sobre o comportamento humano devem ser bem recebidos e não devemos nunca
menosprezar o nosso leitor.
O trabalho exigiu pesquisa e pensar formas dinâmicas para se trabalhar,
práticas que estejam em consonância com a contemporaneidade.
Esse trabalho só se conclui como uma etapa PDE, mas se estende como
pesquisa proposta para se trabalhar em sala de aula e possibilidade para
continuação.
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