os desafios da escola pÚblica paranaense na …€¦ · irani santos¹ drª greice da silva...

21
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

Upload: others

Post on 05-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

USO PEDAGÓGICO DA HQ ON-LINE NAS AULAS DE ESPANHOL

Irani Santos¹

Drª Greice da Silva Castela²

(Professora Orientadora – IES)

RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações sobre o uso pedagógico da HQ on-line nas aulas de Espanhol e propõe encaminhamentos para a prática pedagógica de E/LE, na qual busca desenvolver um trabalho com atividades diversificadas, por meio do uso do gênero discursivo “história em quadrinhos” (HQ), a fim de despertar o gosto pela leitura e estimular a produção textual. A proposta embasa-se em autores como Bakhtin, Marcuschi e Solé, considerando a concepção interacionista de linguagem e em estudo sobre os gêneros discursivos, nesse caso, em especial, o gênero “história em quadrinhos” em suporte on-line como fonte de expressão e de comunicação. A utilização de HQ on-line é considerada como motivadora dos alunos que apresentam dificuldades na leitura e na produção textual, para proporcionar-lhes um ensino mais efetivo e significativo e poderem se apropriar do que leem e escrevem, transformando suas leituras e escritas em práticas sociais, contribuindo para a motivação e autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Dentro desse contexto, o projeto foi desenvolvido na área E/LE (CELEM) do 2º ano no Colégio Estadual Dario Vellozo, na cidade de Toledo, que teve como propósito desenvolver atividades do estudo realizado no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, proporcionada pela Secretaria de Estado da Educação – SEED, através do governo do Estado do Paraná. Palavras-chave: HQ On-line; Novas Tecnologias; Língua Espanhola; Gênero discursivo.

1 INTRODUÇÂO

A internet se tornou recentemente a principal ferramenta de informação e de

comunicação utilizada pela humanidade. As pessoas se comunicam por meio das

novas tecnologias virtuais independentemente da língua em uso e da cultura. Nesse

contexto, verifica-se a importância da utilização de recursos midiáticos no ensino de

Page 3: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

línguas, uma vez que esses recursos estão inseridos na realidade dos estudantes e

a escola não pode ficar alheia a essas inovações tecnológicas. Nesse sentido, a

História em Quadrinhos on-line pode ser uma ferramenta inovadora e eficaz para o

ensino.

Analisa-se, nesse contexto, que o gênero discursivo HQ vem sendo fonte de

expressão, de produção literária e de comunicação, cuja utilização pode motivar os

alunos de uma turma de 2º ano de Espanhol de um Centro de Ensino de Línguas

Estrangeiras Modernas (CELEM), no caso o do Colégio Estadual Dario Vellozo, no

município de Toledo, que apresentam dificuldade na leitura e na produção de texto,

muitas vezes desmotivados para prosseguir os estudos, pois há outros atrativos

oferecidos por diferentes recursos midiáticos. Quando a HQ é utilizada como

estratégia pedagógica, os alunos passam de meros receptores a produtores de

conhecimento ao produzirem seus textos, e passam a fazer leitura e interpretação

de outros textos, contribuindo ainda para a motivação e autonomia no processo de

ensino-aprendizagem.

Assim, a HQ on-line interfere na constituição de nossa subjetividade por meio

de maneiras diversas de aprender e de representar a realidade, relacionadas ao

modo de ser, de pensar, de conhecer o mundo e de se relacionar com a vida. Esse

recurso das HQ representa um dos suportes da escrita, com atrativos e recursos

audiovisuais. Conforme apontam Lopes e Rojo (2004 apud DCE, 2008, p. 59),

vivemos “[...] um mundo de cores, sons, imagens e design que constroem

significados em textos orais/escritos e hipertextos”.

Nessa perspectiva, constatamos que o computador e suas ferramentas de

navegação on-line que estão inseridos na realidade escolar podem servir de

ferramenta didático-pedagógica auxiliar para fazer o aluno envolver-se em projetos

educativos nos quais o processo de conhecimento contempla não só a teoria, mas

também a prática, superando as práticas tradicionais do ensino da língua em foco.

Justifica-se, desse modo, a relevância deste estudo, uma vez que, com ele, a

proposta era e é desenvolver um trabalho diversificado em E/LE, por meio do uso de

HQ on-line, a fim de despertar o gosto e a necessidade da leitura, bem como

estimular a criatividade e a criticidade através da escrita.

Se pensarmos na dificuldade do aluno em assumir uma posição responsiva

durante a produção de textos escritos, ver-se-á que muitos poderiam ser os fatores

que motivaram o seu desânimo. Todavia, o que nos parece ser o mais decisivo são

Page 4: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

as próprias circunstâncias em que se desenvolve o processo das práticas sociais de

escrita na sala de aula. Então, portanto, verificamos que a fonte da dificuldade era e

é o próprio modelo tradicional de ensino, que concebe uma prática pedagógica

inadequada e insuficiente para a apropriação da escrita.

Outro fator que contribui para a configuração do quadro dessa dificuldade de

escrita é o fenômeno da transformação dessa mesma escrita, impulsionado pelo

advento da tecnologia. Essas mudanças tecnológicas na escrita não ocorreram

apenas em sua natureza, mas também em suas funções, utilizações sociais, suporte

nos quais circulam os textos, que são não somente impressos, mas virtuais.

A partir do exposto, é preciso pensar e repensar na

modernização/transformação das circunstâncias em que se inserem as práticas de

escrita na escola e em como a escola se posiciona diante dessa nova modelagem

dos textos veiculados nesses suportes virtuais. Diante disso, surgiu como

indagação: ─Como as novas tecnologias podem contribuir, de maneira eficaz e

significativa, para o ensino de Espanhol no CELEM por meio do recurso midiático de

HQ on-line?

Nesse sentido, a HQ, como gênero discursivo, é fonte de expressão, de

comunicação e de produção literária, na qual o aluno poderá produzir textos (verbais

e não verbais), assumindo uma atitude responsiva, crítica e autônoma diante dos

textos produzidos por ele e por outros autores. De acordo com a DCE, “[...] a aula de

LEM deve ser um espaço em que se desenvolvam atividades significativas, as quais

explorem diferentes recursos e fontes a fim de que o aluno vincule o que é estudado

com o que o cerca” (PARANÁ, 2008, p. 64).

A seguir apresentamos a fundamentação teórica em que se baseou nossa

pesquisa.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Novas tecnologias no ensino-aprendizagem de E/LE

Com o fenômeno da globalização vieram também as transformações sociais,

culturais e econômicas. A escola pode adquirir novas configurações e, para isso,

deve ser repensada e compreendida a partir de uma nova dinâmica e estrutura. O

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

conhecimento se transforma constantemente numa infinidade de informações que

são assimiladas e logo substituídas por outras.

Essas mudanças não são alheias à escola e ao processo educativo e

interferem decisivamente no modo de conceber a aprendizagem, as práticas

didático-metodológicas e a postura do professor. O currículo escolar deve ser

reformulado, tendo agora a pressuposição das grandes mudanças em curso,

atendendo a novos conceitos, a novas demandas e a novos paradigmas.

Diante dessa nova sociedade que surge, estruturada pelas novas tecnologias

de informação e comunicação, as relações humanas passam a ser intensificadas

pela rede mundial de computadores (internet), por intermédio de meios eletrônicos, a

qualquer tempo e momento. A sensação de movimento é constante e a mídia

possibilita o repasse de informações num curto espaço de tempo e em alta

velocidade.

Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e estratégias de comunicação. (PERRENOUD, 2000, p. 128).

Com a incorporação das novas tecnologias no ambiente escolar, torna-se

necessária a utilização das diversas ferramentas proporcionadas pelos gêneros

digitais, mediados pelo computador.

O computador, em particular, permite novas formas de trabalho, possibilitando a criação de ambientes de aprendizagem em que os alunos possam pesquisar fazer antecipações e simulações, confirmar ideias prévias, experimentar, criar soluções e construir novas formas de representação mental. Além disso, permite a interação com outros indivíduos e comunidades, utilizando os sistemas interativos de comunicação: as redes de computadores (internet). (BRASIL, 1998, p. 141).

A exigência pela rapidez e amplitude de informações demanda o uso das

novas tecnologias, modificando a maneira de pensar e de agir em meio à sociedade.

No âmbito educacional não é diferente, pois os meios tecnológicos são cada vez

mais necessários. Mesmo assim, porém, para sua inserção efetiva, é necessário

saber utilizá-los, para que haja autonomia do aluno, pois o contexto social exige

cada vez mais esse domínio.

A presença da tecnologia da informação e comunicação nas escolas trouxe a

interação às aulas por meio da utilização dos gêneros digitais mediados pelo

Page 6: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

computador. O gênero digital HQ, em suporte on-line, é uma das ferramentas que

possibilita ao aluno a capacidade de adaptar-se ao universo textual, oferecendo-lhe

a oportunidade de integrar imagens, sons, linguagens estilística (linguagem verbal e

não verbal) e muitos outros recursos atrativos e dinamizados que vão se agregando

ao texto, permitindo uma aprendizagem mais significativa para interação e produção

de conhecimentos, podendo aproveitar-se dessas competências para o

desenvolvimento do ensino de E/LE.

Conforme ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais, há a necessidade

de a escola se adaptar às inovações da sociedade, pois:

O mundo vive um acelerado desenvolvimento, em que a tecnologia está presente direta ou indiretamente em atividades bastante comuns. A escola faz parte do mundo e, para cumprir sua função de contribuir para a formação de indivíduos que possam exercer plenamente sua cidadania, participando dos processos de transformações e construção da realidade, deve estar aberta a incorporar novos hábitos, comportamentos, percepções e demandas. (BRASIL, 1998, p. 138).

Ao inserir as tecnologias no ensino de E/LE, é preciso que se estimule no

aluno o despertar da atitude reflexiva e autônoma ao fazer o uso dos meios

midiáticos. Esses meios devem ser utilizados a fim de dar condições para que o

mesmo aluno reflita e adquira a habilidade de ser inovador e criativo.

Segundo Marcuschi (2004, p. 33), "[...] o gênero digital é todo o aparato

textual em que é possível, eletronicamente, utilizar-se da escrita de forma interativa

ou dinamizada”.

Os gêneros digitais são também gêneros do discurso que se caracterizam

como tipos relativamente estáveis de enunciados, utilizados em cada uma das

diferentes esferas da atividade humana.

O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas também, e, sobretudo, por sua construção composicional. (BAKHTIN, 2000, p. 263).

Assim, portanto, o uso do gênero digital HQ on-line (como é a proposta deste

projeto) no processo de ensino-aprendizagem de E/LE poderá permitir ao aluno uma

aprendizagem mais efetiva e significativa, por meio dos recursos pedagógicos

mediados pelo computador no desenvolver das aulas.

Page 7: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

2.2 O gênero HQ

Os gêneros textuais são ferramentas para o ensino, possibilitando o contato

com diferentes tipos de textos. Bakhtin (1994, p. 274) afirma que “[...] os gêneros

constituem formas relativamente estáveis de enunciado, disponíveis na cultura”.

Corroborando a informação de Bakhtin, Marcuschi (2005) coloca que os gêneros

textuais estão vinculados à vida cultural e social:

Os grandes suportes tecnológicos da comunicação, tais como o rádio, a televisão, o jornal, a revista e a internet, por terem uma presença marcante e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros novos bastante característicos. Daí surgem formas discursivas novas, tais como editoriais, artigos de fundo, notícias, telefonemas, telegramas, telemensagens, teleconferências, videoconferências, reportagens ao vivo, cartas telefônicas (e-mails), bate-papos virtuais (chats), aulas virtuais (aulas chats) e assim por diante. (MARCUSCHI, 2005, p. 2).

A HQ como gênero discursivo utiliza uma linguagem do cotidiano e, assim

sendo, torna-se atrativa e de fácil compreensão. Representa atualmente um gênero

capaz de despertar o gosto e o prazer pela leitura, enriquecendo o vocabulário e

ampliando a visão de mundo.

Os quadrinhos não podem passar despercebidos pela revolução tecnológica

do século XXI. A internet e os recursos da computação gráfica podem ser utilizados

na confecção da HQ, tornando-a esteticamente mais apresentável e trazendo novas

possibilidades para o seu uso. A sua veiculação por meio da internet leva a novas

formas de acesso e comunicação entre o público e a obra, transformando e dando

significação e valor ao conteúdo transmitido e recebido.

A história em quadrinhos (HQ) tem sido ao longo do último século, um meio

de comunicação midiático bastante difundido e influente nos veículos da indústria

cultural, podendo favorecer um processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico,

lúdico e atrativo, mas sem perder o seu foco, que é a produção e transmissão do

saber e a formação de um sujeito crítico, criativo e ativo.

De acordo com Braga (2007), a HQ surgiu e foi difundida no final do século

XIX, período da Revolução Industrial. Ela era veiculada em jornais e representou

uma inovação cultural, tendo por objetivo o entretenimento e a distração das massas

operárias, porém sem a preocupação com a reflexão crítica. A interação entre os

quadrinhos e o leitor tornou-se mais direta, dinâmica e expressiva.

Page 8: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

Conforme a mesma autora, a HQ é um gênero discursivo que permite novas

interações verbais, motivando a leitura, a produção escrita e artística. Em sala de

aula, contribui para a aprendizagem do discente por meio da exigência de um

envolvimento maior com o processo de ensino e da possibilidade de um trabalho

didático-pedagógico que desperta o interesse por considerar práticas sociais e

culturais, além de desenvolver e unir habilidades diversas, desde a leitura,

interpretação, oralidade e produção textual, até a compreensão, sensibilização,

imaginação, criatividade, interação e socialização.

Ainda conforme Braga (2007), a aprendizagem por meio da HQ é fundamental

para a disseminação de culturas, discursos e ideologias, expondo e compartilhando

conhecimentos diversos, sempre na intenção de favorecer uma aprendizagem

significativa aos estudantes. Por meio dela, o trabalho pedagógico assume um

compromisso com o ensino de Língua Estrangeira ao ser uma ferramenta de auxílio

das práticas de ensino, desenvolvendo no aluno a autonomia, a capacidade de

resolver problemas, a socialização dos saberes para construir conhecimentos e

aperfeiçoar habilidades e competências.

A HQ representa um suporte visual atrativo e eficiente para a leitura e a

escrita, pois o aluno é levado a visualizar e a identificar a reação dos personagens

para perceber a situacionalidade, a intencionalidade, a intertextualidade, a

aceitabilidade e a informatividade, tornando-se mais crítico e ativo, percebendo, por

trás do texto, as práticas sociais, ideológicas e culturais, ampliando sua visão de

mundo.

Não basta, portanto, que o aluno apenas decodifique os quadrinhos, mas se

faz necessário que os interprete à luz de seu contexto social e da sua realidade

histórica, a fim de que eles adquiram sentido e para usá-lo em situações do

cotidiano. Nesse intuito, Braga (2007, p. 24) afirma que “[...] as HQs podem ser

estudadas, enquanto objeto da cultura material e fenômeno sociocultural [...]. Do

ponto de vista da linguagem, as HQs também ganham uma dimensão sociocultural,

pois as coisas não existem no mundo independente da linguagem [...].” Assim, elas

podem se tornar eficientes meios para iniciar e motivar os jovens para o hábito da

leitura e da prática da escrita.

Os sujeitos leitores das HQ interagem e se confrontam com o texto dos

quadrinhos, dialogando com eles para dar-lhes sentido, desenvolvendo a autonomia

de pensamento.

Na web, a leitura da HQ é feita no monitor e por meio de um navegador [...] obedece à navegação predeterminada por múltiplas conexões e cada página pode conter textos, imagens, som, vídeo,

Page 9: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

quadros com elementos em movimento e toda sorte de ideias que os quadrinhistas são capazes de imaginar. (BRAGA, 2007, p. 22).

A HQ associa-se com as linguagens verbal e visual para compor elementos

como personagens, tempo, espaço e acontecimentos sequenciais, estabelecendo

relações de causa e efeito. A expressão verbal comumente aparece em balões,

legendas ou letreiros. Já a linguagem visual é representada pelo uso de imagens

com diversidade de cores, personagens e gestos. As duas formas de linguagem são

essenciais para a criação de uma HQ como recurso pedagógico. Além de explorar

diversas linguagens, trata de múltiplos assuntos: política, ciência, sociedade,

esportes, humor, costumes, culturas, etc., sem deixar ainda de explorar a pluralidade

cultural presente nos mais significativos contextos.

A linguagem das HQs é específica e diferente para cada meio, pois a web proporcionou às HQs inovações expressivas, repletas de mensagens visuais estáticas ou em movimento e sons. Desta forma, há que se refletir sobre a adaptação da história do meio impresso para o meio on-line e o sentido da mensagem para o leitor. Outro aspecto a ressaltar é que os quadrinhistas devem fazer pesquisas no campo da ergonomia cognitiva e dos fundamentos da linguagem visual e do design de interface, para determinarem a melhor forma de apresentação da página eletrônica e dos quadros e obter uma leitura visual mais confortável no monitor. (BRAGA, 2007, p. 22).

Além disso, a HQ estimula o hábito da leitura, atua como instrumento

importante da aprendizagem e tem cada vez mais se incorporado nas instituições de

ensino por orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

2.3 Leitura e escrita na perspectiva interacional

A língua é caracterizada por ser um processo social, formada a partir da

interação estabelecida entre os indivíduos em contextos específicos e significativos

de comunicação:

[...] na concepção interacional (dialógica) da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente – nele se constroem e são construídos. Desta forma há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. (KOCH, 2002, p. 17).

Page 10: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

Segundo Solé (1998), a leitura é vista como objeto de conhecimento em si

mesmo e como instrumento necessário para a aprendizagem e que sempre envolve

a compreensão do texto escrito. O leitor não é neutro no processo da leitura, pois

dialoga com o texto para que haja a compreensão escrita. É fundamental que o leitor

se torne autônomo, crítico e reflexivo diante do texto, que não deve ser apenas

decodificado, mas lido e interpretado a partir de inúmeras práticas sociais e

contextos significativos:

Formar leitores autônomos também significa formar leitores capazes de aprender a partir de textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes [...]. (SOLÉ, 1998, p. 72).

Cabe destacar que a linguagem acontece numa perspectiva interacionista

entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, sujeitos esses

situados, inseridos e organizados em um determinado contexto histórico-social que

deve ser valorizado nas práticas de leitura e escrita. Nessa concepção, Rosa (2014,

p. 43) afirma que, “[...] sem interação, obviamente, não há linguagem. [...] os sujeitos

são vistos como construtores sociais, pois é por meio da interação verbal, de

diálogos entre os interlocutores, que ocorrem as trocas e a construção de

conhecimentos”.

Para tanto, a leitura passa a ser um dos meios mais importantes para a

aquisição de novas aprendizagens e, assim, à medida que o aluno avança na

escolaridade, aumenta a exigência de uma leitura mais ativa e independente, a fim

de que possa progredir nas habilidades de leitura e utilizá-la para acesso a novos

conhecimentos nas mais diversas áreas do currículo escolar, para tornar-se

proficiente e processar o texto na sua totalidade e significação:

Para ler é necessário dominar as habilidades de decodificação e aprender as distintas estratégias que levam à compreensão [...]. Também se supõe que o leitor seja um processador ativo do texto, e que a leitura seja um processo constante de emissão e verificação de hipóteses que levam à construção da compreensão do texto e do controle desta compreensão – de comprovação de que a compreensão realmente ocorre. [...] Ler é um processo de interação entre um leitor e um texto, antes da leitura (antes de saberem ler e antes de começarem a fazê-lo quando já sabem) podemos ensinar estratégias aos alunos para que essa interação seja o mais produtiva possível. (SOLÉ, 1998, p. 114).

Page 11: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

As estratégias de leitura são fundamentais e, portanto, precisam ser

trabalhadas com os alunos para que eles adquiram a capacidade de ler e de

compreender o texto. Essas estratégias podem ser utilizadas nas mais diversas

situações e práticas didáticas para que se desenvolva a habilidade leitora. Castela

(2011), assim como Solé (1998), faz uma divisão didático-metodológica das etapas

de leitura. São elas: pré-leitura, leitura e pós-leitura.

Desse modo, faz-se necessário utilizar estratégias que tornem os alunos

leitores ativos, conhecedores do objetivo da leitura eficaz, empregando seu

conhecimento prévio. Essas estratégias utilizadas antes da leitura têm o intuito de

despertar nos alunos a necessidade de ler, de criar motivo de leitura, de mostrar a

utilidade dela no dia a dia.

Segundo Castela (2011), durante o ato de ler realizam-se as seguintes estratégias:

[...] controle da compreensão; verificação das hipóteses elaboradas antes da leitura: associação entre as informações do texto e os conhecimentos prévios do leitor; percepção de relações entre as partes do texto; estabelecimento das relações intertextuais; identificação de polifonia no texto; constatação da posição do autor; identificação dos conectores lógicos e suas funções; busca de informações que satisfaçam o objetivo de leitura; realização de inferências e utilização do contexto para deduzir o significado do léxico desconhecido [...]. Após a leitura, o leitor continua valendo-se de estratégias para organizar as informações e ideias do texto e relacioná-las ao seu conhecimento prévio para construir sua compreensão. (CASTELA, 2011, p. 7).

Como o ato da leitura não representa apenas a decodificação dos sinais

linguísticos, o processo de letramento é imprescindível para que ocorra a interação

entre o texto, o leitor e o contexto, num constante dialogismo entre esses elementos.

Eis o que afirmam os PCN:

Letramento, aqui é entendido como produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia. São práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas. Ainda que às vezes não envolvam as atividades específicas de ler e escrever. Dessa concepção decorre o entendimento de que, nas sociedades urbanas, não existe zero de letramento, pois é impossível não participar, de alguma forma, de

algumas dessas práticas. (BRASIL, 1998, p. 19).

A finalidade primeira é a formação do leitor, haja vista que é necessário que o

aluno passe pelas fases de formação, lendo diferentes textos até alcançar o

desenvolvimento em leitura, momento em que se apropria daquilo que lê, trazendo à

Page 12: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

sua realidade e fazendo inferências a fim de tornar-se proficiente e competente.

Para Castela (2011), a escrita tem por função acompanhar o desenvolvimento

das relações sociais em sua concretização pela linguagem, já que esta é uma

prática social condicionante. É dever da escola fazer com que os alunos aprendam a

dominar o exercício da escrita através de estratégias variadas de leitura textual que

permitam a interação constante entre leitor e texto, que leve o aluno a compreender

o que lê e a produzir textos de modo significativo. O aluno aprende a escrever

quando ele é desafiado a exercer e treinar a escrita em situações específicas e

distintas para que ela se torne um hábito.

O texto escrito representa a individualidade e a ideologia de seu autor, que

ora evidencia ideias de outros autores e ora contraria outras em constante

intertextualidade. Como afirma Castela (2011, p. 48), “[...] a linguagem escrita,

então, constitui-se como um importante instrumento de mediação entre locutor e

interlocutor, uma vez que serve, também, para transmitir uma mensagem entre os

participantes de uma situação comunicativa, colocando-se entre eles”.

A escrita não é um exercício mecânico, e deve ultrapassar as barreiras dos

muros escolares ao adquirir inúmeras finalidades, fazendo com que as produções

dos textos escolares tenham outros interlocutores, que não apenas os envolvidos no

processo de produção. Nessa perspectiva, Rosa (2014, p. 66) diz ser necessário

“[...] que o produtor de texto perceba a existência de uma função social para a

escrita. Além de minimizar a artificialidade do processo, isso poderia despertar, no

aprendiz, a vontade de escrever textos”. Cabe ressaltar que, para que esse

processo ocorra de maneira significativa e eficiente, é fundamental a mediação que

se estabelece na escrita, por meio dos encaminhamentos do professor que envolva

os alunos em situações reais de interação.

A seguir apresentamos os resultados da implementação do projeto e discutimos

seus resultados.

3 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO E A DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O Projeto teve respaldo e aceitação pela comunidade escolar no momento da

sua apresentação. Essa recepção se deu, uma vez que se reconhece a necessidade

de pensarmos e de repensarmos estratégias pedagógicas que envolvam e valorizem

o coletivo escolar. Para isso se fez necessária a apresentação do projeto para que

Page 13: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

toda a comunidade escolar tomasse conhecimento do tema, da problemática, dos

objetivos e das estratégias de ações que seriam desenvolvidas durante o período de

aplicação dele, e assim valorizassem mais os sujeitos envolvidos no processo de

viabilização do projeto. O público-alvo foi o 2º Ano – CELEM – Espanhol, período

intermediário, com o total de 10 alunos, que acolheram a proposta do projeto com

entusiasmo, principalmente com relação às atividades práticas com uso das

tecnologias para a produção do gênero discursivo “história em quadrinhos” em

suporte on-line, relacionando-as com as estratégias de leitura ─ pré-leitura, leitura e

pós-leitura ─, a fim de despertar o interesse e o gosto pela leitura e estimular a

produção textual, proporcionando-lhes um ensino mais efetivo, significativo e

autônomo. A ênfase consiste em que as práticas de leitura e escrita sejam mais

reflexivas e críticas, realizadas e contextualizadas a partir das práticas sociais.

A Unidade Didática foi elaborada procurando relacionar a fundamentação

teórica com a prática que foi desenvolvida com os alunos. As ações foram

organizadas em 8 (oito) unidades, distribuídas e aplicadas em 2 horas/aula de 50

minutos a cada dia, totalizando 32 horas, realizadas nos meses de abril a agosto de

2015, dando, assim, unidade à proposta.

Unidade 1 ─ No primeiro dia foi apresentado o projeto, que teve sua

importância explicitada para que os alunos tomassem conhecimento dos objetivos e

das ações que seriam desenvolvidas durante o período da aplicação. Assim, eles se

sentiram motivados a participar das atividades propostas, seguindo com atividades

diagnósticas, com conceitos inerentes ao tema de estudo, com as estratégias de

leitura ─ pré-leitura ─, onde ativaram os seus conhecimentos sobre os tipos de HQs

─ HQ impressas e HQ on-line ─ e sobre a origem delas. Esses alunos relataram que

não tinham conhecimento sobre a origem das histórias em quadrinhos e não

conheciam sites de HQs on-line, mas citaram nomes de algumas HQs que já haviam

lido e de alguns de seus personagens mais conhecidos, como Turma da Mônica,

Cascão e Mafalda. Para se familiarizar com o tema, os alunos acessaram o site

<http://www.educarchile.cl/ech/pro/app/detalle?ID=188693>, tomando-o como

recurso digital para fazer atividade interativa de linguagem e comunicação de HQs.

Foram também disponibilizados dois links, quais sejam: <http://www.sitedecuriosida

des.com/curiosidade/qual-a-origem-das-historias-em-quadrinhos.html> e <http://mun

doestranho.abril.com.br/materia/quem-inventou-a-historias-em-quadrinhos>, para pesquisa

Page 14: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

sobre a origem e criador da primeira HQ e, como atividade de pós-leitura,

apresentaram um resumo do trabalho oralmente.

Unidade 2 ─ O início da atividade se deu com a pré-leitura envolvendo

questões de opinião sobre o gênero HQ, considerando o conhecimento prévio dos

alunos, considerando a concepção interacionista de linguagem e considerando os

gêneros discursivos. Então foi feito um estudo da criação de Mafalda, por meio do

link seguinte: <http://www.infoescola.com/biografias/mafalda/>. Esse link trouxe

informações sobre a personagem, seus ideais, seu contexto histórico e cultural dos

países hispânicos e ainda um vídeo com histórias em quadrinhos dessa mesma

personagem. Ocorreu, porém, um erro ao acessá-lo, pois não aparecia mais como

disponível e, para suprir essa falha, envolvi os alunos na solução do problema,

incentivando-os a pesquisar outro vídeo com historietas en línea de Mafalda ─

<https://youtu.be/pe6yGNGaM3Q> ─ havendo, assim, uma interação maior entre

professor-aluno e vice-versa, envolvendo-os na prática da leitura e da oralidade,

encerrando-se, assim, a Unidade 2, com atividades de pós-leitura com questões de

compreensão leitora das características do gênero textual HQ e as histórias de

Mafalda, seu contexto histórico, aspectos culturais e em que tipo de sociedade se

inseria e contestava.

Unidade 3 ─ Seguiu-se com atividades de pré-leitura realizadas com

questões de compreensão leitora sobre a origem e a história de Mafalda e de seu

criador, atividades nas quais os alunos puderam refletir e comentar oralmente e, na

sequência, acessar o link <http://www.infoescola.com/biografias/mafalda/>, que traz

informações sobre a personagem que marcou os anos 1960 e se eternizou com os

ideais que representa, como também amplia os conhecimentos culturais sobre os

países hispânicos. Na sequência, foi apresentado um resumo impresso sobre as

personagens de Mafalda, suas características e a biografia do seu criador. Como

atividade de pós-leitura, algumas questões foram lançadas sobre o tema tratado e,

em seguida, apresentei as características de uma HQ por meio dos slides <http://

pt.slideshare.net/YeroldYCH/historieta-y-sus-elementos-equipo-3>, que abordou os

vários aspectos da produção de uma HQ, como roteiro, argumento, clímax,

apresentação, conflito e outros. As HQs se constituem por meio de uma linguagem

visual, plano e ângulos de visão, nas quais há um protagonista e personagens

secundários, figuras cinéticas, metáforas visuais, utilização de linguagem verbal,

balão de fala, legenda e onomatopeias, e que, geralmente, estão associadas às

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

linguagens verbal e visual, envolvendo elementos como personagens, tempo,

espaço e acontecimentos organizados em sequência. O uso de imagens e a

representação de gestos compõem a linguagem não verbal, enquanto que a

expressão verbal geralmente aparece nos balões, nas legendas, nas onomatopeias

e nas interjeições (RAMA et al. (2004)). Também foi apresentado o material com

exemplo de uma HQ e outro com os diferentes tipos de globos através de acesso a

links e, como atividade escrita, solicitei aos alunos que criassem vários tipos de

globos e de onomatopeias e que observassem que, em cada país, as onomatopeias

são diferentes, por causa dos fonemas que são condicionados conforme o contexto

que condiciona a nossa língua. Apresentei a definição de fonema e o acesso ao link

<https://www.esl-idiomas.com/es/curso-idiomas/coffee-break/voces-de-animales/in

dex.htm>.para ouvir as vozes de animais em diferentes países e perceber que os

sons se distinguem. E, para finalizar essa unidade, solicitei que criassem uma

vinheta observando os elementos constitutivos e as etapas de criação de uma HQ,

para isso utilizando os recursos digitais no laboratório de informática.

Unidade 4 – Foi iniciada com a pré-leitura com questões de opinião para ativar

os conhecimentos prévios sobre histórias em quadrinhos e o que as diferencia de

outros gêneros textuais e opinião sobre o tema “preconceito”. Questionei sobre se

conheciam casos de pessoas que sofriam prejuicio por isso. Em seguida foi

realizada uma leitura de texto com uma definição em espanhol da palavra prejuicio.

No material impresso e na sequência acessou-se o link <http://mafalda.dreamers.

com/tirasusanita/s02.gif>, que apresentou as personagens Susanita e Mafalda

fazendo uma crítica ao racismo. Houve, contudo, problemas quanto ao acesso ao

link, o que foi amenizado com cópias das tiras impressas. O segundo link ─

<https://demafaldaasusanita.files.wordpress.com/2014/05/tira-mafal da-1.jpg> ─

ressaltou a importância da amizade entre as pessoas e o respeito pelas diferenças

de pensamento, de comportamento e de como podemos nos relacionar

amigavelmente. Seguindo com as atividades de compreensão de leitura e

gramaticais, abordamos o pronome pessoal complemento “-lo”, trazendo sua

definição no material impresso. Também foram buscadas palavras adjetivas nas tiras

lidas e interpretadas. Finalizamos a unidade com atividades de pós-leitura (orais e

escritas) referentes ao tema analisado.

Unidade 5 ─ Iniciou-se com questões orais de pré-leitura para contextualizar

o aluno no tema, que é o Programa HagáQuê, seguindo com o tutorial para instalar

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

o software HagáQuê, por meio de um vídeo do Youtube, disponível em <http://www.

youtube.com/watch?v=oYJ4FV6sA80>. Está em formato de videoaula, mostrando o

passo a passo sobre o programa e os requisitos básicos para a instalação do

software. Após a instalação, foi acessado o link <http://www.nied.unicamp.br/?

q=content/hag%C3%A1qu%C3%AA> para instalar o programa HagáQuê e seguiu-

se com a definição do Programa HagáQuê escrita no material impresso e com

atividades práticas para familiarizar-se com alguns recursos do programa, utilizando

ícones e salvando-os em uma pasta para usar posteriormente. E, enfim, finalizou-se

essa unidade com questões de pós-leitura.

Unidade 6 – Nessa ação realizou-se atividade de pré-leitura sobre as

características do gênero HQ on-line, estratégias, criação de roteiro e recursos

específicos. Seguindo com as etapas de produção e os recursos disponíveis com o

uso do Software HagáQuê, executou-se a atividade leitora escrevendo um roteiro de

criação de uma HQ. Assim, desenvolveu-se o plano de criação de uma HQ em

suporte on-line. Finalizando com atividades de pós-leitura relacionadas à criação de

HQs, observou-se que não foram inseridos alguns recursos nas HQs em suporte on-

line, como: links, gifs, bem como também houve um problema ao salvar as

produções em alguns computadores.

Unidade 7 ─ Nessa ação, após a elaboração das HQs on-line, realizou-se a

refacção para análise dos aspectos e das condições de produção no processo de

autocorreção e de reflexão conjunta sobre a experiência que os alunos tiveram com

as atividades propostas, bem quanto ao uso das ferramentas midiáticas. Quanto à

avaliação, foi realizada de acordo com a participação individual e em grupo,

envolvendo atividades desde o início, durante o processo e finalizou-se com a

produção de uma HQ on-line. Observou-se que, no final das atividades propostas,

os participantes já estavam um pouco exaustos, culminando com a diminuição da

frequência.

Unidade 8 -- Nessa ação realizou-se a publicação das atividades produzidas

em ambiente virtual, com a criação de um grupo em rede social, objetivando a

socialização dos trabalhos, além de propiciar práticas de leitura e de escrita.

Finalizou-se o trabalho com atividade de pós-leitura com feedback do grupo,

momentos em que relataram sobre as novas experiências e que lhes despertou o

gosto pela pesquisa, leitura e escrita, principalmente de HQs.

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

A produção didático-pedagógica realizada teve a sua relevância porque se

propôs a desenvolver um trabalho com atividades diversificadas, por meio do gênero

discursivo “história em quadrinhos” on-line, despertando o gosto pela leitura e pela

escrita, estimulando a produção textual. Favoreceu e proporcionou, ainda, um

ensino mais efetivo e significativo, fazendo com que os alunos se apropriassem do

que liam e escrevessem com autonomia, transformando leitura e escrita em práticas

sociais.

4 GTR – Grupo de Trabalho em Rede

O Grupo de Trabalho em Rede ─ GTR é um curso de capacitação para

professores, tendo sido realizado de forma on-line proporcionada pela Secretaria de

Estado de Educação do Paraná ─ SEED/PR e desenvolvido pelos professores do

Programa de Desenvolvimento Educacional ─ PDE.

Inicialmente se inscreveram no GTR vinte (20) professores, porém apenas

quinze (15) concluíram o curso e cinco (5) cursistas foram considerados desistentes

e não concluintes, por não realizarem todas as atividades no decorrer de cada

módulo, que era dividido em três etapas, sendo que cada módulo teve suas

atividades específicas ─ como glossário, fóruns, diários e autoavaliações ─, assim

contemplando a temática desenvolvida no decorrer da formação e que teve como

finalidade abordar o uso pedagógico da HQ on-line nas aulas de Espanhol.

As contribuições e interações através de fóruns, diários, glossários e

autoavaliações foram significativas, possibilitando a troca de experiências entre os

cursistas, pois cada professor vivenciou realidades diferentes e isso enriqueceu as

atividades realizadas, que contemplou a fundamentação teórica através de leituras

de materiais de estudo e complementares, a análise do Projeto de Intervenção

Pedagógica e da Produção Didático-Pedagógica.

Algumas considerações obtidas no momento das interações e contribuições

de alguns cursistas referentes ao tema da proposta pedagógica foram que:

“Atualmente é possível se trabalhar com a tecnologia sem rotulá-la de inimiga. Através das HQs on-line os alunos se sentirão em território conhecido e isso contribuirá em muito com o trabalho do professor de língua estrangeira.” (M. E. CARVALHO DA SILVEIRA)

“A introdução de novos recursos tecnológicos nas práticas de aprendizagem de línguas estrangeiras, como HQs on-line, provoca mudanças na relação ensino e

Page 18: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia dos aprendizes, uma vez que promove oportunidades de interação, cooperação e colaboração.” (B. REIS CHAVES ALVIM)

“Com o gênero textual História em Quadrinhos, o professor consegue explorar e levar o aluno a refletir criticamente sobre a linguagem, cultura e sociedade, pois muitas destas HQs trazem temas relevantes e ao mesmo tempo divertem.” (R. A. DE SOUZA)

“As HQs são recursos didáticos atraentes, possuem uma linguagem clara, informações atualizadas e abordagem interdisciplinar.” (L. C. GARCIA COLACO)

Assim, portanto, com base nessas colocações dos docentes, ressalto que foi

muito positivo e gratificante participar desse GTR e que me oportunizou fazer

algumas reflexões referentes à minha prática pedagógica e entender que as novas

tecnologias podem e devem ser utilizadas para o processo de ensino-aprendizagem.

Constatou-se que o computador e suas ferramentas de navegação on-line podem

servir como ferramenta didático-pedagógica auxiliar que permite ao aluno envolver-

se em projetos educativos nos quais o processo de conhecimento contempla não só

a teoria, mas também a prática, superando as práticas tradicionais do ensino de

línguas, onde podemos desenvolver um trabalho diversificado em E/LE por meio do

uso de HQs on-line, a fim de despertar o gosto e a necessidade de leitura, bem

como estimular a criatividade através da escrita.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos num mundo multissemiótico, num mundo em que ensinar não mais

se restringe ao uso do giz e do livro didático. Na era digital, onde o modelo

tradicional de ensino não faz mais parte da realidade vivenciada pelo aluno, em que

a imagem cada vez mais compete com as palavras, quanto mais a escola estiver

alheia a essa concepção, menos interessante, menos motivadora e menos eficiente

será o processo educativo.

Nesse sentido, os professores e toda a comunidade escolar não podem

continuar apenas com a metodologia tradicional, pois precisam dominar os recursos

midiáticos e se inserir no contexto de socialização e de atuação dentro da sociedade

do conhecimento. É necessário que realmente ultrapassem as barreiras daquela

leitura de decodificação e que promovam a leitura crítica, reflexiva.

A introdução de novos recursos tecnológicos nas práticas de aprendizagem,

como HQs on-line, provoca mudanças na relação entre ensino e aprendizagem e

Page 19: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

contribui para o desenvolvimento da autonomia dos alunos, uma vez que essas

ferramentas oportunizam a interação, a cooperação e a colaboração. Com a

utilização dessas ferramentas midiáticas na escola, é possível que o aluno interaja

com os novos gêneros textuais e aprenda a ler e a se fazer entender utilizando

outras esferas.

A disciplina de Língua Estrangeira também deve atender à chamada função

social e não pode mais ficar descontextualizada. Para tanto, as aulas de E/LE

devem proporcionar o desenvolvimento de atividades significativas, para que o aluno

relacione a teoria com a sua realidade. Assim, cabe ao professor buscar novas

formas de tornar esse ensino mais prazeroso e, ao mesmo tempo, eficaz, seja

utilizando recursos tecnológicos, histórias em quadrinhos e outros recursos que

promovam a discussão e o desenvolvimento de reflexões diversas.

Assim, o Projeto de “Intervenção Pedagógica na Escola” sugeriu um

interessante viés ao trabalhar com HQs on-line, em especial pelo fato de abordar e

focar atenção em atividades reflexivas. Sua realização contribuiu e possibilitou a

compreensão do surgimento das histórias em quadrinhos e sua importância no

processo de ensino-aprendizagem de E/LE, pois, através da utilização dessas HQs,

as aulas se tornaram mais dinâmicas, tornando o conteúdo significativo e a

aprendizagem prazerosa.

As atividades com Histórias em Quadrinhos possibilitou ao aluno ampliar o

seu leque de meios de comunicação, incorporando-os nas habilidades de escrita,

oral, gráfica, além de auxiliar no desenvolvimento do hábito de leitura, bem como,

enriquecer o vocabulário. Outro fator significativo foi que as HQs instigaram o aluno

a pensar, a criar, a imaginar e a promover atividades de leitura e escrita por meio do

uso do site HagáQuê, que é voltado à criação de HQs. Ao trabalhar com as HQs on-

line, o docente favoreceu o fomento do letramento pela leitura, pela escrita e

oportunizou a publicação na Internet, além de incentivar a autonomia do aprendiz, já

que o domínio dos recursos da web favorece uma postura mais independente e

autônoma para futuros aprendizados.

Com a finalidade de promover um ambiente que facilite a aquisição da Língua

Espanhola, o uso das HQs on-line como um material de apoio no momento do

ensino, somado ao conteúdo programático, proporcionará maior contato com o uso

efetivo da Língua Espanhola, de forma mais agradável e divertida, ajudará o

educando a contextualizar a história refletindo sobre a situação apresentada de

Page 20: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

maneira lúdica, tornando as aulas do CELEM - E/LE mais interessantes para esse

público, tão misto no que se refere à faixa etária.

Ressalta-se, portanto, que o uso pedagógico de HQs on-line nas aulas de

Espanhol, com o objetivo de verificar aspectos didáticos do gênero discursivo HQ

on-line, mostrou-se um recurso eficaz para a formação de leitores críticos e

competentes, pois esses alunos, durante as atividades, demonstraram efetivo

empenho em se apropriarem da leitura e da escrita nos termos propostos.

5 REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mihkail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BRAGA, Marta Cristina Goulart; PEREIRA, Alice T. C. Estratégia on-line para capacitação de professores em aprendizagem: abordagem centrada na educação através do design (EdaDe). 2007. 217 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia e Gestão do Conhecimento, Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais – ensino médio: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF, 1999.

CASTELA, Greice da Silva. Concepções de leitura no ensino de línguas. Revista Línguas & Letras. Número Especial – XIX CELLIP, 2011. Disponível em: <file:///C:/Users/Cliente/Downloads/5484-20447-1-PB%20(2).pdf>. Acesso em: 21 jul. 2014.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

PARANA. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica. Língua Estrangeira Moderna. Curitiba, SEED-PR, 2008.

PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre, RS: Artes Médicas Sul, 2000.

Page 21: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA …€¦ · Irani Santos¹ Drª Greice da Silva Castela² (Professora Orientadora – IES) RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações

ROSA, Douglas Corrêa da. Encaminhamentos de produção de textos nos anos iniciais: um exercício de escrita ou uma atividade de interação? 2014. 231. Dissertação (Mestrado em Letras). Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2014.

SOLÉ, Izabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre, RS: ArtMed, 1998.